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MEMÓRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL DE CATAGUASES Volume1

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Volume 1 MEMÓRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL DE CATAGUASES Incentivo: Patrocínio: Execução: MEMÓRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL DE CATAGUASES Volume 1

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M E M Ó R I A E P AT R I M Ô N I O C U L T U R A L D E C ATA G U A S E S

Volume 1

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Apoio:

Patrocínio:

Execução:

Incentivo:

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M E M Ó R I A E P AT R I M Ô N I O C U L T U R A L

D E C ATA G U A S E S

Vo l u m e 1

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2 ª E D I Ç Ã O – 2 0 1 2

Organização e Coordenação: Paulo Henrique Alonso

Equipe de História Oral (1ª edição):Glaucia Siqueira, Hedileuza Maria de Oliveira Valadares,

João Carlos Borges Justi, Lídia Avelar Estanislau, Rosângela Schettini Rodrigues

Equipe de Memória Visual (1ª edição):Ariene Cunha de Mattos, José Francisco de Souza (Pathé),

Marco Antônio de Campos Guimarães, Nanci Spindola Araújo, Ricardo Quinteiro de Mattos

Coleta material iconográfico: Marcela Andrade da Silva

Design: Birte Paetrow, Gustavo Baldez, Holger Melzow

Infraestrutura e tecnologia: Américo Vicente Sobrinho

Plataforma de rede e internet: David Azevedo, Danilo Marinho

Comunicação: Beth Sanna

Produção: Bárbara Piva

Gestão administrativo-financeira: Djalma Dutra Jr, Geisiane Marinho de Lima

Ficha Catalográfica elaborada pelas Bibliotecárias:Carla Viviane da Silva Angelo – CRB-6/2590.

Edna da Silva Angelo – CRB-6/2560.

Memória e patrimônio cultural de Cataguases / Paulo Henrique Alonso (Coord.). – 2 ed. – Cataguases / MG: ICC, 2012.

184 p.: il. pb. – (Memória e patrimônio cultural de Cataguases; I)

ISBN: 978-85-65550-00-0

1. Memória Oral. 2. Patrimônio Cultural. 3. História. 4. Cataguases / MG. I. Alonso, Paulo Henrique. II. Instituto Cidade de Cataguases – ICC. III. Título.

M533

CDD: 981.5

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M E M Ó R I A E P AT R I M Ô N I O C U L T U R A L

D E C ATA G U A S E S

Vo l u m e 1

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Este é o primeiro volume, em 2ª edição, da série que registra a memória oral de vários personagens da ci-dade de Cataguases, Minas Gerais. Ele é parte de um projeto iniciado em 1988 pela Prefeitura Municipal de Cataguases e pela antiga Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Fundação Nacional pró-Memória.

Aqui, damos continuidade e retomamos o tra-balho original, com a produção periódica de novos exemplares e a reedição dos volumes publicados anteriormente. O propósito é que tenhamos, de for-ma sistematizada, registrada e divulgada a memória

A P R E S E N TA Ç Ã O

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daqueles que fizeram e fazem a história da cidade e que, assim, possamos contribuir para a preservação da memória local.

Este volume contém 8 relatos colhidos e pu-blicados, pela primeira vez, em 1988, mais uma cole-tânea de fotografias antigas de Cataguases, que ilus-tram não somente as entrevistas aqui relatadas, mas também as dos outros volumes desta série. Como na edição anterior, o texto privilegia a fala própria dos entrevistados, regendo-se mais pelas regras da comu-nicação oral do que pelas normas da escrita. Na re-produção das fotos, as autorias e datas que não foram identificadas estão citadas nas suas respectivas legen-das como s/a e s/d e o Departamento Municipal de Patrimônio Histórico e Artístico de Cataguases está grafado pela sigla DEMPHAC.

Esta publicação está também disponível, em formato PDF, para download gratuito no sítio eletrô-nico www.fabricadofuturo.org.br.

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10P R E F Á C I O

27

J O S É A N T Ô N I O T E O D O R OPorteiro de escola, 94 anos

37

O F É L I A R E S E N D EProfessora, 94 anos

47

E M Í L I O D E S O U Z APintor de parede, 93 anos

53

E C I L A L O B OProfessora, 91 anos

Í N D I C E

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61

C A R L O S C A R VA L H O Comerciante, 90 anos

73

O S WA L D O B A R R O S OComerciante, 84 anos

83

E VA C O M E L L OFotógrafa, 79 anos

95

M A R I A M E N D E S N E T OTecelã, 64 anos

105

C O L E T Â N E A D E F O T O S

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“Cataguases... Há coisa mais bela e serena oculta nos teus flancos” (Ascânio Lopes – 1928)

A edição da coletânea Memória e Patrimônio de Cataguases acontece em um momento bastante opor-tuno, no qual os desafios colocados pelas transfor-mações vividas no país e no mundo exigem novos conceitos e práticas em relação ao passado e aos ves-tígios e testemunhos materiais e imateriais deixados pelas sociedades humanas. No presente deste texto, o debate sobre a conservação e o destino do patrimô-nio artístico e cultural da cidade de Cataguases exige novas abordagens e ações urgentes para garantir a

C ATA G U A S E S : O U T R O S O L H A R E S S O B R E A M E M Ó R I A

E O PA T R I M Ô N I O

Margareth Cordeiro Franklin1

1) Historiadora, professora do CEFET MG - campus Leopoldina

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preservação inclusive do que já está incluído nos ter-mos do tombamento do Conjunto Urbano da cidade, realizado pelo IPHAN em 1994.2

Um fator de risco são as grandes enchentes que fazem o Rio Pomba sair do seu leito e inundar construções e obras de arte espalhadas pela cidade, como aconteceu em 2008 e 2012 e que exigem medi-das preventivas por parte do poder público. Em rela-ção às enchentes e aos prejuízos e transtornos causa-dos por elas, é preciso um esforço conjunto entre os vários níveis de governo, empresários, representan-tes do setor energético, entidades ambientais e outras da sociedade civil para avaliar as responsabilidades humanas e buscar soluções e recursos para, através de obras estruturais, prevenir e diminuir os impactos de ocorrências futuras.

Em relação ao patrimônio já protegido, o caso de Cataguases é exemplar, pois explicita os limites do tombamento e sua fragilidade diante da dinâmica so-cietária, do direito de propriedade, dos conflitos en-tre as várias esferas do poder público. O patrimônio histórico e cultural durante muito tempo foi pensado

2) ALONSO, P. H. ; CASTRIOTA, L. B. . Conhecer para preservar: documen-tação e preservação do patrimônio modernista em Cataguases, Minas Gerais. In: 8º SEMINÁRIO DOCOMOMO BRASIL. Cidade Moderna e Contem-

porânea: Síntese e Paradoxo das Artes, 2009, Rio de Janeiro.

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apenas como bens históricos e arquiteturais, enquan-to a preservação incluía uma série de operações ca-pazes de selecionar, proteger e conservar esses bens, considerados de valor excepcional. Essa noção, hoje superada, garantiu que desde a década de 1930 vá-rias edificações e objetos fossem protegidos por meio do instituto legal do tombamento.

Entretanto, em Cataguases, inúmeros casos co-locam em risco o patrimônio incluído nos termos do tombamento. Citando o mais recente, a instalação de um grande supermercado no prédio da antiga fábrica de tecidos de 1905 afetou fisicamente não só o imó-vel, mas também a vizinha vila operária da Indústria Irmãos Peixoto, também tombada pelo IPHAN. Esse fato chama a atenção por duas razões: a primeira diz respeito ao silêncio da cidade sobre a destinação do bem tombado, pois o supermercado substituiu um importante centro cultural que funcionava nas de-pendências da antiga fábrica desde 1999, o Instituto Francisca de Souza Peixoto. Tal fato revela um proble-ma no estatuto do tombamento, uma vez que a deci-são de proteger um bem não implica na definição do uso que se pode fazer dele. Segundo, porque o pró-prio tombamento entra em questão, uma vez que as políticas de patrimônio que nele se fundamentam cen-tram a atenção no objeto material, no caso, o prédio

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construído, sem que haja indicação de como uma co-munidade se reapropria simbolicamente do bem tom-bado e, por consequência, torna-se protagonista do seu processo de preservação e conservação, enquanto fortalece seus sentimentos de identidade e cidadania.

Sabemos hoje que a participação popular é decisiva para o sucesso das ações de preservação da memória e do patrimônio, e que cabe ao Estado es-clarecer, informar e dar transparência da sua atuação, estimulando os diversos segmentos sociais a partici-par desse processo. Entretanto, tal compreensão é re-cente no Brasil e implicou na revisão do próprio con-ceito de patrimônio, superando a noção de que deve-mos preservar apenas bens de excepcional valor, en-tendidos como o conjunto de prédios e monumentos arquitetônicos, biografias de pessoas ilustres, fatos da história oficial. Dessa forma, outras manifestações culturais relevantes foram esquecidas, desvaloriza-das e condenadas ao desaparecimento por serem ori-ginárias das classes populares, das senzalas, terreiros, favelas, vilas operárias.

Privadas do direito à memória e ao seu patri-mônio cultural, as classes populares nunca se apro-priaram de fato da sua herança cultural. Foi a partir do processo de redemocratização do Brasil, nos anos 1980/90, com a emergência dos movimentos sociais,

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que essas questões foram colocadas. Hoje, as classes populares podem e devem ter reconhecidos o seu di-reito à memória e ao pleno exercício da sua cidadania. Superando a noção do patrimônio como monumen-tos e fatos de excepcional valor que foram utilizados para a legitimação do Estado e construção de memó-rias nacionais produzidas exclusivamente pelas elites políticas, sociais e econômicas, o patrimônio pode ser visto como expressão da diversidade cultural, produ-zindo saberes e identidades para grupos, indivíduos, etnias etc. A partir do decreto 3.551, de 4 de agosto de 2000, que instituiu o registro e o inventário dos bens culturais de natureza imaterial ou intangível, incluin-do festas, rituais, danças, mitos, músicas, comidas, lugares, saberes e fazeres, a política de preservação do patrimônio cultural pode valorizar não apenas a memória das classes abastadas, mas também a dos despossuídos, conferindo visibilidade às suas diver-sas formas de expressão.

Desde o primeiro volume buscou-se o teste-munho de pessoas que, com suas vivências e impres-sões, apesar de permeadas por suas crenças e con-vicções, foram capazes de recriar outra cidade: a que escapa dos discursos políticos e urbanísticos oficiais para ser recriada nas histórias individuais, que não se separam das histórias coletivas. Essa cidade cons-

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truída nas narrativas é permeada por suas próprias contradições, ou como disse Milton Santos, é um ter-ritório usado, o chão mais a identidade dos que aqui vivem, amam, trabalham, criam, sofrem, sonham.3 Também é o lugar onde proliferam as mais diversas astúcias dos seus habitantes para proteger-se das su-as engrenagens, muitas vezes excludentes. A cidade, nesse caso, é também metáfora do lugar do encontro dos diversos lugares e tempos sociais, onde diferen-tes vozes se reúnem e estratégias de sobrevivência cultural, de memória e solidariedade se desenham, construindo pontos de referência capazes de produ-zir sentido para a existência dos seus habitantes, for-necendo estabilidade, fazendo-os se sentir em casa.

E a construção dessa casa começou bem antes de os sertões do Leste formarem uma imensa barreira natural de floresta tropical, que protegia as minas de ouro e os interesses da Coroa portuguesa contra in-vasores e contrabandistas. Seus primeiros habitantes foram tribos indígenas tidas como selvagens, antro-pófagas e hostis pelos colonizadores, que também es-palharam essa crença para manter os desbravadores distantes até fins do século XVIII. Quando as jazidas declinaram e começou a ocupação da região, os colo-

3) SANTOS, M. Território e dinheiro. In: Território. Niterói: UFF/AGB. 2002, p. 10.

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nizadores mantiveram uma guerra sangrenta contra as tribos, pois estavam interessados nas terras que os índios ocupavam. Nesse contexto, Guido Thomaz Marlière, ao fundar em uma das suas campanhas o povoado de Santa Rita do Meia Pataca, em 1823, ti-nha certeza do propósito civilizador do seu gesto.

A destruição da floresta, das tribos e o apa-gamento dessas culturas prosseguiram na época seguinte, dominada pela produção cafeeira sob co-mando dos grandes fazendeiros, donos de terras e escravos. O tráfico de escravos no Atlântico, abalado na segunda metade do século XIX pelas constantes proibições, estimulou a busca, em outras regiões de Minas, Rio de Janeiro e Nordeste, da mão de obra necessária às lavouras de café. Enquanto Cataguases crescia, crescia também sua população escrava. Dados de população em 1839 mostram 147 escravos num contingente de 774 habitantes no então distri-to de Santa Rita do Meia Pataca. Tal número vai va-riar significativamente, passando para 3791 escravos entre os 12092 habitantes de todas as freguesias que constituíram o município de Cataguases em 1877.4

Por essa época, a ferrovia inglesa da Leopol-dina Railway Company ligou Cataguases ao Rio de Janeiro, capital do Império, atendendo aos interesses da economia cafeeira. Símbolo máximo dos tempos

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modernos, o trem transpunha, além dos limites ge-ográficos, as distâncias simbólicas entre os velhos e os novos tempos, a escravidão e o trabalho livre, a lavoura e a indústria, o Império e a República e todos os demais antagonismos que agitavam a sociedade da época.

Cataguases passou a receber os benefícios des-sa fase próspera da produção cafeeira na forma de diversas melhorias urbanas, como o calçamento de ruas e o saneamento de áreas insalubres e pântanos que contribuíam para os sucessivos surtos de febre amarela na cidade. Também recebeu novas edifi-cações como o Teatro Recreio, o Paço Municipal, o Grande Hotel Villas, o Ginásio e Escola Normal, a ponte metálica sobre o Rio Pomba, casas comerciais e os empreendimentos industriais que mudaram para sempre a região: a instalação da Fábrica de Fiação e Tecelagem Cataguases, em 1905 e a Companhia Força e Luz Cataguases-Leopoldina, em 1908.

Do lado dos ex-escravos, a abolição pouca al-teração trouxe às suas condições de vida e trabalho. Apesar de libertos, submeteram-se ao trabalho pos-

4) FANNI, Silvana. Escravidão, Economia e Liberdade. In JÚNIOR, Carlile Lanzieri; FRADE, Inácio. (Org.). Muitas Cataguases: novos olhares acerca da história regional. 1ª ed. Juiz de Fora: Editar Editora Associada LTDA, 2006,

v. 1,p. 57/80.

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sível nas fazendas e continuaram produzindo o cres-cimento econômico do município, como registra um dos seus mais ilustres cronistas, Enrique de Resende:

Não houve tropelias nas senzalas ou fora delas, e passados os primeiros meses de adaptação do liberto à nova ordem, as atividades lavoureiras do município paradoxal-mente se multiplicaram. A prova disso está nas colheitas de café, registradas nos anos subsequentes, e cuja abun-dância, até então inigualada, restaurou as finanças muni-cipais, ofereceu oportunidade de trabalho a quantos procu-rassem (...).5

As indústrias atraíam cada vez mais os traba-lhadores rurais que vinham tentar a sorte na cidade. Cataguases crescia e acolhia essa população diversifi-cada, reproduzindo em escala local o que ocorria em outras cidades do país. A afluência de trabalhadores rurais, ex-escravos, imigrantes europeus de várias origens em busca de oportunidades nas indústrias locais, fez com que surgissem novos bairros, ocu-passem desordenadamente as encostas, espalhassem moradias nas margens dos rios.

Em 1906, demonstrando a união em torno dos seus interesses comuns, os trabalhadores fundaram

5) RESENDE, Enrique de. Pequena história sentimental de Cataguases. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1969, p. 47.

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a Liga Operária Cataguasense, que funcionava como um misto de clube social e entidade de ajuda mú-tua. Também organizaram times de futebol, como o Flamengo e o Operário que agregavam as comunida-des em disputas e campeonatos animados.6

Aqui, como em todo o país, crescia a crença na modernização difundida pelo capitalismo, isto é, a tentativa de construir uma modernidade pela via tec-nológica a partir da abundância de produtos técnicos e econômicos, que não incluía os valores emancipa-tórios de justiça social e direitos, como condição para esse projeto. Como a República sem povo, o moder-no reduzia-se à perseguição incessante do novo como um valor, indissociável da ideia de progresso, de de-senvolvimento, que se tornou uma espécie de culto, uma superstição, um mito.

Partícipes de um arranjo político que não to-cava na propriedade fundiária nem nas relações de trabalho no campo, os antigos senhores de terra di-versificavam seus interesses econômicos e assumiam o comando do processo de industrialização sob o pa-trocínio do Estado. Apegadas à ideia de moderniza-

6) PIMENTA, Angela de Fátima Faria. Liga Operária Cataguasense: uma as-sociação de operários da Zona da Mata mineira (1900-1922), p. 4. http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/consulta em 10/02/2012.

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ção, entendida como industrialização e crescimento urbano, as classes dominantes conduziram o proces-so de transição da economia agrária para a industrial, demonstrando sua capacidade de mudar conservan-do, traço político brasileiro tributário de interesses sociais concretos e do processo de constituição do edifício do Estado.7

A herança latifundiária e escravista de man-do e obediência permanecia intacta. Os fazendeiros transformados em homens de negócios, com capitais investidos em grandes indústrias urbanas, muda-vam sua mentalidade, sua personalidade e adotavam comportamentos e gostos diferentes. Desse grupo sa-em personagens que vão ocupar os cargos públicos e manejar todos os seus trunfos econômicos e suas redes de contatos sociais e familiares para conservar seus lugares sociais privilegiados e sua posição de domínio.

A estética renovadora dos artistas modernistas, influenciados pelas vanguardas europeias, coincidiu com os interesses bem pragmáticos da fração mais poderosa e refinada das grandes fortunas também em Cataguases. Enquanto a sociedade brasileira vivia as

7) REIS, Elisa. Elites agrárias, state-building e autoritarismo. Dados, 1982, 25, 3: p. 275-96

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consequencias do fim da escravidão, da imigração, do surto industrial após a Primeira Guerra Mundial e da urbanização crescente, os modernistas dos anos 1920 foram capazes promover uma convergência entre as inovações estéticas e as transformações sociais que, para além da Semana de Arte Moderna em São Paulo, pode ser vista como um movimento de ideias que cir-culou pelos principais núcleos urbanos do país.8

Porém, em poucos lugares o modernismo foi tão significativo como aqui, com a ocorrência quase simultânea do cinema pioneiro de Humberto Mauro e da Revista Verde, que circulou de setembro de 1927 a maio de 1929, mantida por jovens bem nascidos da cidade, chamados por Oswald e Mário de Andrade de “os ases de Cataguases”: Rosário Fusco, Enrique de Resende, Francisco Inácio Peixoto, Ascânio Lopes, Guilhermino Cesar.

Além da relevância artística, alguns nomes dessa geração ocuparam cargos de elevado prestígio nas diversas esferas de poder, unidos por diferentes vias ao projeto do governo Getúlio Vargas nos anos seguintes. Nesse projeto, artistas e intelectuais eram fundamentais para o regime e atuavam contribuin-

8) LAFETÁ, João Luís. 1930: A crítica e o modernismo. São Paulo: Duas Ci-dades; Ed. 34, 2000.

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do com a afirmação da identidade nacional, difun-dindo a crença na positividade da existência de um povo ordeiro, pacífico e trabalhador. Seus esforços nos anos 1930/40 se concentraram principalmente na ampliação dos espaços educacionais e culturais num país ainda dominado pelo analfabetismo e pelo que acreditavam ser o atraso dos espíritos. Desse modo, apostaram em centros de difusão da modernidade, baseados no poder simbólico de obras arquitetônicas e urbanísticas. Era preciso varrer as velhas formas e instaurar o novo como uma promessa estética e po-lítica, como se o traçado de prédios e cidades fosse capaz de irradiar o progresso.9

Em Cataguases, a febre renovadora alcançou a cidade de forma intensa a partir do empenho do industrial e escritor Francisco Inácio Peixoto, certa-mente com o incondicional apoio do antigo parcei-ro da Revista Verde, Rosário Fusco, então um dos principais intelectuais a serviço do governo Vargas. Obras assinadas por Oscar Niemeyer, Aldary Toledo, Francisco Bolonha, MMM Roberto, Luzimar Goés espalharam-se pela cidade a partir dos anos 1940/50,

9) SILVEIRA, Marcus Marciano Gonçalves da.Templos modernos, templos ao chão: a trajetória da arquitetura religiosa modernista e a demolição de antigos

templos católicos no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.

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juntamente com o paisagismo de Burle Marx e tra-balhos de artistas como Portinari, Jan Zach, Emeric Marcier, Anísio Medeiros, Djanira e muitos outros. Tais obras algumas vezes foram erguidas sobre a de-molição de outras, como aconteceu com a Igreja de Santa Rita e o Cineteatro Recreio, causando polêmi-cas na cidade e espanto na população que, alijada das decisões, não entende bem até hoje a causa dessas demolições.

Os trabalhadores também experimentaram a modernização gestada pelas elites locais. A cons-trução de vilas operárias diretamente ligadas aos lu-gares de trabalho disciplinou, em parte, a ocupação do espaço urbano, garantiu a produção de moradias, mas manteve controle estrito sobre a vida privada das famílias e reafirmou a noção da cidadania do trabalho.

A carteira assinada tornou-se símbolo da ci-dadania regulada que manteve de forma parcial os direitos sociais e trabalhistas, sempre dissociados dos direitos civis e políticos, colocando os traba-lhadores sob a tutela patronal ou do Estado, com o controle sobre seus sindicatos, sua livre organização e expressão. Esse modelo produziu consequencias danosas para a compreensão do exercício da cida-dania no Brasil, pois enfraqueceu a criação de uma

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sociedade civil autônoma e organizada, mantendo a tradição de mando privado que imperava na po-lítica brasileira e as instituições públicas viciadas e enfraquecidas.

Além disso, amplos contingentes de trabalha-dores rurais não eram contemplados pela legislação trabalhista, além dos que não possuíam vínculo de trabalho formal. Esses eram indistintamente chama-dos de pobres, sujeitos ao favor, a assistência social ou a repressão policial, vivendo sob o estigma do fra-casso e não reconhecidos como sujeitos de direito.

Apesar de haver uma produção acadêmica sig-nificativa sobre o modernismo em Cataguases e de a cidade ser considerada moderna por vocação, por seu parque industrial e por seu pioneirismo cultural, motivo de orgulho dos seus moradores, pouco sabe-mos sobre a história e a herança cultural deixada por índios, negros e pobres que sempre estiveram aqui, trabalhando e produzindo as riquezas e obras que engrandeceram o município. Manifestações impor-tantes da cultura popular

Nos anos 1960/70, uma nova onda vanguar-dista aportou na cidade, com produções nas áreas de cinema, poesia, literatura e música. O eco das gran-des movimentações da juventude pelo mundo chega-va aqui e era recebido e traduzido em festivais, publi-

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cações, instalações, happenings, performances e ou-tras formas contemporâneas de expressão por uma nova geração de artistas da cidade. Mais uma vez Cataguases se projetou pela arte e cultura, enquanto os trabalhadores, ao contrário das inúmeras greves e movimentos que aconteciam no resto do país, con-tinuavam ocupando seus lugares, como no verso de Ronaldo Werneck nas “ruazinhas distantes do centro e da memória”.

A história oral foi o método adotado para cole-tar essas histórias de vida que se misturam à história da cidade. As entrevistas, transcritas e organizadas em um acervo público, servirão como fonte de estu-dos para pesquisadores de diferentes áreas.

Por ser uma forma artesanal de comunicação, a história oral traz sempre a marca indelével do narra-dor, sua digital, presente nas experiências que viveu ou relata, mesmo que sua fala seja apenas a repro-dução de valores e ideologias alheias a sua classe ou grupo social. Sabemos que, no seu esforço de lembrar, o tempo não será recuperado de forma linear, como nos livros de história da escola, mas o que disserem será guardado para servir às gerações futuras, pois o que sabem foi tecido na experiência, e esse saber inestimável merece ser reconhecido e valorizado en-quanto parte do patrimônio cultural de Cataguases.

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E C I L A L O B OP R O F E S S O R A

9 1 A n o s

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J O S É A N T Ô N I O T E O D O R OP O RT E I R O D E E S C O L A

9 4 a n o s

(Em) 9 de janeiro de 1909, (cheguei a Cataguases). Fui trazido pelo professor Eurico Ribeiro. Quando eu vim pr’aqui eu estava fazendo curso primário em Piraúba com o professor... Eu mo-rava com eles... Fui criado por eles. Quando o pro-fessor Eurico foi removido para Cataguases, ele cha-mou meus pais e perguntou se eles deixavam eu vir com ele. Eles consentiram e eu vim. O professor foi lecionar onde hoje o Dr. Hugo tem a casa dele. Ali era a Escola Pública e eu fiz o primeiro ano, o segundo ano aqui; recebi o diploma do primeiro grau e tra-balhei. Depois, eu deixei o professor e fui trabalhar

Foto: Grupo Escolar de Cataguases, Alberto Landóes, 1913, DEMPHAC

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em diversas casas particulares. E entre uma das casas em que eu trabalhei foi a casa do professor... do Dr. Mares Guia.

Trabalhei como torrador de café. O único torra-dor de café que teve aqui nas primeiras vezes era eu. Torrava para os outros.

Eu fui empregado de bar e hoje se fala lancho-nete. Trabalhei em bar, trabalhei em bar para um tal de Oliveira, trabalhei para o Eduardo Cantagalo, tra-balhei para o Armando Carvalho e quando eu estava trabalhando para o Armando Carvalho, o professor foi nomeado pelo Estado, porque instalaram o Grupo e ele me chamou para ser porteiro do Grupo.

O Grupo Escolar Coronel Vieira foi inaugura-do no dia 24 de fevereiro de 1913. Animou a cidade. Veio gente de todo lado para assistir a inauguração do Grupo Escolar, porque aqui, na Zona da Mata, não tinha. Veio o Secretário de Educação, o Dr. Delfim Moreira da Costa Ribeiro. Eu comecei com o Grupo também novo. O professor Eurico Ribeiro comuni-cou com o Dr. Astolfo Dutra Nicácio para me nomear porteiro. Eu estava com 19 anos de idade. Eu acei-tei o cargo. Comecei a trabalhar como porteiro. Fui o primeiro porteiro de Grupo Escolar nomeado em Cataguases pelo governo do Estado, Dr. Venceslau Braz. De 1913 a 1954, eu exerci a função de portei-

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ro. Trabalhei 42 anos sem pedir licença! Nunca pedi licença. Muitos aprenderam a ler com o meu auxílio, minha ajuda. Por lá já passaram médicos, advogados, padres, homens chefe de governo e eu de lá nunca saí. Assisti à passagem de tanta gente por lá! E por aí me apelidaram “Zé do Grupo”. É um histórico muito sobre mim. É muito melhor este apelido. É, foi por causa de eu trabalhar no Grupo esse tempo todo.

Meu senhor, não posso dizer que não tenho saudade, por conta, eu era rapaz! Eu estava na bei-ra do desenvolvimento físico! Haveria de ter sauda-de! Ainda mais que quando eu fui nomeado, o Dr. Astolfo reuniu e mandou o professor me dar posse - o Sr. Eurico me deu um cartão para o Dr. Astolfo dizendo que já tinha me dado posse e que eu po-dia começar a trabalhar. E comecei a trabalhar so-zinho. Trabalhei um ano ali, sozinho. Sem servente, sem ninguém. Depois, entrou uma servente. Dona Luiza do Vale Sagres. O neto dela é juiz de paz ho-je. De maneira que... Daí, foi o Grupo aumentando, melhorando, crescendo, desenvolvendo... Eu tenho ali um objeto que eu recebi do Grupo como presente, por ocasião em que o Grupo completou 70 anos. E o professor, em 1918, eles transferiram para um ou-tro local. Foi para o Rio de Janeiro, fundou o Colégio Instituto Rabelo. E eu fiquei. Cataguases é a minha

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terra. Adoro sim. É... mas não esqueço a minha terra longínqua que é Piraúba, uma cidadezinha adiante, ali.

Ali (Ginásio Cataguases), era uma fazenda de propriedade do Sr. Santos Júnior. E quando eu vim pra Cataguases, quando a professor Eurico veio para Cataguases e me trouxe, naquele ano, o Santos Júnior tinha sido assassinado por um empregado dele, o que abalou Cataguases e a Zona da Mata...

O Padre Salgado começou a lecionar, a prepa-rar, a arrumar, a transformar, coisa e tal. Resolveu ir para Mariana. E o Granbery, de religião protestante, de Juiz de Fora, veio para tomar o Colégio (Ginásio Cataguases). Veio aí e tal coisa, revoltou a popula-ção de Cataguases, porque não adotaram a religião protestante dirigindo o Colégio de seus filhos! Os Peixotos tinham filhos no Colégio, a família Peixoto e outras famílias também distintas. Tinha a família Dutra. Então chamaram o Antônio Amaro, que esta-va em Ubá, que viesse para Cataguases para tomar conta do Colégio. O senhor Antônio Amaro veio e trouxe um companheiro dele - o Carneiro - que foi para dirigir a Escala Normal, lá pra 910 (1910), mais ou menos.

Organizaram o bonde, a linha de bonde para levar os alunos, professor ou alguém lá no Colégio.

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E foi organizado pelo José Inácio da Silveira Peixoto e toda gente de recurso. Coronel João Duarte... toda gente de recurso... e compraram o bonde. E o bon-de funcionou puxado a burros durante anos. E ia até o Colégio. Atravessava a linha e ia até o Colégio. Subia a Rua da Estação, hoje Coronel João Duarte, subia... atravessava a Praça Rui Barbosa, Coronel Vieira, Praça Santa Rita, entrava lá perto do... onde mora... ali... a família do Coronel Carneiro e dali su-bia. Atravessava a linha lá onde hoje tem a Praça de Esportes, atravessava a linha ali e subia até o Colégio. E ia e voltava.

Eu não conheci o Colégio São Diniz. Na fa-zenda onde eu nasci, em Piraúba, o fazendeiro tinha as filhas que estudavam neste Colégio São Diniz. O Colégio, eu não conheci. Conheci mas muito, muito mais tarde, quando eu, indo a Sereno, passei pela es-tação de São Diniz, que é em homenagem ao proprie-tário daquilo ali. As moças vinham lá de Campestre, pegavam o trem em Sobral Pinto, vinham para Cataguases pegavam o trem em Cataguases e ia para o Colégio São Diniz...

Guido Marlière quando veio, fundou a cidade. O Imperador mandou Guido Marlière devastar as matas, fundar povoação e o Guido Marlière veio pa-ra esta Zona da Mata. Passou por Ubá, Rio Branco e

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veio prá... fundando Cataguases. Fundou Cataguases. E Cataguases progrediu, cresceu, desenvolveu. A me-ta da... do grande recurso que tinha... Cataguases tem tudo para desenvolver. Veio o Coronel Pedro Dutra, Coronel Vieira, Major Vieira, veio o... todos os fazen-deiros, agricultores e foram para a roça. Fundaram fazendas, criaram gado, nesse tempo do cativeiro, que vai fazer 100 anos, dia 13.

Cataguases era uma cidade que estava co-mo que começando, embora já muito progredida, já muito elevada. Quando eu cheguei para Cataguases já existia essa fábrica funcionando. Nunca fechou. Depois que o Peixoto velho morreu, os filhos reuni-ram e aumentaram mais o volume da fábrica. O volu-me material e o volume têxtil.

Tinha duas bandas de música: “Orquestra Cataguasense” regida pelo senhor Leopoldo Alves da Silva e a “Sete de Setembro”, regida pelo professor... pelo Sr. João Francisco, João Francisco Teixeira, irmão do Sr. Rogério Teixeira. Frequentei banda de música do Sr. Rogério Teixeira. Estudei um bocado de músi-ca! Tocamos muitas peças de harmonia na praça pú-blica. Na ocasião tinha muitas vilas e vinham muitos viajantes para aqui.

O cinema, o Teatro (Recreio) antigamente, foi construído pelo Coronel João Duarte. Começaram or-

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ganizar o cinema. Quem organizou aquilo mais foi o Humberto Mauro. Humberto Mauro e Eva Comello. Procurem entrevistá-la. Dizem que no teatro funcio-nava até circo de cavalinho!

Lá em cima na Igreja, no Largo Santa Rita é que era a cadeia. Tinha mudado há pouco para cá, para Rua Major Vieira, cá embaixo onde ela está, quando eu vim para aqui...

Ali, onde está a Cruz do Colégio das Irmãs - aquela cruz foi feita pelo Caetano Mauro - é que des-cia para a ponte... a ponte de madeira. A ponte metá-lica não existia.

A Praça da Estação... tinha um grande engenho de café por ali. Estrada de ferro, o bonde... O bonde passava lá. Era lá... tinha... hoje tem a... hoje tem a ofi-cina do Duarte. Oficina de móveis. Ali é que era onde guardava os bondes. A primeira linha de ônibus era particular, depois que acabaram os bondes.

A festa religiosa católica abrangia a cidade. Teve aqui o Monsenhor Araújo, veio de Mariana. Era um crioulo. E veio de Mariana para Cataguases, na ocasião em que Cataguases foi fundada. Ele veio de Mariana para pregar o sermão das “Sete Palavras”. E pregou o sermão das Sete Palavras, que até os pro-testantes saíram de suas casas para ir lá ouvir! Ouvir uma missa com um sermão pregado por um padre

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de cor foi uma maravilha! “Sete Palavras”, “Semana Santa”... E alguém saiu chorando...

Minha mãe era Ventre Livre. Não chegou a ser escrava. Com a Lei Áurea, com a Lei organizada pelo Visconde do Rio Branco. E ele era o 1º Ministro Imperial e decretou então a Lei do Ventre Livre. 25 de setembro de mil... se não me engano... não me lem-bro mais. Aprendi isso na escola primária. 25 de se-tembro de... não me lembro.

Meu avô sim. Meu avô, minha avó... Meu pai era primo... primo de uma das donas da fazenda. O professor que me ensinou a ler e a escrever, era um professor contra o preconceito. Contra o preconcei-to... É menor, porque hoje ainda tem! O que os se-nhores vieram fazer aqui? Vocês vieram entrevistar quem? Eu não sou branco! Nunca fui. Sou preto. Os senhores vieram espontaneamente conversar com um negro. Até hoje têm pessoas que sofreram... sofre-ram consequências do preconceito racial.

Naquela época do cativeiro, o fazendeiro ia pa-ra o Rio de Janeiro esperar o navio... o navio negreiro para comprar escravos. Eles aqui iam também. Para uns a escravatura foi boa. Para outros, não, porque eram muito judiados nas fazendas. Muito judiados, mesmo. Na alimentação, vestuário, trabalho, espan-camento. Aqui tem uma fazenda em que o fazendeiro

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mandava buscar um sujeito qualquer para espancar os escravos. E hoje ele tem uma rua com o nome dele: Tenente Fortunato!

(Tinha) uma outra Igreja (Matriz Santa Rita) muito bonita, muito bem organizada. Mas acharam que a Igreja já estava muito pequena, precisava de uma maior. Os elementos ligados à religião, como Monsenhor Solindo, que tinha vindo de Visconde do Rio Branco para Cataguases, resolveu demolir e construir esta nova.

Houve um movimento grevista aqui, mas não foi instaurado aqui. Foi instaurado em Porto Novo (Além Paraíba). Chegou a Cataguases porque tinham que ir a Ubá e os trens tinham que passar por aqui. Quando o trem saiu de Ubá e entrou em Cataguases entrou pela avenida. E os operários (ferroviários) es-tavam todos pra lá do Grupo, para não deixar o trem passar. O Dr. Astolfo Dutra que era o chefe político, o mandatário, estava em Cataguases. Saiu de casa, foi lá, mandou os grevistas pararem e deixar o trem pas-sar. E os grevistas pararam. E o trem passou e foram para o seu destino...

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Meu pai era Afonso Henrique Vieira de Resende. Nós perdemos a mãe muito cedo. A mi-nha mãe era uma beleza de mulher! Ela casou-se com 17 anos e enterrou-se aqui, nesta fazenda. Aqui, ela ficou tendo filho todo ano, tendo filho todo ano! Morreu com 38 anos! De modo que eu tinha 13 para 14 anos. Eu, Odete fomos todas duas estudar no Sion, em Petrópolis. Colégio pioneiro no Brasil onde estu-davam as filhas do presidente da República, senador, deputado: a fina flor do Rio de Janeiro! Nós fizemos o curso no Sion. Não davam diploma não! Naquele

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Foto: Colégio São Diniz, s/a, 1886-1898, DEMPHAC

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tempo, gente granfina achava que diploma era coisa subalterna! O Colégio não dava título, mas dava ins-trução acima de qualquer ginásio, de qualquer curso clássico. A gente falava francês como o povo francês, né. Porque eram freiras francesas, todas. Nós só tí-nhamos duas brasileiras. Você tinha necessidade de falar francês pra você se comunicar. De modo que aprendemos francês como qualquer francesa.

O Colégio São Diniz eu não conheci, mas mi-nha irmã mais velha ainda estudou uma temporada lá. Era um Colégio à moda dos colégios estrangeiros, sa-be. Eram francesas, portuguesas, sobretudo, que tinha ali como mestras. Era um Colégio que dava instrução igual às capitais da Europa. Eu tive tias e primas mais velhas que estudaram piano com elas... canto com elas. Cantavam muito bem! A minha irmã mais velha começou com elas, mas depois veio a febre amarela e ela não pôde continuar... Tinha um professor preto chamado Apolinário, que tocava piano muito bem, e elas todas saíram tocando piano e cantando... o Teatro (Cineteatro Recreio)... eu assisti o meu primeiro teatro ali. Eu era menina de uns 7 anos... então levaram uma peça lá, uma peça clássica. Era um desses clássicos portugueses... Um prédio muito bonito e antigo. Foi onde havia clube de dança. Nós passamos a mocidade dançando lá. Eu, quando menina, eu fui ao teatro ali.

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O teatro era muito bem organizado: tinha fri-sas, tinha os camarotes uma plateia muito grande, né? Na ocasião quiseram fazer cinema e resolveram destruir tudo. É uma pena! Eu fiquei com pena por-que era uma obra de muitos anos, uma obra que me-recia ser considerada. Isso foi o Dr. Francisco que... Ele é que ventilou arquitetura moderna toda...

Humberto Mauro começou em Cataguases. Começou com as fitas dele... Ninguém dava muita importância... A Eva Comello foi uma atriz dele. Era muito fotogênica, de modo que deu muito certo co-mo atriz para ele...

O Enrique de Resende era meu irmão. Tenho a coleção toda dos modernistas aqui. Os rapazes (os Verdes) ainda estavam começando e ele já era pai de dois filhos. Mas ele não recusou a cooperação com os novos. Como ele já era poeta de nome, ele chefiou o... movimento, embora não fosse bem...

Este brasão é da minha bisavó, da família Ávila. Ela é que tinha o brasão da nobreza. Meu bisa-vô, Major Vieira, não. Major Vieira, eu acho que era criador de gado lá pra Queluz de Minas. Depois re-solveu vir pra (fazenda da) Glória. O Major entrou aqui como bandeirante. Ele desbravou e civilizou a terra. O Major era um gênio rude! Gostava era de mexer era com boi mesmo! Quem destruiu a mata

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aqui, veio picando madeira no mato, abrindo picada no mato, desde Queluz de Minas até aqui, foi ele. Por isso é que ele foi desbravador. Foi de uma coragem danada, coragem de bandeirante!

O Coronel Vieira era mais democrata, era mais civilizado, vamos dizer. Gostava de coisas finas! O Coronel era muito amigo do Imperador, e era homem muito fino. O Coronel Vieira fundou o município de Cataguases. Ele inaugurou em Cataguases o municí-pio. Ele foi o primeiro presidente aqui... o primeiro presidente de Câmara aqui. O primeiro presidente de Câmara foi ele!

O Major Vieira era um homem de têmpera for-te. Ele chegou aqui não tinha nada. Tinha índios aí... Ele chegou aqui com escravos, não sei mais o quê, e começou a desbravar e fez a fazenda velha da Glória. O meu avô, Coronel Vieira, tinha 11 anos nessa oca-sião. Depois dele homem é que minha bisavó morreu e meu avô resolveu repartir os bens. Essa parte do Rochedo caiu para o meu avô, e ele fez aqui uma fa-zenda como não existia em lugar nenhum, aqui na região. Quando ele morreu, ele deixou os filhos em luta. O meu pai era o mais velho dos filhos. Estava estudando direito ainda e viu a luta que o pai teve para construir e não quis deixar cair nas mãos de cre-dores. Então foram guerrear, foram fazer a demanda.

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Naquela ocasião, o Fórum Geral do Estado era em Ouro Preto. Foi uma luta medonha, porque a mãe também ficou sem dinheiro, sem nada. Lutou mui-to. Meu pai formou-se e pegou uma carreira de pro-motor, em Leopoldina. Depois de promotor foi juiz municipal. Quando ele era juiz municipal, já estava fazendo dez anos a questão da fazenda. Ele ganhou a questão... ele tinha adoração por isso aqui! Tudo que custa a pessoa ama.

Aqui era uma fazenda de café, né. Quando veio a abolição da escravatura você sabe que foi uma baixa danada pra todo mundo, porque os escravos saíram em liberdade. A liberdade é para as pessoas saberem gozar a liberdade também, não é? Eles, coi-tados, já eram pessoas que tinham o que comer e dormir... eram como animal mesmo... No mais, não sabiam ganhar a vida, de modo que a maioria ficou desnorteada, ficou passando fome! Alguns continua-ram (aqui)... A maioria saiu porque pensou que a li-berdade fosse outra coisa. Depois, naturalmente, não se deram bem e voltaram. A senzala... um cunhado nosso destruiu, sem licença. Ainda tem a casa prin-cipal. Aqui, era a casa do feitor da fazenda, feitor de escravos. Tem dois andares. As senzalas davam de frente para o curral de bois. Eu acho que o cativeiro foi uma nódoa na nossa família, mas nós temos que

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encarar o homem conforme a sua época! Você ima-gina: um dono de escravos que tinha 3000 a 4000 es-cravos, se ele não tivesse um lugar de castigo, eles degolavam ele na mesma hora, né?

A casa (da fazenda) é muito bem dividida, um trabalho muito bem feito. Trabalho de escravo. Telhado muito bem armado, sala de visita muito bo-nita. Tudo feito com esmero, porque o meu avô era um homem de gosto, e então a gente presume que tenha vindo trabalhador de fora. Estas escadas de pe-dra... ele trouxe dois canteiros (operário que lavra a pedra de cantaria) de Portugal para trabalhar na pe-dra. Aqui ninguém sabia fazer isso.

Já veio aqui uma comissão que queria tombar. Eu digo: não, nós não tombamos! Vocês só tombam casas que estão desamparadas e você vai ver que a minha não está. Enquanto eu for viva não se tomba nada não. Depois que a gente tomba fica tombado mesmo, não é? Agora que o Estado está tomando co-nhecimento dessas obras de arte. Por exemplo, igre-jas do Sul de Minas... tudo abandonado...

(Aqui) tem mobília que foi importada da França. Estes aqui foram importados da França... Esta aqui foi feita na fazenda... Ali é a capelinha. A capelinha foi feita para a fazenda, mas há pouco tempo nós mandamos pintá-la de novo por aquela

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pintora de Cataguases... a Dona Nanzita. Todos nós fomos batizados aqui. Alguns casaram, outros não. Batizavam, em geral, no dia da missa do meu avô. Todo ano havia missa para o meu avô... Essa mesa foi a mesa de escola. Nós tínhamos uma escolinha aqui em baixo, onde a gente aprendia ler... Ali é o di-ploma do meu pai, já faz cem anos agora... Naquele tempo, a gente obter um diploma era uma coisa mui-to séria, muito difícil, era um galardão de glória. Só tinha duas faculdades: uma em Recife e outra em São Paulo. Ele fez em São Paulo... Aqui é minha mãe, veja como ela era bonita com 17 anos, quando casou! Ali era o Major Vieira... Aqui o Coronel Vieira, que era meu avô, meio sofisticado porque mandaram repro-duzir o retrato na Alemanha: puseram ele alemão... puseram ele ruivo de olhos azuis! Ele era moreno e de olhos verdes!

Não, não sou intelectual, não. Eu sou uma es-forçada. Eu me casei, não fui feliz com o meu mari-do, tive que desquitar... tive que abraçar minha vida e trabalhar também, né. Porque até então eu tinha ocupação de gente rica: não fazia nada. Até 35 anos eu não fiz nada. Depois tive que entrar na vida dura. Aí fui me registrar. Veio a lei do registro: quem não tinha o curso de professorado inscrevia-se no registro. Estabeleceu, no Rio, um curso muito bonito. Os fran-

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ceses estabeleceram curso formidável. Eram grandes professores credenciados pela Sorbonne, sob direção do ilustre Embaixador... Organizaram um curso para o aperfeiçoamento de professor de francês, professor brasileiro de francês. Eu fiz extensão universitária, nós fizemos três anos de curso. Eles deram, então, di-ploma como terminando.

Eu nunca fui bibliotecária. Minha sobrinha, que é bibliotecária no Rio, me disse que só faltou or-ganizar o arquivo. Em Cataguases não tem fonte pa-ra consulta assim. Havia uma muito boa no Colégio Cataguases, mas dizem que agora está desorganiza-da. Eu tenho muita vontade de montar uma biblio-teca em homenagem a Enrique de Resende, mas meu pai deixou, em testamento, uma cláusula mui-to complexa dizendo que o Rochedo não pode ser emprestado, vendido, nem alugado. Não pode não! Juridicamente, não se pode e, particularmente, a minha família acha que é um desrespeito mesmo à cláusula. Não pode. Mas nós não queremos, nem po-demos impedir - não podemos firmar um documen-to escrito - mas nós não queremos e nem podemos impedir que os amigos de meu irmão se reúnam aqui quando eles quiserem. Quer dizer, quando eu deter-minar a época também...

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Deixa ver: o ano que eu vim pra Cataguases, eu teria naquela época... eu devia ter se-guramente 23 anos. Quando eu vim pra Cataguases, está ouvindo, cheguei aqui em Cataguases - eu vim de Campos, Estado do Rio - a primeira parte de re-partição foi o futebol... Dois clubes bons... Era o Operário Futebol Clube, que vive até hoje, e o outro ainda existe... o Flamengo. Naquele tempo não era Flamenguinho... Antiguíssimo! Quando eu cheguei aqui já encontrei esses clubes. Eu sempre joguei na linha de alfa (hoje lateral), e tampava também buraco quando precisava: na frente, na ponta esquerda... era a minha função.

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Foto: Carnaval, s/a, década de 1910, DEMPHAC

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Mudou muito, a senhora nem queira saber. Eu vim de Campos pr’aqui, com outro rapaz que morreu aqui também, o Cid. Nós viemos pra pintar a casa de um dos grandes, cheio do dinheiro, e aqui nós ficamos. Eu vim pr’aqui pra trabalhar, fazer uma pintura na casa de um cidadão... Naquele tempo pra gente trabalhar era uma dificuldade. Precisava apre-sentação... Uma coisa importante, que existia naquela época, depois da escravidão - eu ainda percebi o mo-do de convivência, né? Era uma convivência restante, mas um restante naquelas condições, nas condições deles! A gente não tinha liberdade. Liberdade era cur-ta, mas curtíssima! Eu não alcancei, por exemplo, um modo qualquer de dar um exemplo da escravidão, porque quando eu vim pr’aqui já tinha acabado tudo isto, também... Eu somente cheguei a conhecer trecho da escravidão, separação, aquela coisa... Pessoa para frequentar uma sociedade, uma coisa, precisa, meu Deus do céu, nem queira saber... São provas que a cor

- especialidade a cor - não era aceita assim. Precisava de uma pessoa responsável... Os donos, os frequen-tadores das repartições, aquilo era uma coisa fora do comum, a senhora nem queira saber. O sujeito não tinha uma vida ampla. Tinha que obedecer a eles! E com o decorrer do tempo é que foi chegando, aos poucos, tinha preconceito. São provas que aqui em

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Cataguases tinha um clube, esse clube de hoje, ali na praça, ali no alto... (o Social). Aquilo ali não entrava qualquer um e, além disso, aquilo continuou por um certo tempo assim... justo porque havia grande união e cada um no seu lugar...

Porque o carnaval naquela época era frequen-tado pelas famílias. Se as pessoas não tinham um bom conduto eles não aceitavam. Era um carnaval que geralmente havia um grande respeito. Era mui-to diferente do que existe hoje, grande diferença... Mas tinha que ter uma pessoa de conhecimento pa-ra eu, o senhor, poder chegar na porta, entrar, dan-çar! Qualquer coisa era nessas condições. Um senhor estranho tinha dificuldades de frequentar um clu-be, (mesmo) o clube da classe operária... “Mimosas Camélias”... “Modéstia Violeta” - era de um moço que trabalhava no Hotel Villas - era durante o ano todo... Aquilo era da turma!

Terminava o baile ele ia nas casas levar as mo-ças e entregar às mães... No clube do Emílio não en-trava ninguém sem gravata, comentou D. Adélia.

Eu deixei o “Mimosas Camélias” quando houve um desentendimento... O movimento de har-monia, de amizade, foi desaparecendo e havendo liberdade nos clubes, por sinal, e chegando foi seus elementos desagradáveis... O Zé do Grupo também

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tinha um clube... O Zé do Grupo também tinha um clube que ele tomava conta... O carnaval era um car-naval oficial... Era um carnaval exclusivamente fami-liar! Era muito difícil uma pessoa qualquer entrar nos clubes nosso. Precisava uma pessoa vim apresentar... Era nessas condições... diferentes de hoje, mas dife-rente mesmo.

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Mas que honra para mim vocês tra-zerem gravador pra gravar o que eu vou dizer. Eu nasci em Miraí. Eu vim pra aqui (Cataguases) com 8 anos... É muita honra gravar a minha voz pra ficar pra muitos anos... Eu fui uma das primeiras alunas da Escola Normal, da primeira turma que se formou. A Escola Normal era muito interessante, muito inte-ressante mesmo! E tinha muito prestígio! Era muito respeitada! Eu me lembro, eu era aluna da Escola Normal nesta época. A Escola Normal era ali onde é hoje a rua... Artur Cruz, né? Era ali no princípio da rua... uma chácara que tinha ali, chamava Artur Cruz. Era uma chácara fantástica! Foi construída por um

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Foto: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, arquivo Instituto Nossa Senhora do Carmo

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francês... Era uma verdadeira chácara mesmo. Tinha muitas qualidades de frutas e de legumes, inclusive fruta-pão. Tinha coco da Bahia... eu me lembro... é... coco da Bahia, fruta-pão, muitas jabuticabeiras. Era muito agradável estudar lá porque o terreno todo da chácara era um grande pomar... Era uma beleza! Cheia de jabuticabeiras e abieiros, mangueiras... Era um pomar maravilhoso! (Os professores) eram todos daqui, inclusive o Dr. Sandoval de Azevedo. Tinha outros, que agora eu não me lembro o nome. Mas, o Dr. Sandoval de Azevedo eu me lembro. Os outros eu me lembro deles, mas esqueci o nome.

Eu fui das primeiras professoras do Grupo Escolar aqui, na rua... da Avenida Astolfo Dutra. Eu comecei a lecionar logo... “Coronel Vieira”... é, eu fui das primeiras professoras. Catarina e João Duarte, eles eram meus amigos, eu gostava muito deles, eles que me arranjaram colocação na escola pra ser pro-fessora no Grupo Escolar. A Catarina era uma cria-tura extraordinária! Ela não era casada com o João Duarte, porque o João Duarte era desquitado, se-parado da primitiva esposa dele. Então ela era ca-sada com ele assim... como é que a gente... não sei como hei de dizer... era juntada, né. Juntada, mas todo mundo tinha por ela uma grande admiração e grande consideração, porque ela era uma criatura

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extraordinária! Extraordinária e muito acatada pela sociedade! João Duarte... ele era... ele tinha um gran-de engenho de café e um grande engenho de arroz. Ali naquele correr todo, que é desde o Hotel Villas até a fábrica (Irmãos Peixoto). Ali era dele... do João Duarte. Era propriedade dos engenhos dele: de café, de arroz e de feijão.

A diversão mais interessante, mais importan-te era jogar basquetebol! Havia cinema, sim... tea-tro... nós fazíamos muito teatro. Fiz muito teatro, re-presentei muito! As representações eram no teatro daí. Era muito admirado mesmo! E eu tomei parte neles todos! Fui uma atriz desde meninota. Eu tra-balhei também com o Humberto Mauro e com a Eva Comello... Fomos muito amigos! Mas muito amigos mesmo! Humberto Mauro era uma criatura extra-ordinária. Era muito inteligente. Um rapaz bonito, simpático, muito... muito respeitador. Ele nos trata-va todas como irmãs, viu? Ele era muito meu amigo, porque eu protegia muito o namoro dele com a Bêbe, mulher dele... Me lembro muito dos filmes dele, das cenas... eram fantásticas! Ele era um grande artista. A Eva Comello é uma grande artista! E eu, modéstia parte, fui considerada uma atriz fora de série!

Eu era muito alegre, muito animada, muito ativa e muito... como é que se diz... da época, sabe.

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Geralmente os camarins, que eram servidos às gran-des atrizes das grandes companhias, que vinham a Cataguases, eram reservados para mim. O senhor Augusto Cunha (do cineteatro Recreio) tinha por mim uma grande admiração! Gostavam muito da mi-nha maneira de apresentar e representar! Aliás, eu re-presentava grandes comédias e... organizava grandes balés e grandes coros! Eu que dirigia... balés e coros. Nós que representávamos vendíamos muita entrada pro teatro... principalmente, eu achava muito interes-sante isto, principalmente pra domésticas.

As domésticas compravam tudo quanto é en-tradas de teatro que havia aqui. Elas compravam e não perdiam. Elas tomavam uma parte muito inten-sa! Elas não perdiam, não... as domésticas: cozinhei-ras, lavadeiras... trabalhavam nas casas de família... Elas compravam entradas e enchiam o teatro!

Me lembro também dos grandes bailes. Geralmente eram no Comercial Clube, sabe onde é, né? Ali no teatro, onde foi o Clube. E fiz parte inten-sa desse clube, desses bailes... Geralmente eu é que organizava estes bailes. O carnaval aqui era muito animado. Os bailes de carnaval eram fantásticos! Muito bonitos, muito alegres, muito animados, mui-ta fantasia bonita. O (carnaval) de rua era muito in-teressante... na cidade toda... na Praça Santa Rita e

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na Praça Rui Barbosa, principalmente na Praça Rui Barbosa.

O bondinho era um encanto! A gente ia da cidade até lá na Granjaria. Era um bondinho puxa-do... no princípio por burros... eram casais de bur-ros. Era tão engraçadinho o bonde. Passava pela Rua do Pomba, passava aqui (Rua Alferes Henriques de Azevedo) e subia aquele morrozinho da Granjaria. Ia até lá em cima... onde era o Ginásio, né. Naquele tempo tinha o Ginásio e tinha a Escola Normal. Tinha o Ginásio frequentado por rapazes e a Escola Normal frequentada pelas moças. Nós íamos de bonde puxa-do a burros... Depois eram elétricos.

Eu tomei muita parte nas festas do mês de maio, quando menina. A minha mãe encomenda-va do Rio amêndoas vindas da Europa, né. E fazia cartuchos de amêndoas que eram distribuídos pe-las virgens que coroavam. Eu coroei muito Nossa Senhora, aí na Igreja de Santa Rita. Coroei quando menina. E depois,quando mocinha, ajudei a fazer muita festa bonita ao lado da Igreja. A coroação de Nossa Senhora era muito bonita mesmo! Festejada... muito bonito o mês de Maria em Cataguases antiga-mente! Tinha ali, ao lado da Igreja, tinha uns barra-cões muito bem arrumados, muito bem arranjados. Depois das coroações, tinha leilões lá. Havia leilões

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das prendas, que eram dadas pelas famílias à Igreja... para renda da Igreja.

A Praça Santa Rita e a Praça Rui Barbosa eram muito animadas. Todos os domingos havia “footing”, passeios de rapazes e moças, os namorados batendo os papinhos, trocando ideias, mas com muito respei-to. Eram assim os namoros daquele tempo: muito ca-rinho, muita ternura, mas muito respeito. Passeavam na praça, mas sem dar mão e sem dar braço. Iam um ao lado do outro. As pessoas se vestiam com muito gosto. Vestidos meio longos, né. Não, era até no chão, era até na metade da canela. Não me lembro de usar chapéu não. De usarem, porque eu, pelo menos, nun-ca usei chapéu... Quando eu casei, eu saí. Eu fui pra São Paulo. Casei e fui pra São Paulo... Muitos anos fora, mas sempre muito apegada a Cataguases.

Cataguases foi sempre uma cidade muito inte-ressante, muito animada,muito alegre e muito viva. E fina! Foi sempre muito considerada!

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Nasci a algumas léguas retiradas

da cidade do Pomba, em 17 de maio de 1898, hoje Fazenda Bom Jardim. Meu pai era fazendeiro. Tinha uma fazenda muito grande lá em Tocantins... Bom Jesus dos Palmares. Quando ele morreu, em 1904, deixou a fazenda hipotecada e perdemos tudo! Eu me lembro até hoje. Foi num dia de enchente. Eu es-tava na fazenda olhando e o pessoal passando dentro d’água levando papai...

Tinha tudo ali na fazenda! Fabricavam cachaça, açúcar, rapadura, que era muito barata. Tinha muitos trabalhadores, muito gado, muito leite, muita fartu-

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Foto: Praça Governador Valadares, s/a, década de 1950, DEMPHAC

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ra! Naquele tempo, colhia carro de melancia! Na ro-ça, chupava a melancia, depois jogava para os porcos. Naquele tempo não vendia nada.

Papai foi proprietário de escravos. Teve um pessoal que quis ficar lá em casa (depois da abolição). Tinha bom trato, e não quiseram ir embora. Tinham tudo quanto era: alimentação, roupas... era o principal.

Mas depois que meu pai morreu eu passei fo-me. Perdemos tudo, e de lá para cá, já passei fome. Tinha dia que, quando eu arranjava um pãozinho na padaria, levava para casa... molhava na água, porque não tinha café. Carregava lata d’água na cabeça... já candiei boi...

Eu fui criado com a minha irmã. Minha irmã era costureira. Costurava para aquela gente da roça, e teve um dia que não tinha nada para fazer... nada para fazer... Então ela falou: vai ali na esquina e pe-ga com o “Seu” Joaquim um quilo de toucinho, um quilo de trigo, um quilo de açúcar. Ela era muito co-nhecida e ele vendeu. Ela foi fazer sonho. Fez uma bandeja de sonho com cem sonhos... Aquele sonho redondo, e pôs açúcar refinado em cima e fui vender na rua. Vendi tudo! Trouxe uns cobres. Ela falou: ago-ra pague o “Seu” Joaquim e traz arroz. Fui lá paguei o “Seu” Joaquim e trouxe o arroz. Era umas seis ho-ras... de tarde já. Fiquei o dia inteiro sem comer...

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E tem uma coisa, quando minha irmã fazia a comidinha, tinha uma panelinha que parecia de brinquedo. Fazia arroz ali, fazia feijão, angu... chu-chu, tinha na horta e fazia muito. Então comia aque-la colherzinha de arroz, aquele pedaço de angu com feijão, coisinha à toa! Escapulia e dava no pé pra rua. Depois entrava no coro!

Em Tocantins, naquele tempo, quando eu era menino, chegava circo de cavalinho. Eu passava de-baixo do pano, porque eu não tinha dinheiro para a entrada. O que tomava conta do circo andava com um relho em volta do circo, para que ninguém en-trasse debaixo do pano... E tinha palhaço na rua! Eu acompanhava muito palhaço na rua... Saía cantan-do: hoje tem marmelada? Tem sim senhor! Hoje tem goiabada? Tem sim senhor!

Eu comecei como oficial (alfaiate). Naquele tempo, minha irmã tinha uma vaca que sobrou da fa-zenda. Ela vendeu a vaca por cem mil réis e comprou uma máquina de costura pra mim, para aprender o ofício. Aprendi o ofício no Pomba, mas depois voltei para Tocantins e peguei por um tempo o emprego de alfaiate. E me pagavam dez mil réis por mês! Depois passou a quinze mil réis por mês e eu fiquei todo sa-tisfeito! Depois, quando foi aquela guerra de 1918, aquela grande guerra, ele foi embora... (O emprego)

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foi embora e eu não quis procurar outro. Aí entrei no comércio, fui caixeiro. Depois, em 1919, casei com a Francisca Siervi de Carvalho...

Em 1920 correu um boato em Tocantins que Prestes ia invadir. Disseram que Prestes ia entrar, es-tava caminhando para invadir... Então todo mundo ficava na rua de noite, porque o Prestes era comunis-ta... queria tomar o poder!

Em 1926 mudamos para Cataguases, porque aqui tinha mais movimento. Tocantins era muito atrasado, movimento pequeno. Em 1926 me esta-beleço no comércio em Cataguases e estou até hoje. Agora passei a loja pro Celso, meu filho, e de vez em quando dou uma ajuda no balcão. Eu não trabalho mais, mas fiquei até 83 anos no balcão.

A casa que eu morei foi do José Schettini, que também era dono do Hotel Avenida, onde é a Caixa Econômica hoje. Ele era dono daquilo ali e daquele correr todo que vai até na Casa Felipe. José Schettini era italiano. Ele fez muito por Cataguases. Também dele um curtume de couro, lá pros lados da usina de açúcar...

Tinha a Casa Felipe, a Carcacena, a Nacional, Bazar René... essas todas são antigas! É uma pena te-rem desmanchado o prédio da Carcacena! Um prédio importante com aquela volta!

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Não tinha nada por aqui (Avenida Artur Cruz). Tinha essas casas todas aí, antigas. A avenida (Astolfo Dutra) era só lá embaixo. Não era calçado não. Depois foi calçando. Naquele tempo não tinha nada, era só o cinema Recreio. Uma beleza de prédio... an-tigo. Aquele prédio antigo tinha um prédio bonito! Depois eles baixaram e fizeram aquele lá (Social, hoje Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Turismo). Era cinema e tinha alguma dança, de vez em quando. A Eva Comello também trabalhou no cinema. Ela ti-rava retrato lá pra casa, pra Margarida.

Lá pelo lado da Vila (Domingos Lopes) não ti-nha quase nada, tinha uma mina d’água. Todo mun-do ia buscar água lá. A vila ia por ali afora... quem vai pra Sereno. Mas eram poucas casas...

Ali na avenida (Astolfo Dutra) plantava ar-roz ali. Naquele tempo tudo era brejo... O Toninho Carroceiro plantou muito arroz ali.

Em 1926, a maior produção era das indústrias. Já tinha os Peixotos, as fábricas dos Peixoto espalha-das por aí, por tudo enquanto é lado. O movimento era grande! A lavoura era braçal, na época. O que ti-nha aqui era ela (indústria) mesmo! Quase que não tinha nada aqui, era só o comércio e a indústria, a não ser a fábrica de couro. Ah! Tinha a fábrica de aguardente do Nelo Machado. O Nelo Machado, do

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cinema Machado, ele foi grande industrial... fábrica de biscoitos, aquele prédio do cinema, fábrica de ma-carrão... foi um grande industrial!

O Hotel Villas... O pai do Izidro Villas, o ve-lho Villas era conhecido só por Villas, era português. Tinha também o Hotel Pires, aquele na esquina da Estação. O Pires tinha grandes bigodes compridos, era português também.

Naquele tempo vinha viajantes de São Paulo, vinha bem. Eu tinha mantimento no atacado. Enchia a venda de mantimentos. Eu tinha até máquina de escrever! Escrever, eu mesmo escrevia as minhas car-tas. Eu punha o papelinho na máquina - a máquina era pequena, máquina boa mesmo... A Souza Cruz... pedia cigarro da Souza Cruz e deixava cópia. Eu mandava a carta pra Juiz de Fora, naquele tempo não tinha viajante (vendedor), pedia por carta.

Quando eu vim pr’aqui estavam calçando a rua da Estação. Naquele tempo era trem. Hoje aca-bou tudo: não tem mais trem, não tem passageiro, não tem nada mais. O Coutinho na Estação, naquele tempo, trabalhava lá... tinha muita carga. Hoje tudo é transporte de caminhão.

A usina de açúcar movimentou muito a cida-de. O pessoal dos Souza plantou muita cana! Não sei por que deixaram acabar a usina, aquilo estava

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dando força para Cataguases! A fazenda do meu so-gro Nicolau Siervi colhia muito café. Era ali naquele posto de gasolina (Vila Minalda)... ali era a fazenda. Ele deixou para o Raul, o meu sobrinho, filho do Carlos Siervi. Cada um ganhou um pedacinho. O Raul ganhou a fazenda ali, com aquele posto onde é o Meca. Ele vendeu para o Meca por trinta e cinco mil cruzados.

Lá em Tocantins ele colhia mais café ainda. O Nicolau Siervi, quando foi por volta de 1924, ele co-lheu muito café! Foi a época que ele deu um passeio na Itália. Em 1929 houve muita quebra. Quando ele voltou da Itália, o fazendeiro que comprava o café quebrou. O comprador do café tinha uma casa aqui em Cataguases, ali na Rua do Pomba, perto do Hotel Cataguases. Aí ele ficou com a casa e depois recebeu duas promissórias, de cinquenta contos cada uma. O Nicolau recebeu tudo, foi de muita sorte, não perdeu nada. O outro sogro, o José Condé, fez um grande prédio ali onde hoje é a Cima. Ele tinha uma fábri-ca de ladrilhos. O senhor Humberto Henriques tinha uma coletoria ali embaixo, pro lado da Casa Rama, Coletoria Estadual. Ele era o coletor e o escrivão era o Ianini. O senhor Humberto era meu compadre. Eu me lembro também do Padre Modesto, lembra dele? O padre Ivo, padre Solindo e o Padre Antônio, lá da

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Vila. Também eles fizeram muito por Cataguases. O Padre Solindo fez a igreja...

As irmãs fizeram muito por Cataguases. As irmãs educaram muitas crianças, inclusive duas fi-lhas minha: a Ruth e a Neuza. Hoje elas estão apo-sentadas, moram em Belo Horizonte. Eram externas e depois ficaram internas. (Minhas cunhadas) eram irmãs de caridade. Hoje ninguém quer mais... Hoje está tudo mais sem fé, não está igual antigamente. Antigamente os padres andavam todos de batina, pa-reciam que eram mais... andavam tudo de uniforme. Hoje se encontra com uma irmã, não sabe que é irmã, andam como qualquer outra. Se entra no ônibus, e ti-ver alguma em pé, não sabe que é irmã e não manda sentar nem nada.

Antigamente era tudo vestido comprido, era outra coisa. Tudo escondido tem mais valor do que tudo mostrado! Era cozinhar, lavar roupa... não ti-nha emprego, nem nada. Hoje, elas saem e arrumam emprego. Eu acho que uma moça preparada que ga-nha o dinheirinho dela, não devia pensar em casar, porque ela vive independente, ela sai a hora que ela quer. A moça casou tem que ficar em casa. Ela faz de tudo enquanto há, e o homem chega a hora que ele quer. Se criar filho, o marido sai, vai trabalhar, e você cria filho o dia inteiro, dá mama, tem que olhar, fazer

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mingau. Mulher faz tudo! E ela tem que depender com isso, combinavam assim. Não tinha tanta coisa como hoje, tanta humilhação! Hoje elas querem ir pa-ra o baile, querem ir para... se o homem não for para o baile ela vai sozinha. Então você fica tomando con-ta dos meninos que eu vou para o baile, assim que elas falam, e vão mesmo!

Houve tanta coisa! Os partidos que eram do Getúlio - Aliança Liberal - chegavam lá na loja, tira-vam tantos pacotes de cigarros pro governo. Esses... requisitava as coisas e não pagava! Na época de 1944, eles andavam aí nas ruas jogando pedra no pessoal que era italiano, na época da guerra... O eixo era Alemanha, Japão e Itália. E os outros era França, Inglaterra, depois Estados Unidos entrou a favor e venceu a grande guerra, em 1918. A primeira foi de 1914 a 1918, e a segunda de 1940 a...

Quando a Rádio Cataguases era perto da Prefeitura teve um movimento ali uma vez. Morreu, eu acho que um ou dois soldados num tiroteio. O Amauri Turco estava no meio. Ele era do lado do Pedro Dutra. Defendia o Pedro Dutra. Ele era meio irritado e qualquer coisa ele brigava. Então mataram lá uns dois soldados.

É uma terra muito boa (Cataguases). Aqui progredi muito. Criei duas família, conforme está

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aí. Minha segunda esposa, a Margarida foi diretora, foi professora aí do Grupo (Coronel Vieira). Ela fazia festa, tocava piano, ela fez muito por Cataguases. Ela fez mais que todo mundo aí! Trabalhou mais de cin-quenta anos no Grupo. Ia todo dia firme e não falta-va. Hoje, ninguém mais faz isso não! Então eu queria que o Prefeito desse a um Grupo o nome dela. Um Grupo bom! Ela muito me ajudou na criação dos fi-lhos... me ajudou a criar seis filhos e depois mais três que veio dela...

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Eu nasci aqui: 14 de setembro de 1904.

A minha mãe era daqui de Aracati. Assim mesmo não era Aracati, era do outro lado do rio, pertencia a Leopoldina. (Meu pai era) de São João Nepomuceno. Foi farmacêutico, foi... antes de fazer casamento. Ele era juiz de paz aqui em Cataguases. (A farmácia dele) foi uma das primeiras... 1902, que ele veio para aqui. Quase era doutor, porque receitava pra muita gente. Dr. Miranda, quando os filhos dele adoeciam... ele falava: chama lá o senhor Barroso para receitar para eles! Fazia o remédio e já dava o remédio também. A Dona Euzébia telefonava para o papai pedindo remé-dio a ele, por irformação, por telefone. Eu levava uns

O S WA L D O B A R R O S OC O M E R C I A N T E

8 4 a n o s

Foto: Ponte de Madeira, s/a, 1906, DEMPHAC

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vidros de remédio lá no Pedro Soares, que era um empregado lá de casa, para levar às seis horas, seis horas da manhã, num trem que passava aqui às seis horas e ia até Ubá e voltava para ir para o Rio.

Fui mau estudante! Estudei no Grupo Escolar Coronel Vieira, primeiro ano, quando eu estava com sete anos... Rua Sobe e Desce, não é? Porque descia... Você andava de bonde ali... Pegava muita traseira de bonde, porque ele descia, quando... lá em cima, o bonde parava um bocadinho... Era puxado a bur-ro, ia até lá no Ginásio, voltava. Tinha um “papa”. Papa era o recebedor de dinheiro e tinha o “chofer”, na frente, que tocava o bonde. O trajeto era peque-no: ia da fábrica de tecidos e dalí a gente ia para o Ginásio. Quebraram logo (1912, 1914) porque era uma espécie de um... como se chama... seguro. Então a firma não aguentou o rojão, não. Aí a firma acabou. Quebraram!

De primeiro eu conhecia todo mundo. Agora não conheço mais ninguém. Está parecendo o Rio de Janeiro... O automóvel também, já não pode passar na prova. (Antes) só tinha um automóvel, não é? O Benz da Cia. Força e Luz. O dono era o Dr. Gabriel, que era o gerente, o maioral.

Tinha, por exemplo, até fábrica de cerveja aqui: a Volvi, de um tal Paiva. Alí onde é... aquela padaria...

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essa padaria do Machado, pra diante do cinema, na Coronel Vieira, logo perto da praça.

O telefone primeiro (em Cataguases) foi do Paulino José Fernandes. Ele era sogro do Pedro Dutra, (informou Dona Alayde, irmã do senhor Oswaldo Barroso).

Só tinha uma fábrica (de tecidos), só que ela era pequena. Tem até o tamanho dela numa revista do Arthur Resende... a fábrica tinha poucos metros. Chegou haver uma grevezinha pequena, greve pe-quena, mas houve. Coisa sem importância...

Passei muito na ponte de madeira. É, a pon-te do Colégio, onde a igreja do Colégio das Irmãs... Dona Jacinta era dona de lá... Uma Soares. Tinha três irmãos: Benedito, Pedro e Álvaro. Pedro é o avô do Rogerinho, Rogério Teixeira. Havia uma socieda-de na ponte... na ponte era a venda dos três irmãos Soares... A Dona Jacinta Carrero deu o cemitério, deu caminho do cemitério e deu uma posse para o zela-dor do cemitério, que era o Luis Pinto. Ia muito lá do outro lado, na ponte de madeira, ia lá na casa do Luiz Pinto, levar roupa para fazer...

Aquilo tudo era poucas casas. Para sair aqui na ponte eles aterraram a rua, ficaram até umas casas do... pai do Maurício Carrara, que fez uma casa ali... Então eles aterraram. Precisou fazer uma cinta em

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volta da casa, porque eles queriam que desmanchas-se a casa, que ele tinha feito, pra sair aqui nesta ponte. Fizeram um alicerce de pedra, no Clube do Remo, e aterraram aquilo ali. Aterraram e, após 1919, eu ia lá pro João Lacerda... cheguei ali e foi preciso passar no barco, mas a enchente não passou em cima da ponte naquela ocasião. Agora há pouco tempo (1979) veio uma enchente mais ou menos do mesmo tamanho e passou um metro acima da ponte! Ali era baixo e foi aterrado uns três metros, mais ou menos... no Clube do Remo. Aterraram a ponte pra fazer o caminho on-de que é a fábrica ali.

Não tinha ponte metálica ainda, só de madeira. Foi em 1915 que foi inaugurada a ponte. Eu estava com quase 11 anos. A inauguração foi em setembro, foi em 7 de setembro. Teve festa lá! Tinha a fachada para que fosse cortada na inauguração. Isso eu vi! Tinha banda de música... essas coisas... tinha festa! Eu era menino... me lembro que era o João Duarte, o Felipe... os portugueses eram os maiorais aqui. Muitas vezes passei, antes da inauguração mesmo.

Acabaram com a ponte de madeira! Ela já esta-va em mau estado também. Tenho até fotografia dela aqui. Tinha um tal de Albino Maria que fez aquelas pedras da entrada da ponte a martelo! Um tal de Albino português que veio para Cataguases.

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A linha... eu vi a linha (de trem) fazendo a transferência... da linha e daquele corguinho. Passava... entrava lá no Grupo, passava perto do Hotel do Comércio, que era do Felipe, então pas-sava encostado ali por dentro, ali, não passava no meio não. Mudaram a estrada do corguinho pra lá e passou a estrada pra cá... mudaram a estrada. Eu me lembro muito! A noite então... tinha uma porção de português... naquele tempo não tinha luz. Eram aquelas lanternas... a gente ia ver o movimento.

Teve a “espanhola”. Matou bastante! Enterrava de qualquer jeito! Não dava tempo de fazer caixão. Eu não tinha medo. Eu andei por aí e não tive a “es-panhola”! Naquele tempo, (era) água com creolina para fazer os banhos... encher de água com creoli-na! Tinha um hospital aqui na Rua Francisco Adolfo. Ali que era o hospital antigamente. Tinha o Dr. Pio Ventania, o Dr. Miranda...

Derrubou toda (a igreja) e lá mesmo foi... eu acho que ali foi até cemitério, logo no começo. Eu fui lá uma ocasião e vi uma espécie de catacumba. Alí mesmo, naquele lugar, estavam cavando lá e encon-traram lá. Foi demorado (o trabalho de construção). Muitos anos, mais de vinte anos. Muito tempo mes-mo! Eu me lembro que em 43 (1943) eu tinha uma padaria lá e eu dava uma mensalidade para a igreja.

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(As pessoas) eram bem religiosas, sim. Só tinha a fa-mília Ventania, que era espírita... os Landóes também eram espíritas... essa gente também... Saldanha da Gama... A maioria era católico.

Todo dia 5 de outubro tinha festas portuguesas. A festa dos portugueses era memorável, porque os portugueses aqui eram os maiorais, não é? Era o João Duarte, Felipe... e abriram até a fábrica de tecidos também. Eram brasileiros, mas depois eles passaram (a fábrica) pra portugueses que é o Manoel Peixoto, velho.

Tinha bandas de música aqui. Tinha a “7 de Setembro”, tinha uma outra, não sei bem qual... todas elas meio rival. Cada qual queria ser a maioral! Era uma política entre elas duas! Tinha também retreta no jardim, no jardim daqui (Praça Rui Barbosa) e tin-ha no outro de lá também (Praça Santa Rita). Todos dois tinha coreto... um coreto aqui perto do chafariz, na praça aqui do Comércio. O Largo do Comércio é que era a Rui Barbosa.

E também o namoro no jardim era assim: as moças passavam de um lado e os rapazes do outro. Só namorava por olhar. Não é desse namoro de hoje, não!

Tinha dois clubes. Tinha o Clube dos Viajantes, que era sustentado pelos viajantes... fazia o carnaval aqui em Cataguases, que tinha uma influência da-

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nada! Muito confete... serpentina! Era frequentado mais por viajantes. Quem dançasse muito lá... Então tinha as moças pra frente... as moças do tempo aqui... Naquele tempo as moças da cidade não dançavam com os viajantes. Viajantes e soldados não tinham... eram separados. Vinha pra fazer o baile aqui. O baile deles era no Cinema Recreio. Faziam carnaval... uma porção de coisas... dançavam à noite.

Conheci muito Humberto, Plínio, todos eles... Monteiro Chiquinho, Haroldo, Pedro Comello, o pai da Eva. Lembro deles filmando aqui. A Eva era a estrela! Tinha também o Paschoal, que fazia parte e estava procurando o tesouro perdido1. (A filmagem) era na chácara de Dona Catarina... a Eva estava na-morando o Chiquinho e então caiu uma jaca lá de ci-ma... bateu lá no chão... Eu não sei bem, tem umas anedotas... Como chamou aquele que veio do Rio? Era um homem alto. Tinha uns dois metros de altura! Era artista de cinema. No filme, a briga foi na usina, naquela roda, quase que um caiu naquela roda2. Eles fizeram...

1) O Thesouro Perdido, produção Phebo Sul América Film, direção de Humberto Mauro, Cataguases, 1927.

2) Brasa Dormida, produção Phebo Sul América Film, direção Humberto Mauro, Cataguases, 1928.

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A política era braba aqui... os Peixoto briga-vam com o Pedro Dutra, e então a coisa ficou preta! Tinha que ser Peixoto ou do Pedro Dutra. Aí tinha rivalidade... O Sandoval entrou na política também. O Pedro Dutra não achou muito bom e brigou com o Sandoval, o Sandoval de Azevedo. O Sandoval su-biu também. Subiu muito! O Pedro queria mandar mais do que o Sandoval. Aí começou uma briga feia! Tinha, por exemplo, “A Mata”, um jornal contra o Dr. Astolfo... Anísio Cardoso escreveu no jornal que o pai do Pedro era protetor de ladrão de cavalo! Um distin-to, que também fazia parte, deu um tiro na boca do Anísio! Ali, onde foi a casa no início, no princípio da Rua Tenente Fortunato... Os Peixoto eram industriais e o Pedro era político só... não fazia nada mais... Só tratava de política. Os Peixoto tinham fábrica e re-solviam os problemas. Tinham brigas até nos hospi-tais... Houve uma discussão no cinema, no alto - an-tigamente em cima era salão de baile - houve uma reunião política... tiveram divergências... queriam também tomar conta do hospital. O Pedro queria en-trar (como sócio) e eles não queriam que ele entrasse! Chegou até a sair uma briguinha meio preta, pesada...

O dinheiro naquela época era dinheiro! O qui-lo de carne de primeira era dez tostões. Tinha dia, no matadouro ali - que nem era matadouro, era um

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charqueado - que matava oito bois e vendia! A gente ia lá comprar duzentos réis e vinha um pedaço gran-de! Tinha mais fartura. Tinha... todo mundo podia ir na roça e trazia inhame, abóbora... vinha carro cheio de abóbora. Hoje não tem mais isso! Nós compramos essa casa por quatro contos de réis, em 1919. (Não, foi em 1920, disse Dona Maria Barroso, irmã mais ve-lha. Não, foi em 1921, afirmou Dona Alayde Barroso, também irmã e também mais velha que o senhor Oswaldo Barroso).

Era melhor um pouquinho (naquele tempo)! No tempo do “Seu” Barroso era muito melhor, mas depois a coisa ficou preta! A gente tinha que fazer força! Eu tive que fazer força pra me manter! Tive tanta coisa...

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E C I L A L O B OP R O F E S S O R A

9 1 A n o s

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Nós chegamos em 1914. A primeira Grande Guerra, quando foi declarada, estávamos já em águas brasileiras... Nós passamos em Cataguases, dormimos uma noite aqui. Acho que foi uma noite... cidadezinha pequena, e eu muito pouco pude gravar. Eu era criança, cinco anos e meio... Mas uma coisa ficou na minha mente... o teatro. O cineteatro Recreio, uma bela construção.

De Cairo viemos como imigrantes: eu, mamãe, papai e um irmãozinho. Então fomos para a Colônia Major Vieira. Já tinha um lote lá destinado... É logo aqui, na estrada que vai para Itamarati. Se não me en-

E VA C O M E L L OF O T Ó G R A FA

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Foto: Eva Nil (à direita) em “Senhorita Agora Mesmo”, s/a, s/d, Fundação Cinema Brasileiro

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gano, acho que é do lado que tem uma igrejinha. Em 14 (1914) nós fomos para lá e em 17 (1917) nós viemos para a cidade. Três anos: o tempo de pagar... tinha de pagar pra depois vender o lote e vir embora...

Minas Gerais... o nome influi. É um nome mui-to bonito! Minas Gerais! Com toda certeza ele pen-sou encontrar alguma mina... Ele veio com um amigo para Belo Horizonte. De Belo Horizonte vieram para Cataguases. Por quê? Eu não sei... pra Cataguases eu não sei... Porque estava escrito, não é? (Meu pai) foi para o Egito a serviço militar da Itália. Ele foi desig-nado para a colônia italiana, a Eritréia. É, ficou liga-do ao “gênio militar”. Da Eritréia ele voltou ao Egito. Casou-se no Cairo. Casou-se com mamãe e depois veio para o Brasil conhecer os sertões com a família... Ele estava até com os documentos tirados... o passa-porte para o Canadá, mas ele foi com um amigo ao consulado brasileiro - o amigo vinha para o Brasil - e o Cônsul o animou a vir para o Brasil porque o cli-ma do Canadá é muito diferente do clima do Egito. O clima do Brasil é mais ou menos suportável para as crianças.

Meu pai tinha profissão... administrava, man-dava os homens fazer, papai era professor. Até lín-guas papai ensinava: inglês, francês... Água passada não toca moinho?! Ele fez o contrário... a água toca-

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va e vinha até gente daqui (de Cataguases) ver como era... Papai era um artista em muitas coisas. Era pro-fessor de música, consertava pianos... pintava... Não era para ficar lá (na Colônia Major Vieira) e daí vie-mos para a cidade...

Em 16 para 17 Cataguases só tinha um carro! A Avenida Astolfo Outra tinha a casa do Dr. Astolfo... tudo era cerca de bambu, era mesmo bem no come-ço... Um detalhinho interessante: vim morar na casa, nesta rua de baixo, hoje Alfredo Barroso, na época não sei como se chamava... O tempo passou... Outro dia passei nessa rua. Tinha setenta anos que eu não passava nessa rua! Já pensou?

As ruas assim, mais principais eram de “pé de moleque”. Você sabe o que é “pé de moleque”? As mocinhas vinham pra praça... As moças passavam de um lado, os rapazes passavam de outro. Aí dava o flerte, não é? Mas isso, já muitos anos depois que eu cheguei...

Eu vim com outra língua completamente dife-rente. Tive de começar tudo. Tudo muito bem... tinha entusiasmo, gostava de estudar, gostava de aprender. Eu sei que quando eu comecei, lá mesmo na Colônia Major Vieira, tinha uma escola pública e eu comecei a frequentar. Eu ia a cavalo... Eu montava toda entu-siasmada! A mamãe arrumava a minha merenda... Eu

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queria estudar! Não havia meio... nada que me fizes-se largar... Então eles foram obrigados a me tirar da escola. E me tiraram mesmo! Quando formos para a cidade você vai estudar direitinho... O primário no

“Coronel Vieira”, é. Foi no curso da manhã... Eu de-via falar mal, assim com sotaque, que eles achavam engraçado. E quase diariamente - isto já no terceiro ou quarto ano - eu tinha que fazer a saudação à ban-deira! Eu acredito que eles achavam esquisito aquilo, que não era normal a pronúncia! Uma vez a professo-ra falou com os alunos na sala: vocês não ficam com vergonha, não? De ver uma africana passando na frente?! Eles chegaram e contaram pra mamãe. Eles acharam que a professora me insultou, me chamando de africana. Aí mamãe explicou: africana, porque ela nasceu no Egito, e o Egito é na África.

Tudo muito bem... Tirava sempre o primeiro lugar. Deixa eu te contar: eu não estudei mais por-que não tinha onde estudar. Eu fiz o primário muito entusiasmada! Eu tinha visto uma revista, se não me engano, um moço formado em medicina, tirou em primeiro lugar! Eu vou fazer isso. Eu vou estudar. Eu vou em frente e vou fazer medicina! Então enfrentei o estudo com seriedade.

Frequência ninguém me ganhou, no tempo da escola! E quando terminei tirei a medalha de ouro!

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Em primeiro lugar e com direito ao ginásio. Fiquei toda entusiasmada! Aí comecei a passar requerimen-tos para a Prefeitura pedindo... Se você fica parada, não vem nada nas suas mãos não! Você tem que pe-dir! Pedi, mais de uma vez, e não veio não. Papai não tinha condições de pagar. Me preparei para fazer ad-missão, naquela época: aritmética, acho que uns dois meses de francês... A professora, D. Anita Carneiro, disse: a base que ela tem não é para fazer admissão, não. A base que ele tem é para entrar para o primeiro ano de ginásio!

Tempos depois - o Dr. Sandoval era Secretário do Interior - a Irmã me chamou: Eva, tem matrícula para você na Escola Normal. Muito bem, muito obri-gada. Cheguei em casa e falei com mamãe: Oh, me chamou e falou que tem matrícula lá... Mas eu não tenho vontade de ser professora. Eu não quero ser professora! E agora já estou no movimento de fazer cinema... Vou ficar como fotógrafa... e cinema. Só is-so! Em vez de frequentar escolas de teatro, escolas de cinema... frequentei o cineteatro Recreio, onde nós assistíamos filmes toda noite... Eu e papai não perdí-amos uma noite!

Parece que há, não sei... Dizem que não há des-tino, mas há sim! Há uma coisa qualquer que guia as pessoas por um certo caminho, não é? Cada um faz

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seu destino, em parte. Em parte faz sim, não é? Mas tem uma coisa traçada! Eu tinha que sair de tão longe, do Egito, vim parar aqui em Cataguases, e não sair daqui! Aqui fiquei para hoje encontrar vocês e con-versar... E foi um Cônsul brasileiro que pôs na cabeça de papai... olha que o clima é diferente... Fez a propa-ganda do país...

Nunca tive aquele desejo, aquela coisa de voltar ao Egito... de ir ao Egito! Não, estou satisfei-ta, muito satisfeita! Eu sou muito rica! Riquíssima! Poucas pessoas têm a riqueza que eu tenho: sou italiana, sou egípcia e sou brasileira. Muito poucas pessoas têm... nacionalidade italiana, registrada em consulado italiano; natural: Egito; agora, criada no Brasil, desde pequena. Sou brasileira, mineira e cata-guasense. Eu às vezes olho pra trás e falo: puxa vida, quantos anos já!

Uma vez Malba Tahan vindo a Cataguases pa-ra uma conferência lá no Cine Machado... Ele vinha sempre. Ele deu aula de matemática no Colégio das Irmãs. É escritor de livros sobre contos orientais. Eu tinha muita vontade de conhecê-lo, de vê-lo. Nós fomos. Nós sentamos e ficou uma cadeira vaga. Daí a pouco veio um senhor e sentou nesta cadeira va-ga. Uma pessoa assim... uma figura estranha. O Dr. Francisco estava sentado logo atrás. A minha madri-

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nha Sindonga perguntou ao Dr. Francisco quem era. Ele falou: Malba Tahan. Eu não resisti! Demorei só um pouquinho e falei com ele: o que é o acaso? Ele disse: O acaso é Deus quando não quer assinar...

O acaso parece uma coisa que força aquilo acontecer. Vai e acontece mesmo... A gente desvia do assunto. Passa a conversar de outra coisa. Mas eu vou cuidar de lembrar coisas do passado interessantes.

Eu acho hoje uma maravilha! Eu gosto tan-to! Eu acho tão bonito o progresso, o desenvolvi-mento de Cataguases. Isto eu falo pra todo mundo! Cataguases cresceu tanto, tá tão grande! Tão bonita! Só não gosto muito é de carro. Tem carro demais, é ou não é? Muita mudança, muita, muita mudança! Esses últimos anos, então, nem se fala, não? Vocês... não dá pra notar porque vocês já chegaram na mudan-ça! Para nós... temos que fazer um esforçozinho para adaptar, entendeu? Para não passar por quadrada.

Eu era feliz porque tinha os meus pais, não é? Nós morávamos ali... na Praça Rui Barbosa. Então eu me lembro de que eu levava um “moizinho” de taio-ba para uma amiga... descalça! Mas eu era menina ainda, a vida era simples. Hoje não, tenho que pen-sar para lembrar mais um pouco... A gente andava a vontade, não tinha o padrão de vida que tem hoje, é muito diferente! Hoje é cada um na sua casa. Aliás,

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hoje as visitas são feitas na rua... A gente vai fazer as compras, encontra as amigas, conversa e está feita a visita!

Eu nunca fui de festas, de bailes, essas coisas. Mas faziam... um dia na casa... um dia, não sei se era sábado ou se era domingo, ou durante a semana mesmo, faziam na casa de Fulana baile. Então as ami-zades todas iam praquela casa dançar.

Depois faziam na casa de outra a mesma coi-sa: se reuniam para dançar lá. Mas eu brinquei mui-to! De tudo! Até puxar papagaio na Rua do Pomba! Papagaio, pipa, né. Corria... fazia fogãozinho de bar-ro na rua... A gente aproveitava muito mais. Agora não. As meninas agora não tem infância. Pra começar, aos cinco anos já começa a ir para a aula! As meninas agora têm a cabeça... sei lá. A juventude está passan-do por uma crise muito forte. Muito forte mesmo! Muito difícil! A gente não pode falar não, porque pas-sa por quadrada, não é?

Aquela rua ali, da farmácia, nós moramos ali vinte e sete anos... Sabe onde é o INPS? Tem a far-mácia do Nelo, tem outro prédio de dois andares... nós moramos ali numa casa. Era ali que se fazia esses filmes todos. O laboratório de papai era ali. Com pa-pai comecei trabalhando, ajudando. Ele viajava mui-to. A primeira vez que ele foi viajar para São Paulo,

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eu fiquei quinze dias tomando conta do foto. O pri-meiro cliente que chegou era um viajante, um portu-guês. Conversei com ele, combinei tudo, mas fiquei tremendo e rezei e pedia a Deus: tomara que ele não volte! Mas voltou... voltou no mesmo dia, eu fiz rá-pido a prova. Olhou, gostou e me encomendou du-as dúzias, logo de início. Me entusiasmei e foi tudo muito bem... E aí eu fui continuando. E depois pas-sou pro meu nome. Eu ajudava (desde) os 13 anos... Eu gostava de fotografar tudo: gente, crianças... A fo-tografia é uma coisa interessante. Ela é mais interes-sante depois que passa o tempo. Na hora ela não é tão interessante quanto depois!

Tenho pesar... misturei tudo. Tanta fotografia rasguei, tanta fotografia... Rasguei tanto negativo... o cliente é o dono do retrato e o fotógrafo também. O fotógrafo não pode destruir o retrato (sem o cliente autorizar). Nós tínhamos um arquivo muito gran-de! Acabou... acabou tudo... Agora só ficaram esses poucos negativos da cidade, porque eu fiz questão de guardar!

Tenho certeza que vocês não viram o “Arco do Triunfo”, com a chegada dos rapazes da guerra. Tem esse negativo aqui... Está em uma caixa e passou des-percebido. Estou com os negativos bonitinho a che-gada deles...

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(Durante a Segunda Guerra) conosco foi tudo bem, não houve nada... Houve aquele movimento, a Quinta Coluna. Conosco não houve nada, a não ser o dinheiro que estava no banco... ficou retido... Só depois da guerra que foi retirado. Os conterrâne-os, os italianos... se tornaram logo amigos. Por sinal, Schettini foi a primeira família que veio nos receber, quando nós chegamos. Quando desembarcamos pa-ramos na casa do Senhor José Schettini. A senhora dele era a Dona Mariquinha...

Essa fotografia não fui eu que tirei, foi papai. Naquela época eu ainda não trabalhava.

Eu sou conservadora sobre tudo e sobre todos os pontos. Para mim era conservar tudo. Eu não pos-so dar opinião (sobre a arquitetura moderna) porque eu sou conservadora.

Eu me lembro... isso ainda na Colônia (Major Vieira) como produziam café! Produziam muito café... aqueles terreiros cheios de café e, se não me engano, era quinze mil réis a arroba. Isso era tempo do mil réis... quinhentos réis... um tostão... estes de níquel. Tinha de cobre: quarenta vinténs, vinte vinténs... Eu tinha a coleção, mas me roubaram! Com uma moe-dinha de vinte se comprava uma bela cocada, bem grande! Agora, coitado do cruzado, está sem conta. Você não compra nem uma bala! É uma comparação

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muito triste. Progredimos muito, estamos com mui-tas casas, o progresso foi grande, mas comparando fica triste...

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E C I L A L O B OP R O F E S S O R A

9 1 A n o s

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Eu nasci na roça mesmo, na Fazenda do Neves. Trabalhei na roça: já apanhei café, já colhi café, já plantei arroz, já colhi arroz, já plantei algodão, já colhi algodão...

Com 14 anos mudei para Cataguases. Não demorei nem um mês, a gente mudou em agosto, e setembro comecei a trabalhar. Eu trabalhei trinta e dois anos e meio, sempre fiandeira na Irmãos Peixoto. Trabalhava de ajudante, trabalhava de substituta de encarregado, trabalhava na turma de manutenção. Nas horas vagas, eu parava de trabalhar na Irmãos Peixoto, eu ia trabalhar na Manufatora, para ensinar as que começaram, as meninas que começaram. Eu

M A R I A M E N D E S N E T OT E C E L Ã

6 4 a n o s

Foto: Interior de Fábrica de Tecidos, s/a, 1917, Museu Alípio Vaz

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ia para trabalhar lá. Trabalhava quatorze horas: tra-balhava oito horas na Irmãos Peixoto, e seis horas na Manufatora. E depois que fizeram a Industrial eu pa-rei, fiquei só na Irmãos Peixoto. E depois veio a Saco-Têxtil onde eu trabalhei também. Trabalhava oito ho-ras na Irmãos Peixoto, trabalhava seis horas na Saco-Têxtil. Até montar as máquinas, arrumar, organizar a fiação. Trabalhava em excesso! Recebia extra... nessas outras fábricas eu recebia extra. Eu recebia meu sa-lário certo na Irmãos Peixoto. A gente ganhava um pouquinho...

Não havia leis, não havia nada! Não havia nada que beneficiasse a gente! Não podia fazer na-da que era mandado embora, e era de qualquer jeito! Não havia greve, não... havia protesto, mas os operá-rios não eram bem tratados. A gente não tinha liber-dade de conversar com os patrões. A gente conver-sava com os encarregados. Tinha encarregado bom, que era bom pra gente, mas tinha também uns que castigavam bem a gente!

Com Getúlio Vargas veio a lei trabalhista, veio o sindicato, mas eu nunca participei. Alguns operá-rios que, quando sofriam alguma coisa, reclamavam no sindicato... mas eu nunca reclamei nada no sindi-cato! Apesar de ser prejudicada várias vezes, eu nun-ca reclamei! Eu nunca quis criar caso! Em 65 (1965)

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eu fui Operária Padrão3. Na indústria onde eu traba-lhava eram cinco candidatos escolhidos. Então, des-ses cinco candidatos eu fui eleita, com maior núme-ro de votos de todos os cinco candidatos! Em Belo Horizonte, eu competi com um senhor de Uberaba. Eu fiquei como Operária Modelo do Estado de Minas e ele como Operário Padrão porque nós empatamos. Ele era bem mais velho do que eu... nós empatamos por várias vezes na eleição que fizeram durante a noite. Eles fizeram a eleição e várias vezes nós empa-tamos! Então puseram eu como Modelo e ele como Operário Padrão do Estado de Minas Gerais. Não me julgando melhor do que os meus companheiros de trabalho, mas me senti muito satisfeita.

Minha vida foi assim... No tempo que meu marido ficou paralítico eu trabalhava na fábrica, fa-zia minha comida, lavava roupa de noite, levantava de madrugada para torcer a roupa e, quando dava cinco e meia, minha roupa já estava no varal! Eu sempre procurei cumprir com o meu dever todo o tempo que eu trabalhei! E eu nunca deixei de cum-prir minhas obrigações. Nunca eu, por ser estabi-lizada, eu abusei da lei, dos meus direitos. A lei da estabilidade é muito boa assim para algumas pesso-

3) Primeiro ano do concurso no Brasil.

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as. Prejudica o patrão devido algumas pessoas, que chega aos dez anos, não quer assumir muito o tra-balho... Tiraram a estabilidade, que substituiu por outra lei... fundo de garantia. Foi mudando aos pou-cos. Houve mudança, sim. Bastante mudança! Ele (Getúlio Vargas) era visto como uma pessoa muito famosa, muito boa. A morte dele para os operários foi muito triste, porque ele foi o único que deu as leis, que favorecem o operário um pouco. Eu tenho um retrato dele guardado...

Trabalhei muito, com muita dificuldade! Eu trabalhei também, quando os Reis tinham catação, nas horas vagas, catação de café. Era perto da Estação, num sótão que tinha ali... grande... que era a catação (de café).

Eu trabalhei tanto! Eu aposentei. Não sei... 31 de março, que eu me aposentei... em 71 (1971) e ho-je não tenho nem o salário mínimo! Aposentei com mais de um salário, porque eu trabalhava ultima-mente, nos últimos tempos que eu trabalhei, por ta-refa. Eu então, ganhava mais um pouco do salário. Aposentei com mais um pouco... Não muito, mas um pouco que quebrava o galho! Mas foi caindo o salá-rio. E hoje, nem salário mínimo eu ganho! No mês de junho, eu fiz uma consulta e o meu salário foi a conta de pagar o meu medicamento! Quer dizer que...

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Cadê a comida? Se não é os meus filhos, eu não tinha comida!

Eu nunca participei de diversões, eu só traba-lhava. Eu era “Filha de Maria”. Então eu participava das festinhas religiosas, ajudava nas barraquinhas da igreja. Era muito bem coordenada.

Não era para ajudar pobres, não. Esse tipo de coisa não tinha não! Era só cuidar da ornamentação da igreja. E ir à missa. E não podia frequentar bai-le! Não podia receber a comunhão sem meias, essas coisas assim... Quem coordenava era... primeiro era Otália Guimarães, depois a Dona Sindonga e depois passou para a Josélia Duarte. E eu fui até zelada da Josélia Duarte. Zelada era assim: eu era “Filha de Maria” e ela era minha superiora. E a gente tinha os dias marcados da gente enfeitar a igreja. E cada se-mana eram três que ornamentavam a igreja. Enfeitar a igreja, procurar flores, fazer visita... acabou. Agora voltou outra vez. Agora, se eu quiser voltar, eu pos-so voltar. Mas eu não voltei porque fiquei doente. Então não dá pra mim ficar arrumando compromis-so. Eu não quero. Então, eu prefiro não assumir o compromisso.

Na Igreja de Santa Rita, o primeiro era o Padre Modesto. Depois passou para o Padre Solindo... Eu fui uma que arrecadei um pouco de dinheiro para co-

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meçar a igreja. Fiz uma lista e colhi algum dinheiro para a igreja nova. Como “Filha de Maria” tive es-sa tarefa. Arrecadei algum dinheiro, só não lembro a quantia. Estava pequena! (a igreja velha). Eu não gos-tei muito do modelo desta. Eu achava a outra mais bonita, mas havia necessidade de modificação.

A moda era... a gente andava muito bem vesti-da. Era muita roupa: manga, gola... Eu, por exemplo, nunca usei roupa sem manga. Sempre foi de mangui-nha. E nem sei usar!

Eu morei na Vila Minalda. A Vila Minalda não era calçada, era tudo terra! Tinha muito barro, mui-ta lama! E a gente vinha trabalhar na fábrica; então, a gente atolava! Tinha que lavar os pés, cá perto da ponte, para calçar o tamanco para ir para a fábrica. (Os operários) usavam tamancos, porque não po-diam comprar chinelo. Eu calçava o tamanco e vi-nha para a fábrica. Chegava na fábrica, eu tirava o tamanco para não gastar, pra mim ter o tamanco para atravessar a rua, para ir para casa e voltar. Eu deixa-va o tamanco debaixo da máquina e, na hora de sair, passava uma estopa nos pés, calçava o tamanco para ir embora. Ninguém podia comprar chinelo e nem sapato! Era mesmo tamanco. Todo mundo usava ta-manco! Era um tamanquinho, assim, de pau com um paninho costurado em cima. Tinha um senhor que

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fazia e vendia nas casas, nas lojas. Não tinha muita loja, não. Eu me lembro muito da “Pernambucana”, ali perto de onde é a Caixa Econômica. Tinha a Carcacena. Lojinnha, eu não me lembro não! Agora tem muita lojinha...

Não tinha dinheiro para comprar. (O salário) não dava... E não era boa a alimentação, não. Tinha que ser mínima! Antes do salário mínimo, a gente vi-nha para a fábrica e não podia comprar o pão da ma-nhã, não. A gente vinha só com o cafezinho mesmo! Até na hora do almoço, com o cafezinho mesmo!

Eu entrei para a aula noturna. Aí, a Dona Mercedes era a diretora da escola, Grupo Coronel Vieira... então, a Dona Mercedes cortou os alunos da indústria, porque numa semana a gente podia estu-dar, na outra não. Porque a gente trabalhava de tur-ma. E isto me entristeceu muito. Diz ela que atrapa-lhava, que atrasava os alunos, os que tinham oportu-nidade de estudar todo dia... a gente descontrolava o estudo. Então ela cortou os alunos todos da fábrica! Isto me entristeceu muito! Até hoje eu sofro com is-to! Tinha aula da noite, era o único grupo (Coronel Vieira), eu era aluna da Dona Hilda Condé. Era bas-tante alunos... Todo mundo aceitou, ninguém falou nada! Só ela disse que não podia aceitar os alunos... Estudei um pouquinho! Agora que eu aposentei, que

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eu podia estudar, adoeci... Eu tenho vontade, mas não tenho condições! Se eu estudasse, me fazia bem porque eu ia conviver com mais pessoas. E isto ia me ajudar a sair deste problema. Isso, pode saber, que atrapalhou muito a minha vida... ela não ter deixado eu estudar! Agora, eu tenho muitas saudades da roça. Do tempo que eu passei na roça... eu tive mais felici-dade, mais paz...

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C O L E T Â N E A D E F O T O S

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Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

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Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

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Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

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Foto à esquerda: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto à direita: Matriz de Santa Rita, Postal Colombo, 1950, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Rua Alferes Henrique de Azevedo, A Brasileira, 1930, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Rua Carlos Gomes, Alberto Landóes, década de 1910, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Rua Major Vieira, A Brasileira, 1930, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

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Foto acima à esquerda: Cadeia e templo metodista, Alberto Landóes, dé-cada de 1910, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Praça Rui Barbosa, A Brasileira, s/d, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

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Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Praça Rui Barbosa, Foto Lídice, década de 1910, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Praça Rui Barbosa, Alberto Landóes, 1913, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Praça do comércio, atual Rui Barbosa, s/a, 1913, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Praça Rui Barbosa, Gilson Costa, s/d, acervo IBGE

Foto acima à direita: Maçonaria e Theatro Recreio, Alberto Landóes, 1913, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Fachada Theatro Recreio, s/a, 1917, acervo ENERGISA

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Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

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Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Interior Theatro Recreio, s/a, s/d, acervo ENERGISA

Foto abaixo à esquerda: Interior Theatro Recreio, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Fachada Cia. Força e Luz Cataguases-Leopoldina, s/a, 1908, acervo ENERGISA

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Foto acima à esquerda: Esquina da rua Cel. Vieira com Paulino Fernandes, s/a, s/d, acervo do Instituto Francisca de Souza Peixoto

Foto acima à direita: Estação Ferroviária, s/a, 1913, acervo DEMPHACFoto abaixo à direita: Hotel Villas e Engenho Central de Cataguases, s/a,

1907, acervo ENERGISA

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Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

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Foto acima à esquerda: Praça da Estação, Foto Lídice, década de 1950, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Praça da Estação, Foto Lídice, década de 1950, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Praça Governador Valadares, s/a, 1950, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

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Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Chácara Dona Catarina, Alberto Landóes, 1915, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Chácara Dona Catarina, Alberto Landóes, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: O alto comércio do café em Cataguases, Alberto Landóes, 1915, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Banco do Brasil, s/a, década de 1930, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Demolição Casa Carcacena, Luiz Fernando Leitão, 1988, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Rua Cel. João Duarte, Alberto Landóes, 1917, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

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Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Esquina da Rua Cel João Duarte com Av. Astolfo Dutra, s/a, s/d, acervo do Instituto Francisca de Souza Peixoto

Foto abaixo à esquerda: Praça Governador Valadares, s/a, década de 1950, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Antiga Farmácia Americana do Sr. Pergentino Dutra de Siqueira, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Casa do Pires, s/a, década de 1920, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Inauguração da Cia. Fiação e Tecelagem Cataguazes, s/a, 1906, acervo ENERGISA

Foto acima à direita: Local onde hoje é a Praça Manoel Inácio Peixoto, s/a, s/d, acervo do Instituto Francisca de Souza Peixoto

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Foto: Local onde hoje é a Praça Manoel Inácio Peixoto, Eva Comello/Pedro Comello, 1932, acervo do Instituto Francisca de Souza Peixoto

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Foto: Local onde hoje é a Praça Manoel Inácio Peixoto, Eva Comello/Pedro Comello, 1932, acervo do Instituto Francisca de Souza Peixoto

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Foto acima à esquerda: Solenidade de inauguração busto de Manoel Inácio Peixoto, s/a, década de 1940, acervo do Instituto Francisca de

Souza PeixotoFoto acima à direita: Praça Manoel Inácio Peixoto, s/a, s/d, acervo do

Instituto Francisca de Souza PeixotoFoto abaixo à direita: Saída dos operários da Fábrica de Tecidos, Gilson

Costa, s/d, acervo do IBGE

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Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

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Foto acima à esquerda: Interior da Fábrica de Tecidos, Alberto Landóes, início séc. XX, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Interior da Fábrica de Tecidos, s/a, 1917, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Operárias da Fábrica de Tecidos, Gilson Costa, s/d, acervo IBGE

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Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

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Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Vista aérea da Vila Domingos Lopes, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vila Resende, onde hoje é o Mercado do Produtor, s/a, 1988, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Bairro Haidê Fajardo, Gilson Costa, s/d, Acervo IBGE

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Foto acima à esquerda: Av. Astolfo Dutra, s/a, s/d, acervo DEMPHACFoto acima à direita: Plantação de mudas na Festa das Árvores, na Av.

Astolfo Dutra, Alberto Landóes, década de 1910, acervo DEMPHACFoto abaixo à direita: Grupo Escolar de Cataguases (atual Coronel Vieira),

Alberto Landóes, 1915, acervo DEMPHAC

Page 145: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Page 146: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Ponte de madeira, s/a, 1906, acervo DEMPHACFoto acima à direita: Ponte de madeira/ a foto retrata a enchente de 1906,

s/a, 1906, acervo DEMPHACFoto abaixo à direita: Ponte Metálica, Alberto Landóes, 1915, acervo

DEMPHAC

Page 147: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Page 148: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto: Vista aérea parcial da Vila Tereza, s/a, s/d, acervo do Instituto Francisca de Souza Peixoto

Page 149: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto: Hospital de Cataguases, s/a, 1920, DEMPHAC

Page 150: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Page 151: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Ginásio de Cataguases, s/a, 1933, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Antigo Caminho para o Colégio Cataguases, Foto Lídice, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Ginásio Municipal de Cataguases, s/a, década de 1920, acervo DEMPHAC

Page 152: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Page 153: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Construção do Colégio Cataguases, s/a, década de 1940, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Fachada do Colégio Cataguases, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Hall do Colégio Cataguases, Foto Lídice, década de 1950, acervo DEMPHAC

Page 154: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto à esquerda: Sala de aula do Colégio Cataguases, Foto Lídice, década de 1950, acervo DEMPHAC

Foto à direita: Biblioteca do Colégio Cataguases, Foto Lídice, década de 1950, acervo DEMPHAC

Page 155: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Page 156: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto: Sala física e química do Colégio Cataguases, Foto Lídice, década de 1950, acervo DEMPHAC

Page 157: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto: Cozinha do Colégio Cataguases, Foto Lídice, década de 1950, acervo DEMPHAC

Page 158: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Page 159: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Refeitório do Colégio Cataguases, Foto Lídice, década de 1950, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Gabinete dentário do Colégio Cataguases, Foto Lídice, década de 1950, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Piscina do Colégio Cataguases, Foto Lídice, s/d, acervo DEMPHAC

Page 160: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Page 161: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto à esquerda: Coronel João Duarte, Alberto Landóes, s/d, acervo DEMPHAC

Foto à direita: Coronel Artur Cruz, em pé da direita para a esquerda, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Page 162: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto à esquerda: Fazenda do Coronel Artur da Costa Cruz (Fazenda Bom Retiro), Alberto Landóes, s/d, acervo DEMPHAC

Foto à direita: Manoel Inácio Peixoto, s/a, s/d, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Page 163: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Page 164: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Page 165: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto à esquerda: Pedro Dutra e Flávia Dutra, s/a, 1920, acervo DEMPHACFoto à direita: Pedro Dutra e correligionários, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Page 166: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Page 167: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto à esquerda: Humberto Mauro, s/a, 1926, acervo DEMPHACFoto à direita: Eva Nil, à direita, no filme “Senhorita agora mesmo”, s/a,

1927, acervo DEMPHAC

Page 168: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Page 169: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto à esquerda: Cerimônia Pública em frente ao Theatro Recreio, s/a, 1940, acervo DEMPHAC

Foto à direita: Chegada dos expedicionários a Cataguases, s/a, 9/9/1945, acervo DEMPHAC

Page 170: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Família Sucasas, s/a, década de 1930, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Banda de música da Indústria Irmãos Peixoto, com maestro Rogério Teixeira, s/a, 1945, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Conjunto musical “Namorados da Lua”, s/a, déca-da de 1930, acervo DEMPHAC

Page 171: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Page 172: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Carnaval , s/a, década de 1910, acervo DEMPHAC

Fotos à direita: Carnaval, “Mimosas Camélias”, s/a, década de 1940, acervo ENERGISA

Page 173: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Page 174: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Page 175: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Fotos à esquerda: Maria Magalhães Pereira, 19 anos, Rainha dos Operários, Indústria Irmãos Peixoto (entrevista no volume 3), s/a, 1945,

acervo Instituto Nossa Senhora do CarmoFoto acima à direita: Grupo de alunas Escola Normal, s/a, s/d, acervo

Instituto Nossa Senhora do Carmo

Page 176: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Grupo de alunas Escola Normal, s/a, 1927, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Exercícios suecos alunas Escola Normal, s/a, 1932, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto abaixo à direita: Alunas quartanistas, s/a, 1924, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Page 177: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Page 178: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Page 179: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto à esquerda: Coroação de Nossa Senhora- alunas Escola Normal, s/a, s/d, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto à direita: Sr. Zizito, primeiro da direita para a esquerda em pé, em campo de futebol em Aracati (entrevista no volume 4), s/a, década de

1970, acervo Sr. Zizito

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Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Page 181: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Interior Fábrica de Massas, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Chalé do bairro Leonardo, Luiz Fernando Leitão, 1988, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Fachada Colégio São Diniz, s/a, 1886-1898, acervo DEMPHAC

Page 182: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Inauguração dos bondes, s/a, 1910, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Casa de Força da Usina Maurício, Alberto Landóes, 1908, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Caminhão da Cia Força e Luz Cataguases-Leopoldina, s/a, década de 1910, acervo DEMPHAC

Page 183: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/a, 1933, acer-vo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Vista aérea parcial de Cataguases, s/A, s/d, acer-vo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Foto acima à direita: Colégio e Escola Normal, s/a, 1925, acervo Instituto Nossa Senhora do Carmo

Page 184: Memoria patrimonio de cataguases_vol1

Foto acima à esquerda: Largo Praça Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Escola Normal, dormitório, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à direita: Igreja Santa Rita, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

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Foto acima à esquerda: Fábrica de Tecidos União Industrial, s/a, 1913, acervo DEMPHAC

Foto abaixo à esquerda: Interior Fábrica de Tecidos União Industrial, s/a, 1913, acervo DEMPHAC

Foto acima à direita: Vista aérea da Cia Industrial, s/a, s/d, acervo DEMPHAC

Foto na próxima página: Propaganda em exemplar da Revista da Mata, s/a, 1917, acervo DEMPHAC

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