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Tese ao 32° Encontro Nacional dos Estudantes de Direito ENED 2011 Coletivo Nacional Estudantil www.coletivolevante.wordpress.com

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tese apresentada no ENED SP

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Tese ao 32° Encontro Nacional dos Estudantes de Direito ENED 2011

!Coletivo Nacional Estudantil

www.coletivolevante.wordpress.com

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Apresentação

Esta não é uma tese nova de um Coletivo novo. É a compilação dos debates que enten-demos prioritários para serem travados nesta edição do ENED. Os militantes do Direito que constroem o Coletivo Levante atuam na FENED desde 2007, quando foram iniciadas as arti-culações para a formação do que veio a ser o Coletivo Tecendo o Amanhã, construindo este importante instrumento até os seus últimos esforços. Estivemos presentes em todos os cin-co últimos ENEDs, construindo cotidianamen-te os fóruns da federação, inclusive compondo a Comissão Gestora 2009/2010 da FENED e a CONED 2010/2011.

Aprendemos nesses anos de FENED que, para construir um Movimento Estudantil de Direito combativo e propositivo, é preciso romper com a velha forma, buscar novos cami-nhos e novas práticas que traduzam uma nova cultura de movimento. É preciso ter ousadia e irreverência para abandonar o tradicionalismo e sair às ruas em marcha, seja ela da Maconha, das Vadias ou da Liberdade. É preciso estar nas salas, nos corredores, mas também na luta.

Queremos uma FENED que, diferente-mente da UNE, esteja presente no cotidiano estudantil e na luta por uma universidade de qualidade, socialmente referenciada, com um ensino de direito crítico, integrado à pesqui-sa e à extensão, onde o acesso à assistência estudantil seja universal. Uma FENED que, na esteira do Curso de Formação Política, do Se-minário Nacional de Direitos Humanos e da Semana Nacional de Lutas, unifique as pautas e potencialize a capacidade de intervenção dos estudantes de direito na transformação social.

Reconhecemos o avanço das últimas ges-tões, que “arrumaram a casa” depois de anos de gestões irresponsáveis, mas sonhamos com a construção de um verdadeiro projeto político para o curso de direito, que aponte novos caminhos, para além dos espaços esta-tutários da federação!

Se o caminho se faz caminhando, é só de pé que podemos construí-lo...

Então, LEVANTE!

“Cantamos porque o grito só não bastaE já não basta o pranto nem a raivaCantamos porque cremos nessa gente

E porque venceremos a derrota(...)

Cantamos porque chove sobre o sulcoE somos militantes desta vida

E porque não podemos nem queremosDeixar que a canção se torne cinzas”

(Mario Benedetti)

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Combate às opressões

Atrevemo-nos a defender, dentro das discussões das políticas do Brasil, a inserção efetiva, na sociedade, das minorias sexuais, de gênero, raça ou classe. Essa questão sempre esteve presente no interior da sociedade ca-pitalista, cuja sustentação se utiliza da divisão e da segregação, dentre as quais as citadas acima.

A questão das opressões se relacio-na com a luta pelos direitos humanos, mas não só; também é necessário um processo pedagógico que possa escla-recer seu significado. A grande deman-da se coloca em todos os espaços, sendo o movimento estudantil um deles, que fica obrigado a não reduzir a guetos, dentro das discussões gerais ou das pastas específicas, a luta con-tra qualquer tipo de opressão.

A divisão, em subtítulos, das for-mas de opressão que a sociedade en-frenta há séculos, até mesmo antes do sistema capitalista, não colabora com o processo de emancipação do povo, que sofre pela cor da pele, pela forma de viver o amor, pela classe so-cial de que faz parte, por ser mulher, índio ou nordestino.

O medo pelo qual estamos rode-ados faz com que a busca por uma sociedade livre e justa fique cada dia mais difícil. Temos o histórico de um Estado com relações autoritárias, a exemplo dos 21 anos de ditadura mili-tar (1964-1985). O processo de transição para democracia não se completou. Os avanços nos direitos políticos ain-

da são simbólicos e não dão conta de motivar as organizações sociais, até mesmo dentro do ME.

Uma sociedade que não aceita as diversidades opta por isso. Não ter políticas públicas é a política pública. O Estado é um instrumento de per-petuação do poder de alguns setores - e isso começa pela disputa dentro dela. Não aprovar os materiais didáti-cos que instruem contra a homofobia dentro da educação básica é uma es-colha política. Terem ocorrido diversos ataques dentro das universidades às estudantes em casos espalhados por todo o país é sintoma do machismo, e a falta de segurança e discussão em relação ao tema é, também, uma es-colha política. Ter alunos barrados na porta de suas universidades por se-rem negros e, por isso, considerados suspeitos, é uma opção política.

São questões intrinsecamente li-gadas ao modelo de sociedade que vivemos. Questões que não devem se colocadas nas pastas isoladas, ou apenas nas plenárias específicas. De-vem ser debates transversais na luta e organização do ME. As mobilizações contra o racismo, homofobia, machis-mo, entre outras tantas, devem ser incorporadas dentro e fora das uni-versidades. Nós do Levante! acredita-mos que a indignação deve ser cana-lizada na busca por um ME de todas as cores e combativo, que acredita e constrói uma sociedade emancipada e igualitária em todos os espaços!

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Mais do que um direito, a educação é um princípio constitucional, um instrumento im-prescindível para a autonomia de um povo. É neste sentido que o ensino jurídico deve cumprir seu papel, direcionado a dar voz e vi-sibilidade àqueles que se encontram margi-nalizados pelo sistema. Ao revés de um direi-to de cunho privatista, o modelo educacional que se pretende para o Brasil deve superar o modelo escolástico e meramente exposi-tivo e encontrar, a partir de bases empíricas, uma nova forma de se estruturar, em um sa-ber construído de forma horizontal e mais próxima da sociedade. Em paralelo a isto, devemos atentar para o fato das atividades de pesquisa e extensão nas faculdades de direito praticamente inexistirem e, quando existem, se restringem a pequenos grupos e a um baixo grau de institucionalização, oca-sionando um déficit na produção acadêmica do curso e um isolamento para com a comu-nidade e com os outros cursos.

É dentro dessa perspectiva que a neces-sidade de vencer somente a literalidade do pilar constitucional positivado no artigo 207 da CRFB, ou seja, a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, se coloca como o desafio para o Direito enquanto ciência social. Para agravar a situação, a política de

Educação JurídicaEnsino, pesquisa e extensão

cortes de verbas da educação realizada pelo Governo Federal (R$ 1,2 bi) tornou o desafio ainda maior, com a consequente diminuição no número de bolsas e problemas de ordem estrutural e administrativa, como as instala-ções precárias, obras infindáveis e falta de professores.

É por isso que a reformulação da forma na qual se estrutura o ensino jurídico, em conjunto com as atividades de pesquisa e extensão, mostra-se urgente. É imprescindí-vel transpormos os muros das Faculdades de Direito e irmos ao encontro da sociedade, e é neste sentido que a Extensão, enquanto ação de construção do saber junto à comunidade, é de extrema importância, pois mais do que fazer “por” ou “para”, é preciso se fazer “com”. Nesta mesma linha, a Pesquisa, enquanto atividade de fomento à construção do saber, precisa ser ampliada, e em virtude disto é que a Educação precisa passar a ser tratada como prioridade. É preciso, portanto parar e refle-tir, repensar a lógica em que estas atividades se estruturam (ou não se estruturam) nas faculdades de direito, pois, como podemos perceber, as atividades de ensino, pesquisa e extensão, de forma conjunta, proporcio-nam a possibilidade de formar cidadãos mais conscientes de seu papel junto à sociedade.

EstágioO estágio é algo que faz parte da vida

cotidiana de todo estudante de direito. Quem ainda não fez, ou faz, vai fazer! Seja ele estágio extracurricular ou inserido na grade obrigatória do curso, desenvolvido ou não nos núcleos de prática das facul-dades. Mas para que serve mesmo o meu estágio?

Nele, eu deveria aprender, na prática, como se aplica o direito ao caso concreto,

buscando sempre a melhor saída jurídi-ca para dirimir conflitos, de maneira que acarrete o menor prejuízo para as partes, observando sempre os direitos e garan-tias fundamentais. Mas é isso que acon-tece quando eu preencho o modelo pré--existente na pasta do computador? Eu realmente pesquiso as diversas formas de analisar o caso e aplico a que melhor cou-ber? Ou finjo que direito é norma, que por

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sua vez traz sempre uma sanção, podendo ser deduzida em uma fórmula matemáti-ca?

A prática jurídica deveria aliar o ensi-no do direito positivo com a pesquisa das diversas teorias e doutrinas acerca dos te-mas estudados, com a extensão do conhe-cimento acadêmico para fora dos muros

das faculdades, em contato com a socie-dade. Lutar por uma educação jurídica de qualidade é lutar para que não reduzamos vidas e particularidades a termos e pro-cessos, para que possamos construir um direito achado na rua, nas relações sociais cotidianas, que vá além dos manuais e có-digos.

Direito à memória e à verdadeNossa sociedade é marcada pelo con-

ceito neoliberal de Estado Democrático de Direito, que traz em sua essência a globa-lização econômica - e cuja filosofia é a fle-xibilização do Estado Nacional, servindo--se de uma falsa despolitização do povo. Nesse contexto, há o esforço da esquerda de globalizar também a política, através da defesa dos direitos fundamentais. São afirmados, portanto, os direitos de quarta dimensão: direito à democracia, à infor-mação e ao pluralismo. Há uma busca por uma democracia cidadã, possibilitada pela informação e pelo pluralismo de idéias.

Como é possível garantir cidadania a um povo que sequer conhece sua his-tória? Que segue homenageando seus torturadores, assassinos de uma geração inteira? Como esperar expressão de iden-tidade de um povo que desconhece o seu passado e que, com este, ainda não acer-tou as contas? O Estado Brasileiro, a des-peito da condenação na Corte Interameri-cana por violar o pactuado na Convenção Americana contra a Tortura, Penas Cruéis e Tratamentos Degradantes, segue anistian-do crimes de lesa-humanidade imprescri-tíveis e inafiançáveis, além de cometer, há mais de 25 anos, o crime de ocultação de milhares de cadáveres dos desaparecidos políticos do Regime Militar.

Abrir os arquivos do Regime é devol-

ver dignidade ao povo brasileiro. É per-mitir que cada cidadão conheça a história do seu país, para que possamos aprender com o passado e jamais permitamos a volta de tais violações. Conhecer como o Regime se estruturava por dentro nos per-mitirá, ainda, rever as políticas de seguran-ça pública aplicadas ainda hoje, baseadas no direito de guerra entre povos, utilizada para criminalizar a população marginaliza-da pelo sistema. Garantir o direito funda-mental à informação e à democracia tem como primeiro passo a garantia do direito à memória e à verdade do que aconteceu com nosso povo em tempos antidemo-cráticos.

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Legalização das drogas

Com a colonização da América Latina, ocorreu um processo de disputa da hegemonia cultural, como a imposição da língua e da religião católica em detri-mento das nativas. A folha de coca fazia parte dessa cultura nativa e era usada para rituais religiosos, confecção de bebidas estimulantes e chá, e, como os demais costumes, foi demonizada pelos colonizadores. Já a maconha foi trazida pelos negros da África, importados como escravos, e também tinha um uso ritualístico e cultural. Durante o período das grandes navegações, o cânhamo era usado também para a confecção de amarras e roupas.

Em uma República Velha, com escravidão recém abolida e uma Lei de Terras que entregava as terras ao Coronelismo, ou seja, mão de obra livre mas terras privadas, os negros foram lançados à margem da sociedade republicana e, as-sim como seus costumes, passaram a ser perseguidos. O samba, as religiões de raízes africanas, a roda de capoeira e o “pito” eram regulados e perseguidos pela mesma instituição republicana.

Mas foi somente em 1924 que a maconha foi criminalizada. Durante a II Conferência do Ópio da Liga das Nações, o médico brasileiro Pernambuco Filho pediu a atenção das autoridades mundiais para o perigo da maconha. Nessa época, a cannabis era vista como a vingança do negro que fora escravizado e seria a arma que destruiria a nossa sociedade. Assim, a II Conferência do Ópio terminou com acordos assinados que crimi-nalizavam e baniam tanto o ópio e a cocaína como a maconha.

Histórico da proibição no Brasil

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Nesses 40 anos, desde que o ex-presidente norte americano Richard Nixon declarou a guerra às drogas, o governo estadunidense gastou bilhões, prendeu milhares de pessoas em todo o mundo; porém as drogas são cada vez mais for-tes, mais prejudiciais, os usuários são cada vez mais numerosos e o tráfico de drogas ainda é a atividade ilegal que mais lucra. Essas são algumas das razões que levaram, recentemente, algumas autoridades mundiais a fazer a declaração, óbvia, de que essa guerra fracassou.

No início da década de 1970, Richard Nixon declarou guerra às drogas, o que significou enormes verbas para financiar o combate às drogas. Assim como a guerra ao terrorismo, a guerra declarada por Nixon não tinha um alvo preciso - ele ia à TV dizer que ninguém estava seguro e que todos deveriam ajudar, assim como deixava claro aos usuários e traficantes que eles seriam persegui-dos e presos.

De fato, nesses 40 anos de guerra às drogas, o governo estadunidense gastou bilhões e prendeu milhares de pessoas em todo o mundo; porém, as drogas são cada vez mais fortes, mais prejudiciais, os usuários são cada vez mais numerosos e o tráfico de drogas ainda é a atividade ilegal que mais lucra.

Essas são algumas das razões que levaram, recentemente, algumas auto-ridades mundiais a fazer a declaração – óbvia - de que essa guerra fracassou.

Países que enfrentaram a questão de forma mais racional conseguiram mini-mizar os problemas gerados pela proibição. Portugal, Holanda, Canadá e Alema-nha são exemplos de países que, ao invés de gastar seus recursos combatendo o fantasma da droga, investiram em políticas públicas de saúde como redução de danos. A principal diferença está em oferecer ao usuário informação e meios para que o consumo de drogas seja menos prejudicial, ao invés de criminalizá-lo e jogá-lo na prisão.

Guerras às Drogas

Seletividade da LeiA lei 11.343, de 2006, trouxe uma inovação jurídica ao diferenciar a conduta que

definiria um traficante e um usuário de drogas. Desde então, passou a ser possível e legalmente aceita a diferenciação entre traficante e usuário.

A mesma lei foi responsável por descriminalizar a conduta do usuário, entendendo que este deve ser paciente do sistema de saúde e não do sistema penitenciário. Porém, as penas previstas para tráfico foram bastante aumentadas, tanto quantitativamente

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Com a proibição, lançamos no mercado negro produtos de alto risco e bi-lhões de dólares para que os criminosos continuem organizados e bem arma-dos. Muitos acreditam que, com a legalização das drogas, entraremos em um período de barbárie, de caos social, onde nada funcionará, pois a humanidade será transformada em uma massa de zumbis usuários de drogas.

Por isso temos que diferenciar a liberação da regulamentação. A primeira consiste em simplesmente descriminalizar as drogas, o que transformaria o mercado ilegal em mercado legal.

Liberar ou Regulamentar?

como qualitativamente, como, por exemplo, a vedação do direito de responder o pro-cesso em liberdade, ou receber pena alternativa à de prisão.

Como a lei é de difícil interpretação, sendo muitas vezes dúbia, o juiz ainda sente dificuldade em diferenciar as condutas de traficantes e usuários. Como a lei não oferece solução para essa questão, os juízes acabam por se valer de outros conceitos.

Assim, se um jovem branco é flagrado com inúmeros papelotes de cocaína próximo a uma favela e outros jovem, negro, é flagrado com duas pedras de crack e R$ 10 no

bolso no centro da cidade; pro-vavelmente o primeiro não será declarado traficante, enquanto o segundo provavelmente não con-seguirá provar que é usuário.

As pesquisas do delegado Orlando Zacone demonstram que as ocorrências de trafico são mais freqüentes nas delegacias próximas às favelas do Rio de Ja-neiro, enquanto que a maioria das ocorrências envolvendo drogas nas delegacias de bairros ricos termina com o detido liberado no mesmo dia, após assinar o termo declarando ser usuário.

Mega-eventosSomente no Rio de Janeiro, segundo

a Defensoria Pública do Estado, aproxima-damente meio milhão de pessoas tem seu direito à moradia ameaçado. Nesse mo-mento, há tratores e policiais removendo famílias e comunidades das regiões cen-trais e valorizadas para periferias distantes

e sem nenhuma infra-estrutura urbana. O que antes era favela mal vista, agora é um lugar cobiçado, devido ao crescimento ur-bano e os mega-eventos (Copa do Mundo e Olimpíadas), demandando a construção de novos lugares para que um número muito restrito de pessoas tenha acesso.

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Cresce a opressão, cresce a resistência! Em assunto de direito à cidade, especial-mente no que tange à moradia, os mo-vimentos sociais organizados lutam por uma reforma urbana em outros parâme-tros. Precisamos de um projeto que não seja baseado em interesses particulares de grandes empresários e especuladores. Os mega-eventos devem acontecer e sig-nificar bem estar geral, e não enriqueci-mento de poucos.

O “país do futebol” sediará a próxima Copa do Mundo. Porém, no padrão da indústria do futebol, não cabe a cara do torcedor brasileiro.

A Geral do Maracanã, que, como em outros estádios brasileiros, fazia parte do folclore do futebol e era o espaço mais democrático das arquibancadas, já não existe mais. Fonte Nova, Mineirão, Arena da Baixada, Mané Garrincha e Beira Rio, dentre outros, vão perder traços históri-cos e materiais que fortalecem a cultura popular desses estádios, dando espaço ao chamado “futebol moderno”.

Para obedecer aos padrões da FIFA, es-tão acabando com nossos estádios para a construção de camarotes e espaços “vips”, loteando às grandes empresas nossas ca-deiras numa perspectiva cada vez mais coorporativa. A capacidade máxima de lotação só diminui e os ingressos só au-mentam, ou seja, estamos construindo e reformando estádios para que menos pessoas possam entrar neles – e pagando mais caro.

A cidade de exceção formada nos me-gaeventos é pautada na necessidade de viabilizar tudo o que for necessário para os negócios, ou seja, na máxima flexibili-zação, pelo Estado, de suas regras para o lucro. A FIFA, por exemplo, não paga im-postos, e os hotéis na Copa e na Olímpia-

das não vão pagar IPTU. Enquanto o Esta-do tem pouco, ou quase nada garantido, a FIFA não corre riscos- somente com a venda dos direitos de televisão, arrecada-rá R$3,6 bilhões, sem considerar o marke-ting que irá complementar o caixa.

A Copa do Mundo somente intensifica esse processo de “modernização do fute-bol”, transformando este esporte em uma grande mercadoria, desmerecendo todo seu valor como arte, cultura e patrimônio cultural. Há tempos sabemos que uma empresa de televisão manipula as tabelas e horários dos jogos (a mesma que é dona do pay-per-view); há tempos já ouvimos de um presidente do Atlético-PR que “o clube não precisa de torcedores, mas de apreciadores do espetáculo”.

Infelizmente, neste novo modelo de organização do futebol não há espaço para os torcedores que fazem existir a fes-ta desse esporte. Na última Copa do Mun-do, o ingresso mais barato, na abertura, custava US$ 70, uma realidade impossível para a maioria da população brasileira. De que vale uma Copa do mundo no Brasil se nós não poderemos assistir aos grandes jogos? Nosso Estado investe bilhões na Copa do Mundo, ao mesmo tempo em que corta outros bilhões da educação e expulsa milhares de trabalhadores de suas casas.

Só quando enxergamos por trás de todo o debate midiático acerca da Copa do Mundo e das Olimpíadas é que pode-mos observar, com atenção, que muitos brasileiros vão acabar perdendo suas ca-sas para a especulação imobiliária e que nem ao menos poderão assistir aos jogos. No final vão descobrir que esses eventos não foram feitos para que eles assistissem, e sim para classe mais rica e os estrangei-ros, sobraram apenas para eles a televisão.

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Cidade Para Tod@s: A reforma urbana é necessária!

O Brasil é hoje um país essencialmen-te urbano, com um alto índice de concen-tração fundiária e uma matriz produtiva baseada no latifúndio agroexportador, o que intensifica ainda mais o êxodo rural. As consequências do modelo capitalista de produção são sentidas pelas mais diversas categorias de trabalhadores: formais, infor-mais ou desempregados, moradores do centro ou da periferia.

O direito à cidade - compreendendo educação, cultura, saúde e lazer -, que de-veria ser garantido para todos os cidadãos, é cada vez mais concentrado em núcleos abastados e negado para a classe trabalha-dora, que é constantemente empurrada para a periferia da cidade, sistematicamen-

te abandonada pelos governos, que só se fazem presentes por sua face repressora.

Nesses últimos anos um volume enor-me de capital entra em nossas fronteiras e cresce a necessidade de controlar cada vez mais os pobres, mantê-los afastados e aterrorizados o suficiente para que não se revoltem contra sua condição. A distribui-ção geográfica de nossos serviços, casas e, porque não, vidas, deve ser discutida e decidida conosco, os habitantes da cida-de organizados ou não em associações de bairro, movimentos sociais e estudantis. É nesse contexto que nos levantamos para gritar que uma outra forma de gestão da cidade é possível e que queremos cons-truí-la coletivamente!

Direito Humano à ComunicaçãoAssumir a Comunicação como Direito

Humano é enxergá-la numa nova perspec-tiva, em que o individuo, além de possuir o direito a receber informação, tem também o direito de participar do processo comuni-cacional. Para que isso aconteça, os meios de comunicação, em especial o rádio, a TV e a internet, devem ser democratizados. O direito à comunicação transcende a liber-dade de expressão e o direito à informação, pois é o direito que todos nós temos de ter acesso aos meios de produção e veiculação da informação, tendo conhecimento técni-co e material necessário para possuir auto-nomia e independência em relação a eles.

No Brasil, a comunicação social é caso de família: Família Marinho (Globo), Abrava-nel (SBT), Saad (Band), Frias (Grupo Folha), Mesquita (Estadão), Civita (Grupo Abril/Veja), Macedo (Record), dentre outras fa-mílias e oligarquias regionais, tais como a família Sarney no Maranhão, a família Ma-

galhães na Bahia, etc. As concessões de rádios e TVs abertas

são públicas, pertencem à sociedade brasi-leira e não a um número restrito de pessoas representado por essas famílias influentes na política brasileira. O chamado espectro magnético é um bem público e finito que deve servir ao povo brasileiro. Nosso ar, por onde trafegam essas ondas eletromagnéti-cas, precisa de uma “reforma agrária”. E já!

Defendemos a regulamentação ime-diata do Capítulo V da Constituição Federal de 1988, que trata da Comunicação Social e que, através dos seus artigos, proíbe o monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação; dá preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais; e estimula a cultura nacional, regional e a produção independente.

Por uma Comunicação a serviço do povo brasileiro e não do capital estrangeiro!

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Direitos Humanos

O surgimento dos Direitos Humanos está ligado à trajetória histórica da socie-dade ocidental. Foram primeiramente concebidos como direitos de liberdade, de uma igualdade formal, alcançando apenas os indivíduos do sexo masculino advindos da burguesia. Já a acepção dos direitos humanos sociais, culturais, cole-tivos e econômicos tiveram sua origem no século XX e na tentativa de humani-zação do sistema capitalista.

Assim, esses direitos são questiona-dores da própria estrutura de organiza-ção da sociedade e visam à construção

de um Estado que garanta a dignidade humana a todas as pessoas. Eles foram consagrados em um momento de pres-são dos movimentos de esquerda e concedidos na tentativa de resposta às manifestações da classe trabalhadora, se revelando em medida de troca mínima necessária para sustentação do regime. Por este motivo, esses direitos foram re-metidos à esfera programática - ou seja, são as primeiras regras a serem descum-pridas, já que sua efetivação colocaria em risco o sistema de acumulação de capital. É evidente que, por serem regras limitadoras da atividade estatal, são fre-quentemente desrespeitadas, frente aos interesses dos Estados desenvolvidos e das grandes corporações.

Hoje, o Estado é cada vez menos atu-ante na garantia dos direitos básicos, e talvez o principal agente violador dos di-reitos humanos. As ocupações policiais, o choque de ordem e as remoções são ações recorrentes dos governos, na con-tramão da garantia dos direitos que, por regra, deveriam assegurar, colaborando com a construção de uma sociedade cada vez mais desigual e desumana.

A luta em defesa dos direitos huma-nos mostra-se, portanto, como possibi-lidade de luta cotidiana para superação do sistema capitalista e opressor. De-fender o respeito e a efetivação desses direitos deve ser sinônimo de lutar por uma sociedade diferente em que defen-deremos aqueles que, na prática, não têm sua existência garantida pelo Esta-do e pela sociedade - os historicamente excluídos.

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Assinam esta tese:São Paulo: Puc Campinas - Raquel Balbina Teixeira; Ana Veraldi Favacho; Rafael

Baptista “Chitão”.Rio de Janeiro: UFF - Lucas de Mello; Gabriel Barbosa; Igor Nogueira; Manuela

Martins; Rodrigo Vilhena; Julia Almeida; Kahena Rivero; Allan Sinclair; Marco Aurélio (Macaé). UFRJ - Gabriela Azevedo. UERJ - Rafael Rodrigo “Pará”; Mariana Busch; Marco Sá; Maísa Sampaio; Vítor Mandonça; Vinicius Alves, Gustavo “Leo Moura”; Rhaysa Sampaio; Diogo Flora; Lucas Mourão; André Matheus. Gama Filho - Paulo Henrique “PH”.

Sergipe: UFS - Laíze Gabriela Benevides “Ize”.Mato Grosso do Sul: UCDB - Rafael de Abreu. UFMS - Anna Brites;

Carolina Balsanelli; Rodrigo Araújo.