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Pesquisa FAPESP - Ed. 67

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Page 1: Fibra para inovar
Page 2: Fibra para inovar

Debater os caminhos da Ciência, Tecnologia e Ino

em Brasília, cientistas, professores, técnicos, e

no Brasil para os próximos 10 anos. Uma aposta te

REALIZAÇÃO

AcademiaBrasileira de Cliodas

CTBRASILMlflIStério da CIência e TecnoIogla

..I. I

Page 3: Fibra para inovar

54Apoiada pelo Programa

de Inovação Tecnológica emPequenas Empresas,a AsGa desenvolvetecnologia e fatura

R$ 100 milhões neste ano

EDITORIAL 5MEMORIA ..•........................ 6OPINIÃO 9

POLíTICA CIENTíFICAETECNOLOGICA .....•.•.•.......... 10ESTRATÉGIAS 10NOVA MODALIDADE DE BOLSA 21EDITAL PARA REDE DEALTA VELOCIDADE .........•........... 22

CIÊNCIA 24LABORATÓRIO 24A AMAZÔNIA TODA VIA SATÉLITE 32REDE MUNDIAL CONTRA O CÂNCER 36A CORRIDA PELA AGROBACTERIUM 37REMÉDIOS RETIRADOS DO MAR 38TATURANA CONTRA TROMBOSE 42PRECISÃO REDOBRADA EMEXAMES DE TIREÓIDE 44FíSICOS APROVAM SUPERCONDUTOR 46AS FORÇAS QUE REGEMO MOVIMENTO HUMANO ........•..... 48

TECNOLOGIA ..•................... 52LINHA DE PRODUÇÃO 52A OPTOLlNK SE PREPARAPARA A EXPORTAÇÃO 58NOVO EDITAL PARA O CIETEC,INCUBADORA DA USP 61A MOSTRA DE CIÊNCIAETECNOLOGIA DE CAMPINAS 62

MAIS PRECISÃO NAS CIRURGIAS~CmRm MNOVAS ANÁLISES CLíNICASCOM BASE NAS ENZIMAS 66

HUMANIDADES 68A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADEFíSICA PARA OS IDOSOS 68VIAGEM AO PASSADOPRÉ-COLONIAL BRASILEIRO 71BALANÇO E RUMOSDA PESQUISA EM HISTÓRIA 74LIVROS ..................•.•.•..... 80LANÇAMENTOS ..•................. 81ARTE FINAL ; 82

Capa: Hélio de Almeida,

sobre fotos de Eduardo Cesar

14Conferência Regionalde Ciência,Tecnologia e Inovaçãoreúne pesquisadores e empresáriospaulistas e formula propostaspara a Conferência Nacional

23o Projeto GenomaCana-de-Açúcar assina acordocom a empresa belgaCropDesign e entra na erada genômica aplicada

26o primeiro volume da FloraFanerogâmica do Estadode São Paulo, que reúneinformações sobre quase500 espécies de gramíneas,vai ser lançado em setembro

77Pesquisa procura redefiniros critérios que orientamo projeto e a construçãode casas populares,adequando-os ao modode vida contemporâneoe à nova organizaçãodo grupo familiar

PESQUISA FAPESP • AGOSTO DE 2001 • 3

Page 4: Fibra para inovar

Infra-estrutura

Recebi com satisfação o exemplar66 desta respeitada revista. Surpre-endeu-me o conteúdo do suplementoespecial, que retrata os investimentosda FAPESP (no Programa de Infra-estrutura). Esta, nos últimos cincoanos, investiu cerca de R$ 244 mi-lhões em infra-estrutura de laborató-rios científicos no Estado de São Pau-lo. Como aluno de doutorado emEntomologia na Escola Superior deAgricultura Luiz de Queiroz (Esalq),da USP, foi fácil perceber a transfor-mação e o impacto desses investimen-tos em nossos laboratórios. Tudo issotem elevado o Estado de São Paulo àcondição de um dos mais bem dota-dos centros de pesquisa no mundo.Isso se reverterá em inúmeros bene-fícios para a sociedade. Essa demos-tração de valor ao mundo científicodeveria ser seguida pelo governo fe-deral, que, de forma contrária, andaanunciando cortes no orçamentodo Ministério da Ciência e Tecnolo-gia e das universidades federais.

MARCOSBARROSDEMEDEIROSProfessor da UFPB -

Campus de Bananeiras-PB

Charge

Gostaria de deplorar o comen-tário do sr. José Luiz Lage-Marquesa respeito da charge publicada narevista de nv 65. Como leigo inte-ressado em ciência e tecnologia, estáclaro para mim que o sucesso daPesquisa FAPESP está em desmisti-ficar o trabalho do pesquisador aotraduzi-lo - com maestria - para odia-a-dia dos comuns. Assim, o her-mético torna-se cristalino e o jargãocientífico já não consegue maisafastar o interesse dos demais. Sen-timo-nos próximos daqueles queparecem falar a mesma liguagem.Passamos a compreender seus. obje-tivos, admirar seu trabalho, sentirsimpatia como a que sentimos pornossos mais próximos amigos. E,

4 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

CARTAS

como amigos, podemos tambémbrincar, por que não? Existem brin-cadeiras de bom gosto e a chargeem questão é de uma inteligência ebrilho poucas vezes vistos. Quantaspalavras seriam necessárias para ex-primir o espanto ao constatarmos aviolência de uma extração dentária,apesar dos supostos avanços nessaárea? Moa está de parabéns.

LUIZJABORYCARVALHODEABREUSão Paulo, SP

Fiquei surpresa ao ler a reclama-ção do sr. José Luiz Lage-Marques,presidente do Conselho Diretor daSociedade Brasileira de PesquisaOdontológica São Paulo. A assesso-ria deste senhor não foi feliz ao criti-car, duramente, urna das formas maisinteligentes e criativas de se fazerhumor. Os dentistas deveriam ficarlisonjeados com a brincadeira. Que,com certeza, não foi de mau gosto.

SONIABARROSSão Paulo, SP

Participação decisiva

Com referência à matéria "Saúdeem Microcápsulas", revista Pesquisa.FAPESPde junho 2001, págs. 70-71,solicito urna complementação impor-tante' referente à participação e co-'laboração do Laboratório de Nutri-ção-Minerais do Departamento deAlimentos e Nutrição Experimentalda Faculdade de Ciências Farma-cêuticas da USP naquele projeto.Todo o estudo de biodisponibilida-de do ferro microencapsulado foifeito naquele laboratório, sob a coor-denação da professora Célia Colli,orientadora da aluna Tatiana dosSantos (mencionada na matéria). Olaboratório de Nutrição-Mineraisvem desenvolvendo pesquisas comminerais, tendo como objetivoprincipal a recomendação de inges-tão desses nutrientes em função dascaracterísticas dos indivíduos e desuas dietas. Tem também conduzi-do pesquisas na área de fortificação

de alimentos e de suplementação deminerais por meio de alimentos oupor via medicamentosa.

MARIAINÊSRÊInstituto de Pesquisas Tecnológicas

São Paulo, SP

Micro e pequena empresa

Recebemos a revista PesquisaFAPESP nO 66, que trará grandecontribuição para a divulgação dasações de pesquisa e inovação tecno-lógica no ambiente das micro e pe-quenas empresas paulistas. Tam-bém será importante mecanismoque o Sistema Sebrae usará paraampliar a inserção das pequenasempresas nos programas de pesqui-sa e desenvolvimento tecnológicoapoiados pela FAPESP.

SILVERIOCRESTANAUnidade de Inovação e Acesso

a Tecnologia do SebraeSão Paulo, SP

Revista

É sempre um prazer ler as ma-térias da Pesquisa FAPESP, mesmoas que não têm relação direta comnossa área de atuação, pois é umaforma de nos mantermos atualiza-dos e sabermos para onde a ciênciaestá caminhando. Apesar de a re-vista estar disponível on-line, aindaprefiro a forma tradicional, em pa-pel, onde observamos a formata-ção e cores originais, o que a im-pressora a nossa disposição nãoconsegue recuperar.

PROF.ROGtRIONOGUEIRADEOLIVEIRAFaculdade de Odontologia - USP

São Paulo, SP

Quero agradecer pelo recebi-mento desta maravilhosa revista eparabenizar pela qualidade das in-formações. A revista é uma fontede consulta para a assessoria.

VER.JOÃOANTONIO- PT/SPSão Paulo, SP

Page 5: Fibra para inovar

•PesquisaI

PESQUISA FAPESP, UMA PUBLICAÇÃO MENSAL

DA FUNDAÇÂO DE AMPARO À PESQUISADO ESTADO DE sAo PAULO

PROF. DR. CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZPRESIDENTE

PROF. DR. PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADOVICE-PRESIDENTE

CONSELHO SUPERIORADILSON AVANSI DE ABREUALAIN FLORENT STEMPFER

CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZCARLOSVOGT

FERNANDO VASCO LEÇA DO NASCIMENTOHERMANN WEVER

JOS, JOBSON DE ANDRADE ARRUDAMAURICIO PRATES DE CAMPOS FILHO

NILSON DIAS VIEIRA JUNIORPAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO

RICARDO RENZO BRENTANIVAHAN AGOPYAN

CONSELHO T~CNICO-ADMINISTRATIVOPROF. DR FRANCISCO ROMEU LANDI

DIRETORPRESIDENTEPROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO ENGLER

DIRETORADMINISTRATIVOPROF. DR. JOS, FERNANDO PEREZ

DIRETORCIENTíFICOEQUIPE RESPONSÁVEL

CONSELHOEDITORIALPROF. DR. FRANCISCO ROMEU LANDI

PROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO ENGLERPROF. DR. JOSÉ FERNANDO PEREZ

EDITORACHEFEMARILUCE MOURAEDITORESADJUNTOS

MARIA DA GRAÇA MASCARENHASNELDSON MARCOllN

EDITORDE ARTEHÉLIO DE ALMEIDA

EDITORESCARLOS FIORAVANTI (CI(NClA)CLAUDIA IZIQUE (POLinCA C&D

MARCOS DE OLIVEIRA [TECNOLOGIA)EDITOR·ASSISTENTE

ADILSON AUGUSTOREPÓRTERESPECIALMARCOS PIVEnA

ARTEJOS, ROBERTO MEDDA (DIAGRAMAÇAO)

TÂNIA MARIA DOS SANTOS(DIAGRAMAÇAO EPRODUÇÃOGRÁFICA)

FOTOGRAFOSEDUARDO CESARMIGUEL BOYAYANCOLABORADORES

ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZAMILCAR DE CASTROANA MARIA FlORICARLOS TAVARES

JOS, TADEU ARANTESLUCAS ECHIMENCO

MAURICIO LIBERAL AUGUSTOMAURO BELLESAono FILGUEIRASRENATA SARAIVAROBSON BORGES

SIMONE BIEHLER MATEOSTÂNIA MARQUES

YURI VASCONCELOSFOTOLITOS

GRAPHBOX·CARANIMPRESSÃO

PADILLA INDÚSTRIAS GRÁfiCAS S.A.TIRAGEM: 24.000 EXEMPLARES

FAPESP

R~tT6Ig;IL~~l ~0~AÕE~A~~~-~~1TEL.(O - 11) 3838·4000 - FAX: (O - 11) 3838-4181

SITE DA REVISTA PESQUISA FAPESP:httpJ/www.revistapesquisaJapesp.br

[email protected] artigos assinados não refletem

necessariamente a opinião da FAPESPt PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIALDE TEXTOS E FOTOS SEM PRÉVIA AUTORIZAÇAo

SECRETARIA DA CltNCIA TECNOLOGIAE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

EDITORIAL

AsGa, um caso exemplar

Desdeque o antigo boletim No-tícias FAPESP tornou-se Pes-quisa FAPESP, em outubro de

1999, ainda não havíamos encontra-do uma oportunidade para transfor-mar em objeto da reportagem de capada revista um caso de sucesso de peque-na empresa, baseado em suas ativida-des de pesquisa e desenvolvimento(P&D). Foram muitos, é verdade, osbons resultados de projetos apoiadospela FAPESP,dentro do Programa deInovação Tecnológica em PequenasEmpresas (PIPE), apresentados na se-ção de Tecnologia. Mas, ao longo das20 edições anteriores, outros temas ter-minaram se impondo como assunto dacapa. E ainda que os critérios para ele-ger o que merece a capa pareçam sem-pre óbvios a qualquer editor, trata-se,de fato, de escolha nem sempre fácil.

Nesta edição, no entanto, as dúvi-das não prosperaram. Tínhamos areportagem com uma charmosa pes-quisa mostrando que forças atuamnos movimentos do corpo humano eindicando até a forma ideal de baterna bola de tênis (página 48). Tínha-mos uma outra reportagem impor-tante sobre o lançamento, em breve,do primeiro livro contemporâneosobre a flora fanerogâmica do Estadode São Paulo, que reúne informaçõessobre quase 500 espécies de gramíne-as nativas ou originárias de outrospaíses (página 26). Seriam, em outrasocasiões, possibilidades de capa, masnão desta vez: o caso da AsGa (pági-na 54) se impôs porque ele é, no mí-nimo, emblemático do potencial deum setor - o das pequenas empresas- que o senso comum, pelo menosno Brasil, nem sempre associa à ca-pacidade de inovar e fazer tecnologiade ponta. Essa pequena empresa dePaulínia, a 15 minutos da Unicamp,fabricante de multiplexadores e mo-dens ópticos, conseguiu elevar seu fa-turamento de R$ 16,5 milhões, em

1999,para R$ 31,5 milhões, em 2000 e,finalmente, para os esperados R$ 100milhões deste ano. Está obtendo essamarca impressionante, com certeza,graças à visão estratégica, à capacida-de empreendedora, à saudável teimo-sia, até, de seus criadores, mas tam-bém e talvez principalmente por suadeterminação inarredável de investirem P&D, e pelo apoio financeiro quepara isso obtiveram - no caso, apoiodo PIPE que, lançado em 1997, hojefinancia 165 projetos de inovação empequenas empresas, das quais muitasdeverão repetir o sucesso comercialda AsGa.

Vale deter-se um pouco sobre esseexemplo da AsGa num momento emque o país propõe-se a discutir, sobos auspícios do Ministério da Ciênciae Tecnologia e da Academia Brasileirade Ciências, uma política de ciência,tecnologia e inovação (CT&I) para ospróximos dez anos. Ora, nas confe-rências regionais preparatórias paraesse debate nacional (ver reportagem arespeito na página 14), entre os múlti-plos diagnósticos sobre o setor, mos-trou-se à exaustão que um dos maissérios problemas da CT&I no país ésua parca capacidade de transformarconhecimento em riqueza, por umarazão fundamental: é muito baixa ain-da a participação das empresas nosinvestimentos totais do setor, algo emtorno de 30%. Será por distorções dacultura empresarial brasileira, por-que faltam mecanismos suficientes deapoio ao investimento em P&D, pordificuldades conjunturais que barramos investimentos de retorno maislongo e alto risco, seja pelo que for, oque o exemplo da AsGa indica é que,com os apoios adequados, há chances,sim, de se criar no país um ambienteempreendedor novo, fundado na níti-da compreensão de que conhecimen-to é a grande fonte de riqueza nas so-ciedades contemporâneas.

PESQUISA FAPESP • AGOSTO DE 2001 • 5

Page 6: Fibra para inovar

MEMÓRIA/ HOMENAGEM

As lições do pesquisador

"Serprofessor não eraexatamente uma profissãopara ele. Era um jeitode viver: observava tudoe ensinava o tempotodo. Tinha enormeprazer em viver assim."

Isadora Monticelli

Üdepoimento de Isa-dora sobre seu pai,Alcir José Monti-

celli, é corroborado portodos os que trabalharame conviveram com ele.Professor titular da Facul-dade de Engenharia Elé-trica e de Computação daUniversidade Estadual de Campinas(FEEC/Unicamp), autor de três li-vros sobre potência e energia, pes-quisador com 35 artigos publicadosem periódicos de primeira linha doexterior e mais de SOOcitações cata-logadas no Science Citation Index.Era assessor da National ScienceFoundation (NSF) e membro dasprincipais conferências de sua áreade atuação. Monticelli ainda teveuma passagem de grande valia pelaFAPESP, onde foi o mentor de umdos mais importantes projetos já co-locados em prática pela Fundação, oPrograma Inovação Tecnológica emPequenas Empresas (PIPE). Doentehavia alguns anos, o professor mor-reu no Hospital de Clínicas da Uni-camp, em razão de complicações de-correntes de problemas no rim, nodia 5 de agosto, aos 54 anos.

6 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

Aleir José Monticelli, professor daUnicamp e colaborador da

FAPESp,morreu no começo de agosto

Monticelli com a mulherMaria Stella, em 1994: trabalhosno Brasil, Estados Unidos e Japão

Monticelli era natural de Rio Ca-pinzal, Santa Catarina, mas mudou-se com a família para Sorocaba, SãoPaulo, e graduou-se em engenhariaeletrônica em São José dos Campos,no Instituto Tecnológico de Aero-náutica (ITA), em 1970. Formou-se efoi para Campina Grande fazer omestrado na Universidade Federal daParaíba (UFPB), terminado em 1972.De volta a São Paulo, decidiu se ins-talar em Campinas e cursar o douto-ramento em automação na Uni-camp, completado em 1975. Daí emdiante, sempre manteve o vínculocom essa universidade na qual se tor-nou professor titular em 1982."Alcir Monticelli foi uma liderançaacadêmica importantíssima", teste-munha Carlos Henrique de BritoCruz, presidente da FAPESP e diretordo Instituto de Física da Unicamp.

"Ele colocava os valores daacademia acima de qual-quer outra coisa dentro dauniversidade."

Embora sempre tivessepreferência por trabalharno Brasil, em 1982 foi le-. .cionar, escrever e pesqui-sar na Universidade daCalifórnia, em Berkeley,Estados Unidos, com amulher Maria Stella e asfilhas Viridiana, Isadora eLeonora, esta última re-cém-nascida. Também pas-sou uma temporada noJapão, entre 90 e 91, comopesquisador do grupo deinteligência artificial e com-

putação paralela da Mitsubishi Elec-tric Corporation.

A atuação na FAPESP começouem 1987, como assessor. Durante adécada de 1990, passou pela coorde-nado ria de inovação tecnológica, deengenharias e integrou o ConselhoSuperior da Fundação. "Certo dia,em 1996, ele entrou na minha sala ecomeçou a falar, cheio de entusias-mo, sobre um interessante programanorte-americano de inovação tecno-lógica em pequenas empresas': lem-bra o diretor científico da FAPESP,José Fernando Perez.

Monticelli havia recebido a in-cumbência de analisar dois projetoscientíficos em trâmite na NSF, queusavam seus artigos como a principalreferência. Esses projetos faziam par-te do Small Business Inovation Rese-arch (SBIR), um programa mantido

Page 7: Fibra para inovar

por agências governa-mentais de fomento àpesquisa com verbas su-periores a US$ 100 mi-lhões. As agências desti-nam de 2,5% a 5% deseu orçamento para oSBIR, que apoia inova-ção tecnológica em pe-quenas empresas. Mon-ticelli propôs a criaçãode algo semelhante paraa FAPESP.

"A idéia era muitoboa e pedimos a ele paratrabalhar numa primei-ra versão da adaptaçãodo que viria a ser oPIPE", conta Perez. Al-guns meses depois, em18 de junho de 1997, o PIPE foilançado com a presença do entãogovernador Mário Covas (1930-2001) - foi o primeiro programa aapoiar a pesquisa para inovaçãotecnológica diretamente na em-presa por meio da concessão de fi-nanciamento ao pesquisador vin-culado a ela ou associado. "Graçasa ele, temos um espaço mais ade-quado para que a Fundação cum-pra sua função constitucional queé fomentar a pesquisa para o de-senvolvimento científico e tecno-lógico", diz Perez.

Superando todas as expectati-vas, no primeiro edital do PIPEforam recebidas 82 propostas - es-

perava-se em torno de20. No fina], 32 acaba-ram aprovadas e, de lápara cá, já foram aprova-dos 165 projetos. Umdos mais vistosos é obje-to de capa da atual edi-ção, a AsGa, fabricantede equipamentos parasistema de telecomuni-cações. Participante doPIPE, a empresa prevêalcançar US$ 100 mi-lhões de faturamentoneste ano. "Por ter dadocontribuições como essa,do PIPE, Monticelli foimuito especial para aFAPESP", diz Perez.

O pesquisador era ri-goroso e criativo em todas as suasáreas de trabalho. Um dos três li-vros que escreveu, State EstimationIn Electric Power Systems: a Gene-ralized Approach, publicado sobencomenda da Kluwer AcademicPublisher, editora norte-ameri-cana, foi adotado por numerososcursos de pós-graduação em enge-nharia elétrica nos Estados Uni-dos. "É o texto definitivo para essaárea", afirmou em carta à mulherde Monticelli, Maria Stella, o pro-fessor Bruce S.Wollenberg, do De-partamento de Energia Elétrica daUniversidade de Minnesota.

Tanta competência como pro-fessor, pesquisador, escritor eformulador de políticas para ino-vação tecnológica não roubavatempo da família e do lazer. Mon-ticelli tocava flauta transversal,adorava astronomia e era adeptode caminhadas. "Se qualquer pes-soa entrasse na biblioteca do meupai, não saberia dizer qual era suaespecialidade", conta Isadora, a fi-lha do meio. "Ele tinha em igualquantidade livros de história, lite-ratura, música e filosofia, tantoquanto de engenharia."

Entre 1990 e 1991, Monticellipesquisou inteligência

artificial e computação no Japão

STATE ESTIMATIONINELECTRICPOWER SYSTEMSA Ceneralizcd Approach

A. MonuceJli

o livro feito sob encomenda:sucesso na pós-graduação

dos Estados Unidos

Integrando o Conselhoda FAPESp,em 1997:idéias inovadoras

PESQUISA FAPESP • AGOSTO DE 2001 • 7

Page 8: Fibra para inovar

~GOVERNO DO ESTADO DE

SÃO PAULO

Secretaria daCiência, Tecnologiae DesenvolvimentoEconômico

#tJAPESP Rua Pio XI, 1500 - Alto da Lapa05468-901 - São Paulo - SPTel. (11) 3838-4000www.fapesp.br

Page 9: Fibra para inovar

OPINIÃO

MARCO ANTONIO ZAGO

Um debate fora de focoMuitas das discussões sobre células embrionárias têm base em especulações

I r "A comunidadecientífica temum papel centralpara promovero diálogo com asociedade"

A evidência que a pesquisa com células pro-genitoras embrionárias (stem cells ou célu-las-tronco) alcançou nos últimos meses é

resultado do progresso e da controvérsia. Os pro-gressos obtidos nessa área indicam que essas pes-quisas vão produzir numerosas aplicações práticaspara a medicina e a biologia, mas ao mesmo tem-po estão gerando uma viva controvérsia no terrenoda ética, levando a intervenções de governantes,parlamentares e líderes religiosos. Énecessário enfatizar que muitas dasdiscussões têm por base especula-ções que estão distantes da realida-de científica atual, situando-se qua-se no campo da ficção científica,enquanto a multiplicidade de célulasprogenitoras no organismo contri-bui para confundir a questão, pois asrestrições éticas relacionam-se ape-nas aos experimentos com uma dascategorias dessas células: células em-brionárias totipotenciais, derivadasda massa interna de blastocisto obti-do de óvulo fertilizado in vitro ou detecidos fetais obtidos em gravidez in-terrompida precocemente. A seme-lhança entre a transferência de nú-cleo em célula somática representaum método alternativo de produção de célula-tronco embrionária, e a semelhança desta aborda-gem com os passos iniciais da clonagem de mamí-feros tem contribuído para aumentar a confusão.

As possíveis aplicações dessas células na me-dicina incluem a regeneração de tecidos (como omiocárdio após o enfarte, o pâncreas em diabéti-cos, o tecido muscular de portadores de distrofiamuscular, e mesmo o tecido nervoso, tido até hápouco tempo como impossível de ser reparado).Essas linhagens poderiam ainda servir para testesde medicamentos e para a compreensão dos meca-nismos complexos envolvidos no desenvolvimen-to humano e os fatores que controlam a forma-ção de células especializadas, com importantesreflexos sobre a pesquisa do câncer.

Outra conseqüência benéfica desses estudos éo estímulo à pesquisa com células progenitorasde adultos, células multipotenciais presentes emvários tecidos humanos, das quais as mais bemconhecidas e exploradas são as células hernato-poéticas. Paralelamente, o sangue de cordão um-bilical poderá revelar-se fonte de células progeni-toras mais imaturas, como já ocorreu no caso dalinhagem hematopoética.

A comunidade científica temum papel central para sustentar apesquisa nessa área e promover odiálogo com a sociedade para afas-tar temores e ajudar a definir os li-mites das intervenções. Devemospromover pesquisas básicas e apli-cadas sobre o uso de células proge-nitoras de diferentes fontes e, aomesmo tempo, estimular um deba-te fundamentado no conhecimentocientífico e no interesse da socieda-de, para permitir que os pesqui-sadores participem do grande pro-gresso que ocorrerá nessa área nofuturo imediato. Nesse sentido, odebate ético sobre experimentaçãocom células embrionárias pareceestar muitas vezes deslocado.

Por exemplo, qual o destino de embriões su-pranumerários congelados obtidos por fertiliza-ção in vitro, guardados em clínicas de fertilizaçãoque não serão mais utilizados para implantação edesenvolvimento de fetos? O debate ético deveriaconcentrar-se na sua produção. Se a sociedade e asorganizações médicas consideram ético produzi-los para reprodução (e são produzidos aos milha-res) e não são capazes de encontrar um destinoútil para eles, a sua utilização para fins médicos ede pesquisa biológica não parece indefensável.

MARCO ANTONIO ZAGa é professor da Faculdadede Medicina de Ribeirão Preto da USP e coordenadordo Cepid Centro de Terapia Celular

PESQUISA FAPESP . AGOSTO DE 2001 • 9

Page 10: Fibra para inovar

POLíTICA CIENTíFICA E TECNOLÓGICA

Reengenharia no Smithsonian

Fóssil de Triceratopis no Museu de História Natural do Smithsonian: enxugamento

o Instituto Smithsonian,um dos maiores conglo-merados científico-cultu-rais dos Estados Unidos,passa por uma reengenha-ria administrativa de tiraro sono de muitos dos 6.300funcionários. Sediada emWashington, onde man-tém o zoológico nacional e14 de seus 16 museus, a en-tidade decidiu fechar nofim do ano um dos seiscentros pesquisa que pa-trocina fora da capital nor-te-americana. Encerrandoem 31 de dezembro desteano as atividades do Cen-tro de Pesquisa de Materiale Educação, que fica no Es-

tado vizinho de Maryland,os dirigentes do Smithso-nian vão economizar US$2 milhões por ano. O valorpode não parecer muitosignificativo para uma ins-tituição que conta com umorçamento anual de cercade US$ 450 milhões, 70%dos quais provenientes dogoverno federal. O proble-ma é que 'o Smithsonian,fundado há 155 anos, passapor um momento delica-do: o número de funcioná-rios aumentou, as doaçõesde particulares já não sãotão gordas quanto antiga-mente e uma nova menta-lidade reina na casa. Seu

atual chefão, LawrenceSmall, ex-executivo do Ci-tibank e primeiro homemde fora do meio acadêmicoa gerir a instituição, querreduzir as linhas de pesqui-sa que produzem ciênciade menor impacto e con-centrar esforços e verbasnas áreas em que o Smith-sonian é referência mun-dial. Além disso, muitosdos museus e centros estãodeteriorados e precisam dereforma urgente (dois de-les estão neste momentofechados para reparos). Ocusto da remodelação detodo o complexo assusta:US$ 1,5 bilhão. •

• Itália dobra verbapara pesquisa

Para tirar o atraso em relaçãoàs potências científicas doplaneta, o governo italianoprometeu recentemente do-brar a verba destinada à pes-quisa e tecnologia. A ministra

10 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

da Pesquisa e Educação, Leti-zia Moratti, disse que, nospróximos cinco anos, a terrade Dante e Galileu vai elevaro valor da verba investidaanualmente no setor de 1%para 2% do PIE nacional, se-gundo a revista Nature (2 deagosto). Se a promessa sair

mesmo do papel, algo comoUS$ 22 bilhões passarão a en-trar a cada 12 meses nas uni-versidades e centros de pes-quisa do país. O reforçoorçamentário é mais do ne-cessário. Hoje, embora estejaentre as oito maiores econo-mias do globo, a Itália, pro-

porcionalmente, investe me-nos em C&T do que a médiadas nações da União Euro-péia. A comparação é aindamais desconfortável para ositalianos quando do outrolado figuram Alemanha, Japãoou Estados Unidos, paísesque chegam a alocar entre2,5% e 3% do PIE para C&T.O Brasil investe 1% no setor- ou R$ 15 bilhões. •

• o apelo doscientistas japoneses

As diretrizes da política cien-tífica do primeiro-ministrojaponês, Junichiro Koizumi,estão provocando mal-estarentre os pesquisadores dopaís. Os cientistas estão preo-cupados na ênfase que Koi-zumi dá à pesquisa e desen-volvimento em detrimentodo apoio considerado insufi-ciente para pesquisa básica,segundo informa a revistaNature (26 de julho). As li-nhas determinadas peloConselho para Política deCiência e Tecnologia japonêspriorizam quatro áreas - ciên-cias da vida, tecnologia da in-formação, meio ambiente enanotecnologia -, além dareforma do sistema de C&T,para ter uma economia maiscompetitiva e vigorosa. De-zoito líderes de alguns dosprincipais institutos de pes-quisa do país discordaram dainiciativa e escreveram umacarta aberta - um gesto dra-mático para os padrões japo-neses - ao primeiro-ministroafirmando que a nova políti-ca asfixia a pesquisa básica"mobilizando completamen-te a ciência e tecnologia paraobjetivos de curto prazo diri-gidos para a competitividadeindustrial': "Não há clareza

Page 11: Fibra para inovar

A avenlura das ~5--'~Envie sua sugestão de site científico para [email protected]

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www.aventuradasparticulas.ift.unesp.br

Página em português sobre física departículas com explicações relativas aoModelo Padrão e teorias diversas.

www.salmonella.org

Dados fartos sobre a bactériaSalmonella, inclusive com umaseqüência de genes disponível on-line.

www.nit.ufscar.br/lamav

Informações sobre pesquisas,ensaios, consultoria, patentes eartigos científicos sobre vidros.

vista Nature (19 de julho).Em seu último estudo, oNRC aponta queda de matri-culados em química, física,matemática e engenharia emostra os investimentos fe-derais dirigidos para as ciên-cias biológicas. Por exemplo,o número de estudantes de fí-sica caiu 22% entre 1993 e1999, enquanto o de ciênciasmédicas cresceu 41%. Umaumento do valor para osfundos de pesquisa talvez de-tenha essa queda. MichaelLubell, físico do City Collegede Nova York, prevê que oefeito da diminuição do in-vestimento na área e de estu-dantes será sentido gradual-mente: "Com os pesquisado-res fora dos laboratórios na-cionais e das universidades,será difícil repor mão-de-obra altamente cualificada" •

• Ciênciasexatasperdem mão-de-obra

o número de estudantes ma-triculados nos cursos de ciên-cias exatas nos Estados Uni-dos está caindo dramatica-mente, de acordo com oConselho Nacional de Pes-quisa (NRC), segundo a re-

• Petróleo ajudaacademia africana

Quando se trata de ciência, aÁfrica não é levada em contapelo mundo desenvolvido,mas tenta investir no setorsempre que pode. A Nigéria,país rico em petróleo, doouUS$ 5 milhões para a Acade-mia Africana de Ciências(AAS) em agosto e aumentou

Porcentagem do número de estudantes graduadosnos Estados Unidos (1993-1999)

40000000000""0 __ 000000""0000""_30 o

2010

O

~~~ 0.0.010 I. •

Koizumi: diretrizes criticadas

na nova política científica dadistribuição de verbas paraciência básica e isso é preocu-pante", alerta Yoshiki Hotta,diretor do Instituto Nacionalde Genética. Alguns empre-sários fizeram coro com ospesquisadores. "O governonão tem clareza de qual é omelhor tipo de pesquisa parao país", disse Toshiaki Ikoma,presidente da Texas Instru-ments no Japão. •

a dotação do organismo paraUS$ 20 milhões, de acordocom a revista Science (10 deagosto). A doação é três vezesmaior que o orçamento anualda academia e indica que ointeresse pelo setor cresce nocontinente. O presidente ni-geriano Olusegun Obasanjocriou um conselho de ciênciapara inforrná-Io sobre assun-tos correntes, como os avan-ços e possibilidades da bio-tecnologia, por exemplo. Odinheiro doado à AAS ajuda-rá o fundo de pareceristasque fazem a revisão dos tra-balhos científicos em toda aAfrica, "Foi uma ação visio-nária para o continente", dizo presidente do organismo,Mohamed Hassan. Fundadaem 1985, com sede em Nairó-bi, a academia tem 112 inte-grantes de 24 países. •

PESQUISA FAPESP . AGOSTO DE 2001 11

Page 12: Fibra para inovar

Maisvagas nas universidades estaduaisPressionadas pela demandacrescente de estudantes quesaem do ensino médio, asuniversidades estaduais pau-listas aprovaram a aberturade 1.185 novas vagas para2002. A medida é parte doesforço para expandir o sis-tema público de educa-ção paulista, que deveráter, em breve, de 400 mila 500 mil alunos porano batendo nas portasdas faculdades em bus- IIca de cursos superiores. IIAs instituições públicasdo Estado de São Paulosão responsáveis por10% das vagas ofereci-das - as estaduais respon-dem por apenas 5,5%delas (ou 17,5 mil) nasuniversidades de SãoPaulo (USP), Paulista(Unesp) e de Campinas(Unicamp). Os outros90% são supridos pelo

setor privado. O Conselhodos Reitores das Universi-dades Estaduais (Cruesp )preparou o estudo Expan-são do Sistema EstadualPúblico do Ensino Superior,com o diagnóstico da atualsituação e sugestões para

novas unidades na BaixadaSantista, no centro e na Zo-na Leste de São Paulo, e emLimeira, Paulínia e São Car-los. O relatório também en-fatiza a necessidade de seinstalar cursos seqüenciais ebásicos nas escolas técnicas

estaduais do sistemaPaula Souza e a criaçãode outras 20 escolas su-periores próximas a cida-des populosas do Estado.Além disso, as Fatecs de-verão ser ampliadas apro-veitando as estruturasdisponíveis nessas esco-las e devem ser imple-mentados programas deformação de professorespara o ensino básico, pe-las três universidades. Oestudo prevê a aberturade 56,7 mil vagas e 133mil matrículas no ensinosuperior público pau-lista em dez anos. •_0_ . _o~

melhorar o quadro nospróximos dez anos. Entre asprincipais medidas a seremtomadas, o Cruesp indica aexpansão dos cursos tradi-cionais dentro dos campiexistentes, mas apresenta apossibilidade da criação de

EXPANSÃO PLANEJADAComo as universidades criarão mais vagas

Item Novasvagas I"

Novasmatrículas (21

Tempo %denecessário III crescimento 1'1

ExpansãoCriação de cursosseqüenciais e básico

Cursos

I

I profissionalizantesde nível superior

Formação deprofessores parao ensino básico

4.14547.000

600

5.000

20.730

94.00010 anos 263 anos 118

3 anos 4,5

00 __ 0_

3 anos 19

-<- 167

• Bahia cria fundaçãode amparo à pesquisa

Depois de vários anos de rei-vindicação da comunidadecientífica baiana, o governodo Estado e a Assembléia Le-gislativa aprovaram a criaçãoda Fundação de Amparo. àPesquisa na Bahia (Papesb),no fim de agosto. A mobili-zação por um organismodescentralizado e com auto-nomia política e administra-tiva vem desde os debatespara a preparação da Consti-tuição de 1988 e das Consti-tuições estaduais, de 1989..AFapesb incorporará o Centrode Apoio ao Desenvolvimen-to Científico e Tecnológico(CADCT), uma superinten-dência que funciona como

12 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

Total geral 56.745

3.600

15.000

133.330

1.Total de vagas oferecidas ao longo da implantação; 2 Total de novas matriculasao final da implantação; 3.Tempo necessário para a implantação total; 4. Porcentagemde crescimento em relação a 80.000 matriculas atuais

Fonte: Cruesp

órgão da adminstração cen-tral com muita rigidez opera-cional. A lei prevê 1% da re-ceita tributária líquida doEstado, mais. 3% do lucro lí-quido da Agência de Desen-volvimento da Bahia (Desen-Bahia, o antigo Desenbanco)para a fundação, que terá au-tonomia gerencial e flexibili-dade administrativa. "A Fa-pesb nascerá também com .maior visibilidade social doque um órgão centralizado,como é o CADCr: explica asuperintendente Cleilza Fer-reira Andrade. A previsão éque a fundação comece a fun-cionar efetivamente nos pri-meiros dias de 2002 com umorçamento de R$ 21,5 mi-lhões, fora o dinheiro da De-senBahia, impossível de ser

calculado hoje.A Fapesb fica-rá alocada num prédio antigoda Colina de São Lázaro, emSalvador, de 19.200 metrosquadrados. •

• Competênciareconhecida

A seção News Focus da ediçãode 31 de agosto da Science, re-vista científica editada pelaAmerican Association for theAdvancement of Science, de-dica uma página ao progra-ma Rede de Biologia Molecu-lar Estrutural (SMOLBnet),da FAPESP. A reportagemtambém faz um panorama edescreve as potencialidadesda pesquisa brasileira em ge-nômica, apresentando os re-sultados dos projetos de se-

qüenciamento concluídos pe-la Organização de Seqüencia-mento e Análise de Nucleo-tídeos (ONSA), o institutovirtual de genômica criadopela Fundação em 1997. A re-vista situa a FAPESP como amais bem-sucedida agênciade fomento do Brasil e destacaas opiniões dos professoresWayne Hendrickson, da Uni-versidade de Colúmbia, e Io-hann Deisenhoffer, da Uni-versidade do Texas, ganhadordo prêmio Nobel de Químicaem 1988. Hendrickson afirmaque o Brasil atingiu a mesmacapacidade de competição depaíses avançados na área eDeisenhoffer elogia a quali-dade da luz síncrotron utili-zada nas pesquisas do pro-grama SMOLBnet. •

Page 13: Fibra para inovar

Homenagem à FAPESP

Perez descobre placa na Unifesp: dimensão coletiva

Numa pequena cerimô-nia, a Universidade Fede-ral de São Paulo (Uni-fesp) homenageou odiretor científico da FA-PESP, o físico José Fer-nando Perez, dando seunome ao Centro de Pes-quisas do Genoma, inau-gurado oficialmente namanhã de 28 de agosto -é uma tradição da escoladar nomes de pessoas vi-vas a seus laboratórios ecentros. "A inserção doBrasil na competitivaárea da Ciência Genômi-ca, liderada pelo profes-sor Perez, é fato já conhe-cido por todos", disseMarcelo Briones, profes-sor do Departamento deMicrobiologia da Unifespe um dos coordenadoresde seqüenciamento doGenoma Câncer. Depoisde listar os principais da-dos do currículo de Pe-rez, Briones estendeu ahomenagem aos funcio-nários da FAPESP. Fala-ram também o reitor dauniversidade, Hélio Egy-dio Nogueira, o pró-rei-tor de Pós-Graduação ePesquisa, Nestor Schor, opró-reitor de Extensão,Manoel Lopes dos Santos,e o coordenador de pes-

quisa da Pró-Reitoria dePós-Graduação e Pesqui-sa, Ruy Maciel, paraquem "um centro de pes-quisas que trata da genô-mica e congrega diversosgrupos de pesquisadorestraz a marca típica da vi-são e gestão de José Fer-nando Perez e só poderialevar o seu nome': Perezressaltou "a nítida di-mensão coletiva" da ho-menagem. "Só com esseentendimento posso mesentir à vontade paraaceitá-Ia", disse. "É umahomenagem à FAPESPcomo um todo, do Con-selho Superior ao quadrode funcionários, em ra-zão da in'iciativa ousadada instituição no campoda genômica." Perez diri-giu-se também aos pesqui-sadores responsáveis peloprojeto desde a idéia ini-cial e à equipe de adjun-tos da diretoria científica,"l'arrnata Brancaleone",comparou, com humor,lembrando o filme deMario Monicelli, "quecompartilha o sonho dabusca por Aurocastro,pela utopia cada vez maisrealizável de nos tornar-mos um país forte emciência e tecnologia". •

Obra de contenção de águas em área erodida no Galeão

li Inaugurado Centrode Terapia Celular

Foi inaugurado, em RibeirãoPreto, no início de agosto, oprédio do Centro de TerapiaCelular (CTC), um dos dezCentros de Pesquisa, Inova-ção e Difusão (Cepids) daFAPESP. "Aproveitamos oantigo prédio do Hemocen-tro Regional que está sendoampliado': conta Marco An-tonio Zago, diretor científicodo CTC, que desenvolve vá-rias linhas de pesquisa utili-zando como matéria-primaa célula-tronco, presente nosangue do feto e no cordãoumbilical, que dá origem avários tipos de células san-güíneas, como as hemácias,linfócitos e plaquetas, porexemplo. As pesquisas de-senvolvidas no CTC com ascélulas-tronco têm o objeti-vo de desenvolver terapiascontra algumas doenças au-to-imunes e leucemias. •

• Ação pararecuperar aeroportos

A Infraero decidiu investirna recuperação de 19 aero-portos brasileiros e assinouconvênio com a EmpresaBrasileira de Pesquisa Agro-pecuária (Embrapa) pararestaurar áreas degradadasem estado crítico. O trabalho

começa com o diagnósticode cada região e a avaliaçãodo estado do solo. Depois,serão elaborados os projetose propostas as medidas paradiminuir a degradação. Fi-nalmente, os pesquisadoresda Embrapa acompanharãoa execução dos projetos, acargo de terceiros. "Comotoda grande obra, os aero-portos movimentam grandequantidade de terra, em ra-zão das escavações, aterro deestradas e drenagem, entreoutras ações, o que provocaproblemas ambientais", dizAloísio Granato, coordena-dor da equipe que trabalharáno projeto, da Embrapa So-los. O estudo começou peloGaleão/Antônio Carlos [o-bim, do Rio de Janeiro, nofinal do ano passado. "Mos-tramos que tínhamos condi-ção de fazer um trabalhomais amplo e assinamos umcontrato com a Infraero parafazer o mesmo trabalho emoutros lugares do país." Gra-nato calcula que a operaçãodeve durar um ano até con-seguir ter as áreas afetadasestabilizadas, dependendo daregião onde está o aeroporto- Cerrado, Mata Atlântica,Amazônia, etc. O valor doinvestimento é de R$ 722mil e os pesquisadores esti-mam o prazo de execuçãoem 42 meses. •

PESQUISA FAPESP • AGOSTO Df 2001 • 13

Page 14: Fibra para inovar

POLíTICA CIENTífiCA E TECNOLÓGICA

CON FEId.~NCIA REC ION 1\ L

São Paulo propõe• •novos Incentivos

•para pesquisa

OBrasil deve tomar medidas urgentes para superar o atrasotecnológico que compromete o seu desenvolvimento ecompetitividade. É preciso estimular investimentos emPesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I). As ativi-dades de pesquisa, hoje concentradas nas universidades,

têm que ser levadas também para dentro das empresas. Esse desafio exi-ge a implementação de políticas de incentivos fiscais e apoio do gover-no. Essa avaliação, endossada por empresários, parlamentares, pesquisa-dores, jornalistas e representantes de universidades e institutos depesquisa, norteou os debates da Conferência Regional de Ciência, Tec-nologia e Inovação do Estado de São Paulo, realizada na Assembléia Le-gislativa nos dias 16 e 17 de agosto.

O encontro te~e por objetivo discutir as prioridades de São Paulopara a área e preparar as contribuições paulistas para a Conferência Na-cional que o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e a AcademiaBrasileira de Ciências realizarão em Brasília, entre os dias 17 e 21 de se-tembro, com a ambição de traçar uma política científica e tecnológicapara os próximos dez anos. Em São Paulo, assim como nas demais re-giões do país (ver página 20), os debates foram orientados por cinco gran-des temas propostos: Avanço do Conhecimento, Qualidade de Vida,Desenvolvimento Econômico, Desafios Estratégicos e Desafios Institu-cionais. "Este é um debate estratégico para o futuro do país", afirmou osecretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Es-tado de São Paulo, Ruy Altenfelder Silva.

"O desafio de transformar conhecimento em riqueza só será possívelcom apoio oficial e para viabilizar o envolvimento da empresa em ativida-des de P&D", disse Carlos Henrique de Brito Cruz, presidente da FAPESP,um dos debatedores do tema C&T&I e Desenvolvimento, coordenadopelo jornalista Roberto Müller Filho, da Gazeta Mercantil. Brito lembrouque foi a ação do Estado, por meio de uma bem-sucedida política de in-centivos fiscais, que permitiu que a Coréia expandisse sua economia e

Pesquisadores, cientistas, empresários eparlamentarespedem a implementação de política fiscal paraestimular investimentos de empresas em inovação

14 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

Page 15: Fibra para inovar

ampliasse sua participação no mercado mundial. Enquantoo Brasil tem hoje apenas 11% de seus cientistas e engenheirostrabalhando em empresas e 89% nas universidades e insti-tutos de pesquisa, a Coréia tem 54% desses profissionais nainiciativa privada. "É preciso criar um ambiente menoshostil para as empresas investirem em P&D", completou.

Nos países desenvolvidos, as empresas têm papelfundamental na implementação da pesquisa aplica-da, sempre apoiadas por subsídios oficiais. Britolembrou o Buy American Act, lei norte-america-na que prioriza as empresas nacionais nas com-pras governamentais. "Os Estados Unidosdedicam US$ 25 milhões ao ano para isso",destacou. No Brasil, a situação é diversa.Gilberto Câmara Neto, pesquisador do Ins-tituto Nacional de Pesquisas Espaciais(Inpe), lembrou que o governo con-trata apenas 10% de seus projetos desatélites de empresas brasileiras. "Oprograma espacial tem de ser uminstrumento de política industrial,privilegiando a indústria nacionalnesse setor estratégico, como ocor-re nos países desenvolvidos': disseCâmara, garantindo que mais dametade do que é contratado noexterior poderia estar sendo com-prado aqui.

A ausência de uma políticade incentivos tem seu preço.Aqui, o setor privado é responsá-vel por, no máximo, 35,7% do to-tal de gastos em P&D, enquantonos países da Organização paraCooperação e DesenvolvimentoEconômico (OCDE) o percentualmédio chega a 70%. Nos EstadosUnidos, o governo paga cerca de 40% I

do total de gastos feitos em pesquisaaplicada e desenvolvimento, embora re-alize apenas 10% das atividades relativasa esses gastos: 90% são feitas pelas empre-sas. A isenção fiscal por investimentos empesquisa chega a 30% em alguns desses paí-ses, enquanto no Brasil é de apenas 5%. "Pre-cisamos rever isso': ressaltou Brito.

Incentivos fiscais - Nas regras do comércio interna-cional, não existem impedimentos para a implemen-tação de políticas de incentivo a investimentos em P&Ddas empresas. José Augusto Correia, do Departamento deTecnologia da Federação das Indústrias do Estado de SãoPaulo (Fiesp), ressalvou que o subsídio à inovação é um dospoucos não penalizados pelo acordo da Organização Mun-dial do Comércio (OMC), assinado por 142 países, que ad-

Page 16: Fibra para inovar

Investimento empresarial em P&De patentes: lkasU e COl'éíamite que esses auxílios cu-bram até 75% do custo dapesquisa. O Brasil tambémdispõe de uma Lei de Incenti-vos à P&D, a 8.661/93. Masela representa apenas 2% dovalor total da renúncia fiscala título de incentivo à pesqui-sa, desenvolvimento e capacita-ção tecnológica nas empresas,que, no ano passado, somouR$ 1,55 bilhão. Dois terçosdesse total resultaram da Leide Informática (8.248/91),um quarto é fruto da lei espe-cífica para a Zona Franca deManaus (8.387/91) e 5%, dasleis de incentivo à importa-ção de equipamentos de pes-quisa (8.010/90 e 8.032/90).

A Lei 8.661/93 foi inspirada em le-gislação semelhante adotada por paí-ses como Canadá, Estados Unidos,França, Japão e Coréia. Entre 1995 e1998, o total de subsídios concedidospela Lei 8.661 tinha crescido quase250%, a ponto de ampliar a participa-ção dos investimentos em tecnologiade 0,8% para 1% do Produto Interno

BRASIL CORÉIA3500 10,0 3500 10,0

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7,5 ~:õ

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o 0,0 o 0,01980 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 1980 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00

Número de patentes

Bruto (PIB), de acordo com José Mi-guel Chaddad, diretor executivo daAssociação Nacional de Pesquisa, De-senvolvimento e Engenharia das Em-presas Inovadoras (Anpei). Em 1997,no entanto, os incentivos foram redu-zidos para 4% do imposto de renda(IR) das empresas, e a lei passou a in-corporar também subsídios do Fun-do de Amparo ao Trabalhador (FAT).

Os resultados, no período, somaramapenas R$ 33,7 milhões.

Tanto a Anpei, entidade responsá-vel pela implementação da 8.661/93,como a Fiesp consideram prioritáriorecuperar e até ampliar os percentuaisconcedidos por esta lei. A Anpei pro-põe que se estabeleça dedução de15% do IR de todas as despesas comP&D, sendo 25% para as regiões

A FAPESP criou, em parceriacom o Sebrae-SP, um novo pro-grama de estímulo à inovação tec-nológica. O pesquisador na Em-presa (PEMP) vai apoiar, por meiode bolsas, a realização de projetosde pesquisa desenvolvidos em am-biente empresarial. "Num segun-do momento, poderemos pensarem estabelecer acordos semelhan-tes também com a Federação dasIndústrias do Estado de São Paulo(Fiesp) e Confederação Nacionalda Indústria (CNI)': diz José Fer-nando Perez, diretor científico daFAPESP. As novas normas aindaserão anunciadas.

A arquitetura do PEMP se as-semelha à do Programa de Inova-ção Tecnológica em Pequenas

Sebrae e FAPESPpreparam parceria no PEMP

16 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

Empresas (PIPE). A diferença éque o Sebrae financiará os pri-meiros seis meses do programa,período em que o pesquisadordeverá detalhar o projeto de pes-quisa a ser desenvolvido na em-presa. Aprovada a proposta, elepassará a contar com recursos debolsas da FAPESP durante os 18meses subseqüentes.

Os objetivos do PEMP são es-timular a prática de pesquisa e fo-mentar a inovação nas empresaspaulistas, conciliar os esforços dapesquisa aplicada com os interes-ses empresariais e fomentar a con-tratação de pessoal de alto nívelpara funções relacionadas à pes-quisa e desenvolvimento na em-presa, entre outros.

De acordo com Perez, a expec-tativa é que o PEMP também geremaior demanda para o PIPE, cujoprincipal problema é a carência depesquisadores que conheçam oambiente empresarial.

O PEMP distribuirá duas moda-lidades de bolsas - Pesquisador naEmpresa (PDI) ou Iniciação Cientí-ficaeTecnológica (IC) -, dependen-do da qualificação do pesquisador.A PDI vai atender pesquisadoresrecentemente formados, com com-petência documentada.

Os bolsistas da categoria ICreceberão auxílio-transporte. Asempresas poderão complementara remuneração dos pesquisado-res de forma a compatibilízá-lacom os valores do mercado.-

Page 17: Fibra para inovar

Cientistas e engenheiros em P&DCentro-Oeste, Norte e Nor-deste, além de isenção doImposto sobre ProdutosIndustrializados (IPI) so-bre material destinado àpesquisa tecnológica nasempresas, isenção do im-posto de importação e re-dução de outros impostosaplicados à importação debens e serviços destinadosà pesquisa tecnológica.

A Anpei sugere tambéma criação de mecanismosde incentivo que estimu-lem a inovação em empre-sas que não pagam impos-to de renda, como é o casoda maior parte das organi-zações de pequeno porte, eo abatimento em dobro dedespesas com cursos demestrado e doutorado deempregados, entre outrasmedidas. Chaddad propôsainda a simplificação doprocesso de concessão deincentivos; a certificaçãodas empresas; abertura delinhas de financiamento para o fi-nanciamento da aquisição de má-quinas, equipamentos e aparelhospara atividades de P&D; emprésti-mos a fundo perdido para projetoscooperativados; e a criação de umaagência nacional de tecnologia.

BRASIL USA

56.760 68% 128.000 13%

32.652

17.062

7.046

12.336 15% 70.200

8.765 11% 764.500

77.861 100% 962.700 100%

pação dos municípios noesforço de desenvolvimen-to, não contemplada pelaConstituição de 1988, se-ria mais uma possibilidadede apoio à inovação. E co-mentou que a Lei de Res-ponsabilidade Fiscal deve-ria ser utilizada para obrigaros Estados a repassar às Fun-dações de Amparo à Pesqui-sa os percentuais exigidospor lei."Seriam mais R$ 300milhões todos os anos pa-ra a ciência e tecnologia,"

Docentes em universidades

Universidades Federais

Universidades Estaduais

Universidades Privadas

Total

I

Cientistas e engenheiros no Brasil e Coréia

Fonte: C. H. Brito Cruz

VI

E'w..cCQ)ClCWQ)

VI<tl•...VI.~CQ)o

74.665

56.760

BRASIL(1966)

Empresas

CORÉIA(1977)

Universidades

Na perspectiva da Receita Federal,no entanto, incentivo fiscal é umaforma de evasão de recursos, comoressalvou Gerson Ferreira Filho, daSecretaria de Governo do Estado deSão Paulo. "Mas se estamos pensan-do em sair do patamar de 1,2% doPIB destinado a P&D e para atingir,por exemplo, 2,5% nos próximoscinco anos, precisamos permitir queuma parcela de incentivos para apli-cações em P&D seja também acessí-vel a qualquer empresa, e não apenasa indústrias ou agroindústrias que te-nham seu Plano de DesenvolvimentoTecnológico 'aprovado': sugere. Essasmedidas deveriam incluir, por exem-plo, a autorização para que empresascom ações na Bolsa de Valores pos-sam emitir uma classe de ações, comcarências, para investimentos emP&D. As empresas com IR a pagarpoderiam destinar a parte incentiva-da para aquisições dessas ações novas,por um período determinado. Qua-dros lembrou, ainda, que a partici-

Indicadores - Entre os par-ticipantes dos debates, tam-bém houve consenso sobrea necessidade de se criarinstrumentos para avaliarde maneira sistemática onível de investimento dasEmpresas em P&D. Na Uni-camp, por exemplo, já estásendo criado um institutovirtual para estudar os im-pactos da ciência e tecno-logia na sociedade, segun-

do anunciou o ex-reitor Carlos Vogt,atualmente vice-presidente da Socie-dade Brasileira para o Progresso daCiência (SBPC).

Esse instituto virtual pretende fa-zer o mapeamento da estrutura em-presarial brasileira, avaliando os ra-mos de atividade que cresceram, osque estagnaram e os que decaíram,além de analisar as tendências defragmentação, concentração e mor-talidade das empresas, assim comodos processos produtivos, do perfilda mão-de-obra em cada setor e dasmodificações na estrutura ocupacio-nal brasileira. Esses dados serão cru-zados com uma análise dos investi-mentos em tecnologia, registros depatentes, importações e exportaçõesem cada setor.

15.185

Institutos

Lei de Inovação - Rui Quadros, profes-,sor da Universidade Estadual de Cam-pinas (Unicamp) e coordenador ad-junto da Conferência Nacional deCiência, Tecnologia e Inovação, desta-ca que uma das prioridades do MCT éa aprovação de uma Lei de Inovaçãopara proteger a propriedade intelectu-al e a transferência de tecnologia, esti-mular a mobilidade de pesquisadoresdo setor público para o privado e aconstituição de capital de risco. Tam-bém estão sendo estudadas mudançasna Lei de Licitações, de forma a flexi-bilizar a participação das empresas detecnologia nas concorrências públicase permitir a contratação pelo governode pesquisas junto a empresas.

Pequenas empresas - Os debates tam-bém enfatizaram a importância dosestímulos à pesquisa no setor privadodirigirem-se prioritariamente às pe-quenas e microempresas. "No Brasil,

PESQUISA FAPESP • AGOSTO DE 2001 • 17

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a participação das pequenas empre-sas não chega a 25% do PIE e 2% dasexportações. Temos que ampliar essarelação agregando valor ao produtodessas empresas por meio do estímu-lo à inovação", disse o diretor-supe-rintendente do Serviço de Apoio àMicro e Pequena Empresa do Estadode São Paulo (Sebrae-SP), FernandoLeça, que participou da mesa OApoio à Inovação Tecnológica, coor-denada pelo jornalista Luís Nassif.Ele destacou a importância das incu-badoras de empresas de alta tecnolo-gia, assim como o estímulo à inova-

ca (PITE), implementados pela FA-PESP. De acordo com José FernandoPerez, diretor científico da Fundação,com apoio, as pequenas empresas de-senvolveram tecnologias tão diversascomo uma vacina que previne a máformação de ovos, um software parao reconhecimento de caracteres, bio-tecnologia nacional para produçãode insulina humana, além de doisprojetos de desenvolvimento de célu-la a combustível. Uma das empresasapoiadas pelo PIPE - a AsGa Micro-eletrônica - chegará este ano a R$100 milhões de faturamento, quase

Painéis mostraram efeitos socioeconômicos dos projetos financiados pela FAPESP

ção. No Estado de São Paulo, o Se-brae participa em 35 dessas incuba-doras, que abrigam 400 empresas e1.650 postos de trabalho.

O Sebrae-SP, parceiro da FAPESPno Programa Pesquisador na Empresa(Ver box na página 16), sugere, ainda,a elaboração de um grande programade inovação tecnológica para os pró-ximos cinco ou dez anos, reunindo aFAPESP,Fiesp, universidades e outrosórgãos, além da criação de centros tec-nológicos setoriais para as áreas prio-ritárias da política governamental.

O potencial de inovação das pe-quenas empresas de tecnologia podeser demonstrado pelos resultadosdos programas de Inovação Tecnoló-gica em Pequenas Empresas (PIPE) ede Parceria para Inovação Tecnológi-

'8 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

19 vezes o resultado alcançado em1997 (Ver página 54).I Outros dois programas da FA-

PESP foram apresentados comoexemplos de projetos em áreas estra-tégicas, com grande aplicabilidade,que geraram expertise que já está ex-pandida para todo o país: os pro-gramas Genoma e Biota. O ProjetoInovar, exposto na conferência porMauro Marcondes Rodrigues, presi-dente da Financiadora de estudos eProjetos (Finep), também é exemplode iniciativa destinada a ampliar osinvestimentos privados em ciência etecnologia. O projeto estimula o ca-pital de risco no país por meio da se-leção dos projetos mais promissorese pela organização de uma incuba-dora de fundos de capital de risco.

o desafio da educação - Dados comoo da escolaridade média dos brasilei-ros, de 6,1 anos de estudos, contra 9,5anos dos mexicanos e 10,4 anos doschilenos, deixam claro que a educa-ção é um dos principais desafios dodesenvolvimento tecnológico. Naavaliação de Hermano Tavares, reitorda Unicamp, o Brasil precisa superaro atraso, sobretudo no ensino supe-rior, e investir no que ele chama decapacidade de antecipação. "Os estu-dos apontam que a demanda por va-gas nas universidades deverá dobrarem sete a dez anos", diz, lembrandoque é preciso criar estrutura para ab-sorver essa população. Ele foi um dosdebatedores do tema No Caminhodo Futuro, coordenado pela deputa-da estadual Célia Leão, que preside aComissão de C&T e Educação da As-sembléia Legislativa de São Paulo. NoBrasil, ele revelou, das 900 mil vagasno ensino superior, 750 mil estão narede privada. E concluiu. "Se quiser-mos pensar no futuro da educaçãono país, temos que levar em conta arede privada':

A estrutura e legislação das univer-sidades também estiveram em pautano simpósio Desafios Institucionais,coordenado por Ivan Chambouley-ron, da Unicamp. ''A universidadeprivada tem muito mais espaço paraa inovação que a pública", constatouNina Ranieri, da Universidade de SãoPaulo (USP). A Lei de Diretrizes eBases (LDB), disse, flexibilizou a es-trutura da universidade pública, mascriou um paradoxo na medida emque, reconhecendo seu estatuto jurí-dico especial- ainda não regulamen-tado -, não assegura compromissosclaros com seu financiamento. "É di-fícil definir novos rumos dentro doesquema jurídico vigente", disse ela.''A universidade privada tem a mesmaautonomia, regida, porém, pela vonta-de e a liberdade de contratação", com-parou. A criação de novas estruturaspara atender aos novos desafios de-pende da definição de um regime ju-rídico especial, concluiu a especialista.

Dificuldades estruturais e institu-cionais também comprometem o de-

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sempenho dos institutos de pesquisa.Guilherme Ari Plonski, diretorsuperintendente do Instituto de Pes-quisa Tecnológica (IPT), em SãoPaulo, abordou as dificuldades queos pesquisadores enfrentam em fun-ção da instabilidade de recursos, dosimpedimentos legais na sua aplica-ção e dos baixos salários oferecidosaos cientistas. Plonski chamou aten-ção para a necessidade de uma rede-finição do papel dos institutos de pes-quisa, que devem assumir funçõesmais claras e relevantes no processode inovação, como operar comograndes portais tecnológicos, articu-lar redes cooperativas, formar capitalhumano e funcionar como observa-tórios capazes de produzir informa-ções consistentes sobre CT&I no país.

As universidades e os institutosde pesquisa não podem se afastar damissão de produzir conhecimento efazer ciência. O presidente da Acade-mia Brasileira de Ciências, WalterColli, fez uma apaixonada defesa daimportância da ciência básica. "É umequívoco pensar que a ciência básicaé um luxo para um país em desenvol-vimento, que investir apenas em tec-nologia tirará o povo da miséria maisrapidamente, porque sem bons cien-tistas um país não consegue sequercompreender as invenções feitas poroutros para transformá-Ias em tec-nologia', afirmou. Destacou tambémque os dois pilares de toda a atual re-volução biotecnológica estão funda-dos em duas descobertas da pesquisabásica que não pareciam ter nenhu-ma aplicação prática: a dupla hélicedo DNA, descoberta por Watson eCrick, e as enzimas de transmissão."Necessitamos formar mais enge-nheiros e cientistas capazes de desen-volver produtos, mas jamais em detri-mento da ciência básica", enfatizouColli. Concluiu dizendo que o finan-ciamento da pesquisa básica é obri-gação do Estado e o da pesquisa apli-cada, responsabilidade das empresas.

Desenvolvimento social - Os debatessobre Ciência, Tecnologia e Inovaçãoe Qualidade de Vida reuniram espe-

cialistas em saúde, violência, agrope-cuária e meio ambiente. As mesas fo-ram coordenadas por Marcos Maca-ri, da Universidade Estadual Paulista(Unesp), e Hernan Chaimovich, daUniversidade de São Paulo(USP).

Na área da Saúde, José Carvalhei-ro, da Secretaria de Saúde do Estadode São Paulo, destacou a necessidadede diálogo entre a comunidade cien-tífica e os representantes do sistemade saúde nos diversos níveis de go-verno. Na sua avaliação, saúde fazparte do sistema de C&T. Ele defen-deu a proposta de criação de um fun-

não só do ponto de vista da freqüên-cia e da relevância das doenças, mastambém da capacidade construídapara contê-Ias.

Marco Antônio Zago, da Univer-sidade de São Paulo, destacou que amissão de qualquer plano de C&Tem saúde é a de identificar modelosde ação e pontos de intervenção comefeito multiplicador. "O primeiropasso é reconhecer os problemas daeducação superior em saúde, da for-mação de pesquisadores na área e doplanejamento e da gestão em saúdepública", disse ele.

Apoio do Governo à tecnologia industrial- OCDE

Alemanha Austrália Japão Inglaterra França EUA Canadá

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°Incentivos • Encomendas tecnológicas • Infra-estrutura

do setorial para o setor, fazendo res-salvas à idéia de estruturação de umaagência especializada em C&T emsaúde. Observou que São Paulo, coma maior capacidade instalada em pes-quisa na área do país, deve estar aten-to à partilha de recursos se essa agên-cia vier de fato a ser implementada."O Brasil não tem experiência comagências específicas, e o segmento desaúde coletiva estuda o assunto comcautela", enfatizou.

Carvalheiro disse ainda que nãose pode ignorar que, dos US$ 60 bi-lhões que os setores público e priva-do destinam, mundialmente, à saú-de, 90% são consumidos por doençasque atingem apenas 10% da humani-dade. Ele apontou a necessidade deadotar metodologias que indiquem oque é prioritário nas investigações,

Zago enfatizou também a impor-tância de adequar os recursos dispo-níveis com estratégias de C&T queproduzam alto impacto sobre as con-dições de saúde da população e aeconomia. Mencionou, a título deexemplo, a importação de 225 mi-lhões de unidades de fator de coagu-lação VIII para tratamento de hemo-fílicos, obtido por fracionamento deplasma, uma tecnologia ultrapassadaque consome US$ 90 milhões anuais,ou 75% do valor empenhado nacompra de hemo derivados no mer-cado externo. Para montar fábricasde fracionamento, o Brasil- que temum excedente de plasma suficientepara produzir 165 milhões de unida-des anuais e tecnologia para isso -precisaria investir pouco mais que odobro do valor anualmente destina-

PESQUISA FAPESP . AGOSTO DE 2001 • 19

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do às importações. A al-ternativa mais adequadaseria, porém, a produçãonacional com base na tec-nologia hoje utilizada pe-los países desenvolvidos,baseada em DNA recom-binante. "Um projeto cola-borativo com esse objeti-vo, que envolve quatrocentros de pesquisa, estárecebendo investimento deapenas R$ 3 milhões da Fi- )

, ,I»nep', disse Zago. '---- """---'''-''-_'''''''''---'----1L- _

Abordando as relaçõesentre C&T e qualidade devida, Sérgio Adorno, também daUSP, tratou da questão da violência.No seu entender, a C&T pode contri-buir para o controle da violência, emtrês flancos: a construção de um sis-tema de estatísticas criminais em ní-vel nacional, a formação de recursoshumanos especializados para enfren-tar o desafio de reformar o sistema dejustiça e a formulação de um progra-ma articulado com a pesquisa visan-do à implementação de políticas demédio e longo alcance.

Conferência paulista reuniu pesquisadores e parlamentares

A C&T também tem papel prepon-derante no desenvolvimento da agro-pecuária. Raul Machado Neto, da Es-cola Superior de Agricultura Luiz deQueiroz, da USP, salientou, por exem-plo, a importância fundamental dossistemas de localização geográficapor satélite, do acúmulo de conheci-mentos dos recursos genéticos nacio-nais com o mapeamento da biodiver-sidade animal e vegetal, da proteçãodas espécies e do manejo racional deanimais silvestres.Outros tópicos abor-

dados por Machado forama necessidade de oferecer aosagricultores alternativas desistemas de produção quelevem em consideração va-lores ecológicos, sociais eeconômicos e o potencialdas técnicas de irrigação.

Maria Inês Pagani, daUnesp, que tratou das re-lações entre C&T e meioambiente, sugeriu que oMCT encampasse algu-mas propostas da Agenda21, como, por exemplo, osprojetos de zoneamento

ambiental; recuperação, revitalizaçãoe conservação das bacias hidrográfi-cas e de seus recursos vivos; e estu-dos de difusão de tecnologias para otratamento e reutilização da água.

João Furtado, também da Unesp,sublinhou que as políticas de C&Tdevem ter sustentabilidade econômi-ca e estabelecer prioridades claras pa-ra fazer frente à competição entre em-presas, instituições e países em umcenário em que a riqueza depende,cada vez mais, das informações. •

Além de São Paulo, foram rea-lizadas, simultaneamente, outrascinco Conferências Regionais deCiência, Tecnologia e Inovação.

Cientistas, pesquisadores eempresários do Rio de Janeiro eMinas Gerais, reunidos no Rio,manifestaram seu apoio ao proje-to de lei do senador Roberto Frei-re (PPS-PE) que autoriza pesqui-sadores de universidades públicasa realizar trabalho temporário emempresas privadas. Também apon-taram a necessidade de aperfeiçoa-mento da formação profissional eda ampliação do sistema de edu-cação a distância.

Em Florianópolis, represen-tantes de universidades, institutosde .pesquisas e empresários dos

-

Cinco regiões debatem Ciência, Tecnologia e Inovação.

Estados do Sul propuseram, en-tre outras medidas, a regionaliza-ção das ações de fomento doMCT e a criação de Centros deExcelência em Inovação e Gestãode Tecnologia nas diversas re-giões dos três Estados.

Representantes dos Estados daRegião Norte, reunidos em Belém,sugeriram a elaboração de um pla-no de ação regional em CeT&1para os próximos dez anos, a cria-ção de um Fundo Amazônico deCeT&1 e de mecanismo de forma-ção fixação de recursos humanos,integrado com projetos e recursos,além de um Fundo Setorial paraprodutos da biodiversidade.

Reunidos em Maceió, cientis-tas, pesquisadores e empresários

dos Estados do Nordeste e do Es-pírito Santo apontaram a capaci-tação de recursos humanos comoo principal entrave para o desen-volvimento da região e sugeriramnovas estratégias para a capaci-tação do potencial humano exis-tente, que favorecesse a fixaçãode jovens talentos e a formação depesquisadores.

Em Goiânia, pesquisadores eempresários da região Centro-Oes-te cobraram do governo federa-luma definição política para asdesigualdades regionais e investi-mentos na instalação de centros depesquisas e esperam que os FundosSetoriais criem fluxo regular de re-cursos para pesquisa e desenvolvi-mento em várias áreas da C&T.

20 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

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POLíTICA CIENTíFICA E TECNOLÓGICA

Estímulo ao doutoramento diretotamente indispensáveis. Entretanto, hámuitos casos e circunstâncias em quepodem ser desejáveis e até mesmo ne-cessárias. Portanto, elas continuarão aser concedidas pela FAPESP, comduração máxima de dois anos. Já asbolsas de doutorado, passarão a ter aduração normal de três anos, poden-do ser prorrogada, em condições ex-cepcionais, por no máximo um ano.

Poderão pleitear bolsas de DD osalunos inscritos em programas dedoutorado direto e que: a) não te-nham usufruído bolsas de pós-gra-duação de quaisquer agências; b) te-nham usufruído, no momento dasolicitação, bolsa de doutorado deoutra agência por período não supe-rior a seis meses; c) tenham usufruí-do, no momento da solicitação, bolsade mestra do de outra agência por pe-ríodo não superior a 18 meses.

quada entre os recursos destinados abolsas e os destinados a financiar odesenvolvimento de projetos de pes-quisa, que, no caso da Fundação, atin-giu um ponto crítico. A experiêncianacional e internacional demonstraque o desequilíbrio nessa distribui-ção de recursos compromete o de-senvolvimento saudável do sistema depesquisa, a ponto de impedir a for-mação e absorção de novos pesquisa-dores. Essa política mais seletiva deconcessão de bolsas, na prática, já vemsendo adotada pela FAPESP, comoconseqüência da competitividadecrescente dos processos de avaliação.

Nova modalidadede bolsas poderá terduração de cinco anos

AFAPESP acaba de criar umanova modalidade de bolsas de

pós-graduação, a bolsa de doutora-do direto (DD), para atender à de-manda de alunos cuja qualificaçãodispensa o título de mestre. As bol-sas de doutorado direto terão dura-ção de quatro anos, podendo serprorrogadas por mais 12 meses,dependendo da necessidade e daevolução do projeto. Elas serão con-cedidas em quatro níveis (DD-l,DD-2, DD-3 e DD-4), cada um comduração de um ano. Os programasde doutorado direto passam, por-tanto, a ser uma maneira ordináriade qualificar pesquisadores - e nãoalgo justificável apenas em situaçãoexcepcional. E o mestrado seguesendo uma etapa possível, mas nãoindispensável, no processo de for-mação de pesquisadores.

A implantação do novo programaé resultado de uma reava-liação do sistema de distri-buição de bolsas diante doespetacular aumento donúmero de solicitações àFAPESP e da redução dosrecursos federais conce-didos a estudantes de pós-graduação de instituiçõespaulistas. A nova políticaadotada pela FAPESP pre-vê a implantação de cri-térios mais seletivos paraa concessão de bolsas depós-graduação, de forma aestimular demandas espe-cialmente qualificadas e ga-rantir uma proporção ade-

Originalidade e independência - Nessaperspectiva, a FAPESP vai priorizarprogramas de formação que resul-tem na confecção de teses de douto-ramento a partir de pesquisas origi-nais e relativamente independentes,sob a responsabilidade de orientado-res bem qualificados. A idéia é apoiarprojetos de pesquisa avaliados comoótimos no que se refere ao desempe-nho e à orientação do pesquisador.

Em relação às bolsas de mestrado,considera-se que elas não são absolu-

Mensalidades - As mensalidades dasbolsas dos níveis DD-l e DD-2 corres-ponderão às das bolsas de mestrado1 e 2 e as das bolsas dos níveis DD-3e DD-4 às bolsas de doutorado 1 e2, respectivamente. A reserva técnicadas bolsas de DD, em todos os ní-

veis, corresponderá a 30%do valor das mensalidadese obedecerá às normas emvigor para as bolsas dedoutorado.

Os bolsistas de mestra-do da FAPESP poderão tersuas bolsas convertidas embolsas DD se tiverem sidoaceitos em programas dedoutorado direto, apósavaliação da assessoria adhoc, no fim do primeiroano ou do segundo. Paratanto, deverão encaminharà Fundação formulário desolicitação de bolsa dedoutorado direto. •

PESQUISA FAPESP . AGOSTO DE 2001 • 21

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POLíTICA CIENTíFICA E TECNOLÓGICA

INTERNET

Pesquisaem alta velocidadeFundação lança editalpara programa deInternet Avançada

AFAPESP lança, em outubro,edital para a apresentação de

pré-projetos para o programa espe-cial Tecnologia da Informação noDesenvolvimento da In-ternet Avançada (Tidia). Oprograma quer mobilizaruniversidades e institutosde pesquisa em torno deprojetos relacionados, porexemplo, à engenharia derede, ao controle de tráfe-go, às características de fi-bras ópticas, softwares edesenvolvimento de apli-cativos específicos paracada área de conhecimen-to. "O Tidia vai transfor-mar a Internet em objetode pesquisa", diz LuisFernández López, do De-partamento de Informá-tica Médica da Faculdadede Medicina da USP emembro da comissão quecoordena 'o programa. AFundação deverá investir no num-mo, R$ 10 milhões no programa,que terá duração de cinco anos.Existe também a possibilidade de oTidia contar com recursos adi-cionais da Lei de Informática e deempresas privadas.

O primeiro passo será criar, emparceria com o setor privado, uma re-de de fibras ópticas com velocidade deaté 400 gigabites, ligando, inicial-mente, as cidades de São Paulo, Cam-pinas e São Carlos e, posteriormente,outros municípios do Estado. A redeatual possui velocidade de 155 me-

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22 . AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

gabites. A nova rede será um test bed,uma espécie de campo de teste, quevai funcionar como um laboratóriocomunitário para multiusuários,para o desenvolvimento de pesquisase implementação de redes acadêmi-cas. O test bed permitirá, por exemplo,a realização de videoconferências emrede multipontos.

Outro objetivo do Tidia é formarespecialistas em desenvolvimento de

tecnologias para Internet. "Precisamosde gente que conheça rede': diz Hu-go Fragnito, do Instituto de Física daUnicamp e membro da comissão.

O ponto de partida é a parceriacom empresas privadas, sobretudo asde telecomunicações. Cada companhiapoderá participar em área de interes-se específico, como acontece nos Es-tados Unidos, onde a Internet 2 não ésó um projeto de rede de alta veloci-dade, mas também de cooperação coma iniciativa privada. O apoio do go-verno também é considerado funda-mental para o desenvolvimento do

projeto. A expectativa é de que o poderpúblico atue como um agente facili-tador, autorizando, por exemplo, a uti-lização dos dutos de fibra óptica quese estendem ao longo das rodovias.

Com o novo programa, a FA-PESP consolida sua participação nahistória da Internet no Brasil. Des-de 1989, por meio da rede ANSP, aFundação desempenha papel pio-neiro nessa área. A FAPESP já foi o

uruco e principal link internacio-nal, responsável pelo tráfego acadê-mico, e, por solicitação do ComitêGestor da Internet no Brasil, assu-miu a responsabilidade de registrardomínios br. O Programa Genoma,por exemplo, só foi possível porqueexistia a rede ANSP, desenvolvidapela Fundação. O mesmo ocorrecom o Programa Biota, que mapeiaa biodiversidade paulista. Com o Ti-dia, o processo será invertido: de in-fra-estrutura para a pesquisa, a In-ternet se tornará, ela própria, objetode pesquisa. •

Page 23: Fibra para inovar

POLíTICA CIENTíf'ICA E TECNOLÓGICA

Clones previamente selecionados do Genoma Cana serão introduzidos no arroz

CEN()MICA

Os frutos do Genoma CanaCooperação entre SucESTe CropDesign pode levarà formação de empresa

Em novembro do ano passado, oProjeto Genoma Cana-de-Açú-

car (SucEST), da FAPESP,concluiu oseqüenciamento de 50 mil genes daplanta. De lá para cá, os pesquisado-'res do projeto obtiveram a seqüênciacompleta de 9 mil genes e formaramo maior banco de dados genéticos so-bre a cana-de-açúcar do mundo.Agora, se preparam para um grandee inusitado salto para o país: fazer ge-nômica aplicada, isto é, transformaros dados e informações gerados peloseqüenciamento em produtos ouaplicações com valor comercial. Oprimeiro passo para isso foi dadocom o anúncio, no dia 30 de agosto,na sede da FAPESP,de um acordo decooperação entre o SucEST e aCropDesign, pequena empresa debiotecnologia agrícola, criada naUniversidade de Gent, na Bélgica. O

acordo prevê o desenvolvimento deprograma conjunto para análise fun-cional de genes da cana-de-açúcar,mas o seu alcance é bem maior. "Esseacordo reflete o nosso compromissode construir uma empresa líder nodesenvolvimento de produtos de ge-nômica aplicada': disse Herman VanMellaert, executivo chefe da CropDe-signoPara o biólogo Paulo Arruda, daUniversidade Estadual de Campinas(Unicamp) e coordenador do Geno-ma Cana, o acordo pode ser, de fato,o ponto de partida para a instalaçãode uma vigorosa indústria de biotec-nologia no país.

O SucEST participa com os genes.Os pesquisadores brasileiros selecio-narão mil genes da cana, dentre os 50mil seqüenciados, que se sabe esta-rem relacionados com a resistênciada planta a doenças e ao estresse(frio, seca, condições do solo) e, ain-da, ao metabolismo da planta, isto é,seu crescimento, produtividade eprodução de açúcar. A CropDesignentra com a tecnologia TraitMill,uma usina de fenótipos robotizada,capaz de avaliar a função de um gene

muito rapidamente e, portanto, emlarga escala. "A TraitMill tem tam-bém uma linha de montagem para aintrodução de genes em plantas", ex-plica Arruda, acrescentando que ausina de fenótipos faz a rápida intro-dução dos genes em uma plantamodelo para observação da sua fun-cionalidade. Pelo acordo, os genes dacana serão introduzidos no arroz -também uma gramínea, e que, por-tanto, tem genes comuns à cana, coma mesma função. O arroz foi tambémescolhido por ter um ciclo de vidacurto, de quatro meses. "Assim, rapi-damente será possível observar os re-sultados", diz Arruda. As descobertaspoderão depois ser utilizadas paramelhorar a produtividade ou as ca-racterísticas da própria cana ou deoutros cereais.

A empresa belga, além da tecno-logia, colocará à disposição do Ge-noma Cana até o máximo de 50 se-mentes de arroz contendo clonesselecionados e já previamente testa-dos na TraitMill. O acordo terá a du-ração de 30 meses, mas a expectativaé que, em oito meses, os parceiros jáconheçam os primeiros resultados econsigam a patente de pelo menosdez produtos ou funções dos genes."Estamos numa corrida científica.Muito em breve, outros genes de ou-tras plantas estarão disponíveis paraanálises semelhantes. A parceria coma CropDesign nos garante a vanta-gem de sair na frente e chegar a re-sultados que poderão representarum grande impacto no desenvolvi-mento da biotecnologia de plantasno país': afirma o coordenador doGenoma Cana.

O acordo concede aos pesquisa-dores brasileiros direito a 100% sobreo que render no Brasil o licencia-mento de produtos ou informaçõesreferentes à cana-de-açúcar e a 50%,sobre o que render no exterior. Quan-to aos cereais que possam beneficiar-se dos genes da cana, os brasileiros re-ceberão 50% dos royalties no país e7,5% quando forem negociados noresto do mundo. É o Genoma Canadando seus frutos comerciais. •

PESQUISA FAPESP . AGOSTO DElOOl • 23

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CIÊNCIA

LA B ti R A 11O I~I O

A lógica invertida do trânsito nas metrópolesParece não ter lógica, mas as grandescidades - do Brasil e do exterior -,com maior frota de veículos, têm me-nor taxa de acidentes por veículo emcomparação com municípios peque-nos. Proporcionalmente, cidades pe-quenas com poucos carros têm maisacidentes com óbitos por carro do queas metrópoles. A descoberta consta deum estudo da equipe conduzida peloeconomista Samuel Kilsztajn, da Pon-tifícia Universidade Católica de SãoPaulo (PUC-SP), a partir da análisedo número de veículos por habitante."Em relação à população, cidadescomo São Paulo têm mais acidentes,mas isso só ocorre porque a frota porhabitante é enorme", diz Kilsztajn. Opesquisador recuperou um estudo fei-to pela Fundação Sistema Estadual deDados (Seade) de 1977, que mostracomo melhor indicador do grau de

~ res utilizaram dados de 61 países e 51;<;iil localidades brasileiras. Os resultadosw

~ demonstram que, quanto maior o nú-mero de veículos por habitante, me-nor o número de óbitos por veículo.Por exemplo, a taxa de mortalidadeno trânsito por 100 mil habitantes,em 19~)7,era de 14,8 óbitos em Tere-sina (PI) e 23,5 em São Paulo - ocor-re que Teresina possuía 0,9 veículopara cada dez habitantes, e a capitalpaulista, 4,8 carros para cada dez ha-bitantes. Logo, o número de óbitospor veículo em Teresina (17,1 por 10mil) era 3,5 vezes o de São Paulo (4,9por 10 mil). Kilsztajn arrisca uma ex-plicação: "Em lugares com poucoscarros há pouco conhecimento tantopor parte dos motoristas como dospedestres em como lidar com eles': Oestudo foi publicado na Revista deSaúde Pública. •

Trânsito em São Paulo: menos mortes

violência no trânsito o número deóbitos por veículo e não o número deóbitos por habitante. Os pesquisado-

• Testesgenéticospara crianças

Pesquisadores do InstitutoNacional de Pesquisa do Ge-noma Humano, nos EstadosUnidos, e da UniversidadeLund, na Suécia, finalizaramum método que pode ajudara diferenciar quatro tipos decâncer infantil facilmente con-fundidos no exame ao micros-cópio. O método combina atecnologia microarray (chipsde genes), que analisa o pa-drão de atividade de milharesde genes de qualquer tipo decélula, com a rede neural arti-ficial (ANN), um programade inteligência artificial capazde processar quantidades ele-vadas de informações. É aprimeira vez que aANN, em-pregada na identificação deimpressão digital de crimino-sos, é usada nesse tipo de

24 . AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

análise, que abre caminhospara tratamentos individuali-zados, de acordo com os genesespecíficos que se manifesta-rem em cada tipo de tumor.Os quatro tipos de câncer queagora podem ser diferencia-dos são: neuroblastoma, rab-domiosarcoma, linfoma deBurkitt e sarcoma de Ewing .•

.SpraydeferomônioscontraTPM

Mulheres que sofrem comTensão Pré-Mestrual (TPM)devem ter, em breve, um alí-vio graças à ação dos fero-mônios, substâncias liberadaspor animais mais conhecidaspela capacidade de atrair osexo oposto. Já há uma em-presa nos Estados Unidos tra-balhando em um spray nasalà base de feromônios, infor-ma a revista New Scientist (21

de julho). O produto poderálivrar as mulheres da irritabi-lidade constante e depressão,comuns na TPM, e de algunsoutros distúrbios ligados àsíndrome. Testes com 20 mu-lheres mostraram que o spraymelhora o humor e sintomascomo dor nos seios. A TPMafeta duas em cada cinco mu-lheres durante a vida fértil(entre a menarca e menopau-sa) e alguns especialistas acre-ditam que a tlutuação de hor-

mônios nesses períodos afetaa atividade cerebral. Nos ca-sos mais graves, os médicosreceitam antidepressivos queelevam o nível de serotoninano cérebro e melhoram o es-tado geral do humor. Os fero-mônios humanos são pode-rosos mediadores na atraçãosexual, ansiedade e distúrbiosrelacionados a hormônios, deacordo com David Berliner,um dos fundadores do labo-ratório Pherin Pharmaceuti-

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cals, de Mount View, Califór-nia, a companhia que está de-senvolvendo o spray. Berlinerfoi também um dos pesquisa-dores que comprovaram aexistência dos feromôniosnos seres humanos, na déca-da passada. O composto cria-do pela Pherin, o PH80, aju-da o hipotálamo a manter oequilíbrio da atividade cere-bral evitando o desconfortoda síndrome. •

• Osenigmas doclima no Brasil

Como será o clima no Brasildaqui a cem anos? O meteoro-logista José Antonio Marengo,do Centro de Previsão de Tem-po e Estudos Climáticos doInstituto Nacional de PesquisasEspaciais (CpTec/Inpe), emCachoeira Paulista, cruzou osprognósticos fornecidos pordez modelos globais e viu quea resposta está longe de sersimples. Marengo constatouque o grau de confiabilidadedessas simulações - feitas porsete institutos de pesquisaslocalizados em seis países -varia de acordo com a regiãobrasileira analisada. As previ-sões parecem ser mais consis-tentes para o Norte, Nordestee Sul do país. Já para o Sudes-te e o Centro-Oeste, os dadossão contraditórios ou semdetalhamento. Em razão doefeito estufa, as temperaturasmédias anuais poderiam au-mentar em todo o país. Amaior elevação seria na Ama-zônia (de até 5 graus no in-vemo, num cenário pessimis-ta, ou quase 2 graus, numquadro otimista). O Sudesteseria menos afetado pelo fe-nômeno, com uma elevaçãoda temperatura no invernoentre 1 grau e pouco menosde 3 graus. "Já para o Nordes-te, a maioria dos modelosaponta um aumento de chu-vas", diz Marengo. •

saem do Sol. "Há outrosmecanismos que explicammudança de sabor dosneutrinos, que não depen-dem da massa", lembra ele.Os físicos do Gefan cria-ram há dez anos uma hipó-tese própria: a conversãode sabores poderia ocorrerpor meio de uma interaçãode forças não previstas nomodelo padrão clássico decomportamento das partí-culas elementares. •

Pesquisa com neutrinos fortalece Modelo SolarSó agora se definem osprováveis ganhos científi-cos da descoberta da trans-formação de um tipo deneutrino solar em outro, achamada conversão de sa-bores, anunciada em junhocomo um dos primeirosresultados do recém-inau-gurado Sudbury NeutrinoObservatory (SNO), umimenso tanque de água ins-talado a dois quilômetrosde profundidade em Ontá-rio, no Canadá. Associou-se o resultado à confirma-ção da massa do neutrino,algo procurado há quase20 anos, mas ainda não háconsenso a esse respeito. Jáé certa, sim, a revisão de di-retrizes. Volta à tona, forta-lecido, o Modelo Solar Pa-drão, que explica o fluxo departículas do Sol: chegam àTerra em média 60 bilhõesde neutrinos solares porcentímetro quadrado porsegundo. O modelo expli-

• O sucessodeBeethoven no pasto

Se fosse possível criar uma hitparade para medir a preferên-cia musical do gado britânico,Beethoven estaria na frentedos Beatles. Mas isso não sig-nifica que existam vacas eru-

SNO: experiências forçaram revisão de diretrizes

cou com exatidão os resul-tados experimentais doSNO. De agora em diante,na visão de Marcelo Guzzo,do Instituto de Física daUnicamp e um dos coorde-nadores do Grupo de Estu-dos de Física e Astrofísicade Neutrinos (Gefan), maisimportante que saber se osneutrinos têm ou não mas-sa é descobrir como se dá atransformação de um tipopara outro depois que

ditas. Esp.ecialistas da Univer-sidade de Leicester, na Ingla-terra, afirmam que elas ape-nas apreciam mais a batidadas obras mais suaves docompositor alemão do que oritmo rápido do rock, infor-ma a revista Science (13 de ju-lho). De acordo com eles, a

Vacas relaxadas: música lenta aumentaria produção de leite

exposição de vacas leiteiras àmúsica lenta aumenta a pro-dução de leite. Os pesquisa-dores de música AdrianNorth e Liam Mackenzie tra-balharam com mil vacas dotipo Holstein e duas leiteriasda seguinte maneira: dividi-ram os animais em grupos eos expuseram a músicas rápi-das (mais de 120 batidas porminuto), lentas (menos de100 batidas por minuto) esem música das 5 horas às 17horas todos os dias por novesemanas. Algumas das sinfo-nias de Beethoven e das can-ções de Simon e Garfunkelteriam feito a produção deleite aumentar em 3%. "Acre-ditamos que esse tipo de mú-sica, mais lenta, relaxa os ani-mais", diz Adrian North. •

PESQUISA FAPESP . AGOSTO DE 2001 25

Page 26: Fibra para inovar

CIÊNCIA

BOTÂNICA

Entre capins~e bambusPrimeiro livro sobre a Flora Fanerogâmica paulistareúne informações de quase 500 espécies degramíneas nativas ou originárias de outros países

MARCOS PrVETTA

Para quem acha que capim é tudo igual e nasceem qualquer lugar, aqui vai uma má notícia: há458 espécies de gramíneas apenas no Estado deSão Paulo, equivalentes a 38% das variedades co-nhecidas no país e 5% das identificadas no pla-

neta. A boa notícia é que essas quase 500 espécies estão des-critas no primeiro livro da Flora Fanerogâmica do Estado deSão Paulo, obra inaugural de uma coleção de 17 volumesque dá uma nova dimensão à biodiversidade paulista, aoreunir informações fornecidas por cerca de 300 botânicossobre as plantas que representam 80% da flora do Estado.

O título inicial, que será lançado oficialmente pela Edi-tora Hucitec no dia 26 de setembro, a um custo próximo aR$ 50, é inteiramente dedicado à família das Poaceae, as po-pulares gramíneas. Trata-se de um catálogo taxonômico dequase 300 páginas, com chaves de identificação, descrições,ilustrações, comentários e distribuição geográfica de 458 es-pécies, embora no livro, por falha de revisão, constem 475.''As pessoas custam a acreditar que há tantos tipos de capimem São Paulo': reconhece Maria das Graças Lapa Wander-ley, do Instituto de Botânica da Secretaria do Meio Ambien-te do Estado, uma das coordenadoras do projeto temáticoda Flora Fanerogâmica, que promoveu visitas a herbários ecoletas de 20 mil plantas.

A família das gramíneas é a terceira maior das 180 emque se dividem as plantas fanerogâmicas, espécies que têmórgãos reprodutores aparentes (flores). Apenas as orquí-deas, com mais de 700 espécies (cerca de 10% da flora), e ascompostas, com mais de 600 espécies, compõem uma famí-lia mais numerosa. Antes da publicação do primeiro volu-me, conferir as semelhanças e diferenças de cada espécie ouvariedade de gramínea era algo extremamente complicado.Como acontece com qualquer família vegetal, as informa-

26 . AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

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ções sobre as Poaceae estavam dis-persas em dezenas de obras de re-ferência. ''Agora, basta olhar em umsó livro", diz o botânico escocêsGeorge Iohn Shepherd, da Uni-versidade Estadual de Campinas(Unicamp), outro coordenador daFlora, cujos dados vão abastecer oprograma Biota-FAPESP, que estámapeando toda a biodiversidade(fauna e flora) do Estado.

Nativas e estrangeiras - Das 458 es-pécies de gramíneas catalogadasno Estado, 403 são plantas nativas,típicas da flora brasileira, e 55 sãooriginárias do exterior. Como seadaptaram muito bem ao clima eterreno daqui, esses exemplaresestrangeiros hoje crescem espon-taneamente, independentementede serem ou não cultivadas, às ve-zes, ao lado de espécies nativas. Echinolaena inflexa: capim-flechinhaPor terem praticamente se incor-porado à biodiversidade genuina-mente nacional, foram incluídos naobra. "Quando colhe uma gramíneanuma beira de estrada, um leigo nãosabe se ela é nativa ou não': afirmaHilda Maria Longhi -Wagner, da Uni-versidade Federal do Rio Grande doSul (UFRGS), especialista em Poaceaee organizadora do primeiro volumeda Flora. O capim-colonião (Pani-cum maximum), por exemplo, muitoencontrado à margem de rodovias, é

Cortaderia sel/oana ou capim-dos-pampas:originária da Argentina, muito comumnas encostas das serras do Sul do Brasil

uma planta africana. A botânica gaú-cha coordenou e fez parte de umaequipe de 21 autores, que produzi-ram os textos impressos na obra.

Composto de centenas de varie-dades de grama e bambu, o universodas Poaceae é mais rico do que umleigo possa pensar. Atrás de nomescientíficos indecifráveis para o cida-dão comum, escondem-se, às vezes,plantas conhecidas pelas pessoas.Quando cultivadas, algumas espéciessão fonte de alimentos, como a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum),a aveia (Avena sativa) e o sorgo (Sor-ghum bicolor). Outras, de crescimen-

to espontâneo, dão origem a tiposde vegetação rasteira muito popu-lares. É o caso do sapé (Imperatabrasilienses) e do capim-gordura(Melinis minutiflora). Há aindaespécies que, por sua beleza, tor-naram-se ornamentais, como agrama-inglesa, também chamadade grama-de-jardim (Stenotaph-rum secundatum), muito comumem praças e parques, e a cortade-ria (Cortaderia selloana), espécieoriginária da Argentina.

Durante o trabalho de pesqui-sa da Flora, iniciado há sete anos,os pesquisadores levantaram in-formações sobre 7.500 espéciesvegetais, distribuídas em 1.500gêneros e 180 famílias. Dados pre-liminares apontam para a desco-berta de 44 novas espécies de plan-tas fanerogâmicas (veja PesquisaFAPESP n° 50). Por uma decisãoeditorial, os coordenadores do

projeto decidiram não incluir noprimeiro livro da coleção seis novasespécies de gramíneas que foramidentificadas em coletas de campo.Pelo menos não com esse status."Quando citamos essas espécies atéentão desconhecidas, damos apenaso seu gênero sem mencionar a espé-cie': explica Maria das Graças. Essestipos de gramíneas recentementedescobertas serão descritos em arti-gos científicos em revistas de botâni-ca do Brasil e do exterior.

Além das novas espécies aindanão descritas, a família das Poaceaereservou outras surpresas aos pesqui-

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Botânica em milímetrosUma equipe de seis desenhistasretratou com riqueza de detalhes cadaestrutura das espécies estudadas

Eo

Estrutu ras de proteçãodas flores de Cenchrus setigerus

(capim-birdwood) e C.tribuloides(carrapicho ou carrapicho-de-praia)

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Inflorescência de Loudetiopsis chrysothrix (brinco-de-princesa ou trigo-da-felicidade, esq.),Arthropogonxerachne, Chusquea oxylepis, Arundinella hispida (capim-maquiné) e Hyparrhenia rufa (capim-jaraguá)

sadores. Foram mapeados pelo me-nos seis tipos de gramíneas endêmi-cas do Estado - encontradas apenasaqui. Boa parte dessas espécies típicasde São Paulo se concentra em áreasde Mata Atlântica, onde a riquezabiológica é grande. Entre as espéciesendêmicas, o destaque recai sobreum grupo de bambus lenhosos nãoregistrado em nenhuma outra uni-dade da federação (Merostachys cau-caiana, Merostachys scandens, Chus-quea erecta, Chusquea sellowii eChusquea pulchella). Alguns dessesbambus, como o C. sellowii, são dedifícil identificação, pois florescem acada 32 anos.

Espécies resgatadas - Mesmo quandonão depararam com tipos novos ouendêmicos de Poaceae, os pesquisa-dores trouxeram boas notícias paracasa. Eles identificaram pela primei-ra vez em São Paulo algumas espé-cies de gramíneas cuja distribuição

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geográfica parecia se restringir aosEstados do Sul do país, de clima tem-perado e subtropical. Com o traba-lho de pesquisa da Flora Fanerogâ-mica, os botânicos se deram contá deque o território paulista é o limitemais ao norte no país de incidênciadessas espécies de Poaceae.Foi exata-mente isso o que ocorreu com asduas espécies pertencentes ao gêneroStipa (Stipa sellowiana e Stipa setige-ra). Até serem coletadas em campos

o PROJETO

Flora Fanerogâmicado Estado de São Paulo

MODALIDADEProjeto temático

COORDENADORAMARIA DAS GRAÇAS LAPA WANDERLEY -Instituto de Botânica

INVESTIMENTOR$ 510.427,84

de altitude da Serra da Mantiqueira,ambas eram descritas na literaturacientífica como presentes apenas noRio Grande do Sul, em Santa Catari-na e no Paraná. "Esse tipo de infor-mação é muito importante", comen-ta Hilda. Por ser um estado com umclima de transição, nem muito quen-te nem muito frio, São Paulo tem avocação para ser o limite mais aonorte de algumas espécies vegetais deambientes temperados e a fronteiramais sul de variedades típicas de zo-nas quentes.

Outro tipo de conhecimento ad-quirido com os trabalhos de campoda Flora: algumas espécies de gramí-neas que os botânicos julgavam pra-ticamente extintas no estado foramnovamente resgatadas na naturezapaulista. A história da Ctenium cir-rhosum, uma espécie muito bonita eornamental, serve para ilustrar essalinha de contribuição do projeto.Normalmente encontrada em áreas

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Espiguetasde Chusqueabambusoides(extrema esq.)e de Actinocladumverticil/atum

Eo

Folha dos ramose inflorescência deChusquea capitata

r~lEspigueta feminina(maior) e masculina(menor) de O/yrag/aberrima (taquarinha)

~[ ~[ Eragrostis perennis

Lâmina foliar dePaspa/um dasytrichum

de cerrado em Mato Grosso, Goiás eMinas Gerais, a C. cirrhosum ficou48 anos sem ser coletada em SãoPaulo. O primeiro exemplar dessaespécie foi resgatado em camposrupestres do estado em 1959. O se-gundo, apenas em 1997, numa dascerca de 200 expedições a campo'para coleta de espécies empreendi-das pelos participantes da Flora. Seos pesquisadores tivessem demora-do mais dois anos para lograr tal fei-to, essa forma de gramínea seriaconsiderada extinta em São Paulo.Para os botânicos, uma espécie nãocoletada em seu hábitat há 50 anosextinguiu-se.

Dificuldades - Nos outros Estadosbrasileiros, não há notícias de nenhu-ma publicação com a abrangência eatualização do primeiro volume daFlora paulista, que, até o final do ano,deve lançar seu segundo volume,abordando várias famílias de dicoti-

Estruturas protetoras da flor feminina(vista dorsal, esq., e ventral)

de Parodio/yra micrantha (taquari ou taquara)

ledôneas, plantas cuja semente é sec-cionada em duas partes, como o fei-jão - e a partir de 2002 devem sairtrês volumes por ano. A única exce-ção é Santa Catarina, que, dentro dosfascículos da série Flora Ilustrada., jáenfocou a família das gramíneas. "Omodelo de São Paulo poderá servirde embrião para a produção da floranacional e de outros Estados': dizHilda. Escolhida para a coordenaçãodo volume sobre gramíneas, a botâ-nica gaúcha lembra as dificuldadesque teve par~ concluir a obra no pra-zo estipulado. "Era complicado lidarcom tantos colaboradores e ter decuidar dos problemas de uniformiza-ção e editoração dos textos", afirma apesquisadora da UFRGS.

Morando em Porto Alegre, Hildacomunicava-se sobretudo por cor-reio eletrônico com as duas dezenasde autores que redigiram os textosdo primeiro volume. Ela recorda-seespecialmente de um feriado de Pás-

coa, em que ficou em casa enquantotoda a família ia para a praia. O es-forço tinha uma boa justificativa:aproveitar a data para conversar, pore-mail, com a norte-americana LynnClark, da Universidade Estadual deIowa, nos Estados Unidos, uma dasmaiores especialistas mundiais emuma subfamília de Poaceae, as Bam-busoideae. Hilda tinha dúvidas so-bre o formato que deveria adotar nolivro para esse grupo de bambus,um pouco diferente das demais gra-míneas. "No final do feriado, o 'es-queleto' das Bambusoideae estavapronto, e eu com alguns fios de ca-belos brancos a mais", comenta abotânica, com bom humor. Se aindaestivesse entre seus companheiros,o professor Hermógenes de FreitasLeitão Filho - o primeiro coorde-nador da Flora Fanerogâmica, quemorreu em 1996 durante uma cole-ta - ficaria orgulhoso do trabalhoda equipe. •

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Menos focos - O ecólogo EvaristoEduardo de Miranda, gerente de pes-quisa da Embrapa Monitoramentopor Satélite e responsável pelo pro-jeto, conta que a idéia de produziro mosaico de imagens de satélite éantiga, mas só se tornou viável hádois anos, com o financiamento doPrograma de Infra-Estrutura da FA-PESP para a modernização das redesde computadores da empresa. "Nãotínhamos capacidade para analisar,selecionar e processar tantas ima-gens, com tantos detalhes", lembra.

O empurrão final foi dado peloaumento das queimadas. "O Minis-tério da Agricultura entendeu quemultas e leis não bastavam: era pre-ciso oferecer alternativas tecnológi-cas aos agricultores para substituí-rem as queimadas em diversassituações", revela o pesquisador.

Com as informações de dez anosde monitoramento de queimadaspor satélite, a Embrapa chamou aatenção do ministério para o fato de75% do problema concentrar-se emquatro Estados: Mato Grosso, To-

das novas imagens com asanteriores mostra ainda adimensão e a rapidez da sa-vanização da floresta pelouso excessivo do fogo emáreas de Cerrado. Isso éparticularmente visível nonorte do Pará, onde o Cer-rado, ao longo de toda a suaborda de centenas de quilô-metros, avança dezenas demetros por ano.

A Embrapa também es-tá na fase final do retratopor satélite do Nordeste,que deverá jogar muita luzna discussão sobre os im-pactos da eventual transpo-sição do Rio São Francisco,sobre a conveniência de ex-pansão da irrigação, os im-pactos da seca e a intensi-dade do desmatamento daCaatinga. Até o fim do ano,a empresa pretende conclu-ir o retrato de todos os Estados.

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Pastagens (rosa) emfazendas do sul do Pará:desmatamento avança

cantins, Pará e Maranhão, "Propuse-mos identificar os municípios ondeo problema era mais grave e concen-trar neles a campanha para aprovei-tar melhor os recursos". Isso exigiamosaicos de imagens de satélite comum nível de detalhe muito maiorque os disponíveis.

No início de 2000, o ministériofinanciou a compra das imagens,que passaram a ser processadas. Em

um mês e meio, o trabalho es-tava pronto. Mostrava não sóonde se concentrava o proble-ma, mas o tipo de uso do solofeito em cada área, o que aju-dou a levar tecnologias alter-nativas adequadas a cada caso.Impressionado, o ministro de-cidiu financiar a compra dasimagens do restante da Ama-zônia e depois de todo o país.

O resultado foi que, depoisde anos de crescimento ininter-rupto das queimadas, pela pri-meira vez no ano passado, o

número de focos registrados no paíscaiu. A redução média foi de 24,5%nos Estados onde o governo promo-veu a campanha direcionada pelo sa-télite e de só 8,6% nos demais.

Internet eCOs - Além de orientarcampanhas oficiais de combate àsqueimadas, o mosaico da Amazôniaé um instrumento poderoso paraque organizações não-governamen-

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tais monitorem osimpactos ambientais.Muitas imagens já sãousadas por estudan-tes de segundo grau,pois parte do mate-rial foi disponibili-zada em junho pelaInternet (www.cdbra-sil.cnpm.embrapa.br.).

Mais de 90% das228 imagens que com-põem o mosaico sãode 1999 e 2000. Só foiaproveitado materialmais antigo quandoas imagens atuais ti-nham qualidade infe-rior ou muitas nu-vens. "Fizemos um retrato fiel daAmazônia na virada do milênio e ocolocamos ao alcance do público emgeral: nunca ninguém viu o conjuntoda região toda com essa riqueza dedetalhes", diz Miranda.

O material também está disponí-vel em nove CD-ROMs, um paracada Estado amazônico, a R$ 40,00cada. Os CDs podem ser adquiridosno site da Embrapa citado acima ou

Projeto de colonizaçãoem Machadinho do Oeste:uso diversificado da terra

pelo telefone (019)3252-5977. E, apedido, a Embrapa disponibiliza gra-tuitamente os CDs para instituiçõesbrasileiras de pesquisa. Também hácópias de uma grande fotografia dealta definição da Amazônia, comquase 3 metros de extensão.

Os CDs oferecem quatro zoomssucessivos sobre o mapa geral de cadaEstado, chegando a uma proximidadeque corresponde mais ou menos ao

que se vê de helicóp-tero em condições depoucas nuvens. É pos-sível distinguir rios,praias fluviais, estra-das, cidades, monta-nhas, pastagens, áreasqueimadas e desma-tadas, culturas agrí-colas diversas, bemcomo as paisagensnaturais da região -florestas alta e baixa,várzea, mangue, cer-rados, lavrados e até

as florestas de bambus. Os CDs tam-bém oferecem orientação básica parao usuário interpretar as imagens.

O projeto confirmou certos estu-dos e trouxe surpresas, como a inten-sidade da urbanização e a grande ex-tensão do uso de queimadas em áreasindígenas. Chamou atenção especiala reserva dos tiriós, na fronteira como Suriname, onde a faixa queimadatem mais de 100 quilômetros de lar-

PESQUISA FAPESP • AGOSTO DE 2001 • 33

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gura. Muitas tribos usam ofogo há milhares de anospara caçar ou preparar ter-ras para plantio.

Floresta preservada:estudo indica alternativaspara o ecoturismo

desmatada é indício certode ocupação ilegal e devas-tadora. Também se podeobservar quão invadidasou cercadas por fazendasestão as áreas indígenasno Pará, Mato Grosso eTocantins.

Cidades desmatam - Aocruzar as informações deseu mosaico com as do sa-télite do programa DMSP(Defense Meteorological Sa-tellite Program), que for-nece imagens noturnas doplaneta, a Embrapa mape-ou mais de 1.300 cidades,vilas e povoados amazôni-cos que dispõem de eletri-cidade - a estimativa ofi-cial era de que fossemmenos de mil.

a trabalho confirmouque hoje são as cidadesque comandam o desmatamento: amaioria das áreas desmatadas con-centra-se num raio de 30 quilôme-tros em torno das zonas urbanas."Hoje é principalmente o investi-mento urbano no campo que estádesmatando e não tanto as grandesfazendas ou o pequeno agricultortradicional': diz Miranda. "Descobri-mos, por exemplo, que uma cidadepraticamente desconhecida comoItaituba, um fim de linha da Transa-mazônica, no Pará, tem um entornomuito mais desmatado que Manaus.Falta investigar por quê."

a mosaico mostra até mesmo aintensidade da conta-minação causada pe-las fundições de gusana região da cidade deAçailândia, no Mara-nhão: a fuligem im-pregnada nas ruas enos telhados transfor-mou a cidade numamancha roxa escura.

Mesmo pequenasáreas de garimpo po-dem ser localizadas.Isso porque o satélite

Alternativas à queimada -De positivo, confirmou-seo aumento de produtivi-dade nas culturas degrãos e de algodão no suldo Maranhão e no MatoGrosso: embora a área

plantada não tenha aumentado, aprodução agrícola não parou decrescer nos últimos anos, como re-velam as imagens.

Acredita-se que as imagens po-dem ser úteis até no combate ao ga-fanhoto - praga no Mato Grosso -,pois permitem localizar e qualificar otipo de hábitat onde ele se reproduz,para direcionar o monitoramento daespécie em função das condições cli-máticas, com o objetivo de agir aoprimeiro indício de superpopulação.

Quanto às alternativas à quei-mada, é preciso identificar primeiroo que se pretende com ela. Nas re-

giões de pastagem,como Mato Grosso, suldo Pará e Ilha do Bana-nal' no Tocantins -, aqueimada costuma ser-vir para combater ocarrapato ou eliminar apalha do solo, para queo pasto germine maiscedo. Contra o carra-pato, basta deixar apastagem sem gado pordois ou três meses. E,para garantir alimenta-ção ao gado, recomen-da-se armazenar pastono fim do verão para ouso no inverno. A pro-

registra em tons bem distintos aságuas barrentas (azul claro) e astranslúcidas (negro). Como o ga-rimpo revolve a margem do rio, criauma mancha bem visível. "Na ori-gem dessas manchas, quase semprevemos uma área desmatada", conta opesquisador.

a trabalho evidencia a ocupaçãoilegal, especialmente em Rondônia.Aqui, a pista não é a cor, mas a for-ma. Segundo Miranda, numa áreade pequenas propriedades - identi-ficada por manchas geométricas nabeira de estradas -, uma entrada es-treita que acaba numa grande áreaI

Casa de extrativistaem Rondônia: convivência

harmoniosa com a mata

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pósito, os pesquisadores lembramque, sem queimada, a produtividadedo pasto aumenta.

Na agricultura, a queimada elimi-na restos da última safra a fim de fa-cilitar um novo plantio. No caso, a al-ternativa depende do tamanho dapropriedade - o que se pode avaliarnas imagens orbitais. De qualquermodo, há equipamentos, manuais oumotorizados, que permitem o plan-tio na presença da palha ou a incor-poração dela ao solo.

Impulso à pesquisa - O retrato amazô-nico nos CDs deve baratear e acelerarprojetos de monitoramento de im-pacto ambiental. Alejandro Dorado,doutor em gestão ambiental pela Fa-culdade de Saúde Pública da Univer-sidade de São Paulo (USP), exempli-fica: "Para fazer minha tese, tive decomprar 28 imagens de satélite aopreço de R$ 1.000 cada e passar me-ses selecionando e montando os tre-chos com menos nuvens. Agora, tudoisso já está pronto nos CDs". Como asimagens correspondem exatamenteàs cartas (mapas) do Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística(IBGE), e podem ser facilmente im-pressas em papel ou transparências,os CDs permitem que qualquer geó-grafo atualize essas cartas.

Mesmo em pesquisas que trans-correm há anos, as imagens permi-tem saltos qualitativos. É o caso doestudo do impacto ambiental da co-'lonização em Machadinho do Oeste,norte de Rondônia, numa área de 5mil quilômetros quadrados com 10mil colonos. A pesquisa acompanha500 propriedades rurais há 16 anos,a partir de 250 variáveis de meioambiente, atividade econômica e in-dicadores sociais. Classificadas aspropriedades conforme sua situaçãonessas três áreas, foram seleciona das36 com bom desempenho em todase fez-se um estudo sobre os padrõesde exploração adotados.

Observou-se a diversificação es-pacial do uso da terra em cada pro-priedade, proporção entre culturasperenes e anuais e associação de pe-

cuana com agricultura. "Com asimagens de satélite mais detalhadaspodemos agora observar cada pro-priedade e obter muito mais infor-mações. Hoje temos uma das maiscompletas bases de dados sobre im-pacto ambiental e sustentabilidadeda agricultura na Amazônia."

Zoneamento estadual- Com as ima-gens, a Embrapa ajuda o Maranhão afazer zoneamento econômico e eco-lógico: assim, identificados proble-mas e vocações de cada área, pode-setraçar uma política de desenvolvi-mento sustentável. Já se revelou a di-mensão do desmatamento da faixaoeste às margens da ferrovia de Cara-jás, a invasão por madeireiras de re-servas indígenas e unidades de con-servação - como a Reserva doGurupi - e a modernização das cul-turas de soja e algodão no sul mara-nhense. "As informações fornecidaspelas imagens, já disponíveis na In-ternet (www.ma.gov.br). são analisa-

o PROJETO

Expansão da RedeLocal da EmbrapaMonitoramento por Satélite

MODALIDADEPrograma de Infra-Estrutura

COORDENADOREVARISTO EDUARDO DE MIRANDA -

Embrapa Monitoramento por Satélite

INVESTIMENTOR$ 115.320,00

Miranda: clareza sobreáreas com potencial ourestrições para uso agrícola

das junto com as co-munidades de cada re-gião maranhense parabuscar os melhores ca-minhos para conciliardesenvolvimento e pre-servação': diz Miranda.

Cores e Timor Leste - Oaumento da capacida-de de processamento

de imagens da Embrapa gera sub-produtos. Ao tratá-Ias no computa-dor, pode-se obter informações maisdetalhadas (15 metros) e abrangen-tes (registro da luz em sete faixas vi-síveis e invisíveis ao olho humano).Isso porque o computador distingue256 tons de cinza, enquanto o olhohumano só diferencia cerca de 13."Identificando a qual desses tons cor-responde a água contaminada porsedimentos, por exemplo, podemospedir ao computador para colorirartificialmente esses pontos, de for-ma que nos permita enxergar polui-ções que na realidade são invisíveis aolho nu. Isso já se faz com o despejode esgoto doméstico em rios e lagos",diz Miranda.

Outro subproduto foi um pre-sente. Durante o dramático pro-cesso de independência do TimorLeste, a Embrapa decidiu dar aopaís seu retrato tirado do espaço:www.cnpm.embrapa.br/projetos/ti-mor/index.html. Comovido ao ver aimagem em papel fotográfico dequase 3 metros de extensão, um lí-der timorense disse: "Há 20 anosluto pelo meu país, mas é a primeiravez que o vejo inteiro". O pôsterre-gistra exatamente um dos dias dogrande massacre promovido pelasmilícias pró- Indonésia. Incêndios,fumaça e destruições são perfeita-mente visíveis. "Acabamos produ-zindo um documento histórico daindependência do Timor", comemo-ra o pesquisador. •

PESQUISA FAPESP • AGOSTO DE 2001 35

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rrCIÊNCIA

COOPERAÇÃO

Rede mundial contra o câncerEstudo de mil genes põeem destaque contribuiçãodo projeto brasileiro

Durante seis dias, entre 20 e 25de agosto, trinta especialistas

dos dois maiores projetos que estu-dam as origens genéticas do câncerreuniram-se no Instituto Ludwig deSão Paulo, onde, com o auxílio deuma rede de 20 computadores, dis-cutiram e compararam seus dadoscom o objetivo de descobrir marca-dores da doença. O encontro juntoupesquisadores do Genoma Humanodo Câncer, iniciativa conjunta da FA-PESP e da filial paulista do Ludwig, edo The Cancer Genome Anatomy Pro-ject (CGAP), do Instituto Nacionaldo Câncer dos Estados Unidos. Parti-ciparam também especialistas daUniversidade de Oxford, da Inglater-ra, e do Instituto Nacional de Bioin-formática da África do Sul (Sanbi).

Esse tipo de evento, chamadode jamboree (congresso interna-cional de escoteiros, em inglês), éuma reunião de trabalho infor-mal e prolongada, que se estendepor dias. Um esforço concentra-do, com pesquisadores de váriospaíses, com o intuito de propor-cionar uma visão integrada so-

36 . AGOSTO DElOOl • PESQUISA FAPESP

bre um assunto. Na área de genomas,houve recentemente dois jamborees,um sobre a Drosophila melanogaster,a mosca-da-fruta, e outro sobre ocamundongo (Mus musculus).

No encontro sobre o câncer, ospesquisadores centraram suas aná-lises nos 2,7 milhões de seqüênciasexpressas (fragmentos de genes) ex-traídas de tecidos humanos com tu-mores, 1,5 milhão provenientes dotrabalho do CGAP e 1,2 milhão doprojeto brasileiro. Além de se debru-çar sobre essas seqüências, os pesqui-sadores estudaram o padrão de ex-pressão e mutação de um grupo demil genes relacionados a tumores. ''Apartir dessas discussões, queremosproduzir um artigo para uma revistacientífica", diz Andrew Simpson, doInstituto Ludwig e coordenador doGenoma Humano do Câncer.

Para Robert Strausberg, diretor doCGAP, o trabalho conjunto de brasi-leiros e norte-americanos, responsá-veis pelos projetos mais produtivosna área de genoma do câncer, pode

acelerar a busca por novas formas dediagnóstico e tratamento das váriasmanifestações da doença. O otimis-mo se justifica: os dois grupos usammetodologias distintas, mas comple-mentares na tarefa de procurar frag-mentos de genes ligados ao câncer.

Meios e pontas - O Genoma Huma-no do Câncer utiliza a técnica Ores-tes, criada no Brasil, que extrai in-formações sobretudo das regiõescodificadoras (expressas) do códigogenético, que vão fornecer as ins-truções para a produção de proteí-nas. Situadas geralmente na partecentral dos genes, essas regiões re-presentam cerca de 3% do genomahumano, composto de 3 bilhões depares de bases. O CGAP usa técni-cas que obtêm informações das ex-tremidades dos genes.

O sonho de todo cientista que es-tuda as causas genéticas do câncer éencontrar marca dores para cada tipode tumor, descobrir alterações no ge-noma que sejam a marca registrada

das várias formas da doença.Não é fácil. Afinal, trata-se deuma das enfermidades mais mu-táveis de que se tem notícia. Al-gumas formas de câncer são, por

Melanoma, um tipo de câncerde pele, e o chip de DNA(ao fundo): visão integrada

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exemplo, localizadas e de progressãolenta. Outras se espalham pelo or-ganismo numa velocidade impressio-nante. Apesar de todos os avanços namedicina, um diagnóstico preciso - eprecoce - nem sempre é possível.

Na procura por marcadores docâncer, uma das ferramentas dos pes-quisadores são os chips de DNA.Com o auxílio desses arranjos, quepermitem colocar milhares de genesclonados numa lâmina, os pesquisa-dores conseguem saber quais delessão usados numa determinada situa-ção. Dessa forma, podem verificar,por exemplo, quais genes atuam emum tecido sadio do pulmão e quais seexpressam em células desse órgão to-madas por tumores. O sul-africanoWinston Hide, diretor do Sanbi, queparticipou do encontro em São Pau-lo, acredita que cerca de um terço dosestimados 30 mil genes humanos es-teja relacionado com o câncer.

No primeiro time - Para Hide, a con-tribuição do projeto brasileiro - um .investimento de US$ 20 milhões, ra-teado meio a meio pela FAPESP eLudwig - tem sido decisiva, maioraté do que a contribuição do CGAP.A quantidade de dados fornecidospelo CGAP é maior, mas a informa-ção proporcionada pelo GenomaHumano do Câncer é de maior qua-lidade. "Acho que 70% do conheci-mento do mundo sobre genes ex-pressos do câncer vem do Brasil eapenas 30% dos Estados Unidos",afirma Hide. "O jamboree foi muitointeressante, pois, pela primeira vez,tivemos a chance de ter uma visãointegrada do genoma do câncer." •

CIÊNCIA

GENÔMICA

Nova conquista da ONSAEquipe de bioinformóticapaulista conclui o disputadogenoma da Agrobacterium

Dois grupos independentes -um deles com a participação

de pesquisadores da equipe debioinformática da rede ONSA, cria-da pela FAPESP - anunciaram aconclusão do seqüenciamento dogenoma de uma das bactérias maisempregadas em engenharia ge-nética, a Agrobacterium tumefa-ciens, que apresenta mecanismosnaturais de transferência de genespara plantas, nas quais causa adoença chamada galha da coroa.Acredita-se que o conhecimentosobre o genoma facilite a pesquisade vegetais transgênicos.

Uma das equipes, formada pelaDu Pont e Universidade de Washin-gton, ambas dos Estados Unidos,com participação de pesquisado-res do Laboratório de Bioinfor-mática (LBI) da Universidade Es-tadual de Campinas (Unicamp),liberou no dia 14 de agosto as infor-mações sobre esse genoma na páginada Internet www.agrobacterium.org,um dos resultados do financiamentode US$ 900 mil da National ScienceFoundation e de R$ 91.148,68 da FA-PESP,na forma de bolsa de pós-dou-torado no exterior. O LEI montou obanco de dados do genoma e, na eta-pa de anotação (interpretação), em-pregou programas desenvolvidospelo próprio laboratório.

No mesmo dia, a Monsanto, quecontou com a colaboração dos pes-quisadores da Universidade de Rich-mond, anunciou o depósito das se-qüências no GenBank, um bancointernacional de genomas. As duasequipes correm agora para publicar

antes da outra o artigo científicocom as descobertas, que marcaria opioneirismo sobre o trabalho.

O genoma da Agrobacterium tem5,6 milhões de pares de bases, comdois cromossomos e duas seqüênciasmenores, os plasmídeos. "Um doscromossomos é linear e não circular,algo bastante raro entre as bactérias",comenta João Carlos Setúbal, umdos coordenadores do LBI, que per-manece até dezembro como profes-sor visitante na Universidade deWashington. Análises preliminares

Agrobacterium: sobre célula de tabaco

indicam semelhanças genéticas acen-tuadas entre a Agrobacterium e duasbactérias não-patogênicas, a Sinorhi-zobium meliloti e a Mesorhizobiumloti, que vivem dentro de plantas. "Acolaboração com a Universidade deWashington, via Setúbal, foi perfei-ta", diz João Paulo Kitajima, tambémcoordenador do LBI.

Praga mundial, a Agrobacteriumataca videiras, tomateiros, roseiras,pessegueiros e caquizeiros, entre ou-tras. Após transferir seus genes parao genoma da planta, as células vege-tais crescem desordenadamente e seformam as galhas (tumores), nor-malmente na coroa (junção do tron-co com a raiz) ou na própria raiz. Osnutrientes vão para essas regiões e asplantas definham até morrer. •

PESQUISA FAPESP . AGOSTO DE 2001 • 37

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CIÊNCIA

BIOQUÍMICA

RemédiosdomarPesquisa de recursos marinhosencontra substâncias antitumoraisem esponjas e tunicados do litoral

ANA MARIA FlORI

Segundo país com a maiorcosta contínua no mundo, oBrasil tem um litoral que seestende por cerca de 8 milquilômetros e só perde para

o da Austrália. É uma posição privi-legiada para a exploração racional derecursos marinhos, o que inclui aobtenção de substâncias com poten-cial de uso em sistemas biológicos,como as que foram pesquisada&numpw· átko ~

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sileira. Das esponjas retiradas numafaixa de cerca de 50 quilômetros deextensão, no perímetro do canal, dezeram inéditas para a ciência - entreelas a Aplysina caissara, também compotencial antitumoral.

Para coletar e estudar esponjas etunicados, o biólogo e taxonomistaEduardo Carlos Meduna Hadjumergulhou mais de 200 vezes na cos-ta de Ilhabela. Por quase dois anos,ele praticamente morou em São Se-bastião. Hadju, que é pesquisador doMuseu Nacional da Universidade doBrasil e no início do projeto estavavinculado à Universidade de SãoPaulo (USP), recebia duas ou três ve-zes por ano a visita de Roberto Go-mes de Souza Berlinck, um pós-dou-

torado em química de animais mari-nhos da USP de São Carlos. ComHadju, que havia levantado a distri-buição das espécies na região, Ber-linck selecionou os animais coleta-dos para a extração de substâncias eenviou os extratos para o laboratóriodo biólogo José Carlos de Freitas, co-ordenador do projeto, para testesfarmacológicos.

Patente contra câncer - Os extratosdas substâncias coletadas são feitosde modo muito simples. O animal éposto no álcool - etanol ou metanol- e as substâncias que contém se dis-solvem nesse meio. Depois que o ál-cool evapora, o extrato é submetidoa um teste farmacológico preliminar

realizado pela equipede Freitas, que dirigeo Centro de BiologiaMarinha (Cebimar)da USP. Durante está-gio no exterior, Ber-linck também subme-teu 40 extratos a umteste novo, que acaba-ra de ser desenvolvidono Canadá. Algunsextratos se revelaram

e.o ~~-

mores. Em março de 1998, a univer-sidade canadense fez em nome deambos um pedido de patente dessassubstâncias, o que está sob avaliação.

Oteste farmacológicofoi feito em célulashumanas de câncer demama e detectou, ba-sicamente, a interferên-

cia das substâncias na organizaçãodo DNA (ácido desoxirribonucléico,portador do código genético) duran-te o processo da divisão celular. Nes-se processo, as substâncias inibem ochamado ponto de checagem G2.

As células fazem duas paradaspara verificar a integridade do mate-rial genético. A primeira parada, ouponto de checagem G1, acontecelogo depois da divisão celular, paraverificar se o material genético nãofoi danificado no processo. Então acélula tem um certo tempo de vida,que nos mamíferos é de 24 horas,antes de se dividir novamente. Nesseperíodo, cada célula faz nova verifi-cação bioquímica, o ponto de checa-gem G2. "Cerca de 50% das célulasde tumores sólidos'; explica Ber-li.nd4 »onto de checagem

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desenvolvimento do AZT, remédiobásico no tratamento da Aids.

Ascídia Didemnum granu/atum: substâncias contra tumores Esponja Ap/ysina caissara: também com potencial antitumoral

atividade citotóxica e antibiótica con-tra microrganismos resistentes aantibióticos - os que causam infec-ções hospitalares.

Noutra esponja, a Aplysina cais-sara, que também só existe aqui, aequipe detectou grande quantidadedo alcalóide aeroplisinina-l, tam-bém com potencial de ação antitu-moral. Nos anos 60, pesquisadoresitalianos já haviam encontrado nou-tra esponja a mesma substância, quehoje passa por testes clínicos em se-res humanos. Caso os resultados se-jam positivos. o Brasil poderia fazermaricultura da A I 'Sina CIlÍSSlWae se

te ligada à biológica. Poríferos e tu-nicados, em especial, são fontes po-tenciais de compostos bioativos. Opesquisador acentua que "esses gru-pos também têm importância estru-tural em diversos ecossistemas e sãouma das prioridades globais no estu-do da biodiversidade marinha".

Presença no AZT - Muitas substânciasjá foram isoladas em todo o mundona pesquisa com organismos mari-nhos, mas poucas estão em testes clí-nicos. Todo o processo, da descota de

Emtese, qualquer substân-

cia pode ser sintetizada,mas a síntese pode demo-rar muito tempo, en-quanto num organismo

cultivado e manejado a biossíntese ébem rápida. "Por isso': acentua Frei-tas, "há necessidade da interação dosquímicos com os biólogos •nhos, conhecedores dos. civida det s. dos

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graças ao monitora-mento, isso é raro.

No litoral brasilei-ro, um peixe rico emtetrodotoxina é o baia-eu-rouba-isca ou baia-eu-pintado (Sphoeroi-des spengleri), odiadopelos pescadores tanto

por roubar a isca do anzol como porsua toxicidade: ingerir 50 gramasdele é uma sentença de morte. Porexperiência e tradição, os caiçarassabem que esse peixe não deve serconsumido, ao contrário do baiacu,de maior porte, cujos filés são en-contrados nas peixarias.

identificar moléculas ainda desco-nhecidas da ciência, até com bioati-vidades também inéditas".

''A outra linha", prossegue, "é omonitoramento dos efeitos de mo-léculas já conhecidas, no ambientee na saúde das pessoas': Freitas, quetambém é pesquisador do Centrode Toxinologia Aplicada - um dosCentros de Pesquisa, Inovação eDifusão (Cepids) qualifiçados pelaFAP 1'1 p~ um

o PROJETO

Baiacu-rouba-isca:rico em veneno fatal

RecursosMarinhos Renováveisdo Litoral Paulista. Biodiversidadede Porifera (Demospongiae)e Chordata (Tunicata) - Taxonomia,Química e Farmacologia

MODALIDADEProjeto temático

COORDENADORJoséCARLOSDEFREITAS- Institutode Biociências e Centro de BiologiaMarinha (Cebimar) da USP

INVESTIMENTOR$ 600.000,00

Também o fenômeno ambientalda maré vermelha pode levar toxi-nas direta ou indiretamente ao serhumano. Trazida pela proliferaçãode um dos pequenos organismos doplâncton marinho - ora um, ora ou-tro -, às vezes a maré vermelha écausada por uma espécie tóxica.Organismos filtradores, como mexi-lhões e tunicados, acabam por con-centrar a toxina - o que causa pro-blemas, como diarréias, em quem osmgere.

A maioria das marés vermelhasacontece com a proliferação de algu-ma alga microscópica, mas tambémpodem ser provocadas por animais:no litoral paulista, já houve umacausada pelo protozoário ciliadoMesodinium rubrum e outra pelo tu-nicado Weelia cilindrica.

Freitas, que nasceu em São Sebas-tião e é filho de pescador, pretendeprosseguir com essas pesquisas. Há.

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CIÊNCIA

BIOQUÍMICA

Veneno"

"de taturana

Isolamento de proteína doveneno de lagarta que causasíndrome hemorrágicapode levar a medicamentoanticoagulante

Pesquisadores do Instituto Bu-tantan conseguiram isolar e elo-

nar o componente responsável pelosacidentes de síndrome hemorrágicaque ocorrem no Sul do país devidoao contato com a taturana Lonomiaoblíqua. "Trata-se de uma proteínaque recebeu o nome de lopap', revelaa farmacêutica Ana Marisa Chudzins-ki-Tavassi, coordenadora do grupo.Três artigos, assinados pelo farmacêu-tico bioquímico Cleyson Valença Reise outros membros da equipe e publi-cados nas revistas Lancet e Thrombo-sis Research em 1999 e junho últimos,coroam o trabalho de caracterizaçãoda proteína, que começou em 1996,na tese de mestrado de Cleyson.

Identificada a proteína, a atençãodeles se concentra na sua possível uti-lização como princípio ativo de umanticoagulante para tratamento datrombose. "Com o extrato das cerdasda Lonomia; conseguimos dispor deum montante muito pequeno, de 10-papo Porém, já estamos desenvolven-do o método para produzi-Ia em largaescala, a partir de bactérias genetica-

42 . AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

1contra trombosemente modificadas. Toda a biologiamolecular necessária para isso foi esta-belecida ao longo deste ano. Dispon-do de grande quantidade do material,será possível pensar na fabricação domedicamento': revela Ana Marisa.

Epidemia no Sul - Desde 1989, maisde mil acidentes causados pelo con-tato com Lonomia oblíqua foram re-gistrados na região Sul. Caracterizadopor síndrome hemorrágica, acompa-nhada de drástica diminuição de al-guns fatores de coagulação, o fenô-meno tornou-se alarmante. Dor decabeça, náusea, dermatite urticante,

Extrato das cerdas da lagarta: veneno

equimoses, hematomas, sangramen-tos em feridas recentes, gengivas enarinas são manifestações comuns. Asmais graves incluem sangue na urinae hemorragias abdominais, glandula-res, pulmonares e cerebrais, que po-dem levar à morte. A epidemia reper-cutiu na imprensa, mas acredita-seque sua dimensão esteja subestima-da, porque, tendo ocorrido na zonarural, muitos casos não foram comu-nicados às autoridades médicas.

Conhecida como oruga ou ruga, aLonomia oblíqua é uma taturana es-verdeada, com manchas e listras, eque muitas vezes mimetiza as plantasem que habita. Simetricamente dis-postas ao longo do dorso estão cerdasem forma de espinhos ramificados epontiagudos, de aspecto arbóreo. É ocontato com essas cerdas, onde está aproteína lopap, que causa os aciden-tes. E eles se tornam graves porquedificilmente a pessoa toca uma só ta-turana, mas toda uma colônia. Asconseqüências dependem, então, daquantidade de lagartas, da intensida-de do contato e das predisposiçõesdo paciente.

Mas, como se sabe desde os pri-mórdios da medicina, o que mata po-de também salvar. A trombose é a in-terrupção do fluxo sangüíneo devidoà presença de coágulos. Como o conta-to com essa taturana provoca síndro-me hemorrágica, uma substância queimpedisse a formação de coágulos oumesmo os eliminasse poderia tornar-

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se o princípio ativo deum medicamento con-tra a trombose. Seria ocaso do princípio ativodo veneno da taturana,a proteína lopap (siglaem inglês de Lonomiaobliqua prothrombinactivator protease - ouprotease ativadora deprotrombina da Lono-mia obliqua).

Reação estranha - Ospesquisadores obtive-ram a lopap pela puri-ficação do extrato dascerdas da taturana. Ve-rificaram, in vivo, por microscopiaintravital em ratos, que ela provocahemorragias. "Ela ativa uma substân-cia do sangue chamada protrombina,produzindo a trombina, enzima quedesencadeia o processo de coagula-ção", diz Ana Marisa. Aqui há umacontradição aparente: exatamentepor estimular uma coagulação exage-rada, a lopap rouba da circulaçãogrande quantidade da substância quefaz o sangue coagular, o fibrinogênio.Instala-se a chamada coagulopatia deconsumo - reação do organismo quepriva o sangue daquilo que o faz coa-gular. Cleyson Reis, principal respon-sável pela caracterização da lopap,descreve o processo:

"A lopap ativa a protrombina,formando trombina. A trombina re-quisita e quebra as moléculas de fi-brinogênio, produzindo fibrina, amatéria-prima dos coágulos. Issoprovoca uma coagulação intravascu-lar disseminada (que leva à trombo-se). O organismo reage à presençados coágulos, promovendo uma fi-brinólise (destruição de fibrina) se-cundária. Espoliado dos componen-tes que o levam a coagular, o sanguese torna incoagulável. Sobrevêm daías hemorragias que, nos acidentescom a lagarta, podem até levar o pa-ciente à morte, por complicações re-nais e cerebrais".

Com um controle rigoroso da do-sagem, porém, a lopap poderia fun-

se recomendou tratartambém com antifibri-nolíticos os indivíduosvitimados no Brasil.Mas esses medicamen-tos impedem a destrui-ção da fibrina (fibrinó-lise) e a pesquisadoracontesta energicamentea orientação.

"Usar antifibrinolí-ticos é matar os pacien-tes. Eles impedem queocorra a fibrinólise se-cundária. Os coágulosse acumulam e a pessoaacaba morrendo pelacoagulação intravascu-

lar disseminada". Ela fala com a auto-ridade de quem conduziu um proje-to anterior financiado pela FAPESPjustamente para estudar o envenena-mento em pacientes (Determinaçãodos Parâmetros de Coagulação e Pibri-nólise em Plasma de Pacientes Aciden-tados por Contato com Lonomia obli-qua). Além do mais, acrescenta, osenvenenamentos no Brasil têm sidoperfeitamente tratados com o soro queo Butantan criou, ainda antes da pes-quisa do grupo, que agora 'quer darum passo adiante: é que o soro atualé fabricado a partir do veneno total, ea equipe já produziu um novo soro,baseado exclusivamente na lopap.

Esse soro já é testado em animaise pode ser uma alternativa mais "lim-pa", pois responde à proteína especí-fica causadora dos acidentes e não aocomplexo pacote de proteínas do ve-neno. "Depois de inocular o soro espe-cífico, queremos desafiar os animaiscom o veneno total, de modo a pro-var que a lopap é realmente o fatormais importante", diz Ana Marisa.

A meta mais ambiciosa, porém,continua a ser, a partir da lopap, cri-ar um medicamento desfibrinogenan-te de combate à trombose. Ana Mari-sa sabe que há um longo percursoentre o teste de um princípio ativoem animais - fase atual- e a fabrica-ção de um remédio para consumohumano em escala comercial, masestá entusiasmada. •

Ana Marisa: pesquisa abrange soro mais específico para envenenados

cionar contra a trombose, sem pro-vocar reações hemorrágicas.

Orientação fatal - O grupo chama aatenção para o fato de que, nos aci-dentes com a Lonomia obliqua, a des-truição de fibrina é um fenômeno se-cundário, provocado pela reação doorganismo e não pelo veneno. Isso éimportante para diferenciar os casosregistrados aqui dos ocorridos na Ve-nezuela. Lá, os envenenamentos sãocausados por outra espécie, a Lono-mia achelous, em cujo veneno pes-quisadores venezuelanos afirmam terencontrado componentes destruido-res de fibrina.

Com base no modelo venezuelano,contudo, no início da década de 90 já

OS PROJETOS

Determinação dos Parâmetrosde Coagulação e Fibrinólise no Plasmade Pacientes Acidentados por Contatocom Lagarta Lonomia obliquae Proteínas de VenenosAnimaisque Interferem nos Mecanismosde Coagulação e Fibrinólise: Análisede Interações com Receptores Celulares

MODALIDADELinha regular de auxílio à pesquisa

COORDENADORAANA MARISA CHUDZINSKI-TAVASSI-

Instituto Butantan

INVESTIMENTOR$ 93.000,00

PESQUISA FAPESP . AGOSTO DE 2001 • 43

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CIÊNCIA

MEDICINA

Precisão em dobroExames combinadosaprimoram diagnósticode câncer de tireóide

Mesesatrás, com dois nódulosna tireóide, Neide G.W., de

60 anos, encontrava-se na iminênciade submeter-se a uma cirurgia desne-cessária. A biópsia do nódulo maior,feita a partir deuma amostra dotecido extraída poruma agulha fina,não foi conclusivasobre a possibili-dade de tratar-sede câncer. O proce-dimento mais co-

o volume, conteúdo sólido ou líqui-do, contornos e presença ou não decalcificações nos nódulos. Se as ima-gens indicarem algo anormal, fazemuma punção e realizam a biópsiaapenas nas formações suspeitas, paraterem uma avaliação microscópicadas células dos caroços. Combinan-do os resultados do ultra-som e dabiópsia, conseguiram um índice deacerto de 76% na detecção de câncerde tireóide.

punções eram guiadas pelo resulta-do do ultra-som, e os nódulos clas-sificados, segundo essas imagens,em graus que indicavam as chancesde malignidade. De volta a São Pau-lo, Rosalinda e Tomimori prepara-ram uma classificação específica pa-ra a realidade brasileira, diferente dajaponesa. Naquele país, o câncer detireóide é muito mais freqüente doque aqui, onde 2% da populaçãoapresenta esse tipo de tumor.

Em seguida, fizeram estudo rela-cionando imagens de ultra-som elaudos citológicos de 2.025 pacientescom nódulos de tireóide. Foi quandose chegou a um sistema de atribuiçãode notas aos tumores, baseado nopotencial de malignidade da forma-

mum nesses casos,dado o tamanhodo nódulo, de doiscentímetros de diâ-metro, é a extraçãoparcial ou total datireóide - opçãoque implica riscos pela localizaçãodessa glândula em uma região, opescoço, intensamente irriga da erica em terminações nervosas. Neideescapou do bisturi graças a um novométodo de diagnóstico de câncer detireóide desenvolvido pelo especia-lista em ultra-sonografia EduardoKiyoshi Tomimori e a endocrinolo-gista Rosalinda Camargo, médicosdo Hospital das Clínicas da Faculda-de de Medicina da Universidade deSão Paulo (USP).

Em vez de usar apenas um parâ-metro ao decidir pela cirurgia, ospesquisadores formularam um mé-todo que leva em conta dois indica-dores. Primeiro, tiram um ultra-som - um exame de baixo custo,capaz de fornecer informações sobre

Nódulo grau 2, benigno, e outro (ao lado), grau 4... ...maligno: contornos regulares ou irregulares

44 . AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

Por essa abordagem, três de cadaquatro pessoas encaminhadas para amesa de operação efetivamente apre-sentam tumor maligno. Segundo Ro-salinda, os casos duvidosos não serãonegligenciados: "É pouco provávelque um paciente passe pela duplaavaliação com diagnóstico falsamen-te negativo". Nas cirurgias recomen-dadas a partir do método tradicionalde diagnóstico (palpação e punçãosomente do maior nódulo), a suspei-ta de câncer é confirmada em, nomáximo, 20% dos casos operados.

Inspiração japonesa - A idéia do mé-1todo começou a ganhar corpo em11996, com uma visita a um centroes~ecializado em doenças da tireói-de em Kobe, Japão. Ali, todas as

ção. Cada nódulo recebe duas pon-tuações, uma fornecida pela biópsia(1,2,3 ou 6) e outra pelo ultra-som(1,2,3 ou 4). Quando a soma das no-tas é igual ou superior a seis, o pacien-te segue para cirurgia. Consideram-se benignos os nódulos cuja notafinal fique entre 2 e 4 pontos e duvi-dosos, mas provavelmente benignos,os com 5 pontos. Tumores com 6pontos são casos suspeitos e entre 7e 10 pontos, provavelmente malignos.

Esse resultado surgiu da compa-ração do diagnóstico fornecido pelonovo método com a análise do nódu-lo extraído de 224 pacientes opera-dos no Hospital das Clínicas da USP.Dos 52 portadores de nódulos tidoscomo benignos, apenas dois (3,8%)apresentaram carcinoma papilífero,

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o tumor de tireóide menos agressivo.Entre os 35 com caroços no pescoçoclassificados como duvidosos, quatro(11,4%) tinham câncer. O porcen-tual de malignidade subiu para44,6% entre as 56 pessoas com nódu-los suspeitos. Quase 99% dos 81 pa-cientes com índice maior ou igual a7, claramente maligno, tinham cân-cer. Conclusão: se tivessem encami-nhado para a sala de cirurgia apenasquem tivesse nota final igual ou maiorque 6, chegariam a um elevado índi-ce de acerto no diagnóstico da doen-ça, 76,9% dos casos. Daí surgiu anota final 6 como divisor de águas.

Como norma geral de procedi-mento, os médicos do HC recomen-dam que todas as punções, sempreque possível, sejam guiadas pelo ul-tra-som. Com o auxílio desse exame,a punção de nódulos pequenos, nãopalpáveis mas de aspecto suspeito, setorna mais produtiva. O ultra-sompermite escolher a região do nódulocom mais chance de conter célulasmalignas, reduzindo o porcentual deaspirações que precisam ser repeti-das devido à coleta insuficiente ouinadequada de material.

"O que se gastará a mais em ul-tra-som será muito menos do queeconomizaremos com despesas e so-frimento em cirurgias e punçõesdesnecessárias", diz Tomimori. Se-gundo ele, a extração da tireóidepode custar mais de R$ 5 mil quan-do não é coberta por um plano desaúde. Além do HC paulista, o Hos-pital Socor, de Belo Horizonte, jáusa o método criado na USP. •

o PROJETO

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Page 46: Fibra para inovar

CIÊNCIA

~.-----------------------------------------------------------------------------

Fios de até 5 centímetros de diboreto de magnésio produzidos pelo Laboratório Ames: material promissor

NOVOS MATERIAIS

Prova de qualidadeFísicos da Unicampreforçam propriedades dematerial supercondutor

Pesquisadores do Instituto de Fí-sica da Universidade Estadual

de Campinas (Unicamp) foram osprimeiros a medir e descrever umacaracterística importante do dibore-to de magnésio (MgB2)' identificadoem janeiro deste ano como super-condutor e agora com boas perspec-tivas de se tornar o material domi-nante no setor nos próximos anos.Liderada por Oscar Ferreira de Lima,a equipe paulista mostrou que essematerial exibe um valor relativamen-te baixo para um parâmetro definidotecnicamente como anisotropia. Em

l 46 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

outras palavras, os físicos comprova-ram que as propriedades supercon-dutoras do diboreto - inclusive suacapacidade de transmitir correnteelétrica com resistência zero, semperda de energia na forma de calor -são quase totalmente uniformes, va-riando pouco de acordo com a dire-ção do espaço em que se manifestam.

Isso quer dizer que os elétronsfluem de forma mais ou menos se-melhante em qualquer direção deum cristal de MgB2' tanto ao longode seu eixo vertical como no hori-zontal. Na verdade, há uma diferençade cerca de 70% na capacidade detransmitir corrente entre os dois ei-xos, sendo o plano horizontal o maiseficiente. Entre os supercondutores,uma disparidade dessa ordem não éconsiderada elevada. "Nas cerâmicassupercondutoras, a anisotropia cos-

tuma ser muito maior", diz Lima."Em alguns compostos, a correntecriada numa direção pode ser até 200vezes maior que na outra:' As medi-ções são de extremo valor para em-presas e universidades interessadasem elaborar produtos com o novo su-percondutor, ao mostrarem que a ani-sotropia do MgB2 não comprometeseu potencial de conduzir altas corren-tes. Os resultados do trabalho foramrelatados no final de junho na Physi-cal Review Letters, uma das mais pres-tigiosas revistas científicas de Física.

Desde o início do ano, quando opesquisador japonês Iun Akimitsu, daUniversidade Aoyama Gakuin, anun-ciou que o quase esquecido diboretode magnésio, descoberto em 1953,comportava-se como supercondutorquando resfriado a -234 graus Cel-sius, físicos do mundo todo passarama estudar o material detalhadamente.O interesse se deve a dois motivos: oMgB2 é o composto intermetálicocom temperatura crítica (Te) -limiteabaixo do qual um material passa aconduzir corrente com resistênciazero - mais elevada que se conhece e

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Estrutura do MgB2seu custo de produção é me-nor que o dos superconduto-res à base de nióbio, hoje osmais utilizados em aplicaçõescomo aparelhos de tomografiapor ressonância magnética. "Odiboreto de magnésio não éum material revolucionário':pondera Lima. "Mas é possívelque venha a substituir com al-gumas vantagens os supercon-dutores hoje em uso."

Até a entrada em cena dodiboreto, os físicos achavamque não havia muito mais oque descobrir em termos desupercondutores feitos exclu-sivamente com metais. Aspesquisas com esse tipo de materialpareciam ter chegado ao seu limite.Como não se conseguia descobrircompostos ou ligas supercondutorascom Te mais altas, a partir da segun-da metade da década de 80, os es-forços se voltaram para as cerâmicassupercondutoras, compostos não-metálicos capazes de transmitir cor-rente com resistência zero a tempera-turas mais elevadas.

Olhar renovado - A chegada do dibo-reto de magnésio mudou esse cená-rio. Ninguém esperava que a novida-de mais quente estaria escondidanum composto tão simples como oMgB2: seus átomos de boro, a exem-plo dos de carbono no grafite, for-mam estruturas hexagonais, separa- I

das por uma camada de átomos demagnésio. De repente, os laboratórioscomeçariam a ver com bons olhosnovamente os estudos com materiaisfeitos exclusivamente de metais.

Assim que soube da descobertade supercondutividade no compos-to à base de magnésio e boro, Limareuniu três alunos de doutorado eum técnico de laboratório e expôsseu plano de ação. Se trabalhassemrápido, poderiam ser os primeiros aprovar se o MgB2 era isotrópico ouanisotrópico, uma dúvida que pai-rava naquele momento. O diboretode magnésio é vendido comercial-mente na forma de pó, mas, para

Átomos de magnésio separam as camadas de boro

obter cristais de alta pureza, os pes-quisadores da Unicamp preferiramproduzir o composto ali mesmo.Compraram lascas de boro e mag-nésio e as colocaram num tubo fe-chado em um forno a 1.200 grausCelsius. Sintetizaram o MgB2 na for-ma sólida e o moeram até virar umpó muito fino, filtrado numa penei-ra que só deixava passar grãos, oscristalitos, de 5 e 20 micra (um mí-cron equivale à milésima parte domilímetro). Por fim, os cristalitosforam espalhados mecanicamentesobre os dois lados de uma folha depapel texturado (Canson), geral-mente utilizado por artistas:

Foi justamente sobre um minús-culo pedaço dessa folha revestidaque foram feitas as medições queconstataram uma suave anisotropiado MgB2• Ao pintarem o papel como pó de diboreto, os pesquisadoresconseguiram produzir um alinha-mento perfeito dos cristalitos de

O PROJETO

Estudo de Materiais Supercondutores

MODALIDADEProjeto temático

COORDENADOR

Joss ANTONIO SANJURJO - Instituto deFísica da Unicamp

INVESTIMENTOS

R$ 221.250,00 e US$ 530.900,00

MgB2• Todos se encaixavamda mesma maneira nos porosdo papel, criando as condi-ções ideais para aplicar cam-pos magnéticos sobre a amos-tra e determinar o valor dacorrente elétrica em várias di-reções do composto.

"Um material é anisotró-pico porque, em nível micros-cópico, não é homogêneo",afirma Lima. "Olhando paradiferentes direções no interiorde um cristal, vemos paisa-gens distintas." A imagem

B gerada por microscopia ele-trônica da amostra permitevisualizar cada grão do mate-

rial sobre o papel e o intervalo espa-cial entre eles. "Fiz medições em ple-no Carnaval", lembra Lima. Osfísicos começaram a estudar o MgB2no dia 10 de fevereiro, como desdo-bramento de um projeto temáticocoordenado por José Antonio San-jurjo. Vinte dias depois, já tinham oresultado em mãos.

Fios ainda pequenos - Mesmo combom potencial de transmissão decorrente, o diboreto de magnésioterá de vencer algumas restriçõespara se firmar como uma alternativaaos supercondutores já usados co-mercialmente. "Como os demaiscompostos metálicos, o diboreto demagnésio tem de ser resfriado comhélio líquido, num processo relati-vamente caro, para exibir suas pro-priedades supercondutoras", dizLima. Outra desvantagem: diferen-temente de outros supercondutoresmetálicos, o diboreto é quebradiço,um defeito típico das cerâmicas, quedificulta a produção de fios condu-tores. Dificulta, mas não inviabiliza,a julgar pelos resultados obtidos porfísicos do Laboratório Ames, nos Es-tados Unidos. Os pesquisadores des-se centro já conseguiram fabricarfios de MgB2 de até 5 centímetros. Éum resultado modesto. Os cientistas,no entanto, esperam encontrar embreve meios de confeccionar fila-mentos de diboreto mais longos. •

PESQUISA FAPESP • AGOSTO DE 2001 • 47

Page 48: Fibra para inovar

CIÊNCIA

Estudo revela forçasque atuam no corpoem ação e indica atéa forma ideal de baterna bola de tênis

JOSÉ TADEU ARANTES

48 . AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

om as vitórias espetaculares de Guga, o Brasilpode deixar de ser o país do futebol para se tor-nar a terra do tênis, e os iniciantes no manejo daraquete também já podem contar com uma aju-da da ciência. Junto com especialistas de váriospaíses, liderados pela psicóloga alemã DagmarSternad (da Universidade Estadual da Pen-silvânia, Estados Unidos), o físico brasileiroMarcos Duarte, professor da Escola de Educa-ção Física e Esporte da Universidade de SãoPaulo (USP), descobriu uma receita infalívelpara controlar a bolinha, tão fácil que até um

robô é capaz de seguir. "A idéia convencional é que a pessoa fica o tempo todoolhando para a bolinha e a raquete e, inconscientemente, faz os ajustes neces-sários para corrigir o movimento. Mas isso demanda muita atenção e con-trasta com a facilidade desse ato. Então, propusemos um modelo alternativo,baseado na teoria do caos", afirma o pesquisador.

Sua pesquisa foi publicada em janeiro na Physical Review E, da AmericanPhysical Society, e teve uma resenha na página da revista Nature na Internet.Outro artigo do grupo será veiculado em outubro no Journal of Experimen-tal Psychology. Mas a investigação do movimento de bater bola é, por assimdizer, uma estrada vicinal no itinerário desse jovem físico, pós-doutoradopela Universidade da Pensilvânia. Seu principal objeto de estudo são os me-canismos de controle da postura e do equilíbrio humanos. Tanto numa áreaquanto na outra, Duarte tem feito descobertas instigantes e úteis.

Para descrever o movimento de bater bola, ele utilizou um modelo cria-do, no estudo dos raios cósmicos, pelo físico italiano Enrico Fermi (1901-1954). "Trata-se de um modelo de sistemas dinâmicos, cujas equações não-li-neares trazem embutida a idéia de caos", diz Duarte. ''A partir dele,concluímos que, em vez de controlar a cada instante as posições e velocida-des da bolinha e da raquete, tudo o que a pessoa precisa fazer é frear a raque-te antes de bater na bolinha." Se esse único fator - a freagem da raquete, ouseja, sua aceleração negativa (menor que zero) - for respeitado, o resultadoserá um sistema dinamicamente estável, em que qualquer perturbação nomovimento da bolinha será atenuada ou corrigida pelas interações consecu-tivas com a raquete.

Visão e impacto - Ocorrerá exatamente o contrário se a aceleração da raquetefor positiva. Nesse caso, uma eventual perturbação será acentuada, até tornaro movimento da bolinha incontrolável. A terceira possibilidade, uma acelera-ção nula (igual a zero) - isto é, o deslocamento da raquete com velocidadeconstante -, produzirá um estado indiferente, em que as perturbações tantopodem progredir quanto regredir, dependendo de outros fatores.

Se o modelo remonta a estudos de Fermi no final da década de 1940, a no-vidade está em sua aplicação ao tênis. "Inicialmente, fizemos uma simulaçãodo modelo em computador. Depois confirmamos a previsão em experimen-tos com seres humanos': relata Duarte. "Esses indivíduos não tinham nenhu-ma experiência anterior com o tênis, mas, após aprender a tarefa, chegaram,empiricamente, muito perto da aceleração ideal: um valor negativo, mas nãoexcessivo. Bastou controlar essa única variável para que obtivessem a perícia."

Para isolar o fenômeno e evitar efeitos produzidos por outros fatores -como a inclinação lateral da raquete, por exemplo -, num dos experimentos,os pesquisadores acoplaram a ela um dispositivo tipo gangorra. Os testadosmoviam a "gangorra" e esta comunicava o movimento à raquete. Desse modo,a trajetória da raquete ficava rigorosamente inscrita num plano vertical.

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ou fêrnur, são, por suas complica-ções, o segundo fator de morte poracidentes. Nos Estados Unidos, o ônusdesses acidentes para o sistema desaúde é de alguns bilhões de dólarespor ano.

Por isso, governos e instituiçõesprivadas de vários países investemgrandes somas no estudo dos meca-nismos naturais de controle da pos-tura e do equilíbrio. Como parte deseu projeto, Duarte acaba de montar,na Escola de Educação Física da USP,um laboratório com o que há demais avançado em aparelhagem deinvestigação sobre o tema.

"Procuramos eliminar tambémvárias informações sensoriais, comoas proporcionadas pela visão e pelasensação cinestésica decorrente doimpacto da bolinha na raquete", in-forma o físico. Para cumprir a pri-meira condição, bastou vendar osolhos das pessoas. A segunda exigiuum expediente mais complicado:acoplar um braço robótico entre o su-jeito e a raquete. "Para nossa surpre-sa, verificamos que a performance dosindivíduos é mais prejudicada pelaeliminação da informação cinestési-ca do que pela supressão da visão."

ram oito artigos em revistas especiali-zadas internacionais, o brasileiro tevepor supervisor no pós-doutorado omatemático russo Vladirnir Zatsiorsky.Trata-se do ex-diretor do lendárioInstituto Central de Cultura Física daantiga União Soviética, a fábrica decampeões responsável pelas medalhasde ouro das equipes olímpicas. Zatsi-orsky, que vive hoje nos Estados Uni-dos e redirecionou sua atuação dosginásios esportivos para a área de saú-de, continua como colaborador deDuarte.

"Queremos saber como o ser hu-mano controla sua postura, para en-tender como ele perde esse controle",sublinha o pesquisador. Essa questãoé especialmente significativa para osidosos. Uma em cada três pessoas commais de 65 anos cai pelo menos umavez ao ano. E essas quedas, que geral-mente provocam fraturas de quadril

Treinando robô - Com tudo o queaprenderam nos experimentos, che-garam à etapa mais divertida: ensi-nar robô a bater bola. Não fizeramisso do modo clássico, com câmerasde TV acompanhando os movimen-tos da raquete e da bolinha e compu-tadores calculando, mo-mento a momento, suastrajetórias. Bastou progra-mar o robô para imprimirà raquete uma aceleraçãonegativa na intensidade a-propriada.

"Esse robô não estásendo desenvolvido parajogar tênis com o Guga. Eletem a habilidade de umacriança de 2 anos. E isso é omáximo que podemos al-mejar no momento", dizDuarte. "Quando conside-ramos que, num Jogoessen-cialmente mental como xa-drez, o robô Deep Blue foicapaz de vencer o campeãomundial russo Garry Kas-parov, nos damos conta decomo é complexo o movi-mento corporal humano."

O físico sabe bem doque fala, porque sua linhade pesquisa, focada no con-trole da postura e do equi-líbrio, evidencia toda acomplexidade envolvidanuma atividade tão simplescomo ficar de pé. Nessesestudos, que já lhe rende-

Placa de força - O pesquisador apon-ta, numa pequena plataforma nosolo de seu laboratório, um equipa-mento que considera o mais impor-tante: uma placa de força que medequalquer esforço feito sobre ela. O

funcionamento é análogoao de uma balança, mas,enquanto esta só determi-na o peso - uma força ver-tical, de cima para baixo -,a placa é capaz de detectarforças exercidas em todasas direções, bem comoseus pontos de aplicação."Pedimos a uma pessoaque fique de pé, em cimadela, durante meia hora, e,por meio de um softwareque desenvolvemos, so-mos capazes de identificar,classificar e quantificar to-das as mudanças posturaisocorridas nesse período detempo", diz ele.

Um dos objetivos é es-tudar a chamada posturaereta natural, a que as pes-soas assumem, por exem-plo, quando estão de pé,esperando o ônibus. "Jamaisficamos totalmente imó-veis", assegura Duarte. "Depé, nosso corpo realiza otempo todo pequenas os-cilações que nos ajudamzaliviar a fadiga. Na média,realizamos uma mudan-

-

Estudo com Tiago Filgueiras, 23 anos: bola sob controle

50 . AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

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Maria Alice Ferretti, 57 anos, na plataforma: mantendo o equilíbrio

ça postural a cada 30segundos."

Essas mudanças po-dem ser reduzidas a trêstipos básicos. O primeiroé a transferência (shift)que ocorre quando osujeito muda sua posi-ção média, deslocando,por exemplo, o peso deuma perna para a ou-tra. O segundo, o so-bressalto (fidjet), é ummovimento rápido, comvolta à posição anterior.O terceiro, chamadoderiva (drift), é a ten-dência que as pessoastêm de derivar, ou seja mover-semuito lentamente para um lado e de-pois voltar à posição inicial.

A transferência e o sobressaltoeram há muito conhecidos. São meca-nismos naturais que permitemtransferir o esforço de determinadosgrupos musculares para outros, esti-mular a circulação sanguínea e aliviara pressão sobre os pontos de apoiopreviamente solicitados, de modo aprevenir edemas. A contribuição dopesquisador foi quantificar rigorosa-mente esses movimentos, antes ape-nas relatados de modo subjetivo.

Variação é fractal - Já a deriva é umadescoberta nova, um movimentomuito lento, que só pôde ser observa-do graças aos recursos da aparelhagem,Sua causa é muito mais difícil de de-terminar. Por que as pessoas derivam?Por que pendemos vagarosamentepara um lado e depois voltamos, comigual lentidão, à posição anterior?

"Descobrimos que o sinal da pla-ca de força, que informa como o indi-viduo controla a sua postura e equilí-brio, é um fractal', responde Duarte.Fractais são padrões que se repetemem diferentes escalas de espaço ou detempo ou de espaço e tempo, simul-taneamente. Afirmar que o sinal daplaca é um fractal equivale a dizerque a transferência, o sobressalto e aderiva são variações, em diferentesescalas, de um mesmo movimento.

"Se adotarmos o shiftcomo referência,poderemos dizer que o fidjet é com-posto por dois shifts muito rápidos, desentidos opostos, enquanto o drift éum shift de longa duração", explica.

Para ele, essa associação talvez es-clareça o mistério da deriva, que pa-rece ser uma estratégia corporal quepermite obter os mesmos efeitos pro-duzidos pela transferência com me-nor consumo de energia por unidadede tempo. De outro modo: é umaforma inteligente de trocar os pontosde apoio, redistribuir o peso e pro-mover a circulação sanguínea.

A atual fase dos estudos já permi-te ter uma primeira idéia de comoum adulto saudável controla suapostura. A partir daí, é possível co-meçar a entender a progressiva perdade controle que acompanha o enve-lhecimento, principalmente dos que

OS PROJETOS

Estudo do Equilíbrio Posturale da Mard]a de Idosos em AmbienteTerrestree Aquático

MODALIDADE

Programa Jovem Pesquisador

COORDENADOR

MARCOS DUARTE - Faculdade deEducação Física da USP

INVESTIMENTOSR$ 223.795,04 e US$ 100.596,04

não praticam uma ati-vidade física adequadae regular. Para contro--lar o movimento ânte-ro-posterior - as osci-lações para frente epara trás -, o ser hu-mano usa basicamenteos tornozelos e os qua-dris. Com o envelheci-mento, tende a ocorreruma perda da chama-da sensibilidade distal:quanto mais distanteuma parte do corpoestá do cérebro, menora sensibilidade da pes-soa na região. Resulta-

do: a estratégia dos tornozelos come-ça a ser preterida em relação àestratégia dos quadris.

Tornozelos fracos - O problema é queas duas estratégias não são equiva-lentes do ponto de vista físico. Parademonstrar esse princípio, o pesqui-sador pede ao repórter que experi-mente consigo mesmo, ficando de pée oscilando para frente e para trás.Há realmente uma diferença notável.Se a oscilação é feita a partir do tor-nozelo, imprimimos ao chão forçassensivelmente verticais. Ao transfe-rirmos a oscilação para os quadris,essas forças se tornam praticamentehorizontais. As conseqüências sãoprevisíveis:

"Quando experimenta uma ligei-ra perda de equilíbrio, o idoso geral-mente recorre aos quadris para sereequilibrar. Com isso, aplica ao soloforças quase horizontais. Se estiverandando sobre um tapete com pou-ca aderência ao chão ou num terre-no escorregadio, terá grande proba-bilidade de cair': conclui Duarte. Umobjetivo dele é construir um protoco-lo experimental que permita mensu-rar as duas estratégias e ajudar as pes-soas a desenvolver aquelas em quesentem maior dificuldade. Para osidosos que perderam o domínio dostornozelos, o treinamento ofereceráa perspectiva de recuperar, ao menosem parte, essa habilidade. •

PESQUISA FAPESP • AGOSTO DE 2001 • 51

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TECNOLOGIA

LINHA DE PRODUÇÃO

Plantação de algodão: importação desordenada de sementes pode causar grandes perdas

A cotonicultura nacionalestá ameaçada pelo agrava-mento de doenças, provoca-do pela importação desorde-nada de sementes, alertam osengenheiros agrônomos Edi-valdo Cia e Milton GeraldoFuzatto, do Instituto Agro-nômico de Campinas (IAC).Num amplo estudo, eles pes-quisaram 250 variedades econcluíram que só 12 têmresistência múltipla às prin-cipais doenças. No Centro-Oeste, Sudeste e Sul, o pro-blema atinge quase todas asvariedades. "Os agricultorese as empresas que plantamno Mato Grosso só conse-guem manter a produtivi-dade alta - 3.000 kg de al-godão em caroço colhidospor hectare, contra 2.400 kgem São Paulo - porque con-trolam as doenças com ouso excessivo de inseticidase fungicidas" diz Fuzatto.Dos genótipos estudados,só três do Instituto Agronô-mico de Campinas - IACRR-97/86, IAC 20-RR-740 eIAC RR-97/86-847 - têmresistência múltipla e segu-

rança satisfatória para asdoenças mancha-angular,murcha de Fusarium, nema-tóides, ramulose e viroses."Se não houver desenvolvi-mento de cultivares resis-tentes às doenças, o país gas-tará US$ 1 bilhão por anocom a importação das 800mil toneladas de fibra de al-godão que consome e pre-cisa produzir': diz EdivaldoCia. O país já foi exporta-dor, mas, há cinco anos, asdoenças derrubaram a co-lheita para 350 mil tonela-das anuais e o restante foiimportado. Hoje, já produz

Fuzatto e (ia: alerta geral

700 mil toneladas anuaiscom o crescimento do plan-tio no Mato Grosso, que co-lheu 335,8 mil toneladas nasafra passada. "As varieda-des importadas são intro-duzidas no Brasil sem res-peito às regras técnicas': dizCia.Paralelamente a institui-ções públicas como Embra-pa, Instituto Agronômico doParaná (Iapar), Empresa dePesquisa Agropecuária deMinas Gerais (Epamig) e IAC,surgiram várias empresasprivadas que vendem novasvariedades. As importadas,na maioria, são resistentessó à mancha-angular e sus-cetíveis a outras doenças. Ocultivar norte-americanoDeltaopal foi exceção, poisrevelou resistência múltiplaa parasitas, embora se mos-trasse suscetível a doençassecundárias como a ramu-lária. Os agrônomos anun-ciaram que o IAC lançaráeste ano a variedade IAC 23e que outras linhagens comcaracterísticas de resistên-cia às doenças estão em fasefinal de testes. •

52 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP,

• IPT aponta riscosdeimplantes e piercings

Três anos de estudos metalo-gráficos em cinco implantesortopédicos que se rompe-ram durante o uso apontaramfalhas no material metálicoutilizado. O problema é quemateriais inadequados libe-ram partículas solúveis noorganismo, o que pode de-sencadear reações de hiper-sensibilidade, desordens neu-rológicas, doenças ósseas ecâncer. "A baixa qualidadeeleva o risco de corrosão emplacas, pinos e parafusos, po-dendo provocar reações in-flamatórias e novas fraturas",diz Cesar de Farias Azevedo,pesquisador do IPT, que con-duziu o estudo com o colegaEduardo Hippert Iúnior, emparceria com o Hospital dasClínicas da USP. Os pesqui-sadores também estudarampiercings que causaram rea-ções alérgicas e constataramque os materiais não erambiocompatíveis. Eles lamen-tam a falta de regulamentaçãono Brasil para materiais deimplante e piercings. •

• Construído circuitode uma molécula

Utilizando nanotubos de car-bono, pesquisadores da IBMcriaram o primeiro circuitode computador formado deuma só molécula. O circuito éum conversor de voltagem efoi feito numa molécula comátomos de carbono dispostosem forma tubular, que é 100mil vezes mais fina que um fiode cabelo. Na linguagem biná-ria dos computadores, o con-versor serve para mudar "1"para "O" e vice-versa. Tam-bém conhecido como passa-

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gem "não", é um dos três cir-cuitos básicos dos computa-dores - os outros são os cir-cuitos "e" e "ou". Espera-seque o novo nanotubo permi-ta diminuir o tamanho doscomputadores, aumentar suavelocidade e diminuir o con-sumo de energia. A possibili-dade de construir chips comnanotubos ainda requer doisanos de estudos. •

• Cúpula do telescópioSoar fica pronta

Ficou pronta e segue para oChile no início de setembro acúpula ou o domo do grandetelescópio do Soar - sigla deSouthern Observatory for As-trophysical Research ou Ob-servatório do Sul para Pes-quisa Astrofísica -, projeto

Montagem da cúpula do Soar antes da viagem para o Chile

de uma parceria com os Es-tados Unidos em que o Bra-sil investiu US$ 14 milhões(ver Pesquisa FAPESP 61). Odomo, de 20 metros de diâ-metro por 14 metros de altu-

ra e orçado em US$ 1,8 mi-lhão, foi construído sob oencargo da empresa Equato-rial Sistemas, de São José dosCampos, que também desen-volveu os controles eletrôni-

Embalagens brasileiras premiadas nos EUATrês embalagens metálicasproduzidas por empresasbrasileiras ganharam prê-mios na última edição doconcurso Cans of the Year(Latas do ano), durante aFeira Internacional Can-nex realizada na cidade deDenver, nos Estados Uni-dos. Entre os melhores pro-jetos de embalagens na áreade alimentos deste ano es-tão uma de aço para acon-dicionamento de ração secapara cães, produzida pelaCompanhia Siderúrgica Na-cional, a empresa Dumilhoe a empresa Packing Design.O outro premiado foi oprotótipo Plus UN da em-presa Brasilata, na catego-ria de embalagens inova-doras que se encontram emtiragem experimental. Alata foi planejada para oenvase de solventes, tintase outros produtos perigo-

sos e inflamáveis que ne-cessitem de embalagens comresistência redobrada. Oterceiro destaque brasileirona mostra foi um galãocom alças plásticas, umasolução premiada na cate-goria linha geral. A RealEmbalagens, fabricante doproduto, demonstrou queas alças plásticas são maisversáteis que as tradicio-nais alças metálicas. Osnovos galões possuem diâ-

Qualidade e design na latade ração e praticidade

da alça do galão de tinta

metro de fundo menorpara permitir a colocaçãoda alça plástica, proporcio-nando melhor empilha-mento. As escolhas noticia-das no boletim do Centrode Tecnolegia de Embala-gem (Cetea) do Instituto deTecnologia de Alimentos(Ital) mostram a mobiliza-ção da indústria nacionalpara o aprimoramento tec-nológico das embalagensmetálicas.

cos dos mecanismos de aber-tura. A Fibraforte, da mesmacidade, foi contratada para oprojeto mecânico, e a Santin,de Piracicaba, para fabricar abase do domo - um anel deaço de 50 toneladas, que foiusinado na Metalúrgica Atlas,em São Paulo. O projeto, emque o país é representado pe-lo Conselho Nacional de De-senvolvimento Científico eTecnológico (CNPq), teve vá-rias fontes de financiamento,entre elas a FAPESP. O teles-cópio tem 4,2 metros de diâ-metro e será instalado emCerro Pachón, no deserto doAtacama. Sua operação, a co-meçar em setembro de 2002,será proporcional ao investi-mento dos parceiros: o Brasilusará o observatório por30,9% do tempo. •

• Excelência emeletrônica no Sul

Os gaúchos terão um Centrode Excelência em TecnologiaEletrônica Avançada (Ceitec),dedicado ao desenvolvimen-to de protótipos de circuitosintegrados e à formação derecursos humanos. O centroservirá de âncora ao Progra-ma Nacional de Microeletrô-nica do Ministério da Ciênciae Tecnologia (MCT), que tema parceria da empresa Moto-rola e o apoio das secretariasestaduais de tecnologia dosEstados de São Paulo e RioGrande do Sul. O projeto doCeitec foi lançado em 22 deagosto, em Porto Alegre, pormeio da assinatura de convê-nio entre o MCT, a prefeituralocal, o governo gaúcho e aDivisão de Produtos Semi-condutores da Motorola, quefornecerá todo o equipamen-to necessário. Orçado em R$93 milhões, o centro terá umasede de 7.300 metros quadra-dos que incluirá área deapoio a empresas do setor. •

PESQUISA FAPESP • AGOSTO DE 2001 • S3

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CAPA

TELECO M UN ICA ÇO ES

Participante do PIPE, a AsGadesenvolve tecnologiadentro da empresa e torna-sereferência nacional

o atingir 12 anos de vida, a AsGa, fabricante de equipa-mentos para sistemas de telecomunicações com transmis-são via fibra óptica, deverá alcançar neste ano a marca dosR$ 100 milhões de faturamento. O fato marca mais que osucesso comercial de uma empresa comprovado por umtremendo salto no faturamento - que atingira R$ 31,5 mi-lhões em 2000 e R$ 16,5 milhões em 1999. Na verdade, eleé emblemático de um sucesso empresarial baseado no de-senvolvimento tecnológico. A AsGa investe, hoje, 12% deseu faturamento em projetos de pesquisa tecnológica den-

tro de suas instalações, na cidade de Paulínia, a 118 quilômetros de SãoPaulo e vizinha a Campinas.

A partir de uma estrutura de pequena empresa, a AsGa, do mes-mo modo que a OptoLink, outra empresa de equipamentos ópticospara telecomunicações (veja reportagem na página 58), cresceu im-pulsionada por fatores como a reunião de pesquisadores com experi-ência acadêmica na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e

- vivência empresarial, além do financiamento do Programa de Inova-ção Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP. Sob o co-mando do engenheiro eletrônico José Ellis Ripper Filho, diretor-pre-

MARCOS DE OLIVEIRA

54 . AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

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sidente da empresa, e de outro só-cio, o engenheiro Rege Scarabucci,diretor de Pesquisa e Desenvolvi-mento, a empresa foi capaz de de-senvolver uma linha de multiplexa-dores e modens ópticos que estão navanguarda das transmissões telefô-nicas. Esses aparelhos são usadosnas redes de acesso de telefonia - fa-zendo a ligação de um PABX deuma empresa, por exemplo, à redede conexão existente na rua e quefaz a ligação com as subestações oucentrais telefônicas.

Melhor desempenho - Os multiplexa-dores fazem a transmissão de váriossinais - ligações telefônicas ou pro-cessamento de dados - por uma úni-ca via, unindo-os e combinando-os.Eles permitem também que uma fi-bra óptica possa transportar até1.890 vezes mais linhas ou canais devoz que um fio de cobre. Além disso,os multiplexadores proporcionamum desempenho melhor da trans-missão, com a diminuição da neces-sidade de repetir sinais entre o pontode partida e o destino final da liga-ção. Acoplados aos multiplexado-res estão os modens, que fazem aconversão dos sinais elétricos emsinais de luz.

A AsGA foi a primeira empre-sa a produzir multiplexadores nopaís e hoje detém 70% do merca-do, um acréscimo de 16% sobre aparticipação da empresa em rela-ção ao ano passado (60%), comomostrou a Pesquisa FAPESP nv 57.O carro-chefe da empresa é oMM016xE1, do qual já foram fa-bricados mais de 4 mil aparelhosem várias formatações. "Ele já estáem todos os Estados do país, empontos onde é preciso interligar asredes de fibra óptica', diz Seara-bucci. É justamente esse equipa-mento o objeto do primeiro pro-jeto da AsGa no PIPE. A empresa,aliás, foi uma das primeiras a secandidatar ao financiamento des-se programa da FAPESP,em 1997.Naquele ano, seu faturamentofora de R$ 11 milhões. "O investi-

mento da FAPESP foi um grande es-tímulo e aí resolvemos ousar", contaRipper.

A ousadia maior, no entanto, viriadepois, em 1998. Com um novo pro-jeto dentro do PIPE, Ripper e outrosquatro sócios resolveram apostar nodesenvolvimento de um multiplexa-dor mais rápido e mais sofisticado.Daí nasceu a linha SynchronousTransport Module (STM), própriapara funcionar na faixa de 155 mega-bits por segundo (Mb/s) contra os 34Mb/s do 16E1. O novo equipamentovai permitir também o acesso aostroncos digitais telefônicos (que in-terligam as estações telefônicas dosbairros de São Paulo ou de cidadesdo interior, por exemplo) e aos pro-vedores de Internet. "Ele já vem comtecnologia de protocolo Internet (IP)'~explica Scarabucci. Essa nova linhade equipamentos está prestes a entrarna linha de produção da empresa.

Nova concorrência - ''A AsGa é a pri-meira empresa fora das grandes fa-bricantes de equipamentos telefôni-cos que ousou entrar nessa categoria

16El: liderança em multiplexador e modem

de aparelhos', diz Ripper. Nessa faixa,ela vai concorrer com grandes em-presas do mercado mundial. Com o16E1, a empresa compete com outraspequenas e médias empresas de forado país. ''A linha STM representa umnovo patamar tecnológico e comer-cial para a empresa', afirma Ripper.

Alguns aparelhos em forma deprotótipos de engenharia já estão sen-do testados por alguns clientes daempresa. Ripper espera o mesmo su-cesso do 16El, como uma evolução na-tural da família de multiplexadores emodens da empresa. "Nossos equipa-mentos têm flexibilidade, são de fácilinstalação", explica Scarabucci. "Con-tamos com um suporte técnico ágil ede qualidade para enfrentarmos a

" .»concorrencia.A confiança que a AsGa tem nela

mesma permite que alce vôos tam-bém para o mercado externo. Re-centemente, a empresa montou umescritório na Argentina, de onde es-pera iniciar uma arrancada comer-cial na América Latina. Antes disso,já pusera um pé no México, ondeseus equipamentos receberam qua-

lificação. "Lá, as operadoras nãoquerem apenas distribuidoras,querem a presença da empresano país", explica Ripper.

Pedras no caminho - O recente su-cesso da AsGa não foi feito só decrescentes incrementos na pro-dução de equipamentos ópticos eos conseqüentes milhões de reais.Não existiram apenas caminhosfloridos - apareceram tambémgrandes pedras nas trilhas do in-tricado novelo industrial brasilei-ro. No início de suas atividades,em 1992, a empresa precisou mu-dar de rumo para não ir à falên-cia. "Fabricávamos componentes,como fontes de laser e detectoresópticos, mas a abertura às impor-tações no início da década de 90nos quebrou', lembra Ripper. Ospreços baixos do mercado exter-no derrubaram o sonho de Rip-per e seus sócios de fabricar com-ponentes eletroeletrônicos no

PESQUISA FAPESP • AGOSTO DE 2001 • SS

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Bancada de laboratório: pesquisa na empresa garante tecnologia

CAPA

país. Assim, outras em-presas sucumbiram àconcorrência externa, eo Brasil amarga hojeum grande déficit nocomércio externo jus-tamente com a importa-ção de micro-compo-nentes para a indústriaeletroeletrônica.

A empresa só sereerguena com a mu-dança de foco na pro-dução. No início dadécada anterior, come-çou a fabricar equipa-mentos ópticos para arede de acesso à telefo-nia. O primeiro deles foi um conver-sor de sinais elétricos, conhecidocomo Elo-2, ou elinho, depois cha-mado modem óptico. A escalada daAsGa contou também com um fi-nanciamento do BNDESPar, empre-sa de aporte de capital em empresasprivadas do Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social(BNDES). "Recebemos de emprésti-mo, em 1993, US$ 1 milhão, valorque teve como garantias, meio ameio, ações da empresa e debêntu-res conversíveis", conta Ripper. Em1997, a empresa recebeu um outroempréstimo, de US$ 2 milhões, daFinanciadora de Estudos e Projetos(Finep). Dívidas eliminadas recente-mente. "Acabamos de pagar os em-préstimos em julho deste ano."

Nome de semicondutor - Os primei-ros grandes contratos da AsGa foramfeitos, em 1996, com várias operado-ras de telefonia. E, dos tempos deprodução de componentes, ficou seupróprio nome, tirado da sigla de ummaterial semicondutor, o arseneto degálio. Também ficou a esperança devoltar a fabricar emissores de lasers eoutros componentes. Essa pretensãoaparece num projeto que a empresatem em conjunto com a FundaçãoCentro de Pesquisa de Desenvolvi-mento (CPqD), financiado pela FA-PESP dentro do Programa Parceriapara Inovação Tecnológica (PITE). A

S6 . AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

intenção é desenvolver vários tipos delasers de alta potência para uso emequipamentos médicos e outras apli-cações comerciais. "É quase um pro-jeto de caráter emocional em quemantemos viva a tecnologia de laser",afirma Ripper.

A área de microcomponentes étratada com carinho e está nos pla-nos futuros da AsGa. "Poderemos

montar uma outra em-presa para fabricarcomponentes': diz Rip-per. A missão de estu-dar a montagem deuma possível fábrica demicrocomponentes e odesenho do que vai sera AsGa em 2005 estãonas mãos do sócio-di-retor Francisco Prince.Sua função é desen-volver novos negócios,principalmente em re-lação ao comércio ex-terior. "Por isso, eleestá fora do dia-a-diada AsGa", diz Ripper.

Físico e professor do Instituto de Fí-sica da Unicamp, Prince foi aluno deRipper na universidade e se desta-cou a ponto de ser chamado para sersócio do mestre.

Eficiência e custos - Além de Ripper,Scarabucci e Prince, também sãosócios Francisco Mecchi e ClaudioGouvêa. Mecchi é outro egresso da

para demonstrar o funcionamentodaquela nova máquina.

Em 1962, foi a vez do atual dire-tor de Pesquisa e Desenvolvimentoda AsGa, Rege Scarabucci, pegar odiploma do ITA e seguir para a Uni-versidade de Stanford, nos EstadosUnidos. Assim como Ripper, ele vol-tou ao Brasil, em 1971, chamadopara a Unicamp pelo fundador dauniversidade, o médico ZeferinoVazoEm 1974, Scarabucci apresenta-va os primeiros modens ópticos naFaculdade de Engenharia. Eram fru-tos do financiamento de dois proje-tos encomendados à Unicamp pelaTelebrás, a holding estatal das ope-radoras de telefonia.

O primeiro projeto, sobre comu-nicação óptica, foi coordenado peloprofessor Ripper e outro, de trans-

Entre as origens e as razões do sucessoA AsGa começou a nascer quan-

do José Ellis Ripper Filho voltou aoBrasil, em 1971, para instalar o Gru-po de Pesquisa em ComunicaçõesÓpticas no Instituto de Física daUnicamp. Ele deixou os EstadosUnidos depois de doutorar-se noMassachusetts Institute of Tecno-logy (MIT) e trabalhar nos Labora-tórios Bell da AT&T (hoje, Lucent).Mesmo antes de sair do Brasil, Rip-per já se destacava no Instituto Tec-nológico da Aeronáutica (ITA), emSão José dos Campos, no curso degraduação de engenharia eletrônica."Como projeto de final de curso(em 1961), eu e mais três colegasconstruímos o primeiro computa-dor do Brasil, chamado de Zezinho."Era um computador didático comtransístores brasileiros que servia

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Ripper: experiênciae ousadia da sede

da empresa, emPaulínia, para

o mercado externo

Unicamp. Era técnico de manuten-ção na Elebra, empresa de equipa-mentos eletrônicos de capital nacio-nal, onde trabalharam Ripper eScarabucci nos anos 80 (veja quadroabaixo). Mecchi formou-se enge-nheiro e fez mestrado na Unicamp.Gouvêa trabalhou na IBM, onde foigerente de logística industrial daempresa na área de microcomputa-

dores. Na AsGa, é o responsável pe-las compras de componentes e pormanter os custos baixos sem per-da da eficiência. "Eu falo sempreque cortar custos. É como cortar asunhas; é preciso cortar toda sem a-na", afirma Ripper.

Ele também reclama da dificul-dade em fazer um orçamento. "Nes-ses anos, nunca conseguimos fazer

missão digital, teve o comando doprofessor Scarabucci. "A universida-de começou a gerar conhecimento,porém, esse não era o ambiente paratransformá-Io em produto", comen-ta Ripper. Essa função foi desempe-nhada pelo Centro de Pesquisa deDesenvolvimento em Telecomuni-cações (CPqD), criado, em 1976,pela Telebrás, que passou a contratarpesquisadores da Unicamp e a utili-zar os resultados das pesquisas.

Ripper e Scarabucci só deixa-riam a dedicação integral comoprofessores da Unicamp no iníciodos anos 80, quando foram contra-tados pela Elebra, de capital nacio-nal. "A Elebra foi a primeira empre-sa a receber tecnologia do CPqD ecolocá-Ia na linha de produção",lembra Scarabucci. Com a aberturaao mercado externo e os sucessivosplanos econômicos, a Elebra entrouem dificuldades financeiras no iní-

cio de 1987. Parte da empresa foivendida para o banco Itaú e para amultinacional Alcatel. Ripper quisficar com uma subsidiária da Ele-bra, que produzia componenteseletrônicos. Com dinheiro da fa-mília e de um ex-colega dos tem-pos do ITA, João MacDowell, Rip-per montou a AsGA. MacDowel,mais tarde, vendeu a parte dele nonegócio.

Scarabucci só iria se juntar àAsGa em 1997, depois de ter saídoda Elebra em 1990 e voltar ao pe-ríodo integral na Unicamp. A tra-jetória de ambos mostra que uminvestimento feito há mais de 25anos, com a criação da Unicamp edo CPqD, propiciou ao Brasil serum dos seis países, no final dosanos 80, a possuir tecnologia pró-pria para uso nas telecomunica-ções via fibra óptica. Um investi-mento que continua valendo.

Scarabucci:equipamentos em

todos os pontos dopaís onde é preciso

interligar fibras ápticas

um orçamento real. Quando termi-namos um, as premissas já são ou-tras. As mudanças na vida econômi-ca deste país são muito rápidas, porisso precisamos ser rápidos tambémnas decisões." Para essas situações,ele conta com a coesão entre os só-cios, que possuem 100% do poder devoto nas decisões.

Sem crises - Essa união vai facilitar àempresa suportar a maré baixa dospróximos meses, quando os investi-mentos em telecomunicações porparte das operadoras devem recuar.Elas anteciparam as metas que atin-giriam em 2003 e as perspectivas decrescimento do setor de telecomuni-cações estão menores que há doisanos. "Passou o boom de investi-mentos pesados", afirma Ripper."Tivemos agilidade para crescer e

OS PROJETOS

Desenvolvimento de Multiplexador/Modem Óptico 76xE7com InovaçõesTecnológicasDesenvolvimento de MultiplexadorSTM- 7 para a RedeÓptica de Acesso

MODALIDADEPrograma de Inovação Tecnológicaem Pequenas Empresas (PIPE)

COORDENADORREGE SCARABUCCI - AsGA

INVESTIMENTOSR$ 299.810,00 e US$ 153.060,00

PESQUISA FAPESP • AGOSTO DE 2001 • 57

Page 58: Fibra para inovar

CAPA

agora estamos preparados para en-colher sem crises.". O número de empregados não

deve sofrer grandes modificações.Elas devem ocorrer somente no chãode fábrica, que deve perder os doisturnos extras necessários no rápidocrescimento da empresa. Atualmen-te, a AsGa conta com 140 funcioná-rios, 15 dos quais - a maioria enge-nheiros - ligados diretamente aodesenvolvimento de produtos. Noano passado, todos os funcionáriostiveram direito à participação nos lu-cros da empresa. O prêmio foi de 3,5salários para cada um.

Estímulo em prêmios - Como formade incentivar novos empreendedo-res e estimular a pesquisa, a AsGalançou recentemente o prêmio AsGaCiência, para alunos e professoresdo primeiro e segundo grau, e AsGaTecnologia, para as escolas técnicasde segundo grau nas áreas de teleco-municações e informática. "Quere-mos alunos e professores da regiãode Campinas desenvolvendo proje-tos e pesquisas escolares", diz Ripper.Os prêmios são diplomas, troféus eum computador para a escola e ou-tro para o professor.

Logo depois de escolher os vence-dores com uma bancada de júri queinclui notáveis, como o físico Rogé-rio Cerqueira Leite, da Unicamp, nodia 10 de novembro, Ripper e toda aAsGa preparam-se para inaugurar onovo prédio da empresa no dia 26 denovembro. "Serão mais 2 mil metrosquadrados de área para produção edesenvolvimento de novos produ-tos", afirma Ripper.

A inauguração do prédio será ocoroamento de um ano brilhantepara a AsGa. Ela passou a ser refe-rencial e um exemplo de empresaque apostou no desenvolvimento detecnologia a partir do conhecimentode seus dirigentes, implementandoum projeto comercial eficaz. Maspara Ripper ainda falta muito. "Fal-tam mais "asgas" no Brasil. Há espa-ço e necessidade de mais empresascomo a nossa." •

58 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

TELECOMUNICAÇOES

Hora de crescer

Empresa incubadana Ciatec de Campinasdesenvolve equipamentospara transmis~ãoóptica e se preparapara exportar

ma pequena empresa queproduz equipamentos ecomponentes para as co-municações via fibra ópti-ca prepara-se para um saltodecisivo: a partir de setem-bro, a OptoLink dobrará aprodução de acopladores

de fibras ópticas - usados em ampli-ficadores nas redes de telecomunica-ções - para atender à demanda de cli-entes nacionais e, simultaneamente,colocar esseproduto no mercado exter-no. A produção receberá aporte finan-ceiro da Solectron, multinacionalamericana, especializada na presta-ção de serviços de montagem de cir-cuitos eletrônicos, que dividirá coma OptoLink o total dos lucros obtidos.

Com essa associação, a OptoLinkprojeta uma receita total de aproxi-madamente R$ 1 milhão para esteano e prevê o dobro desse valor nopróximo, quando os acopladores e

CARLOS TAVARES

Page 59: Fibra para inovar

outros produtos, que estão em desen-volvimento na empresa, estarão pron-tos para exportação. Dentre esses pro-dutos, estão rabichos de fibra ópticacom microlentes para uso nos equipa-mentos de laser utilizados nas trans-missões via fibra óptica, amplifica-dores ópticos e fontes de laser.

Usados em sistemas de transmis-são e distribuição de sinais ópticos decentrais telefônicas, redes de TV acabo e Internet, os acopladores e am-plificadores ópticos "são essenciaispara a modernização do setor de te-lecomunicações': segundo IldefonsoFélix de Faria Iúnior, sócio e diretortécnico da empresa. São produtos quejá estão em uso e vão estarpresentes em volumes cada vezmaiores nas conexões telefôni-cas do futuro. ''Apenas uma fi-bra óptica conectada a uma re-sidência será suficiente paratransmitir sinais de telefone, deTV e de Internet", prevê Faria,que é físico formado na Uni-versidade Estadual do Rio deJaneiro (Uerj).

fônica de longa distância ou em áreame-tropolitana, formando a rede de aces-so aos usuários." É nesse percursoque a OptoLink entra, com a fabrica-ção de elementos ópticos imprescin-díveis à transmissão e distribuição desinais ópticos de boa qualidade. Oaperfeiçoamento desses equipamen-tos, obtido com tecnologia nacional,permite que o amplificador óptico,por exemplo, possa ser integradomais facilmente aos sistemas de tele-comunicações já existentes.

Hoje, as redes de acesso usamcada vez mais fibras ópticas. Esse usoextensivo de fibras aumentará de ma-neira exponencial a necessidade de uso

Os acopladores servem também pa-ra fazer amostragem da qualidadedo sinal óptico que uma central tele-fônica, por exemplo, transmite e dis-tribui dentro de uma cidade, ou en-tre diferentes cidades.

Unicamp e Telebrás - A aquisição dosconhecimentos para o desenvolvi-mento da tecnologia desses equipa-mentos começou nos anos 80, quan-do Faria fez mestrado em FibrasÓpticas no Instituto de Física daUniversidade Estadual de Campinas(Unicamp). Ainda hoje, ele mantémum estreito relacionamento de tra-balho com o Centro de Pesquisas em

Subproduto valioso - A Opto-Link possui dez funcionáriose é uma das pequenas unida-des industriais que integrama incubadora da Companhiade Desenvolvimento do Pólode Alta Tecnologia de Campi-nas (Ciatec). Firmou-se naárea depois do terceiro anode participação no Programade Inovação Tecnológica emPequenas Empresas (PIPE), da FA-PESP, com um projeto de produçãode amplificador óptico que termi-nou resultando num subprodutomais rentável, os acopladores ópti-coso A função dos amplificadores éintensificar a luz de um sinal emiti-do por sistemas de centrais telefôni-cas ou de TV a cabo que funcionemcom fibras ópticas. A amplificação énecessária porque os sinais perdemintensidade no caminho entre umponto e outro.

''A luz amplificada é transportadaem fibra óptica para comunicação tele-

Acopladores ópticos: subproduto do projeto do PIPEque está pronto para exportação

de componentes como os acopladoresópticos, além de aumentar o uso emlarga escala de amplificadores que te-rão a finalidade de manter o nível dosinal óptico ao longo das transmissões.

Os acopladores são utilizadosnos amplificadores e têm por funçãojuntar ou separar os sinais (às vezessão dezenas de ligações telefônicasao mesmo tempo) transmitidos viafibra óptica. Por meio desses equi-pamentos, é possível saber quando oamplificador recebe luz, além decontrolar a qualidade dessa luz paramelhorar a performance do sistema.

Óptica e Fotônica (Cepof), um dosdez Centros de Pesquisa, Inovação eDifusão (Cepids) da FAPESP.

"A OptoLink tem participaçãoativa no Cepof, com acesso ao Labo-ratório de Fibras Opticas, onde faze-mos a caracterização de nossos com-ponentes e experimentamos novasconfigurações de amplificadores",conta Faria.

A Unicamp e outras universida-des brasileiras são hoje os únicosclientes de amplificadores ópticosda OptoLink, em versões diferencia-das para testes de laboratório: os

PESQUISA FAPESP . AGOSTO DE 200! • S9

Page 60: Fibra para inovar

CAPA

Faria: experiência noCPqD, estudos na Unicamp

e pesquisa realizadadentro da empresa

componentes ópticos ficam na partefrontal do amplificador, para me-lhor manuseio do aluno.

Assim como a AsGa, mostrada namatéria anterior (página 54), toda atecnologia desenvolvida, hoje, naOptoLink teve origem nos estudosiniciados entre as décadas de 70 e 80no Instituto de Física da Unicamp eno Centro de Pesquisa de Desenvol-vimento Tecnológico (CPqD) da en-tão estatal Telebrás. O CPqD deucontinuidade aos estudos acadêmicos,convertendo os protótipos de labora-tório em produtos semi-industriais.Posteriormente, a tecnologia foitransferida para a indústria nacional.

A história de Faria segue esse cami-nho de transferência tecnológica. De-pois de sua tese de mestrado na Uni-camp, ele ingressou na equipe depesquisadores do CPqD, onde traba-lhou entre 1985 e 1998. Nesse períodofoi responsável pelo desenvolvimentode protótipos de componentes opto-eletrônicos para os sistemas de tele-comunicações. Dentre esses trabalhosestão estudos com microlentes parafibras ópticas, sistema holográfico eaparelhos de laserpara longas distân-cias aplicados às redes ópticas deacesso à telefonia. Faria também tra-balhou dois anos como pesquisadorvisitante no Centro Nacional de Estu-dos em Telecomunicações, na França.

Em 1998, ele saiu do CPqD parase dedicar ao projeto do PIPE juntocom a empresa AGC, uma das pri-

60 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

meiras a adquirir tecnologia daque-le centro da Telebrás. A OptoLink,então, criada por Faria, era umasubsidiária da AGe.

Independência empresarial - No anopassado, entretanto, a AGC foi ven-dida para a empresa dinamarquesaGN NetTest e as atividades da Opto-Link, incluindo o projeto do PIPE,não eram de interesse da nova con-troladora. "Eu quis que a OptoLinkficasse independente. As pesquisas nãopodiam parar e a idéia era transfor-mar os protótipos de bancada emprotótipos rentáveis, comerciais, emescala industrial", conta Faria. En-tão, ele comprou a participação acio-nária da AGC e passou a ser o sóciomajoritário da OptoLink. No iníciodG 2000, o físico Sérgio Celaschi foiconvidado para ser sócio na Opto-Link. Celaschi traz na bagagem a co-

o PROJETO

Atualização Tecnológicade Amplificadores Õpticosà Fibra Dopada com Érbio

MODALIDADEPrograma de Inovação Tecnológicaem Pequenas Empresas (PIPE)

COORDENADORILDEFONSO FtLlX DE FARIA JÚNIOR -

OptoLink

INVESTIMENTOSR$ 82.900,00 e US$143.460,00

ordenação do grupo decomponentes em fibrasópticas do CPqD.

O projeto apoiadopela FAPESP está nafase final. Os amplifi-cadores desenvolvidosapresentam inovaçõesimportantes para ocampo das telecomu-nicações ópticas. Elesusam um circuito decontrole desenvolvidopela OptoLink e mó-dulos de ganho ópticocom fibras dopadascom érbio, um elemen-

to que proporciona a absorção de luzlaser. "Em função da concentração dedopantes e comprimento da fibra, oamplificador apresenta diferentes com-portamentos. Um deles refere-se à ban-da de utilização. A OptoLink desen-volveu, em conjunto com o Cepof, daUnicamp, um protótipo de fonte deluz que cobre as bandas C e L, abran-gendo as faixas de 1.520 a 1.610nanô-metros (nm)" explica Faria.

Ganhar espaço - A empresa tambémtem um olho em novos equipamen-tos que devem dominar o cenáriodas transmissões via fibra óptica. Elaestá desenvolvendo um aparelhoque facilita a combinação das fontesde energia com o sinal óptico. Trata-se do chamado sistema de multiple-xação de divisão do comprimentode ondas de luz - ou WDM, na siglaem inglês. Esse componente, acopla-do ao circuito óptico do amplifica-dor, faz a mistura ou a separação dediferentes comprimentos de onda.

O objetivo da empresa é reforçarsuas especialidades no desenvolvi-mento dos novos produtos voltadosao mundo da fotônica, que se reno-vam e se reciclam a cada ano, e ga-nhar espaço no mundo com produ-tos com tecnologia 100% nacional.Para Faria, "o Brasil já desponta nes-te campo como um dos países quemelhor dominam a tecnologia deequipamentos para uso nas trans-missões via fibra óptica". •

Page 61: Fibra para inovar

TECNOLOGIA

tem uma boa idéia, mas não tem re-cursos. Nós o ajudamos na capta-ção", explica Risola. A incubadora deempresas residentes destina-se a em-preendimentos constituídos que játenham domínio da tecnologia, dis-ponham do capital mínimo e de umplano de negócios definido. Paraeles, será cedida área de até 50 me-tros quadrados.

A incubadora de empresas associa-Várias modalidades - A expectativa das tem o mesmo perfil, com a dife-de Risola é que 350 interessados con- rença de que essas empresas têm sedecorram às 78 novas vagas abertas em outro local e usam o Cietec para

Depois de passar por ampla re- nas áreas de biomedicina, biotecno- fazer a ponte tecnológica com a uni-forma que consumiu R$ 1,1 logia, tecnologia de informação, quí- versidade e os centros de pesquisa.

milhão e triplicou suas instalações, o mica, meio ambiente, técnicas nu- Por fim, a incubadora de software éCentro Incubador de Empresas Tec- cleares, instrumentação, engenharia direcionada exclusivamente para pro-nológicas (Cietec) de São Paulo abriu de materiais e softwares. jetos desse segmento.concorrência para abrigar 78 novos As empresas poderão escolher As empresas incubadas dispõemempreendimentos que também po- entre quatro modalidades: hotel de de completa infra-estrutura paradem receber financiamento da FAPE- projetos (ou pré- incubação), em-suas atividades. Além das instalaçõ-SP. Os interessados a um lugar na presa residente, associada ou de soft- es do Cietec, também contam com oincubadora devem retirar o edital até ware. O hotel de projetos apóia a apoio de consultores de tecnologia,o dia 20 de setembro no Cietec, que criação de negócios que ainda não marketing e comercialização, assis-ficanas instalações do Instituto de Pes- tenham 'Condições de início imedia - tência jurídica e assessoramento so-quisas Energéticas e Nucleares (Ipen), to. "Muitas vezes, o empreendedor bre patentes. "O mais importante,dentro da Cidade Universitá- I-----I'=~==s;:----T-----IN talvez, seja a possibilidade deria em São Paulo. As propostas « acesso a todo conhecimentodevem ser encaminhadas ao ~ gerado na USP, no Ipen e noCietec para uma pré-seleção ~ IPT (Instituto de Pesquisasaté 24 de setembro. O resul- Tecnológicas)", diz Risola.tado final será conhecido em28 de fevereiro de 2002. Ou-tras informações no site www.ipen.br /cietec/ cietec.html.

Maior pólo incubador dopaís, o Cietec abriga 53 em-preendimentos caracteriza-dos por inovação tecnológicade produtos, serviços ou pro-cessos. Entre esses empreen-dimentos, oito têm financia-mento da FAPESP dentro doPrograma de Inovação Tecno-lógica em Pequenas Empresas(PIPE), e outros 17 estão emprocesso de análise. Somados,os financiamentos superamR$ 1,5 milhão, o equivale a60% dos recursos obtidos pe-las empresas incubadas emagências financiadoras. "A FA-PESP é a maior apoiadora dosprojetos do Cietec", diz Sérgio

INOVAÇÃO

Parcerias com o PIPEWigberto Risola, gerente do Cietec."Nossa missão é apoiar empresas ge-radoras de tecnologia."

Incubadora abre espaço paramais 78 vagas epara novosprojetos com a FAPESP

i1Intercâmbio mundial - Criadoem setembro de 1996, o Cie-tec foi eleito pela AssociaçãoNacional de Entidades Promo-toras de Empreendimentos deTecnologiasAvançadas (Anpro-tec) como núcleo de referênciaem marketing e comercializa-ção entre as 145 incubado-ras do país. "Queremos disse-minar nossos conhecimentospara as demais incubadorasbrasileiras': afirma Risola. Esseintercâmbio ganhará vulto du-rante a Conferência Mundialde Incubadoras de Empresas(WCBI), que acontecerá en-tre 23 e 26 de outubro, no Riode Janeiro, reunindo todas asincubadoras brasileiras e osmelhores especialistas de ou-tros países. •

PESQUISA FAPESP . AGOSTO DE 2001 • 61

Page 62: Fibra para inovar

TECNOLOGIA

Exposição de bons motivos

Campinas mostrou porque foiescolhida como um dos 46

centros mundiais de inovação tec-nológica pela Organização dasNações Unidas (ONU) - no Índice deRealização Tecnológica - durante aprimeira edição da Mostra de Ciênciae Tecnologia para o Desenvolvimento- Cientec 2001, de 24 de agosto a 2 desetembro, na Universidade Estadualde Campinas (Unicamp). Foram 11instituições de pesquisa e ensino quese uniram para expor inovações de-senvolvidas em seus laboratórios,com o objetivo de aproximar a popu-lação - e estimular estudantes de pri-meiro e segundo grau - do universoda produção científica e tecnológica.

Durante os dez dias de visitas aosestandes e os 21 debates em torno detrês eixos básicos - Vida eSaúde, Tecnologia e MeioAmbiente - promoveu-se aintegração entre pesquisado-res, técnicos e público. "Nos-sa intenção maior foi popula-rizar a ciência e a tecnologia edar oportunidade ao públicoda região de entender melhoras atividades dos pesquisado-res da Unicamp e das outrasdez instituições que integramesse evento", comentou o físi-co Carlos Henrique de BritoCruz, diretor do Instituto deFísica (IF) da Unicamp e pre-sidente da FAPESP.

CIENTEC 2001

Campinas reúne 11instituições de pesquisae faz mostra de projetos

Milhares de pessoas, a maioriaestudantes, estiveram na

Unicamp nos dez dias da mostra

62 . AGOSTO DE 200! • PESQUISA FAPESP

Na abertura do Cientec 2001, oministro da Ciência e Tecnologia,Ronaldo Sardenberg, ressaltou que oevento na Unicamp é um exemplo deque a noção de ciência e tecnologiano país começa a mudar. "O impor-tante é o desafio de continuar a aven-tura do conhecimento, a liberdade depesquisa e a sua aplicação em benefí-cio da sociedade", disse. Para ele, amostra faz com que o tema tecnolo-gia seja cada vez mais assimilado pelocidadão comum e por vários seg-mentos da sociedade. "O Brasil nãopode ficar marginalizado na novaeconomia mundial. Neste sistemaglobalizado, o conhecimento científi-co se traduz na agregação de valor aprodutos e serviços", disse o ministro.

História e inovação - Um dos estandesda feira que melhor ilustrou os obje-tivos da mostra foi o do Instituto deFísica da Unicamp, ao apresentar asprincipais realizações de ensino e pes-quisa na área de comunicação por fi-bras ópticas voltada para as teleco-

municações. Estavam expostos vári-os equipamentos, como amplifica-dores e acopladores ópticos utiliza-dos em centrais de telecomunicaçõespara melhorar os sinais de transmis-são de telefonia, Internet e TV a cabo.

"Os estudos com fibras ópticas emCampinas começaram em 1971, por-tanto completam 30 anos de evoluçãoe a idéia é aperfeiçoar nossas pesqui-sas': comentou o físico Hugo Fragni-to, que coordena os trabalhos doGrupo de Fenômenos Ultra-Rápidose Comunicações Opticas do Institutode Física da Unicamp. Fragnito tam-bém é coordenador de transferênciade tecnologia do Centro de Pesquisasem Optica e Fotônica, um dos Cen-tros de Pesquisa de Inovação e Difu-são (Cepid) da FAPESP.''As empresasnascidas do Instituto de Física já fatu-ram mais de R$ 250 milhões por ano':informa o professor Brito.

As áreas de telecomunicações einformática também estiveram bemdelineadas nos estandes do InstitutoNacional de Tecnologia da Informa-

Page 63: Fibra para inovar

ção (ITI) e da Fundação Centro dePesquisa de Desenvolvimento em Te-lecomunicações (CPqD), que mos-trou produtos desenvolvidos ao lon-go dos 25 anos da instituição.

Trabalho das universidades - As tele-comunicações e o desenvolvimentode softwares são duas marcas tecnoló-gicas da cidade e contribuem para ageração de riquezas do município.Campinas concentra hoje 10,6% doProduto Interno Bruto (PIE) paulista- ou 3,2% do PIE nacional. Dados daSecretaria de Ciência e Tecnologia doEstado de São Paulo indicam que aregião tem atraído anualmente cercade US$ 2,5 bilhões de investimentosprivados. "Mas nada disso teria acon-tecido sem o trabalho das universida-des, daí a importância do ensino e dapesquisa no desenvolvimento de idéi-as, produtos e serviços para o bem-estar da sociedade': comentou o rei-tor da Unicamp, Hermano Tavares.

Outro destaque da Cientec 2001foi o estande do Laboratório Nacio-nal de Luz Síncrotron (LNLS) e suaexposição de fontes de luz, robôs epeças miniaturizadas que fazem par-

te do Projeto Multisuário de Micro-fabricação (Musa). "Um exemplo demicroestrutura construída experi-mentalmente no LNLS é o das mi-cropeneiras com furos de dimensõesinferiores a 20 mícrons, que servempara filtrar partículas tóxicas exis-tentes em efluentes industriais': disseLuiz Otávio Saraiva Ferreira, líder doGrupo de Microfabricação do LNLS.

Outra microestrutura é o conta-dor de bactérias do leite, capaz de aná-lisesem menos de 40 minutos. O LNLStambém desenvolve microrreatoresquímicos para análise de DNA, urinae sangue. "Por esse processo é possívelfazer um exame com uma só gota desangue, gastando menos tempo e me-nos dinheiro': diz Ferreira.

No estande do LNLS,amostrasde micropeneiras e um jogo-da-velha

robotizado com perguntas e respostas

Ainda no estande do LNLS, o pú-blico infantil e adolescente pôde sedivertir com um curioso jogo-da-ve-lha robotizado, cuja função princi-pal é estimular o raciocínio de com-preensão do processo produtivo deequipamentos industriais. Ao manu-sear o jogo, com a ajuda de um robô,percebe-se um conjunto de pesquisasnas mais variadas áreas: informática,eletrônica, mecânica e design.

A área mais tradicional da voca-ção científica e tecnológica de Cam-pinas esteve presente nos estandesdas instituições ligadas à produçãode alimentos, à agricultura e ao meioambiente, como o Instituto de Tec-nologia de Alimentos (Ital), a Coor-denadoria de Assistência Técnica In-tegral (Cati), o Instituto de Zootecnia(IZ) e o Instituto Agronômico de Cam-pinas (IAC). Nesse contexto, estavamexpostas maquetes reproduzindo osecossistemas da região, sementeirasde produtos orgânicos e até bezer-ros de proveta. O IAC também mos-trou cachos de uva sem sementes enovas variedades de café e de ma-racujá. Na mesma área também ex-

puseram o Instituto Biológico (IE),com seus programas de combate a

doenças de vegetais, e a EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa), que mostrou novas tec-nologias para o controle biológico depragas e para o tratamento do solo.

Políticas públicas - A Pontifícia Uni-versidade Católica de Campinas(PUC-Campinas) deu ênfase aos seusprogramas de ensino e pesquisa nasáreas de saúde e políticas públicas,como o de promoção de leitura paramoradores de bairros periféricos deCampinas. Além de participar da mos-tra como uma das grandes patrocina-doras, ao lado da Telefônica, a FAPESPmontou um estande de 400 metrosquadrados para o público conhecermelhor suas atividades de apoio àpesquisa em diversos setores do conhe-cimento, como o projeto Genoma, osprogramas de políticas públicas e deincentivo à inovação tecnológica empequenas empresas. •

PESQUISA FAPESP • AGOSTO DE 2001 • 63

Page 64: Fibra para inovar

TECNOLOGIA

ENGENHARIA BIOMÉDICA

Operação de olho no topógrafoPequena empresa desenvolveequipamento que auxiliaem cirurgias oftalmológicas

Depois de nove anos no mer-cado desenvolvendo equipa-

entos para uso oftalmológico, aempresa Eyetec, de São Carlos, pre-para o lançamento de um topógrafointracirúrgico. Uma novidade quevai garantir maior precisão e elimi-nar grande parte dos riscos existentesem operações de catarata e trans-plante de córnea. O equipamentomede a curvatura dessa membranado olho durante as operações e de-tecta variações muito pequenas, queajudam no trabalho do cirurgião eevitam problemas pós-operatórios.O novo implemento médico recebeufinanciamento da FAPESP num pro-jeto iniciado há três anos no âmbitodo Programa de Inovação Tecnológi-ca em Pequenas Empresas (PIPE).

Topógrafos convencionais já exis-tem no mercado há quase 20 anos."Um bom topógrafo é fundamentaldesde a fase de planejamento de umacirurgia", diz o oftalmologista Gusta-vo Paro, consultor da Eyetec. O equi-pamento é útil para se evitar o astig-matismo (distorções na captação daimagem), mal decorrente de altera-ções milimétricas na superfície da cór-nea no momento da sutura do cortecirúrgico. "Ao analisar o olho de umpaciente com catarata (opacificaçãodo cristalino do olho), por exemplo,analisamos a curvatura da córnea e,se for o caso, já definimos a correçãodo astigmatismo', acrescenta ele.

"Nos últimos dez anos, as cirur-gias tornaram-se mais precisas': ex-plica Paro. Como exemplo, a elimi-nação da catarata é feita por meio de

64 . AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

um processo chamado falcoemulsi-ficação, uma técnica que reduziu aincisão de 12 milímetros para 3 milí-metros no máximo. A busca de preci-são tem motivado a corrida pela pro-dução de equipamentos técnicos dealta performance.

Parceria acadêmica - Para os avançosque a Eyetec precisava fazer no to-pógrafo convencional foram funda-mentais as interações da empresacom o Laboratório de Óptica Oftál-mica do Instituto de Física (IF) daUniversidade de São Paulo (USP),de São Carlos, e com os departa-mentos de Oftalmologia da Escolade Medicina da USP, de RibeirãoPreto, e da Universidade Federal deSão Paulo (Unifesp). Como relataLuís Alberto Vieira deCarvalho, pesquisador doIF de São Carlos e um dossócios da Eyetec, nessasconversas constatou-seque as formas de acompa-nhamento das alteraçõesoculares eram indiretas esempre tardias em relaçãoaos cuidados médicos re-queridos. "Por isso, antesde buscarmos recursos naFAPESP,nós tínhamos fei-to, ainda como estudantes,um protótipo muito bási-co", reforça o engenheiroeletrônico Sílvio TonissiIúnior, também sócio ecoordenador do projeto.

Ao procurar soluçõestecnológicas para o proble-ma, o grupo de pesquisa-dores da Eyetec buscou

Topógrafo intracirúrgico:software permite

análise milimétricada curvatura da córnea

inspiração na história dos aparelhosde monitoramento do olho humano.Como explica Carvalho: "Em 1820, ooftalmologista francês FerdinandCuignet propôs o primeiro métodopara estudar as imagens refletidaspela superfície anterior da córnea,designando o nome da nova técnicade ceratoscopia, conceito válido atéhoje", conta o pesquisador. "Uma luzera projetada num anteparo colocadoem frente ao olho do paciente, a par-tir do qual se faziam estudos, compa-rações e conclusões. Só que havia vá-rios problemas com esse sistema. Oprocesso de alinhamento dependiamuito da habilidade do observador enão havia nenhum sistema óptico deaumento, o que dificultava a análisedas imagens refletidas."

Page 65: Fibra para inovar

Foi graças a um lance de gênio dopesquisador português Antônio Plá-cido, em 1880, que os pesquisadoresconseguiram ultrapassar os limites daépoca. Ele preparou uma espécie decartolina sobre a qual havia pintadouma série de círculos pretos, tendoao centro um orifício. A partir daanálise do padrão refletido pelo olhodo paciente, o profissional podia de-duzir o formato da superfície e daícaptar o grau da anomalia existente.Pelo formato, essa técnica passou aser conhecida como os "discos dePlácido". "O topógrafo intracirúrgicocoloca essa técnica no seu mais refi-nado grau, aplicado em cirurgias quepodem gerar altos índices de astigma-tismo pós-cirúrgico devido à ausên-cia de métodos eficientes de detecçãode irregularidades na superfície dacórnea", relata Carvalho.

Testes visuais - Na primeira fase doprojeto foram produzidas peças me-cânicas e ópticas, ao mesmo tempoem que era desenvolvido um softwa-

o PROJETO

Desenvolvimento de um TopógrafoIntracirúrgico

MODALIDADEPrograma de Inovação Tecnológicaem Pequenas Empresas (PIPE)

COORDENADORSILVIOANTÔNIOTONISSIJÚNIOR- Eyetec

INVESTIMENTOSR$ 195.720,00 e US$ 42.688,00

re de captura e processamento deimagens. Também foram armazena-das as medidas de córneas de pacien-tes voluntários. O passo seguinte foidesenvolver um protótipo que, naprática, apresentasse as característi-cas de um produto comercialmenteoperacional. Novos testes foram fei-tos, "em diversas situações reais decirurgia", segundo Carvalho. Alémdisso, o software do sistema passoupor novas etapas de desenvolvi-mento, destinadas a robustecer ograu de confiabilidade do sistema.

O aparelho rece-beu melhorias paraque seu uso não en-trasse em conflitocom as necessida-des específicas doato cirúrgico, comoo ângulo de varia-ção da incidênciade luz sobre osolhos do paciente esua capacidade demanipulação. Paraisso, o topógrafo re-cebeu uma espéciede braço mecânico,facilmente manu-seado pelo médico."O paciente ficanuma posição emque o eixo ópticodo microscópio ele-trônico se estabele-ce no mesmo eixodo olho. A imagemvirtual feita pelosreflexos dos anéisdo projetor se for-

ma em dois lugares, na ocular e nacâmera que fica acoplada ao divisorde feixes do microscópio", detalhaTonissi Júnior. O grau de correçãodos problemas oculares é mostradona tela de um computador.

Na tela aparecem faixas de coresque indicam a situação da córnea.Cores quentes, como laranja, verme-lho e amarelo, indicam altas curvatu-ras ou distorções localizadas. As coresazul e violeta representam as curva-turas menores e indicam regiões compoucas distorções. As médias são ver-des e representam a normalidade."Tudo isso é visto de uma maneirafácil de ser interpretada pelo médi-co", conta Luís Alberto Carvalho.

Mercado promissor - Um dos maissérios desafios da equipe da Eyetec ébaratear o produto. "Hoje, ele custa-ria cerca de R$ 30 mil", informa Car-valho. A câmera é japonesa, o sistemaóptico é nacional, a placa de aquisi-ção de imagens é canadense, ficandoa cargo da Eyetec o desenvolvimentode rotinas de controle do software."Os novos testes mostram ser possí-vel baratear bastante o topógrafo in-tracirúrgico", diz Tonissi. O preçodeve cair para cerca de R$ 10 mil atéo final do ano, quando for lançado nomercado. A Eyetec tem planos deproduzir dois sistemas para o topó-grafo, um gerido por um computa-dor estacionário e outro para ser co-nectado a um notebook.

O mercado para o novo produto,apesar do preço, é bastante promis-sor, diz Tonissi. Na disputa por preços,os oftalmologistas têm como opçãoos modelos convencionais importa-dos, que chegam a custar de US$ 14mil a US$ 18 mil, fora taxas de im-portação. O novo modelo brasileiro,da Eyetec, acoplado a um PC, deveráficar, portanto, 60% mais barato. Pe-los cálculos da empresa, existem nomercado brasileiro hoje cerca de 9mil oftalmologistas, dos quais 3.600são cirurgiões, alvo específico para oproduto. Além do mercado nacio-nal, a empresa já olha para o mer-cado externo. •

PESQUISA FAPESP • AGOSTO DE 2001 • 65

Page 66: Fibra para inovar

TECNOLOGIA

QUÍMICA

Reação luminosaem análise clínicaNovas técnicas permitemexames laboratoriaismais baratos e eficientes

Dois pesquisadores da Universi-dade de São Paulo (USP) de-

senvolveram uma tecnologia inéditano Brasil para diagnósticos clínicosbaseados na utilização de reações queemitem luz e permitem mensurar onível de várias enzimas de interesselaboratorial. A presença e a quantida-de dessas enzimas determinam a exis-tência de uma doença relacionada aelas. Nas novas técnicas, as enzimascrescem e provocam reações quími-cas em substâncias orgânicas, chama-das de substratos, o ponto central doestudo das equipes dos professoresLuiz Henrique Catalani, do Institutode Química, e Ana Campa, da Facul-dade de Ciências Farmacêuticas.

Na pesquisa, foi possível sintetizaros substratos utilizando matéria-pri-ma mais simples e mais barata doque os produtos importados dispo-níveis no mercado. Ana destaca tam-bém que o objetivo é criar substratosmenos tóxicos para os profissionaisda área de análises clínicas e para odescarte nos efluentes, além de seremmais práticos, sensíveis e estáveis.

Segundo Catalani, esses substra-tos são moléculas que possuem umaestrutura principal fixa e uma partevariável, em função do tipo de enzi-ma que atuará sobre eles. "A ação daenzima sobre o substrato dispara

Análises clínicas com matéria-primamais barata e menos tóxica

uma série de reações que culminamna produção de luz."

A emissão total de luz do sistemanão é visível pelo olho humano. Ela émedida por um equipamento cha-mado luminômetro. O resultado ficavisível num gráfico onde a intensida-de de luz emitida é comparada comuma curva-padrão, permitindo obterinformações sobre a quantidade deenzima presente, por exemplo, naporção de sangue analisada. A enzi-ma atua como um marcador propo-sitadamente conectado a um anticor-po, em um processo chamado deenzimaimunoensaio (ElA), que podeindicar a presença de uma doença.

Enzima da pancreatite - A ação enzi-mática pode ser verificada num exa-me de fluido corporal- soro sanguí-neo ou qualquer outro - para aidentificação da atividade de uma en-zima que indica a ocorrência de umadoença. Um exemplo é a pancreatite,que gera um aumento no nível da en-zima lipase no sangue. "Esse aumen-to pode ser detectado se for utilizadoum substrato que possa ser reconhe-cido pela lipase", diz Catalani.

Quando tem uma dúvida sobrequalquer patologia do pâncreas, omédico costuma pedir um exame delipase pancreática. "Talvez apenas umlaboratório de São Paulo faça esseexame como base no novo procedi-mento. A maior parte usa o que cha-mam de marcadores secundários -outras enzimas que marcam a pato-logia:' Para isso, fazem o ensaio apartir de uma mistura de óleo de oli-va e de água. Quando a lipase é adi-cionada a essa mistura ocorre umadiferença na turbidez que pode de-

Page 67: Fibra para inovar

Ana e Catalani: publicação de trabalho sobre leucemia afastou patente

terminar a atividade da lipase nosoro. "Nosso processo é muito maissensível e mais preciso."

Além dos radioisótopos - Outro usoda tecnologia com enzimas em análi-ses clínicas é a substituição dos ra-dioisótopos como marcadores paraverificar a presença no organismo deum antígeno - vírus ou bactéria, porexemplo. Nos radioimu-no ensaios (RIA), emuso desde os anos 50,anticorpos são previa-mente produzidos, iso-lados e marcados comum elemento radioati-vo. Durante o ensaio,eles ligam-se ao antíge-no formando um com-plexo que é separadodo meio de análise. Se-gundo Catalani, essatécnica tem perdidoterreno gradativamen-te nos últimos 20 anospara o uso dos enzima-imunoensaios. "Houveum avanço grande du-rante muito tempo dosradioimunoensaios, in-clusive com a facilitação do trabalho.Porém, essa técnica é muito cara, porvários aspectos, como a produção edescarte do radioisótopo, o uso deaparato especial de segurança para olaboratório, normas trabalhistas a se-rem observadas, entre outros fatores:',

O pesquisador exemplifica essamudança com o trabalho da equipeem relação à enzima ALP (fosfatasealcalina), que hidrolisa (reage com aágua) fosfatos: ''A parte do substratovariável é um fosfato, que teve sua es-trutura alterada de forma que a enzi-ma passe a reconhecer o substrato.Podemos agora desenvolver uma me-todologia que, em vez de radioisóto-po, use um substrato simples, baratoe eficiente para quantificar a ação da. . .enzima num imunoensaio com me-dida de quimiluminescência. Essetipo de tecnologia tem varrido os ra-dioimunoensaios do mercado", afir-ma Catalani.

Marcar anticorpos - Ana explica que aterceira utilidade das técnicas desen-volvidas pelo grupo é a marcação deanticorpos por enzimas em diversosprocedimentos. Nas técnicas deidentificação de proteínas e frag-mentos de DNA e RNA, que são pre-parados em um gel (polímero orgâ-nico) de eletroforese, a revelação éuma etapa crucial. Apesar dos incon-

venientes, essa revelação tem sidofeita com radioisótopos: "Como al-ternativa a essa técnica, pode-se uti-lizar enzimas como marcadores e aconseqüente emissão de luz paraavaliação dos resultados".

Catalani e Ana desenvolvem ou-tros trabalhos com Luiz Marcos daFonseca e Iguatemy Lourenço Bru-netti, da Faculdade de Ciências Far-

o PROJETO

Biotecnologia Clínica: Desenvolvimentode Sistemas QuimiluminiscentesDisparados por Enzimas e suaAplicação em Diagnóstico Clínico

MODALIDADELinha regular de auxílio à pesquisa

COORDENADORLUIZ HENRIQUE CATALANI

INVESTIMENTOSR$ 79.596,66 e US$ 81.340,00

macêuticas da Universidade Esta-dual Paulista (Unesp) em Araraqua-ra, e Roberto Passetto Falcão, da Fa-culdade de Medicina de RibeirãoPreto da USP, que tem uma coleçãode células de leucemia para pesqui-sas. Num dos trabalhos, constatou-se que um substrato desenvolvidopelo grupo tem possibilidade de serusado na classificação de alguns ti-

pos de leucemia.Na identificação

dessas doenças, numprimeiro momento olaboratorista analisa oformato das célulasbrancas do sangue e, aseguir, são feitos testesdas características eações químicas dessascélulas. Para alguns ti-pos, a enzima esterasepassa a ser um marca-dor importante. Deacordo com Ana, umdos substratos criadospela equipe permiteuma diferenciação deatividade da esteraseem monócito (tipo decélula branca) em rela-

ção a outros tipos de células. "Combase nisso, estamos propondo ummétodo para classificação de algunstipos de leucemia."

Sem patentes - O trabalho que reve-lou a possibilidade de identificaçãode tipos de leucemia já foi publicado,bem como outros sobre enzimasmarcadoras de doenças, o que im-possibilita o patenteamento dos pro-cessos. Catalani lamenta: "Durantealgum tempo, tentamos obter condi-ções de patenteá-los, mas na épocaainda não havia o Núcleo de Patentese Licenciamento de Tecnologia (Nu-plitec) da FAPESP.Além disso, tínha-mos de apresentar os resultados doprojeto': Contudo, o grupo tem emandamento outras linhas de pesqui-sa, passíveis de patentes. São a conti-nuação do desenvolvimento de no-vos substratos que vão servir a novostipos de exames clínicos. •

PESQUISA FAPESP . AGOSTO DE 2001 • 67

Page 68: Fibra para inovar

HUMANIDADES

SOCIOLOGIA

Novoritmo•naterceíra

idadeNos tempos atuais, em que aspessoas vivem mais, estudo alertapara a importância da atividadefísica na auto-estima do idoso

OS cabelos brancos estão come-çando a aparecer na fronte do

brasileiro. Segundo a tese Ser Idosono Mundo: O Indivíduo e a Vivênciade Atividades Físicas como Meio deAfirmação e Identidade Social, defen-dida na Faculdade de Psicologia daUniversidade de São Paulo (USP),em 2025, 15% da população do país(34 milhões) estará acima dos 60anos. Nesse período, haverá um au-mento médio de 6,5% de velhos aoano e, ao mesmo tempo, uma redu-ção nos números absolutos de jovensentre O e 14 anos. "Com o envelhe-cimento da sociedade, o brasileirovai conviver mais com idosos, per-mitindo às gerações que amadure-cerem ter um paradigma do que éser velho': observa Andréa KrügerGonçalves, autora da tese. "Os ido-sos de hoje têm de criar parâmetros,porque não tínhamos uma referên-cia. Além disso, com o avanço tec-nológico, as pessoas vivem cada vezmais", prossegue.

A proposta da tese, apoiada pelaFAPESP, é justamente oferecer algu-mas pistas de como se relacionarmelhor com essa fase da vida, cada

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vez mais longa. A aposta da pesqui-sadora é na atividade física. "Consi-dero que para combater a inércia àqual os idosos estão confinados,nada melhor do que o movimento. Éuma forma de adiar o repouso abso-luto': afirma.

De fato, a pesquisa caminha nacontramão do espaço que a socieda-de reserva aos mais velhos. Na tercei-ra idade, de acordo com Andréa, háum processo comum de vivência ne-gativa: aposentadoria (ausência deprodução), viuvez (morte), mudançasfísicas, como rugas e cabelos brancos(desgaste) e ninho vazio (sem pa-pel). Tal conjuntura seria um cami-nho' fácil para a imagem depreciativado velho, que está sempre associadaà falta de utilidade e à perda de papelsocial. "São esses os fatores que de-sencadeiam o preconceito relaciona-do ao envelhecimento, tanto porparte da sociedade, como dos pró-prios velhos", justifica.

O estudo de Andréa parte doprincípio de que a participação ematividades físicas poderá contradizeresse estereótipo e tornar os rumos daterceira idade mais positivos. "O ob-

jetivo principal é resgatar a auto-es-tima das pessoas com mais de 60 anos,por meio da participação em ativi-dades físicas. Isso porque se acreditana sua influência na identidade e,conseqüentemente, na afirmação so-cial': explica a pesquisadora.

Para realizar o trabalho, AndréaKrüger Gonçalves reuniu 20 idosospara o curso "Atividades de Movi-mento para a Terceira Idade", ofere-cido na Universidade Aberta daTerceira Idade da USP.Apesar do en-foque na atividade física, o trabalhonão se concentrou apenas na ques-tão do movimento. "Isso seria umalimitação. O projeto também estámuito associado à convivência comnovas pessoas': explica. Nesse con-texto, o trabalho adquiriu um outroobjetivo complementar: o de realizaruma interferência direta na vida dosparticipantes. Para isso, destaca-ram-se as atividades para a reestru-turação de um autoconceito positivodo idoso, o que poderia propiciaruma conscientização do papel sociala partir da ênfase em si e em sua ca-pacidade. "Esse autoconceito é forte-mente relacionado com a sensação

Page 69: Fibra para inovar

Idosos em forma, correndo edançando: pesquisa adverte

para o erro de se pensar aatividade física para o "velho

de espírito jovem"

de auto-eficiência - possi-bilitada pelas atividades - epermite à pessoa assumir-se como idosa a partir deuma avaliação da situaçãoreal de vida, que não serávista como predominante-mente negativa': afirma.

Apesar de a professorater atingido o objetivo ini-cial de elevar a auto-estimados participantes, a maiorparte dos idosos conti-nuou negando o envelhecimento ereproduzindo a máxima: "velho comespírito jovem': "O problema é que aatividade física estimulada pelo nos-so trabalho ainda está vinculada,para eles, à negação do envelheci-mento': avalia Andréa. "Essa não meparece a melhor solução, porque aspessoas não reconhecem diretamen-te o aspecto positivo de envelhecerbem. A pessoa deveria assumir que

tem 60 anos -e está em forma, masnão é isso que ocorre': diz.

A pesquisadora rechaça veemen-temente a resposta do idoso de negaranos de sua existência para se sentirsatisfeito consigo. "Nós chegamosaos 60 anos de idade e dizemos quenos sentimos como uma pessoa de30. Com isso, estamos matando me-tade de nossa vida. Não podemos jo-gar tudo isso fora': sustenta.

Embora não tenha conseguidocomprovar sua hipótese de fazercom que o idoso aceite seu bem-es-tar com a idade real, Andréa ponde-ra que obteve resultados relevantes."Eles saíram do curso com uma rela-ção mais positiva de si e dos velhosem geral': afirma a pesquisadora.

Segundo Andréa, o fato de osparticipantes do curso "Atividadesde Movimento para a Terceira Ida-de" se inscreverem na UniversidadeAberta da Terceira Idade já é um in-dicador da disposição de cada umem melhorar sua condição de vida."Partimos do pressuposto de que aspessoas procuram, ou não, um cursodesses por necessidades pessoais",justifica. O critério de seleção, por-tanto, foi a adesão natural. Para apesquisadora, as pessoas que buscamos grupos da terceira idade se inte-ressam por essas atividades porquequerem se sentir desafiadas. "Elas

pretendem checar o queainda podem fazer na vida,mesmo velhas. Acreditamclaramente que é precisosaber seus limites para sesentirem capazes e vivas.Isso é uma questão já veri-ficada em muitas outraspesquisas': afirma. O perfildos 20 participantes é bas-tante variado. A maioria es-tava entre 60 e 69 anos, comalguns superando os 70anos. Dezoito deles erammulheres e dois homens.Uma das respostas para apouca presença masculinanos grupos da terceira ida-de está no fato de que todaprodução do homem, ao

longo da vida, é dirigida ao trabalho."Eles têm preconceito em relação àsatividades de cunho meramente so-cial, que não tenham objetivo pro-dutivo': avalia a professora.

De acordo com outras pesquisasrealizadas sobre a terceira idade, épossível detectar que há também umcomportamento diferente entre se-xos, quando se perde o companhei-ro. ''A viuvez é um aspecto muito

PESQUISA FAPESP • AGOSTODE2001 • 69

Page 70: Fibra para inovar

forte para o idoso. Amulher quase sempretem um círculo de rela-ções maior durante avida e, por isso, temmais condições de bus-car apoio fora de casa.Mas o homem não. Emgeral, se casa novamen-te, ou morre em se-guida", explica Andréa."A mulher dificilmentevolta a se casar. Boa par-te teve seu casamento imposto pelafamília e muitas se sentem mais li-vres com a viuvez", continua.

Dos 20 participantes do curso,nove estavam casados, sete viúvos equatro separados ou divorciados. Osdois homens eram casados. O tempode casamento variava de 30 a 54anos. Todos tinham filhos e a maio-ria, netos. O nível de escolaridadetambém era heterogêneo: sete con-cluíram o ensino fundamental, oitofinalizaram o ensino médio e cincochegaram ao curso superior. "Apesardas diferenças, chegou-se a uma in-teração muito boa, o que eu conside-ro um dos pontos positivos do cur-so', observa a pesquisadora.

Depois de iniciarem o curso deatividade física, muitos participantescomeçaram a fazer cursos de língua,pintura e informática, na própria USP."Uma ação começou a puxar a outra.Chegou a um ponto em que eles ti-nham atividade todos os dias. Ao co-meçar a ocupar o tempo, o resultadofoi positivo, pois a família deu um re-torno para esses trabalhos", revela.

A abordagem desse trabalho, deacordo com a pesquisadora, é funda-mental nos dias de hoje, porque aomesmo tempo em que o envelheci-mento populacional reflete um pro-cesso de desenvolvimento de umasociedade, ele pode implicar um gra-ve problema social. "Se não existiremtransformações socioeconômicas,que propiciem melhoria das condi-ções de vida e do bem-estar geral daspessoas mais velhas, teremos umquadro muito problemático num fu-turo breve", analisa.

70 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

Diante desse cenário, é complica-do determinar quais são as melhorescondições para uma qualidade habi-tacional para o idoso - sobretudo,quando ele se depara viúvo. "Há umainterdependência direta da escolha devida com a situação financeira da pes-soa. Mas se o velho não tem problemamental e tem a disposição de viversozinho, essa é a melhor opção" afir-ma Andréa. Mas há controvérsias."Quem mora sozinho reclama quetem um contato muito distante comos filhos. E os velhos que moram comos filhos dizem que não conseguiramter uma vida independente", avalia. Aspossibilidades de escolha para o idosono Brasil, porém, estão muito distan-tes do ideal: "A maior parte da po-pulação da terceira idade não podeoptar por viver sozinha ou com osfilhos. As pessoas são impelidas pelafamília e por suas condições finan-ceiras. São esses dois aspectos que de-terminam o modo de vida do velho

Ibrasileiro', diz a pesquisadora. "Na Eu-ropa é comum os idosos viverem so-zinhos, porque há muito mais infra-

o PROJETO

Ser Idoso no Mundo: O Indivíduo e a Vi-vência de Atividades Físicascomo Meiode Afirmação e Identidade Social

MODALIDADEBolsa de doutorado

COORDENADORAECL~A BOSI- Faculdade de Psicologiada USP

PESQUISADORAANDR~A KRÜGER GONÇALVES

estrutura e respeito. EmLisboa, eles já são atéacompanhados pela In-ternet", conta. Andréaidentifica que a mu-dança do quadro po-pulacional do mundotambém é resultado doaumento da expectativade vida atual- bem di-ferente da que se tinhahá 30 anos. "Nos paísesdesenvolvidos, já se dis-

cutem os problemas da quarta idade,a partir dos 80 anos', diz Andréa."Dos anos 60 para cá, a Europa pas-sou a lidar melhor com a terceira ida-de. Eles também não tinham esse re-ferencial de envelhecimento", diz.Para a professora, esse aumento da fa-tia de idosos tem levado também auma melhor convivência com a idadeque as próprias pessoas têm. "O estig-ma do envelhecimento está diminuin-do. As pessoas mais velhas estão pro-curando fazer as mesmas coisas quefaziam quando eram jovens', afirma apesquisadora. Essa é a atitude adequa-da, de acordo com ela, porque a pes-soa será sempre a mesma, embora vi-vendo diferentes momentos de vida.

"A dialética da vida perpassa portodas as idades. Todas apresentam osdois lados da moeda", afirma. "Tem-se as ausências da velhice, mas é pos-sível encontrar encantos na falta deobrigações do trabalho, com seu ri-gor de horário, na despreocupaçãode criar um filho, sendo que o rela-cionamento com os netos é só deamor", avalia.

Apesar das melhores condiçõesdo idoso, a pesquisadora consideraque a mídia tem um papel bastanteimportante e negativo no fortaleci-mento do preconceito contra os ve-lhos, que ainda é enorme. "Os meiosde comunicação pegam muito pesa-do na propaganda do rejuvenesci-mento, sobretudo na questão daimagem física",analisa. "Mas é verda-de também que os jovens sofremuma pressão muito maior com rela-ção a esse dilema. Com pouca idade,já temem o futuro", conclui. •

Diversão sem idade: hoje,jovens é que sofrem mais ao pensar no futuro

Page 71: Fibra para inovar

HUMANIDADES

EXPOSIÇÃO

o Brasilque é mais do que quinhentosMostra Brasil 50 Mil Anos, emBrasília, recupera opassadonacional pré-colonial

Apesar de nascido há 10 milanos atrás, ele não podia afir-

mar, como se vangloriou na música,que não havia nada deste mundo queele não soubesse demais. Prova dissoestá na exposição Brasil 50 mil Anos:Uma Viagem ao Passado Pré-Colo-nial, mostra organizada pelo Museude Arqueologia e Etnologia da USP(MAE-USP), aberta no dia 3 de se-tembro (fica em cartaz até o dia 2 dedezembro), em Brasilia, no Salão dosEspelhos do Superior Tribunal deJustiça. Os 50 mil do título são umasaudável provocação à badaladamostra "Brasil+500". "São, em verda-de, 12 mil anos de história que mos-

traremos, mas a referência à exposi-ção do ano passado serve para deixarclara a intenção de ajudar o público arepensar esse tipo de organização danossa história': explica Paula Monte-ro, diretora do MAE e uma das cura-doras da exibição.

"Em geral, só se conhece a histó-ria colonial de conquista, o lado dosvencedores. As pessoas precisam des-cobrir que, quando os brancos chega-ram por aqui, já existia uma popula-ção que conhecia bem o seuterritório, que mantinha rotas de co-mércio, etc. e que foi graças à expe-riência desses povos, aproveitadapelos conquistadores, que acolonização foi possível", ob-serva a pesquisadora. "Elesnão se apropriaram apenasdos braços dos nativos

como força de trabalho, mas de seuconhecimento", avisa. Para contaressa história mal contada, a mostrautilizou uma área de 2 mil metrosquadrados, que será dividida em seismódulos (o custo da exposição foi deR$ 2 milhões), um túnel do tempoarqueológico e etnológico.

"Mas não se trata de uma histó-ria evolucionista, sem a idéia de umprogresso crescente entre as diversassociedades nativas. Há mesmo vá-rias que são contemporâneas. Afi-nal, mais importante do que o tem-po é a geografia dessas populações,

que se reflete na forma em que aexposição foi organizada",fala. "Em cada ambiente, opúblico poderá ver o artefatoinserido em seu ambiente eperceber as razões que leva-ram a sociedade, dado aquelecontexto, a criar tal ou talobjeto", explica. E, tam-

PESQUISA FAPESP . AGOSTO DE 200l • 71

Page 72: Fibra para inovar

Tese analisa tendência de teatralização das exposições

bém como resposta à mostra"Brasil +500': a curado ria de"Brasil 50 mil Anos" acaboucom o fetiche do objeto. "Oque se viu no ano passado,na exibição, era a peça sa-cralizada. Aqui, a peça nãofala por si, antes, ela é im-portante porque é o gesto dohomem deixado na história esó pode contar algo em relaçãocom outros objetos': avalia Paula.

Assim, não espere maquetes ecaixas de vidro com longas plaque-tas explicativas. O grupo tambémpretende inovar na forma de apre-sentação. ''A mostra exige um esfor-ço cognitivo do público, é dinâmica,faz as pessoas caminharem por entreos objetos para tentar apreender oseu significado total, não se restrin-gindo ao entendimento parcial depeças com cartazes", conta a profes-sora. Acreditando na inteligênciados seus espectadores, os orga-nizadores da exposição permi-tiram-se a licença de reunirpassado e presente continuado."Você vê, ao lado de pontas de fle-chas antigas, cestos feitos hoje, namesma região, por pessoas que ain-

A imagem que ilustra esta páginaé um exemplar tímido de uma sériede recursos cênicos usados na mos-tra "Brasil + 500 Anos': que come-morou os 500 anos dos descobri-mentos no ano passado. Paredescoloridas, intervenções feitas pormeio de objetos e até a criação deum ambiente especial, como foi omódulo de arte barroca - em quemilhares de flores de papel feitas porpresidiários ladeavam santos e está-tuas -, são reflexo de uma tendênciamundial: a dramatização das expo-sições de arte.

O assunto, embora tenha ganha-do evidência junto ao público a par-tir daquela mostra, já vinha sendo

72 • AGOSTO DE 2001 • PESQUISA FAPESP

Objetos da exposição:curadoria se preocupou em não

"fetichizar" as peças, mas deixá-Iasem seu contexto, evidenciandoa razão por que foram criadas

pelos ameríndios

analisado pela professora LisbethRebollo Gonçalves desde 1994,quando ela assumiu a direção doMuseu de Arte Contemporânea daUniversidade de São Paulo (MAC-USP). Feito com apoio do programaUSP/Cofecub, um convênio realiza-do entre a ljSP e o governo francês,o projeto incluiu palestras sobre oassunto, realizadas com apoio daFAPESP em 97, 98 e 99, e ainda arealização de duas mostras noMAC- USP, "Modernismo, Paris -Anos 20" (95) e ''Arte e Paisagem: AEstética de Roberto Burle Marx"(97). Em junho, o resultado da ex-tensa pesquisa realizada por Lisbethfoi apresentado na defesa de sua tese

da têm ligações com aqueles povosdo passado. Essa reunião de arqueo-logia e etnologia, tão necessária, bemcomo o fato de que a mostra se con-centra na história antes da chegada

dos portugueses, só foi possível por-que queremos que o público seja

capaz de, sozinho, fazer o linkentre o passado e o presente':fala a diretora do MAE.

Além disso, a mostraigualmente servirá como

"prestação de contas" entre amoderna arqueologia brasileira,

seus profissionais e a sociedade."Da mesma forma que os enganos daBrasil+500 geraram o nosso desejode fazer essa mostra, os seus acertosigualmente nos motivaram a usar anossa exposição para entender onovo papel ocupado pela arqueolo-gia brasileira': diz. ''Após um período

em que estávamos numa posiçãomarginal, hoje, por causa até da-quele evento, temos maior visi-bilidade e respeito da comuni-dade. Isso, por um lado, é

positivo, mas traz novas respon-sabilidades': avalia.

Para Paula Montero, visibilidadeprecisa vir acompanhada de quali-

de livre-docência, "Entre Cenogra-fias: O Museu e a Exposição de Arteno Século XX': na Escola de Comu-nicações e Artes (ECA-USP). A pro-fessora pretende transformar o tra-balho em livro.

Colocando sua lente de historia-dora da arte sobre o assunto, Lisbethfez um retrospecto de como a ceno-grafia foi tratada em exposições dearte desde o início do século 20. Con-forme ela demonstra, os salões dearte do início do século ocorriamem grandes palácios. Os quadros eesculturas eram expostos aleatoria-mente, nem sempre obedecendo àprerrogativa de isolar cada obra,para sua melhor apreciação.

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Paula Montero: esforço cognitivo do público

dade. "A profissão ainda não é regu-lamentada, seu projeto está na Câ-mara dos Deputados. Além disso, aconquista feita pela Constituição de1988, que exigia a salvaguarda dopatrimônio, mostra uma lacuna pe-

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Foi em 1939, com ainauguração do entãonovo prédio do Museude Arte Moderna deNova York (MoMA),que surgiu o conceitode "cubo branco': emque os quadros são pen-durados na altura dosolhos do espectador emambientes completa-mente neutros. "Esseconceito revolucionou aforma de ver a arte mo-derna e a própria histó-ria dessa arte': comentaa pesquisadora.

Embora ainda seja referênciapara a maior parte do público demuseus, o cubo branco passou a serrevisto a partir de 1968, após a cha-

rigosa: a lei quer salvar opassado, mas não temospessoal especializado sufi-ciente para levar a caboessa missão': conta a pes-quisadora. Mas, na mostra,não apenas a comunidadecientífica será exposta aodesafio de se pôr nos sapa-tos de um arqueólogo."Enquanto o público ca-minha pelo túnel do tem-po, poderá ver, no chão enas paredes dos corredoresda exposição, respectiva-mente, como a partir decacos de um jarro se podecontar a história e de queforma a terra, por meio dassuas camadas, nos contacomo o tempo passou:' Oespectador chega a um ce-nário que reproduz, emdetalhes, um laboratóriode arqueologia, com seus

instrumentos, microscópios, etc."Será a chance de as pessoas entende-rem como funciona o nosso traba-lho': avisa Paula.

No fim do túnel, uma cobra. Oumelhor, a reprodução do esqueleto

da mítica Cobra Grande, que, narraa lenda indígena, nadava pelo Ama-zonas e a cada vez que tirava a suacabeça fora da água criava um novopovoado. É a ciência se reencontran-do com o universo cosmogônico.Mas com razão de ser. "Para todos osmomentos da mostra havia umacervo disponível, menos para aAmazônia. Após pensarmos a razão,vimos que a explicação estava no ca-ráter daquelas populações, umamarca, aliás, que permanece em vi-gor: são povos filosóficos, míticos enisso reside o seu fascínio': analisa."A interação entre sociedade e natu-reza se fazia por meio do mito. Daí,então, a Cobra Grande que fecha amostra. Também uma forma de noslembrar de que, para aquelas popu-lações, não houve uma ruptura tãogrande entre o passado colonial e opresente': fala. Daí, igualmente, oprazer de se fazer a mostra em Brasí-lia. "A capital é um espaço de reu-nião de raças, local ideal para que osvários tipos de brasileiros possam sereconhecer numa herança passadacomum", completa. Mesmo paraquem não nasceu há, no mínimo, 10mil anos atrás. •

em Paris, em 1977. OBeaubourg, como ficouconhecido, marcou oinício de uma era em queos museus quenam po-pularizar o acesso à arte.Hoje, conforme diz Lis-beth, o cubo branco e adramatização são recur-sos usados pela museo-logia nos quatro cantosdo mundo. "Conformea opção do curador, umou outro recurso pode

ajudá-lo a expressar o quequer com a mostra, prin-

cipalmente quando ele usa a drama-tização" diz Lisbeth. Para ela, a ce-nografia nas exposições de arte fazcom que o espectador se sinta umator dentro do palco.

mada "revolução romântica" daFrança. "Os museus começaram a re-pensar o seu papel': diz a professora.

Tudo começou com a inaugura-ção do Centro Georges Pompidou,

Sala da mostra Brasil+SOO:cenografia transforma público em ator

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HUMANIDADES

Separados apenas pelo marHISTÓRIA

A coletânea Agenda do Milênio reúne comunidadesde historiadores brasileiros e portugueses, trazendo umbalanço da área e os rumos futuros da pesquisa em história

Nem mesmo o mar conseguiunos separar e a comunidade

de historiadores luso-brasileiros temmotivos de sobra para comemorar. Éo que se conclui da leitura de Brasil-Portugal: História, Agenda para o Mi-lênio, organizado pelo historiadorJosé Iobson de Andrade Arruda, pro-fessor da USP, Unicamp e Universi-dade do Sagrado Coração (USC), deBauru. O livro, que tem também naorganização o historiador portuguêsLuís Adão da Fonseca, é resultado deuma megarreunião de historiadoresportugueses e brasileiros, cerca de 90

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profissionais. "Apesar de todos os es-forços dos últimos anos, a distânciaentre Portugal e Brasil continuavamuito grande. Há o Projeto Resgate,que busca documentos indispensá-veis à história do Brasil em Portugal,mas estávamos preocupados com ooutro desdobramento: o que fazercom essa documentação?", explicaIobson Arruda. "Por isso, essa idéiade estabelecer uma agenda em queportugueses e brasileiros, em conjun-to, pensando determinados temas,pudessem nos dar essa diretriz. Essa éuma atitude concreta, não é retórica",

afirma. "O que nós esperamos é queessa experiência se transforme numasementeira e que ela possa se multi-plicar", completa o pesquisador.

Se a Agenda tem um caráter pro-gramático, de olho no futuro da pes-quisa, isso não significa, entretanto,que ela se resuma a uma simples car-ta de intenções. Há parcerias já emcurso como, por exemplo o ProjetoPortugal-Brasil: populações e migrações- que envolve o Centro de Estudos deDemografia Histórica da AméricaLatina (Cedhal), da Universidade deSão Paulo. e o Centro de Estudos daPopulação, Economia e Sociedade(Cepese), da Universidade do Porto-, bem como balanços vigorosos daprodução historiográfica existentenos dois lados do Atlântico, que vãopermitir com que se estreitem as par-cerias à busca de novos paradigmas e

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à luz de renovados horizontes histo-riográficos, capazes de dar uma mai-or visibilidade a essa produção numaescala internacional.

Segundo Iobson, os desdobra-mentos podem incluir um dicioná-rio biográfico luso-brasileiro emCD-ROM, uma revista luso-brasilei-ra de história, um boletim eletrônicoda Agenda do Milênio que possaabrigar links para seminários, coló-quios e cursos de pós-graduação no I

Brasil e em Portugal, bem como umsite que reúna um banco de teses di-gitalizadas num clicar de mouse. Eisso não é tudo. Planeja-se tambémnewsgroups de história do mundoluso-brasileiro, um banco de dadosdos processados da Inquisição, umconjunto de índices digitalizados derevistas, uma base bibliográfica luso-brasileira organizada por assuntos, aaquisição, pela Internet, de um livroportuguês de uma livraria de Lisboaisento de taxas de importação e, dequebra, créditos de pós-graduaçãoreconhecidos em qualquer universi-dade portuguesa. "Dada a qualidadedos interlocutores e do projeto, bem

como pela própria sustentação que aAgenda do Milênio nos dá, os projetostêm toda a chance de frutificar", ga-rante o professor. "E a Agenda do Mi-lênio é um documento importanteem si", assegura.

Mapa da mina - O livro está organiza-do em torno de seis grandes blocostemáticos que congregam o que debom se produziu na "velha" história ena história "nova", cada qual coorde-nado por uma dupla de historiadoresbrasileiro e português. São eles, res-pectivamente: Cultura e Religiosidade,sob a coordenação de Laura de Melloe Souza e Francisco Bethencourt; Di-nâmicas Locais e Sistema Mundial; deAmado Luiz Cervo e Joaquim Rome-ro Magalhães; História Econômica, deCarlos Roberto Antunes dos Santos eAntônio Marques de Almeida; Socie-dade e Movimentos Sociais, de ZildaMárcia Gricoli Iokoi e José ManuelTengarrinha; Demografia, Família eMigrações, de Eni de Mesquita Sama-ra e Fernando de Souza; e Historio-grafia e Memória Social, de FernandoAntônio Novais e Luís Reis Torgal.

E as 635 páginas do livro não in-teressam apenas ao estudante de pós-graduação, que ali certamente vai en-contrar um verdadeiro "mapa damina" a lhe sugerir os "caminhos doouro" da pesquisa em história. O ca-ráter do livro é prospectivo e nissoestá a sua força dinamizadora, umavez que traça rumos, delineia proje-tos, fomenta parcerias, sugere tradu-ções, anima polêmicas, ete. Os blocosnão existem como camisas-de- força.Há entre eles uma transversalidade.Afinal, resgatar a história do mundoluso-brasileiro é defrontar-se com osvalores do Ocidente cristão e sua cri-se, com a Renascença e a revoluçãocientífica e, mais tarde, com o legadoiluminista da razão.

"Quando decidimos fazer um ba-lanço da produção historiográficaexistente e o seu destino, percebemosque não era uma mera questão de es-tudar para o passado, mas estudarpara o futuro, algo prospectivo: ouseja, em relação ao que fizemos o queé que poderíamos fazer mais? Aondemais poderíamos ir além?': avalia opesquisador. Um dos caminhos foi a

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Revista luso-brasileira de história

Realizações a longo prazo ..•

Projeto Brasil-Portugal: populações e migrações

Dicionário biográfico luso-brasileiro

Banco de dados dos processados da Inquisição

Continuidade do Projeto Resgate

Revisão da legislação sobre importação de livros portugueses

Banco de teses digitalizadas

...e a curto prazoBoletim Agenda do Milênio

Formação de newsgroups

Seminários e colóquios sobre o mundo luso-brasileiro

Bibliografia luso-brasileira organizada por assuntos

Revisão do Guia Brasileiro de fontes para a história da África e da escravidão

Digitalização dos índices das principais revistas e periódicos

transversalidade. Afinal, não é possí-vel se fazer uma História das Religio-sidades e da Cultura que não contem-ple a esfera da política e da Sociedade,bem como um estudo dos cristãos-novos no Brasil ou da ação missioná-ria não pode prescindir da Demogra-fia Histórica, que por sua vez precisada História Econômica e que é Sociale assim por diante. Hoje, somos maismundiais do que nunca e os centroshegemônicos impõem uma certa ho-mogeneidade que nem todos encon-tram formas de resistir. As DinâmicasLocais na sua articulação com o Siste-ma Mundial podem estar a sugerirum caminho para entender aquiloque brasileiros, portugueses, angola-nos, enfim, têm de singular como na-cionalidades, ao mesmo tempo emque se reconhecem como parte deuma comunidade universal, paraalém mesmo do luso-brasilianismo.

Para além das especificidades dosgrupos temáticos e dos problemasparticulares daqueles campos de pes-quisa, há questões comuns que per-passam todos os grupos envolvidos.O mundo acadêmico também viveum processo de intenso intercâmbioglobal. Assim, os grandes centros he-gemônicos de pesquisa acabam di-tando as regras desse gigantesco uni-verso intelectual. Mas ele não é

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impermeável, existem frestas, e é ne-cessário estar de olho nas oportuni-dades que se abrem. A barreira dalíngua precisa ser transposta. ''A nos-sa língua é minoritária em termos decomunicação mundial.Se nossosgrupos que pensam história e quepensam história do Brasil e Portugalnão tiverem seus textos traduzidospara as línguas hegemônicas não hápossibilidade de uma interação comesses grupos, daí a urgência de verterpara o inglês aquilo que de represen-tativo existir na produção luso-brasi-leira em história", avisa Iobson.

Brasil- Portugal:História, agenda para o milêniojosé jobson Arruda eLuís Adâo lia Fonseca (org.)

It.:)APfSP

Livro: caráter prospectivo e dinamizador

ICCTI"Olrnl(:o\l.

A necessidade não é menor em re-lação à produção estrangeira, que pre-cisa ser traduzida para o português.O efeito prático da Agenda do Milênio,a esse respeito, é fundamental, umavez que para cada linha de investiga-ção os autores arrolam as obras quecarecem de tradução imediata eaquelas que ainda podem esperar.Mas se engana quem achar que nointerior do próprio mundo luso-bra-sileiro não existam muros. Os portu-gueses conhecem muito pouco do quese produz em matéria de história noBrasil, o mesmo se dando com os bra-sileiros em relação aos portugueses.

Efeitos - Outro dos efeitos da Agendado Milênio é político e, para tanto,veio para o lançamento do livro ovice-presidente de Portugal, Antóniode Almeida Santos, que é também opresidente da Assembléia da Repú-blica. Segundo o professor Iobson,ele tem 16 livros publicados em Por-tugal, acabou de publicar um livrono Brasil que se chama Do outro ladoda Esperança e assumiu um compro-misso claro de lutar pela implemen-tação de uma nova política capaz derever essa legislação. "Mas para issoocorrer, é preciso dos instrumentos.E para esses chegarem às mãos debrasileiros e portugueses, é precisoque eles possam estar lá e cá. Comessa política, porém, que os portu-gueses têm com relação aos livros elaabsolutamente impede que issoaconteça': completa Iobson.

Como se vê, a comunidade de his-toriadores está bastante conscientede que as tarefas que lhe aguardamnão são fáceis, mas nem por isso seacomoda no subterfúgio da tão pro-palada "crise dos paradigmas". "Vocênão terá uma volta do jeito que era.Mas você terá uma retomada de umahistória síntese, que enlace as notáveiscontribuições da "velha" e da "nova"história. Porque elas poderão se com-plementar, elas não são necessaria-mente excludentes, elas não são ini-migas mortais, que uma tenha queenterrar a outra para poder justificara sua existência", diz Iobson, •

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HUMANIDADES

ARQUITETURA

Resultado prático da pesquisa feita pelos professores: dificuldade na gestão logística de obras dentro de estrutura universitária

Repensando a habitação popularda Escola de Engenharia de São Car-los, da Universidade de São Paulo,e do Departamento de EngenhariaCivil da Universidade Federal de SãoCarlos - busca redefinir os critériosque orientam o projeto e a constru-ção de casas de interesse social.

O ponto de partida foi a consta-tação das mudanças na constituiçãodo grupo familiar e no modo de vidacontemporâneo, caracterizados pelodesenvolvimento do trabalho do-méstico, pela mudança do perfil de-mo gráfico da população, por novasrelações entre os membros da famí-lia e pela grande variedade de perfisfamiliares. A pesquisa questiona osespaços da habitação popular con-

Projeto concebe espaçosflexíveis, compatíveis com omodo de vida moderno

Quando se fala em moradiapopular, imediatamente se

imaginam casas minúsculas, anôni-mas, dispostas numa série monóto-na em algum terreno da periferia.A pesquisa Habitação Social; Con-cepção Arquitetõnica e Produção deComponentes em Madeira de Reflo-restamento e em Terra Crua - coor-denada por professores do Departa-mento de Arquitetura e Urbanismo

vencional, pensada para a típica fa-mília nuclear, que nas últimas déca-das tem perdido terreno para novasformas de organização doméstica. Areflexão sobre o espaço doméstico le-vou a uma concepção mais flexíveldeste, para se adaptar à conjuntura.A pesquisa propõe casas com gran-des espaços, que possam ser integra-dos ou segmentados, a um custoequivalente ao da casa convencional.

Realizada entre agosto de 1996 ejulho de 2000, a pesquisa compreen-deu o projeto e a construção de duascasas no campus da USP, em SãoCarlos. Contou com o apoio finan-ceiro da FAPESP, por meio do pro-grama de Auxílio a Jovens Pesquisa-

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~------------------------~~----------------~~~ espaço doméstico como~ preferir, adaptando-o às

suas necessidades", explicaTramontano.

O conjunto formadopelo bloco servido, o blo-co de serviços e a área cen-tral é um sistema espacial.As duas casas construídassão duas alternativas deagenciamento desse siste-ma, que apresenta diversaspossibilidades de combi-nação. Tais variações im-plicam também múltiplasconformações externas, evi-tando a uniformidade deum conjunto habitacionalconvencional, estendendoao aspecto exterior da casaalgo da especificidade deseus ocupantes.

No bloco de serviços, as paredessão feitas por meio de duas técnicas.A primeira é a taipa-de-mão, o pau-a-pique das tradicionais constru-ções brasileiras, que foi revisto eotimizado. A ossatura das paredesemprega painéis de pinus pré-fabri-cados, em vez do bambu e dos ga-lhos da técnica primitiva. Fixado àestrutura principal da casa, o painelé preenchido de terra crua mistura-da com palha, obtida a partir de ca-pim coast-cross. A adição da palhaevita que a parede trinque, comoacontece com o pau-a-pique. De-pois da secagem da terra, aparecemfendas na junção entre as paredes eos pilares, que foram vedadas comuma resina à base de óleo de mamo-na, desenvolvida pelo Instituto deQuímica de São Carlos, da USP. Osrevestimentos dessas paredes são deargamassa de terra crua, pintadacom tinta látex, garantindo um aca-bamento de ótima qualidade. O cus-to do metro quadrado desse tipo deparede ficou em torno de R$ 27,com mão-de-obra incluída.

dores em Centros Emer-gentes, que destinou R$129 mil para a construçãodas casas e o pagamentoda maioria das bolsas, en-quanto que o CNPq con-cedeu algumas bolsas deiniciação científica. A e-quipe reuniu 12 professo-res colaboradores, alunosde graduação e de pós-graduação, além de con-sultores externos. A coor-denação foi do professorMarcelo Tramontano, daprofessora Akemi Ino, am-bos da USP - São Carlos,e do professor loshiaquiShimbo, da UFSCar.

O desenvolvimento doprojeto se deu em torno decinco áreas de pesquisa:concepção espacial, estruturas, es-quadrias, cobertura e vedações. Du-rante dois anos, foram feitos estudose produção experimental em oficinase laboratórios sobre os materiais -madeira de reflorestamento, terracrua e palha, escolhidos por seu bai-xo custo. Após vários testes, os mate-riais foram sendo integrados a pro-postas tecnológicas para a produçãodos componentes das casas. O proje-to arquitetônico, a cargo de Tramon-tano, caminhou paralelamente. OGrupo organizou workshops, usadospara divulgar os resultados da pes-quisa e funcionavam como canteiroexperimental de mão-de-obra.

A pesquisa enfrentou algumasdificuldades. "A principal foi a ges-tão logística do canteiro de obrasdentro de uma estrutura universitá-ria. Além disso, a mão-de-obra daconstrução civil deprecia esses ma-teriais. Isso exigiu um acompanha-mento muito mais intenso da obra.Mas acabamos formando duas pes-soas durante esses quatro anos, quehoje constroem tudo que necessita-mos", conta Tramontano.

Vista de uma das casas do projeto: materiais de baixo custo

- com equipamentos de banheiro ecozinha - e o chamado bloco servi-do, sem equipamentos fixos, cujosespaços podem ser usados como salade estar, quarto, oficina. Os dois blo-cos estão ligados por uma área cen-tral, que tanto pode ser um espaçode encontro e de circulação comopode se incorporar a um dos doisblocos. "Dessa área central se apre-ende toda a circulação da casa, se vaia qualquer cômodo sem passar pornenhum outro. Ela tem pé-direitoduplo numa casa e triplo na outra, eé separada do exterior por um por-tão, As pessoas que visitaram as casase responderam nosso questionárioatribuíram vários usos à área central:garagem, vendinha, oficina, sala, va-randa. O morador pode modular o

OS PROJETOS

Habitação Social: ConcepçãoArquitetônica e Produçãode Componentes em Madeirade Reflorestamento

MODALIDADEPrograma de auxílio a jovenspesquisadores

COORDENADORAKEMI INO - UFSCar Terra-palha - A outra técnica testada é

a terra-palha, muito usada nos paísesdo norte da Europa como vedaçãoou isolamento termo acústico. Para

Bloco servido - As duas casas têm áreatotal de 54 m- cada. Possuem dois es-paços principais: o bloco de serviços

INVESTIMENTOS

R$ 170.925,00 e US$ 19.000,00

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Fechamento com chapa de fibra de vidro ondulada: usada, em geral, por populares

adaptá-Ia às condições brasileiras, foiutilizado o capim coast-cross, adicio-nado a barro e água. Essa técnica ésimples e permite a pré-fabricação deblocos ou de paredes monolíticas nopróprio local da construção. Os blocosreceberam um revestimento internode argamassa de terra, posteriormentepintada, e tábuas na parte externa. Aprodução dos blocos é longa, exigin-do cuidados na secagem do capim eno transporte. Seu custo é de R$ 45por m', com mão-de-obra e acaba-mento incluídos. As paredes monolí-ticas são executadas mais rapida-mente, e seu custo é de R$ 410m2

As paredes do bloco servido sãode madeira, com uma ossatura de pi-nus, fechada internamente com lam-bris e externamente com tábuas. Aspeças estruturais em eucalipto foramtratadas pelo processo de autoclave,que impede o desenvolvimento defungos. Várias possibilidades de iso-lamento térmico foram testadas nasparedes de madeira: colchão de ar,argila expandida, mantas de lã de vi-dro e placas de isopor. O rendimentoe a durabilidade de cada uma estásendo medido e só poderá ser avalia-do no longo prazo.

Outro tipo de fechamento utiliza-do é a chapa de fibra de vidro ondu-

lada. Esse material é tradicionalmen-te usado por moradores de casas po-pulares para cobrir boa parte da áreanão construída de seus lotes. Trans-lúcida, a chapa cobre as áreas centraisdas casas, garantindo uma generosaluminosidade natural.

As esquadrias foram experimen-tadas em madeira de reflorestamen-to: eucalipto e pinus. A estrutura éfeita de vigas e pilares de eucalipto ese apóia sobre esperas de metal,

Tramontano: acompanhamento intenso

chumbadas em fundações de concre-to, permitindo que as casas sejamconstruídas em qualquer tipo de ter-reno. As telhas são feitas de resíduosde celulose prensados com betume.Toda a instalação elétrica e hidráuli-ca é aparente, reduzindo custos. Amesma preocupação orienta a dispo-sição da cozinha e do banheiro: agru-pados lado a lado (unidade 002) ousobrepostos (unidade 001), conse-gue-se reduzir drasticamente a me-tragem dos encanamentos.

Nomads - ''A unidade 002 foi COllS-

truída em 1998. A partir das liçõestiradas da construção, revimos oprojeto da unidade 001, que foi le-vantada em 1999, e reformulamosalgumas soluções da 002. Essa retro-alimentação fazia parte do projeto",explica Tramontana. Após o final dapesquisa, a equipe se dividiu em doisgrupos: o Nomads (Núcleo de Estu-dos sobre Habitação e Modos deVida), da USP, coordenado por Tra-montano, e o Abis, coordenado pelaprofessora Ino e pelo professor Shim-bo. O Nomads está mais voltadopara projetos de arquitetura e o Abistem um viés mais tecnológico. Osdois grupos continuam trabalhandonas casas: o Nomads estuda novasformas de evolução da distribuiçãointerna e o Abis faz medições do iso-lamento térmico.

Na opinião de Tramontano, o es-paço doméstico deve ser pensadopara o conjunto da população. "Porisso convidamos pessoas de todas asfaixas de renda e de várias regiõespara visitar as casas. A maioria apro-vou os projetos. Os questionáriosnos permitiram saber detalhes sobrealguns aspectos interessantes." Divi-sórias móveis feitas de madeira fo-ram aceitas pela maioria dos visitan-tes, mas a peça feita em chapa dezinco foi reprovada em massa. "Ozinco tem conotação de precariedade.Já a madeira e a terra crua encontra-ram resistência só de visitantes queganham de 12 a 20 salários mínimos,que só admitiriam os materiais emcasa de campo ou praia", diz. •

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LIVROS

Diálogos com a brasilidade de BastideObra analisa o pensamento do francês que queria entender a alma nacional

REGINALDO PRANDI DiálogosBrasileiros:Uma Análiseda Obra deRoger Bastide

a partir da sua interlocuçãocom o modernismo, da re-flexão sobre as relações ra-ciais e dos dilemas da mo-dernização, procurandoentender o diálogo de Bas-tide com autores funda-mentais que trataram des-sas temáticas.

Os diálogos acompanha-dos por Fernanda Peixoto,que destacam no cenárionacional as figuras de Mário

de Andrade, Gilberto Freyre, Florestan Fernandes,traduzem a interlocução de Roger Bastide comtrês matrizes distintas: uma artístico-literária,uma sociológica de feição ensaística e outra tam-bém sociológica, só que de cunho acadêmico-uni-versitário. Da análise dessas três interlocuçõesemerge um conjunto de temas que fundamenta aobra sociológica de Roger Bastide: o misticismo, aarte e a religião; o imaginário, o sonho e a psique;a cultura popular e os contatos culturais.

A leitura deste livro de Fernanda Arêas Peixo-to, que é uma versão aprimorada de sua tese dedoutorado no Departamento de Antropologiada USP, nos ensina sobre Bastide e seu tempo,sobre a constituição da cultura e o pensamentosocial brasileiro de lá para cá, mostrando que asescolhas temáticas e metodológicas de Bastidecontinuam presentes e decisivas nas ciências so-ciais de hoje. De escrita precisa e leitura agradá-vel, Diálogos Brasileiros oferece ao leitor a análisecompetente e vigorosa, e muito oportuna, deuma sociologia viva articulada às mais expressi-vas matrizes de reflexão da época sobre o Brasil esua capacidade de mudança social e cultural, quebusca desvendar o lugar ocupado, no desenho dopresente, por tradições e heranças formadoras danossa sociedade.

Fernanda ArêasPeixoto

São Paulo, Edusp,224 páginasR$ 25,00

RECINALDO PRANDI é professor titular de Sociologia daUSp, autor, entre outros livros, de Os candomblés de SãoPaulo e Mitologia dos orixás.

O sociólogo francêsRoger Bastide(1898-1974) che-

gou ao Brasil em 1938.Veiopara ensinar sociologia naFaculdade de Filosofia daentão recém-fundada Uni-versidade de São Paulo. Fa-zia parte da missão estran-geira que veio instalar oensino profissional univer-sitário de ciências básicas em nosso país. Ficou16 anos. Conheceu e compreendeu o Brasil, escre-veu e publicou muito, formou gente e fez escola,transformou-se num clássico. Autor de obra plu-ral, que se abria para a sociologia e antropologia,crítica literária, estética e psicanálise, Bastidequeria entender, sobretudo, como se constituía a"alma brasileira", como se formava a cultura dopaís com o encontro de diferentes fontes, comose interpenetravam as culturas formadoras, es-pecialmente a africana. Com o tempo, a maiorparte da obra de Bastide foi se esgotando nas li-vrarias e em certos períodos sua leitura foi se tor-nando mais restrita a grupos de,especialistas.

Em 2001, dois estudos fundamentais de Bastidesobre as religiões afro-brasileiras foram postos no-vamente nas livrarias: a Companhia das Letras re-lançou O Candomblé da Bahia, em edição revistae ampliada, e a PalIas republicou seu estudo sobreo catimbó, incluído na coletânea Encantaria Brasi-leira. Aparece então Diálogos Brasileiros: Uma Aná~lise da Obra de Roger Bastide, de Fernanda ArêasPeixoto, um livro sobre a obra bastidiana e sua in-clusão, no domínio da interpretação da cultura na-cional, nos quadros do pensamento social brasilei-ro, ao qual Roger Bastide contribuiu com sua obra deautor e com a formação, como professor da USP,de mais de uma geração de cientistas sociais queatuaram decisivamente na consolidação da sociolo-gia como disciplina cultivada profissionalmente.

De modo muito apropriado e inteligente, Fer-nanda Peixoto analisa a obra brasileira de Bastide

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LANÇAMENTOS

Memória e (re)sentimentoEditora da UnicampStella Bresciani (org.)554 páginas / R$ 58,00

Memória\tes)sen\\men\o

Os textos que compõem esse livroresultaram de um colóquiorealizado na Unicamp entre maioe junho de 2000, coordenado porStella Bresciani e ClaudineHarouche. O tema estudado é acomplexa relação que se estabelece

entre a História e a memória e de que formas lembrançae esquecimento se conectam. É justamente no pontode contato entre ambos que surge o ressentimento,componente importante na relação entre os homens.Entre os textos, estão artigos de Pierre Ansart e EdgarSalvadori de Decca. O livro contou com apoio da FAPESP.

Sociedade e Estado emTransformaçãoEditora UnespL.c. Bresser Pereira, Jorge Wilheim, LourdesSola (organização)451 páginas / R$ 38,00

Outra importante coletâneade artigos escritos para o seminárioReforma do Estado e Sociedade,realizado em 1998 pelo Conselho deReforma do Estado e pelo Ministério

da AdministraçãoFederal e Reforma do Estado. Emdiscussão, a relação entre Estado, em constante mundançadada a crise mundial e a globalização, e a sociedade,igualmente modificada pela nova era de informação.

Uma Biografia do UniversoEditora Joerge ZaharFred Adams e Grag Laughlin292 páginas / R$ 35,00

O título ousado do livro nãoimpediu seus autores, ambos

Uma Biografiado Universo professores de respeitáveis

D.b>,'.o,' d,""""'". U", universidades americanas, de darF""'.'".""".,,",,,,," conta do recado e efetivamente

documentar a biografia do universo,com direito a teorias sobre o futuro

que o espera. Essa súmula, do big bang à desintegraçãofinal, traz os mecanismos essenciais da astro físicae com a determinação das cinco eras do universo: a eraprimordial, com a vitória da matéria sobre a antimatéria;a era estelífera, a nossa, dominada pelo brilho dasestrelas; e as futuras era dos buracos negros, em quea radiação, prevista por Hawking, será a única luz criada,e a era das trevas, em que o universo poderá se recriar.

REVISTAS

15

Economia e Sociedadevolume 15

A revista editada pelo Instituto deEconomia da Unicamp traz emseu número mais recenteos seguintes artigos: O ImpérioContra-Ataca: Notas sobreos Fundamentos da AtualDominação Norte-Americana, deAloisio Teixeira; O PapelDesempenhado pelo BNDESe Diferentes Iniciativas

de Expansão do Financiamento de Longo Prazo no Brasildos Anos 90, de Daniela Prates, Marcos AntonioMacedo Cintra e Maria Cristina Penido de Freitas;O Endividamento dos Governos Estaduais nos Anos 90,de Francisco Luiz C. Lopreato; O Sistema de CréditoInternacional, de Claus Germer; entre outros.

Educação e Pesquisa2001 - volume 26

Publicada pela Faculdade deEducação da Universidade de SãoPaulo (USP), a revista chega agoraao seu segundo ano, reunindoartigos de profissionais nacionaise estrangeiros na área. Entre os02 destaques desta edição: Educação,Ampliação da Cidadania eParticipação, de Pedro Roberto

Iacobi, O Senhor Diretor: Fragmentos de uma Históriade Atores e Práticas Escolares em Portugal, de LuisMiguel Carvalho; Psicologia Moral e Educação: paraalém de Crianças "Boazinhas", deLarry Nucci; Escola,Democracia e a Construção de Personalidades Morais,de Ulisses F.Araújo; entre outros.

Educação e Pesquisa

Arquivo em Imagens'. 2001 - número 5

Série Última Hora Artes

Um fruto da reunião entreo governo do Estado de São Paulo,a Editora Arquivo do Estado ea Edições Imprensa Oficial, arevista dedica da à memóriado jornal Última Hora chega a seu

quinto número, enfocando nesta edição a iconografiaapresentada pelo veículo de imprensa, fundado em 1951por Samuel Wainer, sobre o setor de artes. O períodocobre os anosentre 1951 e 1971, o que resultava numacervo impressionante de 165 mil fotografias.Portanto, não foi nada fácil fazer a seleção finaldas imagens para esta revista. Sempre inusitadase trazendo o artista em poses inesperadas.

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VASQS

TSKI

E AGORA?,E ASSASSINATO

,OU SUICIDIO?

MATOUO CLONE

. . .

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