entrevista - emmanuel mirdad e edmilia barros

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UNIDOS PELA PRODUÇÃO CULTURAL ENTREVISTA EMMANUEL MIRDAD E EDMILIA BARROS COMPETÊNCIA Edmilia Barros trabalhou duas vezes com Mirdad e o seu ótimo desempenho foi fundamental para essa nova fase como empresária cultural. Os produtores baianos Emmanuel Mirdad e Edmilia Barros embarcam juntos em uma nova fase com o lançamento da empresa Mirdad - Gestão em Cultura por Luciano Marins e Renato Neto F ormado em jornalismo pela UFBA, Emmanuel Mirdad (32 anos) também é empre- sário cultural, poeta , escritor, diretor, roteirista e compositor. Teve a necessidade de fazer produção cultural pelo contexto artístico em que sempre esteve envolvido. Em sociedade com Marcus Ferreira (ex-sócio), Mirdad fundou a empresa Putzgrillo Cultura, que realizou projetos como a FLICA (Festa Literária Internacional de Ca- choeira), Festival Brainstorm, Prêmio Bahia de Todos os Rocks, Recôncavo Jazz Festival, Santo Antônio Jazz Fes- tival, Música no Cinema, entre outros. Edmilia Barros tem 26 anos e é natural de Conceição do Almeida (BA). Ela é formada em turismo, mas a oportuni- dade de trabalhar voluntariamente no Brazilian Day fez com que encontras- se a verdadeira profissão. Ela já foi produtora de artistas como Lazzo Ma- tumbi e da banda Pirigulino Babilake. Atualmente compõe a produção exe- cutiva do grupo Sertanília e começou a trabalhar com a cantora Larissa Luz (ex-vocalista do grupo Araketu). A res- ponsabilidade e a competência de Ed- milia fez com que Emmanuel Mirdad a convidasse para uma nova e promissora fase à frente da sua empresa Mirdad - Gestão em Cultura. Juntos eles preten- dem continuar com os projetos antigos, e expandir outras produções para novos estados. Os dois conversaram com a LURE e contaram detalhes da trajetória de sucesso que trilharam na carreira, os desafios da produção cultural e dicas para os futuros profissionais da área, além de revelarem três novas grandes festas culturais previstas para 2014. LURE - Como e quando surgiu o inte- resse de vocês pela produção cultural? Mirdad - Geralmente, o primeiro inte- resse pela produção cultural se dá em um nível artístico. É como ter vontade de aprender a tocar violão, a pintar, fa- zer teatro e o desejo de fazer com que essas coisas aconteçam. Tive o mesmo tipo de impulso e a mesma necessidade de fazer produção cultural a partir dis- so. Primeiro com uma vontade artística de criar algo. Como eu já criava músi- ca, tinha uma banda de rock na época e não conseguia ninguém que produ- zisse a banda, eu mesmo tive que fazer isso e percebi que era algo interessante. Foi o que me moveu a fazer as primei- ras produções e seguir minha carreira. Edmilia - Logo depois de me formar eu resolvi viajar. Passei quase dois anos morando em Londres e nesse período eu fiz um pouco de cada coisa. Tive a oportunidade de trabalhar como vo- luntária no Brazilian Day e foi quando percebi o que eu realmente queria fa- zer e gostava. Tanto que uma semana depois de ter trabalhado, eu conversei com minha família e falei que iria vol- tar para o Brasil, pois começaria a tra- balhar com o que eu gosto e até então não estava realizada profissionalmente. Antes de sair daqui, durante o perío- do da faculdade, eu formei um grupo chamado Cangaceiros da Alegria, que é um grupo de trabalho voluntário e a gente fazia visitas à creches, asilos, or- fanatos, e num ponto desses períodos a gente começou a organizar os eventos que eram ações beneficentes. Criamos o Coopera Rock, chamávamos várias ban- das locais para participar e era gratuito. LURE - Mirdad, você também é co- nhecido no cenário musical e literário de Salvador. Quais são os músicos e escritores que mais influenciam na sua carreira? Mirdad - Na parte musical eu tive mui- ta influência do rock. As minhas primei- ras produções culturais foram shows de rock. Eu tenho influência total dos anos 70 e muita influência musical gringa de rock, mas depois pelo fato de mi- nha mãe ser musicista de Bossa Nova, fui chegar à música brasileira, ao forró tradicional, etc. Sou muito grato à área da música porque foi nela que eu >> 5 LURE 1264 26/02/2013

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Entrevista realizada por Luciano Marins e Renato Neto com os produtores Emmanuel Mirdad e Edmilia Barros para a disciplina Oficina de Comunicação Escrita (COM111), ministrada pelo professor Marcos Palacios. O nome da revista (LURE) é fictício e a entrevista foi realizada no Rio Vermelho.

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UNIDOS PELA PRODUÇÃO CULTURAL

ENTREVISTAEMMANUEL MIRDAD E EDMILIA BARROS

COMPETÊNCIA Edmilia Barros trabalhou duas vezes com Mirdad e o seu ótimo desempenho foi fundamental para essa nova fase como empresária cultural.

Os produtores baianos Emmanuel Mirdad e Edmilia Barros embarcam juntos em uma nova fase com o lançamento da empresa Mirdad - Gestão em Cultura

por Luciano Marins e Renato Neto

F ormado em jornalismo pela UFBA, Emmanuel Mirdad (32 anos) também é empre-sário cultural, poeta , escritor,

diretor, roteirista e compositor. Teve a necessidade de fazer produção cultural pelo contexto artístico em que sempre esteve envolvido. Em sociedade com Marcus Ferreira (ex-sócio), Mirdad fundou a empresa Putzgrillo Cultura, que realizou projetos como a FLICA (Festa Literária Internacional de Ca-choeira), Festival Brainstorm, Prêmio Bahia de Todos os Rocks, Recôncavo Jazz Festival, Santo Antônio Jazz Fes-tival, Música no Cinema, entre outros. Edmilia Barros tem 26 anos e é natural de Conceição do Almeida (BA). Ela é formada em turismo, mas a oportuni-dade de trabalhar voluntariamente no Brazilian Day fez com que encontras-

se a verdadeira profissão. Ela já foi produtora de artistas como Lazzo Ma-tumbi e da banda Pirigulino Babilake. Atualmente compõe a produção exe-cutiva do grupo Sertanília e começou a trabalhar com a cantora Larissa Luz (ex-vocalista do grupo Araketu). A res-ponsabilidade e a competência de Ed-milia fez com que Emmanuel Mirdad a convidasse para uma nova e promissora fase à frente da sua empresa Mirdad - Gestão em Cultura. Juntos eles preten-dem continuar com os projetos antigos, e expandir outras produções para novos estados. Os dois conversaram com a LURE e contaram detalhes da trajetória de sucesso que trilharam na carreira, os desafios da produção cultural e dicas para os futuros profissionais da área, além de revelarem três novas grandes festas culturais previstas para 2014.

LURE - Como e quando surgiu o inte-resse de vocês pela produção cultural?

Mirdad - Geralmente, o primeiro inte-resse pela produção cultural se dá em um nível artístico. É como ter vontade de aprender a tocar violão, a pintar, fa-zer teatro e o desejo de fazer com que essas coisas aconteçam. Tive o mesmo tipo de impulso e a mesma necessidade de fazer produção cultural a partir dis-so. Primeiro com uma vontade artística de criar algo. Como eu já criava músi-ca, tinha uma banda de rock na época e não conseguia ninguém que produ-zisse a banda, eu mesmo tive que fazer isso e percebi que era algo interessante. Foi o que me moveu a fazer as primei-ras produções e seguir minha carreira.

Edmilia - Logo depois de me formar eu resolvi viajar. Passei quase dois anos morando em Londres e nesse período eu fiz um pouco de cada coisa. Tive a oportunidade de trabalhar como vo-luntária no Brazilian Day e foi quando percebi o que eu realmente queria fa-zer e gostava. Tanto que uma semana depois de ter trabalhado, eu conversei com minha família e falei que iria vol-tar para o Brasil, pois começaria a tra-balhar com o que eu gosto e até então não estava realizada profissionalmente. Antes de sair daqui, durante o perío-do da faculdade, eu formei um grupo chamado Cangaceiros da Alegria, que é um grupo de trabalho voluntário e a gente fazia visitas à creches, asilos, or-fanatos, e num ponto desses períodos a gente começou a organizar os eventos que eram ações beneficentes. Criamos o Coopera Rock, chamávamos várias ban-das locais para participar e era gratuito.

LURE - Mirdad, você também é co-nhecido no cenário musical e literário de Salvador. Quais são os músicos e escritores que mais influenciam na sua carreira?

Mirdad - Na parte musical eu tive mui-ta influência do rock. As minhas primei-ras produções culturais foram shows de rock. Eu tenho influência total dos anos 70 e muita influência musical gringa de rock, mas depois pelo fato de mi-nha mãe ser musicista de Bossa Nova, fui chegar à música brasileira, ao forró tradicional, etc. Sou muito grato à área da música porque foi nela que eu >>

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comecei a minha carreira de produtor cultural. Na literatura, a minha influên-cia total é a brasileira, especialmente a baiana. Eu gosto muito do que os autores baianos escrevem. O meu mestre maior é o imbatível Hélio Pólvora, um dos me-lhores escritores do Brasil e de todos os tempos. Gosto muito também dos daqui da Bahia, como Victor Mascarenhas, Aurélio Schommer e Márcio Matos.

LURE - Com toda a sua experiência no universo da produção e da gestão cultu-ral, quais dicas você daria aos futuros profissionais da área?

Mirdad - A minha experiência de estú-dio me trouxe uma amplidão maior para poder entender o universo da música, que é uma das minhas duas áreas de atuação das empresas em que trabalhei e que trabalho. Da mesma maneira em que um jornalista precisa saber de muita coisa para poder escrever (pelo menos deveria), você tem que também enten-der mais profundamente das artes com que você vai produzir. É interessante que você não fique só nesse campo do acerto com o espaço de show, de cap-tação e divulgação. Ouça mais, tente entender mais um pouco da técnica mu-sical também. Isso é importante na car-reira de um produtor. Na parte literária serve do mesmo jeito. É preciso saber escrever. Não adianta você ter uma ideia fantástica, se você não consegue colo-car isso no papel ou não é bem escri-ta. Então para você saber escrever terá que ler muito e estar informado, não tem jeito. Isso vai lhe dar capacidade argumentativa para convencer o merca-do de que o seu produto é interessante.

LURE - Edmilia, você já foi produtora de artistas conhecidos da cidade e atu-almente compõe a produção executiva do grupo Sertanília. Quais as conquis-tas e os momentos mais importantes que você tem do seu trabalho?

Edmilia - Eu dei muita sorte quando voltei por que, uma vez que tomei a decisão, entrei em contato com os me-ninos da Piriguilino Babilake. Falei que estava voltando e era a área em que eu queria trabalhar. Logo eles me disseram que estavam precisando de alguém. Ini-cialmente, o meu projeto era voltado para mídias sociais, depois eu comecei a me envolver mais com a produção dos meninos, é claro que tudo em conjunto com Bruno (produtor). Depois de um

tempo, conheci Anderson (Anderson Cunha do Sertanília) e nesse período surgiu a banda Sertanília. Ele falou que o grupo estava indo para Portugal dentro de um tempo. Eu sempre fui muito ho-nesta e falava que era a área em que que-ria trabalhar, porém não era uma área em que eu tinha experiência. Aceitei o convite e todos entenderam bem a situ-ação. Todos caminharam e cresceram junto com o Sertanília. A banda ama-dureceu muito nesses dois anos e meio.

LURE - E qual o momento mais emo-cionante?

Edmilia - Eu acho que minha emoção é diária. O resultado que eu tenho com o Sertanília seria o ponto maior do meu trabalho. Eu acho que eu tenho esses resultados um pouquinho todos os dias.

LURE - Você acha que dá para viver financeiramente bem com a produção cultural?

Edmilia - Eu espero que sim (risos). Até o momento eu consigo me virar tranquilamente só disso. Eu vivo disso.

LURE - Com toda a sua experiência pelo universo da produção dentro do ce-nário da música baiana, você acha que a produção cultural é uma profissão va-lorizada pelas pessoas e pelos artistas?

Mirdad - Depende do que você queira dizer como “valor”. O que é esse valor que você me pergunta?

LURE - O valor no sentido da impor-tância da profissão para o crescimento do trabalho dos artistas.

Mirdad - Geralmente, a maioria dos ar-tistas não tem consciência política. En-tão por não terem essa consciência polí-tica muito aflorada, eles não têm às vezesessa dimensão de valoração do profis-sional. Mas existem artistas engajados, que têm essa consciência política e re-conhecem o seu trabalho, mas são pou-cos. A maioria só quer saber quanto que ele vai ganhar, a realidade é essa. Quem na verdade deve dar esse valor é o pró-prio profissional, pois é uma profissão que não é regulamentada, é meio solta e que a sua família não vai entender nun-ca o que você faz. Infelizmente, ainda tem um longo caminho pela frente até que a profissão seja de fato reconheci-da. Estamos ainda na fase embrionária dessa profissão, por isso eu acho que é importante que o primeiro reconhe-cimento de valor que essa profissão tenha seja dos próprios profissionais.

LURE - Quais são as maiores dificul-dades e os desafios para os produto-res e gestores culturais de Salvador?

Mirdad - A maior dificuldade de todas é sair do zero. Existem dois caminhos mais óbvios de trabalho para o produtor cultural: o primeiro é você ser produtor executivo ou empresário (montando o próprio negócio, os produtos e batalhar por eles). Por eu ser autor (compositor e escritor), sempre tive um apelo de criar algo próprio e esse viés empreendedor forte. Então, trabalhei como produtor executivo e ganhei experiência com isso, tanto que, por exemplo, trabalhei no Troféu Caymmi e no ano seguin-te eu fiz o Prêmio Bahia de Todos os Rocks. Eu peguei a experiência como produtor executivo em produzir um prê-mio de música e levei como patrão >>

para o meu próprio prêmio. Mesmo que você opte pelo próprio negócio e tenha esse lado empreendedor, é importante que você passe por uma fase como pro-dutor executivo, até para você aprender a tratar bem quem você vai contratar para trabalhar. Mas se você quiser passar a vida inteira na produção executiva tam-bém não tem problema. Eu optei por ser empresário e diante disso a maior difi-culdade é estrear o portfólio de produtos.

LURE - O que precisa ser mudado ur-gentemente em Salvador e no Brasil para a evolução do cenário cultural?

Edmilia - Nossa! O primeiro pensamen-to é que vale-cultura não vai resolver (risos). Precisa de tanta coisa. Quando falamos em “cultura” envolvemos tan-tas áreas. Fica até complicado de chegar à um denominador comum, mas eu acho que tem que ter interesse real nos resul-tados, fazer bem, produzir bem, fazer com qualidade. Não adianta fazer e sair “meia boca”. Pensar nas pessoas que es-tão atingindo, nos artistas, em todo mun-do que faz parte desse celeiro produti-vo desse país. É tentar fazer o melhor.

LURE - Vocês também estão antenados com as novidades das bandas e casas de shows que estão ativas na cidade. Quais grupos e casas que vocês indicariam aos nossos leitores?

Mirdad - Indico prontamente o Groove Bar. Na minha opinião, é a melhor casa de show de Salvador. Já fiz evento lá. É bastante organizado, o som é muito bom, as bandas que tocam lá são muito legais, embora tenha uma pegada apenas de cover, e é garantia de uma noite de diversão. Indico também o Portela Café, que também é uma casa bem legal aqui de Salvador, que já traz alguns shows autorais muito interessantes das bandas que estão “rolando” por aqui. E agora tem uma casa nova que é a Commons, à frente do meu amigo Vince e Fernando Mariano, duas pessoas de muita compe-tência no cenário cultural aqui da Bahia, que tem tudo para dar certo também e ser mais uma opção de som alternativo (eu não gosto desse nome), mas sons legais (risos) acontecendo na cidade.

LURE - E grupos musicais?

Edmilia - Tem muitas bandas. Eu come-cei agora a trabalhar também com Laris-sa Luz, inclusive ela mudou de estilo to-

talmente. Ela sai do Axé e entra em uma onda mais Black. Eu curto muito tam-bém o resgate que o Bailinho de Quinta faz. Atualmente, eu cito a Scambo e O Círculo. Eu gostei muito do retorno da Scambo com a sua formação quase ori-ginal. E se eu ficar citando bandas aqui, esse negócio não vai terminar (risos).

LURE - Em 2008, você fundou a em-presa Putzgrillo Cultura junto com Marcus Ferreira e realizou projetos como a FLICA, o Festival Brainstorm, o Prêmio Bahia de Todos os Rocks, o Recôncavo Jazz Festival, entre outros, que contribuíram de forma significati-va no crescimento de algumas cidades e incentivaram artistas independentes. Como você se sente depois dos resul-tados alcançados com esses trabalhos?

Mirdad - Eu me sinto muito feliz e rea-lizado. Esses projetos, exceto o Prêmio Bahia de Todos os Rocks, foram cria-dos e realizados em parceria. Essa foi a primeira marca da minha atuação como profissional, junto com a Putzgrillo e o meu ex-sócio Marcus Ferreira, de esta-belecer parcerias para criação de proje-tos. Eu avalio que esse ponto de parcerias funcionou bastante na construção desse portfólio. Em relação à cidade, sim, a FLICA foi revolucionária para Cachoei-ra. Inclusive, a grande dica que eu dou é essa: pense em um projeto para interfe-rir na cidade, porque é aí que fica a sua marca. No caso da FLICA, vários pro-jetos podem ser feitos a partir dela, que é simples, um encontro com autores do Brasil e do mundo. Só que para esse en-contro de autores acontecer a gente pre-cisa qualificar a cidade, o serviço e fazer a qualificação de conteúdo literário para as crianças, os adolescentes, os morado-res e os estudantes de Cachoeira. É um projeto que de fato interfere na vida da cidade. Por exemplo, o Brainstorm é um festival de música, só que ele tem a op-ção de você estar circulando pela cidade e estar atuando firmemente na internet.

LURE - Qual dos eventos produzidos por você lhe proporcionou maiores emoções? Por quê?

Mirdad - Com certeza a FLICA. Na FLICA, particularmente, eu estive à frente da coordenação geral e fiz uma função que chamamos de “cérebro”. É uma função que você tem que saber o trabalho de todo mundo, inclusive dos seus coordenadores (risos). É uma tarefa

que lhe “esgota” e você cobra tudo de todos. Você tem um controle geral do evento em todas as etapas. Então nos dois anos em que estive à frente dessa função, eu cuidava desde os convites dos auto-res até os acertos de Marcus com o posto de gasolina (risos), por exemplo. Foi um acúmulo de função e isso foi de uma for-te emoção. Agora não vai acontecer mais porque a FLICA é cada vez mais pro-fissional e tem mais gente trabalhando.

LURE - No início do ano, você e Mar-cus Ferreira terminaram a sociedade na Putzgrillo Cultura. Por qual motivo vocês tomaram essa decisão? Houve al-guma briga?

Mirdad - Foi uma decisão 100% harmo-niosa. Marcus é de Cachoeira, ele sente uma necessidade de fazer mais ações no local e com isso ele me disse que pre-cisava estar envolvido com produção cultural apenas em Cachoeira. Eu, ao contrário, quero sair da Bahia, inclusive. Quero fazer projetos aqui e em outros lugares pela Mirdad - Gestã em Cultura. Eu penso sempre em expansão e sei que tem como fazer e chegar onde quero. A cisão foi simplesmente por isso, pelo >>

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ENTREVISTA

direcionamento que ele queria investir em Cachoeira e eu queria investir tanto na Bahia quanto em outros lugares. Não tinha como os dois trabalharem em prol disso. O único projeto que converge tan-to com o que ele quer e com o que eu quero é a FLICA. Por isso que nós con-tinuamos sócios na FLICA, que além de mim e dele tem Aurélio Schommer, que é escritor e vice-presidente do Conse-lho de Cultura da Bahia. O Brainstorm sai da Putzgrillo Cultura e fica exclusi-vo à Mirdad - Gestão em Cultura, que em parceria com a VDM Entreteni-mento vai realizar o Brainstorm 2013.

LURE - Recentemente houve o anúncio de Edmilia Barros como Diretora Exe-cutiva e de Conteúdo da empresa. Como vocês se conheceram e firmaram essa união?

Mirdad - Edmilia foi minha funcionária em dois projetos. Ela desempenhou um excelente trabalho na época do Santo Antônio Jazz Festival e mais ainda na FLICA do ano passado (2012). Ela fez uma função administrativa do evento. Administrou a pousada, os autores e fez um trabalho brilhante. Foi a melhor produtora do ano passado e ela já tinha feito um trabalho excelente no “Santo Antônio”, sem contar os comentários positivos das pessoas. Ela é uma profis-sional muito boa simplesmente pelo fato de ser ágil e organizada. Por incrível que pareça, é difícil encontrar pessoas orga-nizadas aqui (risos). Então ela brilha muito por isso, pela agilidade e rapidez na resolução das coisas. Não deixa para depois, não tem preguiça, não tem essa história de “de boa”. A pior praga dessa terra é o “de boa”. Não é “de boa”, tem que resolver e fim. Não tem meio termo, dizer que vai fazer amanhã. Isso que não só trava o trabalho na nossa área como nas diversas outras áreas. Edmilia é uma pessoa que resolve rápido e é competen-te. Percebi que ao invés de me associar com outro empresário da área ou com outras pessoas que estavam disponíveis,

eu poderia convidar o melhor profis-sional que já trabalhou comigo. Edmi-lia está qualificadíssima para exercer essa nova fase e tenho muito orgulho de ter essa oportunidade porque ela é a melhor profissional que eu poderia investir hoje nessa área e tenho certe-za que ela será uma grande empresária.

LURE - Edmilia, quais as suas expec-tativas para essa parceria à frente da produtora Mirdad - Gestão em Cultura?

Edmilia - São as maiores possíveis. As possibilidades são enormes. Eu não penso também em sair dos outros pro-jetos, pretendo conseguir conciliar tudo porque eu acho que o Sertanília é um braço meu também. No grupo eu es-tou até o “pescoço”. Então torço para que todos os meus projetos continuem fluindo assim, e seja o que Deus quiser.

LURE - Você concorda que juntos e com todas as experiências passadas podem mudar muitas coisas no cenário cultural do Brasil?

Mirdad - Do Brasil ainda somos “pei-xes pequenos”, não fizemos nenhum projeto pela lei Rouanet. Temos que remar muito, mas vamos tentar a partir de agora, pois queremos fazer um even-to em Santa Catarina e em outros luga-res. Eu acredito que essa parceria vai dar muito o que falar porque Edmilia gosta de trabalhar, eu adoro também e esse é um grande diferencial. Eu tenho o maior orgulho do mundo pelo trabalho. Não faço isso pelo dinheiro, pelo status, porque eu acho legal estar no meio de artistas e nem para aparecer na capa da revista ou no outdoor, eu faço isso por-que gosto de trabalhar. Então eu acho que me associei à pessoa certa. Essa his-tória de vaidade tem que ser zero, se não você não desenvolve um bom trabalho.

LURE - Quais as novidades para 2013 e 2014 à frente da Mirdad - Gestão em Cultura?

Mirdad - Temos o site oficial (www.mirdad.com.br) que será lançado em março, mas em fase embrionária ainda e vamos lançar um catálogo de produ-tos. Fora isso tem o twitter (@elmirdad), assim como o canal do youtube (/blo-gelmirdad) e o facebook (/MirdadCul-tura). Todos os contatos estarão no site. A prioridade total agora para captação em 2013 e realização em 2014 é a festa literária em Santa Catarina, a retoma-da do Festival Brainstorm e o MABA.

LURE - O que é MABA?

Mirdad - MABA é o Mês da África na Bahia e durante um mês queremos trazer africanos de frentes artísticas distintas para poderem apresentar os seus trabalhos aqui durante o período. Eu acho que é um projeto estratégico para nossa aproximação com a Áfri-ca, que ainda é muito tímida na minha avaliação. O governo da Bahia precisa ser mais atuante para ter essa comu-nicação com a África, pois no Brasil a autoridade para poder falar sobre África ou se religar à África é a Bahia.É um trabalho longo para poder fazer o MABA porque precisa de muita arti-culação, de muitos caminhos e patroci-nadores. É um trabalho complexo, mas que estamos dispostos a realizá-lo, na-quela linha que eu falei anteriormente, em que interfere e tem importância po-lítica, fazendo esse real intercâmbio. É muito trabalho pela frente. O Prêmio de Música Nordeste vai ter que esperar um pouco porque só o MABA e os outros eventos dão muito trabalho.

(FLICA)

(Brainstorm) (Prêmio BTR)

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