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Comunicação Social Teoria e Exercícios Prof. Luiz Campos Prof. Luiz Campos www.pontodosconcursos.com.br 1 Olá a todos! Sejam bem vindos à segunda aula curso de Comunicação Social para o Banco Central – BACEN. O assunto de nossa aula é a segunda parte do tópico “Teorias da Comunicação; Comunicação: conceitos e paradigmas; Massificação versus segmentação dos públicos; Interatividade na comunicação”. A segunda aula continuará desenvolvendo esse assunto. Temos abaixo a tabela que apresentamos na primeira aula. Essa tabela ilustra de maneira esquemática as teorias de comunicação e conceitos que constam nas duas primeiras aulas. Os conceitos e teorias estão agrupados sob “modelos” ou “paradigmas”. Modelo/Paradigma Teoria da Comunicação Paradigma Matemático Informacional - Teoria da Informação - Cibernética Pragmatismo - Escola de Chicago - Teoria Comunicacional de Mead - Escola de Palo Alto ou Colégio Invisível (com influência de teoria sistêmica e da cibernética) Mass Communication Research Pesquisa da Comunicação de Massa (conjunto de tendências da pesquisa da comunicação de massa norte-americana na primeira metade do séc. XX) - Teoria Hipodérmica (Teoria dos efeitos diretos e imediatos) - Modelo de Lasswell - Abordagem da persuasão - Abordagem dos efeitos limitados - Teoria Funcionalista Extensões e aprimoramento da Mass Communication Research (a partir dos anos 60 do séx. XX) - Hipótese dos Usos e Gratificações - Agenda Setting (teoria dos efeitos a longo prazo) - Newsmaking - Espiral do Silêncio Paradigma Crítico - Escola de Frankfurt - Teoria da Ação Comunicativa de Habermas Paradigma Cultural - Estudos Culturais Britânicos - Escola Francesa Paradigma Midiológico e Tecnológico - Escola Canadense – McLuhan - Novas formas de sociabilidade no

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Olá a todos! Sejam bem vindos à segunda aula curso de Comunicação Social para o Banco Central – BACEN.

O assunto de nossa aula é a segunda parte do tópico “Teorias da Comunicação; Comunicação: conceitos e paradigmas; Massificação versus segmentação dos públicos; Interatividade na comunicação”. A segunda aula continuará desenvolvendo esse assunto.

Temos abaixo a tabela que apresentamos na primeira aula. Essa tabela ilustra de maneira esquemática as teorias de comunicação e conceitos que constam nas duas primeiras aulas. Os conceitos e teorias estão agrupados sob “modelos” ou “paradigmas”.

Modelo/Paradigma Teoria da Comunicação

Paradigma Matemático Informacional

- Teoria da Informação - Cibernética

Pragmatismo - Escola de Chicago - Teoria Comunicacional de Mead - Escola de Palo Alto ou Colégio Invisível (com influência de teoria sistêmica e da cibernética)

Mass Communication Research – Pesquisa da Comunicação de Massa (conjunto de tendências da pesquisa da comunicação de massa norte-americana na primeira metade do séc. XX)

- Teoria Hipodérmica (Teoria dos efeitos diretos e imediatos) - Modelo de Lasswell - Abordagem da persuasão - Abordagem dos efeitos limitados - Teoria Funcionalista

Extensões e aprimoramento da Mass Communication Research (a partir dos anos 60 do séx. XX)

- Hipótese dos Usos e Gratificações - Agenda Setting (teoria dos efeitos a longo prazo) - Newsmaking - Espiral do Silêncio

Paradigma Crítico - Escola de Frankfurt - Teoria da Ação Comunicativa de Habermas

Paradigma Cultural - Estudos Culturais Britânicos - Escola Francesa

Paradigma Midiológico e Tecnológico

- Escola Canadense – McLuhan - Novas formas de sociabilidade no

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“ciberespaço” Paradigma Semiótico/ Semiológico - Linguística Estrutural

- Semiótica Paradigma Conflitual Dialético - Escola Latino-Americana

- Brasil: Folkcomunicação

OBS. Tabela construída com base em Wolf (1999), Temer e Nery (2009), Mattelart e Mattelart (2004) e Hohlfeldt, Martino e França (2003).

Relembremos algumas precauções básicas ao utilizar tabelas desse tipo.

Modelos e paradigmas

Não utilizamos o termo paradigma no sentido estrito de Kuhn.

Aplicamos o termo de forma muito mais “frouxa”: paradigma se aproximaria de um modelo, um conjunto de pressupostos gerais, uma perspectiva global que animaria certas teorias e conceitos da Comunicação.

Nesse caso, paradigmas não seriam necessariamente excludentes. Pretende-se mostrar como certas perspectivas sobrevivem, embora questionadas ou alteradas, em teorias posteriores.

Não há sempre uma ruptura total, embora haja tendências discerníveis, sem dúvida.

Cronologia

Colocar as teorias da comunicação de maneira esquemática, como o fizemos, pode dar a impressão de uma evolução no tempo, uma cronologia determinada. Isso não ocorre de mofo rigoroso.

Muitas vezes pesquisas que se classificariam nos diferentes paradigmas estavam sendo realizadas simultaneamente ou em ordem que não corresponde à apresentada na tabela. Outras vezes um paradigma como que fica “esquecido” e reaparece posteriormente, influenciando outros.

No entanto, embora não se trate de uma cronologia estrita, traços cronológicos são discerníveis. Basta se preocupar menos com datas, e mais com certas ideias básicas e visões que se manifestam com mais ou menos força nos diversos modelos e períodos.

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As ideias básicas e visões

As ideias básicas e visões que se utilizou ao descrever os paradigmas são, principalmente, efeitos e interatividade.

Houve, especialmente nos estudos iniciais do campo da Comunicação Social, uma noção forte de efeitos diretos dos meios de comunicação de massa sobre os espectadores. Embora mais matizada, ainda existe uma subdisciplina na Comunicação Social denominada Teoria dos Efeitos.

A segunda ideia básica, a da interatividade, desloca o foco dos “emissores” para “os receptores”. A pergunta passa a ser como o público consome, lida, apreende e eventualmente modifica as mensagens das muitas mídias que são aparentemente jogadas sobre ele.

O processo de recepção e consumo de mensagens midiáticas não é necessariamente passivo. Também não ocorre isoladamente por indivíduos. É um processo social, no qual os indivíduos interagem. O processo comunicacional é basicamente interativo. Isso se opõe a uma visão estrita dos efeitos que admite uma unidirecionalidade.

Duas visões de comunicação

De modo geral, as visões que transmitimos da primeira aula da Comunicação estão centradas em transmissão e compartilhamento.

Vimos a seguinte tabela na primeira aula:

Comunicação

Visão 1: Disjunção Visão 2: Conjunção

Transmissão

Contêiner

Conduto

Transferência

Assimetria

Separação entre emissor e

Compartilhar

Comum

Comunidade

Interação

Simetria

Associação entre emissor e

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receptor

Efeito unidirecional

Linearidade

Conexão

receptor

Efeitos recíprocos

Retroatividade

Socialização

Leia os termos da tabela. Deve estar claro por que cada termo está do lado disjunção (transmissão) ou conjunção (compartilhamento). Reveja a seção na primeira aula, se for o caso.

A Escola de Chicago

A denominada Escola de Chicago destacou-se durante os anos 1910 a 1940. Foi, em bases gerais, ofuscada pela supremacia norte-americana do estrutural-funcionalismo. Atualmente, vários de seus autores foram retomados e constituem a base teórica de estudos comunicacionais.

A Escola de Chicago foi bastante influenciada por um pensamento filosófico denominado pragmatismo. Essa filosofia tem raízes norte-americanas. Destacam-se os estudiosos Charles Sanders Peirce (1839-1914), William James (1842, 1910) e John Dewey (1859-1952).

Pogrebinschi (2005), analisando os trabalhos fundadores de Peirce, William James e Dewey, baseou a matriz filosófica do pragmatismo em torno de três núcleos:

(1) o antifundacionalismo, que consiste em uma rejeição a qualquer espécie de entidade metafísica, de existência estipulada e não passível de verificação empírica, ou categoria apriorística, implicando uma crítica constante e reavaliação da realidade;

(2)o consequencialismo ou instrumentalismo, relacionado ao julgamento de proposições com base em um teste consequencialista e a uma reavaliação da verdade; daí vem majoritariamente o termo pragmatismo;

(3) o contextualismo, que abrange a valorização da experiência, da prática e dos fatos, insistindo em uma investigação compartilhada para gerar significados e ideias convergentes, investigação esta que depende essencialmente do contexto e da situação em pauta.

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Essas características pressupõem um afastamento da metafísica, a rejeição do nominalismo e uma proximidade com o realismo.

Defende-se que o valor de verdade é um valor prático das ações humanas. A função do pensamento é produzir hábitos de ação, que dariam sentido às coisas. Os conceitos de ação e comunicação, já presentes no pragmatismo, foram fundamentais para um posterior desenvolvimento da teoria social, como Pogrebinschi procura mostrar.

Mead, considerado o precursor do Interacionismo Simbólico, propugnava um esquema em que a comunicação passa a ser inserida na pragmática da ação humana e assume um papel de constituição e organização da intersubjetividade de sujeitos dialógicos, onde a linguagem edifica e objetiva essa intersubjetividade.

O processo é (auto)reflexivo na medida em que os significados são apreendidos na interação e manipulados. Esse processo reflexivo subtende um deslocar de posição em relação aos outros, refletir como os outros, colocando a si mesmo como objeto. É por percebemos o posicionamento das outras pessoas com as quais interagimos que podemos nos situar no mundo e compreendê-lo.

Charles Horton Cooley, um destacado precursor da Escola de Chicago, utilizava a analogia do “looking-glass self” (o sujeito visto através do espelho) para expressar essa ideia. Depois de ter passado um tempo estudando impactos organizacionais no transporte, dedicou-se, como Mead, à pesquisa etnográfica (fundamentada em métodos descritivo-interpretativos das vivências interacionais) para pesquisar as interações simbólicas dos sujeitos sociais. Destacou-se também por ter utilizado a expressão “grupo primário”, reforçando assim as interações sociais básicas na formação dos indivíduos, constantemente abstraídas em certos estudos da urbanização que privilegiavam a uniformização e os efeitos dos grandes grupos e das instituições sobre os indivíduos.

Uma das ramificações do pragmatismo sobreviveu, o Interacionismo Simbólico, desenvolvido pelos discípulos de Mead na escola de Chicago.

Um dos expoentes do Interacionismo Simbólico, na verdade o próprio criador do termo, já escrevendo nos anos 60 e 70, foi Blumer.

O Interacionismo Simbólico funda-se em três princípios básicos descritos por Blumer (1969):

1. A ação dos homens em relação ao mundo fundamenta-se nos significados que este lhes oferece.

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2. Esses significados derivam da interação social.

3. Tais significados são manipulados e compreendidos por um processo interpretativo.

Significados são assim socialmente constituídos. Sua interpretação possui duas fases distintas. Na primeira, o agente determina para si mesmo os elementos com os quais lida em algo como que “um processo social interiorizado”. Na segunda, os significados são “manobrados” de acordo com a situação em que o agente está inserido.

O princípio básico do Interacionismo Simbólico, na procura do entendimento da relação entre o indivíduo e a sociedade, é que a ação e interação humanas só são compreensíveis como troca comunicacional ou simbólica.

Mas Blumer, pode-se dizer, foi parcialmente influenciado pela Escola de Chicago (aproximadamente 1910-1940), mas não a integrou, como Cooley e Park. Robert Ezra Park (1864-1944), um jornalista que começou a estudar Sociologia já na meia idade, foi um dos mais representativos componentes da Escola de Chicago.

Influenciado por Gabriel Tarde e George Simmel, dois sociólogos europeus que estudavam a sociologia a partir de um ponto de vista “micro”, focando as interações sociais e os processos de socialização e associação, Park faz da cidade um “laboratório social”.

Park, junto com E.W. Burgess, utilizou o termo “ecologia urbana”. Uma comunidade é composta por uma população adstrita a um território. Seus membros vivem uma “relação simbiótica”. Competição por espaço, formas de divisão de trabalho e cooperação competitiva geram um modo de organização humana denominada “biótica” nesse nível.

É um nível subsocial, orgânico. Park utiliza essas ideias para estudar as comunidades de imigrantes nos Estados Unidos da época. Sobreposto a essa “comunidade orgânica”, a essa subestrutura biótica, existiria uma segundo nível social ou cultural.

O nível social ou cultural é suportado pela comunicação e por uma ordem moral advinda do consenso, que regulam a competição e permitem aos indivíduos partilhar uma experiência e se ligar à sociedade.

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Nota-se a influência em Park dos mesmos fatores que pautaram a sociologia nascente no séc. 20: o peso de uma visão evolutiva (originada em parte do darwinismo), as determinações das ciências naturais, especialmente, a biologia, a analogia do social com o organismo humano, rede controlada pelo sistema nervoso, e outros.

No entanto, Park, assim como a Escola de Chicago em geral, focava nas microinterações, nas relações em nível do contato sujeito-sujeito. Utilizava a metodologia etnográfica, estudando o cotidiano nos bairros de imigrantes, levando em contas as histórias de vida, empregando a observação participante. Estava preocupado com processos interacionais que originavam a integração. Essa perspectiva de visão difere bastante do estrutural- funcionalismo, cuja visada era bem mais macro, o que influenciou de modo considerável a pesquisa norte-americana empírica da comunicação de massa, como vimos na aula anterior.

Escola de Palo Alto ou Colégio Invisível

A Escola de Palo Alto era um grupo de pesquisadores ligados de maneira mais ou menos frouxa. Muitos deles eram médicos, psicólogos e psiquiatras que estudavam distúrbios mentais, especialmente a esquizofrenia. Suas teses gerais, muitas delas influenciadas por Gregory Bateson (1904-1980), eram de que para compreender o estado de um doente mental era preciso estudar suas relações com a família e grupos próximos (primários), assim como aceitar que suas patologias eram também de ordem interacional e comunicacional. Essas teses foram influenciadas pela Teoria dos Sistemas.

Em Watzlawick, Beavin e Jackson (1993) são condensados, com rigor e exemplos esclarecedores, vários postulados comuns ao pensamento de Palo Alto no que se refere à comunicação. No livro, a comunicação é apresentada sob forte influência de conceitos sistêmicos e discutida tendo em vista contextos e aplicações psiquiátricas e psicanalíticas. São estabelecidos alguns axiomas conjeturais de comunicação.

O primeiro desses axiomas é que a não comunicação é uma impossibilidade. O comportamento em situações interacionais adquire valor de mensagem. A comunicação não depende da intencionalidade ou consciência dos agentes, nem do sucesso do processo comunicativo.

Comunicar é assumir um compromisso e definir uma relação. Logo, não se trata apenas de transmitir conteúdos informacionais. Há dois níveis comunicacionais: o aspecto de “relato” e de “ordem” (para utilizar uma nomenclatura de Bateson), ou de “conteúdo” e “relação”. O aspecto

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relacional define o nível de conteúdo, constituindo, portanto, uma metacomunicação (segundo axioma).

Comunicação é essencialmente processual e realiza-se em sequências. Interrupções (pontuações) nessa ação, do ponto de vista analítico ou prático, podem induzir estabelecimentos errôneos de causalidades e pretextos enviesados para ações. Toda relação está na contingência da pontuação das sequências de comunicação pelos comunicantes (terceiro axioma).

Há uma complementaridade da comunicação. Viu-se que a relação pontua o conteúdo. Esse conteúdo é constantemente transmitido digitalmente (verbalmente, no sentido de que toda palavra-signo corresponde à coisa representada). Já a relação é mais perfeitamente expressa analogicamente, por meios não verbais. A linguagem digital é rica sintaticamente e tem uma lógica poderosa, mas lhe falta a riqueza semântica da linguagem analógica, que, por sua vez, ressente a ausência da sintaxe precisa da linguagem digital para definir de modo não ambíguo as relações (quarto axioma). O importante aqui não é exatamente a correspondência relato-linguagem digital e relação-linguagem analógica, mas o fato de conteúdos comunicacionais serem determinados ambiguamente.

No livro Naven, Bateson articula o conceito de cismogênese, entendido como um processo de diferenciação simétrica ou complementar que pode ocorrer no relacionamento entre grupos. Watzlawick, Beavin e Jackson (1993) mostram como o conceito foi abstraído do processo cismogênico e usado para definir interações simétricas (que minimizam as diferenças) e complementares (que maximizam as diferenças). Eles entendem que as interações comunicacionais são, assim, simétricas ou complementares ao se basear no reforço da igualdade ou diferença (quinto axioma).

As relações configuradas nas comunicações, lembram Watzlawick, Beavin e Jackson (1993), com o vocabulário herdado da Teoria dos Sistemas, oferecem-se mutuamente definições a fim de determinar sua natureza. A definição da relação pode ser aceita, refutada ou mudar a do outro. O processo é crítico porque tem que gerar estabilidade a fim de evitar dissolução das relações e, consequentemente, do sistema. Essa estabilização das definições das relações é chamada a regra das relações. As regras evidenciam a “extrema circunscrição dos comportamentos possíveis”.

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Assim, resumidamente e em linhas gerais, Palo Alto percebe a comunicação do seguinte modo:

1. Não se comunicar é impossível; estamos nos comunicando a todo momento por meio de palavras, olhares, posturas corporais, atitudes, disposições do corpo, etc;

2. Comunicar é comunicar algo (relato) de certa forma, sob determinada modulação (relação); toda comunicação admite um nível de metacomunicação;

3. Comunicação é processual, sequencial e pontuada; a pontuação contribui para o nível da relação (da metacomunicação);

4. O conteúdo, o relato é mais afim à linguagem digital; já a relação, a metacomunicação é mais afim à linguagem analógica;

5. Os conteúdos comunicacionais são determinados ambiguamente com base na inter-relação entre o relato e a relação (entre a comunicação e a metacomunicação);

6. As interações comunicacionais são simétricas ou complementares ao se basear na igualdade ou diferença;

7. A estabilização e determinação dos processos comunicacionais atendem a certas regras, muitas delas sociais, aceitas pelos participantes da comunicação.

Extensões e aprimoramento da Mass Communication Research – Agenda Setting (teoria dos efeitos a longo prazo)

O ponto central de se considerar a hipótese do Agenda Setting, uma extensão da Mass Communication Research concentrada nos anos 20 a 40, é que os efeitos, ao contrário da Teoria Hipodérmica, não são instantâneos, mas cumulativos no tempo.

Outro modo de se elaborar esse ponto é afirmar que a hipótese do Agenda Setting não determina o que pensar ou falar mas sim sobre o que discutir.

O estudo precursor foi um trabalho de Gladys Lang e Kurt Lang sobre Watergate em 1952. Posteriormente a teoria foi sistematizada por uma pesquisa de Maxwell McCombs em 1968, sobre a eleição nacional norte-americana, e o mesmo McCombs em parceria com Donald L. Shaw, produziram o importante artigo “The agenda-setting function of mass

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media” (“A função dos meios de comunicação de massa de determinação da agenda”), que também lidava com os efeitos das mídias em eleições. Goetz, Gordon, Cook e Tyler, entre outros, continuaram as pesquisas nas décadas de 70 e 80.

Um primeiro ponto a se ressaltar é que o Agenda Setting não é realmente uma teoria consolidada, mas um conjunto de hipóteses.

Hohlfeldt (2003) destaca três pressupostos das hipóteses do Agenda Setting:

1. Fluxo contínuo da informação: as antigas teorias da comunicação de massa enfatizavam o impacto de certas notícias ou propaganda em uma época determinada e extensão temporal relativamente curta. Agora, trata-se de focar o efeito contínuo e acumulativo do conjunto dos conteúdos disseminados pelas mídias de massa, que pode gerar algo como um “efeito de enciclopédia”.

2. A influência ocorre a médio e longo prazo, não a curto prazo. Lembre-se que a ênfase das teorias da comunicação de massa (com a relativa exceção das teorias baseadas na sociologia estrutural-funcionalista) era no efeito imediato, apurável em pesquisas de opiniões, respostas a questionários ou entrevistas.

3. A influência, como suporta a teoria hipodérmica, não se efetua sobre o quê pensar em relação a um tema, mas, de maneira geral, a médio e longo prazo, sobre o que discutir e valorizar em certos temas. Desse modo, a agenda da mídia é refletida em uma agenda individual e social.

Alguns conceitos devem ser destacados, inclusive porque serão úteis também para compreender a abordagem da Espiral do Silêncio (adaptado de Hohlfeldt, 2003):

a) Acumulação: Capacidade da mídia de colocar um tema em relevância no tempo (por repetição e ressonância entre as diversas mídias).

b) Consonância: Traços em comum das mídias, não obstante suas diversidades, no modo pelo qual transformam acontecimentos dentro de um amplo espectro em notícias.

c) Onipresença: Quando um acontecimento ultrapassa o espaço a que é normalmente destinado e repercute em várias áreas – econômica, social, política, etc.

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d) Relevância: Definida pela consonância de um tema nas diversas mídias, ou seja, se é noticiado boa parte delas ou por poucas.

e) Frame temporal: Intervalo de tempo no qual a pesquisa levanta as agendas da mídia e as agendas do público e contextualiza os acontecimentos (nesse intervalo espera-se ser possível a observação e compreensão dos efeitos).

f) Time Lag: conceito relacionado ao anterior, medido pelo tempo transcorrido entre o levantamento da agenda da mídia e a agenda do público na pesquisa.

g) Centralidade: Capacidade que a mídia tem de tornar determinado acontecimento importante, atribuindo-lhe relevância e significado, e colocando-o em uma escala hierárquica. Algumas vezes o conceito é utilizado como a centralidade que o espectador atribui a determinado acontecimento com base em sua experiência pessoal com o tema.

h) Tematização: Capacidade que a mídia tem de destacar um assunto pelo modo de expô-lo. Conceito relacionado é a suíte de uma matéria, os desdobramentos que o tema vai assumindo na continuidade da cobertura, de modo a atrair e manter a atenção do espectador.

i) Saliência: Valorização individual atribuída por um espectador a um tema, traduzida na percepção do espectador em relação à opinião pública.

j) Focalização: Modo da mídia abordar um tema, incluindo linguagem, contextualização, editoração, chamadas especiais, etc.

McCombs e Shaw, com o refinamento de suas pesquisas chegaram a várias conclusões interessantes.

A agenda midiática era responsável por enfatizar um conjunto de informações e torná-la relativamente conhecida pela audiência. Esse conjunto de informações contribuía para a formação ou alteração de atitudes na audiência. Por sua vez, essas atitudes também eram influenciadas, elaboradas e transformadas por um processo de socialização de cada membro da comunidade nos grupos sociais que lhe eram mais próximos, como família, amigos, colegas de trabalho, e outros.

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Esse processo de socialização ocorria com base em formadores de opiniões, pessoas com legitimidade derivada de conhecimento e fama para tratar e definir o tema, influenciado o grupo no qual se integra. Desse modo, havia também um duplo fluxo informacional. A mídia não exercia uma influência direta. Como vocês devem se lembrar que esses resultados reforçam conclusões da abordagem dos efeitos limitados, elaboradas por Lazarsfeld e Kurt Lewin (retome a aula anterior, caso não se lembre).

McCombs e Shaw também determinaram que uma agenda não era apreendida ou assimilada da mesma maneira pelas diferentes audiências. Wolf (1999) destaca esse ponto como uma tensão entre aspectos cognitivos e estruturais na hipótese do Agenda Setting.

Os aspectos cognitivos relacionam-se com os fundamentos da teoria em si – a ênfase em temas pelas mídias e sua acumulação. Os aspectos estruturais dizem respeito a características próprias dos destinatários que influenciam os processos de recepção, como interesse, experiência prévia com o tema, exposição, percepção e memorização seletivas, etc. Note, nesse momento, a influência e a convergência com a abordagem da persuasão (reveja a aula anterior, se for o caso).

Por esse prisma, a percepção de relevância ou importância do eleitor depende de sua experiência prévia com o tema (geralmente, quanto maior a centralidade atribuída pelo receptor a um tema com base na experiência pessoal, menor a “influência” do tema na formação da agenda) e de sua orientação em relação ao tema. Em média, quanto mais relevância o espectador atribui ao tema e quanto mais sua incerteza em relação ao assunto, mais intensa a busca de informações pelo espectador e maior o “efeito agenda”.

Sublinhou-se também que o agendamento não era um processo unidirecional. De fato, a agenda midiática mantinha uma correlação com a agenda pública. Mas muitas vezes observava-se que a agenda pública influenciava a midiática, não o contrário. Outras vezes, a agenda midiática induzia mudança de comportamento e atitudes dos políticos. Era também bem frequente o fenômeno de interagendamento – a agenda de um órgão da imprensa influenciando a de outros (isso ocorre frequentemente com revistas semanais, como a Veja, e jornais).

Na questão do interagendamento está contida a variação entre as mídias. Algumas mídias, com as impressas, podem aprofundar temas abordados em noticiários televisivos. Algumas pesquisas que definiram o agendamento em termo de profundidade (por exemplo, menção ao

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assunto, definição do assunto, argumentos pró e contra o assunto) obtiveram resultados de que o agendamento pode ocorrer de forma mais ou menos intensa nas mídias dependendo da mídia e do grau de profundidade – graus mais profundos seriam afins a mídias impressas, simples menções ou reforços do tema mais condizentes com mídias televisivas.

Assim, conclui-se que a influência do agendamento é bem menos simples que sua exposição geral, dependendo da saliência, relevância e centralidade atribuídas pelo espectador ao tema, da orientação do espectador, de seu grau de exposição, de sua orientação em relação ao tema, de sua experiência prévia com o tema, de sua falta de informação e grau de incerteza, de suas necessidades de informação, do tipo da mídia, e por aí vai.

Extensões e aprimoramento da Mass Communication Research – A perspectiva da Espiral do Silêncio

A perspectiva da Espiral do Silêncio tem origem nos trabalhos da pesquisadora alemã Elizabeth Noelle-Neumann.

Partindo de uma pesquisa e historicização do conceito de opinião pública, Elizabeth Noelle-Neumann percebe que, para o indivíduo, o seu não isolamento social é mais importante que o seu não julgamento. Essa seria uma condição de integração social e manutenção da sociedade. Colabora para essa perspectiva a dúvida da capacidade de julgamento sobre si mesmo que o sujeito possui.

Assim, o indivíduo é capaz de perceber um clima de opinião dominante, independente do que ele sinta ou de sua opinião. A opinião pública torna-se a opinião da (supostamente) maioria que se expressa livremente nos meios de comunicação de massa. Ocorre um processo interacional entre as atitudes e crenças individuais e o clima de opinião percebido nas mídias. A influência não ocorre por um processo argumentativo em que diferentes opiniões são comparadas, ou são apresentados os pontos positivos ou negativos de determinado tema. A influência ocorre por meio de um estabelecimento de um clima de opinião e a consequente percepção individual do que seja a opinião da maioria.

Esse movimento de formação do clima de opinião ocorre de forma constante e ascensional no tempo – daí a expressão espiral. Contribui para isso a tematização imposta pela mídia (veja as definições na seção anterior). Na teoria da Espiral, a facção da opinião percebida como predominante torna-se cada vez mais confiante e unificada,

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enquanto os grupos que têm opinião contrária retraem-se, isolam-se e acabam por se resignar.

Noelle-Neumann, no fundo, argumenta por uma influência da mídia que ultrapassa a influência restrita apregoada pela hipótese do Agenda Setting. A consonância midiática é tão forte que prejudicaria a percepção seletiva dos temas. Os processos individuais de formação de opinião passam então por observações do meio social e midiático, do que se supõe ser o clima de opinião.

Em resumo a teoria de Noelle-Neumann poderia ser generalizada do seguinte modo:

1. Os indivíduos temem o isolamento social como resultado de manifestações de posições não integradas (uma opinião radical em uma questão polêmica, por exemplo);

2. O medo ao isolamento faz com que o indivíduo tente se situar continuamente no meio social, avaliando as tendências, a opinião geral, o clima de opinião;

3. Os resultados dessa avaliação constante influenciam no comportamento do indivíduo em público, particularmente em evitar uma expressão de opiniões que possam contradizer o clima de opinião percebido;

4. Assim, à medida que um tema é tematizado de certo modo pela mídia, apresentado centralmente e em consonância, tende-se a produzir certo clima de opinião;

5. Em seu próprio processo de percepção, o clima de opinião é continuamente reforçado, pois mais e mais pessoas tendem a se calar quando se percebe uma inclinação geral em relação ao tema divergente da opinião dessas pessoas;

6. Assim, um clima de opinião paulatinamente torna-se uma suposta opinião geral e tem poucos opositores.

Extensões e aprimoramento da Mass Communication Research – A abordagem do Newsmaking

A abordagem do Newsmaking (literalmente: fabricação, criação das notícias) destaca-se por focar no lado da produção da notícia. Está muito ligada ao jornalismo. Wolf (1999) a considera um caso de estudo de Sociologia das profissões.

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A ênfase da abordagem está nos critérios de produção de notícias, isto é, os critérios que tornam um acontecimento notícia. Quando estudamos a abordagem dos efeitos limitados, discorremos sobre o conceito de gatekeeper de Kurt Lewin.

Relembremos: literalmente, o termo significa “porteiro”, “aquele que controla a entrada”. O fato do gatekeeper controlar o fluxo de informações lhe garante o papel de um formador de opinião informal.

Trata-se de uma filtragem subordinada a vários condicionantes, profissionais e não profissionais. Não se trata de censura ou manipulação. Também, nem sempre esses critérios são condenáveis, arbitrários e interesseiros. Eles são úteis na prática jornalística, pois permitem uma seleção necessária frente a uma infinidade de acontecimentos passíveis de se transformar em notícias e uma acomodação às características do veículo de comunicação e de seu público.

Nesse contexto, cabe a pergunta: quais são os critérios de noticiabilidade (a aptidão ou requisitos necessários de um fato para se tornar notícia)? Esses critérios seriam demasiado unilaterais (próprios da classe jornalística) ou induziriam controle social?

Kurt Lewins, em seus estudos de gatekeeping, notou que das notícias que chegavam à redação poucas eram publicadas. As recusas das notícias recebidas no telex eram fundadas em uma concepção subjetiva do que fosse informação e se centravam em dois polos: o meio profissional e a fonte das notícias (pouca referência era feita ao público).

Assim a função de gatekeeping comportaria uma distorção involuntária, dependendo de influências e percepções relativas à autoridade organizacional, as sanções aplicadas na organização, fidelidade a superiores, desejos de ascensão profissional do jornalista, valorização da notícia, etc.

Reconhecia-se uma lógica específica dos meios de comunicação. Estudos sobre Newsmaking tendem a se concentrar em dois blocos: (1) cultura profissional e (2) organização do trabalho e processos produtivos do veículo de comunicação.

De modo global, entende-se que a prática de noticiar signifique reconhecer um fato como passível de se tornar notícia e descrevê-lo, extraindo-o de seu escopo particular e contextualizando-o, tudo isso dentro de um esquema industrial e organizacional que produza continuamente notícias e permita sua exploração racional e planificada.

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Assim, as fases da produção de notícias são (1) recolha ou captação de informação (usualmente realizada em excesso, especialmente com os serviços de agências de notícias), (2) seleção de informação e (3) apresentação ou edição (editing).

Nessa prática, a cultura profissional dos jornalistas, como toda cultura, é repleta de retóricas, tradições, estereótipos, visões consagradas, símbolos e códigos predominantes, etc. É essa cultura que define a noticiabilidade de um fato, a possiblidade de integração do fato a essa cultura como notícia.

Mas não se trata apenas de integrar a cultura. Também deve haver adequação ao processo organizacional de produção da notícia. A fabricação de notícias em bases rotineiras, industriais, é um processo essencialmente prático e pragmático.

A noticiabilidade é determinada por valores-notícias, um conjunto de regras práticas, elementos, princípios e condicionantes que determinam a possiblidade do acontecimento transformar-se em notícia. Esses princípios e regras são aplicados de modo simultâneo, relacionam-se frequentemente e são classificados em cinco grandes categorias. Sejam alguns exemplos, adaptados de Hohlfeldt, 2003.

1. Categorias substantivas (em relação ao acontecimento em si e aos personagens envolvidos)

a) Nível hierárquico e social dos indivíduos envolvidos no acontecimento: quanto mais famosos, maior a noticiabilidade.

b) Impacto sobre o interesse nacional: percepção da significação do evento, sua proximidade geográfica, etc.

c) Quantidade de pessoas envolvidas no acontecimento: quanto maior, maior a noticiabilidade.

d) Relevância e potencial da evolução e consequência do acontecimento: fatos relevantes com potencial de desdobramentos tem mais noticiabilidade. Relacione esse valor-notícia com a tematização.

e) Interesse: resultante da capacidade de entretenimento, do “interesse” humano (certa convergência com o sensacionalismo), e composição equilibrada do noticiário, certo equilíbrio de temas positivos e negativos, pois “assim é a vida”

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(aspecto este também ligado aos processos de produção organizacional).

2. Categorias relativas ao produto (à notícia, referindo-se à disponibilidade dos materiais e suas características)

a) Acessibilidade: local do acontecimento, rapidez no acesso, etc.

b) Potencial dramático e de entretenimento do acontecimento.

c) Brevidade: adequação do relato aos limites do noticiário jornalístico, televisivo, etc.

d) Desvio da informação: quanto maior o desvio em relação ao padrão melhor; notícia ruim é melhor que boa, notícia rara é melhor que comum.

e) Atualidade (novelty): Relaciona-se à frequência do produto comunicativo (jornal diário, hebdomadário, etc), ao deadline (prazo final da entrega da notícia) e à continuidade ou suíte.

f) Atualidade interna (internal novelty): Tem a ver com a organização. Típico do processo investigativo, em que o jornalista deve manter uma notícia em off até certo momento.

g) Qualidade: relaciona-se com certas qualidades do material jornalístico, como ritmo, clareza dos diálogos e imagens, certo equilíbrio dramático, etc.

h) Equilíbrio (balance): relaciona-se estritamente com determinada edição, em relação ao conjunto das outras informações e editoriais (também um valor com peso organizacional).

3. Categorias relativas aos meios de informação (relacionada à quantidade de tempo utilizada na veiculação da notícia, à sua forma de veiculação)

a) Equilíbrio entre bom texto e imagens: um bom texto deve ser ilustrado por imagens pertinentes de boa qualidade.

b) Frequência: A notícia tem um valor relativo à frequência de publicação do veículo; com a Internet e necessidade de

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realimentação contínua dos noticiários torna-se um valor crítico.

c) Formato: estrutura da notícia (introdução, desdobramentos, conclusão), usualmente definido nos manuais de redação.

4. Categorias relativas ao público (relativas à imagem que os profissionais têm de seu público e à concepção da melhor forma de atendê-los; pesquisas mostram que usualmente essa imagem é deturpada):

a) Estrutura narrativa: clareza da narração para o receptor.

b) Protetividade: Evita-se noticiar o que pode causar pânico ou temor ou ansiedade desnecessária no público.

5. Categorias relativas à concorrência (antecipação e emulação das pautas dos concorrentes):

a) Exclusividade ou furo: Apresentar fato ou seu desdobramento antecipadamente.

b) Geração de expectativas recíprocas: a decisão de publicação pode depender de estimar se o concorrente vai publicar o mesmo acontecimento ou não.

c) Desencorajamento sobre inovações: inovação desde o perfil de notícias até a diagramação ou formato do programa, com receio de desagradar um suposto modelo ideal de espectador ou leitor.

d) Estabelecimento de padrões profissionais ou referenciais: tendência de cópia de estilos ou práticas de jornalistas ou veículos mais velhos.

O Paradigma Crítico - Teoria Crítica

A Escola de Frankfurt representa significativamente o paradigma crítico. A Escola de Frankfurt era um agregado de cientistas sociais e pensadores formados, entre outros, por Theodor Adorno, Max Horkheimer, Erich Fromm, Herbert Marcuse e, um pouco menos integrados, Walter Benjamim e Siegfried Kracauer. Esses pensadores estavam ligados ao Institut für Sozialforschung, ou Escola de Frankfurt. Eram muito influenciados por Marx e Freud.

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Durante a fase inicial da Escola de Frankfurt (eventualmente denominada primeira fase), os integrantes da Escola produziam depois da Primeira Guerra Mundial em um contexto da crise Alemã, ascensão do Fascismo e do Nazismo, vitória da Revolução Comunista na Rússia, pressões sofridas pelo movimento operariado, crise econômica nos EUA e desenvolvimento e difusão intensos da comunicação em massa, especialmente o cinema.

Aproximadamente, nessa mesma época, como vocês devem se lembrar da aula passada, a pesquisa norte-americana era predominantemente “administrativa” e muito calcada em pressupostos estrutural-funcionalistas, além de procurar atingir objetivos propagandísticos e influenciar compatriotas em tempos de guerra iminente.

A Teoria Crítica tinha uma visada inteiramente diversa. Não se pode dizer que se estudava comunicação em um sentido estrito. Para os pensadores críticos, a comunicação só tinha sentido dentro de um todo social, como uma mediação. Por isso, precisava ser estudada no contexto de um processo social e histórico global da sociedade.

Horkheimer e Adorno apresentaram temas famosos da Escola em sua principal obra, A dialética do Iluminismo. Lembravam que o processo cultural, social e histórico do Iluminismo propunha uma visão emancipadora do homem que passasse por uma apreensão racional do mundo. Tratava-se de libertar a humanidade do misticismo e de opressões sociais, enaltecendo a capacidade de autodeterminação humana e a possibilidade de construir uma sociedade justa, igualitária e propiciadora da consecução do potencial de cada um.

Mas a história do séc. 19 demonstrou que esse credo era carregado de contradições e tensões, base de muitos conflitos políticos, ansiedades, guerras e sofrimento humano. O desenvolvimento do capitalismo mostrou-se não harmonizar com seus ideais libertários e igualitários.

Assim, para Horkheimer e Adorno o desenvolvimento humano e tecnológico, afinado com o percurso capitalista, trazia opressão e pobreza intelectual, ao contrário do que apregoava. Exemplo disso era a Indústria Cultural. Artefatos culturais, como o rádio e filmes, eram produzidos em um sistema harmônico e adaptados para o consumo das massas, visando certo arrefecimento do senso crítico, acomodação, um tipo de manipulação enfim.

A cultura era convertida em mercadoria pela Indústria cultural. Não se tratava de determinadas empresas, nem de certas técnicas de comunicação. O termo se referia a uma prática social na qual a

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produção cultural e intelectual se orienta para o consumo de massa no mercado.

Com essa convergência entre estética e mercantilização dos produtos, prepondera a ideia de que o que somos depende do que consumimos e dos modelos de conduta veiculados pela Indústria cultural. O mercado adentra o plano da consciência. Grupos primários, como a família e amigos, e mesmo a escola ou religião, estariam perdendo sua força socializadora para as empresas de comunicação. O valor de troca de mercadorias culturais, não seu valor de uso, é aquele que passa a predominar.

Wolf (1999) aponta como tópicos definidores da teoria desenvolvida pelos teóricos de Frankfurt:

1. A integração e harmonização dos produtos da Indústria cultural é uma estratégia elaborada “de cima” visando o lucro;

2. Os produtos culturais e seu consumo são estandardizados, estereotipados e de baixa qualidade;

3. A Indústria Cultural é, ainda, um sistema multiestratificado, de níveis sobrepostos, explícitos ou ocultos, atingindo o espectador em diferentes níveis psicológicos;

4. Os indivíduos, como resultado desse sistema capitalista de produção cultural, perdem a autonomia e a individualidade;

5. No consumo de produtos culturais ocorre uma ênfase no reconhecimento do já assimilado, não se produzindo nada de novo a partir de um processo de compreensão, como aconteceria em outras formas de arte mais “elaboradas”.

As vozes não eram unânimes dentro da Escola de Frankfurt. Walter Benjamim, por exemplo, enalteceu o cinema no famoso ensaio “A obra de arte na era das suas técnicas de reprodução” como capaz de revolucionar a arte. A aura estaria ligada ao conceito burguês de arte como manifestação única produzida por uma individualidade genial. Havia, assim, uma dimensão de culto e valoração, que passava pela economia e impedia o acesso das classes desprivilegiadas.

Benjamim argumentou que os meios técnicos podiam reconsiderar a noção de aura e, de certa forma, democratizar a arte. Adorno discordava ardentemente de suas teses, pois achava que, embora não

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houvesse nada intrínseco, para o bem ou o mal, à tecnologia, não era nesse sentido que caminhava sua utilização.

A Escola de Frankfurt também teve várias “fases” não se encerrando no período que descrevemos.

Jürgen Habermas, por exemplo, foi um pensador que procurou desenvolver certos pontos do pensamento de Horkheimer e Adorno.

Uma de suas mais famosas teses foi a da colonização da esfera pública. A esfera pública constituiu-se na modernidade como um espaço público, sustentado pela mídia impressa, que permitiu à Burguesia discutir, interagir e desenvolver uma postura crítica em relação a autoridades tradicionais como o Estado ou a Igreja. Entretanto, a esfera pública, como o desenvolvimento capitalista passou a ser “colonizada” pelo consumismo de interesse mercantil e por propaganda ideológica, como no caso do Fascismo e Nazismo, mas também dos regimes democráticos de massa, como o norte-americano.

Outra das teses de Habermas foi a “ação comunicativa”, entendida como um meio de coordenar a ação social sustentado por um diálogo, uma comunicação em que os sujeitos não se movem por interesses egocêntricos, mas procuram estabelecer pontos de convergência e ouvir a todos, em “atos de entendimento”. Essa é a “racionalidade comunicativa”, que se opõe frontalmente ao que Horkheimer e Adorno denominaram a “racionalidade instrumental”, guiada pelo princípio racional da pura adequação de meios a fins e manifestando o poder subjetivo de um sujeito sobre outro. A racionalidade instrumental está intimamente ligada à ciência e à tecnologia.

Todas as teorias expostas foram bastante criticadas. Note-se como a Teoria Crítica, especialmente nos primeiros anos da Escola de Frankfurt, considera os indivíduos de modo atomizado, incapazes de reação e raciocínio próprio, à semelhança da concepção de multidão e do pressuposto da Teoria Hipodérmica que estudamos na aula anterior. Note também, um pouco surpreendentemente, dada a oposição conceitual aos estudos norte-americanos de mass communication, como reside um pressuposto de uniformidade e necessidade (no sentido de ter de ocorrer obrigatoriamente) dos efeitos das mídias na Teoria Crítica.

O Paradigma Cultural - Estudos Culturais

O campo dos estudos culturais britânicos surge ao redor do Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS) (Centro de Estudos Culturais Contemporâneos) da Escola de Birmingham, na Inglaterra.

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São consideradas obras seminais dos Estudos Culturais britânicos surgidos no final dos anos 50 e início dos 60: Uses of Literacy (1957) de Richard Hoggart (que fundou o CCCS), Culture and Society (1958) de Raymond Williams e The making of the English working class (1963) de E. P. Thompson. Stuart Hall contribui imensamente para a escola e dirigiu o CCCS de 1968, quando substituiu Hoggart, a 1979.

Caracterizou os Estudos Culturais britânicos uma combinação entre esforço teórico e projeto político (com a valorização das expressões populares, como veremos), uma confluência entre várias disciplinas (multidisciplinaridade) e uma multiplicidade de objetos de investigação.

O foco do estudo da Escola é a cultura. A ênfase em comunicação de massa recai no escopo de suas articulações com a cultura e as estruturas sociais. Assim, as estruturas sociais, a situação concreta vivida e o contexto histórico são fatores essenciais para se compreender os meios de comunicação de massa.

De maneira geral, os estudiosos da escola, não obstante sua diversidade, trabalhavam com um conceito amplo de cultura. Marx tinha uma compreensão de cultura como um conjunto de ideias, práticas políticas e ideologias existentes na superestrutura, condicionadas ou fortemente influenciadas pela infraestrutura, esta por sua vez relacionando-se aos meios de produção e às relações de produção predominantes na sociedade. Há, de fato, certo jogo, influência mútua entre cultura e modos de produção.

Os pesquisadores de Birmingham apreendem de Marx a “autonomia relativa” das práticas culturais, mas levam o conceito adiante. A cultura abrange formas materiais e simbólicas. Está relacionada a rituais, instituições e práticas que, junto com as artes, constituem “formações culturais”. Stuart Hall via a cultura como um conglomerado de inter-relações de práticas sociais. Raymond Williams enfatizava a cultura como representações e valores pelos quais a sociedade atribuía sentido a suas experiências comuns, ou compreendia determinado objeto ou fenômeno, sob um véu cultural de um “grupo de sentimento”.

Assim, a cultura ultrapassa os condicionantes econômicos e os meros artefatos artísticos. Essa expansão do conceito de cultura teve várias consequências:

1. Ao se definir a cultura por meio de práticas centra-se no sentido de ação, de agência na cultura;

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2. Imediatamente, dado a valorização da agência cultural, seu papel instituinte (e não condicionado por outras variáveis), criticam-se análises mercadológicas da comunicação de massa (pois a economia e o mercado não são suficientes para explicar a comunicação de massa), teorias conspirativas (que percebiam a comunicação de massa como pura forma de dominação, o que não se mantém, pois comunicação é prática bidirecional) e propósitos paternalistas (que, a partir de uma preocupação ética, enfatizavam os fins educativos e esclarecedores da comunicação de massa, o que também não se sustenta, pois a comunicação de massa é a vivência de uma prática, uma situação concreta, e pressupõe uma postura ativa de “receptores” ou “consumidores”);

3. Certa despolarização entre produção e consumo na comunicação de massa. A esfera da produção implica um processo complexo e multicausal de criação de produtos comunicativos. A esfera do consumo subtende outra série de práticas interligadas às primeiras, nas quais há negociação entre diversos modos de assimilação dos produtos da comunicação de massa;

4. A elaboração de um critério comunicativo que transcende o da mera transmissão. O público não é mais manipulado pela propaganda, esclarecido, educado, mas se envolve, em formas contextuais próprias, nos processos comunicativos;

5. Uma desvalorização de critérios tradicionais de legitimação cultural, especialmente quando se começaram a estudar expressões culturais não tradicionais. Valoriza-se a cultura popular e perde força a polarização “elite” e “massa”.

Dessas cinco observações ressalta-se um ponto básico: a audiência é vista como polo ativo na comunicação de massa (o que depõe contra a Teoria Hipodérmica e a Escola de Frankfurt).

Nesse contesto, destaca-se a incorporação do modelo de codificação-decodificação de Hall. A mensagem midiática pode ser interpretada de (1) uma posição dominante ou preferencial, de acordo com a concepção do criador da mensagem; (2) uma posição negociada, quando há negociação do sentido da mensagem dadas as condições dos consumidores; e (3) uma posição de oposição, quando a mensagem é compreendida, mas interpretada por meio de uma referência alternativa.

Embora em um primeiro momento (anos 70), haja ênfase nos estudos de texto e de suas concepções ideológicas, logo o ponto de interesse se

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desloca para o estudo das audiências (final dos 70 e anos 80). Exemplo significativo e precursor é o estudo de Morley sobre Nationwide, um programa britânico famoso à época. As estratégias metodológicas empregadas são principalmente a etnografia e a observação participantes. Posteriormente (anos 90), os estudos culturais vão se reorientar para as questões de formação das identidades, para o que contribuem os meios de comunicação de massa.

Vimos como os Estudos Culturais se contrapõem a teorias e práticas de pesquisa, especialmente as norte-americanas. Deve-se ter consciência da oposição, mas não radicalizá-la. Os Estudos Culturais têm sido criticados por em efeito oposto: não obstante a plausibilidade da negociação ativa da audiência com os textos midiáticos e as tecnologias, não se deve produzir tal otimismo e euforia que obscureçam a ainda visível marginalidade dos receptores em relação aos meios de comunicação de massa.

O Paradigma Cultural - A Escola Francesa

A Escola Francesa integra o que denominamos o paradigma cultural. É também denominada “Teoria Culturológica”. O marco inicial da escola é a obra “Cultura de massa no século XX: o espírito do tempo”, de Edgar Morin. Outro pesquisador de destaque na escola é Abraham Moles (que fala de uma “cultura de mosaico” que ressalta duas classes: a dos criadores, definidores do conteúdo, e a dos consumidores, mais passivos e absorvedores dos produtos midiáticos).

A exemplo dos Estudos Culturais, a Escola Francesa estuda a comunicação de massa não a partir de seus efeitos, mas da identificação de uma nova forma de cultura de massa, gerada a partir dos mass media. No entanto, cultura para a Escola Francesa não tem uma conceituação tão abrangente como para os Estudos Culturais (lembre da definição de cultura de Stuart Hall da seção anterior).

Para Morin, a cultura constituiria um sistema de valores, símbolos, mitos e imagens, que dizem respeito à vida prática e ao imaginário coletivo. Forma-se então uma “atmosfera”, algo similar ao “grupo de sentimento” de Raymond Williams, uma dimensão simbólica que permite aos sujeitos se inserirem no meio social.

Assim, agora ao contrário da Teoria Crítica, a cultura de massa seria mais uma entre as culturas que não saem imune do processo de inter-relação cultural em um meio policultural, pois passíveis de corrupção e desagregação.

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A industrialização cultural é central para Morin, que procura produzir algo como uma sociologia da cultura de massa contemporânea. Mas, de novo ao contrário da Escola de Frankfurt e dos Estudos Críticos em geral, não se trata de um sistema harmonioso, dirigido de cima para baixo. Há certa autonomia na concepção de cultura da Escola Francesa. Morin procura dar conta de uma complexidade abrangendo duas ambiguidades situadas nos polos da produção e do consumo.

Do lado do consumo, a concentração tecnológica, padronização e racionalização da produção capitalista dos produtos de comunicação tem que conviver com o desejo de um produto individualizado, customizado e sempre original. A indústria faz isso apropriando-se dos arquétipos do público consumidor e estereotipando-os. A divisão do trabalho capitalista, a exigência de lucro nos mercados e as demandas dos consumidores geram uma dinâmica bem diversa das artes, tradicionalmente mais orientadas a uma “finalidade sem fim”, um valor contido na própria obra de arte, ou em sua feitura.

Do lado do consumo, a indústria visando o consumo máximo tem que atender a um imaginário homem médio ou universal. É necessária padronização e homogeneização para uma efetiva produção cosmopolita, dirigida ao tipo ideal do homem médio consumidor de produtos da comunicação de massa.

Daí surge, dessa contradição, uma dialética produção-consumo. A cultura de massa não é imposta a partir de um padrão industrial nem reflete os anseios e desejos de um público que é diverso demais, pois houve um sincretismo padronizante. O que ocorre é que a indústria de massa constitui como que um campo de negociação, um local onde desejos e aspirações suprimidos materializam-se, onde se produz o que é extirpado da vida real.

O resultado é uma mudança do público, já que a homogeneização nivela as diferenças sociais e padroniza gostos. A relação produção-público é essencialmente assimétrica, sendo a voz mais fraca a do público.

Ressalte-se por fim uma importante diferença da Escola Francesa em relação à Escola de Birmingham. Morin apreende estruturalmente a cultura de massa como um sistema cuja lógica interna leva à integração e reprodução (de certa maneira, uma cultura mais “autônoma”). Os pesquisadores dos Estudos Culturais valorizam os papéis dos indivíduos, as estruturas sociais, que interferem nos conteúdos e nas práticas comunicacionais, uma abordagem mais ampla, portanto.

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O Paradigma Midiológico e Tecnológico - Escola Canadense – McLuhan

A partir dos anos 50, superando o enfoque nos conteúdos das mensagens midiáticas e seus efeitos, começam a aparecer preocupações com os efeitos das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas formações sociais. A Escola Canadense reflete essas tendências.

Um pioneiro da Escola Canadense foi Harold Adams Innis. Mas o nome mais famoso é certamente Marshall McLuhan. Mais um ensaísta do que propriamente um pesquisador e teórico, McLuhan destacou-se especialmente nos anos 60.

Descrevamos suas principais ideias:

1. A concepção de meios tecnológicos em um sentido mais extenso que canal. Uma mensagem mais um canal resulta apenas na mesma mensagem. Uma mensagem mais um meio resulta em uma modificação da mensagem.

2. Meios de comunicação estão relacionados a alteração antropológicas e sociais. A tecnologia pode induzir mudanças na sociedade, estruturando relações espaço e tempo, as relações sociais e a autopercepção humana.

3. Meios de comunicação por definição criam vínculos entre as pessoas. São meios de comunicação: a linguagem, o dinheiro, vestuário, transportes, e outros.

4. Meios podem ser “quentes” ou “frios”. Os meios quentes reproduzem apenas um sentido e o saturam, não deixando espaço pra ser ocupado. Os meios frios dirigem-se a mais de um sentido, não saturando os significados de modo que estes possam ser preenchidos e a imaginação possa atuar. Exemplos de meios que McLuhan considerava quentes: rádio, cinema, meios escritos ou impressos, a valsa, uma conferência. Exemplos de meios frios: telefone, televisão, conversação, o jazz.

5. Os meios podem ser considerados extensões do homem. Com os meios o homem opera no mundo de um modo diverso.

6. A história da humanidade corre paralela à história dos meios de comunicação. A comunicação estrutura a história e os modos de viver do homem. A classificação histórica de McLuhan é baseada nos meios de comunicação disponíveis. Culturas orais e

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tribais, anteriores ao desenvolvimento da escrita têm uma visão não linear, fragmentada do mundo, mais difusa e diversificada. A produção da escrita e da impressão induz uma visão de mundo lógica e linear. Os meios de comunicação de massa eletrônicos propiciariam a reversão da mecanização ligada à escrita e o retorno à visão não linear do mundo. Esse novo mundo, conectado pela tecnologia, é a “aldeia global”.

7. O meio é a mensagem. A proposição gerou muitas polêmicas e não deve ser entendida literalmente. McLuhan procura acentuar desse modo a importância dos meios nas considerações das mensagens transmitidas e nas expectativas que governam os processo de produção e decodificação da mensagem. Certas mensagens são mais apropriadas a certos meios. O conteúdo central da mensagem estaria assim conectado ao meio. Mais importante ainda, certos meios se destacariam menos pelos efeitos diretos, mas pelas repercussões sociais.

Nota-se que McLuhan desloca o foco dos estudos comunicacionais do conteúdo das mensagens para os meios. Embora relativamente esquecido nas décadas anteriores, suas ideias têm sido retomadas com o surgimento da Internet.

O Paradigma Semiótico/ Semiológico – Linguística Estrutural e Semiótica

A semiótica tem como preocupação central a mensagem. Tem-se procurado coordenar a Teoria da Comunicação com a semiótica, para produzir teorias que versem sobre o processo comunicacional e suas relações com estruturas sociais.

A semiótica tem origens na Linguística estrutural inaugurada por Ferdinand de Saussure (1857-1913) em sua obra Curso de Linguística Geral.

Saussure cria nessa obra uma ciência geral dos signos, a Semiologia, da qual a linguística seria uma parte. Saussure concebe o signo de modo bilateral: o significado e o significante, respectivamente o que se representa e o meio pelo qual se representa.

O francês Roland Barthes (1915-1980) amplia o conceito de semiologia de Saussure para além da linguagem verbal, considerando vários sistemas semiológicos como as imagens, o vestuário, ou sons ou mesmo objetos. Baseado nas divisões dicotômicas de Saussure, institui as seguintes separações na sua obra Elementos de Semiologia (1992):

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1. Língua X Fala: Se antes de Saussure a linguística estudava a linguagem de um ponto de vista individual, a oposição língua e fala retrata as dimensões individuais e sociais em conjunção. A Língua corresponde às regras, as convenções sociais sedimentadas em anos de prática coletiva. A fala é a prática, o ato individual colocado em contexto (portanto, pode divergir da Língua). Linguagem corresponde a Língua e Fala.

2. Significante X Significado: As duas faces de uma moeda, segundo Saussure. O aspecto sensível do signo é o Significante. O aspecto intelectual, inteligível é o Significado. O Significante é ligado de maneira arbitrária ao Significado. A significação, processo dinâmico, é a efetiva conexão entre um Significante e um Significado.

3. Paradigma X Sintagma: o Paradigma é o corte vertical virtual, a escolha no repertório de signos, o caráter sincrônico, a língua como sistema, o código. Já o Sintagma é a conjunção dos signos, o eixo horizontal, a mensagem, o caráter diacrônico, a fala.

4. Denotação X Conotação. Denotação é o sentido primeiro, explícito. Conotação é o sentido derivado, subentendido. Signos denotativos remontam à primeira relação de um signo e seu objeto. Signos conotativos implicam relações subsequentes.

Um segundo ramo de investigação ligado ao paradigma é a Análise de Conteúdo. De origem predominantemente norte-americana, aplica um enfoque quantitativo extraindo unidades das mensagens e analisando-as a partir de um conjunto de regras explícitas.

O terceiro ramo do paradigma é a Semiótica norte-americana. Na Europa, emprega-se usualmente o termo Semiologia, como Barthes o fez. Charles Sanders Peirce (1839-1914) foi um semiótico norte americano, criador de teorias elaboradas e complexas, que têm sido exploradas em toda sua extensão há pouco tempo, e aplicadas na área da comunicação.

O foco da semiótica peirceana é a dinâmica entre o emissor e o receptor e os processos interpretativos que o último efetua. Peirce considera como ramos da semiótica:

1. Gramática especulativa: estuda os tipos de signos e as formas de pensamento possibilitadas.

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2. Lógica Crítica: estudas os raciocínios e inferências que podem ser efetuadas entre os signos. Os três modos de raciocínio são: (1) a abdução, para formulação de hipóteses, como uma conjectura, introduzindo, ao contrário dos demais tipos de raciocínio, ideias novas; (2) a indução, passagem da observação de muitos casos para regras gerais (de baixo para cima), e (3) a dedução, passagem de leis e premissas para proposições pontuais (de cima para baixo).

3. Retórica especulativa: analisa os métodos a que cada um dos tipos de raciocínios dá origem.

Peirce também estipula três categorias universais de pensamento:

1. Primeiridade: modo da possiblidade e do imediato apenas. Uma coisa existe sem nenhuma outra ainda.

2. Secundidade: quando o fenômeno primeiro é relacionado a um segundo fenômeno. É algo real, concreto, resultante da força, da comparação, da experiência. Envolve conflito e disputa.

3. Terceiridade: a conexão de um fenômeno segundo com outro. Remonta à mediação, à memória, à síntese, à representação, ao raciocínio e pensamento enfim. Corresponde à definição do signo em Peirce, como veremos a seguir.

Ao contrário de Saussure, para quem o signo é diádico, o signo peirceano é triádico, composto de um signo, objeto e um interpretante.

O signo facilita a representação e a comunicação, está no lugar de outra coisa. O signo é qualquer coisa, de qualquer espécie, que representa outra coisa, chamada de objeto do signo, e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial, efeito este denominado interpretante do signo. Tais definições são funções lógicas que cada um desses elementos assume em um processo interpretativo.

O signo atua como um mediador entre o objeto e o interpretante. Signos primários são sempre signos, pois criados pelos homens (a linguagem). Um apartamento caro pode ser um signo secundário de ostentação.

O objeto do signo não se confunde com seu significado (uma pedra pode ter várias acepções culturais e circunstanciais). O objeto não precisa ser concreto (como a alma, nem mesmo existir seguramente). O objeto de um signo pode ser outro signo, como uma fotografia de algo. Palavras

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são sempre signos de signos. Qualquer coisa pode eventualmente desempenhar o papel de signo.

Interpretante do signo diverge de seu intérprete. Quem interpreta o signo é o intérprete, uma pessoa por exemplo. O interpretante é um efeito produzido em uma mente interpretadora, uma representação, portanto também um signo. Como o efeito mental na mente do intérprete pode não coincidir com o significado, interpretante e significado também não se confundem.

Como o efeito na mente do intérprete, o interpretante, é um signo fica fácil de constatar que o raciocínio é um encadeamento de signos. Esse processo, uma série de interpretações sucessivas, o verdadeiro objeto de estudo da semiótica, é a semiose. A semiose é interrompida na prática, mas infinita em tese.

Peirce elaborou uma sofisticada e numerosa classificação de signos. Ressaltamos aqui apenas uma dela, de utilização mais comum, a que associa as categorias universais de pensamento com o signo em relação a seu objeto.

No nível da primeiridade, temos um ícone. Esse tipo de signo assemelha-se com o que é representado. Exemplo: o ícone da lixeira na área de trabalho do Windows.

No nível da secundidade, temos o índice. Esse signo representa seu objeto em virtude de uma conexão real com ele. Exemplo: uma pegada.

No nível da terceiridade, temos o símbolo. Esse tipo de signo refere-se a seu objeto por força de lei ou convenção. Exemplo: uma palavra.

As relações dos signos entre si definem três grandes divisões da semiótica:

1. Sintaxe: estudo das relações formais dos signos entre si.

2. Semântica: estudo dos signos em suas relações de significado com o objeto ou referente.

3. Pragmática: estudo dos signos em suas relações com os intérpretes e usuários.

Paradigma Conflitual Dialético – O Imperialismo Cultural

Como exemplo de uma teoria latino-americana do paradigma conflitual dialético estudaremos o Imperialismo Cultural.

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O Imperialismo Cultural tem influências da Teoria Crítica. A Indústria Cultural é concebida como uma estratégia dos países desenvolvidos empregada para manipular o público e estabelecer domínios nos países subdesenvolvidos.

A teoria desenvolveu-se na América Latina durante a década de 60. Teve como expoentes Armand Mattelart e Schiller, entre outros, que elaboram análises de crítica ideológica. Nessa época havia uma preocupação intensa com o desigual fluxo mundial de comunicação. A ONU financiava pesquisas nesses tópicos. Vários órgãos setoriais estudavam a dominação ideológica e o imperialismo na América Latina, especialmente o norte-americano.

O Imperialismo Cultural seria uma estratégia mutante que se conforma a diversas fases de expansão política e econômica e diferentes realidades e contextos nacionais. Substitui a divisão do trabalho como meio de penetração imperialista.

Nessa época, tinha-se uma percepção forte de uma “luta internacional de classes”, de um embate internacional político e psicológico e de ideologias entranhadas em quaisquer produtos midiáticos. O argentino-chileno Ariel Dorfman e o belga Armand Mattelart escreverem em 1972 o livro Para Ler O Pato Donald!, que procurava mostrar, com fundamentos marxistas, que as histórias de Wall Disney não apenas tinham consciência de que representavam uma ideologia dominante, mas também de que eram agentes ativos na difusão dessa ideologia para países subdesenvolvidos.

Uma crença que integrava o Imperialismo Cultural era que as multinacionais concentravam empreendimentos culturais, militares, econômicos e políticos que seriam da alçada do governo norte-americano (ou o país de origem da multinacional), constituindo assim “agentes duplos camuflados”, que exerciam um “ataque” econômico e, simultaneamente, de propaganda ideológica.

Essa ação não ostensiva, acreditava-se, começava a levar em conta os interesses específicos e as necessidades de cada faixa etária e estamento social.

Paradigma Conflitual Dialético – Brasil: Folkcomunicação

Essa teoria da comunicação teve origem com os trabalhos do pesquisador brasileiro Luiz Beltrão em meados da década de 60.

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Considera-se a Folkcomunicação uma teoria de comunicação genuinamente brasileira.

Beltrão define a Folkcomunicação como um processo de intercâmbio de informações, opiniões, ideias e atitudes da massa por meio de agentes ligados direta ou indiretamente ao folclore. Trata-se, assim, de um processo horizontal e artesanal. Beltrão classifica a Folkcomunicação como comunicação dos marginalizados.

Um dos pontos chave para assimilar a teoria é considerar que houve gradualmente uma extensão de seu escopo, para compreender que as manifestações culturais populares ou folclóricos se expandem e socializam, convivendo com outras cadeias comunicacionais, especialmente a comunicação de massas, da qual sofrem influências e modificações, especialmente quando apropriadas pelas cadeias comunicacionais de massa.

Assim, pode-se considerar a teoria da Folkcomunicação como localizada nos limites entre as comunicações de massa e os estudos folclóricos.

Observam-se estratégias da cultura popular de expressar mensagens veiculadas pela indústria cultural, adaptando-as. Trata-se de interação entre formas sociais diferentes. Não existiria, portanto, população folclórica desvinculada da cultura de massa da sociedade em que vive. Canais populares serviriam como mediadores entre as elites e as massas, elaborando e reconfigurando as mensagens.

Por outro lado, também se pesquisa como a comunicação de massa apropria-se da cultura folk, divulgando-a, transformando-a, estilizando-a e finalmente comercializando-a.

Desse modo, como instância mediadora entre a cultura popular e a cultura de massa, a teoria pode sinalizar uma estratégia contra-hegemônica das classes inferiorizadas.

*********

Nesse ponto, encerramos a aula e a parte do curso referente ao estudo das Teorias de comunicação. Aproveitem os exercícios!

Aviso que a parte de Novas formas de sociabilidade no “ciberespaço”, compreendida no Paradigma Midiológico e Tecnológico, será estudada em detalhes na sexta e última aula do curso, Redes sociais e internet: funcionamento e posicionamento.

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Desse modo, iniciaremos a próxima aula estudando:

Comunicação Pública: conhecimentos básicos sobre os direitos do público à informação; Opinião pública: pesquisa, estudo e análise; Planejamento da Comunicação e da Imagem Institucional.

Até lá!

OBS. Mantive 4 questões da aula passada que têm relação com o tema da aula corrente. Quem já fez os exercícios da aula passada e está tranquilo, basta saltar os exercícios 1,2,3 e 4.

LISTA DE EXERCÍCIOS

Analista do Ministerio Publico Comunicação Social COPEVE 2012

1.Dentre as teorias da Comunicação, podemos considerar corretas, exceto:

A) Teoria Matemática da Comunicação.

B) Teoria estrutural-funcionalista da Comunicação.

C) Teoria frankfurtiana da Comunicação.

D) Teoria dos Estudos Culturais da Comunicação.

E) Teoria da interdisciplinaridade da Comunicação.

Profissional Básico Comunicação Social BNDS 2009 CESGRANRIO

2. O conceito de gatekeeping surgiu de estudos sobre os quais notícias são publicadas. Esse conceito vem a ser explicado por meio da palavra

(A) associação.

(B) censura.

(C) filtragem.

(D) ordenação.

(E) pesquisa.

Comunicação Social Junior Relações Públicas PETROBRÁS 2010 CESGRANRIO

3. Alguns autores chamam de mediações as instâncias em que, no cotidiano, é verificada a negociação de sentidos.

Seguindo esse pensamento, entre sujeitos de um processo de comunicação, as mediações atuam como

(A) catalisadores.

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(B) demarcadores.

(C) divisores.

(D) filtros.

(E) pontes.

FCC - 2011 - TRT - 23ª REGIÃO (MT) - Analista Judiciário - Rádio e TV

4. A decisão de incluir determinada notícia em um programa jornalístico de emissora de rádio ou TV passa menos por decisões individuais daqueles que têm o poder de fazer essa seleção do que em relação a um conjunto de critérios como a eficiência, a rapidez, a viabilidade da produção de notícias, enfim, critérios operacionais e organizativos da emissora, em geral decorrentes da estrutura e espaços limitados para a transmissão.

Esse processo de critérios de seleção e decisão de incluir determinada notícia nos veículos de comunicação, desenvolvido por autores como Donohue, Tichenor e Olien (1972), denomina-se

a) feedback.

b) mediação simbólica.

c) agenda setting.

d) time frame.

e) gatekeeping.

Analista Administrativo Comunicação Social ANP CESGRANRIO 2008

5. A relevância do processo de comunicação para a sociedade atual pode ser medida pela capacidade de informações que o cidadão é capaz de receber e transmitir. Por isso, fala-se em direito à comunicação. Esse processo implica princípios éticos. Segundo Eugênio Bucci, citando Lambeth, duas correntes básicas dominam o cenário teórico nesse campo:

(A) estruturalista e humanista.

(B) ontológica e existencialista.

(C) teleológica e deontológica.

(D) cibernética e sistêmica.

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(E) essencialista e formalista.

Analista de Finanças e Controle CGU 2012 ESAF

6. Uma teoria de comunicação possui forte relação com os estudos de comunicação organizacional e assessoria de imprensa ao abordar o esquema de interpretação por meio do qual os indivíduos organizam informação ou uma ocorrência. Essa teoria trata de princípios organizacionais compartilhados socialmente e que persistem através do tempo, trabalhando simbolicamente para estruturar sentido ao mundo real. Esta teoria é chamada de

a) Enquadramento.

b) Agenda Setting.

c) Influência Seletiva.

d) Padronização.

e) Dependência.

Profissional Básico Comunicação Social BNDS 2009 CESGRANRIO

7. A descrição acima está associada ao conceito de

(A) cultura, por utilizar a ideia de teia de significados.

(B) discurso, pois enfatiza a polifonia do mundo contemporâneo.

(C) semiose, por entender que a comunicação é dialógica.

(D) signo, por combinar uma ideia com uma elocução.

(E) sistema, pois diz respeito à integração de mensagens distintas e independentes.

Profissional Básico Comunicação Social BNDS 2009 CESGRANRIO

8. Na década de 60 do século XX, o entendimento que existia sobre inovações na área da comunicação girava em torno do que era comunicado por certos canais, em um tempo determinado, entre membros de um sistema social. Algumas décadas depois, principalmente após o advento dos sistemas tecnológicos complexos de comunicação, esse entendimento se deslocou para a

(A) convergência, processo no qual os participantes criam e partilham a informação para alcançar uma compreensão mútua.

Foco nas instâncias de comunicação como lugar de produção da mensagem, ou seja, de geração e circulação de sentido, de construção de campos de significação.

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(B) dispersão, artifício no qual a informação é criada e transmitida com o objetivo de que cada participante tenha uma mensagem única.

(C) objetividade, metodologia na qual toda a informação é transmitida de forma concisa para que todos possam ter a mesma compreensão.

(D) transformação, demanda na qual a informação é constantemente codificada com o objetivo de gerar interpretações diferentes.

(E) transparência, ação que permite que a informação chegue a todos os participantes de maneira uniforme e sem ruídos.

Profissional Básico Comunicação Social BNDS 2009 CESGRANRIO

9. A corrente de pensamento conhecida como Cultural Studies combina diversos campos de conhecimento para estudar fenômenos culturais na sociedade. Para seus seguidores,

(A) apenas o emissor deve ser levado em consideração na construção do sentido das mensagens, com destaque na forma dessas mensagens.

(B) é reconhecido um papel ativo do receptor na construção do sentido das mensagens, com acentuada importância do contexto na recepção.

(C) o papel do receptor é o mais importante no processo de construção do sentido das mensagens, já que é ele quem recebe as mensagens.

(D) o único ponto de destaque na construção do sentido das mensagens é o veículo, por sua importância na transmissão das mensagens.

(E) tanto o emissor quanto o veículo são importantes no processo de construção do sentido das mensagens, já que ambos trocam informações em relação às mensagens.

Comunicação Social Junior Publicidade e Propaganda PETROBRÁS 2011 CESGRANRIO

10. Para George Herbert Mead, ao longo de seu processo de socialização, o indivíduo aprende a interagir socialmente a partir de três etapas básicas:

• na primeira, a espontaneidade é dominante e não se tem regras fixas.

• na segunda, as regras da interação definem claramente quem é quem e que papéis se devem cumprir.

• na terceira, o indivíduo tem acesso a todos os papéis de sua comunidade, sendo capaz de ver-se neles, compreendendo o comportamento dos outros e a eles respondendo, adequadamente, durante o curso da interação à vida social.

Mead denominou, metaforicamente, estas três etapas sucessivas, respectivamente, de

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(A) adaptação, brincadeira e interpretação.

(B) jogo, outro significante e outro generalizado.

(C) jogo, comunicação e outro significante.

(D) brincadeira, criatividade e apreensão.

(E) brincadeira, jogo e outro generalizado.

Comunicação Social Junior Publicidade e Propaganda PETROBRÁS 2011 CESGRANRIO

11. De acordo com George Herbert Mead, o Self surge

(A) a partir do nascimento.

(B) quando aprendemos a ler.

(C) quando tomamos consciência do próprio corpo.

(D) quando reagimos a um estímulo pela primeira vez.

(E) no processo de atividade, comunicação e experiência social.

Comunicação Social Junior Publicidade e Propaganda PETROBRÁS 2011 CESGRANRIO

12. Herbert Blumer resgatou e deu continuidade às ideias de George Herbert Mead. Assim, num artigo de 1937, intitulado “Man and Society” (Homem e Sociedade), Blumer deu nome e fundamentou o interacionismo simbólico com base em três premissas derivadas do pensamento de Mead. Observe as premissas abaixo.

I – As relações e ações sociais são derivadas, unicamente, das normas e regras sociais preestabelecidas.

II – O modo como um indivíduo interpreta os fatos e age perante outros indivíduos e coisas depende do significado (ou significados) que ele atribui a esses outros indivíduos ou coisas.

III – O significado é resultado dos processos de interação social, ou a partir deles construído.

IV – Os significados podem sofrer mudanças ao longo do tempo.

V – As descrições dos fatos pelos atores sociais são por demais vagas e muito ambíguas para serem usadas de modo científico.

As premissas derivadas do pensamento de Mead são APENAS as apresentadas em

(A) I, II e III.

(B) I, III e IV.

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(C) I, IV e V.

(D) II, III e IV.

(E) II, IV e V.

Comunicação Social Junior Publicidade e Propaganda PETROBRÁS 2011 CESGRANRIO

13. Considere as afirmativas abaixo a respeito das características da comunicação na perspectiva da Escola de Palo Alto.

I - A essência da comunicação reside no significado da mensagem transmitida.

II - Todo comportamento humano possui valor comunicativo.

III - A comunicação é vista como um ato verbal consciente e voluntário.

IV - É possível deduzir uma lógica da comunicação a partir de uma análise tanto da sequência de mensagens quanto da relação entre os elementos e o sistema.

Estão relacionadas à pesquisa da Escola de Palo Alto

APENAS as afirmativas

(A) I e II.

(B) I e III.

(C) I e IV.

(D) II e III.

(E) II e IV.

Comunicação Social Junior Relações Públicas PETROBRÁS 2010 CESGRANRIO

14. A teoria que se preocupa com a maneira como os veículos de comunicação de massa fazem (ou não) pensar, e a que se concentra em determinar o que esses veículos fazem pensar são denominadas, respectivamente,

(A) Escola de Chicago e Teoria Crítica.

(B) Escola de Frankfurt e Escola de Chicago.

(C) Teoria Crítica e Teoria do Agenda Setting.

(D) Teoria do Agenda Setting e Teoria Hipodérmica.

(E) Teoria Hipodérmica e Escola de Frankfurt.

Comunicação Social Junior Relações Públicas PETROBRÁS 2010 CESGRANRIO

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15. Uma opinião minoritária que é vista como majoritária, com o auxílio da mídia, pode acabar por tornar-se dominante, já que o indivíduo, ameaçado pelo isolamento, prefere calar-se a manifestar uma opinião que julga minoritária.

Essa é uma descrição do efeito da

(A) conspiração de opinião.

(B) espiral do silêncio.

(C) estratégia de dominação.

(D) opressão da maioria.

(E) supressão do indivíduo.

Comunicação Social Junior Relações Públicas PETROBRÁS 2010 CESGRANRIO

16. Em 1962, McLuhan chamou de “homem tipográfico” aquele criado pela imprensa, que sofreu mudanças de consciência a partir da tecnologia da palavra. Com a virada do século XX para o XXI e com a absorção das novas tecnologias, outros autores apontam para o nascimento do “homem digital”, aquele que se caracteriza pelo(a) maior

(A) cuidado com o texto.

(B) filosofia consumista.

(C) influência no design.

(D) facilidade com idiomas.

(E) agilidade de pensamento.

Profissional Básico Comunicação Social BNDS 2008 CESGRANRIO

17. Entre os diferentes conceitos que balizam o campo da pesquisa e dos estudos contemporâneos da comunicação, dois se destacam no âmbito da produção de sentido num contexto relacional:

(A) representações e mediações.

(B) subjetivação e culturas.

(C) recepção e estrutura.

(D) globalização e cotidiano.

(E) fronteiras e diferença.

Profissional Básico Comunicação Social BNDS 2008 CESGRANRIO

18. A comunicação exerce um papel central na vida do cidadão contemporâneo. Ele está conectado ao mundo, através da Internet, e

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pode exercer também o papel de crítico da própria mídia. Qual a corrente teórica da Comunicação que analisa a nova posição do receptor?

(A) A teoria critica.

(B) A dependência.

(C) O estruturalismo.

(D) As ciências cognitivas.

(E) Os estudos culturais.

Profissional Básico Comunicação Social BNDS 2008 CESGRANRIO

19. O processo comunicativo se alicerça sobre a produção e o consumo de modelos da vida social, hoje marcada pela fugacidade de valores e desejos recriados e modificados, como representações, nos veículos de comunicação.

A dinâmica dessa produção/recepção é

(A) autoritária, absoluta e hegemônica.

(B) fragmentada, heterogênea e impura.

(C) deslizante, recriada e imposta.

(D) estética, realista e inovadora.

(E) híbrida, descaracterizada e livre.

Comunicação Social Furnas 2009 FUNRIO

20. Quanto aos elementos do processo de comunicação, aquele em que acontece a transformação de pensamentos em linguagem simbólica é denominado

A) decodificação.

B) codificação.

C) recepção.

D) emissão.

E) veiculação.

Analista Judiciário - Comunicação Social -Relações Públicas TRT da 23ª Região - 2011 FCC

21. O fenômeno que atribui aos meios de comunicação prerrogativa de construção e de imposição da opinião que se deve ter sobre os fatos, ou seja, que os meios não se limitam a impor os temas sobre os quais se

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devam falar, mas também impõem o que falar sobre esses temas, é chamado de

(A) agenda setting.

(B) espiral do silêncio.

(C) recepção seletiva.

(D) dissonância cognitiva.

(E) exposição defensiva.

Analista em Comunicação Social I - Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo - 2011 Cespe.

22. A seguinte formulação teórica “o conceito de Indústria Cultural é seguramente um dos mais importantes quando se remete ao tema das teorias da comunicação” expressa um conceito que caracteriza as correntes de estudo da

A. Escola de Frankfurt.

B. Escola de Toronto.

C. Escola de Chicago.

D. Escola de Palo Alto.

E. Mass Communication Research.

Analista Administrativo Comunicação Social - Relações Públicas – Agência Nacional de Águas - ANA - 2009 ESAF

23. A respeito de folkcomunicação, avalie os itens abaixo e indique a opção correta.

( ) O pesquisador brasileiro Luiz Beltrão desenvolveu o conceito de folkcomunicação, que hoje integra o universo das Ciências da Comunicação.

( ) A folkcomunicação estuda o folclore como um dos grandes canais de comunicação coletiva.

( ) O conceito original de folkcomunicação está ligado à luta de classes e trata da contestação à cultura dominante. Os estudos iniciais de folkcomunicação já mostravam que grupos sociais, como os artesãos, mesmo involuntariamente, são capazes de criar peças de arte com características críticas ao poder estabelecido.

a) V, F, V

b) V, F, F

c) V, V, F

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d) F, F, V

e) F, V, V

Analista Administrativo Comunicação Social - Relações Públicas – Agência Nacional de Águas - ANA - 2009 ESAF

24. Avalie os itens abaixo e indique a opção correta.

( ) As tecnologias contemporâneas fizeram despertar renovado interesse por Marshall McLuhan, um teórico canadense que se dedicou ao estudo do canal e do código.

( ) Em sua teoria, um meio quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos e em alta definição, permitindo menor participação que um meio frio.

( ) O rádio e o cinema são exemplos de meios quentes.

( ) McLuhan é autor do conceito de que “o meio é a mensagem”. Na perspectiva do autor, toda tecnologia cria imediatamente um ambiente humano totalmente novo. Os ambientes são envoltórios passivos imersos em processos ativos.

a) F, V, F, F

b) V, V, V, F

c) V, V, F, V

d) V, F, F, V

e) F, F, V, F

GABARITO

1. E

2. C

3. D

4. E

5. C

6. A

7. C

8. A

9. B

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10. E

11. E

12. D

13. E

14. C

15. B

16. E

17. A

18. E

19. B

20. B

21. B

22. A

23. C

24. B

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

Analista do Ministerio Publico Comunicação Social COPEVE 2012

1.Dentre as teorias da Comunicação, podemos considerar corretas, exceto:

A) Teoria Matemática da Comunicação.

B) Teoria estrutural-funcionalista da Comunicação.

C) Teoria frankfurtiana da Comunicação.

D) Teoria dos Estudos Culturais da Comunicação.

E) Teoria da interdisciplinaridade da Comunicação.

Resposta: (E).

Resolução: A alternativa (A) refere-se à Teoria Matemática da Comunicação de Shannon e Weaver. É correta. A alternativa (B) remete

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à Teoria Funcionalista. É correta. A alternativa (C) diz respeito à Escola de Frankfurt, Teoria Crítica da Comunicação. Também é correta. A alternativa (D) menciona os Estudos Culturais Britânicos. É correta. A alternativa (E) é incorreta, por não haver uma especificamente uma teoria da interdisciplinaridade da Comunicação. A maioria das teorias da Comunicação é interdisciplinar, recorrendo a outras disciplinas, especialmente a Sociologia. Assim, a alternativa (E) deve ser escolhida com resposta da questão, pois a questão pede a opção incorreta.

Profissional Básico Comunicação Social BNDS 2009 CESGRANRIO

2. O conceito de gatekeeping surgiu de estudos sobre os quais notícias são publicadas. Esse conceito vem a ser explicado por meio da palavra

(A) associação.

(B) censura.

(C) filtragem.

(D) ordenação.

(E) pesquisa.

Resposta: (C).

Resolução: Gatekeeping significa literalmente “o ato de guardar o portão”, de controlar quem entra (gate é portão; to keep é manter). O termo passou a ser utilizado metaforicamente para designar aquele que decide se determinado conteúdo vai ser divulgado em uma mídia de massa. No caso do jornalismo, essa decisão vai ser determinada por critérios como a linha editorial, o valor-notícia, e outros. O conceito, criado por Kurt Lewin, foi apropriado pela Teoria do Jornalismo.

O gatekeeper não associa nada (A), mas sim controla um fluxo. Não se trata de censura (B). Censura inibe a liberdade de expressão; o gatekeeper guia-se por algum critério de adequação. Pode ser bom que determinado conteúdo não seja comunicado para certo grupo. Não se trata também de ordenação (D) ou pesquisa (E). O gatekeeper não pesquisa exatamente conteúdo, mas avalia material com que se depara ou lhe é direcionado para determinar sua publicação. O gatekeeper, desse modo, também não ordena conteúdo, mas avalia, julga para exercer uma filtragem. Assim, a alternativa correta é (C).

Comunicação Social Junior Relações Públicas PETROBRÁS 2010 CESGRANRIO

3. Alguns autores chamam de mediações as instâncias em que, no cotidiano, é verificada a negociação de sentidos.

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Seguindo esse pensamento, entre sujeitos de um processo de comunicação, as mediações atuam como

(A) catalisadores.

(B) demarcadores.

(C) divisores.

(D) filtros.

(E) pontes.

Resposta: (D).

Resolução: Mediar, como estabelecido pela questão, significa estar no meio, tratar ou intervir como aquele que está no meio, entre dois polos, negociando sentidos ou posições distantes nos processos de comunicação. Os formadores de opinião e os gatekeepers atuam em processo de mediação entre os meios de comunicação de massa e o público, como foi demonstrado nas abordagens empíricas de campo ou de efeitos limitados.

A mediação pode resultar em um acordo, um mesmo sentido pressuposto pelos lados em interação, ou em um sentido negociado. Ou pode também resultar em um impasse, e os entendimentos dos diversos polos divergem.

Por isso, não de trata de ponte. Na imagem de ponte está implícita uma ideia de conexão, que nem sempre ocorre na mediação. Elimina-se a alternativa (D). Catálise implica um elemento que acelera um processo, um catalisador. A mediação não tem o efeito necessário de tornar rápidas as negociações de sentido; pode ser o contrário. Elimina-se, então, a alternativa (A).

As mediações também não demarcam sentidos ou estabelecem divisões; ao contrário, nos processos comunicativos de mediação de sentido pode haver convergência, atingindo-se um núcleo comum que dá sentido ao mundo. A resposta não é a alternativa (B) nem (C).

No entanto, os mediadores atuam como filtros; ao mudar de posição, indo de um ator a outro no processo comunicacional, os sentidos alteram-se mais ou menos sutilmente como resultado de uma seleção de informações apropriadas aos diversos contextos e de negociação, sendo “filtrados”, portanto. A resposta correta é a alternativa (D).

FCC - 2011 - TRT - 23ª REGIÃO (MT) - Analista Judiciário - Rádio e TV

4. A decisão de incluir determinada notícia em um programa jornalístico de emissora de rádio ou TV passa menos por decisões individuais

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daqueles que têm o poder de fazer essa seleção do que em relação a um conjunto de critérios como a eficiência, a rapidez, a viabilidade da produção de notícias, enfim, critérios operacionais e organizativos da emissora, em geral decorrentes da estrutura e espaços limitados para a transmissão.

Esse processo de critérios de seleção e decisão de incluir determinada notícia nos veículos de comunicação, desenvolvido por autores como Donohue, Tichenor e Olien (1972), denomina-se

a) feedback.

b) mediação simbólica.

c) agenda setting.

d) time frame.

e) gatekeeping.

Resposta: (E).

Resolução: A questão refere-se, de fato, a Newsmaking, que se relaciona com valores-notícia, critérios para a passagem de um evento a notícia. Comentou-se anteriormente que o conceito de gatekeeper, criado por Kurt Lewin, foi apropriado pela Teoria do Jornalismo. Para resolver a questão basta conhecer o sentido do conceito na concepção original de Lewin.

A alternativa (A) refere-se a feedback ou retroalimentação, uma propriedade para o estabelecimento do equilíbrio de sistemas, como vimos ao discorrer sobre cibernética. A alternativa (B) foca em mediação simbólica, atribuição de sentidos por meio de interações mediadas. A alternativa (C) cita agenda setting, que se relaciona à capacidade dos mass media de pautar o que o público vai discutir. A alternativa (D) menciona time frame, um intervalo de tempo, um valor a ser considerado na noticiabilidade de um evento. Nenhuma dessas quatro alternativas refere-se à função típica do gatekeeping, destacada no enunciado da questão: selecionar, filtrar. Assim, a alternativa correta é a (E).

Analista Administrativo Comunicação Social ANP CESGRANRIO 2008

5. A relevância do processo de comunicação para a sociedade atual pode ser medida pela capacidade de informações que o cidadão é capaz

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de receber e transmitir. Por isso, fala-se em direito à comunicação. Esse processo implica princípios éticos. Segundo Eugênio Bucci, citando Lambeth, duas correntes básicas dominam o cenário teórico nesse campo:

(A) estruturalista e humanista.

(B) ontológica e existencialista.

(C) teleológica e deontológica.

(D) cibernética e sistêmica.

(E) essencialista e formalista.

Resposta: (C).

Resolução: Não precisamos conhecer os autores citados na questão para resolvê-la. Mas precisamos conhecer algumas das palavras nas alternativas. O foco da questão é comunicação relacionada a princípios éticos. As alternativas (A), (B), (D) e (E) envolvem forma ou estrutura, mantendo menos relações com aspectos éticos. A ontologia refere-se ao ”ser como ser”. Existencialismo é uma concepção filosófica de ser no mundo. Cibernética tem um forte viés de controle, realimentação. Ser essencialista é preocupar-se mais com o conteúdo, a essência, do que com a forma.

A resposta correta (C) abrange termos que têm sentido ético. Teleológico é relacionado ao fim, à finalidade (telos). Deontológico conecta-se à moral, a princípios. Assim, há uma comunicação mais voltada para o processo de fazer ou viver segundo imperativos morais (deontológica) e outra mais focada nos objetivos e finalidades, menos preocupada com os meios (teleológica).

Eugênio Bucci comenta sobre os dois tipos de ética no livro “Sobre Ética e Imprensa”. Na ética teleológica, o jornalista deve julgar os resultados éticos de sua conduta para os outros. Nisso, entra o aspecto utilitarista da ética teleológica. A utilidade resultante dos atos deve ser avaliada para se julgar eticamente a ação. A ética deontológica inspira-se no imperativo categórico kantiano. A conduta deve ser universal, isto é, ter validade para o agente e as outras pessoas. Não importam as consequências, o que vale é o princípio universal que guia a ação.

Claro, como tudo na vida, os dois tipos de ética têm pontos fortes e fracos. Um equilíbrio é necessário. A ética teleológica envolve uma avaliação de resultados da ação. Isso pode ser complicado de ser feito em muitas situações. E, pior ainda, um bom resultado pode advir de meios ruins. A ética deontológica implica princípios que são

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necessariamente contingentes e históricos. Esses princípios vão mudar e a mudança cria impasses éticos.

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6. Uma teoria de comunicação possui forte relação com os estudos de comunicação organizacional e assessoria de imprensa ao abordar o esquema de interpretação por meio do qual os indivíduos organizam informação ou uma ocorrência. Essa teoria trata de princípios organizacionais compartilhados socialmente e que persistem através do tempo, trabalhando simbolicamente para estruturar sentido ao mundo real. Esta teoria é chamada de

a) Enquadramento.

b) Agenda Setting.

c) Influência Seletiva.

d) Padronização.

e) Dependência.

Resposta: (A).

Resolução: A influência seletiva é uma teoria que foca na audiência e procura entender por que certos aspectos ou fatos são ressaltados no processo de comunicação. Ela destaca que há interesses divergentes em obter informação, as atitudes do indivíduo influenciam a exposição à informação e a própria interpretação e memorização são seletivas. De base empírica e psicológica, a teoria da influência seletiva se preocupa com os fatores que originam a seletividade na comunicação, não de princípios compartilhados socialmente que estruturam sentido. A alternativa (c) não é a resposta.

Mais fácil ainda é eliminar a alternativa (b). A teoria do agendamento ou agenda setting defende que a mídia pauta a opinião pública ao destacar certos temas e obscurecer outros. O problema aqui é com a mídia, não exatamente com a estruturação de sentido com base em certos princípios.

Atente para o sentido das alternativas (d) e (e). Padronização refere-se a aceitar certos parâmetros ou entendimentos, uniformizando-os. A questão não diz respeito a isso, pois se refere a estruturar (sentido ativo) com base em certos pressupostos compartilhados, socialmente aceitos (não padronizados). Dependência expressa uma ligação de necessidade e subordinação. Nada mais distante do que criar sentidos coletivamente.

A resposta correta é (a). O termo quadros (ou frames) é muito utilizado por teoria de várias áreas para designar estruturas de referência que

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servem para fundar a compreensão do mundo e a criação de sentido. Por exemplo, um destacado sociólogo que estudou processos linguísticos e comunicacionais em interações humanas, Goffman, escreveu um livro sobre o tema, explicando como os quadros de natureza socialmente compartilhada fundam a experiência humana e são utilizados dinamicamente por meio de transformações e outras “estratégias”.

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7. A descrição acima está associada ao conceito de

(A) cultura, por utilizar a ideia de teia de significados.

(B) discurso, pois enfatiza a polifonia do mundo contemporâneo.

(C) semiose, por entender que a comunicação é dialógica.

(D) signo, por combinar uma ideia com uma elocução.

(E) sistema, pois diz respeito à integração de mensagens distintas e independentes.

Resposta: (C).

Resolução: O conceito de signo em (D) não se associa à descrição da questão (no quadro) por combinar uma idéia com elocução. Essa combinação de conteúdo (significado) com imagem acústica (significante) integra boa parte dos conceitos de signo. A descrição também não enfatiza a integração de mensagens distintas, mas a criação coletiva de sentido. Não se associa, portanto, à sistema, o que elimina a alternativa (E).

De forma semelhante, a descrição não se centra no conceito de polifonia, referente a uma diversidade de vozes e usualmente conectado ao pensador russo Bakhtin. Eliminamos a alternativa (B).

Cultura é um conceito problemático. No entanto, normalmente, cultura é entendida em uma concepção vasta englobando diversas formas de expressão, valores, pensamento e práticas inter-relacionadas. A descrição é mais limitada do que o conceito cultura, focando menos na coabitação e ligação de diversos sentidos (teia), e mais na prática de gerar e intercambiar sentido para criar núcleos de convergência de significado.

O termo semiose, como vimos, tem origem na obra do filósofo norte-americano Peirce. Semiose é entendido como um fenômeno, um

Foco nas instâncias de comunicação como lugar de produção da mensagem, ou seja, de geração e circulação de sentido, de construção de campos de significação.

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processo de relação entre o signo, o significado e o significante. Fala-se em uma cadeia semiótica que funda o entendimento, significados compartilhados. A significação é dinâmica, baseada na criação e circulação de signos. Semiose, devido à sua dinâmica, pressupõe interação, criação de um território comum entre locutor e locutário, o atrito entre signos. Dialogismo, um conceito trabalhado por Bakhtin, como a polifonia, também implica o colocar a linguagem em relação por interlocutores. Processos dialógicos e semióticos tendem a, mediante uma dinâmica de produção e reverberação de mensagens, a produzir significação comum. A descrição combina mais com (C), a alternativa correta.

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8. Na década de 60 do século XX, o entendimento que existia sobre inovações na área da comunicação girava em torno do que era comunicado por certos canais, em um tempo determinado, entre membros de um sistema social. Algumas décadas depois, principalmente após o advento dos sistemas tecnológicos complexos de comunicação, esse entendimento se deslocou para a

(A) convergência, processo no qual os participantes criam e partilham a informação para alcançar uma compreensão mútua.

(B) dispersão, artifício no qual a informação é criada e transmitida com o objetivo de que cada participante tenha uma mensagem única.

(C) objetividade, metodologia na qual toda a informação é transmitida de forma concisa para que todos possam ter a mesma compreensão.

(D) transformação, demanda na qual a informação é constantemente codificada com o objetivo de gerar interpretações diferentes.

(E) transparência, ação que permite que a informação chegue a todos os participantes de maneira uniforme e sem ruídos.

Resposta: (A).

Resolução: Em geral, as tendências modernas de interpretação dos processos de comunicação repudiam concepções mais antigas, embutidas no modelo de Shannon, relativas a uma compreensão única (as potenciais mensagens são decodificadas de acordo com situações individuais e contextos próprios) ou a uma mensagem uniforme isenta de ruídos (o processo de comunicação ocorre em multiníveis e o ruído faz parte desse processo). Assim, eliminamos, (C) e (E).

O fato de a informação ser constantemente “transformada” em ambientes tecnológicos não visa ocasionar uma divergência de interpretações. Isso pode até acontecer ocasionalmente, mas não seria

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viável como um princípio da comunicação. Eliminamos (D). Ao contrário, deve-se criar um campo comum de significados compartilhados, criados em processos de interação sociolingüística. Essa definição converge com (A), a resposta correta.

De maneira semelhante, não se pretende que cada indivíduo receba uma “mensagem única”. A alternativa (B), incorreta, tem um comum com (D) certa tendência a um grau excessivo de individualização (mensagem ou interpretação diferente para cada um), que se contrapõe a um dinamismo na criação de sentidos compartilhados a partir de pressupostos ou princípios (“frames”) comuns.

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9. A corrente de pensamento conhecida como Cultural Studies combina diversos campos de conhecimento para estudar fenômenos culturais na sociedade. Para seus seguidores,

(A) apenas o emissor deve ser levado em consideração na construção do sentido das mensagens, com destaque na forma dessas mensagens.

(B) é reconhecido um papel ativo do receptor na construção do sentido das mensagens, com acentuada importância do contexto na recepção.

(C) o papel do receptor é o mais importante no processo de construção do sentido das mensagens, já que é ele quem recebe as mensagens.

(D) o único ponto de destaque na construção do sentido das mensagens é o veículo, por sua importância na transmissão das mensagens.

(E) tanto o emissor quanto o veículo são importantes no processo de construção do sentido das mensagens, já que ambos trocam informações em relação às mensagens.

Resolução: (B).

Resolução: Embora não possa constituir uma regra infalível, o equilíbrio ajuda muito ao resolver questões de ciência sociais, especialmente porque quase sempre há visões opostas e discussão em relação aos conceitos.

Por exemplo, a alternativa (A) é muito radical. É difícil conceber uma teoria da comunicação que preceitue que apenas o emissor deve contribuir para o sentido das mensagens. Mesmo a teoria mecanicista da informação admite o ruído, que pode adulterar o sentido.

De qualquer forma, a alternativa (A) é certamente incorreta no que diz respeito aos Estudos Culturais. A teoria das mídias de massa conhecida como Estudos Culturais surgiu em meados da década de 50 e início dos anos 60 em torno do Center for Contemporary Studies de Birmingham, na Inglaterra. Sua ênfase era na cultura compreendida em sentido vasto

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como inter-relações que resultam em significados e valores compartilhados e são por eles influenciadas. Dessa forma, o processo social é compreendido como atribuição de sentido à realidade, compartilhamento de valores, criação de um campo comum de significação. Nesse contexto, as mídias de massa desempenham um papel relevante. Nada disso combina com a ênfase excessiva no emissor. Ao contrário, os cultural studies valorizavam os processos de recepção em contextos culturais que antes eram desvalorizados.

Mas a alternativa (C), incorreta, também constitui um exagero. Não é por somente receber as mensagens que o papel do receptor é “o mais importante na construção do sentido”. A construção do sentido depende de uma associação contextual e histórica de fatores, entre eles o emissor e o receptor. Compare com o equilíbrio da alternativa correta (B): enfatiza-se o papel ativo do receptor em um contexto próprio. Esse papel ativo do receptor era desvalorizado em muitas teorias anteriores, como a “agulha hipodérmica”.

Note ainda o exagero que torna incorreta a alternativa (D): “o único ponto de destaque” é o veículo. Pode-se admitir sim que o meio influencie bastante as mensagens, mas não que as determine. A formulação radical de Marshall McLuhan, “O meio é a mensagem”, procurava ressaltar que o meio, muitas vezes considerado um simples canal para a passagem do conteúdo da comunicação, é um dos elementos influenciadores da comunicação.

Mas por que a alternativa (E), que menciona a importância do emissor e do veículo em conferir sentido às mensagens, é incorreta? Há uma inconsistência lógica no texto da alternativa: não é pertinente afirmar que ambos (emissor e veículo) trocam informações em relação às mensagens. Veículos de comunicação, como TV, jornal e rádio, são meios para as mensagens e não podem trocar informações com emissores.

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10. Para George Herbert Mead, ao longo de seu processo de socialização, o indivíduo aprende a interagir socialmente a partir de três etapas básicas:

• na primeira, a espontaneidade é dominante e não se tem regras fixas.

• na segunda, as regras da interação definem claramente quem é quem e que papéis se devem cumprir.

• na terceira, o indivíduo tem acesso a todos os papéis de sua comunidade, sendo capaz de ver-se neles, compreendendo o

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comportamento dos outros e a eles respondendo, adequadamente, durante o curso da interação à vida social.

Mead denominou, metaforicamente, estas três etapas sucessivas, respectivamente, de

(A) adaptação, brincadeira e interpretação.

(B) jogo, outro significante e outro generalizado.

(C) jogo, comunicação e outro significante.

(D) brincadeira, criatividade e apreensão.

(E) brincadeira, jogo e outro generalizado.

Resolução: (E).

Resolução: Mead é um autor que tem sido retomado nas últimas décadas em estudos de sociologia e comunicação. Ele é considerado um precursor do interacionismo simbólico. O ponto central de seus muitos escritos é que o self, o indivíduo se forma nos processos de interação social, colocando-se no lugar do outro, numa atitude reflexiva.

O conceito de play em Mead se caracteriza por um tipo de brincadeira em que se assumem papéis. Uma criança pode, por exemplo, brincar sozinha de enfermeira cuidando de sua boneca. É como se ela fosse o outro, a enfermeira. Ocorre coisa parecida no game. Mas agora se internaliza não só o caráter de um outro ser, mas um conjunto de regras, de relações entre vários papéis. Na brincadeira de pegador ou polícia e ladrão, assumimos um papel e esperamos que os outros assumam seus papéis, entre os quais há expectativas de determinada relação.

O conceito de game engloba papéis organizados de acordo com regras. Essas regras, quando abstraídas, constituem no processo de formação do self uma unidade simbólica, que Mead denomina de “outro

generalizado”. Nessa noção está contida uma atitude organizada e generalizada de resposta aos outros em interações sociais.

A questão exige certo conhecimento da teoria de Mead, mas bom senso ajuda a resolvê-la. Se apenas conhecemos o vocabulário ligado a Mead – play (brincadeira), game (jogo) e outro generalizado, praticamente matamos a questão.

A primeira fase se caracteriza por espontaneidade e ausência de regras. É a brincadeira.

Já o jogo tem regras que devemos seguir. Assumimos papéis coordenados por essas regras. É a essência do jogo.

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A terceira fase diz respeito a “todos os papéis da comunidade”. O Indivíduo é capaz de ver-se neles. É o “outro generalizado”.

A resposta correta é a alternativa (E). Apenas distinguir entre brincadeira e jogo (espontaneidade versus regras) eliminaria as alternativas (A), (B) e (C). Eliminaríamos a alternativa (D) apenas por recusar denominar a segunda fase (game), que envolve regras, criatividade.

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11. De acordo com George Herbert Mead, o Self surge

(A) a partir do nascimento.

(B) quando aprendemos a ler.

(C) quando tomamos consciência do próprio corpo.

(D) quando reagimos a um estímulo pela primeira vez.

(E) no processo de atividade, comunicação e experiência social.

Resolução: (E).

Resolução: Para Mead, considerado um precursor do interacionismo simbólico, o self, o indivíduo, se forma nos processos de interação social, colocando-se no lugar do outro, numa atitude reflexiva. O processo é (auto)reflexivo na medida em que os significados são apreendidos na interação e manipulados. Além disso, o processo reflexivo subtende um deslocar de posição em relação aos outros, refletir como os outros, colocando a si mesmo como “objeto”.

No entanto, para se formar completamente o self, não basta que o indivíduo tome as atitudes dos outros; ele deve fazê-lo em várias fases ou aspectos das atividades sociais, atentando para determinadas regras nascidas das próprias inter-relações. Generalizando essas atitudes dos outros consigo e entre eles nas diferentes circunstâncias e fases das atividades sociais, o indivíduo estrutura seu self com base no “outro generalizado” resultante.

Mas como se dão esses processos de internalização do outro e objetificação do eu? Para Mead, por meio de trocas simbólicas, da comunicação, da linguagem. Sem a palavra humana, o intercâmbio inter-reflexivo que forma o self não é possível.

Assim, o self não surge “a partir do nascimento”. Esse é meramente um marco temporal. No limite, sem sociedade um indivíduo não forma um self. Elimina-se a alternativa (A). Aprender a ler nada tem a ver com o processo descrito de formação do self para Mead. Descarta-se (B).

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Tomar consciência do corpo (de nosso corpo humano) é também um processo social e parte integrante da constituição do self, mas não significa formar o self. A alternativa (C) não é verdadeira. O self não surge com a reação ao primeiro estímulo; é a contínua excitação do indivíduo por um complexo orgânico estímulo-resposta que constitui a formação do self. Elimina-se (D). E, finalmente, o self surge, como explicado, no processo da experiência e comunicação social. A alternativa correta é (E).

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12. Herbert Blumer resgatou e deu continuidade às ideias de George Herbert Mead. Assim, num artigo de 1937, intitulado “Man and Society” (Homem e Sociedade), Blumer deu nome e fundamentou o interacionismo simbólico com base em três premissas derivadas do pensamento de Mead. Observe as premissas abaixo.

I – As relações e ações sociais são derivadas, unicamente, das normas e regras sociais preestabelecidas.

II – O modo como um indivíduo interpreta os fatos e age perante outros indivíduos e coisas depende do significado (ou significados) que ele atribui a esses outros indivíduos ou coisas.

III – O significado é resultado dos processos de interação social, ou a partir deles construído.

IV – Os significados podem sofrer mudanças ao longo do tempo.

V – As descrições dos fatos pelos atores sociais são por demais vagas e muito ambíguas para serem usadas de modo científico.

As premissas derivadas do pensamento de Mead são APENAS as apresentadas em

(A) I, II e III.

(B) I, III e IV.

(C) I, IV e V.

(D) II, III e IV.

(E) II, IV e V.

Resolução: (D).

Resolução: O interacionismo simbólico de Blumer engloba três premissas:

1. A ação dos homens em relação ao mundo fundamenta-se nos significados que este lhes oferece.

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2. Esses significados derivam da interação social.

3. Tais significados são manipulados e assimilados por um processo interpretativo.

Já destacamos que o ponto-chave dos muitos escritos de Mead é que o self, o indivíduo se forma nos processos de interação social, colocando-se no lugar do outro, numa atitude reflexiva. Para que isso seja possível, é essencial que haja comunicação via linguagem ou “símbolos significantes”, que produzem o mesmo efeito nos indivíduos como resultado de uma história de interações.

Essa simples descrição das teorias de Mead evidencia que II e III são afirmativas verdadeiras. A sentença III destaca que os significados mudam ao longo do tempo. Se eles dependem de interações, e estas mudam ao longo do tempo, pois a sociedade e os inter-relacionamentos entre os homens se alteram, é lógico concluir que os significados não são fixos e diferem ao longo do tempo.

A afirmativa I é muito forte e determinista. Dificilmente a aceitaríamos de modo genérico, talvez apenas em relação a algum pensador determinado. Normas e regras sociais não determinam relações e ações sociais. São justamente relações e ações sociais que criam a estrutura social (regras, normas, o que é dado socialmente ao homem) e são por elas condicionadas. O processo é uma via de mão dupla. Há relação, não determinação.

A afirmativa V não deriva de Mead. Como ocorre com I, é difícil aceitar atualmente V. Teorias sociais contemporâneas tendem a não diferenciar radicalmente ciência e produção de conhecimento no cotidiano. Os homens são socialmente construídos e fundam a ciência em bases que derivam do social, embora as convenções no domínio da ciência se particularizem. Para muitos autores, como Weber, as “ambíguas” ações sociais são objeto da sociologia.

Schultz, um pensador afim a Mead, afirma que a “metodologia” de compreensão do mundo pelo homem no cotidiano não difere radicalmente da metodologia científica preceituada por Weber (a criação artificial de um “tipo ideal”). Isso quer dizer simplesmente que as construções de realidades (científicas ou não) são arbitrárias, seletivas, pragmáticas.

Assim, II, III e IV são corretas. A resposta correta é (D).

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13. Considere as afirmativas abaixo a respeito das características da comunicação na perspectiva da Escola de Palo Alto.

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I - A essência da comunicação reside no significado da mensagem transmitida.

II - Todo comportamento humano possui valor comunicativo.

III - A comunicação é vista como um ato verbal consciente e voluntário.

IV - É possível deduzir uma lógica da comunicação a partir de uma análise tanto da sequência de mensagens quanto da relação entre os elementos e o sistema.

Estão relacionadas à pesquisa da Escola de Palo Alto

APENAS as afirmativas

(A) I e II.

(B) I e III.

(C) I e IV.

(D) II e III.

(E) II e IV.

Resolução: (E).

Resolução: Nos anos 40, a “Escola de Palo Alto” ou o “colégio invisível” repudiou o modelo linear da comunicação. Esse modelo entendia o processo comunicacional como a transmissão linear de uma mensagem de uma fonte a um destinatário por um canal. Nesse esquema de coisas, as perguntas feitas eram comumente as de Laswell: quem diz o quê em qual canal para quem e com que efeito.

Ao contrário, a Escola de Palo Alto incorporou conceitos da cibernética de Wiener e da Teoria dos Sistemas, como a retroalimentação ou feedback – aquilo que o destinatário manda de volta para o emissor em um processo de comunicação, e que pode fazer o sistema ou organismo corrigir seu comportamento.

Assim, herdando da Teoria dos Sistemas, da cibernética, da lógica, da linguística e da psicanálise/psicologia, as teorias da Escola de Palo Alto centram-se em alguns pontos comuns:

1. A comunicação baseia-se principalmente em processos relacionais e interacionais – e não tanto nos elementos do sistema;

2. A comunicação ocorre em vários níveis e adota vários meios – assim, por exemplo, a fala é acompanhada de sinais corporais que podem reafirmar ou contradizer o discurso;

3. O comportamento humano tem valor comunicativo – as relações humanas são concebidas como uma ampla rede de comunicação;

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4. Uma “lógica da comunicação” pode ser deduzida das sequências de mensagens (abordagem horizontal) e da relação entre os elementos e os sistemas (abordagem vertical) – essa ideia vinha especialmente de Watzlawick, que estudava doenças psíquicas (o “sistema”) e seus sintomas (as “mensagens” sequenciais).

Várias personalidades são associadas a Palo Alto, como Gregory Bateson, Birdwhistell, Hall, Watzlawick e, um pouco menos, Goffman.

Com base nesse curto resumo, concluímos que a afirmação I é falsa. A preocupação de Palo Alto é mais com as interações do que com a mensagem, que inclusive pode ser completamente resignificada pelas relações que se dão em muitos níveis.

A afirmativa II é certa. O comportamento humano é base da comunicação. A afirmativa III é falsa. Por ser interacional e ocorrer em diversos níveis, a comunicação nem é somente verbal nem intencional (lembre-se que muitos dos integrantes de Palo Alto eram psicólogos ou psicanalistas que valorizavam as expressões inconscientes).

A afirmativa IV é correta e descreve a ideia de Watzlawick de sistema (eixo vertical sincrônico) e comunicação sequencial (eixo horizontal diacrônico). Assim, a resposta é a alternativa (E).

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14. A teoria que se preocupa com a maneira como os veículos de comunicação de massa fazem (ou não) pensar, e a que se concentra em determinar o que esses veículos fazem pensar são denominadas, respectivamente,

(A) Escola de Chicago e Teoria Crítica.

(B) Escola de Frankfurt e Escola de Chicago.

(C) Teoria Crítica e Teoria do Agenda Setting.

(D) Teoria do Agenda Setting e Teoria Hipodérmica.

(E) Teoria Hipodérmica e Escola de Frankfurt.

Resolução: (C).

Resolução: A teoria do agendamento ou agenda setting defende que a mídia pauta a opinião pública ao destacar certos temas e obscurecer outros. A ênfase, então, é no que fazer pensar.

A Teoria Hipodérmica tem origem nos Estados Unidos nos anos 30. Também conhecida como “teoria da bala mágica” enfatiza o efeito da

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comunicação de massa, especialmente da propaganda, nos espectadores. Lasswell inventou o termo “agulha hipodérmica” para designar o modo de atua da mídia, que provocaria um efeito direto em indivíduos atomizados. Assim, na Teoria Hipodérmica, certos pressupostos e palavras-chave vêm à mente: manipulação pela mídia, efeito, relativa homogeneidade da audiência (já que cada indivíduo está sujeito ao mesmo efeito), controle, massa atomizada, influência. É uma teoria considerada superada. Avanços na pesquisa em comunicação social incorporaram paulatinamente muitas outras dimensões de pesquisa, como o contexto ou a capacidade do “receptor” pensar por si mesmo ou agir de modo não previsto. No entanto, muitas dessas teorias preservaram, em maior ou menor grau, pressupostos da teoria Teoria Hipodérmica, como a comunicação linear (do emissor para o receptor) e o foco em efeitos, mesmo que relativizados e contextualizados.

A “Escola crítica” é uma linha de pensamento associada à denominada Escola de Frankfurt. Esse modo de compreender a cultura e a técnica adota uma posição antiracionalista, anti-iluminista, incorporando e renovando conceitos marxistas, freudianos e outros. Procura aliar a teoria filosófica com a prática. Adota uma postura extremamente crítica aos meios de comunicação de massa, especialmente a primeira Escola de Frankfurt, em seus primórdios. Nomes ligados a essas escolas são Horkheimer, Adorno e, posteriormente Habermas e Honneth (respectivamente, segunda e terceira escola de Frankfurt). Marcuse é outro importante pensador da Escola de Frankfurt. Após os membros da Escola, refugiados nos EUA durante a Segunda Guerra Mundial a convite de Lazarsfeld, voltarem à Alemanha, Marcuse decide permanecer nos EUA e produz uma obre que repercute bastante nos movimentos culturais contestadores dos anos 60.

A denominada Escola de Chicago trata de um conjunto heterogêneo de estudiosos com uma visão precursora para a época, bem distante de conceitos deterministas como os da Teoria Hipodérmica. Destacaram-se com o estudo de disciplinas e conceitos como psicologia social, sociologia urbana, ecologia humana, behaviorismo social e interacionismo simbólico. Dewey e Mead são seus precursores. Estudiosos que se destacaram ao longo do tempo são: William Thomas, Robert Park, Louis Wirth, Ernest Burgess e Everett Hughes.

Vemos então que agenda setting e teoria hipodérmica estão preocupadas com efeitos ou sobre o que as pessoas vão pensar como resultado dos meios de comunicação de massa (ênfase determinista no que pensar). A Teoria Crítica, a Escola de Frankfurt e a Escola de Chicago se preocupam, de maneira mais crítica e analítica, com os

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processos, a ação sobre o pensamento das pessoas (ênfase cultural no como ou não pensar).

Essa polarização esquemática que realizamos leva a considerar como respostas as alternativas (C) ou (D), porque terminam com teorias focadas no que pensar. Mas a alternativa (D) tem agenda setting na primeira posição, correspondente ao como ou não pensar, e deve assim ser excluída. A resposta é (C), que tem a Teoria Crítica na primeira posição. (A), (B) e (E) não podem ser aceitas, pois na segunda posição apresentam teorias que não ressaltam o efeito, o que pensar.

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15. Uma opinião minoritária que é vista como majoritária, com o auxílio da mídia, pode acabar por tornar-se dominante, já que o indivíduo, ameaçado pelo isolamento, prefere calar-se a manifestar uma opinião que julga minoritária.

Essa é uma descrição do efeito da

(A) conspiração de opinião.

(B) espiral do silêncio.

(C) estratégia de dominação.

(D) opressão da maioria.

(E) supressão do indivíduo.

Resolução: (B).

Resolução: Primeiro vamos tentar abordar a questão de um ponto de vista lógico, de bom senso.

A questão afirma que uma opinião minoritária vista com majoritária devido à ação da mídia pode tornar-se dominante, pois os discordantes, receosos de opor-se à maioria, preferem se calar.

Uma conspiração pressupõe pessoas agindo de comum acordo para um determinado fim. Não é o caso. As pessoas se calam sem combinar com as outras pessoas. Elas simplesmente não se contrapõem ao que pensam ser uma posição dominante. A resposta não é a alternativa (A).

Também não é a alternativa (E). Não se suprime o indivíduo; o efeito resultante, a conversão de uma opinião minoritária em majoritária, ocorre justamente porque indivíduos escolhem não agir.

Sobram as alternativas (B), (C) e (D). “Opressão da maioria” sinaliza algo mais articulado, mais visível. Não é o caso. Eu eliminaria a alternativa (D). “Estratégia de Dominação” é um termo muito vago e

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também pressupõe um esforço explícito, um plano, coordenação. Não é que acontece; as pessoas se omitem individualmente. Eu também eliminaria a alternativa (C). “Espiral do silêncio” pode parecer um termo um tanto artificial, mas sugere a ideia de gradação e do calar-se, compatíveis com a questão. A resposta correta é a alternativa (B).

Claro, para marcar com precisão, devemos saber que Espiral do Silêncio é uma teoria famosa da Comunicação Social, idealizada pela alemã Noëlle-Neuman. A teoria afirma que quanto mais minoritária uma opinião em um meio social, menos ela será expressa. Assim, as pessoas se calam. A opinião se torna mais minoritária ainda, em uma espiral.

Na verdade, a teoria trata de um efeito da mídia, sob um ângulo negativo. Isto é, os meios de comunicação divulgam determinada posição sobre um acontecimento recente. Pode ser que a maioria das pessoas discorde dessa posição. No entanto, devido ao constrangimento de ir contra algo que seria a posição generalizada, as pessoas omitem-se, deixando de pensar em outras opiniões e se manifestar (daí o efeito negativo).

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16. Em 1962, McLuhan chamou de “homem tipográfico” aquele criado pela imprensa, que sofreu mudanças de consciência a partir da tecnologia da palavra. Com a virada do século XX para o XXI e com a absorção das novas tecnologias, outros autores apontam para o nascimento do “homem digital”, aquele que se caracteriza pelo(a) maior

(A) cuidado com o texto.

(B) filosofia consumista.

(C) influência no design.

(D) facilidade com idiomas.

(E) agilidade de pensamento.

Resolução: (E).

Resolução: A primeira parte do anunciado serve apenas para estabelecer um paralelo com a mudança tecnológica na época de McLuhan. A segunda parte do enunciado traz as informações importantes: “homem digital” e absorção de novas tecnologias.

A alternativa (A) não é pertinente. Cuidado com o texto não é uma qualidade da nova geração que lida com as redes sociais e a web, onde a escrita é rápida e sintética. Alguns estudos apontam surgimento de novas linguagens escritas com características de oralidade.

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A filosofia consumista (B) não é uma prerrogativa do homem digital. O consumismo integra uma característica de formas contemporâneas do capitalismo que antecederam a era digital. O consumismo está em parte ligado à produção de massa e necessidade de inovação e novidades que seduzam os consumidores.

A influência no design (C) chega perto, mas é muito restrita, não tem o nível de generalização das demais alternativas. O usuário digital pode sim influenciar o design, mas o ponto forte é a facilidade de criação de conteúdo propiciada pelos meios digitais.

Facilidade com idiomas (D) não é uma consequência necessária da era digital. Os mecanismos de tradução automática estão se aperfeiçoando cada vez mais. Os sites de redes sociais famosos em todo o mundo têm versões nacionais, na língua nativa. Surgem também sites de redes sociais nacionais, que competem com as empresas internacionais, como o Renren, o “Facebook chinês”, ou o Weibo, o “Twitter chinês”. Esses sites estão, claro, na língua nacional e tendem a refletir as particularidades culturais locais.

A alternativa correta é (E). Alguns estudos apontam que “agilidade de pensamento” está relacionada a meios digitais, no sentido de assimilação de mudanças dinâmicas e fluxos acelerados informacionais, assim como a necessidade de interagir com uma grande quantidade de informação e estabelece inter-relações.

Profissional Básico Comunicação Social BNDS 2008 CESGRANRIO

17. Entre os diferentes conceitos que balizam o campo da pesquisa e dos estudos contemporâneos da comunicação, dois se destacam no âmbito da produção de sentido num contexto relacional:

(A) representações e mediações.

(B) subjetivação e culturas.

(C) recepção e estrutura.

(D) globalização e cotidiano.

(E) fronteiras e diferença.

Resolução: (A).

Resolução: A questão destaca dois pontos: estudos contemporâneos da comunicação e contexto relacional. A alternativa (C) foca em recepção e estrutura, termos que lembram teorias mais antigas, como as baseadas no estrutural-funcionalismo, Teoria matemática da comunicação ou outras teorias relacionadas à mass communication research. A alternativa (D) foca em globalização e cotidiano, revelando um estado mais atual da teoria, mas voltado às questões de identidade

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e etnografia, rumo que os Estudos Culturais tomaram. A alternativa (B) sugere um relacionamento do todo (cultura) com a subjetivação e também enquadra os Estudos Culturais. A alternativa (E) menciona separações e diferenças, mas não estabelece um vínculo com contexto relacional. A alternativa (A) é a correta, pois menciona mediações, que são justamente interfaces relacionais entre dois agentes ou lados e representações, constituintes de objetos ou agentes em processos relacionais. Os termos poderiam enquadrar, por exemplo, a teoria contemporânea da Semiótica em suas aplicações em Comunicação, ou abordagens pós-modernas. É, assim, a alternativa correta.

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18. A comunicação exerce um papel central na vida do cidadão contemporâneo. Ele está conectado ao mundo, através da Internet, e pode exercer também o papel de crítico da própria mídia. Qual a corrente teórica da Comunicação que analisa a nova posição do receptor?

(A) A teoria critica.

(B) A dependência.

(C) O estruturalismo.

(D) As ciências cognitivas.

(E) Os estudos culturais.

Resolução: (E).

Resolução: Há uma pegadinha na questão. Menciona-se a posição crítica do cidadão, mas o ponto central da questão é a nova posição do receptor. Vimos que a teoria critica tende a atomizar e não diferenciar o receptor, que sofre os efeitos maléficos da Indústria Cultural. Não se trata da alternativa (A). As alternativas (B), (C) e (D) também não enfatizam uma nova posição do receptor. A dependência é uma teoria que acentua os fatores políticos. O estruturalismo costuma obliterar o sujeito em sua ânsia de descrever as estruturas sociais e comunicacionais. As ciências cognitivas centram nas estruturas cognitivas individuais. Mas, lembrem-se, uma das importantes características dos estudos culturais foi valorizar a agência e a participação ativa dos consumidores de produtos midiáticos. A alternativa (E) é a correta.

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19. O processo comunicativo se alicerça sobre a produção e o consumo de modelos da vida social, hoje marcada pela fugacidade de valores e

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desejos recriados e modificados, como representações, nos veículos de comunicação.

A dinâmica dessa produção/recepção é

(A) autoritária, absoluta e hegemônica.

(B) fragmentada, heterogênea e impura.

(C) deslizante, recriada e imposta.

(D) estética, realista e inovadora.

(E) híbrida, descaracterizada e livre.

Resolução: (B).

Resolução: A questão caracteriza, de modo pessimista, uma visão afim à pós-moderna, centrada na fugacidade e nas representações de desejos instáveis. Esse tipo de processo comunicativo não é descaracterizado (ao contrário foi bem caracterizado pela questão). Também não é livre, pois o indivíduo está sujeito a representações instáveis midiáticas. Mas isso não quer dizer que a dinâmica é imposta. O sujeito se depara com um círculo estrito de representações, mas não é forçado a entrar na dinâmica de consumo de modelos sociais (embora possa não ter muitas opções). Os desejos são recriados, mas a dinâmica não o é. Autoritária é um termo provavelmente forte demais para essa dinâmica, assim como absoluta. Isso elimina as alternativas (A), (C), (D) e (E). Essa dinâmica pode ser considerada hegemônica, fragmentada, híbrida, heterogênea (composta de elementos variáveis e díspares) e impura (pois mistura diversos elementos). A alternativa (B) é a correta, pois é a única que contém somente termos dessa lista.

Comunicação Social Furnas 2009 FUNRIO

20. Quanto aos elementos do processo de comunicação, aquele em que acontece a transformação de pensamentos em linguagem simbólica é denominado

A) decodificação.

B) codificação.

C) recepção.

D) emissão.

E) veiculação.

Resolução: (B).

Resolução: Linguagem simbólica é um código. Transformar pensamentos em códigos é codificar (alternativa B). Decodificação é justamente o processo contrário. Recepção é o processo de ter contato

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com a mensagem já decodificada, assim como emissão é produzir uma mensagem ainda não codificada. Veiculação é um termo genérico sugerindo transmissão por um canal. Lembre-se da teoria de codificação-decodificação de Hall que vimos nessa aula, ou, melhor ainda, no modelo de Shannon que vimos na aula passada.

Analista Judiciário - Comunicação Social -Relações Públicas TRT da 23ª Região - 2011 FCC

21. O fenômeno que atribui aos meios de comunicação prerrogativa de construção e de imposição da opinião que se deve ter sobre os fatos, ou seja, que os meios não se limitam a impor os temas sobre os quais se devam falar, mas também impõem o que falar sobre esses temas, é chamado de

(A) agenda setting.

(B) espiral do silêncio.

(C) recepção seletiva.

(D) dissonância cognitiva.

(E) exposição defensiva.

Resolução: (B).

Resolução: A questão é um pouco capciosa. Recepção seletiva é um caso da abordagem da persuasão, como vimos na aula anterior. Tem a ver com “interferências” na recepção de mensagens midiáticas. Dissonância cognitiva é uma teoria de Festinger que evidencia certo desconforto em situações ambíguas ou em que houve mudança de entendimento, devido a tendência de manter um autopercepção de racionalidade. Exposição defensiva é a seleção de informações que estejam de acordo com pontos de vista assumidos anteriormente. Também é um caso de “interferência” na recepção. Vimos que o Agenda Setting determina justamente sobre o que falar, mas não as opiniões sobre o tema de debate. Assim eliminam-se as alternativas (A), (C), (D) e (E). Trata-se da alternativa (B), pois comentamos como a Espiral do Silêncio pressupõe, de certa forma, um “efeito” mais forte que a exposição defensiva. A inibição de uma opinião sobre um tema implica logicamente a conversação que se pode ou deve manter sobre o assunto.

Analista em Comunicação Social I - Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo - 2011 Cespe.

22. A seguinte formulação teórica “o conceito de Indústria Cultural é seguramente um dos mais importantes quando se remete ao tema das

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teorias da comunicação” expressa um conceito que caracteriza as correntes de estudo da

A. Escola de Frankfurt.

B. Escola de Toronto.

C. Escola de Chicago.

D. Escola de Palo Alto.

E. Mass Communication Research.

Resolução: (A).

Resolução: A resposta é direta. Como mostramos exaustivamente, o conceito de Indústria Cultural foi criado na Escola de Frankfurt. A alternativa (A) é a correta. As demais alternativas invocam teorias que não enfatizam o conceito de Indústria Cultural.

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23. A respeito de folkcomunicação, avalie os itens abaixo e indique a opção correta.

( ) O pesquisador brasileiro Luiz Beltrão desenvolveu o conceito de folkcomunicação, que hoje integra o universo das Ciências da Comunicação.

( ) A folkcomunicação estuda o folclore como um dos grandes canais de comunicação coletiva.

( ) O conceito original de folkcomunicação está ligado à luta de classes e trata da contestação à cultura dominante. Os estudos iniciais de folkcomunicação já mostravam que grupos sociais, como os artesãos, mesmo involuntariamente, são capazes de criar peças de arte com características críticas ao poder estabelecido.

a) V, F, V

b) V, F, F

c) V, V, F

d) F, F, V

e) F, V, V

Resolução: (C).

Resolução: Ao estudar a Folkcomunicação vimos como a teoria foi criada por Luiz Beltrão (é genuinamente brasileira), que a teoria estuda o folclore como canal de comunicação coletiva e que a expressão popular no folclore anda junto com a cultura de massa, havendo um

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estabelecimento recíproco de influências. A ideia original da Folkcomunicação constituía um processo de intercâmbio de informações, opiniões, ideias e atitudes da massa por meio de agentes ligados direta ou indiretamente ao folclore. A terceira sentença sugere uma oposição radical entre cultura dominante e cultura popular. Embora a cultura popular possa ser contra-hegemônica, não há uma oposição tão marcada, mas trocas e apropriações. Assim, a duas primeiras sentenças estão corretas e a terceira, incorreta. A alternativa a ser selecionada é a (C).

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24. Avalie os itens abaixo e indique a opção correta.

( ) As tecnologias contemporâneas fizeram despertar renovado interesse por Marshall McLuhan, um teórico canadense que se dedicou ao estudo do canal e do código.

( ) Em sua teoria, um meio quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos e em alta definição, permitindo menor participação que um meio frio.

( ) O rádio e o cinema são exemplos de meios quentes.

( ) McLuhan é autor do conceito de que “o meio é a mensagem”. Na perspectiva do autor, toda tecnologia cria imediatamente um ambiente humano totalmente novo. Os ambientes são envoltórios passivos imersos em processos ativos.

a) F, V, F, F

b) V, V, V, F

c) V, V, F, V

d) V, F, F, V

e) F, F, V, F

Resolução: (B).

Resolução: Comentou-se na aula que, com a Internet, há uma retomada das teorias de McLuhan. A primeira sentença está correta. Vimos que os meios quentes reproduzem apenas um sentido e o saturam, não deixando espaço para participação. Os meios frios dirigem-se a mais de um sentido, não saturando os significados de modo que estes possam ser preenchidos e a imaginação possa atuar, propiciando participação. Exemplos de meios que McLuhan considerava quentes: rádio, cinema. Assim, a segunda e terceira sentenças estão corretas. A tecnologia cria ambientes culturais e sociais, é verdade. Mas

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nem toda tecnologia vai criar necessariamente um ambiente totalmente novo. Tecnologias não inovadoras, por exemplo, podem apenas manter os ambientes já existentes. Tecnologias quentes são menos conducivas à participação e à inovação social. Por fim, ambientes não são passivos; são instâncias de processos ativos ligados às novas tecnologias. A quarta sentença é a única incorreta. Assim, deve-se selecionar a alternativa (B).

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