01365847parecerjudiciario_antenassaopaulo

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PODER JUDICIÁRIO TRIBUN L  DE  JUSTIÇ DE SÃO  P ULO ASV^-  D E J U S T  Ç A  D E  S ÃO  PAULO ACORDAO/DECISÃO MONOCRATICA , «A «~?~  REGISTRADO A)  S OB   CÓRDÃO  iiiii ti Vistos,  relatados  e  discutidos estes autos  de APELAÇÃO CÍVEL  CO M  REVISÃO   621.509-5/0-00,  d a  Comarca  de CERQUEIRA CÉSAR,  m que é  apelante  TIM  CELULAR  S A  sendo apelado MINISTÉRIO PÚBLICO: ACORDAM em  Primeira Câmara  de  Direito Público  do Tribunal  de  Justiça  do  Estado  de São  Paulo, proferir  a seguinte decisão: NEGARAM PROVIMENTO  AO  RECURSO, V. U. , de conformidade com o  voto  do  Relator,  qu e  integra este acórdão. O julgamento teve  a  participação  dos Desembargadores DANILO PANIZZA {Presidente,  se m  voto), FRANKLIN NOGUEIRA  e  REGINA CAPISTRANO. São Paulo, 31 de  julho  de  2007. RENATO NALINI Relator

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  • PODER J U D I C I R I O TRIBUNAL DE J U S T I A DE SO PAULO

    A S V ^ - D E J U S T ' A DE SO PAULO ACORDAO/DECISO MONOCRATICA

    , A ~ ? ~ REGISTRADO(A) SOB N ACRDO I I I I I I I I I I I I iiiii ti

    Vistos, relatados e discutidos estes autos de

    APELAO CVEL COM REVISO n 621.509-5/0-00, da Comarca de

    CERQUEIRA CSAR, em que apelante TIM CELULAR S A sendo

    apelado MINISTRIO PBLICO:

    ACORDAM, em Primeira Cmara de Direito Pblico do

    Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, proferir a

    seguinte deciso: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, V. U.", de

    conformidade com o voto do Relator, que integra este acrdo.

    O julgamento teve a participao dos

    Desembargadores DANILO PANIZZA {Presidente, sem voto),

    FRANKLIN NOGUEIRA e REGINA CAPISTRANO.

    So Paulo, 31 de julho de 2007.

    RENATO NALINI Relator

  • P O D E R J U D I C I R I O TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO

    VOTON 13 .155 A P E L A O C V E L N 621 .509 .5 /0 -00 - C E R Q U E I R A CSAR Apelante: TIM CELULAR S/A

    Apelado: MINISTRIO PBLICO

    AO CIVIL PBLICA INSTALAO DAS ANTENAS DE ESTAES DE RDIO-BASE LEI ESTADUAL 10 .995 /2001 INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI -DESCABIMENTO - PRESUNO DE LEGALIDADE E COMPATIBILIDADE COM O ORDENAMENTO DE NORMA PRODUZIDA DE ACORDO COM O PROCESSO LEGISLATIVO - APELO DESPROVIDO

    PRINCPIO DA PRECAUO -ALEGADO DESCABIMENTO DE SUA INVOCAO EM TEMA DE TELECOMUNICAO - AFIRMAO TEMERRIA, DIANTE DOS EFEITOS DA RADIAO PRODUZIDOS PELA TELEFONIA CELULAR - PRINCPIO QUE PERMEIA TODA A ATUAO JURISDICIONAL DE URGNCIA, DIANTE DA COMPLEXIDADE DAS MATRIAS QUE DEMANDAM INTERVENO DO JUDICIRIO -APELO DESPROVIDO

    APELAO CVEL N 621 509 5 /0-00 - CERQUEIRA CSAR - VOTO 13 155

  • P O D E R J U D I C I R I O TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO

    DIREITO AMBIENTAL INCIDNCIA TRANSVERSAL EM TODOS OS RAMOS DO DIREITO, ANTE OS ABUSOS COMETIDOS CONTRA A NATUREZA E CONTRA O MEIO AMBIENTE URBANO, SOCIAL E CULTURAL. PRINCPIO DA PRECAUO QUE DEVE ORIENTAR A PRUDNCIA DO JUZO AO DECIDIR QUESTES EMERGENCIAIS, MORMENTE NO MBITO DAS AES CIVIS PBLICAS - APELO DESPROVIDO

    Vistos etc. A sentena de fls. 7 8 6 / 7 9 4 deu provimento

    ao civil pblica ajuizada pelo MINISTRIO PBLICO em face de TIM CELULAR S/A, determinando a remoo de torre de telefonia celular pa ra local que a tenda s dis tncias mnimas de sus ten tao estabelecidas nos termos da Lei es tadual n 1 0 . 9 9 5 / 0 1 , no prazo mximo de 120 dias, findos os quais incidir mul ta diria de 50 salrios-mnimos pelo descumprimento.

    Apela a r a sus tentar , n a s razes de fls. 7 9 7 / 8 1 5 , que no se verifica irregularidade n a const ruo da torre, u m a vez que, da Municipalidade de Cerqueira Csar, obteve autorizao e licena pa ra funcionamento, respectivamente, pela Prefeitura e pela Secretaria Municipal de Sade. Da Agncia Nacional de Telecomunicaes - Anatel igualmente obteve mencionada licena, no mbito de s u a atribuio.

    Sus tenta , ainda, a inconsti tucionalidade e a "falta de embasamento tcnico" da Lei es tadual n 1 0 . 9 9 5 / 0 1 , a qual, observa, es t sub judice no Supremo Tribunal Federal. Nessa esteira, alega que a Resoluo n 3 0 3 / 0 2 , da Anatel, posterior a tal lei, tendo-a revogado.

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    Alega que a instalao da estao de rdio-base (ERB) no acarreta danos sade da populao, nem ao meio ambiente, aduzindo, ainda, que no h controvrsia cientfica sobre os efeitos da radiao no-ionizante na sade humana.

    Defende, por fim, que o Estado, ao legislar sobre o tema, invade competncia especfica da Unio, mesmo em se tratando de norma geral.

    Em contra-razes - fls. 822/836 - o Ministrio Pblico pugnou pela manuteno da sentena, alegando que as licenas em questo no permitiam a instalao, que as normas federais obrigam a observncia das posturas estaduais, bem como a constitucionalidade da Lei estadual n 10.995/01, a preservao da sade e a aplicao do princpio da precauo.

    O parecer ministerial de 2o Grau - fls. 843/849 - pelo desprovimento do recurso.

    uma sntese do necessrio. Em meados de maio de 2004, a r construiu

    estao de rdio-base (ERB), com cerca de sessenta metros de altura, em Cerqueira Csar. Prximo a tal edificao achavam-se uma escola estadual, o frum, e uma unidade da Apae.

    O empreendimento de tal espcie, alm de no se prestar para a rea, marcadamente residencial, desobedecia frontalmente as determinaes da Lei estadual n 10.995/01, que, em seu art. 5o, determina a distncia mnima de quinze metros entre a base de sustentao da antena transmissora e as divisas do local onde se encontra instalada.

    A irresignao apresentada, no obstante a alentada documentao produzida, cinge-se, sinteticamente, quanto inconstitucionalidade da Lei estadual n 10.995/01, a diviso de competncias entre o Estado, o Municpio e a Unio, e, finalmente, a violao do bem-estar da populao, o que se passa a apreciar.

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    I - Da inconstitucionalidade da Lei Estadual n 10 .995/01

    No que pertine inconstitucionalidade, incabvel tal invocao, uma vez que a Lei Estadual n 10.995/01 ostenta a presuno de legalidade e de compatibilidade com o ordenamento fundamental, de todas as normas adequadamente produzidas mediante o processo legislativo. A questo eminentemente ambiental e, pela tutela do maltratado meio ambiente ptrio, so igualmente competentes todas as pessoas jurdicas de direito pblico interno e, mais ainda, toda a sociedade. Afinal, o que est em jogo a prpria possibilidade de sobrevivncia da humanidade. O constituinte de 1988 criou um sujeito futuro como destinatrio dessa normatividade nova e quase sempre urgente.

    Nesse sentido, evoca-se deciso da lavra do Desembargador Alberto Zvirblis, desta Corte:

    "Induvidosamente, portanto, de interesse pblico e constitucional zelar pela sade da populao, impedindo que a instalao de antenas transmissoras de telefonia celular possa causar doenas graves. Da a recomendao da Organizao Mundial de Sade, e a legitimidade de a municipalidade impedir a instalao inadequada de 'Estao Rdio-Base". (Agravo de Ins t rumento n 305 9 2 3 - 5 / 4 - Campinas - j em 6 fev 2003)

    A alegada inconstitucionalidade ainda pende de julgamento no Supremo Tribunal Federal1, e, assim, 1 Com efeito, a ADI 2902 acha-se em concluso ao relator Mm Ricardo Lewandowski

    desde 14-8-2006, conforme consta do extrato localizado na pagina eletrnica do Supremo

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    no se pode, maliciosamente, alegar que feitos em tramitao j tenham carter de coisa julgada.

    Ademais, a lei em questo determina recuos mnimos da divisa do terreno onde est sendo construda a ERB, de modo a evitar que propague radiao aos vizinhos, em detrimento a sua sade. Nesse sentido, transcreva-se pertinente julgado do Des. Urbano Ruiz, deste Tribunal, que assim entendeu, sobre a mesma norma ora atacada:

    "Na justificativa da lei foi dito que as antenas de telefonia celular, rdio difuso e televiso, trabalham em freqncia que oscilam entre 30 khz (quohertz) e 3 Ghz (trs gigahertz) e emitem radiao no ionizante e essas estruturas podem ser nocivas sade das pessoas, causando problemas to graves quanto cncer no crebro, leucemia, distrbios de comportamento, perda de memria, lcera nos olhos, entre outros, e o limite de densidade de potncia estabelecida por aquela lei atende as especificaes permitidas pela Organizao Mundial de Sade, que de 435 uw/cm? (435 micro-watt por centmetro quadrado) que assegura a tranqilidade da populao. No estava o Estado, evidenciai legislando sobre telecomunicaes ou urbanismo, mas sobre a proteo e defesa da sade, nos termos do art. 24, XII, para a qual tem competncia concorrente" (grifo nosso). (Agravo de Ins t rumento n 459 526 5 /1 -00 - So Paulo - j em 17 mar 2006)

    Tribunal Federal, acessado em 13 de junho de 2007, as 16h05min O endereo e http //www stf gov br/processos/processo asp?PROCESSO=2902&CLASSE=ADl&ORIGE M=AP&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=M Em idntica situao, isto e, em concluso, para o mesmo relator, desde 10 de agosto de 2006, acha-se a ADI 3110, acessada em 13 de junho de 2007, s 16h08min O endereo e http //www stf gov br/processos/processo asp?PROCESSO=3110&CLASSE=ADI&ORIGE M=AP&RECURSO=0&TIP JULGAMENTO=M

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    II - Da alegada falta de "embasamento tcnico" da Lei Estadual n 10 .995/01 e a discusso do tema no meio cientfico.

    Nem se afirme que carente de "embasamento tcnico" a Lei n 10.995/01. Apenas por extrema m-f se pode afirmar que a matria relativa a radiaes j se acha cientificamente pacificada. Por isso mesmo que o legislador, e, agora, o Poder Judicirio, sem se substituir aos cientistas, mas em profunda sintonia com eles, entende por bem aplicar o princpio da precauo, o qual determina que, ainda que remota a potencialidade de danos sade ou ao meio ambiente, j se legitima a discusso judicial do tema, e, mais ainda, a vedao a certas prticas.

    II. 1 - Dos estudos cientficos Tanto verdade que o tema no pacfico,

    como dolosamente tenta sugerir a r, que variados estudos tm sido produzidos. Aduzem-se, a seguir, fragmentos de estudo produzido pelas engenheiras Adilza Conde Dode e Mnica Maria Diniz Leo, as quais afirmam2:

    "A literatura especializada cita uma grande variedade de efeitos no trmicos adversos sade humana, provenientes da exposio prolongada s radiaes de Radiofreqncia e microondas, com a SAR (Taxa de Absoro Especfica) inferior a 4 W/kg, dentre os quais se destacam: alterao do eletroencefalograma (EEG), letargia, gerao de prematuros, distrbios do sono, distrbios comportamentais,

    M n Cadernos Jur dicos , So Paulo, v 6, n 2, pp 123-124 abr i l / junho 2004

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    perda de memria recente, dificuldades de concentrao, doenas neurodegener-ativas,tais como os males de Parkinson e Alzheimer, abortamento, m formao fetal, linfoma, leucemia e cncer, entre outros. A Organizao Mundial da Sade coordena um projeto na rea, iniciado em 1996, com trmino previsto para o ano de 2007, que poder validar esses efeitos na sade". (. . .) "As torres, alm de produzirem radiao eletromagntica, so susceptveis a descargas atmosfricas como raios e relmpagos. Estas descargas devem ser dissipadas da torre para o subsolo, atravs de uma conveniente malha de aterramento. Entretanto, se o aterramento no for adequado, os aparelhos eletrnicos na vizinhana das torres podero ser danificados".

    II. 2 - Do princpio da precauo

    Por seu turno , o princpio da precauo, com o qual o Brasil se comprometeu desde a conferncia de 1992 (Eco 92) deve ser aplicado, quando a informao cientfica insuficiente e quando h indicaes sobre possveis efeitos no ambiente, ou nos seres vivos. Esse memorvel encontro produziu u m documento denominado Agenda 2 1 , o qual anota , entre outros princpios, que:

    "Com fim de proteger o meio ambiente, os Estados devem aplicar amplamente o princpio da precauo, conforme as suas capacidades. Quando haja perigo de dano, grave ou irreversvel, a falta de uma certeza absoluta no dever ser utilizada para postergar-se a adoo

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    de medidas eficazes em funo do custo para impedir a degradao do meio ambiente"3.

    Quando uma atividade levanta possibilidade de agresso sade humana ou ao meio ambiente, medidas preventivas devem ser tomadas, mesmo se alguma relao de causa e efeito no for completa e cientificamente estabelecida. Durante anos os movimentos ambientais e de sade pblica tm lutado para encontrar caminhos para proteger a sade e o meio ambiente, quando ainda existe a incerteza cientfica sobre causa e efeito.

    A coletividade tem suportado o nus de provar que uma atividade em especial ou uma substncia perigosa, enquanto aqueles que executam as atividades potencialmente perigosas e lanam no meio ambiente os produtos potencialmente perigosos so considerados inocentes, at que sejam provados culpados. As companhias que adotam prticas perigosas e manuseiam e permitem que os produtos qumicos cheguem ao meio ambiente parecem, muitas vezes, ter mais direitos que os cidados.

    O encargo de provar cientificamente a relao dose-resposta colocou uma enorme barreira na campanha para proteger a sade e o meio ambiente. Aes para prevenir danos so normalmente tomadas somente depois que a prova significativa de dano for estabelecida, podendo, ento, ser muito tarde.

    Quando grupos de cidados baseiam suas demandas para obstar uma atividade particular pela experincia e observao ou algo menos do que uma estrita prova cientfica, a eles se destinam os adjetivos de retrgrados ou irascveis, para se citar o mnimo. Para

    3In h t tp / / w w w ana gov br /AcoesAdminis t rat ivas/RelatonoGestao/RiolO/Riomaisd ez /documentos /1752-Dec la racadono doe 147 wiz Acesso em 1 9 j u n 2 0 0 7

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    transpor tal mentalidade, necessrio um instrumento de ao com poder tico e de cunho cientfico para a tomada de decises.

    H uma conjuntura dramtica na presente quadra da histria da humanidade: por um lado, vem-se ameaas nunca havidas sade humana e ao meio ambiente que sustenta a vida, e, de outra banda, h a oportunidade de mudar fundamentalmente o modo como tais prticas so levadas a efeito.

    A "precauo" um princpio-guia, que pode ser empregado para pr cobro degradao ambiental.

    tal princpio um novo modo de pensar sobre a proteo ambiental ou a proteo sade pblica, e a permanncia da exposio a situaes e a agentes de risco em longo prazo. Desafia-nos a fazer mudanas fundamentais no modo como se permitem e se restringem os danos. Alguns destes desafios colocaro grandes ameaas s agncias de governo e aos poluidores e vo, provavelmente, encontrar resistncia poderosa.

    O princpio da precauo no baseado em cincia s, como pertinentemente anota Adilza Condessa Dode4. O entendimento convencional de "cincia s" enfatiza a avaliao de risco e a anlise de custo-Beneficio.

    Estas so abordagens carregadas de valor, requerendo numerosas suposies sobre como os danos ocorrem, como as pessoas so expostas a eles, e a vontade da sociedade de tolerar o dano. De fato, por causa de grandes incertezas sobre causa e efeito, todas as decises sobre sade humana e meio ambiente so carregadas de valor e so polticas.

    Para saber quando aplicar o princpio da precauo deve-se conjugar a ameaa de dano e a incerteza cientfica, o que foi expresso no caso vertente.

    In http//www mreantenas eng br/pdf/artigo_3_pnncipio_da_precaucao pdf Acesso em 19 jun 2007

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    O princpio de precauo ser aplicado quando houver bases razoveis para preocupao de que um procedimento ou desenvolvimento possa contribuir para a degradao do ar, da terra, da gua e da comunidade. A falta de certeza cientfica completa no ser usada como razo para adiar medidas efetivas de custo elevado para prevenir a cara degradao do meio ambiente e de vidas humanas, pois queremos viver em um mundo auto sustentvel. A sustentabilidade ecolgica no garantida pelas foras do mercado.

    Se houve verdadeiro interesse na sustentabilidade, devem-se expandir as estruturas de tempo, no mnimo o tempo ecolgico, se no o tempo evolucionrio, porque as conseqncias de se introduzir um novo produto ou uma nova tecnologia no meio ambiente podem raramente serem observadas no tempo bioqumico ou mesmo orgnico. A ruptura endcrina e o aparecimento de dano nas geraes posteriores, por exemplo, demonstram a necessidade de se expandir a estrutura de tempo.

    III - Da competncia legislativa aplicvel espcie

    No que pertine alegada ausncia de competncia legislativa, a Constituio Federal, em seu art. 30, I, defere competncia aos municpios para legislarem sobre matrias atinentes ao interesse local. Tambm lhes foi conferida, pela letra do art. 30, II, competncia para suplementar a legislao federal, no que couber. Ademais, legislar sobre direito urbanstico atividade tpica da esfera municipal, por fora do que dispe o par. Io do art. 182. A definio de padres urbansticos, ambientais e sanitrios envolvendo as estaes de rdio-base tarefa multidisciplinar.

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    A Unio, que deveria esmiuar o assunto traando regras claras e optando por padres de precauo, no o vem fazendo a contento, restando espao para os estados-membros e municpios suplementarem a legislao federal, de forma a torn-la mais protetiva.

    No obstante a existncia de normas expedidas pela Anatel - Agncia Nacional de Telecomunicaes, cristalino que o Estado-membro, por fora dos dispositivos constitucionais inscritos nos incisos I, VI, VII e XII do art. 24, e ao municpio, com base nos incisos I e II do art. 30, legislarem a respeito do tema, desde que no o faam de forma a assegurar proteo inferior quela estabelecida pelas normas emanadas da Unio.

    Caso as normas estaduais ou municipais sejam mais restritivas que a Federal, esta cede espao quelas, pois, em matria ambiental, sempre h de ser aplicada a mais protetiva.

    A Anatel - Agncia Nacional de Telecomunicaes - certo, possui competncia para fiscalizar e verificar o cumprimento das condies tcnicas estabelecidas para funcionamento de estaes de radiocomunicao, no que se refere aos parmetros de transmisso tais como freqncia, potncia irradiada, ganho de antena e modulao. Essas atribuies no excluem a dos Municpios para legislar sobre posturas municipais e outras matrias de interesse sanitrio-ambiental local.

    Nesse sentido, a NGT 20/96, aprovada pela Portaria MC n. 1533, de 4 de novembro de 1996, cuidando das condies para instalao e licenciamento de estaes de Servio Mvel Celular, estabelece, em seu tpico 5.5.1.1., que "A instalao do sistema, com as correspondentes edificaes, torres e antenas, bem como a instalao de linhas fsicas em logradouros pblicos, ficar condicionada ao cumprimento pela concessionria

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    de posturas municipais e outras exigncias legais pertinentes a cada local".

    O justo receio do MINISTRIO PBLICO com a possibilidade de danos a serem causados sade e ao ambiente pela emisso de radiao, em virtude da operao antena de transmisso de telefonia celular na zona urbana do municpio.

    O tema do direito ambiental hoje transversal a toda e qualquer atividade exercida pelo ser humano.

    Prudente e sensata, portanto, a deciso de primeiro grau a acolher o pleito do autor da ao civil pblica, diante da evidncia das irregularidades. Contrapor-se o interesse da comunidade, representado por rgo tcnico oficial e do Poder Pblico, ao da prpria empresa - plo passivo da ao civil pblica - s depois de apurao percuciente e minuciosa da real situao de risco.

    O princpio da precauo, como dito, permeia toda a atividade jurisdicional, pois o Judicirio chamado a intervir em lides cada vez mais complexas, nas quais colidem direitos antagnicos e que merecem precisa e serena apreciao.

    No agiu o juiz GUSTAVO SAMPAIO CORREIA acuado diante de um dilema falso, como equivocadamente afirmou a r, mas, antes, conferiu adequado desate controvrsia, mefecendo, assim, manuteno sua sentena. //

    Por estes fundamentos^nega-se provimento ao apelo. -/

    RENATO NALINI Relator

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