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Connie Mason
Sabor do Pecado 03
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 1
Connie Mason O Sabor do Desejo
Série O Sabor do Pecado 03
Disp em Esp: MR Envio do arquivo e Formatação: Δίκη
Revisão Inicial: Aline Revisão Final: Matias, O Marujo
Imagem: Elica Talionis
Um toque tão perverso SUA PRISIONEIRA, SEU DESEJO...
Damian Stratton, atraente cavalheiro inglês sem terras, chega às Highlands escocesas para evitar um matrimônio que uniria a dois poderosos clãs contra a Coroa Inglesa. Mas não poderá dissuadir à noiva, a selvagem e teimosa Elissa, Donzela de Misterly. Embora seja prisioneira de Damian, a
tentadora, orgulhosa e desafiante dama nunca deixará que a confinem em um convento, e tampouco abandonará a sua família nem sua determinação de se casar com o laird Gordon...
deixando à Damian apenas um caminho a escolher: se casar ele mesmo com Elissa. SUA NOIVA
Esse bastardo atrevido logo descobrirá que encontrou a uma igual! Entretanto, Elissa não pode evitar se sentir comovida pela ternura e a nobreza de Damian... e por um perigoso desejo ao qual
não quer dar espaço em seu coração. Nada bom pode resultar de sua união com este cavalheiro que primeiro roubou sua liberdade e agora rouba seu fôlego. E embora fosse ela quem pôs ao notório guerreiro inimigo de joelhos,
agora é Elissa quem deve render‐se... à paixão e o amor.
Connie Mason
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Comentário da Revisora Aline: A mocinha é bem determinada e não se amedronta na frente do mocinho.. a única coisa que importa pra ela é a segurança de sua mãe e irmã. Damian é tão mandão que algumas vezes tive vontade de poder dar umas palmadas nele só pra ele aprender que não se pode ter tudo que quer..rs.
Mas enfim.. O livro tem algumas cenas sensuais sem ser hot e também mostra a alguns casais se formando. Vale a pena ler..recomendo.
Comentário do Matias Jr.:‐ Uma história das terras altas com os mocinhos grandalhões que
tanto agrada... Uma mocinha cabeça dura e exageradamente descrente, apesar dos inúmeros exemplos... E
um coração amolecido de um guerreiro cansado e apesar do terrível passado, irá brindar‐lhes com uma história de devoção e esperança.
Boa leitura. SOBRE A AUTORA: A escritora norte‐americana Connie Mason, começou a escrever faz mais de vinte anos.
Conta em seu acervo com mais de cinquenta novelas românticas situadas em um contexto histórico.
Seu trabalho foi reconhecido em múltiplas ocasiões no Romantic Time, que outorgou vários prêmios, e fala sobre ela:
"Connie Mason é uma das escritoras com mais êxito dentro do gênero romântico. Sabe chegar ao leitor como ninguém, com suas cenas cheias de sensualidade e paixão".
É a autora de mais de cinquenta novelas e histórias curtas que ocuparam os postos mais altos das esferas de vendas. Foi escolhida Autora do Ano pela associação Romantic Time em 1990 além de obter o prêmio a melhor autora de novelas ambientadas no Oeste em 1994. Atualmente, Connie mora em Tarpon Springs, Florida, com seu marido Jerry. Antes de publicar seu primeiro livro em 1984, Connie era dona‐de‐casa a tempo integral. Como leitora ávida deste tipo de novela, escrever uma sempre foi o sonho de Connie.
Em 1995, a autora apareceu em um programa da CBS dedicado à indústria da novela romântica além de ser mencionada em um artigo desta temática publicado pelo jornal National Inquirer.
Além de escrever e viajar, Connie desfruta contando a quem quer escutá‐la, histórias de seus três filhos e nove netos, e compartilhando suas lembranças de quando viveu na Europa e Ásia.
Em seu tempo livre desfruta lendo, dançando, jogando bridge1 e pescando com seu marido.
1 É um tipo de jogo de cartas.
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Prólogo
Londres, 1746.
Damian Stratton se ajoelhou ante seu monarca com a escura cabeça inclinada e os largos
ombros rígidos. Embora ainda fosse um homem jovem, lutou com bravura por sua honra.
Damian estava orgulhoso do modo em que salvou a vida de seu pai adotivo na batalha de
Culloden quando um selvagem escocês apontou com sua grande espada para as costas
desprotegida de lorde Farnsworth.
Agora estava sendo nomeado cavalheiro graças a sua valente ação.
Damian sentiu o peso de uma espada no ombro e se concentrou nas palavras do rei Jorge. O
forte acento do monarca ao falar em inglês fazia que fosse extremamente difícil entendê‐lo, mas
isso para Damian não importava. Ganhou por fim o título de cavalheiro, e não podia estar mais
satisfeito. Damian foi adotado por lorde Farnsworth quando estava com sete anos, e considerava a
aquele homem seu segundo pai.
— Te levante, sir Damian Stratton — disse o rei com um inglês pesado e gutural. — Nosso
país necessita de sua espada e de sua coragem. Adiante, e se destaque pela honra e a glória da
Inglaterra. Sirva‐me bem e algum dia será recompensado.
Damian se ergueu, inclinando‐se profundamente, e saiu da Câmara Real.
— Sir Damian, posso falar um momento contigo? Damian dirigiu um sorriso encantado a
lorde Farnsworth.
— Meu senhor, estou a seu serviço.
— O que te pareceria, sir Damian, avançar para uma glória maior como capitão do exército
do rei?
Apesar de sua juventude, Damian sabia onde estava seu destino e não vacilou na hora de
aceitar sua missão.
— Sim, meu senhor. Sou um cavalheiro sem terra, sem família e sem direção. Estou disposto
e desejoso de servir a meu país enquanto necessite de meus serviços.
— O rei Jorge não é um monarca ingrato, nem se esquece facilmente daqueles cujos serviços
são vitais para nossa pátria. Algum dia receberá o reconhecimento, a honra e as recompensas que
tanto merece.
Ainda é jovem. Em questão de poucos anos será um soldado treinado e estará preparado
para aceitar desafios maiores.
À idade de vinte e dois anos, Damian já conseguira sobreviver à sangrenta batalha de
Culloden. Era forte e disciplinado e estava preparado para viver mais formidáveis aventuras.
Lutaria pelo rei e por seu país de boa vontade e com alegria, e talvez algum dia, em um
futuro não muito longínquo, receberia a recompensa que prometeram.
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Capítulo 01
Escócia, 1751.
O guerreiro, esgotado pela batalha, permanecia de pé sobre um penhasco com os ombros
fortemente musculosos apontando contra o vento e as longas pernas firmemente cravadas na
terra coberta de vermelho que estava sob os pés. Afastou o escuro e grosso cabelo de seu forte e
angular rosto enquanto seu olhar cinza chapeado deslizava com amplitude pelos escarpados, os
vales e as montanhas.
Depois da fatídica batalha de Culloden, sir Damian Stratton serviu no exército do rei Jorge
destacado em Escócia, sufocando as sementes da resistência nas Terras Altas. Os habitantes das
Terras Altas aos que despojaram de suas terras e que deixaram suas casas sem outra coisa que a
roupa que levavam posta, eram quem instigava as revoluções. Aqueles derrotados jacobitas2 ainda
mantinham a esperança de colocar ao jovem príncipe Carlos no trono inglês.
Depois de cinco anos, Damian estava profundamente farto dos obstinados habitantes das
Terras Altas que seguiam urdindo planos e conspirando por uma causa perdida. Em qualquer caso,
Damian fazia o que sua pátria necessitava dele enquanto subia de postos até chegar a capitão.
Saqueou, roubou e matou pela Inglaterra; nunca esqueceu que quem assassinou seu pai foram os
habitantes das Terras Altas.
Ao longo dos anos, Damian perdeu toda esperança de conseguir terra para si, uma pequena
parte da Inglaterra no qual pudesse ter esposa e criar uns filhos. Apesar de ter se distinguido em
muitas ocasiões na defesa da Inglaterra, Damian não recebera ainda maior recompensa que a de
ser um guerreiro sem medo e um campeão do rei.
O Cavalheiro Demônio, que era o nome que Damian ganhou com justiça por sua incansável
coragem na batalha, montou em seu fiel corcel, Cosmo, e retornou às barricadas do quartel militar
do Inverness.
Um jovem soldado se aproximou apressadamente para segurar as rédeas quando Damian
desmontou. A julgar pela inquieta expressão do moço, Damian deu por certo que algo importante
aconteceu durante sua ausência.
— O que ocorre, soldado?
— Um mensageiro do rei o está esperando em seu barracão, capitão — disse Davey com
grande emoção.
Profundamente sumido em seus pensamentos, Damian entrou em sua estreita habitação,
perguntando‐se onde seriam requeridos seus homens e ele naquelas malditas Terras Altas. Estava
cansado de sua missão na Escócia, e desejava que todo o país desaparecesse da face da terra. À
idade de vinte e sete anos, não tinha mais que umas modestas economias, uma reputação
exagerada e uma trilha de mulheres com quem se deitou para as esquecer depois. 2 Membros de uma seita que teve por chefe o bispo de Edessa, Jacob, no séc. VI
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O mensageiro do rei ficou de pé de um salto. — Capitão Stratton?
Damian observou com cautelosa curiosidade o pergaminho enrolado que o mensageiro do
rei sustentava na mão.
— Sim.
— Uma mensagem de Londres, senhor. Tenho ordens de esperar enquanto lê.
— Muito bem — disse Damian com tensão enquanto rompia o selo real e desenrolava o
pergaminho. Onde o iriam enviar agora?
Uma expressão de assombro cruzou as belas feições do Damian enquanto lia rapidamente a
mensagem. — O rei deseja me receber?
— Isso foi o que eu entendi — assegurou o mensageiro.
— Quem é você, senhor?
— O tenente Ralph Thornsdale, do regimento real das Terras Altas.
— Faz alguma ideia do que é isto, tenente?
— Não, capitão, embora me pediram que dissesse que você desse toda a pressa possível em
chegar a Londres.
— É muito tarde — Damian suspirou cansado. — Sairei amanhã com as primeiras luzes da
alvorada.
— Não, senhor, deve partir imediatamente, antes de uma hora. Hão‐me dito que cada
minuto conta.
— Mas os homens que estão sob minhas ordens...
— Serão transferidos a outro mando.
Embora Damian sentisse pouco respeito por aquele rei Hannover que mal sabia falar inglês,
era um obstinado defensor da Inglaterra. Quando o rei e a pátria o chamavam, ele obedecia.
Londres, 1752.
O rei Jorge descansava em uma cadeira em seus aposentos privados, observando com avidez
como seu primeiro‐ministro, lorde Pelham, falava com Damian.
— É o desejo do rei — assegurou lorde Pelham sem mostrar nenhuma emoção, — que sir
Damian Stratton seja recompensado por seu fiel serviço na defesa da Inglaterra.
Damian elevou a escura fronte com gesto zombador.
— Recordou finalmente Sua Majestade a promessa que fez a um jovem cavalheiro?
— Ja, ja, não nos tínhamos esquecido — disse o rei assentindo vigorosamente. — Cumpriste
a promessa que fez quando jovem e te converteste em um homem no qual podemos confiar.
Agora queremos recompensar sua fidelidade.
— Demonstrastes sua coragem e sua lealdade ao longo dos anos — interveio lorde Pelham.
— Inglaterra necessita homens com sua experiência e sua força. Nossos serviços de espionagem
têm descoberto um complô para unificar dois clãs das Terras Altas. Os clãs unidos têm potencial
suficiente para converter‐se em uma força poderosa na Escócia e em uma ameaça para a
Inglaterra.
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Damian escutava com suma atenção.
— Sua Majestade deseja que destroce aos clãs rebeldes?
— Não, é algo mais que isso — disse Pelham movendo a mão com gesto imperioso. — Não
desejamos começar outra guerra. Levando‐se em conta a lonjura destas terras em questão,
prestamo‐lhes pouca atenção no passado.
Mas de repente, a situação tem a capacidade de explodir. Temos descoberto que vai se
celebrar o matrimônio entre o chefe dos Gordon e a donzela de Misterly na fortaleza do Misterly.
Está situada perto do povoado do Torridon, no lago do mesmo nome.
— Até recentemente não tínhamos motivos para suspeitar de que algo estivesse mau. O
falecido senhor de Misterly, o grande Alpin Fraser, e seus herdeiros varões caíram no Culloden, e
como aquela fortaleza situada nos limites de nenhuma parte não nos servia para nada, prestamo‐
lhe pouca atenção. Mas se os Gordon e os Fraser se unem, nossos domínios das Terras Altas
poderiam ver‐se ameaçados. Todos os homens leais aos Fraser e aos Gordon se apressariam a unir
suas forças contra Inglaterra.
— Lorde Pelham — interrompeu‐o Damian, — em que forma me implica isto ?
— Conta, conta — urgiu o rei com brutalidade.
O primeiro‐ministro se inclinou gentilmente ante o rei e continuou. — Servistes lealmente ao
rei e a Inglaterra, capitão. O rei deseja recompensar seu devoto serviço durante estes anos com o
castelo do Misterly e todas as terras que acompanham esses domínios, incluído o povoado de
Torridon e os servos e os homens livres que cultivam a terra.
Damian ficou paralisado e entreabriu seus olhos cinza em gesto de desconfiança. Iam lhe
entregar terras e uma fortaleza situadas nas mais remotas regiões da Escócia?
Ele queria terra, mas acreditou, não, rezou para que fosse em chão inglês. Não gostava da
Escócia nem daqueles selvagens habitantes das Terras Altas. Entretanto, negar‐se a aceitá‐lo seria
tão estúpido como perigoso.
— Além disso — continuou lorde Pelham ao ver que Damian guardava silêncio, — será
recompensado com um título e a pequena fazenda de Clarendon, em Cornwall. Entretanto — o
advertiu o primeiro‐ministro;
— Sua Majestade espera que viva de maneira permanente em Misterly e que mantenha a
ordem naquela remota zona das Terras Altas. O que diz, Damian Stratton, conde de Clarendon,
senhor de Misterly?
Conde! Estavam concedendo um título e umas terras na Inglaterra! O que mais desejou
durante anos era ter um pequeno pedaço de terra ao qual pudesse chamar dele; não esperava
receber um título.
Agora possuía um, grandes terras, um povoado na Escócia e uma fazenda inglesa. Talvez
algum dia, quando se restabelecesse a ordem nas Terras Altas, poderia retirar‐se a sua fazenda
inglesa e deixar que um administrador se ocupasse de seus territórios na Escócia. O certo era que
não queria nada de sua posse escocesa, exceto as rendas e os dízimos que pudesse arrecadar.
Damian prestou ainda mais atenção a lorde Pelham quando o primeiro‐ministro assinalou o
que se esperava dele.
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— Sua Majestade conta com que você, lorde Clarendon, evite que a donzela do Misterly se
case com o chefe das Terras Altas Tavis Gordon. Necessita‐se um homem forte para controlar o clã
dos Gordon, tão bélico.
São rebeldes e proscritos. O rei irá proporcionar temporalmente vinte soldados do
regimento real das Terras Altas para que o acompanhem ao Misterly, mas espera que você
contrate seus próprios mercenários para que protejam de forma permanente seus domínios. Não
esqueça que se se formar uma aliança entre os Gordon e os Fraser, Inglaterra se arrisca a perder
terras valiosas que acreditava ter firmemente sob controle.
— Compreendo‐o — assegurou Damian com gravidade. — Nem os Gordon nem os Fraser
causarão nenhum problema a Inglaterra enquanto eu seja o senhor de Misterly.
— Confiamos em ti, lorde Clarendon — disse o rei Jorge. — O Cavalheiro Demônio ganhou
nosso respeito, como o título e as terras que concedemos.
Damian estava eufórico, embora de certa forma decepcionado por ter que permanecer nas
Terras Altas para poder garantir seu título e suas terras. De repente passou algo por sua cabeça.
— Quais são seus desejos no concernente à donzela do Misterly, senhor? Devo fazer que os
guardas do regimento real a escoltem até Londres?
— Ah, lady Elissa — disse o rei assinalando com um gesto ao primeiro‐ministro. — Conte,
lorde Pelham.
— Nossas fontes nos informaram que lady Elissa vive em Misterly com sua mãe, a viúva do
Alpin Fraser. Seus dois irmãos caíram em Culloden. Sua Majestade decidiu enviar a mãe e filha ao
convento da Santa Maria do Mar, que está há um dia a caminho do Misterly em direção ao norte.
O convento já está a par de sua chegada e cumprirá com os desejos de Sua Majestade.
Não deve permitir sob nenhuma circunstância que lady Elissa e o chefe Gordon se casem ou
tenham sequer nenhum tipo de comunicação.
— Compreendo — assegurou Damian. — A generosidade de Sua Majestade me aflige.
O rei sorriu em gesto de aprovação.
— Uma coisa mais, meu senhor — disse lorde Pelham. — Necessitará herdeiros. O rei tem
intenção de procurar uma prometida adequada para você. Misterly deve ter uma senhora.
— Vão me entregar uma noiva? Uma herdeira? — repetiu Damian. Não estava muito
convencido com a ideia de tomar como esposa a alguém que nunca viu, mas não ia pôr objeções.
Não importava com quem se casasse; todo mundo sabia que os homens tomavam a uma
mulher como esposa para que proporcionasse herdeiros e que procuravam a satisfação sexual em
outro lado.
Damian se inclinou profundamente.
— Estou absolutamente agradecido, Majestade.
— Deve está‐lo — respondeu lorde Pelham. — Não falhe a Inglaterra, lorde Clarendon. Se o
matrimônio entre a dama do Misterly e o chefe dos Gordon aconteça antes que possa evitá‐lo,
tudo estará perdido, incluídos suas terras e seu título.
Damian entendeu perfeitamente, e não estava disposto a perder tudo o que tanto desejou.
Fez uma breve reverencia. — Não falharei, senhor.
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O rei o despediu com um gesto da mão.
— Então parte, meu senhor. Estarei esperando a volta do regimento real das Terras Altas
quando tiver tudo sob controle.
Depois daquela surpreendente reunião, Damian se dirigiu para O Galo e o Touro, o lugar
onde sabia que se reuniam cavalheiros e mercenários sem trabalho. Embora isso esvaziaria a arca
de suas economias, ia necessitar homens leais para ajudar a manter a ordem em Misterly quando
os soldados partissem.
A sala comum estava cheia de fumaça e cheirava a cerveja rançosa e a corpos sujos. Damian
distinguiu a um conhecido sentado em uma mesa e abriu caminho entre a multidão para
aproximar‐se dele.
Sir Richard Fletcher viu Damian e o saudou com a mão. — Damian! Me alegro de voltar a
verte. Veem te sentar comigo. O que te traz por Londres? Quão último soube de ti foi que estava
destinado na Escócia.
Damian saudou o Richard com entusiasmo e se sentou em frente a seu amigo, do outro lado
da mesa. Apareceu uma hospedeira peituda e pediu duas canecas de cerveja. A mulher partiu e
retornou com duas espumosas canecas. Damian lançou uma moeda, deu um tapinha no seu
amplo traseiro e observou o tentador movimento de seus quadris enquanto se afastava.
— Te esqueça da hospedeira, Damian — zombou Richard. — Pode ir mais tarde em busca de
uma prostituta. Parece satisfeito por algo. Me conte suas notícias.
Damian voltou a centrar sua atenção a contra gosto no Richard, que, a julgar pelo modo em
que arrastava as palavras e seu aspecto corado, levava umas quantas canecas a mais.
Damian conheceu ao Fletcher anos atrás e se fizeram amigos. Durante uns quantos anos
perderam o rastro um do outro.
— Está diante do novo conde de Clarendon, também senhor de Misterly — espetou Damian.
— Conde! — repetiu Richard claramente impressionado. — Se alguém o merece, esse é sem
dúvida você. Onde diabos está Misterly?
— Ah, Dickon — disse Damian efusivamente utilizando o apodo do Richard, — trata‐se de
uma grande fortaleza situada no mais profundo das Terras Altas escocesas.
Terei grandes terras de minha propriedade e um povoado cheio de gente para cultivar a
terra e fazer as colheitas.
— Acreditei que odiava aos habitantes das Terras Altas — disse Dickon. — Não mataram eles
a seu pai?
Damian torceu o gesto.
— Sim, Dickon, mas também há em jogo um título e terras na Inglaterra.
— Ah, assim Clarendon é um título inglês.
— Minhas terras estão em Cornwall, mas são insignificantes comparadas com meus
domínios escoceses. E embora me interessam bem pouco os hostis habitantes das Terras Altas,
devo viver em Misterly se quero conservar o título e as terras inglesas.
— Já era hora de que o Cavalheiro Demônio recebesse um reconhecimento por seus
esforços a favor da Inglaterra — elogiou‐o Dickon. — O que exige a Coroa em troca de tão
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generosa recompensa?
Damian deu de ombros.
— Devo evitar que a donzela de Misterly se case com um chefe rebelde das Terras Altas e
manter a ordem.
— Suponho que não pretende aparecer em Misterly sem um exército te cobrindo as costas
— disse Dickon.
— Terei uma força temporária composta por vinte soldados do regimento real das Terras
Altas. Também pretendo contratar mercenários para defender minhas terras e proteger a minha
senhora esposa.
— Sua senhora esposa? — repetiu Dickon. — Quando vais casar te? Isso é novo para mim.
— O rei me prometeu uma herdeira para que se converta na senhora de Misterly.
— Espero que não seja excessivamente corpulenta — disse Dickon com uma gargalhada. —
Brincadeiras aparte, agora mesmo estou desocupado e eu adoraria trabalhar a seu lado.
Talvez encontre uma valorosa moça das Terras Altas que me esquente a cama.
— Não conte com isso. É mais provável que te crave uma adaga no coração — zombou
Damian. — Esqueceste que os habitantes das Terras Altas nos odeiam com toda sua alma?
— Não. Esqueceste você que sou um grande amante? — gabou‐se Dickon.
— Talvez seja um diabo bonito, Dickon, e conte com o favor das damas, mas é necessário
algo mais que palavras bonitas para ganhar o coração de uma moça das Terras Altas.
— Não quero seu coração — protestou Dickon. — Interessa‐me mais o que tem entre as
pernas.
Damian deixou escapar uma gargalhada.
— Ah, Dickon, estou desejando te ter comigo, porque suspeito que vou necessitar de sua
ligeireza de espírito.
— Quando partimos?
— Muito em breve.
— Então será melhor que volte para meu alojamento e prepare minhas coisas.
Quando Dickon partiu, Damian olhou a seu redor em busca de candidatos adequados e
dispostos a ficar a seu serviço. Seu olhar se cruzou com vários soldados curtidos na batalha que
estavam espalhados pela sala.
Duas horas mais tarde, Damian havia contratado a uma vintena de mercenários agradecidos
pela oportunidade de servir ao Cavalheiro Demônio. Gostou imediatamente de sir Brody
Clements, um cavalheiro de cabelo cinza sem terras nem esposa que lutou tantas batalhas como
ele. Quando soube que sir Brody sabia ler e escrever, Damian propôs convertê‐lo no administrador
do Misterly.
Sir Brody agradeceu encantado a concessão daquele posto.
Dois dias mais tarde, Damian se dirigiu para o norte acompanhado de Sir Richard, os homens
que recrutou e vinte soldados. Damian tinha pensamentos sombrios a pesar da honra que foi
concedida.
Converter‐se no senhor de pessoas que o odiava não era a vida que imaginou para si quando
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se atrevia a sonhar em possuir suas próprias terras. Apesar de seus receios, o rosto de
Damian se endureceu com determinação. Misterly pertencia a ele por ordem do rei, e se os
Gordon e os Fraser se rebelassem, ele faria tudo o que fosse necessário para pô‐los em seu lugar.
Não chamavam Damian Stratton o Cavalheiro Demônio por acaso.
Capítulo 02
Lady Elissa Fraser olhou‐se no espelho de corpo inteiro sem realmente ver a sua imagem.
Um punhado de cachos domados de cor cobre permaneceram em forma de coroa em sua cabeça,
os olhos verdes e impressionantes curvas suaves foram apagados pelas previsões sombrias de que
sua velha nana3 estava sussurrando em seu ouvido.
— Não te casará com o chefe dos Gordon, moça — sussurrou a velha nana. — Não nasceu
para ti.
— OH, nana, por que precisa ser tão cética? — repreendeu‐a Elissa. — Sabe que meu pai
escolheu a Tavis como marido para mim. Ele protegerá a todos se o rei da Inglaterra recordar que
meu pai guiou um regimento das Terras Altas na charneca de Culloden e decide nos castigar.
Conseguimos passar inadvertidos para ele graças à lonjura de Misterly, mas necessitamos a Tavis e
aos homens de seu clã se por acaso o inglês recordar de repente que existimos.
— Não te casará com o chefe dos Gordon — repetiu Nana. — É um foragido e trará
problemas aos membros de nosso clã.
Elissa se separou do espelho.
— Não seja estúpida, Nana. Vou me casar com Tavis. Os membros de seu clã e ele já
chegaram à igreja do povoado. Lachlan e Dermot Fraser estão me esperando abaixo para me
acompanhar ao altar. É hora de ir. Vem comigo?
— Não sairá do castelo — disse nana com obstinação. Elissa soltou uma gargalhada
imprópria de uma dama.
— Realmente me põe a prova, nana. Embora te ame muito, não pode evitar que aconteça o
que está escrito. Não conheço bem ao Tavis, mas estou segura de que chegarei a amá‐lo. Ambos
odiamos aos ingleses e somos leais defensores do jovem pretendente ao trono, o príncipe Carlos.
Temos muitas coisas em comum.
— Talvez nem todos os ingleses sejam maus — assegurou nana misteriosamente.
— Já! Conte isso a quem queira te acreditar. Todos os homens ingleses são uns assassinos.
— Adiante, então — murmurou nana dando por terminado o assunto. — Mas te lembre de
minhas palavras, moça, não vais casar‐te com o chefe dos Gordon. Minhas "vozes" falam de outro
homem. Seu destino aponta em outra direção.
— Talvez acredite que ouça vozes, mas eu não tenho fé nessas coisas — grunhiu Elissa. —
Nem tampouco acredito nas fadas, em espíritos nem em bruxas. 3 Babá
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— Sempre foi uma menina obstinada — protestou nana. — Como acredita que te encontrei
as vezes que perambulava sozinha fora do castelo? Foram minhas vozes, te asseguro isso, mas não
importa. Algum dia aprenderá a confiar em mim.
— Confio em ti, nana — assegurou Elissa, — mas não em suas extravagantes predições.
Reconheço que acertaste em muitas coisas, mas esta vez te equivoca.
— Não diga que não te preveni sobre isso, moça.
Elissa suspirou enquanto recolhia um buquê de flores recém colhidas e girava uma vez mais
para olhar‐se no espelho de corpo inteiro. Escolheu usar o traje quadriculado dos Fraser para as
bodas, e sabia que o cinza, o verde e o branco ficavam bem, embora fosse um tanto pálida.
Beliscou as suaves faces para conseguir um pouco de cor e se afastou do espelho. Suas delicadas
feições marcaram com determinação, e saiu pela porta sem esperar para ver se nana a seguia. Ia
se casar com o chefe Gordon tal como desejava seu pai, e nada, nem sequer a vívida imaginação
de sua viajada nana, ia impedi‐la.
Damian se deteve ante o portão exterior do Misterly. A guarita de vigilância estava vazia, e o
portão erguido. Nenhum guarda patrulhava os muros nem se distinguia a ninguém no interior do
pátio.
A primeira imagem que recebeu Damian de Misterly foi impressionante. As majestosas
torres e as ameias eram visíveis de uma longínqua distância, elevando‐se por cima da agitada
neblina e o escurecido céu. A promessa de chuva pairava no ar, densa e opressiva, e Damian se
perguntou se não se trataria de um mau presságio.
Afastando a um lado seus lúgubres pensamentos, Damian e seus homens cruzaram pelo
portão e entraram no pátio. Damian sentia os ombros tensos, e acariciava sua espada com a mão.
Aquelas alturas já devia ter soado a corneta de alarme para alertar a sua presença. Onde
estava todo mundo?
A fortaleza sobreviveu a passagem dos anos com graça e dignidade, pensou Damian. As
agrestes paredes de pedra cinza se viam suavizados por séculos de vento, chuva e sol sobre sua
impressionante fachada coberta de hera. Damian percebeu que colocaram janelas de vidro em
algum momento do século passado.
Sir Richard Fletcher adiantou seu cavalo para unir‐se ao Damian quando se aproximaram da
entrada principal.
— O castelo parece estar deserto, Damian. Que acredita que ocorreu a todo mundo?
— Averiguaremos em seguida, Dickon. Alerte aos homens para que se preparem em caso de
problemas inesperados.
Dickon deu a volta e retornou galopando às filas, onde difundiu a mensagem de Damian com
voz sussurrada.
A fortaleza não estava tão deserta como Damian supôs. Além da donzela de Misterly e a
velha nana, Dermot e Lachlan, dois membros de confiança do clã, estavam no grande salão
esperando à noiva para acompanhá‐la à igreja, onde os Fraser e os Gordon se reuniram para ser
testemunhas da união de seus clãs.
Lachlan, que tinha o ouvido mais agudo que Dermot, foi o primeiro em perceber que algo
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não ia bem.
Levantou‐se bruscamente da cadeira em que estava sentado e se aproximou a toda pressa à
janela.
— Temos visita — advertiu.
Dermot, o membro mais idoso dos Fraser, ergueu‐se para aproximar‐se mancando à janela.
— Convidados para as bodas?
Lachlan franziu o cenho.
— Não. Levam o estandarte inglês. Dermot soltou uma enxurrada de maldições.
— Esses bastardos puseram finalmente os olhos em Misterly. Todos temíamos que isto
chegasse a ocorrer algum dia. Que acredita que querem?
— A Misterly — assegurou Lachlan com secura. — Temo que hoje não será celebrada
nenhuma bodas. Será melhor que avise aos Gordon para que partam daqui. Tavis Gordon é um
foragido, um fugitivo que conseguiu escapar da forca.
— Sim. Já houve suficiente derramamento de sangue — reconheceu Dermot. — Utilizem a
passagem secreta. Convença aos Gordon para que retornem a toda pressa a seu baluarte.
Lachlan desapareceu rapidamente nos escuros limites do castelo.
Dermot abriu a esculpida porta de carvalho que custodiava a entrada e se situou no degrau
superior para esperar aos ingleses.
— Olhe — assinalou Dickon. — Há alguém nas escadas da entrada. A fortaleza não está
vazia, depois de tudo.
Damian deixou a seus homens atrás no pátio enquanto conduzia seu cavalo para o castelo.
Desmontou e subiu as escadas para enfrentar a aquele ancião de barba cinza.
— São convidados a bodas? — perguntou o velho escocês observando a Damian com
hostilidade.
— Vai se celebrar uma bodas hoje? — perguntou Damian, agradecendo em silêncio sua boa
sorte por ter conseguido chegar a Misterly a tempo. Mas... chegou realmente a tempo?
Damian cravou um olhar intimidador ao ancião.
— Teve já lugar as bodas? Me diga a verdade, velho, sou muito pouco tolerante com as
mentiras.
— Basta! Como te atreve a ameaçar a meu parente? É um idoso débil que não pode se
defender de alguém como você.
O olhar de Damian se dirigiu mais atrás do ancião para a mulher, não, a jovem donzela cujos
impressionantes olhos verdes brilhavam de raiva.
— Quem é você e o que é que quer? — perguntou a donzela.
Damian se elevou em toda sua imponente estatura.
— Sou Damian Stratton, conde de Clarendon e senhor do Misterly.
— O senhor do Misterly está morto.
— Estou vivinho e abanando o rabo, minha senhora, e desejoso de inspecionar minhas
propriedades.
Damian observou à donzela com vivo interesse. Então, esta era a donzela de Misterly? A
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 13
jovem estava obviamente vestida para as bodas. Seu cabelo acobreado, preso e recolhido no alto
da cabeça em uma coroa real, estava começando a se soltar, provocando que umas mechas
selvagens deslizassem pelo delicado pescoço. A chuva de sardas que cruzava sua ponte do
coquete nariz e as maçãs do rosto altas não conseguiam distrair de sua impressionante beleza. E
que lábios! Maldição! Seus lábios eram suaves, carnudos e luxuriosos. Uma saudável dose de puro
desejo animal percorreu sua virilha.
Não esperava que a donzela de Misterly fosse tão adorável... nem que tivesse tão bom
corpo. Deslizou brevemente o olhar pelos seios antes de pôr seus caprichosos pensamentos sob
controle.
— Misterly pertence aos Fraser — assegurou a jovem com aspereza.
O ousado olhar de Damian viajou pela totalidade de suas curvas acima e abaixo.
— Quem é você, senhora?
Elissa estirou os ombros e elevou o queixo com gesto orgulhoso.
— Sou Elissa Fraser, filha do grande Alpin Fraser, senhor de Misterly.
— Mova‐se a um lado, inglês, hoje é o dia de minhas bodas e estão me esperando na igreja.
A expressão de Damian permaneceu inescrutável apesar de seus luxuriosos pensamentos.
Não esperava sentir desejo pela dama a que foi desalojar de sua casa.
Mas deixando a um lado a luxúria, o destino da jovem já ficara selado pela Coroa e ele não
podia mudar aquela decisão nem que tivesse desejado.
— Não vai se celebrar nenhuma bodas, senhora, nem hoje nem nunca — assegurou Damian
com secura. — O rei proibiu qualquer aliança entre o foragido clã dos Gordon e os Fraser.
— Seu rei não pode me dizer o que devo fazer — espetou Elissa. — Sou uma habitante das
Terras Altas, não uma súdita inglesa.
— Os membros de seu clã foram derrotados em Culloden, senhora. Seu pai guiou um
regimento para a batalha. Se tivesse ficado em sua fortaleza e não tivesse chamado a atenção
sobre si mesma aliando seu clã com os rebeldes Gordon, provavelmente o rei Jorge te teria
deixado em paz. Mas eu agradeço por isso, senhora, porque sua decisão de te casar com o chefe
Gordon me reportou ricas terras e um título.
— Inglês assassino! — gritou Elissa. — Não pode arrebatar minha casa. Não o permitirei.
Dermot, que esteve escutando a troca de palavras, escolheu aquele momento para intervir.
— Há dito que seu nome é Damian Stratton, meu senhor? Damian afastou o olhar da
imprevisível Elissa e o cravou no idoso.
— Sim, sou Damian Stratton.
— É o homem que chamam de Cavalheiro Demônio? — perguntou Dermot empalidecendo.
Damian elevou sua escura fronte. Seria possível que sua reputação tivesse chegado até
aquele remoto lugar?
— Ouviste falar de mim?
— Sim, assim é. A quantos dos nossos assassinou em Culloden? — cuspiu Dermot.
— E quem dos membros de seu clã matou a meu pai? — respondeu Damian com notável
contenção.
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** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 14
— Então você é o Cavalheiro Demônio — disse Elissa com os olhos jogando faíscas de ódio.
Afastou o olhar de Damian e o dirigiu para o pequeno exército de homens que ocupava o pátio.
— Pensa nos matar, meu senhor?
— Não, não sei o que terão ouvido de mim, mas não sou um assassino que mata a sangue
frio. Necessito a sua gente para que cultivem a terra, atendam ao gado, façam as colheitas e
sirvam no castelo. Nada vai mudar. As coisas seguirão como antes, com a exceção de que o novo
senhor do Misterly é um inglês.
Elissa estirou os ombros.
— O que será de mim e de minha família, meu senhor?
Damian passou por diante de Dermot e Elissa, obrigando‐os a segui‐lo ao salão. — Sente‐se,
senhora.
— Não, ficarei de pé. Está já decidido meu destino?
Justo naquele momento entrou Dickon a toda pressa no salão. — Damian, encurralei a um
moço nos estábulos. Contou‐me que os Fraser e os Gordon estão reunidos na igreja do povoado,
esperando que chegue a noiva.
— Cavalga até a igreja, Dickon. Leve a metade dos homens contigo se por acaso surgem
problemas, mas evite o derramamento de sangue se puder. Para demonstrar que pretendo ser um
senhor justo, permite que os Gordon retornem a seu baluarte e escolta aos Fraser de volta ao
Misterly para os apresentar a seu novo amo.
— Os membros de meu clã não são servos nem escravos — espetou Elissa. — Vivem no
povoado, atendem os campos e os rebanhos e trabalham em Misterly porque desejam fazê‐lo.
Misterly é seu lar.
Damian cravou seu olhar chapeado na Elissa, admirando sua garra e o fato de que não se
sentisse intimidada por ele. Também possuía um temperamento formidável. Damian se perguntou
como reagiria quando soubesse que devia passar o resto de sua vida atrás dos isolados muros de
um convento.
Damian torceu o gesto. As coisas seriam muito mais fáceis para todo mundo se ela aceitasse
de bom grado seu destino. Não gostava da ideia de ter gente contra ele servindo‐o em seu novo
lugar de senhor do Misterly. Se Elissa partisse de Misterly sem discutir, os membros de seu clã se
sentiriam menos inclinados a rechaçá‐lo. Por desgraça, Damian não necessitou muito tempo para
perceber que Elissa era uma jacobina4incondicional com um ódio obstinado pelos ingleses. Os
habitantes das Terras Altas foram estrepitosamente derrotados no Culloden cinco anos atrás, mas
Elissa seguia combatendo aquela batalha. Damian chegou à conclusão de que o rei fazia bem em
enviá‐la ao convento.
Enquanto contemplava a aquele inglês tão bonito e arrogante que veio roubar a sua casa,
Elissa não sentiu outra coisa mais que raiva. Os ingleses arrebataram seu amado pai e seus irmãos,
e agora queriam ficar com sua casa.
Elissa ouviu falar do Cavalheiro Demônio, é obvio, quem não? Os rumores asseguravam que
4 A expressão jacobino designa os defensores do centralismo político e econômico do Estado como forma de imposição de direitos gerais democráticos e econômicos alargados por lei.
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era um canalha assassino sem consciência, um homem que se distinguiu no Culloden sendo ainda
um moço, um homem que abriu uma vala de morte e destruição ao largo das Terras Altas em
nome da justiça inglesa.
Sem necessidade de que a dissessem, Elissa soube que o rei inglês e seu Cavalheiro Demônio
tinham planos para ela que não iria gostar nem um pouco. Elissa elevou o queixo.
Tinha uma família que proteger; lutaria com unhas e dentes para assegurar‐se de que aquele
homem que foi destruir seu mundo não os tratasse mal.
Se ao menos não fosse tão bonito, pensou Elissa a seu pesar. Quando a olhava com aqueles
arrebatadores olhos cinza prateado, quase se esquecia de respirar. Vestido com um gibão negro e
calças apertadas, formava uma figura valente. Era alto, musculoso e letal, um homem cujas belas
feições se viam endurecidas por incontáveis batalhas.
Damian deu um ameaçador passo adiante, mas Elissa se manteve impávida. Podia olhá‐la
fixamente tudo o que quisesse, ela não ia mover se nem um centímetro.
— Tenho entendido que sua mãe vive atualmente em Misterly — disse Damian.
A Elissa pulsou com força o coração pelo medo. — Minha mãe está doente, não a pode
incomodar.
Elissa odiou a maneira em que o Cavalheiro Demônio elevou sua escura fronte, como se
estivesse questionando a veracidade de suas palavras.
— Doente ou não, ambas serão escoltadas até o convento da Santa Maria do Mar em menos
de uma hora. Podem levar seus objetos pessoais, mas nada mais. O castelo e tudo o que alberga
em seu interior me pertence.
Elissa cruzou os braços sobre o peito com expressão desafiante. — Não me ouviste? Minha
mãe está delicada de saúde. Não a pode incomodar.
Sem comover‐se, Damian disse:
— Serei eu quem julga isso. Irei vê‐la quando tiver falado com os membros de seu clã.
— E o que acontece com minha irmã pequena, meu senhor? Esta se recuperando de uma
grave infecção pulmonar. Vais enviá‐la a uma cela úmida e estreita para que morra? Faz muito
tempo que as boas irmãs fizeram voto de pobreza. Mal comem e vivem sem as pequenas
comodidades a que nós estamos acostumados. Soube que não permitem que se acendam fogos
nos dormitórios. Minha irmã e minha mãe não poderão sobreviver sob semelhantes condições de
dureza.
— Uma irmã? Tem mãe e uma irmã?
— Acaso não acabo de dizer isso? Está confuso, meu senhor?
— Mas certo assombrado. Não sabia nada de uma irmã. Nem tampouco me informaram de
nenhuma enfermidade em Misterly. Quantos anos tem sua irmã?
— Lora nasceu pouco depois de que papai fosse assassinado em Culloden. Só tem cinco
anos. Mamãe nunca se recuperou depois das mortes de meu pai e de meus irmãos, e mal sai de
seu quarto. Está muito frágil.
— Maldita seja! Não fazia ideia. Em qualquer caso, serei eu quem dita seu destino.
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Sabor do Pecado 03
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A tensão se acrescentou entre eles enquanto ficavam olhando um ao outro. Elissa se sentiu
sacudida até o tutano dos ossos. Aquele inglês impossível, seu inimigo, estava‐a afetando de um
modo difícil de entender.
Sua ira servia de escasso amparo contra as sensações que revoavam em seu interior. Soube
instintivamente que se baixasse a guarda, Damian Stratton ganharia.
Ainda precisava descobrir o que ganharia, mas temia que seria mais do que ela estava
disposta a entregar.
Um estrondo do outro lado da pesada porta de carvalho devolveu os pensamentos da Elissa
à realidade que tinha diante. Observou ansiosa como os membros de seu clã enchiam o salão,
seguidos de um pequeno exército armado de homens ingleses.
— Os Gordon haviam partido quando chegamos à igreja, Damian — assegurou Dickon. —
Trouxemos os Fraser e os membros de seu clã, tal e como você ordenou.
— Alguém deve ter alertado os Gordon — disse Damian sombriamente.
Lachlan Fraser deu um passo adiante. — Eu os adverti.
— Quem é você?
— Quem é você? — perguntou Lachlan com secura.
Ignorando a insolência do homem, Damian respondeu.
— Sou Damian Stratton, conde de Clarendon e o novo senhor de Misterly, a seu serviço.
— Eu sou Lachlan Fraser, sua senhoria — disse Lachlan com orgulho. — Um dos poucos
homens que sobreviveu ao Culloden.
Damian admirou a sinceridade daquele homem. — Por que alertaste aos Gordon?
— Temia que houvesse um derramamento de sangue, sua senhoria — replicou Lachlan, — e
me pareceu prudente dar aviso de uma situação tão potencialmente perigosa. Adverti aos Gordon
para que partissem antes que chegassem seus homens. Tavis se mostrou resistente ao princípio,
mas decidiu seguir meu conselho quando disse que veio com um exército.
— Foste sábio, Lachlan Fraser. O derramamento de sangue não é a maneira de preservar a
paz. Como novo senhor de Misterly, minha intenção é manter a paz neste remoto canto da
Escócia. Rezo a Deus para que não haja necessidade de mais derramamento de sangue.
Lachlan deslizou o olhar para Elissa.
— O que vai ser de lady Elissa, lady Fraser e a pequena Lora? Nosso chefe as amava muito.
Talvez deveriam ser escoltadas a Glenmoor, para que vivam com seus parentes, os MacDonald.
Christy MacDonald se casou com um inglês sendo menina e talvez dê proteção a seus parentes.
Christy e Elissa se amam muito.
— O rei deixou muito claro seus desejos em relação à viúva de Alpin Fraser e suas filhas —
assegurou Damian. — Serão enviadas ao convento de Santa Maria do Mar. Não posso chegar a
outro acordo sem a aprovação da Coroa.
— A viúva de lorde Alpin e sua filha pequena estão doentes, senhoria — protestou Lachlan.
— É um contratempo, mas não posso contrariar o rei.
— Miserável sem coração! — cuspiu Elissa. — Assassino de mulheres e crianças!
Se Elissa tivesse suspeitado o perto que estava Damian de encerrá‐la na torre e jogar a
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chave, teria sido mais prudente. — Nunca machuquei a nenhuma mulher nem a nenhuma criança
— assegurou apertando os dentes.
— Entretanto, contigo me sinto inclinado a fazer uma exceção.
O velho Dermot saiu rapidamente em defesa de Elissa.
— Não toque na moça, meu senhor, a menos que queira irritar aos membros de nosso clã.
Se o que buscas for à paz, está indo pelo caminho equivocado.
Uns zangados gritos de aprovação seguiram às palavras de Dermot, e Damian temeu se
encontrar de frente com uma rebelião se não suavizasse sua postura. Necessitava a colaboração
do clã se quisesse triunfar em Misterly.
— Sua senhora não representa nenhum perigo para mim — assegurou. — Misterly é seu lar;
necessito sua lealdade e sua total cooperação para que as coisas sigam bem. Descobrirão que sou
um senhor generoso.
Não aumentarão os dízimos nem subirão os impostos.
— Minha intenção é manter a paz sem utilizar a força, mas não se equivoquem, advertiu
procurando os rostos antissociais que o olhavam fixamente. — Como senhor de Misterly, exijo seu
respeito.
Se descobrir sinais de rebelião, não duvidarei em responder de acordo.
Uma corrente de grunhidos seguiu a suas palavras, mas Damian percebeu também
rapidamente que houve uma aprovação reticente quando assegurou que não subiria os impostos
nem os dízimos.
— Quão único peço é sua cooperação e sua lealdade — continuou Damian.
— Como pode nos pedir isso quando vais enviar para longe à viúva de Alpin Fraser e a suas
filhas? — argumentou Dermot.
— Me escutem, boa gente — disse Damian, que estava ficando sem paciência de forma
alarmante. — Não tolerarei nenhuma discordância. Sou seu senhor e exijo lealdade. Em troca,
serão tratados com justiça.
Aguardou uns instantes para que assumissem o que acabava de dizer antes de anunciar:
— Não haverá nenhuma aliança entre os Gordon e os Fraser. A donzela de Misterly, sua mãe
e sua irmã residirão de forma permanente no convento de Santa Maria do Mar. Retornem as suas
casas; já hei dito tudo o que precisava dizer.
As pessoas começaram a se dispersar contrariados para retornar a seus lares e a seus
trabalhos em meio de muitos sussurros e olhares temerosos dirigidos ao Cavalheiro Demônio.
Damian deteve Lachlan antes que pudesse unir‐se ao êxodo.
— Quero falar um momento contigo, Lachlan Fraser. Lachlan se deteve em seco sobre seus
passos.
— Sim, sua senhoria?
— Está claro que nem você nem os homens de seu clã estão de acordo com que eu seja o
dono de Misterly nem com o destino das mulheres do clã.
— Sim, nisso acertaste.
— Isto não é minha decisão, Lachlan — explicou‐se Damian. — Tavis Gordon é um foragido e
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um rebelde. Quer reatar uma guerra que perdeu faz muito tempo. A Coroa se opõe de forma
justificável a uma aliança entre os Gordon e os Fraser. Seria desastrosa para a frágil paz que
prevalece nas Terras Altas. Não podemos permitir que Lady Elissa se case com Tavis Gordon. A
única maneira de evitar uma aliança semelhante é enviá‐la a um lugar fora do alcance de Gordon.
— Posso entender a preocupação da Inglaterra — admitiu Lachlan. — Os habitantes das
Terras Altas sempre deixaram muito claro o ódio que sentem por seus compatriotas. Pode culpá‐
los?
Mas, por que devem ser castigadas a viúva e as filhas de Alpin Fraser?
— Não estão sendo castigadas — manteve Damian. — Só serão enviadas a um refúgio
seguro. Devo obedecer a meu rei nisto. Tem minha palavra de que não sofrerão nenhum dano.
— Os Fraser tomam a palavra, senhoria.
Damian despediu Lachlan com uma inclinação de cabeça. Elissa ouvira suficiente. Nada do
que dissera o Cavalheiro Demônio era verdade. O rei inglês queria castigar aos Fraser por suas
crenças e enviara o Cavalheiro Demônio para cumprir com aquela tarefa.
— Mentes! — arremeteu Elissa. — O Cavalheiro Demônio não é conhecido por sua
misericórdia. Enviar mamãe e a Lora a um convento é... é desumano.
— Não sofrerão — insistiu Damian.
Elissa estirou a espinha dorsal. Só podia depender de sua própria inteligência. Enfrentar a
lorde Damian era uma perspectiva aterradora, e ao mesmo tempo, estranhamente estimulante.
— E agora o que, meu senhor? Vais levantar minha mãe e a minha irmã de seus leitos de
doentes para as enviar longe?
O gesto sombrio de Damian provocou um calafrio nas costas de Elissa. O novo senhor de
Misterly não parecia ter muita paciência. Até onde poderia pressionar a aquele homem cruel e
duro antes que se revolvesse contra ela? Perguntou‐se.
— Tomarei minha decisão depois de ter visto sua mãe e a sua irmã, senhora. Conheço de
perto a enfermidade, e sei como distinguir uma doença mortal de uma imaginária. Você primeiro,
senhora. Falarei com sua mãe agora.
— Não! Não conseguirá sobreviver à comoção.
— Siga a mim, meu senhor. Eu te levarei até lady Marianne.
— Nana! Como te atreve? — exclamou Elissa.
Damian baixou a vista para olhar à velha bruxa que passou por diante da Elissa.
— Quem é você?
— Nana é minha babá — explicou Elissa. — Vive no castelo e atende os ferimentos e as
enfermidades de nossa gente.
Damian observou de cima abaixo com atenção à diminuta anciã enquanto o inteligente olhar
azul de nana fazia o mesmo com ele.
— Muito bem, nana. Me leve com lady Marianne.
— Nana! Não! Será que não vê que quer nos fazer dano?
— Não, moça, o senhor escuro não fará mal a sua mãe. Acaso não hei dito que não haveria
bodas? Talvez a próxima vez me Preste atenção. O inglês decidirá com justiça quando tiver visto
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por si mesmo quão doentes estão sua mãe e sua irmã. Me siga, senhoria.
Elissa se encolheu quando Damian a agarrou pelo braço e puxou‐a.
— Ao menos alguém demonstra um pouco de bom senso — murmurou.
Subiram por uma escada de caracol de pedra até chegar à sala das mulheres. Nana se deteve
em frente a uma porta fechada e logo lançou a Damian um olhar penetrante.
— Elissa deveria preparar a sua mãe antes que você entre.
Damian vacilou um instante e logo assentiu.
— Lady Elissa pode passar uns instantes a sós com sua mãe. Elissa se livrou das garras de
Damian, abriu a porta e deslizou para o interior da habitação.
Lady Marianne Fraser estava recatadamente apoiada na cama sobre vários travesseiros. Dois
pontos vermelhos sob as maçãs do rosto aliviavam a palidez, assim como o brilho de seus olhos
verdes.
Elevou uma frágil mão em gesto de saudação.
— Elissa, meu amor, que bom aspecto tem. Onde está seu marido? Começaram as
celebrações? Ah, como eu gostaria de assistir à festa.
Elissa pegou a frágil mão de sua mãe na sua e se ajoelhou ao lado da cama.
— Como te encontra, mamãe?
Marianne examinou o expressivo rosto de sua filha. — Algo ocorre, de que se trata?
— OH, mamãe, aconteceram tantas coisas desde que vim a verte esta manhã a primeira
hora... temo que as notícias a entristeçam.
Os perceptivos olhos verdes de Marianne não se separaram do rosto da Elissa.
— Não estou tão doente como você acredita, Elissa. De fato, encontro‐me mais forte a cada
dia. Me diga o que ocorre para que possa te ajudar.
Elissa temia que sua mãe se mostrasse muito otimista a respeito de seu estado de saúde.
Marianne estava a anos afligida de uma leve enfermidade que parecia estar minando suas forças.
Nana dizia que Marianne perdeu a vontade de viver, e Elissa temia que fosse certo.
— Fez Tavis Gordon algo que te tenha incomodado? Disse a seu pai que eu não gostava
desse homem. Não é bom para ti. O matrimônio não se consumou ainda, assim pediremos a
anulação.
— OH, mamãe — disse Elissa engolindo o nó que sentia na garganta, — oxalá fosse tão
simples. Não se celebrou nenhuma bodas. Um lorde inglês chegou esta manhã com um pequeno
exército. Misterly tem um novo senhor. Perdemos nosso lar.
— Por que agora? — perguntou Marianne com voz tremente. — Passaram cinco anos.
Confiava em que os ingleses nos tivessem esquecido.
— Esses bastardos têm muita memória. Deixaram‐nos em paz porque nossos domínios não
possuem muito valor para a Inglaterra. Mas isso mudou assim que souberam que eu ia me casar
com Tavis Gordon. Os ingleses temem que a união dos Gordon e os Fraser acabe com a paz das
Terras Altas.
— É culpa de Tavis Gordon — assegurou Marianne com amargura. — Anda conspirando
desde o Culloden. Os ingleses têm razão ao temer as consequências que conduziria o fato de que
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Tavis Gordon recrutasse para sua causa um grande número de habitantes das Terras Altas,
incluídos os membros de nosso clã. Não desculpo o que os ingleses nos fizeram, mas tampouco
quero mais derramamento de sangue. Estou farta de guerra.
Marianne retorceu as mãos.
— O que vamos fazer? Lora não está bem para viajar. Seus pobres pulmões ainda estão
débeis.
— O senhor inglês pretende nos tirar de nossa casa?
— O senhor inglês fará o que for necessário para preservar a paz — assegurou Damian da
soleira da porta.
Capítulo 03
Damian entrou no quarto observando o rosto de lady Marianne Fraser em busca de sinais de
enfermidade, e as encontrou. A dama estava realmente doente, o que fazia sua missão mais difícil.
Seus vivos olhos verdes ressaltavam em seu pálido rosto, e seu corpo frágil mal formava um
volume sob a roupa de cama.
Damian estava um pouco surpreso ao ver que lady Fraser parecia mais jovem do que ele
pensou apesar de sua enfermidade. Não teria mais de trinta e cinco ou trinta e seis anos, ao que
parece.
Deve ter casado muito jovem para ter uma filha da idade da Elissa, que parecia estar entre
os dezoito e os vinte anos.
— Elissa me contou que esteve doente, senhora — disse Damian.
— Já estou melhor — respondeu Marianne. — Suponho que você é o novo senhor de
Misterly?
— Assim é, senhora.
— O que vai ser de minhas filhas e de mim, meu senhor?
— O Cavalheiro Demônio vai nos enviar a um convento, mamãe — espetou Elissa dirigindo a
Damian um olhar carregado de ódio.
Marianne conteve um gemido.
— É o Cavalheiro Demônio, meu senhor? Damian lançou a Elissa um olhar reprovador.
— Não tem nada que temer de mim, senhora. Suas filhas e você estarão a salvo em Santa
Maria do Mar.
— Não! Será que não vê que minha mãe está muito doente para viajar? — gritou Elissa. —
Será que não tem coração, nem compaixão?
O rosto de Damian se endureceu.
— Não posso me permitir sentimentalismos, senhora. Não conto com a riqueza suficiente
para me deixar governar pelas emoções. Lutei duramente para obter tudo o que ganhei na vida, e
não vou perder Misterly por ter falhado ao rei.
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Sabor do Pecado 03
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— É obvio, deve obedecer a seu rei — reconheceu Marianne com pessimismo. — Mas temo
que nem Lora nem eu seremos capazes de subir a um cavalo. Se fosse tão amável de proporcionar
um palanque, estaria muito agradecida.
— Não! — protestou Elissa. — Necessitamos ao menos uma semana para nos prepararmos
para a viagem. Só um monstro sem coração obrigaria a uma mulher doente a levantar‐se da cama.
Uma compaixão a que não estava acostumado suavizou a inflexível atitude de Damian. Sua
consciência não permitiria tirar de sua casa a uma mulher nas condições físicas de Marianne, e
nem sequer vira ainda a menina. Aquilo não estava bem. Não estava nada bem. Devia ter alguma
forma de contornar as ordens do rei sem sacrificar Misterly e a culminação de todos seus sonhos.
A ideia chegou a ele quando Elissa estava jogando na sua cara sua crueldade e sua
implacável natureza. Dado que era a Elissa a quem o rei queria tirar do caminho, Damian não via
necessidade de castigar a sua mãe doente e a sua irmã.
— Contenha sua língua envenenada, senhora — advertiu‐a Damian com secura. — Aceitarei
a seus desejos no concernente a sua mãe e a sua irmã se você aceitar a minhas condições.
Elissa ficou olhando‐o fixamente e entreabriu seus olhos verdes com gesto de desconfiança.
— Condições, meu senhor? Quais são essas condições?
— São estas: sua mãe e sua irmã permanecerão em Misterly sendo cuidadas por nana se
você for ao convento de boa vontade, sem avivar aos homens de seu clã para que me desafiem
abertamente.
— Como sei que não fará mal a minha mãe e a minha irmã quando eu tiver ido? — desafiou‐
o Elissa.
A paciência de Damian estava agora pendurada por um fino fio. — Minha palavra é minha
honra. Sua família estará protegida enquanto eu siga sendo o senhor de Misterly. Não as enviarei
ao convento até que ambas estejam completamente recuperadas.
— Muito bem, então irei — a mentira surgiu com facilidade de seus lábios. Prometeria
qualquer coisa desde que ajudasse a seus seres queridos.
— Isso é muito inteligente por sua parte — disse Damian com sarcasmo. — Pode contar com
o dia de hoje para te despedir de sua família, mas quero que esteja preparada para a viagem com
as primeiras luzes da alvorada.
Embora Elissa assentisse para dar sua aprovação, Damian estava convencido, a julgar por sua
atitude beligerante, de que não gostava nem um pouco. Para ser sincero, ele tampouco estava
satisfeito consigo mesmo. Toda a situação estava se tornando muito cansativa. Não esperava ver‐
se envolto em uma situação semelhante, nem tampouco que encontraria a lady Elissa tão
tentadora.
Se não fosse pelo rei, levaria a dama à cama e a manteria ali até que se cansasse dela... ou
até que o rei encontrasse sua esposa.
Para o Damian era difícil manter‐se indiferente ante a difícil situação de Elissa com aquele
crescente e feroz desejo que o atravessava. A jovem seria virgem, é obvio. Ele nunca esteve com
uma virgem, seus gostos se dirigiam normalmente para mulheres mais experimentadas, mas com
Elissa faria uma exceção. Talvez fosse miúda, mas se tomasse cuidado, certamente conseguiria
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ajustá‐la a ele.
Damian conteve o gemido que surgiu do peito sem que ele o buscasse. Não importava
quanto a desejasse, nunca a conheceria carnalmente; quão único podia fazer era perguntar‐se se
teria um temperamento tão apaixonado como o seu próprio.
— O dever me chama — disse Damian assentindo brevemente ante a Marianne. — Te
despeça agora, senhora, enquanto ainda há tempo.
Girando bruscamente, saiu da habitação. Enquanto se dirigia a bom passo pelo corredor
para as escadas, escutou uma tosse violenta procedente de detrás de uma porta parcialmente
aberta.
Deteve‐se um instante, debatendo consigo mesmo, e logo empurrou a porta. Seu olhar se
posou na velha nana, que estava inclinada sobre uma menina deitada em uma cama muito grande
para ela.
— Tome o remédio, querida — cantarolou a anciã. — Se fizer o que te digo, tirarei‐te desta
cama em seguida.
— Não tem bom gosto, nana — protestou a pequena.
— Beba isso, insistiu nana. — Vais necessitar todas suas forças para o que te espera.
— O que está ocorrendo abaixo? — perguntou a menina. — Chegaram os convidados das
bodas? Teria me encantado assistir.
— Olhe pela janela, menina. Está chovendo. A umidade não é boa para seus pulmões.
— Vai viver o chefe dos Gordon em Misterly?
— Não, Lora, as bodas não chegou a ser celebrada. Hoje chegou em Misterly um novo
senhor. Um inglês. Ele não permitiu que acontecesse.
— Um inglês! — um breve ataque de tosse seguiu à exclamação da menina. — Então, vão
nos expulsar daqui? Aonde iremos?
Damian não sabia muito de crianças, e não recordava ter falado nunca com nenhuma, mas
se sentiu obrigado a falar com a irmã pequena da Elissa, embora só fosse para tranquilizá‐la.
Entrou no quarto e clareou a garganta. A menina abriu os olhos de par em par e se agarrou
em nana com uma tenacidade que provocou um gesto de desgosto no rosto de Damian. Tanto
medo provocava?
— Você deve ser Lora, a irmã de lady Elissa — disse forçando um sorriso. A pequena tinha os
olhos grandes e verdes e o cabelo dourado de um tom mais claro que o de sua irmã. A carinha
ruborizada comprovava sua enfermidade.
— Você é o novo senhor de Misterly? — perguntou Lora em um fio de voz. — Por favor,
senhor, não nos mate.
Damian torceu o gesto. De onde tirou a menina semelhante ideia? Antes que pudesse
responder, nana disse:
— Lorde Clarendon é um grande cavalheiro, moça, ele nunca te machucaria — sua feroz
expressão desafiava Damian a contradizê‐la.
— Aqui está a salvo, pequena. Sua mãe e você ficarão em Misterly com os cuidados de nana.
A expressão de alívio de Lora foi rapidamente substituídas por outra de preocupação.
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Sabor do Pecado 03
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 23
— E o que vai ser da Lissa, senhor? Não a mencionaste. Damian estava sem palavras. Não
sabia como falar com as crianças, e menos quando se tratava de dar más notícias.
— Talvez sua nana possa explicar isso melhor. Eu tenho assuntos que atender — despediu‐se
com uma breve inclinação de cabeça e saiu a toda pressa da habitação.
— O que quis dizer o lorde inglês? — perguntou Lora com o olhar cravado nas costas de
Damian enquanto saía de seu quarto.
— Não se preocupe, querida — tranquilizou‐a nana. — Quando tudo estiver terminado,
Elissa terá a felicidade que merece. Os demônios podem ser domados, e sua irmã tem uma
obstinação quase tão firme como a do novo senhor.
Pegarão um comprido caminho onde encontrarão muitas dificuldades durante a viagem,
mas tudo valerá a pena.
— Não entendo — protestou Lora. — Deveria estar assustada? Sei que suas "vozes" dizem
coisas. O que contaram agora?
— Não posso explicá‐lo, porque minhas "vozes" às vezes são confusas, moça. Mas te
prometo que não sofrerá nenhum dano.
Damian sentiu uma onda de irritação quando retornou ao grande salão e encontrou os
habitantes das Terras Altas e os ingleses em aberta confrontação, separados por um invisível muro
de má vontade.
Damian se colocou no meio deles com as mãos nos quadris e a fronte enrugada e sombria.
— Não consentirei nenhuma hostilidade em minha casa — bramou por cima da avalanche
de furiosos ataques que estavam se lançando os soldados ingleses e os habitantes das Terras
Altas.
— Espero que todo mundo se trate com respeito. Escolhi a sir Brody como administrador.
Contem a ele suas queixas para que me transmita isso a mim se merecerem minha atenção — fez
um gesto a sir Brody para que desse um passo adiante, de modo que os Fraser pudessem
identificá‐lo.
— A vida em Misterly logo mudará — continuou Damian. — Todos devemos trabalhar juntos
para obter uma existência pacífica. Quem está a cargo das despensas?
Lachlan Fraser deu um passo adiante. — Esse sou eu, sua senhoria.
— Muito bem. Quero um inventário completo das provisões de comida, materiais e
ferramentas. Preciso saber se os silos de grão estão cheios ou vazios, e que esperas dos resultados
e as condições das colheitas deste ano.
Lachlan lançou a Damian um olhar áspero, mas assentiu com a cabeça para dar seu
consentimento. — Quem está a cargo das armas?
— Não temos armas — assegurou Dermot.
— Agora sim as temos — respondeu Damian. — Thomas, veem aqui — um dos mercenários
de Damian abriu passagem entre a multidão. — Você atuará como mestre de armas. Estou seguro
de que em algum lugar da fortaleza há um arsenal. Sir Richard, você estará a cargo da segurança e
do alojamento. Quero guardas apostados na guarita de vigilância e nos muros constantemente.
— Uma coisa mais — disse Damian antes de se despedir de todo mundo. — Minha mesa
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Sabor do Pecado 03
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está aberta para todos, tanto para os Fraser como para os ingleses. Os que comem no castelo
serão bem‐vindos a ela sem exceção. Haverá paz em Misterly.
Quando o salão ficou vazio, Damian se dirigiu às cozinhas em busca da cozinheira. Uma
mulher decidida de meia idade elevou a vista da panela que estava revolvendo com uma
expressão assombrada quando ele fez sua aparição.
— É você a cozinheira?
— Sim, sou Winifred — a mulher assinalou com a colher para uma jovem que estava de pé
ao lado de uma branqueada mesa de madeira. — E esta é Beira, minha ajudante.
Damian inclinou ligeiramente a cabeça em gesto de saudação. — Devem seguir com seu
trabalho como até agora. Só recordem que agora terão que cozinhar para mais gente. Digam a
meu administrador o que necessitam a cada momento e ele providenciará isso.
Aquele mesmo dia mais tarde, Damian cavalgou para se aproximar para falar com os
pastores. Ficou gratamente surpreso com o tamanho dos rebanhos que tinha dispersado pelos
vales e as colinas próximas.
Misterly não careceria de carne fresca durante os meses de inverno. E a julgar pelo aspecto
dos campos, também haveria suficiente grão para alimentar aos famintos Fraser assim como a
seus próprios homens.
Com a caça fresca que conseguiriam seus caçadores, não esperava que faltasse comida a
curto prazo.
Enquanto Damian estava ocupado em outro lado, Elissa se ajoelhou ao lado da cama de sua
mãe. Ambas falavam em voz baixa.
— Não posso suportar que nos separem — gemeu lady Marianne. — Lora e você são as
únicas que me resta. Não me importa Misterly, o que me preocupa é sua irmã e você. O que vai
ser de ti, querida minha? Isso é cruel, é muito cruel.
— Não vou ao convento, mamãe — sussurrou Elissa. — Ele não pode me obrigar a ir.
A preocupação obscureceu o olhar de Marianne.
— É perigoso contrariar o inglês. Parece um homem duro, não quero que sofra nenhum
dano.
— Tomarei cuidado, mamãe. Quando todo mundo estiver dormindo, sairei do castelo
através do túnel e chegarei até o baluarte do Tavis. Não posso suportar a ideia de estar encerrada
entre os muros de Santa Maria.
Tavis tem razão, mamãe. Devemos nos unir e lutar contra a opressão inglesa.
— Não, filha. Já vimos muito derramamento de sangue. Será que Culloden não te ensinou
nada? Nossos seres queridos nos foram arrebatados para sempre.
Elissa endureceu seu coração contra os rogos de sua mãe. Precisava escapar. No convento
não serviria de ajuda a ninguém.
Com o apoio de Tavis, talvez pudesse devolver Misterly aos Fraser e enviar o Cavalheiro
Demônio de volta a Inglaterra.
— Tomei uma decisão, mamãe. Parto esta noite. Tentarei te mandar notícias quando chegar
ao baluarte dos Gordon.
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— Me prometa que se despedirá de sua irmã antes de ir — suplicou Marianne. — Lora vai
sentir muita saudades.
— Prometo — assegurou Elissa. Os olhos encheram‐se de lágrimas quando beijou a sua mãe
na fronte e saiu rapidamente.
Uns instantes mais tarde entrou no quarto de Lora e fechou a porta atrás dela.
— Lissa! Que contente estou de que esteja aqui. Nana diz que não houve bodas. Sinto‐o
muitíssimo.
— Não passa nada, bonita — assegurou Elissa. — Tem que te concentrar em te pôr bem. Eu
preciso partir, mas nana cuidará bem de ti enquanto eu estou fora.
— Vais partir? — exclamou Lora. — Não vá, Lissa. Estarei perdida sem ti. Quem me
protegerá do senhor escuro?
— Devo ir, Lora, mas não se preocupe. Lorde Clarendon prometeu que cuidará de ti e de
mamãe e eu... acredito nele — Elissa rezou para não estar pondo sua confiança onde não devia.
— Quando parte? — perguntou Lora com um soluço.
— Esta noite, quando todo mundo dormir. Seja valente, bonita. Não te abandono para
sempre.
Incapaz de suportar os tristes soluços de Lora, Elissa beijou a sua irmã e partiu a toda pressa.
Elissa decidiu não jantar no salão e pediu a nana que levasse uma bandeja a seu quarto.
Estava preparando uma pequena mochila para sua fuga quando alguém chamou secamente à
porta. — É você, nana? Adiante.
A porta se abriu.
— Não, sou Maggie. Lorde Damian solicita sua presença no salão. Maggie era um dos
membros do clã de Elissa que vivia no povoado e servia no castelo. Elissa fechou a mochila e a
deslizou debaixo da cama, fora da vista.
— Lhe diga que não tenho fome.
— Disse que não aceitaria um não por resposta.
Para não despertar as suspeitas de lorde Damian, Elissa decidiu satisfazer sua solicitude. Viu‐
o sentado à cabeceira da mesa quando entrou no salão. Seus olhos chapeados se cravaram nela
com perturbadora intensidade.
Elissa manteve a cabeça bem alta e se dirigiu com decisão para uma das longas mesas de
cavalete, onde tomou assento ao lado de Dermot.
Mal prestou atenção ao azedo olhar do Cavalheiro Demônio enquanto servia comida no
prato e fingia comer.
Viu pela extremidade do olho como lorde Damian ficava de pé e se dirigia a bom passo para
ela. O coração começou a pulsar com força quando se deteve atrás dela e colocou as mãos nos
ombros.
— Seu lugar está na cabeceira da mesa — disse.
Elissa girou a cabeça para olhá‐lo.
— Meu lugar está com os membros de meu clã.
— Fez‐me uma promessa — recordou‐a ele. — Faz o que te digo e seus seres queridos
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estarão a salvo.
— Não me ameace diante de minha gente, meu senhor.
A expressão de Damian se endureceu. Agarrou‐a pelo braço e puxou‐a para levantá‐la,
sussurrando no seu ouvido:
— Sua gente deve acreditar que aceita seu destino.
— Isso suporia um alarde de imaginação, meu senhor — respondeu Elissa com sarcasmo.
Para não montar um escândalo, Elissa permitiu que Damian a conduzisse à mesa principal.
— Despediste‐te já de sua irmã e de sua mãe? — perguntou Damian.
— Sim — respondeu Elissa, taciturna.
— Contará com uma escolta adequada para sua viagem — ele assegurou.
Elissa mal provou um bocado, mas bebeu cerveja a vontade. Estar sentada ao lado do escuro
senhor a punha nervosa. O poder emanava de todos seus poros, e sua descarada sexualidade a
sobressaltava.
Perguntou‐se vagamente com quantas mulheres teria se deitado, e se haveria alguma
especial em sua vida.
— Está casado, meu senhor? — a pergunta saiu sem pensar, sobressaltando‐a. Não sentia o
mínimo interesse naquele inglês cruel que o rei enviou para destruir sua vida.
Se sua pergunta o surpreendeu, Damian não deu amostras disso. — Não, senhora, não tenho
esposa, mas o rei me prometeu uma herdeira.
Elissa não disse nada enquanto empurrava a comida para a borda do prato. Em um ataque
de raiva, rezou fervorosamente para que a herdeira de lorde Damian tivesse os seios caídos, os
dentes podres e uma figura grosseira.
Isso estaria bem merecido, pensou sorrindo agradada.
— O que é que te diverte? — perguntou Damian. — Talvez você gostaria de compartilhá‐lo.
— Não é nada, meu senhor. Não tenho apetite. Se me desculpar, eu gostaria de me retirar a
meus aposentos.
— Acompanharei‐te — assegurou Damian ficando galantemente de pé.
— Não te incomode, conheço o caminho.
— Não é nenhum incômodo — Damian agarrou um candelabro com velas em cima da mesa.
— Depois de ti, senhora.
Elissa se ergueu com rigidez e se dirigiu para a escada de caracol.
— Sabem os membros de meu clã que amanhã me vão enviar longe daqui?
— Os comuniquei. Tome cuidado, senhora, estes degraus são traiçoeiros.
— Subi estas mesmas escadas cada dia desde que aprendi a andar — foi a mordaz resposta
da Elissa. — Não é necessário que vá mais longe se tiver medo de cair.
Suas palavras provocaram um grunhido que surgiu do mais profundo do largo peito de
Damian enquanto a urgia a subir pelas escadas. Elissa se deteve ao chegar mais alto e se virou
bruscamente, pondo uma de suas pequenas mãos no peito de Damian.
— Já me acompanhaste bastante longe, meu senhor. Damian olhou atrás dela.
— Qual é seu quarto?
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Elissa não tinha nenhuma intenção de responder a aquela impertinente pergunta.
— Boa noite, meu senhor.
Virou‐se com uma brutalidade que pegou a ambos de surpresa, e como consequência, ela
perdeu o equilíbrio. Damian teve a presença de ânimo de antecipar‐se ao desastre e estirar os
braços para segurá‐la.
Elissa se agarrou desesperadamente ao apoio que estava mais perto, que era Damian. Ele
estava preparado. Já apagara as velas e as deixara cair, com candelabro e tudo.
As longas mãos de Damian seguraram a delicada cintura de Elissa, evitando que caísse de
cabeça pelas escadas. Um estremecimento se apoderou dele quando sentiu a longitude total de
seu suave corpo, seio contra peito, perna contra perna. Sentiu‐a tremer. Damian gemeu em
resposta, e sem pensar no que fazia, deslizou as mãos pelos firmes montículos de seu traseiro.
Estreitou‐a contra si, introduzindo o joelho entre suas pernas em um movimento puramente
instintivo.
Elissa elevou o rosto para ele, com os olhos brilhando na escura passagem. Sua reação foi
espontânea quando desceu os lábios para devorar os dela. Parecia tão inocente, tão surpreendida,
e com sabor tão doce, que Damian perdeu qualquer vislumbre de controle. Lançou‐se sobre sua
boca sem piedade, atacando seus lábios com a língua até que se abriram para ele.
Damian teve a impressão de que nunca foi beijada com antecedência, e aquela certeza o fez
sentir‐se exultante. Seria um pecado confiná‐la em um convento antes que tivesse experimentado
a paixão, mesmo que só fosse uma vez. E a tigresa era apaixonada, tanto se fosse consciente disso
como se não. Sua boca se suavizou sob a sua, e sua doce língua se mesclava com a do Damian com
uma tímida ansiedade que provocou uma latente ereção.
Estreitando‐a com força contra si, levantou‐a nos braços e a levou pelo corredor.
— Seu quarto, qual é?
— O que está ao lado de Lora — ofegou Elissa. — Por favor, me desça. Posso encontrar
sozinha o caminho.
— Temo que não vou te descer — grunhiu Damian.
Encontrou o quarto, abriu a porta com uma mão e entrou com ela. Fechou com o salto da
bota e examinou o dormitório vagamente iluminado em busca da cama. Estava tão excitado que
não sentiu as mãos da Elissa golpeando seu peito, nem percebeu que os sons guturais que surgiam
de sua garganta eram protestos. Até que não deixou de beijá‐la e a tombou de barriga para cima
sobre a cama, não percebeu que a situação escapou de suas mãos.
— Não, por favor. Vais me enviar ao convento depois de me arrancar a inocência?
Damian deu um passo atrás, absolutamente desconcertado. — Por todos os diabos! O que
me fez?
Elissa tinha a respiração entrecortada, mas sua voz ressonou com força.
— Foi você quem me atacou. Eu não fiz nada, meu senhor.
— Nada exceto me seduzir, tigresa — disse Damian com aspereza. Separou‐se da cama. Sua
ereção pulsava dolorosamente no estreito limite das calças.
— Te prepare para partir com a primeira luz do dia. Damian saiu a toda pressa do quarto,
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seu sexo inchado o recordava que necessitava de uma mulher. Qualquer mulher serviria.
Mas quando procurou pelo salão a alguma jovem donzela, nenhuma tinha o brilhante cabelo
vermelho nem os luminosos olhos verdes da tigresa a que acabava de deixar em seu casto leito.
Com um bufo de desgosto, decidiu que estava muito bem que a donzela de Misterly partisse
no dia seguinte, porque se ele fizesse o que desejava, não seguiria sendo donzela durante muito
mais tempo.
Elissa ficou tombada onde a deixou Damian, seu peito subia e descia a cada veloz batimento
de seu coração. O que acabava de acontecer? Perguntou‐se com desanimo, o que fez ao
Cavalheiro Demônio para que se convertesse em um animal voraz? Elissa tocou os lábios.
Ainda sentia neles um comichão por seus beijos, e se sentia úmida e torcida em lugares íntimos
nos que raramente pensava.
O novo senhor de Misterly era muito atraente e muito experiente para uma donzela que
nunca foi beijada. Graças a Deus, ia partir, porque nada bom poderia sair do que ocorreu aquela
noite.
Elissa ainda tremia quando se ergueu e tirou a mochila de debaixo da cama. Colocou uns
quantos objetos de roupa mais e a fechou de repente. Logo colocou um vestido de lã, anáguas de
flanela e uma grossa capa com capuz. Por último, localizou uma embalagem com fósforos e a
guardou no bolso.
Elissa esperou o momento mais escuro da noite. Quando tudo esteve em silêncio, abriu a
porta e olhou para o escuro corredor, exalando um suspiro de alívio ao comprovar que o único
som que saía do grande salão era o de uns roncos surdos.
Apertando a mochila contra o peito, Elissa se arrastou lentamente escada abaixo, agradecida
a sua capa negra que se fundia com as sombras. Pisou naquelas mesmas escadas em tantas
ocasiões no passado que não necessitava de uma luz para que a guiasse. Quando chegou ao final
da escada, em lugar de rodear aos homens dormidos para alcançar a porta da entrada, deslizou no
escuro vazio que havia sob as escadas da sala. Só demorou um instante em localizar o túnel de
saída. Elissa abriu a porta sem fazer ruído e saiu por ela. Avançando torpemente na escuridão,
encontrou um lampião pendurado em um gancho na sólida parede de madeira e acendeu um
fósforo para aproximá‐lo a mecha. Guiada pelo tênue brilho do lampião, Elissa continuou
avançando pela fria e úmida passagem.
Os ratos saíam correndo para se afastar de seu caminho, mas ela tentou ignorar a eles e a
qualquer outra criatura horripilante que habitasse aquele túnel que raramente se utilizava.
Elissa teve a sensação de ter estado caminhando eternamente antes de chegar à saída. Uns
quantos degraus de madeira levavam a um alçapão que se abria a uma desmantelada choça
situada no bosque que ficava além de Misterly. Lorde Alpin mandara construí‐la muitos anos atrás
para esconder a saída do túnel. Também manteve a passagem livre de escombros se por acaso
precisasse fazer uma fuga precipitada.
O alçapão se abriu sem dificuldade. Elissa apagou o lampião e o deixou no degrau antes de
sair do túnel E fechar o alçapão atrás dela. Abandonou a choça uns instantes mais tarde e em
seguida desapareceu na escuridão do bosque.
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Damian percorreu acima e abaixo seu quarto, estava com o corpo e a mente muito inquietos
para dormir. Era um lutador, um homem que sobreviveu apoiando‐se em seu instinto, e seu
instinto dizia que as coisas não eram como deviam ser. Ocorreria algo a lady Fraser e sua filha
pequena? Não conseguiria dormir até que averiguasse o que o mantinha com os nervos a flor da
pele.
Agarrando um candelabro para iluminar seu caminho, saiu de seu quarto.
Quando chegou ao grande salão, encontrou a grande quantidade de homens que não
encontraram cama nos barracões, dormindo em colchões perto do agonizante fogo, mas nada
parecia fora do normal.
Damian olhou em direção à sala das mulheres e decidiu comprovar como estava Lora e a
convalescente lady Marianne antes de voltar para a cama. Subiu as escadas e não encontrou nada
estranho.
Seu instinto falhou, decidiu enquanto se virava para voltar sobre seus passos e retornar a
seu quarto. De repente, alguém saiu do quarto da Lora, sobressaltando‐o.
Reconheceu a parente da Elissa, mas não recordava seu nome. Quando ela viu Damian,
esteve a ponto de deixar cair o candelabro que levava.
— Meu senhor! Assustaste‐me.
— Quem é você, e o que faz acordada tão tarde?
— Sou Maggie Fraser. Muitas vezes fico com Lora quando tem uma má noite.
— O que está acontecendo?
— Está tossindo muito. Ia pedir a nana que preparasse alguma poção para aliviá‐la.
— Então será melhor que se apresse, moça. A menos que meus ouvidos me enganem, a
menina segue tossindo.
Maggie escapuliu. Tendo em conta que Damian já estava acordado, decidiu sentar‐se com a
menina até que Maggie retornasse. Entrou no quarto e se aproximou da cama. Lora estava
pungentemente inquieta depois de um ataque de tosse, e tinha a carinha ruborizada. Viu Damian
abatendo‐se sobre ela e abriu os olhos de par em par, presa do medo.
— Não, menina, não tem nada que temer de mim. Descansa tranquila. A senhorita Maggie
foi em busca de nana.
— Não me faz bem — disse Lora. — Quero que venha Lissa.
— Irei procurá‐la.
Lora sacudiu a cabeça.
— É muito tarde. Já se foi.
— Não, ela só... — Damian ficou petrificado enquanto uma sensação formigante subia por
suas costas até o pescoço. — O que está dizendo? Por que não estaria Elissa em seu quarto?
Ao que parece, Lora percebeu que falou muito, porque apertou a boca com a mão. Damian a
afastou suavemente.
— Conta‐me Lora, não passa nada. Se sua irmã não estiver no castelo, poderia ter
problemas.
Lora não disse nada; limitou‐se a olhar Damian com seus olhos cheios de luz.
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— Não assuste à menina, meu senhor.
Damian girou sobre seus calcanhares, surpreso ao ver nana de pé atrás dele.
— Não te ouvi entrar. — nana se inclinou sobre a cama e tocou a fronte de Lora. — Não
queria assustar à menina, nana, estou preocupado por sua saúde. Vai ficar boa?
— Sim. Está melhorando, mas às vezes a tosse piora de noite. Eu me encarregarei.
— Te ocupe dela, então. Eu esperarei no corredor. Quero falar um momento contigo.
Girando sobre seus calcanhares, Damian saiu do quarto. Mas em vez de percorrer o corredor
de cima e abaixo, chamou com os nódulos à porta da Elissa e entrou sem duvidá‐lo ao ver que não
obtinha resposta.
Estava furioso, mas não surpreso de encontrar a cama vazia e sem rastro da Elissa.
Murmurando uma maldição, voltou‐se bruscamente e esteve a ponto de atirar a nana ao chão.
— O que sabe você disto? — bramou Damian.
— Nada.
— Está mentindo. Não ajuda absolutamente a sua senhora ocultando a verdade. Saiu do
castelo? Como conseguiu burlar aos guardas? Uma jovem donzela perambulando sozinha pela
campina é um convite ao desastre.
— Não sofrerá nenhum dano, meu senhor — assegurou nana com absoluta segurança.
Damian a olhou com estranheza. — O que te faz estar tão segura?
— Eu sei muitas coisas — assegurou ela misteriosamente. — Mais te vale correr atrás dela se
quer alcançá‐la antes que os problemas encontrem a ela.
Damian percebeu que aquela velha bruxa ocultava algo mais que o que se via a uma simples
vista.
— Partirei em seguida. Poderia me indicar que direção tomou? Vai em busca de Tavis
Gordon?
Nana deu de ombros.
— Talvez. Seu baluarte está encravado no mais profundo das montanhas, meu senhor, mas
encontrará a Elissa no bosque.
Damian entreabriu os olhos com gesto desconfiado.
— Esta me dizendo a verdade? Acreditei que todos os Fraser me consideravam seu inimigo.
— Há muitas definições de inimigo, meu senhor. Nem Elissa nem Misterly acharão paz com
os Gordon. Elissa não acredita em mim, mas ela não pode deter a mão do destino.
Damian sacudiu a cabeça em gesto consternado. Ele já conhecia seu próprio destino, e não
incluía à donzela de Misterly. Seu futuro estava na herdeira que prometeu o rei.
Capítulo 04
Elissa entrou na parte mais profunda do bosque, ignorando os arbustos que enganchavam
nas anáguas e os ramos das árvores que se prendiam em sua capa.
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A chuva que caiu antes havia tornado a terra pastosa sob suas grossas botas, mas o céu
clareou milagrosamente e a lua aparecera subitamente para guiar Elissa para seu destino.
Não sabia exatamente como chegar ao baluarte do Tavis, mas estava convencida de que se
não o encontrasse, ele a encontraria.
Tavis foi no passado dono de vastos domínios ao sul de Misterly, mas foi obrigado a ocultar‐
se depois do Culloden, e suas terras foram entregues a um lorde inglês. Tavis e os membros de seu
clã que sobreviveram fugiram às montanhas, onde viviam em arrudas choças e em covas. Embora
os consideravam foragidos, viveram após com certa liberdade. Naquele tempo foi quando chegou
ao ouvidos do rei o rumor de que Tavis Gordon estava planejando uma insurreição e que
pretendia unir seu clã com o dos Fraser.
Seguindo um caminho através do bosque que mal se utilizava, Elissa ia muito bem de tempo
até que um banco de nuvens cheias de chuva se cruzou por diante da lua, sumindo o bosque na
escuridão.
Então se levantou uma espessa névoa que a engoliu.
Elissa perdeu em seguida o caminho entre as gigantescas árvores.
Sabia que era perigoso continuar sem uma luz que a guiasse. Mas algo bom tinha aquele
tempo que de repente se voltou contra ela, pensou. Serviria para oculta‐la dos olhos de quem
queria procurá‐la, se é que lorde Damian decidiu ir atrás dela.
Elissa estremeceu quando as primeiras gotas de chuva caíram no seu rosto. Deteve‐se sob
uma árvore de frondosas folhas e deslizou por seu tronco até sentar‐se no chão. Apoiou a cabeça
contra a mochila e decidiu que o melhor que podia fazer era descansar enquanto pudesse e
continuar a viagem quando saísse o sol.
Não era sua intenção dormir, mas pesavam tanto os olhos que não podia mantê‐los abertos.
Apesar de suas boas intenções, se aconchegou com tristeza sob a copa e adormeceu.
Damian estava encharcado, com frio, faminto e furioso. A chuva gelada não contribuía para
melhorar seu mau humor. Levava horas caminhando através do bosque. Quando a lua se ocultou
sob um banco de nuvens e começou a cair a chuva, Damian amaldiçoou sua sorte de cão.
Entretanto, consolava‐o um pouco pensar que Elissa devia estar tão incômoda como ele.
Quando a chuva caiu com força sobre a cabeça, seu mau humor aumentou vários graus. No
momento em que teve lugar o sombrio amanhecer, Damian estava com um humor assassino. Será
que aquela tigresa ruiva não percebia o perigo que corria uma donzela desprotegida naqueles
tempos turbulentos? Bandoleiros e predadores de quatro patas vagavam por aqueles bosques em
busca de presas, e Elissa era um bocado suculento.
Damian guiou seu cavalo pelo bosque, procurando pistas com seu agudo olhar. Não estava
disposto a render‐se, porque fazê‐lo implicaria reconhecer a derrota nas mãos de uma mulher. Em
todos seus anos como soldado, jamais perdeu uma batalha nem se deu por vencido. Se Elissa
escapava agora, arriscava‐se a perder o futuro com o que sempre sonhou. Não, decidiu
endurecendo os rasgos de seu rosto com determinação. Elissa não escaparia. Havia muitas coisas
em jogo.
De repente, Damian olhou algo preso em um espinho e puxou as rédeas do Cosmo para
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Sabor do Pecado 03
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detê‐lo. Estirou o braço e agarrou um pedaço pequeno de tecido do arbusto. Girando‐o entre os
dedos, percebeu que era um farrapo de flanela.
Era um pedaço das anáguas da Elissa? Seus lábios se curvaram em um sorriso. Se ela tivesse
visto aquele sorriso, teria se sentido aterrorizada.
Pouco tempo depois, Damian encontrou um pequeno rastro de pé sobre o macio chão e
outro pedaço de tecido. Decidido e sério, esporeou seu cavalo.
Preso na emoção da caça, a chuva, o frio e a fome ficaram esquecidos quando se converteu
em um caçador que corria atrás de sua presa.
Elissa despertou sobressaltada, desgostada ao ver a turva luz do triste amanhecer saudando‐
a. levantou‐se do chão e se estirou. Seus ossos protestaram pelo esforço e também pelo frio, que
os enrijeceu.
O estômago rugiu, mas ela ignorou; não tinha tempo para a fome. Era sua culpa ter
esquecido levar mantimentos para a viagem e ter comido tão pouco no dia anterior.
Recolheu a mochila e encontrou rapidamente o caminho que abandonou durante a noite.
Pouco depois escutou um estalo atrás dela e ficou petrificada. Tratava‐se de um animal
espreitando‐a?
Havia muitos no bosque. Talvez fossem bandoleiros. Ou caçadores furtivos. Por Deus, que
não fosse o Cavalheiro Demônio. Era pouco provável que a tivesse encontrado tão cedo; não
teriam percebido ainda sua ausência.
O som se fez mais forte e se escutou mais perto. Sem dúvida havia alguém atrás dela.
Quando escutou a um cavalo soprando pelas fossas nasais, deixou cair a mochila e saiu correndo
com o coração pulsando agitadamente contra as costelas.
Elissa correu o mais rápido que permitiram suas pernas, mas os cascos do cavalo se
aproximaram mais, e logo mais ainda, até que temeu ser atropelada. Atreveu‐se a olhar para trás
e se encontrou com uma visão tão aterradora que a fez cambalear. Um cavaleiro escuro montado
em um corcel negro, com a capa voando as suas costas e as poderosas coxas firmemente
apertadas contra os flancos do cavalo, aproximava‐se dela a toda pressa. Aquela única olhada não
revelou o rosto de seu atacante, mas Elissa estava convencida de que era melhor não vê‐lo.
Levantaram‐na do chão com brutalidade. Sentiu a força e a determinação daquele braço
musculoso que a agarrou pela cintura e deixou escapar um gemido de dor. Estava a ponto de
desfalecer por falta de ar quando o cavalo se deteve em seco e ela foi colocada com brutalidade
na sela diante de seu captor.
O homem que a segurava entre suas fortes coxas não disse nada, como se estivesse
esperando que ela falasse. Apesar de estar assustada por aquele escuro diabo, a fúria foi maior
que a prudência.
— Como te atreve! — Elissa girou para olhar a seu sequestrador. — Sabe quem sou?
Ao ver que seguia um silêncio que não pressagiava nada bom, Elissa elevou os olhos para o
rosto de seu agressor e sentiu como o medo se apoderava de novo dela.
— Você!
— Esperava outra pessoa? — zombou Damian. — Tavis Gordon, talvez?
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 33
— Como há... quem disse pra ti? Não deveria ter sentido minha falta ainda.
— Deveria ter colocado um guarda na sua porta — grunhiu Damian com voz ameaçadora. —
Que estúpido fui! Não percebi quão desesperada estava por chegar até Tavis Gordon. Talvez tenha
te julgado mal. Talvez conheça Tavis Gordon mais intimamente do que eu pensava. São amantes?
Elissa levantou o braço para golpeá‐lo, mas Damian agarrou seu braço e o segurou nas
costas.
— Não volte a tentar fazer algo assim — a advertiu.
— Não volte a me insultar — respondeu ela.
Elissa apertou os dentes com frustração ao ver que Damian guiava seu cavalo de novo para
Misterly.
— Onde me leva?
— A casa. Como conseguiu sair do castelo sem ser vista? A porta estava fechada. Há alguma
forma de entrar e sair da fortaleza da qual eu não tenha conhecimento?
Elissa ficou olhando‐o com os lábios fortemente apertados. — Não vais falar? — zombou
Damian. — Não se preocupe, se existe uma saída secreta, irei encontrá‐la.
Elissa emitiu um gutural som de zomba.
— Seus guardas não vigiam tão bem como você acredita. Não existe nenhuma saída secreta.
Aviso‐o, lorde Damian, não há muros suficientemente altos para me reter onde não desejo estar.
Me envie ao convento se quiser, mas não ficarei ali.
Suas palavras provocaram uma autêntica tormenta no cérebro de Damian. Não contou com
a rebelde natureza da donzela de Misterly. Conseguiriam contê‐la os muros do convento?
Perguntou‐se.
Sabia perfeitamente o que aconteceria se escapasse. Sua gente a seguiria até o baluarte dos
Gordon, e ocorreria o que Damian estava tentando evitar.
Devia existir alguma forma prática de evitar que Elissa chegasse até Tavis Gordon. O
problema parecia insuperável, mas Damian acreditava capaz de superá‐lo. Foi sopesando a
situação durante todo o caminho de volta à fortaleza.
Sir Richard saiu a seu encontro.
— Encontras‐te ela — disse dirigindo a Elissa um olhar de desconfiança.
— Sim, Dickon, ensopada como uma sopa mas ao que parece ilesa. Faz que subam uma
banheira e água quente ao meu quarto.
— Viajará hoje ao convento?
— Não, Dickon, não estou seguro de que enviá‐la longe seja a melhor solução.
— O que? Está louco, Damian? Esta mulher é uma fonte de problemas. Deve enviá‐la para
longe antes que provoque mais confusões. Como conseguiu escapar sem ser vista?
— Se acredita que agora causo problemas, espera a que me metam no convento —
arremeteu Elissa. — Se arrependerão do dia que o fizerem.
— Isso é justo o que temo — murmurou Damian sombriamente.
— Te encarregue da tina, Dickon.
— Como queira, mas não diga que não o adverti sobre isso.
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— O que pensa fazer comigo, meu senhor? — perguntou Elissa.
— Não o decidi ainda. Até que o faça, permanecerá encerrada na torre.
Damian viu como estremecia e percebeu que teria muito frio e provavelmente tanta fome
como ele. Agarrando‐a pelo braço, levou‐a pelo salão para a tortuosa escada que levava a seus
aposentos, situados na torre.
— Exijo retornar à sala das mulheres. Damian apertou os dentes.
— Não tem direito a exigir nada. Seu destino depende inteiramente de mim. Não acredito
que o rei se importe que esteja em um convento ou... — suas palavras terminaram em um silêncio
que não pressagiava nada bom.
Elissa ergueu seu pequeno queixo.
— Adiante, termina a frase. Não, deixa que eu o faça por ti. Causaria menos problemas a seu
país se estivesse morta.
— Não ponha palavras em minha boca que não hei dito, senhora. Agora mesmo não estou
na melhor disposição para ti. Estou impregnado até os ossos e preciso comer.
— E eu não?
A tempestuosa fanfarronice da Elissa divertia Damian. Parecia que não sentia medo, mas ele
sabia que não era tão brava como pretendia ser, porque tremiam seus lábios e tinha as mãos tão
apertadas que os nódulos ficaram brancos.
Quando chegaram às escadas, Elissa cravou os calcanhares no chão.
Em vez de discutir, Damian a agarrou em seus braços e subiu com ela pela escada de pedra
como se não pesasse.
O quarto de Damian era o único que havia naquela torre em particular. A porta estava
aberta, e ele entrou com a Elissa nos braços, fechando de repente a porta atrás dela. Assim que a
deixou no chão, Elissa se virou para o enfrentar.
— Por que me trouxeste aqui? Não te atreva a me tocar.
— Não tema, minha senhora. Como a Espinhosa que é, acredito que sangraria até morrer
por culpa de mil ferimentos agudos.
— Quero ver minha mãe e a minha irmã.
— Temo que isso é impossível. Não vais ver ninguém até que tenha decidido o que vou fazer
contigo.
— Acreditei que isso já havia pensado.
— Não estou seguro de que o convento seja a opção mais inteligente. Necessito tempo para
pensar nas possibilidades existentes no que a ti se refere. Como você mesma me indicou tão
amavelmente, os muros do convento não são o suficientemente altos para evitar que escape e
corra para o Gordon. Talvez deveria lavar as mãos a respeito de ti e enviá‐la a Londres para que
arrume isso com o rei.
Elissa recuou horrorizada.
— Não! Estaria me enviando à morte.
— Não necessariamente. Talvez o rei te encontre um marido inglês. Alguém que te golpeie
até te fazer entrar em razão.
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As furiosas faíscas de seus verdes olhos virtualmente chamuscaram Damian.
— Não irei a Londres, e não me casarei com um inglês.
A resposta do Damian ficou interrompida por uma discreta chamada à porta. Avançou para
diante, abriu‐a e se afastou a um lado enquanto os criados introduziam uma grande tina no quarto
e a colocavam frente ao fogo.
Sob a supervisão de Damian, encheram a banheira com baldes de água quente e fria. Maggie
permaneceu por trás, dirigindo ansiosos olhares a Elissa.
— Pode partir — despediu‐a Damian.
— Não, fique — pediu‐lhe Elissa. — O Cavalheiro Demônio quer me machucar.
Damian girou para olhar Elissa, elevando uma de suas escuras sobrancelhas. — Suas
mentiras estão começando a me incomodar. Não sofrerá nenhum dano comigo — virou‐se para
Maggie.
— Tem minha palavra, moça. Por favor, fecha a porta ao sair.
— Não acredite nele, Maggie! Quer me violar.
— Fora! — gritou Damian.
— Ocorre algo? — perguntou Sir Richard mostrando a cabeça no quarto. — Se escuta a
gritaria do salão.
— A senhorita Maggie tem coisas a fazer, Dickon — espetou Damian. — Não é necessário
que fique aqui.
— Damian...
— Não, Dickon, sei o que faço. Acompanha à senhorita Maggie fora do meu quarto e fecha a
porta ao sair.
Parecia como se Dickon queria objetar algo, mas deu a impressão de pensar melhor. Agarrou
Maggie pelo braço e a tirou para o corredor. Damian fechou a porta com a chave de ferro e logo a
pôs em uma pequena bolsa que levava no cinto.
— Entre na tina — ordenou‐lhe Damian. — Vais morrer se continuar com essas roupas
úmidas.
Elissa olhou com avidez para a tina e logo sacudiu a cabeça. — Não até que te tenha partido.
Damian lançou um olhar sombrio.
— Quer que eu te dispa? Estou começando a perder a paciência, senhora. Tenho intenção de
utilizar a tina depois de ti e eu não gosto de me banhar em água fria.
Damian deu um ameaçador passo para diante.
— Não! Eu... eu mesma o farei. Date a volta.
Damian ficou olhando e logo se virou e se aproximou da janela.
— Não tem do que se preocupar. Seus duvidosos encantos tem pouco interesse para mim.
Esteve a ponto de se engasgar com aquela mentira. Quando Elissa se sentou entre suas
coxas sobre o lombo do Cosmo, Damian foi dolorosamente consciente de cada uma das
tentadoras curvas que havia sob seu vestido molhado. Nem sequer o aborrecimento que sentia
podia fazer esquecer os beijos que compartilharam, nem o modo em que seu redondo traseiro
enchia suas mãos.
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Recordava seu corpo suave e flexível e seus seios firmes e tentadores. Desejava‐a então e a
desejava agora.
Damian escutou o farfalhar da roupa e sentiu como se puxasse a virilha. Estava nua. O
sangue se acumulou entre as coxas. Um salpicão de água foi seguido de um contido suspiro.
Damian sentiu uma autêntica tortura ao visualizar suas mãos deslizando por sua pele
escorregadia. De repente, a janela e o cenário que ficava ao outro lado encerravam muito pouco
atrativo para ele, e se voltou.
Seu olhar se encontrou com ela.
Estava com os olhos fechados e a cabeça apoiada na borda da tina, as curvas superiores de
seus redondos seios eram visíveis por cima da linha da água. Como a tina não era o
suficientemente grande para que coubesse todo seu corpo, estava com as pernas dobradas, o que
deixava descoberto as suaves fendas dos joelhos. Ao Damian acelerou o ritmo do coração.
Que diabos estava ocorrendo? Vira mulheres nuas mais que de sobra ao longo de sua vida,
então, por que deveria afetá‐lo aquela moça insignificante?
Como se fosse consciente de que a estava olhando, Elissa abriu os olhos e cruzou com seu
ardente olhar. Conteve o fôlego e subiu os joelhos ao peito, privando‐o da visão que tanto o
agradava.
O tom de voz da Elissa encerrava uma nota de pânico. — O que está fazendo? Date a volta.
Os olhos chapeados de Damian se obscureceram por um desejo mau dissimulado, mas fez
um esforço por permanecer imóvel. Se sucumbisse aos ditados de seu corpo, teria tirado a Elissa
daquela maldita tina e a teria levado a cama para viver uma noite de paixão desatada. Aquilo não
podia ser. Precisava encontrar logo uma mulher disposta ou tornaria louco.
— Desfruta de seu banho — grunhiu Damian enquanto se afastava. — Eu me banharei em
outro lado.
Damian tirou a chave e abriu o ferrolho da porta.
— Espera! Necessito roupa limpa. A que levava posta está completamente encharcada. Não
posso sair sem roupa.
— Encarregarei‐me de que tragam seu baú com seus objetos pessoais. E quanto ao de sair
deste quarto, bom, isso é outra história. Não confio em ti, senhora. É teimosa, obstinada e indigna
de confiança.
Cada vez fica mais claro que o convento não conseguirá te reter.
Elissa empalideceu. — Então, o que...?
Damian não ofereceu nenhuma resposta quando partiu e virou a chave na fechadura.
Em honra à verdade, o certo era que não tinha resposta. Damian retornou ao salão. Deteve‐
se para se servir uma caneca de cerveja de um barril próximo e logo se deixou cair pesadamente
em uma cadeira em frente ao fogo.
Dickon se reuniu com ele uns instantes mais tarde.
— Quais são suas ordens em relação à moça Fraser? Damian ficou olhando pensativamente
sua caneca.
— Não estou seguro de que seja uma boa ideia enviá‐la ao convento.
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A dama tem tantos recursos como beleza. Estou começando a pensar que, no que a Elissa se
refere, não existe uma resposta clara. É óbvio que não ficará muito no convento. Olhe a facilidade
com a qual encontrou a saída do castelo.
Escapará do convento em menos de uma semana e correrá para o chefe dos Gordon.
— Deve obedecer ao rei, Damian.
— À Coroa a única coisa que interessa é evitar que Elissa e Gordon se casem.
— Essa é a razão pela qual terá que enviá‐la ao convento — assinalou Dickon. — Há‐te dito
como conseguiu sair do castelo?
— Não, mas o averiguarei. Inclino‐me a pensar que existe uma saída secreta.
— É obvio — exclamou Dickon. — Assim é como o fez. Quer que te ajude a procurá‐la?
— Não, eu a encontrarei.
— O que vais fazer? Talvez deveria enviá‐la a Londres e deixar que o rei decida seu destino.
Damian torceu o gesto.
— Pode ser que a esteja enviando à morte. Não quero carregar isso em minha consciência.
— Maldita seja, Damian, deve haver algo que possa fazer.
Eu digo que a mande ao convento e deixe que as monjas se ocupem dela. Não podem te
culpar do que faça uma vez que tenha cumprido com as ordens do rei.
— Mas sim que poderiam me culpar, Dickon. Supõe‐se que devo evitar umas bodas. Se se
celebrar esse matrimônio, arrisco‐me a perder minhas terras e meu título.
— Me alegro de não estar em sua pele. O que fará enquanto isso com esse problema
andante?
— Encerrá‐la em meu quarto, onde posso vigiá‐la, e usar a chave.
Dickon elevou as sobrancelhas de repente.
— Isto não é o que pensa, Dickon, embora admita que a dama é muito tentadora.
Entretanto, minha única preocupação é isolá‐la daqueles que possam sentir‐se inclinados a liberá‐
la.
Inspecionei todos os quartos da fortaleza e o meu é o único decentemente mobiliado além
dos que há na sala das mulheres.
Dickon lançou um olhar cético. — Onde dormirá você?
— Não o decidi — respondeu Damian enigmaticamente.
— Boa sorte — disse Dickon levantando‐se.
Damian ficou sentado com sua cerveja até que a roupa úmida o recordou que necessitava
desesperadamente de um banho quente e comida. Deteve uma donzela que passava pelo salão e
pediu que enviassem comida e uma tina aos barracões, dando além disso, instruções relacionadas
com as necessidades imediatas da Elissa.
Elissa escutou como girava a chave na fechadura e elevou a vista com gesto espectador. A
porta se abriu e entraram dois homens carregando seu baú. Maggie entrou apressadamente atrás
deles levando uma bandeja com o que Elissa confiava que fosse comida.
Elissa se aconchegou dentro da manta que levava posta desde que saiu do banho, vendo
como os homens depositavam o baú no chão e saíam, deixando‐a a sós com Maggie.
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— Trouxe comida — disse Maggie colocando a bandeja em uma mesa próxima.
— Falaste com lorde Damian? — perguntou Elissa enquanto mordiscava um pedaço de
queijo. — Revelou quais são seus planos para mim?
— Não. Só me pediu que te trouxesse comida e sua roupa. OH, Elissa, o que te fez? Quer que
seja sua amante? Tem intenção de te violar?
— Não fez nada... ainda, mas não confio nele — disse Elissa pensativa enquanto metia um
pedaço de pão na boca.
Elissa não confiava em lorde Damian, mas decidiu não desabafar com Maggie. Vira a
expressão do escuro olhar do senhor; ainda podia sentir a pressão de seus beijos nos lábios e suas
mãos sobre seu corpo.
Era virgem, mas não estúpida. Damian a desejava. Desejava‐a como um homem viril
desejava a uma mulher.
— O que posso fazer para ajudar?
— Quem tem acesso a este quarto?
— Só eu. A todos os outros proibiram a passagem. O Demônio inclusive colocou um guarda
na porta. Não confia em ti, Elissa.
— O muito bastardo — cuspiu Elissa. — Não se preocupe, Maggie, pensarei em algo. Não
pode me manter sob chave para sempre.
— E se... já sabe... se quiser que te meta em sua cama?
Elissa mordeu o lábio inferior. Maggie se aproximava muito à verdade.
— Não se atreverá. E mesmo que se atreva, não o permitirei.
— Deixa que te ajude a se vestir — disse Maggie tirando objetos de roupa do baú da Elissa.
— Sim, prefiro estar vestida quando retornar o Demônio.
Semear o caminho do Damian de tentações era a última coisa que Elissa desejava.
Para alívio da Elissa, o Cavalheiro Demônio não retornou. Não fazia nem ideia de onde ia
dormir nem tampouco a importava, desde que se mantivesse longe de sua cama.
Embora assegurasse que não se importava, quando Maggie apareceu no dia seguinte com o
café da manhã, perguntou como quem não queria nada a sua parente se sabia onde e com quem
dormiu Damian a noite anterior.
— Dermot diz que lorde Damian passou a noite nos barracões — informou Maggie. — Não
acredito que alguma das mulheres de nosso clã teria dado abrigo se tivesse solicitado uma mulher,
mas algumas das garotas do povoado estiveram... brincando com os soldados ingleses desde que
chegaram em Misterly. Talvez lorde Damian tenha convidado a alguma delas a sua cama.
— Talvez — disse Elissa com amargura. Não entendia por que a ideia de pensar em Damian
na cama com uma prostituta devia incomodá‐la, mas assim era.
— Falando do rei de Roma — sussurrou Maggie quando a porta se abriu e entrou Damian.
— Parte, moça — disse ele segurando a porta para que Maggie saísse.
Maggie lançou um olhar compassivo a Elissa e saiu do quarto.
— Vim buscar minhas coisas — disse Damian.
— Quando poderei sair deste quarto?
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— Talvez nunca — respondeu ele com secura.
Elissa ficou imediatamente à defensiva. — Não pode me manter encerrada para sempre!
— Eu sou o amo aqui, posso fazer o que me agrade, e quero te ter confinada.
— Prefiro o convento.
— Estou seguro que sim. Entretanto, decidi que te encerrar em um convento não me
convence. Pensei te enviar a Londres para que o rei se encarregue de ti, mas depois de considerar
atentamente, acreditei que ele te trataria com mais severidade que eu. Não te desejo nenhum
mal, Elissa.
— Não serei sua amante — afirmou ela. — Sei como tratam os homens como você às
mulheres e não permitirei que me corrompa.
— Quer te reservar para Tavis Gordon? — zombou Damian.
— Ele é melhor homem que você.
— Veremos.
— Morrerei se sigo encerrada assim.
Damian inclinou a cabeça para um lado e ficou olhando‐a fixamente.
— Sim, talvez esteja sendo pouco razoável. Darei instruções ao guarda para que te
acompanhe a dar um passeio fora todas as manhãs e todas as tardes.
Damian colocou alguns objetos pessoais dentro de seu baú de roupa e se voltou para partir.
— Espera! Não quero te jogar de seu próprio quarto. Se for estar prisioneira, por que não me
encerra em meus aposentos?
— A torre pode vigiar‐se melhor — explicou Damian. — Há muita gente entrando e saindo
da sala das mulheres durante o transcurso do dia. Ficará aqui até que eu diga outra coisa.
— Onde vais dormir? — assim que disse aquelas palavras, Elissa se arrependeu de tê‐las
pronunciado.
Um lento sorriso se desenhou nos lábios do Damian. — Acaso te importa?
Elissa deu‐lhe as costas.
— Não. Pelo que diz respeito a mim, pode dormir com os porcos. De repente o sentiu atrás
dela. Perto. Muito perto. O calor de seu corpo a queimava claramente através das camadas de
roupa.
Damian tocou‐a no ombro e ela ficou tensa. Um grito de pânico surgiu de seus lábios quando
a fez girar e a apertou contra si.
— É tão inocente como pretende ser, senhora? Me pergunto se...
— Não siga perguntando isso, meu senhor — espetou Elissa. — Nenhum homem me tocou.
— Eu sou um homem, minha senhora, e te toquei.
— Sem minha permissão. Me solte.
— Você gostou de meus beijos, Elissa. Eu sei.
— Suportei‐os.
— Poderia suportar outro?
— Não. Não tem o direito de me atormentar assim.
Damian deixou cair os braços e deu um passo atrás.
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— Tem razão. Não tenho direito. Por favor, desculpe meu comportamento. Alguém deverá
vir buscar meu baú.
E então partiu.
Elissa deixou escapar um tremente suspiro. Tremiam seus joelhos, e também as mãos. O que
estava acontecendo? Damian apenas a roçou, e entretanto já não era capaz de pensar com
clareza.
O que ocorreria se a beijasse outra vez? Mãe de Deus, o mero feito de pensar no arrogante
senhor de Misterly beijando‐a, tocando‐a, provocava que seu coração pulsasse com força e
fervesse o sangue.
Só podia estar louca.
Depois daquela incômoda confrontação, Elissa foi acompanhada duas vezes ao dia durante
uma hora ao pátio para estirar as pernas. Sabia que os membros de seu clã não estavam contentes
com a situação, porque Maggie contou que estava se formando uma revolta. Elissa estava
tremendamente preocupada com sua mãe e por sua irmã, até que Maggie confessou que lorde
Damian as visitava com frequência para interessar‐se por seu estado de saúde e assegurar‐se de
que não faltasse nada. Teria aquele sombrio senhor um lado que Elissa não descobriu ainda?
Uma tarde a última hora, quando Elissa estava sentada no pátio com os olhos fechados e o
rosto elevado para o minguante sol, escutou uma voz familiar que dizia:
— Tem bom aspecto, senhora. Conta com tudo o que necessita?
Ela abriu os olhos de repente.
— Necessito minha liberdade, meu senhor. E quero visitar minha mãe e a minha irmã. É
muito cruel por sua parte me manter afastada de minha família.
Damian a observou pensativo durante um longo instante.
— Talvez tenha razão — ofereceu‐lhe o braço. — permita que eu te acompanhe à sala das
mulheres para que possa comprovar por ti mesma quão bem está sendo tratada sua família.
A alegria sufocou o rosto da Elissa quando se levantou e pôs os dedos no braço do Damian.
Sombrios olhares os seguiram enquanto atravessavam o salão e subiam pelos degraus que
levavam a sala das mulheres.
— Os membros de seu clã parecem pouco satisfeitos comigo — disse Damian torcendo o
gesto. — Confiava em que me aceitariam.
— Não pode culpá‐los por seu rechaço. Tudo mudou para eles. Seu futuro é incerto, e
tampouco aprovam o modo como me trata.
— Não te fiz nada.
— Sou sua prisioneira.
— Eu não diria isso — zombou Damian.
Tinham chegado ao patamar.
— A quem quer visitar primeiro, a sua irmã ou a sua mãe?
— A minha mãe, por favor.
Damian bateu na porta de lady Marianne e esperou a que ela respondesse.
— Adiante, meu senhor.
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Sabor do Pecado 03
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Elissa lhe dirigiu um olhar de assombro. — Como sabe que é você?
— Normalmente venho a vê‐la a estas horas. Entramos?
Elissa estava estupefata. Teria coração o Cavalheiro Demônio, depois de tudo? Ao que
parece sentia compaixão por todo mundo exceto por ela. Seus pensamentos se esfumaram
quando viu sua mãe, ainda pálida, ainda frágil, mas com muito melhor aspecto que a última vez
que a viu.
Em Marianne se iluminaram seus olhos e estirou os braços. — Elissa! Querida minha.
Obrigado, meu senhor, obrigado por trazê‐la.
— Esperarei fora — disse ele fechando a porta atrás de si.
— Está bem, mamãe? — perguntou Elissa beijando a pálida face de sua mãe. — Tem melhor
aspecto. Nana fez algum elixir novo? Lorde Damian não te tratou mal, verdade?
— Sinto‐me melhor, querida — respondeu Marianne. — Talvez seja os remédios de Nana ou
a que decidi que vale a pena viver. E não, lorde Damian é muito amável. Tivemos várias conversas
longas.
Ele me fez ver que me render não seria justo para Lora e para ti.
Assombrada, Elissa não pôde fazer outra coisa que ficar olhando fixamente a sua mãe.
— O Cavalheiro Demônio há dito isso?
— Sim, e mais coisas. Não te machucou, verdade? Eu não gostaria de pensar que lorde
Damian colocou a mão em cima de você, mas prefiro escutar de seus próprios lábios.
— Estou bem, mamãe. Não me machucou em nenhum sentido. Odeio estar trancada e não
saber o que vai ser de mim. Me põe muito nervosa, mas encontrarei de algum modo a maneira de
chegar até Tavis Gordon — prometeu.
— Você esta se recuperando. Algum dia, dentro de pouco, Lora, você e eu sairemos juntas
de Misterly.
— Tome cuidado, filha — a advertiu Marianne. — O que desejas talvez não seja o melhor
para ti.
De repente a porta se abriu e Lora entrou correndo. Damian a seguia. Lora tinha as faces
ruborizadas mas parecia ter melhorado muito. Elissa abriu os braços e a menina correu para eles.
— Lissa! Senti saudades.
Elissa dirigiu a Damian um azedo olhar por cima da cabeça de Lora.
— Teria vindo a verte antes se tivessem deixado. O que está fazendo levantada da cama?
— Já não preciso estar na cama — respondeu sua irmã com um sorriso. — Nana diz que
estou quase curada. Damian prometeu que me levará em seu cavalo assim que nana diga que
posso ir.
— Chama Damian a sua senhoria? — Elissa conteve o fôlego.
— Não repreenda‐me, Lissa. Damian disse que podia chamá‐lo assim — a menina rodeou
sua irmã para chegar até ele e agarrou sua mão. — Contara‐me um conto antes que vá esta noite
dormir, Damian?
A mente da Elissa se negou a acreditar no que ouvia. O que estava ocorrendo? Cruzou com o
olhar zombador de Damian por cima da cabeça de Lora e sentiu como se estremecia da cabeça aos
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pés.
Capítulo 05
Quando retornou ao quarto de Damian, Elissa se sentou ao lado da janela e permitiu que sua
mente vagasse. Era‐lhe difícil identificar ao homem desumano que conhecia com a atitude amável
que mostrava para sua mãe e sua irmã. Seria ela a que tirava o pior dele?
Estava escurecendo. Elissa olhou pela estreita janela para as montanhas que se elevavam na
distância. Quanto desejava ser livre. Deveria estar agora mesmo com Tavis em vez de ser
prisioneira do Cavalheiro Demônio.
Um som fez Elissa girar a cabeça. A porta abriu e Maggie entrou no quarto.
— Trouxe‐te o jantar, Elissa. Veem comer. Elissa suspirou.
— Deixa‐o aí, Maggie. Comerei mais tarde. Agora mesmo não tenho fome.
Maggie deixou a bandeja, olhou de esguelha a Elissa e logo sussurrou: — Estão se formando
problemas.
— Que classe de problemas?
— Os membros de nosso clã estão zangados com sua senhoria por te tratar mal.
— Doce Virgem Maria — disse Elissa com um tremente suspiro. — Não quero que haja um
derramamento de sangue por minha culpa. Deve dizer a nossa gente que não me trataram mal,
que estou bem e que eu estou no comando.
— O direi — disse Maggie com voz sussurrada.
A conversa terminou de forma brusca quando sir Richard bateu na porta e logo mostrou a
cabeça.
— Ah, está aqui, senhorita Maggie. Buscam‐na abaixo.
— Tentarei voltar mais tarde — murmurou Maggie.
Elissa se esqueceu por completo do jantar e percorreu acima e abaixo o quarto, inquieta. Já
foi derramado suficiente sangue em Culloden para toda uma vida, e confiava em que os membros
de seu clã percebessem que não contavam com armas nem com homens para lançar‐se à rebelião.
Não queria que nenhum dos seus ficasse ferido por sua culpa.
Maggie não conseguiu voltar aquela noite ao seu quarto, assim Elissa se meteu na cama,
mas foi difícil dormir.
Damian despertou na alvorada e jogou a um lado a manta, estremecendo com o frio da
manhã. Perguntou‐se por que os barracões eram tão frios e pensou com afeto no confortável
quarto a que renunciou a favor de sua provocadora prisioneira.
Afastou de si os pensamentos da Elissa, Damian ficou olhando a fria lareira e franziu o cenho.
Normalmente um dos serventes chegava cedo e acendia um fogo na lareira, mas por alguma
razão, ninguém realizou aquela tarefa essa manhã. Damian aprendeu a confiar em seu instinto, e
agora ele dizia que algo ia mal.
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Vestindo‐se rapidamente, Damian saiu dos barracões para solucionar qualquer problema
que tivesse podido surgir. Entrou no salão e deslizou o olhar pela estadia vazia antes de pousar na
fria lareira.
Onde estava o alegre fogo que normalmente esquentava a espaçosa habitação? Onde estava
o som das vozes que habitualmente se escutava a aquela hora da manhã?
O ar não levava nenhum aroma de comida, não se ouvia o barulho das panelas e as
frigideiras na cozinha. Prevalecia um silêncio que não pressagiava nada bom. Damian cruzou a
grandes passos o corredor para a cozinha com enorme curiosidade. Estava vazia. Não estavam
preparando a comida para os homens famintos que logo ocupariam as mesas de cavalete para
tomar o café da manhã. Damian deu a volta e retornou ao salão. Os saltos de suas botas
ressonaram ocos pelo chão da laje. Os homens tinham começado a chegar ao salão em busca de
comida e cerveja, e Damian se perguntou com que diabos iriam se alimentar aqueles homens.
Damian olhou para ver Dickon e o interceptou. — O que está ocorrendo, Damian?
— Oxalá soubesse. Viu a algum Fraser por aí esta manhã?
— Não, mas olharei na cozinha.
— Já fui lá. Ali não há ninguém. Todo o maldito castelo está deserto. Se Elissa estiver por trás
disto, partirei seu formoso pescoço — mal acabava de pronunciar aquelas palavras, girou sobre
seus calcanhares e avançou com resolução para a escada da torre.
Deteve‐se bruscamente quando divisou Dermot mancando pelo salão.
— Onde está todo mundo? — perguntou Damian com secura. — Não há comida na mesa
nem fogo nas lareiras.
— Nem haverá se você continuar mantendo Elissa prisioneira na torre — atacou o outro
homem. — Nós não gostamos do que está fazendo com nossa moça, meu senhor.
— Não sofreu nada — defendeu‐se Damian. — Perguntem à senhorita Maggie se não
acreditam em mim.
— Isso não é suficiente, meu senhor. Nossa moça não deveria estar encerrada e longe dos
seus. Se não tirá‐la da torre, ninguém cozinhará sua comida, nem trabalhará em suas terras nem
recolherá suas colheitas.
Os pastores deixarão que os rebanhos se desencaminhem. Sua fortaleza virá abaixo diante
de seus olhos se os aldeãos não vierem cada dia a te servir. Libera à donzela do Misterly, senhoria,
e as pessoas voltarão para suas tarefas.
A fúria se apoderou do Damian. Ele era o senhor de Misterly; como se atreviam a lhe dar
ordens?
Pela extremidade do olho viu sir Richard de pé perto dele. — Dickon! Escolhe a três homens
para que trabalhem na cozinha até que tenha posto fim a este descarado ato de rebeldia.
Dickon lançou um olhar cético.
— Duvido muito de que haja algum cozinheiro entre os soldados.
— Isso já sei — respondeu Damian com secura. Logo deu a volta e se afastou dali. Sua raiva
aumentava enquanto subia a escada de caracol que levava a torre. Despediu‐se do guarda com
uma inclinação de cabeça, colocou a chave na fechadura e entrou de repente sem bater. A
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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primeira coisa que percebeu foi o calor do quarto e as chamas que se elevavam e crepitavam
alegremente na lareira. Isso fez que ficasse ainda de pior humor. Sofreu um sobressalto violento
quando viu Elissa de pé ao lado da bacia do lavabo em combinação. Estava a contraluz, por isso se
transparecia o suave linho. Damian conteve o fôlego.
O calor o atravessou em espiral enquanto se dava sem nenhum pudor um banquete com
suas luxuriosas curvas e as sedutoras sombras.
Tinha uns seios deliciosos; grandes e redondos, com deliciosos mamilos de cereja. O
apaixonado olhar de Damian deslizou por sua estreita cintura e seus sinuosos quadris, detendo‐se
no sombrio recorte do vértice de suas coxas. Seria do mesmo fogo escuro que tinha seu cabelo?
Perguntou‐se cravando o olhar naquela sedutora parte de sua anatomia. Sua excitação foi
imediata, e Damian fez um esforço por ignorá‐la. Tentou concentrar‐se na razão pela que estava
ali, não na sedutora tigresa das Terras Altas que conseguiu quem sabia como, para incitar uma
rebelião enquanto estava encerrada na torre.
Elissa ficou petrificada no lugar. — O que está fazendo aqui? Parte!
Lançando‐se sobre ela, Damian a encurralou contra o lavabo e a agarrou pelos ombros,
afundando seus dedos na suave pele. O calor da Elissa o golpeou com força arrebatadora, e
Damian fez um esforço por conservar seu controle.
— O que fez? — ela abriu os olhos de par em par, e Damian sentiu como os ombros ficaram
rígidos sob as mãos.
— Eu não fiz nada!
— Não se faça de inocente comigo. Sabe de sobra o que fez. Animaste aos membros de seu
clã a desobedecer abertamente minha autoridade. A fortaleza ficou abandonada. Meus homens
têm fome e as lareiras estão frias.
O olhar de Damian se dirigiu deliberadamente para a lareira do quarto, para o fogo que ardia
nele.
— Em troca a tua parece estar bem atendida.
— Não me culpe pelo comportamento dos membros de meu clã — protestou Elissa. —
Gostam tão pouco dos ingleses como eu.
Damian ficou olhando os lábios e de repente se sentiu à deriva. Suas terminações nervosas
formigaram conscientemente e sentiu como ficava duro dentro das ajustadas calças.
Tentou concentrar‐se no que Elissa estava dizendo, quando o que em realidade desejava era
deter suas palavras com um beijo.
Atraiu‐a para si.
— Nunca te fiz nenhum dano, jamais coloquei a mão em cima, mas sei o que eu gostaria de
fazer contigo.
Elissa ficou olhando fixamente os dedos de Damian, que estavam cravados em seus ombros.
— Agora está pondo a mão em cima de mim, meu senhor.
Suas palavras pareceram ter pouco efeito sobre ele, que a atraiu mais para si até que sua
boca esteve a escassos centímetros da sua. Elissa sentiu sua rígida virilidade apertando‐se contra
seu ventre e tratou de arquear‐se, de não proporcionar acesso.
Connie Mason
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— A verdade, minha senhora — grunhiu Damian contra seus lábios. — Aconselhou aos
membros de seu clã que abandonassem a fortaleza?
A Elissa tremiam os joelhos quando Damian a estreitou entre seus braços. Podia sentir sua
força bruta, mal reprimida, e ela se segurou ao lavabo, agarrando‐o com tanta força que deixaram
os dedos brancos.
— Já te disse que não sei do que está falando. Não falei com ninguém além de Maggie.
O olhar chapeado de Damian se dirigiu para a boca da Elissa, e ela estremeceu sob o
repentino impacto de seu feroz desejo. Tragou a repentina onda de medo. Não queria seu desejo;
queria que se fosse.
— Está claro que ficar presa em uma habitação não é uma situação cômoda para ti —
reconheceu Damian. — Mas tenho motivos suficientes para te isolar. Está transtornando a todo o
pessoal de minha casa.
— Se os membros de meu clã abandonaram o castelo, você é o único a quem culpar. Eu não
tenho nada que ver.
Damian deixou de apertar seus ombros e deslizou os braços pelas costas, acariciando‐a e
moldando‐a a seu corpo. Elissa estremeceu. Damian estava olhando fixamente sua boca como se
quisesse devorá‐la.
Cravou os olhos profundamente nos seus. Ela aspirou com força o ar e se reclinou para trás
em uma vã tentativa de escapar de sua boca quando baixou com força sobre a sua.
Forçando‐a a abrir os lábios com a língua, introduziu‐se com força em sua boca. Tremendo
ante a estranha mescla de medo e recém despertado desejo, Elissa afastou a cabeça e pôs as mãos
sobre seu peito para rechaçá‐lo.
— Por que resiste? Poderia tomá‐la agora e ninguém poderia me dizer nada — Damian
agarrou a parte de trás de sua cabeça e voltou a beijá‐la.
Elissa sentiu que tudo dava voltas e se agarrou a ele para evitar cair. Acreditou tê‐lo
escutado gemer, mas o sabor de Damian fazia que fosse impossível pensar com clareza.
Ele forçou sua boca com ânsia possessiva. As chamas roçaram a pele da Elissa, acendendo
uma crescente paixão que nunca antes experimentou. Sabia que era uma perversão permitir
aquilo, mas não se via capaz de evitá‐lo.
Damian se esfregou contra seu corpo quase desnudo. Elissa sentiu o sólido morro de seu
sexo abrindo caminho audazmente entre suas coxas, e um sinal de alarme se acendeu dentro de
sua cabeça.
"Isto é uma loucura". Aquele pensamento se converteu em um pânico feroz quando Damian
a levantou do chão e se dirigiu para a cama. Elissa estava absolutamente indefesa; não havia
ninguém para proteger sua virtude.
O Cavalheiro Demônio realizaria sua vontade, com seu consentimento ou sem ele. O que de
verdade a aterrorizava era o fato de que Damian a fizesse sentir coisas inapropriadas para uma
donzela prometida a outro homem.
Elissa golpeou o colchão e tentou escapulir sob o peso de Damian, mas ele a agarrou pelos
quadris e a colocou debaixo dele. Elissa soltou um grito involuntário quando Damian levantou sua
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combinação com um movimento de suas fortes mãos.
— Não deve fazer isto! Me envie longe, mas não me desonre — sentiu como os músculos de
Damian ficavam tensos, e logo sua boca caiu em picado sobre a sua uma vez mais, como se não a
tivesse ouvido.
Devagar, com intenção, suas mãos exploraram seu corpo tremente... os seios, o pendente
das costas, a curva da cintura, a forma de suas coxas. Elissa temeu que faltassem só uns instantes
para sua violação quando escutou uma vozinha ao outro lado da porta fechada.
— Lissa, Lissa! Posso entrar? Diga ao homem mau que me deixe entrar.
— Lora!
Damian se retirou de repente, seu rosto era uma máscara de assombro enquanto
contemplava fixamente a Elissa. — Maldita seja! Devo estar louco.
Aquele pensamento coincidia exatamente com o de Elissa. — Sai de cima de mim! —
empurrou seu peito e Damian ficou de pé de um salto. Elissa se levantou da cama imediatamente
e colocou a toda pressa o vestido antes de correr para a porta e abri‐la.
Um soldado tinha Lora agarrada pelo bracinho.
— Encontrei‐a farejando pelas escadas, meu senhor.
— Solte‐a! — bramou Damian.
— Damian! — gritou Lora jogando‐se em seus braços assim que se viu livre. Depois de um
rápido abraço, lançou‐se para Elissa.
Elissa observou o rosto elevado de sua irmã e logo a estreitou entre seus braços.
— O que está fazendo aqui, querida?
— Queria verte.
O sorriso de Damian pareceu genuíno quando acariciou a brilhante cabeleira de Lora.
— Está bem, pequena? Pode estar já levantada? — Lora assentiu ante ambas as perguntas.
— Isso são boas notícias. Agora a única coisa que precisamos fazer é conseguir que sua mãe fique
bem.
Lora brincou com o fino tecido quadriculado de sua túnica e dedicou a Damian um sorriso
tímido.
— Bom, talvez haja dito uma mentirinha. Sigo tossindo, mas não tanto como antes. Nana diz
que logo poderei voltar a correr e a brincar.
Suas palavras foram seguidas de um ataque de tosse.
— Talvez deveria te levar de volta à cama — ofereceu‐se Damian estendendo os braços para
a menina.
— Não, eu levarei a minha irmã à cama — assegurou Elissa. Não fazia a mínima ideia do por
que Lora estava tão apaixonada pelo Cavalheiro Demônio, porque ela o achava arrogante e
ofensivo.
Lhe teria arrebatado a virgindade sem nenhum remorso se Lora não tivesse aparecido
naquele momento tão apropriado.
— Eu gostaria que Lissa me acompanhasse a meu quarto — disse Lora enviando a Damian
um olhar de desculpa. — Eu sinto falta dela. Por que já não brinca comigo como antes, Lissa?
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Elissa lançou a Damian um olhar de ofensa.
— Essa pergunta deve fazer a lorde Damian, querida.
Lora elevou a vista para Damian e ficou olhando fixamente com toda a inocência de seus
cinco anos.
— Por que não quer que Lissa vá ver‐me? Damian parecia muito incômodo.
— Há coisas que você não pode entender, pequena.
A seguinte pergunta de Lora deixou Elissa desnorteada. E a julgar pela expressão de Damian,
estava tão assombrado como ela. — O que está fazendo no quarto da Lissa, Damian?
Mamãe diz que um homem e uma mulher não devem ficar a sós a menos que estejam
casados. Lissa e você estão casados?
Elissa empalideceu.
— Não, Lora! Já sabe que estou prometida ao Tavis Gordon.
— Sua irmã está equivocada, Lora — assegurou Damian com autoridade. — Elissa e o chefe
dos Gordon nunca se casarão — depois lançou um olhar intimidador a Elissa. — Leva a sua irmã à
cama, senhora. Seguiremos com esta conversa mais tarde.
Elissa escapuliu antes que Damian pudesse mudar de opinião. Inclusive aquela pequena
concessão era bem‐vinda. Passou duas horas muito entretida brincando com Lora em seu quarto.
Logo colocou a sua irmã na cama para que descansasse e se dirigiu a toda pressa ao quarto
de sua mãe. Marianne seguia pálida, mas teve a impressão de que estava mais forte.
Na hora da refeição, nana apareceu com uma bandeja cheia de comida suficiente para as
três.
— Maggie levou uma bandeja para Lora — disse nana. — A menina comeu tudo e logo
dormiu — sorriu a Elissa. — Esgotaste‐a, moça, mas sua visita fez muito bem. Logo estará
recuperada e brincando de correr por aí como se nunca tivesse estado doente.
— Elissa, meu amor, deixaram‐na sair da torre para sempre? — perguntou Marianne
esperançada. — Lorde Damian é um bom homem, sabia que perceberia quão absurdo era te ter
encerrada.
— Lorde Damian é um bom homem? — zombou Elissa. Poderia contar a sua mãe um par de
coisas sobre o Cavalheiro Demônio, mas não queria entristecê‐la.
— Sim — reconheceu nana. — Elissa é a única que o tira do aprumo — riu. — Os dois são
cabeçudos como mulas.
Elissa se zangou.
— O que quer dizer com isso?
— Averigua você mesma, moça. Vamos, come. Passei trabalho tirando a comida da cozinha
sem que me roubasse isso algum inglês faminto.
Elissa deu uma dentada em um pedaço de pão e o mastigou pensativa:
— O que está acontecendo, nana? Lorde Damian me acusou de instigar uma rebelião. Onde
está todo mundo?
— Ah, bom, não cozinharão para nenhum servo do senhor inglês enquanto te tenha
encerrada na torre.
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Elissa sorriu apesar de tudo. Embora a situação fosse grave, nunca havia se sentido tão
orgulhosa dos membros de seu clã.
— Não há nenhum cozinheiro entre os ingleses?
— Não, não têm habilidades para a cozinha. Nenhum pode preparar o cordeiro como
Winifred, nem assar o pão como Beira — assegurou alegre e atropeladamente.
— Recorda minhas palavras, o Cavalheiro Demônio cederá quando o estômago choque
contra as costas.
— Confio em que nana tenha razão — disse Marianne.
Marianne começou a dormitar. Nana recolheu os pratos e levou a bandeja, deixando Elissa a
sós com sua mãe adormecida. Contraria a partir e voltar para a torre, sentou‐se com sua mãe
enquanto ela dormia.
Não muito tempo atrás, Elissa pensava que ia perder a sua progenitora, mas agora Marianne
parecia estar se recuperando. Teria produzido Damian aquele milagre?
Sumida em seus pensamentos, Elissa não escutou que se abria a porta. O sussurro de um
som a fez girar bruscamente a cabeça. Olhou para a cama, logo ficou de pé a toda pressa
aproximando‐se de Damian antes que ele pudesse incomodar a sua mãe adormecida. Apertando
os dentes, Damian fez um gesto impaciente com a mão e esperou a que ela o seguisse.
— O que quer? — sussurrou Elissa.
— Isto já foi muito longe. Meus homens têm fome. — Ordena aos membros de seu clã que
voltem para o castelo.
Elissa não pôde evitar a alegre nota de seu tom de voz. — Está negociando comigo, meu
senhor?
— Não, eu não negocio com mulheres. Estou te dizendo o que vai acontecer, e espero que
me obedeça.
Damian a agarrou pelo braço e a puxou para o corredor. — Vais me deixar sair da torre? —
desafiou‐o Elissa.
— Isso depende. Necessito aos membros de seu clã, e só você pode fazer que retornem. Me
jure fidelidade e permitirei que volte a ocupar seu antigo quarto e te mova livremente pelo castelo
— entreabriu perigosamente os olhos.
— Não tome isto como um convite a escapar. Não é mais que uma mulher miúda. Existem
formas de te manter dentro da fortaleza e longe do Gordon que você não gostaria.
Elissa mordeu a língua para não soltar uma resposta mordaz. Teria descoberto o túnel
secreto? Certamente não, ou ele teria dito algo.
— Nem me ocorreria escapar, meu senhor — replicou Elissa. Suas palavras gotejavam
sarcasmo. — Encontro sua companhia do mais fascinante.
— Que não se esqueça — a advertiu Damian ignorando seu sarcasmo, — tenho sua mãe e a
sua irmã completamente a minha mercê. Seu bem‐estar depende de sua obediência.
— Bastardo arrogante — murmurou Elissa.
O sorriso de Damian estava longe de ser tranquilizador. — Esse é um título que não posso
reclamar, senhora. Meus pais estavam felizmente casados. Vais garantir me a fidelidade dos
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membros de seu clã ou não?
Os olhos de Elissa estavam cravados em seu duro rosto. — Não posso falar por minha gente,
meu senhor.
— Então eu tampouco posso garantir a segurança de sua família.
Suas duras palavras obrigaram Elissa a elevar a vista para cruzar com seu olhar.
Conteve o fôlego quando algo sutil e hipnotizador se agitou entre eles. Afastou a vista antes
que sua expressão revelasse algo que não queria descobrir. Elissa não fazia a mínima ideia do que
estava ocorrendo, mas seus olhos se cravaram involuntariamente na boca de Damian. Não pôde
evitar recordar a sensação daqueles lábios carnudos nos seus, nem o completamente
transfigurada que havia se sentido quando a beijou.
Elissa sacudiu a cabeça para afastar aqueles inquietantes pensamentos e concentrar‐se no
importante: que sua mãe, sua irmã e ela escapassem do Cavalheiro Demônio e chegassem ao
baluarte dos Gordon.
Lora já estava quase curada, e inclusive Marianne parecia mais forte. Decidiu que ganharia
tempo fazendo o que Damian pedia, mas só até que considerasse a sua família capaz de viajar.
— E bem — disse Damian dando leves golpes impaciente com o pé. — Qual é sua decisão,
Elissa?
— Não te dei permissão para que te dirija a mim por meu primeiro nome — assegurou ela
com desdém.
— Não necessito sua permissão, Elissa. Responde a minha pergunta.
— Muito bem, falarei com os membros de meu clã, mas não posso te prometer que vão
acessar.
— Prefere que desterre a sua gente de Misterly e traga famílias de robusta linhagem inglesa
para que trabalhem no chão dos Fraser? Entregarei a eles a terra que pertenceu a seus ancestrais.
É isso o que quer?
A ideia de que uns ingleses vivessem nas terras que pertenciam por direito aos Fraser era
repugnante.
— Não, já sabe que não é isso o que quero. Nem tampouco quero que você esteja aqui. Por
que não pode deixar Misterly em paz? Não estávamos incomodando a ninguém.
— Se queria preservar Misterly para a gente de seu clã, não deveria ter conspirado com Tavis
Gordon. A Coroa está tentando simplesmente evitar outro levantamento na Escócia.
— Exageras, meu senhor. Tavis Gordon não planeja nenhuma rebelião. Damian dirigiu‐lhe
um olhar cético.
— Ah, não?
Elissa se ruborizou e afastou a vista. O certo era que sabia que Tavis estava urdindo alguma
maldade, e que necessitava a colaboração dos membros do clã da Elissa para triunfar.
— Poderá voltar para seu quarto assim que sua gente retorne a suas tarefas no castelo e em
outros lugares — continuou Damian.
— Sou livre para ir ao povoado a falar com eles?
— Não, permanecerá entre os muros do castelo. Além disso, decidi que se te mantém
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ocupada evitará te colocar em confusões. Uma fortaleza tão grande como esta sempre necessita
ajuda extra.
De agora em diante trabalhará na cozinha e servirá comida.
— Vou ser criada? — Elissa conteve o fôlego.
— Sim, acaso não me entendeste?
— E se me nego?
— Então permanecerá presa na torre até que aceite meus termos.
— Quanto tempo vou continuar sendo prisioneira em minha própria casa, meu senhor? —
espetou Elissa.
Deixando escapar um suspiro de exasperação, Damian disse: — Isso depende de ti. O rei
Jorge está me procurando uma herdeira para que me case com ela.
Quando chegar, serve‐a bem e pode ser que fique aqui e forme parte do pessoal do castelo.
Elissa apertou os lábios.
— Uma herdeira. Que maravilhoso para ti.
— Sim. Por fim terei tudo o que sempre sonhei.
— Suponho que não importa a quem precise pisar para conseguir o que quer — murmurou
Elissa dando as costas.
Damian franziu o cenho ante suas costas rígidas. Maldita seja, o que estava ocorrendo?
Elissa o fazia sentir como se seu mundo estivesse a borda do abismo.
Seu férreo controle cambaleava perigosamente cada vez que estava a sós com ela. Desejava‐
a; isso estava muito claro. Inclusive a rígida linha de suas costas o atraía. Damian entreabriu os
olhos.
Talvez deveria saciar sua sede por aquela pequena tigresa antes que chegasse sua futura
prometida.
Tocou seu ombro. Ela reagiu como se a tivesse queimado, e se afastou bruscamente dele.
— Não me toque.
— Tem medo de mim?
— Deveria ter?
— Nunca fiz dano deliberadamente a uma mulher.
Ela girou de repente para olhá‐lo.
— Eu não gosto da expressão de sua cara.
— Que expressão?
— Parece como se... quisesse me beijar.
Damian torceu o gesto. Tão transparente era? — Tão terrível te pareceria me beijar?
— Isso é uma indecência! Um cavalheiro não deveria se aproveitar de minha posição.
— Acreditei que a estas alturas já teria percebido que não sou nenhum cavalheiro. Sou um
soldado experiente e um desumano defensor da Inglaterra. Chamam‐me o Cavalheiro Demônio,
isso deveria te dizer algo a respeito de mim.
— Está tentando me assustar.
— Talvez — Damian a atraiu para si com dureza. — Deve saber que te desejo.
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— O que sei é que desfruta me atormentando. O que é que te fiz?
— Atrai‐me, senhora. Atormenta‐me e me seduz com seu corpo tentador e seus sensuais
olhos verdes. Não o permitirei, ouviste‐me? Nego‐me a que me cative.
— Eu não faço nada disso! — defendeu‐se Elissa.
Damian sabia que estava sendo pouco razoável, mas Elissa o afetava de uma maneira que o
tornava louco. Tentava‐o, seduzia‐o, provocava‐o. A desejava deitada de barriga para cima e
alcançar um tumultuoso êxtase dentro dela. Que diabos estava acontecendo com ele?
Damian sempre se gabou de seu controle. Inclusive quando esteve muito tempo sem estar
com uma mulher era capaz de conduzir sua paixão como lhe parecesse conveniente.
Ficou olhando fixamente os lábios de Elissa durante um comprido e tenso instante antes de
se voltar.
— Dermot e Lachlan podem contar ao povo os termos de sua liberação. Enquanto isso, baixa
à cozinha e olhe a ver o que pode fazer para alimentar a meus homens. Não trouxemos
cozinheiros de Londres, e as tentativas culinárias de meus homens são intragáveis.
— E como sabe que não vou envenenar eles? — desafiou‐o Elissa. Os olhos de Damian se
voltaram duros, inflexíveis.
— Porque valora as vidas de sua mãe e de sua irmã — dito aquilo, virou‐se sobre seus
calcanhares e partiu.
Damian ia murmurando escuras imprecações enquanto descia pelas escadas. Não estava
previsto que se sentisse atraído pela donzela do Misterly. Não deveria sentir compaixão pelos
membros de sua família.
Deveria ter obedecido ao rei e as enviar todas ao convento, e ao diabo com sua consciência.
Supunha‐se que o Cavalheiro Demônio não tinha consciência. Que diabos ia fazer agora que
descobriu que sim a tinha?
Sir Richard fez gestos a Damian quando entrou no salão. — Por que tem essa expressão tão
séria, Damian?
— Me alegro de que esteja aqui, Dickon — disse Damian sentando‐se à mesa e enchendo
uma jarra de cerveja de um cântaro. — Se importaria de ir procurar Dermot e Lachlan e trazê‐los
aqui?
— Não estão no castelo.
— Encontra‐os — grunhiu Damian.
— É obvio, sairei imediatamente. Quer me dizer o que é tudo isto?
— Prometi tirar lady Elissa da torre se os membros de seu clã retornarem a suas tarefas.
Necessito que Dermot e Lachlan corram a voz entre os aldeãos. O destino de Elissa está em suas
mãos. Eles devem decidir o que é importante.
— Que planos tem para o futuro de lady Elissa?
— Sinceramente, não sei — disse Damian torcendo o gesto e olhando sua cerveja. — No
momento vai ajudar na cozinha.
— Na cozinha! Quer buscar confusões, verdade? Já te disse antes. Se livra do problema.
Envia‐a a Londres.
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Damian franziu o cenho.
— Não posso, Dickon. É melhor a minha maneira. Está onde eu possa vigiá‐la.
— O que te faz pensar que não causará mais problemas?
— Duas razões. Sua mãe e sua irmã.
— Duas boas razões, suponho, mas não diga que não o adverti sobre isso. A donzela de
Misterly não é uma mulher qualquer. Que acredita que acontecerá quando chegar sua noiva?
— Solucionarei — assegurou Damian com tom grave. — Nenhuma mulher vai me derrotar —
baixou a voz. — encontrei o túnel secreto. A entrada está sagazmente escondida com pedras sob a
escada da sala das mulheres. Você é o único ao qual o confiei por agora. Como bem sabe, levo
procurando uma rota de fuga similar desde que Elissa desapareceu. Saber que existe uma rota
alternativa para entrar ou sair do castelo pode nos ser útil em algum momento.
Dickon sorriu.
— Bom trabalho! Não se preocupe, guardarei o segredo. Irei procurar Dermot e Lachlan.
Talvez me encontre com a senhorita Maggie. É uma moça muito atraente a que eu gostaria de
conhecer melhor.
Damian riu.
— É um rufião sem remédio, Dickon. Deixa às virgens tranquilas. Dickon partiu justo quando
Elissa entrou no salão. O atento olhar de Damian a seguiu até que ela desapareceu na cozinha.
Esvaziou sua caneca e logo golpeou fortemente a mesa com ela.
Aquilo era uma loucura! Levantou‐se bruscamente e a seguiu.
Elissa estava com os braços afundados até os cotovelos na água dos pratos quando Damian
entrou na cozinha. Lançou um olhar à desordem que deixaram os soldados e soltou uma maldição.
Elissa deixou cair a frigideira que estava esfregando e se virou para olhá‐lo.
— O que está fazendo aqui? Vieste ajudar?
— Deixa isso para as criadas — espetou Damian.
— Eu sou uma criada.
— Sim, mas não uma criada que limpa panelas. Hei‐te dito que o deixe.
Elissa lhe dirigiu um olhar mordaz e voltou a centrar‐se nas panelas e nas frigideiras. Damian
não aceitou sua negativa e a obrigou a virar‐se. Elissa elevou o olhar para encontrar o seu. A
provocação que havia nela era indiscutível.
— Se decida de uma vez, meu senhor. Só estou seguindo suas ordens.
A confusão se apoderou sem piedade de Damian. Incomodava‐o ver Elissa realizando
trabalhos físicos. Deslizou os olhos a seus lábios, recordando como eram suaves, como se
apoiaram docemente nos seus.
Sem poder conter‐se, Damian disse.
— Eu gosto que cumpra minhas ordens... E se te ordenar que me beije?
Ela ficou olhando fixamente. — Negaria.
— E se te ordeno que venha esta noite a meu quarto?
A indignação fez que Elissa ficasse com os ombros rígidos. — Isso, meu senhor, não
acontecerá jamais.
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Damian se limitou a sorrir enquanto dava a volta e saía dali.
Capítulo 06
Damian perambulou pelo salão, estava acabando sua paciência enquanto esperava que
aparecessem os membros do clã da Elissa. Se se negassem a retornar à fortaleza, talvez tivesse
que obrigá‐los, mas realmente não queria fazê‐lo. Para seu alívio, as pessoas começaram a entrar
pela porta. Em menos de uma hora, os aldeãos estavam reunidos no grande salão, esperando a
que Damian se dirigisse a eles.
Damian fez um gesto para pedir que guardassem silêncio.
— Quem é seu porta‐voz? — perguntou.
Dermot abriu passagem entre a multidão.
— Eu falo pelos Fraser, meu senhor. Pediu‐nos que viéssemos, e aqui estamos. O que deseja
nos dizer?
— Só isto. Necessito‐os, a todos vocês — fez um gesto teatral com a mão. — Chamei‐os para
oferecer uma saída para este ponto morto.
— A única coisa que queremos é que libere a nossa moça — desafiou‐o Dermot.
— Isso é exatamente o que pretendo fazer — reconheceu Damian. — Retornem as suas
tarefas no castelo e nos campos, e lady Elissa recuperará sua liberdade.
Com as mãos nos quadris, Maggie passou por diante do Dermot.
— Liberdade para entrar e sair quando a agrade, meu senhor? Damian franziu o cenho.
— Não posso proporcionar anistia total. Devo obedecer os desejos do rei. Ao que me referia
era a que terá liberdade dentro do castelo e dos muros que rodeiam Misterly. Sua dama não
sofrerá nenhum dano por minha parte.
— Onde está nossa moça? — exclamou Lachlan.
— Aqui estou — respondeu Elissa em voz alta atrás de Damian.
Damian ficou olhando quando avançou para ele. O que dissesse aos membros de seu clã
seria vital para sua permanência como senhor do Misterly.
— Está bem, Elissa? — perguntou Dermot ansioso.
— Estou bem, Dermot.
— Diga‐nos o que devemos fazer — pediu Lachlan. — Devemos cooperar com sua senhoria?
Não tem mais que dizê‐lo, moça.
— Eu não gosto de estar encerrada em uma torre — replicou Elissa lançando ao Damian um
duro olhar.
— Como já expliquei, só precisam retornar a suas tarefas para conseguir a liberdade de lady
Elissa.
— E o que acontece com lady Marianne e a pequena Lora? — quis saber Winifred, a
cozinheira.
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— Farei tudo o que esteja em minhas mãos para devolver sua saúde — prometeu Damian.
— Lady Elissa pode confirmar que melhoraram sob meus cuidados.
Todos os olhos se viraram para ela.
— Diz a verdade — admitiu Elissa a contra gosto.
Damian deixou escapar o ar que não sabia que estava contendo.
— Já ouvistes a dama. Como senhor de Misterly, prometo tratá‐los com justiça e manter a
paz para as futuras gerações.
— Para seus herdeiros, não para os nossos — resmungou Dermot.
— Sempre haverá Frasers em Misterly — manteve Damian. — Dou‐lhes minha palavra.
— A palavra de um inglês — murmurou Elissa entre dentes. Por sorte, ninguém a escutou
exceto Damian.
— O que vai ser de nossa moça? — inquiriu Lachlan. Damian não tinha uma resposta
preparada, porque nem ele mesmo sabia. Assim se limitou a repetir:
— Não vou fazer nenhum dano. Trabalhará aqui, com os membros de seu clã, e servirá a
minha futura esposa e a mim.
— Trabalhar! — protestou Winifred com raiva. — Como criada? Isso não está bem.
— Trabalharei — disse Elissa lançando a Winifred um olhar de advertência. — Acaso não me
pus a trabalhar sempre que me necessitou? Isto não será diferente.
— Está segura, moça? — perguntou Dermot.
Elissa assentiu lentamente e Damian se permitiu ter a esperança de que talvez pudesse
restabelecer a harmonia.
— Completamente segura. Colaborem com lorde Damian até que eu encontre a maneira de
recuperar Misterly para os Fraser.
Damian não gostou de como soou aquilo. Que diabos queria dizer? Dermot elevou suas
peludas sobrancelhas para o céu, como se entendesse perfeitamente o que Elissa tentou
expressar. Logo piscou um olho.
A Damian não passou por cima nada de tudo aquilo.
— Você ganha, meu senhor — reconheceu Dermot. — Trabalharemos para ti, mas se toca
um só cabelo da cabeça da nossa moça, terá que responder ante nós.
— Eu não gosto das ameaças, Dermot — assegurou Damian, — mas me obriga a que eu
também te lance uma. Que nem passe pôr sua cabeça se aliar com os rebeldes e suas causas.
Tenho homens e armas com os que responder. E agora voltem todos para suas tarefas.
Sem que Damian a visse, Elissa assentiu imperceptivelmente com a cabeça. Depois de um
instante de indecisão, o salão foi se esvaziando, deixando só o Damian, a Elissa, o Sir Richard e o
contingente de soldados que sir Richard levou se por acaso se apresentassem problemas.
— Estiveste muito perto, Damian — assegurou sir Richard. Damian lançou um rápido olhar a
Elissa.
— Lady Elissa foi muito inteligente ao evitar um problema. Envia os soldados de volta a suas
tarefas, Dickon, hoje não os vamos necessitar.
Dickon assentiu e saiu dali a grandes passos.
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Sabor do Pecado 03
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— Conseguiu o que queria, meu senhor — disse Elissa. — Espero que esteja satisfeito.
— A paz me agrada. Estou farto da guerra, cansado de matar. Creia‐me ou não, Elissa,
durante mais anos dos que quero recordar só conheci guerra e derramamento de sangue. O único
lar que conheci desde o Culloden foi um acampamento militar. A vida do cavalheiro é dura, não
tinha uma terra a que chamar minha, e só podia me apoiar em minhas habilidades e em minha
astúcia. Desejo Misterly mais do que desejei algo em toda minha vida.
Depois de ter dito a Elissa mais do que era sua intenção, Damian apertou os lábios e deu a
volta. O que estava ocorrendo com ele? Estava contando a Elissa coisas que não eram de sua
incumbência.
De repente se sentiu exposto e vulnerável, uma sensação absolutamente alheia a ele. O
Cavalheiro Demônio não era um homem conhecido por despir sua alma. Quando recuperou o
controle sobre si mesmo, voltou‐se para enfrentar a Elissa, mas ela já havia partido.
Elissa retornou à cozinha com uma nova visão em relação à áspera realidade da mente do
Cavalheiro Demônio. Quando mencionou sua vida anterior, pareceu‐lhe muito solitária. Mas,
como podia ser?
Os homens como Damian nunca estavam sozinhos. Era um homem bonito, Elissa sabia sem
necessidade de que o dissessem que não faltava companhia feminina. E com amigos como sir
Richard, Damian era mais afortunado que a maioria.
Elissa se perguntou se a falta de terras seria a força que se escondia atrás dele. Todos os
homens queriam possuir suas próprias terras. Mas, por que precisavam ser as terras da Elissa?
Quando chegasse a prometida de Damian, uma inglesa se converteria na senhora de
Misterly. Seria um exagero de imaginação acreditar que a prometida do Damian quisesse que
Elissa e sua família ficassem.
Damian se apoiou pesadamente contra o ornamental respaldo lavrado da cadeira. Seu olhar
chapeado seguia a Elissa enquanto ela se movia entre as mesas distribuindo bandejas de comida.
À exceção de algum sorriso ocasional dirigido a um dos membros de seu clã, ela o ignorou
descaradamente, embora devia ser consciente de seu intenso escrutínio.
Parecia cansada, pensou, e se perguntou por que isso devia importar. A resposta não o
surpreendeu: importava‐o porquê queria levá‐la à cama. Estava convencido de que se a tivesse
uma só vez se curaria da obsessiva atração que existia entre eles. Elissa podia negá‐lo até o dia do
juízo final, mas Damian era capaz de distinguir quando uma mulher estava pronta para ser
tomada.
Elissa não era imune a ele; sua boca tinha sabor a doce rendição cada vez que a beijou.
Damian se revolveu no assento. Resultava ridículo carregar constantemente com uma
ereção. Nada o impedia de tomar a Elissa, então, por que não fazia?
Deitar‐se com a moça o curaria da incômoda coceira que o afligia. Talvez inclusive o liberasse
do desejo que o inspirava. Devia concentrar‐se em Misterly, e albergar pensamentos eróticos a
respeito daquela tigresa punha a prova sua prudência.
Damian viu a Elissa movendo‐se pelas mesas servindo cerveja, e ergueu sua caneca para que
a enchesse. Ela fez o que ele pedia, mas quando se virou para partir, Damian agarrou seu braço,
Connie Mason
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evitando que pudesse se afastar.
— Me solte — sussurrou Elissa.
— Ainda não.
— O que quer de mim?
— Acreditei que estava claro — assegurou Damian marcando muito as palavras. — Quero‐te
em minha cama.
— Não me envergonhe diante dos membros de meu clã.
— O que desconhecem não pode machucá‐los — defendeu‐se Damian.
Os ombros de Elissa ficaram rígidos.
— Não pode me exigir isso. Estou prometida a outro homem.
Fez‐se o silêncio a seu redor. Todo mundo deixou de comer para observar o número entre
Elissa e Damian. Ele não pretendia envergonhá‐la em público, mas tampouco queria que o
rechaçasse.
Ele era o senhor de Misterly, sua palavra era lei. Tomar Elissa não faria mal a ninguém. Seria
cuidadoso com ela e se asseguraria de que experimentasse prazer com sua união.
— Exijo‐o — insistiu Damian. — Vá a meu quarto e te prepare para mim.
Dermot, Lachlan e vários Fraser olharam Damian com hostilidade. Os soldados de Damian
ficaram em alerta imediatamente. Damian sentiu crescer a tensão e percebeu que criou sem
querer uma situação potencialmente explosiva.
— Se quer evitar problemas — sussurrou a Elissa em voz baixa, — mais te vale me obedecer.
— Muito bem, meu senhor — disse ela recompensando‐o com um sorriso cativante. Seguia
sorrindo quando verteu a jarra de cerveja no seu colo.
— Que o diabo te leve! — gritou Damian ficando de pé de um salto. Tentou agarrá‐la; ela
escapou.
Damian começou a segui‐la, mas Dickon agarrou sua manga.
— Deixa‐a ir, Damian. Não fique como um estúpido diante dos membros de seu clã. Ouvi
como a ordenava que se metesse em sua cama. Isso não esteve bem de sua parte. Está seguro de
que isto é o que quer?
— Não estou seguro de nada no que se refere à donzela do Misterly — grunhiu Damian. —
Só uma vez, Dickon, isso é a única coisa que peço. Ela não é imune a mim, e eu farei que o
desfrute.
— Tome cuidado, meu amigo. Ela não fará isso fácil. Olhe a seu redor. Os membros de seu
clã a defenderão se a desonras.
— Elissa é muito esperta para procurar ajuda entre os seus. Deseja tão pouco como eu que
haja derramamento de sangue. Os membros de seu clã não estão bem preparados para uma
confrontação com soldados profissionais.
— Eu não passaria por cima da inteligência da dama. Não te invejo, Damian. Leve a outra
mulher à cama, mas te peço por favor que não ponha seus olhos em Maggie.
Damian abriu muito os olhos.
— Então temos essa... Maggie, né? Bom, poderia ter eleito pior. É uma moça atraente. Está
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ela interessada em ti?
— Não em converter‐se em minha amante — lamentou‐se Dickon. — Mas acabará entrando
em razão.
Damian riu.
— Sempre tão otimista, verdade, Dickon? Desejo‐te sorte — Damian olhou para a cozinha e
se perguntou o que estaria fazendo Elissa, mas se forçou a terminar de comer.
Era difícil engolir quando estava com a cabeça em outro lugar e certas partes de seu corpo
tão duras como uma pedra.
Imaginou a Elissa em sua cama, seu corpo nu mostrando‐se para ele sob a brilhante luz da
vela. Ele seria doce mas insistente, e a levaria ao clímax apesar da inexperiência dela.
Depois de uma noite de felicidade entre seus braços, estava convencido de que seu
inexplicável desejo por ela deixaria de perturbá‐lo.
Elissa encurralou nana na cozinha. — Necessito sua ajuda — sussurrou.
Nana a olhou com seus inteligentes olhos azuis.
— Então o Cavalheiro Demônio sucumbiu finalmente ao desejo que sente por ti.
Elissa ficou petrificada. — Sabe?
Nana riu.
— Sim, não sabia quando, mas sabia que ia acontecer. Está claro que lorde Damian quer te
levar a cama.
— Isso não é o que eu quero, nana.
Os nodosos dedos de nana acariciaram a face da Elissa. — Ah, moça, está segura?
— É obvio que estou segura — disse ela indignada. — Lorde Damian só quer que me meta
em sua cama até que chegue sua prometida. Não permitirei que me utilize assim. Por que não me
envia ao convento?
— Já conhece a resposta a isso. Não pode confiar em que fique ali, e não pode arriscar‐se a
que corra para os braços de Tavis Gordon. Se fracassa em cumprir os desejos do rei, poderia
perder Misterly.
— O que vou fazer, nana? — soluçou Elissa. — Espera que vá a sua cama esta mesma noite.
Tenho medo de que vá me buscar se não for.
— Desejas a morte de lorde Damian? — perguntou nana com astúcia. — Talvez possa te
ajudar a consegui‐lo. Poderia te dar uma poção...
A morte do Damian?
— OH, não, não, não quero carregar sua morte em minha consciência! Não... não poderia
suportá‐lo.
Era certo. Existia muitas coisas que a incomodavam em Damian, mas não desejava sua
morte.
— Deve existir outra maneira de evitar que... que me viole.
— Poderia te dar uma poção que adormeça para que a jogue no vinho. Não o matará —
acrescentou nana quando Elissa começou a protestar. — Só o fará dormir.
Elissa pensou rapidamente.
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— Se beber suficiente vinho, dormirá antes que possa... me fazer mal?
Nana examinou o rosto de Elissa. — É isso o que quer, moça?
— É obvio que é o que quero. Quando pode tê‐la preparada?
— Tudo o que preciso está em meu quarto. Leve‐me uma jarra de bom vinho francês e o
adulterarei.
Elissa foi rapidamente à despensa e encheu uma jarra com o vinho que se utilizava só em
ocasiões especiais. Logo se reuniu com nana no pequeno quarto que ocupava por trás da cozinha.
Elissa esteve com antecedência no quarto de nana e sabia o que ia encontrar. O ar estava
fragrante com o aroma das ervas. Havia molhos delas pendurando das vigas para secar e outras
estendidas sobre a mesa, esperando para serem amassadas para criar diversas mesclas e poções.
Nana aprendeu suas artes curadoras de sua mãe, que era uma herbolária5 muito respeitada.
Havia gente que dizia que nana era uma bruxa branca, mas ninguém a temia, porque utilizava seus
poderes com boa intenção.
Elissa encontrou nana em sua estreita mesa de trabalho.
— Aqui tem, moça — disse elevando um frasquinho que continha pó branco. — Valeriana.
Serve para tranquilizar às pessoas. A dose suficiente induz um sono profundo.
— Espero que tenha razão — disse Elissa com um profundo suspiro.
Nana verteu uma pequena quantidade na jarra e revolveu suavemente com uma colher de
madeira para mesclar os sabores. — Isto se encarregará de sua senhoria esta noite, mas, o que
acontecerá amanhã?
Não pode drogá‐lo todas as noites. Deseja‐te, moça, e não é dos que se rendem.
— Já me ocorrerá algo — disse Elissa com falsa fanfarronice. — Agora mesmo não posso
pensar além desta noite.
— Então vai, moça. Está se impacientando.
Elissa assentiu com brutalidade e saiu a toda pressa. Apertando a jarra contra si por medo a
derramar o conteúdo, dirigiu‐se como um raio para a torre. O coração pulsava com força nos
ouvidos enquanto subia pela estreita escada. "Isto precisa funcionar", refletiu pensando no líquido
que se agitava dentro da jarra. Necessitava cada preciosa gota se queria escapar dos cuidados de
Damian.
Elissa chegou ao final da escada e se deteve em frente à porta fechada de Damian. Aspirou
com força o ar para se armar de coragem e elevou a mão para chamar, mas a retirou a toda pressa
quando a porta se abriu de repente. Elevou a vista para o rosto do Damian e deu um passo para
trás. A luz da vela iluminava sua dura expressão, e um calafrio de medo percorreu sua espinha
dorsal.
— Por que demoraste tanto? — perguntou ele dando um passo atrás para deixá‐la entrar. —
Estava a ponto de ir atrás de ti.
Elissa passou por diante dele e colocou cuidadosamente a jarra de vinho sobre a mesa.
— Acreditei que teria sede e fui à despensa buscar uma jarra de vinho.
Damian a observou com desconfiança. — Suponho que jogou veneno. Adivinhei? 5 Mulher que fazia feitiços ou preparava venenos extraídos de ervas.
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— Por que ia fazer algo tão estúpido enquanto mantém a minha irmã e a minha mãe como
reféns?
— Mm — disse Damian olhando o vinho com receio. — Dou por certo, então, que deseja
isso tanto como eu?
Elissa se zangou.
— Dê por certo o que queira.
Damian serviu o vinho em duas taças e estendeu uma a Elissa. — Você beberá também, é
obvio.
— É obvio — disse Elissa dando o primeiro gole... que foi muito pequeno. Não tinha nenhum
sabor estranho, e relaxou.
Damian a observou durante um comprido instante e logo bebeu avidamente de sua própria
taça. Saboreou o vinho na língua e deixou que deslizasse pela garganta.
— Excelente. Francês, acredito. Seu pai tinha bom gosto — com o seguinte gole esvaziou a
taça e a deixou sobre a mesa. Logo se virou para ela. Elissa deixou sua taça e se afastou.
— Não posso fazer isto, meu senhor. Está me obrigando a fazer algo que não quero.
— Eu posso fazer que queira — disse Damian com uma convicção que fez com que
tremessem suas pernas.
A expressão dura e firme de seu rosto fez que Elissa fosse muito consciente de sua própria
vulnerabilidade.
— Não te farei mal, Elissa. Prometo‐te que encontrará prazer entre meus braços.
— Não quero nenhum prazer de ti.
— Você não me odeia. Posso senti‐lo.
Elissa sacudiu a cabeça.
— Não posso gostar de um inglês. Vai contra tudo o que é sagrado para mim.
— Me dê sua mão, Elissa.
Ao ver que ela se negava, Damian agarrou seu braço e puxou ela para a cama.
— Serei cuidadoso. Não há pressa, temos toda a noite.
Elissa ficou consciente de duas coisas: do sussurro misterioso das brasas na lareira e do
distante estrondo de um trovão. E de algo mais: o nu desejo que refletiam os olhos de Damian.
— Quer que te dispa, Elissa?
A cabeça da jovem deu voltas a toda pressa. — Não! Eu... o vinho! Quero beber.
— Bebe — disse Damian agarrando sua taça e passando para ela.
— Espera! Não quero beber sozinha. Bebe comigo.
Damian lançou um duro olhar e logo voltou a encher sua própria taça.
— Se te agradar o farei, mas se confia em que me embebede, esquece‐o. Não sou de beber
em excesso, e menos em ocasiões especiais como esta.
Damian pôs a taça entre suas mãos e Elissa deu outro gole, satisfeita ao ver que ele esvaziou
o seu de um longo trago. Temendo beber mais do que já o fez, Elissa deixou cair deliberadamente
a taça de entre suas mãos. Fez‐se em pedacinhos, tal e como ela pretendia, deixando uma mancha
vermelho sangue sobre o tapete.
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Damian lançou a Elissa um olhar de impaciência. Suspeitaria de algo?
— Sirvo‐te outra? Só servirá para prolongar o inevitável, já sabe.
— Já bebi o suficiente, obrigado — murmurou Elissa.
Observou‐o atentamente, esperando que o vinho adulterado fizesse efeito. Rezou para que
Damian tivesse consumido suficiente droga, porque duvidava muito que pudesse conseguir que
bebesse mais vinho.
Damian voltou‐a e começou a desatar laços e botões. O vestido caiu e Elissa tentou segurá‐
lo, mas Damian não permitiu. Afastou suas mãos e o objeto caiu a seus pés. Damian não fez
ameaça de tirar sua combinação, que chegava à altura dos joelhos. Tirou‐a do vestido e a estreitou
entre seus braços.
— Não pode nem suspeitar quanto te desejo.
— Não sei do que está falando. Você foi o primeiro homem que me beijou.
Damian adquiriu uma expressão envergonhada, como correspondia.
— Quer dizer que Tavis Gordon nunca...? Não posso acreditar nisso. É uma mulher preciosa,
Elissa. É difícil entender que nenhum homem tentou te beijar.
Damian considerava que era preciosa, pensou Elissa agradada.
Mas o prazer desapareceu rapidamente quando percebeu que um pilantra, lisonjeador como
o Cavalheiro Demônio diria qualquer coisa para conseguir o que queria.
Por sorte, ela não era tão tola para acreditar em suas adulações. Não havia nenhum homem
inglês vivo capaz de estar à altura de uma brava dama das Terras Altas.
Os lábios do Damian se abatiam a escassos centímetros dos seus; Elissa cheirou o vinho em
sua respiração, e algo mais: seu próprio aroma especial, que reconheceria em qualquer parte. Ia
beijá‐la.
OH, Deus, não podia suportá‐lo. Por que estava ainda de pé? Supunha‐se que já devia estar
inconsciente... ou ao menos, adormecido. Elissa dissimulou um sorriso quando ele cambaleou.
Então seus lábios caíram em picado sobre os seus e os pensamentos da Elissa se fizeram em
pedacinhos. Não era consciente de outra coisa mais que do sabor do Damian, de suas mãos
deslizando livremente sobre ela, de seu corpo duro apertando‐se com anseio contra o seu. Elissa
fechou os olhos, e quando voltou a abri‐los, o encontrou olhando‐a com intensidade. Ela conteve o
fôlego.
Não podia respirar, não podia mover‐se. Reuniu toda sua força e tentou afastá‐lo de si, mas
sua resistência não era completa, um fato do qual Elissa era muito consciente.
— Não escapará de mim — murmurou Damian contra seus lábios.
— Estive preparado para ti desde o dia que nos conhecemos.
Damian agarrou sua mão e a pôs na virilha.
— Assim é como se sente um homem excitado, Elissa. Até que ponto é consciente do que
ocorre entre um homem e uma mulher quando estão na cama?
— Conheço o suficiente para saber que está mal quando se faz fora do vínculo do
matrimônio — espetou.
— Estou falando do aspecto físico. Sabe o que vai ocorrer esta noite?
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— Não vai ocorrer nada.
— Está equivocada, querida. É impossível que te deixe partir agora.
Antes que Elissa pudesse formar um pensamento coerente, Damian a agarrou nos braços e a
colocou no centro da cama. Respirava com dificuldade. Não era necessário ser uma mulher
experimentada para saber que era um homem no cio, completamente carregado e desejoso de
pegar o que queria.
Elissa elevou a vista para olhá‐lo, hipnotizada por sua firme expressão. Seus olhos tinham
uma expressão adormecida, e um sorriso torcido indolente e sensualmente pecador cruzava sua
face.
Como era possível que seguisse de pé? Falhou‐lhe nana? Então o olhou mais de perto.
Estava com as pupilas dilatadas e o sorriso um pouco murcho. Rezou a Deus para que se
desvanecesse logo. Não o fez.
Seu sorriso de vencedor aumentou o pânico da Elissa, que se ergueu sobre os cotovelos.
Damian deslizou o olhar para seus lábios entreabertos e logo a baixou lentamente para seus seios
cobertos de linho e abriu suas pernas nuas. Quando Damian se colocou de cócoras a seu lado e
sussurrou em tom baixo e arrebatado exatamente o que queria fazer com ela, Elissa perdeu a
capacidade de respirar.
Engoliu saliva convulsivamente quando Damian cobriu seu corpo com o seu e sua boca
voltou a encontrar a sua. Seus beijos produziram espirais de calor que atravessaram seu corpo, e
odiou a si mesma por isso.
Era um inglês quem a estava beijando, um homem que roubava e saqueava os habitantes
das Terras Altas, e sim, matava‐os.
A culpa se apoderou implacavelmente da Elissa enquanto renovava seus esforços para
resistir a ele, mas sua força era muito superior. E então ocorreu algo estranho e aterrador: ela
começou a devolver seus beijos.
Rodeou seu pescoço com os braços e o atraiu para si, e seus lábios se suavizaram e se
amoldaram aos seus. Escutou‐o rir com um som escuro e sedutor que surgiu do mais profundo da
garganta, e Elissa soube que aquele canalha bastardo vencera.
— Deixa que eu tire primeiro a roupa — ofegou Damian em seu ouvido.
Tirou a roupa e a afastou a um lado.
Se Elissa tivesse tido o controle de sua mente, teria saltado da cama e teria fugido. E
entretanto, não pôde fazer outra coisa que ficar olhando‐o boquiaberta. Olhou até saciar seu largo
e esculpido peito, avultados bíceps e as pernas fortemente musculosas. Embora tentou evitar, o
olhar da Elissa deslizou para sua grossa virilidade. Surgiu‐lhe um gemido de entre os lábios.
Nunca imaginou que um homem completamente no cio fosse tão grande. Mataria‐a.
O medo se apoderou completamente dela. Mas antes que pudesse sair fugindo, Damian
agarrou a bainha da combinação e puxou para tirá‐la. Uma mão escura mantinha ela em seu lugar
enquanto que com a outra, procurava entre suas pernas e a acariciava naquele ponto.
— Não! — Elissa tremeu, sacudida por violentos estremecimentos de excitação. Que o diabo
a levasse, mas daquilo estava gostando e muito.
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— Shh — Damian se deixou cair a seu lado e logo sacudiu a cabeça, como se estivesse
desconcertado por algo.
— O que ocorre? — perguntou Elissa, confiando, rezando para que o vinho adulterado com a
droga estivesse por fim funcionando.
Damian voltou a sacudir a cabeça. — É estranho.
— O que é estranho? Quer um pouco mais de vinho?
— Não, quero estar em pleno uso de minhas faculdades quando te fizer o amor. Abre as
pernas, querida — sussurrou.
Damian a colocou debaixo dele e se situou entre suas coxas. Seus lábios roçaram um seio e
introduziu um de seus tenros mamilos na boca. Elissa gemeu e se arqueou contra ele quando
começou a sugá‐lo,
Então sentiu algo quente, duro e grande que se apertava contra o centro de seu corpo, e
esperou com medo a que chegasse a dor. Sabia muito pouco a respeito do que aconteceria, e
acreditou em que se inteiraria no dia de suas bodas. Agora um desprezível inglês ia possuí‐la e, por
alguma estranha razão, a única coisa que lamentava era ter permitido que a seduzisse o inimigo.
Que classe de mulher era, se se via capaz de trair seus princípios por um momento de
prazer? A culpa se apoderou dela sem nenhuma piedade.
— Elissa, me olhe.
Damian arrastava de forma estranha as palavras. Ela ergueu a vista para olhá‐lo e percebeu
que estava com os olhos frágeis. Suas sobrancelhas estavam unidas, formando uma faixa escura
que cruzava sua fronte.
— Assim é como quero te ter. Debaixo de mim, me olhando com esses maravilhosos olhos
verdes. Por todos... os diabos! O que... o que está acontecendo? Eu? Não posso... pensar.
"Por fim", pensou Elissa aliviada. A droga que havia no vinho funcionava. Entretanto, ainda a
assaltavam punhaladas de má consciência por ter encontrado prazer nos beijos do Damian e
desfrutar excessivamente de suas carícias.
Elissa deixou escapar um suspiro quando Damian desabou em cima dela. Começou a
escapulir de debaixo dele, e então Damian levantou a cabeça e a olhou fixamente com uma
clareza que contradizia o fato de que estivesse drogado.
— Maldita seja! O que... o que me... fez? — então pôs os olhos em branco e ficou
completamente quieto.
Elissa o empurrou e saiu do colchão, cambaleando até que esteve longe de seu alcance. Mas
não tinha do que se preocupar. Damian não ia se mover durante bastante tempo. Quanto mais o
olhava, mais temia que a droga o tivesse matado, e isso não era o que queria. Vestiu‐se
rapidamente sem afastar em nenhum instante o olhar do rosto do Damian.
Aspirando com força o ar para se tranquilizar, Elissa se aproximou com cautela à cama. Ao
ver que Damian não fazia nenhum movimento ameaçador, se aproximou mais dele e pôs sua mão
no peito, aliviada ao sentir a rítmica cadência de seu coração sob sua palma. De repente se mexeu,
e Elissa se retirou bruscamente para trás, mas Damian não deu nenhuma amostra de que
despertou.
Connie Mason
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Então ela deu a volta e saiu dali. Quando esteve a salvo em seu próprio quarto, Elissa se
permitiu o luxo de relaxar.
— Funcionou a droga, moça?
Elissa girou sobre seus calcanhares, assombrada ao ver nana de pé atrás dela.
— Sim, nana, obrigado. Mas demorou mais do que esperava.
— Lorde Damian não é um homem pequeno. Deveria te ter advertido de que não funcionava
de maneira imediata — dirigiu a Elissa um olhar perspicaz. — Está bem?
Elissa se ruborizou e afastou a vista.
— Sim, ele não... bom, adormeceu antes de... de que acontecesse.
— Não preciso te dizer que vai ficar furioso quando despertar. Se eu fosse você, moça, se
manteria afastada de seu caminho até que ele esfrie a ira.
— Essa é minha intenção.
Nana grunhiu.
— A minha também, mas temo que será você a que sofrerá sua fúria. Não deveria te ter
ajudado. Isto só adiou o que o destino já decretou.
Elissa levantou a cabeça de repente.
— Nana! O que está dizendo? Está insinuando que Damian e eu... que nós...
— Sim, moça. Isso é o que vai acontecer.
— Entre Damian e eu não vai acontecer nada. Não o permitirei.
— Está me dizendo que as carícias do Demônio a desgostaram? Não posso acreditar.
— Não o compreende, nana — gemeu Elissa. — As carícias de Damian não me desgostaram,
justamente o contrário. Desfrutei de seus beijos, recebi com prazer suas mãos em meu corpo e
odiei a mim mesma por isso. Sinto‐me como uma traidora. Se a droga não tivesse funcionado,
teria permitido que me tomasse como a uma... prostituta.
Os soluços sacudiram a Elissa. Nana deu um tapinha no seu ombro e sussurrou palavras de
consolo. A culpa era uma emoção muito poderosa, e Elissa estava sofrendo uma dose em dobro.
— Não te assuste, moça. Está experimentando a paixão pela primeira vez.
— Mas eu queria viver a paixão com Tavis Gordon, não com um abominável inglês —
soluçou Elissa. — Desejar a alguém me converte em uma desavergonhada, Nana?
— Não, moça. É uma mulher que se sente atraída por um homem a quem quer odiar.
Deveria ter me escutado quando te disse que não se casaria com Tavis Gordon.
Elissa observou à anciã com medo.
— Vou me converter em uma solteirona para o resto de minha vida? Nana riu para si
mesma.
— Uma solteirona? Este mesmo ano dará um filho a seu marido. Elissa retrocedeu,
consternada.
— Está louca! Me deixe em paz, suas tolices estão me dando dor de cabeça — deu
deliberadamente as costas a sua velha nana.
— Muito bem, moça, mas não perca tempo procurando marido; tem‐no diante de seu
próprio nariz.
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Quando Elissa deu a volta para soltar uma resposta mordaz, nana já partira pela porta.
Capítulo 07
Damian abriu os olhos fazendo um esforço, consciente de várias coisas ao mesmo tempo:
doía‐lhe a cabeça, estava com um sabor asqueroso na boca, e a luz do sol se filtrava através da
janela.
Não era próprio dele dormir mais além do amanhecer. Franziu as sobrancelhas em gesto de
dolorosa concentração enquanto tentava recordar a noite anterior.
Recuperou a memória só parcialmente. Elissa...
Damian girou com cuidado o corpo e estirou o braço ao longo da cama. O espaço que havia a
seu lado estava vazio, e de repente recordou. Apesar de que estava com o cérebro destroçado,
recordou o vinho que bebeu ante a insistência da Elissa, e a raiva se apoderou dele. O drogou! A
fúria o levou a levantar‐se da cama. Assim que seus pés tocaram o chão, cambaleou enjoado e se
agarrou a um dos postes da cama para evitar cair.
Essa tigresa embusteira! Aquela era a primeira vez que uma mulher zombava dele, e Damian
prometeu que seria a última. Seria o bobo de todo o mundo se as pessoas chegassem a inteirar‐se
disto.
Aproximou‐se cambaleando até a bacia do lavabo, encheu‐a de água com a jarra e afundou a
cabeça nela. Depois de duas mergulhadas, recuperou os sentidos e obrigou sua mente a recordar
os acontecimentos da noite anterior.
Suspeitara do vinho desde o começo. Não era próprio de Elissa mostrar‐se tão serviçal.
Deveria ter deixado se levar por seu instinto, mas estava tão malditamente excitado que não podia
pensar em outra coisa que não fosse estar dentro da Elissa. E como um estúpido apaixonado, viu‐a
beber ela mesma do vinho e acreditou que estava a salvo.
Sim. Foi um maldito estúpido.
Sentiu uma onda de amargura. Tentou matá‐lo? Descartou imediatamente aquele
pensamento. Se tivesse desejado fazê‐lo, teria enfiado uma adaga no seu coração enquanto
estava inconsciente.
Elissa não era uma assassina; era uma conspiradora. Teria que vigiá‐la estreitamente, estar
prevenido para seu próximo truque. Mas tanto se ela quisesse como se não, a faria dele. E logo.
Damian encontrou Elissa no pátio com a Lora. Ela conseguiu evitá‐lo durante toda a manhã,
mas não estava disposto a deixá‐la escapar tão facilmente de sua ira.
Lora foi a primeira em vê‐lo.
— Damian! Quer ver a pulseira de palha que me fez Lissa? — elevou a criação de sua irmã
para Damian para que a visse.
Damian sorriu a Lora e logo lançou um olhar sombrio a Elissa, agradado ao perceber o brilho
do medo em seus olhos verdes. Tinha motivos para temê‐lo.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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— Tem bom aspecto, pequena — disse centrando sua atenção de novo na menina.
— Estou muito bem, obrigado. Nana diz que já posso me levantar e andar por aí.
— Essa é uma boa notícia — disse Damian sinceramente agradado.
Justo então apareceram correndo dois meninos que agarraram a Lora pela mão.
— Veem conosco aos estábulos, Lora. Manchitas teve filhotes.
— Posso ir, Lissa? — perguntou a menina esperançada.
— Não, não acredito que...
— Vá com eles, Lora — disse Damian com um tom de voz que não permitia discussões. — Eu
gostaria de falar a sós com sua irmã.
Lora e seus amigos se foram correndo.
— Quem são? — perguntou Damian. — Vi a esses meninos por aqui, mas não sabia quem
eram.
— São os netos de Lachlan — disse Elissa. — Seu pai morreu em Culloden e Lachlan os
cuidou desde que eram uns bebês. E agora, se me desculpar...
— Não tão depressa. Veem comigo — disse ele agarrando‐a pelo braço para evitar que
escapasse.
Elissa arrastou os pés, mas não serviu de nada. Damian puxou ela até que chegaram a um
lugar onde ninguém pudesse ouvi‐los. Deteve‐se tão bruscamente que Elissa ricocheteou contra
Damian.
Então a virou para ele com o rosto marcado por uma expressão acusadora.
— Tentaste me matar! Acredita que se houvesse conseguido teria conseguido escapar da ira
de sir Richard? Teria te enviado à morte.
Elissa empalideceu. Matá‐lo? Como podia pensar isso dela? — Não, não fiz nada semelhante.
— Que droga utilizou?
— Uma poção para dormir. Não te fez nenhum dano.
— Traição! Tanto me despreza?
— É um inglês! — disse Elissa, como se isso o explicasse tudo. — Eu pertenço a Tavis
Gordon.
Damian agarrou seus ombros e a atraiu para si com expressão de absoluta firmeza.
— Pertence‐me. Aceita‐o. Seu destino está em minhas mãos.
Virá a minha cama, Elissa, sem que eu precise te obrigar. Juro‐o!
— Nunca! O fato de que você seja inglês o faz impossível.
Sua postura inflexível deveria tê‐la advertido. Uma silenciosa tensão se abateu sobre eles.
Elissa sabia que devia dizer algo para romper o tenso silêncio, mas as palavras morreram em sua
boca quando percebeu que ia beijá‐la. Embora era a última coisa que desejava Elissa, elevou o
rosto e umedeceu os lábios entreabertos com a ponta da língua.
— Tigresa — disse Damian com voz baixa e enlouquecida. — Enquanto me golpeia com suas
palavras, seu corpo me dá a bem‐vinda. Se diverte em me seduzir?
Elissa piscou. Por que permitia ao Damian que fizesse isto? Parecia que seguir pelo caminho
da traição lhe proporcionava um grande prazer. Teria que estar mais alerta no futuro.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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Não devia permitir que o Cavalheiro Demônio, tão sombrio e sedutor, destroçasse seu
orgulho e sua honra.
Sacudindo a cabeça para se livrar do sedutor aroma do Damian, Elissa lutou por escapar. —
Parte!
Damian riu enquanto a estreitava com força entre seus braços.
— Ainda não — grunhiu.
Elissa fechou os olhos quando sua boca tomou a sua. Damian tinha os lábios suaves, mas o
resto de seu corpo estava rígido e resistente. Agarrando‐se torpemente a seus ombros, lutou
contra o desejo de Damian tanto como contra o seu próprio.
Não deveria ser assim. Ela não deveria... não podia desejá‐lo. Passou a maior parte de sua
vida odiando aos ingleses. Que tinha aquele homem de diferente?
De repente, Damian deixou de beijá‐la e se afastou. Tinha uma expressão estranhamente
tenra. Mas sua voz encerrava um tom duro quando disse:
— Vejamos quem pode resistir mais tempo, minha senhora. Comparada comigo, você é uma
noviça neste jogo.
Elissa o olhou com zomba.
— Eu não estou jogando a nada, meu senhor.
— As mulheres sempre jogam. Forma parte de sua natureza — o sorriso do Damian a pôs
muito nervosa. — A porta de meu quarto estará sempre aberta para ti. Veem ver‐me quando
desejar para conhecer mais sobre o prazer que te prometi.
Ela girou a cabeça. — Nunca irei a tua procura.
Então ocorreu algo estranho. Elissa distinguiu pela extremidade do olho a um homem que
era estranhamente familiar entrando no pátio com um grupo de comerciantes.
Usava o saiote escocês dos Fraser, e uma boina enfiada até a fronte. Mas durante um
fascinante momento, o homem levantou a cabeça e olhou diretamente ao Damian e a ela.
Elissa o reconheceu e sentiu como o calor saía do rosto. Tavis Gordon!
— O que ocorre? — perguntou Damian com secura. — Encontra‐te mau?
Suspeitaria Damian do motivo de sua distração?
— Não ocorre nada. Já é hora de que vá procurar a Lora e voltemos para o castelo para
começar com suas lições.
Damian a soltou imediatamente.
— Lora é uma menina muito inteligente, a ela farão bem as lições. Você mesma dá as aulas?
Elissa assentiu.
— Se não tem nenhuma objeção.
— Não, assim evitará te colocar em confusões.
Elissa se apressou. Nunca entenderia Damian. Era um soldado endurecido, um adversário
implacável e cruel em muitos sentidos, mas parecia genuinamente preocupado por Lora e
Marianne. Era como se fossem dois homens diferentes, e a cara que mostrava a ela não fosse a
mesma que apresentava ante sua mãe e sua irmã. Mas Elissa tinha outros assuntos dos quais
preocupar‐se. O que estava fazendo Tavis Gordon em Misterly?
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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Tavis apareceu de um nada quando ela dobrou a esquina a caminho dos estábulos para
recolher Lora. Ele a agarrou pelo braço e puxou bruscamente Elissa para arrastá‐la ao interior das
sombras dos estábulos.
— Não deveria estar aqui, Tavis.
— Precisava verte. Está bem? O que te fez esse bastardo inglês?
Elissa se perguntou se Tavis viu como Damian a beijava.
— Não me fez nada. Supunha‐se que deveria me enviar ao convento, mas lorde Damian
acreditou que não era uma boa ideia. Talvez me envie a Londres para que o Hannover se ocupe de
mim.
O inglês não quer que nos casemos e unifiquemos nossos clãs.
— Não podem nos deter — assegurou Tavis com ferocidade.
— O que você pode fazer? É perigoso para ti que esteja aqui.
— Este lugar não é seguro — sussurrou Tavis. — Te reúna esta noite comigo nos estábulos,
depois do jantar. Não deixe que ninguém te veja. Então te explicarei tudo.
Escutaram vozes e Tavis deslizou ainda mais entre as sombras.
— Esta noite, moça, não me falta.
Tavis desapareceu pela esquina no momento em que Lora e seus amigos fizeram sua
aparição.
— Precisa ver os gatinhos, Lissa! São adoráveis.
— Em outro momento, querida — assegurou sua irmã. — É hora de retomar as lições.
Subimos à sala de aula e começamos?
— Se você o diz — respondeu a menina sem nenhum entusiasmo. — Posso sair mais tarde a
brincar?
— Já veremos como te encontra — respondeu Elissa evasivamente.
O dia transcorreu muito devagar para Elissa. Passou duas horas ensinando as letras a Lora e
visitou Marianne durante uns minutos. Depois foi à cozinha para ajudar com a refeição do meio‐
dia.
Faltavam muitas horas para seu encontro com Tavis, e se perguntou onde estaria escondido.
Teria vindo para levá‐la? Não partiria sem sua mãe e sua irmã. Embora Damian as tratasse bem,
isso podia mudar em um abrir e fechar de olhos se as deixasse a sua mercê.
Se Marianne se encontrasse com forças para viajar, há muito tempo que teria tentado tirá‐la
dali através do túnel secreto. Perguntou‐se vagamente se Damian teria encontrado a rota de fuga
ou se seguiria procurando‐a.
Damian observou Elissa com os olhos entrecerrados. Parecia distraída, e soube que andava
atrás de algo. E não seria nada bom. Negava‐se a olha‐lo nos olhos, embora sem dúvida era
consciente de seu escrutínio.
Damian sabia que não estava preocupada com sua família porque ele foi vê‐las antes e se
encontravam perfeitamente. Lady Marianne parecia estar de muito bom ânimo, e isso o agradava.
Ficou impactado ao ver sir Brody em seu quarto, e mais ainda ao descobrir que não era a
primeira vez que o amadurecido cavalheiro de cabelo cinza visitava Marianne.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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Estava acontecendo algo do qual ele não se inteirou? Ou estava se deixando levar pela
imaginação?
Damian esperou a que se esvaziasse o salão depois do jantar para enfrentar a Elissa.
Interceptou‐a quando ela se dirigia para a sala das mulheres para meter‐se na cama.
— Eu gostaria de falar contigo, Elissa.
— Falar contigo me fatiga, meu senhor. Eu gostaria de me retirar.
— Em seguida. Ocorre algo?
Elissa o observou com os olhos entreabertos. Damian a achava deliberadamente evasiva e
estava seguro de que ela estava ocultando algo.
— Sou sua prisioneira, meu senhor. O que outra coisa pode ocorrer além disso?
O inquisidor olhar de Damian se deslizou sobre ela durante um comprido instante.
— Se está planejando alguma traição, te esqueça disso. Não pode ganhar. Vete à cama,
senhora. Se desejas minha companhia, não tem mais que subir os degraus da torre — dito aquilo,
deu a volta e se afastou dali.
Elissa ficou olhando, admirando partes dele nas quais não deveria andar se fixando. Vira‐o
nu; sabia o que havia debaixo daquela roupa. Como não ia recordar os fortes músculos que existia
debaixo daquela pele marcada com cicatrizes de guerra? Era difícil acreditar que pudesse existir
um homem mais atraente fisicamente que o Cavalheiro Demônio.
A lembrança daquela lança longa e grossa que tinha entre as pernas devolvia o maravilhoso
prazer que proporcionaram seus beijos e suas carícias. Elissa agitou com gesto zangado a cabeça.
Ter pensamentos mórbidos a respeito de seu inimigo era perverso; precisava deter aquele
absurdo.
Elissa chegou ao final das escadas e decidiu dar boa noite a sua mãe antes de meter‐se em
seu quarto para preparar‐se para seu encontro com Tavis.
Levou uma surpresa ao encontrar a sir Brody sentado em uma cadeira ao lado da cama de
sua mãe. Ele ficou imediatamente de pé.
— Lady Elissa.
— Sir Brody. Que amável por sua parte fazer companhia a minha mãe. Sei que se sente
muito só tendo que estar tanto tempo na cama.
— Sir Brody me pergunta com frequência minha opinião sobre as tarefas cotidianas de
Misterly. Está fazendo um grande trabalho como administrador, mas...
— Não poderia fazê‐lo sem lady Marianne — apressou‐se a acrescentar sir Brody. — Se me
desculparem, desejo uma boa noite às duas.
Elissa ficou impressionada pelo modo em que o olhar de Marianne seguia a potente figura
de sir Brody.
— Parece um homem simpático... para ser inglês — aventurou Elissa. — Dá a impressão de
sentir‐se cômodo aqui contigo.
— Como te disse antes, consulta‐me nos assuntos do castelo. Eu fui a senhora deste lugar
durante muitos anos e conheço tudo o que terá que saber sobre como governar uma propriedade
destas dimensões.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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— Espero que suas visitas não a fatiguem, mamãe.
— Queria falar de algo em concreto comigo, querida?
"Quero te contar do Tavis".
— Não. Queria me assegurar de que tem tudo o que necessita para passar a noite.
— Nana e Maggie cuidam de mim muito bem.
— Então te dou as boa noite.
Marianne agarrou sua mão. — Espera! Parece preocupada.
— É tão óbvio?
— Para mim sim. Trata‐se de lorde Damian? Está te tratando mal?
Elissa afastou a vista.
— Não, não exatamente. É só que... OH, mamãe, por favor, não conte a ninguém.
— Contar o que? Pode me dizer o que seja, filha, que eu o compreenderei.
Elissa precisava falar com alguém, e sua mãe parecia a opção lógica. Aspirou com força o ar
para ganhar forças. — Vi Tavis. Está em Misterly.
Marianne se sentou um pouco mais reta.
— Tavis? Aqui? Não pode ser. Será que esse homem está louco? Falaste com ele? O que é
que quer?
— Não sei o que é que quer. Vou me encontrar com ele esta noite nos estábulos.
— OH, Elissa, não o faça. Não pode sair nada bom disto.
— Preciso fazê‐lo, mamãe. É meu prometido. Tavis pode nos ajudar a escapar. Se nos
aliarmos, os Gordon e os Fraser podem jogar aos diabos os ingleses de Misterly.
Marianne deixou escapar um suspiro tremente.
— Eu perdi como todos no Culloden, ou talvez mais. Mas até mesmo eu sei que chegou o
momento de deixar a luta. Os habitantes das Terras Altas foram derrotados e severamente
castigados. Os ingleses controlam agora nossa terra. Conspirar com Tavis Gordon poderia
exterminar a nosso clã, e sei que não é isso o que quer. Já perdemos a muitos seres queridos.
As torturadas palavras da Elissa surgiram do mais profundo de sua alma.
— Quero recuperar meu lar; quero viver livre dos malditos ingleses. Quero que o Cavalheiro
Demônio desapareça de minha vida.
— Aceita aquilo que não pode mudar — aconselhou‐a Marianne. — Não escute ao Tavis, é
um agitador. Nem nana nem eu pensamos que seja bom para ti.
— E o que é bom para mim? A vida de uma monja? O fechamento? A morte?
Uma lágrima escorregou pela face de Marianne, e Elissa se sentiu imediatamente
arrependida.
— Me perdoe, mamãe. Não era minha intenção te machucar — inclinou‐se para diante e
deu um beijo na testa de sua mãe.
— Está cansada. Deixarei‐te sozinha.
— Me prometa que não fará nenhuma tolice — suplicou Marianne. — Pensa no que é
melhor para os membros de nosso clã. Lorde Damian não é tão mau. Sir Brody diz que Misterly
está prosperando sob seu comando.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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— Prometo‐lhe isso, mamãe — disse Elissa com cautela.
Elissa correu para seu dormitório e colocou uma capa escura com capuz. Olhou através da
estreita janela e viu a lua deslizando por trás de um banco de nuvens. Sorriu. Chegou o momento.
Damian estaria agora em seu quarto, e os soldados nos barracões.
Havia um guarda no salão, mas Elissa foi capaz de passar agachada diante dele e chegar até a
passagem que levava a cozinha. Elissa se perguntou vagamente se aquele guarda estaria ali
apostado porque Damian descobrira o túnel. Mas naquele momento tinha outras coisas em
mente.
Os fogos da cozinha estavam já em brasas e não havia ninguém por ali. Elissa abriu a porta
de trás e saiu ao exterior, tropeçando pelo jardim da cozinha em direção aos estábulos. Entrou nos
estábulos em penumbra, impregnadas de um penetrante aroma de cavalo e a couro, e se deteve
para recuperar a compostura. Um gemido de surpresa escapou de entre os lábios quando um
braço forte a agarrou pela cintura.
— Por que te atrasou?
— Tavis, deste‐me um susto de morte.
Ele a arrastou até o canto mais escuro dos estábulos antes de falar.
— Alguém te viu?
— Não. O que está fazendo em Misterly? O que quer de mim?
— Me parece que é óbvio — murmurou Tavis ao seu ouvido. — É minha prometida.
— Eu... confiava em que seguisse me considerando sua prometida. OH, Tavis, aconteceram
tantas coisas desde o dia que íamos nos casar ...
— Nada bom, suponho. Há uma maneira de que possamos estar juntos, moça, como queria
seu pai.
Elissa albergava suas dúvidas, mas estava disposta a escutar. Precisava fugir o mais
rapidamente possível da pouco sutil sedução de Damian.
— Vieste para me levar contigo?
— Ainda não, moça. Há algo muito importante que pode fazer por mim e pelos membros de
nossos clãs que perderam a vida em Culloden.
— O que posso fazer eu, Tavis? Não sou livre de ir e vir como eu gostaria. Há alguém me
vigiando constantemente.
— Sim, o Cavalheiro Demônio te vigia — baixou a voz em tom malicioso. — Vi‐te com ele
hoje. Deseja‐te, moça. Podemos voltar seu desejo contra ele se seguir minhas ordens.
Elissa enrugou sua suave testa. — Como é isso?
Embora não pudesse ver o rosto de Tavis, podia sentir o veneno que o alimentava por
dentro.
— Te entregando a ele, e logo o matando quando estiver mais vulnerável. Já nos
ocuparemos dos outros. Dediquei minha vida a matar ingleses e a perseguir os sobreviventes para
que retornassem a chão inglês. Os Gordon, os Fraser e seus aliados estão em posição de
converter‐se de novo na maior força nas Terras Altas. Quando Damian Stratton estiver morto e
Misterly seja meu, converterei a fortaleza em um lugar inexpugnável aos ataques ingleses.
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Sabor do Pecado 03
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A Elissa era difícil respirar. Como podia Tavis sugerir semelhante plano... e semelhante papel
para ela nele? Eram necessárias tantas morte e tantos assassinatos?
Queria recuperar Misterly, mas não ao custo das vidas dos membros de seu clã... ou da do
Damian.
— O Cavalheiro Demônio gosta muito de você — continuou Tavis. — Vi‐o com meus próprios
olhos. Já te possuiu?
— Tavis!
— Me desculpe, moça, mas você é a única que pode colocar o inglês em uma posição
vulnerável, e é melhor fazê‐lo em seu dormitório.
Elissa ficou paralisada. Sentia‐se intumescida, traída. Seu próprio prometido queria que se
deitasse com o inimigo. — Quer que assassine Damian? A sangue frio?
— Sim. Faz tudo o que for necessário, nenhum habitante das Terras Altas te julgará com
dureza.
— Quer que permita que se deite comigo e que logo o mate — repetiu. Estava tentando
desesperadamente entendê‐lo.
Tavis a agarrou pelos braços, seu desespero era evidente.
— Me acredite, moça, é a única maneira. O Demônio é um soldado ardiloso e experiente,
matará a muitos de nós antes que possamos acabar com ele. Você é a única que pode se
aproximar suficiente para matá‐lo.
— Não!
— Esqueceste já de que seu pai e seus irmãos jazem apodrecendo em suas tumbas? Ou que
os Gordon, os Fraser e os valorosos membros de seu clã foram assassinados em Culloden? Agora
pensa no homem que se chama a si mesmo senhor de Misterly. Ele esteve em Culloden; talvez
matou a alguns dos membros de seu clã. Talvez colocou o golpe mortal a um de seus seres
queridos. Deve fazê‐lo, moça. Por seu clã e por sua honra.
Elissa se retirou mentalmente. Sua relação com Damian poderia ser imprevisível, mas não
podia matá‐lo.
— Não posso.
— Toma, agarra esta adaga. Esconde‐o sob sua roupa. O ato deve ser concluído logo. A partir
desta noite, estarei te observando do bosque, esperando a que me faça um sinal.
— Que sinal?
— O Demônio ficou com a torre norte só para ele?
— Sim.
— Muito bem. Quando o matar, coloque uma vela acesa diante da janela aberta. Esse será o
sinal para que nos aproximemos da porta de trás, em que não há guardas, e esperemos a que você
nos deixe entrar. É inteligente, moça, não deverá ter problemas para escapulir do castelo e nos
abrir o portão. Uma vez dentro, dispersaremo‐nos e mataremos aos soldados e os guardas
adormecidos. Quando encontrarem o inimigo dentro do castelo e a seu senhor morto, se criará
uma grande confusão que ao final se converterá em sua derrota. Os mataremos antes que possam
se armar.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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Rígida pela impressão, Elissa fechou os olhos e sussurrou: — Não posso fazer.
— Deve fazê‐lo! Toma — Tavis pôs a adaga na mão. — Agarra a adaga. Estarei esperando
seu sinal.
Apesar de sua reticência, Elissa agarrou o cabo da adaga com os dedos. Abriu os olhos de
repente.
— Não, não mancharei as mãos com seu sangue — mas quando tentou devolver a arma,
Tavis já desaparecera.
Elissa estremeceu. Não podia fazê‐lo. Não o faria. Tavis estava louco ao lhe pedir uma coisa
semelhante. Gostava tão pouco como ele que houvesse ingleses em terra escocesa, mas o que
Tavis estava pedindo era um assassinato, e isso ia além de sua capacidade. Turvada pelo
assombroso giro que estavam tomando os acontecimentos, Elissa retornou ao castelo em um
estado de atordoamento.
Quando chegou à porta da cozinha, entrou às escondidas, como saiu, e se dirigiu para seu
dormitório.
Elissa se deixou cair sobre a cama. Sua mente era um torvelinho.
Transcorreu muito tempo antes que encontrasse a energia suficiente para se levantar e tirar
a capa. Percebeu com crescente horror que seguia segurando com força a adaga que Tavis pôs na
sua mão.
Lançando um grito de terror, jogou a adaga longe. Caiu ao chão com um ruído metálico.
Aquele som a tirou de seu estado de confusão. Elissa recolheu a adaga e procurou a seu redor um
lugar para escondê‐la.
Desesperada, guardou‐a debaixo do colchão.
Tentou não pensar em Tavis Gordon na manhã seguinte. Dedicou‐se a suas tarefas diárias e
se negou a responder às perguntas de sua mãe sobre seu encontro com Tavis. Transcorreu um dia
mais.
E outro. E quanto mais tentava evitar Damian, mais suspeitava ele de quão distraída estava.
Elissa estava compartilhando a comida com sua mãe quando Marianne disse:
— Parece inquieta, filha. Tem algo que ver com Tavis Gordon? O que quer de ti? Confiava em
que me contaria como transcorreu seu encontro com ele sem que tivesse que perguntar isso.
— Tavis só queria... me perguntar como estávamos indo. Marianne pôs seus belos olhos
verdes em branco.
— Não te acredito. Está te incomodando lorde Damian, então? — examinou o rosto da
Elissa. — Ofendeu‐te de algum jeito?
— Ofende‐me o fato de que esteja aqui — assegurou Elissa com ferocidade. Mas logo
adoçou o tom de voz. — Não tema, mamãe. Não acontece nada, estou bem. Só estou ansiosa
porque estou desejando que te recupere e possamos partir antes que lorde Damian descubra o
túnel. Esteve procurando‐o com esforço.
— De verdade quer partir, querida?
Elissa faria qualquer coisa para escapar do sensual encanto de Damian.
— Sim, isso é o que quero.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 73
— Então farei um esforço para me levantar desta cama e estar o suficientemente forte para
fugir com Lora e contigo.
A Elissa iluminaram seus olhos.
— OH, mamãe, eu quero que se ponha bem por mim e pela Lora, e também por ti mesma,
porque eu não partirei de Misterly sem ti.
— Amanhã pedirei a Maggie que me ajude a caminhar um pouco para exercitar as pernas.
— Amo‐te, mamãe — disse Elissa dando a sua mãe um rápido abraço.
A porta se abriu de repente e Lora entrou precipitadamente. — Mamãe! Damian me deixou
montar seu cavalo! Sabia que Cosmo andava com ele durante as batalhas? — a menina dirigiu o
olhar para trás.
— Conte a mamãe quão valente fui, Damian.
Elissa ficou paralisada quando Damian apareceu na soleira. — Espero não incomodar, lady
Marianne.
— Absolutamente, meu senhor. Por favor, entre e me conte a aventura de minha filha.
Damian sorriu a Lora.
— A verdade é que Lora foi muito valente, e Cosmo se comportou como um perfeito
cavalheiro. Sentei‐a diante de mim e demos uma volta pelo pátio.
Elissa baixou a vista quando o olhar chapeado de Damian cruzou com o seu. A teria delatado
sua expressão de culpa? — Lady Elissa — disse Damian com tom autoritário. — Quero falar um
momento a sós contigo, por favor.
— Vá, filha — interveio Marianne. — Lora e eu estaremos bem aqui. Não pode imaginar
quão contente estou ao ver que sua saúde melhora. Obrigado, lorde Damian, pelo bem que a
cuidaste.
— Não há de que, minha senhora — disse Damian. — E agora, se nos desculpar, falarei com
a Elissa.
Damian saiu com Elissa pela porta e chegaram ao corredor do quarto dela. Damian abriu a
porta e a urgiu a entrar. Ele a seguiu e fechou com força atrás de si.
— Não deveríamos estar aqui sozinhos — disse Elissa dando um passo para trás.
— Só quero falar um momento contigo — os olhos de Damian se obscureceram. — Embora
em realidade quero muito mais de ti.
"Fará melhor no dormitório", dissera Tavis. "Mata‐o. Ninguém te culpará." Não podia fazê‐
lo. Não a Damian. Estava tão cheio de vida. Que outra pessoa brandisse a adaga, porque ela não
podia fazê‐lo... não o faria.
— O que desejas dizer‐me, meu senhor? Damian suspirou ostensivamente.
— Já vejo que segue tão obstinada como sempre. Bem, pois nesse caso te direi o que quero
o mais sucintamente possível. Trata‐se de sua mãe. Parece que está recuperando as forças. Não
está de acordo?
Elissa ficou imediatamente à defensiva.
— Talvez. Por que pergunta? Segue pensando em enviar a minha mãe e a minha irmã ao
convento?
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 74
— Isso é o que o rei deseja, mas estou disposto a atrasar a viagem até que lady Marianne
tenha recuperado completamente as forças. Parece que melhorou muito, por isso estou muito
satisfeito. Não quero a morte de nenhuma mulher sobre minha consciência. Desenvolvi carinho a
sua irmã e a sua mãe e acredito que estarão a salvo no convento. O braço do rei é muito
comprido, não quero que aconteça nada mau a elas.
— E o que acontece comigo, meu senhor? Não quer que eu esteja a salvo? Um lento sorriso
apareceu nos lábios do Damian.
— Eu posso te manter a salvo, Elissa. Veem a minha cama e te protegerei do rei com minha
vida.
— Devo rechaçar sua oferta, meu senhor. Ambos sabemos que o rei fará o que quiser tanto
se me converta em sua amante como se não. Me envie ao convento com mamãe e com a Lora.
A expressão de Damian se endureceu.
— Para que possa escapar e te casar com Tavis? Não.
— Então não temos nada mais que falar, meu senhor.
— Temos muitas coisas das quais falar. Entre elas, o modo em como responde a meus beijos.
Por que resiste ao inevitável?
Sim, por quê? Perguntou‐se Elissa. Tavis queria que se deitasse com Damian, mas por uma
razão que ela não podia tolerar. Convertia sua negativa em uma traidora? Não gostava de como
soava isso.
Ela era uma escocesa leal. Matar a um dos odiados ingleses, um usurpador de seu lar e de
suas terras, não deveria ser uma tarefa difícil, então, por que negar‐se tão obstinadamente
quando tanta gente dependia dela?
— Se já terminaste, meu senhor, pode partir — convidou‐o Elissa. A presença de Damian em
seu dormitório era perigosa... e muito intimidadora.
Um grunhido surgiu da garganta do Damian quando a agarrou pela cintura e a estreitou
contra si. Elissa abriu a boca para protestar ao mesmo tempo que Damian estampava a sua nela.
Não foi um beijo suave, mas tampouco brutal. Foi um beijo ardente, duro e ansioso. E excitante.
Os lábios de Elissa tinham começado a suavizar‐se sob os seus quando Damian se afastou. Um
sorriso de satisfação curvava seus lábios.
— Já sabe onde me encontrar se quiser mais, minha senhora — disse com uma arrogância
que provocou que rilhasse os dentes para ele. Deixou‐a ali de pé com os lábios apertados e a raiva
que fervia dentro dela em plena ebulição. Entretanto, sua raiva não era suficiente para convencê‐
la de matá‐lo.
Aquele mesmo dia mais tarde, Elissa estava atravessando o grande salão quando Dermot a
interceptou. Olhou a seu redor para comprovar se havia alguém escutando‐o, e logo sussurrou:
— Tenho uma mensagem para ti, moça.
— Uma mensagem? De quem?
Dermot se inclinou mais.
— Vi Tavis Gordon hoje no povoado. Pediu‐me que te diga que o tempo se esgota. Deve ser
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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esta noite. O que quis dizer, moça?
— Não sei.
— Está mentindo, moça. Vejo‐o em seus olhos. Do que anda atrás Gordon?
Elissa levou Dermot a uma parte e sussurrou:
— Tavis quer que mate lorde Damian, mas não posso fazê‐lo.
— Graças a Deus — assegurou Dermot fervorosamente. — Você não é uma assassina, moça.
Como se supunha que ias levar a cabo esse ato se o único momento em que o senhor é vulnerável
é quando está deitado?
Dermot abriu os olhos de par em par quando veio à sua cabeça a resposta.
— Se o que estou pensando é verdade, Tavis está louco por te pedir que te comprometa
assim.
— Tavis conta comigo — murmurou Elissa.
Dermot examinou o rosto dela, e o seu se suavizou pela compaixão.
— É você quem deve tomar a decisão, moça. Sou consciente de que não é fácil aceitar que
um inglês te tire o que é teu, mas não é a única habitante das Terras Altas que precisa sofrer um
destino semelhante. Eu adoraria que partisse até o último soldado de Misterly, mas não quero
voltar a viver outro Culloden jamais.
— Nem eu — disse Elissa. — Mas tampouco quero aos ingleses nas terras dos Fraser.
Sua expressão se endureceu. Seria capaz de fazê‐lo? Poderia ir aquela noite em busca de
Damian e vingar aos membros de seu clã?
Capítulo 08
O grande salão se esvaziou rapidamente depois do jantar. Sentado comodamente em um
banco frente ao fogo, Damian ficou olhando melancolicamente o copo de cerveja recém servida.
Sir Richard estava sentado em frente a ele em silenciosa camaradagem. Apesar de que Damian
estava distraído, não restava dúvida de que Dickon tinha algo em mente.
— Há algo que te preocupa, Dickon? —Dickon clareou a garganta.
— Pensaste em mandar de retorno a Londres aos soldados do regimento real? Não são
felizes nas Terras Altas e desejam retornar a seus antigos postos.
— Eu cheguei à mesma conclusão, Dickon. As coisas já estão sob controle por aqui. Não
vimos a ninguém escondido nem vimos o cabelo de nenhum membro do clã dos Gordon, e
certamente não o veremos. Podemos defender Misterly sem ajuda exterior.
— As coisas estão saindo bem, não resta dúvida — reconheceu Dickon. — Segundo Maggie,
lady Marianne está se recuperando, e a pequena Lora recuperou já a saúde. Deve estar desejando
as enviar ao convento.
Damian não estava tão seguro. Sentiria falta da conversa amistosa de Lora. E ao contrário de
Elissa, lady Marianne não o responsabilizava pessoalmente pelo ocorrido no Culloden.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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— Lady Marianne e Lora não são o problema desta casa — murmurou Damian. — Lady Elissa
deveria aprender com elas.
Dickon sorriu.
— Suponho que isso significa que sua sedução não está funcionando.
— Tome‐o como quer. Essa pequena tigresa não se renderá. Como vai você com Maggie?
Segue resistindo? Não é próprio de ti perder tanto tempo com uma moça pouco disposta, Dickon.
— Eu poderia dizer o mesmo de ti, Damian. Talvez deveria provar a sorte no povoado. As
mulheres são iguais em todas partes... algumas estão dispostas e outras não.
Justo então, Maggie cruzou o salão para fazer alguma tarefa e assentiu para saudar os dois
homens. Damian observou divertido como Dickon ficava de pé de um salto e corria atrás dela.
Onde ficavam os planos do Dickon de encontrar a uma garota disposta no povoado?
Estava ficando tarde. Damian levantou seu comprido corpo do banco e foi em busca de sua
cama.
Recém banhada e vestida com uma camisola de linho e robe, Elissa olhava pela janela.
Estaria esperando Tavis seu sinal? Não importava o muito que esperasse dela, não podia matar
Damian, verdade?
Com as mãos à costas, começou a percorrer o quarto acima e abaixo.
Elissa duvidava de que tivesse chegado tão longe para render‐se agora.
Sem dúvida aconteceria uma batalha sangrenta tanto se Damian estivesse vivo como se
estivesse morto. Espremeu o cérebro procurando um plano para ajudar Tavis que não implicasse
um assassinato. Não lhe ocorreu nenhum.
Aquela noite iria ao quarto de Damian e permitiria que fizesse com ela o que quisesse.
Quando adormecesse... que Deus a ajudasse.
Fosse inglês ou não, Elissa estava contra assassinar a um homem na cama. Ela preferia uma
artimanha sem sangue, mas não lhe ocorria nenhuma forma de fazê‐lo.
Elissa tirou as forquilhas do cabelo e passou os dedos pela selvagem mata até que caiu em
longas e grossas ondas sobre as costas. Em um estado de devaneio, agarrou uma vela e saiu do
quarto.
Desceu com passos ligeiros as escadas de caracol e cruzou o salão vazio. O coração pulsava
de forma errática e o sangue golpeava furiosamente as veias enquanto subia as escadas que
levavam a torre.
Tremia sua mão quando a levantou para golpear suavemente na porta.
Damian não respondeu imediatamente, e Elissa deu a volta, mais aliviada do que queria
reconhecer. Então se abriu bruscamente a porta. Mais alto que uma torre e o dobro de
ameaçador, Damian apareceu na soleira.
Sua imensa figura estava coberta apenas por um robe atado muito solto à altura da cintura.
O olhar assombrado do Damian deslizou sem nenhuma pressa sobre o corpo pouco vestido
da Elissa. Era‐lhe difícil acreditar o que viam seus olhos, e a surpresa o deixou momentaneamente
sem palavras.
Elissa foi vê‐lo em camisola, com seu glorioso cabelo solto e uma atitude falsamente
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submissa. Submissa? Isso Damian não acreditava nem por indício. Tudo o que fazia Elissa era
suspeito.
Damian se apoiou no batente da porta com os braços cruzados sobre o peito nu.
— A que devo o prazer?
Damian amaldiçoou entre dentes ao ver o brilho de raiva em seus olhos apesar de sua voz
calma e suas compostas feições.
— Se não me deseja, senhor, posso partir.
Não desejá‐la? Teria que estar louco para deixá‐la partir agora.
Damian manteve a porta aberta e se afastou a um lado. Elissa passou por diante dele com
régia elegância, deixando a sua passagem um aroma de violetas. Damian fechou a porta e se
apoiou contra ela.
— Posso me atrever a pensar que me acha de repente irresistível?
— Pode pensar o que te agrade. Estou aqui. Que mais precisa saber?
Damian avançou para ela e a estreitou entre seus braços.
— Nada de jogos esta vez, Elissa. Não haverá marcha atrás nem protestos de donzela. O que
façamos esta noite neste quarto, acontecerá porque você assim o quer.
Damian viu como abria os olhos de par em par e tentou acalmar seus medos.
— Eu também desejo, querida, levo‐o desejando há muito tempo. O prazer que vamos
compartilhar esta noite é só o princípio. Haverá muitas noites como esta.
Então a beijou, segurando sua cabeça com firmeza com uma mão enquanto que com a outra
rodeava o quadril, atraindo‐a com força para o florescente impulso de sua virilidade.
Elissa estava com os lábios úmidos e doces, mas Damian podia saborear seu medo. Tão
aterrador era? Ou se tratava de algo mais? De novo, a suspeita se elevou entre eles como um
espectro escuro.
— Relaxe, querida — sussurrou contra seus lábios. — Você quer isto, verdade?
— Sim, estou aqui, não é certo?
Damian desatou o laço que mantinha unido o robe e esperou sua reação. Foi quase
imperceptível, mas em qualquer caso ele sentiu o leve estremecimento que Elissa tentou conter.
Damian deslizou o robe pelos ombros e o afastou a um lado. A camisola era tão larga que
podia não ter um corpo com formas debaixo, mas Damian sabia que não era assim.
Ela o estava olhando fixamente, seus olhos verdes eram translúcidos na luz da vela. Damian
sustentou seu olhar, consciente de que seu feroz desejo se refletia neles.
— Elissa, você sabe quanto te desejo, verdade?
Ela assentiu em silêncio.
— Então te entregue a mim. Deixe‐me te levar a um lugar onde nunca antes estiveste.
Elissa relaxou entre seus braços e ele exalou um suspiro de gratidão. — Me leve onde queira,
Damian. Estou disposta a te seguir onde quer que nos leve esta noite.
Parecia sincera, mas Damian não era tão estúpido como ela acreditava. Levava uma arma
escondida? Tencionava matá‐lo desta vez? Não levou vinho adulterado, assim não podia repetir o
ocorrido a última vez que esteve em seu quarto.
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Damian deixou cair os braços e se afastou.
— Tire a camisola, Elissa. Quero verte sem barreiras.
Ela vacilou durante tanto tempo que Damian sussurrou arrastando as palavras:
— Quer que eu faça por ti? Elissa elevou a cabeça de repente.
— Não, eu o farei.
Damian tremia literalmente de impaciência. Seu sexo cresceu forte e ousado entre suas
coxas. Mal ela começou a levantar a bainha da camisola quando sua paciência chegou ao limite.
Agarrando metros de tecido com as mãos, puxou a camisola por cima de sua cabeça e a
jogou. Elissa elevou os braços para cobrir os seios, mas ele agarrou seus pulsos e os segurou ao
lado.
Seu ardente olhar deslizou então lentamente por suas tentadoras curvas.
Quando a olhou até saciar‐se, voltou a dirigir os olhos para seu rosto. Elissa estava com os
olhos fechados e o rosto muito pálido. Damian soltou seus pulsos, soltou o cinturão do robe e o
tirou.
— Abre os olhos, Elissa.
Ela abriu muito devagar os olhos. Seu gemido de assombro reverberou com força em meio
do espectador silencio.
— Sim, nenhum dos dois tem nada que ocultar agora. Já viu meu corpo com antecedência.
Você gosta?
Se ela gostava? Elissa não podia nem começar a explicar como afetava seu corpo... como a
afetava ele. A boca secou. Não podia afastar a vista. Não deveria sentir‐se assim. Dava a impressão
de estar traindo aos seus.
— Te fiz uma pergunta, Elissa. Você gosta de meu corpo? Eu gosto do seu.
— Seu corpo está... muito bem, meu senhor — murmurou afastando a vista de sua virilha.
— Assim formal, Elissa? Meu nome é Damian. Eu gostaria de escutar o som de meu nome
em seus lábios — estirou a mão e acariciou um seio. Seus dedos se entretiveram no mamilo, que
de repente se inchou, ficando ereto. — Eu acredito que seu corpo é muito bonito também. Mal
posso esperar para descobrir todos seus segredos.
Estreitando‐a entre seus braços, Damian a atraiu para si enquanto sua boca saboreava a
dela, suavemente a princípio, embora fosse crescendo em ardor. Separou seus lábios e introduziu
a língua para saboreá‐la mais profundamente. O calor se apoderou dela em forma de ondas
selvagens que a fizeram desejar mais. Então chegou o desespero. Estava desfrutando muito de
seus beijos.
Gostava do quente e delicioso tato da pele dele contra a sua, e o embriagador prazer que
proporcionava.
Damian a segurou entre as pernas, retendo‐a com força com os compridos e poderosos
músculos das coxas. Sentiu a dura parede de seu peito contra os seios e escutou o acelerado
pulsar de seu coração.
Damian tinha a boca dura, mas sentia seus lábios suaves. Uma combinação irresistível. A
grossa crista que se apertava contra seu ventre era intimidadora, e também um tanto aterradora.
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Não haveria forma de que pudesse recebê‐lo dentro de si.
Elissa sabia perfeitamente o que devia esperar. A noite anterior as suas falhadas bodas com
o Tavis, sua mãe contou o que ia ocorrer em sua noite de bodas. Marianne dissera que não devia
ter medo, e com o tempo inclusive chegaria a desfrutar. Elissa soube instintivamente que com
Damian desfrutaria, e aquele pensamento a zangou. Não queria desfrutar de nada com o
Cavalheiro Demônio.
Damian seguiu beijando‐a sem cessar, até que não ficou ar nos pulmões. Lhe rodeou o
pescoço com uma mão; sentiu uma veia pulsando com força ao passar pelo pescoço. O calor do
desejo do Damian acendeu um caminho ardente no vibrante centro de seu corpo. E em um
instante esteve flutuando, apanhada entre os fortes braços dele. Sentiu o frio da colcha que tinha
sob as costas e o sólido peso do Damian quando se colocou sobre ela.
Os pulmões de Elissa ficaram sem ar ao primeiro contato da boca dele em seu seio. O sugou,
deslizando a língua pelo inchado mamilo antes de prestar ao outro seio a mesma encantada
atenção.
Elissa se revolveu inquieta, estirando‐se, arqueando‐se debaixo daquelas mãos que a
acariciavam. Damian a tocou dos seios até a cintura e logo cobriu suas nádegas com suas longas
mãos.
A tensão a fez ficar rígida quando a boca dele deixou seus seios e viajou para baixo. Logo
deslizou a cabeça e a beijou ali, naquele canto úmido e desejoso que tinha entre as coxas.
O prazer que esteve tentando reter dentro dela explodiu. Elissa jogou a cabeça para trás e
um grito vibrou na sua garganta.
— Não, Damian! Isto é perverso. Ele elevou a cabeça.
— Sim, querida, perverso e maravilhoso. Mas talvez tenha razão. Guardaremos este prazer
para outro momento. Preciso estar dentro de ti.
Acomodou‐se entre suas pernas, abrindo‐as com os joelhos. Damian girou os quadris;
afundou‐se até o fundo. Um rubor começou a se formar sob a pele da Elissa, esquentando seu
corpo de dentro para fora.
Ficou um instante sem respiração enquanto aguardava a dor de sua entrada. Foi uma dor
que recebeu contente, porque era um castigo muito pequeno em troca de permitir que Damian a
seduzisse.
Sentiria se muito menos culpada se não desfrutasse do que estava fazendo.
— Relaxe — sussurrou Damian contra sua têmpora. — A dor durará só um instante, e logo
dará começo o prazer que te prometi.
Deslizou uma mão entre eles. Elissa a sentiu na parte baixa do ventre, e logo como descia
através do grosso pelo inferior. Damian a acariciou, ela deixou escapar um fio de ar enquanto seus
dedos deslizavam sobre sua pele macia e úmida.
— Doce, doce tigresa — murmurou ele. — Tenho os dedos molhados com seu mel. Me deixe
entrar em ti, Elissa.
Suas eróticas palavras levaram por diante a vergonha e a culpa como um navio ante um
forte vento. Um desejo feroz se apoderou de sua mente; a urgência de experimentar aquele ato
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supremo com Damian, só com ele, controlava seu corpo.
Elissa agarrou seus ombros e abriu completamente as pernas. Ele se instalou profundamente
no berço de suas coxas, flexionou os quadris e investiu, atravessando cada ponto de resistência.
Elissa abriu os olhos de repente. Gritou e tentou afastá‐lo de si. A dor de sua entrada a
sobressaltou, embora estivesse esperando.
— Fica quieta — disse Damian com voz estrangulada. — Deixa que seu corpo se ajuste a meu
tamanho.
— É muito grande... está me matando.
— A dor passará se você relaxar — Damian se retirou um tanto e logo voltou a introduzir‐se
nela.
Elissa se retorceu para tentar escapar da dor. — Detenha, Damian, por favor.
— Me peça qualquer coisa menos isso. Recorda o que te disse sobre te dar prazer? Não te
menti, querida.
Damian voltou a mover‐se, entrando e saindo com uma sutileza que deixou a Elissa sem
respiração. Voltou a sair dela e logo investiu mais profundamente. Elissa voltou a respirar e
experimentou uma sensação de plenitude, de estiramento, quando seu corpo se ajustou para
acomodar‐se ao dele. Começou pouco a pouco a relaxar; sentiu como se suavizava ao redor dele
embora ele ia se fazendo maior, mais duro.
Então começou a sentir o tênue começo de algo que a levou a elevar a vista para ele,
interrogando‐o com os olhos.
— Virão coisas melhores — disse. E então se dispôs a mostrar.
Damian ficou de joelhos, colocando suas fortes mãos sob os quadris e as elevando para que
recebesse suas duras e seguras investidas. Elissa não pôde evitar; gritou a cada movimento de
seus quadris.
Então começou. O calor lento que subia em espiral, a embriagadora pulsação no ponto no
qual estavam unidos e que se estendia em todas as direções por seu corpo. Quando Damian
deixou cair a cabeça e sugou seu peito, foi como aproximar lascas ao fogo. A seguinte investida de
seus quadris, fragmentos de prazer atravessaram seu corpo, e Elissa gritou.
Todo seu corpo convulsionou, ficou tenso. Damian investiu até o fundo, manteve‐se
suspenso dentro dela durante um instante sem fôlego e logo alcançou o êxtase em uma corrente
de calor liquido.
Elissa fez um esforço por recuperar a respiração, Comovida pelo que acabava de
experimentar. Supunha‐se que sua rendição devia ser um sacrifício, mas Damian converteu o ato
em algo memorável, algo que entesouraria para sempre.
Todo seu corpo tremeu enquanto umas ondas de prazer ondulavam através dela. Mal foi
consciente de que Damian se separava dela e deitava a seu lado.
Elissa afastou a cabeça. Não podia olha‐lo, sabendo o que ia fazer assim que ele dormisse.
Então o trairia da pior maneira.
Damian se virou e a estreitou entre seus braços.
— Foi muito ruim, querida? Arrepende‐te de ter deixado que te ame?
Connie Mason
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— Foi... nunca imaginei que... Mãe do Amor Formoso! É inglês.
Damian sorriu.
— Nunca presumi ser nada mais. Nega tudo o que quiser, mas te dei prazer. É muito pouco
experimentada para fingir.
Elissa afastou o olhar.
— Sim. Para minha eterna vergonha, encontrei prazer entre seus braços.
Damian ficou muito quieto.
— Isso te é vergonhoso? Assim é como descreve o que fizemos? — sua expressão se
endureceu. — Se não recordar mal, você veio a mim esta noite. Há alguma razão oculta atrás de
sua capitulação? Algum plano do qual eu não estou sabendo?
A Elissa acelerou seu coração. "Não deve suspeitar nada".
— OH, não, não! — assegurou. — Vim a seu quarto porque te desejava. Queria conhecer o
prazer, e queria que fosse você quem me desse isso.
A realidade que se escondia atrás de suas palavras fez que Elissa se detivesse durante um
instante. Aquilo era certo? Desejou secretamente que Damian lhe fizesse o amor? Com razão
estava consumida pela culpa.
— Por que será que não te acredito? — murmurou Damian mordiscando seu pescoço. — Em
qualquer caso está aqui, seja qual for o motivo, e a noite ainda é jovem.
Elissa abriu os olhos de par em par.
— Quer dizer que... outra vez? Isso é possível?
— Confia em mim.
Damian ficou de pé e se aproximou descalço ao lavabo. Elissa observou com receio como
vertia água em uma terrina, umedecia um pano e voltava para a cama.
— Relaxe, não vou te machucar — assegurou.
Abriu suas pernas com delicadeza e limpou todos os restos de sangue e sêmen. Logo deixou
o pano sujo no lavabo e se uniu a ela na cama. Elissa estava muito envergonhada para olhar. — me
olhe, querida.
A súplica de sua voz era irresistível. Elissa elevou o queixo enquanto olhava fixamente as
brilhantes profundidades de seus olhos chapeados. O audaz desejo de Damian a sobressaltou.
Elissa se sobressaltou de forma violenta quando ele a estreitou entre suas pernas e
pressionou a parte inferior de sua palma suave e insistentemente contra o centro de seu corpo, a
acariciando com os dedos suas sedosas dobras internas.
— Que suave — sussurrou Damian. — É muito suave. Sabia que responderia assim. Há um
fogo em ti que me empurra para o abismo. Faz‐me arder, Elissa. Só você pode saciar este desejo
que há em meu interior.
Uma voz dentro de Elissa a preveniu que não acreditasse nas bonitas palavras do Damian,
porque não significavam nada. Eram inimigos, seriam sempre. Mas seus pensamentos se fizeram
em pedacinhos quando Damian girou com ela nos braços e a colocou em cima dele.
— Tome‐me em seu interior, Elissa — murmurou com voz rouca. — Logo investiu para cima,
empalando‐a.
Connie Mason
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Sentiu‐se enjoada, ansiosa, quando Damian a levou até o limite e a deixou ali suspensa. Uns
instantes mais tarde Elissa entrou no paraíso, seu corpo tremendo de arrebatamento.
Sentiu como Damian se convulsionava violentamente e logo ficava imóvel.
Elissa deve ter adormecido, porque quando despertou, Damian estava profundamente
adormecido com a respiração compassada e a fronte Lisa e sem amostras de preocupação. Uma
mecha de cabelo escuro lhe pendurava da fronte úmida e Elissa sentiu o repentino desejo de
afastá‐la mas temia despertá‐lo se o fizesse.
Levantando‐se da cálida cama, Elissa se estremeceu, sobressaltada por um frio que nada
tinha que ver com o frio ar da noite. Procurou o robe e o pôs. Logo olhou pela janela. A noite
estava tão escura como o interior de uma tumba, era uma noite desenhada para a traição. Chegou
o momento da verdade. Tavis pediu que matasse o Damian e que lhe fizesse um sinal quando
tivesse concluída aquela tarefa.
A adaga! Esqueceu‐a em seu quarto. Elissa percebeu sobressaltada que nunca foi sua
intenção matar Damian. Ainda podia fazer o que pediu o chefe dos Gordon e abrir a porta de trás.
Mas, poderia tornar‐se a um lado e permitir que os Gordon matassem Damian porque ela era
muito fraca para fazê‐lo? A quem devia trair? Aos membros de seu clã, ou ao Damian?
Poderia seguir vivendo consigo mesma se não focalizasse sua lealdade em Tavis Gordon e
sua causa?
A indecisão a atravessou sem piedade quando agarrou o candelabro.
Olhou Damian. Seguia dormindo. Elissa deu um passo para a janela. Muitas coisas
dependiam dela. Para trair Damian, a única coisa que precisava fazer era mostrar a luz na janela e
escapulir para abrir a porta posterior.
Seguiria um banho de sangue. Morreriam homens assassinados enquanto dormiam. Os
próprios membros de seu clã sofreriam. Valia a pena tal quantidade de vidas perdidas para
defender sua honra?
A quem devia sua lealdade? Aos habitantes das Terras Altas que foram humilhados de forma
tão triste pelos ingleses, ou ao homem que acabava de lhe fazer o amor como se de verdade o
importasse?
Elissa sabia dentro de seu coração que entre Damian e ela existia muito mais que uma
simples atração. Sucumbiu desejosa a sua sedução, respondeu com uma paixão que a desgostava
e ao mesmo tempo a enchia de prazer.
Nunca imaginou que fazer o amor pudesse ser tão reconfortante para uma mulher, e tinha a
suspeita de que não o teria desfrutado se tivesse sido Tavis quem lhe tivesse feito o amor.
Não, só queria Damian, seu inimigo declarado.
Elissa apertou com mais força o candelabro. Sua mão tremia.
Rasgada pela indecisão, não parecia ser capaz de dar aquele último passo para a janela. O
candelabro se fez muito pesado de repente para poder levantá‐lo.
"Está traindo sua gente". Aquelas palavras ressonaram em seu cérebro. "Só uma prostituta
poderia fazer amor com um homem e logo traí‐lo sem nenhuma piedade".
Em algum lugar recôndito de sua mente, Elissa escutou as palavras de Tavis recordando a
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seu pai e a seus irmãos, caídos em Culloden. Haveria brandido Damian a espada que os
assassinou?
Pesavam‐lhe as pernas quando deu outro passo para a janela. Dividida.
OH, Deus, estava dividida, rasgada entre a lealdade pelos membros de seu clã e sua recém
descoberta simpatia pelo homem que era seu inimigo. Suas opções eram tristemente escassas;
nenhuma delas a agradava.
Maldita seria se o fizesse, e maldita também se não o fizesse.
Elissa deu outro pequeno passo para diante e então se deteve, um grito silencioso de
negação abriu passagem em sua garganta. Não podia seguir adiante com isto.
Seu coração exigia que despertasse Damian e lhe contasse o plano de Tavis e sua
participação nele. Deu a volta para fazer exatamente isso e tropeçou com um muro sólido de
carne humana.
— Tão encantadora e ao mesmo tempo tão mentirosa — sussurrou Damian. — Não sou tão
estúpido para confiar em ti, senhora — Damian tirou de sua mão o candelabro e apagou a chama.
— A quem ias fazer o sinal, senhora?
— A ninguém! — um soluço ficou retido na garganta. — Não podia fazê‐lo. Tavis queria
que...
— O que queria? Que me matasse?
— Sim... não... não trouxe nenhuma arma, Damian.
Sua voz estava tingida de brincadeira.
— Uma vez tentou me envenenar e não conseguiu.
— Só dormir.
As mãos do Damian agarraram seus ombros; ela se encolheu, mas não afastou o olhar do
seu. Estava assustada, mas sabia de algum jeito que não lhe faria mal, embora tivesse uma boa
razão para isso.
Damian a sacudiu com dureza.
— Que traição estava urdindo Tavis e você? — a Elissa secou a boca. Sacudiu a cabeça.
A expressão de Damian se tornou assassina, e sua voz grave e ameaçadora.
— Conta‐me. Sem mais mentiras. Tem muito que perder.
Elissa sabia perfeitamente a que estava se referindo. Damian poderia fazer o que quisesse
com sua mãe e sua irmã, e com a bênção do rei. E tudo seria culpa dela.
— Tavis atravessou faz uns dias as portas com um grupo de comerciantes — espetou. —
Agarrou‐me em um momento a sós e me contou seu plano.
Damian entreabriu os olhos. — Adiante, segue.
— Deu‐me uma adaga e me pediu que te matasse. Sugeriu‐me que viesse a seu dormitório e
deixasse que te deitasse comigo, depois eu te mataria enquanto dormia. Quando tivesse
terminado com o que devia fazer, supunha‐se que devia fazer um sinal com a vela. Logo abriria o
portão posterior para que os Gordon pudessem assassinar a seus homens enquanto estivessem
adormecidos.
— Ainda seguem esperando o sinal?
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Sabor do Pecado 03
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— Suponho que sim. Mas não ia fazê‐lo, Damian. Não poderia.
— Onde está a adaga que te deu Gordon?
— Esqueci‐a, mas mesmo que tivesse trazido a arma, nunca te teria matado, Damian.
Por que não acreditava? Elissa ficou tensa enquanto as longas mãos de Damian deslizavam
por seu corpo em busca do punhal.
— Surpreende‐me que não utilizasse minha própria espada para me matar. Está colocada no
canto. Disse‐te Tavis que me seduzisse?
Ela afastou a vista. A espada do Damian estava efetivamente apoiada contra a parede, mas
nunca passou por sua cabeça a ideia de utilizá‐la.
— Tavis sugeriu que fizesse o que fosse necessário. Mas essa não é a razão pela que vim a ti
esta noite. Desejava‐te, Damian. Eu... queria que me fizesse o amor.
Ele a separou de si com um feroz grunhido nos lábios. Elissa cambaleou para trás e foi cair
sobre a cama.
— Mentirosa. Não confiei em ti quando entrou em meu dormitório, toda doçura e sedução,
e tampouco confio em ti agora.
— Damian, por favor. Eu não sou capaz de matar a sangue frio.
— Nem sequer a seu inimigo?
Ela o olhou com solenidade. Estava com os olhos chorosos. — Somos inimigos, Damian?
Seriamente o somos?
— Eu nunca fui seu inimigo, Elissa. Foi você quem decidiu que essa fosse a relação entre nós.
Damian colocou as calças e a camisa e agarrou a espada e sua capa no canto. As atou à
cintura e se dirigiu para a porta.
— Onde vai?
Ele não se voltou.
— Mais te vale estar aqui quando retornar, ou o lamentará.
E então partiu. O surdo som dos saltos de suas botas ressonou com força através do espesso
silêncio. Elissa escutou um estrondo no salão e logo nada mais. Quando se atreveu a abrir a porta,
um guarda avançou para ela.
— Necessita algo, minha senhora?
— Não... não, obrigado.
Elissa fechou a porta e se apoiou contra ela. Um ruído no pátio fez que corresse para a
janela. Abafou um grito na garganta quando viu Damian e a uma companhia de guardas do castelo
sair a galope da fortaleza.
A escuridão os engoliu, e Elissa já não viu nada mais.
Não fazia nem ideia de quantos homens se aliaram com a causa de Tavis, ou se ainda
estavam no bosque esperando seu sinal. O que sim sabia era que se se encetavam em uma
batalha, Damian podia ser morto, e isso a destroçaria.
Começou a tremer, atemorizada pelas consequências que traria consigo aquela noite.
Damian guiou a montaria até o bosque. Enquanto os baixos e espessos arbustos o
golpeavam, dedicou um pensamento a Elissa e ao que esteve a ponto de fazer. Por sorte, ele tinha
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Sabor do Pecado 03
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o sono leve.
Damian emitiu um som gutural de desgosto. Possuía Elissa a coragem de matar a sangue
frio? Duvidava‐o. Se possuísse o instinto de uma assassina, já estaria morto a aquelas alturas.
O que de verdade doía era a certeza de que foi a ele com um propósito em mente, para o
trair, não porque o desejasse, enquanto que Damian... bom, melhor seria não aprofundar muito
em seu coração em busca da resposta.
Por que insistia Elissa em convertê‐lo em seu inimigo? Não lhe fizera certamente nenhum
dano... ainda. Era muito triste que não fosse capaz de superar Culloden e olhar para o futuro.
Os pensamentos de Damian se fizeram em pedacinhos quando vislumbrou umas figuras
escuras atravessando as sombras do bosque. Dava a impressão de que Gordon conseguira
mobilizar suficientes homens para tentar um assalto a Misterly.
Por sorte, Damian cortou o plano pela raiz, mas doía que Elissa fosse capaz de abrir o portão
da fortaleza às hordas selvagens do Gordon.
— Vamos em frente! — gritou Damian enquanto se lançava ao interior do bosque. Mas, sem
que precisassem dizê‐lo soube que seria inútil.
Os habitantes das Terras Altas conheciam aquele lugar como a palma de sua mão, e podiam
desaparecer a vontade.
Apesar disso, Damian continuou a busca até o amanhecer.
Então, cansado e faminto, ordenou a seus homens que retornassem ao castelo. Os
preparativos para servir o café da manhã estavam em marcha quando Damian entrou no grande
salão. Ignorando a comida, serviu‐se ele mesmo uma caneca de cerveja e cravou a vista no fogo da
lareira.
A fúria que sentia contra Elissa não diminuíra. Quando pensava em todos os bons ingleses
que teriam sido assassinados enquanto dormiam se tivesse aberto o portão ao Gordon, sentia
desejos de... do que?
De sacudi‐la até que rilhassem seus dentes? Ou de lhe fazer o amor até que o nome de
Damian tremesse em seus lábios?
— Como sabia que os Gordon estavam escondidos no bosque? — perguntou sir Richard
quando se reuniu com ele uns minutos depois.
Damian não disse nada.
— Suspeito que Elissa tem algo há ver — aventurou Dickon. — Não haverá...
— Não lhe fiz nenhum dano... ainda. Me desculpe, Dickon. —Ficando de pé, Damian se
afastou dali com o rosto marcado pela determinação.
Capítulo 09
Elissa se preparou para a ira do Damian quando a porta do dormitório se abriu. Esteve a
ponto de desvanecer‐se de alívio quando nana, e não ele, entrou no quarto.
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— O que fez, moça?
Não havia nada na expressão de nana que pudesse oferecer consolo. Elissa só viu compaixão
e preocupação.
— Não fiz nada, nana. Tavis queria que matasse Damian e que abrisse a porta de trás, mas
não pude fazê‐lo. Nem sequer trouxe para o quarto de Damian a adaga que Tavis me deu.
— Por que não me advertiram isso minhas vozes? — gemeu nana. — Sabia que algo não ia
bem, mas a tensão entre lorde Damian e você era tão forte que não pude chegar ao cerne das
coisas. Deveria estar mais alerta.
— Não poderia ter feito nada, nana. Tavis entrou no pátio disfarçado de comerciante e
esperou que ficasse sozinha para aproximar‐se de mim. Entregou‐me uma adaga e me disse que
devia matar Damian, lhe fazer um sinal quando tivesse acabado e abrir a porta posterior.
— Não pôde matar a lorde Damian — deu por certo nana.
— Assim é. Nem tampouco pude fazer o sinal quando Damian dormiu. Não quero que
morra. O que fez no Culloden não importa.
— O que vai ser de ti, moça? — perguntou nana com ansiedade.
— Nada bom, suponho.
Nana ficou olhando fixamente, seus amáveis olhos azuis cravados em algo que só ela podia
ver. Quando por fim falou, sua voz soava aguda e vazia, como se tivesse vislumbrado o futuro e
tivesse medo das consequências.
— Ah, moça, te virão tempos difíceis.
— Não podem ser mais difíceis do que são agora — zombou Elissa.
— Temo por ti — disse nana examinando o rosto da jovem. — Mas é forte, sobreviverá. Seu
filho trará a paz ao Misterly e para os Fraser.
Elissa ficou muito quieta. — Meu filho e o do Tavis?
Nana riu entre dentes. Mas quando ia se explicar, a porta se abriu de repente e Damian
entrou no quarto.
— Fora daqui, mulher! — bramou assinalando a nana com fúria. Nana passou por diante
dele.
— Não lhe faça mal, meu senhor — advertiu. — Ou destroçará seu próprio futuro.
— Velha mexeriqueira — murmurou Damian fechando de uma portada atrás dela. Deu a
volta e olhou a Elissa com os olhos entreabertos.
Elissa aspirou com força o ar para acalmar‐se, mas não serviu para tranquilizar o errático
batimento de seu coração.
— Fugiram — espetou Damian. — Todos e cada um deles, maldita seja. Meu instinto me
pede que ataque seu baluarte, mas meu coração sabe que outro Culloden não favoreceria os
interesses da Inglaterra.
Elissa não disse nada e calculou a ira do Damian. Esperou com respiração entrecortada a que
desse rédea solta a seu terrível mau humor enquanto se movia acima e abaixo por diante dela
como um touro raivoso. Não precisou esperar muito.
— Tudo o que aconteceu ontem à noite entre nós foi uma mentira! — arremeteu contra ela.
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— Seu querido Tavis teria me assassinado na cama enquanto você o animava a fazê‐lo.
Elissa recuou ante sua fúria.
— Não! Ia te advertir, não te matar.
O sarcasmo de Damian doeu no mais profundo da alma. — É obvio que sim. Deixou‐me que
te fizesse o amor enquanto planejava minha morte. Por que não deixou Gordon entrar através do
túnel secreto?
Elissa empalideceu.
— Encontraste‐o?
Damian dirigiu um olhar petulante.
— É obvio. Disse a você que o encontraria. Está debaixo das escadas da sala das mulheres.
— Apesar do que pensa, nunca desejei sua morte. Nunca contaria a Tavis sobre o túnel. É
um segredo familiar.
Damian não parecia absolutamente convencido. — Onde está a adaga que te deu Gordon?
— Segue em meu quarto. Não tenho nenhuma intenção de utilizá‐la.
— Qual era sua intenção quando entrou em meu quarto? —Elissa mordeu o suave interior
do lábio.
— Não estou segura.
— Mentes — acusou‐a Damian. — Acredito que queria me matar e permitir a Gordon o
acesso ao castelo. Para sua informação, direi‐te que o ataque nunca teria êxito. Gordon foi um
estúpido ao pensar que Misterly poderia tomar‐se com tanta facilidade. Mesmo que tivesse êxito,
Dickon teria vingado minha morte e teria defendido com êxito o castelo — a voz do Damian era
áspera e condenatória.— Você, doce tigresa, teria sido condenada. E não quero nem imaginar o
que teria sido de sua mãe e de sua irmã se me tivesse despachado com uma adaga.
— Juro isso, meu senhor, não quero verte morto. —Damian a sacudiu com raiva e logo a
separou de si. — O que... o que vais fazer?
— Sei o que deveria fazer, mas então teria uma rebelião nas mãos. Não quero converter aos
Fraser em meus inimigos, assim pensarei em um castigo que eles aceitem. Enquanto isso, ficará
confinada em meu quarto. Ninguém exceto eu poderá te visitar.
— Quanto tempo estarei encerrada?
— Para sempre, se depender de mim.
— Não pode!
— Posso fazer o que me agrade.
Girando sobre os calcanhares, Damian saiu precipitadamente do quarto.
Damian sentia que sua vida estava vindo abaixo. Como podia Elissa ter feito algo assim? Era
uma feroz tentação e uma tortura absoluta. Ainda estava assombrado pela certeza de que fazer o
amor a Elissa foi a experiência mais satisfatória de toda sua vida. Uma experiência a que não
estava muito seguro de querer pôr fim. Entretanto, Elissa o traiu, e esse fato não podia ficar sem
castigo.
Damian precisava estar um tempo a sós para pensar, assim se dirigiu aos estábulos e
ordenou que selassem seu cavalo. Não fazia ideia de onde ia, só sabia que precisava partir.
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Estava bastante longe da fortaleza quando escutou a alguém galopando atrás dele. Olhando
para trás, viu Dickon pisando seus calcanhares. Damian se deteve para permitir que Cosmo
bebesse enquanto esperava a que seu amigo o alcançasse.
— O que vais fazer com ela? — perguntou Dickon sem preâmbulos quando puxou as rédeas
para deter‐se ao lado do Damian.
— Oxalá soubesse — respondeu Damian com escassa convicção. — Os contínuos desafios da
Elissa me desconcertam. Acreditei que conhecia as mulheres, mas ela é um enigma.
— Uma afirmação muito profunda, levando‐se em conta sua experiência com as mulheres —
brincou Dickon. — Poderia considerar a possibilidade de enviá‐la a Londres.
— Este assunto não é para levar na brincadeira, Dickon — argumentou Damian. — Não
posso enviá‐la a Londres. Isso poderia significar sua morte, levando‐se em conta a forma de pensar
do rei em relação aos jacobinas.
— Há uma solução que não consideraste. Damian emitiu um som gutural de incredulidade.
— Considerei todas e cada uma das soluções razoáveis.
— O que te parece esta? Casa à dama com um de seus cavalheiros, preferivelmente com um
que possa mantê‐la na linha. Depois de um filho ou dois, asseguro‐te que já não seguirá fazendo
travessuras.
Damian ficou olhando fixamente Dickon, como se tivesse proferido uma blasfêmia. A ideia
era ultrajante. Casar Elissa com outro? Permitir que outro homem a levasse a cama e lhe fizesse o
amor?
— Deve admitir que é uma boa ideia — continuou Dickon despreocupadamente.
Damian elevou uma de suas escuras sobrancelhas. — Tem a alguém em mente?
— Sim — disse Dickon assentindo vigorosamente. — Casa‐a com alguém que não dance ao
som que ela toca. Um homem forte capaz de pôr fim a suas artimanhas. Acredito que sir Brody é
esse homem. Trata‐se de um cavalheiro curtido pela batalha, famoso por sua irritabilidade e sua
mão dura. Deixa que ele se encarregue da dama.
Damian soltou uma gargalhada amarga.
— Não percebeste que os afetos de sir Brody se inclinam mais para a mãe que para a filha?
Dickon encolheu ostensivamente os ombros.
— Importa pouco para onde se inclinem seus afetos. Sir Brody fará o que você disser.
Damian descartou imediatamente a sugestão de Dickon. Era uma ideia absolutamente
impossível. Ele suspeitava que sob o duro exterior de sir Brody se escondia um bom coração. Se
Elissa ia casar se com um inglês, devia tratar‐se de um homem que a conduzisse com dureza sem
acabar com seu espírito. Um homem como... ele mesmo?
Uma violenta sacudida de cabeça liberou sua mente daquela ridícula ideia. Logo teria uma
prometida que lhe proporcionaria riqueza a suas arcas, uma mulher escolhida especialmente para
ele pelo rei.
Não necessitava uma mulher que o odiasse, uma tigresa a qual teria que vigiar com olhos de
falcão se não queria acabar assassinado enquanto dormia.
— Considerarei sua sugestão, Dickon — disse Damian com ambiguidade. — Mas sir Brody
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não é o homem adequado para a Elissa.
— Pensara seriamente, verdade, Damian?
— Sim. Continuamos cavalgando?
Damian e Dickon retornaram ao castelo a tempo para a refeição do meio‐dia. Damian se
deixou cair em sua cadeira com uma expressão pensativa no rosto. Serviu a si mesmo de uma
bandeja de carne e mastigou pensativo.
Mas depois do primeiro bocado, seu apetite pela comida desapareceu bruscamente.
Seu apetite pela Elissa, entretanto, seguia sendo potente e inevitável. Damian recordava
cada matiz do ato amoroso que realizaram a noite anterior, cada pequeno suspiro que arrancou,
cada gemido, e o grito final quando alcançou o topo do êxtase. Esteve fingindo? Parecia pouco
provável, levando‐se em conta sua inexperiência.
Mas dava no mesmo, real ou fingido, sabia que Elissa voltaria a traí‐lo uma e outra vez assim
que tivesse oportunidade.
— Prepara uma bandeja para lady Elissa — pediu com um grunhido à criada que passou a
seu lado. — Eu mesmo a subirei.
Damian voltou a centrar‐se na comida, mas foi interrompido quando Lora entrou correndo
no salão com nana seguindo‐a de perto.
— Chego tarde, Damian?
Apesar de seu mau humor, Damian sorriu à encantadora menina.
— Chega bem a tempo, Lora — retirou sua própria cadeira para trás. — Vamos, ocupa meu
lugar.
Lora subiu à cadeira de Damian e logo olhou a seu redor, como se estivesse procurando a
alguém.
— Onde está Lissa?
— Sua irmã não se sentará hoje à mesa — proclamou Damian com voz o suficientemente
alta para que se escutasse por todo o salão. — Está confinada na torre.
— Outra vez? — protestou Lora. — O que fez agora?
— É uma menina, não o entenderia — disse Damian com mais aspereza da qual pretendia.
Maggie apareceu com uma bandeja coberta com um pano. Damian a tirou das mãos,
assentiu com a cabeça para agradecer e saiu a grandes passos dali.
— Falaremos mais tarde, Lora — disse girando a cabeça enquanto partia.
Elissa escutou passos aproximando‐se e reuniu toda sua coragem. Apertou os punhos aos
flancos e se sentiu preparada quando se abriu a porta e entrou Damian.
Estava com uma expressão fria e implacável, carente de toda emoção. Elissa observou
cautelosamente como deixava a bandeja em uma mesa próxima.
— Pensei que poderia ter fome.
— Obrigado.
Damian a olhou com tão fria hostilidade que Elissa espetou:
— Adiante, faz o que queira, meu senhor.
— O que queira? Temo que o que eu quero não te ia agradar.
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Damian avançou para ela até que estiveram quase colados Elissa se negou a se mover nem
um centímetro.
— Por que o fez, Elissa? Eu não te fiz nenhum dano. Veio para mim e te proporcionei prazer.
Foi tudo uma farsa, uma atuação para me fazer baixar a guarda? Tanto me odeia?
Odiar Damian? Não. Não o odiava, ela...
— Não te odeio, Damian. Minha resposta para ti foi autêntica. Desejava‐te. Admito que não
estava muito clara minhas intenções quando entrei em seu quarto, mas nunca houve nenhuma
dúvida em minha cabeça a respeito a te assassinar. Não poderia fazer algo assim. Não o faria
nunca.
Damian uniu as sobrancelhas até formar uma linha negra e grossa.
— Supõe‐se que devo acreditar? Há dito que me desejava. Segue me desejando? Me
responderá como fez a noite anterior se te fizer agora mesmo o amor?
Elissa dirigiu um olhar de assombro.
— Suponho que não quererá dizer que... não pretenderá... agora...?
— Sim, Elissa, agora.
Damian a encurralou contra a cama, inclinando‐se para diante até que ela se viu obrigada a
dobrar‐se sob seu peso. Elissa caiu sobre o colchão e ficou olhando fixamente o rosto dele.
Estava com uma expressão indecifrável, mas seus olhos brilhavam como duas moedas recém
cunhadas. Ela o observou com crescente alarme enquanto Damian começava a despir‐se. Como
podia desejá‐la se estava tão furioso, tão frio?
Era aquele, então, seu castigo... sofrer seus cuidados sabendo que não havia calor no ato?
Como poderia ela suportá‐lo depois da noite anterior?
Seus pensamentos se fizeram em pedacinhos quando sentiu o colchão afundar sob o peso
do Damian. Estava nu, era um homem de carne e osso de magníficas proporções. O calor de seu
corpo a assaltou apesar das camadas de roupa.
Elissa não pôde evitar; seu corpo procurou o do Damian por sua própria vontade. Escutou
Damian soltar uma gargalhada, mas não havia nem indício de regozijo em sua risada.
— Segue te movendo assim, querida, e isto terminará antes que você receba prazer.
As mãos do Damian se moveram por seu corpo, despindo‐a a uma velocidade que a deixou
sem respiração.
— Damian, não...
Sua súplica caiu em saco furado. Elissa sentia a paixão crescer no interior de Damian, sentiu
suas mãos trementes, e soube que não era tão indiferente como pretendia estar.
A certeza de que esta vez não machucaria surgiu de dentro como um brilho fulgurante. Elissa
deixou de lutar e permitiu que o desejo impossível fizesse que aquele inglês a arrastasse.
Sentiu os lábios dele no pescoço, e o pulso de seu próprio coração no batimento de seu
sangue. A ponta da língua de Damian saboreou sua pele, abrindo uma trilha entre seus seios, um
caminho sensual e lento que terminou centrando‐se no pico de seu mamilo. O roce de sua língua e
de seus dentes, a fez saber que estava tomando seu tempo para excitá‐la em lugar de utilizá‐la
com cruel indiferença para seus sentimentos.
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O líquido calor da boca dele acendeu chamas de fogo no mais profundo de seu interior.
Elissa se estirou contra ele, murmurando palavras sem sentido, consciente do fogo que ardia nele,
do pulsar vital de seu interior.
Deveria afastá‐lo; mas o que fez foi atraí‐lo para si, acariciando‐o com os dedos por toda
parte.
A língua dele lambeu seu umbigo enquanto a dura parte inferior da palma de sua mão
deslizava por seu montículo e seus dedos se introduziam entre suas dobras úmidas e inchadas.
O polegar do Damian encontrou um ponto sensível e o percorreu, acariciou‐o. Elissa abriu a
boca e conteve um gemido enquanto se apertava contra ele.
Um instante depois, a boca dele estava ali, sua língua a seduzia, penetrando‐a. Um gemido
surgiu dos lábios da Elissa enquanto ela se esticava como a corda de um arco.
Um calor incrível e erótico a atravessou como uma adaga. — Damian, não pode...
Ele elevou a cabeça e sorriu.
— Sim, claro que posso. Se deite e desfrute.
Então voltou a inclinar a cabeça e sua boca retornou a seu suculento banquete.
Elissa se arqueou e se retorceu contra ele, seus protestos não eram mais que uma
lembrança imprecisa enquanto o chicote úmido da língua dele enviava fragmentos de relâmpagos
através dela.
Elissa se agarrou convulsivamente a seu cabelo enquanto se rendia a um maravilhoso êxtase.
Foi vagamente consciente de que Damian estava em cima dela, abrindo suas pernas,
afundando‐se profundamente em seu interior.
Elissa fechou os olhos, não queria revelar a profundidade de seus sentimentos, mas Damian
não estava disposto a permitir.
— Abre os olhos, Elissa.
Ela abriu lentamente as pálpebras e ficou olhando‐o fixamente aos olhos. Viu confusão
neles, e se perguntou no que estaria pensando.
— É uma feiticeira — sussurrou Damian com voz rouca. — Lançaste‐me um feitiço? Deve tê‐
lo feito, porque me enfeitiçaste.
— Não sou nenhuma bruxa. Não sei nada de encantamentos. Isto não está bem. Não deveria
estar acontecendo.
Damian pôs os olhos em branco.
— Isto está bem, querida, melhor que bem.
Impulsionou‐se para diante, afundando‐se profundamente nela. Elissa suspirou, consciente
de seu calor, da plenitude de seu sexo dentro dela.
O bater do coração de Damian pulsava em uníssono com o dela. Sentiu sua força, a textura
de sua pele, o roce de sua pele. Cada detalhe daquele homem era dele, podia saboreá‐los.
A única coisa que importava era o prazer de estarem unidos, e o inexplicável desejo de algo
mais profundo.
Elissa alcançou o clímax com um grito de rendição. O quarto se encheu de trovões, o fogo a
consumiu; uma chama se assentou no ponto no qual estavam unidos, e Elissa sentiu como se
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evadia da realidade.
Uns instantes mais tarde, sentiu o calor líquido dele filtrando‐se dentro dela, e o escutou
ofegar seu nome.
Elissa recuperou lentamente o sentido. Estirou as extremidades e percebeu que já não tinha
em cima o peso do Damian. Girou a cabeça e o observou com solenidade.
Estava deitado de costas, cobrindo os olhos com um braço, e estava com a respiração
agitada e selvagem. Damian a tirou de sua contemplação, sobressaltando‐a quando se ergueu e
disse:
— É uma feiticeira. Essa é a única explicação. — Damian ficou de pé. — Não pode sair nada
bom disto. E se te deixei grávida?
— Um homem de sua experiência deveria saber como evitar algo assim — atacou‐o Elissa.
Damian colocou as calças.
— Não tenho controle no que a ti se refere. Deixa‐me em um constante torvelinho. Debato‐
me entre o desejo de te estrangular e o de te fazer o amor. Quando estou dentro de ti, não há
volta atrás.
Elissa levou a mão ao ventre.
— Só fizemos isto duas vezes. Talvez devesse pedir a nana uma poção para expulsar sua
semente em caso de que tenha jogado raízes em meu ventre. Não quero trazer um bastardo ao
mundo.
Damian girou com o rosto negro de fúria. Colocou suas mãos nos ombros, a mantendo
colada à cama.
— Não! Proíbo você! Não matará a meu filho.
Elissa deixou escapar um suspiro de alívio. Era um pecado matar a uma criança inocente. Às
vezes, alguma mulher do povoado pedia a nana uma poção para livrar‐se de um filho não
desejado, mas nana sempre se negava e as aconselhava em troca que praticassem a abstinência.
— Há muito poucas possibilidades de que tenha concebido — disse Damian, como se
quisesse convencer‐se a si mesmo. — Fica tranquila, asseguro‐te que isto não voltará a acontecer
de novo. Enquanto isso, permanecerá sob chave e ferrolho até que decida seu destino. Um duro
castigo não é a resposta, posto que só serviria para enfurecer aos membros de seu clã. Mas te juro
que nunca terá uma nova oportunidade para voltar a me trair.
As palavras do Damian ficaram penduradas no ar rarefeito muito tempo depois de que
tivesse saído do quarto.
O dia transcorreu lentamente. Elissa sentia falta da sua mãe e a sua irmã. Levou uma
surpresa quando apareceu Maggie com roupa limpa e uma jarra de água. Teria mudado de opinião
Damian a respeito de permitir a entrada de visitantes?
No tempo que a permitiram ficar, Maggie contou a última intriga. Elissa se inteirou de que
dobraram as patrulhas, mas que Damian seguia pensando em enviar de retorno a Londres ao
regimento real das Terras Altas.
Elissa pensou que Maggie tinha algo mais em mente, mas por desgraça, o guarda fez sair a
sua parente do quarto antes que ela pudesse perguntar mais alguma coisa.
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Maggie enviou para ela um olhar de simpatia por cima do ombro quando a porta se fechou
atrás dela.
Elissa passou o dia mortalmente aborrecida, sem outra coisa que fazer mais que olhar pela
janela. Levou uma grande surpresa quando o próprio Damian chegou com o jantar.
Lhe lançou um olhar cauteloso. — Onde está Maggie?
— Dando uma volta com sir Richard.
— Eu deveria tê‐lo sabido.
— Tem alguma objeção?
Elissa deu de ombros.
— Serviria de algo? Vocês os ingleses sempre fazem o que querem.
Damian deixou a bandeja sobre a mesa e a vigiou enquanto ela se sentava em uma cadeira e
bicava com delicadeza as fatias de carne de veado com verduras.
Deteve o garfo a metade do caminho de sua boca quando percebeu que Damian tirava a
jaqueta e a camisa.
— O que está fazendo?
— Me preparando para ir à cama.
— Vais dormir aqui?
— Este é meu quarto.
— Mas acreditei que disse que nós... não estaríamos juntos nunca mais.
— E não o estaremos. Estou pondo a prova a mim mesmo. Quero pensar que não sou tão
fraco para não poder me controlar quando te tenho perto. O que ocorreu antes não voltará a
acontecer porque a partir de agora estarei em guarda contra suas artimanhas.
Elissa deixou o garfo.
— Minhas artimanhas! Como te atreve? Foi você quem me atacou. Damian franziu o cenho.
— Come, senhora, está se fazendo tarde e estou muito cansado.
Sentou‐se na borda da cama e tirou as botas e as calças.
Elissa o ignorou conscientemente enquanto se estirava em cima das mantas. A comida tinha
sabor de palha, mas obrigou a si mesma a comer e a beber em uma tentativa de demonstrar seu
desprezo pelo homem ao que muitos chamavam o Cavalheiro Demônio.
Quando comeu tudo o que pôde, separou de si o prato e perguntou:
— Onde eu vou dormir?
— Pode compartilhar a cama comigo, se quiser.
— Não, obrigado. Me conformarei com o tapete que há em frente a lareira. Pode me dar um
travesseiro e uma manta?
— É obvio — assegurou Damian. — Encontrará tudo o que necessita no baú que tem nos pés
da cama. Boa noite.
Elissa encontrou a manta e a estendeu diante da lareira.
Logo se deitou completamente vestida e subiu a manta até o pescoço. Não se permitiu
relaxar até que escutou a rítmica cadência da respiração de Damian.
Mas quanto tentou dormir, a lembrança de como fez o amor com ele apareceu como um
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intruso.
Elissa nunca imaginou que desejaria as carícias de um homem como desejava as do Damian.
Estava amaldiçoada. Desejar ao inimigo era a pior traição possível. Entretanto, a ideia de casar‐se
com Tavis e ter relações íntimas com ele era repulsiva. O desejo de seu pai foi unir o clã dos Fraser
com o dos Gordon, e ela dissera é obvio que se entregaria virgem a seu prometido.
O respeito que Elissa sentia pelo Tavis veio abaixo quando sugeriu que seduzisse ao Damian
para depois poder matá‐lo. Em honra à verdade, ela fez amor com Damian porque quis, não
porque Tavis tivesse exigido que o fizesse. Mas Elissa era muito consciente de que não podia ter
Damian. Era seu inimigo, e o que fizeram juntos convertia a ela em uma traidora a seu clã.
Além disso, Damian estava prometido a uma rica herdeira, e Elissa não fazia ideia do que a
esperava no futuro, exceto que esse futuro não incluía um inglês.
Durante os intermináveis dias de encerramento da Elissa, Damian retornava sempre
pontualmente a seu quarto, o que não fazia a vida mais fácil a ela. Para então já sabia quando
chegava, e se assegurava de estar aconchegada ante a lareira mostrando as costas quando Damian
entrava. Embora não estava acostumado a falar com ela enquanto se preparava para meter‐se na
cama, Elissa sentia seu olhar, e se perguntava quanto tempo transcorreria antes que o desejo
destruísse as boas intenções dele.
Damian sentia como se estivesse balançando na borda de um abismo. Um passo em falso o
enviaria à perdição, e levando‐se em conta como se sentia naqueles momentos, agradeceria‐o.
Qualquer coisa seria melhor que aquela necessidade perversa e incômoda que o levava a
dormir no mesmo quarto que Elissa quando sabia que não podia tê‐la. O que estava acontecendo
com ele?
Ele não acreditava em feitiços nem em bruxarias, mas não havia outra explicação para seu
obsessivo desejo por aquela tigresa escocesa.
Um dia, Damian estava no pátio observando como seus homens praticavam com a espada
quando um mensageiro que levava o estandarte do rei atravessou a porta.
Enquanto esperava a que o mensageiro desmontasse, Damian foi se pondo cada vez mais
tenso pela apreensão.
— Saudações. Sou sir Lowell. Trago uma mensagem do rei para lorde Damian.
— Bem‐vindo, sir Lowell. Eu sou lorde Damian. Deve estar exausto depois da comprida
viajem. Os espera cerveja e comida.
— Obrigado, lorde Damian. Devo admitir que tenho a boca seca. —Damian abriu caminho
para o castelo, perguntando‐se o que quereria esta vez o rei dele. Sentou‐se à mesa e convidou a
sir Lowell a fazer o mesmo.
Uma criada se aproximou com duas espumosas canecas de cerveja. Sir Lowell bebeu
profundamente e logo se reclinou para trás com um suspiro satisfeito.
— Trata‐se de uma mensagem verbal, meu senhor — começou a dizer sir Lowell. — Eu saí de
Londres dois dias antes que sua prometida e seu séquito. Chegarão dentro de uns dias.
— Minha prometida? — repetiu Damian, engasgando‐se com as palavras.
— Lady Kimbra Lancaster, uma herdeira de beleza excepcional e invejável posição social. O
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rei Jorge lhes envia saudações e deseja que saiba que não se esqueceu de você. Confia em que
aprove a prometida que lhes escolheu.
Ao ver que Damian permanecia em silêncio, sir Lowell disse: — Algo que eu faria se estivesse
em seu lugar, meu senhor. Lady Kimbra é uma das favoritas da corte. Invejo‐o.
Damian foi capaz de encontrar finalmente a voz.
— O rei me faz uma grande honra. Tudo estará preparado para a chegada de lady Kimbra. Se
me desculparem, devo me reunir com meu administrador. Terá que preparar as habitações para
os convidados. Ficará você muito tempo conosco?
— Só por esta noite — respondeu sir Lowell. — Devo retornar imediatamente e entregar um
relatório das condições de Misterly. O Conselho me deu instruções para fazer insistência na
importância de conservar Misterly em mãos inglesas.
— Tudo está como deve estar — manteve Damian.
Damian deixou a sir Lowell com sua cerveja e foi em busca de sir Richard. Encontrou a seu
amigo no pátio, praticando com a espada com seus soldados.
— Quero falar um momento contigo, Dickon — disse Damian interrompendo o treinamento.
Dickon baixou sua espada.
— O que ocorre, Damian? Vi chegar o mensageiro. Trouxe más notícias?
— Não, as notícias são boas — assegurou Damian com fingida jovialidade. — O rei Jorge me
envia uma herdeira. Está a caminho enquanto nós falamos.
— Felicidades! — exclamou Dickon dando uma palmada nas costas. — Espero por seu bem
que seja uma grande beleza.
— Devo preparar sua chegada — assegurou Damian. — É o primeiro em sabê‐lo.
— Espera, Damian! E o que acontece com lady Elissa? —Damian franziu o cenho.
— O que acontece com ela?
— Certamente sua prometida se inteirará da intriga. Manter Elissa encerrada em seu quarto
não foi a decisão mais inteligente. Todo mundo está a par de que dormem juntos. E chegara à
lógica conclusão de que há fez sua. Que acredita que irá dizer sua prometida? Deveria enviá‐la
longe, Damian. Digo‐lhe isso por seu próprio bem.
Damian ficou tenso. Era muito consciente de seus defeitos sem necessidade de que Dickon
os expusesse com palavras. Escutou os mexericos referentes a sua relação com a Elissa e os
ignorou sem considerar as consequências. Até a chegada do mensageiro, relegou qualquer
pensamento sobre sua prometida a um futuro remoto... muito depois de que se saciasse da Elissa.
Mas agora sua prometida se converteu em uma realidade, e estava longe como antes de
tomar uma decisão sobre o destino da Elissa. De repente seu desejo por ela se fez mais agudo,
mais cortante, nascido da frustração e de uma paixão para ela não correspondida. Aquele desejo
foi o que dirigiu seus passos para a torre.
Elissa observou a chegada da janela da torre e se perguntou o que significava. Seguro que
nada bom para os Fraser. Colocou as mãos as costas e se estirou; a dor aguda a recordou as noites
incômodas que passou dando voltas no chão diante da lareira. Quanto tempo a reteria Damian
prisioneira? O que ia ser dela?
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Sabor do Pecado 03
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 96
Continuava pensando em qual seria seu destino quando Maggie entrou no quarto. Deixou
uma jarra de água fresca sobre a mesa e se entreteve com sua colocação, negando a olhar Elissa
nos olhos.
Elissa percebeu imediatamente e ficou em guarda.
— Maggie, o que ocorre? Aconteceu algo?
Maggie levantou por fim a cabeça. Os olhos brilhavam pela compaixão.
— Sim, Elissa. E temo que não são boas notícias.
— Conta‐me as.
— Chegou um mensageiro. A futura prometida de lorde Damian vem a caminho para
Misterly.
Elissa sentiu como se uma mão gigante espremesse seu coração. — Sua senhoria está com
os preparativos da chegada. Vão arrumar a torre sul para ela e seu séquito.
— E o que acontece com minha família, Maggie? O que será dela?
Maggie deu de ombros.
— Sua senhoria não disse, mas... há algo que deveria saber. —Elissa examinou o rosto de
Maggie e não gostou do que viu.
— Pode me contar isso Maggie. Seja o que for, o suportarei.
— Os membros de nosso clã falam que... me perdoe, Elissa, mas dizem que é a amante do
Cavalheiro Demônio.
Elissa recuou como se a tivessem esbofeteado. Como poderia explicar seus jogos amorosos
com Damian? Não podia, assim permaneceu em silêncio.
— Então é certo — sussurrou Maggie. — Desonrou‐te. — É uma mulher valente, Elissa.
Acredita que Tavis quererá seguir contigo?
Elissa soltou um grunhido de repugnância.
— Não mencione esse nome diante de mim. Não se importa que me converta na amante do
Damian desde que o ajude em seus propósitos.
— OH, Elissa, não pode ser.
Damian escolheu aquele momento para irromper no quarto. Assinalou com o dedo Maggie e
disse com impaciência: — Fora.
Maggie deu a volta e saiu fugindo como alma perseguida pelo diabo. Damian fechou atrás
dela de uma portada e se apoiou contra a porta com os braços cruzados sobre o largo peito.
— O que te disse?
— Me informou que sua futura prometida está a caminho. Confio em que seja de seu
agrado, Damian. Só tenho uma pergunta que te fazer. O que será de mim e de minha família?
Elissa soube pela expressão de seu rosto que Damian não fazia a mais remota ideia de como
conduzir a situação, e por alguma razão, aquilo a aterrorizou.
Capítulo 10
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 97
A feroz expressão de Damian falava com eloquência de sua indecisão. Sua responsabilidade
para lady Marianne, Lora e Elissa não deveria ser da incumbência de lady Kimbra, mas tudo
apontava a que poria objeções a sua presença em sua casa. Portanto, Damian decidiu que Elissa e
ele já não seguiriam compartilhando o quarto, embora não estivesse ocorrendo nada entre eles.
— A chegada de lady Kimbra não mudará nada — assegurou. Elissa dirigiu um olhar de
desgosto.
— A menos que sua futura prometida seja uma lerda, duvido muito que aceite o fato de que
eu esteja prisioneira em seu quarto.
Damian franziu o cenho.
— Sim. Isso terá que mudar. Decidi pôr fim a seu confinamento. Mas tenha por seguro que
te manterei em constante vigilância. É livre de retornar a seu quarto na sala das mulheres, mas
não pode sair do castelo a menos que te acompanhe algum de meus homens. Se souber que
voltou a te pôr em contato com Gordon, procurarei para ti um lugar isolado onde não possa voltar
a ver a luz do dia. — Expliquei‐me com clareza?
— Claríssimo — espetou Elissa. — Já posso ir?
— Em seguida — Damian afastou a vista dela. — Mas antes, há algo que deveria saber.
Elissa ficou olhando‐o fixamente.
— Já sei que todo mundo diz que sou sua amante.
— Ouviste‐o? Não sabia.
As faces de Elissa se ruborizaram.
— É certo que fui a sua cama por meus próprios pés, mas... — a jovem estirou os ombros, —
isso não significa que me converti em sua amante.
Parecia tão indefesa, tão afligida pela culpa, que Damian sentiu uma pontada de compaixão,
algo pouco habitual nele. O que estava ocorrendo?
Era um pecador muito consumado para mudar em questão de poucas semanas, mas o certo
era que aqueles sentimentos estavam ali.
Damian se sentiu arrastado para a Elissa, seu corpo reagia de repente a sua proximidade de
um modo que o fazia impossível afastar‐se dela. Desejava‐a, sim, mas sabia que tomá‐la levaria
aos dois pelo caminho do desastre.
Por desgraça, seu corpo se negava a seguir as ordens de sua cabeça, e a atraiu para si para
abraçá‐la. Ela ficou tensa em um princípio, mas logo se estreitou contra ele. Esse foi todo o
estimulo que necessitava Damian. Apertou‐a com força entre seus braços.
— É uma ameaça para minha posição em Misterly, por não mencionar para minha prudência
— sussurrou contra a sedosa suavidade de seu cabelo. Cheirava a campo de flores, e o fez se sentir
aturdido pelo desejo.
Um desejo que ele sabia que poderia trazer nefastas repercussões no futuro.
Elissa murmurou algo contra seu ombro que soou como um protesto.
— Não deveria te desejar como te desejo — sussurrou Damian.
— Nem eu a ti — como tivesse percebido o que acabava de dizer, separou‐se dele com o
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rosto ruborizado pela confusão. — Não quis dizer isso.
— Muito tarde para ambos, temo‐me.
— Não! Sua prometida vem a caminho. Compartilhará sua cama e te dará filhos. Eu sou sua
inimiga.
— Mas eu não sou o teu — emoldurou o rosto dela com suas longas mãos e ficou olhando
fixamente seus lábios. Logo inclinou a cabeça para saborear sua boca em que pensou que
provavelmente seria a última vez.
Seu tênue gemido avivou sua necessidade de intensificar a paixão de seu beijo. A língua de
Damian afundou em profundidade enquanto suas mãos a moldavam, acariciavam seus braços, as
costelas, os seios, memorizando cada curva e cada fenda de seu receptivo corpo.
Damian desabotoou a gola do seu vestido; seus lábios abriram um caminho de fogo entre
seus seios, ele recolheu as saias com os dedos e colocou uma mão entre suas coxas. Elissa o beijou
por sua vez, abrindo as pernas para recebê‐lo. Então, percebendo o que estava acontecendo,
soltou‐se e se separou dele.
— Não, Damian, não serei sua amante. Se me render agora a ti, confirmaria o que minha
gente pensa de mim. Sou uma jacobina e você é inglês. Nada poderá mudar isso.
Damian deixou cair as mãos. Sua voz se tornou dura, implacável. — Tem razão, certamente.
Obrigado por me recordar nossas posições, senhora. Se não podemos ser amantes, então sejamos
inimigos.
Deu a volta para partir, mas então se virou para confrontá‐la.
— Sugiro que conviva bem com minha prometida quando chegar, se o bem‐estar de sua mãe
e de sua irmã significa algo para ti.
Elissa ficou olhando a porta fechada durante compridos minutos uma vez que ele partiu.
Conviver bem com sua futura prometida? Isso ia ser difícil, levando‐se em conta o que ocorreu
entre Damian e ela.
Podia cuidar de si mesma; eram sua mãe e Lora as que a preocupava. Sabia instintivamente
que lady Kimbra não gostaria que estivessem em sua casa. Por que se mostrava Damian tão
empenhado em retê‐la em Misterly? Que razão podia ter para mantê‐la sob seus pés? No que ao
Damian se referia, nada fazia sentido.
Elissa saiu da torre pouco tempo depois. Não havia nenhum guarda na porta, mas podia
sentir uns olhos seguindo‐a quando cruzou o salão e subiu as escadas para a sala das mulheres.
Damian não mentiu.
Embora a deixaram sair da torre, seguia sendo uma prisioneira.
Contente de estar outra vez em seu próprio quarto, Elissa se banhou e mudou de roupa para
ir visitar sua mãe. Alegrou‐se de ver Lora com Marianne, aconchegada a seu lado na cama lendo
um livro.
— Lissa! — saudou‐a Lora quando entrou no quarto. — Quanto me alegro de que Damian te
tenha deixado sair da torre. O disse que era muito mau por te manter ali.
Elissa deu um breve abraço na sua irmã. — Estou de acordo contigo, querida.
Marianne estendeu uma de suas frágeis mãos e Elissa a agarrou. — Como está, mamãe?
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Marianne dirigiu um sorriso tranquilizador.
— Muito melhor. Já me levanto e caminho um pouco. Graças a lorde Damian, percebi que a
vida continua. Tenho muitas coisas pelas quais viver. Meu marido e meus filhos já não estão, mas
ainda tenho a minhas preciosas filhas.
— Espero que não esteja se afeiçoando muito com Damian, mamãe — repreendeu‐a Elissa.
— É nosso inimigo. Arrebatou‐nos nossa casa e nossas terras. Talvez ele brandiu a arma que
matou a nossos homens.
Marianne suspirou.
— Já sei, querida, mas nossos homens escolheram ir à guerra. Lutaram pelo príncipe Carlos e
seu direito a reinar e perderam. Lamento profundamente o massacre, mas isso já ficou para trás.
Ainda temos nosso orgulho e nossa coragem, ninguém pode nos arrebatar isso. Sentirei falta de
seu pai e de seus irmãos até o dia em que morra, mas tenho Lora e a ti. Se para viver em paz terei
que aceitar a lorde Damian como senhor de Misterly, então que assim seja.
— Sinto muito, mamãe, mas eu não posso reprimir meu ódio pelos tiranos ingleses.
— Por que você não gosta de Damian? — perguntou Lora.
— Lora, meu amor — interrompeu‐a Marianne, — corre à cozinha e peça ao Winifred que te
dê algo de comer para que aguente até o jantar. Não acaba de dizer‐me que tem fome?
— Espero que tenha feito pão de gengibre — disse Lora esperançada.
— Por que não vais perguntar?
— Muito bem. Terminará de me ler o livro mais tarde, mamãe?
— Sim, meu amor. Vamos, agora vete.
— Está melhor, verdade mamãe? — perguntou Elissa quando Lora se foi.
— Muito melhor, filha. Inclusive estou comendo mais para recuperar forças.
— OH, mamãe, me alegro muito. Quando estiver o suficientemente forte, talvez possa
convencer Damian para que nos deixe ir a Glenmoor visitar a prima Christy.
Marianne examinou o rosto de Elissa. — Está segura de que quer partir, filha?
Elissa recordou sua recente conversa com Damian em seu quarto e tocou os lábios
recordando seus beijos e quão disposta esteve a sucumbir de novo a ele. Damian punha em perigo
sua prudência e sua lealdade; devia partir.
— Devemos ir, mamãe. A futura prometida de Damian chegará logo. Não gostará que
vivamos aqui. Está em seu direito de incitar a que Damian nos jogue.
— Ainda desejas te casar com Tavis Gordon? Ama‐o, filha? Elissa vacilou.
— Não amo ao Tavis. É um dos nossos, mas há coisas nele que não merecem meu respeito.
— Suponho que tem razão, não acredito que a prometida de Damian nos queira em
Misterly, mas acredito que sua senhoria terá algo a dizer a respeito de nos jogar.
A mão de Marianne apertou com mais força a da Elissa. — Queria te fazer uma pergunta,
filha.
Elissa soube do que se tratava e ficou tensa.
— É certo que te converteste na amante de lorde Damian?
— Não, não sou a amante do Cavalheiro Demônio.
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— Desonrou‐te?
Elissa afastou a vista.
— Não pergunte, mamãe. É complicado.
— Elissa...
— Não, mamãe, por favor. O que existe entre Damian e eu é pessoal. Não quero falar disso.
Lady Marianne acariciou o rosto de sua filha.
— Confio em que não albergue nenhum sentimento para lorde Damian. Vai se casar com
uma herdeira. Nada poderá mudar isso.
— Hei dito que não quero falar deste assunto — repetiu Elissa levantando‐se bruscamente.
— Preciso ir. Virei a te visitar mais tarde.
— Elissa... quer que fale com lorde Damian disto? A jovem franziu o cenho.
— Falar do que?
— De que sua senhoria se aproveitou de sua inocência.
Elissa lutou consigo mesma com força antes de responder.
— Damian não fez nada que eu não quisesse fazer.
Suas palavras ficaram penduradas no ar como a névoa de outono enquanto Elissa saía a toda
pressa do quarto.
Durante os seguintes dias, Elissa se manteve ocupada do amanhecer até a noite, procurando
por todos os meios evitar Damian. Irritava‐a profundamente não poder sair do castelo sem
escolta, mas dado que não queria voltar a estar isolada, aguentou a presença dos guardas do
Damian.
O que mais doía era o modo em que todos a olhavam desde que saiu da torre. Em realidade,
ninguém se aproximou para perguntar se era a amante do Damian, mas estava segura de que
todos pensavam.
Elissa não voltou a saber nada de Tavis, e se perguntou se teria abandonado seus planos de
jogar Damian do Misterly. Quanto mais pensava em Tavis, menos desejava converter‐se em sua
esposa.
Não podia esquecer como a utilizou. Tampouco poderia casar‐se nunca com um homem que
a urgiu a entrar na cama de outro por uma causa que já estava perdida.
Elissa estava um dia dando uma mão a Winifred na cozinha quando uma muito nervosa
Maggie entrou a toda pressa pela porta. — Está aqui! A prometida de lorde Damian! Seu séquito
acaba de entrar pelo pátio.
Em Elissa deu um tombo no coração. Embora esperava a chegada da dama, não estava
preparada para nenhuma classe de resposta emocional.
— Que aspecto tem? — perguntou Winifred.
— Não a vi, mas dizem que é uma grande beleza.
Elissa tentou convencer‐se de que a beleza de lady Kimbra ou a falta dela não era assunto
dela. Entretanto, isso não impediu que sentisse curiosidade pela noiva de Damian. Seria a dama
uma senhorita doce e recatada que adoraria Damian? Perguntou‐se. Que Deus ajudasse a pobre
mulher se se apaixonasse por esse canalha. Damian nunca entregaria o coração a uma mulher,
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porque o guardava ciosamente dentro de si.
Elissa escutou uma agitação no grande salão e o diabo que levava dentro a fez escapulir para
jogar uma olhada aos recém chegados. Rondando perto da porta da cozinha, olhou por cima das
cabeças que assentiam em direção à herdeira do Damian.
A Elissa caiu a alma aos pés. Lady Kimbra era realmente uma beleza, a típica rosa inglesa de
dourado cabelo loiro, pele de pêssego e creme e feições de boneca, quase muito perfeitas para ser
reais.
Era pequena e miúda, e sua figura feminina estava arredondada nos lugares adequados. OH,
sim, a dama era realmente encantadora, e estava sorrindo a Damian como se quisesse devorá‐lo.
Elissa se aproximou um pouco mais. Viu Damian levar aos lábios a delicada e branca mão de
lady Kimbra, e Elissa afundou suas avermelhadas mãos no avental.
Com repentina lucidez, percebeu que talvez Damian não amasse a sua prometida, mas sem
dúvida saberia apreciar sua beleza.
— Bem vinda a seu novo lar, minha senhora — escutou dizer Damian. — Confio em que
chegue a amar Misterly tanto como eu.
Elissa percebeu o olhar desdenhoso de lady Kimbra e percebeu algo que Damian não notou.
A prometida do Damian odiava Misterly.
— Suponho que não está mal para vir de vez em quando de visita — respondeu ela com
aborrecida indiferença. — Mas meu senhor, imagino que não pretenderá que definhe nesta terra
selvagem durante a temporada de baile, verdade? Bom, eu simplesmente morreria se não
pudesse ir aos bailes e as festas.
Elissa viu como Damian franzia levemente o cenho e esperou com ânsia sua resposta.
— Ambos estamos aqui por ordem do rei, minha senhora — recordou‐lhe Damian com mais
gentileza do que Elissa esperava dele. — Estou seguro de que terminará te acostumando à beleza
de Misterly e desfrutará de sua paz.
— Esperas que encontre paz em um lugar habitado por traidores jacobinos? — espetou lady
Kimbra. — Temo‐me que não, lorde Damian — a dama agitou seu leque languidamente diante de
seu rosto. — Estou fatigada, meu senhor. Possivelmente uma das criadas poderia me mostrar meu
quarto.
Damian baixou a voz; Elissa se aproximou um pouco mais para poder escutar.
— Acreditei que falaríamos de nossas bodas, minha senhora. Dispôs Sua Majestade data
para as núpcias?
Um homem vestido de negro rigoroso deu um passo adiante. — Sou o reverendo Trilby, meu
senhor. Será um prazer para mim celebrar as bodas. Nossa Graciosa Majestade deixou a sua
escolha decidir a data da cerimônia nupcial.
— Bem vindo a Misterly, reverendo — disse Damian. — Espero que desfrute de sua estadia
aqui.
Elissa conteve o fôlego enquanto Damian considerava suas seguintes palavras.
— Acredito que seria conveniente que lady Kimbra e eu nos conhecêssemos um ao outro
antes das bodas.
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— Estou de acordo, meu senhor — assegurou o reverendo Trilby amigavelmente. — Não
muitos homens seriam tão cuidadosos como você com os sentimentos de uma mulher.
Kimbra baixou a cabeça com recato.
— O que você diga, meu senhor — seu rouco ronrono encerrava um indício de promessa. —
Estou a sua disposição, é obvio — a dama colocou uma de suas delicadas mãos no peito de
Damian.
— Não estou descontente com a escolha de marido que fez o rei para mim, lorde Damian, e
estou desejando... — elevou os olhos em expressão de ênfase, — que nos conheçamos melhor.
Elissa decidiu que já ouvira suficiente quando o olhar de Damian se cruzou com o seu.
Tentou parecer discreta e humilde quando ele fez um sinal para que se aproximasse.
Elissa arrastou os pés enquanto abria caminho até ele. — Elissa, por favor, leva a lady Kimbra
e a sua donzela à torre sul. Já levaram seus baús ao quarto.
Elissa assentiu mas não disse nada, limitou‐se a suportar o olhar insolente da Kimbra.
— São todas as criadas tão exuberantes como esta? — perguntou Kimbra.
Damian elevou as sobrancelhas.
— Exuberante? O que quer dizer, minha senhora?
— Com esse aceso cabelo vermelho. É indecente. Quem é ela, meu senhor?
— Sou Elissa Fraser — respondeu Elissa com orgulho. — Misterly é minha casa.
— Elissa — a advertiu Damian.
— Uma jacobina — disse Kimbra com desprezo. — O que está fazendo aqui, lorde Damian?
Entendi que a filha de lorde Alpin foi exilada.
— Falaremos disto mais tarde, minha senhora — disse Damian. — Preparamos quartos para
ti e sua donzela na torre sul. Estou seguro de que você adorará as vistas. Se me desculpar, me
encarregarei do alojamento do reverendo Trilby e de seu séquito.
— Se desejarem, senhora — disse Elissa com frieza para indicar que Kimbra a seguisse.
— Vamos, Daisy — disse lady Kimbra dirigindo‐se à tímida e pequena criada que rondava por
trás dela.
Elissa estava a par de que Damian ordenou que preparassem a torre sul especialmente para
lady Kimbra. O castelo foi despojado de seus melhores móveis para decorar o quarto da futura
condessa.
Elissa ficou sem a escrivaninha de mogno que pertenceu a sua avó e Marianne perdeu a
delicada rede que antes estava colocada sob sua janela. Elissa esperava em que lady Kimbra o
apreciasse.
— Seus aposentos têm uma preciosa vista às montanhas, e há um quarto pequeno justo ao
lado para sua donzela — disse Elissa quando Kimbra, seguida por sua donzela, passou por diante
dela. As ladeiras são deliciosamente agradáveis quando a urze está em flor — continuou.
Kimbra se deteve tão bruscamente que sua donzela trombou contra ela. A dama enrugou o
nariz em gesto de evidente desagrado. — Isto não está a minha altura — aspirou o ar pelo nariz
com desprezo. — Isto é o melhor que pode me oferecer o castelo? Estou acostumada a algo muito
melhor.
Connie Mason
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Elisa apertou os lábios.
— Lorde Damian o preparou especialmente para você.
— Ah, lorde Damian. Não esperava que fosse tão... bonito. Também é bastante aterrador,
mas isso eu gosto em um homem — os olhos brilharam. — vai causar furor em Londres.
— Londres, minha senhora? Lorde Damian não gosta de Londres. Misterly é seu lar. Não tem
pensado em partir.
Kimbra olhou a Elissa com os olhos entreabertos.
— Como pode presumir saber o que pensa lorde Damian? O que é você para ele?
— Não sou nada para lorde Damian. Menos que nada. Quer que ajude a sua donzela a
esvaziar seus baús?
— Não, Daisy pode fazê‐lo sozinha. Avisa lorde Damian de que esta noite desejo jantar em
meu quarto. Enviarei Daisy para buscar uma bandeja.
— Como deseja — disse Elissa, que estava desejando perder de vista à altiva noiva do
Damian.
— Espera!
— Sim?
— Diga a lorde Damian que espero sua visita antes que se retire. Temos muitas coisas do
que falar.
Certamente que sim, pensou Elissa enquanto partia. Podia imaginar muito bem o que
ocorreria naquele quarto assim que Kimbra e Damian ficassem a sós.
Damian já saíra do salão, assim Elissa se dirigiu à cozinha. Maggie a interceptou.
— Lady Kimbra não fará muitos amigos em Misterly — assegurou Maggie. — Pode ser que
seja uma grande beleza, mas não tem respeito por nossa terra nem por nossa gente. Não trará
nada bom a lorde Damian.
— Isso não é meu assunto — respondeu Elissa encolhendo os ombros. Então baixou a voz. —
Não posso ficar em Misterly.
— Como vais escapar? A mantém muito vigiada.
— Ainda não sei.
Maggie apertou seu braço. — Desejo‐te boa sorte.
Maggie deu a volta e tropeçou com o sólido muro do peito de sir Richard. Elissa observou
com interesse como os braços do Dickon a rodeavam, segurando‐a.
— Sir Richard, está procurando algo? — perguntou Maggie afastando‐se dele.
— Sim — brilharam seus olhos provocativamente e baixou a voz, mas Elissa o ouviu de todas
formas. — Você já sabe o que procuro, Maggie.
Elissa observou ao casal com interesse... Dickon era um homem bonito, embora muito
seguro de si mesmo para o gosto de Elissa. — Não sou esse tipo de garota, sir Richard — replicou
Maggie. Richard riu com cinismo.
— Não me diga que é dessa classe de mulheres que se reservam para o matrimônio.
Maggie ficou tensa.
— E o que tem isso de mau?
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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— Enquanto haja mulheres dispostas a meu redor, não tenho necessidade de me casar.
— Sugiro‐te que procure então a uma dessas mulheres dispostas.
— Talvez o faça — girando sobre seus calcanhares, Richard se afastou dali.
Damian retornou ao salão a tempo de presenciar o intercâmbio entre Dickon e Maggie. A
julgar por como estavam as coisas, seu amigo parecia estar fazendo poucos progressos com aquela
obstinada moça.
Mas bom, ele tinha seus próprios problemas aos que enfrentar. Sua futura prometida já
chegou, e as bodas estava em torno da esquina.
Damian viu Elissa enchendo uma jarra de cerveja e a seguiu com o olhar. Havia muito que
admirar em Elissa além de sua beleza, mas a obstinação não era a melhor de suas virtudes.
A expressão de Damian se tornou sombria quando recordou como foi a sua cama para logo
mentir sobre suas motivações.
Damian captou a atenção da Elissa e lhe fez um gesto para que se aproximasse.
— Mais cerveja, meu senhor? — perguntou‐lhe com frieza.
— Não. Já se instalou lady Kimbra?
Elissa soltou uma gargalhada zombadora.
— Eu não diria tanto. Sem dúvida terá percebido que lady Kimbra despreza Misterly. Diz que
não está a sua altura. As Terras Altas não são Londres, e ela sabe muito bem.
— Terminará gostando — disse Damian com mais convicção do que sentia.
— Sua dama me pediu que lhe de uma mensagem — informou Elissa. — Esta noite estará te
esperando em seu quarto.
Damian assentiu. Por alguma razão, não o entusiasmava aquele encontro. Agradecia a
generosidade do rei naquele matrimônio acertado, mas temia que o custo que suporia para sua
paz mental excederia os benefícios que contribuiria a seu modo de vida. O pouco que viu de lady
Kimbra não o impressionava, mas estava disposto a conceder o benefício da dúvida.
Ele não era dos que tomavam decisões precipitadas, assim decidiu reservar sua opinião até
conhecer melhor a sua futura prometida. Era injusto comparar Kimbra com Elissa em tão curto
espaço de tempo.
Depois do jantar, Damian se consultou com sir Brody para falar dos acertos para o
alojamento e as provisões dos novos hóspedes. Sir Brody assegurou que os convidados não
afetariam ao pressuposto do Misterly.
— Posso te fazer uma sugestão, meu senhor? — perguntou sir Brody.
— É obvio — respondeu Damian, a quem picou a curiosidade.
— Lady Marianne está se recuperando de forma considerável.
Acredito que seria benéfico tanto para ela como para os membros de seu clã que jantasse no
salão. Os Fraser precisam ver como está melhorando sua senhora sob seus cuidados.
Damian examinou o rosto de sir Brody. — Há algo mais, verdade?
Sir Brody assentiu. — Lady Marianne sente que está muito tempo isolada e sente falta do
contato com os membros de seu clã. Pediu‐me que te faça chegar sua petição.
Damian sopesou a solicitude de lady Marianne. Não tinha nenhuma objeção, e assim o disse
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a sir Brody. A enormidade do sorriso de sir Brody deu a entender a Damian que a senhora e seu
administrador estavam ainda mais unidos do que ele suspeitava.
Consciente de que o tempo transcorria, Damian se levantou e subiu as escadas em direção
ao quarto de lady Kimbra. A tímida donzela da Kimbra respondeu quando ele bateu na porta.
O sorriso fraquejou quando Damian passou por diante dela antes que tivesse tempo de
anunciar sua presença.
— Pode ir, Daisy — disse Kimbra fazendo um gesto com a mão para que a criada partisse.
Daisy saiu com considerável rapidez.
Damian se deteve sobre seus passos quando viu a Kimbra estendida na cama em um
atrevido peignoir6, seu generoso busto exposto pelo decote do objeto e com uma de suas bem
torneadas pernas nua até a altura da coxa.
Damian se perguntou vagamente por que a visão de suas voluptuosas curvas não conseguia
excitá‐lo.
— Obrigado por vir — ronronou Kimbra. — Acreditei que talvez sua amante não te daria a
mensagem.
— Se estiver se referindo a Elissa, que por certo, não é minha amante, sim me deu sua
mensagem. O que é isso que quer falar?
Kimbra deu um tapinha na cama a seu lado. Seus olhos brilhavam em claro convite.
— Veem te sentar a meu lado, meu senhor. Como você mesmo há dito, devemos começar
quanto antes a conhecer um ao outro.
Damian se sentou com cuidado na borda da cama. Aquela mulher ia ser sua esposa, sua
companheira na vida. Por que se sentia tão incômodo perto dela?
— Então — começou a dizer Kimbra, — falamos de onde vamos viver? Quanto tempo
devemos permanecer nesta terra selvagem antes de poder fixar nossa residência permanente em
Londres? — perguntou com um delicado estremecimento que fez com que a manga de sua
camisola caísse para baixo.
Damian deixou cair o olhar para seus seios, perguntando‐se quantos homens teriam tido o
privilégio de contemplá‐los como ele estava fazendo agora. Trataria‐se de uma jovem inocente?
Não o surpreenderia que lhe pusesse chifres antes que secasse a tinta dos papéis de seu
matrimônio. Sacudiu a cabeça para dissipar suas dúvidas e prometeu ser mais tolerante com seus
flertes.
Como nasceu e cresceu em Londres, certamente estaria atuando de acordo ao
comportamento que aprendeu na corte.
— Não respondeste a minha pergunta, meu senhor — disse Kimbra com ar de superioridade.
— Não tenho intenção de fixar minha residência permanente em Londres — replicou
Damian. — Misterly é agora meu lar.
Kimbra fez uma careta, e logo estirou as mãos para deslizar pelo peito de maneira sugestiva.
— Sou conhecida por minha capacidade para fazer os homens mudarem de opinião.
Damian se afastou. O que estava acontecendo com ele? Kimbra era uma mulher formosa e 6 Vestimenta leve que as mulheres usam em casa.
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sensual, deveria estar tremendo de desejo em lugar de tentar evitá‐la.
— Descobrirá que a mim não pode convencer com facilidade.
— Nego‐me a ficar presa neste lugar esquecido por Deus depois de nossas bodas —
proclamou Kimbra com petulância. — Para esta gente sou uma estranha. Odeiam‐me. A água de
meu banho estava morna, a comida era repugnante, e sua amante se mostrou desrespeitosa.
Damian apertou os dentes em gesto de frustração. — Repito‐lhe isso, Elissa não é minha
amante.
Kimbra ficou olhando‐o, seu desgosto era evidente. — Por que segue essa mulher aqui se
não é sua amante?
Damian saiu imediatamente em defesa da Elissa.
— Deixa Elissa fora disto, minha senhora. Ela não tem nada que ver com nosso matrimônio.
Estou seguro de que chegaremos a nos entender como marido e mulher quando nos conhecermos
um pouco mais.
— Isso não responde a minha pergunta, meu senhor — insistiu Kimbra.
— Sua pergunta é irrelevante, embora suponha que deveria te falar da Elissa antes que o
faça outra pessoa. Seu pai e seus irmãos foram mortos em Culloden. A ela e a sua família foi
permitido seguir vivendo em Misterly porque é um lugar remoto e inútil para a Coroa. Então
chegou a Londres a notícia de que Elissa pretendia se casar com o foragido Tavis Gordon. Fui
chamado a Londres e me entregaram Misterly com a condição de que evitasse esse matrimônio e
conservasse esta terra para a Inglaterra. Elissa não é mais que um peão em um desagradável jogo
que pretende unir os clãs para tentar levar adiante outra tentativa de rebelião.
— Por que segue aqui? — inquiriu Kimbra. — É uma traidora. Envia‐a a Londres e deixa que
a Coroa se encarregue dela. Esse seria um justo final para uma bruxa jacobina.
O veneno de sua voz assombrou Damian.
— Não quero carregar a morte dela em minha consciência — disse com frieza. — A dama
ficará em Misterly até que eu ordene o contrário.
— Dama? Chama dama a essa traidora? Como sua esposa, meu senhor, tenho direito a dizer
quem fica em Misterly e quem se vai, e Elissa Fraser se vai sem dúvida nenhuma.
Damian ficou bruscamente de pé. Precisava partir dali antes de perder a calma, além dos
sentidos, e ordenar a Kimbra que retornasse a Londres, o que seria um erro. O rei não toleraria
jamais semelhante desobediência.
Kimbra deve ter percebido que estava puxando muito o fio da paciência do Damian, porque
dirigiu um sorriso cativante e segurou seu braço.
— Não te zangue comigo, meu senhor. Quando estivermos casados não terá necessidade de
nenhuma amante. Inclusive suplicarei ao rei que nos deixe pôr nossa residência em Londres. Eu
sou sua pupila, e me tem afeto.
— Já veremos, minha senhora — disse Damian escapando e afetando uma reverência
indolente. — Boa noite. O café da manhã se serve cedo no campo.
— Eu não sou de me levantar antes de meio‐dia — exclamou Kimbra com simulado horror.
— Enviarei a minha donzela à cozinha a buscar chocolate e um pão‐doce quando despertar.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 107
— Boa sorte — murmurou Damian entre dentes. Poderia considerar‐se afortunada se
conseguisse um chá fraco e bolos de aveia. Mas isso era algo que sua mimada e exigente futura
prometida descobriria muito em breve por si mesma.
Damian saiu com grandes passos do quarto, sua opinião a respeito de lady Kimbra estava se
erodindo rapidamente. Mostrou‐se disposto a lhe dar uma oportunidade, mas apesar de sua
grande beleza, não o impressionou. Por desgraça, não existia muito que pudesse fazer a respeito.
Em quatro semanas se casaria com lady Kimbra, se deitaria com ela e receberia de bom grado os
filhos que lhe desse.
Aquilo o fez se deter um instante a pensar. Por alguma inexplicável razão, imaginou a seus
filhos com um reluzente cabelo vermelho e os olhos verdes.
Capítulo 11
Damian escapou durante a manhã seguinte. Se uniu a seus homens durante os exercícios de
espada, reuniu‐se com sir Brody e saiu a caçar com Dickon. Quando retornou ao castelo,
encontrou‐se com uma disputa no salão que extrapolou. Kimbra e Elissa estavam acertando as
contas uma com a outra, brigando como lavadeiras. Damian abriu passagem através do grupo de
curiosos que havia a seu redor e se colocou entre elas.
— Que diabos está acontecendo?
Kimbra se virou para ele com seus olhos azuis brilhando de fúria. — Por favor, não amaldiçoe
em minha presença, meu senhor.
— Minhas desculpas, minha senhora — espetou Damian com sarcasmo. — Seria tão amável
de me dizer o que significa este comportamento tão impróprio de uma dama?
— Com muito prazer — respondeu Kimbra lançando a Elissa um olhar carregado de rancor.
— Esta moça jacobina me insultou.
Damian elevou uma sobrancelha em direção a Elissa. — Elissa...?
— Eu só sugeri que, levando‐se em conta que Misterly vai ser o lar de lady Kimbra,
deveríamos nos esforçar por nos dar bem. Sua futura prometida irrompeu na cozinha proferindo
insultos. E então, sem provocação prévia, lançou uma taça de chá na cabeça de Winifred enquanto
insistia em que ignoraram deliberadamente suas ordens. Enviou a sua donzela para buscar uma
taça de chocolate e Winifred preparou um chá em seu lugar. Winifred explicou a lady Kimbra que
não havia chocolate. Eu só tentei explicar que não contamos com muitos luxos em Misterly.
— Vou proporcionar uma grande riqueza a este matrimônio, meu senhor — assegurou
Kimbra, — e deveria me proporcionar tudo o que deseje.
Damian conteve um grunhido.
— Faça sir Brody conhecer seus desejos e ele fará o possível para satisfazer suas
necessidades em um prazo razoável.
Kimbra deu um pisão no chão. — Quero chocolate agora!
Connie Mason
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Damian elevou os olhos ao céu suplicando paciência. — Temos um pouco de chocolate,
Elissa?
— Não, meu senhor. É o que acabo de dizer. O chocolate é um luxo que os Fraser não
puderam se permitir. E mesmo que tivéssemos um pouco, depois deste arrebatamento, Winifred
teria enterrado no jardim antes de servir a sua dama.
Damian reprimiu um sorriso.
— Aí o tem, lady Kimbra. Sem dúvida tentaremos por todos os meios conseguir sua bebida
favorita no futuro.
Kimbra assinalou a Elissa com o dedo.
— Exijo que a castigue por seu desrespeitoso comportamento.
— O que sugere? — perguntou Damian com falsa tranquilidade.
Kimbra dirigiu um sorriso encantador.
— Uma boa surra a poria em seu lugar. Deve dar exemplo aos outros jacobinos, meu senhor.
A fúria de Damian pendia por um frágil fio.
— Estou tentando conviver bem com os membros do clã de Elissa, e você não está me
ajudando. Necessito‐os para que Misterly prospere. Sua riqueza não servirá de nada se não existir
ninguém trabalhando nos campos, compilando as colheitas e atendendo ao gado. Deve aprender a
conviver bem com esta gente, porque eles são agora sua gente.
Kimbra recuou como se a tivessem golpeado.
— Minha gente? Duvido‐o meu senhor... estes aldeãos estão abaixo de mim.
Damian reagiu espontaneamente. Agarrou‐a pelo braço e a levou a uma sala em que podiam
vê‐los, mas não escutá‐los.
— Estou eu por baixo de ti, minha senhora? Considera‐me inferior a seus pretendentes
londrinos? Eu sou o amo aqui. Não me dirá o que tenho que fazer.
Damian viu como abria os olhos de par em par, escutou como ficava a respiração retida na
garganta, e sentiu como cravava seus dedos no ombro. Mas em vez de afastá‐lo, Kimbra o atraiu
para si.
Damian soltou um bufo de desgosto, consciente de repente de que a dama estava excitada.
Despertou sua paixão quando esperava ira, ou ao menos medo.
— Damian, Damian! — ofegou. — OH, Deus, é tão dominante. E eu adoro os homens fortes.
Me leve a seu quarto e me faça tua. Agora, meu senhor, por favor.
Antes que ele pudesse responder, Kimbra baixou sua cabeça e apertou os lábios contra os
seus. Damian, curioso, deixou que o beijasse, perguntando‐se se aquele beijo o afetaria como o
faziam os da Elissa.
Deitou‐se com incontáveis mulheres, compartilhou numerosos beijos apaixonados, mas só
Elissa o fazia desejar algo mais profundo.
Estranhamente indiferente, Damian não sentiu mais que um morno desinteresse pelos
beijos da Kimbra. Seu primeiro pensamento foi que sabia mais de beijos do que deveria saber uma
virgem.
Sua língua pequena e perversa sondou sua boca como se soubesse exatamente o que estava
Connie Mason
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fazendo. Apesar de todos seus esforços, Damian permaneceu impávido. Interrompeu o beijo e se
separou dela.
— Damian, por favor — suplicou‐lhe Kimbra. — Não me deseja? Logo estaremos casados,
Que importa?
— Só tento proteger seu bom nome — Damian tentou desviar a questão. — Minha mulher
deve estar acima de qualquer recriminação.
Aquilo pareceu abrandar Kimbra, porque lhe dedicou um sensual sorriso.
— Quatro semanas parecem muito tempo, mas talvez valha a pena.
— Podemos falar de seu comportamento de hoje? — perguntou Damian mudando
habilmente de tema. — Se te converter em inimiga dos Fraser, dificilmente poderá te granjear seu
carinho.
— Talvez me inclinaria mais pela tolerância se jogasse Elissa daqui.
— Pensarei nisso — respondeu Damian em uma tentativa de aplacá‐la. — Enquanto isso,
talvez você gostasse de conhecer o castelo. E bastante impressionante apesar de ser tão antigo.
Explicarei as melhoras que pensei em fazer enquanto percorremos as numerosas estadias.
Kimbra enrugou seu coquete nariz.
— Talvez em outro momento. Se sua cozinheira for capaz de preparar algo que tente meu
delicado apetite, eu gostaria de comer. Enviarei Daisy à cozinha para que instrua a seu pessoal
sobre o que eu gosto e o que eu não gosto.
— Estou seguro de que farão tudo o que esteja em suas mãos para que esteja cômoda —
disse Damian afastando a vista. — Se me desculpar, minha senhora, tenho assuntos que tratar
com meu administrador.
Elissa não pôde ouvir do que estavam falando Damian e Kimbra, mas tanto ela como todos
os outros viram o que aconteceu na sala. O beijo que Kimbra e Damian se deram falava por si só.
A paixão que se encerrava atrás daquele beijo foi tão potente que Elissa quase esperava que
Damian arrastasse a Kimbra em seguida a seu dormitório. A dama, certamente, parecia muito
disposta.
Elissa levou uma grande surpresa quando Damian interrompeu bruscamente o beijo e se
afastou dali, deixando Kimbra com expressão perplexa e altivamente satisfeita.
Elissa se preparou quando Kimbra se aproximou tranquilamente para ela com um sorriso
condescendente nos lábios.
— Tenho fome — disse a dama. — Uma comida ligeira servirá. Pescado escaldado, verduras
amadurecidas com um pouco de romeiro e pão recém assado. Mel em lugar de manteiga. Te
encarregue disso agora mesmo.
Elissa se sentiu tentada a mandar Kimbra ao diabo, mas mordeu sabiamente a língua. Os
problemas tinham agora nome novo: Lady Kimbra Lancaster.
O salão bulia de atividade quando Damian ocupou seu lugar na cabeceira da mesa aquela
noite. Circulou a voz de que lady Marianne faria sua aparição no salão, e os membros de seu clã
estavam ansiosos por ver com seus próprios olhos como ia à viúva de seu antigo chefe sob os
cuidados de Damian.
Connie Mason
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Então lady Kimbra irrompeu no salão e a conversa se interrompeu. De repente ela se
converteu no centro das atenções. O elaborado vestido próprio da corte que escolheu para sua
primeira refeição no salão tinha um decote pronunciado e estava ricamente adornado com renda.
Damian pensou que aquela ostentosa demonstração era muito elaborada para a ocasião e se
prometeu que ensinaria a Kimbra sobre como vestir‐se adequadamente no campo. Era
imprudente presumir da riqueza de um, quando aquela gente teve arrebatado tudo exceto seu
orgulho.
Damian ficou cortesmente de pé quando Kimbra apareceu; deu um passo adiante, ofereceu
seu braço e a sentou a sua esquerda.
— Confio em que esta noite a refeição seja melhor que o que me ofereceram até agora —
comentou Kimbra. — tive que me conformar com salmão defumado e esses espantosos bolos de
aveia para comer. Temo‐me que meu delicado estômago não suportará uma comida tão pesada.
— Eu acho a cozinha de Misterly muito satisfatória — defendeu‐se Damian. — Diga a sir
Brody o que você gosta e o que não.
— Meu primeiro encargo quando for a senhora de Misterly será contratar um chef francês
— ronronou Kimbra.
Damian sentiu que começava a doer sua cabeça.
— Temo‐me que não, minha senhora. Estou plenamente satisfeito com Winifred e seus
ajudantes.
Kimbra abriu a boca para responder e a deixou aberta quando sir Brody entrou no salão
levando a uma frágil mas sorridente lady Marianne. A pequena Lora saiu brincando de correr atrás
deles levando a rastros a pulseira que Elissa fez para ela com trapos e palha.
Damian ficou de pé.
— Bem vinda, lady Marianne. É um prazer que te tenha unido esta noite a nós.
Lora deixou escapar um grito e se jogou nos braços de Damian. Ele a levantou pelos ares e
logo a sentou a sua direita.
— Quem é esta gente? — perguntou Kimbra com desdém. Damian a ignorou enquanto
indicava a sir Brody que sentasse Marianne ao lado de sua filha.
— Essa menina é muito pequena para comer com os adultos — protestou Kimbra. — Quem
são e o que estão fazendo na mesa principal?
Damian esperou a que Marianne se sentasse antes de fazer as apresentações.
— Lady Marianne, me permita que a apresente a lady Kimbra, minha prometida. Kimbra,
estas são lady Marianne Fraser e sua filha Lora.
Lady Marianne assentiu gentilmente com a cabeça, mas Kimbra a ignorou.
— Dado que esta vai ser minha casa, me explique por favor por que esta gente está se
aproveitando de minha hospitalidade.
— Lady Marianne e Lora são a mãe e a irmã de lady Elissa. Esta é sua casa.
— Por que continuam ainda aqui? Entendi que se dispôs adequadamente da família desse
traidor.
— Olhe a seu redor, minha senhora. Está rodeada dos Frasers.
Connie Mason
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— Mas acolher à esposa e às filhas de um reconhecido traidor é um ato de traição em si
mesmo. O que vai dizer o rei?
— Permita que eu me preocupe do rei, lady Kimbra. Lady Marianne e lady Lora estão se
recuperando de graves enfermidades. Que se recuperem é minha maior preocupação.
— Por que deveria importar a ti? — desafiou‐o Kimbra.
— Tome cuidado com o que diz, minha senhora — a advertiu Damian.
Kimbra adquiriu uma expressão arrependida enquanto baixava a vista ao prato e cruzava as
mãos sobre o colo, mas Damian não se deixou enganar. Era óbvio que sua imprevisível prometida
estava soltando fumaça por dentro.
Então vislumbrou a Elissa e um diabo interior o levou a dizer:
— Elissa, há um lugar livre ao lado de sua mãe. Acredito que elas gostariam que se una a
nós.
A Elissa assombrou o convite de Damian. Não sabia que seu repentino interesse para ela
enfureceria a lady Kimbra? Considerou a possibilidade de negar‐se, mas logo mudou de opinião.
Depois de um instante de vacilação, tomou assento pausadamente na cadeira que Damian
indicou. A comida estava deliciosa. Elissa pensou que Winifred caprichou.
Os comensais devoraram rapidamente o primeiro prato, que consistia em quartos traseiros
de cordeiro e lombo de vitela. Seguiu um fricassé de frango e porco com espinafres. O terceiro
prato consistia em salmão cozido, linguado frito e moelas com acompanhamento de verduras.
Mingau e bolos rematavam o jantar.
Aquele grande banquete foi preparado em honra à chegada de lady Kimbra. Mas a dama não
parecia absolutamente impressionada.
Elissa se encheu de ira ao ver Kimbra afastar a um lado do prato a comida com o garfo. Elissa
esteve ajudando na cozinha e sabia quão duro trabalharam Winifred e seus ajudantes para servir o
banquete que Damian requeriu. Desejava repreender furiosamente Kimbra, Damian se adiantou.
— A comida não é de seu agrado, lady Kimbra? — perguntou Damian com secura.
— A vitela foi cozida demais e o cordeiro cru. Prefiro o linguado cozido e eu não gosto de
nada o salmão. No mingau faltava baunilha e estavam líquidos — acrescentou afastando o prato
com ênfase. — Eu exijo perfeição em minha cozinha.
— Eu gostaria de me retirar — disse Marianne, impedindo a resposta de Damian às queixas
de Kimbra. — Foi maravilhoso compartilhar o jantar com os membros de meu clã, mas de agora
em diante, Lora e eu jantaremos em meu quarto. Não desejo provocar dissensões em sua casa,
meu senhor.
Damian ficou de pé e fez um gesto a sir Brody para que se afastasse quando o administrador
se moveu para acompanhar Marianne a seu dormitório.
— Eu levarei lady Marianne a seu quarto — disse. — Veem você também, Lora.
Agarrou Marianne nos braços e saiu dali a grandes passos, como se não pesasse nada. Sir
Brody vacilou um instante e logo foi atrás de Damian. Lora os seguiu.
— Deveria seguir o exemplo de sua mãe — disse Kimbra a Elissa em um à parte. — Esta é
uma situação muito incômoda. Vou pedir a lorde Damian que tire as três de minha casa. O rei não
Connie Mason
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gostará de saber que lorde Damian tem acolhida à família de um traidor sob seu teto.
— Não sigo em Misterly por que quero — explicou‐se Elissa. — Supliquei a lorde Damian que
me deixasse ir, mas ele se nega.
— Talvez eu possa ser de ajuda — sussurrou Kimbra maliciosamente. — me deixe que pense
em seu dilema.
Damian retornou ao salão e tomou assento em sua cadeira.
— Mamãe se encontra bem? — perguntou Elissa com ansiedade.
— Um pouco cansada, mas fez bem a ela se reunir conosco esta noite. Hei dito que sempre
que queira, será bem‐vinda para comer conosco.
— Realmente, meu senhor, é muito generoso — exclamou Kimbra. — Acolher prisioneiros
não é o que mais te convém. As envie longe daqui.
— Terei em conta seu conselho — disse Damian em um tom que devia servir de advertência
a Kimbra de que estava pisando em terreno perigoso.
Elissa deu a volta desgostada quando Kimbra sorriu a Damian e perguntou:
— Me acompanha a meu quarto, meu senhor? —Damian se levantou e ofereceu seu braço.
— É obvio, minha senhora.
Kimbra se agarrou possessivamente no braço de Damian e saiu do salão não sem antes
lançar um olhar de suficiência a Elissa por cima do ombro.
Elissa ficou olhando mal‐humorada seu prato vazio e não percebeu que Dermot se sentou a
seu lado até que ele falou. — Essa mulher é um problema, moça.
Elissa lhe sorriu.
— Sim, Dermot, mas não podemos fazer nada a respeito. É a prometida de Damian.
— Sua senhoria vai se encontrar com outra rebelião dos Fraser em suas mãos se as coisas
não mudarem.
— Isso não seria muito inteligente, Dermot. Em outros tempos não teria vacilado em
fomentar uma rebelião, mas já não acredito que isso seja o melhor. Além disso, não acredito que
Damian permita que sua prometida seja dura com ele ou conosco.
— Talvez tenha razão, moça, mas não posso predizer quanto tempo aguentarão os membros
de nosso clã os insultos de lady Kimbra. Winifred quer deixar a cozinha.
— Falarei com lorde Damian. Precisa saber o que está ocorrendo em sua própria casa.
Dermot partiu. Os pensamentos da Elissa deram voltas em sua cabeça enquanto subia as
escadas que levavam a sala das mulheres. Perguntou‐se vagamente o que quis dizer Kimbra
quando disse que a ajudaria a sair de Misterly. O pouco que conheceu da prometida inglesa de
Damian deixou claro que Kimbra era uma mulher mimada, banal e desumana. Entretanto, parecia
encantada com Damian, e ele com ela. De que outro modo podia explicar que fosse tão indulgente
com sua prometida?
A ela nunca a tratou com a mesma paciência nem com a mesma consideração, embora era
certo que Elissa nunca ocultou seu ódio pelos ingleses e seu rei Hannover.
Uma vez em seu quarto, Elissa se sentou ao lado da janela e olhou para os campos. Tinha
decisões que tomar e planos que formular. Precisava decidir aonde iria quando deixasse Misterly.
Connie Mason
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Ir ao Glenmoor com sua prima Christy era sempre uma opção, mas levando‐se em conta que
casaram Christy quando menina com um inglês, a preocupava causar problemas a sua parente. De
pequenas estavam muito unidas, mas suas circunstâncias eram agora diferentes. Christy não
sentia nenhum afeto por seu marido ausente, enquanto que ela amava Damian. O coração lhe
dizia que não devia permanecer em Misterly quando Damian e Kimbra se casassem. Os fortes
sentimentos que albergava por ele estavam se convertendo em um problema a cada dia que
passava.
Por que pulsava com força seu coração e queimava seu corpo cada vez que a tocava?
Por que estava obcecada com ele?
Por que detestava a ideia de que Damian se casasse com lady Kimbra... ou com qualquer
outra?
Os pensamentos de Elissa foram bruscamente interrompidos quando escutou os sons de uns
passos que se aproximavam. Girou a cabeça de repente.
— Assustaste‐me, nana. Não te ouvi entrar.
— Estava sumida em seus pensamentos, moça — examinou o rosto da Elissa. — Quer me
falar disso?
Elissa observou seus dedos entrelaçados. — Não há nada que contar.
— Não o faça, moça.
Elissa elevou a cabeça de repente. — Do que está falando?
— Não acredite em nada do que te diga lady Kimbra. É maliciosa.
Elissa abriu os olhos de par em par. — O que sabe você de lady Kimbra?
— Minhas vozes me advertem sobre ela — disse nana. — Acredite em mim, moça. Não
ponha em perigo a seu filho.
— Está louca, nana — repreendeu‐a Elissa. — Não estou esperando nenhum filho.
Nana dirigiu um enigmático sorriso.
— Será capaz de repetir isso amanhã com a mesma segurança?
— Tolices! — zombou Elissa. — Vete a outro lado com suas absurdas afirmações, eu não
tenho paciência para as escutar.
— Muito bem, moça, mas não esqueça minhas palavras. Que durma bem.
O modo em que disse "que durma bem" provocou calafrios nas costas da Elissa. As
premonições de nana costumavam ser imprecisas e em ocasiões aterradoras, mas esta vez não
faziam sentido.
Ainda sopesando o que nana disse, Elissa se despiu e se preparou para se meter na cama.
Suspirando com cansaço, apagou a vela e deslizou entre os lençóis tentando não pensar no que ia
acontecer no quarto de Kimbra.
Damian era um homem muito viril, e Kimbra uma mulher bela e sedutora. Seu matrimônio
era já um fato; tinham todo o direito do mundo a satisfazer um ao outro como desejassem.
Elissa estava flertando com o sono quando um rangido das dobradiças da porta a advertiu de
que não estava sozinha. Teria retornado nana para seguir soltando tolices? Aconteceu algo a sua
mãe?
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Elissa se ergueu e acendeu um fósforo para acender a vela.
Era Damian. Estava apoiado contra a porta fechada, era uma sombra escura do homem que
reconheceria em qualquer parte. Feixes de luz esfumada cruzavam seu rosto como adagas,
ocultando mais do que revelavam.
Estava com a expressão em guarda e os olhos inescrutáveis.
— O que é que quer? — perguntou Elissa por cima do poderoso batimento de seu coração.
Damian se separou da porta.
— Não podia dormir. Tentei cercar conversa com sir Richard, ou de convencê‐lo a jogar uma
partida de cartas, mas preferiu a companhia de Maggie. Sir Brody já se retirou, e não havia
ninguém mais por aí.
Elissa subiu os lençóis até o pescoço.
— Vá daqui. Como te atreve a entrar em meu dormitório sem minha permissão? Já te
cansaste da companhia de lady Kimbra?
Damian se aproximou da cama com a graciosidade de um gato.
— Esta é minha casa. Vou onde quiser. E quanto a lady Kimbra, já a aguentei tudo o que sou
capaz por uma noite.
— Espero que perceba que a atitude da dama trará problemas se não lhe puser freio.
— Te esqueça de Kimbra. Há algo do que devo falar contigo.
— Não pode esperar até amanhã?
Damian se sentou na borda da cama, ignorando o murmúrio dos protestos da Elissa.
— Falaremos agora.
— Muito bem. De que se trata?
— Quero que saiba que nem você nem sua família partirão daqui porque lady Kimbra o
deseje. Qualquer mensagem que tente fazer chegar ao rei relacionado contigo ou com sua família
não chegará a Londres.
— Por que faria algo assim? Acreditei que seu desejo era agradar a lady Kimbra.
— Sim, bom... a dama não me agrada . Casarei com ela porque é o que devo fazer, mas não
tenho por que gostar da ideia.
Elissa piscou.
— Pensei que te agradava muito. Lady Kimbra é uma grande beleza. Dava a impressão de
que desfrutou beijando‐a.
— Ela me beijou — sussurrou Damian com uma voz que de repente se tornou mais rouca. —
Tem o cabelo loiro e é impossível encontrar uma só sarda em seu aristocrático nariz.
Elissa tocou no nariz, muito consciente do punhado de sardas que tentou branquear com
limão quando era menina. Cravou o olhar no de Damian. O dele adquiriu um brilho sedutor que a
arrastou irremediavelmente para sua reluzente promessa.
— Damian, não... — sussurrou tão baixo aquelas palavras que mal revolveram o ar. Sabia o
que Damian queria, porque ela queria o mesmo. Mas não podia... não o faria...
— Não te pedi nada... ainda.
— Então vá antes de que...
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— Antes que seu desejo se faça tão grande como o meu?
— Sim... não... não sei. Não posso pensar com clareza quando me olha assim.
— Então, por que não admite que me deseja?
— Não é... inteligente. Vais te casar com lady Kimbra. Ela me despreza. Deveria me deixar
partir antes que Hannover se inteire de que não se cumpriram suas disposições no que a mim se
refere.
— Quer que te deixe partir para poder correr aos braços do chefe dos Gordon?
— Não, irei a outro lado... a qualquer lugar menos com Tavis. Perdeu todo meu respeito
quando me pediu que... não importa, isso já terminou definitivamente.
Damian guardou silêncio durante comprido tempo, mas logo disse: — Considerarei sua
proposta.
— Quando posso partir ?
— Quando eu diga que é o momento adequado.
Damian a agarrou pelos ombros e a atraiu para si. Sua voz encerrava uma nota de
desespero.
— Você não entende, verdade, querida?
— Que se supõe que devo entender?
Damian estava com a voz rígida, como se a tivesse estirado até o limite.
— Que não importa o muito que tente me manter longe de ti, sempre acabo me
aproximando cada vez mais. O desejo é uma emoção muito estranha. Estive apaixonado
anteriormente, mas nunca assim. Sempre me gabei de meu autocontrole até que apareceu você.
O que me aconteceu, Elissa? Lançou‐me um feitiço sua velha babá?
— Os feitiços não existem — zombou Elissa.
Damian se virou, unindo mais ainda seus corpos. — Pode sentir o muito que te desejo?
Elissa respirava com dificuldade; o desejo pulsava por todo seu ser. Damian já estava duro e
inchado. Sua determinação se fundiu enquanto se lançou de cabeça à paixão do Damian,
permitindo que a enchesse até que não ficou mais que o feroz desejo que a atravessava.
— Não deveria estar aqui — sussurrou com voz trêmula.
Damian dirigiu um sorriso de lobo e logo capturou seus lábios, movendo sua boca
apaixonadamente sobre a sua. Elissa tentou dizer a si mesma que não queria que aquilo
acontecesse, mas a mentira ardeu na sua língua. Recordou vagamente as palavras que nana
pronunciou fazia um momento, quando ela negou que estivesse esperando o filho de Damian.
Será capaz de repetir amanhã isso com a mesma segurança?
Não se Damian a fizesse sua aquela noite, a advertiu uma vozinha. O aviso foi como uma
fibra de palha ao vento quando a boca de Damian e suas mãos zombaram de sua determinação.
Desejava senti‐lo mais perto dela, queria saborear cada excitante e deslumbrante momento
enquanto pudesse, antes que a realidade fizesse sua aparição.
Apertou sua boca contra a própria; rodeou seu pescoço com os braços, necessitava algo
mais que só beijos.
Elissa respondeu com avidez, cedendo todo seu ser. A urgente pressão do corpo dele contra
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o seu a fazia sentir‐se gloriosamente viva. Os beijos do Damian se tornaram mais apaixonados; ela
respondeu com um gemido de rendição. Desejava o ter dentro dela... agora mesmo.
Damian deixou de beijá‐la; Elissa se pendurou de seus lábios sem respiração, enjoada. Ele a
olhou com solenidade, com a voz áspera pela emoção.
— Não há nenhum lugar onde preferiria estar neste momento.
— Nunca te perdoarei por me fazer isso.
Damian agarrou sua camisola entre os punhos e a levantou ligeiramente. — Te fazer o que?
A Elissa pulsava o coração com força contra as costelas. — me fazer te desejar.
Elevou os olhos para ele e só viu seu feroz desejo. Não havia nenhum engano em seu firme
olhar, só uma escura e densa intensidade que pendurava pesadamente no ar. Tratava‐se de uma
sedução sem esforço, e ela era sua disposta companheira.
A mão de Damian achou seu ponto. Elissa sentiu como sua umidade se deslizava entre seus
dedos, sentiu‐se quente, úmida e torcida enquanto ele deslizava os dedos em seu interior para
seduzi‐la e excitá‐la.
Elissa soltou um grito áspero e alcançou o clímax de forma violenta, arqueando‐se para ele.
Retornou lentamente à realidade, percebendo fracamente que ambos estavam nus e de que
Damian estava acariciando seus seios, seus olhos de prata brilhavam com ansiedade.
Beijou‐a na boca aberta, arrancando pequenos ofegos enquanto suas sabias mãos
começavam a seduzi‐la de novo.
— É meu turno, querida — murmurou ele com voz quebrada.
Damian se colocou em uma posição cômoda apoiado contra a cabeceira da cama e a subiu
sobre sua rígida ereção. Elissa sentiu como sua ponta torcida tentava abrir caminho através de sua
entrada, e o guiou para seu interior.
Damian fechou os olhos quando a apertada vagina da Elissa se fechou a seu redor. Um
intenso prazer se apoderou dele enquanto investia para cima. Gemeu. Nem sequer o paraíso
poderia ser tão doce e perfeito como aquele momento.
Seus pensamentos se fizeram em pedacinhos quando Elissa se fundiu ao redor dele, e de
repente Damian se sentiu desesperadamente agitado, grosseiramente arrebatado, como um
canhão a ponto de explodir.
— Depressa, querida — ofegou com voz rouca. — Não sei quanto tempo mais poderei
esperar.
Abriu os lábios e introduziu um de seus turgentes mamilos na boca, sugando‐o. Escutou
como a respiração dela se acelerava e como ia perdendo o controle. Investiu para cima ao mesmo
tempo que puxava com força os quadris da Elissa para baixo. Ela se retorceu e se revolveu com
intensa fúria, pendurando‐se dele com força crescente cada vez que sua cheia ereção arremetia
contra ela.
Quando Damian sentiu que ficava tensa e logo vibrava ao redor de sua ereção, permitiu que
seu próprio clímax explodisse. Continuou arremetendo vigorosamente até que ficou total e
absolutamente vazio e satisfeito.
Então se deixou cair no colchão e se manteve dentro dela. Elissa se estirou e se acomodou
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entre seus braços. Damian a teve abraçada enquanto dormia, sua mente dava voltas sem
descanso.
O que acabava de acontecer entre Elissa e ele foi a erupção de um desejo selvagem e
descontrolado. A fome que sentia por ela era algo incontrolável e feroz que o sacudia até o fundo.
Damian sempre dependeu de sua inteligência para sobreviver. Foi um solitário a maior parte
de sua vida, um soldado desumano sem parentes nem amigos. Tinha amigos, como Dickon, mas
desde que perdeu seu pai no Culloden e a sua mãe anos atrás ninguém se preocupou
verdadeiramente de seu bem‐estar. Misterly lhe proporcionava uma sensação de pertencer, sentia
que ali encontrava a paz que faltou durante toda sua vida.
Quanto a Elissa, o fazia sentir‐se humano, fazia que passasse de ser o Cavalheiro Demônio a
ser um homem. A luxúria formava parte daquilo, mas o que sentia pela Elissa ia mais à frente, e
não era tão simples de definir.
Por seu próprio bem, prometeu que manteria aquela esquiva emoção a raia para não perder
tudo pelo que tanto lutou.
Não poderia suportar perder Misterly. Já amava aquela terra, e inclusive chegou a apreciar
aos sérios e duros trabalhadores das Terras Altas. Lady Marianne era uma mulher excepcional que
sobreviveu à perda de seus seres queridos, e a pequena Lora era uma marota adorável que
parecia o querer por si mesmo. De pouca gente podia dizer isso.
Estreitou Elissa com mais força entre seus braços e lhe depositou um beijo na úmida fronte.
Admirava‐a por muitas razões: sua força, sua tenacidade, sua coragem. Sentiu uma pontada de
culpa a que não estava acostumado por tê‐la seduzido, mas não se arrependia disso. Embora foi
Elissa quem foi a ele, a sedução de Damian começou no dia que chegou em Misterly.
Não recordava nem um só momento no qual não a tivesse desejado.
Deixou de pensar em tudo isso quando percebeu que Elissa estava com os olhos abertos e o
estava olhando fixamente. Damian desejava perguntar no que estava pensando, mas faltou a
coragem.
Lady Kimbra se erguia entre eles como um sólido muro de madeira. O que fez em seu lugar
foi beijá‐la, acariciá‐la e voltar a seduzi‐la lentamente. Quando se colocou em cima dela, Elissa
abriu as pernas para recebê‐lo.
Damian deixou a cama de Elissa pouco depois de que fizessem o amor pela segunda vez. Ela
estava meio adormecida quando ele a beijou suavemente nos lábios e saiu do quarto.
Quando retornou ao salão se surpreendeu ao ver sir Brody, ao Dickon, ao Dermot e ao
Lachlan sentados em bancos em frente a lareira, falando em voz baixa.
Dermot ficou de pé e fez um gesto para que se aproximasse. — Queríamos falar contigo
antes que te retire a dormir, senhoria.
Uma sensação de formigamento subiu pela espinha dorsal de Damian quando se uniu aos
homens. Alguém pôs uma caneca de cerveja na sua mão quando tomou assento ao lado de
Dickon.
— O que os mantém acordado a estas horas da noite? — perguntou Damian.
— Nós poderíamos perguntar o mesmo a ti — replicou Dermot. — O que faz no salão a estas
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 118
horas?
— Não te devo nenhuma explicação, Dermot Fraser.
— Então é certo — espetou Lachlan. — Converteste à donzela de Misterly em sua amante.
— Equivoca‐te com a dama — respondeu Damian com aspereza. — Elissa não consentiu
nunca em ser minha amante.
— Sua futura prometida dorme lá na torre — assinalou Dermot. — Não tem direito a pôr
seus olhos em nossa moça. Ela está prometida ao chefe dos Gordon.
— Eles não se casarão jamais — manteve Damian. — Se algum dos membros de seu clã está
pensando em fugir ao baluarte dos Gordon, aconselho‐os muito a sério que não o façam. Prefiro a
paz, mas se for o caso, tomarei medidas para destruir ao clã dos Gordon se começarem a me
causar problemas.
— Os Fraser estão cansados da guerra — disse Dermot olhando Lachlan em busca de
confirmação. — Mas se continua desonrando a nossa moça, faremos o que for melhor para nosso
clã.
— Sim — reconheceu Lachlan. — Estamos dispostos a te dar uma oportunidade para que
nossa gente melhore, mas não ficaremos de braços cruzados enquanto trata Elissa sem nenhum
respeito. Tampouco permitiremos que lady Kimbra menospreze nosso lar nem aos membros de
nosso clã. Pensa nisso, senhoria.
Depois daquela advertência, Lachlan e Dermot se levantaram e saíram dali.
— Sabe que eles têm razão, verdade? — aventurou Dickon.
— Você também, Dickon?
— Estas procurando problemas, Damian. Se valoriza Misterly e desejas conserva‐lo, deixa em
paz Elissa.
Damian observou o olhar reprovatório de sir Brody e elevou uma sobrancelha em sua
direção.
— Nada mais longe de minha intenção que te dizer o que deve fazer, meu senhor — disse sir
Brody, — mas lady Marianne está desgostosa com a situação existente entre sua filha e você.
Damian fechou os punhos e os apertou aos flancos.
— Acaso acredita que não sei? Não posso me conter, maldita seja! Algo estranho está
ocorrendo. Não sei que diabos me passa.
— Eu tenho uma sugestão — aventurou sir Brody.
— Eu também — interveio Dickon.
Damian deixou escapar um suspiro de impaciência. — Adiante. Você primeiro, Dickon.
— Envia lady Elissa a Londres e o resto de sua família ao convento. Deve te concentrar em
sua prometida. Tanto se a aprova como se não, lady Kimbra contribui uma considerável riqueza a
suas arcas. Suas posses e seu novo título só estão garantidos se te casa com a noiva que o rei
escolheu para ti.
— Essa solução não é aceitável para mim, Dickon. Pode ser que lady Marianne seja aceita no
convento, mas o espírito da pequena Lora ficará sepultado atrás de seus muros. Quanto a Elissa,
não considero uma opção válida enviá‐la a Londres. A Coroa sente pouca simpatia para os
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jacobinos.
Damian se virou para o amadurecido cavalheiro.
— Espero que sua sugestão seja mais aceitável, sir Brody.
Sir Brody clareou a garganta e logo olhou de frente a Damian.
— Te case com a moça, meu senhor.
Capítulo 12
Casar‐se com Elissa.
As palavras de sir Brody ressonaram pela cabeça do Damian como o estrondo de uma
trompa muito tempo depois de que tivesse retornado a seu quarto.
Em vez de se meter na cama, deixou‐se cair em uma cadeira com uma taça de brandy na
mão e as pernas estendidas para a lareira.
Casar‐se com Elissa. Absolutamente ridículo.
O rei nunca consentiria.
Damian jogou o brandy à garganta e o engoliu ruidosamente.
Logo se serviu de outro. Estava assombrado de ter sequer levado em consideração uma ideia
tão ridícula. Com a mente sumida na indecisão, ficou olhando as oscilantes chamas até que deixou
cair a cabeça para diante e o sono o reclamou por fim. Despertou quando caiu a taça de sua mão e
se fez em pedacinhos contra o chão de laje. Então ficou de pé e se deitou na cama completamente
vestido.
Os seguintes dias transcorreram muito rápido para a paz mental de Damian. Dentro de uns
dias, Kimbra e ele se uniriam em matrimônio ante uma assembleia de ingleses e habitantes das
Terras Altas.
À medida que se aproximava a data assinalada, mais exigente se tornava Kimbra.
Nada a agradava. Queixava‐se constantemente da comida, da ausência de pequenos luxos,
do longe que estava Misterly de Londres e da falta de controle de Damian sobre os criados.
Damian estava perdendo a paciência com a mulher com a qual se supunha que devia se
casar, se deitar e engendrar herdeiros. Seu rancor não vinha ao acaso e seu descaramento o
desgostava.
Buscava‐o como uma cadela no cio, decidida a seduzi‐lo. A Damian não era difícil resistir,
porque sabia que seu propósito, independentemente do aspecto sexual, era persuadi‐lo para que
enviasse para longe Elissa e a sua família.
Durante a última semana, Kimbra se mostrou excessivamente exigente, pedindo comida
especial para o banquete das bodas, deixando muito clara sua opinião em relação à decoração que
queria e expressando como desejava que se desenvolvesse a cerimônia das bodas. Todos os
serventes disponíveis estavam limpando, esfregando e polindo até que o salão resplandeceu.
E era descaradamente óbvio que Kimbra desfrutava especialmente encarregando a Elissa as
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tarefas mais difíceis.
Damian tentou não intervir porque desejava que houvesse uma coexistência pacífica com
Kimbra, mas era difícil ver Elissa brigar com as tarefas que Kimbra lhe atribuiu.
Em um par de ocasiões se sentiu obrigado a interceder e pedir a algum de seus homens que
se encarregasse das tarefas da Elissa quando a viu de joelhos esfregando as escadas da sala das
mulheres.
Damian estava com os nervos no limite. No dia anterior as bodas, acompanhou Kimbra a seu
quarto para falar um momento a sós. Assim que a porta se fechou atrás deles, Kimbra se lançou
em seus braços.
— Sabia que mudaria de opinião, Damian — seus dedos trabalharam agitadamente nos
botões de seu casaco. — Deseja‐me e não pode esperar a me fazer tua.
Damian tirou suas inquietas mãos e as manteve afastadas.
— Equivoca‐te, Kimbra. Só quero deixar claro umas quantas coisas antes que nos casemos.
Os lábios da jovem compuseram um circulo. — O que quer dizer? Não me deseja?
— Desejo Misterly — replicou Damian. — Dado que você está incluída no trato, vejo‐me
obrigado a me casar contigo. Puseste a prova minha paciência até o limite estas últimas semanas,
Kimbra. Deus sabe que fui mais paciente contigo do que merece. Mas me escute bem, minha
senhora: seu comportamento é inaceitável e não o tolerarei.
Kimbra curvou os lábios para baixo e abriu muito os olhos. — Eu sou o amo aqui —
continuou Damian. — Vais deixar de destroçar a paz que estou tentando preservar em meu lar.
Suas queixas são infundadas e a dureza com a que trata Elissa e aos membros de seu clã é
intencionadamente cruel e injusta.
Kimbra recuou como se a tivessem golpeado.
— Como te atreve! O rei terá notícias disto. É para mim a quem deve lealdade, não a esses
jacobinos traidores. Quando o rei me disse que ia me converter em sua condessa, mostrei‐me
disposta a vir a esta terra selvagem para as bodas, mas não tinha nenhuma intenção de deixar
atrás a sociedade londrina para sempre, nem de fundar meu lar neste país de selvagens.
— Será melhor que deixemos isto claro aqui e agora.
"Seria melhor que não nos casássemos", pensou Damian. Mas não o disse, porque devia
casar‐se com Kimbra tanto se gostasse como se não.
— Devo ter um herdeiro — disse Damian torcendo o gesto ante a ideia de deitar‐se com
aquela zorra mimada. — Ficará em Misterly até que me dê um.
Kimbra dirigiu um sorriso deslumbrante, deslizando seu ávido olhar por seu imenso peito e
baixando‐o depois para sua virilha. — Não terei problemas para fazer amor contigo, Damian. Os
homens fortes e poderosos me excitam.
— É virgem, Kimbra?
Kimbra se ruborizou e afastou a vista.
— É obvio, meu senhor, o que te faz pensar o contrário? — Damian não acreditou nem por
um momento, mas o tempo o diria.
— Quero fazer um trato contigo, Kimbra. Um trato que satisfaça a ambos.
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— Um trato, Damian?
— Sim. Quando me tiver dado um filho, pode seguir por seu caminho, viver onde queira e
fazer o que te agrade. Mas o menino ficará comigo.
— Vais seguir com sua amante em Misterly? — desafiou‐o Kimbra com desprezo. — Acredita
que estou cega? Sei que te deita com Elissa. Por isso não me deseja.
— Esta enganando a ti mesma, Kimbra. Desde que chegou não fez outra coisa que te
queixar. A tudo encontra falhas e deixa muito claro seu desprezo para Misterly e sua gente.
— Misterly não é Londres — assegurou ela com desdém.
— Esse é meu trato, Kimbra. Aceita?
Lhe dedicou um sorriso malicioso.
— Só se me promete enviar para longe Elissa e a sua família. —Damian se voltou para partir.
— Confiava em que encontraríamos um terreno comum, mas já vejo que estava equivocado.
— Ama Elissa? — desafiou‐o Kimbra, detendo Damian sobre seus passos. O silêncio do
Damian era absolutamente condenatório. — Como pode? Lutou contra os jacobinos em Culloden;
perdeu a seu pai ali.
Damian se virou para olhá‐la.
— Aquela batalha aconteceu e se ganhou faz muito tempo. Eu não guardo rancor. Lorde
Cumberland dizimou a mais dos habitantes das Terras Altas; só restam uns quantos sobreviventes
afortunados para seguir adiante com a tradição, e a maioria estão escondidos. Entregaram‐me
Misterly para que o conservasse para a Inglaterra e mantivesse a paz neste remoto canto da
Escócia. Confiava em que você fosse uma companheira para mim.
— Serei sua condessa e compartilharei a paixão contigo, mas, simplesmente, nego‐me a
passar minha vida em Misterly — Kimbra afastou a vista. — me deixe sozinha. Há muitas coisas
que fazer antes das bodas de amanhã.
Se Kimbra não tivesse dado a volta, teria visto como se endurecia a expressão do Damian
antes que saísse precipitadamente do quarto, fechando atrás dele com uma portada.
Como diabos ia sobreviver a aquele matrimônio?
O destino interveio.
Os Gordon apareceram no dia seguinte em Misterly. Damian despertou à alvorada com a
notícia de que um homem que levava uma bandeira branca estava se aproximando da porta.
Damian se vestiu e correu para receber ao mensageiro.
Dermot chegou antes dele. — Este é o chefe dos Gordon — disse.
Damian observou a Tavis Gordon com ávida curiosidade. Era um homem atraente,
reconheceu a contra gosto.
Alto e de duras feições, elevava‐se orgulhoso sob o tartán proibido de seu clã, que levava
cuidadosamente colocado sobre o ombro. Damian entendeu a fascinação que Elissa sentia por ele.
Tavis Gordon se aproximou de uma distância de vários metros, e então se deteve.
— O que é que quer, Gordon? — inquiriu Damian.
— A minha prometida — gritou Gordon. — Envia‐a aqui fora e nós partiremos
pacificamente.
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— Sabe que não posso fazer isso — respondeu Damian.
— O pai de Elissa a prometeu para mim. Deixa‐a livre. Se não me enviar agora mesmo Elissa,
atacaremos. Temos suficientes forças de nosso lado para ganhar.
— Se quer tentar, adiante, Gordon — desafiou‐o Damian. — Mas não o conseguirão.
— Há mais de cem habitantes das Terras Altas acampados no bosque, inglês. O que diz a
isso?
— Vete ao inferno.
Gordon ficou olhando Damian durante um comprido instante.
Logo girou seu cavalo e se dirigiu para o denso bosque situado além de Misterly.
— Está dizendo Gordon a verdade, Dermot? — inquiriu Damian ao ancião. — É possível que
tenha podido reunir a tantos habitantes das Terras Altas para sua causa?
— Há clãs proscritos que vivem exilados nas montanhas — disse Dermot. — Não precisaria
muito para persuadi‐los de que tomassem represálias contra os assassinos ingleses que mataram a
sua família e lhes arrebataram seus lares e suas terras. Não me surpreenderia que Gordon tivesse
reunido a cem homens ou mais para que se unam a sua causa.
— Sabe que não pode ganhar — disse Damian.
— Os habitantes das Terras Altas são gente estranha — murmurou Dermot. — Sua força
reside em sua tenacidade e em sua inquebrável crença em si mesmos. Gordon acredita que Elissa
é dele e que Misterly deveria pertencer a ele por direito de seu matrimônio com a filha de Alpin
Fraser.
Sir Richard apareceu ao lado de Damian.
— Pus em alerta os soldados enquanto negociava com Gordon. Estão esperando suas
ordens.
— Sempre posso contar contigo, Dickon — disse Damian dando uma palmada no ombro do
cavalheiro. — Quero guardas as vinte e quatro horas e duplas patrulhas nos torreões. Por agora
esperaremos e observaremos.
— E o que acontece com os aldeãos? Correm perigo?
— Duvido‐o. A maioria dos aldeãos são granjeiros e pastores. Não acredito que Gordon
ataque aos membros do clã da Elissa.
— Pode confiar em que os aldeãos não se unam ao Gordon e se levantem em armas contra
ti?
— Não sei, Dickon. Só resta confiar em que percebam que posso fazer mais por eles que o
chefe dos Gordon.
Outra voz se uniu à conversa. Damian deu a volta de repente.
— Elissa! Não te vi se aproximar. Ouviste o que estávamos falando?
— Ouvi o suficiente para saber que Tavis não irá a menos que me envie com ele.
— Esquece‐o — disse Damian com secura. Logo virou para sir Richard. — Já tem suas ordens,
Dickon.
Dickon saudou com elegância e partiu. Dermot o seguiu de perto. Damian agarrou Elissa pelo
braço e a separou do portão. — Por que deveria ceder às exigências de Gordon?
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— Porque é o lógico. Não sabe quantos homens reuniu Tavis para sua causa.
— Tão ansiosa está de ir com ele, Elissa?
— Não. É certo que quero recuperar meu lar, mas não as custas de sua morte. Mudei de
ideia a respeito de... muitas coisas. Tavis é uma delas.
— Devo tomar isto como que já não me odeia?
— Odeio o que representa e o que seus patrícios fizeram a minha terra natal. Odeio a
destruição que provocaram Hannover e sua carnificina. E odeio ser prisioneira em minha própria
casa.
— Mas não me odeia.
Elissa o olhou de frente com o rosto rígido. — Odeio‐te.
— Mentirosa.
— Sua prometida te espera, vá com ela.
Por todos os diabos! Esqueceu que aquele era o dia de suas bodas. Levando Elissa com ele,
retornou ao castelo. Na porta cruzou com o reverendo Trilby.
— O que está acontecendo, meu senhor? Parece que há confusão no salão.
— Estamos sob assédio, reverendo. Hoje não se celebrará nenhuma cerimônia. Por favor,
informe a lady Kimbra.
— Sim, meu senhor, compreendo‐o perfeitamente. Não seria apropriado celebrar umas
bodas com o inimigo a nossas portas. Estou seguro de que lady Kimbra compreenderá.
— O que é que tenho que compreender? — perguntou Kimbra unindo‐se a eles.
— Hoje não vai se celebrar nenhuma bodas, minha senhora — explicou‐lhe Trilby.
As delicadas sobrancelhas da Kimbra se elevaram enquanto cravava a vista na mão de
Damian, que descansava no braço da Elissa. — Seria tão amável de me explicar por que está
pospondo nossas núpcias, lorde Damian?
— Em caso de que não o tenha ouvido, minha senhora, a fortaleza está sob assédio. Não é o
melhor momento para celebrar umas bodas.
Kimbra deu uma patada no chão em uma infantil demonstração de mau gênio.
— Não o permitirei! Quem se atreve a te atacar?
— Tavis Gordon e os membros de seu clã — disse Damian tenso.
— Por quê?
— Querem que lorde Damian me deixe livre — explicou Elissa.
Kimbra lançou a Elissa um olhar envenenado.
— Então, Damian, se for isso que desejam, lhes dê o que querem e sigamos adiante com as
bodas.
— Escuta a lady Kimbra, meu senhor — aconselhou‐o Elissa. — Assim que eu saia pelo
portão, Tavis deixará Misterly em paz.
— Se acredita nisso, é uma ingênua, Elissa. Não vai a nenhuma parte. Gordon não tem
nenhuma só oportunidade frente a meus treinados soldados.
— Consideraste a possibilidade de que os homens do Tavis sejam superiores em número aos
teus? Misterly nunca sofreu nenhum ataque. Sua segurança radica em sua lonjura.
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— Meu pai era o grande Alpin Fraser, senhor de Misterly; nenhum clã hostil se atreveu
jamais a invadir suas terras.
Damian sopesou as palavras de Elissa. Era certo que Misterly tinha suas falhas, mas os
soldados que estavam sob seu mando eram mais que capazes de derrotar Gordon e a seu pouco
treinado bando de selvagens.
Não enviaria a Elissa com o chefe dos Gordon.
— Não, Elissa, ficará aqui. Lady Marianne e Lora devem estar se perguntando o que está
acontecendo. Talvez devesse ir com elas. Lhes diga que não se preocupem, que eu as protegerei.
Elissa ficou olhando‐o fixamente um instante e logo girou sobre seus calcanhares e partiu.
— Disto eu não gosto, Damian. Por que é tão protetor com Elissa? — quis saber Kimbra. —
Mande ela ao Gordon e te esqueça dela.
— Estou de acordo com lady Kimbra, meu senhor — interveio o reverendo Trilby. — Se o
chefe dos Gordon quisesse machucá‐la, então entenderia por que se mostra resistente. Mas a
jovem é uma dos seus; duvido muito que lhe faça mal.
— Agradeço sua preocupação, reverendo — disse Damian com crescente impaciência. —
Sua Majestade proibiu o matrimônio entre Elissa e Tavis Gordon, e eu me limito a cumprir suas
ordens. Agora, se me desculparem os dois, meus homens me necessitam.
O primeiro ataque dos Gordon chegou uma hora mais tarde com uma tentativa de escalar os
muros. Uma chuva de flechas precedeu ao ataque, mas os homens do Damian o rechaçaram, e
eles se retiraram à relativa segurança do bosque.
Mas Elissa sabia que Tavis não se rendera. Também pensava que Tavis não teria se arriscado
a atacar se não tivesse homens suficientes para garantir o êxito.
Agora lamentava que Damian tivesse enviado o regimento real das Terras Altas de volta a
Londres.
Elissa se aconchegou ao lado de lady Marianne e Lora enquanto a batalha se desenvolvia
abaixo, mas tinha a cabeça posta em Damian. Precisava saber o que estava ocorrendo. Poderia
estar ferido. Ou, Deus não o quisesse, morto.
— Não posso seguir aqui sentada, mamãe — disse. — vou descer para ajudar a nana com os
feridos. Por muito que despreze aos ingleses, odeio ver alguém sofrer.
— Tome cuidado — a advertiu Marianne quando Elissa saiu. Lady Kimbra abordou Elissa ao
pé das escadas.
— Por que não esta em seu quarto? — perguntou Elissa.
— Estava te procurando. Onde podemos falar em privado?
— Não pode esperar? Necessitam‐me para ajudar aos feridos.
— Isto é importante. Tenho uma ideia que acredito que vai gostar.
Elissa não acreditava que nada do que Kimbra lhe dissesse pudesse gostar, mas decidiu
escutá‐la de qualquer maneira.
— Podemos falar aqui mesmo, não há ninguém ao redor que possa ouvirnos. O que quer me
dizer?
— Sua casa é tão pouco hospitaleira como estas terras. Quando Damian e eu estivermos
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casados, o convencerei para que me leve a Londres. Estou segura de que poderei persuadir ao rei
para que nos deixe estabelecer nossa residência na cidade.
— Por que me conta isto?
— Quero te ajudar a escapar para que minhas bodas possam acontecer como estava
planejado.
— Damian nunca irá concordar em deixar Misterly de forma permanente. —Kimbra dirigiu
um sorriso de cumplicidade.
— Eu me arriscaria a sofrer a ira do rei pelo Damian. Seguro que está a par de que Damian é
um amante excepcional — Kimbra fez um gesto coquete. — Agrada‐me muito, e eu a ele. Eu não
queria consumar nosso matrimônio antes da cerimônia, mas já sabe quão persistente pode chegar
a ser Damian. Você é uma distração que não necessita. Portanto, decidi te ajudar a te reunir com
seu prometido.
Elissa sentiu como a dor a atravessava. Suspeitava de que Damian e Kimbra compartilharam
intimidade, mas escutar a verdade dos lábios de Kimbra fazia que a dor fosse ainda mais
insuportável.
Armada com aquele conhecimento, Elissa soube que não podia... não devia rechaçar a oferta
da Kimbra. Isso significaria deixar a sua mãe e a Lora para trás, mas estava convencida de que
Damian não faria nenhum dano a elas. Uma vez que Elissa partisse, certamente Kimbra o
convenceria para que enviasse a sua mãe e a sua irmã ao convento.
Elissa assentiu devagar com a cabeça.
— Muito bem. Me diga como vai me ajudar.
Dado que Damian já conhecia o túnel secreto e pôs um guarda perto da entrada, Elissa se
mostrou disposta a escutar o plano de Kimbra. Estava convencida de que reunir‐se com Tavis era a
única maneira de pôr fim ao assédio.
— Escuta — disse Kimbra baixando o tom da voz, — isto é o que vamos fazer.
Os Gordon se retiraram ao bosque sob a cobertura da escuridão; podia ver o fogo de seus
acampamentos dos torreões. Estava servindo uma comida quente aos homens que estavam
dentro do castelo que não estavam no serviço de guarda. Quando comeram, acomodaram‐se ante
o fogo para dormir o pouco que pudessem antes do provável ataque dos Gordon ao castelo ao
amanhecer.
Os feridos foram atendidos, e não se registrou nenhuma morte. Depois de jantar, Damian se
reuniu com Dickon nos torreões.
Vestida com a camisa de seu pai, calças largas presas com um amplo cinturão de couro e
uma jaqueta muito grande, Elissa escapuliu pela porta da cozinha. Enfiando a velha boina de seu
pai até as sobrancelhas, abraçou as sombras enquanto rodeava o castelo para chegar ao portão
dianteiro. Não estava tão escuro como teria gostado, porque uma pálida lua pendurava no céu.
Elissa rezou para que Kimbra mantivesse sua parte do acordo, porque sem sua ajuda, a fuga estava
condenada ao fracasso.
Elissa explicou o plano a sua mãe, e também a razão pela que considerava necessário ficar
nas mãos do Tavis. Lady Marianne havia se oposto firmemente, mas não conseguiu dissuadi‐la.
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Elissa deixou escapar um suspiro de alívio quando Kimbra surgiu dentre as sombras.
— O reverendo Trilby me prometeu que distrairia os guardas — sussurrou Kimbra. — Está de
acordo comigo em que o melhor para todos os que estamos no castelo é que vá. Escuta
atentamente — continuou Kimbra, — quando chegarmos a guarita de vigilância, distraia ao
sentinela para que não me veja deslizando por trás dele. Quando o tiver deixado inconsciente,
ajudarei‐te a levantar o portão. A partir de então estará livre. Ninguém suspeitará que eu te
ajudei, e não acredito que sintam sua falta até amanhã.
Kimbra deu um empurrão em Elissa. — Date pressa.
Elissa olhou para sua casa uma vez mais antes de aproximar‐se sigilosamente para a porta. O
plano de Kimbra não era perfeito, mas podia funcionar se tudo saísse como estava planejado,
pensou Elissa.
Vislumbrou o guarda noturno falando com o reverendo Trilby em voz baixa e os rodeou em
círculo.
Com o coração pulsando agitadamente ao se aproximar da guarita de vigilância, Elissa
percebeu o momento no qual Kimbra já não estava atrás dela.
Com os ombros inclinados e o queixo encurvado, aproximou‐se do sentinela, que a
interceptou imediatamente.
— Quem é?
— O menino da cozinha, senhor — disse Elissa com marcado acento escocês.
— O que está fazendo aqui, moço? Será melhor que retorne ao castelo.
— Fazia muito calor na cozinha e precisava tomar ar — Elissa passou por diante do sentinela
e olhou através das estreitas grades de ferro do portão, fingindo interessar‐se por algo que estava
ocorrendo além dos muros. — O que é isso? — perguntou com entusiasmo.
O sentinela a empurrou a um lado.
— Eu não vejo nada, moço, está seguro de que...? — sua frase terminou em um gemido
quando Kimbra o golpeou por trás com uma pedra.
— Me ajude — disse Kimbra lutando com o mecanismo que acionava o portão.
Juntas conseguiram levantar o portão o suficiente para que Elissa pudesse deslizar por
debaixo. O portão baixou atrás dela, e Elissa se apoiou um momento no muro para tomar fôlego.
Ao ver que não soava nenhum alarme, deixou escapar um suspiro de alívio e se separou da
sombra do muro.
O guarda que estava conversando com o reverendo Trilby deve ter escutado algo suspeito,
porque aconselhou ao reverendo que retornasse ao castelo antes de correr para a guarita de
vigilância.
Quando partiu, Kimbra surgiu de entre as sombras.
Damian se apoiou contra o torreão, observando os numerosos fogos do acampamento, que
eram visíveis através das árvores. — Acredita que atacarão esta noite? — perguntou Dickon.
— Não, parece que se instalaram para passar a noite. Espero um ataque ao amanhecer.
De repente, um grito rasgou o ar. Damian olhou por cima dos torreões para o pátio que
ficava abaixo.
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— Não vejo o que está ocorrendo — afirmou enquanto dava a volta e corria para as escadas,
— mas vou averiguar.
Dickon o seguiu pelos degraus de pedra em direção ao pátio. Damian ficou tenso quando
Kimbra se lançou sobre ele. Tentou tirar os braços do pescoço, mas ela se pendurou nele como um
marisco.
— Te acalme, Kimbra — espetou Damian. — O que está fazendo aqui fora? Foi você quem
gritou? O que ocorreu?
— Espiões, Damian. Espiões dos Gordon. Escutei‐os planejando uma traição. Falavam de
levantar o portão e deixar passar aos Gordon. Segui‐os até fora mas me assustei e decidi retornar
ao castelo para te advertir. Então alguém gritou e não soube o que fazer, então gritei.
— Entra. Eu me encarregarei disto.
Os soldados saíram do castelo, seguindo muito de perto Damian quando cruzou a toda
pressa o portão de entrada. Kimbra o seguia a uma distância prudencial, embora Damian o tivesse
proibido.
— Por aqui — gritou uma voz.
Alguém levantou uma luz no alto. O círculo de luz deixou descoberto a dois homens, um
apoiado contra o muro e o outro inclinado sobre ele. Para alívio do Damian, o portão estava
baixado.
— O que ocorreu, Betts? — perguntou Damian.
— Estava falando aqui perto com o reverendo Trilby quando escutei um ruído suspeito. Corri
para a guarita de vigilância e encontrei Corbin inconsciente — disse Betts, — mas parece que está
voltando a si.
— Te afaste a um lado — ordenou Damian. — Quero fazer umas perguntas — deixou‐se cair
de joelhos. — O que aconteceu, Corbin? Viu a seu agressor?
— Era um moço, meu senhor — respondeu Corbin aturdido. — Mas ele não foi quem me
golpeou. Outro me atacou pelas costas enquanto falávamos. O menino devia ter um cúmplice.
Kimbra abriu caminho até chegar ao lado do Damian.
— Você disse que havia uma traição acontecendo. Devem ter saído pelo portão.
— Sim — reconheceu Betts, — foi o som do portão abrindo e fechando que me pôs em
alerta. Quando cheguei, encontrei Corbin inconsciente.
— Precisa detê‐los, Damian — disse Kimbra com urgência. — Não sabemos o que têm os
traidores planejado. Não devem chegar ao acampamento dos Gordon.
— Sairei com uma patrulha — ofereceu‐se Dickon.
Damian apertou os lábios. Queria aos espiões de Gordon vivos. — Pode descrever a esses
homens, Corbin?
— O único com o que falei disse que era o menino da cozinha — recordou Corbin. — Isso é
tudo o que posso te dizer. Estava muito escuro para ver com clareza.
— Quais são suas ordens, Damian? — perguntou Dickon.
— Vou eu sozinho atrás dos espiões — decidiu Damian. — É mais provável que um homem
só chame menos atenção.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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— Eu vou contigo — insistiu Dickon. — Mando a alguém buscar os cavalos?
— Não, iremos a pé. Betts, abre o portão.
— Mata‐os, Damian — sussurrou Kimbra. — São traidores.
Damian lançou um olhar de exasperação. — Retorna ao castelo, minha senhora.
O portão se abriu movimentado por uma manivela, e Dickon e Damian o atravessaram.
— Não abra o portão a ninguém até que nós voltemos — ordenou Damian. — Os outros,
voltem para seus postos.
— Fique nas sombras — sussurrou Damian. — Os espiões não podem ter ido muito longe. Se
tivessem cruzado por campo aberto, os guardas dos torreões os teriam visto.
Damian observou a estreita zona aberta que havia entre os muros da fortaleza e o bosque
que ficava mais à frente. Nada se moveu. Os fogos dos acampamentos ainda piscavam na distância
e o lastimoso gemido de uma gaita de fole proibida flutuava através do ar.
— Algo se moveu ali adiante — sussurrou Dickon, — perto da muralha.
Damian examinou intensamente a escuridão. A princípio não viu nada, logo uma forma
miúda emergiu de entre as sombras. Certamente se tratava do moço que Corbin descreveu,
pensou Damian.
Observou fixamente como o menino se separava da muralha e escapulia para o bosque.
Agradecendo a luz da lua, tirou a pistola do cinturão e apontou cuidadosamente.
Não queria matar o moço, mas a distância era muito grande para garantir que não
aconteceria assim.
Damian apertou o gatilho ao mesmo tempo que uma rajada de ar soprou das montanhas,
levantando o pó ao redor de seus pés e despenteando seu cabelo. No momento em que a bala
saiu disparada de sua pistola, o vento arrancou a boina do espião de sua cabeça. Uma terrível
premonição atravessou Damian quando um manancial de cabelo vermelho caiu pelas costas do
espião.
Damian amaldiçoou furiosamente ao ver que o moço caía ao chão e ficava imóvel, e logo
saiu correndo para ele.
— Acertou! — exclamou Dickon com entusiasmo.
Damian caiu de joelhos diante do moço e o girou para pô‐lo de barriga para cima. Nasceu‐lhe
um grito da garganta.
— O que fiz? — o formoso rosto banhado na luz da lua era o da Elissa.
Ao ver que não se movia, Damian a agarrou nos braços e correu de volta à fortaleza. Não
sabia o quão gravemente ferida estava, mas sentiu seu sangue molhando seu braço.
— Quem é? — perguntou Dickon.
— Elissa — gritou Damian enquanto passava por diante de um assombrado Dickon, que deu
a volta para segui‐lo.
O portão se abriu graças à manivela. Damian correu a toda velocidade para o castelo com
uma inerte Elissa nos braços.
— Dickon, vá procurar a nana! — gritou girando a cabeça. Kimbra estava esperando Damian
no portão, mas não lhe prestou nenhuma atenção.
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Sabor do Pecado 03
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 129
— Está morta?
Se Damian não tivesse estado tão fora de si pela preocupação, lhe teria parecido estranho
que Kimbra soubesse imediatamente quem ficou ferido.
Nana baixou precipitadamente as escadas da sala das mulheres.
Afastou a Kimbra a um lado para chegar até Damian.
— Dito e feito, senhoria — arremeteu a anciã. — Leva‐a a seu quarto enquanto eu vou
procurar minhas ervas e meus remédios. Deveria te ter detido antes que isto ocorresse, mas não
acreditei que Elissa agisse tão logo.
Um brilho de ira obscureceu os olhos do Damian.
— Sabia quais eram as intenções de Elissa e não me disse nada?
— Sim, tinha minhas suspeitas, mas não houve tempo para te advertir.
— Juro que não sabia que era Elissa quem estava ali fora. Se soubesse, não teria disparado.
— Aqui há alguém que sim sabia — disse nana assinalando Kimbra com um de seus ossudos
dedos. — Procura respostas em sua prometida antes de assinalar culpados.
Sem dar tempo a Damian a pedir que se explicasse, nana deu a volta e saiu correndo dali.
— Essa mulher está louca — arremeteu Kimbra. — Não escute nada do que te diga.
— Agora não tenho tempo para isto, Kimbra — disse Damian passando por diante dela. —
Mas tenha por seguro que mais tarde exigirei respostas. Procura Maggie e envia a ao quarto da
Elissa. Talvez nana a necessite.
Damian subiu os estreitos degraus de dois em dois. Elissa seguia inconsciente quando a
deixou sobre a cama. Seu pálido rosto estava banhado em sangue e estava tão quieta como uma
morta.
Damian acariciou seu rosto e murmurou palavras tranquilizadoras até que chegou nana uns
minutos mais tarde.
— Viverá? — perguntou Damian com ansiedade.
— Te afaste a um lado, meu senhor. Preciso examiná‐la antes de poder te dizer.
— Maldita seja! Não fazia ideia de que estava disparando na Elissa — defendeu‐se ele. —
por que o fez? Quem era seu cúmplice?
— Minha moça foi traída — espetou nana. — Pôs sua confiança na pessoa equivocada.
— Está ferida gravemente? — Damian estremeceu. — Há muito sangue.
— Sua bala abriu um sulco no couro cabeludo de Elissa. Se recuperará, mas a cicatriz ficará
para o resto de sua vida.
Damian deixou escapar um suspiro de agradecimento. — Está segura de que isso é tudo?
Nana lançou um olhar inescrutável.
— Não tema, senhoria, Elissa não morrerá. Viverá para dar a luz a seu filho.
Damian pensou que entendera mal a nana e deixou passar.
Tinha coisas mais importantes em mente.
Alguém queria ver morta Elissa.
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Capítulo 13
Damian tinha intenção de ficar ao lado de Elissa até que recuperasse a consciência, mas o
dever se impôs quando Dickon apareceu com a assustadora notícia de que os Gordon atearam
fogo ao povoado e que os aldeãos estavam nos portões, suplicando que os deixassem entrar.
— Abram o portão — ordenou Damian. Sua expressão se tornou séria. — Os Gordon
chegaram muito longe esta vez. Atacaremos ao amanhecer.
Damian subiu a um dos torreões e ficou olhando fixamente ao céu, que se tornara vermelho
sangue pelas chamas. Amaldiçoou em silencio ao Gordon e retornou ao salão para dirigir‐se aos
aldeãos, que foram tirados de suas camas no meio da noite. O padre Hugh, o pároco do povoado,
informou a Damian de que não se perdeu nenhuma vida no incêndio.
— Faz o que possa para consolar a seu rebanho, padre — pediu‐lhe Damian. — Diga a eles
que eu pessoalmente me ocuparei de que reconstruam as casas danificadas pelo fogo.
O pároco, um homem de meia idade de pouco cabelo e rosto amável, olhou ao Damian com
um novo respeito.
— Obrigado em nome de minha gente, meu senhor. Já sabe que a maioria dos habitantes
das Terras Altas são católicos. A fé é uma parte importante de suas vidas. Enquanto nós falamos,
Deus escutou nossas preces. Ouve‐o? Está chovendo. Um sinal de que Deus está de nosso lado.
Damian escutou a salpicadura das gotas de chuva atingindo as janelas, seguida do estrondo
de um trovão, e se regozijou com o pároco.
— Deus está certamente cuidando de ti e dos teus, padre. Lady Elissa e sua mãe abraçam
também a fé católica?
— Sim, não sabia?
— Não. Lady Elissa foi gravemente ferida. Quererá lhe oferecer consolo?
O padre Hugh dirigiu ao Damian um olhar de assombro. — Ferida, diz? Sim, meu filho, irei a
seu lado assim que tenha me encarregado de meus paroquianos.
— Obrigado, padre.
Quando o padre Hugh partiu, Damian foi em busca de Lachlan.
— Qual sua opinião agora sobre o chefe dos Gordon? — perguntou‐lhe com aspereza.
Lachlan sacudiu a cabeça.
— Não posso acreditar que um homem em seu sã juízo ataque a seus próprios aliados. Não
merece casar‐se com nossa moça. Como está Elissa? Soube que foi ferida quando tentava sair de
Misterly.
— Sim. É uma história que mais vale deixar para mais adiante. Há quartos sem utilizar no
castelo. Sir Brody os ajudará a encontrar camas para as mulheres e as crianças. Os homens podem
dormir no salão.
Partiram cada um para seu lado. Damian retornou à sala das mulheres para ver como estava
Elissa. Maggie se reuniu com ele no vestíbulo. Estava com a fronte enrugada pela preocupação.
— Lady Marianne está angustiada — confessou Maggie. — Estava ciente do plano de fuga da
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Elissa e a advertiu contra, mas ela não quis escutá‐la. Disse a lady Marianne que Elissa não estava
ferida gravemente, mas está preocupada de todas as formas.
— Falarei com ela — disse Damian.
Damian entrou no quarto de Marianne e a encontrou tão angustiada como Maggie
assegurou que estava.
— Lorde Damian, graças a Deus. Por favor, me diga a verdade. Como está minha filha?
— Nana diz que vai ficar bem e não tenho motivos para duvidar dela. Não disparei para
matar, e minha bala só a roçou. Não fazia ideia de que estava disparando a Elissa até que uma
rajada de vento arrancou sua boina da cabeça e o cabelo caiu pelas costas. Mas já era muito tarde.
O que pode dizer a respeito da sua decisão de partir agora? Quem a ajudou?
— Não sei por que escolheu partir agora, mas sim posso te dizer quem a ajudou. Foi lady
Kimbra.
Uma grande ira fez tremer Damian.
— Está segura?
— OH, sim, Elissa me contou isso tudo antes de partir. A adverti que não confiasse em sua
dama, mas já conhece Elissa. Estava completamente decidida. Algo ou alguém a aborreceu.
Damian aspirou com força o ar e perguntou:
— Está apaixonada pelo Gordon? Por isso estava tão ansiosa de ir‐se com ele?
— Não é um casal nascido do amor — explicou Marianne. — O pai de Elissa desejava esse
matrimônio, e Elissa é uma filha obediente.
— Obrigado por me contar isto, minha senhora. Falarei com lady Kimbra quando tiver
terminado com os Gordon.
— O que pensa fazer?
— Expulsar os Gordon de minhas terras — assegurou Damian. Então desejou boa noite a
lady Marianne e partiu.
Antes de se meter na cama, Damian retornou ao quarto de Elissa para ver como estava.
Encontrou com nana adormecida em uma cadeira ao lado da cama. A anciã levantou a cabeça e
fez um gesto para que entrasse.
— Como está Elissa? — perguntou Damian. — Há dito algo?
— A moça não se moveu desde que se foi — respondeu nana. — Deveria ir à cama, senhoria.
O amanhecer chegará antes do que nós gostaríamos. Sei que vais sair ao encontro dos Gordon, e
minhas vozes me falam de sua vitória. É inglês, e não deveria te desejar nada bom, mas Tavis
Gordon mostrou sua autêntica cara ao atear fogo ao povoado. E acredito sinceramente que
Misterly prosperará contigo como senhor.
— Obrigado, nana — agradeceu‐lhe Damian. — Cuida de Elissa, eu vou seguir seu conselho e
descansar um momento.
— E o que acontece com lady Kimbra? — perguntou nana. Damian sorriu com ferocidade.
— Encarregarei‐me dela no momento que eu considere oportuno.
Damian não foi capaz de dormir. A certeza de que podia ter matado Elissa pesava como uma
rocha sobre ele. Por culpa de um vento errante e de uma jogada do destino, Elissa poderia estar
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morta agora.
Damian era um atirador excelente; não apontou para matar, mas nunca podia se saber. Não
teria sido capaz de seguir vivendo se tivesse assassinado à mulher que mais o importava.
E Elissa o importava. Nenhuma mulher que conheceu o afetou jamais como aquela tigresa
ruiva. Embora houvesse mulheres de beleza mais convencional e mais refinadas, Elissa possuía
uma qualidade especial que a fazia única.
Quando estava a ponto de amanhecer, Damian se levantou e se preparou para a batalha.
Embainhou sua espada, colocou a pistola no cinto e desceu as escadas que levavam ao salão.
Os criados se moviam entre as mesas colocando conchas de papa de aveia e bandejas de
presunto frito diante dos homens. Pela extremidade do olho distinguiu ao Dickon e Maggie, que
falavam em voz baixa. Percebeu que seu amigo tocava o rosto da moça em tenra despedida.
— Maggie se encarregou de que se servisse um café da manhã cedo — explicou Dickon
quando colocou uma cadeira ao lado do Damian. — Nossas montarias nos esperam no pátio.
Damian agarrou o ombro de seu amigo.
— É bom ter a um homem como você perto, Dickon. Tomamos o café da manhã?
Um úmido amanhecer que prometia mais chuva se deslizou lentamente sobre o cinza
horizonte quando Damian se levantou e fez um gesto para dar por terminado o café da manhã.
— Chegou a hora — disse a seus homens. — O inimigo nos espera.
Os Gordon estavam despertando quando Damian e seus homens irromperam no
acampamento. Levantando‐se a tropicões de seus catres7, os escoceses se lançaram rapidamente
ao ataque sob um grito de batalha e enfrentaram os ingleses em um combate de igual a igual. O
bosque rugiu com os sons da batalha. As forças de Damian eram inferiores em número, mas os
habitantes das Terras Altas possuíam arma rudimentares e aos guerreiros faltavam as habilidades
para a luta que possuíam os treinados e peritos cavalheiros.
Foi uma luta crua e sangrenta, mas Damian contava com o peso de numerosas batalhas e
igual número de vitórias a suas costas. Era um ardiloso estrategista, e logo ideou um plano para
rodear e dividir os habitantes das Terras Altas em grupos pequenos.
Haviam caído muitos homens, decidiu Damian enquanto desviava o golpe de uma espada
que ia direto a seu coração. Divisou Tavis Gordon e abriu caminho para o chefe lutando.
— Te renda, Gordon — exigiu.
— Nunca — espetou o homem envolvendo‐se imediatamente com Damian em um choque
de espadas. — Somos mais numerosos que vocês.
Damian afastou a um lado a espada do Gordon e lhe lançou uma estocada, sorrindo com
satisfação ao ver que fazia sangue.
— Não podem ganhar — assegurou Damian. — Olhe a seu redor. Seus homens estão caindo.
Apesar de que nos superam em número, nossas armas e nossa experiência nos farão ganhar.
O rosto de Gordon era uma máscara de raiva. Ergueu a espada com ambas as mãos e a
lançou para baixo. Damian se afastou a um lado para evitar a afiada folha da espada, mas a ponta
alcançou‐o no braço, provocando um corte superficial do ombro até o cotovelo. Ignorando o 7 Espécie de cama rústica, pobre.
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ferimento, Damian voltou a ser o agressor, obrigando Gordon a retroceder.
— Inglês assassino! — grunhiu Tavis. — Um Gordon! Um Gordon! —Seu grito de batalha
ficou sem resposta.
Ao que parece, Tavis percebeu quão absurdo era continuar, porque rompeu bruscamente
contato com o Damian. Elevando a voz, soltou o grito de retirada.
— Não terminei contigo, inglês — sussurrou Tavis enquanto girava e fugia para as escuras
sombras do bosque.
Dickon apareceu ao lado do Damian. Sua espada gotejava sangue. — Vamos atrás deles,
Damian?
— Não, que sentido teria? Esta é sua terra; nunca daremos com eles. Confiemos em que
tenham aprendido a lição.
Dickon assentiu.
— Me Encarregarei de que tragam os feridos e aos mortos de volta à fortaleza.
Damian voltou para o castelo, sua mente dava voltas nos problemas aos quais enfrentava
agora. A primeira coisa que devia fazer era ocupar‐se dos aldeãos. Dado que suas cabanas eram
feitas com pedra e palha, deu por certo que a maior parte dos danos se concentrariam no telhado
e nos móveis. A chuva da noite anterior foi uma bênção do céu. Conteve o fogo e evitou que os
danos fossem maiores.
Damian esperava inspecionar as cabanas aquele mesmo dia e começar as reparações.
Então se encarregaria de lady Kimbra.
Damian cruzou a grandes passos o salão, detendo‐se de repente ao sentir o tenso silêncio
que seguiu a sua chegada. Todas as terminações nervosas de seu corpo ficaram em alerta. O que
estava acontecendo?
Percebia hostilidade. Para ele? Para os Gordon? Estavam os Fraser dispostos a perdoar o
ataque dos Gordon contra sua aldeia só porque odiavam os ingleses?
— Os Gordon foram esmagadoramente derrotados e retornaram a seu baluarte — anunciou
Damian à silenciosa multidão.
Ninguém disse nada. O silêncio era ensurdecedor. Então uma voz se elevou entre o mar de
rostos.
— Agradecemo‐lhes, lorde Damian. O que fez Gordon não esteve bem.
Seguiram uns quantos "sim", e de repente o salão explodiu em uma grande ovação.
Assombrado, Damian ficou olhando fixamente aos aldeãos com expressão confundida.
— E o que acontece com nossas casas? — perguntou uma mulher com voz tímida.
— Se repararão todas as cabanas — prometeu Damian quando por fim foi capaz de falar. —
Tudo o que tenham perdido no fogo será reposto — virou‐se para o sacerdote. — Padre Hugh,
escolhe a alguns homens para inspecionar uma a uma as cabanas e fazer uma lista das reparações
que necessitam. Espero um relatório completo para amanhã.
— Podemos voltar para nossas casas antes que se façam as reparações? — perguntou
alguém.
— Isso depende completamente de vocês. A maioria estarão desejando ver os danos de seus
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lares, assim não impedirei seu retorno, se isso for o que querem. Em qualquer caso, levem em
consideração que proporcionarei toda a ajuda que necessitem. A comida e as provisões sairão dos
celeiros de Misterly.
— Que Deus te benza, senhoria — soluçou uma mulher. — É um bom homem apesar de ser
inglês.
Damian conteve um sorriso, e desejou que certa arpía ruiva estivesse de acordo. Mas
concentrou sua atenção em um assunto mais premente: lady Kimbra.
Estava se afastando para enfrentá‐la em seu dormitório quando Maggie puxou por sua
manga.
— Senhoria, está ferido. Deixa que vá procurar a nana. Damian olhou o braço e deu de
ombros. — Não é nada, Maggie.
— Claro que é algo — Maggie torceu o gesto. — Sente‐se, nana não demorará nada em
trazer suas ervas e seus cataplasmas. — A jovem se deteve e logo perguntou com acanhamento:
— Viu a sir Richard? Não está entre os feridos, verdade?
— Sir Richard está ileso — assegurou Damian. Maggie assentiu e saiu correndo.
Damian se surpreendeu com a preocupação de Maggie por seu bem‐estar, e se perguntou se
os Fraser estariam começando por fim a confiar nele. Nada o agradaria mais.
Nana chegou em seguida com sua cesta de ervas e remédios. — Há muitos feridos além de
ti? — perguntou enquanto deixava a cesta sobre a mesa e retirava a manga da camisa de Damian
para inspecionar o ferimento.
— Uns quantos. Ambos os bandos sofreram perdas. Encontrará aos feridos no galpão.
Agradecerão muito seus cuidados. — Atenderei‐os quando tiver visto seu ferimento. Tem sorte,
senhoria. Não é mais que um corte superficial. Estará como novo assim que o limpe e o cubra.
— Como está Elissa? — perguntou Damian enquanto nana o atendia.
— Está acordada e controla seus sentidos. Não sabe que foi você quem a feriu, mas sabe que
Tavis Gordon colocou fogo na aldeia. Irá vê‐la agora?
— Mais tarde — respondeu Damian distraído.
— Sim — assentiu nana, — no fundo de seu coração sabe o que terá que fazer. Agora deve
pensar em nossa moça. Já está, senhoria — disse apertando a atadura.
— Obrigado, nana — Damian ficou de pé. — Sei o que terei que fazer, por muito
desagradável que seja.
Com o corpo rígido pela determinação, Damian se dirigiu para as escadas de pedra que
davam ao dormitório de Kimbra. Deteve‐se um instante no patamar superior para acalmar sua ira
e logo bateu na porta.
Não obteve resposta.
— Kimbra! Abre, sei que está aí. Seguia sem ter resposta.
Damian amaldiçoou em voz alta e girou o trinco. A porta estava fechada com chave. Estava
considerando a possibilidade de jogá‐la abaixo quando se abriu de repente. A grossa figura do
reverendo Trilby bloqueava a entrada.
— Onde está? — inquiriu Damian afastando Trilby a um lado.
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Vislumbrou a Kimbra em um canto e ordenou ao reverendo que saísse do quarto.
— Não, fique! — suplicou Kimbra.
Damian lançou ao reverendo um olhar reprovador. — Saia agora mesmo se não quer que eu
o jogue daqui.
— Reverendo Trilby, por favor — sussurrou Kimbra com voz tremente.
Ao que parece, Trilby levou a sério a ameaça de Damian, porque se desculpou ante Kimbra
com o olhar e se dirigiu recuando para a porta.
— Deve me prometer que não lhe fará mal, meu senhor.
— Por muito tentado que me sinta, lady Kimbra não sofrerá nenhum dano físico em minhas
mãos.
Trilby assentiu e saiu precipitadamente dali. Damian fechou de uma portada atrás dele e
logo se virou para a Kimbra.
— Sob sua beleza se esconde uma vadia sem coração. Admite‐o. Você planejou
deliberadamente a morte de Elissa.
Kimbra elevou o queixo para o teto.
— Se Elissa disse isso, mentiu. Sou inocente.
— Conte isso a alguém que acredite. Com o que golpeou Corbin? Poderia tê‐lo matado.
— Não bati tão forte para o ferir! — gritou Kimbra. Então abriu os olhos de par em par e
fechou a boca de repente, se dando conta do que acabava de admitir.
A fúria brilhava nas profundezas dos olhos do Damian. — O que esperava ganhar com a
morte de Elissa?
— Não está morta.
— Mas não graças a ti. Foi um milagre que minha bala não fosse parar em um órgão vital.
Kimbra se aproximou furtivamente até Damian e rodeou seu pescoço com os braços. Baixou
a voz até convertê‐la em um sussurro sedutor. — Não podemos esquecer o que aconteceu? Posso
te fazer feliz, juro‐lhe isso. Quero ser sua esposa.
Damian tirou seus braços e a separou de si.
— Isso não vai ocorrer. Vou enviar a ti, ao reverendo Trilby e a seu séquito de volta a
Londres.
Kimbra entreabriu os olhos.
— Não pode me expulsar daqui. O rei me escolheu pessoalmente para que fosse sua esposa.
Castigará‐te imediatamente por sua desobediência.
— Me arriscarei — replicou Damian. — vou enviar uma mensagem com explicação ao rei
com um de meus homens. A mensagem chegará a Londres antes de você.
— Estou segura de que podemos arrumar isto de modo que ambos estejamos satisfeitos —
tentou persuadir Kimbra. — Não permita que uma jacobina traidora se interponha entre nós.
O desprezo de Damian era evidente.
— Não existe um nós, Kimbra. Nunca existiu. Recolhe suas coisas. Sua escolta estará te
esperando amanhã depois do café da manhã.
O gemido ultrajado de Kimbra ficou desatendido quando Damian saiu dando uma portada.
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Sabor do Pecado 03
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Expulsar a Kimbra dali provocaria certamente a perda de seu titulo e Misterly, mas nada poderia
convencê‐lo para que se casasse com ela.
Não era o tipo de esposa que desejava. Damian não tinha nenhuma intenção de viver em
Londres nem de tomar uma esposa que só procurava a excitação que oferecia a vida na cidade.
Um pensamento absurdo se apoderou de repente de Damian, que esteve a ponto de rir em
voz alta quando se deteve para sopesar as consequências. Significaria desafiar abertamente ao rei,
mas a aquelas alturas já não importava.
De fato, quanto mais pensava nisso, menos ridícula parecia a ideia.
Ainda sorrindo, Damian desceu de dois em dois os degraus da escada da sala, bateu na porta
de Elissa e entrou. Encontrou‐a sentada a borda da cama, tentando agarrar o robe.
— Como te encontra? — perguntou.
Elissa lançou um olhar desafiante.
— De verdade te importa? Como soube que saí do castelo?
— Kimbra deu a voz de alarme. Deveria ter sabido que não podia confiar nela — disse sem
rodeios. — Dói‐te?
Que estúpida foi ao acreditar em Kimbra, pensou Elissa arrependida. Tocou o ferimento da
cabeça.
— Estou melhor.
— Teve sorte. A bala só passou roçando. Me fizeram acreditar que era um espião dos
Gordon — Damian a observou pensativo. — Por que queria ir?
Elissa piscou ao olhá‐lo.
— Kimbra e você vão pronunciar seus votos. Não estava disposta a viver em Misterly como
sua amante. Kimbra me odeia; a vida seria insuportável se eu ficar.
O olhar de Elissa fraquejou.
— Decidi fugir para Glenmoor, com minha parente Christy Macdonald.
— Não ias se reunir com o Tavis Gordon? — perguntou Damian surpreso.
— Não. Terminei com Tavis.
— Já não precisa ir a nenhum lado — disse Damian. — Não haverá nenhuma bodas. Vou
enviar Kimbra e a seu séquito de volta a Londres amanhã.
Elissa abriu os olhos de par em par e também a boca.
— Por quê? Deves te casar com Kimbra para conservar Misterly.
A determinação de Damian não fraquejou.
— Confio em que o rei me entenda uma vez que tenha lido minha mensagem explicando
quão inconveniente seria meu matrimônio com Kimbra. Posso proteger Misterly sem ter ela como
esposa.
Elissa se reclinou contra os travesseiros e observou atentamente Damian com os olhos
entreabertos. Tentou imaginar que significado tinha a decisão do Damian para sua família... e para
ela.
Compreendia seu desejo de manter suas recém adquiridas terras, mas não aquela
obstinação por desafiar a seu rei.
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Sabor do Pecado 03
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Estava a ponto de pedir ao Damian que a deixasse ir a Glenmoor quando Maggie abriu a
porta e olhou atentamente para o quarto.
— Sua mãe e sua irmã desejam te visitar, Elissa.
Lady Marianne entrou no quarto atrás de Maggie. Caminhava devagar, mas Elissa estava
encantada com os progressos que estava fazendo sua mãe.
Lora passou rapidamente por diante de Marianne.
— Lissa! Está bem? Mamãe diz que te feriram. Não me deixaram sair da sala das mulheres
em dois dias, mas sabia que algo ia mal — desviou o olhar para o Damian. — Você não machucou
Elissa, verdade?
Antes que Damian pudesse responder, Elissa disse:
— Foi um acidente, Lora — aplaudiu um lado da cama. — Sentem‐se as duas a meu lado.
Quanto tempo está em pé e andando, mamãe?
Lady Marianne se colocou a um lado da cama enquanto Lora subia ao colo de Elissa.
— Já estou a algum tempo, embora não saí da sala das mulheres nem tentei subir as escadas
— dirigiu um olhar significativo a Damian. — Preciso estar forte para minha família. Lady Kimbra
nos deseja mal. Por isso mantive a Lora perto de mim desde a chegada da prometida de lorde
Damian.
— Já não precisa seguir preocupando‐se, minha senhora — assegurou ele. — Kimbra vai
retornar a Londres.
Um tênue sorriso cruzou os lábios de Marianne enquanto dirigia o olhar de Damian a Elissa.
— Deus atua de forma misteriosa. Como se sente, filha? Estive preocupada apesar de que
nana me assegurou que não sofreu um dano grave.
— Como pode ver, estou bem — disse Elissa.
— E sobre os aldeãos, meu senhor? Está alguém se ocupando deles? Quando meu marido
vivia, se encarregava de suas necessidades.
— Os aldeãos são agora minha responsabilidade — assegurou Damian. — As casas estão
sendo inspecionadas para avaliar os danos e as reparações que serão necessárias. Proporcionei‐
lhes comida e tudo o que possam necessitar para fazê‐los sentir cômodos. Este inverno deverá ir
bem. A fruta amadurecida começou a cair das árvores, o trigo já está dourado e também
floresceram os pomares de verduras. Perdemos algumas cabeças de gado por culpa do saque, mas
não prevejo escassez de alimento em um futuro próximo.
Marianne parecia agradada.
— Assim é como deve ser. Misterly sempre se auto abasteceu.
— Pode brincar comigo, Elissa? — interveio Lora elevando a voz, cansada ao que parece
daquela conversa de adultos.
— Não — disse Damian antes que Elissa pudesse responder. — Sua irmã precisa descansar
hoje.
— Amanhã começaremos outra vez com as aulas — prometeu Elissa ao perceber a desilusão
de Lora.
— Vamos, Lora — disse Marianne erguendo‐se. — É hora de ir. Lorde Damian disse que o
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Sabor do Pecado 03
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perigo já passou, assim hoje pode brincar no pátio com as outras crianças.
— Sim — reconheceu Damian, — Misterly está agora a salvo; pode andar por onde queira.
— Necessita algo mais, Elissa? — perguntou Maggie antes de seguir Marianne e a Lora pela
porta.
— Não, obrigado, Maggie. Amanhã espero poder me levantar.
— Deve ficar exatamente onde está — disse Damian. — Partirei para que possa descansar.
Elissa se surpreendeu que Damian se inclinasse para beijá‐la nos lábios. Foi um beijo
estranho. Teve sabor de paixão cuidadosamente controlada, a posse, e a algo mais. Quando ele
soltou finalmente sua boca, Elissa não pôde evitar perguntar‐se se teria beijado Kimbra da mesma
maneira. Então Damian partiu, deixando Elisa suspirando por algo que uma habitante das Terras
Altas leal não deveria esperar.
Elissa estava quase adormecida quando percebeu que havia alguém de pé a um lado da
cama. Abriu os olhos, sobressaltada ao ver Kimbra abatendo‐se sobre ela.
— Não ganhaste ainda — sussurrou Kimbra com voz envenenada. — O rei terá notícias das
artimanhas que utilizou para pôr Damian contra mim. Damian é meu. Não pode tê‐lo — tocou no
ventre e um sorriso malicioso curvou seus lábios. — Estou quase segura de que estou esperando
um filho dele.
Um grito de desespero atravessou os lábios de Elissa. Kimbra estava esperando um filho de
Damian?
— Não, como é possível? É muito cedo para sabê‐lo.
— As mulheres conhecem seu próprio corpo — respondeu Kimbra. — Inclusive você deve
estar a par de que quando duas pessoas se juntam, resultam em conceber um filho. Insistirei em
que o rei te castigue duramente por suas enganosas maneiras.
— Eu não fiz nada! — protestou Elissa. — Você procurou isto!
Kimbra emitiu um som gutural de desprezo e girou sobre os calcanhares.
— Desfruta de sua liberdade enquanto dure — disse por cima do ombro.
Elissa permaneceu a manhã seguinte em seu quarto até que Kimbra e seu séquito partissem
rumo a Londres. Observou pela janela como partiam e logo desceu ao salão.
Ainda sentia as pernas débeis, mas a cabeça não doía tanto como no dia anterior.
Elissa viu Damian falando com um grupo de homens e escapuliu por detrás dele para tomar
o café da manhã na cozinha com a gente que conhecia e amava.
Por alguma razão, aquela manhã sentia mais fome do que o costume e comeu com gosto.
Quando saiu da cozinha, tropeçou com a dura parede do peito de Damian.
— Estava tentando me evitar? — perguntou ele zombador.
A Elissa ruborizaram suas faces sob aquele sorriso desarmante. De repente recordou a
assombrosa notícia que Kimbra revelou na noite anterior, separou‐se dele e elevou a vista para
olhá‐lo fixamente.
— Não deveria estar na cama? — perguntou Damian.
— Encontro‐me bem — respondeu ela com frieza.
Damian assentiu, mas não parecia convencido.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 139
— Estive te procurando. Acreditei que você gostaria de saber que os danos provocados no
povoado são mínimos. A chuva evitou o que podia ter sido uma tragédia. Só seis casas perderam o
telhado, e o resto foram ligeiramente danificadas. Perdeu‐se um pouco de mobília, mas nada que
não possa mudar ou arrumar. Ao menos não se perderam vidas. O Padre Hugh diz que a igreja se
salvou.
— E sobre os comerciantes? Sobreviveram suas tendas ao fogo?
— A maioria estão intactas. Já mandei que vão ao Inverness para procurar materiais e
aprovisionamento dos que carecemos no Misterly.
— Estou segura de que os membros de meu clã estão agradecidos — disse Elissa. — Se me
desculpar, prometi a nana que a ajudaria com os feridos.
— Há algo que quero falar contigo — disse Damian.
— Não temos nada do que falar.
Damian dirigiu um olhar de assombro.
— O que te ocorre? Parece zangada. Não te disparei intencionalmente, se for isso que esteja
te incomodando.
Elissa se mostrou indignada.
— Não se trata disso absolutamente. Não deveria tê‐la expulsado daqui.
— Esta se referindo a Kimbra? Acreditei que estaria encantada de não voltar a vê‐la.
— Isso foi antes de...
— Antes do que?
— Se você não sabe, não me corresponde falar sobre isso.
Elissa saiu dali com a cabeça muito alta e os ombros estirados.
— Covarde — disse Damian a suas costas.
Elissa trabalhou no galpão ao lado de nana até que todos os feridos foram atendidos.
— É hora de limpar‐nos e se reunir com os membros de nosso clã para comer — disse nana
enquanto urgia Elissa para a pequena sala separada do galpão em que as esperavam água fresca e
toalhas.
— Já estão aqui — disse Damian entrando no quarto em penumbra. — Como estão os
feridos?
— Recuperando‐se, sua senhoria — respondeu nana.
— Excelente — disse Damian. — Estão servindo a comida. Já terminaram?
— Sim, mas primeiro sente‐se para que possamos trocar as ataduras.
Assombrada, o olhar de Elissa percorreu o corpo de Damian em busca de uma lesão. Não viu
nada que indicasse que ficou ferido.
— Não é mais que um arranhão insignificante, e está quase curado — disse Damian.
— Insisto, meu senhor — disse nana levando‐o para um banco. — A infecção é um risco,
independentemente de quão pequena seja a ferida.
Damian se sentou e elevou o braço para que nana o inspecionasse.
— Enrole a manga da camisa enquanto vou procurar minha cesta no galpão — ordenou‐lhe
nana.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 140
Elissa soltou um pequeno grito enquanto mantinha a vista cravada no braço de Damian.
Uma vendagem empapada em sangue cobria uma risca do ombro até o cotovelo. Deixou‐se cair a
seu lado e afastou cuidadosamente as ataduras sujas.
— Acreditei que havia dito que não era nada. —Damian deu de ombros.
— Um inconveniente menor. Parece pior do que é. Nana se reuniu com eles um instante
mais tarde.
— É um ferimento superficial, mas todos os ferimentos podem infectar — sorriu com
aprovação. — Seu ferimento está limpo e sã, meu senhor. Elissa pode te aplicar salvia e te pôr uma
vendagem nova. Está tão capacitada como eu.
Elissa fulminou nana com o olhar. A anciã lhe devolveu um sorriso cúmplice e saiu a toda
pressa. Elissa voltou a centrar sua atenção em Damian; a estava olhando com uma intensidade
que provocou uma onda de calafrios.
— A vendagem, Elissa — a recordou com doçura.
Elissa piscou e agarrou seu braço. Sentiu‐o estremecer e afastou o olhar de seu rosto.
— Te machuquei?
Elissa se inclinou para cumprir sua tarefa, sentia medo de se derreter sob o ardente calor de
seu olhar. O mero feito de tocar Damian a fazia se esquecer da existência de Kimbra, e de que
Damian era um pilantra inglês que pisoteava os sentimentos das mulheres. Damian e ela não
tinham nenhum futuro juntos; negava‐se a converter‐se na amante de um homem que a
desprezava em todos os sentidos... em todos os sentidos menos em um. Quando faziam amor, a
fazia sentir‐se como se de verdade se importasse.
Elissa não podia suportar aos estúpidos, e ela era da pior índole. Se Kimbra estava esperando
um filho de Damian, é obvio que devia se casar com ela.
Capítulo 14
Depois de atar a vendagem do Damian, Elissa ficou de pé e sacudiu as saias. Damian se
levantou; tinha os olhos entrecerrados e seus pensamentos eram impenetráveis. Elissa
desconfiava do lado inescrutável dele e retrocedeu um passo e logo outro. Ele a seguiu,
espreitando‐a até que Elissa sentiu a fria parede contra as costas e o abrasador calor do corpo do
Damian apertado contra o seu.
Os chapeados olhos de Damian se obscureceram até converter‐se em estanho enquanto a
agarrava pela cintura com ambas as mãos e a mantinha cativa, a dura pressão de seu rígido sexo a
urgindo sem descanso entre as pernas. Hipnotizada, Elissa sentiu como seu olhar deslizava para a
boca dele, que se abatia sobre a sua, perto, tão perto que podia ver como pulsava seu pulso na
base do pescoço.
Por que ficava a respiração retida na garganta e tremia seu corpo de desejo? Elissa se
repreendeu por ser tão estúpida, mas de todas formas elevou a boca para a sua.
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Sabor do Pecado 03
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O beijo do Damian acabou com sua vontade. Sua resistência se fez em pedaços enquanto se
derretia em seu abraço, seu corpo procurava o prazer que sabia que só ele podia proporcionar.
As mãos dele buscaram seus seios, e Elissa gemeu em sua boca, sacudindo‐se contra ele; o
prazer de suas carícias a fazia tremer. Um instante depois, Damian a estava levando para o banco.
Suas carícias se fizeram mais exigentes quando a sentou sobre a dura superfície.
Elissa não era consciente de nada mais que do feroz desejo que Damian despertava nela.
Sentiu um ar fresco sobre seus seios, mal consciente de que Damian baixou seu sutiã.
Um suspiro escapou de sua garganta quando se inclinou sobre ela e introduziu um mamilo
na boca. Elissa se arqueou contra ele, oferecendo mais de si mesma as suas excitantes carícias.
— Elissa — gemeu Damian contra sua pele. — Necessito isto. Necessito a ti.
Sentiu sua mão sob a saia, deslizando entre suas pernas, cobrindo‐a. O coração da Elissa
pulsava com força contra as costelas. Durante um selvagem instante, desejou‐o tanto como
Damian a ela.
Abriu as pernas, convidando‐o a um contato mais íntimo. Damian obedeceu encantado,
sussurrando palavras carinhosas contra sua boca enquanto explorava sua fenda com os dedos.
— Te abra para mim, querida. Kimbra partiu. Ninguém nos impedirá de fazer o que
quisermos.
As palavras de Damian provocaram um efeito devastador em Elissa. Kimbra! Como podia ter
se esquecido? Damian tinha o poder de um feiticeiro. Com um só beijo apagou de sua mente a
lembrança das palavras de despedida da Kimbra.
Elissa lhe deu um empurrão no peito.
— Não! Deixa que me levante. Não pode fazer isto.
Damian se inclinou para trás, com a confusão refletida nas rugas da fronte.
— Te machuquei? Dói‐te o ferimento da cabeça?
Elissa deslizou por debaixo dele, os olhos jogavam faíscas de fúria.
— Como te atreve! Não me toque.
— O que é que fiz?
Elissa aspirou com força o ar para tranquilizar‐se.
— A forma em que trata às mulheres é abominável. Como pudeste expulsar lady Kimbra
daqui? Está esperando teu filho. Não sinto admiração por Kimbra, mas se eu estivesse esperando
teu filho, eu não gostaria de ser tratada com um desprezo tão cruel.
— O que?
Damian parecia assombrado, mas Elissa pensou que a ela não podia enganar com tanta
facilidade.
— Nunca ouvi uma tolice semelhante. Se Kimbra está esperando um filho, por todos os
diabos que não é meu. Nunca toquei a essa mulher.
Elissa soprou com desconfiança.
— Mentiroso! A própria lady Kimbra me disse que foi sua amante. Vi‐te beijando‐a. É muito
formosa, meu senhor, o sonho de qualquer homem.
— Não o meu — afirmou Damian. — Se existisse a mais remota possibilidade de que Kimbra
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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estivesse esperando meu filho, teria me casado com ela. Se existe alguém que espera meu filho,
essa é você.
Soltando um grito de negação, Elissa deu a volta, estirando a roupa e o cabelo enquanto saía
fugindo.
— Elissa! Espera! Acabo de recordar algo que disse nana.
Mas já era muito tarde. Elissa se fora. Damian saiu atrás a um passo mais lento. Necessitava
tempo para recompor‐se. Tinha uma ereção grande e dura e seu desejo seguia intacto.
Aspirou várias vezes o ar profundamente, tentando encontrar sentido a tudo o que Elissa
disse, e às coisas que ficaram sem dizer.
Damian não foi alheio às consequências de jogar sua semente no interior da Elissa, mas
ignorou deliberadamente sua consciência para satisfazer seu próprio prazer egoísta. E só Elissa
podia lhe dizer a verdade.
Quando recuperou o controle sobre si mesmo, abriu caminho para o salão. As pessoas
seguiam comendo, mas Elissa não estava por nenhuma parte. Damian forçou a si mesmo a sentar‐
se e a comer, mal saboreando o que metia na boca. Tinha planos que formar e executar. Era
consciente de que estava pisando em terreno perigoso, e de que o rei poderia castigá‐lo por
desobedecer suas ordens, mas estava decidido a seguir adiante mesmo se Elissa o rechaçasse.
— Parece um homem com uma ideia na cabeça — disse sir Richard quando tomou assento
ao lado de Damian. — Tem medo de que Kimbra renegue a ti ante o rei? Reza para que sua carta
chegue a Sua Majestade antes que o faça Kimbra. Informaste que repeliste um ataque contra
Misterly, verdade? Isso te congraçará com ele.
— Com o rei, a gente nunca sabe — grunhiu Damian.
— Tem intenção de tomar Elissa como amante agora que Kimbra se foi?
— Não, tenho outros planos para Elissa.
— Me conte, sou todo ouvidos.
— Os conhecerá muito em breve. Sabe por acaso se o Padre Hugh retornou ao povoado?
— Saiu daqui com uma caravana carregada de comida de nossas despensas para dar de
comer a aqueles que retornaram a sua casa. Quer que vá buscá‐lo?
— Não, irei eu mesmo.
Dickon lançou um olhar curioso. — O que está acontecendo, Damian?
— O que está acontecendo entre Maggie e você, Dickon? — replicou Damian, esquivando
habilmente a pergunta de seu amigo. — Deitaste‐te já com a moça?
O belo rosto de Dickon se ruborizou.
— Sim, mas antes tive que prometer que me casaria com ela.
— Prometeu que te casaria com ela? — engasgou‐se Damian. — E te acreditou? Era virgem?
Dickon se ruborizou ainda mais.
— Sim, de fato arrebatei sua virgindade.
— Então te casará com ela, meu amigo. Sugiro que fixe uma data.
— Por todos os diabos, Damian! Disse a muitíssimas mulheres que me casaria com elas.
Forma parte do jogo.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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— Para Maggie não. Ela não é uma de suas prostitutas inglesas. É parente de Elissa, e ignora
os jogos dos homens. Não permitirei que a desonre.
Dickon se levantou pela metade da cadeira.
— Do mesmo modo que você desonrou Elissa? Somos da mesma índole, Damian. Por todos
os diabos, se inclusive compartilhamos mulheres. Elissa não é diferente das dúzias de mulheres
com as que te deitaste.
— Há uma grande diferença, Dickon. Vou converter Elissa em minha esposa, assim tome
cuidado com o que diz dela.
Dickon se apoiou contra o respaldo da cadeira com uma expressão de absoluto assombro no
rosto.
— Vai se casar com Elissa? Está louco? O rei utilizará seu traseiro como alvo. Espero que
esteja preparado para perder Misterly e todo o resto que te foi entregue.
— Talvez não chegue a isso — aventurou Damian. — A desejo, Dickon. Nunca desejei a uma
mulher tanto como desejo Elissa.
— Suplico‐lhe isso, que siga sendo sua amante, mas não desafie ao rei. Fui teu amigo
durante muito tempo e me importa o que te acontece.
— Te esqueça de Elissa e de mim. Falemos de Maggie e você. Sente algo por ela?
— Não terminei ainda com este assunto — respondeu Dickon sem rodeios. — Elissa aceitou
casar contigo?
— Aceitará. Já é suficiente, Dickon. Tomei uma decisão; não há nada mais que dizer. E agora,
se me desculpar, vou ao povoado.
Dickon ficou pensativo quando Damian partiu dali a grandes passos. Por que se mostrava tão
obstinado seu amigo com aquele assunto? A ira do rei não era uma questão para se levar à ligeira.
Quando viu Maggie entrar no salão, seus pensamentos se fizeram em pedacinhos e correu
atrás dela.
Elissa rondava por seu dormitório como uma gata inquieta. As palavras de despedida de
Damian seguiam ressonando em seu cérebro.
"Se existe alguém que espera meu filho, essa é você."
Poderia ser certo? Elissa apertou o liso ventre com a mão. Era muito cedo para saber, mas
duvidava muito de que estivesse esperando um filho de Damian, e assim queria que seguissem as
coisas.
O fato de que nana parecesse pensar que estava grávida não o convertia em algo real.
Consciente de que não podia se esconder em seu quarto para sempre, Elissa saiu da
habitação e se encontrou com sir Brody e com sua mãe no corredor.
— Elissa — saudou‐a Marianne com emoção, — sir Brody arrumou tudo para que uma
carroça puxada por um pônei me leve ao povoado. Quero ver com meus próprios olhos como as
estão arrumando os membros de nosso clã. Quer vir você também?
— É uma ideia maravilhosa, mamãe — disse Elissa com entusiasmo. — Levamos Lora
conosco?
— Ela já está lá. Lachlan a convidou para passar o dia com sua família.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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A carroça já estava esperando no pátio. Sir Brody subiu Marianne no assento enquanto Elissa
montava e agarrava as rédeas. — Eu posso levar a carroça, sir Brody — disse a jovem. — Não é
necessário que nos acompanhe.
— Está segura, minha senhora? Lorde Damian disse...
— Não me importa o que diga lorde Damian. Sou perfeitamente capaz de levar mamãe ao
povoado.
— Estaremos bem — concordou Marianne.
Embora seguisse mostrando‐se cético, sir Brody se rendeu ante o doce sorriso de Marianne.
Inclinou‐se e se retirou.
— Se não necessitar nada mais de mim, retornarei a minhas obrigações. Elissa ignorava se
Damian aprovaria sua saída do castelo, e tampouco se importava. Estava tão contente de ver sua
mãe interessada de novo pela vida, que não perderia a oportunidade de uma saída com ela por
nada no mundo.
Elissa conduziu a carroça com soltura enquanto o guiava pelo sinuoso caminho que levava ao
povoado, emocionada ante o renovado interesse de sua mãe pela vida. Antes que Damian
chegasse em Misterly, estava convencida de que sua mãe se encontrava no leito de morte.
Precisava admitir que Damian marcou uma grande diferença desde que se converteu em senhor
do Misterly. Inclusive os membros de seu clã estavam mais motivados e mais conscientes de suas
responsabilidades. Damian poderia ser um inglês odiado, mas converteu Misterly em um lugar
estável e próspero.
Elissa se perguntou o que seria deles se o rei despojasse Damian de seu titulo e de suas
terras. Damian não deveria ter se precipitado assim enviando longe Kimbra. Por que Elissa sabia
que o rei Hannover é daqueles que se mostravam implacáveis quando se enfureciam.
— Está muito calada, filha — disse Marianne. — Dói‐te a cabeça?
— Minha cabeça está bem, mamãe — assegurou ela. — Só estava me perguntando o que
será de nós se Damian perder Misterly.
Marianne franziu o cenho.
— Reze para que isso não aconteça. Poderia nos tocar um senhor menos agradável que
lorde Damian.
— Aí adiante está o povoado — disse Elissa emocionada. — Tenho a sensação de que faz
séculos que não venho. Visitamos primeiro as tendas? Damian disse que a maioria sobreviveu ao
fogo.
— Não, me leve a igreja — pediu Marianne. — Faz muito tempo que não rezo em um lugar
de culto. Tenho muito que agradecer apesar de nossas tristes perdas.
Elissa guiou o cavalo pela estreita e pavimentada rua principal do povoado.
— O Padre Hugh tinha razão — observou. — O dano das casas e das tendas é mínimo.
Entretanto, nunca perdoarei Tavis Gordon. O que fez é absolutamente imperdoável.
— Sim — reconheceu Marianne. — Eu me opus obstinadamente a seu matrimônio com o
chefe dos Gordon, mas seu pai estava empenhado. Eu não gostava de Tavis antes e sigo sem
gostar dele agora.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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— Tampouco eu gosto — disse Elissa. No dia que Tavis exigiu que matasse Damian perdeu
todo o respeito por seu prometido.
Elissa puxou as rédeas em frente à igreja e desceu da carroça para ajudar a sua mãe.
— Não é esse o cavalo de lorde Damian? — perguntou Marianne assinalando ao polido e
musculoso animal que estava atado à cerca da igreja.
A resposta da Elissa ficou no ar quando Damian saiu a grandes passos da igreja seguido de
perto pelo Padre Hugh. Viu a carroça e se deteve bruscamente. Elissa manteve seu duro olhar sem
pestanejar.
Não fez nada mal. Enquanto Damian avançava para ela, perguntou‐se se teria ido à igreja
para pedir perdão a Deus por seus pecados.
— Lady Marianne, que alegria verte tão radiante — disse Damian cortesmente. — Mas a
próxima vez que queira sair do castelo, por favor faça‐me saber para que possa te proporcionar a
escolta adequada. Sir Brody fez mal ao deixar que se aventurassem sozinhas.
— OH, não, meu senhor, não culpe a sir Brody. Ele queria nos acompanhar, mas Elissa...
quero dizer, eu disse que não era necessário.
— Não te desculpe ante ele, mamãe — respondeu Elissa zangada. — Ninguém se atreveria a
nos machucar.
Damian lançou a Elissa um olhar inescrutável.
— Isso nunca se sabe. Na próxima vez, espero que me peça permissão para sair do castelo.
Elissa ficou tensa.
— Não acredito que tenha nada de mau visitar os membros de nosso clã. Sofreram e só
queremos lhes oferecer nosso apoio.
— Como pode ver, tudo está sob controle.
O Padre Hugh se colocou no meio do tenso casal.
— Lorde Damian, talvez lady Marianne queira entrar na igreja enquanto lady Elissa e você
discutem suas diferenças. Se pretende seguir adiante com o que acabamos de falar, aconselho‐te
de verdade que Elissa e você aprendam a se dar bem.
— Me perdoe, Padre — disse Damian. — Inclino‐me ante sua sábia opinião.
Elissa pensou que Damian parecia mais feroz que arrependido. Algo estava se formando,
algo que estava segura de que não ia gostar. — eu adoraria entrar na igreja e meditar um
momento — disse Marianne. — Quer me ajudar, meu senhor?
Damian desceu a lady Marianne da carroça como se não pesasse mais que um passarinho e a
deixou no chão.
— Acompanharei a lady Marianne dentro — disse o Padre Hugh oferecendo seu braço.
Elissa esperou a que Marianne e o Padre Hugh desaparecessem no interior da igreja antes de
voltar a centrar‐se em Damian. Olhar para ele era um engano, decidiu. Se havia um homem sobre
a terra que merecesse se chamar O Cavalheiro Demônio, era aquele homem meditativo que
estava de pé diante dela. O viu zangado, o viu perdido na paixão, mas nunca viu a expressão que
refletia agora em seu rosto.
Intensa, sim, provocadora talvez, e absolutamente cativante. Era um homem sedutor,
Connie Mason
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seguro de si mesmo e de seu poder, perito, arrogante. Mas havia algo mais; uma expressão que a
desconcertava.
Um homem tão arrogante como Damian nunca ia expor ante ninguém seu lado vulnerável.
Um silêncio tenso se instalou entre eles. Finalmente, Elissa perguntou:
— Vieste à igreja rezar?
O rosto meditativo de Damian se suavizou repentinamente. — Tomei uma decisão a respeito
de seu futuro, Elissa, e queria consultá‐la com o Padre Hugh.
Elissa ficou olhando fixamente. Seu futuro? O que o Padre Hugh teria com o seu futuro? O
convento! É obvio. Damian estava consultando a maneira de arrumar tudo com o sacerdote.
— Sabia que isto aconteceria — assegurou Elissa. — Estava esperando que mamãe se
recuperasse para nos enviar longe. Trocaste de opinião a respeito de lady Kimbra? Vai a Londres
procurá‐la?
Damian falou com voz baixa e áspera devido à tensão. — Entendeste mal, Elissa. Você e eu
vamos nos casar. Vim à igreja organizar os preparativos com seu pároco.
Elissa empalideceu.
— Casarmos? Você e eu? Está louco.
— É a solução lógica.
— O rei não permitirá.
— Não me importa.
— Nego‐me a me casar com um assassino inglês.
Damian franziu o cenho.
— Preferiria que não me chamasse assassino. Os membros de seu clã me respeitam agora.
Estou ganhando pouco a pouco sua confiança. Estou seguro de que aprovarão nosso matrimônio.
— Não pode abandonar a mulher que está esperando teu filho.
Os olhos de Damian brilharam com regozijo.
— Não vou abandona‐la, vou me casar com ela.
Elissa ficou olhando‐o fixamente.
— Equivoca‐te, meu senhor, não estou esperando teu filho. Me acredite, eu seria a primeira
a saber.
Damian dirigiu um sorriso senhor de si mesmo.
— Se não esta grávida de mim, logo o estará. Vais te casar comigo, Elissa, e não há nada mais
que dizer.
— Por quê?
Damian adquiriu uma expressão pensativa.
— Por quê? Porque prefiro estar contigo que com a mulher que o rei escolheu para mim.
Tão estranho te parece? Sempre soubeste que te desejo.
— Sou uma jacobina e a filha de um traidor.
— É uma mulher, uma mulher formosa e apaixonada.
— Odeio aos ingleses.
— A guerra terminou faz anos.
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Sabor do Pecado 03
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— As pessoas do meu país continuam submetidas.
— Não pode culpar a mim por isso. Pensa nisso, Elissa. Ambos amamos Misterly. Eu já o
tenho e não renunciarei a ele sem lutar. Podemos unir nossas forças e fazer o que for melhor para
os membros de seu clã.
— Isso é impossível.
— Sinceramente, Elissa, odeia‐me?
Elissa mordeu o lábio enquanto considerava a pergunta do Damian. A resposta era tão
complexa como o homem que estava diante de si. Depois de pensar um comprido instante, soube
que só havia uma resposta.
— Não te odeio, Damian.
— Eu nunca te odiei, querida.
— O que sente por mim? — espetou Elissa. — Ama‐me?
Elissa observou a sutil mudança na expressão de Damian e perdeu toda esperança. Só uma
estúpida acreditaria que um homem como Damian quereria algo mais dela que seu corpo.
Considerava seu matrimônio um bom movimento político, que serviria para unir aos
membros do clã da Elissa contra os Gordon e que protegeria Misterly para ele. O Cavalheiro
Demônio não amava, possuía.
— Esta me pedindo mais do que estou preparado para dar — murmurou Damian. — O amor
faz aos homens vulneráveis, não posso me permitir ser fraco. Importa‐me muito e te prometo que
honrarei nossos votos. Quantos homens estariam dispostos a fazer esse tipo de concessão?
Elissa ficou olhando‐o com descarada desconfiança. Damian acabava de prometer que seria
um marido fiel. Deveria acreditar? Talvez cumprisse seus votos enquanto permanecesse em
Misterly, mas, seria capaz de resistir a tentação de deitar‐se com outras mulheres quando viajasse
a Londres, ou a Inverness, ou a outra cidade grande? Seria uma estúpida se esperasse que Damian
permanecesse em Misterly e não procurasse diversão em nenhum outro lugar de vez em quando.
— Elissa, não me ouviste? Prometi que permanecerei fiel a nossos votos matrimoniais. Pode
fazer você a mesma promessa? Não estará ainda apaixonada por Tavis Gordon, verdade?
— Não quero ter nada com esse homem — afirmou Elissa. — Em seu coração só há lugar
para a vingança. Parece que você não alberga malícia para os membros de meu clã. E minha mãe e
minha irmã sentem afeto por ti.
— Então esta feito — anunciou Damian. — Juraremos nossos votos dentro de cinco dias.
— Não dei meu consentimento! — gritou Elissa. Damian entreabriu os olhos.
— Não ponha a prova minha paciência, minha senhora. Hei dito que nos casaremos, e nos
casaremos. A advirto isso, seria uma estupidez por sua parte te negar. Acredito que entende o que
quero dizer.
— Ameaçará a minha mãe e a minha irmã por cima de minha cabeça como um machado que
cairá sobre mim se não fazer o que você deseja?
— Se tiver que fazê‐lo, sim. E você, trará um filho bastardo ao mundo?
Elissa emitiu um bufo de desgosto.
— Quantas vezes preciso te dizer que não estou esperando teu filho?
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Sabor do Pecado 03
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— Ocorrerá cedo ou tarde. Não posso acreditar que prefira te converter em minha amante.
Não seria melhor que trouxesse filhos legítimos ao mundo?
— Esta conversa sobre os filhos é absurda, a menos que esteja se referindo aos filhos que
vais ter com Kimbra.
— Esta é a última vez que digo isso, Elissa. Nunca me deitei com Kimbra. É uma mentirosa
exímia8 e uma pessoa problemática.
— O que acontecerá quando te cansar de mim? — perguntou Elissa. — É legendária a
reputação que tem o Cavalheiro Demônio de utilizar e abandonar depois às mulheres.
Damian a segurou pelos ombros e a atraiu para si.
— Não acredite em tudo o que ouve — disse em um sussurro rouco e sedutor.
A boca de Damian se encontrava a uns centímetros da sua. Elissa fechou os olhos quando
seus lábios carnudos desceram lentamente. Pensava que estava preparada para seu beijo, mas
não estava.
Nada poderia tê‐la preparado para a poderosa emoção que se apoderou dela no instante em
que seus lábios se tocaram. A intensidade de seu beijo a deixou sem ar nos pulmões. Damian
moveu a boca lentamente sobre a sua, deslizando a língua úmida sobre os lábios antes de
introduzi‐la enquanto devorava o sabor e o aroma de Elissa. Tremiam seus joelhos; sua boca se
amoldou à sua enquanto seu corpo se fundia com seu calor e sua dureza.
Uma doce rendição a chamava... até que recordou que Damian não deixou opção. Limitou‐se
a dar por certo que se casariam sem lhe dar a oportunidade de aceitar ou rechaçá‐lo.
Arrumou seu matrimônio sem o conhecimento nem a aprovação dela.
Damian deixou abruptamente de beijá‐la, e Elissa se pendurou nele para não perder o
equilíbrio. Por que lhe dava voltas a cabeça? Por que sorria Damian com aquela expressão
petulante? Por que pulsava com força seu coração e queimava seu corpo?
— Aqui vem sua mãe — disse Damian afastando‐se um pouco de Elissa quando Marianne se
aproximou. Examinou o rosto da jovem. — Encontra‐te bem? Parece enjoada.
— Estou pronta para retornar ao castelo, meu senhor — disse Marianne olhando primeiro a
Damian e logo a Elissa. — Interrompo algo?
— Explicarei sobre isso mais tarde — disse Damian. Virou‐se para o Padre. — O esperamos
dentro de cinco dias, Padre. Por favor informe a seus fiéis de que estão convidados ao castelo para
celebrar meu matrimônio com Elissa. Já falei com Dermot para que contrate músicos.
Dançaremos, cantaremos e celebraremos. Não é todos os dias que se casa a donzela de Misterly.
— O padre Hugh me contou seus planos, meu senhor — disse lady Marianne a Damian.
— E os aceita, minha senhora?
Marianne olhou Elissa de relance antes de responder.
— Desejo o melhor para minha filha e para Misterly. Rezarei para que seja uma união feliz.
— Isso é o que eu também desejo, minha senhora.
Damian ajudou a lady Marianne a entrar na carroça e logo girou para ajudar Elissa, mas ela
subiu à boleia e tomou as rédeas antes que Damian pudesse tocá‐la. Elissa estalou as rédeas e a 8 Que revela perfeição naquilo que faz; excelente; eminente: um exímio pianista.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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carroça iniciou a marcha.
— Está desgostada com as decisões de lorde Damian, filha? — perguntou Marianne ao ver
que Elissa guardava silêncio.
— Deveria ter pedido meu consentimento.
— Talvez não fez da melhor maneira, mas sei que já não quer te casar com Tavis —
Marianne enrugou sua fina fronte. — Eu me oporia se pensasse que esse matrimônio não é uma
boa ideia. Mas tem muitas vantagens.
— Vantagens? Paraste de considerar as consequências quando Hannover se inteire de que
Damian se negou a se casar com lady Kimbra?
— Sim, mas acredito que lorde Damian é capaz de fazer frente ao rei. Se está preocupada,
peça a nana que se consulte com suas vozes.
— Não confio nas vozes de nana, mamãe, e você tampouco deveria fazê‐lo. Tornou‐se velha
e extravagante; a maioria das vezes não sabe nem o que diz.
Marianne lançou um olhar afiado.
— Nana disse algo que te incomodou? —Elissa deu de ombros.
— Não mais do normal. Não deixe que isto te preocupe. Damian e eu o arrumaremos por
nossa conta.
Marianne suspirou.
— Tem razão, filha. Isto é entre Damian e você. Estou muito cansada pelo passeio para dar a
este assunto a atenção que merece.
A carroça se deteve estralando ao chegar ao pátio. Damian apareceu a seu lado a cavalo e
desmontou. Mas antes que pudesse descer Marianne da carroça, apareceu sir Brody e afastou
Damian a um lado.
— Permita que seja eu quem leve a lady Marianne a seu quarto, meu senhor.
— Como queira — respondeu Damian deixando passagem à corpulenta figura do cavalheiro.
— Sua mãe tem todo um protetor em sir Brody — comentou Damian.
— Parecem desfrutar de sua mútua companhia.
— Como acontece com sir Richard e Maggie.
Elissa levantou a cabeça de repente.
— Sir Richard a desonrou? Não permitirei.
— Não me surpreenderia que outras bodas seguissem muito de perto à nossa. Até pode ser
que sejam duas.
— Está pensando em obrigar a outros membros de minha família a casar‐se contra sua
vontade?
— Não preciso obrigá‐los.
— Nem sequer a mim? — o desafiou Elissa.
Damian roçou seu rosto e cravou o olhar em sua boca. Durante um instante, ela temeu que a
beijasse apesar de que havia gente olhando‐os, mas não o fez. Limitou‐se a sorrir com aquela
expressão arrogante que tirava Elissa do sério, e logo a acompanhou ao castelo.
— Chegamos bem a tempo — disse Damian. — Estão pondo a mesa para o jantar. Quero
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Sabor do Pecado 03
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que sente a meu lado. Nada de te esconder em seu quarto.
Elissa não discutiu quando Damian a acompanhou a mesa e a sentou a seu lado. Sairia
ganhando de todas formas por muito que ela protestasse.
Elissa acabava de se servir de uma bandeja quando nana se aproximou da mesa.
— Posso falar um momento contigo, senhoria?
— É obvio, nana, ocorre algo?
— Não. Trata‐se dos dois homens dos Gordon que foram feridos no campo de batalha junto
aos nossos. Recuperaram‐se de seus ferimentos. Que planos tem para eles?
— Quase o esqueci — murmurou Damian. — Convida‐os ao salão para que compartilhem
nossa refeição conosco.
Elissa conteve o fôlego. — Está seguro, Damian?
— Completamente seguro. Quero pôr fim às hostilidades com os Gordon de uma vez por
todas. Faz o que te digo, nana.
Nana escapuliu dali e retornou um pouco mais tarde acompanhada de dois homens que
ainda estavam desfigurados devido à sangrenta batalha que ocorreu. Um deles tinha uma cicatriz
recém curada que ia do queixo até a borda exterior da sobrancelha, e o outro levava uma
vendagem no braço direito. Vestidos com o traje dos Gordon, mantinham‐se firmes diante de
Damian.
— Como se chamam? — inquiriu Damian.
O homem da cicatriz na cara se apresentou. — Eu sou Hugo Gordon.
— E eu, Archie Gordon — assegurou o outro homem.
— Procurem um lugar na mesa — urgiu Damian.
— Quer compartilhar o pão conosco? — perguntou Hugo com desconfiança.
— Sim. Não temos por que ser inimigos.
— É um assassino inglês enviado por Hannover para causar estragos entre nossa gente e
nossas terras — espetou Hugo.
— Quero que reine a paz em Misterly. Aceitam minha hospitalidade? Os dois homens
trocaram um olhar de incerteza.
— Diga‐nos antes qual será nosso destino — disse Archie. — será esta nossa última refeição?
Damian riu entre dentes.
— São livres para retornar a seus lares. Podem encher o estômago a minha custa ou partir
com fome. Vocês decidem.
— Somos livres para partir? — Hugo conteve o fôlego, claramente assombrado.
— Não acabo de dizer isso? Entretanto, tenho uma única petição que fazer antes que saiam
de Misterly.
— Adiante — pediu Archie.
— Quero que levem uma mensagem ao chefe dos Gordon.
— Uma mensagem? Muito bem — acessou Hugo. — De que se trata?
— Digam a seu chefe que está convidado a assistir à celebração de umas bodas. Dentro de
cinco dias, a donzela de Misterly e lorde Clarendon se casarão no grande salão às doze do meio‐
Connie Mason
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dia.
Um murmúrio percorreu o salão, seguido por um clamor de vozes, algumas elevadas em
desaprovação e outras aceitando abertamente o esforço de Damian para conseguir uma paz
duradoura em Misterly.
Para a Elissa era difícil definir seus próprios sentimentos. Sabia que o anúncio que fez
Damian de suas bodas pegou de surpresa a todos os presentes.
Ninguém esperava que Damian desafiasse abertamente ao rei, e todo mundo era consciente
das consequências de um ato tão imprudente. Poderia perder Misterly.
Além disso, convidar Tavis à bodas era procurar problemas. O homem era uma bomba a
ponto de explodir. De verdade pensava Damian que ia promover a paz convidando Tavis a
Misterly?
Estava disposto a ignorar o fato de que Tavis era um foragido para formar uma amizade
pouco clara?
Elissa percebeu de repente que Hugo a estava olhando fixamente.
— É isso certo, minha senhora? — perguntou. — Vais te casar com o Cavalheiro Demônio?
Acreditei que estava prometida a Tavis.
— Elissa será minha esposa — insistiu Damian, adiantando‐se à resposta da jovem. — Levara
minha mensagem a seu chefe?
Hugo assentiu com brutalidade.
— Sim, mas este é um matrimônio forjado no inferno. A moça não sente nenhum amor pelos
ingleses.
Elissa queria dizer que não haveria nenhuma bodas, mas as palavras ficaram coladas na
garganta. Damian ganharia.
Ela se converteria na esposa do Cavalheiro Demônio tanto se quisesse como se não.
Capítulo 15
Elissa estava de pé ao lado da janela, contemplando as estrelas que brilhavam no céu. Como
gostaria de ser ainda aquela menina pequena que acreditava que se pedia um desejo a uma
estrela se converteria em realidade. Se os desejos se fizessem realidade, seu querido pai e seus
irmãos estariam vivos e Misterly seguiria pertencendo aos Fraser. Mas desejar não servia para
fazer milagres.
Em cinco dias se converteria na esposa do Cavalheiro Demônio, um pensamento tão
aterrador como excitante. Damian era um homem único, multifacetado e complexo.
Os homens o obedeciam sem titubear e as mulheres o adoravam. Era um homem de ideias
próprias, o suficientemente corajoso para desafiar a seu rei e forte para conservar o que fosse
dele.
Damian a desejava, mas não a amava. Acreditava que o amor romântico era uma debilidade.
Connie Mason
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Não se podia negar, entretanto, que era um mestre nas artes amorosas, porque custou muito
pouco esforço de sua parte conseguir que ela o desejasse.
Elissa franziu o cenho ao considerar seus sentimentos para Damian. Já não o odiava. Deu‐se
conta disso quando não foi capaz de matá‐lo para aplacar Tavis. Permitiu que Damian lhe fizesse o
amor embora soubesse que assim estava traindo aos membros de seu clã. Sentia algo para ele
(não, amava‐o), e a culpa a estava matando.
Incapaz de seguir suportando seus sombrios pensamentos, Elissa se separou da janela e
retirou a colcha da cama. Distraiu‐a uma chamada à porta. Saudou afetuosamente Maggie e a
convidou a sentar‐se.
— Não posso ficar, Elissa. Vou passar a noite com minha família no povoado — assegurou
Maggie. — Necessita algo antes de que vá?
— Obrigado, mas não necessito nada. Lora está deitada?
— Dorme como um bebê — disse Maggie. — E sua mãe também. Maggie reposicionou a
colcha, parecia que queria dizer algo mas não soubesse por onde começar. Finalmente, Elissa
perguntou:
— Há algo que queira me dizer, Maggie?
Maggie se ruborizou e retorceu as mãos.
— Não sei por onde começar.
Elissa agarrou suas mãos. — Começa pelo princípio. Sei que sir Richard e você se
aproximaram muito. Trata‐se disso?
— Não acreditava que alguém tivesse percebido — murmurou Maggie. Elissa sorriu.
— É impossível não perceber.
— Sir Richard é um homem bonito... para ser inglês — apressou‐se a acrescentar Maggie.
— Ama‐o?
Maggie deixou cair o olhar.
— Sim. Sir Richard prometeu que se casará comigo.
— E você acredita?
Maggie elevou a cabeça de repente.
— Há alguma razão pela que não deveria?
— Alguns homens prometem o que for para levar a uma mulher à cama.
— O que prometeu lorde Damian a ti quando se deitou contigo? — replicou Maggie com
aspereza.
A expressão ferida de Elissa deve ter envergonhado Maggie, porque parecia horrorizada
pelas palavras que acabavam de sair de sua boca.
— OH, Elissa, me perdoe. Sei que teve poucas opções nesse sentido. Mas vais te casar com
sua senhoria, e isso o arruma tudo.
Elissa aspirou com força o ar. — Perdoo‐te.
Elissa não se atreveu a perguntar a Maggie se se entregou a sir Richard, porque não tinha
direito.
— Não posso te dizer a quem amar, Maggie. Só quero que seja feliz.
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Maggie estreitou sua mão.
— Merece todo o melhor, Elissa. Espero que lorde Damian te faça feliz. Ama‐o?
Seguiu uma longa pausa.
— Acredito que sim. Mas não sei se poderia viver com a culpa. Não é o marido que meu pai
queria para mim...
— Seu pai está morto — disse Maggie com doçura. — Tavis Gordon rompeu a fé que
tínhamos nele quando ateou fogo ao povoado. Lorde Damian nos ajudou, até mesmo seu pai
estaria de acordo se estivesse vivo. Sua senhoria proporcionou alojamento e comida a aqueles que
o necessitavam. Ama Misterly, e por isso ganhou nosso respeito. Enviou para longe daqui a lady
Kimbra, o que agradou a todo mundo. Não deve temer que os membros de nosso clã não aceitem
a lorde Damian.
Elissa examinou o rosto de Maggie. — Está segura?
— Sim. Eu não te mentiria.
— Damian não me ama — disse Elissa com um suspiro.
— Está segura?
— Eu... o perguntei.
Maggie dirigiu um olhar compassivo.
— Sinto muito, Elissa. Eu pensava, não, estava convencida de que a sua senhoria se
importava muito. Vai se casar contigo, não é verdade?
— Nosso matrimônio o convém. Pensa que nossa união fortalecerá Misterly.
— Pode ser que lorde Damian te surpreenda — aventurou Maggie. — Preciso partir. Sir
Richard está me esperando abaixo para me acompanhar ao povoado.
Não havia nada mais que Elissa pudesse dizer. Maggie confiava em sir Richard, e Elissa
esperava que não o amasse em vão, porque ela conhecia aquele sentimento.
Casar‐se com um inglês não era o que Elissa sonhou, mas estava disposta a fazer o sacrifício
se com isso levava a paz para Misterly.
O castelo se converteu em um enxame de atividade durante os dias anteriores as bodas da
Elissa. Inclusive desceram as tapeçarias para limpá‐las. Estavam preparando comida em grandes
quantidades, desde pratos principais até massas. Elissa não fazia ideia de que Winifred estivesse
tão dotada para as artes culinárias.
Elissa mal viu o Damian antes das bodas. Devia ter suas razões, mas não foi a ela pelas noites
nem tentou seduzi‐la, e Elissa não sabia se se sentia aliviada ou desiludida.
O convite que Damian fez a Tavis seguia até o momento sem resposta, e Elissa temia o que
pudesse ocorrer no caso de que Tavis decidisse assistir. Não era difícil imaginar o caos que poderia
desencadear.
Elissa lamentou uma vez mais que Damian se mostrou tão audaz, porque daquilo não podia
sair nada bom.
No dia anterior as bodas, a mãe de Elissa a chamou para que fosse a seus aposentos. A
jovem se deteve justo na soleira da porta, surpreendida ao ver o quarto cheio de mulheres
conversando.
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— Entra, querida — convidou‐a Marianne.
— Pra que tudo isto, mamãe?
— Queria que tivesse um vestido de bodas apropriado, assim convidei a umas quantas
mulheres de nosso clã para que me ajudassem a ajustar o traje com o qual eu casei a sua figura,
que é mais voluptuosa.
Elissa olhou para o precioso vestido azul pálido que estava estendido sobre a cama de
Marianne e conteve o fôlego, maravilhada. — Está segura? É precioso — disse deslizando os dedos
pela fina seda.
— Completamente segura. Ponha‐o para que vejamos como fica.
Durante as duas seguintes horas, Elissa permaneceu no centro do quarto enquanto as
melhores costureiras do grupo alteravam o vestido para ajustá‐lo a sua figura. Havia tecido
suficiente nas costuras e na bainha para fazer um pouco maior o busto e baixar a prega, mas o
resto não necessitava muitos mais ajustes.
As mangas eram longas e ajustadas, a cintura ligeiramente rodeada, e o decote modesto,
embora deixava a descoberto um encantador pedacinho de decote. Uns fragmentos de brilhante
seda azul caíam em cascata dos esbeltos quadris da Elissa até as pontas de seus sapatos de seda. O
toque final punha um véu curto que se segurava em seu lugar com uma concha recoberta de joias.
— Está preciosa — suspirou Marianne. — A cor combina perfeitamente com seu cabelo
vermelho e sua pele branca.
Os efusivos galanteios que seguiram às palavras de Marianne, fizeram que Elissa se sentisse
de fato como a noiva querida de um homem que a amava.
O resto do dia transcorreu com incomum rapidez. Elissa não viu Damian até o jantar. Ocupou
seu lugar a seu lado na mesa e brincou com a comida do prato. De repente sentiu o olhar de
Damian cravado nela e o olhou a sua vez.
— Parece que esta noite não tem apetite, minha senhora — disse com sarcasmo, seu meio
sorriso esbanjava encanto. — Está preocupada com a cerimônia de amanhã?
Elissa se ruborizou, mas não afastou a vista.
— Mal conversamos estes últimos dias. Confiava em que tivesse mudado de opinião.
Damian riu entre dentes.
— Sentiste falta de meus cuidados? Terá tudo o que queira de mim a partir de amanhã.
— Não quero nada de ti.
Damian acariciou sua face com o dorso da mão.
— Duvido‐o. Sei com certeza que uma parte de ti deseja uma parte de mim.
Um rubor acalorado subiu pelo pescoço de Elissa enquanto mudava astutamente de tema.
— Soubeste algo sobre Tavis Gordon?
— Ainda não.
Elissa inclinou a cabeça em gesto pensativo. — Não acredito que venha as nossas bodas.
— OH, claro que virá — assegurou Damian com convicção.
— Acredita que causará problemas?
— Isso está por se ver. Se se apresentar, estaremos preparados para ele.
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— Confio em que não se aproxime. É perigoso.
Damian examinou seu rosto. — Está preocupada comigo, querida?
— Nem um pouco — respondeu Elissa. — Está seguro de que este matrimônio é o mais
inteligente? E se te apaixona por outra mulher quando estivermos casados? Não quero me
interpor no caminho de sua felicidade.
— Já te falei sobre o que penso a respeito do amor. Não, Elissa, iremos bem juntos se
aprender a deixar o passado para trás.
— E se não poder?
Damian se inclinou para ela.
— Então, você que perde, minha senhora. Pensa nisso. Terminaste de comer?
— Sim.
Damian ficou em pé e ofereceu sua mão. — Acompanharei a seu quarto.
Elissa pôs a mão na sua e se levantou vacilante. Viu que Dermot a estava chamando com um
gesto e retirou a mão da do Damian.
— Meu parente quer falar comigo, Damian — soltou a mão e se separou de seu lado para
que pudesse conversar com o outro homem em privado.
— Sua senhoria me pediu que ocupe o lugar de seu pai — disse Dermot quando chegou até
ela. — Vou te levar amanhã do seu quarto ao salão.
— É seu direito, ao ser o mais velho dos Fraser vivo — reconheceu Elissa. — Faz‐me uma
grande honra.
— Todos queremos que seja feliz, moça.
— OH, será‐o — disse Damian. Sua voz exsudava confiança.
— Os membros de nosso clã aceitaram meu matrimônio com Damian? — perguntou Elissa.
— Sim — assegurou Dermot sem vacilar. — Ninguém quer que te case com o chefe dos
Gordon. Traiu nossa confiança.
Elissa falou em voz baixa e carregada de tristeza. — Como eu trairei a confiança de meu pai
ao me casar com Damian.
— Já é suficiente! — disse Damian. — É hora que te retire, minha senhora — acrescentou
com mais doçura.
Elissa permitiu que Damian a acompanhasse fora do salão.
Quando chegaram a seu quarto, ela temeu que quisesse entrar, mas Damian se deteve justo
na entrada.
— Não quero esperar a que nos casemos, mas vou fazê‐lo — murmurou enquanto a
estreitava entre seus braços. — Não entendo o desejo que sinto por ti. É como uma enfermidade
para a qual não há cura — franziu o cenho. — Não é bom que um homem esteja tão afligido.
— A luxúria não é motivo suficiente para que duas pessoas se casem — observou Elissa. —
Quando a atração se acaba, não resta nada.
— Duvido que isso nos ocorra — replicou Damian enquanto erguia seu queixo com o dedo
indicador. — me beije, Elissa. Passou muito tempo.
Ela se sentia tentada. Sentia falta dos braços de Damian rodeando‐a, seus lábios nos seus, a
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emoção que sentia quando ele fazia o amor. Afastou o rosto.
— Elissa, me olhe — ela voltou o olhar para ele a contra gosto. — Diga‐me, ainda acredita
que Kimbra está esperando meu filho?
— Eu... não. Percebi que Kimbra é uma cadela malvada que queria me fazer dano.
— Graças a Deus — suspirou Damian. — Não desejo a Kimbra. Nunca a desejei. Não importa
a quem faça mal desde que satisfaça seus próprios e egoístas desejos. A metade das mulheres de
Londres são assim.
— Ao menos estamos de acordo em algo — murmurou Elissa.
Os olhos chapeados de Damian continham um brilho travesso. — Estamos de acordo em
mais de uma coisa. Desejamos um ao outro.
— Boa noite, Damian — disse ela, debatendo‐se com os sentimentos que não deveria estar
experimentando.
— Me dê um beijo de boa noite, Elissa — repetiu Damian. — Não partirei até que me dê
isso.
Elissa suspirou e elevou o rosto, decidida a enfrentar com calma a aquele assalto sensual. No
momento em que os lábios do Damian roçaram os seus, entretanto, sua determinação se fundiu
como uma vela exposta às chamas.
Ele a beijou mais apaixonadamente. Elissa saboreou seu desejo e se apoiou contra ele
enquanto a língua de Damian apressava sua boca para que a abrisse em pausada exploração.
Damian gemeu e a atraiu mais para si. Elissa tremia como uma folha a mercê do vento de
outono quando ele a agarrou nos braços e a meteu no quarto, fechando de repente a porta atrás
de si.
Aquele som fez que Elissa recuperasse o sentido.
— Não, Damian! Disse que ia esperar.
Elissa sentiu as emoções contraditórias que acertavam Damian enquanto lutava contra sua
própria consciência. Embora ela o desejasse, negava‐se a sucumbir a seu próprio e insaciável
desejo.
Ainda seguia batalhando com sua culpa por desejar a um inglês.
— De verdade quer esperar? — perguntou Damian com voz rouca.
— Deste tua palavra. Isto é uma prova para comprovar se posso confiar em ti em nossos
futuros entendimentos.
Damian a deslizou por toda a longitude de seu duro corpo até que os pés dela tocaram o
chão.
— Você ganha, Elissa. Mas nem sempre vais ganhar. Esta vez escolho me submeter a seus
desejos, mas quando estivermos casados, isso poderá mudar. Que durma bem, minha senhora.
Felizes sonhos.
Damian saiu do quarto e apoiou a cabeça contra a porta fechada. Estava tremendo dos pés à
cabeça. Deixar Elissa intacta quase custou a sua saúde mental. Sofreu um violento sobressalto
quando nana se materializou entre as escuras sombras.
— Encontra‐te bem, meu senhor? —Sobressaltado, Damian se separou da porta.
Connie Mason
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— Sim, por que pergunta?
— Parece agitado.
— Talvez esteja — admitiu Damian. — Elissa tornaria louco até a um santo.
— E você não é nenhum santo, verdade, senhoria?
— A verdade é que não — Damian riu entre dentes. — Alegra‐me ter esta oportunidade de
conversar contigo, Nana. Não posso tirar da cabeça o que me disse de Elissa. De verdade está
esperando meu filho? Ela o nega taxativamente.
— A gente nega no que não quer acreditar — respondeu nana misteriosamente. — Talvez
Elissa não queira se casar com um homem que não a ama. Talvez queira que te case com ela por si
mesma, não porque esteja esperando teu filho.
— Quero me casar com Elissa por muitas razões — disse Damian, defendendo‐se. De
repente sorriu. — Se já não estiver esperando um filho meu, logo estará.
Nana assentiu com a cabeça em sinal de afirmação; então sua expressão se transformou de
repente em um gesto de preocupação. — Esta noite estava te procurando para te advertir, meu
senhor.
Damian ficou imediatamente em alerta.
— Corre perigo Elissa?
— Talvez. Minhas vozes me dizem que Elissa enfrentará logo a um perigo desconhecido.
Deve tomar cuidado. Não confie no chefe dos Gordon, tem o coração negro pela vingança. Virá
para as bodas, mas te aconselho que lhe negue a entrada.
Damian considerou as palavras de nana.
— Não posso fazer isso, nana. Eu o convidei as bodas, e não posso negar sua passagem.
— Então tome cuidado, senhoria.
A anciã escapuliu entre as sombras. Alarmado, Damian a chamou para que voltasse.
— Espera! Me diga mais coisas.
Ela se deteve e girou a cabeça para olhá‐lo. Seu rosto ficava escurecido pelas sombras.
— Minhas vozes não facilitam sempre tanta informação como eu gostaria, e nem sempre
chegam a tempo de acautelar o desastre. Boa noite, lorde Damian.
Damian piscou assombrado quando nana pareceu desvanecer‐se na penumbra. Deveria
prestar atenção às advertências da idosa? Mas se algo ficava claro das palavras de nana era que
devia tomar medidas para proibir qualquer tipo de arma no salão durante a cerimônia das bodas,
à exceção das que levassem seus soldados de confiança.
Elissa despertou cedo a manhã de suas bodas depois de passar uma noite inquieta e
infestada de sonhos. Maggie chegou a primeira hora para dirigir a colocação da tina redonda de
madeira diante da lareira, e foi seguida pouco depois por Marianne e nana, que levavam o vestido
de noiva de Elissa.
— É hora de te vestir para as bodas, filha — disse Marianne. — Te coloque na tina.
Maggie partiu para ir procurar o café da manhã da Elissa enquanto nana estirava as rugas do
vestido e o estendia sobre a cama. — Se não te importar, vou te deixar nas peritas mãos de nana
— disse Marianne.
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— Preciso ajudar Lora a se vestir.
— Não deveria estar fazendo esforços, mamãe. Encontra‐te com forças suficientes?
O sorriso de Marianne reconfortou Elissa.
— Não se preocupe, querida. Minha saúde melhora dia a dia. Esta é uma bodas que não
tenho intenção de perder.
Elissa entrou na tina e suspirou quando se inundou na água.
Aquele era o dia de suas bodas. Não fazia muito se preparou para outra bodas, para outro
homem. Um homem que seu querido pai escolheu para ela. As lágrimas brilharam nos olhos.
O que pensaria agora dela o grande Alpin Fraser? Sabia que sua mãe e sua irmã aceitaram,
porque contra todo prognóstico, sentiam carinho por Damian. Inclusive os membros de seu clã o
apreciavam.
As muitas qualidades de Damian eclipsavam sua reputação de soldado desumano. A única
coisa que ia em detrimento de seu matrimônio era o fato de que Damian não a amava.
É obvio, Tavis tampouco, nem ela a ele, mas teria tido a satisfação de cumprir o desejo de
seu pai de unir os Gordon e os Fraser através de seu matrimônio com o Tavis.
— Já está, moça — disse nana estendendo um tecido grande de secar para envolver Elissa.
— Maggie chegará em seguida com seu café da manhã.
Elissa percebeu enquanto se envolvia no suave tecido de linho que não existia maneira de
deter as bodas, assim não fazia sentido entreter‐se. Seu destino estava selado, ninguém poderia
dissuadir Damian.
Maggie chegou uns instantes depois com uma bandeja que depositou sobre a mesa.
— Winifred preparou um festim para ti — disse Maggie agitando o guardanapo. — Há ovos
com salsichas, presunto frito, um pedaço de queijo de cabra e uma caneca de chá. Há inclusive
geleia de amoras para passar sobre o pão recém saído do forno.
Elissa aproximou uma cadeira à mesa e ficou olhando a comida.
Embora tivesse fome, passavam muitas coisas por sua mente para pensar em comer. Provou
uns quantos bocados de ovo e de presunto, mordiscou o queijo e bebeu quase todo o chá, que
estava muito forte.
Então chegou o momento de se vestir.
Marianne e Lora voltaram quando nana estava grampeando o vestido de noiva em Elissa.
Marianne pediu que se sentasse em um banquinho, agarrou a escova e escovou seus cabelos até
que suas brilhantes mechas poderiam competir com os últimos raios de um entardecer. Logo
colocou a concha bordada de joias e o véu na parte superior da cabeça como toque final.
— OH, Lissa, está preciosa — exclamou Lora. — Não está de acordo, mamãe?
— Absolutamente — reconheceu Marianne cravando seu olhar amoroso em Elissa. — Nunca
vi uma noiva tão bela.
— Belisque as faces, moça — aconselhou‐a nana. — Está muito pálida — ficou olhando
fixamente Elissa nos olhos durante um comprido e tenso instante, e logo sussurrou, — tome
cuidado com Gordon.
Elissa ficou em alerta imediatamente. — O que disse?
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Uma chamada à porta impediu que nana pudesse responder.
Maggie abriu e entrou Dermot, vestido com seus melhores ornamentos. — Já é a hora? —
perguntou Elissa com voz tremente.
— Sim, o Padre Hugh e seu prometido estão esperando abaixo — disse Dermot oferecendo o
braço. — Vamos, moça, acompanharei a suas bodas.
— Vá — disse Marianne dando a Elissa um forte abraço. — Lorde Damian te fará feliz se der
a ele oportunidade.
— Eu... OH, mamãe, se Damian me amasse eu seria a mulher mais feliz do mundo.
— Está certa que não te ama?
— Está preparada, moça? — perguntou Dermot com impaciência. — Os convidados já
chegaram e estão se impacientando.
Elissa esboçou um sorriso tremente e agarrou o braço de Dermot.
Damian caminhava acima e abaixo inquieto, não deixava de olhar uma e outra vez para o
arco da entrada. Por que demorava tanto? Iria mudar de opinião no último minuto? Maldição!
Precisava se casar com ele.
Não percebia que não tinha escolha? Não quis preocupar Elissa, mas era possível que assim
que Kimbra chegasse a Londres e contasse suas mentiras ao ouvido do rei, o monarca reagisse
com sua proverbial violência. Elissa necessitava de seu amparo, tanto se fosse consciente disso
como se não.
— Te acalme — disse sir Richard caminhando ao lado do Damian. — Elissa seria louca se não
se casasse contigo — olhou ao redor do salão, deslizando a vista pelos convidados as bodas que
estavam ali reunidos para celebrar a cerimônia.. — Parece que o Gordon decidiu não vir. Se quer
saber minha opinião, é uma bênção.
— O dia não terminou ainda — respondeu Damian com gravidade. — foram desarmados os
convidados antes de entrar no salão?
— Sim, como ordenou, mas nenhum dos aldeãos levava armas.
Um murmúrio de emoção captou a atenção de Damian e seu olhar se cruzou com Elissa, que
se deteve duvidosa na entrada. Ficou com a respiração presa na garganta. Elissa era a imagem da
vulnerabilidade e a fragilidade, mas Damian não se deixava enganar. Era forte, mais forte que
qualquer mulher que conheceu jamais. E tão formosa que não podia afastar os olhos dela. O
vestido azul era favorecedor, mas empalidecia em comparação com a mulher que o usava. Seu
rico cabelo avermelhado flutuava sob o véu, que chegava à altura dos ombros em suaves ondas
que refletiam o brilho do sol que se filtrava através das janelas.
Damian sorriu. Ela respondeu com um sorriso tímido. Então Dermot deu um passo adiante,
obrigando‐a a segui‐lo. Uns instantes mais tarde, Elissa estava a seu lado. Damian pegou sua mão
do braço de Dermot e a colocou no seu. O Padre Hugh clareou a garganta.
— Está preparado, meu senhor?
Damian dirigiu um olhar a Elissa e elevou uma sobrancelha. Ela assentiu com a cabeça de
maneira virtualmente imperceptível, mas aquele era todo o ânimo que Damian necessitava.
— Sim, que dê começo a cerimônia, Padre.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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O salão estava completamente transbordando com os membros do clã e do povoado e de
várias milhas ao redor. Escutou‐se um rumor de emoção enquanto as pessoas formavam
redemoinhos mais perto, desejando escutar os votos que iam pronunciar sua moça e o Cavalheiro
Demônio. O Padre Hugh pediu silêncio.
Um silêncio terrível precedeu a um inesperado alvoroço na entrada principal.
— Tavis — sussurrou Elissa com uma voz abafada que provocou em Damian arrepios no pelo
da nuca.
O ciúmes se elevava como uma besta voraz dentro de Damian.
Sempre soube que Gordon faria sua aparição, mas saber que se encontrava ali o fazia sentir‐
se mais protetor a respeito de Elissa. Sua expressão se tornou feroz quando viu como a cor
desaparecia do rosto da jovem e sentiu como se agarrava desesperadamente a seu braço.
— Veio causar problemas — sussurrou Elissa. — Não quero que esteja aqui.
Damian experimentou um grande alívio ao escutar as palavras da Elissa.
Não queria que Gordon estivesse ali; não queria nem vê‐lo. Damian convidou ao chefe em
um último tento de promover a paz em Misterly, mas precisava ser sincero, devia reconhecer que
existia uma razão mais egoísta. Queria que Gordon soubesse que Elissa pertencia a ele, Damian, e
que assim seria para sempre.
— Que classe de recebimento é este? — bramou Tavis Gordon furioso. — Sua hospitalidade
deixa muito a desejar. Não é muito amável de sua parte confiscar as armas dos convidados. Estou
aqui sozinho, no meio de inimigos e a sua mercê. Vais se aproveitar da situação?
Fez‐se um vazio diante do chefe dos Gordon. Vestido com o proibido saiote escocês, abriu
caminho para Damian e Elissa. Damian sentiu que ela tremia e a rodeou com o braço com gesto
protetor.
— É bem vindo em Misterly, Gordon, desde que renuncie as suas armas. Este é um
momento de alegria, não de guerra.
Gordon agarrou com firmeza sua espada, seu rosto era uma máscara de fúria.
— Roubaste minha prometida, e agora quer me roubar as armas!
— As armas serão devolvidas quando partir. Você escolhe, Gordon. Deixa a um lado sua
hostilidade como penso fazer eu e te una à celebração.
Gordon lançou um olhar assassino a Elissa.
— Elissa era minha prometida. Sigo desejando‐a, embora seja do domínio público que abriu
as pernas para ti.
Elissa sufocou um grito com o dorso da mão. Damian queria golpear Gordon na boca por ter
insultado Elissa, mas se tranquilizou para conter sua ira.
— Por que não perguntamos a Elissa a qual dos dois prefere? — sugeriu fingindo uma calma
que não sentia.
Damian se deu conta de que estava correndo um grave risco, mas queria, não, necessitava,
escutar a resposta de Elissa para sua própria paz de espírito. Embora isso não suporia nenhuma
diferença.
Elissa seria sua esposa tanto se Gordon quisesse como se não.
Connie Mason
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— Muito bem — acessou Gordon com petulância. — Pergunte à moça com quem quer se
casar.
Damian segurou Elissa pelos ombros e a girou para ele. — O que tem a dizer, querida?
Enquanto Elissa o olhava fixamente, com os olhos muito abertos e a boca trêmula, o silêncio
se fez quase insuportável.
Damian percebia a tensão que envolvia aos convidados as bodas, e se sentia tão enrijecido
como a corda de um arco.
— Elissa...
— Adiante, moça, não tenha medo — espetou Gordon.
Ela tirou a língua em gesto nervoso para umedecer os lábios, e Damian sentiu desejos de
estreitá‐la entre seus braços e beijá‐la até que desse a resposta que procurava, mas obrigou a si
mesmo a esperar.
Elissa abriu a boca para falar; a espera fez mais denso o ar que os rodeava.
— O desejo de meu pai era que me casasse com Tavis Gordon — começou a dizer,
provocando que em Damian caísse a alma aos pés. — Mas isso não é o que eu quero — Damian
voltou a respirar.
— Tavis, demonstraste que não és o homem que meu pai acreditava que eras, nem o
homem que eu esperava que fosse.
Elissa estirou a mão para agarrar a do Damian. — Escolho Damian.
— Tomaste uma sábia decisão, minha senhora — sussurrou Damian com um suspiro de
alívio. Logo se virou para o Gordon. — Entrega suas armas se quer ficar na cerimônia.
Gordon vacilou durante um comprido momento carregado de incerteza antes de entregar a
espada e a pistola a sir Richard, que se encontrava ali perto, preparado para atuar em caso de que
Gordon ficasse violento.
— Pode continuar, Padre — disse Damian. Tudo terminou, e valeu a pena correr o risco,
pensou, por ter escutado Elissa dizer em voz alta que preferia a ele.
O Padre Hugh deu começo à cerimônia. Damian pronunciou seus votos observando Gordon
pela extremidade do olho enquanto Elisa repetia seus votos em voz baixa mas firme. Uns minutos
mais tarde, foram declarados marido e mulher; Elissa era dele. Damian a atraiu para si e levantou
seu queixo. Os olhos da jovem encerravam uma expressão chorosa e aturdida quando ele inclinou
a cabeça para selar seus votos com um beijo. Virou deliberadamente Elissa para que desse as
costas ao Gordon e assim não perder ele de vista, mas assim que seus lábios roçaram os da Elissa,
fechou os olhos para saborear melhor o beijo.
Perdido em suas sensações, Damian foi pouco consciente de que Gordon estava falando,
mas bloqueou mentalmente suas palavras. Quando abriu os olhos, a única coisa que viu foi Elissa,
seu quente corpo apertado contra o seu. Então, pela extremidade do olho, viu como a luz do sol se
refletia em algo brilhante que Gordon tinha na mão. Todos seus instintos ficaram em alerta
imediatamente.
Gordon tinha uma adaga na mão... e apontava diretamente as desprotegidas costas da
Elissa!
Connie Mason
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— Se eu não posso tê‐la, você tampouco a terá! — gritou Gordon.
Reagindo espontaneamente, Damian se virou arrastando Elissa com ele enquanto
apresentava suas próprias costas à adaga de Gordon. Sentiu a pontada de dor e se preparou para
suportá‐lo enquanto jogava Elissa nos braços de sir Richard. Imediatamente se formou um círculo
protetor a seu redor. Ante os olhos do Damian apareceram ondas de brilhante vermelho quando
deu a volta para enfrentar o Gordon.
A única coisa que viu de Gordon foi as costas. Estava se perdendo entre a multidão de
estupefatos convidados que pressionavam para diante para obter uma melhor vista. A confusão e
a comoção que seguiram ao ataque jogaram a favor do chefe dos Gordon. Conseguiu criar uma
situação caótica e desaparecer pela porta antes que os soldados de Damian soubessem sequer o
que aconteceu.
Capítulo 16
Damian deu um passo para frente cambaleando, recordou que não levava nenhuma arma e
pediu a um soldado que fosse buscar as suas.
Elissa o agarrou pelo braço.
— Não, não pode ir! Está ferido. Deixa que nana veja a punhalada.
— Não posso permitir que esse bastardo escape — disse Damian. — O perseguirei até os
limites da terra se for necessário.
— Não seja tão obstinado, Damian. Deixa que sir Richard se encarregue. Está sangrando.
Damian escapou dela. — Gordon tentou te matar.
— Você está bem, Damian?
Damian baixou a vista para olhar a Lora. Ela o estava olhando com seus olhos luminosos, seu
medo era evidente.
— Sim, estou bem, pequena. Mas você não deveria estar aqui — chamou Marianne, que
estava ali perto retorcendo as mãos. — Leve a menina à sala das mulheres, minha senhora, está
assustada.
— Sim, lorde Damian — acessou Marianne. — É muito pequena para compreender o que
acaba de acontecer — agarrou a mão de Lora e saiu dali.
Alguém estendeu a Damian sua espada e ele tentou colocá‐la no cinto.
— Maldição — disse ao ver que seus dedos perderam a capacidade de obedecê‐lo.
Elissa o agarrou pela cintura e Damian se dobrou em cima dela.
Lachlan se apressou a aproximar‐se para ajudar assim que nana o ordenou.
— Senta‐o e tire o gibão e a camisa — disse a idosa enquanto ela saía precipitadamente a
procurar seu cesto de ervas e unguentos.
Damian resistiu.
— Não é mais que um arranhão. Sofri coisas piores.
Connie Mason
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Elissa mal prestou atenção enquanto tirava sua camisa.
— Não seja tão obstinado, Damian. Sir Richard é perfeitamente capaz de conduzir a situação.
Está procurando Tavis enquanto nós falamos, mas duvido que o encontre. As montanhas estão
cheias de lugares onde se esconder. Nem sequer Cumberland e seu exército conseguiram o
encontrar. Finalmente desistiram e fingiram que não existia.
— OH, certamente que existe.
Elissa observou cuidadosamente o ferimento do Damian, que seguia sangrando
profusamente. A adaga de Gordon causou uma ferida superficial na parte superior das costas, sob
o ombro direito, mas não parecia mortal.
Fez uma bola com a camisa de Damian e a apertou contra a pele ferida.
Elissa ficou consciente de repente de que o salão seguia cheio de convidados as bodas que
fervilhavam por ali falando em sussurros. Não fazia ideia do que dizer, mas Damian resolveu o
problema por ela.
— Nossos convidados deveriam estar celebrando nossas bodas, não aí parados olhando com
caras tristes.
— Não sabem o que fazer, Damian.
Damian clareou a garganta e pediu atenção a todos. Fez‐se um profundo silêncio no salão.
— Vieram a uma celebração, e devem desfrutar dela. No pátio se instalaram mesas com
comida e os músicos estão afinando seus instrumentos. Minha esposa e eu os convidamos a
comer, beber, dançar e aproveitar bem.
— Está seguro, meu senhor? — perguntou Lachlan. — Feriram‐no gravemente.
— Não é mais que um arranhão. Nana fará sua magia e em seguida estarei como novo.
Uma ovação seguiu às palavras do Damian e começou um lento êxodo do salão. Em seguida,
os sons da música, as vozes e as risadas chegaram do pátio.
Nana retornou com seu cesto de remédios. Deixou‐o sobre a mesa e sondou a ferida do
Damian com o dedo indicador. Damian apertou os músculos e conteve um gemido.
— Ah — disse nana com satisfação. — Justo o que pensava. O osso do ombro desviou a pior
parte. Salvaste a vida de Elissa, meu senhor. Se a faca do Gordon se cravasse na vítima que ele
queria, ela não teria tido tanta sorte como você.
Damian estremeceu. A imagem da adaga atravessando a tenra carne da Elissa fazia que
gelasse seu sangue.
— Date pressa em me tratar, nana. Devo me unir à busca do Gordon.
— Você não vai a nenhuma parte, meu senhor. O ferimento que tem não é mortal, mas
perdeste mais sangue do que te convinha. Duvido que possa subir ao cavalo e te manter erguido
nele. Prepararei uma beberagem de ervas para te fortalecer o sangue. Um dia ou um pouco mais
na cama te fará muitíssimo bem. E agora fica sentado e quieto enquanto limpo a ferida e te dou
um ponto ou dois.
— Maldita seja! Não posso ficar sentado enquanto Tavis Gordon segue livre e pode provocar
o caos entre gente inocente.
— Damian, por favor, escuta nana — aconselhou‐o Elissa apertando as mãos. — Ela sabe o
Connie Mason
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que é melhor para ti. Você não conhece estas montanhas como Tavis. Vive como um foragido
desde que destruíram sua casa e arrebataram suas terras.
— Tentou te matar — recordou Damian. — Faz o que precise fazer, nana, mas um pequeno
corte não vai me deter.
Nana se dispôs a limpar o ferimento enquanto Elissa observava um pouco mais afastada,
decidida a impedir que Damian saísse do castelo até que estivesse curado. Apertou os dentes e
estremeceu quando nana enfiou a agulha e costurou o primeiro ponto na carne de Damian. Elissa
soube pela forma que teve Damian de apertar a mandíbula que estava doendo, mas a seu favor
teria que dizer que nem sequer piscou.
— Já está, senhoria, terminamos — disse nana atando o nó do fio.
— Bem — respondeu Damian tentando levantar‐se. Conseguiu ficar de pé e dar um passo
antes que falhassem suas pernas. Agarrou‐se à mesa para se segurar e chiou uma maldição entre
dentes.
— Eu te disse, Damian — interveio Elissa com aspereza. — Não deveria fazer esforços. A
perda de sangue te debilitou.
— Suponho que um pouco de descanso não me fará mal — reconheceu Damian a contra
gosto.
Afastou‐se dali cambaleando ao andar com passo inseguro. Elissa e nana trocaram um olhar
por cima de sua cabeça, e logo Elissa foi atrás dele. Apoiando‐se na parede, Damian foi subindo as
escadas sem ajuda da Elissa, que ia seguindo seus passos. Nana ia pisando nos calcanhares.
Quando chegaram à parte superior das escadas, nana se adiantou e abriu a porta do dormitório,
segurando‐a para que passassem.
Damian entrou cambaleando e se deixou cair sobre a cama.
— Prepararei uma poção para a dor — disse nana saindo a toda pressa.
— Que maneira de celebrar minha noite de bodas — protestou Damian. Estendeu a mão. —
Vem se deitar no meu lado.
Em vez de agarrar sua mão, Elissa se aproximou dos pés da cama, agarrou uma bota e a
tirou. A segunda bota custou mais trabalho para sair, mas finalmente também a tirou.
— Te erga para que possa te tirar as calças — disse Elissa buscando o fechamento.
Damian agarrou sua mão e disse com voz grave e enérgica: — Se me tocar aí, te terei
tombada de costas antes que possa sequer dizer meu nome.
A Elissa ficou com os pulmões sem ar. — Está ferido.
Damian pôs a mão de Elissa em sua virilha. — Aqui não.
— Falo a sério — a repreendeu ela. — Está débil, perdeste muito sangue.
Os olhos do Damian se obscureceram até adquirir a cor da fumaça.
— Eu também falo a sério. Hoje é nossa noite de bodas. Não estou tão fraco para não poder
fazer amor a minha esposa.
Damian a agarrou pela cintura e a subiu na cama. Logo a colocou debaixo dele e se inclinou
sobre ela. Inclinando a cabeça, roçou suavemente os lábios com os seus. Reconfortada pela
ternura daquele beijo, Elissa abriu a boca para saboreá‐lo melhor.
Connie Mason
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— Elissa — gemeu Damian em seus lábios. — Minha esposa.
— Tch‐tch. Nada disso, senhoria.
Elissa cruzou com o olhar de nana por cima do ombro de Damian.
Damian grunhiu e se afastou lentamente de cima dela. — Poderia ter chamado — disse ele
incomodado.
Nana voltou a estalar a língua.
— Teria me permitido a entrada?
Damian observou o rosto ruborizado da Elissa.
— Não. Nos deixe, mulher. Minha esposa e eu necessitamos de intimidade. Se não posso ir
atrás do Gordon, ao menos poderei desfrutar de minha noite de bodas.
Nana colocou debaixo do seu nariz uma taça cheia de um líquido de cheiro penetrante.
— Bebe‐o, lorde Damian. Aliviará a dor.
— Minha dor está abaixo do cinto, e duvido que essa asquerosa mistura o alivie —
murmurou ele entre dentes.
Nana dirigiu‐lhe um olhar exasperado, enquanto Elissa parecia estar a ponto de se sufocar
na risada.
Damian tomou a taça que nana oferecia e a deixou na mesinha de noite.
— Agora não, nana. Saia.
— Homens — murmurou nana sacudindo a cabeça. — Têm o cérebro entre as pernas. Muito
bem, irei, mas te advirto uma coisa: se os pontos se abrirem, não serei tão delicada contigo
quando voltar a costurar.
A idosa saiu dali zangada e fechou dando uma portada atrás dela.
— Nana tem razão — reconheceu Elissa. — Ocuparei‐me de nossos convidados enquanto
descansa.
O braço de Damian a reteve onde estava.
— Nem o tente. Talvez não possa subir a um cavalo, mas ainda posso montar.
Ficou de cócoras e girou a Elissa para poder desabotoar a parte de trás do vestido.
— Por certo, te disse quão bonita está? Este vestido é perfeito para ti.
— Era de mamãe. Ela queria que tivesse bom aspecto no dia de minhas bodas.
— Me assegurarei de agradecer.
Erguendo seus braços, Damian deslizou as mangas do sutiã até a cintura. Um instante
depois, o vestido caiu ao chão, e imediatamente foi seguido pela combinação. Então Damian se
sentou sobre os calcanhares e ficou olhando fixamente.
— É preciosa — disse com um gemido. — Agora é minha esposa; pertence‐me.
Elissa conteve a respiração quando seus dedos acariciaram seus seios. Todo seu corpo se
esticou, espectador. Queria que Damian a tocasse por toda parte. Queria tocar ele por toda parte.
Observou maravilhada e sem respiração como ficava de pé e tirava as calças. Percorreu todo
seu corpo com o olhar, e se esqueceu de respirar quando seu sexo ficou liberado, forte, rígido e
cheio de vida.
Elissa aspirou o ar de forma trêmula, alagando seus sentidos com o embriagante aroma de
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homem limpo e com o forte aroma do desejo.
— Não deveria te cansar — disse Elissa. — O ferimento...
— Ao inferno com o ferimento — grunhiu Damian. — Uma insignificância como essa não vai
me impedir que faça amor a minha mulher em nossa noite de bodas.
Elissa esqueceu que ela não queria aquele matrimônio quando Damian a segurou com força
e amoldou seu corpo ao dele. Não restava dúvida do desejo que experimentava por ela, porque
sentia a prova sólida do mesmo apertando contra seu ventre. Suspirou quando seus lábios se
moveram sobre seu pescoço e sua língua riscou uma trilha erótica sobre sua pele. Poderia sentir
Damian o batimento de seu pulso naquele ponto?
Continuaram suas enlouquecedoras carícias, abrindo caminho para o vale que havia entre
seus seios. Os dedos de Elissa se enredaram na riqueza de seu escuro cabelo, e ela o urgiu com
suaves suspiros de ânimo.
A boca de Damian cobriu um mamilo, e um calor que derretia irradiou através dela,
centrando‐se naquele ponto inchado e ofegante que tinha entre as pernas. Elissa se arqueou
contra ele sem pensar, agarrando seu cabelo com os dedos enquanto continuava o lento assalto a
seus sentidos. A língua dele a excitava, a acariciava, a lambia. Deslizou mais abaixo, seduzindo‐a
com sussurros murmurados contra o umbigo, contra o ventre, lambendo com luxúria o ventre, os
quadris, as coxas, e logo beijando entre elas.
— Damian, por favor...
— Querida, minha intenção é te dar prazer.
Deslizou a língua ao redor de seu aceso centro. Ela gritou seu nome, retorcendo‐se contra
ele enquanto os lábios e a boca dele operavam sua magia em sua carne excitada.
Elissa morria por ele; a felicidade se apoderou dela, envolvendo‐a, explodindo em seu
interior.
E de repente, Damian se colocou em cima dela, abrindo‐a com os dedos enquanto a enchia,
expandia‐se dentro dela, a fazia dele. Elissa estremeceu, enredando ao redor dele quando Damian
começou a se mover em seu interior. Fechou os olhos, seu corpo elevou voo enquanto ele a levava
uma vez mais ao topo do êxtase. E então todo seu mundo veio abaixo, fazendo‐a em pedacinhos e
proporcionando um prazer que esteve a ponto de parar o coração. Perdida na agonia de seu
próprio clímax, mal foi consciente de que Damian agarrou seus quadris, levantou‐a e se afundou
nela uma e outra vez até que gritou seu nome e a inundou com seu úmido calor.
Ficou dentro dela até que se suavizou, então se afastou e ficou deitado a seu lado,
estreitando‐a entre seus braços. Escutou‐o gemer e temeu que tivesse reaberto o ferimento.
— Está bem? — estava com a voz carregada de ansiedade.
— Melhor que bem.
— Sério, dói‐te?
Damian sorriu.
— Sim, mas valeu a pena.
— Da a volta para que eu possa jogar uma olhada.
— Não faça um drama, Elissa.
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— Uma esposa tem esse direito. Da a volta, Damian.
Ele acessou a contra gosto, mostrando suas costas para que Elissa a inspecionasse. A
vendagem continha uma pequena quantidade de sangue fresco, mas não o suficiente para
preocupar Elissa.
— Satisfeita? — perguntou Damian. Elissa assentiu e ele a aconchegou entre seus braços. —
Agora, vamos dormir.
Damian estava sofrendo uma grande dor, mas isso não o impediu de fazer amor com Elissa.
E tampouco ia impedir que montasse em seu cavalo e fosse atrás de Gordon. Abraçou Elissa até
que a sentiu adormecida, e então se separou dela e se levantou com rigidez da cama. A música e
as risadas do pátio que ficava abaixo chegaram até ele através da janela aberta, mas não
tencionava unir‐se à celebração.
Elissa dormia placidamente quando Damian colocou a roupa e agarrou sua espada e a
pistola. A porta fez um único som de protesto quando a abriu para sair ao corredor.
Uma onda de debilidade se apoderou dele, e se deteve um instante do outro lado da porta,
apoiando‐se na parede. Quando deixou de rodar a cabeça, desceu pela sinuosa escada.
Concentrando‐se em pôr um pé atrás do outro, Damian conseguiu chegar ao final, mas o
esforço o deixou sem forças. Tremiam suas pernas, estava com a visão imprecisa e o suor porejava
a fronte.
Secando a transpiração com o dorso da mão, Damian saiu cambaleando ao corredor. Seus
joelhos falharam de repente, e se agarrou ao extremo da mesa para se segurar.
— Damian!
Elissa irrompeu no corredor com expressão feroz. — Onde acredita que vai?
— Vou atrás do Gordon.
— Não! Se olhe — tocou sua fronte. — Tem febre. Não pode subir ao cavalo nestas
condições.
Um sorriso de lobo se desenhou em seus lábios. — Montei a ti, não é verdade?
— E provavelmente não deveria ter feito. Volta para a cama, Damian. Pedirei a nana algo
para baixar a febre.
— Não me trate como um menino, Elissa — sua expressão se endureceu. — Gordon tentou
te matar. Vou caçá‐lo como o cão covarde que é.
De repente havia duas Elissa dançando diante dele, e as duas com o gesto torcido. Damian
fechou os olhos e voltou a abri‐los. As duas formas se fundiram em uma só. Damian sacudiu a
cabeça, negava‐se a aceitar sua debilidade. Como podia um ferimento tão insignificante causar
tantos problemas? Por muito que quisesse caçar o Gordon, percebeu que aquela noite não ia a
nenhuma parte.
Ignorando seu débil protesto, Elissa passou o braço pela cintura e o levou de volta às
escadas.
— Maldito seja Gordon — murmurou Damian. — Espero que Dickon encontre ele.
— Ninguém encontrará o Tavis se ele não quiser que o encontrem — respondeu Elissa com
convicção. — Conhece as montanhas como a palma de sua mão. Viverá na clandestinidade. O fez
Connie Mason
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em muitas ocasiões no passado.
— Maldita seja! Sinto‐me um inútil.
Elissa o ajudou a subir a escada e entrou com ele em seu dormitório. Acomodou‐o na cama.
— Descansa enquanto vou pedir a nana algo para baixar a febre.
Damian se recostou sobre o travesseiro, furioso consigo mesmo por ter convidado Gordon a
suas bodas. Acreditou que esse convite serviria para pôr fim às hostilidades entre eles, mas
deveria ter sido mais preparado. Os escoceses eram obstinados de nascimento. Damian percebia
agora que Gordon nunca o perdoaria por ter roubado a noiva e por ter se apoderado de Misterly.
Elissa retornou com uma poção de sabor repugnante que nana preparou para ele. Damian
torceu o gesto mas obedeceu quando aproximou a taça aos lábios e insistiu em que bebesse tudo.
Damian tomou de um gole e provocou ânsias.
— Está tentando me envenenar, mulher? — ofegou, separando‐se da taça vazia.
— Não seja tão insuportável, Damian. Durma. Talvez Tavis tenha perdido a boa sorte e sir
Richard consiga capturá‐lo. Irá Pendurá‐lo?
Um suave ronco surgiu do peito de Damian. Elissa o despiu primeiro a ele e logo a si mesma
e se acomodou a seu lado. A música do pátio que se filtrava através da janela foi adormecendo até
que a venceu o sono.
Damian abriu os olhos com a luz do dia; uma chamada forte à porta e a voz de sir Richard.
Ergueu‐se a toda pressa e se arrependeu imediatamente. A dor o atravessou; apertou os dentes
até que se fez suportável.
Movendo‐se lentamente, puxou a manta para cobrir com ela Elissa e a si mesmo e deu
permissão a sir Richard para que entrasse.
Elissa despertou e se ergueu, subindo a manta até o peito. — O que ocorre, Damian?
— Sir Richard retornou.
Sujo, despenteado e com olheiras marcadas pela fadiga, Sir Richard entrou no quarto.
— Apanhaste‐o, Dickon?
— Não. Esse bastardo é ardiloso como uma raposa. Encontramos seu baluarte, mas não
serviu de nada. Só havia mulheres e crianças. Os homens estão cansados e famintos.
Continuaremos com a busca quando tivermos comido e descansado, se você der sua aprovação —
dirigiu o olhar para a vendagem do Damian. — Encontra‐te bem, Damian?
— Estou perfeitamente, Dickon. Descansa um pouco, logo decidiremos qual será o próximo
passo.
Damian permaneceu pensativo depois de que Dickon partisse. Quando finalmente falou, fez
com a voz tensa. — Está segura de que Gordon não conhece a existência do túnel secreto? Nem
que sai ao bosque?
— Não sabe — insistiu Elissa. — É um segredo de família.
Damian assentiu com a cabeça. — Só queria estar seguro.
A atenção de ambos se dirigiu de novo para a porta. Era nana, que solicitava permissão para
entrar. Quando a deram, irrompeu no quarto com seu cesto de remédios seguro sob o braço.
— Vou jogar uma olhada no ferimento, meu senhor — disse.
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— Está perfeitamente, nana.
Elissa saiu da cama, levando com ela o lençol de cima.
Nana se situou ao lado da cama, esperando impaciente a que Damian se voltasse. Estava
claro que não pensava ir até que conseguisse olhar o ferimento.
— Você ganha, Nana — grunhiu Damian colocando‐se de barriga para baixo. Nana retirou a
vendagem e estalou a língua.
— Há sangue fresco na vendagem, mas os pontos estão intactos.
Damian girou o pescoço para olhar Elissa, e percebeu que se vestira e estava se preparando
para sair do quarto. — Onde vai?
— A te trazer o café da manhã — a jovem abriu a porta e saiu dali.
— Agora que estamos sozinhos, meu senhor — disse nana em voz baixa, — há algo que
preciso dizer.
Damian suspirou com resignação.
— De que se trata, nana? Voltaram a te falar suas vozes?
— Zombe de mim se quiser, meu senhor, mas me escute bem. Há problemas à vista, e eu
não gosto do que está se formando.
Damian observou a nana com curiosidade e um pouco de apreensão.
Não era tão tolo para ignorar à idosa bruxa. Suas estranhas predições faziam sentido em
muitas ocasiões.
— Que classe de problemas? Têm a ver com o Gordon?
— Sim. Tavis Gordon forma parte deles, mas há algo mais — nana atou a vendagem limpa e
pôs a mão na testa. — Já não tem febre. Minha beberagem fez seu trabalho, mas será melhor que
hoje fique na cama.
Damian se voltou e se sentou, estremecendo ao sentir a pontada de dor que o atravessou.
— Explique‐se, Nana, e começa pelo princípio.
— Minhas vozes sussurram de um inimigo que fala mal de ti — tremeu sua voz. — Eu não
queria acreditar, mas me dizem que Elissa partirá muito em breve de Misterly.
— Tolices — zombou Damian. — Elissa não tem nenhuma razão para me deixar. Agora é
minha esposa.
— Não disse que a moça se vá por própria vontade. A única coisa que sei é que logo os
separarão.
— Nana! — disse Elissa irrompendo no quarto com uma bandeja nas mãos. — Ouvi o que
dizia a Damian. Não o perturbe com suas absurdas predições. É ridículo pensar que Damian e eu
não vamos estar juntos para sempre.
Deixou a bandeja na mesa e manteve a porta aberta para nana, convidando‐a a sair. Nana
agarrou seu cesto de remédios e passou a toda pressa por diante da Elissa.
— Sempre foste uma moça obstinada — disse girando a cabeça ao partir.
— Não acredite em nada do que diz nana — aconselhou Elissa enquanto tirava os pratos da
bandeja e os colocava sobre a mesa.
— De verdade acredita que devemos ignorá‐la? — perguntou Damian.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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— Não lhe dedique nem um só pensamento mais. Essas "vozes" que diz que ouve são
produto de sua imaginação. Vem comer antes que a comida esfrie.
Damian se levantou nu da cama e aproximou um banco à mesa.
— Deve admitir que suas predições nem sempre são equivocadas. Tem uma estranha
habilidade para predizer coisas que me esfria o sangue nas veias.
— Não são mais que tolices — descartou Elissa enquanto servia ovos e presunto em um
prato. — Prova o pão de aveia. Winifred acaba de tirá‐lo do forno.
Damian se lançou faminto sobre a comida; Elissa comeu com mais delicadeza, mas com o
mesmo bom apetite.
— Deveria voltar para a cama, Damian — sugeriu quando terminaram de comer.
Damian se ergueu e recolheu sua roupa.
— Não me trate como a um menino, estou perfeitamente bem. De fato, tenho intenção de
me unir esta manhã na busca de Gordon. Me ajude com minhas armas.
— Não há nada que possa dizer para te reter outro dia na cama?
— Não. Quero agarrar Gordon a toda custa.
Elissa encontrou a espada e a pistola do Damian e as repassou. Ele colocou a espada ao
redor da cintura, a pistola no cinto, e guardou buchas, balas e pólvora em sua bolsa.
— Me dê um beijo de despedida, amor.
Obediente, Elissa elevou o rosto.
— Um beijo de verdade — disse Damian agarrando sua cintura e estreitando‐a entre seus
braços. O beijo que deu, e a acalorada resposta da Elissa, estiveram a ponto de levá‐los de novo à
cama, mas Damian se manteve firme e a separou de si a contra gosto.
— Recorda onde paramos, porque esta noite terminaremos — prometeu. E dito aquilo,
partiu.
Elissa ajudou aos serventes a limpar toda a desordem que deixaram os convidados das
bodas, e logo passou um momento com a Lora. Mais tarde passeou com sua mãe pelo pátio.
Embora tentou não pensar na advertência de nana, sua mente se dirigia uma e outra vez
para as palavras de sua idosa nana.
Precisava admitir que algumas predições de nana chegaram a se fazer realidade no passado,
mas Elissa sempre deu por certo que se tratava de simples coincidências. Estava na verdade
maldito seu matrimônio com Damian?
Elissa não queria em um princípio que se celebrasse aquelas bodas, mas agora que
finalmente terminou por aceitar o fato de que estava apaixonada por um inglês, queria que sua
união fosse feliz.
Damian tinha mais honra no dedo mindinho que Tavis Gordon em todo seu corpo.
Suas bodas com Damian pôs por fim ponto final a tantos anos de ódio para os ingleses, ou ao
fato de manter viva em sua memória e em seu coração a derrota em Culloden anos depois de que
se perdeu a batalha.
Chegou o momento de deixar o passado para trás, admitir seu amor por Damian e aceitar
seu futuro como sua esposa.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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Elissa queria pensar que Damian a amava, mas temia que não fosse certo. Sabia que sentia
carinho em certo modo, de outra maneira não se explicava sua obstinada insistência em que se
casasse com ele.
Deu as costas a Kimbra e às riquezas que ela contribuiria ao matrimônio, e isso devia
significar algo.
Fosse qual fosse a razão, Damian se casou com ela; agora eram marido e mulher, e à Elissa
não importava o que nana dissesse; não ia se separar dele.
Damian retornou ao castelo exausto e com expressão séria. Elissa estava com o banho
preparado para ele e o ajudou a se despir. A vendagem estava manchada de sangue e ela a tirou
enquanto enchiam a tina.
— Não o encontraste, verdade?
— Não há nem rastro dele — replicou Damian. — Só encontramos mulheres, crianças e
velhos em seu baluarte. Eu não faço guerra a gente indefesa. Procuramos mais longe, mas parece
como se tivesse desaparecido da face da terra. Meu instinto me diz que o Gordon não disse sua
última palavra.
Suspirando com cansaço, Damian se inundou na tina.
Elissa se ajoelhou atrás dele e esfregou suas costas. — Vais continuar com a busca?
— Não faz sentido. Gordon pode desaparecer a vontade nas montanhas, ou poderia
inclusive ter saído da zona. Dei instruções aos guardas para que aumentem a vigilância. Graças a
Deus, Gordon não sabe da existência do túnel.
— O túnel é um segredo bem guardado — assegurou Elissa. — Talvez algum dia o
necessitemos — verteu água pela cabeça do Damian e esfregou seu couro cabeludo com sabão. —
Quer jantar esta noite em nosso quarto? Posso pedir que nos preparem uma bandeja.
Damian dirigiu‐lhe um sorriso travesso.
— Estava a ponto de sugerir isso. No passado, o noivo e a noiva se encerravam e não saíam
por uma semana.
Elissa riu.
— E eram capazes de andar ao final dessa semana?
— Não sei, mas estou disposto a averiguar, se você também estiver.
Elissa caiu sobre o traseiro quando Damian se ergueu na tina, salpicando o chão de água.
Antes que tivesse tempo de protestar, agarrou‐a e a levou a cama, tirando sua roupa em um
arrebatamento de fúria carregada de desejo.
Ela o recebeu com os braços abertos e com beijos apaixonados.
Seu ato amoroso foi quase desesperado quando ambos alcançaram o cume mais alto dos
amantes. Amaram‐se, comeram, e voltaram a se amar.
Quando Elissa adormeceu, teve que admitir finalmente que era mais feliz do que o foi em
toda sua vida.
Durante as seguintes semanas, Damian não deu motivos a Elissa para que mudasse seus
sentimentos por ele. Agradava‐a em todos os sentidos. Tavis Gordon seguia solto, mas não causou
mais problemas.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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Embora nana ia por aí com expressão preocupada, Elissa optou por ignorá‐la.
Estava tão contente que mal prestou atenção à chegada de uma companhia de soldados
várias semanas depois de suas bodas. Entretanto, sua alegria se apagou de um golpe quando se
reuniu com Damian na entrada principal para saudar os novos visitantes.
— Bem vindos ao Misterly — disse Damian. — O que os traz pelas Terras Altas?
Elissa percebeu a tensão de sua voz e se fixou em sua expressão séria, um calafrio de medo
percorreu sua espinha dorsal. Sua intuição a advertiu que aquela não era uma visita amistosa.
O capitão da guarda desmontou e dirigiu o olhar diretamente para a Elissa.
— É você Elissa Fraser?
Uma voz de alarme se acendeu em sua cabeça. — Sim.
Damian a colocou atrás dele. — O que está acontecendo aqui?
— Fique de lado, lorde Clarendon. Temos ordem para prender lady Elissa Fraser e escoltá‐la
a Londres.
Capítulo 17
O medo percorreu a espinha dorsal de Damian. Os soldados estavam ali para levar Elissa.
— Por ordem de quem? — perguntou, negando‐se a ficar a um lado.
— Por ordem do rei — respondeu o capitão.
Elissa se agarrou à manga de Damian. — Damian, o que estão dizendo?
— Não se preocupe, meu amor, não permitirei que a levem com eles.
— Você não têm nada a dizer a respeito, meu senhor — disse o capitão.
— Não entendeu, capitão — tentou se explicar Damian. — Lady Elissa é minha esposa.
Aquilo pareceu surpreender ao capitão, mas não o desviou de seu propósito.
— Minhas ordens procedem diretamente do rei. Descansaremos aqui esta noite e
partiremos com nossa prisioneira amanhã ao amanhecer. A menos que me garantam que a dama
não escapará, me verei obrigado a pô‐la sob custódia.
— Eu não fiz nada! — gritou Elissa.
— Quais são as acusações? — perguntou Damian fazendo um esforço para que não
notassem o pânico na voz. Pressentia que a fina mão de Kimbra estava por trás daquilo.
— Conspiração para cometer traição contra a Coroa — respondeu o capitão.
O coração de Damian afundou.
— Essas acusações não só são falsas, mas também ridículas.
— Não sou eu quem deve julgar — replicou o capitão. — É necessário sua hospitalidade para
passar a noite, meu senhor. Por favor, providencie as disposições necessárias para o alojamento e
a comida de meus homens.
Damian não teve outra opção que afastar‐se a um lado e permitir que o capitão e seus
homens entrassem no salão. Sir Brody apareceu a seu lado para se encarregar dos soldados.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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Damian incitou Elissa para que entrasse e o capitão os seguiu.
Damian sentou Elissa na mesa e convidou o capitão a tomar assento ao lado dele.
— E então, capitão...?
— Harding — respondeu o outro homem.
— Podemos falar mais a fundo da ordem do rei, capitão Harding? Deve existir um engano.
Minha esposa não é uma traidora.
— O rei pensa outra coisa. Minhas ordens são levar lady Elissa a Londres para que responda
pelas acusações.
— Se não posso convencê‐lo para desistir disto, então acompanharei minha esposa a
Londres para defender sua inocência.
O capitão Harding sacudiu a cabeça.
— Não, meu senhor. Você deve ficar em Misterly. —Damian ficou furioso.
— Por ordem de quem?
— Uma vez mais, por ordem do rei.
— Me desculpe, capitão Harding, por favor, desejo falar com minha esposa a sós. Sir Brody
mostrará seus quartos e informará quando podem descer seus homens e você ao salão para o
jantar.
— Tenho sua palavra de que a dama não sairá do castelo? — quis saber Harding.
Embora aquilo esteve a ponto de matar Damian, deu sua palavra.
Pegando Elissa pela mão, cruzou com ela o salão. Quando chegaram à intimidade de seu
dormitório, estreitou‐a entre seus braços. — Não posso evitar que te leve com ele, meu amor, mas
não te abandonarei. Vou fazer algo a respeito, disso pode estar segura.
— O que pode fazer você? — perguntou Elissa com voz trêmula. — Por que o rei fez isso?
Poderia ter me chamado a Londres muito tempo atrás. Por que agora?
— Kimbra — sussurrou Damian. — Deve ter enchido os ouvidos do rei de veneno.
— E o que acontece com Lora e mamãe? Vão sofrer por minha culpa?
— Sua mãe e sua irmã estão a salvo aqui — prometeu Damian. — Duvido muito que o
capitão Harding saiba sequer de sua existência.
— Graças a Deus — disse Elissa em um suspiro. — Mas, como vais me ajudar se o rei te
proibiu sair de Misterly?
— Desafiaria o rei por ti — murmurou Damian.
As fortes emoções que estavam atingindo Damian eram tão poderosas que a comoção
esteve a ponto de derrubá‐lo de joelhos. O bom senso dizia que o que sentia por Elissa não era só
desejo, porque seus sentimentos eram muito mais profundos. Seria amor o que estava
experimentando? Do que outra coisa poderia tratar‐se? Queria ter Elissa em sua vida, em sua
cama, entre seus braços, e não ia permitir que o rei destruísse o que encontrou com ela.
— Se desobedecer Hannover perderá Misterly — recordou Elissa.
Os olhos de Damian brilharam com determinação. — Acredita que valorizo Misterly mais
que sua vida? —O sorriso de Elissa continha um certo lamento.
— Deste‐me razões suficientes para me perguntar isso.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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— Não se pergunte mais isso, amor. Por que acredita que me casei contigo?
— Porque necessitava a cooperação dos membros de meu clã.
— Não. Os membros de seu clã não formaram parte de minha decisão. Misterly era meu,
tanto se ganhasse sua lealdade como se não. Casei‐me contigo por mim, porque queria que fosse
minha esposa. Sabia a que me arriscava e não me importou.
Elissa abraçou ele com os olhos chorosos.
— Amo‐te, Damian, e sempre te amarei, aconteça o que acontecer. —Damian abriu a boca
para falar, mas as palavras ficaram congeladas na garganta. Nunca expressou verbalmente amor a
uma mulher, e não estava seguro de ser capaz de admitir um sentimento tão tenro. E se saía mal
ao dizê‐lo? Tudo aquilo era novo para ele. O que fez então foi beijá‐la com todo o sentimento que
albergava seu coração, enchendo‐a com seu fôlego, seu amor sem palavras e sua paixão. Confiou
em que aquilo bastasse até que conseguisse encontrar as palavras que expressassem seus
autênticos sentimentos.
Elissa saboreou o amor em seus beijos... e algo mais: o penetrante aroma do desespero. O
medo se apoderou de suas vísceras. Apesar de suas valentes palavras, Damian estava tão
preocupado como ela.
Ambos sabiam que pouco podia fazer ele para fazer mudar o rei de opinião. Elissa seria
castigada por conspirar junto a Tavis Gordon mesmo que não tivesse cometido nenhum ato de
traição.
— Faça amor comigo, Damian — suplicou Elissa. — Esta poderá ser a última vez que
estejamos juntos.
— Encantado, mas não será a última vez, querida — agarrou‐a pelos ombros. — Me escute,
Elissa. Voltaremos a estar juntos de novo. Confia em mim?
— Sim, mas precisará algo mais que confiança para me salvar. Nana predisse que nos
separaríamos. Deveríamos tê‐la escutado.
— E o que teríamos ganho? Nenhum de nós sabia que o rei Jorge ordenaria seu traslado a
Londres, e a única coisa que nos ofereceu nana foi uma sombria advertência.
— Devemos fica juntos o dia de hoje e esta noite — murmurou Elissa . — Não quero perder
tempo conversando.
Baixou sua cabeça, ficou nas pontas dos pés e o beijou com toda a paixão e o amor que
albergava em seu coração. Damian gemeu. Elissa apanhou seu gemido na boca e o devolveu
convertido em um ofegante suspiro.
Rodeando‐a com seus braços, Damian a estreitou com força contra si, como se não quisesse
deixá‐la partir jamais. Mas antes que Elissa pudesse se saciar de seu sabor, Damian se tornou para
trás e começou a beijá‐la no pescoço enquanto suas mãos soltavam os ganchos da parte posterior
de seu vestido. Elissa sentiu como caía o decote, notou como os lábios dele seguiam a curva de
seus seios.
Logo caiu a seus pés o vestido. Os olhos de Damian brilhavam como moedas de prata
quando tirou sua combinação pela cabeça e a jogou a um lado.
— Quero te fazer amor — murmurou Elissa contra seus lábios. Deu um passo atrás e sorriu
Connie Mason
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sedutora enquanto começava a despi‐lo. Quando Damian tentou ajudá‐la, afastou suas mãos. —
Não, deixa que eu faça.
Tirou sua jaqueta pelos braços e desabotoou a camisa. Ficou olhando fixamente seu peito
nu. Brilhavam seus olhos. Então ficou de joelhos, colocou a boca em seu mamilo e puxou ele.
— Vais me matar se seguir assim — gemeu ele.
Elissa elevou a cabeça e sorriu, e logo deslizou a língua pelo sulco de pelo escuro de seu
peito. Mas não terminara ainda com ele. Baixou sua camisa pelos braços e logo a tirou.
Afundou a língua no umbigo de Damian; sentiu‐o estremecer enquanto segurava sua cabeça
e afundava os dedos no cabelo para mantê‐la em seu lugar. Elissa sorriu contra a rígida planície de
seu ventre e começou a desabotoar os botões das calças. Terminou em uns instantes e a baixou,
liberando sua cheia virilidade.
Elissa ficou olhando sem fôlego durante uma eternidade a túrgida cabeça e a gota perolada
que pendurava de sua ponta, e logo deslizou a língua por sua sedosa superfície.
— Maldita seja!
Damian tentou pôr Elissa de pé, mas ela não se moveu. Elevou a vista para olhá‐lo com os
olhos brilhantes, observando sua cara enquanto o tomava com a boca. A expressão de Damian
mostrava tudo o que ela podia pedir. Estava tocado por uma paixão atormentada. Elissa saboreou
seu prazer e o aroma da ardente excitação em sua pele.
— Já é suficiente! — exclamou ele.
Antes que pudesse reagir, Elisa se encontrou sentada a borda da cama, com as pernas
completamente abertas e Damian ajoelhado entre elas. Seu pérfido sorriso servia de advertência
para que
Elissa soubesse que não daria quartel quando afundou a cabeça no vértice que formavam
suas pernas e procedeu a lhe dar prazer do mesmo modo que ela o dera, movendo a boca e a
língua de forma Íntima sobre sua pele úmida e torcida. Não havia forma de negar‐se. Elissa se
agarrou as cobertas com as duas mãos e sucumbiu a um cego abandono.
Ainda ressonava seu clímax em seu interior quando Damian a colocou sobre a cama e entrou
nela investindo profundamente, tão profundamente que Elissa teve que morder a língua para
evitar gritar em voz alta quando seu prazer se intensificou. Abraçou Damian contra si, saboreando
a ardente e úmida investida de sua virilidade dentro dela, o delicioso calor de seus corpos
entrelaçados enquanto alcançavam o topo juntos. Elissa sentiu como se elevava para um novo
nível de excitação, sua paixão crescia uma vez mais para aproximar‐se às exigências do Damian.
Com todos os músculos em tensão e estremecendo, Elissa se rompeu em mil pedaços. Em
algum canto de sua mente, escutou Damian gritar seu nome e sentiu como seu úmido calor a
alagava.
Descansaram e logo voltaram a se amar. Nada importava... nem o capitão Harding nem
aqueles que esperavam abaixo no salão a que fizessem sua aparição durante o jantar; restava
muito pouco tempo para estarem juntos, e a ideia da separação era muito dolorosa.
Elissa não pôde reter a alvorada, por muito desesperadamente que desejasse fazê‐lo.
Levantou‐se ao amanhecer e colocou roupa para a viagem em uma mochila pequena.
Connie Mason
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Se sobressaltou quando Damian saiu da cama, agarrou‐a pelos ombros e lhe disse:
— Podemos sair pelo túnel secreto e embarcar rumo à França. Poderia fazer que meus
homens provocassem um alvoroço e desviassem a atenção da porta escondida enquanto
escapamos por ali.
Elissa dirigiu um sorriso triste.
— Não. Eu nunca te pediria algo assim, e não posso deixar para trás mamãe e Lora. Não
existe virtualmente nenhuma possibilidade de que possamos sair todos. Arrastar a mamãe e a
Lora pela campina com o inverno se formando danificaria sua saúde. Além disso, deste sua palavra
de que eu não tentaria escapar, e sei o muito que valoriza sua honra.
Damian deixou cair os ombros.
— Valorizo minha honra, mas isto é diferente! Estamos falando de sua vida.
— Devo pensar que o rei mostrará clemência para mim.
— Isso depende de até onde tenha forçado Kimbra a verdade.
— Tenho tempo para me despedir de minha mãe e de minha irmã? — perguntou Elissa.
— Mas precisa se apressar. Certamente o capitão Harding esteja desejando partir.
Surpreende‐me que não tenha vindo ontem à noite comprovar que estávamos aqui ao ver que
não descíamos para jantar.
Para reforçar suas palavras, o capitão Harding bateu na porta.
— Lorde Damian, é hora de partir. Que saia sua esposa.
— Em seguida descemos, capitão — respondeu Damian.
— Agora — exigiu Harding.
— Minha esposa não está preparada ainda.
— Damian, E o que acontece com Lora e com mamãe? — sussurrou Elissa. — Acredita que o
capitão me deixará vê‐las?
— Dou por certo que não sabe de sua existência. Não seria inteligente chamar a atenção
sobre elas. Sinto muito, querida.
— Compreendo — disse Elissa engolindo saliva para ocultar sua desilusão. — Se as pusesse
em perigo, nunca me perdoaria. Diga a elas que as amo e explique o que ocorreu — a jovem
estirou os ombros.
— Abre a porta. Estou preparada.
— Só recorda — disse Damian, — que não te abandonarei.
Elissa rodeou seu pescoço com os braços e conteve um soluço. Existia tantas coisas que
queria dizer, e tinha tão pouco tempo... Puderam dar um último beijo antes que Damian abrisse a
porta ante as persistentes chamadas do capitão Harding. Mas foi um beijo que Elissa recordaria
até o final de seus dias. Docemente apaixonado, desesperadamente tenro, e carregado de
promessas, como se estivessem renovando seus votos matrimoniais naquele único beijo.
— Já era hora — grunhiu Harding arrastando os pés impacientemente no patamar. Agarrou
Elissa pelo braço mas Damian o retirou e o colocou no seu.
— Eu acompanharei minha esposa ao salão — disse com uma voz que não deixava lugar a
discussões.
Connie Mason
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Desceram pela escada agarrados pelo braço. Harding os seguia pisando nos calcanhares,
carregando a mochila de Elissa que Damian pôs em suas mãos.
— Olhe, Damian — exclamou Elissa quando entraram no salão. Damian se deteve. Parecia
que todos os Fraser de varias milhas da redondeza se congregaram no salão.
Formavam pequenos grupos, falando em tom sussurrado e olhando desafiantes aos
soldados do rei.
Sir Richard abriu passagem através da multidão.
— Nossos homens estão preparados para lutar — sussurrou em um tom de voz que só
Damian e Elissa puderam ouvir. — Só precisa dizer uma palavra. E a julgar por como sopra o vento,
os Fraser parecem dispostos a unir‐se à briga. Querem proteger à dama, como nós.
Antes que Damian pudesse responder, Elissa agarrou com força seu braço.
— Não! Ninguém deve morrer por minha causa. Não dê a ordem de lutar, Damian, por favor.
Damian avaliou a situação com um rápido olhar. O capitão Harding reunira a seus soldados,
e estava preparado para dar a ordem de atacar se alguém tentasse interferir em seu dever para
com o rei e para com seu país. Se se desencadeasse uma batalha, seria muito cruenta.
— Não, Dickon, não deve haver derramamento de sangue. —Dickon piscou.
— Vai deixar que levem a sua esposa sem opor resistência? Elissa pôs a mão no ombro de
Dickon.
— Damian escolheu a opção correta, sir Richard. Devo partir.
— Suponho que sabe que não permitirei que o rei siga adiante com esta farsa, Dickon —
assegurou Damian com seriedade. — Farei tudo o que seja necessário para liberar Elissa. Tenho
um plano, mas não posso agir precipitadamente. Mas quero que saiba isto: vou a Londres falar a
favor de Elissa ante o rei.
— Se Damian disser que vai liberar‐te, minha senhora, então conta com isso. Pode confiar
sua vida.
— Confio em Damian — respondeu Elissa. — Se houver alguma maneira de me ajudar, ele a
encontrará — colocou os braços entre os de Damian. — Já pode me levar com o capitão Harding,
meu amor.
A Damian falhavam os passos, mas Elissa o manteve firme. Damian pensou que era a mulher
mais valente que conheceu em sua vida. A maioria das mulheres na mesma situação que Elissa
estariam chorando histéricas, mas não sua esposa. A fé que tinha nele o fazia humilde. Ela
confiava em que a resgataria, e isso é o que faria.
Ver Elissa subir em sua égua e afastar‐se foi a coisa mais difícil que fez Damian em sua vida.
Embora parecesse tranquila, ele sabia que estava aterrorizada.
Quando girou a cabeça para trás para olhá‐lo enquanto cavalgava, sua expressão já havia
começado a desmoronar.
Damian não se surpreendeu ao ouvir os membros do clã da Elissa chorar abertamente,
porque ele mesmo também sentia vontade de chorar. Mas não podia se permitir esse luxo,
porque só ele poderia tranquilizá‐los.
Voltou‐se e tornou a entrar no salão. Esperou a que todo mundo se reunisse ao redor dele
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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antes de falar. Dúzias de rostos se viraram para ele espectadores, alguns furiosos, alguns tristes, e
outros afligidos.
— Sei que todos estão afetados pelo que acaba de ocorrer — começou a dizer Damian, — e
que esperavam que eu interviesse. Mas este não era o momento de desafiar ao rei nem de
desafiar a seus soldados. Nem Elissa nem eu queríamos um derramamento de sangue, e isso é o
que teria ocorrido se tivesse ordenado a meus soldados que tirassem suas armas.
— O que pensa fazer? — inquiriu Dermot. — Nossa moça se foi. É sua esposa, seu dever é
protegê‐la.
— Protegerei Elissa com minha vida — assegurou Damian. — E removerei céu e terra para
que retorne a Misterly, o lugar ao qual pertence.
— Que fácil é falar — espetou Lachlan.
Damian se virou para olhar ao furioso escocês, cuja determinação ficava claramente definida
na severa linha de sua mandíbula.
— Ponho a Deus por testemunha de que não descansarei até que a donzela do Misterly
volte para casa, seja qual for o custo pessoal que suponha para mim. Vou a Londres para negociar
a liberdade da Elissa com o rei.
— Quando? — perguntou Dermot.
— O rei me proibiu de sair de Misterly, e não quero que o capitão Harding saiba que o
seguirei, então darei dois dias de vantagem. É melhor chegar a Londres discretamente, assim só
levarei três homens comigo. O resto ficará aqui para proteger Misterly.
Suas palavras pareceram aplacar aos membros do clã, que começaram a dispersar‐se para
retornar a suas casas. Lora apareceu de repente e se lançou a toda velocidade contra Damian,
golpeando‐o com seus punhos.
Damian a conteve e a estreitou entre seus braços.
— Por que deixaste que esses homens maus levassem a Lissa? — gritou entre soluços. —
Odeio‐te! Odeio‐te!
— Lora, querida, me escute. Tive que deixar que sua irmã se fosse. Não estávamos em
posição de deter esses homens. Confia em mim, pequena. Não permitirei que aconteça nada a sua
irmã.
Sua asseveração não causou efeito na angustiada menina, que continuou gritando e
sacudindo agitadamente os braços contra ele. Damian aguentou o peso de sua condenação com o
coração dolorido.
Lora acreditava que ele traiu Elissa, e em certo modo assim foi. Se tivesse aceitado Kimbra
como esposa e não casado com Elissa, nada de tudo aquilo teria ocorrido.
Mas, egoistamente, quis ficar com Elissa. Queria‐a em sua cama e em sua vida para sempre.
Acreditando como um estúpido que não poderia se sair mal, expulsou Kimbra e se casou com
Elissa, pondo em perigo sua vida com aquele acordo. Era um milagre que Elissa o amasse. Tinha
todo o direito do mundo a odiá‐lo, como o fazia Lora.
— Lora, querida, te acalme, não acabo de te prometer que não vai acontecer nada a sua
irmã.
Connie Mason
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— Por que Elissa não nos disse adeus? Mamãe não me deixou descer ao salão. Disse que
havia homens maus no castelo.
— Elissa queria verte antes de ir‐se, mas não houve tempo. Explicarei a sua mãe o que
aconteceu — viu Maggie rondando por ali e a chamou com um gesto para que se aproximasse.—
Leve Lora à cozinha e te encarregue de que Winifred a de um pedaço quente de pão de gengibre.
Damian deixou Lora no chão. Ainda soluçando, Lora agarrou a mão de Maggie e a seguiu
para a cozinha. Damian estava a ponto de subir as escadas que levavam a sala das mulheres
quando Dermot o chamou por gestos.
— Queria falar comigo, Dermot?
— Sim, meu senhor. Os membros de meu clã queriam que te dissesse que desejam o
melhor. Traz nossa moça de volta para a casa conosco.
Damian estava com um nó na garganta que o impedia de falar, assim se limitou a apertar o
ombro de Dermot. Não se atrevia a falhar com tanta gente confiando nele. Em algum momento
dos últimos meses se converteu em um deles.
Sentia como se sempre pertencesse ao Misterly, e Misterly a ele. Não poderia voltar a olhar
à cara dos membros do clã de Elissa se falhasse. Sua boca se converteu em uma linha decidida
enquanto subia as escadas e batia na porta de Marianne.
Nana abriu. Damian a observou com os olhos entreabertos. Por que ela não os advertiu?
Onde estavam suas supostas vozes quando as necessitavam?
Damian entrou no quarto, rezando para encontrar as palavras adequadas para dizer a lady
Marianne por que deixou Elissa partir sem lutar por sua liberdade. Observou que Marianne estava
ao lado da janela.
Um raio de sol banhava seu pálido rosto.
Marianne se virou para o olhar. Damian viu suas lágrimas e caiu sua alma aos pés.
— Chora por sua filha — disse Nana. — Expliquei o que aconteceu depois da chegada dos
soldados, e aconselhei que Lora e ela ficassem em suas habitações. Se te servir de consolo, ela
sabe que não podia ter evitado o que ocorreu. Sofre por sua filha, sim, mas eu disse que não
deveria chorar por algo que estava destinado a ocorrer.
A fúria impregnou as palavras do Damian.
— Não a advertiram suas vozes de que Elissa estava em perigo? Por que não estava presente
quando a levaram para consolá‐la?
— Não posso obrigar minhas vozes a falar se não desejarem fazê‐lo — defendeu‐se Nana. —
Se por acaso não o recorda, adverti‐te de que o perigo se aproximava e que Elissa e você teriam
que se separar, mas decidiu ignorar minhas advertências.
Tremendo de ira, Damian agarrou à idosa por seus estreitos ombros. Teria a agitado se
Marianne não se lançasse em defesa dela.
— Solta‐a, meu senhor. Nana é uma mulher idosa; não quer fazer mal a ninguém.
— Me perdoe — disse Damian com acanhamento enquanto soltava a mulher. — Estou
afligido pela preocupação. Agradecerei qualquer notícia que possa me dar, Nana. Suas vozes
disseram algo sobre Elissa?
Connie Mason
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— Não a intimide, meu senhor — Repreendeu‐o Marianne com doçura. — Nana só pode
repetir o que suas vozes dizem.
— É verdade, meu senhor. Não posso te dizer nada, exceto...
— Exceto o que? — perguntou Damian impaciente.
— O rei não será benevolente com nossa moça. Parecerá que tudo está perdido, mas não te
desespere. Isso será só o princípio.
— Isso é tudo? — bramou Damian. — Não me disse nada!
— Disse muito. Deve te preparar para a viagem, meu senhor. Sua estadia em Londres não
será curta.
Damian sentiu como perdia o controle. Se nana dissesse uma vaga predição mais, seria capaz
de retorcer seu esquálido pescoço.
— Traga minha filha de volta para mim, lorde Damian — implorou Marianne. — No mais
profundo de meu coração, sei que a amas.
— Tem razão, minha senhora — admitiu Damian. — Não me arrependo de ter casado com
Elissa. Não importa o custo pessoal que suponha para mim, prometo‐te que devolverei Elissa.
Os dois dias seguintes transcorreram de modo agitado enquanto Damian preparava sua
viagem a Londres. Escolheu cuidadosamente os três homens que o iam acompanhar e informou a
sir Richard de sua decisão de deixá‐lo para trás. No princípio Richard se manteve firme, exigindo
que Damian permitisse que o acompanhasse, mas em seguida viu que tinha razão e esteve de
acordo ficando ali para defender Misterly.
— Tavis Gordon não deu sinais de vida, mas acredito que ainda teremos notícias dele —
explicou Damian. — Confio em que você mantenha Misterly a salvo.
— Pode contar comigo, Damian — manteve sir Richard. — Espero que ao Gordon não passe
pela cabeça a ideia de atacar o castelo enquanto você não está. Seria muito próprio dele se
aproveitar de sua ausência.
— Se ocorrer algum imprevisto, me envie uma mensagem a Londres. —Damian saiu de
Misterly num dia frio que anunciava chuva. A má sorte caiu sobre ele quase imediatamente. A um
dia de viagem do Misterly, seu cavalo perdeu uma ferradura. O povoado mais próximo estava a
várias léguas de distância, o que o obrigou a dar um rodeio com que não contava. Logo veio a
chuva. Caiu sem parar durante três dias seguidos, convertendo o caminho em muita lama que,
literalmente, obrigou‐os a continuar a viagem arrastando‐se.
Em vez de chegar a Londres dois dias depois de Elissa, como estava originalmente planejado,
o desalinhado grupo entrou na cidade a véspera do sétimo dia.
Capítulo 18
Elissa estava diante do rei, tremendo sob sua capa molhada. A chuva caiu sem cessar
durante os últimos dias, deixando‐a úmida e incômoda. A viagem a Londres não foi prazenteira,
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Sabor do Pecado 03
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embora o capitão Harding a tratou com reticente respeito. Alojaram‐se em posadas quando foi
possível, e dormiram em tendas quando não se encontrou alojamentos possíveis.
Quando saíram de Misterly, o tempo se tornou lúgubre e sombrio. Logo começou a cair uma
chuva gelada; Elissa não recordava ter se sentido tão desgraçada.
E para o cúmulo dos males, levaram‐na ante o rei imediatamente depois de sua chegada,
sem dar tempo a tirar a roupa molhada e comer e beber algo. Os joelhos tremiam quando o
desdenhoso olhar do corpulento monarca se posou sobre ela com o que só podia se descrever
como curiosidade. Lorde Pelham, o primeiro‐ministro, estava de pé ao lado da cadeira do rei,
observando‐a com frio desprezo.
— É esta a mulher? — perguntou o rei Jorge em um inglês com tão marcado acento alemão
que Elissa mal conseguiu entendê‐lo. — Isso parece, Sua Majestade — respondeu lorde Pelham.
— Sabe ela por que está aqui?
— Foi comunicada.
Elissa piscou. Por que estavam falando como se ela não se encontrasse ali?
— Que tragam lady Kimbra — ordenou o rei.
Lorde Pelham falou com um lacaio que estava ali ao lado e que saiu imediatamente. Elissa se
preparou para enfrentar a seu castigo. — Elissa Fraser — disse o rei dirigindo‐se diretamente a ela
pela primeira vez.
— Lorde Pelham te explicará as acusações apresentadas contra ti enquanto esperamos que
chegue lady Kimbra.
Elissa sopesou suas palavras e finalmente compreendeu o que acabava de dizer.
— Não sou culpada de nenhum crime, Majestade. —O rei a olhou fixamente.
— Não esta autorizada a falar, senhora — repreendeu‐a lorde Pelham. — Escute
cuidadosamente enquanto assinalo as acusações que há contra você.
Leu de um pergaminho que estava segurando com as mãos. — Planejou traição com o
foragido Tavis Gordon. Atraiu lorde Clarendon até sua cama e o convenceu para que a deixasse
ficar em Misterly face às ordens de Sua Majestade. Convenceu‐o para que expulsasse dali lady
Kimbra, a dama com a qual ia casar se, provocando a ela uma angústia e uma vergonha
incalculáveis.
Elissa estirou os ombros.
— Posso responder as acusações, Sua Majestade? —O rei Jorge assentiu brevemente.
— Não planejei nenhuma traição. Ia me casar com Tavis Gordon porque meu pai o contratou
assim quando eu era uma menina... muito antes de Culloden. Quanto a segunda acusação, só
posso dizer que eu não atraí lorde Clarendon a minha cama. Com respeito a última acusação,
asseguro que foi decisão de lorde Clarendon enviar lady Kimbra de volta a Londres, não minha.
Não tenho nada que ver com isso. Também foi decisão dele que me casasse com ele.
O rei se levantou de sua cadeira.
— Casaste com lorde Clarendon? Casaste com lorde Clarendon? Traição! Traição! Não
contava com nossa permissão. Enviamos uma esposa adequada e a rechaçou.
Lady Kimbra entrou na área de recepção enquanto o rei seguia destrambelhando. Deve ter
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escutado o que se disse, porque se lançou para diante como se a tivessem empurrado.
— Ouvi bem, Sua Majestade? Hão dito que lorde Damian se casou com esta simpatizante
jacobina? Isso é uma abominação. Requer um duro castigo, Sua Majestade.
— Por favor, sente‐se, senhor — urgiu lorde Pelham. — Não deve se acalorar tanto.
— Posso falar, Sua Majestade? — perguntou Kimbra com doçura. O rei deu permissão
agitando a mão.
— Elissa Fraser envenenou a mente de lorde Damian contra mim. Não esteve satisfeita até
que o teve em sua cama. Logo o enrolou para que me expulsasse dali.
— Não, está mentindo! — negou Elissa.
— Antes de que eu partisse de Misterly, tentou fugir para se reunir com seu amante, Tavis
Gordon. Apanharam‐na e a levaram de volta. Quando eu parti, deve ter cativado lorde Damian
para que se casasse com ela. A jacobina merece ser castigada, Sua Majestade. Elissa Fraser
cometeu traição e deve morrer por isso.
O medo se alojou no peito de Elissa. Podia se considerar já morta, porque não tinha modo
de demonstrar que Kimbra mentia. Esperava contar com a indulgência do rei, mas aquela
esperança morreu no momento em que escutou aquelas palavras envenenadas sair da boca de
Kimbra.
— Talvez a morte seja um castigo muito duro, senhor — disse lorde Pelham ao rei.
— Tomaremos a decisão que nos pareça oportuna — disse o rei. — Chamem o tabelião. Esse
matrimônio não válido entre lorde Clarendon e Elissa Fraser deve terminar. O anularemos agora
mesmo.
Elissa sentiu os olhos de Kimbra cravados nela e captou um olhar de vitória, que se
converteu imediatamente em outro de ódio implacável. Então o tabelião entrou na sala de
recepção, e Elissa centrou sua atenção de novo no rei.
O tabelião fez uma reverência. — Mandaste me chamar, senhor?
— Certamente. Necessitamos que prepare um documento de nulidade, e que seja
apresentado imediatamente para minha assinatura. Desejamos anular o matrimônio entre Damian
Stratton, lorde Clarendon, e Elissa Fraser. Necessitaremos duas cópias, uma para nossos arquivos,
e a outra para lorde Clarendon.
— Sim, senhor — disse o tabelião inclinando‐se uma vez mais. O rei o despediu com um
gesto de mão.
Lorde Pelham clareou a garganta.
— Quais são seus desejos no concernente a Elissa Fraser, meu senhor?
— Pensaremos nisso. Até que tenhamos tomado uma decisão, a encerrem na Torre —
deslizou o olhar sobre sua desalinhada figura. — Se não trouxe roupa para se trocar, se ocupe de
que proporcionem algo seco que possa usar.
— É muito indulgente, senhor — protestou Kimbra.
— Teremos em conta suas considerações, lady Kimbra. As acusações apresentadas contra a
senhora Elissa são certamente graves; portanto, atribuiremos um castigo de acordo. Se deve pagar
com a morte, cumpriremos com nossa obrigação.
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Elissa empalideceu. — Exijo um julgamento, senhor.
O rei Jorge franziu o cenho.
— Não está em posição de exigir nada, senhora. Não é necessário nenhum julgamento. Eu
atuarei como juiz e como jurado — o rei agitou languidamente um lenço de renda para diante e
para trás diante de seu rosto.
— E agora me deixem, estou esgotado.
Kimbra fez uma profunda reverência. A de Elissa não foi nem grandiosa nem respeitosa. Seu
destino estava nas mãos de um homem que tratou com crueldade os habitantes das Terras Altas
depois de Culloden.
Não podia esperar piedade de Hannover.
— Me siga, senhora — disse lorde Pelham, pondo fim a seus angustiantes pensamentos.
Elissa seguiu a lorde Pelham fora da sala. Escutou histórias horripilantes das pessoas que
encerravam na Torre, e sabia que não cabia esperar nenhum trato especial.
Lorde Pelham a guiou através de um labirinto de corredores e logo até uma porta que dava a
um pequeno pátio. Para sua surpresa, encontrou‐se com o capitão Harding esperando.
— O capitão Harding recebeu instruções de a esperar — explicou Pelham. — Ele a
acompanhará e a ajudará a levar para a Torre os pertences pessoais que trouxe com você.
— Deixe que a auxilie — disse Harding enquanto ajudava Elissa a montar em um dos cavalos
que levou consigo. — Informe ao tenente Belton de que a senhora Elissa será sua hóspede na
Torre até que Sua Majestade dita qual será seu destino, capitão — disse Pelham dando‐a volta.
O capitão Harding montou em seu próprio cavalo, agarrou as rédeas do da Elissa e guiou a
ambos através de um portão com arco que dava a uma rua estreita repleta de homens e mulheres
que a olharam com aberta curiosidade.
Vendedores ambulantes, vagabundos, ladrões de carteira e homens diversos se mesclavam
em uma cacofonia de imagens e sons que Elissa achou confusa depois de viver virtualmente
isolada em Misterly. Nunca viu tanta gente reunida em um só lugar.
Alguém em cima dela soltou um grito como advertência e Elissa agachou a cabeça bem a
tempo para esquivar o fétido conteúdo de um urinol. Enrugou o nariz em gesto de repugnância e
viu como as águas residuais corriam pelas valetas de ambos os lados da estreita rua. Uma vez
mais, desejou estar de retorno em Misterly, onde o ar era puro e adoçado pelo aroma das flores.
Quando chegaram à Rua da Torre, Elissa ficou olhando com autêntico terror a plataforma e
as forcas que havia em cima do que supôs que era Tower Hill, o lugar onde numerosos habitantes
das Terras Altas, incluídos alguns membros de seu próprio clã, perderam a vida. Cruzaram o
Tâmisa por uma passagem elevada de pedra e logo por uma ponte de madeira que se estendia
sobre um fosso. A seguir entraram no complexo através da grade levadiça de Middle Gate. O
capitão Harding puxou as rédeas em frente a uma pesada porta de carvalho cravejada com rebites
de ferro e ajudou Elissa a desmontar.
Pegou a mochila, abriu a porta e a fez passar. Elissa entrou na escura sala de espera e se
deteve bruscamente.
— Sobe a escada, minha senhora — incitou Harding.
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A Elissa tremeram as pernas quando ficou olhando as úmidas paredes de pedra e a estreita
escada em caracol que dava só Deus sabia aonde. Ia ser aquela sua tumba? Perguntou‐se
angustiada.
Penduraria de uma das forcas do Tower Hill?
Harding deu um toque nas suas costas e ela se moveu com absoluta rigidez para a escada.
Elissa tremeu incontroladamente quando um calafrio gelado abriu caminho por sua roupa úmida,
congelando seus ossos.
Damian, meu amor, necessito‐te, gritou seu coração em silêncio. Voltarei a estar alguma vez
sã e salva entre seus braços?
Chegou ao alto da escada e esperou a que o capitão Harding se dirigisse a ela.
— Gire à direita — ordenou Harding.
Elissa tomou um corredor úmido e frio, vagamente iluminado por tochas colocadas em
suportes fixados na parede. Parecia algo tirado de épocas escuras. Em Elissa os dentes começaram
a bater e abraçou a si mesma, mas não encontrou calor em seus próprios braços.
— Se detenha.
Elissa parou em frente a uma porta fechada. Harding chamou e abriu quando deram
permissão para entrar. Manteve a porta aberta e fez um gesto para que passasse diante dele.
— Chegou sua nova prisioneira, tenente Belton.
Elissa olhou ao homem que estava sentado atrás da escrivaninha com curiosidade e com
uma boa dose de medo. Era um homem grande, de compleição corada e enorme nariz. Seu corpo,
parecido ao de uma salsicha, estava embutido em um uniforme que esticava pelas costuras.
Levantando da escrivaninha, observou Elissa com encantado interesse.
— Quem é? O que é que fez? — perguntou Belton.
— Chama‐se Elissa Fraser; é uma simpatizante jacobina.
Belton saiu detrás da escrivaninha com o olhar cravado no rosto de Elissa. Ela retrocedeu
quando Belton estendeu a mão e afastou um cacho molhado da fronte.
— Eu gosto do cabelo vermelho — disse Belton sorrindo. — Está condenada à forca?
— O rei não decidiu ainda o destino da dama. E não te equivoque, Belton, é uma dama —
advertiu Harding, pegando por surpresa Elissa. — Trata‐a como tal.
Belton deu de ombros.
— Não tem nada a temer de mim. Minha esposa não me permite isso. Mas não posso falar
pelos zeladores. São uns tipos perigosos, como você bem sabe.
Harding dirigiu a Elissa um olhar carregado de compaixão e logo partiu, deixando‐a aos
cuidados de Belton. Elissa tremeu enquanto esperava a que Belton dissesse o que vinha depois
naquele pesadelo em que se via imersa.
— Vou te mostrar sua cela para que possa te instalar — disse Belton. — Um zelador te levará
água e comida mais tarde. As comidas não são tão esplêndidas como aquelas que está
acostumada, mas será suficiente para alguém tão miúda como você. Vêm comigo, senhora.
Reunindo toda sua coragem, Elissa disse:
— Sou uma dama. Deve se dirigir a mim por meu título.
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— Aqui não é absolutamente ninguém, senhora. Me siga.
Agarrando sua mochila com dedos rígidos, Elissa sentiu como sua fanfarronice se vinha
abaixo enquanto o seguia pelo estreito corredor para outras escadas. Finalmente, o tenente
Belton se deteve em frente a uma grossa porta de carvalho. Pinçou no anel de chaves que
pendurava do seu cinto, escolheu uma e a meteu na fechadura. Logo abriu a porta e deu um
empurrãozinho para que entrasse.
Elissa deixou a mochila no chão e olhou a seu redor com crescente apreensão. A cela
cheirava a umidade e a podre. Sentiu uma correnteza fria e olhou para a janela de barrotes que
havia do outro lado da cela, estremecendo quando uma rajada de ar gelado passou através dela.
Fez um esforço por afastar a vista da janela e viu uma estreita cama coberta por um lençol sujo e
uma única manta.
Rezou para que não estivesse infestada de insetos. Um candelabro vazio colocado sobre uma
mesinha e um tamborete baixo eram os únicos mobiliários, além da cama. Não havia nenhuma
fonte de calor que Elissa pudesse ver, e não queria sequer pensar no urinol que havia em um
escuro canto.
O nauseante fedor que saía do urinol fez que Elissa fosse para trás. Horrorizada, desviou de
novo a vista para Belton com as sobrancelhas elevadas, o questionando em silêncio seu bom
julgamento por tê‐la acomodado em um lugar tão miserável.
— Fique cômoda — aconselhou‐a Belton. — Com o tempo te acostumará.
Com o coração golpeando grosseiramente contra o peito, Elissa soube que nunca se
acostumaria a uma cela tão deprimente.
— Um zelador te trará comida e uma vela. Utiliza a vela com moderação, porque trocam isso
só cada três dias. Esvaziarão o urinol cada manhã e darão duas refeições diárias, o café da manhã
e outra mais tarde. O zelador se ocupará de suas necessidades como ele julgue necessário. Se tiver
dinheiro ou pode conseguir algo, diga e ele te proporcionará pequenas comodidades que em
outro caso não teria.
— Pequenas comodidades? — perguntou Elissa. — Não entendo.
— Coisas como uma manta mais grossa, ou um pedaço de carne na sopa. Talvez um braseiro
para que se aqueça.
— Não tenho dinheiro nem conheço ninguém em Londres.
— Ah, vá, má sorte. Bom dia, pois, senhora.
Belton saiu pela porta e fechou com chave atrás dele, deixando Elissa isolada do mundo.
Nunca se sentiu tão abandonada nem tão assustada... era como se a vida estivesse indo
lentamente.
Deixou‐se cair sobre o beliche, muito abatida e torpe para pensar com clareza. A palha
rangeu debaixo dela e um fedor a mofo surgiu da rugosa superfície. Então um rato curioso
apareceu de debaixo da cama e brincou de correr sob sua saia molhada. Elissa congelou um grito
na garganta enquanto ficava de pé de um salto e subia cambaleando em cima do tamborete.
O rato se apoiou nas patas traseiras e a olhou com seus olhinhos pequenos e brilhantes. Foi
uma espécie de empate, até que finalmente o rato se aborreceu e escapuliu dali.
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Absolutamente desesperada, Elissa temeu não ser capaz de sobreviver à Torre. De repente
ocorreu que possivelmente se supunha que não devia sobreviver, que o rei queria que morresse
ali.
Onde estava Damian? Acaso suas promessas eram vazias?
Elissa desceu do tamborete, recolheu as saias e tomou assento em sua dura superfície.
Permaneceu ali durante o que a ela pareceu uma eternidade, tremendo, mas sem a energia
suficiente para se trocar e colocar roupa seca.
As sombras haviam crescido grandemente quando escutou a chave girando no ferrolho.
Um homem entrou na cela.
— Sou o zelador, senhora. Trago‐te algo de comer — disse fechando de uma portada com o
salto de sua bota. Parte do conteúdo da terrina se derramou quando o colocou com força sobre a
mesa junto a um pedaço de pão mofado e negro e uma colher. Quando Elissa elevou a vista para o
rosto do homem, seu ânimo decaiu até o ponto mais baixo, porque a estava olhando com lascívia
com seus olhos pequenos e maliciosos.
Colocando a cara perto da sua, o zelador disse: — Bem, senhora, está já instalada?
Seu fôlego resultava tão repugnante que Elissa recuou para trás para escapar do fedor.
— Este é um lugar horrível — disse com um calafrio.
O homem riu com dissimulação, deixando a descoberto um montão de dentes podres.
— Meu nome é Dooley. Está melhor aqui que no Old Bailey ou na prisão do Fleet — pinçou
no bolso de seu casaco e tirou uma vela suja e uns quantos fósforos. Colocou a vela no candelabro
e deixou os fósforos ao lado, na mesa.
Elissa olhou a terrina e retrocedeu com repugnância. — O que é isto?
Dooley lançou um olhar exasperado. — Sopa de repolho. Será que está cega?
Elissa seguiu olhando‐o. Não se parecia com nada comestível que viu em sua vida.
— Não é de seu gosto, senhora? —Elissa afastou a terrina a um lado.
— Eu... não tenho fome.
Dooley a olhou de forma matreira. — Posso conseguir algo que você goste mais se tiver
dinheiro para pagar. Também posso te trazer um braseiro, e possivelmente outra manta.
— Não tenho dinheiro.
— Então suponho que chegará a gostar da comida, e que suportará o frio, verdade?
— Queria um pouco de água, por favor.
— É uma mandona, verdade? Trarei um pouco de água.
O zelador partiu e retornou uns instantes mais tarde com uma jarra de água e uma caneca
pequena.
— Se quiser algo de mim — disse em tom provocador, — golpeia a porta com a caneca. Se
mudar de opinião a respeito dessas comodidades extra que te mencionei, há outras formas de
pagar por elas, já sabe o que quero dizer.
— Não necessito nada de ti — espetou Elissa.
— Você mesma, senhora — respondeu Dooley. — Desfruta de sua estadia conosco — A
porta se fechou atrás dele.
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Elissa deixou escapar um suspiro de agradecimento quando Dooley partiu. Finalmente se
deu conta de que estava gelada e que precisava trocar de roupa se não quisesse cair doente.
Um braseiro teria sido um luxo bem‐vindo, mas preferia morrer congelada antes de vender
seu corpo ao Dooley.
Retirando‐se a um canto escuro, Elissa tirou a roupa da mochila e tirou os objetos molhados
para colocar os secos. Logo os estendeu sobre a mesa e o tamborete para que secassem.
Sumida no desespero, sentou‐se na borda da cama, colocou a manta sobre os ombros e se
rendeu à angústia. As lágrimas começaram a cair quando os ratos saíram de seus esconderijos e
cheiraram ao redor da terrina de sopa de repolho que deixou no chão quando colocou a roupa
para secar.
Elissa se permitiu uns minutos de auto compaixão, logo estirou os ombros e secou as
lágrimas. Sucumbir ao desespero não ia ajudá‐la. Devia pensar positivo se quisesse sobreviver.
Precisava acreditar que Damian iria em sua busca. Se perdesse a esperança, perderia a si
mesma, e não podia permiti‐lo, não deixaria que isso ocorresse. Nem tampouco permitiria que
aqueles asquerosos ratos a assustassem.
Era maior que eles, verdade? Entretanto, não se moveu da cama até que a necessidade a
obrigou a se aliviar no repugnante urinol. Os ratos terminaram por se dispersar, então Elissa se
levantou e inundou a caneca na jarra de água. Depois de beber avidamente, voltou a introduzir a
caneca na água e a utilizou para lavar as mãos e o rosto.
Ficou sentada na escuridão longo tempo até que finalmente adormeceu. Quando abriu os
olhos horas mais tarde, um turvo quadrado de luz estava entrando pela janela. Elissa recebeu a
lúgubre manhã com esperança reduzida e ânimo vacilante. Estava com as pernas rígidas e as mãos
frias quando se separou da cama, dobrou cuidadosamente a roupa que secou durante a noite,
guardou‐a na mochila e tirou sua escova.
Estava tentando domar seu enredado cabelo quando chegou Dooley com o café da manhã.
Elissa olhou a papa aguada e o pedaço de pão duro e perdeu de repente o apetite.
— Dormiste bem? — zombou Dooley. Elissa o ignorou.
— É uma cadela arrogante, verdade? Eu posso fazer que as coisas melhorem para ti.
— Já disse isso, não tenho dinheiro. —O zelador cravou a vista em seus seios.
— Seja boa comigo e me esquecerei do dinheiro — acariciou seu cabelo. — Aposto que é
uma fera selvagem na cama.
Tremendo de indignação, Elissa afastou bruscamente sua mão. — Não me toque!
Dooley a olhou.
— Não está em posição de me dar ordens, senhorita. Garanto‐te que mudará de opinião
quando tiver suficiente frio e suficiente fome. Coma a papa. É a única coisa que obterá até o
jantar.
O zelador agarrou o urinol e se dirigiu para a porta, deixando Elissa a sós com seus
horrendos pensamentos.
Elissa padeceu em circunstâncias extremas durante mais dias dos quais queria reconhecer. O
repugnante fedor da comida que ofereciam lhe causavam náuseas e a obrigava a afastá‐la, e
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quando a fome a forçava a comer, vomitava com frequência no urinol. Sentia frio, fome, estava
exausta e se sentia absolutamente abatida. As pervertidas brincadeiras de Dooley era outro mais
de seus males.
Se entretinha descrevendo com detalhe os favores que esperava dela em troca de melhor
comida e maiores comodidades.
À medida que transcorriam os dias, Elissa começou a temer que o rei tivesse esquecido dela
e que Damian a tivesse abandonado.
Coberto de lama e com uma barba de vários dias, Damian chegou a Londres uma semana
inteira depois de Elissa. Embora estivesse tremendamente preocupado pelo destino que teria
sofrido Elissa, ocupou‐se do alojamento de seus homens e alugou um quarto para ele em cima de
um botequim situado não muito longe do edifício do Parlamento. Devido ao quão tarde que
chegaram, não era factível tentar conseguir uma entrevista com o rei, assim pediu uma tina e um
pouco de comida e repassou a petição de inocência que confiava em poder apresentar ao rei em
nome da Elissa à manhã seguinte.
O que teria acontecido com Elissa? Perguntou‐se. Seguiria viva? Deteve‐se para perguntar a
um vendeiro a caminho da cidade e sentiu um grande alívio ao saber que não se produziu nenhum
enforcamento durante a semana passada.
Isso significava que existia a possibilidade de que Elissa seguisse viva. Mas, em que
condições?
Depois de se banhar e comer, Damian percorreu as ruas em busca de informação. Umas
quantas pessoas recordavam ter visto um grupo de soldados escoltando a uma moça pelas ruas de
Londres, mas ninguém parecia saber o que aconteceu com ela. Abatido, Damian retornou a seu
quarto e tentou dormir. Precisava estar em plena forma no dia seguinte.
Muitas pessoas contavam com que ele levaria de retorno Elissa ao Misterly. Não cabia a
opção de retornar sozinho. Passar o resto de sua vida sem ela era ainda menos aceitável.
O sol mal começou a surgir quando Damian entrou na manhã seguinte no edifício do
Parlamento. Viu‐se obrigado a esperar em uma sala de espera até que começaram a chegar mais
suplicantes.
Pouco tempo depois chegou um tabelião para entrevistar a aqueles que solicitavam ter uma
audiência com o rei. Quando chegou seu turno, Damian deu seu nome e indicou o propósito pelo
que solicitava audiência.
O tabelião anotou algo em um livro e disse que esperasse a chamada do rei.
Damian esperou durante horas na sala de espera enquanto outros eram escoltados à zona
de recepção. Transcorrera a metade do dia quando o tabelião anunciou que o rei se retirou a seus
aposentos privados para descansar e que as audiências haviam terminado por aquele dia.
Convidava a quão suplicantes faltavam a retornar no dia seguinte.
Damian estava tão furioso que esteve tentado de jogar pela janela a precaução e abrir
caminho até os aposentos privados do rei, exigindo que o escutasse. Entretanto, prevaleceu a
prudência e partiu sem provocar alteração.
Damian retornou no dia seguinte, e no outro, cada vez mais furioso ao ver que sua petição
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de audiência era descaradamente ignorada. Quando no terceiro dia por fim lorde Pelham o
chamou à zona de recepção, esgotara por completo sua paciência e sua esperança pendia de um
fino fio.
— Obrigado por me conceder audiência, senhor — disse Damian com voz rígida pela
impaciência.
— O que está fazendo em Londres, lorde Clarendon? Te ordenei permanecer em Misterly,
não é assim?
Damian demorou um longo tempo em compreender algo daquela frase devido ao gutural
acento do rei. Finalmente, disse:
— Sim, senhor, mas estava angustiado por minha esposa. Talvez seja o suficiente generoso
para me dizer o que aconteceu com ela.
Uma voz feminina o abordou da soleira da porta. — Inteirei‐me que solicitaste audiência
com o rei, Damian. Não te disse Sua Majestade que não tem esposa e nunca tivesse?
Kimbra avançou para ele como um navio a toda vela.
— Lady Kimbra — disse Damian inclinando‐se educadamente para a mão estendida da
dama. — Lamento não estar de acordo contigo. O Padre Hugh casou Elissa e a mim quando você
partiu de Misterly.
— Digo eu ou você o conta, Majestade? — perguntou Kimbra com doçura.
Suas cordiais maneiras não conseguiram enganar Damian. Sentiu um profundo incômodo na
boca do estômago.
Lorde Pelham se encarregou da explicação.
— Se tivesse permanecido em Misterly, lorde Clarendon, teria recebido a notícia da nulidade
de seu matrimônio. Dado que não tinha permissão para se casar, Sua Majestade declarou suas
bodas nula. Se por acaso não o recorda, a Ata Marital Britânica proíbe as bodas não autorizadas.
Damian empalideceu imediatamente. — Não pode fazer isso.
— OH, claro que pode — sorriu Kimbra com suficiência. — Se considere afortunado por ter
se libertado dessa jacobina.
— Senhor, o que fez a Elissa? — quis saber Damian.
— Nada... ainda — respondeu o rei. — Enviamo‐la à Torre enquanto decidimos seu destino.
Segue ainda ali, não é assim, lorde Pelham?
— Certamente, senhor.
Damian sentiu o sangue congelar nas veias. A Torre! Visitou aquele lugar em uma ocasião e
estava familiarizado com aquelas celas frias e úmidas. Não o desejaria nem a seu pior inimigo.
— Quero vê‐la.
Kimbra deu um passo adiante com expressão feroz.
— Suplico‐lhes que não o permitam, senhor. Essa mulher me causou uma grande dor e uma
grande vergonha.
Damian fez um esforço por conter a ira.
— Elissa não te fez nada. Você a odiou desde a primeira vez que a viu e não fez mais que
insultá‐la. Nada em Misterly te agradava. Suas irracionais exigências converteram em inimigos às
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mesmas pessoas cuja lealdade eu estava tentando conquistar.
— Mente! — disse Kimbra entre dentes. — Essa jacobina o enfeitiçou. Lorde Damian foi
negligente em seu dever para você. Deveria ter enviado essa mulher ao convento, como você
ordenou.
— Está amargurada porque preferi a Elissa — arremeteu Damian. O rei elevou uma mão
para pedir silêncio.
— Já ouvimos suficiente — disse. — Lady Kimbra nos contou tudo o que precisamos saber.
Faça saber nossa decisão, lorde Pelham, porque as palavras inglesas não vêm a mim com
facilidade.
Lorde Pelham clareou a garganta.
— Isto é o que diz Sua Majestade. Desobedecestes suas ordens e contraístes um matrimônio
fraudulento com uma mulher que conspirou com um foragido para cometer traição.
Em Damian formou um nó na garganta.
— Elissa não conspirou com o Gordon — olhou fixamente a Kimbra. — Acusaram‐na
falsamente.
Pelham fez um gesto de impaciência.
— Retorne para Misterly, lorde Clarendon. Aqui já não pode fazer nada mais.
— O que vai acontecer com Elissa?
— A traição é um cargo muito grave, castigado com a morte.
Ao Damian subiu a bílis à boca. Não permitiria semelhante farsa.
— Suplico‐lhes isso, me tirem Misterly, me despojem de meu título, façam comigo o que
desejem, mas perdoem a vida a Elissa.
— Talvez haja uma maneira — disse lorde Pelham acariciando o queixo enquanto trocava
um sorriso malicioso com Kimbra.
— Qualquer coisa! O que seja — respondeu Damian sentindo como seu ânimo se agarrava a
um fino fio de esperança.
— É algo muito simples em realidade — disse lorde Pelham. — Sua Majestade segue
pensando que é o melhor homem para Misterly, e deseja que conserve seu título, embora sob
certas condições, é obvio.
— É obvio — respondeu Damian com secura. Não esperava menos.
— Sua Majestade quer que siga adiante com seu matrimônio com lady Kimbra. Falei com a
dama e ela está disposta a deixar o passado para trás e a inclinar‐se ante os desejos do rei.
— Querem que me case com lady Kimbra? — repetiu Damian paralisado.
— É um bom acordo — interveio ela.
— Perdoarão a vida de Elissa se me casar com lady Kimbra?
— Sim, Clarendon, como acabo de dizer. Não é assim, Majestade?
O rei Jorge assentiu para dar sua aprovação e fez um gesto a lorde Pelham para que
continuasse.
— É o desejo de Sua Majestade que lady Kimbra e você se casem em seus aposentos
privados dentro de dez dias.
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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Lady Kimbra pediu a Sua Majestade para pospor sua volta ao Misterly até que tenha
terminado a temporada em curso, e Sua Majestade acessou graciosamente. —Esta satisfeito,
lorde Clarendon?
— Isso depende — respondeu Damian devagar, — dos planos que tenham para a Elissa.
— Não me ouvistes? — repreendeu‐o lorde Pelham. — A essa mulher vamos perdoar a vida.
— Será livre de retornar a Misterly?
— Verdadeiramente, lorde Damian — repreendeu‐o Kimbra, — como pode perguntar uma
coisa assim? Não quero essa mulher em minha casa. Viverá, com isso deveria te bastar.
— Isso não é aceitável. Elissa não sobreviverá se for obrigada a permanecer na Torre.
— Como se atreve a questionar a generosidade de Sua Majestade? — arremeteu lorde
Pelham. — Se por acaso não o recorda, a alternativa à Torre é a morte.
— Sua Majestade — disse Damian dirigindo‐se diretamente ao rei, — me permita que o
recorde que ninguém pode defender Misterly como eu. Os Fraser começaram a confiar em mim.
Rechaçaram a Tavis Gordon e aos rebeldes de seu clã a meu favor. Se Misterly for parar em outras
mãos, é muito possível que surjam problemas aos quais neste momento dificilmente poderá fazer
frente.
— Não obstante — interveio lorde Pelham com arrogância, — não têm direito a exigir nada a
seu rei.
O rei Jorge clareou a garganta e fez um gesto para pedir silêncio.
— Escutaremos o que tenha a dizer lorde Clarendon. Que se necessita para conseguir sua
cooperação?
Damian falou com firmeza e sem deixar que o medo se apoderasse dele. Elissa poderia
morrer na Torre se suas palavras não conseguissem convencer ao monarca.
— Casarei com lady Kimbra, A honrarei como esposa e protegerei Misterly com minha vida,
mas só se libertarem a Elissa da Torre. Inclusive acessarei a passar a temporada de baile em
Londres para agradar a lady Kimbra, embora não me agrade fazê‐lo. O que me diz, senhor?
As esperanças de Damian aumentaram enquanto o rei Jorge e lorde Pelham se consultavam
em sussurros e gestos exagerados. Damian esperou ansiosamente com um nó no estômago a
resposta do rei.
Não havia nada mais que pudesse dizer. Confiava em que tivesse sido suficiente.
— Assim realmente ama a essa jacobina — disse Kimbra em um à parte enquanto
esperavam a resposta do rei e do Pelham. — Que curioso.
— Você não o entenderia, Kimbra. Nunca terei contigo o que tive com Elissa.
Kimbra deu de ombros.
— Dá no mesmo para mim. Não é amor o que peço. Seu corpo me satisfará.
— Prometi ao rei que cumpriria minhas obrigações contigo, e isso farei — assegurou Damian
com gravidade.
Kimbra dirigiu um olhar sedutor e bateu as pestanas. — Isso é a única coisa que quero,
Damian — afirmou.
A conversa entre o rei e Pelham chegou a seu fim. Damian centrou neles toda sua atenção.
Connie Mason
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Falou com tanta ousadia que não era irracional pensar que pudesse terminar na Torre com a
Elissa.
— Lorde Clarendon — começou a dizer Pelham, — Sua Majestade reconhece a valente
defesa que fez de seu rei e sua pátria e deseja que siga sendo o senhor de Misterly. Portanto,
acessará a sua petição. A senhora Fraser será liberada da Torre para ser escoltada ao convento da
Santa Maria do Mar, seu destino original.
— Se estiver de acordo com estes termos, Sua Majestade e a rainha celebrarão uma
recepção nupcial para você e lady Kimbra.
Elissa ia ao convento. Embora fosse menos do que Damian esperava, era muito melhor que a
Torre e que uma morte segura.
— É extremamente generoso — assegurou Damian engasgando‐se com as palavras. —
Casarei com lady Kimbra.
— OH, Damian — exclamou Kimbra efusivamente, — sabia que entraria em razão. Estou
desejando começar a temporada de baile sendo sua esposa.
— Parte — disse o rei Jorge os despedindo com um gesto da mão. — Estamos exaustos.
Kimbra se agarrou de forma possessiva ao braço do Damian enquanto ambos saíam dos
aposentos privados. As feições do rosto de Damian se endureceram enquanto pensava no sombrio
futuro que se abria ante ele.
O rei poderia obrigá‐lo a se casar com Kimbra, mas ninguém poderia forçá‐lo a amar outra
mulher que não fosse Elissa.
Capítulo 19
Elissa estava aconchegada na cama, envolta em sua capa, com a manta presa aos ombros
para que sentisse mais calor e escutando como o vento uivava através da janela. Não sentia nada,
nada absolutamente.
Para sobreviver, forçou seu corpo e sua mente a um estado de intumescimento. O tempo
carecia de significado. Estava na Torre uma semana ou duas? Parecia uma eternidade.
Observou com escasso interesse como os ratos brincavam a perseguir‐se.
Perdera todo o medo por aquelas odiosas criaturas que engordaram com a comida que ela
não comia. Suas travessuras eram uma diversão que servia para que Elisa esquecesse sua
desgraça.
Acostumada como estava às interrupções externas, não prestou atenção quando se abriu a
porta de sua cela. Soube sem necessidade de olhar que o zelador entrara com uma terrina de
papa, da qual sem dúvida os ratos desfrutariam assim que ele partisse.
Elissa voltou a desejar, e não pela primeira vez, ter algo decente que comer, mas sabia que
existia poucas possibilidades de conseguir. Já não podia seguir negando o que suspeitava desde
que saiu de Misterly.
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Os sinais eram inconfundíveis. Estava esperando um filho de Damian e necessitava comida
mais saudável para que seu filho sobrevivesse.
A menos que suas circunstâncias mudassem, entretanto, Elissa temia não viver o suficiente
para trazer seu filho ao mundo.
Não tinha espelho, mas sabia que os quilogramas de seu corpo se derreteram, e que estava
com as faces afundadas e os olhos sem brilho. Estaria próxima a morte?
Por que Damian a abandonou? Era mentira tudo o que disse? Elissa deixou cair a cabeça
sobre o peito. Estava ferida, desiludida, e desprovida de toda esperança. Não é que a Justiça fosse
cega; em seu caso, simplesmente, não existia.
— Senhora, encontra‐te mau?
Elissa levantou a cabeça. A voz não pertencia ao zelador. — Ouviste‐me, senhora?
Era o tenente Belton.
— Sim, ouvi‐te. O que é que quer?
— Deve vir comigo. O rei deseja verte.
A opacidade desapareceu dos olhos da Elissa, e foi lentamente substituída por um cauteloso
entendimento.
— O rei quer me ver? Me condenou a morte?
— Não sei. Uma vez que tenha saído daqui, já não é minha responsabilidade.
Elissa se levantou vacilante, um remanescente de orgulho inato se reafirmou em seu
interior.
— Não posso aparecer assim diante do rei. Não tomei um banho decente em mais dias dos
que me atrevo a contar, e minha roupa fede.
Belton se aproximou de Elissa e enrugou o nariz enquanto aspirava com cuidado o ar.
— Sim, senhora, o certo é que te rodeia um aroma pestilento.
— E bem — inquiriu Elissa com um toque de sua antiga coragem. — O que pensa fazer a
respeito? — reafirmar a fez sentir tão bem que automaticamente adquiriu a postura que
acompanhava a sua atitude.
— Me siga. Há uma sala de limpeza perto de meus aposentos. Pode utilizá‐la.
— E a roupa? Nego‐me a me apresentar ante o rei vestida como uma mendiga.
— Verei se minha esposa tem algo que te possa pôr. Vem comigo. —Elissa agarrou sua
mochila e seguiu Belton por tortuosas passagens até chegar à sala de limpeza de suas habitações
privadas.
A emoção se apoderou de Elissa quando viu a grande tina de madeira que havia no centro da
pequena sala.
Belton chamou um criado e ordenou água quente para a banheira. — Não demore — a
advertiu. — O rei não gosta que o façam esperar.
Meia hora mais tarde, com um opaco mas limpo vestido de sarja que a mulher de Belton
emprestou generosamente, Elissa estava preparada para conhecer seu destino. A amável senhora
inclusive levou uma pastilha de sabão de doce aroma e uma toalha, e desejou sorte.
Elissa acabava de passar a escova pelo cabelo úmido quando Belton retornou.
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— É hora de ir, senhora. Sua escolta está esperando — disse Belton.
Elissa seguiu Belton através de frios e úmidos corredores e desceram por umas estreitas
escadas até o nível do chão. Quando o tenente abriu a porta, a luz, a que já não estava
acostumada, cravou em suas pálpebras, e Elissa fechou os olhos para evitar o deslumbramento.
Quando os abriu, surpreendeu‐se e em certo modo a animou ao encontrar o capitão Harding que
a estava esperando. Afinal, era um rosto conhecido.
— Estivestes doente, minha senhora? — perguntou Harding com preocupação. — Têm má
cara.
Elissa conteve uma risada amarga. Dizer que não estava com bom aspecto era dizer muito
pouco.
— Uma estadia na Torre não proporciona boa saúde — assegurou com ironia.
Harding se limitou a assentir enquanto a ajudava a montar, atava a mochila na sela e guiava
os cavalos através do portão para cruzar a ponte de Londres e sair a seu enxame de ruas.
Depois de estar tanto tempo confinada, Elissa observou o ir e vir das pessoas com encantada
atenção. Embora não gostasse de Londres, a considerava uma cidade interessante devido à
diversidade de seus habitantes.
Chegaram ao edifício do Parlamento antes do que Elissa gostaria. Não a entusiasmava a
perspectiva de escutar o destino que o rei inglês decidiu para ela.
O capitão Harding a ajudou a desmontar, desatou a mochila e a levou diretamente aos
aposentos privados do rei, onde a deixou.
— Que Deus a acompanhe, minha senhora — disse Harding quando o guarda do Palácio
abria a porta para fazê‐la passar.
Elissa ficou paralisada, apertou com força os dedos ao redor da alça de sua mochila como se
fosse a correia de salvamento que a mantinha viva. O rei fez um gesto para que se aproximasse,
mas ela não se moveu.
Enfrentar a sua própria morte requeria uma imensa coragem, algo do qual ela carecia
naquele momento.
— Pode te aproximar, senhora — ordenou o rei.
Ao ver que Elissa não respondia, disse em um à parte a lorde Pelham:
— Diga você, talvez não tenha me entendido.
— Não ouvistes sua Majestade? — perguntou Pelham com impaciência. — Pode se
aproximar. Não se esqueça de fazer uma reverência.
Percebendo que estava se pondo em evidencia diante dos homens e mulheres que assistiam
ao rei, Elissa estirou os ombros e avançou com todo o aprumo que foi capaz de reunir.
Fez uma reverência sem que parecesse que se humilhava e esperou a que aquele martelo
conhecido como Justiça Inglesa caísse sobre ela.
Escutou um som abafado que procedia de algum lugar próximo, mas mal prestou atenção
até que percebeu que se tratava de seu nome. Girou a cabeça, observando com ávida curiosidade
os rostos que a olhavam fixamente.
Seu olhar passou por diante de Damian, e logo voltou a cravar‐se nele. Não estava sozinho.
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Kimbra estava a seu lado, colada a seu flanco. Sem poder acreditar no que via, Elissa piscou, mas
ali seguiam quando abriu os olhos. A dor se apoderou de seu coração. Não necessitava mais
provas de que o homem a quem amava a abandonou.
Como podia ter sido tão estúpida? Perguntou‐se Elissa. Damian não queria a ela, queria
Misterly e faria tudo o que estivesse em sua mão para não perder seu prêmio. Até que extremos
seria capaz de chegar para alcançar seu fim?
— Senhora, esta nos escutando?
Elissa fez um esforço por voltar a centrar‐se no rei. — Sinto muito, senhor, estava com a
cabeça em outro lugar.
— Não ouviste nada do que havemos dito?
— Sinto muito — repetiu ela.
O rei soprou para mostrar sua desaprovação. — Faça saber nossa decisão, lorde Pelham.
— O que Sua Majestade estava tentando dizer — repetiu Pelham com crescente
impaciência, — é que vai liberá‐la da Torre.
Elissa ficou muito quieta. — me liberar? Sou livre para partir?
— Não exatamente. Sua Majestade está a par de sua fé católica, e confia em que aprecie sua
generosidade. Uma escolta a acompanhará ao convento da Santa Maria do Mar, onde dedicará o
resto de sua vida à oração e as boas obras.
Se abandonar o convento sem permissão, a Madre Superiora nos notificará. Será declarada
fora da lei e condenada a morte quando a prenderem.
Elissa conteve o fôlego. Iam enviá‐la à Santa Maria do Mar. O convento só estava a um dia
de caminho do Misterly. Levando‐se em conta que na Inglaterra protestante existiam já poucos
conventos, supôs que mandá‐la a Escócia era mais conveniente que desterrada a um convento
espanhol ou francês. Regozijou‐se secretamente. Preferia o convento à Torre.
— Uma advertência — continuou Pelham, — o convento e suas moradoras devem sua
existência a Sua Majestade, assim não tente sair dali sem permissão nem espere um tratamento
especial.
Elissa considerou as palavras de lorde Pelham e decidiu que escaparia do convento apesar
das advertências. Não a atemorizava se converter em uma fora da lei, porque seria livre.
Sabia que desde que deixasse o convento, levaria semanas para que a notícia chegasse a
Londres. Seria tempo suficiente para recolher a sua mãe e sua irmã e levá‐las ao Glenmoor.
O único problema era que teria que fazê‐lo antes de que Damian retornasse ao Misterly.
Os silenciosos pensamentos da Elissa ficaram interrompidos quando Damian se aproximou
do trono e perguntou ao rei se podia falar um momento com ela. Depois de um instante de
vacilação, o rei deu seu consentimento com reticência.
Elissa percebeu que Kimbra não achava nenhuma graça, porque disse algo ao Damian com
um grunhido que fez franzir o cenho e retirar sua mão do braço.
Damian se virou para Elissa e a olhou fixamente nos olhos, como se estivesse tentando
transmitir uma mensagem.
— Só quero desejar a lady Elissa uma boa viagem — disse com grande seriedade. — E dizer
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que lady Kimbra e eu vamos nos casar.
Elissa cambaleou como se tivesse levado um golpe. Teria que tê‐lo esperado, mas mesmo
assim era insuportavelmente doloroso.
Parecia como se Damian quisesse se aproximar dela, mas Elissa soube que estava
imaginando.
— Estava a par de que nosso matrimônio foi declarado ilegal?
Acaso queria feri‐la intencionadamente?
— Sim. Sabia. Sua prometida e você retornarão ao Misterly imediatamente depois das
bodas?
— Não, lady Kimbra deseja desfrutar primeiro da temporada de baile em Londres —
respondeu Damian.
A dor da traição de Damian era quase insuportável, mas que a crucificassem se permitisse
que suas cruéis palavras a destruíssem. Além disso, se queria que funcionasse o plano de tirar sua
mãe e a sua irmã de Misterly, era melhor que Damian não estivesse ali para impedi‐la. Pelo que a
ela se referia, podia consentir a sua prometida tudo o que quisesse, porque isso encaixava
perfeitamente com os planos da Elissa.
— Quando é as bodas? — perguntou com escasso entusiasmo.
Damian abriu a boca para responder, mas lorde Pelham o impediu.
— As bodas terá lugar nos aposentos privados de Sua Majestade dentro de dez dias. Isso é
tudo o que precisa saber. Eles a escoltarão ao convento imediatamente.
Elissa não se surpreendeu com aquela abrupta maneira de despedida.
Sabia que era tão pouco bem‐vinda ali como a peste. Nem o rei nem Damian podiam
suportar tê‐la diante. Quanto antes se livrassem dela, melhor. Entretanto, assombrava‐a a decisão
da Coroa de ingressá‐la em um convento em lugar de executá‐la. Teria solicitado alguém ante o rei
que perdoasse sua vida?
Os pensamentos da Elissa ficaram interrompidos quando se abriu a porta da estadia e entrou
o capitão Harding... que supôs seria sua escolta. Olhou de esguelha o rosto do Damian enquanto
fazia uma reverência sem entusiasmo.
Sua expressão a surpreendeu. Dor, compaixão, ira, ansiedade e algo mais. Amor? Seguro que
não. O amor que Elissa acreditou que existia entre eles era um mito.
Damian possuía agora tudo o que sempre desejou, enquanto que ela não tinha mais que o
filho que crescia em seu ventre.
— Estou preparada, capitão — disse enquanto Harding a agarrava pelo braço para
acompanhá‐la fora dali.
Damian observou como partia Elissa, com a cabeça muito alta e as costas estirada. Nunca
esteve tão orgulhoso dela. Sentia o coração se partir ao ficar ali quieto e ver como o amor de sua
vida se afastava.
Nunca voltaria a estreitá‐la entre seus braços, nem faria amor, nem diria que a amava.
Salvou Elissa de uma morte certa, mas, a que preço?
Embora Misterly seguia sendo dele, a entregaria encantado por um só beijo mais dos doces
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lábios da Elissa. Kimbra não podia substituir à mulher que acabava de perder, e Deus sabia que
teria que se obrigar a se deitar com ela.
E cada vez que se deitasse com Kimbra, seria o rosto da Elissa o que veria, os lábios da Elissa
os que beijaria, o corpo da Elissa o que amaria.
Um lento sorriso curvou seus lábios. De repente ocorreu a maneira de poder ver Elissa e
contar a verdade a respeito de Kimbra. Poderia fazer que funcionasse?
Um rápido plano foi tomando forma em sua mente enquanto acompanhava Kimbra a seu
dormitório.
— Tudo foi bem — disse Kimbra com suficiência. — A jacobina desapareceu de nossas vidas
para sempre. Me acompanhará esta noite à velada musical dos Cavandish? Será a ocasião perfeita
para anunciar nossas imediatas núpcias.
— Tenho outros planos — disse Damian.
— Não podem esperar? — Kimbra pôs sua mão no peito. — Necessito‐te — ronronou
sedutoramente. — Estamos prometidos. Quero que venha esta noite a minha cama.
A dureza da expressão do Damian deveria ter servido a Kimbra de advertência, mas parecia
muito absorta em suas próprias necessidades para perceber enquanto deslizava a mão do peito,
aproximando‐a com descaramento para o sexo de Damian.
— Eu posso fazer que isto endureça, Damian. —Agarrou sua mão e a afastou dali.
— A nossa união não é uma nascida do amor, Kimbra. Os dois sabemos que vou me casar
contigo para salvar a vida de Elissa. Cumprirei com meu dever, mas não até que precise fazê‐lo.
Virando‐se sobre os calcanhares, deixou Kimbra sem olhar uma só vez para trás.
Apesar da fria e brumosa chuva, Elissa seguiu o passo de sua escolta quando saíram de
Londres em direção ao norte.
— Deteremo‐nos nas estalagens quando as encontrarmos — informou‐a o capitão Harding
colocando‐se a seu lado. — E quando não houver nenhuma disponível, procuraremos refúgio em
casas particulares. Também trouxemos uma tenda para sua maior comodidade — examinou seu
rosto. — Esta muito pálida, e muito mais magra que a última vez que a vi, assim tentarei que esta
viagem seja o mais cômoda possível para você.
— Agradeço sua preocupação, capitão — disse Elissa com afeto. — A Torre é um lugar
insalubre. O ar fresco fará maravilhas comigo, embora estaria melhor se não chovesse.
Para zombar de suas palavras, os céus se abriram e a chuva caiu com força neles. Elissa
cobriu a cabeça com o capuz e estremeceu sob sua capa. Levou uma surpresa ao ver que o capitão
Harding tirava sua própria capa e a colocava ao redor dos ombros. A compaixão ainda existia
naquele mundo tão duro, pensou enquanto sorria para agradecer.
Elissa só estava um pouco molhada quando entraram no pátio da estalagem Royal George.
Um moço chegou correndo para se encarregar dos cavalos enquanto o capitão Harding a
acompanhava a toda pressa ao interior da estalagem.
Elissa se dirigiu diretamente à sala comum para se esquentar diante do fogo enquanto
Harding reservava os quartos e a refeição.
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Ninguém prestou atenção ao homem encapuzado que entrou na estalagem pouco tempo
depois e se sentava na mesa de um escuro canto sumido nas sombras.
Elissa jantou uma saborosa torta de carne, um cremoso queijo amarelo e macio pão branco,
tudo regado com chá quente. Encontrou inclusive espaço para uma generosa porção de torta de
maçã.
Quando terminou de comer, levantou‐se e pediu permissão para ir‐se. — Posso me retirar
já?
— A acompanharei, minha senhora — disse o capitão Harding.
— Obrigado, capitão. É muito amável.
— Absolutamente, minha senhora. O rei foi muito duro com você quando não havia
necessidade. Em minha opinião, você não fez nenhum mal. Perder a seu marido deve ser
angustiante, e sua estadia na Torre deve ter sido absolutamente desmoralizante, mas ao menos
esta viva.
— Sim — reconheceu Elissa com doçura. "E meu filho também está vivo", pensou colocando
uma mão no ventre enquanto se voltava.
O quarto de Elissa estava no segundo piso. Harding desejou uma boa noite e fechou a porta
ao sair. Ela se aproximou da janela e ficou olhando o chão através da pertinaz chuva.
Observou pensativa o grosso carvalho que crescia ao lado da estalagem, e os ramos nus de
folhas que golpeavam a janela. Só uma louca tentaria descer por aí.
Tinha uma vida que proteger, além da sua, e não valia a pena correr o risco de fazer algo tão
perigoso.
Suspirando com abatimento, fechou as venezianas e tirou sua camisola da mochila. Despiu‐
se rapidamente e a introduziu pela cabeça, acomodando‐a ao redor dos quadris. Logo soprou para
apagar a vela e se meteu na cama, subindo a colcha até o queixo. Fazia semanas que não
desfrutava de um luxo semelhante. O estômago cheio, uma cama cômoda; era a sorte absoluta. A
única coisa que sentia falta era de Damian para que a aquecesse.
Elissa dormiu, mas ao que parece não com a suficiente profundidade, porque escutou um
ruído e sentiu uma lufada de ar frio. Quis pensar que se tratava de sua imaginação até que sentiu
algo acariciando sua face.
Ainda adormecida, tentou afastá‐la, surpreendida quando sua mão entrou em contato com
pele cálida que cobria ossos. Um grito surgiu de sua garganta. Uma mão dura cobriu sua boca e o
som morreu por falta de ar.
— Cala — advertiu uma voz ao seu ouvido. — Tirarei a mão se prometer não gritar.
Elissa assentiu e a mão se separou de sua boca.
— Damian! — sussurrou ela com a respiração agitada. Seu rosto estava escurecido pelas
sombras, exceto seus olhos, que brilhavam como moedas de prata na escuridão.
O último vestígio que restava de sono desapareceu.
— O que está fazendo aqui? Por que não está com sua futura esposa?
Damian se colocou no extremo da cama e acariciou suavemente sua face. Seu contato, a
tensão de seu corpo, tudo nele falava de tristeza e de dor.
Connie Mason
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— Segui‐te até aqui — sussurrou. — Não foi difícil. Cheguei pouco depois que você e me
sentei em um canto escuro da sala comum enquanto você e o capitão Harding jantavam. Quando
te levantou para subir a seu quarto, enfrentei a um dilema. Não sabia qual era seu quarto —
sorriu. — O hospedeiro foi muito complacente quando engordurei a palma da mão com uma
moeda. Mas seguia sem saber como entrar em seu quarto, assim sai para observar a forma do
edifício. Então te vi olhando pela janela. A árvore foi um extra com o que não contava.
— Subiu na árvore?
— Sim. Se essa árvore não tivesse estado à mão, teria encontrado outra maneira. Precisava
me explicar para que não me odiasse.
— Te odiar é muito pouco. Abandonou‐me. A riqueza e as posses significam para ti mais que
meu amor. Vete daqui, não te necessito.
— Não, vais me escutar. Se não aceitasse me casar com Kimbra, a teriam condenado a
morte. Roguei para que perdoassem sua vida, mas o rei se negou a me escutar. Inclusive me
proibiu te visitar na Torre. Estava desesperado por verte. Quando o rei prometeu que te pouparia
a vida se me casasse com Kimbra, não restou opção a não ser aceitar. Embora não voltasse a verte
nunca mais, seguiria viva. E com os recursos que tem, sabia que o convento não te reteria durante
muito tempo.
Elissa escutou as palavras de Damian com franco cepticismo. Desejava desesperadamente
acreditar, e sua explicação fazia sentido, mas era difícil dissipar a dor que produziu seu rechaço.
— Por que deveria confiar em ti? — perguntou com suavidade.
— Porque estou te dizendo a verdade. Teria vindo até aqui para mentir? Não queria que
pensasse que te abandonei. Faria qualquer sacrifício por ti. Algum dia, de algum jeito, voltaremos
a estar juntos de novo.
Elissa o acreditava. Mãe Muito santa, acreditava. Não precisava ver seu rosto para saber que
falava do fundo do coração. Mas já era muito tarde para eles.
Seu matrimônio e sua vida em comum foi cortada com a mesma limpeza como se uma adaga
os separasse.
Necessitava desesperadamente tocá‐lo, então apoiou a mão no seu peito. O calor de seu
corpo atravessou sua palma e se dirigiu a toda pressa a seu coração, que pulsava agitadamente.
Damian reagiu espontaneamente. Gemendo, estreitou‐a entre seus braços. E logo a beijou
com uma ternura que a emocionou. Tinha sabor de chuva, a almíscar e a desespero.
A ameaça de sua permanente separação proporcionou um ar desesperado a seu clandestino
encontro. Bêbado pelo sabor de seus lábios, Damian a beijou uma e outra vez, colando‐se a ela
dos quadris até o peito.
Se aquela seria a última vez que se amariam, Damian queria saboreá‐la. Consciente,
entretanto, de que se o encontrassem com Elissa seria desastroso para ambos, deixou de beijá‐la a
contra gosto.
— Quero te fazer amor, querida. Me dê de presente essa recordação para levar isso comigo
quando nos separarmos.
— Sim, Damian, eu também quero isso. Amo‐te muito. Não importa onde esteja nem onde
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eu esteja, seguiremos sendo um só em nossa alma e em nosso coração.
Ao Damian era difícil expressar seus sentimentos, sobre tudo quando estava sumido na
desesperança, rodeado por ela, consumido nela. Mas pôs cada parte de si mesmo, o coração, o
corpo e a alma naquele beijo.
O sabor de Elissa era de êxtase e o tato da felicidade. Quando as mãos da Elisa puxaram sua
roupa, Damian rapidamente se despojou dela, rompendo o contato com seus lábios só para
inclinar‐se e tirar as botas e as calças.
— Senti sua falta — sussurrou Damian enquanto a estreitava com força entre seus braços.
Deslizou as mãos pelo seu traseiro, agarrando a arredondada carne sob a camisola,
acomodando‐a contra ele. Sua ereção se apertava duramente na parte inferior de seu ventre.
Inclinando a cabeça, meteu um de seus duros mamilos na boca e logo o outro, lambendo‐os,
chupando‐os, fazendo que os quadris de Elissa se retorcessem contra o seu em sedutor abandono.
Murmurando palavras ardentes sobre seu seio, Damian abriu suas coxas e deslizou um dedo
em seu interior. Ela se arqueou ao sentir a pressão, introduzindo mais profundamente seu dedo.
A boca de Damian desceu lentamente, riscando um caminho de beijos de fogo dos seios até
sua feminina fenda, mordiscando com suavidade a protuberância oculta nos cachos que estava
entre as pernas.
Propulsado pelo sabor e o aroma almíscar dela, a língua de Damian rodeou em círculos
aquele ponto tão sensível enquanto introduzia mais profundamente os dedos em seu interior.
Cravou suas unhas desesperadamente na parte posterior do pescoço.
— Por favor. Agora, Damian. Quero‐te agora.
— Sim, agora — murmurou Damian enquanto sua língua encontrava seu ardente centro e se
afundava nele. Lambeu‐o e o seduziu sem piedade, agarrando seus quadris enquanto Elissa se
apertava contra ele.
Damian continuou com sua tortura de amor até que a sentiu ficar tensa e estremecer entre
seus braços.
Quando os tremores desapareceram, Damian se moveu devagar e a colocou em cima dele,
abrindo suas pernas a ambos os lados dos quadris. Esfregou sua ereção contra seu centro, o úmido
calor de Elissa o ungindo com sua essência.
Damian grunhiu em sinal de aprovação quando ela introduziu as mãos entre seus corpos e o
guiou para seu interior. Ele a penetrou lentamente, levantando ao mesmo tempo a cabeça para
mordiscar seus oscilantes seios.
O suor porejou sua fronte quando Elissa se apertou contra ele, levantando‐se e afundando‐
se num ritmo que acendeu a ambos. Damian permitiu que ela tomasse as rédeas até que sentiu
como seu sexo se contraía ao redor dele e começava a tremer, e então se deixou levar por seu
próprio e arrebatado desejo. Agarrando suas nádegas com as mãos, afundou‐se nela uma última
vez, derramando sua paixão em seu interior.
Com a respiração entrecortada, Elissa apoiou a cabeça contra seu ombro e acariciou seu
rosto suavemente com as pontas dos dedos.
Quando Damian recuperou finalmente as forças, separou‐a de si e a acomodou contra a
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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curva de seu corpo.
— Não quero te deixar, querida.
— Oxalá pudéssemos ficar assim para sempre — disse ela com um suspiro tremente. —
Acredita que estaremos juntos alguma vez?
— Se existir Deus, assim será.
Elissa permaneceu em silencio durante um comprido momento. Quando por fim falou,
Damian percebeu seu tom de ansiedade e amaldiçoou a Kimbra por fazer aquilo a ambos.
— E o que acontece com minha mãe e com Lora? Não estarão a salvo em sua casa quando
Kimbra se converta em sua esposa.
— Confia em mim, eu as manterei a salvo. Não permitirei que Kimbra dirija minha casa por
muito que o tente. Sua família terá a opção de permanecer em Misterly ou de reunir‐se contigo no
convento.
Um silêncio tenso seguiu a suas palavras. — Ocorre algo, Elissa?
— Ocorre tudo. Não posso suportar a ideia de que faça amor a Kimbra. O que nós temos é
especial, e não pode ser compartilhado com ninguém mais.
— Nas escassas ocasiões que me veja obrigado a cumprir com meu dever, não se
aproximará, nem remotamente ao que sinto quando faço amor contigo — Damian entreabriu os
olhos, pensativo. — Talvez nem sequer me deite com ela.
— OH, Damian, não posso te pedir isso. Não me faça essa promessa.
— Elissa, eu...
Pôs um dedo em seus lábios.
— Não. Faça amor comigo outra vez. Isso é tudo o que te peço.
Voltaram a se unir; sua agridoce paixão foi tão intensa que nenhum dos dois falou até muito
tempo depois. Quando os raios de luz apareceram através de um céu nublado da cor da madeira
queimada,
Damian beijou Elissa uma última vez e recolheu sua roupa.
Vestiu‐se rapidamente sob a luz prévia do amanhecer, e logo se sentou na borda da cama
para secar suas lágrimas com seus lábios.
— Não chore, meu amor. Me prometa que vai se cuidar até que possamos voltar a estar
juntos de novo. Se... quando partir do convento, e estou seguro de que o fará, tenta me fazer
saber onde está para que possa te encontrar.
— Só há um lugar ao qual possa ir — disse Elissa, — ao Glenmoor, com minha prima Christy
Macdonald. Está casada com um inglês, mas vivem separados desde que se casaram, faz já muitos
anos. Se souber que deixei o convento, busca me em Glenmoor.
— É a hora — disse Damian com pesar. Elissa se levantou e colocou a camisola.
— Tome cuidado — ela o seguiu até a janela. Uma rajada gelada a sacudiu quando Damian
abriu as venezianas e passou uma perna pelo batente. Deu‐lhe outro beijo fugaz e logo
desapareceu.
Elissa observou com inquietação como se aproximava da árvore, agarrava‐se a um ramo e
logo descia pelo tronco. Quando chegou ao chão, olhou para cima e lançou um beijo. Logo
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desapareceu.
Secando as lágrimas, Elissa fechou as venezianas e retornou à cama. O aroma de Damian
ainda impregnava os lençóis; ela fechou os olhos e imaginou que estava ainda a seu lado,
confortada pelo odor de seu aroma e rodeada de seu amor. Deve ter adormecido, porque quando
abriu os olhos, uns débeis raios de sol estavam se filtrando através da janela.
Elissa saiu da cama e lavou os sinais do Damian de seu corpo.
Acabava de terminar de se vestir quando o capitão Harding chegou para abrir a porta e
acompanhá‐la à sala comum para que tomasse o café da manhã.
Harding se sentou em frente a ela com o cenho franzido pela preocupação enquanto
examinava seu rosto.
— Dormistes mal? Parece cansada.
— Estou bem, capitão, obrigado. Isto tem bom aspecto — disse quando uma criada colocou
diante dela um prato de ovos, rins e batatas fritas.
— Leve seu tempo — aconselhou‐a Harding. — Aqui a comida é boa, deve aproveitar
enquanto pode.
Durante os exaustivos dias que seguiram, Elissa teve muitas ocasiões para agradecer os
cuidados do capitão Harding. Cada vez que percebia que estava esgotada, fazia uma parada para
permitir que descansasse.
Quando o ar gelado ou a chuva fria aumentavam mais, ele procurava refúgio, fosse em uma
estalagem, em uma casa particular, em uma simples cabana de pastores ou em uma tenda
montada precipitadamente para sua comodidade.
Elissa fez todo o possível para dissimular quão mau se encontrava e as náuseas matinais,
mas sabia que o capitão Harding sabia das vezes nas quais seu estômago se rebelou contra a
comida.
Um dia, quando a viagem se aproximava de seu fim, o capitão Harding se sentou ao lado da
Elissa.
— Percebi que todas as manhãs se encontra mal — aventurou. — Por favor, desculpe minha
ousadia, mas, está esperando um filho, lady Elissa?
Elissa se ruborizou, mas não se evadiu da pergunta.
— Sua percepção não o engana, capitão — disse suavemente.
— Esta esperando um filho de seu marido?
Elissa ficou tensa pela indignação.
— Esta sugerindo que traí meu marido? —Harding se apressou a se desculpar.
— Me desculpe. Nunca a acusaria de uma infidelidade. O rei se equivocou ao declarar seu
matrimônio ilegal. Vos rogo que aceite minhas desculpas por formar parte de seu sofrimento. Só
estou seguindo ordens. Oxalá pudesse ajudar.
— É um bom homem, capitão. Ajudaste‐me fazendo esta viagem o menos dolorosa possível.
Harding levou a mão da Elissa aos lábios e a beijou. — É uma autêntica dama.
Dois dias depois chegaram ao convento de Santa Maria do Mar, uma construção familiar
colocada em um escarpado sobre o agitado oceano. O muro de pedra que rodeava a
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impressionante estrutura era gigantesco, mas para a Elissa se supunha unicamente um degrau
para a liberdade.
Capítulo 20
Damian estava sentado em seu quarto alugado, olhando com tristeza a chuva que açoitava
contra a janela. No dia seguinte se celebraria suas bodas. Como podia se casar com Kimbra
quando Elissa seguia formando parte dele?
Ocupava seu coração, sua mente, e sua alma. Recordava vividamente seu aroma, sua
expressão, cada pequeno gesto que fazia. Teria mandado ao inferno o rei e Kimbra se tivesse
certeza de que Elissa não ia ser castigada por culpa de sua desobediência.
Maldição. Será que não existia justiça neste mundo?
Não percebeu que estavam batendo na porta com os nódulos até que o ruído se fez tão
forte e persistente que não pôde seguir ignorando‐o. Cuspindo uma maldição, abriu a porta e
ficou assombrado ao ver Jem, um dos soldados que deixou para trás em Misterly.
— Jem. Deus Santo, homem, entra. Como me encontraste? O que te traz a Londres?
— Estou procurando‐o desde que cheguei ontem — disse Jem. — A sorte me levou até o
botequim que há aqui embaixo, onde me encontrei com os homens que o acompanharam a
Londres. Eles me dirigiram aqui. Há problemas em Misterly, meu senhor. Tavis Gordon e seus
foragidos das Terras Altas tomaram o castelo por assalto. Atravessaram nossas defesas e
ganharam o controle. Sir Richard me enviou a Londres para buscá‐lo quando percebeu que não
podia defender a fortaleza contra as forças dos Gordon, que eram superiores em uma proporção
de três a um. Eu consegui escapar com vida pelos cabelos.
Com expressão grave, Damian colocou a capa sobre os ombros e se dirigiu a porta.
— Conte aos homens que estão no botequim o que acaba de me dizer — disse Damian
virando a cabeça. — Diga‐lhes que preparem os cavalos e estejam preparados para partir de
Londres quando eu voltar.
Damian irrompeu no palácio e solicitou uma audiência imediata com o rei. Devia parecer
desesperado, porque não teve que esperar muito. Uns instantes depois, lorde Pelham fez sua
aparição.
— Lorde Clarendon, o que ocorre agora? Sua Majestade não quer ser incomodado a menos
que se trate de algo importante.
— É um assunto urgente, meu senhor — disse Damian. — Acabo de receber a notícia de que
Misterly caiu em mãos de Tavis Gordon. Devo retornar imediatamente.
— Mas suas bodas...
— Ao diabo com minhas bodas! O que é mais importante, preservar Misterly para a Coroa
ou me casar com uma mulher a qual mal posso suportar?
— Neste momento não podemos proporcionar homens para que o ajude. Há problemas na
Connie Mason
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fronteira com o Gales, e enviamos o exército para que sufoque a rebelião. Além disso, França
ameaça de novo com a guerra. Não podemos enviar homens a Escócia.
— Não necessito do exército. Posso recuperar o controle de Misterly sem ajuda exterior se
parto imediatamente.
— Mm... devo consultar primeiro com Sua Majestade e com o Parlamento.
— Não posso esperar a que se reúna o Parlamento. Sua Majestade e você devem decidir
agora.
— Espere aqui enquanto me consulto com Sua Majestade.
Lorde Pelham saiu por uma porta que levava às habitações privadas do rei. Retornou uns
minutos mais tarde com o rei Jorge pisando seus calcanhares.
— O que é tão importante para que nos incomode em nossa sesta? — gemeu o rei.
Damian voltou a explicar por que devia partir imediatamente para Misterly.
O rei Jorge se refugiou em um silêncio pensativo. Depois de uma longa pausa, disse:
— Não podemos nos permitir perder Misterly as mãos dos rebeldes, mas lorde Pelham me
informou que não temos soldados para financiar outra guerra em Escócia.
— Não necessito seus soldados — argumentou Damian. — A única coisa que preciso é sair
de Londres agora, hoje.
— Impossível. Amanhã é o dia de suas bodas.
— Quer que Gordon recupere o controle de Misterly e que ganhe para sua causa a outros
habitantes das Terras Altas?
— Não. Não podemos permitir que isso ocorra. Misterly é importante para nós. Pode nos
garantir o êxito sem nossa ajuda?
— Já o desapontei alguma vez, senhor? Só tenho uma petição.
— Quer uma recompensa?
— Sim, suponho que pode dizer‐se que sim.
— De que se trata? Mais terras? Um título mais prestigioso?
— Não, nada disso. A única coisa que peço é que encontrem outro marido para lady Kimbra.
— Lady Kimbra é uma herdeira — recordou lorde Pelham.
— Sei, mas não é a mulher que quero. Vos rogo que voltem a validar meu matrimônio com
Elissa Fraser. É a única recompensa que peço por minha lealdade.
— Essa Fraser é uma simpatizante jacobina — disse o rei.
— É uma mulher cujo pai e cujos irmãos foram massacrados em Culloden. É certo que não
gosta dos ingleses, mas, podem culpá‐la? Como minha esposa, não suporá nenhuma ameaça para
a Coroa. Isso eu prometo.
Se fez um tenso silêncio enquanto o rei sopesava a proposição de Damian.
— Você o que diz, lorde Pelham? — perguntou o rei.
— Como você bem sabe, Majestade, Misterly é importante para nós. Lorde Clarendon é um
homem em quem podemos confiar. Se quiser a moça escocesa, eu digo que a tenha.
— Muito bem, que assim seja. Faz que preparem dois editos, lorde Pelham, um que restitua
o matrimônio de lorde Clarendon e Elissa Fraser e outro que autorize a saída da dama do
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convento. Mas escute bem, Clarendon: se fracassas, perderá tudo — fez um gesto com a mão para
se despedir do Damian. — Pode voltar dentro de uma hora a recolher os documentos.
— Entendido, Majestade — disse Damian, que mal podia conter a emoção. — Enviarei
notícias de meu êxito.
Damian se inclinou antes de sair dos aposentos privados do rei com excessiva precipitação. A
sorte quis que topasse com lady Kimbra no corredor.
— Damian! Que sorte te ter encontrado! Estava me evitando? — colocou o braço sob o seu.
— Estou desejando que chegue amanhã.
Damian retirou o braço e retrocedeu.
— Já não estamos prometidos, Kimbra. O rei validou meu matrimônio com Elissa.
A ira de Kimbra explodiu.
— O que? Está mentindo. Sua Majestade não me faria algo assim. Não, nego‐me a acreditar.
— É verdade. Pergunte a Sua Majestade se não me acredita. Adeus, lady Kimbra. Desejo‐te
uma longa vida cheia de felicidade.
— Maldito seja, Clarendon! Espero que te apodreça no inferno. Como te atreve a me colocar
nesta posição! Os falatórios da corte serão minha ruína. Não poderei nem sair à rua.
Seguia gritando quando Damian partiu.
Duas horas mais tarde, com os documentos guardados no bolso, Damian saiu de Londres em
direção ao norte sob uma intensa chuva.
Elissa estava quase uma semana no convento quando lhe ocorreu uma maneira de escapar
dali sem que a Madre Superiora soubesse. Não a culpava por atender aos desejos do rei no que a
ela se referia, porque o convento existia graças ao Hannover.
Elissa não demorou muito em descobrir que um idoso chamado Freddie era o único homem
a quem estava permitida a entrada aos muros, embora nunca se aventurou ao interior do
convento. Talvez Freddie tivesse sobrenome, mas ninguém parecia conhecê‐lo. Dormia em cima
do estábulo, cuidava dos campos e uma vez na semana se aproximava de carreta a uma granja
próxima para recolher leite fresco e ovos.
A porteira, irmã Elizabeth, abria o portão todas as segundas‐feiras pela manhã cedo, e Elisa
utilizou aquela informação para planejar sua fuga.
Na segunda‐feira seguinte, Elissa se levantou cedo, se vestiu com sua roupa mais grossa e
escapuliu ao estábulo antes da missa matinal. Se escondeu atrás de um fardo de feno até que
chegou Freddie para atrelar o cavalo na carreta e dirigir‐se ao povoado. Observou contendo a
respiração como entrava na sala de ferramentas agrícolas para procurar os arreios.
Quando estava dentro, Elissa fechou de uma portada e passou o ferrolho.
— Sinto muito, Freddie — disse através da porta. — Necessito a carreta mais que você.
— É você, lady Elissa? — perguntou Freddie com voz abafada.
— Sim, Freddie — respondeu ela agarrando a capa e o chapéu do homem, que estavam
pendurados em um gancho ali ao lado. — Diga a Madre Superiora que o sinto.
— Por que não diz você mesma? — a voz feminina surgiu de detrás dela, e Elissa se voltou,
consternada ao topar com a Madre Superiora.
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— Madre Superiora! Como soubestes?
— Não sabia. Vi‐te sair do edifício e decidi te seguir. Supunha que tentaria algo assim algum
dia — seu rosto se suavizou. — Não deixe que eu te detenha.
Elissa ficou muito quieta. — Não entendo.
— Suponho que não. O rei da Inglaterra não é Deus. Pode ameaçar, mas ao final o que
seguimos é a palavra de Deus. Rezei por sua situação e procurei uma resposta em meu coração.
Você não tem a vocação para usar o hábito9. — Observou atentamente Elissa e deslizou seu
bondoso olhar para o ventre dela. — Há algo que queira me dizer, menina?
Elissa empalideceu.
— Como soube que estou esperando um filho?
— Suspeitava, mas não estava segura. Também suspeito que Deus tem preparado algo
especial para ti. Parte com minha bênção, menina. Não deve temer ao monarca inglês, porque
nunca saberá que já não vive conosco.
— Como poderei agradecer?
— Criando seu filho no Amor de Deus — respondeu a Madre Superiora. — E agora date
pressa, ponha a capa e o chapéu de Freddie e encolhe os ombros quando atravessar o portão.
Prometo‐te que sua ausência não se mencionará nem será comentada por ninguém que habite
entre estes muros.
Incapaz de acreditar em sua boa sorte, Elissa terminou rapidamente de atrelar o cavalo na
carreta, colocou seu disfarce e subiu na boleia do chofer.
— Me assegurarei de que devolvam a carreta quanto antes. Sei o muito que dependem dela.
— Obrigado — disse a Madre Superiora. — E agora vete, menina. A irmã Elizabeth está
esperando para te abrir o portão. Que Deus te proteja.
Elissa golpeou a garupa do cavalo com as rédeas e o animal iniciou a marcha com passo
lento e pesado. Quando perdeu de vista o convento, pôs rumo a Misterly.
A escuridão já caíra quando Elissa vislumbrou Misterly através de uma neve nebulosa que
descia em espiral do céu carregado de nuvens. Tiritando, Elissa se aconchegou dentro da capa de
lã de Freddie, ansiosa por ver sua mãe e a sua irmã e desfrutar de um quente fogo enquanto se
regozijava com a deliciosa cozinha de Winifred.
Entreabrindo os olhos através de uma cortina de flocos de neve, Elissa distinguiu as figuras
dos integrantes da patrulha noturna no alto dos parapeitos e exalou um suspiro de alívio.
Não parecia existir nada estranho. Pensou que era pouco provável que tivesse chegado em
Misterly a notícia das bodas de Damian e Kimbra, ou de seu desterro ao convento.
Sua intenção era que todo mundo conhecesse o sacrifício que Damian fazia por ela. Logo
levaria a sua mãe e a sua irmã ao Glenmoor antes de que Damian retornasse com sua esposa.
Elissa deteve a carreta diante do portão, esperando que alguém saísse da guarita de
vigilância para identificá‐la. Enquanto olhava através das grades de ferro, um calafrio de alarme
subiu pela espinha dorsal.
O instinto a advertiu de que algo não ia bem, mas não fazia ideia do que podia ser. 9 Nome do véu que as freiras usam.
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Se sentiu enormemente aliviada quando alguém a chamou com um gesto do castelo. Seria
sir Richard? Elissa agitou o braço em resposta e esperou que abrissem o portão.
— Elissa? — perguntou uma voz áspera. — De onde saíste? Pareceu detectar um acento
escocês? Sim, definitivamente, aquela não era a voz de sir Richard.
Que ela soubesse, nenhum dos homens que Damian deixou para trás era escocês. E não
recordava a nenhum dos membros de seu clã.
"Foge", uma voz interior a advertiu. Desgraçadamente, não pôde girar o cavalo e a carreta
com a suficiente rapidez. Quando escutou como abriam o portão com a manivela, entrou em
pânico e desceu com dificuldade da carreta para fugir a pé. Três homens a agarraram antes de que
pudesse dar o primeiro passo. Reconheceu imediatamente Tavis Gordon.
— Tavis! O que está fazendo aqui? Onde esta sir Richard e os outros? O que fez com Lora e
com mamãe?
— Levem‐na para dentro — ordenou Tavis ignorando suas perguntas. Elissa não ofereceu
nenhuma resistência enquanto a conduziam com empurrões no castelo. Estava ansiosa por
conhecer o destino de sua família e dos homens que Damian deixou para trás.
O grande salão estava abarrotado de Gordons, e Elissa temeu o pior quando notou a
ausência dos homens de Damian. O rosto se iluminou grandemente quando viu Maggie correr
para ela.
— Mãe Muito santa, retornaste! — gritou Maggie abraçando Elissa com todas suas forças.
— O que ocorreu, Maggie?
— Os Gordon, isso foi o que ocorreu — sussurrou Maggie. — Eram muitos. Os soldados de
lorde Damian não podiam combater a grande quantidade de homens que escalaram pelos muros
e invadiram o castelo.
Ocorreu pouco depois de que lorde Damian partisse para Londres. O que ocorreu a ti? Onde
está lorde Damian?
— Já é suficiente! — gritou Tavis . — Tragam comida e água a Elissa — agarrando‐a pelo
braço, sentou‐a em uma mesa perto do fogo. — Sente‐se e se aqueça.
— O que fez aos homens de Damian? — inquiriu Elissa. — Se machucou mamãe ou a Lora,
nunca perdoarei isso.
— Sua família está perfeitamente bem — assegurou Tavis. — Não lhes causei nenhum dano.
Os homens do Cavalheiro Demônio, encerrei‐os no armazém do arsenal no momento. Isto é só o
princípio, Elissa. Reuni suficientes homens para atacar a guarnição inglesa de Inverness. Outros
habitantes das Terras Altas deslocados pela guerra se unirão a nós quando souberem o que
consegui. Uniremo‐nos para conseguir que o legítimo soberano retorne da França e libere Escócia
da opressão inglesa.
— Instigar outra rebelião é uma autêntica loucura — advertiu Elissa. — Escócia está regada
com o sangue dos membros de nosso clã; não acrescente mais.
— É o momento perfeito — assegurou Tavis enfurecido. — O exército inglês está ocupado
com os galeses da fronteira, e França ameaça voltar para a guerra. Esta vez triunfaremos.
— Me escute, Tavis. Vais guiar seus homens a uma morte certa.
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Tavis a olhou fixamente.
— O que aconteceu contigo, Elissa? Antes de que chegasse o Cavalheiro Demônio, tinha
sede de sangue inglês. O que é que te fez?
— Sigo sem gostar dos ingleses, mas nunca tive sede de sangue. Perdi a muitos seres
queridos para desejar outro banho de sangue. Tudo terminou, Tavis. Sai de Misterly antes de que
Damian se inteire do que ocorreu aqui. Sabe que retornará para reclamar o que é dele. Não pode
ganhar. É um foragido e puseram preço a sua cabeça.
— Sei o que estou fazendo, moça. Me diga o que te ocorreu depois de que os soldados a
levassem a Londres.
— Como sabe disso?
— Mantive espiões vigiando o forte. Acreditava que não estaria a par do que estava
ocorrendo aqui? Misterly deveria ter sido meu por direito de matrimônio, e não vou renunciar a
ele.
— Então te aproveitou da ausência de Damian e atacou.
— Assim o fiz — vangloriou‐se Tavis. — Mas está se evadindo da pergunta. Como persuadiu
Hannover para que te permitisse retornar a Misterly?
— Não o fiz — sussurrou Elissa recordando com terror aqueles terríveis dias na Torre. —
Teria morrido ali se Damian não intercedesse para que me poupassem a vida. Ele convenceu ao rei
para que me enviasse ao convento. Permaneci ali só uma semana, quando surgiu a oportunidade
de partir.
— Por que vieste aqui? Não é que me queixe — acrescentou Tavis. — Sempre foste minha,
moça.
— Sigo sendo esposa do Damian. A que outro lugar ia?
— Elissa decidiu que não serviria de nada dizer a Tavis que seu matrimônio foi declarado
ilegal.
— É minha — grunhiu Tavis.
Maggie apareceu com um prato de comida, e Elissa começou a comer enquanto Tavis
passeava acima e abaixo diante da lareira. Quando ela comeu até se saciar, se levantou da mesa.
— Por favor me desculpe, estou esgotada.
Tavis dirigiu um sorriso lascivo que congelou seu sangue nas veias.
— Vete à cama, moça. Eu irei me reunir contigo mais tarde.
— Encontrará minha porta fechada com chave — respondeu Elissa com frio desdém. —
Tenta me tocar e perderá o pouco controle que tem sobre os membros de meu clã. Atear fogo no
povoado foi um ato de covardia, e eles já não confiam em ti. Os Fraser não estão indefesos. Temos
aliados. O mais provável é que te veja em meio de uma guerra de clãs se me forçar.
Elissa observou como crescia a raiva no interior do Tavis e decidiu que o mais sensato era
sair rapidamente dali. Viu Maggie rondando perto e estirou a mão para ela.
— Vamos, Maggie, me ajude a me preparar para me deitar. Agarradas pela mão, subiram
pelas estreitas escadas que levavam a sala das mulheres.
— Viu a sir Richard? — sussurrou Elissa.
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— Não. Proibiram visitas aos prisioneiros.
— Estão recebendo comida e água?
— Sim, mas apenas o suficiente para mantê‐los com vida. O que vamos fazer, Elissa? —
perguntou Maggie com preocupação. — Não tema, tenho um plano. Mas necessitarei a ajuda de
todos os que sejam leais a mim. Onde está nana?
— Falou mal de Tavis em público e foi desterrada do castelo. Tavis temia que lançasse algum
feitiço. Ouvi que está vivendo nessa velha cabana do bosque.
Elissa sabia exatamente onde encontrar a cabana. Construiu‐se em cima da saída do túnel
secreto.
— Graças a Deus que está a salvo — disse Elissa. — Como se encontram mamãe e Lora?
— Bem, embora lady Marianne esteja preocupada com sir Brody. Oxalá pudéssemos ajudá‐
los.
— Não acredito que seja possível. O que eu quero é tirar do forte sem problemas mamãe, a
Lora, e a ti se assim o deseja. Dermot ou Lachlan estão dentro do castelo?
— Só Dermot. Lachlan está com sua família no povoado. O portão se mantém fechado. Tavis
não permite que ninguém entre ou saia sem sua permissão.
— Espero que mamãe esteja acordada — disse Elissa quando chegaram ao quarto de
Marianne. Maggie abriu a porta e Elissa entrou. Marianne estava sentada em uma cadeira ao lado
do fogo.
Viu a Elissa, soltou um grito de alegria e abriu os braços para receber a sua filha.
Com as lágrimas escorrendo pelas faces, Elissa caiu de joelhos e saudou sua mãe com beijos
e abraços.
— O que ocorreu? — perguntou Marianne enxugando suavemente as lágrimas com um
delicado lenço. — Damian conseguiu convencer ao rei para que te liberasse? Encontra‐te bem?
Parece doente. Onde está Damian?
Elissa aspirou com força o ar e começou a contar sua aventura, sem omitir nada exceto as
depravações que sofreu enquanto esteve encerrada na Torre. Não queria angustiar sua mãe agora
que já terminou sua traumática experiência. Marianne a interrompeu naquele ponto.
— Damian deve ter convencido o rei para que te soltasse. Sabia que o faria. Estava
completamente decidido a conseguir sua liberdade. Onde está? Não ouvi ruídos de batalha abaixo.
Recuperou o castelo, não é assim? Estive muito preocupada com sir Brody.
— Isso não é exatamente o que ocorreu, mamãe — explicou Elissa. — O rei rechaçou a
petição que fez Damian em meu nome — deteve‐se um instante para secar as lágrimas que
escorriam pelos olhos.
— Então o Hannover mudou de opinião e disse que me pouparia a vida se Damian se casasse
com lady Kimbra. O rei já havia declarado ilegal nosso matrimônio, assim Damian aceitou. Mas em
vez de me deixar voltar para casa, o rei me enviou ao convento de Santa Maria do Mar.
— Eu sabia que esses muros não poderiam te reter. Oxalá as coisas tivessem sido diferentes
— lamentou‐se Marianne. — Tavis Gordon controla o castelo, e somos seus prisioneiros.
Elissa baixou o tom de voz. — Vamos sair de Misterly, mamãe.
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Marianne ficou contente.
— Podemos fazê‐lo? Precisaremos ter muito cuidado. Oxalá Nana estivesse aqui.
— Dermot está aqui, podemos contar com ele para que nos ajude. Tavis me disse que tem
intenção de compartilhar o leito comigo, assim devemos partir antes de que se impaciente e force
a porta de meu quarto.
— E o que será de sir Richard, sir Brody e os outros? — perguntou Marianne.
— Sinto muito, mamãe, mas não há nada que possamos fazer por eles sem pôr a nós
mesmas em perigo. Sei que Damian tomará represálias quando souber que Tavis controla o
castelo. Devemos confiar em que ele encontrará a maneira de liberar a seus homens quando
retornar.
— OH, Elissa — se lamentou Maggie, — que triste que tenha perdido Damian e ele teve que
ficar com lady Kimbra. Deve odiar a ideia tanto como você.
— Damian não vai se casar com lady Kimbra.
Elissa se voltou, surpreendida ao encontrar com Lora na soleira.
— Acreditei que estava dormindo — disse Marianne.
— E estava, mas algo me despertou — a menina sorriu a Elissa. — Me alegro de que esteja
em casa, Lissa — correu para sua irmã e deu um forte abraço. — Ouvi o que disse Maggie sobre
Damian e lady Kimbra, mas não é verdade. Nana disse que Damian e você estariam juntos para
sempre, e que você teria um filho dele.
Marianne abriu os olhos de par em par.
— É certo isso, filha? Está esperando um filho de Damian?
— Sim, mas ele não sabe ainda.
— Deve te cuidar muito, filha — advertiu‐a Marianne. — Entendo por que tem tanta
vontade de partir. Tavis é um homem violento; a gente nunca sabe quando vai estourar ou sobre
quem cairá sua fúria.
— Eu não posso ir contigo — disse Maggie. — Sinto muito, Elissa, mas não abandonarei sir
Richard. Partirei agora mesmo, antes de que revele qual é seu plano.
— Está segura, Maggie?
— Completamente segura, Elissa. Leve Dermot contigo.
— Deve amar muito a sir Richard — observou Elissa.
— Sim. Por isso não posso suportar a ideia de partir sem ele. Quando pensa ir?
— O mais breve possível.
— Que Deus te acompanhe, Elissa.
Damian chegou em Misterly em uma noite gelada e ventosa. Embora estivesse tremendo
sob a capa de lã, deu graças a Deus por aquele tempo tremendamente frio que mantinha a seus
inimigos metidos em suas cálidas camas.
O cavalo de Damian dançou debaixo dele enquanto Jem se aproximava a galope até ficar a
seu lado.
— Quais são suas ordens, meu senhor?
— Há um túnel subterrâneo que vai do castelo até uma saída exterior oculta no interior de
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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uma cabana que há no bosque. Vou entrar no castelo através do túnel para examinar a situação —
explicou Damian.
— Você e os outros três homens podem me seguir depois de um curto intervalo de tempo.
Damian abriu o caminho para uma pequena e desmantelada cabana situada nas
profundidades do bosque. Era muito velha e estava oculta pelo tojo e os matagais. Parecia como
se levasse anos abandonada.
Quando Damian explorou o túnel depois da fuga de Elissa, encontrou a saída.
Damian desmontou a escassa distância da cabana e se aproximou cautelosamente, surpreso
ao ver uma luz brilhando através das frestas da janela fechada com tábuas. Tirou a pistola e
estendeu a mão para segurar o trinco.
A porta se abriu de repente. Damian ficou tenso e logo relaxou ao reconhecer a figura
inclinada banhada pela luz de uma lanterna.
— Nana! Maldita seja, mulher! O que está fazendo aqui?
— Te esperando — respondeu ela. — Deve resgatar a nossa moça e liberar o castelo das
mãos dos Gordon.
Damian a olhou com estranheza.
— Elissa está no convento, não dentro do castelo.
— Me acredite, meu senhor, Elissa está no castelo — disse Nana. — Ela não sabia que Tavis
estava com o controle de Misterly até que esteve dentro.
— O que você está fazendo aqui?
— Me expulsaram do castelo sem outra coisa que a roupa que levava posta. Tavis tem medo
de mim, e faz bem. Após estou vivendo aqui. Não está tão mal. Os habitantes do povoado me
trazem tudo o que necessito. Mas deve te dar pressa — advertiu, — enquanto a escuridão seja sua
aliada.
Damian entrou na cabana, dirigiu‐se diretamente a cama que havia em um canto e a moveu
para poder acessar o alçapão oculto no chão. Afastou a camada de pó e levantou o alçapão
puxando pela argola de metal.
— Necessitará de uma luz — disse Nana passando o lampião.
Damian aceitou, assentiu para agradecer e deslizou pelo buraco. Seus pés encontraram a
escada e desceu por ela para o chão do túnel, abrindo passagem cautelosamente através da
estreita passagem.
Havia chegado a uma repentina curva a metade do caminho quando escutou o som de umas
vozes ressonando no interior do túnel. Havia alguém diante dele, aproximando‐se por seu
caminho!
Tratava‐se de mais de uma pessoa, adivinhou pelo sussurro das vozes. Damian apagou o
lampião e se encolheu contra o muro, tenso, à espera. Encontrou o túnel o Gordon?
Um círculo de luz avançou para ele, fazendo‐se maior à medida que se aproximava. Escutou
vozes falando em sussurros mas não via a quem pertenciam e entreabriu os olhos na turva
escuridão, tentando identificar as figuras que se aproximavam. O suor porejou na fronte enquanto
tratava de decidir se devia retirar‐se ou não antes de ser descoberto. Então apareceu de repente
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Sabor do Pecado 03
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um rosto sob o resplendor da luz e Damian esteve a ponto de desmaiar de alívio. Dermot avançava
lentamente pelo passadiço, seguido de perto por lady Marianne, Lora e Elissa. Um sorriso se
desenhou nos lábios.
Deveria ter sabido que, se houvesse uma única saída para aquela perigosa situação, sua
engenhosa Elissa a encontraria.
Damian deu um passo para o círculo de luz.
— Boa noite. Faz uma noite perfeita para dar um passeio.
— Damian! — Elissa tropeçou para diante e levou uma mão ao pescoço, com os olhos
totalmente abertos, sem dar crédito. — É você?
— Sim, amor, qual outro se arrastaria por debaixo da terra para resgatar a sua amada, e
descobrir que ela já resgatou a si mesma?
— Como soube que estava em Misterly? Onde está Kimbra?
— Kimbra saiu de nossas vidas para sempre. Explicarei tudo mais tarde. Nana estava na
cabana quando cheguei. Ela me disse que você estava no interior do castelo.
— Sai do convento com ajuda da Madre Superiora e retornei a Misterly para procurar
mamãe e a Lora — assegurou Elissa. — Mas não sabia que Tavis estava com o controle do castelo.
Queria que ficasse e compartilhasse seu leito, mas eu não quis. Sabia que não poderia mantê‐lo
afastado durante muito tempo, assim procurei a ajuda de Dermot e fiz planos para escapar pelo
túnel. Escolhemos esta noite porque o frio tão horrível que faz levou a todo mundo procurar o
calor de suas camas em lugar de entreter‐se no salão.
Damian sentiu inchar o coração de orgulho. Ninguém exceto Elissa podia executar
semelhante proeza.
— É uma maravilha, amor. Dou graças a Deus por sua coragem. Meus homens continuam
vivos?
— Sim, estão vivos.
— Onde se encontram?
— Eu sei onde estão, senhoria — interveio Dermot. — Faz que as mulheres continuem seu
caminho e eu mostrarei o lugar. Vieste sozinho?
— Não, os homens que me acompanharam a Londres virão em seguida.
— Deixa que vá contigo — suplicou Elissa. — Eu posso ajudar.
— Leve sua mãe e a sua irmã a um lugar seguro, amor — disse Damian. — Espera dentro da
cabana com Nana até que envie alguém a ti.
— Quem cuidará de suas costas? — perguntou Elissa. — São muitos mais que vocês.
Necessita‐me.
— O fator surpresa está de nosso lado. Gordon não conhece a existência do túnel e não
esperará um ataque em uma noite como esta.
— Damian, deixa que...
— Elissa, me obedeça nisto. Não serei capaz de me concentrar sabendo que você está
dentro do castelo. Acaso não sabe que te amo?
— Ama‐me?
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Sabor do Pecado 03
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— Mais que a minha vida. Sei a muito tempo, mas não conseguia encontrar as palavras
adequadas para expressar o que alberga meu coração. A ideia de perdê‐la me deu a coragem de
despir minha alma.
— OH, Damian, eu também te amo, mas sentia medo de que não correspondesse a meus
sentimentos.
— Sinto ter demorado tanto em dizer isso. Por favor, se cuide para mim, amor. E agora vete
e leve a sua mãe e a sua irmã contigo.
— Me fará saber quando posso voltar?
— No mesmo instante em que saiba.
Elissa assentiu e agarrou o lampião que Dermot ofereceu. Damian tocou seu ombro e a virou
para si.
— Elissa, amo‐te — declarou, e logo a beijou.
Capítulo 21
— Já estamos quase no final do túnel — assegurou Dermot. — Sir Richard e os outros estão
prisioneiros no armazém que há ao lado do arsenal.
— Conheço essa sala — respondeu Damian. — É um quarto grande e sem janelas que o
anterior senhor de Misterly utilizava como cárcere provisório.
— Se me lembro bem, tem uma barra de madeira que se encaixa do lado de fora. Está
vigiada a sala?
— Sim, mas lorde Alpin pouco a utilizava. Há um guarda, mas certamente estará dormindo.
Já chegamos, meu senhor — sussurrou Dermot enquanto apagava o lampião e abria a porta.
Damian entrou atrás do Dermot e olhou o salão vazio. Não viu mais que as chamas dançando
na lareira e uma sala vazia envolta em sombras. Saiu do túnel, mas permaneceu escondido sob as
escadas até que Dermot se uniu a ele.
— Espera Jem e os outros aqui — ordenou Damian. — Vou liberar sir Richard e o resto dos
meus homens. Não demorarei muito.
Damian cruzou silenciosamente o salão em direção às estreitas escadas que levavam ao
arsenal. Grudado contra a parede, desceu lentamente os degraus. Quando chegou ao final, olhou
após a esquina para a sala que se utilizava para armazenar o armamento antigo e as armas mais
modernas que utilizavam os guardas da fortaleza. Um lampião pendurado do teto revelava a figura
de um homem deitado sobre um banco, ao que parece profundamente adormecido. Movendo‐se
silenciosamente, Damian o deixou inconsciente com um golpe certeiro na cabeça infligido com a
culatra de sua pistola.
Logo dirigiu sua atenção ao armazém no qual estavam confinados seus homens. Só demorou
um instante em levantar a barra e abrir a porta de par em par.
— Estão livres. Saiam — exclamou Damian.
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Sir Richard saiu, entrecerrando os olhos ante o repentino resplendor de luz.
— É você, Damian? Por todos os diabos, é a última pessoa que esperava ver. Como entraste
no castelo?
Um grande número de homens saiu do armazém.
— Explicarei isso mais tarde. Encontra‐se todo mundo bem?
— Mais ou menos — reconheceu Richard. — Graças a Deus que apareceste agora. Estamos
preparados para recuperar o castelo.
— Primeiro devem se armar — disse Damian enquanto ele mesmo escolhia uma espada. —
Escolham suas armas no arsenal e façam em silêncio, ou despertaremos aos Gordon de seu sono.
Um homem arrastou o imóvel guarda até o armazém e fechou a porta trancando‐a
enquanto os outros escolhiam as armas que mais lhes convinham.
— Estamos preparados — disse sir Richard. Sir Brody se colocou ao lado de Damian.
— Estou preocupado por lady Marianne e pela Lora. Poderiam correr perigo.
— Já não estão no castelo — respondeu Damian. — Elissa as levou num lugar seguro.
— Elissa esteve aqui? — perguntou sir Richard. — Não fazia ideia. E Maggie? Escapou com
Elissa e com as demais?
— Não vi Maggie, Dickon. Não estava com Elissa.
Damian chegou ao alto das escadas e guiou a seus homens através do salão vazio. Dermot
surgiu de entre as sombras. Então, Jem e os homens que seguiram Damian através do túnel
fizeram sua aparição.
— Tiveste êxito — alegrou‐se Dermot. — Espero que seus homens estejam bem.
— Sim. Estão bem. Aproximem‐se todos para receber ordens. Jem, sobe com dois homens
aos parapeitos e desarmem aos guardas. Não os matem a menos que seja absolutamente
necessário.
— Sim, meu senhor — respondeu Jem enquanto ele e dois homens se separavam do grupo e
se fundiam entre as sombras.
— Sir Brody, dou por certo que há guardas no pátio, e também na guarita de vigilância —
continuou Damian. — Leve a dois homens contigo. Já sabe o que deve fazer.
— Sim, meu senhor — respondeu Brody.
— Dickon, te reservo o trabalho mais perigoso de todos. Quantos Gordon há no castelo?
— Ao menos há cinquenta homens — recordou Dickon. — Escutei a dois guardas falando e
um deles dizia que a metade dos homens retornaram a suas casas com suas famílias. Os que
ficaram estão dormindo nos barracões.
Damian digeriu aquela informação.
— Leve os homens que restam aos barracões, Dickon. Deve deter o inimigo e encerrá‐lo no
armazém até que eu possa enfrentá‐los. Recorda o que disse sobre o derramamento de sangue.
Evita‐o se puder.
— Considera‐o feito, Damian. Pelo que vejo, vai você mesmo atrás do chefe dos Gordon.
— Sim — Damian se virou para o Dermot. — Onde encontrarei a esse bastardo?
— Ficou com seu quarto — respondeu Dermot. — Irei contigo.
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— Não. Procura Maggie. Se assegure de que fique na sala das mulheres — Damian não
queria que nem o idoso nem Maggie fossem feridos.
— Obrigado por pensar em Maggie — sussurrou Dickon enquanto se dirigia para os
barracões.
Com uma expressão grave e decidida no rosto, Damian cruzou o salão e subiu pelas escadas
para a torre. Deteve‐se frente à porta de seu quarto, tirou a espada com uma mão, girou o trinco
com a outra e abriu a porta.
O som foi quase inaudível, mas provocou uma resposta imediata em Tavis Gordon.
Levantou‐se da cama de um salto, sua nua figura se mostrava ágil e flexível sob o resplendor do
fogo da lareira enquanto ia em busca de sua espada, que estava apoiada contra a parede.
— Como entraste aqui? — bramou Gordon.
— Cresceram‐me asas e entrei voando — zombou Damian. — Te renda, Gordon. Meus
homens recuperaram o controle do castelo.
— Não acredito em você — Falou Gordon lançando uma estocada com a espada.
Damian esquivou com facilidade a afiada ponta e elevou sua própria espada para defender‐
se.
— Enquanto falamos, meus homens estão rodeando aos membros de seu clã e encerrando‐
os no armazém. Está sozinho, Gordon. Aconselho‐te muito a sério que baixe a espada.
— Jamais! — bramou Gordon. — Roubou minha mulher. Tanto Elissa como Misterly
deveriam ser meus. Alpin Fraser me prometeu ambas as coisas. Matarei‐te!
Levantando a espada com ambas as mãos, Gordon se lançou brutalmente contra Damian,
sem saber que carecia das habilidades de Damian como espadachim. Damian riu ante os torpes
esforços de Gordon e esquivou com facilidade a folha da espada. Então se lançou à ofensiva,
atacando e dando estocadas até que Gordon ficou encurralado em um canto.
Gordon se lançou furiosamente contra Damian, mas deve ter percebido que a derrota estava
muito perto porque começou a gritar:
— Um Gordon! Um Gordon!
— Ninguém virá em sua ajuda, Gordon. Baixa a espada antes que me veja obrigado a te
matar.
— Não se eu o mato antes, inglês!
Damian lançou uma estocada enquanto se agachava e fazia uma gingada para evitar a
espada de Gordon. O metal se chocou contra o metal uma e outra vez enquanto as folhas se
cruzavam em um duelo de força.
O corpo nu de Gordon estava sulcado de sangue, e um golpe de sorte fizera um corte no
ombro de Damian, mas nenhum dos dois homens queria reconhecer seus ferimentos. Cansado
daquele jogo,
Damian levou com destreza aquele cruzamento de espadas para seu inevitável final.
O seguinte movimento de Damian ocorreu tão depressa que Gordon não conseguiu reagir
com a suficiente rapidez.
A espada dele foi tirada de sua mão ao mesmo tempo que a ponta da folha de Damian
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pressionava um ponto vulnerável no pescoço do Gordon.
— Adiante, bastardo, me mate! — desafiou‐o Gordon.
— Isso seria muito fácil — soltou Damian. — Se vista.
Um ruído na porta distraiu Damian, que se virou ligeiramente, soltou uma maldição ao ver
Elissa de pé na soleira.
— Que diabos está fazendo aqui?
— Precisava vir. Não podia suportar não saber o que estava acontecendo. E se você estivesse
ferido?
Aquela breve distração brindou ao Gordon uma nova oportunidade. Pegou a espada e a
lançou contra Damian, que instintivamente se agachou quando a lâmina passou roçando por cima
de sua cabeça.
Elissa gritou quando a ponta da espada atravessou sua manga e foi se cravar no batente da
porta. Com o coração pulsando a toda velocidade pelo medo, Damian correu a seu lado, temendo
que estivesse gravemente ferida.
De repente, Gordon o empurrou para o lado e estiveram a ponto de ficarem enroscados
quando saiu precipitadamente pela porta. Preocupado como estava por Elissa, Damian não fez
ameaça de detê‐lo.
Agarrou o punho da espada do Gordon, tirou‐a do batente e a jogou em um lado, aliviado ao
ver que não havia sangue que manchasse a folha.
— Está ferida, amor? — perguntou a Elissa estreitando‐a entre seus braços.
— Não, a espada não tocou minha pele.
Damian a agarrou pelos ombros e a abraçou com mais força. — Graças a Deus. Deveria te
dar umas boas palmadas por me ter desobedecido, embora preferisse mil vezes te beijar —
separou‐a de si a contra gosto.
— Mas teremos que esperar. Tenho um assunto pendente com Gordon. Fique aqui. Esta vez
faz o que te digo.
Assim que deu a volta, um grito dilacerador ressonou pela escada, arrepiando os pelos de
sua nuca. Fazendo um gesto a Elissa para que ficasse ali atrás, Damian correu pelo corredor para
os traiçoeiros degraus de pedra. Quando chegou abaixo, viu Dermot inclinado sobre uma figura
imóvel estendida a seus pés.
— Gordon? — perguntou ajoelhando‐se para examinar o corpo.
— Sim — respondeu Dermot. — Quebrou o pescoço. Você e Elissa estão bem? Vi como te
seguia até a torre.
— Estou bem — disse Elissa atrás de Damian. Damian se virou e a olhou fixamente.
— Acreditei que te disse que ficasse onde estava.
— Quando eu fiz o que você me diz? — perguntou ela com descaramento. — É Tavis? Está
morto?
— A resposta a ambas as perguntas é sim. Sinto muito, amor, nunca foi minha intenção
matá‐lo.
— Não o sinta, Damian. Tavis perdeu todo meu respeito faz tempo. Mamãe estava contra
Connie Mason
Sabor do Pecado 03
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esse matrimônio desde o começo; era papai quem desejava que se celebrasse. Tanto Tavis como
eu odiávamos aos ingleses, mas não estávamos de acordo a respeito de não querer mais
derramamento de sangue. Já houve suficiente para toda uma vida. O que Tavis planejava poderia
nos ter destruído.
— Seus dias de traição terminaram — disse Damian se levantando quando viu Jem dirigindo‐
se para ele com passo firme.
— Os guardas do parapeito já não são uma ameaça para nós — informou Jem.
Antes de que Damian pudesse responder, sir Richard e sir Brody retornaram de suas
missões.
— Os homens do Gordon foram cercados e confinados no armazém — disse sir Richard.
— Apresentaram dura batalha?
— Não, foi um golpe sem derramamento de sangue. Renderam‐se sem lutar assim que os
despertamos.
— Os guardas do pátio jogaram as armas quando nos viram, e tivemos que despertar ao
sentinela da porta para que pudesse render‐se — informou a sua vez sir Brody.
— É este o chefe dos Gordon? — perguntou Richard dando um golpezinho com o pé no
corpo sem vida de Tavis. — Está morto?
— Sim — respondeu Damian. — Caiu pelas escadas e rompeu o pescoço.
— Que alívio — disse Richard. — Parece que Misterly volta a ser teu. Viu Maggie?
— Eu deixei Maggie na sala das mulheres — interveio Dermot.
— Irei procurar lady Marianne e Lora se me disser onde posso as encontrar — ofereceu‐se
sir Brody.
— Eu te mostrarei o caminho — disse Dermot. Damian assentiu e os dois homens partiram.
— O que vamos fazer com Gordon? — perguntou sir Richard.
— No momento, levar seu corpo ao abrigo das ferramentas. Os outros são livres para ir à
cama. Não espero mais problemas.
— De verdade terminou tudo, Damian? — perguntou Elissa. — De verdade o rei deu sua
bênção a nosso matrimônio?
— Tudo terminou, querida — Damian estendeu a mão. — Vamos para cama?
Agarrados pela mão, subiram as escadas que levavam ao quarto de Elissa. Estava a ponto de
amanhecer; o céu estava se transformando do negro a cinza no leste, quando Damian ajudou
Elissa a despir‐se.
Logo a agarrou nos braços, levou‐a até a cama e a colocou sob a colcha. Sentiu seu olhar
seguindo‐o enquanto ele tirava a roupa e lavava o sangue do corpo.
— Está ferido! — exclamou Elissa.
— É só um arranhão.
— Deixe que eu trate isso.
— Não é necessário. Já deixou de sangrar.
Suspirando de prazer, Damian se reuniu com ela na cama e a estreitou entre seus braços.
Elissa se aconchegou contra ele.
Connie Mason
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— Sentia medo de que não voltássemos a estar juntos assim nunca mais.
— Eu também, meu amor.
— Faça amor comigo, Damian.
— Está segura? Deve estar exausta.
— Não tão exausta para não fazer amor com meu marido.
Com a boca, as mãos e a língua, Damian a beijou, acariciou‐a e a levou para uma paixão
desatada até que o corpo de Elissa se converteu em uma ardente chama de fogo entre seus
braços. Amaram‐se, descansaram, voltaram a se amar, e finalmente se dispuseram a dormir.
De repente, Elissa se ergueu e se apoiou sobre um cotovelo. — Damian! Acorda!
— Não acredito que possa estar à altura da ocasião até dentro de pelo menos uma hora —
murmurou Damian meio adormecido.
— Por favor, Damian, isto é importante.
— Não pode esperar? Ambos estamos esgotados.
— Suponho que sim, mas pensei que você gostaria de saber que estou esperando teu filho.
— Mm, isso está bem.
Decepcionada pela reação de Damian, Elissa suspirou e voltou a se deitar. De repente,
Damian se ergueu de um salto. — O que foi que disse?
— Vou ter teu filho.
— Por que não me disse?
— Acabo de fazê‐lo. Tem razão, melhor dormir. Isto pode esperar outro momento.
— Nem pensar! Desde quando sabe?
— Já suspeitava antes de que fosse presa e me levassem a Londres.
Damian a estreitou entre seus braços e o sentiu estremecer enquanto a apertava contra ele.
— É um milagre que não tenha perdido o bebê depois de tudo o que passaste.
— Está contente?
— Extasiado. Fundaremos uma nova dinastia para Misterly — Damian ficou pensativo. —
Nana tinha razão, verdade?
— Sim, mas eu não quis acreditá‐la. Disse que teríamos um varão.
— Varão ou mulher, isso não tem importância. Estou seguro de que este não será o único
filho que concebamos juntos. Amo‐te, Elissa. Fui um estúpido ao não me dar conta. Poderá me
perdoar por te ter tratado como o fiz?
— Sim, meu amor. Eu não me mostrei precisamente relutante a proclamar meu ódio pelos
ingleses. Quem teria imaginado que o Cavalheiro Demônio tinha um coração doce?
— Nem eu mesmo sabia até que uma moça das Terras Altas entrou em minha vida. Você
encontrou algo em meu interior que eu não fazia ideia de que existisse.
Elissa suspirou meio adormecida.
— E eu encontrei a meu único e verdadeiro amor.
Dormiram a maior parte do dia e finalmente saíram do dormitório para participar do jantar.
Sua aparição foi causa de celebração, e todo mundo elevou suas taças para eles em gesto de
saudação.
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O recebimento de Marianne e Lora tampouco ficou para trás. Todo mundo começou a falar
ao mesmo tempo enquanto serviam a comida e a desfrutavam com gosto.
Quando comeu até se saciar, Damian pediu a sir Richard que levasse os prisioneiros ao salão.
— O que vais fazer com eles? — perguntou Elissa.
— Enviá‐los a Londres, suponho.
— Precisa fazê‐lo? Sem Tavis criando problemas, os Gordon já não representarão nenhum
incômodo para a Inglaterra no futuro.
Damian ficou olhando ela fixamente. — Está sugerindo que os deixe livres?
— Sim. A maioria dos homens tem famílias que manter, e não foi nada fácil para eles. Muitos
vivem em covas ou em cabanas rudimentares que não são sequer habitáveis. Peça a esses homens
que jurem fidelidade a você e solta‐os.
Damian ficou pensativo.
— Esta me pedindo muito, Elissa.
— Por favor, só fala com eles. Se se mostrarem obstinados, envia‐os a Londres, mas dê uma
oportunidade de se redimirem.
— É muito compassiva, meu amor.
— Por favor, Damian, tenta fazer as pazes com os Gordon por mim. Perderam a seu chefe, a
rebelião foi cortada pela raiz.
Sir Richard retornou com os prisioneiros antes de que Damian pudesse responder à petição
de Elissa.
— Foram declarados fora da lei — disse Damian aos carrancudos prisioneiros. — Se os envio
a Londres, o mais provável é que os condenem à forca. Têm algo a dizer a seu favor?
Os Gordon se mexeram incômodos, e então um deles deu um passo adiante.
— Estamos a sua disposição, meu senhor. Nosso chefe morreu; não há ninguém entre nós
que deseje continuar com o que ele começou. Temos famílias que alimentar e que vestir. Não há
suficiente comida para que possamos seguir adiante, e nossos filhos morrem de fome.
Damian escutou com atenção. Logo se virou para Elissa. — Você o que diz, esposa?
O coração de Elissa deu um tombo de alegria. De verdade Damian ia permitir que ela
decidisse o destino daqueles homens?
— Eu me inclino pela benevolência — assegurou. — Mas é meu marido quem deve decidir.
Quantos de vocês estariam dispostos a jurar fidelidade ao senhor de Misterly?
Fez‐se uma longa pausa, e logo, um a um, todos os homens fincaram um joelho no chão
diante de Damian. Damian se levantou, abriu os braços e disse:
— Que assim seja. A minha esposa ficaria satisfeita que trouxessem suas mulheres e seus
filhos das montanhas e formassem seu lar no povoado. As terras de Misterly são vastas. Sempre
são necessários pastores e granjeiros. Eu proporcionarei os materiais para que possam construir
cabanas que deem proteção a suas famílias.
O silêncio caiu sobre o grupo. Logo começaram os vivas.
Damian elevou uma mão para pedir silêncio.
— Têm minha permissão para levar o corpo de Tavis Gordon a sua família e que possam
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enterrá‐lo, logo retornarão a Misterly com os seus. Jem, te ocupe de tudo.
— Obrigado, Damian — sussurrou Elissa. — Estou segura de que não te arrependerá.
Quando os Gordon saíram, sir Richard deu um passo adiante e clareou a garganta.
— Damian, posso falar um momento contigo?
— É obvio, Dickon, de que se trata?
— Bom, estive pensando nisto durante algum tempo — seu olhar se dirigiu para Maggie e
Dickon estendeu a mão. Sorrindo, a jovem se aproximou e pôs a mão sobre a sua.
— Maggie e eu solicitamos sua permissão para nos casar.
Elissa ficou de pé de um salto.
— OH, Maggie, quanto me alegro por ti! Sei o muito que amas a sir Richard.
— Dou por certo de que se trata de um matrimônio por amor? — perguntou Damian
arrastando as palavras.
Sir Richard sorriu a uma ruborizada Maggie.
— Nunca acreditei que pudesse me acontecer, mas sim, é um matrimônio por amor.
— Então tem minha aprovação — Damian sorriu de orelha a orelha. — Quando
celebraremos as bodas?
— Assim que...
— Um momento — interrompeu sir Brody lançando a Marianne um tenro olhar. — Lady
Marianne e eu gostaríamos de celebrar uma bodas em dobro.
Uma expressão de assombro cruzou o rosto de Damian. — Lady Marianne, desejas te casar
com sir Brody?
A dama sorriu com acanhamento.
— Se estiver tudo bem para minha filha e para ti... sim, meu senhor.
— Mamãe! Não fazia ideia de que estava pensando em te casar — exclamou Elissa. — É
obvio que esta tudo bem, e estou segura de que Damian está de acordo.
— Faremos uma grande celebração — disse Damian. — Isto é justo o que necessitávamos
para unir aos clãs de novo pacificamente.
— E o que acontece comigo? — perguntou Lora lamentosa. Damian riu.
— Você é muito pequena para te casar, mas te prometo que terá o melhor marido destas
terras assim que esteja preparada.
— Pode me ajudar a preparar as bodas — sugeriu Elissa. Aquilo pareceu aplacar Lora,
porque rodeou a sua irmã com os braços e deu um forte abraço.
— Agora somos uma família, verdade, Damian? — perguntou timidamente.
Damian a beijou na fronte.
— Sim, pequena. Somos uma autêntica família.
De repente, nana ficou de pé e ergueu sua taça para fazer um brinde.
— Bebam todos, bravos moços e formosas moças. Bebam pelo novo senhor de Misterly e
sua dama. Bebam pelo herdeiro que espera nossa moça, e pela paz e a prosperidade que seu
nascimento trará consigo.
— Amém — disse Damian erguendo sua taça e tomando tudo de um gole.
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Todo mundo ficou de pé e saudou o senhor e a senhora de Misterly.
Damian sorriu a Elissa e logo a sentou em seu colo para beijá‐la sonora e apaixonadamente.
Todo mundo riu e aplaudiu quando Damian a agarrou nos braços e a levou dali.
Mas os amantes não ouviam mais que o batimento de seus corações, nem viam outra coisa
além do amor que brilhava nos olhos um do outro.
— Amo‐te, minha maravilhosa moça escocesa — sussurrou Damian estreitando‐a contra seu
coração.
— Eu também te amo, meu feroz Cavalheiro Demônio.
Fim
Incentive as revisoras contando no nosso blog o que achou da historia do livro.
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