avaliaÇÃo da exposiÇÃo ao rn nas cavernas do parque

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INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES Autarquia associada à Universidade de São Paulo AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO 222 Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE ESTADUAL TURÍSTICO DO ALTO RIBEIRA (PETAR) SIMONE ALBERIGI “Exemplar revisado pelo autor” Orientadora: Profª. Drª. Brigitte Roxana Soreanu Pecequilo SÃO PAULO 2006 Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear – Aplicações.

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Page 1: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES

Autarquia associada à Universidade de São Paulo

AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO 222Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE ESTADUAL TURÍSTICO

DO ALTO RIBEIRA (PETAR)

SIMONE ALBERIGI

“Exemplar revisado pelo autor” Orientadora:

Profª. Drª. Brigitte Roxana Soreanu Pecequilo

SÃO PAULO 2006

Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear – Aplicações.

Page 2: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

Dedico este trabalho a minha mãe, pelo carinho, amor e dedicação.

Por aceitar minhas escolhas e me apoiar sempre.

Page 3: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

AGRADECIMENTOS

- À família Ribeiro da Silva, que me acolheu como filha em meus primeiros meses

na cidade de São Paulo, em especial ao Eduardo Ribeiro da Silva por tudo!

- Dra. Brigitte Roxana Soreanu Pecequilo pela orientação, paciência e confiança.

- Dra. Márcia Pires de Campos pela convivência agradável no Laboratório de

Detectores de Traços da Divisão de Radiometria Ambiental do Centro de

Metrologia das Radiações e por tudo que me ensinou.

- Dra. Elisabeth Mateus Yoshimura e Dr. Almy Anacleto Rodrigues da Silva do

IFUSP pela utilização do microscópio, sistema automático de contagens e por toda

ajuda.

- Ainda ao Dr. Almy ou simplesmente ao amigo Almy por todos os esclarecimentos

sobre detectores de traços, por sempre ter demonstrado boa vontade e grande

interesse em ajudar e, também pelas longas e agradáveis conversas sobre outros

assuntos que serviram muito para meu enriquecimento pessoal.

- Aos funcionários do PETAR pela receptividade e por permitirem a realização deste

trabalho.

- Ao Sr. Jurandir e Sra. Ercília da pousada Rancho da Serra, pela hospitalidade em

todas as nossas viagens ao PETAR, em especial a Sra. Ercília pelas deliciosas

refeições preparadas com tanto carinho, fazendo-nos sentir, depois de um longo dia

de aventuras (tombos, tropeços, travessias nos rios gelados das cavernas) como se

estivéssemos em casa.

- Ao nosso guia turístico Orley, pela disposição na colocação dos detectores

conseguindo posicioná-los nos lugares mais inesperados (ele sim é o verdadeiro

“homem aranha”). Obrigada pelo bom humor e por tudo que nos ensinou sobre

cavernas.

Page 4: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

- Ao Dr. Ivo Karmann do Instituto de Geociências da USP pela ajuda no início deste

trabalho e pelo fornecimento dos mapas das cavernas monitoradas.

- Ao Fábio de Camargo pela sincera amizade iniciada durante o curso de Tópicos e

pelas preciosas sugestões que contribuíram muito para meu aprendizado e para

realização deste trabalho.

- Minhas preciosas amigas Cátia Saueia, Elaine Inácio Bueno, Mary Luz Rondiño,

Patrícia da Costa, Lílian Cacuri e Rosa Maria Chura Chambi pelo carinho e

amizade sincera, por sempre me apoiarem e me ajudarem nos momentos difíceis, e

pelas alegrias compartilhadas nos momentos de felicidade.

- Ao Dr. Paulo Sérgio Cardoso da Silva, companheiro de sala e projeto (pois

trabalhamos juntos no projeto Cavernas), pela amizade que nasceu durante os dois

anos de coletas e também ao nosso amigo José Alberto da Silva (“Beto”) por nos

levar diversas vezes ao PETAR colaborando para que as coletas fossem realizadas.

Ao Paulo e ao Beto pelas alegrias, canções durante as viagens de ida e volta, e

mesmo pelas discussões sobre quais cavernas deveriam ser visitadas, se iríamos à

cachoeira ou desceríamos o rio com bóia, se voltaríamos pela manhã ou tarde,

qualquer coisa era motivo para discussão. E hoje se tornaram doces lembranças!

- Ainda ao Beto por ser um grande amigo em todas as horas.

- CNPq e FAPESP pelo suporte financeiro.

Page 5: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO 222Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE ESTADUAL TURÍSTICO DO ALTO RIBEIRA (PETAR)

Simone Alberigi

RESUMO

No presente trabalho foram determinadas as concentrações de radônio em seis

cavernas do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR) e foi estimada a dose

efetiva anual recebida pelos guias turísticos da região. O PETAR apresenta quatro núcleos

de visitação: Santana, Ouro Grosso, Caboclos e Casa de Pedra e recebe anualmente cerca

de 40 mil visitantes. As cavernas escolhidas foram Couto, Água Suja, Laje Branca, Morro

Preto e Santana, do núcleo Santana e a caverna Alambari de Baixo do núcleo Ouro Grosso,

por receberem o maior número de turistas.

Os níveis de radônio foram determinados utilizando detectores de traços

nucleares do estado sólido Makrofol E expostos trimestralmente por um período de 26

meses, entre Outubro de 2003 e Novembro de 2005.

As concentrações de 222Rn variaram na faixa de 153 Bq.m-3 a 6607 Bq.m-3,

sendo observado que, de uma maneira geral, os níveis de radônio diminuem nos períodos

frios.

A dose efetiva anual, considerando os cenários mais realistas, com média

geométrica das concentrações, fator de equilíbrio 0,5 e tempo de exposição anual para cada

caverna, variou entre 0,2 mSv.a-1 para a caverna Couto, bastante ventilada e 4,0 mSv.a-1

para a caverna Santana, a mais visitada, com galerias sem comunicação externa.

Para o pior cenário, com média aritmética das concentrações, fator de equilíbrio

1 e tempo de exposição anual para todas as cavernas, a dose efetiva anual total foi 16,1

mSv.a-1.

Todas as estimativas da dose efetiva anual estão abaixo de 20 mSv.a-1, sugerido

como o valor limite para dose efetiva anual para exposição ocupacional pela Comissão

Internacional de Proteção Radiológica (ICRP 60, 1990).

Page 6: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

222Rn EXPOSURE ASSESSMENT IN THE CAVES OF PARQUE ESTADUAL TURÍSTICO DO ALTO RIBEIRA (PETAR)

Simone Alberigi

ABSTRACT

In the present work, radon concentrations in six caves of PETAR - Parque

Estadual Turístico do Alto Ribeira (High Ribeira River Turistic State Park) were carried

out with Makrofol E solid state nuclear track detectors (SSNTD) and used to assess the

annual effective dose received by regional tour guides. The park has four visitation centers:

Santana, Ouro Grosso, Caboclos e Casa de Pedra and receives nearly 40,000 people

annually. The caves evaluated were Couto, Água Suja, Laje Branca, Morro Preto and

Santana, from Santana center and Alambari de Baixo from Ouro Grosso center, for being

the most frequently visited caves.

The exposure period of the SSNTD was, at least, three months, over a period of

26 months, from October 2003 to November 2005.

The 222Rn concentrations lay in a range from 153 Bq.m-3 to 6607 Bq.m-3 and

we observed that, in general, for chilly weather, the radon levels decrease.

The annual effective dose, considering the most realistic scenario, with

geometric mean concentrations, an equilibrium factor of 0.5 and annual exposure time for

each cave, varied from 0.2 mSv.a-1 for the Couto cave, strongly ventilated, to 4.0 mSv.a-1

for the Santana cave, the most frequently visited and no external communication.

For the worst scenario, with arithmetic mean concentrations, equilibrium factor

1 and annual exposure time for all caves, the annual effective dose was 16.1 mSv.a-1.

All assessed effective doses received by the tour guides are bellow 20 mSv.a-1,

suggested as an annual effective dose limit for occupational exposure by the International

Commission of Radiological Protection (ICRP 60, 1990).

Page 7: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

SUMÁRIO

Página

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................1

1.1 Radiação natural..................................................................................................................1

1.2 O Radônio............................................................................................................................2

2. MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS..............................................................................................5

3. CAVERNAS DO BRASIL......................................................................................................6

3.1 Potencial espeleológico brasileiro.......................................................................................6

3.2 O PETAR.............................................................................................................................9

3.2.1 Levantamento das cavernas monitoradas e principais características.............................11

4. METODOLOGIA.....................................................................................................................18

4.1 Métodos para detecção de 222Rn no ar................................................................................18

4.1.2 Detecção Ativa................................................................................................18

4.1.3 Detecção Passiva.............................................................................................18

4.2 Detectores de Traços Nucleares do Estado Sólido.............................................19

4.2.1 O Makrofol E................................................................................................20

4.3 Discriminação entre 222Rn, seus produtos de decaimento e 220Rn.....................................21

4.4 Revelação dos detectores de traços....................................................................................22

4.5 Procedimento adotado para contagem dos traços...............................................................23

4.6 Determinação da concentração de 222Rn.............................................................................27

4.7 Radiação de fundo em Detectores Traços Nucleares do Estado Sólido.............................28

4.8 Determinação da dose efetiva devida à inalação de 222Rn.................................................29

5. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL................................................................................33

5.1. Montagem das câmaras de difusão KFK...........................................................................33

5.2. Colocação dos monitores nas cavernas.............................................................................36

Page 8: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

5.3 Revelação dos detectores Makrofol E................................................................................37

5.4 Visualização dos traços em Makrofol E.............................................................................38

5.5 Determinação da eficiência do detector Makrofol E..........................................................38

6. RESULTADOS........................................................................................................................41

6.1 Retenção de radônio no filtro de fibra de vidro..................................................................41

6.2 Fator de leitura de traços....................................................................................................41

6.3 Eficiência do detector.........................................................................................................42

6.4 Concentração de 222Rn no ar..............................................................................................43

6.5 Dose efetiva devida à inalação de 222Rn.............................................................................52

7. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES..........................................................................................56

SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS.....................................................................59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................60

Page 9: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

INTRODUÇÃO

1.1 Radiação Natural

Sabe-se que a espécie humana está constantemente exposta a fontes de

radiação de origem natural e artificial e que as fontes de origem natural representam a

maior contribuição na dose recebida, sendo esta exposição de origem natural proveniente

do espaço (radiação cósmica) e de radionuclídeos presentes no solo, materiais de

construção, água e ar (radiação terrestre ou radionuclídeos primordiais) ou em alimentos.

Estima-se que a dose efetiva anual média resultante de fontes naturais seja de 2,4 mSv

(UNSCEAR, 2000).

O planeta Terra é constantemente bombardeado por partículas de altas energias

originadas do espaço sideral. Estes raios cósmicos interagem com núcleos constituintes da

atmosfera, produzindo uma cascata de interações e produtos de reações secundárias que

contribuem para exposição humana e cuja intensidade é diminuída com o aumento da

distância na atmosfera (entre altitudes de aeronaves e o nível do solo). As interações de

raios cósmicos também produzem um número de radionuclídeos conhecidos como

radionuclídeos cosmogênicos (UNSCEAR, 2000).

Entre os radionuclídeos que ocorrem naturalmente na Terra, apenas aqueles

com meia-vida comparável à idade da Terra (e que por isso são também chamados de

primordiais) e seus produtos de decaimento existem em quantidades significativas. A

irradiação do corpo humano por fontes externas deve-se principalmente à radiação gama de

radionuclídeos das séries naturais do 238U, 232Th e do 40K. Alguns desses radionuclídeos

estão também presentes no corpo e irradiam os vários órgãos com partículas alfa e beta,

bem como radiação gama (UNSCEAR, 2000). Outros radionuclídeos terrestres como 176Lu 87Rb, 138La, 147Sm e a série do 235U, existem na natureza, mas em níveis tão baixos que sua

contribuição para a dose em humanos pode ser desprezada (UNSCEAR, 2000).

Destes dois tipos de radiação natural, a radiação terrestre é a maior fonte de

irradiação natural, contribuindo com cerca de 85% para dose anual média recebida pela

Page 10: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

2

população, com 14% decorrente do 40K, 17% resultante das séries do 238U e do 232Th e

54% devido ao radônio (Eisenbud, 1987).

Na natureza existem três isótopos do radônio (NCRP-97, 1998), o 222Rn, mais

conhecido como radônio, membro da série do 238U, o 220Rn, mais conhecido como torônio,

por ser originado da série do 232Th, e o 219Rn, também chamado de actinônio, por

descender da série do actínio ou 235U, todos radioativos e emissores de partículas alfa.

Devido às curtas meias-vidas do 220Rn (55,6 s) e 219Rn (3,96 s) e pelo fato do 235U

representar apenas 0,71% do urânio natural, a maior preocupação concentra-se na

determinação do 222Rn que apresenta maior meia-vida (3,8 dias), embora a contribuição

devida ao 220Rn não seja totalmente desprezível (Campos, 1999, Steinhausler et al., 1994),

principalmente em lugares com alta concentração de minerais ricos em tório.

Para fins deste trabalho, “radônio” ou Rn-222 ou 222Rn representam,

indistintamente, o radionuclídeo 222Rn.

1.2 O Radônio

O 222Rn é um gás nobre que se origina da desintegração radioativa do 226Ra por

decaimento alfa, na série radioativa do 238U (Figura 1.1), sendo o único elemento gasoso

desta longa série de decaimentos radioativos. Por ser um elemento da família dos gases

nobres, dificilmente interage com outros elementos e possui capacidade de emanar do solo

ou rocha com extrema facilidade e de se concentrar em ambientes fechados (Eisenbud,

1987). Como urânio e rádio estão sempre presentes no solo, rochas e água, é natural a

existência de radônio no ar, que, presente em ambientes a céu aberto, apresenta baixa

concentração devido à sua contínua dispersão na atmosfera. Contudo, em ambientes

fechados e de pouca ventilação, as concentrações podem atingir valores elevados. Isto fica

evidente em minas e cavernas onde a taxa de ventilação é reduzida devido à configuração

das mesmas (Binns et al., 1996, Jovanovi�, 1996, Solomon et al., 1996, Sajó-Bohus et al.,

1997, Binns et al., 1998, Pinza-Molina et al., 1999, Przylibski, 1999, Sperrin et al., 2000,

Gilmore et al., 2001, Gilmore et al., 2002, Papachristodoulou et al., 2004, Veiga et al.,

2004, Lario et al., 2005).

O interesse em determinar as concentrações de radônio deve-se ao fato de sua

inalação estar associada à incidência de doenças respiratórias. Os primeiros relatos datam

do século XVI, quando regiões de mineração na Alemanha tornaram-se conhecidas por

Page 11: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

3

incidência de uma doença que ficou conhecida como doença da montanha, reconhecida

atualmente como câncer no pulmão (Khan et al., 1993). O aumento da mineração de urânio

nos anos 40 ocasionou um aumento nos casos de câncer de pulmão em mineiros, o que

conseqüentemente conduziu à associação entre exposição ao radônio e câncer de pulmão

(Khan et al., 1993). Atualmente, de acordo com relatório da Organização Mundial da

Saúde sabe-se que o radônio é a segunda maior causa de câncer no pulmão no mundo,

perdendo apenas para o tabaco (Estado de São Paulo, 2006).

O gás radônio decai para vários descendentes (“filhos”), que também são

radioativos. Para efeito de contribuição na exposição à radiação, a maior importância

concentra-se nos quatro primeiros descendentes de meias-vidas curtas, 218Po (3,05 min), 214Pb (26,8 min), 214Bi (19,9 min) e 214Po (1,64x10-4 s), sendo que o 218Po e 214Po são

emissores alfa e, portanto, são mais prejudiciais e responsáveis para o aumento da

incidência de câncer no pulmão (UNSCEAR, 2000), pois a transferência linear de energia

para partículas alfa é 20 vezes maior do que para radiação de referência (elétrons). Os

filhos do radônio, diferentemente do pai, podem se associar facilmente a partículas de

aerossóis, ou qualquer outro tipo de superfície, fenômeno conhecido como plate-out.

Associados ou não a aerossóis, os filhos podem ser inalados, se depositando no pulmão

(Safety Reports Series 33, 2003).

Page 12: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

4

Figura 1.1 – Série de Decaimento do 238U [UNSCEAR, 1977].

238 U (4,47x10 9 a)

234m Pa (1,17 min)

234 U (2,45x10 5 a)

234 Th (24,1 d)

230 Th (7,7x10 4 a)

214 Bi (19,9 min)

226 Ra (1600 a)

222 Rn (3,82 d)

218 Po (3,05 min)

214 Pb (26,8 min)

214 Po (1,64x10 -4 s)

210 Bi (5,01 d)

210 Pb (22,3 a)

210 Po (138 d)

206 Pb (estável)

α β −

β −

α

α

α

α

α α α β − β −

β − β −

Page 13: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

5

2. MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS

Estudos realizados em várias partes do mundo têm apresentado concentrações

de radônio no interior de cavernas com valores na faixa de 186 Bq.m-3 a 80000 Bq.m-3

(Pinza-Molina et al., 1999, Przylibski, 1999, Sajó-Bohus et al., 1997, Sperrin et al., 2000,

Gilmore et al., 2002, Papachristodoulou et al., 2004, Lario et al., 2005), ultrapassando em

muitos casos o limite proposto para nível de intervenção de 1000 Bq.m-3 (ICRP 65, 1993) e

as doses de radiação recebidas pelos indivíduos expostos.

Com níveis tão elevados torna-se necessário o conhecimento dos valores de

concentração de radônio em cavernas, bem como a avaliação dos riscos causados pela

exposição nestes ambientes.

No Brasil, cerca de 4000 cavernas estão cadastradas no banco de dados da

Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), (Auler et al., 2001, SBE, 2005). Estudos

realizados em Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso apresentaram avaliação preliminar dos

níveis de radônio em algumas cavernas, mostrando concentrações elevadas (Gouvea et al.,

1996). Contudo, não existe em nosso país nenhuma avaliação sobre as doses de radiação

recebidas pelos freqüentadores destes locais, sejam eles turistas ou guias.

No sul do estado de São Paulo, a região do Vale do Ribeira possui a maioria

das cavernas paulistas (Auler et al., 2001, SBE, 2005). O Parque Estadual Turístico do

Alto Ribeira (PETAR), situado entre os municípios de Iporanga e Apiaí, possui mais de

200 cavernas cadastradas representando grande atrativo turístico e recebe cerca de 40.000

visitantes por ano (SBE, 2005). Em estudo preliminar, as concentrações de 222Rn nas

cavernas do núcleo Santana no PETAR variaram entre 500 e 1000 Bq.m-3, mostrando a

necessidade de um estudo detalhado dos níveis de radônio nesta região (Maduar, 2001).

No presente trabalho, as concentrações de radônio em algumas cavernas

brasileiras são determinadas por meio da técnica passiva com detectores sólidos de traços

nucleares e é feita uma avaliação da dose recebida pelos guias turísticos.

Page 14: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

6

3. CAVERNAS DO BRASIL

3.1 Potencial espeleológico brasileiro

O Brasil é um país muito favorável para descoberta de novas grutas, com cerca

de 4.000 grutas registradas, mas acredita-se que o potencial é, no mínimo, dez vezes maior.

As cavernas brasileiras se desenvolvem principalmente em alguns tipos de

rochas calcárias, embora existam também formações de grutas em outros tipos de rochas

(granitos, minérios de ferro, entre outras). A Figura 3.1 apresenta as principais regiões

cársticas do Brasil e respectivas unidades geológicas. A maioria das grutas está inserida em

calcários e dolomitos, rochas facilmente dissolvidas pela água subterrânea.

Em Minas Gerais, destacam-se a região de lagoa Santa, berço da espeleologia

brasileira, com mais de 700 grutas registradas; a região de Arcos e Pains, bastante

ameaçada pela mineração, também com centenas de cavernas conhecidas, e a região do

Vale do Rio Peruaçu, com a Gruta do Janelão e vários sítios arqueológicos.

No estado de Goiás destacam-se as regiões de São Domingos e de Mambaí,

com um grande número de cavidades importantes.

No estado da Bahia destacam-se a Serra do Ramalho e seus arredores, com

várias cavernas importantes, entre elas a Gruta do Padre, com 16,3 km de extensão, a

terceira maior caverna do país, e a região de São Desidério, comportando algumas das

cavernas com maior espaço interno do país (Auler et al., 2001, Auler e Zogbi, 2005).

Da região central da Bahia, estendendo-se até o norte do estado, duas áreas

concentram as principais cavernas de interesse: a região da Chapada Diamantina, com

várias cavernas de grande extensão, como a Lapa Doce, e a região de Campo Formoso, que

abriga as duas maiores cavernas do país, a Toca da Boa Vista e a Toca da Barriguda, com

105 km e 32 km de extensão, respectivamente. Próximo destas duas cavernas existem

algumas cavernas importantes, entre as quais a Gruta do Convento (Auler et al., 2001,

Auler e Zogbi, 2005).

No sul do estado de São Paulo e no Paraná existem mais de 300 cavernas. No

Page 15: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

7

estado paulista, a maior concentração está no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira

(PETAR).

Próximo ao PETAR, no município de Eldorado, o Parque Estadual de

Jacupiranga abriga a Caverna do Diabo, parcialmente adaptada para o turismo, com amplos

salões extremamente ornamentados. O lado paranaense possui muitas grutas, embora de

menores dimensões. Em Santa Catarina temos como principal caverna a gruta Botuverá, no

município de Botuverá (Auler et al., 2001, Auler e Zogbi, 2005).

No oeste do país, no Estado do Mato Grosso do Sul, nos arredores da Serra da

Bodoquena, encontram-se muitas cavernas alagadas, principalmente na região da cidade de

Bonito. Mato Grosso também possui muitas grutas, principalmente próximas a Nobres. Em

Rondônia, no Pará e no Amazonas ocorrem algumas incidências de calcário. Os mais

importantes situam-se próximos a Itaituba, no Pará, onde a recente colonização tem levado

à descoberta de algumas cavernas (Auler et al., 2001, Auler e Zogbi, 2005).

No estado do Ceará existem poucas cavernas conhecidas, entre elas a gruta de

Ubajara. Várias ocorrências de menor porte de calcários e dolomitos existem em todo o

Brasil. Algumas aparentam possuir pouco potencial ao passo que outras, em locais mais

remotos, ainda não foram adequadamente exploradas por espeleólogos (Auler et al., 2001,

Auler e Zogbi, 2005).

Page 16: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

8

Figura 3.1 – Regiões cársticas do Brasil (Auler et al., 2001).

Page 17: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

9

3.2 O PETAR

O Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR) está localizado à

margem esquerda do alto curso do Rio Ribeira, sul do estado de São Paulo, entre os

municípios de Apiaí e Iporanga (Figura 3.2). Os principais acessos partindo de São Paulo

são pelas rodovias SP 180 (passando por Apiaí) ou BR 116 (Régis Bittencourt), por

Jacupiranga e Iporanga.

Figura 3.2 - Localização do PETAR.

Criado em 1958, o PETAR representa uma unidade de preservação com

35.102,8 ha, com terrenos cársticos. A importância ambiental desta área é suportada pela

associação entre mata tropical, em grande parte preservada, e sistemas de cavernas que

abrigam paisagens subterrâneas únicas e sítios paleontológicos.

É um dos parques mais antigos do Estado de São Paulo, abrigando um valioso

patrimônio natural da Região do Alto Ribeira composto por sítios paleontológicos,

arqueológicos e históricos, além da grande diversidade biológica característica da Mata

Atlântica preservada em toda sua extensão (Karmann e Ferrari, 2002).

Mas a maior atração do Parque é sem dúvida sua riqueza de cavernas. São mais

de 200 cavernas cadastradas, o que faz do PETAR uma das maiores concentrações deste

gênero no Brasil.

Page 18: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

10

A formação montanhosa e a densa vegetação presentes na região funcionam

como uma barreira aos ventos que vêm do Atlântico Sul, causando uma alta precipitação

chuvosa. A ação da água ácida nas rochas calcáreas durante milhares de anos propiciou a

formação de cavernas com piso, paredes e tetos ornamentados por inúmeros espeleotemas

(estalactites, estalagmites, colunas, cortinas, etc.). No PETAR são encontradas cavidades

naturais de diferentes tipos e dimensões, sejam horizontais (chamadas de grutas ou

cavernas) sejam verticais (chamadas de abismos).

O PETAR está divido em quatro núcleos para visitação: Santana, Caboclos,

Ouro Grosso e Casa da Pedra.

Page 19: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

11

3.2.1 Levantamento das cavernas monitoradas e principais características

As cavernas do PETAR estão distribuídas em quatro núcleos de visitação: Ouro

Grosso, Caboclos, Santana e Casa da Pedra e recebem anualmente aproximadamente

40.000 pessoas (SBE, 2005).

Para o estudo em questão foram selecionadas seis cavernas. Embora este

número pareça pequeno se comparado ao grande número de cavernas cadastradas

atualmente no parque, o critério de escolha foi feito de acordo com o número significativo

de visitantes que estas cavernas recebem, e considerando a viabilidade para acesso e

coletas. As cavernas escolhidas (Figura 3.3) pertencem ao núcleo Santana (cavernas Laje

Branca, Couto, Água Suja, Morro Preto e Santana, que dá nome ao núcleo, e recebem

cerca de 85% dos visitantes do parque) e ao núcleo Ouro Grosso (caverna Alambari de

Baixo).

Page 20: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

12

Figura 3.3 - Localização das cavernas do PETAR escolhidas para monitoramento (Google, 2005).

Page 21: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

13

As cavernas monitoradas diferem muito entre si e apresentam configurações e

características peculiares, portanto, serão descritas detalhadamente a seguir.

Caverna Alambari de Baixo

Localizada no núcleo Ouro Grosso, esta caverna apresenta latitude: 24°33’15”S

e longitude 48°39’55”W, com desnível de 32 m e extensão de 890 m. É constituída

basicamente de duas grandes galerias: a fóssil, cujo nível varia de 30m a 6 m acima do

atual curso do rio, e a galeria ativa do rio, com declividade imperceptível em 500 m de

percurso. Além destas galerias, existem outras superiores, de pequenas dimensões. Existem

também salões formados por desmoronamentos. Sua entrada de acesso usual está situada a

30 m acima do rio e era a antiga entrada (sumidouro) do rio Alambari. A ressurgência é

penetrável, não acontecendo o mesmo com o sumidouro (IRCN, 2005). O tempo de

visitação é estimado em 1 hora e 30 minutos (Vendrame, 2006). O monitoramento foi feito

em uma única galeria com colocação de três câmaras nesta galeria (Figura 3.4), (Barros et

al., 1985).

Figura 3.4 – Caverna Alambari de Baixo (Núcleo Ouro Grosso).

Caverna Água Suja

Localizada no município de Iporanga, esta caverna faz parte do núcleo Santana

apresentando coordenadas de latitude: 24°31’25”S, longitude: 48°42’27”W, altitude 280

m, desnível de 220 m e extensão de 2985 m. Apresenta uma entrada e quase todo o

percurso turístico no interior da caverna é feito dentro da água (ressurgência de um

afluente do Rio Bethary). Também existe uma passagem que liga a caverna Água Suja à

Page 22: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

14

caverna Vargem Grande. O tempo de visitação é de 2 horas (Vendrame, 2006). O

monitoramento de radônio foi feito no salão do golfinho (com três monitores contendo um

detector plástico cada) conforme indicado na Figura 3.5, (Karmann et al., 1988).

Figura 3.5 – Caverna Água Suja (Núcleo Santana).

Caverna Couto

Situada no município de Iporanga com coordenadas de latitude: 24°31’14”S e

longitude: 48°41’43”W, esta caverna apresenta desnível de 26 m e extensão de 471 m para

o percurso turístico. É uma cavidade com um único conduto e duas entradas, uma em cada

lado do morro, com chão praticamente liso, sem abismos, sem grandes desmoronamentos.

Também não possui espeleotemas notáveis. A caverna Couto esta ligada à caverna Morro

Preto, como mostrado na Figura 3.6 (Karmann et al, 1988), e é a gruta mais próxima do

núcleo Santana depois da caverna Santana. Devido a sua proximidade ao núcleo e o seu

fácil percurso, esta gruta está bastante depredada, (IRCN, 2005). O tempo para cumprir o

percurso turístico nesta caverna é estimado em 1 hora de duração (Vendrame, 2006). O

monitoramento foi feito aproximadamente na metade do percurso turístico, com colocação

Page 23: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

15

de três monitores.

Figura 3.6 – Caverna Couto (Núcleo Santana).

Caverna Morro Preto

Esta caverna situa-se em Iporanga com coordenadas de latitude 24°31’19”S e

longitude 48°41’54”W, com desnível de 61 m e extensão de 832 m. Esta gruta forma um

conjunto com a gruta Couto (Figura 3.6). O tempo de visitação é de 1 hora (Vendrame,

2006). Para o monitoramento foram escolhidos dois pontos, o salão conhecido como

Plataforma ou Camarote, próximo à entrada e o salão Chocolate ao final da gruta, com

colocação de três monitores (Figura 3.7), (Karmann et al., 1998).

Figura 3.7 – Caverna Morro Preto (Núcleo Santana).

Page 24: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

16

Caverna Laje Branca

Esta caverna situa-se em Iporanga, no núcleo Santana, com latitude 24°32’57”S

e longitude 48°43’15”W, altitude de 445 m, com desnível de 55 m e extensão de 650 m. O

tempo de visitação é de 1 hora e 30 minutos (Vendrame, 2006). O monitoramento foi feito

em uma única galeria (Figura 3.8), (Le Bret e Novo, 1962).

Figura 3.8 – Caverna Laje Branca (Núcleo Santana).

Caverna Santana

Localizada em Iporanga, esta caverna que dá nome ao núcleo certamente recebe

o maior número de visitantes por possuir grande variedade de galerias e melhor infra-

estrutura para visitações. As coordenadas da entrada principal são: latitude 24º31’51”S e

longitude 48º42’06”W, desnível de 61 m e extensão de 5680 m. Possui também um rio em

seu interior, o rio Roncador, afluente do rio Bethary, mas o percurso turístico pode ser feito

sem entrar no rio. Como é a mais rica em galerias, foram escolhidos cinco pontos de

monitoramento com três monitores em cada ponto: três pontos de monitoramento foram

distribuídos em três galerias abertas ao público (Torres, Cristo e Descanso) e dois pontos

de monitoramento posicionados em duas galerias do salão das Flores com visitações

proibidas ao público (Figura 3.9), (Marques e Sagotavskas, 1972). O tempo de visitação é

estimado em 2 horas (Vendrame, 2006).

Page 25: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

17

Figura 3.9 – Caverna Santana (Núcleo Santana).

Page 26: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

18

4. METODOLOGIA

4.1 Métodos para detecção de 222Rn no ar

Existem vários métodos para determinar a concentração de radônio no ar

(NCRP–97, 1998), que podem ser agrupados basicamente em duas técnicas: detecção ativa

e detecção passiva. A escolha do método a ser utilizado envolve várias considerações, tais

como o tipo de informação desejada, as características do local a ser estudado, o tempo de

amostragem e os custos do projeto.

4.1.2 Detecção Ativa

O princípio básico da técnica de detecção ativa consiste em amostragem de ar

coletado por meio de bombeamento mecânico em um ou mais filtros. A medida de radônio

e de seus filhos nestes filtros pode ser feita utilizando detectores específicos tais como

detector proporcional ou espectrômetro alfa com detector de barreira de superfície (Knoll,

1979). A detecção ativa é amplamente utilizada, contudo, se o monitoramento é feito em

ambiente de difícil acesso como no caso de cavernas, torna-se complicado utilizar esta

técnica, uma vez que é necessária infra-estrutura para o fornecimento de energia elétrica

para o funcionamento dos amostradores de ar.

4.1.3 Detecção Passiva

Na técnica de detecção passiva, os detectores são simplesmente expostos ao ar

ambiente, não havendo coleta de ar. O princípio básico de funcionamento da detecção

passiva está baseado na adsorção e permeabilidade do 222Rn em diferentes materiais, não

sendo necessário o emprego de aparato eletrônico durante as coletas, tornando-se vantajoso

quando a medida deve ser realizada em locais de difícil acesso, como no caso de minas e

grutas, onde muitas vezes não há ao menos um lugar apropriado para colocação de

equipamento (detecção ativa), o trânsito de pessoas é freqüente e o monitoramento por

Page 27: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

19

longos períodos completos de trabalho dos guias é mais interessante.

Os detectores passivos mais utilizados são o carvão ativado, os dosímetros

termoluminescentes (TLD) e os detectores de traços nucleares do estado sólido (Nikezi� e

Uroševi�, 1998, Durrani, 2001, Turek et al., 2004).

A determinação de radônio utilizando carvão ativado é uma técnica passiva

relativamente simples e barata. Contudo, condições ambientais tais como umidade elevada

e poluição, que também podem ser adsorvidas pelo carvão, podem influenciar diretamente

na medida (Nikezi� e Uroševi�, 1998).

A emissão de luz de alguns materiais por estimulação térmica, conhecida por

termoluminescência, pode ser utilizada para detecção de radiação. Materiais que

apresentam esta propriedade podem ser utilizados como dosímetros termoluminescentes,

que permitem obter a radiação direta no meio ambiente (Ho e Weng, 1981, NCRP-97,

1988).

A opção pelo uso de detectores de traços nucleares do estado sólido para

medida de radônio neste trabalho deve-se ao baixo custo, ao fato de não ser necessário

dispositivo eletrônico associado à medida, necessidade de um procedimento de medida

integrada (exposição em longo prazo dos detectores), e por ser uma técnica de amplo

domínio do Laboratório de Radiometria Ambiental do Centro de Metrologia das Radiações

do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN).

4.2 Detectores de Traços Nucleares do Estado Sólido

Desde que os primeiros resultados sobre fragmentos de fissão observados em

fluoreto de lítio por Young em 1958 e a observação feita por Silk e Barnes em 1959, sobre

traços de 235U em mica, foram descritos, iniciou-se o desenvolvimento de uma nova

técnica de detecção na física nuclear (Enge, 1980).

A simplicidade da técnica de detecção e seu baixo custo despertaram o interesse

de um grande número de pesquisadores nesta nova área, produzindo em pouquíssimo

tempo grande quantidade de trabalhos sobre o assunto (Enge, 1980, Durrani, 2001).

Conhecidos pela sigla SSNTD (originada do inglês Solid State Nuclear Track

Detectors), os Detectores de Traços Nucleares do Estado Sólido são materiais que tem a

Page 28: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

20

propriedade de registrar permanentemente danos causados por radiações nucleares de

partículas carregadas pesadas (alfa, prótons e fragmentos de fissão) (Enge, 1980). Estas

radiações, ao interagir com estes materiais, depositam energia ao longo de suas trajetórias

no material, provocando um desarranjo na estrutura do material, criando cilindros (traços)

de dimensões da ordem de ângstrons. Estes traços, invisíveis a olho nú, tornam-se

observáveis quando os detectores passam por tratamento químico com soluções adequadas,

capazes de ampliar as dimensões dos traços, com um aumento no diâmetro dos traços da

ordem de ângstrons para alguns micra, tornando possível sua visualização em microscópio

óptico comum (Paulo, 1991).

Os detectores de traços podem ser orgânicos, formados por polímeros, entre

eles os policarbonatos, acetatos e os nitratos de celulose como LR-115, CR-39, Lexan,

Makrofol, ou inorgânicos como mica, quartzo, sílica e o vidro comum.

As aplicações dos detectores de traços são múltiplas e variadas, podendo ser

empregados em estudos sobre radiação cósmica em meteoritos, estudos em amostras

lunares e meteoritos, fragmentação e decaimento por fissão espontânea de 238U, estudos

para descoberta de petróleo, desenvolvimentos de filmes micro-porosos empregados em

medicina, determinação da composição e pureza de metais, dosimetria, espectrometria, e

em caso que tem recebido maior atenção, estudos para determinação de radônio, etc.,

(Fleischer, 1988, Durrani, 2001).

O detector utilizado neste trabalho é o policarbonato Makrofol E com espessura

de 100 µm, material que já vem sendo amplamente utilizado em trabalhos anteriores de

medidas ambientais (Campos, 1994, Campos et al., 2002) no Laboratório de Detectores de

Traços do Centro de Metrologia das Radiações do IPEN.

4.2.1 O Makrofol E

O Makrofol E é um policarbonato de composição química C16O3H14 produzido

pela empresa alemã Bayer. O Makrofol é muito utilizado para revestimento de diversos

tipos de materiais, por sua transparência e alta resistência a aquecimento (Bayer, 2004). Ao

mesmo tempo, tem se mostrado também um excelente detector de radiação, pois é capaz de

registrar partículas carregadas pesadas (alfa, prótons e fragmentos de fissão).

Page 29: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

21

O Makrofol E é translúcido, apresentando uma face brilhante e outra opaca. A

face brilhante, por ser a face que detecta a radiação, é considerada a face útil do detector.

4.3 Discriminação entre 222Rn, seus produtos de decaimento e 220Rn

Como o objetivo principal deste trabalho é a determinação de radônio, é

necessário utilizar um dispositivo que faça a discriminação entre o radônio, seus produtos

de decaimento e o torônio (220Rn). A utilização de câmaras de difusão associadas ao uso de

membranas com uma permeabilidade específica permitem a separação dos isótopos

desejados e seus produtos de decaimento e tem se mostrado uma boa alternativa para

solucionar esta questão. Assim, o detector é posicionado no interior de uma câmara de

difusão que registra tanto as partículas alfa dos isótopos do radônio que penetraram na

câmara como as partículas alfa dos filhos que foram produzidas no interior da câmara.

A discriminação entre o radônio, seus produtos de decaimento e o torônio foi

feita utilizando uma membrana permeável ao 222Rn e impermeável aos filhos e torônio. A

partir de dados da literatura, foi escolhido um filtro de fibra de vidro como membrana para

discriminar os radionuclídeos (Ward et al., 1977, Ramachandran et al., 1987, Fleischer,

1988).

Por meio da equação 1 é possível determinar a fração de radônio retida no filtro

de fibra de vidro (Fleischer, 1988).

)/( 1/

iM

iM

tttt

f+

= (1)

onde:

f = fração de radônio retida no filtro;

tM = tempo efetivo de difusão do gás através da membrana (delay time);

ti = vida média do radionuclídeo considerado.

Page 30: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

22

4.4 Revelação dos detectores de traços

Existem diversas regras para a realização da revelação dos detectores de traços,

que devem ser estabelecidas cuidadosamente. Em geral, a solução reveladora varia com o

tipo de material, sendo ácida para detectores de origem inorgânica e alcalina para plásticos.

Muitos pesquisadores preferem associar ao processo de revelação pré-ataques

eletroquímicos com aplicação de tensão, temperatura e freqüência que podem variar de

acordo com o tipo de estudo a ser realizado (Piesch et al., 1991). Para a revelação do

Makrofol E foi aplicada a metodologia estabelecida por César e Franco (César e Franco,

1986), que utiliza uma solução à base de KOH.

Estudos mostraram que, com a utilização da solução PEW40 (15% KOH, 40%

álcool etílico e 45% de água), a superfície removida do detector é fortemente acentuada e

revela uma quantidade maior de traços e aumento considerável na taxa de ataque ao longo

da superfície se comparada com soluções de KOH e água.

É necessário estabelecer rigorosamente as condições de ataque de acordo com

os resultados desejados. No caso do Makrofol E, é importante definir bem o tempo de

ataque, uma vez que se verificou que o número de traços revelados aumenta com o

aumento do tempo de ataque (Moraes, 1982, César e Franco, 1986). Qualitativamente, isto

ocorre porque o grau de ionização causado no filme pela passagem da partícula alfa é

função da energia da mesma, podendo ser representada por comportamento semelhante a

uma curva de Bragg, ou seja, dependendo da energia das partículas alfas ao atingir o

detector, podem ocorrer duas situações: na primeira os traços superficiais não são

revelados e, à medida que o tempo de revelação aumenta, diminui o número de traços

observados, e uma segunda situação, na qual o número de traços observados aumenta com

o aumento do tempo de revelação (traços não superficiais), definindo o tempo necessário

para atingir o pico de ionização específica da curva de Bragg (Moraes, 1982). No processo

da revelação, também é necessário haver um controle na temperatura.

A Tabela 1 apresenta alguns tempos de ataque para o ataque químico com

solução PEW40 à temperatura de 70°C (César e Franco, 1986), para diferentes energias das

partículas alfas incidentes.

Page 31: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

23

Tabela 1 – Tempo de ataque químico com a solução PEW40 a 70°C.

Faixa de Energia de Partículas αααα Tempo de Ataque

3,10 MeV – 5,48 MeV∗ 120 minutos

2,8 MeV – 3,40 MeV 80 minutos

1,1 MeV – 2,80 MeV 40 minutos

∗ - Energia do 222Rn.

4.5 Procedimento adotado para contagem dos traços

Quando se trabalha com detectores de traços, uma das maiores dificuldades

encontradas na determinação das concentrações é a leitura e a quantificação dos traços. Em

geral, a leitura dos traços pode ser feita de duas formas: de maneira visual e manual com

auxílio de microscópio óptico comum ou utilizando câmara de faíscas (Enge, 1980, Sajó-

Bohus et al., 1997, Sannappa et al., 2003). Também, em muitos casos, vários

pesquisadores (Amgarou et al., 2001, Tsankov et al., 2005, Da Silva, 2005) preferem

adotar algum tipo de software capaz de contar os traços automaticamente, por meio de

programação prévia, desde que sejam definidos parâmetros iniciais, como, por exemplo,

tonalidade dos traços. Todavia, quando o detector apresenta irregularidades na superfície,

como é o caso do Makrofol E (Figura 4.1) ou uma grande quantidade de traços, (Figura

4.2), a utilização desse sistema torna-se complicada.

Page 32: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

24

(a)

(b)

Figura 4.1 – Radiação de fundo na superfície do detector Makrofol E utilizado

a) aumento 10x no microscópio

b) aumento 40x no microscópio

Page 33: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

25

(a)

(b)

Figura 4.2 – Detector Makrofol E exposto ao ambiente de cavernas.

a) aumento 10x no microscópio

b) aumento 40x no microscópio

Page 34: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

26

Como os primeiros detectores trazidos das cavernas apresentavam alta

densidade de traços, tornou-se necessário buscar uma maneira confiável que facilitasse o

procedimento de contagem dos traços nos detectores.

Analisando vários detectores e fazendo a contagem dos traços, observou-se que,

de uma maneira geral, os traços distribuem-se homogeneamente em toda a superfície do

detector. Supôs-se então existir uma relação entre essa densidade homogênea total de

traços no detector e a quantidade de traços medida em regiões aleatórias do detector. Uma

vez determinada esta relação, poderia ser aplicada nos procedimentos de leitura de traços,

simplificando e agilizando a leitura dos detectores (Alberigi et al., 2005b).

Para a determinação desta relação, que posteriormente foi chamada de “fator de

leitura de traços” FT, cinco detectores de traços Makrofol E foram expostos a

concentrações conhecidas de 222Rn e posteriormente foi feita a contagem dos traços na

superfície de 1 cm2 de cada um dos cinco detectores, obtendo-se assim a densidade total de

traços. Em seguida foram escolhidas para cada detector três faixas de regiões centrais (para

garantir que a área de leitura apresentasse somente traços, evitando as bordas do detector) e

foi realizada a contagem de traços nestas regiões, obtendo um valor médio de traços na

região central. Conhecendo a densidade total de traços nos detectores e os valores médios

obtidos nas regiões centrais dos mesmos, FT foi determinado por meio da equação 2:

FDnT

T

= (2)

onde:

FT = fator de leitura de traços (traços.cm-2);

D = densidade total de traços no detector (traços.cm-2);

nT = quantidade de traços por faixa (valor médio de leitura das três faixas).

Com este fator FT é possível determinar a densidade de traços nos detectores,

calculando o valor médio obtido da leitura de apenas três faixas centrais e multiplicando

este valor por FT, reduzindo significativamente o tempo de contagem de traços nos

detectores.

Este procedimento foi testado utilizando o fator de leitura de traços obtido para

determinar uma atividade conhecida de radônio. Para tanto, um outro conjunto de

detectores (quatro detectores) foi exposto a uma concentração conhecida de 222Rn

Page 35: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

27

equivalente a 15,2 kBq.m-3 proveniente da câmara de calibração Pylon Model RN-150

(Pylon, 1992) e a densidade de traços determinada realizando a leitura de três faixas

centrais e multiplicando pelo fator FT . A concentração de 222Rn foi obtida por meio da

equação 3.

4.6 Determinação da concentração de 222Rn

A concentração de radônio é determinada por meio da equação 3 (Mayya et al.,

1998, Eappen e Mayya, 2004):

tKD

CRn ⋅= (3)

onde:

CRn = concentração de Rn-222 (Bq.m-3)

D = densidade de traços (traços.cm-2)

t = tempo de exposição (dias)

K = eficiência do detector de traços (traços.cm-2/Bq.m-3.dias), determinado

experimentalmente.

Para a determinação das concentrações de radônio no ar, além da densidade de

traços no detector e do tempo de exposição, é necessário conhecer a eficiência K do

detector utilizado. Também chamada de “fator de conversão de traços em concentração de

radônio” ou simplesmente “fator de calibração”, a eficiência permite converter a densidade

de traços em atividade de radônio. Esta eficiência do detector pode ser determinada

experimentalmente, pela exposição do detector de traços (Makrofol E) a uma atividade

conhecida de 222Rn. Após a exposição, o detector é submetido ao mesmo ataque químico

aplicado aos detectores expostos nas cavernas para ampliação dos traços e à mesma

metodologia de leitura dos traços.

A eficiência (ou fator de calibração K) foi determinada a partir da equação 3,

conhecidas a concentração de 222Rn fornecida pela fonte calibrada, o tempo de exposição

dos detectores e a densidade de traços nos detectores. O fator de calibração é expresso em

(traços.cm-2/Bq.m-3.dias).

Page 36: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

28

4.7 Radiação de fundo em Detectores de Traços Nucleares do Estado Sólido

A principal e mais importante característica dos detectores de traços nucleares

que é a sensibilidade a partículas carregadas pesadas (alfa, prótons e fragmentos de fissão),

também torna-se um problema sério na utilização deste tipo de detector, pois, desde a sua

fabricação, os mesmos já estão sujeitos a interações com a radiação e podem detectar tanto

a radiação devida aos raios cósmicos como ao radônio, torônio e filhos, presentes nos

ambientes onde os detectores são armazenados. Assim, quando o detector for utilizado, já

apresentará certa quantidade de traços. Essa quantidade de traços presente no detector

antes de sua utilização é chamada de radiação de fundo ou simplesmente background.

É impossível evitar a formação dos traços de radiação de fundo durante o

período de armazenamento; contudo, existem alguns procedimentos que podem ser

adotados para minimizar seus efeitos. Uma boa alternativa seria embalar as placas dos

detectores com várias camadas de papel ou um plástico comum, para diminuir o contato

dos detectores com a radiação presente no ambiente (em geral 222Rn), ou guardar as placas

dos detectores na vertical, para diminuir a incidência de radiação cósmica (Paulo, 1991).

Alguns estudos propõem tratamento químico dos detectores (Dadvand e

Sohrabi, 1998) ou aquecimento dos mesmos (Meesen et al., 1995) como tentativa para

redução de traços de radiação de fundo, mas os resultados não se mostraram muito

satisfatórios, apresentando em alguns casos aumento na quantidade desses traços com o

aumento do tempo de ataque, ou em outros casos mostrando pouca alteração, sugerindo

inclusive que a situação ideal para armazenamento dos detectores seria estocá-los em um

ambiente livre de radônio.

Uma opção mais simples, que costuma ser adotada na maioria dos estudos

envolvendo detecção com detectores passivos, é descontar a radiação de fundo nas leituras

dos detectores expostos ao 222Rn e filhos.

Quando a atividade alfa a ser medida for muito baixa, recomenda-se a

utilização de detectores recém-fabricados, pois os mesmos apresentarão menor quantidade

de traços devido à radiação de fundo. Quando os detectores expostos apresentarem

quantidade elevada de traços, os traços devidos à radiação de fundo podem ser

desprezados.

Para o Makrofol, estudos apresentam resultados para o limite inferior de

detecção para a radiação de fundo de (6 ± 2) traços.cm-2 (Piesch et al., 1991, Amgarou et

Page 37: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

29

al., 2001). Todavia, os detectores disponíveis no nosso laboratório, apresentaram uma

densidade da ordem de 1000 traços.cm-2 para a radiação de fundo. Este valor é alto, mesmo

quando comparado com a densidade da ordem de 7000 traços.cm-2 para detectores expostos

ao ambiente das cavernas. Assim, desde o início deste estudo, os traços de background

sempre foram considerados, e para a determinação dos níveis de radônio em todos os

períodos, a radiação de fundo foi descontada das leituras dos detectores expostos nas

cavernas.

4.8 Determinação da dose efetiva devida à inalação de 222Rn

Para avaliar os efeitos biológicos causados por radiações ionizantes é necessário

estimar a dose de radiação recebida, chamada de dose efetiva de radiação.

Para a determinação da dose efetiva é necessário saber sobre os mecanismos de

incorporação do radionuclídeo, seu metabolismo e seus compostos no corpo humano.

A estimativa dessa dose de radiação é baseada no homem-referência, cujas

características fisiológicas e anatômicas foram definidas pela Comissão Internacional de

Proteção Radiológica (ICRP-23, 1975).

A incorporação de radionuclídeos pode ocorrer por inalação, ingestão ou por

meio de absorção pela pele ilesa ou ferida. O termo “intake” é utilizado para descrever a

quantidade de radionuclídeos que foram incorporados por meio de inalação ou ingestão

(ICRP-10, 1968).

No caso de um radionuclídeo gasoso como o radônio, a inalação é a principal

via de incorporação. Os compostos radioativos sólidos inalados na forma de aerossóis

podem seguir uma série de caminhos dentro do organismo dependendo das suas

propriedades físico-químicas. Uma parte do que é inalado é depositada no trato respiratório

e daí transportada para outros órgãos e tecidos e o restante é exalado (ICRP-66, 1994).

A dose de radiação recebida pelo tecido do trato respiratório devido à inalação

do radônio e de seus produtos de decaimento não pode ser diretamente medida. Sua

determinação deve ser feita por meio de modelos dosimétricos que avaliem a quantidade

de material inalado e a deposição, retenção e eliminação deste material do trato

respiratório.

A dose efetiva causada pela exposição ao radônio e seus produtos de

decaimento foi calculada por meio da equação 4 (Papachristodoulou et al., 2004, Aytekin

Page 38: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

30

et al., 2006):

E C F t d uRn= × × × × (4)

onde:

E = dose efetiva devida à inalação do radônio na caverna (mSv/a);

CRn = concentração média de radônio no ar (Bq/m3);

F = fator de equilíbrio entre o radônio e seus produtos de decaimento;

t = tempo gasto anualmente dentro da caverna pelo guia (h/a);

d = fator de conversão de dose (= 1,4 mSv/mJ.h.m-3) (ICRP-65, 1993);

u = fator de conversão de unidade (= 5,6 x 10-6 mJ.m-3/Bq.m-3) (ICRP-65, 1993).

Das grandezas, unidades e fatores de conversão empregados para estimativa de

dose, um fator particularmente importante é o equilíbrio radioativo entre o radônio e seus

descendentes. O fator de equilíbrio é expresso como a razão entre a energia total de

partículas alfa que uma mistura de radônio e seus descendentes emitirá e a energia total

emitida pela mesma concentração de gás radônio em perfeito equilíbrio com seus

descendentes (Safety Reports Series 33, 2003).

Estudos detalhados do equilíbrio entre concentrações de 222Rn e seus

descendentes em cavernas indicam que o fator de equilíbrio pode variar de 0,04 a 0,95 com

um valor médio de 0,5, que vem sendo empregado em alguns trabalhos (Pinza-Molina et

al., 1999, Przylibski, 1999, Gilmore et al., 2002, Papachristodoulou, 2004). Solomon e

colaboradores relatam valores de fator de equilíbrio em cavernas da Austrália entre 0,36 e

0,52 com um valor médio de 0,4 (1996). Outro trabalho encontrou valores que variam

entre 0,12 e 0,71 para cavernas da Irlanda (Duffy et al., 1996) e avaliações preliminares

sugerem valores entre 0,17 e 0,4 para minas do sudoeste da Inglaterra (Gilmore et al.,

2001).

Para a estimativa de dose do presente trabalho, o fator de equilíbrio adotado foi

0,5 que já vem sendo utilizado em estimativa de doses em cavernas (Pinza-Molina et al.,

1999, Przylibski, 1999, Gilmore et al., 2002, Papachristodoulou, 2004). Também foi feita

Page 39: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

31

estimativa de dose utilizando valores para fator de equilíbrio 0,7 e 1, para simular uma

situação intermediária e a pior situação possível (atividade de 222Rn igual a atividade dos

filhos), respectivamente.

Também para a estimativa da dose efetiva é necessário saber o tempo gasto

pelos usuários (neste caso guias turísticos ou visitantes). Em muitos trabalhos é adotado

um tempo de exposição anual de 1000 horas para os guias turísticos (Przylibski, 1999,

Papachristodoulou et al., 2004).

A suposição das 1000 horas parte da consideração que os guias trabalhem 8

horas por dia nos fins de semana, portanto 16 horas (sábado e domingo) mais metade de

sexta-feira (4 horas) totalizando 20 horas semanais, uma vez que a maior parte das visitas

ocorre nos fins de semana.

Durante todo o período de estudo, tentou-se fazer um levantamento de

freqüência de trabalho dos guias turísticos cadastrados no PETAR junto à direção do

parque. Por diversas vezes foi feito contato com funcionários e mesmo com o diretor do

parque tentando obter qualquer tipo de registro sobre o número aproximado de horas de

trabalho dos guias; entretanto, apesar da grande receptividade de todos para a realização

deste trabalho, as informações desejadas não estavam registradas. Contudo, conversas

informais com funcionários, guias e artigos em mídia impressa, (Vendrame, 2006)

mostraram ser correta a suposição do trabalho no fim de semana.

Para a determinação do tempo de exposição, partiu-se das informações sobre o

tempo de visita estimado para cada caverna (Secretaria do Meio Ambiente (SMA), 2005,

Vendrame, 2006). Considerando o protocolo de trabalho estabelecido pela Secretaria do

Meio Ambiente do Governo do Estado de São Paulo (SMA, 2005) e informações de

usuários-turistas (Vendrame, 2006), os tempos de visitação estimados para cada uma das

cavernas são os seguintes: Couto: 1h, Água Suja: 2h, Laje Branca: 1h 30min, Alambari de

Baixo: 1h 30min, Morro Preto: 1h, Santana: 2 h.

Supondo que um guia consiga levar os visitantes em todas as cavernas num

único dia, obtemos um total de 9 horas de trabalho diárias, portanto 22,5 horas semanais e,

em 52 semanas, 1170 horas anuais, valor ligeiramente superior às 1000 horas anuais

adotadas em outros estudos (Przylibski, 1999, Papachristodoulou et al., 2004).

Assim, para o cálculo de dose, a suposição do tempo de exposição foi feita

Page 40: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

32

separadamente para cada caverna, considerando as informações de estimativa de tempo

gasto em cada visita. Devido às diferenças nos resultados das concentrações obtidos para

os períodos monitorados, os cálculos levam em consideração tanto a média aritmética das

concentrações como a média geométrica, que é, contudo pouco influenciada por estas

alterações.

Durante as viagens para trocas dos detectores, em conversas com guias, também

foi obtida a informação de que os guias turísticos que são funcionários do parque alternam

sua rotina de trabalho com suas atividades como guias em uma semana e folgas na semana

seguinte. Esta informação nos levou a considerar também um tempo de exposição de 26

semanas anuais de trabalho.

De qualquer forma, no caso das cavernas do PETAR, supor 1000 horas por ano

para cada caverna seria superestimar a dose para os guias, pois, devido às características e

dificuldades das cavernas consideradas nem sempre os guias conseguem percorrer todas as

cavernas monitoradas em apenas um dia, logo o número de horas de trabalho é menor.

Page 41: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

33

5. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

5.1. Montagem das câmaras de difusão KFK

A câmara de difusão utilizada neste trabalho foi desenvolvida no Centro de

Pesquisas Nucleares de Karlsruhe, Alemanha (Urban, 1986), sendo por isto chamada de

câmara do tipo KFK (Kernforschungszentrun Karlsruhe).

O monitor KFK foi desenvolvido inicialmente como um dosímetro individual

para monitoramento ambiental e pessoal, com o objetivo de poder separar e identificar as

diferentes energias α, pois pode ser usado tanto como uma câmara aberta como uma

câmara de difusão para medir apenas o 222Rn (Urban, 1986).

Os primeiros testes com estes monitores foram realizados em residências e

minas, onde os dosímetros eram posicionados nos capacete dos mineiros (Urban, 1986).

Com dimensões pequenas, medindo 4 cm de diâmetro e 2 cm de altura, o

monitor consiste em uma cúpula semi-esférica e tampa com abertura e anel (suporte) para

prender o detector plástico (Figuras 5.1, 5.2, 5.3 e 5.4).

Para a medida do radônio é feito o uso de uma membrana (fibra de vidro)

permeável ao 222Rn e impermeável aos seus produtos de decaimento e ao 220Rn (Fleischer,

1988).

Page 42: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

34

Figura 5.1 – Monitor KFK aberto e desmontado.

Figura 5.2 – Esquema de montagem do monitor com fibra de vidro e Makrofol E (vista lateral).

Page 43: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

35

Figura 5.3 – Esquema de montagem do monitor com fibra de vidro e Makrofol E (vista de cima).

Figura 5.4 – Monitor KFK montado com fibra de vidro e Makrofol E.

Page 44: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

36

5.2 Colocação dos monitores nas cavernas

Para avaliação da exposição ao 222Rn nas cavernas do PETAR foram montadas

33 câmaras de difusão. Em cada uma das câmaras foi colocado na entrada um filtro de

fibra de vidro, para retenção do 220Rn e filhos do 222Rn, e após, posicionado um detector

plástico (Makrofol E) com área de 1 cm2.

Os detectores foram colocados nas seis cavernas como descrito em 3.2.1, com

onze pontos de monitoramento distribuídos entre os salões mais visitados; em cada ponto

foram posicionados três detectores, para obter um valor médio de concentração.

Os monitores foram pendurados em estalactites no centro dos salões (distantes

do teto) como mostrado na Figura 5.5, ficando expostos por um período mínimo de três

meses, procurando estabelecer uma rotina com trocas sazonais entre as mudanças de

estação (Alberigi et al., 2005). O período de avaliação no PETAR teve início em Outubro

de 2003 e foi finalizado em Novembro de 2005.

Figura 5.5 – Monitor pendurado em estalactite em caverna do PETAR.

Page 45: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

37

5.3 Revelação dos detectores Makrofol E

Os detectores, após expostos, foram trazidos ao IPEN para tratamento químico.

O processo de revelação adotado neste trabalho utiliza a solução alcalina PEW40 (15%

KOH, 40% álcool etílico e 45% de água), em banho-maria a 70°C sob agitação constante,

durante um período de 2 horas (César e Franco, 1986) (Figuras 5.6 e 5.7).

Figura 5.6 – Banho-maria Quimis com temperatura controlada e agitação para revelação.

Figura 5.7 – Revelação de detectores em solução PEW40 no banho-maria Quimis.

Page 46: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

38

5.4 Visualização dos traços em Makrofol E

Terminada a revelação, os detectores, após lavagem, são secos e a contagem

dos traços é feita com auxílio de um microscópio óptico ZEISS modelo Axiolab com

aumento 5x, 10x, 40x e 100x, ligado a uma câmara de vídeo marca JVC TK-600U, e

acoplado a um microcomputador PENTIUM MMX de 32 MB de memória RAM. O

“software” KS100 versão 3.0 da ZEISS (ZEISS, 1997) permite a visualização dos traços

para contagem na tela de um monitor de 17”(Figura 5.8).

Figura 5.8 – Sistema para visualização e contagem dos traços.

5.5 Determinação da eficiência do detector Makrofol E

A eficiência do detector Makrofol E foi determinada usando uma fonte sólida

calibrada de 226Ra que fornece uma atividade de 15,2 kBq.m-3 de radônio, Pylon Modelo

RN-150.

Para o procedimento de calibração, um detector de traços Makrofol E foi

posicionado no interior de uma célula de Lucas adaptada (Figura 5.9) devidamente vedada

e acoplada a câmara de calibração, como mostrado na Figura 5.10. O funcionamento do

sistema está esquematizado na Figura 5.11. Dentro desta célula é feito vácuo e, em

seguida, o gás radônio é emanado para o interior da célula. Após a emanação, a célula

Page 47: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

39

permanece fechada por um período de tempo suficiente (três a quatro dias) para que o

radônio decaia para os filhos. Após a exposição, a célula é aberta, o detector recebe o

tratamento químico descrito em 5.3 para ampliação dos traços e é realizada a contagem de

traços. Para a determinação da eficiência do detector, foram expostos cinco detectores.

Figura 5.9 – Célula de Lucas adaptada para calibração de detectores de traços.

Figura 5.10 – Fonte Pylon RN-150 e célula de Lucas adaptada acoplada ao sistema.

Page 48: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

40

Figura 5.11 – Diagrama de funcionamento da Fonte Pylon RN-150 com sistema de calibração

(Pylon, 1992).

Page 49: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

41

6 RESULTADOS

6.1 Retenção de radônio no filtro de fibra de vidro

O cálculo da retenção de 219Rn, 220Rn e 222Rn para um filtro de fibra de vidro foi

feito por meio da equação 1, resultando em 99,9% de retenção para o 219Rn, 99,2% para 220Rn e apenas 2% de retenção para o 222Rn, o que permite a utilização deste tipo de

membrana para as medidas desejadas, uma vez que a literatura sugere que um critério

adequado para a discriminação dos isótopos é o uso de uma membrana que permita difusão

maior que 90% do radônio, enquanto que para o torônio seria uma difusão menor que 1%

(Ward et al., 1977, Ramachandran et al., 1987).

6.2 Fator de leitura de traços

Cinco detectores idênticos aos usados em campo foram expostos durante três

dias a uma concentração conhecida de 222Rn, utilizando-se a câmara de calibração Pylon

Model RN-150, com uma fonte sólida de 226Ra que produz concentrações de 222Rn de 15,2

kBq⋅m-3 (Pylon, 1992).

Após a exposição, os detectores foram processados segundo os procedimentos

descritos no item 5.3.

Para cada detector foi determinado um “fator de leitura de traços”, FT, usando o

procedimento descrito em 4.5. A partir destes resultados, foi determinado um valor médio

do “fator de leitura de traços” e seu respectivo desvio padrão, igual a 91,6 ± 6,7.

A Tabela 2 apresenta o resultado obtido do teste da metodologia adotada (item

4.5) para a determinação do fator de leitura de traços FT. O desvio normalizado foi

calculado segundo metodologia adotada pelo Programa Nacional de Intercomparação de

Resultados de Análise, coordenado pelo Instituto de Radioproteção e Dosimetria do Rio de

Janeiro (PNI–IRD, 2004), comparando o valor médio das quatro irradiações com o valor

da fonte calibrada, considerado como verdadeiro. Nesta avaliação, a técnica utilizada

Page 50: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

42

mostra um bom desempenho analítico para valores experimentais com um desvio

normalizado “D” menor que 2, em módulo. Quanto mais próximo de zero, melhor o

desempenho.

O valor obtido de – 0,7, confirma que a metodologia proposta para determinar a

densidade de traços em detectores sólidos de traços nucleares expostos a altas

concentrações de radônio a partir da determinação prévia de um fator de leitura de traços

FT e posterior leitura de três faixas centrais de cada detector é valida e pode ser utilizada

como um método relativamente simples e rápido.

Tabela 2 – Avaliação da concentração calculada de 222Rn em detectores sólidos de traços nucleares em relação à concentração de 222Rn da fonte calibrada de 226Ra.

Concentração calculada de 222Rn (kBq.m-3)

Concentração de 222Rn da

fonte calibrada de 226Ra

(kBq.m-3)

Desvio normalizado D

D =−( , , ),

14 9 15 20 7

3

14,9 ± 2,6 15,2 ± 0,7 – 0,7

6.3 Eficiência do detector

Detectores idênticos aos usados em campo foram expostos à fonte sólida

calibrada de 226Ra RN-150 da Pylon Eletronics Inc. (Pylon, 1992), que opera com uma

bomba de vácuo e fornece concentrações conhecidas de 222Rn de 15,2 kBq.m-3.

Foram realizadas cinco determinações do fator de conversão de densidades de

traços para concentração de radônio no ar. Os resultados obtidos para o valor médio e

incerteza associada foram 0,029 ± 0,007 traços.cm-2/Bq.m-3.dias. Este valor está dentro da

faixa de resultados de 0,019 a 0,035 traços.cm-2/Bq.m-3.dias, obtidos na literatura (Sima,

1995, Mayya et al., 1998, Amgarou et al., 2001, Campos et al., 2002, Eappen e Mayya,

2004). Este resultado foi utilizado na determinação das concentrações de radônio dentro

das galerias e cavernas do PETAR.

Como o dispositivo de irradiação (Fig. 5.9) apresenta uma geometria diferente

da situação real de avaliação da concentração de radônio no ar das cavernas, foram

realizadas também irradiações simulando a geometria de campo. Os resultados obtidos

Page 51: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

43

confirmaram o valor de 0,029 ± 0,007 traços.cm-2/Bq.m-3.dias para o fator de conversão de

densidades de traços para concentração de radônio no ar.

6.4 Concentração de 222Rn no ar

A Tabela 3 apresenta os resultados de concentrações de radônio e as incertezas

associadas obtidas para o período de estudo. As incertezas foram determinadas por

propagação de erros, considerando as possíveis fontes de erros associados às medidas. Para

a densidade de traços, determinada conforme 4.5, foi considerado o desvio padrão da

leitura das três faixas centrais do detector e o desvio padrão obtido para o fator de leitura

de traços. Para a eficiência K determinada experimentalmente como descrito em 4.6, na

determinação de sua incerteza também foi considerado o erro associado à concentração de

radônio liberada pela fonte calibrada de 226Ra do aparelho Pylon modelo RN-150,

fornecido no certificado do padrão.

Foram estudadas seis cavernas do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira

(PETAR) entre outubro de 2003 e Novembro de 2005. Os monitores foram distribuídos em

11 pontos (com três detectores cada) entre as seis cavernas conforme 3.2.1. A concentração

de 222Rn foi obtida por meio da equação 3. Verificou-se que os resultados obtidos para as

concentrações de 222Rn nas cavernas do PETAR (Tabela 3), embora apresentem em alguns

períodos níveis elevados, estão dentro da faixa de variação dos valores da literatura para

concentração de radônio em estudos realizados em cavernas de diversos países (Tabela 4).

A Figura 6.1 ilustra as variações de radônio em todas as galerias monitoradas

das seis cavernas, mostrando que, embora os valores obtidos sejam elevados, é evidente a

diferença de valores para concentração entre as cavernas. Em todas as galerias monitoradas

fica claro que as concentrações diminuem em períodos frios e aumentem nas estações mais

quentes. Este comportamento foi obtido em outros estudos sobre níveis de radônio em

outras partes do mundo (Pinza-Molina et al., 1999, Przylibski, 1999, Sperrin et al., 2000,

Gilmore et al., 2002, Papachristodoulou et al., 2004,) e alguns pesquisadores atribuem esta

diminuição ao gradiente existente entre a temperatura no interior da caverna e a

temperatura externa (Gilmore et al., 2002). Nos meses de inverno, quando a temperatura

externa freqüentemente toma valores mais baixos do que a temperatura interna da caverna

(em torno de 19°C), a diferença de temperatura entre o ar da caverna (“quente”) e o ar do

ambiente externo (“frio”) faz com que massas de ar quente “mais leve” escoem para fora

da caverna e, conseqüentemente, o radônio também é levado para fora, diminuindo assim

Page 52: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

44

os níveis de radônio no interior das grutas (Przylibski, 1999). No verão não há diminuição,

e, conseqüentemente os níveis de radônio apresentam-se elevados.

Page 53: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

45

Tabela 3 – Concentrações de 222Rn no ar das cavernas do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR) durante período de estudo. Períodos de Monitoramento

Caverna/Núcleo Galerias 13/10/ 03–07/03/04 (Prim/Verão)(c)

07/03–07/07/ 04 (Outono)(d)

07/07–11/10 04 (Inverno)(e)

11/10/04– 3/01/05 (Primavera)(f)

13/01–25/03/ 05 (Verão)(g)

25/03–23/07/05 (Outono)(h)

23/06-14/11/05 (inver/prim)(i)

Concentrações de radônio (Bq/m3)

Alambari de Baixo Ouro Grosso

Alambari de Baixo 516 ± 137 1327 ± 432 970 ± 291 610 ± 179 382 ± 174 342 ± 89

370 ± 96

Água Suja/Santana

Golfinho ----------(a) 1674 ± 433 406 ± 124 1308 ± 346 834 ± 222 595 ± 184

255 ± 79

Couto/Santana

1 ----------(a) 1110 ± 348 611 ± 196 704 ± 254 342± 161 153 ± 44

230 ± 66

Plataforma 512 ± 135 1223 ± 362 363 ± 128 677 ± 190 492 ± 183 354 ± 99

...................(b)

Morro Preto/Santana

Chocolate 1957 ± 508 2177 ± 634 417 ± 111 805 ± 230 1252 ± 339 652 ± 248

441 ± 168 Laje Branca

Santana

Laje Branca 1009 ± 287 2568 ± 688 1015 ± 291 2414 ± 272 3386 ± 884 1325 ± 358

1217 ± 326

Flores 1 2373 ± 609 2359 ± 631 1488 ± 392 2481 ± 640 3160 ± 837 1732 ± 450

2160 ± 552

Flores 2 3972 ± 1088 3452 ± 912 1952 ± 514 2135 ± 549 3583 ± 920 1709 ± 427

1684 ± 429

Torres 4950 ± 1256 4649 ± 1183 1532 ± 396 4158 ± 1169 5065 ± 1266 2754 ± 744

1464 ± 392

Cristo 5811 ± 1453 3435 ± 889 1841 ± 478 4438 ± 1133 5337± 1370 2634 ± 658

1684 ± 429

Santana/Santana

Descanso 6607 ± 1672 6358 ± 1619 1312 ± 381 4080 ± 1050 6107 ± 1547 2706 ± 731

1543 ± 418

(a) – Período não monitorado. (b) – Monitor extraviado. (c) – Primavera (23/Set/03 – 21/Dez/03) Verão (22/Dez/03 – 19/Mar/04). (d) – Outono (20/03/04 – 19/Jun/04). (e) – Inverno (20/Jun/04 – 21/Set/04). (f) – Primavera (22/Set/04 – 21/Dez/04). (g) – Verão (22/Dez/04 – 19/Mar/05). (h) – Outono (20/Mar/05 – 20/Jun/05). (i) – Inverno (21/Jun/05 – 21/Set/05), Primavera (22/Set/05 – 21/Dez/05).(U.S.A. Naval Observatory, 1992).

Page 54: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

46

Tabela 4 – Resultados sobre níveis de 222Rn em cavernas encontradas na literatura.

1 – Detecção ativa. 2 – Detecção ativa e passiva.

Concentração de Radônio (Bq.m-3)

País Tipo de Caverna Mínimo Máximo Média Referência

Cavernas localizadas em MG, MT e BA

- - 473 Gouvea et al., 1996

Brasil Cavernas do PETAR 153 6607 - Este trabalho

Austrália 57 turísticas - 6330 (anual) 500(inverno); 795(primavera) Solomon et al., 1996

Eslovênia Inacessíveis e turísticas - - 2350 – 27000 (verão–inverno) Jovanovic, 19961

Polônia 2 turísticas 100 (inverno) 3600 (verão) - Przylibski, 1999

Venezuela Turismo e exploração 100 80000 - Sajó-Bohus et al., 1997

3 turísticas 32 12552 - Sperrin et al., 2000 Reino Unido

1 turística 27 7800 - Gilmore et al., 2002

Grécia Turística 197 1929 1311(inverno); 925(verão) Papachristodoulou et al.,2004

Cavernas Turísticas - - 300 - 8000 Pinza-Molina et al., 19991 Espanha

Turismo e arqueologia 186 7120 3562 (anual) Lario et al., 20052

Turquia 2 turísticas 20 5883 1919 Aytekin et al., 2006

Page 55: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

47

Figura 6.1 – Concentrações de 222Rn no ar das cavernas monitoradas do PETAR.

222Rn nas cavernas do PETAR

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

Alamba

ri

Couto

Platafo

rma

Choco

late

Laje B

ranca

Flores

1

Flores

2

Torres

Cristo

Descan

so

Cavernas

Bq/

m3

10/03-03/04 Prim/verão

03/04-07/04 Outono

07/04-10/04 Inverno

10/04-01/05 Primavera

01/05-03/05 Verão

03/05-07/05 Outono

07/05-11/05 Inverno/Prim

Page 56: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

48

Contudo, em um país de clima tropical como o Brasil e em particular, na região

estudada, as quatro estações do ano não são bem diferenciadas, não havendo invernos tão

rigorosos como em países de clima temperado. Assim, a inexistência de grandes gradientes de

temperatura, conforme levantamento de temperaturas na região (Tabelas 5 e 6), não é

suficiente para justificar a elevação ou diminuição dos níveis de radônio apenas pelas trocas

de ar interno e externo das cavernas.

Tabela 5 – Medida de Temperatura nas cavernas monitoradas1.

Tabela 6 – Média de Temperaturas na região (INPE, 2005; IAC, 2005).

Período Temperatura (°°°°C)

13/10/03 –07/03/04 20,64

07/03/04-07/07/04 19,56

07/07/04-11/10/04 17,71

11/10/04-13/01/05 21,15

13/01/05-25/03/05 22,27

25/03/05-23/07/05 18,83

23/06/05-14/11/05 17,76

1 Medida de temperatura realizada com termômetro de mercúrio durante as coletas.

Medidas de Temperatura nas cavernas do PETAR Data da Medida 10/2003 07/2004 10/2004 01/2005 03/2005 07/2005 11/2005

Caverna Galerias T(°°°°C) T(°°°°C) T(°°°°C) T(°°°°C) T(°°°°C) T(°°°°C) T(°°°°C) Alambari Alambari - 19 17,5 20 20,5 18,5 19 Água Suja Golfinho - 19 - 18,8 19 16,5 18

Couto 1 - 19 18 19,8 19,5 16 18 Morro Preto Plataforma 18,5 19 19 19 19 19 19

Chocolate 18,5 19 19 19 20,5 19 19 Laje Branca Laje Branca - 19 18 17 17,5 16,5 -

Cristo 19 19 17 19 19 19 19 Flores 1 19 19 17 21 19 19,5 19 Flores 2 19 19 17 19,5 20 19,5 19 Torres 19 19 17 19 19 19 19

Santana

Descanso 19 19 17 19 19,5 19,5 19

Page 57: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

49

A análise dos resultados será feita por associação entre os valores e as

características comuns entre as cavernas estudadas.

Cavernas Alambari de Baixo, Água Suja e Couto

Os menores níveis de concentrações de radônio foram obtidos para as cavernas

Alambari de Baixo, Água Suja e Couto, resultado que pode estar associado as semelhanças

nas configurações das mesmas (Figs. 3.4, 3.5 e 3.6). Todas elas são bem ventiladas, se

comparadas com as demais cavernas monitoradas. A caverna Alambari de Baixo apresenta

entrada e saída, assim como a caverna Couto; parte do percurso turístico é realizado dentro

d’água, o mesmo ocorre na caverna Água Suja. As cavernas Couto e Água Suja estão ligadas

a outras cavernas, fato que pode facilitar o escape do gás. A Figura 6.2 ilustra a semelhanças

de comportamento das três cavernas.

Figura 6.2 – Concentrações de 222Rn nas cavernas Alambari de Baixo, Água Suja e Couto (as barras de erros representam as incertezas dos resultados).

222Rn nas cavernas Alambari de Baixo, Água Suja e Couto

0

500

1000

1500

2000

2500

Alambari

Água S

ujaCou

to Cavernas

Bq/m3

10/03-03/04 Primavera /verão03/04-07/04 Outono07/04-10/04 Inverno10/04-01/05 Primavera01/05-03/05 Verão03/05-07/05 Outono07/05-11/05 Inverno /Primavera

Page 58: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

50

Caverna Morro Preto

Para o salão Plataforma, as concentrações de radônio variam entre 360 Bq.m-3 e

1200 Bq.m-3 e para o salão Chocolate, mais interno, apresentam-se entre 400 Bq.m-3 e 2100

Bq.m-3, com os menores valores com ocorrência em período de frio e os valores mais

elevados para períodos mais quentes, respectivamente. Os resultados sugerem que os níveis

de radônio aumentam com o aumento da distância entre a entrada e os pontos de

monitoramento (Figura 3.7). A Figura 6.3 apresenta o gráfico com a variação das

concentrações durante os períodos de estudo.

Figura 6.3 – Concentrações de radônio na caverna Morro Preto (as barras de erros representam as

incertezas dos resultados).

Caverna Laje Branca

Assim como a caverna Santana, a caverna Laje Branca apresentou níveis maiores de radônio,

provavelmente por não apresentar ventilação, pois tem um único acesso (Fig. 3.8). As

concentrações variam entre 1000 Bq.m-3 e 3400 Bq.m-3, como mostrado na figura 6.4.

222Rn na caverna Morro Preto

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

Plataforma ChocolateGalerias

Bq/m3

10/03-03/04 Primavera /verão03/04-07/04 Outono07/04-10/04 Inverno10/04-01/05 Primavera01/05-03/05 Verão03/05-07/05 Outono07/05-11/05 Inverno /Primavera

Page 59: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

51

Figura 6.4 – Concentrações de radônio na caverna Laje Branca (as barras de erros representam as

incertezas dos resultados).

Caverna Santana

Os níveis de radônio na caverna Santana (Fig. 3.9) variam entre 1312 Bq.m-3 e

6607 Bq.m-3 para períodos de inverno e verão, respectivamente, e os níveis de radônio para

esta caverna foram os mais elevados. É a caverna do parque com maior extensão (5 km) e a

mais visitada, apesar de ter restrições quanto aos locais de visitação.

Foram distribuídos três conjuntos com três monitores de radônio em três galerias,

que são conhecidas como salão do Cristo, salão das Torres e salão do Descanso. Também

foram colocados dois monitores em dois pontos do salão das Flores que tem seu acesso

restrito à visitação, permitida apenas com autorização especial para pesquisadores, sendo

proibido para visitação turística.

Cada galeria foi considerada separadamente. Assim, para cada galeria foram feitos

gráficos com os resultados de concentração obtidos na Tabela 3, que mostram como se

distribuem os níveis de radônio nos períodos de estudo considerados. A Figura 6.5 apresenta o

gráfico das variações. As concentrações aumentam à medida que os salões se distanciam da

entrada da caverna, Torre, Cristo e Descanso, nesta ordem, respectivamente.

222Rn na caverna Laje Branca

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

Laje Branca

Bq/m3

10/03-03/04 Primavera /verão

03/04-07/04 Outono

07/04-10/04 Inverno

10/04-01/05 Primavera

01/05-03/05 Verão

03/05-07/05 Outono

07/05-11/05 Inverno /Primavera

Page 60: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

52

Figura 6.5 – Concentrações de radônio na caverna Santana (as barras de erros representam as

incertezas dos resultados).

6.5 Dose efetiva devida à inalação de 222Rn

A dose efetiva devido à exposição ao 222Rn e seus produtos de decaimento foi

calculada por meio da equação 4. Conforme exposto em 4.8, foram adotados alguns critérios

para estimar a dose efetiva, a fim de verificar quais seriam os riscos para as situações

simuladas. Para os cálculos foram empregados três diferentes fatores de equilíbrio, F = 0,5,

0,7 e 1, representando cenário mais próximo do real, intermediário e a pior situação possível,

respectivamente. Os cálculos foram realizados com os tempos de exposição resumidos na

Tabela 7. Para a avaliação foi considerada a pior situação possível: um único guia percorre

todas as cavernas, tanto no sábado como no domingo e ainda, na sexta-feira trabalhando

somente por meio período, o mesmo guia percorre as cavernas com as concentrações mais

altas. Os resultados são apresentados nas Tabelas 8 e 9, considerando as 26 semanas anuais de

trabalho e 52 semanas anuais de trabalho, respectivamente.

222Rn na caverna Santana

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

Flores 1 Flores 2 Torres Cristo Descanso Galerias

Bq/m3

10/03-03/04 Primavera /verão03/04-07/04 Outono07/04-10/04 Inverno10/04-01/05 Primavera01/05-03/05 Verão03/05-07/05 Outono07/05-11/05 Inverno /Primavera

Page 61: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

53

Tabela 7 – Estimativa do tempo anual de trabalho dos guias das cavernas do PETAR.

Tempo de trabalho (h) Tempo de trabalho anual por caverna (h) Caverna / Núcleo Concentração

(Bq/m3)

média aritmética / média geométrica

Tempo de visitação

(h) 6ª feira Sábado Domingo

Tempo de trabalho

semanal por caverna (h) 52 semanas 26 semanas

Alambari de Baixo / Ouro Grosso

645 / 570 1,5 1,5 1,5 3

156 78

Água Suja / Santana 845 / 695 2 2 2 4 208 104

Couto / Santana 525 / 423 1 1 1 2 104 52

Morro Preto / Santana 852 / 815 1 1 1 1 3 156 78

Laje Branca / Santana 1848 / 1660 1,5 1,5 1,5 1,5 4,5 234 117

Santana/Santana 3736 / 3276 2 2 2 2 6 312 156

Page 62: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

54

Tabela 8 – Estimativa de dose efetiva anual (E) para 26 semanas de trabalho e diferentes fatores de equilíbrio. Caverna / Núcleo Concentração Tempo Dose efetiva anual

(Bq/m3) de exposição anual E (mSv.a-1) E (mSv.a-1) E (mSv.a-1)

Média aritmética (h) F=0,5 F=0,7 F=1,0 Alambari de Baixo / Ouro Grosso 645 78 0,2 0,3 0,4

Água Suja / Santana 845 104 0,3 0,5 0,7 Couto / Santana 525 52 0,1 0,2 0,2

Morro Preto / Santana 852 78 0,3 0,4 0,5 Laje Branca / Santana 1848 117 0,8 1,2 1,7

Santana/Santana 3736 156 2,3 3,2 4,6

Dose efetiva anual total 4,0 5,8 8,1

Caverna / Núcleo Concentração Tempo Dose efetiva anual (Bq/m3) de exposição anual E (mSv.a-1) E (mSv.a-1) E (mSv.a-1)

Média geométrica (h) F=0,5 F=0,7 F=1,0 Alambari de Baixo / Ouro Grosso 570 78 0,2 0,2 0,4

Água Suja / Santana 695 104 0,3 0,4 0,6 Couto / Santana 423 52 0,1 0,1 0,2

Morro Preto / Santana 815 78 0,2 0,4 0,5 Laje Branca / Santana 1660 117 0,8 1,1 1,5

Santana/Santana 3276 156 2,0 2,8 4,0

Dose efetiva anual total 3,6 5,0 7,2

Page 63: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

55

Tabela 9 – Estimativa de dose efetiva anual (E) para 52 semanas de trabalho e diferentes fatores de equilíbrio.

Caverna / Núcleo Concentração Tempo Dose efetiva anual (Bq/m3) de exposição anual E (mSv.a-1) E (mSv.a-1) E (mSv.a-1) Média aritmética (h) F=0,5 F=0,7 F=1,0

Alambari de Baixo / Ouro Grosso 645 156 0,4 0,6 0,8 Água Suja / Santana 845 208 0,7 1,0 1,4

Couto / Santana 525 104 0,2 0,3 0,4 Morro Preto / Santana 852 156 0,5 0,7 1,0 Laje Branca / Santana 1848 234 1,7 2,4 3,4

Santana/Santana 3736 312 4,6 6,4 9,1

Dose efetiva anual total 8,1 11,4 16,1

Caverna / Núcleo Concentração Tempo Dose efetiva anual (Bq/m3) de exposição anual E (mSv.a-1) E (mSv.a-1) E (mSv.a-1) Média geométrica (h) F=0,5 F=0,7 F=1,0

Alambari de Baixo / Ouro Grosso 570 156 0,4 0,5 0,7 Água Suja / Santana 695 208 0,6 0,8 1,1

Couto / Santana 423 104 0,2 0,2 0,3 Morro Preto / Santana 815 156 0,5 0,7 1,0 Laje Branca / Santana 1660 234 1,5 2,1 3,1

Santana/Santana 3276 312 4,0 5,6 8,0

Dose efetiva anual total 7,2 9,9 14,2

Page 64: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

56

7. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES

Embora os resultados para concentração de radônio tenham apresentado valores

elevados, e em ao menos um período, para todas as cavernas foi obtida concentração que

ultrapassa o limite proposto para nível de intervenção de 1000 Bq/m3, (ICRP 65, 1993), não

há como relacionar os valores de concentrações diretamente entre as cavernas, e fazer uma

única afirmação sobre as causas dos elevados índices de concentrações. Observando os

gráficos para cada uma das cavernas verifica-se que cada uma delas apresenta resultados

particulares, resultantes de características peculiares de cada caverna.

Observa-se para a caverna Couto, que, mesmo com um valor máximo de

concentração de radônio obtido no outono, nos demais períodos houve um decréscimo

apresentando pouca variação, que pode também estar associado à taxa de ventilação que nesta

caverna é a maior devido à pequena extensão e também às duas entradas existentes. Também

é necessário relatar que a caverna Couto está ligada internamente à caverna Morro Preto, fato

que pode facilitar o escape do gás radônio.

No caso da caverna Água Suja, que possui um rio que atravessa a caverna em

quase todo o percurso turístico e apresenta ligação com a gruta Vargem Grande e da caverna

Alambari de Baixo, que também possui um rio em parte do percurso turístico e apresenta

entrada e saída distintas, os níveis de radônio são inferiores se comparados com os outros

resultados obtidos neste estudo. A caverna Alambari de Baixo que também apresentou valores

mínimo e máximo para concentração nos mesmos períodos obtidos na caverna Couto,

apresentou ainda resultados que se mantiveram praticamente constantes nos últimos três

períodos de medida.

Observa-se que os resultados obtidos para as três cavernas (Couto, Água Suja e

Alambari de Baixo) se assemelham muito e apresentam os menores níveis de radônio se

comparados com as outras cavernas, fato que pode estar associada à semelhança de

configuração entre as três ao menos em algum aspecto, Couto assemelha-se a caverna Água

Suja, pois ambas estão ligadas a outras cavernas, Couto assemelha-se a caverna Alambari de

Baixo, pois ambas possuem entrada e saída, Água Suja assemelha-se a caverna Alambari, pois

ambas têm rio em parte do percurso turístico. Também se pode

Page 65: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

57

associar os resultados de menores níveis de radônio obtidos a alguma fuga do gás, à maior

taxa de ventilação existente nestas cavernas e conseqüentemente maior troca de ar interno

com o ambiente externo.

A caverna Morro Preto, que teve dois pontos de monitoramento distribuídos no

salão Plataforma (próximo à entrada da caverna) e no salão Chocolate (localizado no final da

caverna) apresentou em todos os períodos os maiores valores de concentração de radônio para

o salão Chocolate e os menores valores obtidos para o salão Plataforma (Figura 6.3). Este

resultado está relacionado ao fato de que, com o aumento da distância entre a entrada e o

ponto de monitoramento, a ventilação é reduzida, aumentando assim os níveis do gás radônio.

Também em ambos os salões houve diminuição de concentração nos períodos de inverno.

A caverna Laje Branca apresentou, tal como a caverna Santana, os maiores níveis

de concentração. Observa-se pouca variação entre os períodos, apresentando um valor

máximo para o período de verão.

Os maiores resultados de concentração de radônio foram obtidos na caverna

Santana, a maior do núcleo, e que merece atenção maior por receber o maior número de

turistas. No primeiro e segundo períodos de medida observam-se níveis altíssimos e pouca

diminuição entre os mesmos, mantendo-se praticamente constantes. Já para o terceiro período

(inverno) ocorre uma acentuada queda destas concentrações. Para os quatro períodos

seguintes o comportamento assemelha-se com os resultados obtidos em outros estudos

(Przylibski, 2002), aumento em períodos mais quentes com poucas variações entre si e

novamente diminuição em períodos mais frios.

Analisando a Figura 6.5, verifica-se que a concentração aumenta à medida que

aumenta a distância entre o ponto de monitoração e a entrada da caverna, resultado análogo ao

que foi obtido para a caverna Morro Preto, e que confirma que o aumento da concentração de

radônio está diretamente relacionado com a diminuição da ventilação.

Os altos níveis de radônio em cavernas estão associados a uma complexa inter-

relação de diferentes fatores, ambos externos e internos: diferenças entre temperatura do

ambiente interior e exterior, velocidade dos ventos, variações da pressão atmosférica,

umidade, geomorfologia cárstica, porosidade nas rochas, quantidade de rádio presente nos

sedimentos e rochas e microclima nas cavernas são alguns dos fatores que podem contribuir

para elevação das concentrações de radônio.

Page 66: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

58

Durante todo o período de estudo houve medição de temperatura e umidade

relativa do ar no ambiente das cavernas; buscou-se também o levantamento de dados sobre as

condições climáticas da região no período de interesse, que conduzem a formulação de

hipótese que relaciona as variações nas concentrações à variação na temperatura externa.

Contudo, a complexa dinâmica do radônio em ambientes naturalmente subterrâneos sugere

que seria útil e necessária a implementação de um monitoramento contínuo para medidas de

radioproteção em cavernas turísticas.

Quanto aos resultados obtidos para estimativa de dose efetiva anual observa-se

que, para os cenários que mais se aproximam da realidade, que considera fator de equilíbrio

0,5 e tempo de exposição anual de 26 semanas supondo o tempo de visitação para cada

caverna, a maior dose foi de 2,3 mSv.a-1 para média aritmética e 2,0 mSv.a-1 para média

geométrica das concentrações de radônio na caverna Santana.

Considerando a hipótese do trabalho de 22,5 horas semanais (visitas em todas as

cavernas, na sexta, sábado e domingo), a dose efetiva anual total para 26 semanas foi de 4,0

mSv.a-1 para o fator de equilíbrio 0,5, 5,8 mSv.a-1 para fator 0,7 e 8,1 mSv.a-1 para fator de

equilíbrio 1 para a média aritmética e ligeiramente menor para a média geométrica.

Considerando trabalho de fim de semana sem folgas para os guias, totalizando 52

semanas, a dose efetiva anual total foi 8,1 mSv.a-1 para fator de equilíbrio 0,5, 11,4 mSv.a-1

para fator de equilíbrio 0,7 e 16,1 mSv.a-1 para fator de equilíbrio 1 para a média aritmética e

ligeiramente menor para a média geométrica.

Todos os valores encontrados estão abaixo do limite anual de dose para o

trabalhador igual a 20 mSv.a-1 (ICRP 60, 1990).

Page 67: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

59

SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

- Levantamento e investigação detalhada do conjunto de fatores que podem estar relacionados

às variações dos níveis de radônio no interior de cavernas, e tentativa de obter maior riqueza

de informações sobre as condições climáticas do ambiente em estudo bem como da região

estudada.

- Realizar monitoramento aplicando ao menos mais de uma técnica de medida, com técnicas

de detecção passiva associada a algum tipo de monitoração ativa.

- Avaliar o radônio nos rios que passam dentro das cavernas para estudar eventuais

transferências para o ambiente, caso haja aumento ou decréscimo.

- Estender esta avaliação para outros sítios espeleológicos, uma vez que o potencial de

cavernas no Brasil é vasto e há poucos trabalhos sobre o assunto.

- Avaliar os riscos para o indivíduo do público, avaliar os níveis de radônio para cavernas de

difícil acesso, avaliar os riscos para pesquisadores que freqüentam o Salão das Flores.

- Determinar o fator de equilíbrio entre radônio e seus descendentes para as cavernas do

PETAR, uma vez que existem tantas diferenças entre as mesmas, e estender este estudo para

outras cavernas brasileiras.

- Avaliar as doses para os guias considerando taxa de respiração para trabalhos forçados.

Page 68: AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO Rn NAS CAVERNAS DO PARQUE

60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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