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INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA (IEP) Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado Profissional em Educação em Diabetes William Valadares Campos Pereira AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS PROFESSORES DO PRIMEIRO CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL FRENTE À ATUAÇÃO COM CRIANÇAS COM DIABETES NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DE BELO HORIZONTE Belo Horizonte 2014

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Page 1: William Valadares Campos Pereira - Grupo Santa Casa … Valadares...Mestrado Profissional em Educação em Diabetes William Valadares Campos ... Janice Sepúlveda dos Reis e Albená

INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA (IEP)

Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu

Mestrado Profissional em Educação em Diabetes

William Valadares Campos Pereira

AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS PROFESSORES

DO PRIMEIRO CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL FRENTE À

ATUAÇÃO COM CRIANÇAS COM DIABETES NAS AULAS DE

EDUCAÇÃO FÍSICA EM ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DE

BELO HORIZONTE

Belo Horizonte

2014

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WILLIAM VALADARES CAMPOS PEREIRA

AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS PROFESSORES

DO PRIMEIRO CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL FRENTE À

ATUAÇÃO COM CRIANÇAS COM DIABETES NAS AULAS DE

EDUCAÇÃO FÍSICA EM ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DE

BELO HORIZONTE

Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação do Instituto de Ensino e Pesquisa – IEP, do Grupo Santa Casa de Belo Horizonte, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação em Diabetes.

Orientadora: Prof. Dra. Janice Sepulveda

Coorientador: Prof. Dr. Albená Nunes

Belo Horizonte

2014

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“Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada à

fonte.”

Pereira, William Valadares Campos P436a Avaliação do nível de conhecimento dos professores do primeiro

ciclo do ensino fundamental frente à atuação com crianças com diabetes nas aulas de educação física em escolas públicas municipais de belo horizonte./ William Valadares Campos Pereira. – Belo Horizonte/MG, 2014.

68f.; il.:enc. Orientadora: Dra. Janice Sepúlveda Reis

Coorientadora: Prof. Dr. Albená Nunes

Dissertação (Programa de Pós-graduação Stricto Sensu Mestrado profissional em Educação em Diabetes).

1. Diabetes 2. Doenças Crônicas. 3. Doenças, saúde pública. 4.

Pediatria. 5. Professores I. Pereira, William Valadares Campos. II. Título. III. Grupo Santa Casa de Belo Horizonte. IV. IEP. CDD: 616.462

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Dedico este trabalho à minha mãe Maria Aparecida Valadares Campos Pereira, meu porto seguro e exemplo como ser humano.

Ao meu pai Matuzalém de Campos Pereira pelo apoio e exemplos profissionais.

Aos meus irmãos e melhores amigos Gleica Valadares Campos Pereira e Wendel Valadares Campos Pereira pela amizade e ensinamentos preciosos.

Aos meus sobrinhos pela pureza contagiante.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus orientadores Dra. Janice Sepúlveda dos Reis e Albená Nunes da Silva pela paciência, grandes ensinamentos e por acreditarem no meu trabalho. Obrigado pela ajuda constante e confiança. À minha querida equipe do Ambulatório de Diabetes Tipo 1 da Santa Casa (Beatriz Diniz, Débora Bohnen, Laura Xiol, Maria Eugênia, Marina Moreno, Marina Nogueira, Paula Lamego, Patrícia Luzia e Sônia Maulais, por todo o carinho, motivação e torcida para que este momento se concretizasse.

À Secretaria Municipal de Educação de Minas Gerais, em espacial à Dra. Dagmar Brandão por permitir a realização da pesquisa nas escolas públicas municipais de Belo Horizonte.

Aos diretores das escolas públicas municipais de Belo Horizonte que abriram as portas de suas escolas para a coleta dos dados dessa pesquisa.

Aos professores voluntários por terem me recebido e auxiliado no desenvolvimento dessa pesquisa.

À Lívia Maria por cuidar de pessoas que amo tanto.

À Danielle Minelli por todo o apoio na reta final.

Aos meus queridíssimos alunos de Personal Trainer, por tanto tempo de confiança e por terem suportado os meus desabafos durante esse período. Obrigado, vocês são muito especiais!

Aos meus amigos por fazerem parte da minha vida e me incentivarem nesse período.

Aos meus queridos colegas do mestrado que enriqueceram minhas tardes e noites de sexta e minhas manhãs de sábado.

Ao Homer pela alegria diária.

À todos que de alguma forma participaram desta jornada!

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RESUMO

A complexidade do tratamento do Diabetes tipo 1 faz com que crianças na faixa etária entre 6 e 10 anos tenham dificuldades em gerir seu próprio tratamento. Com isso a escola torna-se um local preocupante para as famílias, em especial as aulas de educação física. O exercício físico exige cuidados especiais para as crianças com diabetes, pelo fato de possuírem chances elevadas de complicações agudas como a hipoglicemia. O presente estudo teve como objetivo avaliar o nível de conhecimento dos professores do primeiro ciclo do ensino fundamental frente à atuação com crianças com diabetes, nas aulas de educação física das escolas públicas municipais de Belo Horizonte. Foram visitadas 44 escolas e 119 professores aceitaram participar da pesquisa. Para este estudo, foram aplicados 2 questionários, um para caracterização da amostra e outro para avaliar o nível de informação sobre diabetes e exercício físico. Este questionário foi produzido a partir de uma revisão de periódicos na literatura de organizações em diabetes. Foi realizada uma análise descritiva dos dados, sendo que para as variáveis categóricas foram calculadas as proporções e, para as variáveis contínuas, a mediana e o desvio-padrão. Para analisar a independência entre os grupos foi utilizado o teste de Qui-Quadrado. Os resultados demonstraram grande porcentagem de erros nas respostas do questionário de avaliação de conhecimento, com índices acima de 70% em sua maioria, demonstrou também que as escolas não estão preparadas para receber crianças com diabetes. Conclui-se que os professores do primeiro ciclo do ensino fundamental não possuem conhecimento mínimo para garantir a segurança das crianças com diabetes durante as aulas de educação física, tornando necessário desenvolver estratégias educacionais nas escolas públicas municipais de Belo Horizonte que visem aumentar o nível de conhecimento sobre este tema.

Palavras-chaves: Diabetes Mellitus tipo 1. professo res de escolas. conhecimento.

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ABSTRACT

The complexity of the treatment of Type 1 diabetes causes children aged between 6 and 10 years have difficulties in managing their own care. With that the school becomes a concern for families, especially the physical education classes location. The exercise requires special care for children with diabetes, because they have high chances of acute complications such as hypoglycemia. The present study aimed to assess the level of knowledge of the primary teachers of elementary school response to work with children with diabetes, physical education classes in the public schools of Belo Horizonte. 44 schools were visited and 119 teachers agreed to participate. For this study, two questionnaires, one to characterize the sample and the other to evaluate the level of information about diabetes and exercise were applied. This questionnaire was produced from a periodic review of the literature on diabetes organizations. A descriptive analysis was performed, and for categorical variables and proportions were calculated for continuous variables, the median and the standard deviation. To examine the independence between the groups, the chi-square test was used. The results showed large percentage of errors in the knowledge assessment questionnaire responses, with rates above 70% in most cases, also demonstrated that schools are not prepared to receive children with diabetes. We conclude that the primary teachers of elementary school have no minimum knowledge to ensure the safety of children with diabetes during physical education classes, making it necessary to develop educational strategies in the public schools of Belo Horizonte in order to raise the level of knowledge on this topic.

Keywords: Diabetes Mellitus type 1; school teachers ; Knowledge.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Objetivos glicêmicos e de hemoglobina glicada por idade... ................... 17

Figura 2 – Efeitos do exercício físico na glicemia de indivíduos com diabetes tipo1. 21

Figura 3 – Resposta fisiológica do exercício em indivíduos com diabetes e sem

diabetes ..................................................................................................................... 23

Figura 4 – Mesa redonda com os palestrantes e representantes do1º Fórum

Diabetes Nas Escolas.. ............................................................................................. 51

Figura 5 – Público 1 0. Fórum Diabetes Nas Escolas.. ............................................. 52

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição por regional de escolas participantes................................... 28

Tabela 2 – Característica dos participantes. ............................................................. 31

Tabela 3 – Experiência do professor com relação a diabetes ................................... 33

Tabela 4 – Opinião dos professores a respeito da pesquisa.. ................................... 34

Tabela 5 – Capacidade dos professores em contactar o SAMU ............................... 34

Tabela 6 – Experiência das escolas com relação a alunos com diabetes... .............. 35

Tabela 7 – Distribuição de respostas para cada item do questionário de nível de

conhecimento sobre diabetes. ................................................................................... 37

Tabela 8 – Distribuição dos professores conforme a pontuação dos questionários .. 38

Tabela 9 – Distribuição dos acertos conforme as características dos professores.. 39

Tabela 10 – Distribuição dos acertos de acordo com a experiência dos professores

com a diabetes.. ........................................................................................................ 40

Tabela 11– Distribuição dos acertos de acordo com a experiência dos professores

que já atenderam crianças com diabetes... ............................................................... 41

Tabela 12 – Distribuição dos acertos com relação a experiência das escolas com

alunos com diabetes. ................................................................................................ 42

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

ADA American Diabetes Association

CAAE Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

CAD Cetoacidose Diabética

DM Diabetes Mellitus

DM 1 Diabetes Mellitus tipo 1

DM 2 Diabetes Mellitus tipo 2

DM Gestacional Diabetes Mellitus Gestacional

Ex Exemplo

g O grama é uma unidade de medida de massa

GLUT 4 Transportadores de glicose encontrados nas membranas

celulares, incluindo sarcolema de fibras musculares

IEP Instituto de Ensino e Pesquisa

mg/dl Miligramas por decilitro é a unidade de medida usada em

referência aos níveis glicêmicos

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PSE Programa de Saúde na Escola

SAMU Serviço Móvel de Urgência

SBD Sociedade Brasileira de Diabetes

VO2 máx Consumo máximo de oxigênio

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12

2 OBJETIVO ........................................ ..................................................................... 14

3 JUSTIFICATIVA ................................... .................................................................. 15

4 REFERENCIAL TEÓRICO ............................. ........................................................ 16 4.1 Diabetes tipo 1 ............................... ................................................................. 16 4.2 Hipoglicemia e Hiperglicemia ................ ..................................................... 17 4.3 Exercício físico e diabetes ................... ......................................................... 19 4.4 Educação Física no primeiro ciclo do Ensino Fun damental ...................... 24 4.5 Diabetes na escola ............................ ............................................................. 25

5 METODOLOGIA ..................................... ............................................................... 27 5.1 Escolas ....................................... .................................................................... 27 5.2 Professores ................................... ................................................................. 27 5.2.1 Critérios de inclusão e exclusão .................................................................... 28 5.3 Questionários ................................. ................................................................ 29 5.4 Análise estatística ........................... ............................................................... 30

6 RESULTADOS ...................................... ................................................................. 31 6.1 Característica dos participantes .............. ..................................................... 31 6.2 Experiência do professor com relação ao diabete s .................................... 32 6.3 Opinião dos professores a respeito da pesquisa ....................................... 33 6.4 Capacidade dos professores em contactar o Servi ço Móvel de Urgência34 6.5 Experiência das escolas com relação ao aluno co m diabetes .................. 34 6.6 Distribuição de respostas para cada item do que stionário de nível de conhecimento sobre diabetes ....................... ..................................................... 35 6.7 Distribuição dos professores conforme a pontuaç ão dos questionários 38 6.8 Distribuição dos acertos conforme as caracterís ticas dos professores .. 38 6.9 Distribuição dos acertos de acordo com a experi ência dos professores com diabetes ...................................... .................................................................. 40 6.10 Distribuição dos acertos de acordo com a exper iência das escolas com alunos com diabetes ............................... ............................................................. 41

7 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 43

8 CONCLUSÃO ....................................... ................................................................. 50

9 ATIVIDADES EDUCACIONAIS RESULTANTES DESTA PESQUIS A ................. 51 9.1 Estratégias criadas em 2014 ................... ...................................................... 31 9.2 Estratégias previstas ......................... ............................................................ 31

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 53

APÊNDICES ............................................................................................................. 53

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APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLAREC IDO ............. 56

APÊNDICE B: CARTA DE APRESENTAÇÃO ................. ........................................ 58

APÊNDICE C: QUESTIONÁRIO DE PERFIL DO VOLUNTÁRIO .. .......................... 59

APÊNDICE D: QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO ............. ..................................... 58

ANEXOS ................................................................................................................... 66

ANEXO A: APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA (C EP) DO INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA DA SANTA CASA ...... ............................... 66

ANEXO B: CARTA DE AUTORIZAÇÃO DA SECRETARIA MUNICIP AL DE EDUCAÇÃO .......................................... .................................................................... 67

ANEXO C: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................... 68

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1 INTRODUÇÃO

No mundo a incidência de DM1 está aumentando, particularmente na população

infantil com menos de cinco anos de idade. Na infância, a DM1 é considerado o

distúrbio metabólico mais prevalente e a segunda doença crônica mais frequente,

perdendo apenas para a asma (1,2).

As crianças com diabetes diferem dos adultos em muitos aspectos, incluindo

alterações na sensibilidade à insulina, à sua maturidade sexual e física e à

capacidade de proporcionar o autocuidado (2). Tais diferenças exigem cuidados

extras em vários âmbitos e um dos locais de maior preocupação para a família é a

escola.

A escola é um ambiente no qual elas estão distantes dos cuidados dos pais,

possuem dificuldade em gerir seu próprio tratamento, principalmente no primeiro

ciclo do ensino fundamental, com faixa etária entre 6 e 10 anos. Além da dificuldade

em gerir o tratamento, devido à sua complexidade para esse período de vida, essas

crianças por muitas vezes, não possuem profissionais capacitados para auxiliá-las (3,4).

A correta gestão da diabetes diminui a probabilidade de episódios de complicações

agudas potencialmente danosas, como hiperglicemias, cetoacidose diabética e

hipoglicemias. Essas complicações podem levar a danos como: letargia,

inconsciência temporária, coma e até mesmo ao óbito (5).

Além dos riscos aumentados de complicações agudas, a gestão correta do

tratamento na infância reduz as chances de complicações crônicas futuras. Estudos

demonstram que o controle glicêmico inadequado em crianças e jovens com

diabetes está vinculado ao aumento de complicações cardíacas e outras

complicações crônicas provenientes da diabetes (5,6); outros demonstram ainda que,

o auxílio inadequado dos profissionais das escolas na orientação da autogestão das

crianças com diabetes aumentam as chances dessas complicações (6).

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13

As escolas, portanto, necessitam organizar-se no intuito de possuir informações

suficientes sobre diabetes para atender às necessidades destas crianças e garantir

um ambiente seguro e produtivo de aprendizagem (4,7,8).

O sucesso do tratamento da diabetes depende de vários fatores, dentre eles, o

processo de ensinar os pacientes a gerir sua própria doença. Este tem sido uma

parte fundamental do manejo clínico da diabetes, processo denominado educação

em diabetes e que pode ser implantado nas escolas (2).

A aula de Educação Física é um momento especial no ambiente escolar, necessita

de atenção e conhecimento dos professores responsáveis. O exercício físico é

considerado parte fundamental do tratamento da diabetes, portanto, a prática de

esportes, exercícios físicos e brincadeiras devem ser incentivadas pelo professor,

em toda a vivência escolar.

São considerados efeitos benéficos do exercício físico para a DM1:

• Melhoria do perfil lipídico (9);

• Melhoria a sensibilidade à insulina (10);

• Redução do risco cardiovascular (11);

• Redução do risco de complicações crônicas (12);

• Melhoria do bem estar psicológico (16);

Apesar destes benefícios, pacientes com DM1 que praticam exercícios físicos

possuem maior risco de hipoglicemia, que pode ocorrer ao longo, imediatamente ou

horas após a atividade (1), podendo, ainda, aumentar a incidência de hipoglicemia

sem sintomas clínicos. A justificativa para isso seria que o cortisol liberado durante o

exercício bloqueia a resposta neuroendócrina à hipoglicemia (13), podendo aumentar

ainda mais quando realizado de forma inapropriada e sem supervisão de um

profissional treinado que tenha conhecimento sobre diabetes (1).

A quantidade de cuidados necessários para a prática segura de exercício pelas

crianças com diabetes e as graves consequências geradas pela falta desses

cuidados foram os grandes motivadores dessa pesquisa.

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14

2 OBJETIVO

Avaliar o nível de conhecimento dos professores do primeiro ciclo do ensino

fundamental frente à atuação com crianças com diabetes nas aulas de Educação

Física em escolas públicas municipais de Belo Horizonte.

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15

3 JUSTIFICATIVA

O presente estudo justificou-se pelo fato de as crianças com diabetes passarem

grande parte do seu dia em ambiente escolar e necessitarem de orientação e

observação adequadas para a prática de exercícios, com o intuito de reduzir

complicações da doença.

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16

4 REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 Diabetes tipo 1

O termo Diabetes Mellitus (DM) é descrito como um grupo de doenças metabólicas

caracterizado por hiperglicemia resultante de defeitos na secreção da insulina, na

ação da mesma, ou ambos. A hiperglicemia crônica está associada a danos em

longo prazo, disfunção e falência de órgãos diferentes, especialmente nos olhos,

rins, nervos, coração e vasos sanguíneos (1,2).

A classificação da diabetes inclui quatro principais tipos: Diabetes tipo 1 (DM1),

Diabetes tipo 2 (DM2), Diabetes gestacional (DM gestacional) e outros tipos

específicos de Diabetes (1,2).

A DM1 acomete cerca de 5 a 10% dos casos de diabetes e resulta da destruição de

células beta pancreáticas com consequente deficiência na produção de insulina (1,2).

Esta forma de diabetes, anteriormente denominada diabetes insulino-dependente ou

diabetes juvenil, geralmente ocorre na infância e adolescência (1).

Na DM1, a taxa de destruição das células betas é bastante variável, podendo ser

rápida em alguns indivíduos (ex: bebês e crianças) e lento em outros (ex: adultos) (1).

Alguns pacientes, especialmente crianças e adolescentes, podem apresentar

cetoacidose diabética1 (CAD) como primeira manifestação da doença. Outros

possuem modesta alteração da hiperglicemia em jejum, que pode rapidamente

evoluir para hiperglicemia grave e/ou CAD na presença de infecção (1,2).

O tratamento tem como objetivo aproximar as condições metabólicas do indivíduo

com DM1, de um estado fisiológico, reduzindo o estado de hiperglicemia crônica e

consequentemente as chances de complicações do DM (14).

1 É uma complicação aguda grave que pode ocorrer durante a evolução do DM 1 e DM 2. Está

presente em aproximadamente 25% dos casos no momento do diagnóstico do DM1 e é a causa mais

comum de morte entre crianças e adolescentes com DM1 (2).

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17

O tratamento intensivo é a escolha terapêutica mais efetiva. Este consiste em

múltiplas doses de insulina, com monitoramento frequente dos níveis glicêmicos e

ajustes de doses baseados nestes resultados (2). As insulinas são distribuídas em

basal (50% da dose diária de insulina), bolus de alimentação (insulinas de ação

rápida nas principais refeições) e bolus de correção (doses extras em caso de

hiperglicemia) (1, 2).

A meta glicêmica é sugerida pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) de acordo

com a idade dos pacientes (FIG. 1).

Figura 1 – Objetivos glicêmicos e de hemoglobina gl icada por idade

Fonte: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes: 2013-2014.

4.2 Hipoglicemia e Hiperglicemia

Hipoglicemia é a complicação aguda mais frequente no tratamento do DM1 (12). A

hipoglicemia pode ocorrer em diferentes intensidades, sendo classificadas em leve,

moderada ou grave, de acordo com a capacidade do indivíduo tratar-se sem o

auxílio de outra pessoa (15).

A hipoglicemia caracteriza-se por glicemia <70 mg/dl, independentemente da faixa

etária, sendo grave quando o paciente não é capaz de reconhecer e tratar sozinho o

episódio (2). São sintomas típicos da hipoglicemia (1):

• Sensação de suor frio

• Sonolência

• Tremores

• Confusão mental

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18

• Palpitações e visão borrada

• Fraqueza excessiva

• Agitação

• Agressividade

• Choro incontrolável

• Perda de consciência

Sugere-se como tratamento da hipoglicemia (2):

• Glicemia entre 50 e 70 mg/dl, ingerir 15 g de carboidrato de rápida absorção e

repetir glicemia em 15 minutos;

• Glicemia < 50 mg/dl, ingerir 20 g a 30 g de carboidrato de rápida absorção e repetir

glicemia em 15 minutos;

• Repetir o esquema acima até obter glicemia > 70 mg/dl, com resolução dos

sintomas.

Os carboidratos de rápida absorção são os mais adequados para a correção

glicêmica em caso de hipoglicemia, sendo que 15 g destes equivalem a uma colher

(sopa) de açúcar diluída em 01 copo com 200 ml de água ou 200 ml suco de laranja

ou 200 ml de refrigerante não diet ou três balas macias (5 g) ou três sachês de mel

(5 g) (2).

A hipoglicemia grave, comumente apresenta sintomas típicos, estes sintomas estão

descritos abaixo (2):

• Cefaléia

• Dor abdominal

• Agressividade

• Visão turva

• Confusão mental

• Tontura

• Dificuldade para falar

• Midríase (dilatação da pupila em função da contração do músculo dilatador da

pupila)

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19

Nestes casos, quando o glucagon2 não está disponível, deve-se administrar

imediatamente 30g de carboidrato de ação rápida (mel ou açúcar) por via oral,

massageando-os na mucosa bucal, cujo objetivo é aumentar a absorção sem haver

a deglutição no momento da inconsciência (15). No entanto, quando disponível, o

glucagon intravenoso, subcutâneo ou intramuscular é o mais indicado para tratar

hipoglicemias graves em pacientes com diabetes tratados com insulina. Quando

administrado, eleva a glicemia devido, principalmente, ao aumento na degradação

de glicogênio do fígado (5,15).

Em episódios de hipoglicemia grave, a reposição dos estoques de glicogênio no

fígado e nos músculos podem ser lentos, o que aumenta o risco de crises

recorrentes da mesma intensidade. Nestes casos, aconselha-se evitar o exercício

físico, dando preferencia para o repouso e a alimentação (15).

A hiperglicemia (glicemia acima da meta para idade) pode ser assintomática e, em

casos mais graves, apresentar os sintomas de fome excessiva, poliúria, polidipsia,

perda de peso, fadiga, dentre outros (1,15). Todos os episódios de hiperglicemia no

DM1 devem ganhar doses de correção com insulinas para normalização dos níveis

glicêmicos (1).

4.3 Exercício físico e diabetes

O exercício é parte fundamental do tratamento da diabetes, portanto, a prática de

esportes, exercícios e brincadeiras devem ser incentivadas nas escolas pelo

professor, em toda a vivência escolar, inclusive no ensino fundamental.

A recomendação para as pessoas com diabetes é de atividade aeróbica diária, ou

pelo menos a cada 2 dias, para que os benefícios sobre o metabolismo glicídico

sejam alcançados. Pelo menos 150 minutos de exercícios de moderada intensidade

por semana ou 75 minutos de exercícios de alta intensidade por semana ou

combinar as duas intensidades (2).

São considerados efeitos benéficos do exercício físico para o DM1:

2 Glucagon é um hormônio produzido no pâncreas.

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20

• Melhoria do perfil lipídico (9);

• Melhoria a sensibilidade à insulina (10);

• Redução do risco cardiovascular (11);

• Redução do risco de complicações crônicas (12);

• Melhoria do bem estar psicológico (16).

Além dos benefícios descritos acima, estudos têm evidenciado ainda redução das

doses de insulina e atenuação das disfunções autonômicas no DM1 e melhora na

sensibilidade à insulina (2). A melhora da sensibilidade à insulina causada pelo

exercício físico ocorre especialmente no músculo esquelético e seus efeitos são

induzidos por (10):

• Aumento da densidade capilar;

• Aumento da expressão e translocação de GLUT4 para a membrana

plasmática;

• Aumento das fibras musculares mais sensíveis à ação insulínica;

• Possíveis alterações na composição de fosfolípides do sarcolema;

• Aumento na atividade de enzimas glicolíticas e oxidativas;

• Aumento na atividade da glicogênio-sintetase.

Os efeitos do exercício físico na glicemia de indivíduos com DM1 podem ser melhor

observados na figura 2 (17):

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21

Figura 2 – Efeitos do exercício físico na glicemia de indivíduos com diabetes tipo 1

Fonte: RIDDELL, M. PERKINS, B. 2009.

Percebe-se que o exercício aeróbico de intensidade moderada (VO2 máximo 30-

70%) e tempo prolongado, normalmente provoca uma redução nas concentrações

de glicose no sangue pelo fato do níveis circulantes de insulina não diminuírem

durante o exercício, devido a se tratar de um mecanismo desencadeado em

presença de insulina exógena. Por outro lado, o exercício anaeróbio muitas vezes

pode aumentar os níveis de glicose no sangue de pessoas com DM1, devido a

elevações nos níveis de catecolaminas que não são compensados, devido a

ausência de produção endógena. No entanto, mesmo com elevação glicêmica

durante a atividade, comumente ocorre uma redução significativa após o término da

sessão (17).

São inúmeras as variáveis que interferem na resposta glicêmica durante o exercício

físico em pessoas com diabetes tipo1. Considerando que alguns tipos e intensidades

ou Insulina

Glucagon

Exercício Aeróbico – Diabetes Tipo 1

Exercício Anaeróbico – Diabetes Tipo 1

Insulina

Catecolaminas

Os níveis de insulina não diminuem durante o exercício

aeróbio moderado

A insulina não consegue aumentar suficientemente após

o exercício anaeróbico intenso

Diminuição

da glicemia

Aumento

da glicemia

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22

de exercício físico possuem como característica o aumento da glicemia, sugere-se,

como medida de segurança, que os indivíduos com diabetes não se exercitem caso

a glicemia capilar esteja acima de 250 mg/dl, pelo fato de na maioria dos casos não

haver a opção de mensurar a presença de corpos cetônicos, devido ao não

fornecimento das tiras de cetonemia pelo governo e ao alto custo das mesmas.

Nestes casos, é recomendado que o exercício físico seja retornado somente após a

normalização do nível glicêmico (2).

No entanto, a complicação aguda de maior risco nos pacientes com DM1 que

praticam exercícios é a hipoglicemia. Esta pode ocorrer ao longo, imediatamente ou

horas depois do final da atividade física (1).

O exercício físico pode aumentar a incidência de hipoglicemia sem sintomas clínicos

nos pacientes com diabetes. Acredita-se que a liberação de cortisol durante o

exercício bloqueia a resposta neuroendócrina à hipoglicemia (13), aumentando ainda

mais quando realizado de forma inapropriada e sem supervisão de um profissional

competente que tenha conhecimento sobre diabetes (1).

O mecanismo pelo qual pessoas com DM1 possuem chances aumentadas de

hipoglicemia são demonstrados na figura 3 (18).

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23

Figura 3 – Resposta fisiológica do exercício em in divíduos com diabetes e

sem diabetes

Fonte: Adaptado de ROBERTERSON, K. 2009.

Percebe-se pela figura acima que os indivíduos sem diabetes possuem uma

resposta contrarreguladora eficaz durante o exercício físico, além dos níveis de

insulina reduzirem significativamente, permitindo assim a normoglicemia. Já os

indivíduos com DM1 possuem uma deficiência na resposta dos hormônios

contrarreguladores durante o exercício físico. Além disso, o fato de a insulina já ter

sido administrada e seus níveis circulantes não reduzirem fisiologicamente impede a

manutenção da normoglicemia, podendo levar a um estado de hipoglicemia.

Portanto, tornam-se necessários alguns cuidados, durante a prática esportiva, com o

intuito de prevenir crises hipoglicemicas (1,2,16):

• Monitorar a glicemia antes, durante e depois do exercício físico

• Iniciar o exercício físico com glicemias acima de 100 mg/dl

• Evitar a prática de exercícios durante o horário de pico da insulina

administrada

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24

• Evitar aplicar insulina em partes do corpo que serão muito utilizadas no

exercício (dependendo do tipo de insulina utilizada)

• Ter sempre fontes de carboidratos durante o exercício

4.4 Educação Física no primeiro ciclo do Ensino Fun damental

Os conteúdos a serem aplicados nas aulas de educação física, devem seguir os

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Estes tem como objetivos concretizar as

intenções educativas em termos de capacidades que devem ser desenvolvidas

pelos alunos ao longo da escolaridade (19).

A decisão de definir os objetivos educacionais em termos de capacidades, é

fundamental nesta proposta, uma vez desenvolvidas as capacidades, podem se

expressar numa variedade de comportamentos (20).

O professor, consciente de que condutas diversas podem estar vinculadas ao

desenvolvimento de uma mesma capacidade, tem diante de si maiores

possibilidades de atender à diversidade de seus alunos (21).

No primeiro ciclo do ensino fundamental, os jogos e brincadeiras devem ser as

estratégias mais utilizadas. Em função da transição que se processa entre as

brincadeiras de caráter simbólico e individual para as brincadeiras sociais e

regradas, os jogos e as brincadeiras escolhidas serão aquelas cujas regras forem

mais simples (19).

É característica marcante desse ciclo a diferenciação das experiências e

competências de movimento de meninos e meninas. Portanto, as atividades

escolhidas devem ser aquelas que evidenciem competências de forma a promover

uma troca de experiências entre os dois grupos (20).

Atividades lúdicas e competitivas, nas quais os meninos tem mais desenvoltura,

devem ser mescladas de forma equilibrada com atividades lúdicas e expressivas nas

quais as meninas, genericamente, tem uma experiência maior (19).

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25

Equivale dizer que, no primeiro ciclo, é necessário que o aluno tenha acesso aos

objetos como bolas, cordas, elásticos, bastões, colchões, alvos, em situações não-

competitivas, que garantam espaço e tempo para o trabalho (20).

Ao desafio apresentado, acrescenta-se que, principalmente no que diz respeito às

habilidades motoras, os alunos devem vivenciar os movimentos numa multiplicidade

de situações, de modo que construam um repertório amplo (20).

A especialização mediante treinamento não é adequada para a faixa etária que se

presume para esta etapa da escolaridade, pois não é momento de restringir as

possibilidades dos alunos (21).

No entanto, é comum observar na prática em campo, os professores fazendo uso da

especialização e utilizando o mesmo esporte em todas as aulas de educação física.

Durante a coleta dos dados desta pesquisa, o esporte era a escolha didática pela

maioria dos professores regentes, sendo que o futsal foi o mais utilizado para

meninos e meninas.

4.5 Diabetes na escola

A escola é um ambiente no qual as crianças com diabetes estão distantes dos

cuidados dos pais, normalmente possuem dificuldade em gerir seu próprio

tratamento e, muitas vezes, não possuem profissionais capacitados para auxiliá-las (4,6).

Uma pesquisa de 2007 realizada em 24 países, incluindo o Brasil, mostrou que seis

em cada dez crianças não tratam a diabetes corretamente na escola. Esta pesquisa

constatou que crianças com faixa etária entre 6 a 9 anos precisam de mais apoio no

dia-a-dia para administração de insulina, de acordo com a alimentação, orientações

adequadas sobre exercício e tempo para administração diária da doença (3).

Existem ainda aspectos que agravam esta realidade, no que diz respeito às leis de

cada país em relação ao suporte dos profissionais da escola durante casos de

emergência com essas crianças. Em alguns países como a Alemanha e Holanda, os

profissionais da escola são proibidos de prestar socorro durante crises de

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26

hipoglicemia, fazer testes de glicemia capilar ou auxiliar na administração da insulina (3).

Outros estudos demonstraram que pais e alunos com diabetes sofrem com a falta de

preparo, apoio e conhecimento por parte da escola, o que gera impactos negativos

sobre essas crianças como, por exemplo, distúrbios alimentares, ansiedade e

depressão (6,7). Além disso, o descontrole da diabetes na infância está ligado ao

aumento da probabilidade de problemas futuros como complicações cardíacas,

neuropatia periférica, retinopatia e outros (5, 6).

Observou-se, também, que o treinamento de funcionários nas escolas, propicia a

melhora do controle glicêmico, a melhora na qualidade de vida e um ambiente

escolar mais seguro e solidário, facilitando situações como a detecção de sintomas,

que podem afetar o desempenho escolar. Desta forma, há também uma melhoria no

relacionamento deste aluno e sua inclusão em grupos com crianças sem diabetes (8).

As crianças com diabetes possuem, por lei, o direito de participar plenamente de

todas as experiências da infância na escola. Não devem sofrer discriminação, devido

ao seu diabetes, e não deve-se permitir que esta se sinta diferente por conta disso.

Portanto, essas crianças tem o direito de participar das aulas de educação física

escolar. No primeiro ciclo do ensino fundamental, essas são ministradas em uma

frequência de 2 vezes por semana e possuem duração de 50 minutos, sendo

necessário adotar estratégias práticas para que participem com segurança.

A maior dificuldade a ser solucionada, é a de se estabelecer meios práticos que

permitam estas crianças participarem plenamente na vida da escola, pela gestão de

seu diabetes.

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27

5 METODOLOGIA

Está pesquisa é classificada como transversal, descritiva e experimental. Foi

realizada nas escolas públicas municipais de Belo Horizonte, no período escolar

referente ao segundo semestre de 2013, com duração entre agosto e dezembro.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto de Ensino e

Pesquisa da Santa Casa (IEP) (anexo A), com número de certificado de

apresentação para apreciação ética (CAAE) 07443113.0.0000.5138. O Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado por todos os voluntários, após

esclarecimentos do projeto (APÊNDICE A).

5.1 Escolas

Mediante autorização obtida junto à Secretaria Municipal de Educação para o

desenvolvimento da pesquisa e coleta de dados nas escolas públicas municipais de

Belo Horizonte, realizou-se o levantamento do número de escolas que atendiam os

primeiros ciclos do ensino fundamental. A relação das escolas foi disponibilizada

pelo setor de estatísticas da prefeitura de Belo Horizonte.

A escolha das escolas ocorreu de forma aleatória, por regional de Belo Horizonte,

sendo interesse do estudo, que, ao final da coleta, as 9 regionais de Belo Horizonte

tivessem participado, com um número semelhante de profissionais participantes.

Cada escola selecionada recebeu um e-mail informando sobre a pesquisa e pedindo

autorização para a visita e coleta dos dados. Anexo ao e-mail foi enviado à carta de

aprovação do Comitê de Ética da Santa Casa de Misericórdia de BH, a autorização

da Secretaria Municipal de Educação e o número do ofício (ANEXOS A e B) e uma

carta de apresentação do projeto de pesquisa (APÊNDICE B).

Foi adotado o prazo de dois dias, após o envio do e-mail, para o contato telefônico

com as escolas e solicitação para a visita e coleta dos dados.

O fato de a escola não responder ao e-mail de solicitação no prazo determinado

demonstrou a não receptividade à coleta. Tal intercorrência se deu também durante

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28

contato telefônico ou, ainda, houve escola que se negou prontamente em participar

da mesma. Na análise dos dados, esses fatos foram classificados como “negado”. O

procedimento de contato foi realizado em 89 escolas, sendo que 44 aceitaram

participar da pesquisa e as outras 45 foram classificadas como ”negado” (TAB. 1).

Tabela 1 – Distribuição por regional de escolas pa rticipantes

Variáveis Categorias n=44

Regional* Barreiro 05

Centro-Sul 11

Leste 03

Nordeste 04

Noroeste 03

Norte 04

Oeste 04

Pampulha 05

Venda Nova 05

* Regional onde a escola está situada na cidade de Belo Horizonte. n= Número de escolas visitadas por regional que participaram do estudo.

5.2 Professores

A amostra foi composta por 121 professores regentes (estes não possuem

graduação em Educação Física). Devido aos critérios de exclusão, 2 destes foram

excluídos por não serem graduados. Os critérios de exclusão e de inclusão estão

descritos abaixo.

5.2.1 Critérios de inclusão e exclusão

Foram incluídos no estudo: 1) Professores devidamente registrados na rede

municipal de Belo Horizonte, que sejam responsáveis pelas aulas de Educação

Física, independente da sua formação acadêmica. 2) Professores devidamente

registrados na rede municipal de Belo Horizonte, que tenham formação de ensino

técnico. 3) Professores devidamente registrados na rede municipal de Belo

Horizonte, que atuem com crianças de 6 a 9 anos de idade, independente dessas

terem Diabetes Mellitus.

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29

Foram excluídos do estudo: 1) Graduados de escolas públicas municipais de Belo

Horizonte que não aceitaram assinar o termo de consentimento livre e esclarecido.

5.3 Questionários

Para este estudo foram aplicados dois questionários, um para caracterização do

perfil do voluntário e outro para avaliar o nível de informação sobre diabetes

(APÊNDICES C E D).

Todos os voluntários preencheram os questionários com a presença do avaliador e

não foi esclarecida qualquer dúvida, referente às questões, até o seu preenchimento

total. Dúvidas só puderam ser esclarecidas ao término do questionário, após entrega

do mesmo.

O questionário de avaliação de conhecimentos (APÊNDICE D) foi produzido a partir

de uma revisão de periódicos relevantes na literatura sobre diabetes, incluindo as

diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2) e as diretrizes da Associação

Americana de Diabetes (1).

A literatura recomenda, que em casos de estudos do tipo original, sejam realizados

pré-testes com 30 a 40 indivíduos, e portanto considerar as repostas destes como

estimativa populacional (22).

Para esse estudo foi realizado um teste piloto, onde 30 profissionais de educação

física responderam os questionários, com intuito de garantir o entendimento dos

mesmos e reduzir as chances de falha na coleta em campo. Após a análise final do

teste piloto, verificou-se que não houve dificuldade no entendimento das questões

nos questionários.

Todos os participantes, após a participação na pesquisa, receberam o mesmo

questionário com todas as respostas corretas, com o intuito de oferecer a eles

informações pertinentes sobre o tema pesquisado.

Para os avaliados que relataram já ter tido algum aluno com diabetes, foi sugerida

uma “auto-avaliação” a respeito da capacidade em atender esses alunos,

categorizada subjetivamente como:

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30

• Regular

• Bom

• Ótimo

5.4 Análise estatística

Para o cálculo amostral, adotou-se os parâmetros descritos na literatura como base

para o cálculo amostral em que se desconhece o evento na população geral. Assim

a precisão adotado foi de 1, a proporção na população de 0,5 e o nível de

significância padrão, 0,05%.

Para o presente estudo são necessários 191 professores, sendo sua distribuição

adotada de forma percentual entre as escolas do município. Para que realmente seja

uma amostra representativa de todo o município, foi realizada uma alocação

aleatória, por meio de sorteio.

No entanto, a amostra foi reduzida devido ao alto índice de rejeição por parte das

escolas em participar da pesquisa, procedimento previsto na literatura, onde sugere-

se o aumento ou redução da amostra de acordo com os critérios adotados pelo

orientador (22).

Realizou-se a análise descritiva dos dados, sendo que para as variáveis categóricas

foram calculadas as proporções e, para as variáveis contínuas, a mediana e o

desvio-padrão. Para analisar a independência entre os grupos foi utilizado o teste de

Qui-Quadrado. As análises foram realizadas no software STATA (Stata Corporation,

College Station, Texas) versão 12.0 (22).

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31

6 RESULTADOS

6.1 Características dos participantes

A amostra foi composta em sua maioria por mulheres (96.6%), com menos de 10

anos de graduação (37.0%) com pós graduação lato sensu (67.2%) (TAB. 2).

Tabela 2 – Característica dos participantes

Variáveis Categorias

n= 119

n (%)

Gênero Masculino 4 (3.4)

Feminino 115 (96.6)

Faixa Etária 23 a 29 anos 9 (7.6)

30 a 39 anos 29 (24.4)

40 a 49 anos 33 (27.7)

50 anos ou mais 48 (40.3)

Regional Barreiro 11 (9.3)

Centro-Sul 17 (14.4)

Leste 12 (10.2)

Nordeste 12 (10.2)

Noroeste 14 (11.9)

Norte 12 (10.2)

Oeste 11 (9.3)

Pampulha 16 (13.6)

Venda Nova 13 (11.0)

Tempo de Graduação 10 anos ou menos 44 (37.0)

11 a 20 anos 33 (27.7)

21 anos ou mais 42 (35.3)

Pós Graduação Sim 87 (73.1)

Não 32 (26.9)

Nível Formação Técnico 1 (0.8)

Superior Completo 28 (23.5)

Pós Graduado Lato Sensu 80 (67.2)

Pós Graduado Strictu Sensu 10 (8.4)

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32

6.2. Experiência do professor com relação ao diabet es

Na TAB. 3 são apresentados dados da experiência do professor em relação ao

diabetes. A maioria dos professores entrevistados nunca recebeu treinamento em

diabetes (97.5%).

Apesar da maior parte não ter recebido treinamento em diabetes, um número

considerável dos avaliados já tiveram, em algum momento de sua profissão, alunos

com diabetes (37.8%). Dentre os avaliados que possuem essa experiência, a

maioria deles acompanhou crianças na faixa etária entre 6 e 9 anos (30.3%). Ainda

se tratando dos voluntários com tal experiência, a maior parte deles atenderam

apenas 1 aluno com diabetes em todo seu tempo de profissão (18.6%), sendo que

outro grupo atendeu mais de 3 alunos com essa patologia.

Para os avaliados que relataram já ter tido algum aluno com diabetes na escola, a

maior parte deles auto-avaliaram sua atuação como “BOM” (17.7%). No entanto,

entre todos os avaliados do estudo, a maioria não se sentiu preparada para atender

crianças com diabetes na escola (94.1%).

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33

Tabela 3 – Experiência do professor com relação à d iabetes

Variáveis Categorias

n=119

n (%)

Já recebeu treinamento em diabetes Sim 3 (2.5)

Não 116 (97.5)

Já atendeu alunos com diabetes Sim 45 (37.8)

Não 74 (62.2)

Faixa etária dos alunos com diabetes que atende u Menores 6 anos 1 (0.8)

Entre 6 e 9 anos 36 (30.3)

Maiores 9 anos 8 (6.7)

Não atenderam 74 (62.2)

Quantos alunos com diabetes você já atende u Nenhum 73 (61.9)

1 22 (18.6)

2 14 (11.9)

3 ou mais 9 (7.6)

Auto -avaliação do atendimento Não atenderam 74 (62.2)

Regular 20 (16.8)

Bom 21 (17.7)

Ótimo 3 (2.5)

Não responderam 1 (0.8)

Sentem -se preparados para atender crianças com

diabetes Sim 5 (4.2)

Não 112 (94.1)

Não responderam 2 (1.7)

6.3 Opiniões dos professores a respeito da pesquisa

Em sua maioria, os professores avaliados entendem que crianças com diabetes

necessitam de cuidados especiais no momento da aula de Educação Física (89.9%)

e todos afirmam ser relevante o tema dessa pesquisa (100%) (TAB. 4).

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34

Tabela 4 – Opinião dos professores a respeito da pe squisa

Variáveis Categorias

n=119

n (%)

Crianças com diabetes necessitam de cuidados

especiais nas aulas de Educação Física Sim 107 (89.9)

Não 12 (10.1)

Acham o tema da pesquisa relevante Sim 119 (100)

Não 0 (0)

6.4 Capacidade dos professores em contactar o Servi ço Móvel de

Urgência

Verificou-se que o número do telefone do Serviço Móvel de Urgência (SAMU), uma

das entidades responsáveis por socorrer essas crianças com diabetes em caso de

urgência, não é bem conhecido pelos avaliados. Apesar de a maioria dos avaliados

ter acertado o número de contato, foi considerado elevada a porcentagem dos

voluntários que erraram ou deixaram em branco essa questão (26.1%) (TAB. 5).

Tabela 5 – Capacidade dos professores em contactar o Serviço Móvel de Urgência

Variáveis Categorias

n=119

n (%)

Sabe o telefone do SAMU* Sim 88 (73.9)

Não soube ou

deixou em branco 31 (26.1)

*SAMU (Serviço Móvel de Urgência)

6.5 Experiências das escolas com relação ao aluno c om diabetes

Entre os voluntários participantes do estudo, a maioria relatou não haver alunos com

diabetes na escola em que trabalham (45.4%), no entanto, uma parcela significativa

afirmou o contrário (28.6%), e outros não souberam. A maioria dos voluntários

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35

relatou que na escola em que trabalha não existem profissionais treinados para

atender aos alunos com diabetes, em caso de emergência (63.0%).

Quando relatada a existência de profissionais responsáveis pelas crianças com DM

em caso de emergência, observou-se que estes não são profissionais da área da

saúde. Na maioria dos casos, são agentes do Programa de Saúde na Escola (PSE)

(24.3) (TAB. 6).

Tabela 6 – Experiência das escolas com relação a al unos com diabetes

Variáveis Categorias n=119 n (%)

Alunos com diabetes na escola Sim 34 (28.6)

Não 54 (45.4)

Não souberam 31 (26.1)

Profissionais responsáveis pelas crianças com diabetes Sim 42 (35.3)

Não 73 (63.0)

Não responderam 4 (3.3)

Formação profissional dos responsáveis pelas crianças com diabetes nas escolas

Técnicos 3 (2.5)

Ensino Médio (Amigo da Escola) 2 (1.6)

Agentes do programa saúde na escola (PSE) 29 (24.3)

Não sabem da existência desse profissional ou não existe 73 (63.0)

Outras formações 2 (1.7)

Pedagogos 10 (8.4)

6.6 Distribuição de respostas para cada item do que stionário de nível

de conhecimento sobre diabetes

Na TAB. 7, observamos a distribuição das respostas para cada item do questionário

de nível de conhecimento sobre diabetes.

As questões de número 1 a 11 são passíveis de erros, diferentemente das questões

de 12 a 15, onde foi solicitada a opinião dos voluntários.

Nas questões de 1 a 11, o percentual de erros foi predominante, com índices acima

de 70%, em sua maioria.

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36

Algumas questões merecem destaque na TAB. 5, por se tratar de informações de

segurança imprescindíveis e não passíveis de erro, quando se aborda a prática de

exercícios por crianças com diabetes, nas aulas de Educação Física. As questões

citadas recebem destaque a seguir.

Na questão de número 3, 91.6% dos voluntários não souberam responder qual o

valor mínimo de glicemia para que o aluno com diabetes deva iniciar o exercício

físico.

Nas questões números 4,5, 6 e 7 respectivamente, a grande maioria dos voluntários

não souberam os valores de hipoglicemia, os sintomas característicos da mesma, o

que fazer para corrigir em caso de uma crise e qual tipo de alimento usar para

reverter esse tipo de situação. Essas informações são importantes na prevenção de

situações de risco durante o exercício, sendo primordial seu conhecimento por

responsáveis de crianças com diabetes no momento do exercício.

Na questão de número 8, percebeu-se a falta de conhecimento de primeiros

socorros na intenção de auxiliar em caso de uma crise hipoglicêmica grave. Esse

tipo de crise pode levar a coma e até mesmo a morte, tornando inaceitáveis 95.8%

de erros nessa questão.

Nas questões de 12 a 15, foi perguntado aos voluntários a opinião deles em alguns

aspectos e as respostas deveriam ser apenas “Sim” (favorável) ou “Não”

(desfavorável). Em 3 destas 4 perguntas, predominou a resposta “não”.

Devem-se destacar as opiniões dos voluntários nas questões de número 14 e 15,

onde foi relatado que 96.6% deles acreditam que sua formação profissional não é

suficiente para garantir a segurança de crianças com diabetes nas aulas de

Educação Física e 84.9% acreditam que a escola não está preparada para receber

estas crianças.

Esperava-se que 60% dos voluntários relatassem que, sua formação os habilitassem

a gerar segurança às crianças com diabetes nas aulas de educação física e que as

escolas estivessem preparadas a lidar com esse público.

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37

Tabela 7 – Distribuição de respostas para cada item do questio nário de nível de conhecimento sobre diabetes

Variáveis Categorias

n=119

n (%)

Questão 1 Errou 17 (14.3)

Questão 2 Errou 86 (72.3)

Questão 3 Errou 109 (91.6)

Questão 4 Errou 110 (92.4)

Questão 5 Errou 99 (83.2)

Questão 6 Errou 116 (97.5)

Questão 7 Errou 108 (90.8)

Questão 8 Errou 114 (95.8)

Questão 9 Errou 70 (58.8)

Questão 10 Errou 70 (58.8)

Questão 11 Errou 108 (90.8)

Questão 12 Não 115 (96.6)

Questão 13 Não 31 (26.1)

Questão 14 Não 117 (98.3)

Questão 15 Não 101 (84.9)

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38

6.7. Distribuição dos professores conforme a pontua ção dos

questionários

A mediana de acertos foi de 4 em 11 questões, o que corresponde a apenas 36.3%

do total de pontos possíveis. A maior parte dos voluntários (70) obteve entre 3 e 5

acertos, apenas 1 voluntário acertou todas as 11 questões e 5 erraram todas (TAB.

8).

Tabela 8 – Distribuição dos professores conforme a pontuação dos questionários

Variáveis

Número de acertos

n=11

Número de voluntários por

quantidade de acertos:

n=119

n (%)

Distribuição dos professores

por número de acertos 0

5 (4.2)

1

9 (7.6)

2

9 (7.6)

3

18 (15.1)

4

27 (22.7)

5

25 (21.0)

6

10 (8.4)

7

7 (5.9)

8

2 (1.7)

9

4 (3.4)

10

2 (1.7)

11

1 (0.8)

6.8. Distribuição dos acertos conforme as caracterí sticas dos

professores

Os acertos foram dicotomizados considerando a mediana da pontuação, ou seja, um

grupo com 50% das maiores notas (acima de 4 pontos) e outro abaixo. Percebemos

que nenhuma característica apresentou associação significativa com a pontuação

(TAB. 9).

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39

Tabela 9 – Distribuição dos acertos conforme as car acterísticas dos professores

Variáveis Categorias

Acertos

Abaixo

da

mediana

Acima

da

Mediana

n=68 n (%)

n=51

n (%)

P*

Gênero Masculino 2 (50.0)

2 (50.0)

0.99

Feminino 66 (57.4)

49 (42.6)

Faixa Etária 23 a 29 anos 5 (55.6)

4 (44.4)

0.65

30 a 39 anos 17 (58.6)

12 (41.4)

40 a 49 anos 16 (48.6)

17 (51.5)

50 anos ou

mais 30 (62.5)

18 (37.5)

Regional em

que trabalha Barreiro 6 (54.6)

5 (45.5)

0.32

Centro-Sul 11 (64.7)

6 (35.3)

Leste 6 (50.0)

6 (50.0)

Nordeste 4 (25.0)

9 (75.0)

Noroeste 10 (71.4)

4 (28.6)

Norte 5 (41.7)

7 (58.3)

Oeste 7 (63.6)

4 (36.4)

Pampulha 11 (68.8)

5 (31.3)

Venda Nova 8 (61.5)

5 (38.5)

Tempo de

Graduação

10 anos ou

menos 28 (63.6)

16 (36.4)

0.52

11 a 20 anos 17 (51.5)

16 (48.5)

30 anos ou

mais 23 (54.8)

19 (45.2)

Pós Graduação Sim 46 (52.9)

41 (47.1)

0.12

Não 22 (68.8)

10 (31.3)

Nível Formação Técnico 1 (100.0)

0 (00.0)

0.05

Superior

Completo 19 (67.9)

9

32.1

Pós Graduado

Lato Sensu 46 (57.5)

34

42.5

Pós Graduado

Strictu Sensu 2 (20.0)

8

80.0 Testes

*Teste estatístico Qui-quadrado

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40

6.9. Distribuição dos acertos de acordo com a exper iência dos

professores com diabetes

Nenhuma variável apresentou associação significativa com a pontuação do

questionário (TAB. 8).

Tabela 10 – Distribuição dos acertos de acordo com a experiência dos professores com diabetes

Variáveis Categorias

Acertos

Abaixo da

mediana

Acima da

Mediana

n=68 n (%)

n=51 n (%) P*

Já recebeu treinamento

em diabetes Sim 2 (66.7) 1 (33.3) 0.736

Não 66 (56.9) 50 (43.1)

Já teve aluno com

diabetes Sim 24 (53.3) 21 (46.7) 0.513

Não 44 (59.5) 30 (40.5)

Sente-se preparado

para atender crianças

com diabetes nas aulas

de Educação Física Sim 2 (100.0) 0 (00.0) 0.294

Não 66 (56.4) 51 (43.5)

Pessoas com Diabetes

necessitam de cuidados

especiais nas aulas de

Educação Física Sim 61 (57.0) 46 (43.0) 0.930

Não 7 (58.3) 5 (41.7)

*Teste estatístico Qui-quadrado

Nenhuma variável apresentou associação significativa com a pontuação do

questionário, mesmo entre aqueles avaliados que já atenderam crianças com

diabetes ao longo dos anos de sua profissão (tabela 11)

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41

Tabela 11 – Distribuição dos acertos de acordo com a experiência dos

professores que já atenderam crianças com diabetes

Variáveis Categorias

Acertos

Abaixo

da

mediana

Acima

da

Mediana

n=24 n (%)

n=21

n (%)

P*

Faixa Etária dos alunos com

diabetes que atenderam

Menores 6

anos 0 (00.0)

1 (100.0)

0.100

Entre 6 e 9

anos 22 (61.1)

14 (38.9)

**Maiores 9

anos 2 (25.0)

6 (75.0)

Quantos alunos diabetes já

atenderam 1 9 (40.9)

13 (59.1)

0.260

2 8 (57.1)

6 (42.9)

3 ou mais 7 (77.8)

2 (22.2)

Auxilio tratamento

Regular 8 (40.0)

12 (60.0)

Bom 14 (66.7)

7 (33.3)

0.144

Ótimo 1 (33.3)

2 (66.7)

*Teste estatístico Qui-quadrado

6.10. Distribuição dos acertos de acordo com a expe riência das

escolas com alunos com diabetes

Não se observou diferença significativa em relação aos acertos, quando comparadas

às escolas que possuem crianças com diabetes com as que não possuem, ou entre

as escolas que possuem um profissional responsável por essas crianças com

diabetes. A formação profissional dos responsáveis pelas crianças com diabetes nas

escolas também não foi significativo nos acertos das questões (TAB. 12).

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42

Tabela 12 – Distribuição dos acertos com relação a experiência das escolas

com alunos com diabetes

Variáveis Categorias

Acertos

Abaixo

da

mediana

Acima

da

Mediana

n=69 n (%)

n= 50

n (%)

P*

Profissionais

responsáveis pelas

crianças com

diabetes na escola Sim 26 (60.4) 17 (39.5) 0,712

Não 43 (56.5) 33 (44.4)

Formação

profissional

responsável pela

criança com diabetes Professor 0 (00.0) 2 (100.0) 0,105

Técnico 3 (100.0) 0 (00.0)

Ensino Médio

(Amigo da

Escola) 1 (25.0) 3 (75.0)

Pedagogos 18 (66.7) 9 (33.3)

Agente pse** 47 (56.6) 36 (43.3)

*Teste estatístico Qui-quadrado

**Agente do programa saúde na escola

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43

7 DISCUSSÃO

A diabetes é uma das doenças crônicas mais comuns da infância, a maior parte das

crianças com essa patologia frequentam escolas ou algum tipo de creche e

necessitam de uma equipe capacitada para fornecer um ambiente educacional

seguro. Este estudo demonstrou que os professores das escolas públicas municipais

de Belo Horizonte não possuem conhecimento suficiente sobre diabetes para

garantir segurança a essas crianças durante as aulas de Educação Física.

Essa realidade pode ser observada nos estudos de Mandali e Gordon (2009) e

Aycan (2012), onde foi relatado baixa qualificação dos profissionais das escolas em

cuidar de crianças com diabetes (6,23).

De acordo com The Diabetes Educator (2000), é de responsabilidade das escolas

fornecerem informações básicas sobre diabetes, incluindo conhecimentos sobre

hipoglicemia e hiperglicemia a todos seus profissionais e professores, oferecendo às

crianças com diabetes segurança no dia-a-dia, bem estar em longo prazo e melhor

desempenho escolar (24).

No Brasil, foi publicado no Diário Oficial de 25 de março de 2011 o Projeto de Lei Nº

183/2011 , DE 2011, artigo 2o, que decretou (25):

O estabelecimento de ensino, creche ou similar, deverá

capacitar seu corpo docente e equipe de apoio para

acolher e prestar a assistência que as crianças e os

adolescentes com diabetes necessitam.

Observou-se nos resultados, que as aulas de Educação Física para crianças entre

seis e nove anos de idade são ministradas pelos professores regentes e não por

professores de Educação Física, o que pode ter contribuído para o grande número

de erros no questionário de avaliação do nível de conhecimento em diabetes, estes

dados demonstraram também que as escolas não investem na capacitação de seus

profissionais em diabetes.

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44

Resultados semelhantes foram encontrados no estudo de Aycan (2012). Este estudo

relatou que, devido ao baixo nível de conhecimento sobre diabetes dos profissionais

nas escolas, a Turquia adotou a estratégia de aproximação da Sociedade de

Endocrinologia Pediátrica e dos Ministérios da Saúde e da Educação para

desenvolver projetos que visassem aumentar a conscientização sobre a diabetes

nas escolas (23).

Ficou claro nos resultados deste estudo, a ausência de profissionais responsáveis

pelas crianças com diabetes nas escolas públicas municipais de Belo Horizonte.

Quando esse profissional existe, ele não possui formação na área da saúde, ficando

a cargo muitas vezes de agentes do programa saúde na escola (PSE), pedagogos e

diretores.

O programa de saúde na escola (PSE) tem como objetivo:

Contribuir para a formação integral dos estudantes por meio de

ações de promoção, prevenção e atenção à saúde, com vistas

ao enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o

pleno desenvolvimento de crianças e jovens da rede pública de

ensino. (26)

O PSE foi constituído por cinco componentes (26):

• Avaliação das condições de saúde das crianças, adolescentes e jovens que

estão nas escolas públicas

• Promoção da saúde e de atividades de prevenção

• Educação permanente e capacitação dos profissionais da educação, da

saúde e de jovens

• Monitoramento e avaliação da saúde dos estudantes

• Monitoramento e avaliação do programa

Apesar de ser um programa organizado e que visa, entre outros, a educação

permanente e a capacitação dos profissionais da educação, não foi possível

observar um maior número de acertos nas escolas que possuem algum profissional

responsável pelas crianças com diabetes, nem mesmo quando estes são agentes do

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45

programa de saúde na escola.

Os resultados do estudo de Lange e Jackson foram similares ao desta pesquisa,

onde se relatou que a maioria dos países não possui enfermeiros ou outros

profissionais da área da saúde nas escolas e que, grande parte delas, não possui

responsáveis pelas crianças com diabetes (2). A desinformação dos profissionais das

escolas sobre diabetes faz com que, em muitos países, os pais se responsabilizem

em cuidar destas crianças durante o período escolar (6,23).

Percebe-se nos resultados que os avaliados demonstraram bom entendimento da

necessidade de exigir um atestado médico do aluno com diabetes, quando esse o

avisa no início do ano letivo ter a doença. No entanto, não se sabe ao certo se

apenas com essa atitude, é possível formar um elo efetivo entre médico e professor.

Mandali e Gordon (2009) acreditam que a comunicação frequente entre médicos,

pais, alunos e professores seja peça fundamental para manter o aluno com diabetes

em segurança na escola (6).

Quando avaliado o nível de informações dos voluntários a respeito da hipoglicemia,

percebeu-se grande falta de conhecimento no assunto.

Informações como valor de referência de hipoglicemia, questões de seguranças para

evitá-las, procedimento de correção e atuação frente às crises obtiveram um grande

número de erros.

Resultados divergentes foram encontrados no estudo de Aycan (2012), onde 94%

dos voluntários tinham informações precisas a respeito do valor de hipoglicemia,

seus sintomas e quais os cuidados necessários para evitá-la (23).

No entanto, nas escolas públicas municipais de Belo Horizonte, a maioria dos

professores avaliados desconhecia o valor de hipoglicemia, o que pode contribuir

para o não tratamento correto do episódio.

As diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2013-2014) e a ADA (2013) são

bem claras a respeito dos cuidados necessários para a prática segura do exercício

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46

físico para os alunos com DM1 ou 2 insulinizados. Sugere-se o monitoramento da

glicemia antes, durante (se o exercício for superior a 60 minutos) e após, com

disponibilidade de fontes de carboidratos de rápida absorção (2). É preocupante

imaginar que crianças entre 6 e 9 anos não podem contar com esse tipo de auxílio

do professor responsável pela aula de Educação Física.

Percebeu-se no presente estudo também que os avaliados, em sua maioria, são

incapazes de perceber sinais ou sintomas de hipoglicemia em seus alunos, o que os

impedem de se antecipar a uma crise e auxiliá-lo na correção antes que se agrave (14).

Hantun (2012) ressalta a necessidade dos professores possuírem informações sobre

os sinais e sintomas de hipoglicemia, e também, a importância de se anteciparem às

crises ao menos para minimizar as suas consequências (27).

Ficou claro com os resultados que os professores avaliados não possuem

informação suficiente para orientar a correção de uma hipoglicemia, mesmo que

leve, pois não conhecem o procedimento de correção e nem sequer qual tipo de

alimento sugerir para a correção da crise. Foi sugerido por grande parte deles

alimentos diet, sendo que esse tipo não possui açúcar e, portanto, torna-se ineficaz

para correção de hipoglicemia.

Em relação à hipoglicemia grave, arguiu-se a respeito de qual deve ser a primeira

atitude a ser tomada em caso de uma crise de hipoglicemia grave e em caso de um

episódio pela manhã, se o aluno deveria participar da aula de Educação Física

normalmente.

Na ausência de glucagon orienta-se que inicialmente, o socorrista, massageie

açúcar ou mel na parte interna da boca para após esse procedimento entrar em

contato telefônico com o serviço móvel de urgência. Esse procedimento inicial pode

ser crucial em caso de demora na chegada da ambulância de socorro, no entanto,

percebemos que essa não é uma informação conhecida pelos avaliados.

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47

A grande maioria errou, muitos responderam que o procedimento correto seria entrar

em contato com o SAMU. Outros ainda escolheram a questão onde se sugere dar

líquidos açucarados na boca da criança em hipoglicemia grave. As diretrizes

brasileiras e americanas são pontuais na informação de nunca introduzir líquidos na

boca de um paciente em hipoglicemia grave, pelo risco de asfixia (1,2).

Clarke et al, (2009) orientam em seu estudo a administração do açúcar ou mel na

parte interna da bochecha (15), apesar de haver controvérsias a respeito do assunto.

Alguns pesquisadores questionam a absorção da glicose pela mucosa bucal e

consideram esse procedimento anedótico (28).

Quando arguidos sobre a prática de exercícios após uma crise hipoglicêmica grave

anterior, parte dos avaliados demonstraram conhecimento em contraindicar a aula

de Educação Física. Dos avaliados, 41.2% contraindicariam a aula e 58.8% não

contraindicariam e essa criança estaria susceptível à outra crise de mesma

intensidade. Esse tipo de erro é considerado grave, pois pode acarretar

consequências drásticas (16).

Percebeu-se nas questões relacionadas aos sinais da hiperglicemia e à permissão

da prática de exercício nesta situação que os professores avaliados não são

capazes de identificar os sinais e sintomas em seus alunos, não a levando em

consideração para contraindicar as atividades, dando as orientações adequadas

para correção do episódio.

É consenso na literatura que o estado hiperglicêmico isolado, sem presença de

corpos cetônicos não seria contraindicação para o exercício físico e

consequentemente para a prática da aula de Educação Física (2). No entanto, não

são oferecidas pelo governo ferramentas aos pacientes e às escolas, que permitam

a mensuração de corpos cetônicos no sangue ou na urina. Devido a isso, torna-se

necessário contraindicar a participação das crianças nas aulas de Educação Física

quando estiverem com a glicemia acima de 250mg/dl.

A falta de oportunidade de se medir a presença de corpos cetônicos nesses casos,

não permite que possamos excluir a hipótese de um possível estado de cetoacidose.

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48

É importante ressaltar que esse é um quadro de alta prevalência na fase da infância,

sendo inclusive a causa mais comum de morte em crianças com diabetes (2). A

maioria dos avaliados descartou a hipótese de contraindicar a aula de Educação

Física, no entanto, caso as mesmas estivessem com corpos cetônicos positivos,

estariam em risco de desidratação e poderiam agravar seu estado de saúde. Além

disso, quando arguidos sobre a capacidade de auxiliarem na monitoração glicêmica

e na aplicação de insulina, caso necessário, a maior parte dos avaliados afirmam

não conhecer as técnicas e, portanto seriam incapazes de auxiliar o aluno.

Muitos dos avaliados não sabem o número de contato do SAMU, por mais que

pareça fácil contatá-lo, era desconhecido por grande parte dos avaliados.

Praticamente a metade dos avaliados erraram ou deixaram em branco essa

questão, índice de erro considerado alto, em se tratando de um número de

emergência.

O alto índice de erros nas questões pode ser justificado pelo fato da maior parte dos

avaliados nunca ter tido nenhum treinamento em diabetes. Essa informação somada

aos demais resultados discutidos, demonstram a necessidade de se iniciar

urgentemente treinamentos nas escolas.

Ao final do questionário, perguntamos se o professor considera que a formação dele

é suficiente para acompanhar crianças com diabetes nas aulas de Educação Física

com segurança e se a escola estava preparada para recebê-las. A grande maioria

dos avaliados afirmou que sua formação não os capacita para lidar com crianças

com diabetes e que a escola também não está preparada para tal. Essa realidade é

descrita em outros trabalhos, em que mostram que os pais e as crianças não se

sentem seguros no ambiente escolar, justamente devido à falta de preparo das

escolas (4,6).

Apesar do grande percentual de erros na maior parte das questões, pode-se

observar que os avaliados estão abertos ao tema: 100% deles relataram que acham

o tema da pesquisa relevante. Acreditamos que esse possa ser um ponto chave na

aproximação dos centros de tratamento da diabetes com as escolas.

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49

A partir das discussões acima, percebe-se a necessidade de se investir na educação

em diabetes nas escolas de Belo Horizonte, convencendo-as de que essa forma de

educação não deve mais ser considerada “opcional”, principalmente para as escolas

que possuem crianças com esta patologia (29).

Aycan sugere em seu estudo que o treinamento de professores e a inclusão de

profissionais especializados em educação em diabetes nas escolas, são essenciais

para o bom controle destas crianças (23).

Acredita-se que a necessidade de redução da amostra devido a falta de

receptividade das escolas seja uma limitação desta pesquisa.

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50

8 CONCLUSÃO

Conclui-se que os professores regentes da rede pública municipal de Belo Horizonte

não possuem conhecimento mínimo para auxiliar e garantir a segurança das

crianças com diabetes durante as aulas de Educação Física e, que as escolas,

também não estão preparadas para lidar com esse público.

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9 ATIVIDADES EDUCACIONAIS RESULTANTES DESTA PESQUIS A

De acordo com os resultados apresentados, ficou clara a necessidade do

desenvolvimento de estratégias educacionais que possam ajudar a modificar a

realidade das crianças com diabetes nas escolas.

9.1 Estratégias criadas em 2014:

• Página em redes social que abordam o tema diabetes na escola:

www.facebook.com/groups/diabetesnasescolas/events/

• Fórum para pais, professores e funcionários das escolas sobre o tema;

Participação dos médicos Dra. Janice Sepulveda Reis, Rafael Mantovani e

Cristiano Túlio Albuquerque, da professora de Educação Física Patrícia Luzia,

da representante da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar Ana

Carolina Barcellos e da representante da Secretaria Municipal de Educação

Ana Claudia Figueiredo.

Figura 4 – Mesa redonda com os palestrantes e repre sentantes do

1o Fórum Diabetes Nas Escolas

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Figura 5 – Público 1 0. Fórum Diabetes Nas Escolas.

9.2 Estratégias previstas:

• Centro de referência diabetes nas escolas (previsão para Agosto de 2014)

• Cartilhas educativas com informações sobre sinais e sintomas de

hipoglicemia e hiperglicemia e sobre a importância do bom controle da

diabetes na escola

• Manuais de orientação para o professor, com o passo a passo de como

atender e orientar as crianças nas aulas de Educação Física

Acredita-se que as estratégias sugeridas acima possam auxiliar na melhoria da

realidade atual e nas perspectivas dos educadores em diabetes.

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REFERÊNCIAS

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Responsibility? The Journal of School Health. 2009;79(12):599-601.

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school: perceptions from parents, children, and teachers. Pediatric Diabetes. 2009;10:67–73.

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Ibrasa, 1989.

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22. Triola MF. Introdução a estatística. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC.

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Teachers within the Scope of the Managing Diabetes at School Program. Journal of Clinical Research in Pediatric Endocrinology. 2012;4(4):199-203.

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26. Brasil, ME. Programa Saúde nas Escolas [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde [citado em 07 set.] Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=14578%3Aprograma-saude-nas-escolas&Itemid=817>

27. Hantun S. Diabetes Program at Schools in Turkey. Journal of Clinical

Research in Pediatric Endocrinology. 2012;4(2):114-115.

28. Gunning R, Garber A. Bioactivity of instant glucose. Failure of absorption through oral mucosa. Jama. 1978;240:1611–2.

29. American Diabetes Association. Diabetes care in the school and day care setting. 2012 Jan;35(Supp.1).

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APÊNDICES

APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARE CIDO

Projeto: Avaliação do nível de conhecimento dos pro fessores do primeiro ciclo

do ensino fundamental frente à atuação com crianças com diabetes nas aulas

de Educação Física em escolas públicas municipais d e Belo Horizonte.

Eu, voluntariamente, concordo em participar desta pesquisa, realizada pelo Curso de

Mestrado em Educação em Diabetes do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa

Casa de Misericórdia de Belo Horizonte – SCM, que visa investigar o nível de

informação dos professores do primeiro ciclo do ensino fundamental frente à

atuação com crianças com diabetes nas escolas públicas municipais de Belo

Horizonte.

Li e compreendi todos os procedimentos que envolvem esta pesquisa, bem como os

benefícios e/ou possíveis riscos. Sei que posso me recusar a participar deste estudo

ou que posso abandoná-lo a qualquer momento, sem precisar me justificar e sem

qualquer constrangimento.

Será garantido o anonimato quanto à minha participação e os dados obtidos serão

utilizados exclusivamente para fins de pesquisa pelo Instituto de Ensino e Pesquisa

da Santa casa de Misericórdia de Belo Horizonte.

Sei que não está previsto qualquer forma de remuneração e que todas as despesas

relacionadas com o estudo são de responsabilidade do Instituto de Ensino e

Pesquisa da Santa casa de Misericórdia de Belo Horizonte.

Esclareci todas as dúvidas e se, durante o andamento da pesquisa, novas dúvidas

surgirem, tenho total liberdade para esclarecê-las com o pesquisador principal

William Valadares Campos Pereira, que poderá ser encontrado no Instituto de

Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, na Rua.

Domingos Vieira 590, telefone (31) 8812-9851. Caso haja alguma dúvida sobre a

ética da pesquisa, poderei consultar o Comitê de Ética em Pesquisa no mesmo

endereço.

Compreendo também que os pesquisadores podem decidir sobre a minha exclusão

do estudo por razões científicas, sobre as quais serei devidamente informado.

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Belo Horizonte____/____ / 20____.

Assinatura do voluntário: _______________________________________________

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APÊNDICE B – CARTA DE APRESENTAÇÃO

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APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO DE PERFIL DO VOLUNTÁRIO

Data da Entrevista: _____/_____/_____

Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino Data de nascimento: _____/_____/_____

Aceita assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido? ( ) Sim ( ) Não

Regional onde se localiza a escola em que trabalha: _________________________

Graduado em: _______________________________________________________

Instituição onde se graduou: ____________________________________________

Ano de Graduação: __________________ Tempo de Graduado:________________

Grau de formação: ( ) Médio ( ) Técnico ( ) Superior incompleto ( ) Superior

completo Pós-graduado: ( ) Lato sensu ( ) Stricto Sensu

Se sim, qual o tema da pós-graduação: ____________________________________

Já recebeu treinamento em diabetes? ( ) Sim ( ) Não

Já atendeu algum aluno com diabetes? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, quantos aproximadamente? ______________________________________

Se sim, qual a faixa etária dele(s): ( ) Menor(es) de 6 anos ( ) entre 6 e 9 anos

( ) Acima de 9 anos

Se sim, avalie sua utilidade para servir esse(s) aluno(s) e auxiliá-lo(s) a gerir seu

tratamento durante as aulas: ( ) Regular ( ) Bom ( ) Ótimo

Sente-se preparado para atender alunos com diabetes na escola? ( ) Sim ( ) Não

Existe Algum profissional responsável por auxiliar e/ou orientar crianças com

Diabetes na sua escola: ( ) Sim ( ) Não

Se sim, qual a formação deste profissional? ________________________________

Existem alunos com diabetes em sua escola? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, eles fazem aula de recreação, esportes, jogos de correr, etc?( ) Sim ( ) Não

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Caso a resposta anterior for “não”, qual o motivo? ( ) Não sei ( ) Não gosta

( ) Medo, por causa da diabetes ( ) Outros ________________________________

Você acredita que crianças com diabetes necessitam de cuidados especiais durante

as aulas de recreação, esportes, jogos de correr, etc.? ( ) Sim ( ) Não

Você acha esse tema relevante? ( ) Sim ( ) Não

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APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO

O questionário que você irá responder faz parte de um projeto de mestrado e visa

levantar dados sobre a participação de alunos portadores de diabetes nas aulas de

Educação Física escolar. Esperamos desta maneira, diagnosticar o nível de

informações e propor contribuições para a prática segura do profissional frente às

crianças com diabetes nas escolas públicas municipais de Belo Horizonte.

Questionário de Avaliação

Para o preenchimento do questionário, marque um “X” com caneta na opção

desejada. Em caso de erro, marque um círculo “O” em volta da letra que deve ser

considerada.

Questões:

1- No início do ano letivo um aluno relata que possui DIABETES. Em sua

opinião, qual postura deve ser adotada pelo professor?

a. Ignorar o fato e permitir a presença do aluno nas aulas de Educação

Física.

b. Desestimular a prática da aula de Educação Física no ano letivo.

c. Pedir atestado de um médico responsável autorizando a prática esportiva

e permitir sua participação nas aulas de Educação Física, tomando as

devidas precauções.

d. Propor atividades alternativas com baixa demanda energética para

substituir as aulas de Educação Física (ex. jogos com cartas, pintura,

xadrez, etc).

e. Não sei.

2- São cuidados necessários para a prática esportiva de forma segura na

pessoa com diabetes:

a. Possuir fonte de carboidratos no bolso.

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b. Ter glicosimetro (medidor de glicose) e medir a glicemia antes, durante e

depois do exercício.

c. Utilização obrigatória de tênis e meias adequadas para a prática de

esportes.

d. Todas estão corretas.

e. Não sei.

3- O aluno com diabetes tipo 1 deve preferencialmente iniciar o exercício com

glicemia acima de:

a. 100 mg/dl.

b. 90 mg/dl.

c. 80 mg/dl.

d. 70 mg/dl.

e. Não sei.

4- É considerado valor de referência para hipoglicemia (glicemia baixa) no

tratamento da DIABETES:

a. Glicemia menor que 100 mg/dl.

b. Glicemia menor que 80 mg/dl.

c. Glicemia menor que 70 mg/dl.

d. Glicemia menor que 50 mg/dl.

e. Não sei.

5- São sinais e sintomas de hipoglicemia que o aluno com DIABETES pode

apresentar durante a aula de Educação Física:

a. Sensação de suor frio e sonolência, tremores, confusão mental.

b. Palpitações e visão borrada, fraqueza excessiva, perda de consciência.

c. Agitação, agressividade, choro incontrolável.

d. Todas estão corretas.

e. Não sei.

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6- Seu aluno identificou uma crise hipoglicemica LEVE durante a aula de

Educação Física. O procedimento correto de correção da glicemia que

devemos orientá-lo a fazer é:

a. Ingerir 30g de carboidratos, parar o exercício e medir glicemia após 15

minutos.

b. Ingerir 20g de carboidratos, parar o exercício e medir glicemia após 15

minutos.

c. Ingerir 15g de carboidratos, parar o exercício e medir glicemia após 15

minutos.

d. Ingerir 05g de carboidratos, parar o exercício e medir glicemia após 15

minutos.

e. Não sei.

7- São porções de carboidratos indicadas para o tratamento mais efetivo da

hipoglicemia, EXCETO:

a. 01 colher de sopa rasa de açúcar diluída em 01 copo com água.

b. 03 balas moles.

c. 01 copo de 200 ml de suco de laranja.

d. 01 copo de 200 ml de refrigerante diet.

e. Não sei.

8- Durante uma crise de hipoglicemia GRAVE (inconsciência ou crise

convulsiva) a PRIMEIRA atitude a ser tomada pelo professor deve ser:

a. Colocar bebidas açucaradas na boca do aluno.

b. Ligar para o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

c. Massagear mel ou açúcar na mucosa bucal.

d. Esperar o aluno acordar naturalmente.

e. Não sei.

9- O aluno relata que pela manhã teve uma crise hipoglicemica GRAVE e

chegou inclusive a ficar inconsciente. Neste caso, o professor deve:

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a. Incentivar a participação do aluno apenas em exercícios aeróbicos na aula

de Educação Física.

b. Incentivar a participação do aluno apenas em exercícios anaeróbicos na

aula de Educação Física.

c. Incentivar a participação do aluno normalmente durante a aula de

Educação Física.

d. Contraindicar a participação do aluno na aula de Educação Física.

e. Não sei.

10- São sintomas clássicos de hiperglicemia (glicose alta):

a. Dificuldade em respirar e tosse.

b. Dor no corpo e febre.

c. Urinar em excesso e sede em excesso.

d. Dor nas articulações e nos músculos.

e. Não sei.

11- A orientação correta para o aluno com glicemia ACIMA de 250 mg/dl

imediatamente antes da aula de Educação Física é:

a. Estimular o aluno a participar da aula de Educação Física normalmente.

b. Suspender a aula de Educação Física e orientar a correção da glicemia.

c. Estimular a prática de exercícios físicos mais intensos, para acelerar a

redução da glicemia.

d. Solicitar à família que busque o aluno na escola.

e. Não sei.

12- Seu aluno, considerado incapaz de realizar medidas de glicemia capilar e

aplicações de insulina pela idade, precisa aplicar insulina antes da aula da

Educação Física. Você domina a técnica de monitorização e aplicação de

insulina e se sente apto a realizar esta tarefa com segurança?

a. Sim

b. Não

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13- Em caso de urgência pela hipoglicemia (glicose baixa), o Serviço Móvel de

Urgência (SAMU) deve ser acionado. Você sabe como contactá-lo?

a. Sim

b. Não

Se sim, qual o número de telefone do SAMU? __________

14- Sobre as necessidades de um aluno com diabetes dentro da escola, você

considera que a sua formação foi suficiente para que possa acompanhar o

aluno com diabetes nas aulas de Educação Física com segurança?

a. Sim

b. Não

15- Sobre as necessidades de um aluno com diabetes dentro da escola, você

considera que esta escola está preparada para receber um aluno com

diabetes? (Leve em consideração para a resposta o conhecimento dos outros

professores sobre o assunto, a existência de funcionários habilitados para

ajudar o aluno nos itens referentes ao tratamento, etc).

a. Sim

b. Não

Obrigado pela sua participação!

Instituto de Ensino e Pesquisa (SCM-BH)

Mestrado Profissional em Educação em Diabetes

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ANEXOS

ANEXO A – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA ( CEP) DO

INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA DA SANTA CASA

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ANEXO B – CARTA DE AUTORIZAÇÃO DA SECRETARIA MUNICI PAL DE

EDUCAÇÃO

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ANEXO C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECID O

Termo de consentimento livr e e esclarecido Projeto: Avaliação do nível de conhecimento dos pro fessores do ensin o

fundamental frente à atuação com diabéticos nas aul as de recreação em

escolas municipais de Belo Horizonte.

Eu, voluntariamente, concordo em participar desta pesquisa, realizada pelo Curso de

Mestrado em Educação em Diabetes do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa

Casa de Misericórdia de Belo Horizonte – SCM, que visa investigar o nível de

informação dos professores do ensino fundamental frente à atuação com diabéticos

nas escolas municipais de Belo Horizonte.

Li e compreendi todos os procedimentos que envolvem esta pesquisa, bem como os

benefícios e/ou possíveis riscos. Sei que posso me recusar a participar deste estudo

ou que posso abandoná-lo a qualquer momento, sem precisar me justificar e sem

qualquer constrangimento.

Será garantido o anonimato quanto à minha participação e os dados obtidos serão

utilizados exclusivamente para fins de pesquisa pelo Instituto de Ensino e Pesquisa

da Santa casa de Misericórdia de Belo Horizonte.

Sei que não está previsto qualquer forma de remuneração e que todas as despesas

relacionadas com o estudo são de responsabilidade do Instituto de Ensino e

Pesquisa da Santa casa de Misericórdia de Belo Horizonte.

Esclareci todas as dúvidas e se, durante o andamento da pesquisa, novas dúvidas

surgirem, tenho total liberdade para esclarecê-las com o pesquisador principal

William Valadares Campos Pereira, que poderá ser encontrado no Instituto de

Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, na Rua.

Domingos Vieira 590, telefone (31) 8812-9851. Caso haja alguma dúvida sobre a

ética da pesquisa, poderei consultar o Comitê de Ética em Pesquisa no mesmo

endereço.

Compreendo também que os pesquisadores podem decidir sobre a minha exclusão

do estudo por razões científicas, sobre as quais serei devidamente informado.

Belo Horizonte____/____ / 20____.

Assinatura do voluntário: _______________________________________________