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COUCHSURFING A nova forma de fazer turismo chegou a Macau UNIVERSIDADE Contrato de Bill Chou não foi renovado GCS DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 SEGUNDA-FEIRA 18 DE AGOSTO DE 2014 ANO XIII Nº 3155 hojemacau O PROGRAMA O candidato apresentou o programa. E notou-se que, no fim do primeiro mandato, a realidade bateu à porta de Chui Sai On. Desta vez teve mesmo de ouvir o povo. As promessas, a análise, as reacções. PÁGINAS 2 - 5 EVENTOS CENTRAIS SOCIEDADE PÁGINA 8 AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB PUB

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Hoje Macau N.º3155 de 18 de Agosto de 2014

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Page 1: Hoje Macau 18 AGO 2014 #3155

COUCHSURFINGA nova forma de fazer

turismo chegou a Macau

UNIVERSIDADEContrato de Bill Chou

não foi renovado

GCS

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 S E G U N DA - F E I R A 1 8 D E A G O S T O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 1 5 5

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O PROGRAMAO candidato apresentou o programa. E notou-se que, no fim do primeiro mandato, a realidade bateu à porta

de Chui Sai On. Desta vez teve mesmo de ouvir o povo. As promessas, a análise, as reacções. PÁGINAS 2 - 5

EVENTOS CENTRAIS SOCIEDADE PÁGINA 8

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Page 2: Hoje Macau 18 AGO 2014 #3155

2 hoje macau segunda-feira 18.8.2014O PROGRAMACARLOS MORAIS JOSÉ[email protected]

C HUI Sai On apresentou no passado sá-bado o seu programa político, enquan-to candidato a Chefe do Executivo da RAEM. Numa primeira abordagem,

poder-se-á dizer, de forma sintética, que em relação a 2009 o candidato sofreu um choque de realidade. De facto, o conteúdo destas linhas programáticas encontra-se muito mais voltado para os problemas concretos da população do que o anterior programa ou mesmo as Linhas de Acção Governativa. Chui Sai On percebeu que não pode governar sem, contra ou apesar do povo.

O candidato confessa ter compreendido: “Com a globalização, a integração económica e a evolução sócio-económica de Macau, os problemas tornaram-se mais complexos e as reivindicações da sociedade diversificaram--se, pelo que a missão que agora se apresenta afigura-se difícil e o caminho a percorrer será longo.” Felizmente que a RAEM não sofre problemas de contenção orçamental, com uma execução do PIDA na ordem dos 6% até à presente data, o que permitirá ao futuro Chefe do Executivo dispor de dinheiro suficiente para resolver os tais problemas.

A POPULAÇÃO EXISTEE, neste programa, Chui Sai On aborda realmente os principais problemas que apo-quentam a população de Macau. Habitação, transportes e poluição abrem o primeiro ponto, de seu nome “Ambiente habitável”, no qual se prometem medidas várias, embora nada de realmente específico, nomeadamen-te no que diz respeito à primeira.

Chui insiste na construção de habitação pública e económica, mas não afirma que vai corrigir os erros cometidos em Seac Pai Van. Por outro lado, garante que tomará medidas para regular o mercado imobiliário, em caso de necessidade (como agora), mas não especifica quais. Reordenamento dos bairros antigos, autocarros a gás natural e uma racionalização dos transportes públicos e do trânsito, são outras promessas que se esperam ver cumpridas.

Este primeiro ponto do programa encerra-se com uma referência à cultura de Macau, considerada sino-ocidental e uma das “forças motrizes do desenvolvimento económico e social”. As indústrias criati-vas lá surgem, sem que nada de concreto seja referido, bem como uma promessa de melhoria dos espaços culturais e de atenção ao Património.

ECONOMIA, QUE ECONOMIA?A diversificação económica foi um dos pre-gos no sapato que Chui Sai On usou durante o seu primeiro mandato. O crescimento da indústria do jogo e o seu efeito imbondeiro (seca tudo à sua volta) tiveram um efeito dramático no pequeno comércio local, que igualmente se ressentiu de um absurdo au-mento das rendas.

Segundo este programa, no seu segundo ponto, chamado “Desenvolvimento”, Chui terá agora algumas soluções para estes proble-mas. É certo que estas são ainda formuladas de forma muito geral, mas não deixam de ser mencionadas algumas portas de saída.

Assim, para além de insistir que Macau tem de ser construído como “um centro mundial de turismo e lazer”, para o que promete uma nova comissão, a parte inte-ressante, dedicada às PMEs, afirma que o

O QUE CHUI QUER FAZERNO PRÓXIMO MANDATO

• Introduzir mais autocarros públicos movidos a gás natural

• Aumentar o número de licenças especiais de táxi

• Introduzir medidas de controlo aos autocarros dos casinos

• Realizar estudos sobre quarta ponte entre Macau e Taipa

• Criar o Fundo de Manutenção dos Edifícios Industriais

• Criar um Fundo de Investimento e Desenvolvimento da RAEM

• Fomentar a cooperação com Hengqin, Nansha, Cuiheng e Zhongshan

• Criar mais serviços de apoio domiciliário

• Acelerar a construção de lares de idosos

• Concretizar “de forma completa” o regime do salário mínimo

• Manter a política de não importação de TNR para o lugar de croupier

• Criar um banco de talentos

• Realizar um censo sobre o estado de saúde da população

• Criar base de formação para médicos e enfermeiros

• Reforçar a fiscalização e gestão de obras públicas

• Concretizar o regime de responsabilidade dos dirigentes

UM CHOQUEDE REALIDADE

ANÁLISE

Governo lhes dedica lojas em parte do Centro Histórico, “preservando os ambientes (...) e criando uma atmosfera cultural e comercial nos bairros antigos”.

Resta saber como pretende o Governo fazer isto e como vai “estabelecer um siste-ma de seguro de crédito para importação e exportação”, se o sistema bancário de Macau nem sequer tem a credibilidade suficiente para que as empresas possam usar Pay Pal nas suas transacções com o exterior, nomea-damente nas vendas na internet.

Sem surpresa, surge o aprofundamento das relações com os países lusófonos, um

desiderato de Pequim e uma das áreas que pode incentivar a diversificação económica, bem como o fortalecimento das ligações à região do Delta do Rio das Pérolas, outro mercado interessante para os produtos e serviços de Macau.

AVISO AOS CASINOSQuanto ao Jogo e à revisão dos contratos, que se aproximam, Chui promete não olhar apenas para os aspectos positivos, como a entrada massiva de capital, mas também “as questões e as deficiências existentes”. Contudo, volta a não definir problemas ou

situações, para além dos trabalhadores dos casinos, a quem promete apoio e melhor certificação profissional.

É que, na ausência de um sério e exten-sivo estudo “científico” sobre o impacto dos casinos na cidade, desde a liberalização do Jogo, torna-se difícil a Chui diagnosticar os males, a não ser através das dores sociais que se vão fazendo ouvir. Logo, mais difícil ainda saber o que exigir aos casinos, quando da renovação dos contratos.

Espera-se que a RAEM olhe para Singa-pura, por exemplo, tentando aferir o quanto a introdução do Jogo afectou a cidade-estado e em quanto a beneficiou, quais as exigências e quais as contrapartidas.

PROMESSAS DIFÍCEISOs dois últimos pontos do programa abordam, respectivamente a “solidariedade” e uma “me-lhor governação”. Mas neles não encontramos nenhuma medida que se destaque das intenções que já têm vindo a ser expressas pelos mem-bros do Governo. As promessas são muitas mas, neste papel, ficam-se, na maior parte dos casos, pelas intenções. E assim desfilam os mais necessitados, os jovens, os talentos e os que precisam de cuidados de Saúde. Sobre este ponto, Chui promete concluir o hospital das Ilhas e pouco mais, quando são conheci-das as dificuldades porque passa o existente hospital público.

E, entenda-se, o candidato promete reformar a Função Pública, através de uma revisão de funções e competências, no sentido de optimizar os serviços e garantir as progressões nas carreiras, bem como proporcionar uma maior transparência nas decisões governativas. Contudo, nada indica neste programa como serão encetadas essas reformas e, muito menos, qual o objectivo final de tanta promessa e tanta correria. Por outro lado, custa a crer que, engalfinhado em estudos, previsões e auscultações, Chui consiga fazer em cinco anos uma efectiva reforma da administração.

AS FALHAS FUNDACIONAISExistem duas falhas fundacionais neste programa de candidatura: a falta de uma visão clara para Macau e uma postura ética que ultrapasse as barreiras óbvias do nacionalismo.

Lidas estas páginas, chega-se à conclusão que estamos perante um conjunto de ideias que pretendem colmatar alguns dos graves problemas que assolam a RAEM, mas nada que defina um rumo evidente ou contenha um horizonte a atingir.

E, neste momento, a cidade vive uma crise identitária séria, motivada pelo híper--crescimento económico e a uma sobrepo-pulação quotidiana desajustada ainda às dimensões espaciais, sociais e económicas. E trata-se de uma crise que passa muito pela monocultura do jogo e a ausência da diversificação económica, mas ela é também de ordem ética e cultural.

Uma atenção redobrada às questões da corrupção e da transparência governativa, um reforço de poderes do CCAC, parecem pouco efectivas ou mesmo ausentes neste programa. Tal esvaecimento não está em linha com as actuais directivas do Governo Central, nem se harmoniza com o passado recente da RAEM, onde esse tipo de proble-ma atingiu um alto nível. Todo o cuidado é pouco e urge criar condições organizacionais e legislativas que impeçam tais actos de serem cometidos no futuro.

LEI S INDICALE DA GREVENA FORJA?Muito interessante é a parte em Chui promete “o cumprimento total da Lei Básica”. Assim sendo, e a confiar na sua palavra, veremos no seu próximo mandato, com certeza, a subida à Assembleia Legislativa da Lei Sindical e da Lei da Greve, garantidas na mini-constituição de Macau e que não foram, após quinze anos de RAEM, ainda implementadas.Aliás, a falta destes diplomas poderá ser motivo de desarmonia social, num momento em que os trabalhadores têm saído à rua para defender os seus direitos. A sua existência, dizem quase todos os especialistas, balizaria as acções de protesto e marcaria os seus limites, algo que a legislação actual deixa em branco. Tal facto é entendido como um risco, também para os patrões. Os sucessivos Governo da RAEM, sob a influência das poderosas elites locais, nunca foi capaz de avançar com estes diplomas. Quando eles foram apresentados por deputados, sob a forma de projecto de lei, rapidamente conheceram o sabor do chumbo.

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GCS

3 o programahoje macau segunda-feira 18.8.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

O elevado preço dos imó-veis e a falta de oferta no sector da habitação foi um dos pontos altos

na sessão de perguntas e respostas durante a apresentação do programa político de Chui Sai On. Este sábado, no Dome, o candidato ao cargo de Chefe do Executivo foi claro ao afir-mar que a oferta de casas à população será “a prioridade das prioridades para o próximo Governo”.

Contudo, Chui Sai On decidiu atribuir um papel mais impor-tante às concessionárias de jogo nesta área. O candidato pretende “responsabilizar as empresas da indústria do jogo e outras gran-des empresas pelo alojamento e transporte dos trabalhadores não residentes (TNR)”.

Não esquecendo a habitação pública e o futuro “planeamento das outras zonas dos novos aterros”, Chui Sai On reconheceu que “o Go-verno tem de manter a estabilidade com habitação suficiente”. “Iremos conversar com o sector imobiliário para que possa haver maior oferta de imóveis particulares. Já recebe-mos muitas queixas em relação ao mercado privado e à concessão de terrenos, vamos acelerar o ritmo de concessão para existir mais casas”, referiu Chui Sai On.

Contudo, o candidato a mais um mandato à frente do Governo da RAEM chamou a atenção para o facto de “não ser possível que todos os terrenos que tenhamos sejam para habitação, mas será uma prioridade para nós. Não é possível não termos terrenos para outro tipo de desenvolvimentos, para sermos

O candidato ao lugar de Chefe do Exe-cutivo garantiu este

sábado que vai continuar a ouvir o que a população tem a dizer sobre o desenvolvi-mento “paulatino da política democrática”, mas voltou a frisar que irá apresentar as opiniões ao Governo Central. Em resposta aos jornalistas e aos membros da Comissão Eleitoral, Chui Sai On escusou-se a comentar o movimento político que tem ocorrido em Hong Kong.

Cinco secretariasno novo Governo Chui Sai On levantou finalmente a ponta do véu quanto à composição do próximo Governo: serão, afinal, cinco Secretários, pondo fim a um período de especulação sobre a possibilidade de surgir mais uma Secretaria. “Para já sugiro que manteremos cinco Secretários. Quanto às pessoas que serão nomeadas irei anunciar com a maior brevidade possível”, garantiu Chui Sai On. O candidato ao cargo garantiu, em resposta ao membro da Comissão Eleitoral e ex-deputado, Ung Choi Kun, que os processos de realização de consultas públicas e de produção legislativa serão mais facilitados. “No próximo Governo esse vai ser um aspecto a ser considerado. Haverá a necessidade de acelerar os trabalhos dos planos legislativos e temos espaço de melhoria na produção legislativa”, assumiu o candidato ao cargo de Chefe do Executivo. “Vi muitas críticas sobre as consultas públicas, se são verdadeiras e se reflectem as opiniões da população. Vamos definir o que tem ou não de ser feito através de consulta pública, há que definir o tipo de consulta e analisar as necessidades. Deve-se uniformizar o processo num só serviço ou continuar a entregar a pasta a cada Secretário, que depois faz o projecto em vários serviços?”, questionou Chui Sai On.

Prometida Comissão do Centro Mundialde Turismo e LazerOutra novidade presente no programa político de Chui Sai On prende-se com a criação da Comissão do Centro Mundial de Turismo e Lazer, a qual será presidida pelo Chefe do Executivo e que surge no contexto do “ajustamento e controlo da indústria do jogo”. No Dome, o candidato garantiu estar atento ao elevado número de turistas. “Há um aumento de turistas e há uma preocupação se não teremos demasiados turistas que afectam a qualidade de vida da população. Vamos continuar a estudar dando como prioridade a não influência à vida da população”, frisou o candidato.

“DESENVOLVIMENTO PAULATINO” DA DEMOCRACIA

Ritmos diferentes

Ambrose So, director-executivo da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), e membro da Comissão Eleitoral, mostrou-se surpreendido com o anúncio. “Foi algo que ouvi pela primeira vez. Vamos manter o diálogo com o Governo para saber exactamente qual é a ideia e perceber se conseguimos lidar com a situação”, disse, citado pela agência Lusa. Segundo o director-executivo da operadora de jogo líder de mercado, a SJM já atribui um subsídio de habitação aos seu trabalhadores entre 2 a 5 mil patacas. “Ter que disponibilizar-lhes casas é já outro patamar. Mesmo pedindo às concessionárias que construam casas para os TNR, é preciso disponibilizar terrenos, não podemos construir no ar. De onde é que os terrenos vêm? Temos de falar com o Governo de Macau”, acrescentou Ambrose So.

O candidato a Chefe do Executivo quer que as operadoras de jogo passema disponibilizar casas aos seus trabalhadores não residentes. Chui Sai On defendeuque a oferta de habitação pública e privada será também o principal objectivo

CHUI SAI ON QUER CASINOS RESPONSÁVEIS POR ALOJAR TNR

Paz, pão e sobretudo habitação

“O ritmo de desen-volvimento do sistema democrático é diferente em cada região. Vamos cumprir a Lei Básica e estamos abertos a ouvir as opiniões da população e iremos transmiti-las ao Governo Central. Não vou comentar as situações

de outras regiões. Há dois anos, durante a revisão dos anexos da Lei Bási-ca, também houve esse procedimento e a decisão de concretização depen-de do Governo Central”, assumiu.

Se Agnes Lam, docente da Universidade de Macau

(UM) quis saber sobre a possibilidade de vir a ser realizada uma consulta pública sobre “os modos de eleição do Chefe do Exe-cutivo”, Jorge Fão, também membro da Comissão Eleitoral e membro da di-recção da Associação dos Aposentados, Reformados

e Pensionistas de Macau (APOMAC) falou da pos-sibilidade dos protestos da região vizinha virem a acontecer na RAEM.

“Tem um calendário e estratégia para levar a cabo o sistema democrático? Estamos a ver o que existe em Hong Kong, que destrói a estabilidade, e penso que o mesmo poderá acontecer em Macau. Tem alguma ideia de como podemos enfrentar esse risco?”, apontou Jorge Fão. - A.S.S.

competitivos com outros países”. Apesar de promover a aceleração dos processos no mercado priva-do, Chui Sai On nada disse sobre o controlo dos altos preços dos imóveis.

ECONOMIA VAI ABRANDARNão são apenas as casas que vão continuar caras nos próximos anos. Em resposta aos membros da Co-

missão Eleitoral, Chui Sai On pre-viu “vários problemas” advindos do rápido desenvolvimento econó-mico. “O sector do jogo foi o pulsar da economia e o sector imobiliário desenvolveu-se. Vamos enfrentar muitos problemas, como a política de emprego, os recursos humanos e a falta de espaço em Macau. O Governo já conseguiu ver quais são os problemas”, assumiu.

Contudo, o candidato frisou que “o sector do jogo vai entrar numa fase não tão acelerada em termos de desenvolvimento e vai entrar num período de reajusta-mento. Tenho dúvidas se teremos o mesmo ritmo de desenvolvi-mento no futuro, é difícil todos os meses ter um crescimento de dois dígitos”.

A necessidade de diversifica-ção económica foi também outro ponto abordado pelos membros da Comissão Eleitoral, tendo Chui Sai On assumido dificuldades no cumprimento desse objectivo.

“Nos próximos cinco anos temos muito trabalho para levar a cabo a diversificação económica. Estamos a depender de uma só indústria e através da cooperação regional é que vamos reforçar o desenvolvimento noutras áreas. Vamos desenvolver os projectos de forma faseada”, apontou o candidato.

A SURPRESA DE AMBROSE SO

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GABRIEL TONG

GERALMENTE BOM

MELINDA CHAN

FALTA CONCRETIZAR

SI KA LON E CHAN MENG KAM

VIVA O FUNDO!

TIAG

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ARA

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HOJE

MAC

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4 o programa hoje macau segunda-feira 18.8.2014

A apresentação do programa po-lítico de Chui Sai On acabou por gerar alguma surpresa pelas medi-

das anunciadas na área do jogo e da reserva financeira, nomeadamente quanto à criação do Fundo de In-vestimento e Desenvolvimento da RAEM. Alguns deputados têm dú-

vidas sobre o lado prático das novas medidas anunciadas este sábado pelo candidato a Chefe do Execu-tivo. Mas os membros da Comissão Eleitoral exultaram...

REACÇÕES CRIAÇÃO DO FUNDO DE INVESTIMENTO E DESENVOLVIMENTO GEROU SURPRESA

Um programa que convenceu e também nãoCECÍLIA L INcecí[email protected]

ANDREIA SOFIA [email protected]

• EM GERAL, “é um bom programa político, mas há muitos pontos que merecem o nosso estudo, como o trânsito ou a atribuição de licenças especiais de táxi. Há coisas que são aceitáveis, mas há falta de porme-nores”. (Chui Sai On) “falou do desenvolvimento da indústria do jogo de uma maneira mais estável e da constituição de um sistema para melhorar a monitorização do orça-mento, e isso responde a algumas demandas da sociedade”.

Em relação às políticas para a área da habitação, o também vice-director da Faculdade de Direito da Universi-dade de Macau (UM) considerou que “são medidas para reagir à procura, que é muito grande por parte da sociedade”, apesar de defender que não são suficientes, uma vez que a procura de casa por parte dos que vivem em Macau é elevada. “Mas são medidas positivas que demonstram a atenção a estas exigências e a estes problemas dos cidadãos”.

• O QUE a intriga é saber como é que estes planos vão ser con-cretizados: “O mais importante é que os cinco Secretários e os directores sigam as po-líticas e as ponham em prática o mais depressa possível. Isso é o mais importante para os

próximos cinco anos. Vamos ter muitas infra--estruturas então temos de ver como podemos controlar o orçamento, e a AL tem de ter mais poder para monitorizar as despesas. É isso que a população procura”, disse ao HM.“O mais importante

é garantir que essas políticas e ideias sejam bem sucedidas. Por enquanto, a coopera-ção entre serviços não tem sido boa, então estamos à espera de ver verdadeiras mu-danças nesta área”, acrescentou ainda a deputada.

• ESTE RECÉM-CHEGADO à AL destacou a criação do Fundo de Investimento e Desenvolvimento da RAEM. “É uma surpresa e estou contente com esta ideia. Acredito que é uma resposta ao nosso pedido de criação de uma empresa para todos os residentes, que tínhamos apresentado nas eleições do ano passado. Pelo menos agora vamos ter um mecanismo, não vão existir abusos com a reserva financeira”. Também Chan Meng Kam elogiou

a criação deste fundo. Citado pelo canal chinês da Rádio Macau, o deputado disse esperar que o Executivo possa usar o retorno do investimento da reserva financei-ra para criar um “mecanismo de protecção a longo prazo para os residentes em várias áreas, como na educação, serviço de saúde e habitação”. O HM tentou contactar mais deputados do hemiciclo, mas até ao fecho desta edição tal não foi possível.

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GCS COMISSÃO ELEITORAL

hoje macau segunda-feira 18.8.2014 5 o programa

AGNES LAM

PROMOÇÃO DA REFORMA POLÍTICA • A ASSOCIAÇÃO Energia Cívica de Macau promoveu ontem uma “Mesa Redonda”, para discutir o Programa Político Eleitoral de Chui Sai On. A presidente da associação, Agnes Lam, considera que o único candidato a Chefe do Executivo deve promover de forma mais acti-va a reforma política de Macau. A académica espera que Chui Sai On, durante o período de candidatura, dê mais detalhes sobre alguns dos pontos-chave das novas políticas do seu programa, como “Promover o reordenamento dos bairros anti-gos, numa perspectiva de renovação urbana” e “Criar um mecanismo de financiamento do Fundo de Seguran-ça Social através da acoplagem de saldos dos exercícios”. Agnes Lam apontou ainda que o programa não inclui alguns dos problemas mais importantes da sociedade, dando como exemplos a capacidade de recepção de turistas e o problema da mudança de estrutura das famílias tradicionais devido à necessidade de ambos os pais terem de trabalhar.

• JUNTO DE alguns membros da Comissão Eleitoral o programa político teve alguma aceitação. Davis Fong, também docente na área do jogo da Univer-sidade de Macau (UM), disse ao canal chinês da Rádio Macau que a criação da Comissão do Centro Mundial de Turismo e Lazer “pode ajudar a atingir o objectivo de Macau ser esse centro, promovendo o desenvolvimento da diversificação económica”. Em relação à garantia de alojamento para não residentes por parte das operadoras de jogo, Davis Fong considera que, se houver cooperação com a China, tal medida não trará grande pressão para as concessionárias. Sobre o controlo dos autocarros dos casinos, Am-brose So, director-executivo da SJM, defendeu a realização de uma reunião entre o Governo e todas as operadoras, para que se possa atingir um consenso sobre os percursos dos shuttle-bus. Ip Sio Kai, presidente da Associação de Bancos de Macau (ABM) disse que a criação do Fundo é uma “proposta adequada” para garantir maiores retor-nos dos investimentos feitos pela reserva financeira. Ip Sio Kai sugeriu ainda que parte do dinheiro da reserva financeira seja injectado neste Fundo, que deve ser aplicado em projectos que tragam um desenvolvimento sustentável para Macau, ao nível da criação de novas indústrias. Tai Wa Hou, presidente da Associação dos Médicos Hospitalares de Macau, considerou o programa político de Chui Sai On “completo e prático”, ten-

O MELHOR DOS MUNDOS

do destacado a formação para os talentos jovens. Tai Wa Hou espera que “as políticas possam, na prática, resolver o problema da falta de médicos”. Já Ho Wai Tim, presidente da Sociedade de Ecologia de Macau, acredita que Chui Sai On “já sabe o que vai fazer no futuro”, uma vez que o seu programa político dá destaque à protecção ambiental e a necessidade de respeitar o Protocolo de Quioto. Ho Wai Tim considerou importantes medidas como a criação de mais autocarros movidos a gás natural ou o controlo do número de autocarros dos casinos.

GCS

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hoje macau segunda-feira 18.8.20146 POLÍTICA

ANDREIA SOFIA [email protected]

O relatório da Comissão de Acompanha-mento para os

Assuntos das Finanças Pú-blicas que traça o balanço do ano legislativo chama a atenção para a necessidade de mudanças na Macau Investimento e Desenvol-vimento SA, uma sociedade comercial anónima criada em 2011.

Segundo o documento, “alguns deputados da Co-missão sugeriram o aumento do nível da Macau Investi-mentos e Desenvolvimento

O relatório que traça o balan-ço da actividade da Comis-são de Terras e Concessões

Públicas da Assembleia Legislativa (AL) é claro: depois do sequestro da Reolian, o Governo deve mudar o actual sistema contratual dos autocarros públicos.

“Com vista a prevenir situa-ções de ilegalidade e a existência de dois sistemas para o mesmo serviço, o Governo deve rever, com a maior brevidade possível, o actual contrato de prestação de serviços de autocarros”, pode ler-se no documento.

O mesmo relatório refere ainda que “algumas opiniões (dos deputados) apontaram que o Governo deve suspender, o mais brevemente possível, o actual método de funcionamento do serviço público de autocarros e aplicar um modelo de funciona-mento de mercado, sendo que as operadoras devem operar por sua própria conta”.

Estas ideias são o resultado de dez reuniões que a Comissão teve durante a V Legislatura da AL, que terminou a semana passada. Para além da discussão sobre o serviço público de autocarros,

PEDIDAS MUDANÇAS NA MACAU INVESTIMENTO E DESENVOLVIMENTO S.A.

Tudo em prol das indústrias locais

AUTOCARROS DEPUTADOS EXIGEM NOVO MODELO CONTRATUAL

Sem dinheiros públicosa Comissão esteve ainda encar-regue da discussão do mercado televisivo, tendo sido sugerida a liberalização dos serviços.

O Executivo deve, assim, “há que criar condições para atrair mais operadoras para além da TV Cabo SA” além de “abrir,

com a maior brevidade possí-vel, o mercado de prestação do serviço televisivo, introduzindo mais concorrência, com vista a garantir o desenvolvimento deste sector”.

EXIGIDOS DADOS ACTUAIS SOBRE O METRO LIGEIROO projecto do Metro Ligeiro também foi visto à lupa por parte desta Comissão, tendo os deputa-dos referido que o Governo deve “utilizar dados mais actualizados e informações mais recentes para a elaboração do orçamento, incluindo estimativas estáticas e dinâmicas, a fim de evitar grandes diferenças no orçamento”.

O relatório refere ainda que “alguns membros da Comissão entendem que o Governo utilizou dados antigos para a estimativa orçamental das obras, portanto, não consegue demonstrar qual é, verdadeiramente, o orçamento dos projectos em causa”.

Apesar dos deputados concor-darem, “por unanimidade”, com o traçado que passará junto ao Centro Ecuménico de Kun Iam e depois pela Avenida 24 de Junho, até ao Jardim das Artes e ao Lago Nam Van, não há consenso quan-to ao traçado na zona norte. “A comissão não conseguiu chegar a consenso porque as informa-ções são insuficientes. Tendo em consideração a experiência com o traçado da Rua de Londres nos NAPE, a comissão alertou o Governo para a qualidade dos trabalhos de auscultação”, pode ainda ler-se.

No geral, os deputados da Comissão entendem que o Metro Ligeiro deve avançar o quanto antes. “Já se gastaram dez anos com a consulta pública sobre o projecto do Metro Ligeiro. As obras de construção do segmento da Taipa já se iniciaram, mas só em 2016 é que aquele segmento entra em funcionamento. Os membros da Comissão entendem que, face aos engarrafamentos do trânsito e o aumento gradual do número de turistas, Macau precisa, urgente-mente, do Metro Ligeiro”, refere o documento. - A.S.S.

Terminado o ano legislativo, a Comissão dos Assuntos das Finanças Públicas sugere ao Executivo que a sociedade comercial criada em 2011 seja remodelada para gerir um “fundo geral da população” que iria fomentar as indústrias locais

SA e o aperfeiçoamento tanto da regulamentação jurídica aplicável como do regulamento interno, da gestão e funcionamento, e da comissão de avaliação de risco da empresa”.

Para além disso, foi ainda sugerida “a injecção de re-cursos financeiros para a sua transformação numa empresa

gestora de um fundo geral da população, detentora de instrumentos estratégicos para o desenvolvimento das nossas indústrias, e cuja função seria manter ou valorizar a reserva financeira da RAEM”.

A sociedade foi criada entre o Governo, o Instituto de Promoção do Comércio e Investimento (IPIM) e o Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercializa-

ção, e visa, segundo o Boletim Oficial (BO), “a concepção, gestão e exploração de espa-ços destinados à implantação física de empresas e entidades não empresariais”.

A FAVOR DE UM “REGIME PRUDENCIAL”Durante a V Legislatura da Assembleia Legislativa (AL), os deputados da Co-missão analisaram sobretu-

do a actual forma de gestão e de investimentos feitos pela reserva financeira. Na última reunião antes da elaboração do relatório final, o deputado Mak Soi Kun, que preside à Comissão, falou da neces-sidade de actualização das leis que regem essa gestão.

Foi assim proposto ao Governo “a formulação de um documento-definição de um regime prudencial de

gestão da reserva financeira da RAEM – políticas de investimento e composição de activos”, sendo que “seria susceptível de melhor esclare-cer a Comissão e outras partes interessadas sobre quais os limites de exposição razoáveis aos diferentes riscos de inves-timento, nomeadamente os de natureza cambial”.

A Comissão exige ainda à Autoridade Monetária e Cambial (AMCM) a apresentação de relatórios intercalares com maiores detalhes face aos investi-mentos que são feitos. Até finais de Junho de 2014, o montante global dos activos da reserva financeira atingia 242,030 mil milhões de patacas, incluindo 116,460 mil milhões de patacas de reserva básica e 125,200 mil milhões de reserva extraordinária. Em relação aos investimentos feitos em renminbi, os prejuízos no primeiro trimestre foram de 1,070 mil milhões de pata-cas, devido às flutuações da moeda chinesa. Contudo, no segundo trimestre deste ano os lucros do investimento em RMB ascenderam a 1,440 mil milhões de patacas, devi-do à estabilização da moeda. Os deputados da Comissão consideraram “racional pre-ver que, no futuro, o número (dos montantes da reserva financeira) venha a registar aumentos contínuos”.

242,030mil milhões de patacas é o

montante global dos activos

da reserva financeira até

finais de Junho de 2014

Page 7: Hoje Macau 18 AGO 2014 #3155

7 políticahoje macau segunda-feira 18.8.2014

PENSÕES ILEGAIS REVISÃO DE DIPLOMA CONTINUA À ESPERA

Engavetados“P ARA já não me posso

queixar”, afirmou o presi-dente da Sociedade Aber-

ta, Jason Chao ao HM quando confrontado com o adiamento da decisão sobre o ‘referendo civil’. Na passada sexta-feira o Tribunal de Última Instância (TUI) tornou pública a sua posição: a decisão ao recurso colocado por Jason fica adiada.

Segundo o ponto quatro do artigo 627º do Código de Proces-so Civil, artigo em que se baseou o TUI, o relator principal Song Man Lei tem 30 dias para elabo-rar um memorando, contendo o enunciado das questões a decidir e da solução para elas proposta, “(...) concluída a discussão e formada a decisão do tribunal sobre as questões a que se re-fere o memorando é o processo concluso ao relator ou, no caso de este ter ficado vencido, ao juiz que deva substituí-lo, para

V ÁRIOS foram os membros do Conselho de Planea-mento Urbanístico (CPU)

que se mostraram preocupados com a preservação do estilo ar-quitectónico dos edifícios alvo de discussão na passada sexta--feira, durante mais uma reunião pública. Sobre um projecto loca-lizado na Rua de São Domingos, o arquitecto Rui Leão referiu que é necessário ter mais atenção à conservação de outros elementos à parte das fachadas. A declaração do arquitecto foi proferida depois de ter também sugerido a preser-vação do átrio da propriedade, ao invés de apenas manter a fachada.

Outra das preocupações refe-ridas foi a falta de esclarecimen-tos sobre as leis que envolvem a construção e remodelação dos edifícios alvo de debate. Um dos

FLORA [email protected]

O S deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting realiza-ram na sexta-feira passada

uma conferência de imprensa onde publicaram o balanço dos trabalhos realizados na Assembleia Legislativa (AL) durante a sessão legislativa que agora termina.

Para Mak Soi Kun, os dois de-putados realizaram um bom trabalho no que diz respeito à supervisão dos problemas de habitação e utilização racional do dinheiro público por parte do Governo, sublinhando que o Executivo aceitou a sugestão dos dois sobre o aumento da taxa de volume e do número das habitações públicas na zona A dos novos aterros.

TUI DECISÃO SOBRE “REFERENDO CIVIL” ADIADA

Ultrapassadoselaboração do acórdão, no prazo de 30 dias.”

Confuso? O HM explica. O TUI ganha assim mais 30 dias para elaborar um documento explicativo sobre o caso e com isso tomar uma decisão sobre o ‘referendo civil’. Este tempo extra ultrapassa as datas marcadas para as actividades propostas pelas três associações pró-democratas que organizaram o ‘referendo civil’.

“Os cinco dias [úteis] que o TUI tem para tomar um decisão ainda não terminaram, isso só acontecerá na próxima terça--feira, portanto para já não me posso queixar”, esclareceu Jason Chao, que acredita que até esse dia “a decisão surgirá”.

Para já, a luz ao fundo do túnel não existe. Agendadas para os dias 24 e 30 de Agosto, a realização das actividades é ainda uma incerteza. - HM

PLANEAMENTO URBANÍSTICO E A PRESERVAÇÃO

Preocupadosmembros do Conselho e presi-dente da direcção da Aliança de Povo de Instituição de Macau, Chan Tak Seng, referiu mesmo que a falta de explicações sobre a legislação vigente aos membros do CPU é prejudicial para a re-solução de problemas. “Se não compreendermos a legislação, como podemos ajudar?”, ques-tinou Chan durante a reunião.

Na passada sexta-feira, houve ainda espaço para dis-cutir a questão de colocação de publicidade em prédios classificados como património cultural. Um dos membros, que é frisou que é necessário proibir toda e qualquer publicidade em zonas de interesse histórico, justificando que as disposições actuais permitem que as pessoas contornem a lei. - L.S.M.

MAK SOI KUN E ZHENG ANTING EXIGEM REGIME DE RESPONSABILIZAÇÃO

Envergonhados

LEONOR SÁ [email protected]

A revisão da Lei de Proibi-ção de Prestação Ilegal de Alojamento continua em cima da mesa, sem

que o Governo se decida. Pelo menos para já. De acordo com o deputado e presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assun-tos da Administração Pública, Chan Meng Kam, todos os membros do colectivo consideram que a revisão do diploma deve prosseguir, tendo mesmo sido avançada a possibilidade de criminalizar a prestação ilegal de alojamento. O fim da presente sessão legislativa representa também o término de discussão dos assuntos até aqui debatidos pela Comissão, pelo que foram elaborados dois relatórios finais. Os documentos dizem respeito à questão da fiscali-zação do serviço de táxis e revisão do Regime Jurídico do Transporte de Passageiros em Automóveis Ligeiros de Aluguer, bem como ao já referido diploma relativo às pensões ilegais.

Sobre a revisão do diploma relativo aos táxis, sabe-se apenas que a fiscalização por meio de gravações áudio e agentes (dos Serviços para os Assuntos de Tráfego) à paisana deve ir para a frente, embora ainda nada tenha sido aprovado pelo Governo. Neste momento, decorre uma consulta pública, até 23 de Se-tembro, para averiguar a opinião da população relativamente à

aplicação da lei pela PSP e os novos métodos de fiscalização.

REVISÃO NA GAVETAA leitura do relatório final da Comissão não dá margem para dúvidas: a possibilidade de revisão do diploma sobre as pensões ilegais não foi esquecido pelo Governo, ainda que, para já, esteja dentro da gaveta. “Os representantes do Governo consideram que ainda há margem para aperfeiçoamento da lei em vigor, adiantando que vão efectuar análises e estudos”, lê-se no documento. Contudo, o relatório avança que o Executivo tem algumas reservas quanto à criminalização. Já a opinião da população diverge noutro sentido. “Algumas opiniões da sociedade manifestam dúvidas quantos aos efeitos das disposições legais consagradas na lei em vigor”, lê--se no relatório da Comissão. De acordo com o colectivo, há quem seja a favor da criminalização e revisão do regime de sanções, ou seja, pela imposição de multas mais elevadas.

De acordo com a Comissão, as zonas mais afectadas pela existência de pensões ilegais são junto ao Porto Exterior, nos NAPE, perto do edifício Dynasty Plaza, na zona norte da península e na Taipa. No mesmo documento, o colectivo afirma que o aumento deste tipo de alojamento está relacionado com os interesses e figuras associadas aos casinos, fomentando crimes

de “cárcere privado, imigração ilegal e permanência fora do prazo autorizado”.

FALAR MENOS E FAZER MAISChan Meng Kam avançou ainda que ambas as questões serão dis-cutidas dentro de seis meses, já que a próxima sessão legislativa vai contar com a introdução de dois outros temas, que têm vindo a ser igualmente debatidos: o recrutamento centralizado de fun-cionários e a condução de veículos sob efeito de bebidas alcoólicas. O problema de condutores alcoo-lizados nas ruas de Macau tem já sido alvo de várias críticas, alguns deputados argumentando mesmo que é necessário rever a Lei do Trânsito Rodoviário nesse sentido. “Deve ser ponderada a revisão da lei, reforçando as penas para a condução [sob efeito de álcool, droga e excesso de velocidade], no sentido de combater a condução perigosa”, referiu a deputada Chan Hong, numa reunião plenária de Maio deste ano.

No entanto, o deputado consi-dera que nada foi feito relativamen-te à eliminação de cargos inúteis. “O governo não publicou qualquer relatório de avaliação dos princi-pais responsáveis pelos serviços públicos incluindo Secretários e Directores de Serviços”, disse Mak Soi Kun, mostrando-se pouco sa-tisfeito com ausência de acção. Na sua opinião, “os deputados fazem o máximo que podem”.

“É a administração que domina o Governo da RAEM. Nós fazemos o máximo que podemos; contu-do, muitas vezes, sentimo-nos indignos do lugar que ocupamos por não conseguirmos resolver os problemas da população de forma imediata”, salientou Mak.

Zheng acrescentou que se

o Governo não fizer nada para substituir os que não trabalham, nem implementar um regime de responsabilização, não só os dois deputados mas toda a assembleia se vai sentir indigna perante os residentes de Macau. Portanto, Zheng apela para que o novo Governo implemente o regime de responsabilização e publique um relatório de avaliação dos princi-pais cargos públicos.

Page 8: Hoje Macau 18 AGO 2014 #3155

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8 hoje macau segunda-feira 18.8.2014SOCIEDADE

ANDREIA SOFIA [email protected]

É oficial: Bill Chou, professor de ciência política, está de saída da Universidade de Macau (UM), onde dava

aulas desde 2002. O processo de suspensão começaria no próximo dia 20 e duraria até ao final do mês, com base numa primeira carta recebida pelo professor no início do mês. Contudo, no passado dia 13 o académico recebeu uma segunda carta da UM a avisar de que o seu contrato não será renovado.

458 alunos sem direito a bolsas de empréstimo

CHEFE NEGA INTERFERÊNCIAChui Sai On, Chefe do Executivo cessante, negou ontem qualquer intervenção no caso de Bill Chou. Em declarações reproduzidas pelo canal chinês da Rádio Macau, Chui Sai On frisou que “a UM tem as suas próprias medidas de administração”. “Nunca participei nem intervim na gestão da UM desde que fui Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Respeito a gestão dos recursos humanos que é feita pela UM”, apontou.

“A liberdade académica está a deteriorar-se. Penso que os académicos de Macau se deviam juntar para formar uma organização laboral que proteja os seus direitos e a liberdade académica, que é fundamental para o desenvolvimento do ensino superior em Macau”BILL CHOU Professor universitário

O processo de suspensão do professor de ciência política iria terminar no dia 31, mas a Universidade de Macau enviou a semana passada uma carta a Bill Chou a informá-lo de que o seu contrato não será renovado. O docente promete ir a tribunal e pede uma organização que defenda os direitos dos académicos

UNIVERSIDADE DE MACAU NÃO RENOVA CONTRATO COM PROFESSOR-ACTIVISTA

Bill fora da quinta

Contactado pelo HM, Bill Chou confirma que não lhe foi dada nenhuma explicação para esta decisão. “Provavelmente não estão satisfeitos com o meu activismo político e tenho alguns documentos confidenciais que provam isso. Sei que a não renovação do contrato não tem nada a ver com a minha per-formance como professor”, disse o académico, que prometeu divulgar esses mesmos documentos numa fase posterior, depois de avaliar a situação com os seus advogados.

UNIVERSIDADE EM TRIBUNALPara já, Bill Chou garante que irá levar o caso a tribunal, tal como

já tinha afirmado publicamente. “Vou deslocar-me à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) na próxima quarta-feira, porque me pediram para ir lá para darem seguimento à minha queixa. Mas irei para tribunal. A universi-dade nunca respondeu às minhas perguntas, tanto sobre o processo de suspensão como sobre a renova-ção do contrato”, assume ao HM.

Para já, Bill Chou assume “es-tar bem” em termos profissionais. “Tenho outros projectos, mas neste momento não posso torná-los pú-blicos. Continuarei a receber um salário”, aponta.

Mais do que ter uma presença forte em termos de activismo político, Bill Chou acredita que a sua ligação à Associação Novo Macau (ANM) lhe trouxe alguns problemas. Ainda assim, decidiu “correr o risco”.

LIGAÇÕES PERIGOSAS“Desde que me tornei membro da ANM (actualmente é vice-presi-

SÃO hoje publicados os re-sultados da atribuição das

bolsas-empréstimo e bolsas extraordinárias para o próximo ano lectivo 2014-2015. Segundo dados preliminares avançados ontem pela Direcção dos Ser-viços de Educação e Juventude (DSEJ), 458 alunos não foram escolhidos para receber a bolsa--empréstimo, por falta de entrega

de documentos necessários, tendo sido aceites 1419 candidaturas. No total, a DSEJ recebeu 2737 candidaturas para diversos tipos de bolsas, sendo que 28 alunos (a totalidade das candidaturas) irão receber a bolsa extraordinária. Por sua vez, 443 estudantes vão receber subsídio de alojamento e 36 o subsídio de transporte. Os candidatos admitidos para

receber o apoio deverão entregar a documentação até ao dia 17 de Outubro, sendo que os resultados para as bolsas de mérito e bolsas especiais serão publicados até ao dia 22 de Setembro. Os candida-tos que não conseguiram receber o apoio podem apresentar recla-mação junto do Fundo de Acção Social Escolar até ao próximo dia 1 de Setembro.

dente da direcção) muita coisa me aconteceu. Sabia que havia esse risco e o pior cenário seria perder o emprego”, assume.

Contudo, Bill Chou fala de “outras pessoas que pertencem à ANM e que trabalham na UM e que conseguem manter os seus empregos, mas o que importa é as actividades em que participam, muito mais do que pelo facto de pertencerem à ANM. Sempre estive mais exposto do que essas pessoas”, refere o académico, que não quis avançar nomes, ga-rantindo apenas que pertencem a vários departamentos da UM.

“Quais as razões pelas quais eles conseguem manter o seu em-prego e eu não? A única diferença entre mim e eles é que eu sou pró-activo na área do activismo político”, defende.

ACADÉMICOS DEVIAM JUNTAR-SEA saída de Bill Chou da UM acon-tece a seguir à saída de Eric Sautedé

da Universade de São José (USJ), sendo que esta expulsão se devem a motivos políticos. Bill Chou pede, por isso, que os académicos se juntem.

“A liberdade académica está a deteriorar-se. Penso que os académicos de Macau se deviam juntar para formar uma organi-zação laboral que proteja os seus direitos e a liberdade académica, que é fundamental para o desen-volvimento do ensino superior em Macau”, defende ao HM.

Mas mais do que isso, Bill Chou aponta o dedo ao Executivo. “O Governo também de investigar esta violação à liberdade académica e também tem de rever a lei laboral no sentido de garantir maior pro-tecção aos académicos”, frisa.

“O Governo já disse que não intervém na liberdade académica, mas isso não significa nada quando não acontece nada. Neste momento a direcção da universidade tem um elevado grau de autonomia e viola a liberdade académica, então o Governo tem de rever a lei para, de facto, promover a protecção da liberdade académica. Fazer nada não representa nenhum tipo de protecção”, conclui Bill Chou.

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9 sociedadehoje macau segunda-feira 18.8.2014

Droga Tráfico nas Portas do Cerco subiu 30% “Durante Janeiro a Julho deste ano foram registados dez casos de tráfico de droga no posto fronteiriço da zona das Portas do Cerco, capturando um total de 1,5 quilogramas de droga. Um aumento de 30% comparado com o período homólogo do ano passado”, afirmou o Chefe do Pelotão Cinotécnico, Pun Kueng In, na passada sexta-feira. As autoridades informaram ainda que as pessoas capturadas foram principalmente jovens residentes de Macau, com idade média de 25 anos.

Nova Era gerou mais queixas em JulhoDados da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) citados pela Rádio Macau revelam que a nova empresa de autocarros públicos, a Nova Era, liderou o número de queixas no mês passado. No total, a DSAT recebeu 228 opiniões sobre o serviço de autocarros públicos, sendo que 68 pertenciam à Nova Era, 43 àTransmac e 32 à TCM. A DSAT garantiu à Rádio Macau que as opiniões apresentadas estão “relacionadas com a atitude de serviço dos funcionários ou condutores das companhias de autocarros, a frequência e o ajustamento dos percursos dos autocarros, a colocação das paragens de autocarros e a manutenção das instalações”.

Governo prevê 15.800 novas casas Dados oficiais da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) prevêem que os actuais 113 empreendimentos habitacionais em construção ou apreciação possam gerar 15.800 novas casas e 16 mil lugares em parques de estacionamento. Os dados, que dizem respeito ao segundo trimestre deste ano, mostram que os 85 empreendimentos privados ainda em construção vão gerar 14 mil casas, sendo que 10 mil delas ficarão localizadas em Macau. Em termos de tipologia das fracções, esperam-se 10.300 casas T2 e 3500 T3. A DSSOPT garante ainda que cerca de 220 empreendimentos estão em fase de projecto, sendo que poderão gerar, com base num estudo, cerca de 20.920 novos apartamentos. Contudo, 60% dos projectos ainda estão em apreciação.

Caritas sugere aposentação só aos 65 anosAlgumas empresas e institutos de Macau definem a idade de reforma a 60 anos, mas a chefe do Centro de Mulheres da Caritas, Hellen Mary Iok Lin Sou, referiu que os idosos com 60 anos são ainda saudáveis e fortes, e que acha melhor que se aposentam aos 65 anos. Hellen apontou ao canal chinês do Rádio Macau que muitas pessoas com 60 anos se prestam à reforma, mas não têm planos de vida após a aposentação. Hellen considera que os empregadores devem pensar que as pessoas com 60 anos podem trabalhar mais um ou dois anos, para manter os rendimentos e uma vida mais esperançosa. A chefe do Centro de Mulheres da Caritas pede ainda que o governo promova mais aulas e actividades para os aposentados.

Esperados mais de 25 mil novos quartos de hotel Dados oficiais da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) revelam que, de um total de 46 empreendimentos hoteleiros já construídos ou cuja construção está em fase de apreciação, ficarão disponíveis mais 25.600 quartos de hotel e 18.400 lugares em parques de estacionamento. Os 18 projectos que já começaram a ser construídos deverão disponibilizar 9.800 quartos, sendo que só na Taipa e Cotai estarão disponíveis 8500 quartos de hotel. Em Macau, os nove hotéis em construção disponibilizarão mais mil quartos. Em relação aos 28 projectos que ainda estão a ser apreciados pelo Governo, deverão disponibilizar mais 15.800 quartos de hotel para os próximos anos.

Sands China Lucros aumentam 45,7%A Sands China anunciou sexta-feira lucros de 1.370 milhões de dólares norte-americanos no primeiro semestre do ano, mais 45,7% face ao período homólogo de 2013. Em comunicado, a operadora do magnata norte-americano Sheldon Adelson informa que as receitas totais do grupo aumentaram 24,7% em termos anuais homólogos atingindo 5.075 milhões de dólares no final de Junho. A operadora explora o Venetian, o maior do mundo, e o Sands, na península de Macau, que foi o primeiro casino aberto na região administrativa chinesa fora do universo controlado por Stanley Ho. No anúncio dos resultados, a Sands China coloca em evidência o “sucesso” do modelo de negócio na ‘strip’ do Cotai – zona de casinos entre as ilhas da Taipa e de Coloane – na criação do destino preferencial de jogo, lazer e convenções da Ásia.

U MA mulher oriunda da Gui-né Conacri, país altamente afectado pelo vírus Ébola, receberá acompanhamento

dos Serviços de Saúde (SS) durante a sua estada em Macau, como forma de prevenção. As autoridades médicas informaram que durante o fim de semana deram entrada no território 11 indivíduos provenientes da Guiné Conacri, da Libéria, de Serra Leoa e da Nigéria, dos quais apenas uma mulher declarou ter estado numa região infectada nos últimos 21 dias.

Em comunicado à imprensa os SS informaram que durante o período de incubação “procederão diariamente à vigilância [da mu-lher] durante a sua permanência em Macau”.

MERS AFASTADODeram negativo os resultados das análises clínicas ao homem prove-niente do Médio Oriente com sus-peitas de ter contraído coronavírus, também conhecido pelo vírus MERS.

Na passada quinta-feira deu entrada no Hospital Conde São Ja-nuário um homem que manifestava dores musculares, náuseas, diarreia e febre. O paciente foi “de imediato isolado por medida de precaução” visto ser proveniente da Região do Médio Oriente, local de grande manifestação do MERS.

SJM Angela Leong não promete aumentos salariais

A directora executiva da Socieda-de de Jogos de Macau (SJM),

Angela Leong, referiu, numa entre-vista aos jornais chineses, que não pode dar uma resposta ao pedido de aumento salarial dos mais de mil tra-

balhadores que se manifestaram na semana passada junto ao escritório dos recurso humanos da empresa. Contudo, Ângela Leong frisou que existe um mecanismo de comuni-cação funcional entre a empresa e os funcionários, adiantando que a empresa já analisou o problema das remunerações e das regalias com o sindicato, bem como já transportou os pedidos dos funcionários para o conselho administrativo da SJM.

“No início deste ano, a SJM foi a pioneira, entre as seis empresas de jogo, a aumentar o salário dos trabalhadores. Isso é já uma resposta

aos funcionários”, explicou a direc-tora que garantiu a continuidade das reuniões com o sindicato,

Questionada sobre o mecanismo de comunicação entre a empresa e os funcionários, a líder da SJM insistiu na “boa comunicação” entre as duas partes. Para Ângela “os funcioná-rios podem contar com conselho consultivo de regalias da empresa”. Relativamente ás manifestações a directora optou por não comentar deixando sem resposta a questão sobre as possíveis represálias ao trabalhadores que participaram no protesto. - Flora Fong

Os Serviços de Saúde vão acompanhar a estadia em Macau de uma pessoa vinda da Guiné Conacri onde o Ébola tem feito inúmeras vitimas

SAÚDE FIM DE SEMANA COM ENTRADAS DE RISCO

Vigilância apertada

“Por esta razão, os profissionais dos Serviços de Saúde, transferiram o doente para a área de Urgência especial, de modo a que os exames e as respectivas análises laboratoriais fossem efectuadas em regime de iso-lamento”, informam as autoridades médicas, esclarecendo que após os resultados negativos e prescrição

médica adequada o paciente “teve alta hospitalar”.

Até ao passado dia 23 de Julho, a Organização Mundial de Saúde (OMS) registou, em todo o mundo, 837 casos de infecção pelo corona-vírus da síndroma respiratória do Médio Oriente dos quais resultaram 291 mortes. - Hoje Macau

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10 hoje macau segunda-feira 18.8.2014COUCHSURFING

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

UM HOMEM INQUIETO • Henning Mankell“O maior autor sueco contemporâneo da literatura de crime e mistério.» Los An-geles Times; «O inspetor Wallander é uma das mais soberbas criações do policial contemporâneo.” - The Guardian. Kurt Wallander nunca foi o género de homem que se sente muito à vontade em eventos sociais, mas algo na festa do 75º aniversário de Håkan von Enke, um antigo oficial da Marinha, o deixa mais desconfortável. O aniversariante parece inquieto e desejoso de lhe falar de um episódio da sua carreira que, passados quase trinta anos, permanece envolto em mistério. Quando três meses mais tarde Håkan desaparece sem deixar rasto, Wallander não pode deixar de se interrogar se naquela noite ele não estaria a tentar dizer-lhe algo...

O HOMEM QUE SABIA CONTAR • Malba TahanUm humilde pastor persa do século XIII, Beremiz Samir, exímio no exercício da arte de calcular, é o pro-tagonista deste livro. O enredo ambienta-se no exotismo do Médio Oriente, mesclando aspectos da cultura islâmica, da herança grega e de outras grandes culturas com curiosidades da matemática e reflecte com fascinante realismo o clima filosófico, religioso e social da época. No universo narrativo são integrados curiosos problemas e enigmas matemáticos e lógicos, aparentemente complicados mas sempre iluminados pela simplicidade dos raciocínios que lhes proporcionam solução, desvendados por Beremiz, o persona-gem com habilidade e raciocínio lógico. A acção termina com a tomada de Bagdad pelos mongóis, no ano de 1258 da nossa era, marco histórico que assinala o fim da hegemonia árabe no Médio Oriente. O leitor aprende a matemática pela história, e a história pela matemática.

Residentes de Macau abrem as portas de suas casas para receberem os que optam por viajar de uma forma mais económica: sem pagar estadia

FIL IPA ARAÚ[email protected]

O conceito é sim-ples e já reúne mais de nove mi-lhões de usuários

em 120 mil cidades, alguém que queria viajar mas quer fugir aos hotéis, hostels e guesthouses, pode então dor-mir no “sofá” de outro alguém que esteja registado no site Couchsurfing.org. A oferta é variada, sofás, camas ou até chão, para uma, duas ou mais pessoas, a maior vantagem disto tudo? É grátis.

Foi nisso que pensou Crab Pong uma jovem chinesa a resi-dir em Macau desde “muita pe-quena”. Crab adora viajar, aliás é “uma viciada em viagens” e quer “percorrer o mundo sem gastar muito dinheiro”. Foi pelas redes sociais que desco-briu o Couchsurfing [CS] perto do final do ano passado. “Já tinha lido sobre o CS, um dia pesquisei e registei-me e perdi algumas horas a ler os comentá-rios dos outros usuários”, conta a jovem ao HM.

Tal como uma rede social, o site do CS funciona da seguinte forma: o usuário inscreve-se e cria um perfil onde responde a várias questões como “Para onde já viajou?”, “Para onde quer viajar?”, “Filosofia de vida”, e algumas informações pessoas, nome, local, idade. Cada usuário pode então, de-pois de registado, fazer uma busca de outros usuários com

UMA ALTERNATIVA AOS ELEVADOS PREÇOS DOS HOTÉIS

Um sofá em cada cidade

“Confesso que não tinha pensado em CS para Macau porque tinha uma ideia completamente errada da abertura das pessoas. Fui muito bem recebido

“sofás” disponíveis nos locais que pretende visitar. Crab está neste momento na Polónia, “aqui aproveitei um desconto de um hostels e reservei, mas vou seguir para Copenhaga e vou ficar no sofá de um mem-bro do CS”, conta.

Questionada sobre os ris-co, Crab afasta essa hipótese, mas assume que a escolha do membro a quem vai pedir casa toma-lhe algum tempo. “Só peço pedidos de estada aos usuários que já colectam muito comentários de outros usuários. Acho que é única forma de manteres alguma se-gurança”, explica. Esta é outras das particularidades do site. Depois das experiências como ‘couchsurfers’, sejam visitantes ou anfitriões, os usuários po-dem deixar as suas opiniões e relatos da experiência no perfil daqueles que os receberam.

“A experiência de CS não é apenas ir dormir em casa de alguém, vai para além disso”, defende Crab. “O CS dá oportunidade aos viajantes de conhecer os residentes locais que conhecem o sítio

de uma forma que os turistas nunca poderão conhecer se não tiverem um ‘guia’ que lhes dê conselhos”. Outra das vantagens apresentadas pela jovem viajante foi a troca de cultura que acontece com a experiência, “tens ali uma pes-soa que também tem interesse em conhecer um pouco mais da tua cultura, se não nunca teria aceite o pedido de sofá, percebes?!”, explica.

RÁPIDO CRESCIMENTOCom nascimento em 2004, o CS tem marcado presença em vários meios de comunicação. The New York Times, Time, Forbes, Lifehacker, CNN e USTravel foram alguns dos meios de comunicação que escreveram sobre este sistema gratuito de ficar hospedado. Em 2012 o fundadores do CS tornaram público o financia-mento de 15 milhões de dó-lares, pela Catalyst Partners. “O financiamento adicional coloca a empresa no patamar dos 22,6 milhões de dólares de fundo e vai permitir a ex-pansão na gestão de produtos

e equipas de engenharia para permitir uma inovação mais rápida em toda a rede mobile e plataforma online”, explica a empresa em comunicado.

“Eu tenho a aplicação no telemóvel e funciona muito bem”, conta Marco Oliveira. O jovem português visitou Macau em 2012 e achou “os preços de hotéis muito caros”. “Durante um verão escolar decidi fazer uma viagem pela

Ásia. Passei pela Tailândia, Indonésia, Laos, Singapura, Hong Kong e Macau. Em países como a Indonésia con-segues arranjar sítios baratos para dormir, Singapura, Hong Kong e Macau já é bem mais difícil.” Tal como a jovem Crab, foi o preço alto que fez Marco procurar um alternati-va económica. “Já faço CS há uns anos, mas só tinha feito na Europa, não planeei fazer na Ásia. Depois de procurar descobri que existia um grupo de ‘couchsurfers’ em Macau. Deixei lá umas mensagens a pedir casa, mandei ainda men-sagens privadas para alguns utilizadores e em menos de um dia tinha sofá garantido”, conta. A experiência foi “in-crível”, diz Marco. “Confesso que não tinha pensado em CS para Macau porque tinha uma ideia completamente errada da abertura das pessoas. Fui muito bem recebido, fiquei em casa do Oscar – que agora está em Londres – que fez questão de me levar aos pontos mais turísticos de Macau mas tam-bém mostrar-me outros sítios que não são tão visitados pelos turísticas”, conta.

EVENTOS EM MACAUTal como Marco referiu foi através de um grupo que o ‘mochileiro’ chegou ao seus anfitrião. Esta é uma das outras opções disponibilizadas pela plataforma online, a criação de grupo e eventos. Os membros registados podem então criar ‘amizades online’ e agendar eventos para todos se reuni-rem e trocarem experiências. Em Macau a próxima será no próximo fim-de-semana no dia 23, num restaurante ainda a designar. No final do mês pas-sado, o restaurante Africana no Fisherman’s Walf recebeu mais de 15 membros que levaram

a cabo o último encontro de ‘couchsurfers’ de Macau.

Com mais de 1000 utili-zadores, o grupo “Macau” do CS reúne ofertas e pedidos de sofá, criam-se amizades e troca de experiências. “O CS é mais que Hostels. Se só estás interessado por um sítio para dormir, o couchsurfing não é para ti. Com o CS tu conheces pessoas e desenvolves amiza-des com os locais e outros via-jantes como tu, o lema “Tens amigos pelo mundo inteiro só que ainda não os conheces” ganha vida quando começas a viajar e conhecer muita gente”, conta Katt Ywv que também se juntou à conversa.

Para a jovem, usuária desde Outubro passado, a ex-periência trouxe-lhe uma nova realidade. “Eu pensava que era diferente dos meus amigos de Macau, mas desde que me inscrevi e comecei a ir aos encontros de ‘couchsurfers’ que percebi que há muita gente com o mesmo pensamento e gostos que eu. Tenho feito boas amizades e a culpa é do CS”, brinca. Katt que se afirma como uma verdadeira “apai-xonada” por viagens explica que já fez várias viagens com os novos amigos. “Já viajei com portugueses, franceses, americanos, canadianos, aus-tralianos, chineses [interior], brasileiros, ingleses”, conta, reforçando que tem “sido uma experiência incrível”.

Uma pequena pesquisa no grupo “Macau” e é possível ver os variados pedidos. “Vou a Macau por um dia alguém com sofá disponível?” ou “Quero muito conhecer Macau alguém interessado em servir de guia este fim de semana?” ou ainda “Em Outubro estarei em viagem pela Ásia, passarei por Macau durante dois dias. Há CSers por disponíveis?”. Os pedidos são vários, desen-ganem-se aqueles que pensam que não existem respostas, existem e são muitas. “Já pen-sou no dinheiro que se poupa e nas vantagens que o CS dá ao viajantes? É espectacular!”, termina Crab.

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hoje macau segunda-feira 18.8.2014

O responsável da prin-cipal organização de protecção da

Grande Muralha, na China, um dos monumentos mais visitados no mundo, disse que boa parte da estrutura defensiva está em mau estado de conservação, informou no sábado a Xinhua.

De acordo com o secre-tário-geral da Sociedade da Grande Muralha, Wu Guoqiang, as perspectivas “não são optimistas” devido à falta de fundos e “de-senvolvimento industrial irresponsável”.

Citado pela Xinhua, Wu Guoqiang disse que três quartos das secções cons-truídas durante a dinastia Ming (1368-1644), uma das

épocas em que o monumen-to foi mais expandido, estão em mau estado.

“Só cerca de 10% estão em condições relativamen-te boas”, disse Wu, num seminário da associação, criada em 1987 para a investigação, protecção e restauração da Muralha da China.

O perito explicou que em muitos dos troços já só existem as bases, e que tanto a acção humana como a da natureza (erosão, inun-dações, terramotos) cons-tituem «ameaças graves» ao monumento, declarado Património da Humanidade pela UNESCO em 1987.

“O dano provocado pela actividade humana

está a crescer e é cada vez maior”, destacou Wu, que denunciou más práticas, como o uso de tijolos e de solo da Grande Muralha na construção de casas.

“A Grande Muralha é o símbolo mais reconhecível da China no mundo, e deve ser mantido vivo”, afirmou Wu no seminário.

Com cerca de 8.000 quilómetros de compri-mento, a Grande Muralha foi construída por ordem do imperador chinês, Qin Shihuang, no século III AC, unindo muralhas defensivas muito mais antigas, com o objectivo de proteger os seus domínios das incursões de povos nómadas do norte da Ásia. - Lusa

PATRIMÓNIO ALERTA PARA MAU ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Grande Muralha da China enfrenta “ameaças graves”

11EVENTOS

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12 CHINA hoje macau segunda-feira 18.8.2014

Xi Jinping e Ban Ki-Moon concordam: a solução para o caso ucraniano terá de ter em conta os interesses de todas as partes

O presidente da Chi-na, Xi Jinping, e o secretário-geral das Nações Unidas,

Ban Ki-moon, realizaram neste sábado uma reunião na cidade de Nanqing, onde assistiram à abertura dos II Jogos Olímpi-cos da Juventude, presidida por temas de preocupação interna-cional como a crise ucraniana e a epidemia de ébola, informou a agência “Xinhua”.

Xi destacou no encontro que a comunidade internacional deve redobrar os esforços para evitar que o conflito na Ucrânia se transforme em uma crise humanitária, e sublinhou que a queda do avião de Malaysia Air-

Crime e castigoNo primeiro semestre deste ano já foram sancionados por corrupção 84.000 dirigentes públicos chineses. Por seu lado, o Partido Comunista Chinês (PCC) anunciou na sexta-feira ter punido em 2013 mais de 182.000 dos seus quadros, com 9.600 dos quais a serem transferidos para as autoridades judiciais.

Advogado requer assistência médica nos EUAUm grupo de defesa dos direitos humanos norte-americano está em conversações com o Departamento de Estado dos Estados Unidos para que este peça à China para permitir que o advogado Gao Zhisheng possa se deslocar aos EUA para receber assistência médica. Jared Genser, o fundador do grupo em questão – Freedom Now – revelou que Gao, um advogado especializado em direitos humanos que foi libertado da prisão no dia 7 de Agosto após cumprir uma pena de três anos, está a sofrer de uma séria de problemas físicos e mentais, devido a ter sido mantido numa cela mal iluminada.

Imprensa estatal publica confissões japonesasA China continuou a sua campanha anti-japonesa neste sábado, quando a imprensa estatal publicou a última de 45 confissões de japoneses que foram julgados como criminosos de guerra durante a Segunda Guerra Mundial. A iniciativa foi lançada neste Verão em resposta a declarações de políticos japoneses e outras personalidades públicas que visavam minimizar o impacto da invasão japonesa – que durou oito anos – assim como a ocupação de partes da China durante as décadas de 1930 e 1940.

13 trabalhadores resgatados de túnelA Xinhua anunciou que 13 trabalhadores foram resgatados depois de passarem seis dias presos num túnel que ruiu em Guizhou. O túnel, que faz parte de um projecto de construção de uma auto-estrada, ruiu no início da semana passada. As equipas de salvação cavaram um canal de 45 metros na segunda-feira passada para poderem fornecer ventilação, assim como comida e água, aos trabalhadores.

Presidente da câmara sob investigação de corrupçãoUm ex-presidente da câmara de Hohhot, na Mongólia Interior, está a ser investigado por “graves violações da disciplina”, expressão habitualmente usada para os casos de corrupção, revelou a Xinhua. Tang Aijun, com 64 anos de idade, fez toda a sua carreira política na Mongólia Interior, tendo sido presidente da câmara e vice-presidente do PCC na cidade entre 2005 e 2010.

UCRÂNIA E ÉBOLA PROTAGONISTAS DO ENCONTRO ENTRE XI JINPING E BAN KI-MOON

Equilíbrio acima de tudo

“A comunidade internacional deve redobrar os esforços para evitar que o conflito na Ucrânia se transforme em uma crise humanitária”XI JINPING Presidente da RPC

UM total de 436.800 pessoas é portador do vírus HIV ou

está doente com Sida, e 136.300 morreram da doença na China, segundo dados referentes ao final de 2013, publicados no sábado pelas autoridades de saúde chine-sas. O director do departamento dedicado ao estudo da Sida no Centro de Controlo e Prevenção do Doenças, Wu Zunyou, citado pela agência oficial Xinhua, disse

que a mortalidade provocada pela Sida caiu 17.9% em 2005 para os actuais 6.6%, graças a iniciativas como testes médicos gratuitos em zonas rurais e áreas urbanas mais desfavorecidas. Apesar dos dados oficiais, esti-mativas da Organização Mundial de Saúde indicam que o número real de afectados pelo HIV/Sida na China pode rondar os dois milhões de pessoas.

lines quando sobrevoava o leste ucraniano, em Julho, “evidencia o quão importante e imperativo é lidar com a questão”.

O presidente da China pe-diu que os lados em conflito negociem uma saída “que leve em consideração os interesses de todas as partes, de forma equilibrada”.

Ban, também citado pela agência estatal chinesa, reiterou que uma solução pacífica, e não o uso da força, “é o único modo de resolver o conflito na Ucrânia”.

Em relação à epidemia do vírus ebola na África Ocidental, o presidente da China afirmou que o seu país continuará a fazer esforços conjuntos com a comunidade internacional para controlar o surto.

Xi lembrou que a China enviou várias remessas de ajuda humanitária às quatro nações mais afectadas (a mais recente, avaliada em US$ 4,9 milhões, chegou na segunda-feira à Guiné, Serra Leoa e Libéria), e que equipas médicas chinesas trabalham nas áreas onde o ví-rus se propagou – oito médicos chineses estão em quarentena após tratar pacientes com ebola na Serra Leoa.

Ban agradeceu a contribuição da China e pediu à comunidade internacional que continue a ajudar os países africanos a lutar contra a epidemia, que segundo números da Organização Mun-dial da Saúde já infectou 1.975 pessoas e matou 1.175.

JOGOS AFECTADOSEntretanto, o Comité Olímpico Internacional (COI) e a organi-zação dos Jogos Olímpicos da Juventude Nanjing 2014 anun-ciaram que os atletas de países afectados pelo vírus ebola não poderão competir em disciplinas de combate nem de piscina, o que afectaria cinco atletas. De acordo com a lista de atletas divulgada

pela organização, tratam-se do nadador liberiano Momodo Sombai, a judoca guineana Ma-madama Bangoura, o nadador também da Guiné Alhoussene Sylla, o nadador Saidu Kama-ra, da Serra Leoa, e a lutadora nigeriana Bose Samuel.

Neste contexto, as delega-ções de Nigéria, Serra Leoa e Libéria, três dos países afectados pela epidemia de vírus Ébola na África Ocidental, preferiram re-tirar-se dos Jogos. Foi o próprio presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, que confirmou a decisão.

A Serra Leoa e a Libéria já tinham anunciado na sexta-feira a sua intenção de não participar nos Jogos e a Nigéria decidiu no sábado seguir o exemplo, enquanto a Guiné-Conacri, o outro país afectado pelo Ébola presente em Nanjing, mantém para já a intenção de permanecer na China. A epidemia já causou mais de 1.000 mortos nestes quatro países, de acordo com o último balanço da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Os II Jogos da Juventude, que vão até 28 de Agosto, reúnem 3.600 atletas de mais de 200 países, todos eles entre 14 e 18 anos.

HIV 436.800 infectados

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13 chinahoje macau segunda-feira 18.8.2014

O magnata da im-prensa de Hong Hong e fundador do jornal liberal

Apple Daily, Jimmy Lai, lan-çou um vídeo em resposta a um falso obituário publicado por um jornal rival. O obituário de Lai, empresário crítico de Pe-quim, foi publicado no jornal Oriental Daily na quinta-feira, com grande destaque.

O jornal alterou o nome do magnata, substituindo-o por um caracter chinês com fonética similar, mas manteve os detalhes biográficos idên-ticos aos de Lai. O obituário indicava que Lai, de 65 anos, morreu no dia 7 de Agosto de Sida e cancro, acrescentando que não iria haver funeral porque os familiares também estavam doentes.

Além disso, apresentava condolências aos funcionários da “Two Media”, empresa do Apple Daily, usando caracteres chineses cuja tradução literal é descrita como “One Media”.

“Eles querem que eu mor-ra? É assim tão simples?”, disse Lai em resposta ao óbito num vídeo realizado com um iphone. “Lamento desapontá--los”, acrescentou.

D OIS passageiros seropositivos e um amigo processaram judi-cialmente uma companhia aérea

chinesa por esta ter recusado que perma-necessem num dos seus aviões, noticiou na sexta-feira o jornal estatal chinês Global Times.

Os dois passageiros queriam viajar para Shenyang, no nordeste de Shijia-zhuang, a sul de Pequim, mas foram impedidos de viajar no avião da Spring Airlines após terem comunicado à tripu-lação que eram seropositivos.

Este é o primeiro processo judicial deste género que acontece na China, escreve o Global Times, que dá nota de que os dois passageiros seropositivos e o amigo foram informados de que “os seus bilhetes tinham sido cancelados”.

Os três passageiros processaram a companhia aérea chinesa acusando-a de discriminação e exigiram um pedido de desculpas, bem como uma indemnização no valor de 48.999 yuan, segundo o jornal.

Um tribunal de Shenyang julgou fa-voravelmente o caso, tornado no primeiro processo judicial contra uma companhia

Sete detidos por forçarem menores a doar sangueSete pessoas foram detidas na província de Gansu, no noroeste da China, por obrigarem alunos de escolas locais a doarem sangue, informou no sábado a agência Xinhua. Os detidos são trabalhadores do Instituto de Produtos Biológicos de Lanzhou, a capital provincial. Um dos detidos, o subdirector de um dos centros de doação de sangue administrados pela empresa, designado pelo apelido Huang, disse à polícia que a decisão de recorrer aos menores foi tomada devido a pressões da empresa, que tinha pedido aos funcionários para conseguirem mais doadores. Pelo menos oito estudantes, com idades entre 10 e 16 anos, foram obrigados a doar sangue pelo menos uma vez por mês desde o início deste ano, e o dinheiro que seria pago pelas doações era embolsado pelos funcionários que forçavam os menores à realização das mesmas. Os funcionários elaboraram falsas identificações para os jovens doadores, para que constassem como adultos – na China a idade legal para a doação de sangue é de 18 a 55 anos –, e espancavam os que se negavam a “colaborar”. O escândalo foi denunciado pelos pais de um rapaz obrigado a doar sangue.

Tibete Novo troço de 251 quilómetrosO primeiro comboio entre Lhasa, capital do Tibete, e Shigatse, a segunda maior cidade da região autónoma da China, partiu no sábado pela primeira vez destas localidades, após quatro anos de obras para ampliar a linha férrea mais elevada do mundo. A partir de agora, a distância entre as duas cidades pode passar a ser cumprida pelos comboios em duas horas, contra as quatro horas necessárias para concluir o percurso por estrada, destacou a agência Xinhua. O troço, de 251 quilómetros, estende-se no sul do Tibete, na fronteira com o Nepal e a parte norte do Evereste. As obras de ampliação envolveram um investimento de 13.280 milhões de yuan e requereram a construção de 116 pontes e 29 túneis devido ao terreno acidentado da região. A linha ferroviária foi inaugurada em 2006.

HK Mãe esmagada por árvore Médicos de Hong Kong realizaram na quinta-feira uma cesariana de emergência para salvar um bebé, depois de a mãe ter morrido esmagada por uma árvore que caiu na Região Administrativa Especial chinesa. A árvore atingiu a mulher, deixando-a inconsciente, cerca das 14:30, numa zona residencial da cidade, de acordo com os ‘media’ locais. A grávida, identificada pela polícia como uma residente de Hong Kong, de 37 anos e de nome Zhang, foi levada de imediato para um hospital, onde chegou já morta. O bebé está vivo, mas em estado crítico. “Foi confirmada a morte da mãe. O bebé continua na unidade de cuidados intensivos e em estado crítico”, disse um porta-voz da autoridade hospitalar. O Verão em Hong Kong regista muitas vezes ventos e chuvas fortes e o território situa-se na zona de passagem de tufões.

Yunnan Réplica assusta Um sismo de magnitude 5.0 abalou ontem a província chinesa de Yunnan, na mesma zona onde um terramoto de intensidade 6,5 causou mais de 600 mortos no início do mês, informou a agência Xinhua. A réplica, registada à profundidade de sete quilómetros, ocorreu às 06:07 com epicentro em Yongshan. O novo tremor de terra foi sentido em muitas localidades vizinhas, e causou três feridos e danos em edificações, indicaram as autoridades locais. As comunicações também foram afectadas, pelo que durante a manhã de ontem não era ainda conhecida a dimensões dos danos em algumas zonas, acrescentaram as fontes oficiais. Pelo menos 617 pessoas morreram e mais de 2.400 ficaram feridas no sismo que devastou a região sudoeste da China na província de Yunnan, no dia 3 de Agosto. O sismo registado no início do mês causou ainda 230.000 deslocados e a destruição ou danos em mais de 80.000 casas.

HONG KONG JIMMY LAI REAGE A FALSO OBITUÁRIO

“Eles querem que eu morra?”

DOIS PASSAGEIROS PROCESSAM COMPANHIA AÉREA CHINESA

Seropositivos impedidos de voar

Até à data de hoje não havia esclarecimentos sobre a autoria do falso obituário e o Oriental Daily escusou-se a comentar o caso.

Jimmy Lai e o Apple Dai-ly, conhecido pelas posições críticas em relação a Pequim e pelo apoio ao movimento pró-democracia em Hong Kong, já foi objecto de outros ataques.

A página de internet do jornal esteve inactiva durante algumas horas, no que foi descrito como um ataque em larga escala lançado por pira-tas informáticos sofisticados.

Preocupações quanto à liberdade de expressão têm au-mentado este ano, período em que também foram registados ataques a jornalistas, incluindo físicos, como o perpetrado contra o antigo editor Kevin Lau, antigo editor-chefe do jornal Ming Pao, que ficou gra-vemente ferido após ter sido esfaqueado, em Fevereiro.

A implementação do su-frágio universal figura como o grande “cavalo de batalha” da ala pró-democrata da antiga colónia britânica.

Hong Kong realizou, em Junho passado, um referendo

informal, em que quase 800 mil pessoas votaram sobre a forma como o próximo chefe do Executivo da antiga coló-nia britânica deve ser eleito em 2017.

Também em Junho, a China publicou um “livro branco” de Hong Kong, em que Pequim reafirma o seu controlo e so-berania sobre o território. O Livro Branco também refere que o amor à China constitui um “requisito político básico” para qualquer futuro líder.

O chefe do Governo de Hong Kong é actualmente

escolhido por um colégio eleitoral formado por 1.200 membros, representativos dos diversos sectores da so-ciedade, dominado por elites pró-Pequim.

A China prometeu ins-taurar o sufrágio universal directo para a eleição do chefe do Executivo em 2017 e para o Conselho Legislativo (parlamento) em 2020. Mas todos os candidatos devem ser aprovados por um comité de nomeação, premissa que é recusada pelos democratas em Hong Kong. - Lusa

aérea por descriminar uma pessoa por ser seropositiva na China, escreve a publicação.

“O tribunal ao ter aceitado o caso sinalizou que os seropositivos podem de-fender os seus direitos pela via judicial”, refere o autor do artigo Cheng Shuaishuai.

A China tem uma longa história de dis-criminação em relação aos seropositivos.

Só em 2010 é que a China suspendeu a proibição de os estrangeiros seropo-

sitivos permanecerem por um longo período no país.

Segundo a lei chinesa, as transporta-doras aéreas podem impedir que viajem nos seus aviões passageiros seropositivos e pessoas com doenças mentais ou cujas condições de saúde possam pôr em risco outras pessoas ou elas mesmas.

Liu Wei, advogado dos três queixosos, considerou que a Spring Airlines não tinha o direito de impedir os passageiros de via-jarem, uma vez que “não existia nenhuma evidência” de que a sua presença a bordo iria infectar outras pessoas.

O presidente da companhia aérea, Wang Zhenghua, garantiu na terça-feira num órgão de comunicação social chinês que a empresa “não discrimina os seropo-sitivos” e explicou que este caso se deveu “à ansiedade das pessoas”.

Mesmo assim, Wang Zhenghua, ape-sar de dizer que no futuro a transportadora não negaria a possibilidade de os dois passageiros seropositivos poderem voar na companhia, disse que não deveriam “dar nas vistas” para não assustarem os outros passageiros. - Lusa

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14 hoje macau segunda-feira 18.8.2014

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XLIII

– Quando saímos da escola, você pode ima-ginar a minha exaltação interior. Procurei, como é óbvio, disfarçar o quanto aquela mulher me fizera feliz. Não podia deixar de me sentir um homem de sorte, alguém a quem acontece o improvável, que não sen-te nenhuma preocupação, imune a qualquer mal, capaz de conquistar impérios, de mover montanhas. O ar era agora leve, os passos claros e as minhas pupilas distinguiam estre-las distantes e mortiças no céu nublado.

Deteve-se. Não parecia emocionado. Os seus olhos brilhavam muito, fixos num ponto, até que se agitou um pouco na ca-deira e voltou-se na minha direcção, incli-nando-se, o cotovelo apoiado na mesa e a mão segurando o queixo. – Seria fútil comentar a sua história. Mas a mulher era assim tão magnífica?, perguntou o amigo.– A beldade, activa e submissa, sempre ao dispor para todos os prazeres – riu-se e endireitou-se, voltando a repousar as costas no espaldar da cadeira. – Conhece Bai Juyi? – , continuou. – É um poeta chinês, da dinastia Tang. Aqui ele refere-se à mulher que sonegou o impe-rador aos prazeres com as “três mil”. – Está bem. Vá-se lixar. É capaz de fazer inveja a um Salomão.

O IMPÉRIODO FIM (XII)

(folhetim do fim de um império)

Carlos Morais José

(Continuação da semana passada) ao rosto onde, entre os lábios, repousava um cigarro. “Vamos entrar ali. Vou-te dar sorte. Mas depois não pode esquecer-se da sua fada madrinha”. Apontava para a porta de um casino. Aceso o cigarro, atirou o fós-foro bruxuleante para trás das costas. Caiu sobre o assento de uma mota.

XLIV

– Dei por nós a atravessar uma porta la-teral do Hotel Lisboa, subir uma escada rolante, cruzar o mezanine entre jades de Xian e raparigas de Xangai, para atingir uma entrada menor do Casino. Lara acon-chegou-se mais no meu braço, levando-me por entre as slot-machines até à banca do Big & Small, disse: “Aposta aqui, é mais divertido”. Olhei a mesa, os jogadores, os dois croupiers. A atmosfera estava de cer-to modo silenciosa, expectante. As jogadas sucediam-se sem sobressaltos. As pessoas colocavam as fichas sobre os números ma-quinalmente, como se apostassem dinheiro alheio e a vitória ou a derrota não se re-vestisse de alguma importância. A minha atenção recaiu sobre um chinês alto, de fato preto, encostado do outro lado da mesa. Mirava-me fixamente. Vestia com elegân-cia, algo ostensivo, como um elemento de uma tríade. Talvez me conhecesse e me quisesse dizer que sabia quem eu era. Ergui a cabeça da mesa e olhei-o. Ele baixou os olhos e ouvi como uma voz, vinda da sua direcção, que me dizia: “Joga. Joga no de-zassete. Joga. Joga no dezassete.” Ele não falara, não se mexera, mas era como se a postura do seu corpo, as cores da sua rou-pa, o corte elegante do cabelo, me gritas-sem aquele número. Olhando à volta, dava a sensação que todos os outros jogadores, os croupiers, os números gravados na mesa, me gritavam: dezassete! Dominado por um ímpeto, tirei do bolso todo o dinheiro que tinha e coloquei-o sobre o número dezas-sete, dois segundos antes de soar a campai-nha. Se ganhasse multiplicaria por cinquen-ta. Sentia Lara atrás de mim, talvez a respi-rar nas minhas costas, talvez distraída com outro jogador qualquer ou com o bulício da sala. “Gosto de homens de convicções fortes”, sussurrou. Quando me voltei, re-parei que ela acendera um cigarro e o fumo lhe semicerrava um pouco os olhos. Os seus lábios entreabriam-se, quase ofegan-tes, e eu lembrei-me do início da noite, da

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“A QUESTÃO AGORA ERA OUTRA: ESTÁVAMOS NUM CASINO, NUMA SALA CHEIA DE GENTE DE OLHOS VAZIOS”

– Se você o diz... A verdade é que ela me trouxe também um tesouro. Nessa noite, não pense que a deixei. Arrastei-a eufórico pelas ruas, sempre em frente. Ela obrigava--me a parar, às vezes, para me mostrar qual-quer pormenor a que eu não dera atenção. Depois puxava-me, pendurava-se um pou-co no meu braço e mudávamos de caminho. Parámos sob um viaduto, onde estavam es-tacionadas, quase empilhadas, dezenas de motos. Lara acendeu um fósforo e levou-o

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15 artes, letras e ideiashoje macau segunda-feira 18.8.2014

nossa aventura na escola. A questão agora era outra: estávamos num casino, numa sala cheia de gente de olhos vazios. Fiquei mui-to calmo, com a respiração regular como se pudesse soprar nas faces dos dados, ocultos por uma campânula preta. O croupier des-tapou-os. Eu estava demasiado longe para ver os números. Mas ele carregou nuns misteriosos botões botões e uma luz ama-rela acendeu-se por debaixo do dezassete. Acertara. Ganhara uma quantia astronómi-ca de dinheiro. À volta da mesa, os olhos dos jogadores acenderam-se e irromperam exclamações de surpresa, chamando a aten-ção de toda a sala.

O homem do fato preto desaparecera. Lara tocou-me no ombro e perguntou: “O que foi?” Disse-lhe que tinha ganho, dis-se quanto. Ela respondeu, incrédula: “A sério?” “A sério, graças a ti estou rico.” Abraçava-me eufórica, pendurada no meu pescoço. De repente, escondeu-se no peito e disse: “Vamos embora.” “Porquê?” “Está ali o meu namorado. Não quero que ele me veja contigo.” Ela tinha outro homem. Isso deixava-me enfurecido, mas não o queria transparecer. “Quem é ele?” “É fácil. Está do outro lado, a falar com um estrangeiro.” Realmente eram os únicos ocidentais na-quela sala. Levei-a, escondida pelo meu corpo, até à porta mais próxima e depois regressei com um seco “Volto já. Espera aqui.” Dei a volta pelo corredor e entrei do outro lado, de tal modo que podia observar os dois homens sem que dessem pela mi-nha presença. O mais novo, provavelmen-te o namorado de Lara, devia ter cerca de trinta anos. Era alto, moreno e ligeiramente curvado. O outro, mais velho, tinha o ca-belo levemente cinzento e era baixo e en-troncado. Reparei que os seus dedos eram extremamente grossos como se estivesse habituado a trabalhos manuais.

Lara esperava por mim algo nervosa. “Não vais estragar esta noite, pois não? Afi-nal, fiz de ti um homem rico.” Respondi-lhe que tinha razão, que deveríamos comemo-rar, que estava disposto a partilhar com ela a minha recente fortuna. “Partilhar não”, dis-se ela, “não sou mulher para partilhar nada”, talvez numa alusão irónica à minha situação. Achei estranho que recusasse o dinheiro, as-sim com tanto à-vontade, mas ela continua-va: “Se mo quiseres dar abres uma conta em meu nome, depositas tudo e depois fugimos os dois.” Ria-se. “Fugimos quando?”, per-guntei. “Mal consiga resolver uns assuntos que tenho entre mãos”, respondeu.

XLV

– Eu sei que não vai crer mas, naquele mo-mento, o que ela dissesse faria sentido para mim. Claro que fugiria com ela daquele na-morado mais novo do que eu, da minha vida regular, da carreira relativamente monótona. Lara era uma oportunidade sempre adiada, um caminho há muito esperado. Descemos e depositámos tudo no seu nome. Na altura, pensei: se não acreditasse nela a vida deixa-

ria de fazer sentido. O dinheiro não me ser-viria para nada. Estava disposto a arriscar. A por tudo em causa. Você sabe que tenho sido um polícia honesto. Nesta terra sempre achei desnecessário envolver-me em pro-blemas especificamente locais, até porque o salário me permitia uma vida desafogada. Modesta, mas desafogada, — sorriu descon-traindo um pouco a sua expressão dura. O seu olhar perdera, há algum tempo, durante a sua narrativa, um travo de devaneio que lhe assombrara o olhar.

– Não sei. E não quero saber.– Fugiu com o dinheiro e... provavelmente... o namorado... Não é desse que a polícia an-dava à procura?– É. Também desapareceu. Prendi o indivíduo errado que se... suicidou na cela. Deixou uma confissão incoerente. O Junqueiro teve tempo de fugir.– É extraordinário.– Pois é... e não é....– Você foi enganado.– Pois fui. Ou, penso para me animar, talvez tenha querido ser enganado.– Se quer acreditar nisso...– Nisso ou noutra coisa qualquer.– Ficou desiludido. O seu ego sofre um rude golpe. Deve ser por isso que se quer ir em-bora... para esquecer...– Não. Não é isso.

A conta estava paga. Levantámo-nos e dirigimo-nos para a porta. Uma ária de ópe-ra chinesa tocava baixinho no restaurante. Lá fora, um calor ensurdecedor aguardava--nos. Descemos a rua devagar, quase arras-tando os pés. Raros automóveis circulavam. – Mais vai-se mesmo embora?... – Vou.– Sozinho...?– Sim. – E a sua vida, os seus amigos, os familiares em Portugal?– Foi toda vã a minha vida. – Isso é impressão sua, ainda sob o efeito...– Se é impressão, olhe que é muito persis-tente. De tal modo que me convenceu ser a mais crua e triste das verdades. Os portugue-ses deixaram Macau sem olharem para trás, como se estivessem a fugir de um inferno, como se não aguentassem a culpabilidade pelos actos cometidos e pelos que ficaram por cometer. Eu julguei... eu pensei... que me ia aguentar sozinho no meio dos fan-tasmas. Passei dois anos da mais repugnan-te solidão: a que nos faz ganhar nojo a nós mesmos. Afundei-me num reflexo de um espelho. Fora só um relance... uma imagem de mim nesta cidade, mas o suficiente para me convencer a ficar. Como me enganei. Nada tenho para fazer aqui e acredito nada ter para fazer em parte alguma. – Então se é o mesmo em toda a parte, por que razão se vai embora?– Perturba-me agora o reflexo de que lhe fa-lava. Cada vez que me vislumbro num vidro ou num espelho, não encontro lugar para aquela imagem nesta cidade. Tornei-me... obsoleto, uma peça decorativa, talvez... – Exagera. Verá que daqui a dois dias pensa-rá de outra maneira.– Não. Não se trata de uma decisão impulsi-va ou tomada sob o efeito de qualquer sen-timento. Não posso viver mais de detalhes. Vou-me embora.– Não posso acreditar que seja o fim...– Acredite. Desta vez é mesmo o fim.

FIM

Macau, Outono de 2002

“OS PORTUGUESES DEIXARAM MACAU SEM OLHAREM PARA TRÁS, COMO SE ESTIVESSEM A FUGIR DE UM INFERNO, COMO SE NÃO AGUENTASSEM A CULPABILIDADE PELOS ACTOS COMETIDOS E PELOS QUE FICARAM POR COMETER”

– Como pode imaginar que eu era capaz de... roubar? – perguntou divertido. Mas logo fi-cou sério e continuou em voz mais baixa, talvez um pouco absorto: – Sabe que nesta cidade (já cá estou há mais de vinte anos) as coisas arranjam-se de forma doce sem que sejam necessários verdadeiros conflitos. Ou mesmo operar em terrenos movediços. A minha decisão foi precisamen-te especializar-me em crimes incomuns, de tal modo que nunca me vi na contingência de atrapalhar os negócios locais. Para polícias e ladrões sou um esquisito. Coloquei-me numa posição desinteressante de subornar. A mi-nha modesta fama estende-se, quando mui-to, à polícia de Hong Kong e tem a ver, por exemplo, com o caso Big Spender. Não me pergunte os contornos. Está tudo num rela-tório que lhes enviei. É uma teoria sobre o desenvolvimento do processo – não resistiu a dizer. – O Big Spender está morto e enterrado. Não me diga que tem outra opinião? Lúcio Marques pensou um pouco e respon-deu: – Só disse que lhes apresentei uma teoria, baseada em factos e deduções. De qualquer modo, eles estão habituados. Em 86 resolvi--lhes um caso bicudo. Dei-lhes o homem de bandeja. Escrevi-lhes a dizer quem era o cri-minoso que procuravam, um vago assassino de empregadas filipinas. Mas nada disto tem importância: fi-lo por puro divertimento e também para me divertir a recusar o empre-go que me propunham.– E Lara?– Não sei.– Não sabe?– Desapareceu.– Para onde?

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hoje macau segunda-feira 18.8.201416 publicidade

Feira de Produtos Famosos de Macau-Jiangmen 2014

De 5 a 7 de Dezembro de 2014 Centro de Convenções e Exposições

da Wuyi Huaqiao Plaza de Jiangmen, China

Organização: Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau Serviços do Comércio e Cooperação Económica com o Exterior do Município de Jiangmen

Exibição e venda dos seguintes produtos: MinMs, produtos para lembranças, produtos culturais e criativos, artigos de consumo, produtos alimentícios, bebidas alcoólicas, jóias, produtos dos Países de Língua Portuguesa, etc.É bem-vinda a participação das empresas de Macau.Nomeadamente as empresas de produção em Macau e de marca de Macau, e os agentes de Macau para marcas estrangeiras (com prioridade dada às marcas dos Países de Língua Portuguesa)* Plano promocional em benefício das empresas da RAEM: pacotes de duas mil patacas (banca de exposição) ou de mil e oitocentas patacas (espaço com a mesma dimensão mas sem instalações), que incluem as seguintes condições:

Banca de exposição com a dimensão de 3 x 3 (com instalações básicas)

Um quarto duplo (quatro noites) Transporte de ida e volta de duas pessoas com o destino de Foshan Transporte de ida e volta de mercadorias (quatro CBM) entre Macau/

Zhuhai e recinto de exposição na Cidade de Jiangmen (sendo por conta do expositor o pagamento dos impostos alfandegários e o transporte de mercadorias que ultrapassem a referida quantidade)

Armazém público para guardar as respectivas mercadorias (sendo da responsabilidade do expositor as despesas com os seguros)

Subsídio para a metade das despesas para contratação de dois empregados temporários de Jiangmen

(*) Os expositores devem pagar, na inscrição, uma quantia de dez mil patacas, das quais oito mil patacas (ou oito mil e duzentas patacas, conforme o pacote aplicável) serão devolvidas após a conclusão da presente exposição.

O último dia para a inscrição29 de Agosto de 2014(Horário de inscrição: das nove horas da manhã à uma hora da tarde; das duas horas e meia às cinco horas da tarde – excepto nos feriados públicos)

Local de inscriçãoInstituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau 4.º andar do Edifício World Trade Centre, Macau

Contactem o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau se estiverem interessadosLinha aberta para informações: 87989262, 87989267 ou 87989295E-mail:[email protected]/[email protected]/ [email protected]

COMISSÃO DE REGISTO DOS AUDITORES E DOS CONTABILISTASAVISO

Faz-se público, em conformidade com deliberação da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, de 31 de Julho de 2014, e nos termos do disposto no nº 1 do artigo 18º do Estatuto dos Auditores de Contas, aprovado pelo Decreto-Lei nº 71/99/M, de 1 de Novembro, no nº 1 do artigo 13º do Estatuto dos Contabilistas Registados, aprovado pelo Decreto-Lei nº 72/99/M, de 1 de Novembro, bem como do disposto no ponto 3) do artigo 1º do Regulamento da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 2/2005, de 17 de Janeiro, que nos dias 22, 23, 29, 30 de Novembro e 6 de Dezembro do corrente ano, irá realizar-se a prestação de provas para inscrição inicial e revalidação de registo como auditor de contas, contabilista registado e técnico de contas.

1. Prazo, local e horário de inscrição > Prazo de inscrição: De 18 de Agosto a 29 de Agosto de 2014 > Local de inscrição: Instalações da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, no 1º andar do “Centro de Recursos da Direcção dos Serviços de Finanças”, sito na Rua da Sé, nº 30, em Macau > Horário de inscrição: De 2ª a 5ª feira: das 09h00 às 13h00; das 14h30 às 17h45 6ª feira: das 09h00 às 13h00; das 14h30 às 17h30

2. Condições de candidaturaAuditores de contas:Podem candidatar-se todas as pessoas maiores, residentes ou portadoras de qualquer título válido de permanência na Região Administrativa Especial de Macau, que reúnam os requisitos gerais para registo como Auditores de Contas nos termos do artigo 4º do Estatuto dos Auditores de Contas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 71/99/M, de 1 de Novembro, e que, no caso de revalidação de registo, tenham cumprido o disposto no artigo 10º do mesmo Estatuto.

Contabilista registado e técnico de contas:Podem candidatar-se todas as pessoas maiores, residentes ou portadoras de qualquer título válido de permanência na Região Administrativa Especial de Macau, que reúnam os requisitos gerais para registo como contabilistas registados ou técnicos de contas nos termos do artigo 4º do Estatuto dos Contabilistas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 72/99/M, de 1 de Novembro, e que, no caso de revalidação de registo, tenham cumprido com o disposto no artigo 10º do mesmo Estatuto.

3. Local de levantamento do boletim de inscriçãoO boletim de inscrição, os esclarecimentos relativos à prestação de provas, o regulamento das provas e as regras da prestação de provas relativas aos candidatos e conteúdo das provas podem ser obtidos no sítio da internet da Direcção dos Serviços de Finanças, no local relativo à CRAC (www.dsf.gov.mo) ou levantados nos seguintes locais:1) Instalações da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, no 1º andar do “Centro de Recursos da Direcção dos Serviços de Finanças”, sito na Rua da Sé, n.º 30, em Macau;2) Rés-do-chão do Edifício da Direcção dos Serviços de Finanças, sito na Avenida da Praia Grande, nºs 575, 579 e 585;3) Centro de Serviços da RAEM, Rua Nova de Areia Preta, nº52;4) Centro de Atendimento Taipa, Rua de Bragança, nº 500, R/C, Taipa.

Em caso de dúvidas, agradecemos o contacto com a CRAC, durante as horas de expediente, através do telefone número 85995343 ou 85995344, ou através do e-mail [email protected]

Direcção dos Serviços de Finanças, aos 05 de Agosto de 2014.

O Presidente da CRACIong Kong Leong

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17DESPORTOhoje macau segunda-feira 18.8.2014

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COMPANHIA TIN CHAK INTERNACIONAL LIMITADARua da Pérola, Edifício Villa de Mer, HR/C, Macau

REGISTADA NA CRCBM SOB O Nº 26511, CAPITAL SOCIAL: MOP$100.000,00

Para os efeitos tidos por convenientes, anuncia-se que, por deliberação da Assembleia Geral extraordinária realizada em31 de Julho de 2014, foi decidido, por unanimidade das sócias, dissolver e encerrar a liquidação, a partir da referida data, da sociedade comercial por quotas denominada “Companhia Tin Chak Internacional Limitada”, com sede em Macau, na Rua da Pérola, Edifício Villa de Mer, HR/C, registada na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis de Macau sob o nº 26511, com o capital social de MOP$100.000,00, tendo o respectivo registo sido requerido em 4 de Agosto de 2014.

Macau, aos 18 de Agosto de 2014.

M AIS de 60 atle-tas de judo, futebol e atle-tismo de Macau

participam em acções de formação em Portugal, disse o secretário de Estado do Desporto e da Juventude na visita à Região Administrativa Especial chinesa.

“Está a decorrer, neste momento, um estágio com jovens que estão actualmen-te em Portugal no judo, em Anadia, e que tiveram até o prazer de poder treinar com a nossa selecção principal”, numa delegação composta por duas dezenas de judocas, disse Emídio Guerreiro.

Para Portugal rumou também um conjunto de 36 atletas, com idades entre os 10 e os 13 anos, para um estágio na Academia de Alcochete do Sporting, acompanhados por quatro treinadores de futebol, os quais também vão receber formação, a somar à se-lecção escolar de atletismo de Macau que participa no Torneio Olímpico Jovem.

Os estágios, de duas semanas, decorrem em diferentes momentos. “O judo está a acabar e futebol a começar”, detalhou Emídio Guerreiro, que esteve na passada quinta-feira reunido com o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura de Macau, Cheong U, o qual lhe endereçou o convite para visitar Macau por ocasião dos Jogos da Lusofonia, que se realizaram em Goa, no início do ano.

O enquadramento das acções de formação espe-cíficas, ‘fechadas’ em Maio com a visita do presidente do Instituto de Desporto de Macau, é suportado por

Benfica Dois anos para Júlio César O guarda-redes Júlio César chegou este sábado a acordo com o Benfica e vai assinar contrato por duas épocas com o clube da Luz, segundo o jornal A BOLA. Após a reunião com o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, no Estádio da Luz, o internacional brasileiro viajou para Londres onde vai acertar a desvinculação com o Queens Park Rangers.

Sporting escorrega em CoimbraNo final do jogo em que se registou um empate a uma bola, o treinador dos leões, Marco Silva, era um homem amargurado. «É um resultado que tem um sabor amargo. Tínhamos, obviamente, os três pontos como objectivo, respeitando o adversário, e penso que demonstrámos isso, com uma primeira parte muito positiva. Para o primeiro jogo do Campeonato, demonstrámos boa qualidade, chegámos à vantagem, poderíamos e deveríamos ter deixado o resultado mais cómodo para nós, mas não fomos capazes. Não me lembro de uma única oportunidade da Académica nesta fase. A segunda parte foi diferente, com o jogo mais partido, a Académica a jogar em campo todo. Não fizemos o segundo, pese termos tido oportunidade, e depois veio a expulsão, a acumular com a saída do Cédric, que complicou muito o nosso jogo. Ainda assim, os jogadores foram briosos, lutaram bastante, às vezes de uma forma não tão organizada como gostaríamos e a Académica acaba por ser feliz no último lance. Foi um castigo demasiado pesado para nós.

ESPN Porto e Benfica favoritosO site ESPN faz uma antevisão do campeonato português, colocando FC Porto e Benfica como principais candidatos ao título. A análise assenta também nos 111 golos que Jackson e Lima apontaram nas duas últimas épocas. Em vésperas da primeira jornada do campeonato nacional, o ESPN faz uma antevisão, colocando FC Porto e Benfica como favoritos. Os golos de Jackson Martínez e Lima, avançados dos dois clubes, são o destaque da peça, que compila os 111 remates certeiros do jogadores, com vantagem para o colombiano. Para aquela publicação, o Sporting ‘corre por fora’, apesar de manter a estrutura da época passada. A turbulência no reino do leão ameaça, no entanto, enfraquecer o plantel de Marco Silva.

JUDO, FUTEBOL E ATLETISMO DE MACAU EM PORTUGAL

Da teoria à práticaCerca de seis dezenas de jovens atletas do território estão em Portugal num estágio de duas semanas decorrente de uma estratégia que visa promover e consolidar o espaço da lusofonia

Portugal, indicou Emídio Guerreiro, sublinhando que tal se enquadra na estratégia delineada.

APOSTA LUSÓFONA“Definimos estrategica-mente que o nosso espaço de actuação é o espaço da lusofonia e, por isso, damos bastante importância aos jo-gos da Lusofonia, aos jogos da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portugue-sa) e é também no âmbito desse vector estratégico que cá estamos para a poder consolidar”, afirmou.

Recordando que Por-tugal e Macau têm um protocolo e um memorando de entendimento na área do Desporto há já alguns anos, o secretário de Estado desta-

cou o “reforço” de que tem vindo a ser alvo a cooperação bilateral com a adopção de “medidas práticas”.

“Estamos a deixar a fase das reuniões de cúpula para que finalmente o memo-rando se traduza em acções concretas”, observou.

Para Emídio Guerreiro, afigura-se assim “muito im-portante” conseguir multi-plicar estas acções de estágio “porque não basta a vontade política para cimentar toda esta relação histórica entre territórios tão distantes”.

“A melhor forma de consolidarmos tudo isto é pormos os jovens a confra-ternizar e o desporto é um instrumento excelente para isso”, defendeu, adiantan-do que, em 2015, haverá

“mais trocas e estágios”: “Vamos agora definir em que modalidades e em que parcerias. Podem ser as mesmas ou não, depende um pouco também daquilo que Macau queira e vamos tentar também, tal como se fez no passado, enviar para cá alguns atletas”.

Emídio Guerreiro esteve até sábado em Macau, onde, além de encontros bilaterais com entidades do Desporto na Região, assistiu à cerimó-nia de abertura do Grande Prémio Mundial de Voleibol Feminino, tendo partido domingo para Nanjing, na China, onde vão decorrer os Jogos Olímpicos da Ju-ventude, nos quais Portugal estará representado por um universo de 22 atletas.

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TEMPO POUCO NUBLADOS MIN 27 MAX 33 HUM 60-90% • EURO 10.6 BAHT 0.2 YUAN 1.2

ACONTECEU HOJE 18 DE AGOSTO

João Corvofonte da inveja

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

18 hoje macau segunda-feira 18.8.2014

U M D I S C O H O J E

(F)UTILIDADES

JOHNNY CASH THE LEGEND OF JOHNNY CASH (2006)

Decorria o ano de 2006 quando os seguidores do extraordinário Johnny Cash foram brindados com um álbum que reúne grandes músicas do artista. Do início ao fim é impossível parar de ouvir. “I walk the line”, “Hurt”, “A boy name Sue”, “Cry, Cry, Cry”, estão lá todas. Hoje o dia é para a lenda. - H.M.

África do Sul banidados Jogos devido ao Apartheid• Neste dia, África do Sul é alvo de uma consequência política por persistir no regime do Apartheid, contra o qual Nelson Mandela lutou. O Comité Olímpico afasta o país dos Jogos Olímpicos, a 18 de Agosto de 1964. O facto de África do Sul não renunciar ao regime de segregação racial levou o Comité Olímpico Internacional a banir o país da maior competição desportiva do mundo, a 18 de Agosto de 1964.Esta decisão representa um dos momentos históricos da luta mundial contra aquele regime. Esse combate foi liderado pelo maior símbolo do combate ao Apartheid: Nelson Mandela.Adoptado em 1948 pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África do Sul, o Apartheid fez lei até 1994. Com este regime, os direitos de grande maioria dos cidadãos foram limitados pelo governo formado por uma minoria branca.A legislação sul-africana dividia os habitantes em grupos raciais, o que gerou repulsa em diversas entidades mundiais, entre as quais o Comité Olímpico, que tomou medidas, a 18 de Agosto de 1964.Liderado por Nelson Mandela, o Congresso Nacional Africano conseguiu vencer as eleições multirraciais e democráticas de 1994, pondo termo ao Apartheid.Nasceram a 18 de Agosto Brook Taylor, matemático inglês (1685), Antonio Salieri, compositor italiano (1750), Lord John Russell, político britânico (1792), Marcel Carné, realizador francês (1906), Otto Ernst Remer, general alemão da II Guerra Mundial (1912), Shelley Winters, actriz norte-americana (1920), Alain Robbe-Grillet, escritor francês (1922), Roman Polanski, realizador de cinema franco-polaco (1933), Johnny Preston, cantor e compositor norte-americano (1939), Robert Redford, actor e realizador norte-americano (1937), Patrick Swayze, actor, bailarino e cantor norte-americano (1952), e Nanni Moretti, actor e realizador italiano (1953).

Descobri um clube de poetas vivos e matei-os.

C I N E M ACineteatro

SALA 1LUCY [C]Um filme de: Luc BessonCom: Scarlett Johansson, Morgan Freeman14.15, 18.00, 19.45, 21.30

DORAEMON THE MOVIE: NOBITA IN THE NEWHAUNTS OF EVIL-PEKO AND THE FIVE EXPLORERS [A]FALADO EM CANTONÊS E LEGENDADO EM CHINÊSUm filme de: Yakuwa Shinnosuke16.00

SALA 2INTO THE STORM [B]Um filme de: Steven Quale

Com: Richard Armitage, Alycia Debnam-Carey, Matt Walsh14.15, 16.00, 17.45, 21.30

BREAK UP 100 [B]Um filme de: Lawrence ChengCom: Ekin Cheng, Chrissie Chau19.30

SALA 3CAFE • WAITING • LOVE [B]Um filme de: Chiang Chin LinCom: Vivian Chow, Megan Lai, Pauline Lan, Lee Luo14.30, 16.45, 19.15, 21.30

INTO THE STORM

Palavras políticasDepois deste fim de semana, escrever-vos tornou-se uma árdua tarefa. Faltam-me as palavras, as minha patas parecem não querer mexer-se e os meus bigodes sentem-se frustrados. Recorri aos livros que tantas vezes me acolhem como se deles fizesse parte. E deixo-vos um pensamento escrito em 1785 e tão actual que é. Palavras que traduzem as miadelas que eu poderia ter para vós depois deste fim-de-semana.

“Parecemos estupefactos ao ver a multidão ser conduzida por meros sons, mas devemos lembrar-nos que, se os sons operam milagres, é sempre graças à ignorância. A influência dos nomes está na proporção exacta da falta de conhecimento. De facto, até onde tenho observado, na política, mais que em qualquer outra área, quando os homens carecem de alguns princípios fundamentais e científicos aos quais recorrer, eles tornam-se aptos a ter o seu entendimento manipulado por frases hipócritas e termos desprovidos de sentido, dos quais todos os partidos em qualquer nação têm um vocabulário”

William Paley

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hoje macau segunda-feira 18.8.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Cecília Lin; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado; Ricardo Borges (estagiário) Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

19OPINIÃO

N O dia 16 de Julho, o website yahoo.com.hk publicou uma notícia relativa aos lugares prioritários no metro de Hong Kong (MTR ou Hong Kong Mass Transit Railway). Aí se mencionava que muitos jovens não estão dispostos a ceder o seu lu-gar a pessoas necessitadas,

como deficientes físicos ou mulheres grá-vidas. Sabem como reagiu o público a esta notícia? As opiniões dividem-se em dois campos opostos. Aqueles que acham que os jovens devem ceder o seu lugar, teceram comentários como “por favor prestem aten-ção aos outros quando andam no metro. Não se concentrem apenas nos vossos telefones portáteis” ou “ceder o lugar a pessoas em necessidade indica que esse indivíduo é dotado de boa moralidade”.

Por sua vez, aqueles que não acham que tal deva ser feito, opinaram que “ceder o lugar a outro é uma questão de moralidade. Não somos forçados a fazer isso por lei”.

É obviamente difícil encontrar um com-promisso entre estes dois campos. Duas pessoas que haviam recusado ceder o seu lugar explicaram as razões por detrás das suas acções. O primeiro, A, comentou que “um dia, quando sofria de uma infecção na minha vista, ocupei um lugar no metro. En-quanto fechei os meus olhos para descansar um pouco, não me apercebi que uma mulher grávida estava a olhar para mim, porque eu não lhe tinha cedido o meu lugar. Quando dei por isso, já estavam todos os passageiros a olhar para mim, e aí fiquei com medo que já me tivessem tirado uma fotografia e a colocado online. Se tal acontecesse, ficaria sob uma grande pressão, pois seria sujeito a um julgamento público na internet”.

O segundo caso, que envolve Candy, uma mulher com 30 anos de idade, é mais sério, pois tem a ver com um lugar prioritário. Em Hong Kong, quase todos os transportes pú-blicos estão dotados de assentos prioritários, que estão reservados para passageiros com necessidades especiais, como deficientes físicos, mulheres grávidas, idosos e crian-ças. Em Macau, podemos verificar que os autocarros também têm lugares prioritários.

Candy ocupou um lugar prioritário no autocarro, porque estava carregada de bagagens. Quando reparou numa mulher grávida ao seu lado, saiu do lugar para que esta o pudesse ocupar. Mas como haviam outros lugares vazios no autocarro, a grávida decidiu então ocupar outro assento. Uns minutos mais tarde, um casal comentou “como é possível que uma pessoa não ceda o lugar prioritário a uma mulher grávida? O condutor devia expulsá-la do autocarro”.

macau v is to de hong kongDAVID CHAN*[email protected] • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog

*Professor Associadono Instituto Politécnico de Macau

“Para construir uma sociedade harmoniosa, não podemos depender apenas das leis. Temos de educar as nossas crianças para que saibam amar e cuidar dos outros”

Lugares prioritáriosDe modo a evitar disputas, Candy optou por sair da viatura antes de chegar ao seu destino final.

Esta situação acarreta mais considera-ções legais. Os passageiros são obrigados por lei a ceder um assento prioritário a uma pes-soa em necessidade? Para responder a esta questão, temos de analisar os regulamentos do MTR de Hong Kong. Esta empresa tem um aviso junto dos seus lugares prioritários, que salienta que, de acordo com a secção 21 dos seus estatutos, “enquanto dentro das nossas propriedades, todas as pessoas têm de obedecer aos nossos estatutos, avisos, indicações e outras direcções ou pedidos razoáveis dos nossos agentes”.

A tabela 2 do mesmo regulamento avisa que uma penalidade de 2.000 dólares de Hong Kong será aplicada a quem não obe-decer aos estatutos ou avisos.

Assim, torna-se óbvio que se um passa-geiro não ceder o seu lugar prioritário a um indivíduo em necessidade, encontra-se em violação dos estatutos e fica então sujeito a uma multa de 2.000 dólares de Hong Kong.

Mas, se analisarmos esta secção 21 com atenção, reparamos que o seu conteúdo é muito limitado. Há muitas situações que não são aqui contempladas. Por exemplo, deve um deficiente físico ceder o seu lugar a outro deficiente? O bom senso dita que não, mas as leis têm de ser claras e específicas. Neste caso, a legislação canadiana fornece um exemplo a seguir. “The Acessibility

for Ontarians with Disabilities Act 2005” estipula que empresas e organizações têm de fornecer serviços acessíveis a pessoas com deficiências. De acordo com esta lei, os serviços de transporte público de Ontário oferecem lugares prioritários só para pessoas com deficiências. O regulamento destas companhias dizem que “se um indivíduo está a ocupar um assento prioritário, é forçado a cedê-lo a um passageiro com deficiência”. Neste caso, os regulamentos são muito detalhados, especificando que:- um passageiro deficiente não é obrigado a ceder o seu lugar a outra pessoa com de-ficiência. Os lugares são para ser ocupados conforme a sua disponibilidade.- um indivíduo que cede o seu lugar a outro não é obrigado a abandonar a viatura de modo a criar espaço para um passageiro com deficiência.- os condutores não interferem para impor

cartoon por Stephff ANDOR

estes regulamentos. O espírito desta lei é “mostre consideração por aqueles que têm mais necessidade do que você”.

Esta lei canadiana levou a que fossem criados um outro tipo de lugares, apelidados de assentos de cortesia. Estes assentos são destinados a fornecer lugares a pessoas que beneficiariam de ter um assento, tais como:- idosos- mulheres grávidas ou adultos viajando com bebés ou crianças- qualquer outro passageiro que possa be-neficiar de um lugar

Mais uma vez, não cabe aos condutores aplicar este regulamento.

Comparando os regulamentos de Hong Kong e do Canadá, é obvio que o ultimo é preferível visto ser mais detalhado, o que remove algumas incertezas. A lei é a lei, e é necessário que esta seja nítida e específica. Não é suficiente dizer que os passageiros têm de obedecer aos avisos fornecidos pelo MTR.

Ceder o lugar a um passageiro em ne-cessidade é obrigatório de acordo com os regulamentos de Hong Kong e do Canadá. Ao mesmo tempo, é um dever cívico em qualquer parte do mundo. Para construir uma sociedade harmoniosa, não podemos depender apenas das leis. Temos de educar as nossas crianças para que saibam amar e cuidar dos outros.

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