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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ MICHELE CRISTINA DE ANDRADE GEMIN UM DEFEITO DE COR: FICCIONZALIZAÇÃO DA HISTÓRIA, ESTRUTURA E RECURSOS NARRATIVOS CURITIBA 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

MICHELE CRISTINA DE ANDRADE GEMIN

UM DEFEITO DE COR: FICCIONZALIZAÇÃO DA HISTÓRIA, ESTRUTURA E RECURSOS NARRATIVOS

CURITIBA

2009

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MICHELE CRISTINA DE ANDRADE GEMIN

UM DEFEITO DE COR: FICCIONZALIZAÇÃO DA HISTÓRIA, ESTRUTURA E RECURSOS NARRATIVOS

Monografia apresentada como trabalho final

para obtenção dos créditos da disciplina

Orientação Monográfica II do Curso de

Letras – Português: Bacharelado em Estudos

Literários, da Universidade Federal do

Paraná.

Orientadora:

Profª. Drª. Marilene Weinhardt

CURITIBA

2009

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por todas as bênçãos alcançadas.

À minha família, em especial meu pai Almir e a amiga Lenir, pelo constante impulso em direção ao

conhecimento.

Ao meu marido, amigo, amor, Luiz Fernando, pela paciência, compreensão e seu eterno incentivo

para a conclusão deste trabalho.

À professora Marilene Weinhardt, pelo exemplo do que realmente significa a palavra Professor, e

também pelo auxílio através de constantes revisões – apesar de todas suas atividades – em meu

percurso monográfico.

Aos professores Sandra Stroparo e Cristóvão Tezza pela didática impecável ao longo do curso;

Paulo Venturelli, por positivamente contribuir para minha visão crítica e apreciação literária.

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RESUMO

Este trabalho tem como meta analisar o romance Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves,

observando o modo como se realiza a ficcionalização da história, como se estrutura o romance e

quais são os recursos narrativos empregados, tendo em vista identificar como esses fatores são

utilizados na caracterização da obra como romance histórico. Trata-se de romance extenso, em que

a narradora é uma mulher, negra, contando sua história, desde a infância na África até sua velhice,

já como uma ex-escrava, quando retornou ao seu país e tornou-se rica, mas tem um interesse

específico em vir ainda uma vez ao Brasil, interesse que dá oportunidade e razão à narração.

Palavras-chave: literatura; romance histórico, Ana Maria Gonçalves; Um defeito de cor

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ABSTRACT

The aim of this monograph is to analyse the novel Um defeito de cor, by Ana Maria Gonçalves,

observing how the fictionalization of the story is made, how the novel is structured and which

narrative resources are used, in order to identify how these factors are employed in the

caracterization of the work as a historical novel. This is a long novel in which the narrator is a black

woman telling us her story since her childhood in Africa up to her old age, already as an ex-slave,

when she went back to her country and became rich. But she has a specific interest in returning to

Brazil once more and this interest is the opportunity and the reason of being of the narration.

Keywords: literature and history; historical novel; Ana Maria Gonçalves; Um defeito de cor.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 7

2. O SUBGÊNERO ROMANCE............................................................................... 8

3. O ROMANCE HISTÓRICO................................................................................. 10

3.1 O ROMANCE HISTÓRICO CONTEMPORÂNEO............................................... 11

3.2 CARACTERÍSTICAS DO ROMANCE HISTÓRICO............................................ 12

4. UM DEFEITO DE COR........................................................................................ 15

4.1 UM ROMANCE HISTÓRICO................................................................................. 15

4.2 ESTRUTURA E RECURSOS NARRATIVOS....................................................... 17

5. CONCLUSÃO......................................................................................................... 22

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente, tendo como foco a produção literária nacional, podemos observar uma

proliferação das narrativas ficcionais – longas ou não – que buscam dialogar e reexaminar a

história. Neste panorama aparece Um defeito de cor (2006)¹ de Ana Maria Gonçalves.

Conforme Weinhardt, Lukàcs considera que o romance histórico tem suas origens datadas

do início do século XIX, com Walter Scott, coincidindo com a queda de Napoleão, sendo que uma

condição essencial para o romance histórico é a de que a especificidade histórica do tempo da ação

condicione o modo de ser e agir dos personagens. Ainda para Lukács, o romance histórico não

repete o relato de grandes acontecimentos, mas sim traz à tona os seres humanos que viveram esta

experiência e focaliza detalhes do cotidiano que pareceriam insignificantes vistos com outros olhos

(WEINHARDT, 1994. p. 50).

O romance Um defeito de cor conta a história de vida de uma mulher negra, capturada na

África ainda criança e trazida para o Brasil. Aqui, torna-se escrava em uma grande fazenda,

realizando serviços domésticos. Após muitos anos de trabalhos domésticos, passa a ser escrava de

ganho. Como escrava de ganho passa por muitas mudanças e por vários conflitos internos, até que

consegue sua alforria. Já livre, tem um filho com um branco, consegue empreender vários tipos de

comércio e faz parte de alguns movimentos revoltosos, participação que acaba resultando em sua

prisão. Após um tempo, vai para São Paulo. Lá, busca encontrar o filho que teve, e que foi vendido

pelo próprio pai. Como não o encontra, decide retornar para a África. Chegando lá, utilizando-se do

seu talento para o comércio consegue estabelecer um padrão de vida bastante elevado e tornar-se

figura importante da sociedade. Neste retorno, tem ainda mais dois filhos com um mulato inglês.

Por fim, já em idade avançada, resolve voltar ao Brasil, em busca daquele filho que foi vendido,

mas que ela nunca esqueceu. A razão da viagem é por fim, a mesma da narrativa.

Este trabalho pretende: a) inscrever o romance estudado na tradição do romance histórico; b)

apreender seu modo de estruturação; c) explorar os recursos narrativos empregados, dentre eles,

verificar como a verossimilhança é criada, desde o ponto de partida, que é o encontro de

manuscritos antigos, recurso este que é recorrente em narrativas que situam a ação no tempo

passado, sendo uma das formas possíveis da qual o autor pode se utilizar para dar ao texto maior

credibilidade.

A narrativa é feita em primeira pessoa, e o uso do discurso memoralista é decisivo na

construção da personagem narradora: Kehinde. Esta se esforça todo o tempo para manter a atenção

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daquele que está lendo sua história, e embora o enredo seja linear, por ser apresentado em forma de

retrospectiva apresenta antecipações que mantém o suspense, escolhendo com cuidado o que deve

ser revelado a cada momento.

Está também visível no romance a recusa da autora em colocar o foco da narrativa nas

grandes figuras, sendo a atenção voltada para aqueles com as quais a narradora teve convívio, ou

que de uma forma ou de outra influenciaram sua vida. Na época dos acontecimentos ficcionais

vários fatos importantes da história do Brasil ocorrem, mas estes fatos são apresentados como pano

de fundo, sendo o centro da narrativa a vida da personagem e como esta foi influenciada pelos

acontecimentos históricos.

2. O SUBGÊNERO ROMANCE

Considera-se que o romance nasceu no início do século XVIII, sendo o precursor deste

gênero a obra Dom Quixote de La Mancha de Miguel de Cervantes, uma paródia das novelas de

cavalaria. Cervantes, com esta obra, escreveu um dos grandes clássicos da literatura, e ajudou a

firmar as bases do gênero que viria substituir a epopéia, que desaparecia com a chegada da era

industrial.

O surgimento do romance está então, ligado ao surgimento da burguesia, juntamente com a

instauração do domínio da imprensa, momento em que a narração não tem mais a função de

informar e o narrador não tem mais a atribuição de ensinar experiências para serem apropriadas

pelos ouvintes Segundo Benjamin, “o local de nascimento do romance é o indivíduo na sua solidão,

que já não consegue exprimir-se exemplarmente” (BENJAMIN, 1969).

Anteriormente a este surgimento explicado por Benjamin, o romance não era considerado

como “boa leitura”, e durante muito tempo ficou restrito aos altos círculos sociais, ou seja, aqueles

que tinham condição para comprá-los. Ocorre que, durante o século XVIII, o romance tornou-se

mais popular, pois o público leitor, distanciado das publicações épicas pelo alto preço das

encadernações em que eram publicadas, foi cada vez mais se aproximando dos romances. Estes

eram mais baratos de se adquirir, eram publicados em fascículos e tinham uma maior circulação.

Ainda assim, o público leitor de romances não pertencia à camada mais representativa da

sociedade1 (WATT, 1990. p. 38-40).

1 Tom Jones (Henry Fielding 1707- 1754), publicada em seis volumes, por exemplo, custava mais do que um

trabalhador ganhava em média por semana.

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Segundo Vitor Manuel Aguiar e Silva, “o romance transformou-se nos últimos três séculos,

mas, sobretudo a partir do século XIX, na mais importante e mais complexa forma de expressão

literária dos tempos modernos” (1973, p. 671).

Ainda segundo Aguiar e Silva, o romance “aspira a ser observação, confissão, análise, que

se revela como pretensão de pintar o homem ou uma época da história, de descobrir, o mecanismo

das sociedades, e finalmente de pôr os problemas dos fins últimos” (1973, p. 678).

Para o autor:

O romance, como todo texto narrativo, constrói e comunica sempre informação sobre uma

ação, sobre um processo ou uma seqüência de eventos, que são produzidos e suportados por

personagens. Tal seqüência de eventos pode ser construída e transmitida ao leitor segundo

técnicas discursivas muito variáveis. (AGUIAR E SILVA, 1973. p. 711).

Os romances correspondem ao estudo da alma humana, e são composições literárias de

cunho narrativo onde figuram os personagens. Os personagens são compostos de uma

multiplicidade de traços, e surpreendem pelas suas reações aos acontecimentos, e a vida psicológica

destes personagens é extremamente densa e complexa. É através da riqueza e densidade destes

personagens que “o escritor ilumina o humano e revela a vida” (AGUIAR E SILVA, 1973).

Podemos afirmar ainda que “foi com Goethe que o gênero romance se firmou, adquirindo

condições de continuidade. E isso se deu através da sua obra Werther, escrita no período entre 1753

e 1754.” (RIBEIRO, 1976, p.22). A importância desta obra foi exaltada por muitos autores, sendo

que alguns colocaram Goethe como iniciador do romance na literatura mundial. Porém já haviam

algumas obras publicadas, na própria Europa e também na Alemanha mesmo, com as mesmas

características que definem o gênero, na sua maioria obras surgidas antes de Werther e outros

contemporâneos de Göethe, tais como Life and Suprizing Adventures of Robinson Crusöe (Defoe,

1719) e Vigário de Wakefield (Olivier Goldshmith, 1776), entre outros.

Devemos levar em conta, porém, que houve grandes modificações na estrutura e concepção

do romance. Modificações estas que fizeram surgir novas formas de narrativa que podem ser

enquadradas dentro do subgênero romance, que possuem como base o gênero romanesco, mas

contam com algumas características próprias e que as diferenciam. É o caso do romance histórico.

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3. O ROMANCE HISTÓRICO

Esse tipo de narrativa teria surgido, segundo Lukács, na Europa no século XIX, onde

transformações políticas como a Revolução Francesa e a ascensão e queda de Napoleão permitiram

o surgimento desse gênero. Ainda segundo Lukács, Walter Scott teria sido o “fundador” desse tipo

de romance (LUKÁCS, 1969). Na sua esteira, Vera Follain de Figueiredo explica:

O romance histórico surge no século passado, numa atmosfera em que uma série de

transformações sociais, políticas e econômicas, ocorridas na Europa, fazem com que o homem comum, as massas populares se sintam num processo ininterrupto de mudanças

com conseqüências diretas sobre a vida de cada indivíduo. [...] Na França, como nos mostra

George Lukács, é somente a partir da revolução burguesa e da dominação napoleônica que

o sentimento nacional torna-se propriedade das massas. (FIGUEIREDO, 1997, p. 1)

Durante esse período, o romance passa a ser um meio de valorização e de descoberta

da cultura e da identidade nacionais. Surge assim, o que chamamos de romance histórico

tradicional, que é aquele que leva ao mundo ficcional o pensamento e a expressão históricos de uma

época.

As grandes transformações que marcaram os povos europeus entre 1789 e 1814 reforçou-

lhes a consciência histórica. A guerra, não mais restrita aos militares, atingindo os cidadãos,

produz um alargamento de horizonte e a difusão do sentimento de nacionalidade entre a

massa. (WEINHARDT, 1994, p.51)

Trata-se de um momento no qual tanto os defensores da restauração quanto os que

procuram manter vivos os ideais da revolução burguesa revelam uma consciência histórica

crescente e buscam fazer grandes interpretações do passado, seja para idealizar a Idade

Média, em contraponto com as contradições e conflitos do período revolucionário, seja para

dar ênfase ao progresso humano, ressaltando como passo decisivo a revolução francesa. (FIGUEIREDO, 1997, p. 1)

Portanto, o romance histórico surge, no século XIX, numa tentativa de usar a

História nos textos literários para auxiliar na construção de uma identidade nacional em um

momento em que se formavam os Estados modernos e a idéia de nação estava ligada a questões de

poder político e econômico (MELLO, 2008).

Este tipo de narrativa teve então o poder de tornar o passado presente e de contribuir

para a manutenção da memória histórica, coletiva e social, sendo um meio de valorização e de

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descoberta da cultura e da identidade nacionais, levando ao mundo ficcional o pensamento e a

expressão históricos de uma época.

3.1 O ROMANCE HISTÓRICO CONTEMPORÂNEO

No Brasil, o romance histórico aparece durante o Romantismo, ainda no século XIX, quando

o escritor “vibra com a pátria e se irmana com a humanidade” (CANDIDO, 1976, p. 204). Segundo

MELLO, nesta época existe uma preocupação entre os escritores brasileiros, que é a de reconstruir a

História nacional, fazendo com que estes escritores produzam romances históricos. O romance

brasileiro do século XIX buscava, através do ficcional, criar uma nacionalidade, que no caso do

Brasil coincidiu com o momento da nossa independência (MELLO, 2008, p.127).

(...) o Romantismo, tendo chegado até nós na época da nossa emancipação política, deu-nos

coisas boas: com ele surgiu o sentido nacional e independente da nossa literatura – o romance – e conseqüentemente o „romance histórico‟. (RIBEIRO, 1976, p. 2)

Neste período, podemos considerar que foi José de Alencar o romancista que melhor

exprimiu em seus livros o caráter nacional. Foi ele também o primeiro escritor de romances

históricos no Brasil, sendo que o primeiro livro seu a receber tal classificação foi As Minas de

Prata, que “constituem o primeiro romance verdadeiramente histórico da nossa literatura, não pela

ordem cronológica da publicação (...) mas pela importância e vulto da obra” (RIBEIRO, 1976, p.

65).

Nas décadas posteriores a busca em romper com o passado e as tendências

colonizadoras, leva os romances, principalmente os de Mário de Andrade e as publicações de

Oswald de Andrade, a uma postura negativa quanto ao passado do país, opondo-se, portanto, à base

dos romances históricos tradicionais. (FIGUEIREDO, 1997)

O romance histórico no Brasil tem seu auge no fim da ditadura militar, quando os escritores

buscam retomar a cultura nacional.

Neste período, o gênero romance histórico

[...] empreende uma espécie de hábil retomada da busca da expressão nacional, por meio

de uma volta às vezes crítica e às vezes nostálgica ao passado. Provavelmente isso corresponde a uma vontade de reescrever a história do país, até então sob censura: a

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questão nacional, tônica da década de 1960, impõe-se de novo como um tema importante.

(PELLEGRINI, 1999)

Nesta época surgem obras como Viva o povo brasileiro (1984), de João Ubaldo Ribeiro e

Agosto (1990) de Rubem Fonseca, entre outros. Esses novos romances históricos buscam incluir

“alusões intertextuais para que o leitor mais esperto possa se satisfazer com a visão semiotizada da

história”. (FIGUEIREDO, 1997, p.6)

Sobre as alterações que sofreu o romance histórico durante estas mudanças de pensamento e

comportamento dos escritores MELLO observa que:

[...] o romance histórico do final do século XIX tenta retratar o momento presente. Já no

século XX, quando a História perde seu papel de consolidadora de valores nacionais, o

escritor passa a repensar o mundo no qual vive e os escritores do Modernismo criam outras

realidades, uma vez que o discurso histórico mudou. (MELLO, 2008, p.132)

Enfim, podemos perceber que o romance histórico passou de um momento em que buscava

somente fixar uma nova identidade nacional para um momento em que

[...] interpreta o fato histórico, lançando mão de uma série de artimanhas ficcionais, que vão

desde a ambigüidade até a presença do fantástico, inventando situações, deformando fatos,

fazendo conviver personagens reais e fictícios, subvertendo as categorias de tempo e

espaço, usando meias-tintas, subtextos e intertextos – recursos da ficção e não da história –

trabalhando, enfim, não no nível do que foi, mas no daquilo que poderia ter sido.

(PELLEGRINI, 1999, p.116)

E finalmente

Esses novos romances históricos portanto, buscam incluir os leitores em histórias cheias de

passado, mas sem preocupação direta com a “verdadeira” História nacional. Eles podem

recriar, reinventar personagens na busca de melhor representar suas idéias. Não há mais a

necessidade de se criar ou identificar o patriotismo ou a nacionalidade como nos romances

históricos do século XIX, e por isso, cabe ao autor adentrar na História e tirar dela o que de

melhor houver para a representação ficcional, sem compromisso com a História real.

(MELLO, 2008, p.133)

Em uma análise dos pontos em comum das obras já referidas, podemos identificar alguns

parâmetros que definiriam um romance na categoria de histórico. A história é, nestas obras, um

pano de fundo, e serve como diretriz para as ações ficcionais. Para os escritores, não existe a

preocupação de resgatar a História como de fato aconteceu, isso fica por conta dos historiadores; o

romance histórico é um subgênero literário que recorre à História para montar o plano de ação de

suas personagens, conservando o máximo de realidade admitida ao mundo ficcional.

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3.2 CARACTERÍSTICAS DO ROMANCE HISTÓRICO

É importante observar quais são as características que fazem com que um romance seja

considerado como sendo um romance histórico. Neste sentido, é igualmente importante observar

que os estudos históricos mudaram muito do século XIX para cá. As concepções de história

variaram muito, sendo que em cada época é possível perceber um modo diferente de entender a

história (WEINHARDT, 2006. p. 135).

Ainda conforme Weinhardt

Qualquer obra literária pode ser analisada levando em consideração suas relações com a

história, ou melhor, vários aspectos da história, inclusive com a história literária. Mas esse

procedimento analítico não a qualifica como ficção histórica. Reservamos tal denominação

para o texto ficcional em que a historicidade é determinante para o enredo, ou seja, a obra

em que a inscrição dos fatos narrados em um determinado tempo passado é decisiva para

que eles tenham ocorrido como tal e, de modo explícito ou não, o texto dialoga com o

discurso histórico, ou melhor, com discursos históricos (WEINAHRDT, 2006. p. 136-37).

A partir da análise desta afirmação podemos então entender quem nem toda literatura que

trata de fatos passados pode ser considerada histórica, e por conseqüência, romances que

ficcionalizam uma mesma época podem ou não ser considerados históricos.

Nos romances que não são considerados históricos, os acontecimentos são inscritos em um

tempo histórico, mas a narrativa está focada apenas na personagem, e suas decisões não são

determinadas pela época vivida, que não a atinge de modo significativo. Algumas publicações

situam a ação no tempo passado, como o Princese de Cléves de Madame La Fayette, que encerra o

século XII, porém, não têm a intenção de recriar de forma verossímil o ambiente evocado, e as

atitudes e formas de agir dos personagens não são condicionados pelo tempo em que se localizam.

O conteúdo de um romance histórico é o passado histórico, diferentemente da epopéia, cujo

conteúdo está encerrado no passado da época e não está sujeita a atualizações. No romance, o

passado histórico ainda está vivo, e pode estar ainda sujeito a revisões. Conforme afirma Weinhardt

(1994, p.50) “o epos já não tem lugar no presente, é um gênero fechado e encerrado como o mundo

que representou, enquanto o romance é o único a se encontrar em processo de construção, capaz de

dar conta da multiplicidade do presente justamente por seu caráter acanônico”. Ainda conforme

Weinhardt “a ficção histórica recusa-se a exercer o papel que cabia a epopéia. Os excessos de

dramaticidade parecem extirpados em favor da leveza” (WEINHARDT, 2006, p.169). A história

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oferece ao romancista o assunto, uma espécie de pano de fundo sobre o qual este pode discorrer,

porém a história não lhe impõe cerceamentos.

No que diz respeito à ligação do romance histórico com o fato ou época histórica a que o

romancista se atém, Ribeiro afirma que “quando o romancista toma por fundo de sua obra um fato

já consignado na história de todos sabido [...] nem por isso o romancista está obrigado a dá-lo pela

mesma conta, peso e medida, missão esta que só ao historiador compete” (1976, p. 70).

Se o romancista histórico não está totalmente preso à história, mas também não pode ignorá-

la por completo, quais são então, as características de um romance histórico? O que devemos

observar em uma obra para sermos capaz de defini-la como romance histórico? Lukács, em sua

obra The historic novel afirma que a condição fundamental para o romance histórico é a

especificidade histórica do tempo da ação. Esta deve condicionar o modo de ser e agir das

personagens. O romance histórico focaliza detalhes do cotidiano que parecem insignificantes, e o

seu mundo é o da esfera popular, figurando a grandeza humana na história passada, e resulta da

compreensão do relacionamento entre o passado histórico e o presente.

Conforme Weinhardt

Ao romance histórico não interessa repetir os relatos dos grandes acontecimentos, mas

ressuscitar poeticamente os seres humanos que viveram essa experiência. Ele deve fazer

com que o leitor apreenda as razões sociais e humanas que fizeram com que os homens

daquele tempo e daquele espaço pensassem, sentissem e agissem da forma como o fizeram (WEINHARDT, 1994. p. 51).

Segundo Umberto Eco “o que os personagens fazem serve para fazer compreender melhor a

história, aquilo que aconteceu” e ainda deve “não apenas identificar no passado as causas do que

aconteceu depois, mas também desenhar o processo pelo qual essas causas foram lentamente

produzindo seus efeitos” (ECO, 1985, p. 62-65)

Os autores de romances históricos utilizam ainda de recursos literários para fazer com que a

sua obra seja dotada de veracidade. A abertura da obra indicando fonte e percurso de originais

antigos faz com que ao iniciar a leitura o leitor já aceite a narrativa no plano ficcional. Temos ainda

o deslocamento da narrativa para um passado distante, a técnica do convencimento, o diálogo com a

instância histórica, a ficcionalização da história literária e uma ambientação social segura

(WEINHARDT, 2006).

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O autor busca a verossimilhança, sem fugir da verdade histórica, suprindo ele mesmo

eventuais faltas documentais. Seu objeto são os fatos históricos reais, sendo que a ficção dá nova

veste a estes fatos (RIBEIRO, 1976).

Outro recurso utilizado é o do suspense: manter a expectativa dos próximos acontecimentos

em direção à descoberta criando uma atmosfera de suspense em torno do desfecho da história. O

que ajuda a manter o interesse na narrativa é saber de que maneira se darão os acontecimentos.

4. UM DEFEITO DE COR

4.1 UM ROMANCE HISTÓRICO

A autora do romance a ser analisado é Ana Maria Gonçalves, nascida em Ibiá, Minas Gerais,

em 1970. Foi publicitária e abandonou a carreira para se dedicar à literatura. Publicou o romance Ao

lado e à margem do que sentes por mim, que lançou independente em 2002. Em 2006 lança Um

defeito de cor, onde narra a história de Kehinde, desde sua infância no reino de Daomé, na África,

onde nasceu, passando pela travessia no navio negreiro rumo à Bahia, cidade na qual viveu a maior

parte da vida, todas as aventuras pelas quais a protagonista passa, até que em seu retorno ao Brasil,

faz sua narrativa, esperando que aquele a quem se destina possa chegar a lê-la. Kehinde inicia sua

história:

Eu nasci em Savalu, reino de Daomé, África, no ano de um mil oitocentos e dez. Portanto,

tinha seis anos, quase sete, quando esta história começou. O que aconteceu antes disso não

tem importância, pois a vida corria paralela ao destino. O meu nome é Kehinde porque sou

uma ibêji, (Ibêji: Assim são chamados os gêmeos entre os povos iorubás), e nasci por último.

Minha irmã nasceu primeiro e por isso se chamava Taiwo. Antes tinha nascido o meu irmão

Kokumo, e o nome dele significava "não morrerás mais, os deuses te segurarão". (p.19)

Veremos daqui para frente, quais as características que fazem com que esta obra, um

romance de mais de 900 páginas e narrado por uma mulher negra, pode ser enquadrado na

modalidade que chamamos de romance histórico.

Já se observou que, em um romance histórico a especificidade histórica do tempo da ação

deve condicionar o modo de ser e agir das personagens, focalizando detalhes do cotidiano que

parecem insignificantes. Como já citado, nos romances que não são considerados históricos, os

acontecimentos são inscritos em um tempo histórico, mas a narrativa está focada apenas na

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personagem, e suas decisões não são determinadas pela época vivida, que não a atinge de modo

significativo.

No caso de Um defeito de cor, toda a narrativa está localizada no tempo passado, e a

característica que Lúkacs coloca como sendo essencial para a realização do romance histórico está

sempre presente. A especificidade histórica é condicionante para o modo de ser e agir dos

personagens, que tem suas ações definidas pela época em que vivem. Kehinde tem sua vida traçada

pela escravidão, e apesar de sua habilidade para os negócios e sua enorme vontade de aprender e

interagir com os outros, seus passos não deixam de ser verossímeis, e os acontecimentos e decisões

que toma não fogem do contexto da escravidão.

Ela não é uma heroína daquelas que estão nas epopéias, não é um grande personagem da

história do Brasil e não realizou grandes feitos do ponto de vista histórico. Ela é o retrato da

narrativa do romance histórico atual, que conforme WEINHARDT, não focaliza as grandes figuras

nem grandes feitos, nem repete o relato de grandes acontecimentos, mas sim traz à tona os seres

humanos que viveram esta experiência e focaliza detalhes do cotidiano que pareceriam

insignificantes vistos com outros olhos (1994).

Mas são coisas que não nos interessam, isso dos reis já está por aí nos livros dos brancos,

como os que a sua irmã estudou em França. Interessa-nos a história do Maneta, do padre

Bartolomeu, do Baltasar e da Blimunda, que o Kuanza disse que o pai dele confirmou que

só se tornaria de conhecimento de todo o mundo muitos anos depois de ter terminado,

quando os homens não mais corressem o risco de serem mortos por contá-la. (p.622)

No romance em estudo, podemos perceber que embora os fatos aconteçam durante um

período importante da história nacional, onde se dão acontecimentos históricos como a revolta dos

malês e os acordos que visavam extinguir a escravidão no país. Estes fatos, no entanto, estão em

segundo plano na narrativa, e não são o foco principal da narradora, por exemplo, quando refere-se

à independência do país, esta aparece entre informações sobre um projeto de casamento:

Era agosto de um mil oitocentos e vinte e dois, e eu já estava me acostumando com a idéia

de me casar aos doze anos. [...] Logo depois do acerto do casamento, a sinhazinha Maria

Clara [interna em colégio de Salvador] foi passar alguns dias na ilha [de Itaparica, onde se

localiza a fazenda] por causa da confusão que reinava na capital, com os tumultos

provocados pelas manifestações em torno da independência do Brasil. Sempre havia

confrontos entre os que eram a favor de um país livre e os que defendiam Portugal, e

principalmente entre brasileiros e portugueses. (p. 160)

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Atesta-se assim outra característica atribuída ao romance histórico, onde o autor pode recriar

e reinventar personagens na busca de melhor representar suas idéias. Não há mais a necessidade de

se criar ou identificar o patriotismo ou a nacionalidade como nos romances históricos do século

XIX, cabendo ao autor adentrar na História e tirar dela o que de melhor houver para a representação

ficcional, sem compromisso com a história oficial. O romance histórico por sua vez “permite ao

leitor interpretar a realidade ficcional, já que não traz necessariamente a versão oficial da História,

permitindo ao leitor uma nova visão dessa” (MELLO, 2008. p. 132).

Devemos observar, no entanto, que apesar de os fatos históricos estarem restritos ao pano de

fundo da narrativa, tal restrição não significa falta de repercussão ou ainda efeitos secundários na

trama, as rebeliões em que Kehinde se vê envolvida e a atitude do marido em vender o filho para o

pagamento de dívidas são exemplos disto:

Desculpe eu me alongar tanto nestas rebeliões, mas não podia deixar de falar sobre um

assunto que ocupou as nossas conversas no sítio durante quase um ano e meio, e que

também foram fundamentais para uma decisão do seu pai que afetou nossas vidas para

sempre (p. 429)

4.2 ESTRUTURA E RECURSOS NARRATIVOS

O livro é dividido em dez partes, e cada parte é divida em capítulos num total de 329. A

narrativa se inicia com um prólogo, onde a autora explica o significado da palavra Serendipidade, e

descreve uma cadeia de acontecimentos que, segundo ela, fazem com que a obra passa ser

considerada como sendo fruto da serendipidade.

Serendipidade então passou a ser usada para descrever aquela situação em que descobrimos

ou encontramos alguma coisa enquanto estávamos procurando outra, mas para a qual já

tínhamos que estar, digamos, preparados. Ou seja, precisamos ter pelo menos um pouco de

conhecimento sobre o que "descobrimos" para que o feliz momento de serendipidade não

passe por nós sem que sequer o notemos. (p.09)

Como mencionado no parágrafo anterior, podemos verificar que existe na obra analisada a

presença de um “Prólogo”. Temos também a presença de uma bibliografia e algumas notas

explicativas durante a narrativa. O prólogo é assinado por Ana Maria Gonçalves, e antes da

bibliografia propriamente dita temos um comentário sem identificação de quem o tenha feito que

diz: “Esta é uma obra que mistura ficção e realidade. Para informações mais exatas e completas

sobre os temas abordados, sugiro as seguintes leituras:” (p.949). A presença destes itens em um

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romance histórico não deve ser desconsiderada. Para os leitores, deve ser entendida como parte do

todo da obra, informações adicionais para o entendimento do contexto geral da narrativa.

No entanto, neste trabalho, daremos atenção especial ao prólogo. Nele a autora descreve a

sua primeira idéia de escrever sobre os malês, suas pesquisas sobre o tema, e sua mudança para a

Bahia. Chegando lá, ela aponta como se instalou, a descoberta do lugar, e ainda um episódio que a

fez mudar de residência, indo morar num flat em Salvador. Neste meio tempo ela havia conhecido

duas pessoas em uma igreja, que foram importantes para o desenrolar da história.

Ao reencontrar estas duas pessoas, na verdade três, Vanessa, Dona Clara e Gérson, se dá o

episódio em que é descrito o encontro de alguns papéis, que chamaram a atenção da autora por

conter palavras e descrições de lugares e acontecimentos ligados a história dos malês. O que havia

sido encontrado eram, na verdade, manuscritos já amarelados que contavam uma história, em um

português bastante antigo, escrita sem pontuação, quebra de linhas ou parágrafos.

Virando um dos papéis, amarelado pelo tempo e que deixava vazar a escrita em caneta-

tinteiro para o lado dos desenhos, percebi que parecia um documento escrito em português

antigo, as letras miúdas e muito bem desenhadas, uma escrita contínua, quase sem fôlego

ou pontuação. A leitura daquela folha já estava bastante prejudicada, não só pela

interferência do desenho do menino no lado oposto, mas também porque este parecia ter

sido feito sobre uma superfície porosa, que bem podia ser o chão de cimento cru da sala,

com os traços bastante calcados, fazendo com que a folha se rasgasse em alguns pontos.

(p.15)

Aqui podemos perceber o uso do recurso literário bastante utilizado pelos autores de

romances históricos, quando já no início da obra aparece a indicação de uma fonte e percurso de

originais antigos como base para a narrativa da história. Isto é feito com a intenção de dar

veracidade a narrativa e faz com que o leitor inicie a leitura já a aceitando no plano ficcional.

A autora informa ainda que durante a leitura e transcrição dos manuscritos, havia trechos

ilegíveis ou haviam desaparecido folhas do original, demonstrando quais tinham sido suas escolhas

ao deixar esta ou aquela expressão na versão final da obra.

Nunca é demais lembrar que tinham desaparecido ou estavam ilegíveis várias folhas do

original, e que nem sempre me foi possível entender tudo que estava escrito. Optei por deixar algumas palavras ou expressões em iorubá, língua que acabou sendo falada por

muitos escravos, mesmo não sendo a língua nativa deles. (p.17)

Temos ainda outro recurso literário, utilizado para buscar dar maior verossimilhança à obra,

onde a autora procura ela mesma suprir a falta de uma divisão coerente na narrativa original,

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dividindo-a então em partes menores, e estas partes em capítulos, para trazer ao leitor um maior

entendimento da narrativa.

O texto original também é bastante corrido, escrito por quem desejava acompanhar a

velocidade do pensamento, sem pontuação e quebra de linhas ou parágrafos. Para facilitar a

leitura, tomei a liberdade de pontuá-lo, dividi-lo em capítulos e, dentro de cada capítulo, em

assuntos. (p.17))

Além disso, a narrativa apresenta detalhes do cotidiano daqueles que, como a protagonista e

junto com ela, viveram a experiência da escravidão. Detalhes que pareceriam insignificantes vistos

com outros olhos são minuciosamente descritos, como por exemplo, a descrição da travessia no

navio negreiro, descrita de forma que o leitor tenha uma noção bastante próxima de como os negros

eram capturados na África, e em quais condições eram trazidos até aqui.

O navio tinha dois porões, e o de baixo, onde fomos colocadas, era um pouco menor que o

de cima, pelo qual passamos sem parar. Também não tinha qualquer entrada de luz ou de

ar, a não ser a portinhola por onde descemos e que foi fechada logo em seguida à ordem

para que escolhêssemos um canto e ficássemos todas juntas, pois logo trariam os outros.

Apesar dos breves instantes de claridade que tivemos, pude perceber que o local era pequeno para todos os que estavam no barracão, em terra. (p.45)

[...] Algumas pessoas se queixavam de falta de ar e do calor, mas o que realmente

incomodava era o cheiro de urina e de fezes. A Tanisha descobriu que se nos deitássemos de bruços e empurrássemos o corpo um pouco para a frente, poderíamos respirar o cheiro

da madeira do casco do tumbeiro. Era um cheiro de madeira velha impregnada de muitos

outros cheiros, mas, mesmo assim, muito melhor, talvez porque do lado de fora ela estava

em contato com o mar. (p.48)

As ações são narradas oralmente por Kehinde para uma acompanhante, para que esta a

registre por escrito, como quem conta suas memórias, sem grandes saltos no tempo e com

interrupções providenciais para algumas descrições detalhadas dos ambientes e de questões

políticas, culturais, sociais e religiosas. Sendo a narradora da sua própria história, usando o discurso

memoralista, tira dela a responsabilidade por impressões ou omissões históricas: “Não tenho

nenhum motivo especial para falar disso, a não ser a vontade de relembrar toda a minha vida, de pôr

a memória à prova, de saber sobre quem e sobre o que ainda me lembro” (p.872)

Algo que faz com que seu discurso não seja levado para o lado do inverossímil é

percebermos que o ponto de partida na narrativa é ela mesma. A verossimilhança vem do fato de

que ela trata dos assuntos que lhe são conhecidos: escravidão, as revoltas das quais participou, a

relação com um branco. Quando fala das rebeliões por exemplo, fala do seu lado da história, como

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rebelde, presa sem direito a julgamento. O lado político não é enfocado, pois a política, embora seja

do seu conhecimento, não é o seu mundo.

Quando retorna a África e torna-se uma bem sucedida comerciante, Kehinde trata com muita

propriedade dos temas que estão relacionados ao comércio, a compra e venda de matérias,

contratação de funcionários e as melhores formas de construir os solares. Se ela trata-se destes

temas anteriormente ao conhecimento que agora possui, teria sido inverossímil. Mas agora que os

papéis se inverteram e ela tornou-se a “sinhá Luisa”, tratar de tais assuntos é parte da sua vida e de

sua nova realidade.

Kehinde, antes de tudo, deve ser entendida como narradora, com pressa de terminar as

memórias endereçadas ao filho que dela foi tirado. Sua narrativa tem o foco nas experiências que já

viveu, e ela resgata este passado com um objetivo definido, desenvolvendo através deste tipo de

discurso uma linguagem simples, mas eficiente. O contexto em que ocorre a narrativa é o de um

mundo que enfrenta rebeliões, e conquista muitas liberdades. Estas liberdades, muitas vezes são

liberdades falsas, mas temos as liberdades verdadeiras também, individuais como a de Kehinde que

a conquista aprendendo a ler, escrever e falar inglês.

Vimos até agora, as formas pelas quais a narrativa se realiza, observando os recursos

narrativos dos quais a autora se utiliza para realizar a história de Kehinde, e quais as marcas que

podemos perceber para encaixar este romance no rol dos romances históricos. Iremos agora analisar

quais são os motivos de Kehinde para que empreenda esta narrativa.

Conforme conta a sua história, Kehinde introduz alguns comentários sobre o ato de narrar.

Disto, podemos perceber que sua narrativa não é um exercício de memória por si mesmo, nem que

se trata de uma narrativa com o objetivo de ser exemplar. O que faz é direcionado por um objetivo

específico, com uma proposta definida a ser seguida e que espera alcançar um resultado em

particular. Prova disto é que, quando a voz narradora se propõe a apresentar alguns eventos, faz

uma digressão ou se refere à personagens, não só avisa, mas também justifica o porque de seu ato:

“Desculpe eu me alongar tanto nestas rebeliões, mas não podia deixar de falar sobre um assunto que

ocupou as nossas conversas no sítio durante quase um ano e meio [...]”, (p.429).

Na busca pelo filho, Kehinde vai para o Rio de Janeiro, depois para Santos, São Paulo e

Campinas. Através destas viagens, conhece pessoas e lugares diferentes, enriquecendo suas

experiências, fazendo com que características próprias da sua personalidade sejam desenvolvidas,

como por exemplo, a sua facilidade em lidar com vários tipos de negócios diferentes. Quando as

pistas sobre o paradeiro do filho se esgotam, ela toma a decisão de voltar para seu país, a África.

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Então, transformando em mercadoria os últimos recursos financeiros que ainda possuía, ela dá

início a viagem de volta. Após estabelecer-se novamente na África, e com a ajuda do marido e de

profissionais que manda buscar no Brasil, obtém ótimos resultados financeiros construindo solares à

maneira brasileira.

No Brasil ela havia arrumado uma forma de se esquivar do batismo que a Igreja Católica

impunha, recusando-se a assumir o que era chamado de “um nome cristão”. Mas agora, outra vez na

África, assume este nome cristão do qual havia escapado, aproveitando-se dos benefícios que isto

poderia lhe trazer. Faz isso também com os nomes dos filhos que tem na África. Kehinde nos conta:

“fiquei sendo Luísa Andrade da Silva, a dona Luísa, como passaram a me chamar em África [...].

Alguns também me chamavam de sinhá Luísa, a maioria dos retornados [...].” (p. 789). Enquanto

seus filhos que nasceram no Brasil foram chamados Banjokô e Omotunde, os nascidos na África

serão chamados Maria Clara e João.

Então se Kehinde já saiu do Brasil e retornou para a África, prospera financeiramente, tem

filhos e finalmente se estabelece, qual seria o motivo da narrativa e quem seria este para o qual ela

aponta diversas vezes? O relato é dirigido a alguém, “você”, que aparece pela primeira vez pouco

antes da metade do romance : “Então, como já deve ter percebido de quem estamos falando, a você

foi dado o nome de Omotunde Adeleke Danbiran [...]” (p. 403-404), e ainda: “O que terá

acontecido a você durante todos esses anos? Por mais que o destino tenha sido bom comigo, tenha

me dado mais filhos que sempre me orgulharam, nunca te esqueci.” (p. 406).

Bem mais adiante, e só depois que ela narra o episódio do desaparecimento do filho, é que

temos pela primeira vez uma indicação do local em que ela se encontra no momento em que faz sua

narrativa: “Já estamos parados há dois dias, pois não há vento, e por enquanto está sendo bom para

mim, pois tenho certeza que não chegarei viva. Portanto, esses dias de paradeira são como presente

que vou aproveitando para terminar o relato.” (p. 663). Sobre esta viagem, já que vimos que agora

está na África, e embora ela continue a manter o suspense, podemos concluir que pode se tratar de

uma viagem de volta ao Brasil.

No desfecho do livro, temos uma informação importante: o motivo da volta é com certeza a

tentativa de finalmente reencontrar seu filho, porém não sabíamos até agora o porquê deste retorno

ter demorado tanto tempo. Mais uma vez, temos um fato que aconteceu por acaso: o encontro de

algumas cartas encontradas duas décadas depois de escritas, informando com um atraso muito

grande o real paradeiro do filho. Por fim, temos também as condições exatas nas quais se dá o

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relato. Aqui temos também mais uma das motivações do relato de Kehinde, que ela chama de “meu

pedido de desculpas.” (p. 945)

Agora sabemos que o destinatário da narrativa de Kehinde é o filho que foi vendido como

escravo pelo próprio pai, e que é sobre o seu paradeiro que tratavam as cartas lidas com tanto atraso.

Embora ela tenha consciência do seu estado de saúde e das complicações que uma viagem tão longa

poderia trazer para alguém com a idade avançada em que se encontra, ela decide retornar ao Brasil

para encontrá-lo, para tentar mostrar a ele que todas as suas atitudes resultaram de uma escolha que

precisou sem feita, e que apesar do tempo e da distância ela nunca o havia esquecido.

Aparece então, a certa altura do relato, na voz autoral, a possibilidade de que esta história

que está sendo contada “não ser a história de uma anônima”, ou ainda “uma lenda inventada por um

filho que tinha lembranças da mãe apenas até os sete anos [...] filho [...] que nasceu livre, foi

vendido ilegalmente como escravo, e mais tarde se tornou um dos principais poetas românticos

brasileiros [...]” (p. 16).

Quem será este a quem Kehinde, agora Dona Luísa, escreve? Temos mais algumas pistas

durante a narrativa. Por exemplo: na época da escravidão era comum registrar os escravos com o

nome da família dos donos, e neste caso o nome era José Carlos de Almeida Carvalho Gama. Em

um momento mais adiante, Kehinde, conta que não sabe o nome ao filho na certidão de batismo, e

lembra que “seu pai queria dar a você o nome do avô, Luiz [...]” (p. 674). Outro indício é a

insistência da narradora de omitir do filho o nome do pai: “Vou chamá-lo de Alberto [...]” (p. 322)

Luiz Gama é um nome que consta na bibliografia do próprio romance em esutdo. Se

dedicarmos um tempo à pesquisa, iremos perceber que existem alguns pontos que coincidem:

nomes da mãe, data de nascimento etc. Existem ainda outro ponto em comum: criança nascida livre

e vendida como escravo pelo pai, um português de quem não se sabe o nome, escritor e vida política

que se passa em São Paulo.

Para finalmente confirmar a identidade do destinatário da narrativa, que por conclusão

podemos perceber que seja Luiz Gama, temos no relato uma profecia de um pai-de-santo, onde o

filho, por ser um abiku2 teria feito um pacto: “você tinha tratado de voltar ao Orum quando não

comesse mais açúcar.” (p. 405).

Sabemos que Kehinde, já em idade avançada e morando na África se encontra com sua

saúde bastante debilitada. Na narrativa, em nenhum momento aparece nomeada a doença da qual

ela sofre, porém podemos identificar alguns sintomas que são os da diabetes. Dentre estes sintomas,

2 “[...] espíritos amigos há mais tempo do que qualquer um de nós pode contar e que, antes de nascer, combinam entre si

que logo voltarão a morrer para se encontrarem novamente no mundo dos espíritos.” (p. 19)

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destaca-se especialmente a cegueira. Segundo as bibliografias disponíveis, veremos que Luís Gama

morreu de diabetes, que é uma doença hereditária, em São Paulo, a 24 de agosto de 1882.

Com estes dados temos ainda uma última conclusão a alcançar: a data do fim da escrita da

narrativa é 20 de setembro de 1899 (p.911). Existe então o lapso de tempo de sete anos entre o

falecimento de Luis Gama e o fim da escrita de sua narrativa. Kehinde não voltará a ver ser filho, e

nós leitores ficamos inclinados a desejar que ela realmente não chegue vive a seu destino, para não

precisar passar por mais esta decepção.

Será que isso explica nossos desencontros? Será que você acredita em tudo que acabei de contar? Espero que sim, e fico até pensando se não foi mesmo o melhor para você. Quanto

a mim, já me sinto feliz por ter conseguido chegar até onde queria. E talvez, num último

gesto de misericórdia, qualquer um desses deuses dos homens me permita subir ao convés

para respirar os ares do Brasil e te abençoar pela última vez. (p. 947)

5 CONCLUSÃO

Vimos, no início deste trabalho quais são as bases do subgênero romance, e que seu

surgimento está ligado à afirmação da burguesia e também ao evento do domínio da imprensa. A

narrativa romanesca não tem mais a função de informar e o narrador não tem mais a atribuição de

ensinar experiências para serem apropriadas pelos ouvinte.

Do subgênero romance surge ainda outra forma de narrativa, que tem como característica

principal colocar a narrativa no tempo passado, fazendo com que as atitudes e escolhas dos

personagens sejam direcionados pela época em que viviam. Surge o romance histórico, com Walter

Scott, na Europa do século XIX (Lukcás, 1969).

No Brasil, sua característica inicial foi a de através do ficcional, criar uma nacionalidade,

coincidindo no Brasil com a época da independência (MELLO, 2008. p.127). Porém o romance

histórico contemporâneo se diferencia em várias características daqueles produzidos por Walter

Scott, como se buscou demonstrar no item 3 deste trabalho.

Este trabalho se propôs a explorar os recursos narrativos presentes na obra Um defeito de cor

da autora mineira Ana Maria Gonçalves, de modo a apreender como se constrói a verossimilhança,

desde o ponto de partida, que é o encontro de manuscritos antigos, recurso este que é recorrente em

narrativas que situam a ação no tempo passado, sendo uma das formas possíveis da qual o autor

pode se utilizar para dar ao texto maior credibilidade.

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Podemos perceber que a narrativa, sendo colocada numa voz autoral que é uma mulher

negra, preocupa-se em narrar, não tendo preocupação em ser definitiva nem isenta. O romance trata

da mais cruel, atrasada e vergonhosa experiência brasileira: a escravidão.

A narradora Kehinde assume um tom memoralista, contando os fatos a partir de sua própria

experiência, apresentando não apenas a escravidão em si, mas seus efeitos, suas conseqüências na

vida dos indivíduos. Seu objetivo como narrador não é convencer o leitor de que tudo o que fez foi

justo, mas sim de que as escolhas que foram tomadas também pelas condições externas e pelo

momento histórico que o país atravessava na época. Não fosse assim, se as atitudes da narradora

não fossem direcionadas pela época em que viveu, não seria um romance histórico em sua plena

definição, já que Lukács afirma que a condição fundamental para o romance histórico é a

especificidade histórica do tempo da ação, sendo que esta deve condicionar o modo de agir das

personagens.

A estratégia da autora de narrar a história a partir da protagonista, torna a linguagem simples

e eficiente e exime a obra de imprecisões ou omissões históricas. Pode-se afirmar porém, que não

deixa de haver uma enorme pesquisa histórico-social por trás do romance. O romance de Ana Maria

Gonçalves constitui uma narrativa corajosa na medida em que enfrenta o desafio de reconstruir a

história da escravidão de maneira crítica e denunciar as conseqüências reais dessa história.

Adotando o ponto de vista de uma escrava, ou seja, de uma mulher negra lutando por sua

identidade e seus amores em tempos de homens brancos empenhados em construir uma nação, a

autora particulariza e humaniza um grupo social fundamental para a construção desse país, mas

sempre referido no coletivo, revelando detalhes cotidianos da escravidão e desvelando sua face mais

cruel.

A narrativa pode ser considerada concisa, apesar de não ser breve. A autora consegue em

sua narrativa colocar mais em menos espaço, e realmente Um defeito de cor narra a movimentada

vida de Kehinde, mas não é só isso. Pontua episódios da vida política do Brasil monárquico e

apresenta características das sociedades urbanas em formação na época, com bastante propriedade e

visibilidade.

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