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Macroeconomia

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  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

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    Ncleo de Assuntos estratgicos da Presidncia da Repblica

    Estudos Estratgicos

    Modelagem Macroeconmica

    Fabiano Bastos Joaquim Pinto de Andrade

    Braslia, 2007

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

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    Repblica Federativa do Brasil Presidente: Luiz Incio Lula da Silva

    Ncleo de Assuntos Estratgicos Chefe: Oswaldo de Oliva Neto

    Coordenadores do trabalho NAE Oswaldo de Oliva Neto Alberto Carlos de Mello Fonseca Ricardo Gonalves da Silva

    Esplanada dos Ministrios Bloco A 5 Andar 70054-900- Braslia, DF Tel. (55.61) 34114811 FAX (55.61) 33221303 http://www.nae.gov.br e-mail: [email protected]

    As opinies, argumentos e concluses apresentados neste documento so de inteira responsabilidade dos autores.

    Qualquer parte desta publicao pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

    Estudos estratgicos: Modelagem Macroeconmica / Ncleo de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica. Braslia: Ncleo de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica, 2007.

    1. Macroeconomia 2. Cincias Econmicas 3. Economia

    CDU 35:005(81)

    Impresso em Braslia, 2007

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    Sumrio

    Resumo executivo 4

    Captulo I Modelos macroeconmicos a servio do pas 7

    1 Poltica fiscal e modelagem macroeconmica 7 1.1 Disciplina fiscal: da necessidade ao vcio 7 1.2 Construindo uma plataforma para o dilogo 13 1.3 Modelagem macroeconmico: experincias internacionais e um novo paradigma 16

    2 Regras 22 2.1 Regras de poltica monetria e de poltica fiscal 22 2.2 Princpios e proposies de poltica fiscal 25

    Captulo II Modelo macroeconmico 28

    1 O modelo 28 1.1 Descrio qualitativa 28 1.2 Equaes 31

    2 Uma aplicao 35 2.1 Debate econmico e uma proposta de crescimento 35 2.2 Gerando trajetrias de ajuste para economia brasileira 39

    Captulo III Concluso 50

    Apndice I Construo de cenrios contingentes 53 1 Trajetrias centrais e cenrios 53 2 Choques 54

    Bibliografia 58

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    Resumo executivo

    A economia brasileira se encontra diante de uma oportunidade nica para garantir as bases de uma virtuosa dinmica de longo prazo. No campo das conquistas macroeconmicas, o pas demonstrou notvel maturidade poltica na construo da credibilidade de seu programa de metas de inflao, o que envolveu no apenas a independncia operacional do Banco Central, mas tambm a gerao de supervits primrios necessrios para a conduo da poltica monetria em um ambiente de tenso fiscal. Outros ingredientes de suma relevncia para a viabilizao de um longo prazo virtuoso so os avanos na rea social e a gradual construo de consenso poltico em torno da importncia de uma agenda de reformas microeconmicas para o Brasil. Tudo isto funcionando em um contexto de solidificao das instituies democrticas nacionais.

    Para que essa oportunidade nica vivida pelo pas se materialize muitos desafios precisam ser enfrentados. O presente estudo aborda um destes desafios, descrevendo sua gnese, explicando seus efeitos sobre o desempenho de longo prazo da economia brasileira e propondo uma estratgia de encaminhamento para a questo. Os principais pontos discutidos no trabalho so:

    1. A poltica fiscal, implementada no pas aps o fim da ncora cambial do Plano Real (1999), baseada na gerao de expressivos supervits primrios tem sido de grande importncia para a viabilizao do controle inflacionrio. Contudo, chegado o momento de discutir no somente a magnitude dos resultados fiscais, mas tambm sua qualidade.

    2. Enquanto a magnitude do resultado fiscal tem implicao inegvel sobre a eficcia da poltica monetria atravs de seu impacto sobre custo de financiamento do governo, a qualidade do resultado fiscal possui implicao direta para o crescimento econmico de longo prazo. Nos ltimos anos, o pas tem convivido com supervits fiscais baseados no aumento da carga tributria

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    e na reduo do investimento pblico que minam os prognsticos de crescimento econmico sustentvel, ainda que consistentes com uma conjuntura econmica estvel. Desta maneira, no Brasil, aspectos de curto e longo prazo referentes formulao e conduo da poltica fiscal esto visceralmente interligados.

    3. Certamente que as autoridades fiscais esto cientes da importncia de se melhorar a composio do resultado fiscal, mas esta preocupao continua a ocupar uma importncia secundria quando comparada s chamadas metas fiscais. Magnitude e qualidade do resultado fiscal precisam ser incorporadas com igual status na formulao e conduo da poltica fiscal.

    4. Para que isso seja possvel faz-se necessrio um arcabouo analtico que contemple o aspecto dual da poltica fiscal brasileira: estabilidade macroeconmica e crescimento econmico sustentvel. Desta maneira, sugere-se uma iniciativa de modelagem macroeconmica que englobe ambas as frontes de maneira explcita.

    5. Tal iniciativa , na verdade, uma plataforma para o dilogo entre tcnicos e responsveis polticos pela conduo da poltica fiscal. sabido que nenhum modelo jamais substituir a experincia e o pragmatismo de gestores pblicos. O objetivo o de tornar o debate transparente, subsidiando o processo decisrio pela evidenciao dos dilemas de poltica econmica e pela construo de cenrios macroeconmicos e planos de contigncia.

    6. Exerccios semelhantes em que tcnicas de modelagem macroeconmica interagem com o processo decisrio tm sido implementados em diferentes pases. Contudo, o exerccio que propomos incorpora a dualidade da poltica fiscal enquanto peculiaridade crucial do caso brasileiro. Neste sentido, trata-se de um experimento indito, porm amparado por diversas experincias internacionais em curso.

    7. Com o objetivo de ilustrar de que maneira tal arcabouo analtico poderia ser til, apresenta-se um modelo macroeconmico inspirado em recentes

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    avanos da literatura sobre modelos macroeconmicos dinmicos de equilbrio geral. Este modelo, chamado de Modelo Macroeconmico de Coordenao de Polticas (MMCP), utilizado para extrair a trajetria de variveis macroeconmicas de 2006 at 2022 dada uma estratgia de crescimento econmico baseada na reduo da carga tributria, aumento do investimento pblico, manuteno de disciplina fiscal e controle da inflao. O modelo tambm utilizado para uma avaliao de trajetrias da economia brasileira na ocorrncia de choques exgenos, como por exemplo uma retrao da liquidez internacional acompanhada de um aumento do risco pas.

    Desde j nos declaramos cientes de que o MMCP aqui proposto ainda precisa de vrias rodadas de discusso com tcnicos e autoridades polticas responsveis pela efetiva conduo da poltica econmica para ento desfrutar de relevncia operacional. Neste sentido, o que est proposto aqui , na verdade, um conceito: a poltica fiscal brasileira pode ser melhorada se (i) o tema qualidade do resultado fiscal for incorporado em p de igualdade com o tema magnitude e (ii) tcnicas recentes de modelagem macroeconmica forem empregadas de forma a efetivamente subsidiarem o processo decisrio da poltica fiscal.

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    Captulo I Modelos Macroeconmicos a Servio do Pas

    1 Poltica fiscal e modelagem macroeconmica

    1.1 Disciplina fiscal: da necessidade ao vcio

    O Brasil hoje desfruta de um inquestionvel ambiente de estabilidade monetria em que, tanto a inflao observada, quanto a esperada por parte dos agentes econmicos, encontram-se muito prximas de nveis praticados em economias desenvolvidas. possvel destacar dois marcos temporais ao longo do processo de conquista da estabilidade que no somente nos ajudam a compreender o atual sucesso no controle inflacionrio, mas tambm, e principalmente, revelam a natureza dos desafios a serem encarados para garantir que o substrato de estabilidade monetria alcanada se traduza em efetivo crescimento econmico. Esta seo busca demonstrar como a poltica fiscal tornou-se o elemento central para uma estratgia de crescimento sustentado bem sucedida e de que maneira a modelagem macroeconmica pode contribuir para este fim.

    O primeiro marco temporal no processo de conquista da atual estabilidade monetria o ano de 1994, momento em que o Plano Real introduziu a Unidade Real de Valor (URV), um indexador desenhado para reparar a distoro de preos relativos gerada pela falta de sincronia no comportamento de agentes econmicos que buscavam defesa contra a inflao mediante reajustes antecipativos e desalinhados. A URV foi bem sucedida na sua tarefa de sincronizao, mas o Plano Real tambm se beneficiou de um ambiente de forte liquidez internacional para manter a inflao sob controle na medida em que fluxos positivos de capitais para o pas faziam do cmbio uma potente ncora nominal.

    Os recursos externos que fluam para o Brasil na segunda metade dos anos 90 geravam uma forte demanda pelo Real no mercado de divisas, o que por sua vez produzia uma tendncia de valorizao da moeda brasileira. Embora benfico do ponto de vista anti-inflacionrio, havia o temor de que a

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    valorizao excessiva do cmbio pudesse trazer prejuzos em termos de reduo da atividade econmica. Assim, esta tendncia de valorizao excessiva do Real era combatida pelo Banco Central atravs da compra de dlares no mercado de divisas, fato que gerava um colcho de reservas internacionais a ser usado em eventuais momentos de crise.

    A compra de dlares por parte do Banco Central produzia um indesejvel efeito colateral: aumento da base monetria e conseqente presso inflacionria domstica. Para neutralizar tais presses, o Banco Central praticava ento as chamadas esterilizaes monetrias que se baseavam na venda de ttulos pblicos com o intuito de enxugar a liquidez que ele mesmo havia injetado no mercado. Assim, a dinmica da dvida pblica est atrelada prpria conteno do processo inflacionrio, sendo que o financiamento inflacionrio do dficit fiscal substitudo pela emisso de ttulos. A reduo da inflao acompanhada de um aumento substancial de dvida pblica, amplificado pelo comportamento altista das taxas de juros. Tem-se a o embrio da vultosa dvida pblica interna brasileira de nossos dias.

    A deteriorao do ambiente de liquidez internacional no final dos anos 90 colocou o Plano Real em xeque. A possibilidade de reverso dos fluxos de capitais internacionais, e conseqente desvalorizao do real, ameaavam suprimir a ncora cambial e suas conquistas de estabilizao. Com o intuito de evitar o retorno da inflao, o Banco Central se valeu de elevadas taxas de juros domsticas, com repercusses negativas sobre a dinmica da dvida pblica, para garantir atratividade financeira ao investidor internacional e manter o fluxo de capitais para o pas. Com isso, conseguiu protelar, mas no evitar, o fim da ncora cambial que foi ocasionado pela mudana no, at ento abundante, cenrio de liquidez internacional.

    Chegamos assim ao segundo marco temporal importante para a compreenso dos desafios que se apresentam no atual ambiente de estabilidade monetria da economia brasileira. Em janeiro de 1999, sem conseguir conter mais um ataque especulativo contra o Real, o Banco Central foi forado a abandonar a sua poltica cambial, deixando a moeda flutuar segundo as foras de mercado. Sem a ncora nominal do cmbio e com uma elevada dvida pblica oriunda da

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    prpria lgica do Plano Real, a economia brasileira se encontrava em um momento definidor de sua histria poltica e econmica.

    Na esteira de outras autoridades monetrias do mundo, o Banco Central brasileiro decidiu dar prosseguimento ao combate inflacionrio mediante um programa de metas de inflao. Implcita em tal escolha estava a noo de que o melhor que a autoridade monetria poderia fazer pelo pas era manter a estabilidade de preos. Assim, a conduo da poltica monetria e, em particular, a determinao da taxa de juros bsica da economia, responsabilidade atribuda ao Comit de Poltica Monetria (COPOM), deveriam objetivar primordialmente o cumprimento das metas inflacionrias determinadas pelo Conselho Monetrio Nacional (CMN).

    De fato, em um primeiro momento, a adoo do programa de metas de inflao representou uma sada de emergncia para o pas que queria garantir a qualquer custo a manuteno de sua estabilidade monetria e que se encontrava destitudo de sua principal arma at ento: a ncora cambial. Por esta razo, em sua gnese, o programa de metas de inflao brasileiro no desfrutou de um consenso poltico sobre a misso do Banco Central, embora esta estivesse presumida como sendo, em linhas gerais, a de garantir a estabilidade de preos para dadas condies de oferta (ou crescimento do produto).

    Com o passar do tempo, os possveis efeitos colaterais resultantes do programa de metas de inflao em termos de crescimento econmico ganharam uma maior dimenso no debate poltico nacional, inclusive dentro do prprio governo, sendo que um argumento comumente levantado era o de que as altas taxas de juros praticadas pelo Banco Central estariam sufocando o crescimento do pas. Assim, a poltica monetria no deveria tomar o crescimento como dado, mas sim como uma varivel a ser influenciada ativamente. Ou seja, a reduo da taxa de juros ocasionaria no apenas um aumento de demanda agregada, mas tambm, e principalmente, um aumento de oferta agregada que neutralizaria eventuais presses inflacionrias advindas da demanda e permitiria o crescimento econmico.

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    Infelizmente, este argumento padece de respaldo tcnico ao desconsiderar importantes avanos da teoria econmica em questes como determinantes de longo prazo do crescimento econmico, o papel das expectativas racionais na determinao do produto e o problema da inconsistncia temporal e do vis inflacionrio que acometem bancos centrais no-independentes. Assim, ainda que seja possvel compreender sua penetrabilidade poltica, no possvel endossar o argumento em sua substncia. Por outro lado, a implantao do programa de metas de inflao fez surgir requerimentos fortes sobre a conduo da poltica fiscal brasileira que, em face do crescimento vegetativo da despesa pblica e da rigidez de sua estrutura, vem se tornando um dos principais inimigos do crescimento econmico brasileiro. A maneira pela qual o governo e, em particular os Ministrios da Fazenda e do Planejamento, lidam com tais requerimentos podem ser melhoradas e este trabalho busca convencer os leitores desta afirmao.

    Para entender melhor este ponto sobre a poltica fiscal importante recordar que um governo, em termos genricos, pode financiar seus gastos de trs formas: tributos, endividamento pblico e emisso de moeda. O programa de metas de inflao equivale a uma renncia voluntria da terceira alternativa, pois vincula expressamente a conduo da poltica monetria a outro objetivo: manuteno do nvel de preos. Neste sentido, o programa de metas constitui-se em um arranjo institucional ao qual o governo se submete para convencer os agentes privados de que os gastos pblicos no sero financiados a partir de tticas inflacionrias baseadas na emisso de moeda.

    Note que o xito de um programa de metas de inflao depende crucialmente de sua credibilidade. De fato, se os agentes privados atriburem razovel probabilidade para a possibilidade de que o governo renegue seu compromisso contrrio emisso de moeda em algum momento no futuro, expectativas inflacionrias podero se avolumar comprometendo a estabilidade monetria hoje. Ocorre que a credibilidade do Banco Central neste contexto no depende apenas dele mesmo, mas tambm, e principalmente, de quo em ordem est o lado fiscal. Um resultado clssico do princpio da dcada de 80 em teoria macroeconmica nos ensina que insistir em uma poltica monetria ativa na

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    presena de srios desequilbrios fiscais pode ser a pior opo de todas. Ou seja, um presidente do Banco Central linha dura s piora a economia na presena de srios problemas no lado fiscal. Esta lio foi perfeitamente assimilada pelos governos ps 1999.

    No contexto da poltica de metas de inflao o governo tem que abrir mo, conforme vimos, da emisso como forma de financiamento do dficit. Restam a elevao do endividamento, a reduo dos gastos e o aumento de impostos. No que tange a opo do endividamento, aumentos da taxa de juros real necessrios para o controle inflacionrio implicam em uma dinmica nociva para dinmica da dvida, tornando-a rapidamente insustentvel. A credibilidade do prprio modelo colocada em xeque j que a dvida evolui de forma desalinhada com o crescimento da economia. Portanto, necessrio que, alm da renncia voluntria da emisso de moeda como forma de financiamento, o governo promova a reduo/estabilizao da dvida, bem como o melhoramento do perfil da dvida. Tudo isto implica, naturalmente, na gerao de resultados fiscais positivos.

    De fato, a partir da introduo do programa de metas de inflao, o governo brasileiro passou a perseguir uma poltica de responsabilidade fiscal baseada na gerao de supervits primrios. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) est inserida neste contexto e, mais uma vez, demonstra compreenso tcnica por parte do governo acerca dos elementos fundamentais necessrios para que o programa de metas de inflao funcionasse de forma eficaz. correto afirmar que, em termos de magnitude, os supervits primrios atingidos desde 1999 foram suficientes para convencer os agentes econmicos de que o governo tem condies reais para renunciar opo do financiamento inflacionrio de seus gastos. Por outro lado, tambm necessrio reconhecer que a m qualidade de tais supervits trouxe efeitos nocivos para os prognsticos de crescimento brasileiro, uma vez que estes foram baseados fortemente no aumento da carga tributria e na reduo do investimento pblico. Enquanto a elevao da carga tributria desestimula o investimento privado e distorce preos relativos essenciais alocao eficiente de recursos na economia, a reduo do investimento pblico atinge reas chaves como o

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    setor de infra-estrutura. Adicionalmente, sofrem as reas de educao, sade e segurana, todas essenciais na formao do capital social necessrio ao crescimento do pas. Escapam despesas rgidas que dependem de aprovao de legislao especfica tais como remunerao do funcionalismo e previdncia.

    Em um tom mais dramtico, a disciplina fiscal tem sido tambm exercida na boca do caixa mediante o instrumento do contingenciamento oramentrio. A utilizao ostensiva desta prtica revela a precedncia absoluta do cumprimento de metas fiscais sobre quaisquer consideraes que liguem qualidade do resultado fiscal a determinantes do crescimento econmico como carga tributria e investimento pblico. Embora esta precedncia absoluta possa at ser justificvel em um momento inicial de um programa de metas de inflao no qual a autoridade monetria est construindo sua credibilidade, preciso reconhecer o conflito entre aumento do supervit primrio, reduo de carga tributria e aumento do investimento pblico. Ignor-lo, mantendo toda a ateno simplesmente na magnitude do resultado fiscal pode representar, a mdio-longo prazo, um choque de oferta negativo que comprometa o crescimento e o prprio controle inflacionrio.

    Neste contexto, a poltica fiscal brasileira tem sido dominada pelo imperativo do supervit primrio, em que a meta fiscal estabelecida sem a devida ateno com respeito s implicaes dinmicas sobre o crescimento econmico advindas de decises como aumento da carga tributria ou reduo do investimento pblico. Alm de nocivo s perspectivas de crescimento do pas, o vis pelo "maior supervit possvel" pode ser contraproducente at mesmo enquanto estratgia que minimize riscos de solvncia do governo. Por exemplo, um contingenciamento de obras de infra-estrutura com o intuito de garantir um maior supervit primrio hoje pode suspender a execuo de investimentos com altas taxas de retorno social capazes de estimular a atividade no setor privado e garantir maior receita futura, sem que seja necessrio recorrer a mais tributos.

    Ao mesmo tempo, tambm preciso reconhecer o processo histrico que fez

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    emergir este vis pelo "maior supervit possvel". Como mencionado acima, a conduo de um programa de metas de inflao requer uma poltica fiscal austera. O governo soube implement-la e, com isso, contribuiu crucialmente para o ambiente de estabilidade monetria que atua como condio necessria, ainda que no suficiente, para o crescimento econmico sustentado do pas. Este mrito no pode ser negado. No cabe, portanto, a acusao de que a poltica fiscal tem sido equivocada, mas to somente a constatao de que, dado o estado de maturidade da economia brasileira, se faz necessrio incorporar a ela melhoramentos importantes que contribuam para a acelerao e viabilizao do crescimento econmico. Usando uma analogia mdica, a meta de supervit fiscal foi um remdio corretamente utilizado, porm tem adquirido contornos de vcio, o que impede a reduo da dose e a melhora de qualidade de vida do paciente por conta de seus efeitos colaterais.

    1.2 Construindo uma plataforma para o dilogo

    O pas precisa construir e aprimorar mecanismos institucionais que, no processo de conduo da poltica fiscal, contemplem no apenas a magnitude do resultado fiscal, mas tambm sua qualidade, de tal forma que o custo associado a medidas como reduo de investimentos pblicos e aumento da carga tributria sejam devidamente "precificados" e includos no debate. Somente assim ser possvel identificar algo prximo de um valor ideal para o supervit primrio, no sendo, obviamente, possvel acreditar que o aumento de 1% do resultado primrio sempre desejvel pelos seus efeitos sobre a dvida - Produto Interno Bruto (PIB), independentemente de como este obtido. Assim, o NAE prope um conceito de disciplina fiscal mais amplo que incorpore o papel da poltica fiscal como instncia crucial no s ao controle inflacionrio, mas tambm ao crescimento econmico.

    A implementao deste conceito requer, primeiramente, uma mudana na cultura institucional vigente que patrocina uma estrutura de poder excessivamente assimtrica entre os Ministrios da Fazenda/Planejamento e

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    demais segmentos do governo e da sociedade no que diz respeito conduo da poltica fiscal. A habilidade da Fazenda/Planejamento implementarem cortes de despesas pblicas e/ou aumentarem/criarem tributos no pode ser mantida sob um auto-outorgado manto poltico de "exclusivos defensores da ordem econmica"; tal habilidade deve sim ser exercida, mas de forma transparente e com esprito de persuaso, em que medidas de poltica fiscal sejam fundamentadas tecnicamente com ateno especial aos desdobramentos dinmicos sobre o crescimento econmico.

    Claramente que, como parte desta mudana de cultura institucional, preciso questionar a presuno de verdade de que hoje desfruta a autoridade fiscal quando determina que uma meta de supervit seja atendida doa a quem doer. Minimamente, necessrio fazer com que tais metas fiscais sejam contingentes a metas de qualidade para a composio do supervit, porm as implicaes mais relevantes desta mudana seriam: a promoo de sinergia funcional entre diferentes instncias decisrias dentro do prprio governo, contribuindo assim para a correo de assimetrias de poder entre elas; e o crescente envolvimento de tcnicos no processo decisrio, fazendo deste algo menos poltico e mais embasado em mensuraes quantitativas e argumentos falseveis. Ambas as implicaes so, assim como a estabilidade monetria, necessrias para o crescimento econmico sustentvel brasileiro.

    O NAE prope que, como elemento organizador desta mudana institucional, a conduo da poltica fiscal seja discutida a partir de um arcabouo analtico construdo para contemplar dimenses macroeconmicas especficas do caso brasileiro, chamado de Modelo Macroeconmico de Coordenao de Polticas (MMCP). Trata-se de um modelo matemtico constitudo por diversas equaes dinmicas que explicitam de que maneira a magnitude e a qualidade do supervit fiscal afetam as dinmicas da inflao e do produto. Esto embutidos no modelo diversos mecanismos de transmisso que ligam as variveis de poltica (como taxa de juros de curto prazo, supervit primrio, carga-tributria e composio do gasto pblico) a variveis de desempenho (como produto, inflao, taxa de juros de longo prazo, risco Brasil). A principal caracterstica do MMCP origina-se de sua preocupao explcita em discutir a

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    questo da coordenao das polticas monetria e fiscal em combinao com o tema do crescimento econmico, o que propicia uma viso integrada sobre os desafios de curto e longo prazo enfrentados pela economia brasileira. Desta maneira, o MMCP busca estabelecer uma plataforma de dilogo que torne transparentes benefcios e custos associados a diferentes opes de poltica econmica.

    O MMCP, sob hiptese nenhuma, apresentado como sendo o modelo salvador para economia brasileira, capaz de gerar solues milagrosas para o pas. Qualquer tentativa de construir um modelo que desfrute de real relevncia operacional ir requerer um envolvimento tcnico, intenso e continuado, de mltiplas instncias do governo. Mais crucialmente, ir requerer tambm regras claras que determinem garantias e obrigaes referentes ao uso de tcnicas de modelagem no processo decisrio. Ou seja, alm do respaldo institucional para mobilizao de recursos tcnicos, dentro e fora do governo, necessrios para garantir um produto de alto padro de qualidade, crucial garantir que o modelo esteja inserido em um processo evolutivo no qual o seu aprimoramento seja orientado pela interao com os verdadeiros tomadores de deciso. Neste sentido, o MMCP , na verdade, um conceito que tem, em seu mago, uma proposta de profissionalizao da gesto pblica em que decises referentes aos rumos da poltica fiscal tenham um maior embasamento tcnico. O MMCP apenas uma exemplificao deste conceito proposto pelo NAE, no restando dvidas de que Fazenda e o Planejamento devem estar na dianteira do processo.

    Alm de oferecer uma plataforma para o dilogo entre instncias polticas dentro do prprio Executivo, o modelo tambm serviria ao Legislativo dado seu interesse na elaborao e execuo do oramento pblico. Em particular, temas como aprovao de emendas ao oramento e contingenciamento de gastos pblicos adquiririam, dentro do possvel, um aspecto mais tcnico na medida em que o debate transcorresse em torno de uma unidade analtica bem definida em que a mensurao de benefcios e custos associados s medidas fiscais defendidas ficassem explcitos. Mais uma vez ento, o MMCP serviria como uma plataforma de dilogo em prol do crescimento brasileiro,

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    contribuindo para um novo paradigma de gesto da poltica fiscal. O MMCP tambm no almeja se tornar o "piloto automtico" da poltica fiscal de tal forma que a experincia prtica do gestor/formulador da poltica fiscal se torne irrelevante. Cabe ao gestor/formulador moderno fazer uso dos benefcios da modelagem, empenhando-se tambm no melhoramento do MMCP enquanto ferramenta de poltica econmica. Assim, nasceria um canal de comunicao entre tcnicos e tomadores de deciso envolvidos na conduo da poltica fiscal capaz de, efetivamente, integrar a alta qualidade analtica dos primeiros esfera decisria.

    1.3 Modelagem macroeconmica: experincias internacionais e um novo paradigma

    A utilizao de modelos matemticos como subsdio formulao de poltica econmica no uma novidade. J nos anos 60, os chamados modelos estruturais de grande escala eram empregados para este fim. Em 1976, a famosa Crtica de Lucas (nobel de economia em 1994) colocou sob suspeita a utilizao desta classe de modelos para os fins de poltica econmica, reduzindo substancialmente seu respaldo acadmico. Na realidade, porm, muitos deles continuavam em atividade e aprofundou-se a ciso entre teoria e prtica em macroeconomia. Ao longo da dcada de 80, a Teoria Macroeconmica experimentou avanos tericos importantes e, como fruto dos debates acadmicos ocorridos, desenvolveram-se as bases de uma nova classe de modelos em condio de desfrutar no apenas de certo respaldo acadmico, mas tambm de penetrabilidade nos crculos extra-acadmicos.

    Esta nova classe apresentava modelos que enfatizavam o comportamento racional e antecipativo dos agentes econmicos, assim como um maior respeito consistncia terica e modelagem dos fundamentos comportamentais dos agentes da economia. Ou seja, no se tratava apenas de uma evoluo dos modelos em uso, mas sim uma mudana de paradigma que desde o incio dos anos 90 tem permitido uma gradual confluncia entre teoria

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    e prtica em macroeconomia; grande parte desta confluncia tem ocorrido nos bancos centrais de economias desenvolvidas.

    Por exemplo, no final dos anos 60, o Banco do Canad construiu um modelo macroeconmico chamado de RDX1 (Research Department Experimental 1) para auxiliar nas decises de poltica econmica. Este evoluiu para o RDX2 e, posteriormente, o RDXF (Research Department Experimental Forecast) at que, no princpio dos anos 90, foi substitudo pelo QPM (Quarterly Projection Model). O QPM incorporava no apenas consideraes referentes critica de Lucas, mas tambm o original enfoque metodolgico proposto pela escola dos Ciclos Reais ao longo dos anos 80, j ampliado para capturar diferentes vises acerca das origens da flutuao macroeconmica. O QPM integra hoje a classe dos chamados modelos de Estocsticos Dinmicos de Equilbrio Geral (DSGE, sigla em ingls) e o Banco do Canad deixa claro sua relevncia no processo de formulao da poltica monetria:

    "O Banco Central do Canad atribui grande prioridade ao desenvolvimento do dilogo e colobarao entre seus economistas e o mundo acadmico. Pesquisas conduzidas com o auxlio de Modelos Dinmicos Estocsticos de Equilbrio Geral pretendem contribuir com o fortalecimento deste dilogo, uma vez que grande parte da literatura acadmica em macroeconomia hoje utiliza essa abordagem. Em um futuro prximo, tcnicas de pesquisa mais refinadas e uma classe mais ampla de modelos que surgiro deste dilogo, devero fornecer ao Banco uma menu de tcnicas e ferramentas mais adequadas aos muitos desafios que se apresentam aos responsveis pela conduo da poltica monetria. Usurios ento podero selecionar o modelo que melhor atenda suas necessidades a luz de suas prprias preferncias,

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    do contexto particular em que estejam trabalhando e das questes especficas que estejam sendo respondidas " ( traduo livre de Moran, 2001)

    A exemplo do Banco do Canad, outros pases e instituies tambm renovaram seus modelos macroeconmicos. O Banco Central dos Estados Unidos (Board of Governors) abandonou o MPS, utilizado desde os anos 70, em favor do FRB/US.1 O Fundo Monetrio Internacional (FMI) desenvolveu a gerao MARK III do modelo de mltiplos pases MULTIMOD. O Banco Central da Nova Zelndia, baseado na experincia do QPM no Banco do Canad, desenvolveu o FPS (Forecast and Policy System). O Banco Central da Sucia desenvolveu o RISKMOD e o Banco Central do Japo tambm incorporou avanos importantes do perodo. O Banco Central ingls implementou o BEQM (Bank of England Quarterly Model) em substituio ao MTMM (Mdium Term Macro Model). A lista prossegue, estando seu crescimento associado difuso dos chamados programas de metas de inflao pelo mundo (atualmente adotado por mais de 20 pases) e tambm confluncia entre teoria e prtica em macroeconomia.

    Alm da incorporao de avanos tericos importantes, tais modelos esto cada vez mais integrados no contexto decisrio em que esto inseridos, fornecendo contribuies reais para a conduo da poltica econmica. Mais crucialmente, o pragmatismo necessrio a gestores e formuladores de poltica econmica cada vez menos tido como uma caracterstica antagnica, ou mesmo excludente, da utilizao de modelos macroeconmicos no exerccio de suas funes. Muito pelo contrrio, gestores e formuladores de poltica econmica desempenham um papel fundamental no processo de construo e aperfeioamento de tais modelos. Assim, a absoro operacional pelas instncias decisrias relevantes um fato marcante neste contexto.

    No caso brasileiro, o Banco Central vem construindo uma tradio de utilizao

    1 Expresses utilizadas acima para desginar alguns modelos (como MPS por exemplo) no

    correspondem a siglas, mas sim ao nome pelo qual o modelo conhecido na literatura.

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    de modelos em seu processo decisrio, mas a conduo da poltica fiscal no tem se beneficiado plenamente de tais avanos. Os modelos e estudos desenvolvidos por tcnicos do Ministrio da Fazenda certamente apresentam elevada qualidade analtica, mas sua integrao com os efetivos rumos da poltica fiscal tem sido muito mais tnue. Falta transparncia acerca de como certas decises so tomadas, reforando a noo de vcio no supervit primrio. O NAE prope uma iniciativa poltica que fornea o respaldo institucional necessrio no sentido de se construir um arcabouo analtico nos moldes da moderna literatura macroeconmica para subsidiar a conduo da poltica fiscal, tornando-a mais transparente e eficaz.

    Esta plataforma de dilogo, conforme j defendido anteriormente, deve organizar o debate acerca dos efeitos da poltica fiscal no s sobre o sucesso do programa de metas de inflao, mas tambm sobre os prognsticos de crescimento econmico, enfatizando magnitude e qualidade do resultado fiscal como importante elo entre curto e longo prazos na economia brasileira. O MMCP um exemplo de como seria possvel fazer uso do novo paradigma de modelagem em macroeconomia em prol do crescimento do pas. Por outro lado, a construo de um modelo com grande relevncia operacional no pode prescindir do grande envolvimento institucional do principal agente nesse processo: o Ministrio da Fazenda. Neste contexto, essencial que o grupo de tcnicos responsveis pela construo, manuteno e aprimoramento do modelo interaja com integrantes das altas esferas decisrias responsveis pela conduo da poltica fiscal. Estes ltimos devem estar imbudos de um ceticismo saudvel, mas cientes da importncia desta interao e da relevncia que possuem no aprimoramento do modelo.

    Esta a parte mais difcil, pois depende de dois pontos cruciais a respeito dos responsveis pela conduo da poltica fiscal: o primeiro que tenham a percepo de que o novo paradigma de modelagem macroeconmica suficientemente promissor para ser encampado e o segundo que estejam dispostos a se tornarem mais transparentes acerca de como decises fiscais so tomadas - por exemplo, que ofeream argumentos tcnicos que levem em conta possveis efeitos sobre o crescimento de decises de contingenciamento

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    oramentrio ou aumento de impostos. Alis, no que diz respeito a este segundo ponto, possvel traar um paralelo entre os requerimentos de transparncia e boa comunicao que se impem aos bancos centrais conduzindo sua poltica monetria na era dos programas de metas de inflao. O Brasil carece de requerimentos similares, guardadas a devidas diferenas, com respeito conduo da poltica fiscal.

    Com o intuito de ilustrar uma possvel configurao em que tcnicos responsveis pela construo, manuteno e aprimoramento do modelo interagiriam com integrantes das esferas decisrias, apresentamos aqui um exemplo proveniente do Banco Central da Inglaterra (Bank of England). O Banco Central Ingls, desde maio de 1997, adota um programa de metas de inflao. O Ministro da Fazenda (Chancellor of Exchequer) determina uma meta de inflao anual a ser respeitada pelo Banco Central que, atravs do Comit de Poltica Monetria, determina uma taxa de juros bsica da economia inglesa (repo rate). O Comit, composto por 9 integrantes, se encontra mensalmente e, aps assistirem a uma exposio de economistas do banco, votam pela reduo, manuteno ou elevao da taxa de juros bsica. Uma vez que tais decises de poltica monetria dependem crucialmente das expectativas acerca da evoluo da economia, o Comit de Poltica Monetria promove, trimestralmente, um exerccio de previso macroeconmica para os prximos 3 anos. Este exerccio culmina com a produo, tambm trimestral, do relatrio de inflao que contem uma viso prospectiva dos membros do Comit sobre da economia inglesa. Os processos internos adotados pelo Banco da Inglaterra que levam produo do relatrio de inflao ilustram bem como modelagem macroeconmica e o pragmatismo e a experincia dos membros do Comit de Poltica Monetria interagem e se complementam no processo de conduo da poltica monetria.

    Tais processos internos se iniciam com chamado "Benchmark Forecast Meeting" no qual tcnicos do banco, utilizando o modelo macroeconmico BEQM, apresentam para o Comit de Poltica Monetria projees sobre a economia inglesa. Neste encontro, o Comit de Poltica Monetria aprecia as projees apresentadas e identifica questes chaves (key issues) que tm o

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    potencial de afetar a evoluo da economia de forma particularmente importante e que, portanto, precisam ser incorporadas nas projees com maior rigor. Em seguida, durante uma seqncia de trs encontros (trs key issues meeting), os tcnicos produzem e apresentam estudos analticos que subsidiam a formao de opinio sobre tais questes chaves. A partir de tais estudos, os tcnicos responsveis pelo BEQM apresentam novas projees do modelo j contemplando os julgamentos realizados pelo Comit sobre as questes chave. O relatrio de inflao ento produzido contendo projees para a economia inglesa, as quais so, em ltima instncia, de autoria do Comit de Poltica Monetria, mas produzidas a partir de forte interao com tcnicos responsveis pela modelagem. interessante mencionar que a linguagem do BEQM permeia o funcionamento de praticamente todas as divises envolvidas no processo, mesmo daqueles analistas que no trabalham com o modelo diretamente. Esta vascularizao promove altos padres tcnicos de discusses dentro do banco e tem importante efeito na eficincia de toda instituio.

    A utilizao de modelos macroeconmicos pode servir tambm o poder legislativo. O Congressional Budget Office (CBO) dos Estados Unidos um bom exemplo. O CBO foi fundado em 1974 e atua como uma agncia no-partidria pertencente ao poder legislativo. Desfruta de autonomia perante o Executivo e tem como objetivo a anlise oramentria, sob os pontos de vista contbil e econmico, de leis aprovadas pelo congresso. A diviso de anlise macroeconmica do CBO emprega um conjunto de modelos matemticos no seu dia a dia. Dentre eles se destaca um modelo de geraes superpostas com agentes heterogneos utilizado para mensurar, entre outras coisas, o impacto redistributivo de polticas fiscais. Existem mecanismos internos que levam ao aprimoramento da modelagem, especialmente atravs de exerccios de recalibrao, mas a interao com os condutores de poltica econmica mais limitada, uma vez que o prprio mandato do CBO estipula um papel de acompanhamento que o torna intencionalmente externo ao processo decisrio. Cabe notar, contudo, que os documentos oficiais publicados pelo CBO desfrutam de ampla penetrao no debate poltico econmico americano e,

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    portanto, esta mais uma instncia em que tcnicas de modelagem podem ser utilizadas em favor da economia.

    Certamente que as configuraes institucionais e os sistemas de interao necessrios para o desenvolvimento de modelos operacionalmente relavantes para a conduo da poltica fiscal brasileira no podem obedecer a padres j definidos, mesmo quando extrados de experincias internacionais bem sucedidas. Desta maneira, no existe, por parte do NAE, a pretenso de apresentar a frmula correta. Existe, sim, a inteno de enfatizar a importncia de se difundir a utilizao de tcnicas de modelagem no processo decisrio da poltica fiscal brasileira, apreciando a especial ligao entre estabilidade macroeconmica no curto prazo e perspectivas de crescimento econmico sustentvel no longo prazo. O MMCP um prottipo que reconhece essa ligao e, durante o processo de sua construo, se valeu de interaes com importantes segmentos dentro do governo.

    2 Regras fiscais

    2.1 Regras de poltica monetria e de poltica fiscal

    Nos anos 1980 os Bancos Centrais comearam a abandonar a implementao de polticas monetrias baseadas em regras de crescimento do agregado monetrio. O controle do agregado monetrio foi gradualmente enfraquecido pelas inovaes financeiras ao mesmo tempo em que a demanda monetria apresentava grande instabilidade. Alm disso, as polticas baseadas em crescimento fixo do agregado monetrio provaram ser muito rgidas no curto prazo. Por tudo isto os Bancos Centrais abandonaram as regras monetrias baseadas em agregados monetrios e passaram a implementar regras mais flexveis baseadas no chamado principio de Taylor, segundo o qual a autoridade monetria consegue estabilizar a economia respondendo a aumentos inesperados da inflao com aumentos reais da taxa de juros. Este principio consiste em que as Autoridades Monetrias elevem a taxa de juros real cada vez que a taxa de inflao aumente em relao a meta de inflao. O

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    sucesso desta nova poltica notrio quando se pensa na dinmica inflacionria dos pases que a adotaram.

    No que diz respeito a poltica fiscal, o desenvolvimento tem sido mais lento. Assim como no caso da poltica monetria, inicialmente foram introduzidas regras fiscais. Estas eram flexveis demais como no caso da Inglaterra ou muito restritas como no caso do Pacto de Estabilidade e Crescimento (GSP) especificado pelo Tratado de Maastricht. Limites multianuais sobre os gastos foram introduzidos, por exemplo, na Holanda, Nova Zelndia, Sucia, Estados Unidos e Reino Unido. Regras de Dvida foram implementadas na Nova Zelndia e Polnia. Chile e Brasil tambm adotaram regras de dficit oramentrio. Diferentemente do desenvolvimento da poltica monetria, os fundamentos tericos para a poltica fiscal so muito limitados, assim como as instituies subjacentes.

    Nesta primeira etapa os resultados das diversas polticas fiscais no foram animadores e os dficits no foram controlados. Os comportamentos fiscais da dos Estados Unidos e dos pases da Unio Europia que adotaram o Euro como moeda apresentaram resultados pouco satisfatrios. Na Inglaterra houve uma reduo do dficit e da dvida nas ltimas trs dcadas as custas de uma reduo substancial do tamanho do governo. Nas principais economias que adotaram o Euro, tais como a Alemanha, Itlia e Frana, o aumento dos dficits respondeu desacelerao econmica. O Pacto de Estabilidade e Crescimento do Euro fracassou em 2003. Nos Estados Unidos ocorreu um aumento dos gastos e reduo dos impostos provocando elevao do dficit e da dvida.

    Uma das questes fundamentais que balizam a poltica monetria a eliminao da inconsistncia temporal, mas O que afinal a inconsistncia temporal? - O objetivo da poltica monetria o de estabilidade de preos no longo prazo. Entretanto, no curto prazo, as autoridades monetrias acabam revendo os seus compromissos e so tentadas a gerar excessos de liquidez para estimular o produto. Este fenmeno chamado de inconsistncia temporal e acaba provocando o chamado vis inflacionrio. As regras monetrias buscaram eliminar a discricionariedade dos bancos centrais atravs

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    de regras rgidas de crescimento do agregado monetrio. As regras acabavam sendo muito rgidas eliminando qualquer discricionariedade das autoridades monetrias e atando as mos dos diretores dos Bancos Centrais no curto prazo. As novas polticas baseadas em compromissos com metas de inflao, com polticas monetrias mais flexveis, permitiram a eliminao da tentao inflacionista de curto prazo e garantiram uma maior eficcia da poltica no curto prazo.

    Algo de semelhante ocorreu com a poltica fiscal. As autoridades fiscais, embora tenham como compromisso manter a sustentabilidade fiscal no longo prazo, tambm so influenciadas pela tentao de manter a economia aquecida no curto prazo. Novamente, as regras fiscais tentaram cortar este vis inflacionista, a custa, contudo, de um enrijecimento muito forte dos instrumentos fiscais, e impedindo a poltica de estabilizao do produto necessria para se contrapor aos eventuais choques de demanda e ou oferta no curto prazo.

    Apesar das semelhanas, contudo, h diferenas importantes entre a poltica monetria e a poltica fiscal. Claramente, a poltica monetria mais eficaz no curto prazo do que a poltica fiscal. A razo que os agentes em geral duvidam que as medidas de poltica fiscal sejam permanentes. Neste sentido os efeitos dessas polticas de corte de impostos, por exemplo, s se fazem sentir quando a economia se convence que no sero questionadas politicamente na prxima legislatura.

    Adicionalmente, as implicaes polticas no caso de medidas fiscais so muito maiores. Em boa parte, estas se devem aos aspectos distributivos associados a medidas fiscais, aspectos estes menos presentes na conduo da poltica monetria. Estas ltimas, embora afetem a taxa de juros e o cmbio no curto prazo, voltaro ao seu estado natural no longo prazo. No caso da poltica fiscal h uma inevitabilidade democrtica que torna mais lenta as decises, aumentando tambm seu grau de incerteza. No caso do legislativo, em economias como a brasileira, fica evidente o vis inflacionista do oramento. A reeleio dos parlamentares guarda forte dependncia com a alocao do oramento em projetos pertencentes aos estados e municpios dos

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    parlamentares. Finalmente vale lembrar que mudanas de direo e correes de curso nas decises fiscais so muito mais difceis pela prpria dinmica do processo decisrio, em comparao com a poltica monetria.

    As regras fiscais que foram utilizadas para eliminar o vis expansionista dos governos apresentaram caractersticas diversas: umas implicaram em controles anuais de gastos, outras se basearam no controle dos dficits, e outras ainda apresentaram uma meta de relao dvida /PIB. Em todos os casos, as regras impuseram uma camisa de fora no curto prazo impedindo polticas anti-cclicas adequadas e acabaram por serem desrespeitadas, em ocasies diversas, mostrando a sua ineficcia.

    2.2 Princpios e proposies de poltica fiscal

    Os princpios da poltica fiscal devem se basear em disciplina oramentria no longo prazo permitindo, ao mesmo tempo, flexibilidade de perseguir polticas anti-cclicas no curto prazo. A maior parte das economias identifica o equilbrio oramentrio anual como indicador de disciplina fiscal. Isto obviamente um equvoco j que o que interessa que o oramento seja equilibrado ao longo da vida da economia, isto em perodos muito mais longos. O que interessa perceber que a restrio oramentria no anual, mas envolve a capacidade de pagamento intertemporal. No s ao longo dos ciclos oportuna a ocorrncia de dficits para estimular a economia durante o perodo de recesso, que sero compensados por supervits no perodo de recuperao, como tambm ao longo do processo de crescimento de mdio e longo prazo pode ser eficiente o governo tomar emprestado nos perodos em que a renda ainda limitada para complementar a sua poupana desde que possam ser compensados mais tarde com supervits advindos do aumento da capacidade produtiva e, portanto, da arrecadao fiscal e eventual reduo do crescimento dos gastos de investimento.

    A proposta para uma poltica fiscal que no apresente inconsistncia temporal, isto , a tentao de gastar muito, tem sido implementada pelo estabelecimento de regras rgidas no curto prazo. Uma idia que est formalizada no modelo

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    apresentado pelo NAE a de que a inconsistncia temporal seja eliminada pelo comprometimento de se perseguir uma meta dvida/PIB em um horizonte mais longo. Este compromisso permitiria uma flexibilidade no curto prazo para implementar polticas anti-cclicas, com efeitos positivos sobre o crescimento de longo prazo, garantindo ao mesmo tempo a sustentabilidade do oramento do governo no longo prazo.

    As dificuldades de perseguir uma poltica fiscal sustentvel, entretanto, so enormes. Uma limitao fundamental que o horizonte de compromisso com a sustentabilidade pode se limitar ao mandato presidencial. O outro limite naturalmente so as presses advindas do perodo eleitoral. Alm desses limites h uma dificuldade intrnseca ao conceito de oramento intertemporal que tem a ver com os movimentos cclicos da economia. Esses levam naturalmente a movimentos pr-cclicos na receita fiscal - quando a economia se expande a receita tende a crescer mais do que o produto, o contrrio verdadeiro no perodo recessivo. Esses movimentos devem ser considerados quando se examina o comportamento oramentrio.

    Levando em conta estas restries, o NAE prope que seja implementada uma poltica fiscal baseada no conceito da meta dvida/PIB e que respeite os requerimentos da estabilidade monetria e do crescimento econmico. Para que esta nova poltica fiscal possa funcionar preciso que haja uma mudana institucional. preciso que se crie um Conselho de Poltica Fiscal (CPF) a imagem e semelhana do Conselho de Poltica Monetria, no nosso caso o COPOM, que tenha a responsabilidade de garantir que a meta seja respeitada. O espectro das funes do CPF iria de um extremo de responsabilidade pela poltica fiscal at o de apenas um conselho consultivo. A questo que se coloca compreender os limites institucionais e, a partir desses, definir as responsabilidades do CPF.

    No caso da economia brasileira a conteno oramentria para garantir a meta de supervit primrio ultrapassa os limites do legislativo. O executivo e o legislativo devero no incio do mandato se comprometer com uma meta fiscal. O cumprimento dessa poder ser ento delegado ao conselho fiscal. O sucesso da poltica fiscal vai depender da delegao efetiva ao conselho. Os

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    membros do conselho devero ser responsabilizados perante o parlamento de suas aes. O desenho dessas instituies, contudo, dever estar aberto para discusso da sociedade.

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    Captulo II O modelo macroeconmico de coordenao poltica

    1 O modelo

    1.1 Descrio qualitativa

    O MMCP inspirado no trabalho de Fvero e Giavazzi (2004), que discute a relao entre polticas fiscal e monetria na economia brasileira. Trata-se de um sistema de equaes capaz no s de definir um vetor de equilbrio para variveis macroeconmicas centrais, como tambm capaz de gerar trajetrias de ajuste em direo a este equilbrio.

    Tambm possvel investigar o papel de choques exgenos (como por exemplo, uma reduo global do apetite ao risco de investidores internacionais) sobre a dinmica das variveis macroeconmicas. Assim, mediante exerccios de simulao, o modelo pode ser utilizado para responder inmeras perguntas relevantes para o quadro macroeconmico atual.

    O modelo contempla a determinao de 14 variveis macroeconmicas:

    1) Risco pas (EMBI);

    2) Relao supervit primrio-PIB;

    3) Relao dvida PIB;

    4) Relao gasto pblico PIB;

    5) Relao receita - PIB (carga tributria);

    6) Proporo da despesa pblica com investimentos;

    7) Taxa de juros de longo prazo (SWAP);

    8) Taxa de juros de curto prazo (SELIC);

    9) Inflao;

    10) Taxa de juros natural;

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    11) Crescimento tendncial;

    12) Investimento privado PIB;

    13) iIvestimento pblico PIB; e

    14) Custo implcito da dvida.

    O modelo combina equaes comportamentais sobre o funcionamento da economia, identidades macroeconmicas e regras de poltica econmica, as quais so utilizadas para introduzir as mudanas de polticas sugeridas. Assim, possvel estudar quantitativamente o efeito da introduo de medidas de poltica econmica sobre as demais variveis do sistema respeitando a conexes econmicas presentes em todas as equaes.

    A varivel taxa de juros natural de crucial importncia no modelo. Ela corresponde a aquela taxa de juros que induz uma taxa de variao nula na inflao. A taxa de juros natural est intimamente ligada ao crescimento econmico sustentado: quanto menor for seu valor, mais a economia pode crescer sem aumentar a inflao. Assim, ela funciona como porta de entrada para o crescimento econmico no modelo.

    O papel de possveis determinantes do crescimento modelado atravs da equao que determina a taxa de juros e de uma funo de produo. O modelo assume que a taxa de juros natural influenciada por valores da dvida - PIB, pela inflao, pelo risco pas, e pela carga tributria. Desta forma, o modelo cria um elo entre o curto e o longo prazo, que fundamental para se discutir os rumos da economia brasileira. No que diz respeito poltica monetria, o modelo traz uma regra de Taylor simplificada em que o Banco Central busca alinhar as expectativas inflacionrias com sua meta de inflao. A dinmica inflacionria modelada segundo uma verso modificada da curva de Phillips Novo-keynesiana hbrida, que relaciona aumento de preos ao hiato entre as taxas de juros de longo prazo e natural. No que diz respeito poltica fiscal, foi adotada uma regra de poltica para a relao receita - PIB que permite inserir uma trajetria de queda arbitrria para a carga tributria; no lado da despesa, foi modelado o gasto pblico com um componente de persistncia

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

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    e termos comportamentais que descrevem a reao do governo em relao a patamares observados, esperados e desejados para a dvida - PIB e com relao a um nvel desejado de gasto-PIB. O modelo tambm inclui uma regra de poltica que permite ajustar a qualidade da despesa pblica. A dinmica da dvida segue uma regra contbil padro sendo determinada pelo custo implcito da dvida, pelo crescimento do PIB, pela taxa de inflao e pelo supervit primrio.

    A taxa de juros de longo prazo (essa no a TJLP, mas sim uma taxa pr-fixada para perodos de 1 ano e determinada pelo mercado), que a taxa mais relevante para a tomada de investimentos, influenciada no apenas pela taxa de juros de curto prazo (SELIC), mas tambm pelo risco Brasil. O Risco Brasil determinado por fatores internacionais e fatores domsticos. Os fatores internacionais esto expressos em termos do apetite ao risco dos investidores estrangeiros, medido como o diferencial de juros pagos por ttulos corporativos americanos e a Treasury Bill. Os fatores domsticos so expressos como a expectativa da relao dvida - PIB. O modelo tambm apresenta um bloco do crescimento que determina o crescimento potencial. Est baseado em uma funo de produo pertencente teoria do crescimento endgeno. O investimento privado afetado pelo custo do capital (taxa de juros real ex-ante), por elementos de lucratividade (dentre os quais se destaca a carga-tributria) e por externalidades do investimento pblico. O investimento pblico uma varivel de poltica econmica.

    As 14 variveis so determinadas simultaneamente no modelo segundo uma rica teia de inter-relaes, as quais so definidas a partir consideraes econmicas e de convenincia analtica. Fica claro que uma anlise puramente verbalizada teria dificuldade para racionalizar todos os efeitos de feedback2 implicados pelo modelo. No entanto, preciso reconhecer que algumas simplificaes e abstraes so necessrias. Neste esprito, so apresentadas as equaes a seguir.

    2 Realimentao do sistema visando alcanar um fim.

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    1.2 Equaes

    Equao 1: Risco Brasil (EC) - persistncia, apetite ao risco internacional, dinmica esperada da dvida pblica.

    Onde tEmbi corresponde ao risco-pas no perodo t, USSpread corresponde ao

    spread entre ttulos corporativos americanos e a T-bill do ttulo do tesouro

    americano (uma medida para o apetite ao risco internacional), etb 1+ corresponde expectativa da razo dvida - PIB para o perodo t+1, 1 , 2 e 3 so todos parmetros positivos.

    Equao 2: Taxa de Juros de Longo Prazo (EC) - persistncia, risco Brasil, taxa de juros de curto prazo.

    selictt

    swapt

    swapt iEmbiii 3211 ++=

    Onde swapti corresponde taxa de juros de longo prazo no perodo t, tEmbi corresponde ao risco-pas no perodo t, selicti corresponde taxa de juros de curto prazo, 1 , 2 e 3 so todos parmetros positivos.

    Equao 3: Taxa de Juros de Curto Prazo (EC) - persistncia, combate inflacionrio

    Onde selicti corresponde taxa de juros de curto prazo (SELIC) no perodo t, e

    t 1+pi corresponde expectativa da taxa de inflao para t+1, pi corresponde

    meta inflacionria, , 0 e 1 so todos parmetros positivos.

    ))(1( 132111 etustt bSpreadEmbiEmbi + ++=

    ))(( *1101 pipi ++= + etselictselict ii

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    Equao 4: Inflao (EC) - persistncia, inflao esperada, presso de demanda.

    Onde tpi corresponde taxa de inflao no perodo t, et 1+pi corresponde

    expectativa da taxa de inflao para t+1, swapti corresponde taxa de juros de longo prazo no perodo t, natti corresponde taxa de juros natural no perodo t,

    1 e 2 so parmetros positivos e 3 um parmetro negativo.

    Equao 5: Receita - PIB (RP) - (equilbrio e velocidade de ajustes discricionrios)

    211 += tt rr

    Onde tr corresponde relao receita - PIB no perodo t, 1 e 2 so

    parmetros positivos.

    Equao 6: Despesa Pblica - PIB (RP+EC) - persistncia, reao dvida

    Onde tg corresponde relao gasto - PIB no perodo t, 1a um parmetro

    positivo e 2a , 3a e 4a so parmetros negativos, b e g correspondem

    funes que parameterizam metas para dvida pblica e gasto pblico. tb

    corresponde relao dvida - PIB no perodo t.

    Equao 7: Supervit Primrio-PIB (IM) Receita - PIB menos Despesa Pblica - PIB

    ttt grd =

    Onde td corresponde relao supervit primrio-PIB no perodo t.

    )(31211 nattswaptettt ii ++= + pipipi

    )()()( 413211 ggabbabbagag ttetttt +++= +

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

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    Equao 8: Proporo da Despesa Pblica com Gastos Correntes e Transferncias (RP) - (equilbrio e velocidade de ajustes discricionrios)

    Onde tsharegc _ corresponde proporo do gasto pblico com gastos

    correntes e transferncias no perodo t, 1 e 2 so parmetros positivos.

    Equao 9: Dvida Pblica - PIB (IM)

    Onde tb corresponde relao dvida - PIB no perodo t, divti corresponde

    taxa de juros de longo prazo no perodo t, natti corresponde taxa de juros natural no perodo t, td corresponde relao supervit primrio-PIB no

    perodo t, tpi corresponde taxa de inflao no perodo t, ttrendcresc _

    corresponde a taxa de crescimento potencial do PIB e um parmetro negativo. O denominador da frao que multiplica 1tb corresponde taxa de

    crescimento do pib nomimal.

    Equao 10: Crescimento Tendencial (EC) - Investimento privado, investimento pblico, crescimento produtividade

    Onde 1p corresponde a um parmetro positivo, denota a taxa de depreciao, tipriv e tipub correspondem , respectivamente, investimento

    privado-PIB e investimento pblico-PIB e prodgrowth corresponde taxa de

    211 __ += tt sharegcsharegc

    prodgrowthipubpiprivptrendcresc ttt += 11_

    tt

    NOMINALPIBOCRESCIMENT

    REALPIBOCRESCIMENT

    natt

    swapttt

    divt

    t dbiitrendcrescib

    t

    t

    +++

    +=

    1)100/)(100/_1)(100/1()100/1(

    4444444444 34444444444 21

    4444444 34444444 21pi

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    crescimento da produtividade. A apresentao PowerPoint traz um slide com a derivao da equao acima a partir de uma funo de produo do tipo AK.

    Equao 11: Investimento Privado (EC) - Lucratividade, custo do capital, externalidade do Investimento Pblico

    Onde icon , 4p , 3p , 5p , 1 , 2 e 3 so parmetros positivos, natii

    corresponde taxa de juros natural, )( 1etswapti +pi corresponde taxa de juros real (ex ante), tipub corresponde ao investimento pblico, e tipriv corresponde ao investimento privado.

    Equao 12: Investimento Pblico (RP+ID) - (equilbrio e velocidade de ajustes discricionrios)

    Onde tipub corresponde ao investimento pblico, tsharegc _ corresponde

    proporo do gasto pblico com gastos correntes e transferncias no perodo t e tg corresponde relao gasto - PIB no perodo t.

    Equao 13: Taxa de Juros Incidente sobre a dvida (RP+EC) - Gerncia da dvida, transio para papis pr-fixados

    Onde divti corresponde ao custo implcito da dvida, swapti corresponde taxa de

    juros de longo prazo (swap), e tdivfat so parmetros positivos.

    351341

    2

    )( pi

    +

    += + 4342144 344 21321

    ttt adeExternalid

    t

    capitaldoCusto

    e

    tswapt

    adeLucrativid

    natit ipubpipipipriv

    ttt gsharegcipub )_1( =

    tswapt

    divt

    divt divfatiii )1(1 +=

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

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    Equao 14: Taxa de Juros Natural - Componente exgeno, persistncia, estabilidade macroeconmica, carga tributria

    )( 1131211*1 etetetetnattnatnatt rEmbibiii ++++ +++++= pi

    64151 )()( += ++ etet rr

    Onde natti corresponde taxa de juros natural no perodo t, 1tb corresponde relao dvida - PIB no perodo t-1, tpi corresponde taxa de inflao no

    perodo t, 1tEmbi corresponde ao risco-pas no perodo t-1, tsharegc _

    corresponde proporo do gasto pblico com gastos correntes e transferncias no perodo t , tr corresponde relao receita - PIB no perodo

    t, i , nat , 1 , 2 , 3 , 4 , 5 e 6 so parmetros positivos.

    2 Uma aplicao

    2.1 Debate econmico e uma proposta de crescimento

    Desenvolvimentistas e neoliberais esto de acordo ao afirmarem que o investimento privado deve ser o protagonista ser o protagonista na acelerao do crescimento econmico. Contudo, divergem no que diz respeito melhor estratgia para criar um ambiente favorvel ao investimento. Para os desenvolvimentistas, o Estado deve desempenhar o papel de agente indutor do crescimento econmico, mediante atuao consciente e direcionada na correo de entraves estratgicos. Em contraposio, os neoliberais no acreditam na capacidade do Estado em corrigir tais entraves sem gerar outras distores e vem no mercado a melhor alternativa para o crescimento. Desta maneira, enquanto desenvolvimentistas acreditam em um estado influente desempenhando um papel ativo, os neoliberais apostam em um estado regulador que apenas lubrifique as engrenagens para o bom funcionamento do mercado.

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    Assim, a posio neoliberal para a retomada do crescimento est centrada na reduo da parcela ineficiente da economia mediante contrao de gastos correntes do governo. Com isso, haveria um maior espao para a gerao de supervits fiscais e reduo acelerada da dvida como proporo do PIB. Em reconhecimento a tal esforo, o mercado reduziria o custo do financiamento da dvida pblica, permitindo a reduo da taxa de juros real e estimulando ento o investimento privado. Os desenvolvimentistas, por outro lado, no concordam com esse mecanismo fiscal para a reduo da taxa de juros real, identificando o programa de metas de inflao como o verdadeiro vilo das altas taxas de juros reais e do baixo investimento privado. Nesse contexto, ainda que desenvolvimentistas e neoliberais concordem com a necessidade de se reduzir a carga tributria e aumentar o investimento pblico, tais pontos adquirem aspecto secundrio quando comparados s medidas de aumento do esforo fiscal (neoliberais) e de mudana na poltica monetria (desenvolvimentistas).

    interessante notar que neoliberais e desenvolvimentistas esto mais prximos do que aparentam. Ao preconizarem a reduo da taxa de juros real como elemento central para o estmulo ao investimento privado, ambos oferecem o diagnstico de que a reduo do custo de capital a chave para a retomada do crescimento. Contudo, a lucratividade de um investidor privado depende tambm de outros fatores, como por exemplo: carga-tributria, infra-estrutura, e reformas microeconmicas. Sem descontar a importncia do terceiro fator acima citado, que possui influncia sobre o aumento da produtividade, enfatizamos aqui o papel da reduo da carga-tributria e do aumento de investimentos em infra-estrutura como elementos que devem figurar em primeiro plano na discusso de medidas a serem adotadas pelo governo para a retomada do crescimento.

    O modelo macroeconmico apresenta aspectos convergentes e divergentes com as escolas desenvolvimentista e neoliberal, mas seu objetivo central diferente de ambos: produzir um forte estmulo ao investimento privado, atravs do aumento da lucratividade esperada, pela reduo anunciada da carga-tributria e do aumento de investimento pblico em infra-estrutura. Ao mesmo

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    tempo, necessrio preservar a estabilidade macroeconmica, mantendo o controle inflacionrio e a solvncia da dvida pblica.

    A contragosto dos desenvolvimentistas necessrio continuar fornecendo todo o suporte a um programa de metas de inflao austero que iniba presses inflacionrias nascentes na economia. A contragosto dos neoliberais, a reduo da carga tributria deve ser realizada em um contexto de reduo gradual da relao dvida - PIB, em que a reduo da carga-tributria deve ser o foco central no estmulo do crescimento.

    Em favor dos desenvolvimentistas, o estado possui papel fundamental no crescimento econmico atravs da ampliao do investimento pblico em infra-estrutura, o que deve ser feito de forma arrojada para compensar a reduo anunciada de receita tributria. Em favor dos neoliberais, tal melhoramento na qualidade da despesa pblica ir sim requerer medidas de conteno e corte de gastos correntes, assim como o aumento da eficincia da mquina pblica.

    Para examinar a consistncia macroeconmica dessa proposta foi elaborado um exerccio analtico baseado em um modelo matemtico de pequeno porte.

    A finalidade desse modelo no provar matematicamente que a estratgia aqui proposta o nico e melhor caminho a ser seguido mas to somente organizar os argumentos de forma a permitir uma discusso mais produtiva e transparente. Assim, as projees aqui contidas no devem ser encaradas com um ar de superioridade cientfica, mas como valores que refletem essa opinio sobre a melhor estratgia de crescimento, tendo estes sidos filtrados por uma estrutura analtica desenhada para captar vrias dimenses da realidade econmica, que muitas vezes escapam a uma argumentao meramente verbalizada. O uso do modelo pode auxiliar na avaliao da consistncia macroeconmica de promessas e limitaes associadas a diversos argumentos e, em particular, estratgia aqui delineada. Assim, o modelo deve ser encarado como uma ferramenta metodolgica que facilita o surgimento de respostas sistematizadas com uma cobertura minimamente satisfatria entre as vrias dimenses macroeconmicas.

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    A estratgia proposta para o crescimento busca um crculo virtuoso e est baseada em duas frentes de ao: a manuteno da credibilidade da poltica monetria e uma poltica fiscal responsvel. A primeira frente de atuao, correspondendo ao lado esquerdo do tringulo do crescimento (Figura 1), consiste em utilizar o investimento pblico como elemento indutor inicial do crescimento. Para que tal iniciativa no resulte simplesmente em uma piora na gesto da dvida pblica, associada a um aumento transitrio no produto e em uma futura repercusso inflacionria, necessrio ateno para a segunda frente de atuao. Esta corresponde ao lado direito do tringulo de crescimento, e consiste em sinalizar para o setor privado a construo de um cenrio econmico que estimule a atividade produtiva, no s pela queda nas taxas de juros, mas principalmente pela reduo na carga tributria.

    Um elemento central dessa estratgia diz respeito sustentabilidade da relao dvida - PIB em um contexto em que se prope a manuteno dos avanos nos programas sociais, aumentos do investimento pblico e reduo da carga-tributria. O papel central do modelo proposto indicar consistncia macroeconmica deste mix de poltica econmica, dados os bvios trade-offs envolvidos. Em linhas gerais, o mecanismo central para a reduo da relao dvida - PIB no deve estar baseado em medidas que busquem diretamente a reduo do numerador desta frao, mas sim em medidas que estimulem o investimento privado ao garantirem uma lucratividade esperada maior para o setor produtivo. Ao mesmo tempo, necessrio reconhecer que o elevado custo implcito da dvida e o modesto crescimento econmico verificado nos ltimos anos so fatores extremamente perversos para a evoluo da relao dvida - PIB e, portanto, devem ser combatidos com firmeza j no curto prazo.

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    Figura 01

    Como no provvel que o crescimento econmico brasileiro atinja os nveis desejados j em 2007 nem que o custo implcito da dvida apresente reduo substancial neste perodo, nosso modelo indica ser necessrio neste primeiro ano a manuteno de um supervit primrio prximo aos nveis anteriores. Para os anos subseqentes, um crescimento mais vigoroso associado a menores taxas de juros incidentes sobre a dvida, garantiria a estabilidade da dvida - PIB com sacrifcios fiscais menores.

    2.2 Gerando trajetrias de ajuste para economia brasileira

    Partindo do princpio de que o Brasil hoje se encontra em transio para um equilbrio macroeconmico mais favorvel, dada a implementao de medidas de poltica econmica benficas baseadas na reduo da carga tributria e no aumento do investimento pblico, o modelo macroeconmico nos permite simular uma trajetria tendencial para a economia brasileira em direo a este equilbrio favorvel. Inicialmente, preciso identificar qual este novo equilbrio, o que feito de forma consistente com a premissa de que a reduo da carga tributria e o aumento do investimento pblico so medidas

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    essenciais para a retomada do crescimento sustentado, assim como, a manuteno da estabilidade macroeconmica garantida por polticas fiscal e monetria responsveis.

    Como este novo equilbrio corresponde a uma taxa de crescimento econmico maior, so necessrias hipteses acerca dos determinantes do crescimento, as quais esto embutidas na equao da taxa de juros natural. Em seguida o modelo parametrizado de tal forma que, ao se resolver o sistema de equaes encontrado uma soluo de equilbrio, que reflete essa percepo sobre o impacto dos estmulos ao crescimento, sendo que esta soluo servir como ponto atrator para a trajetria das 14 variveis macroeconmicas do modelo. Assim, as variveis macroeconmicas iro convergir em direo ao novo equilbrio, obedecendo s relaes de consistncia estipuladas no modelo.

    Durante o processo de parametrizao, foi buscado manter consistncia com alguns valores estimados por Fvero e Giavazzi (2004), valores comumente utilizados na literatura e em argumentos econmicos. No foi realizada uma estimao economtrica estrutural dos coeficientes, o que pode ser uma interessante extenso do modelo. Uma vez identificados os parmetros que geram o equilbrio desejado, foi realizado o seguinte experimento:

    a) o modelo foi posicionado em 2006, atribuindo como valores iniciais valores aproximados (ou esperados) para as 14 variveis macroeconmicas de interesse referentes a este perodo;

    b) deixou-se a economia convergir para o novo equilbrio segundo as relaes dinmicas previstas pelo modelo.

    interessante ressaltar que, por no ser um modelo estimado, os valores e trajetrias abaixo refletem nossa pr-concepo sobre determinantes do crescimento econmico e, portanto, nossa crena na estratgia aqui sugerida. Porm, essa trajetria filtrada por uma srie de relaes macroeconmicas comportamentais e de consistncia contbil, alm de fazer uso de uma moderna literatura sobre soluo de modelos de expectativas racionais, o que faz do exerccio mais do que um mero trusmo. O modelo uma tentativa de

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    ancorar o debate, tornando transparentes as hipteses e coeficientes necessrios para que essa estratgia funcione. A sua mensagem mais importante diz respeito ao conceito de que a formulao/gesto de poltica econmica deve ser subsidiada por um arcabouo terico nos moldes de recentes desenvolvimentos da macroeconomia, conforme discutido no primeiro captulo.

    O quadro, a seguir, identifica os valores iniciais assumidos para 2006, com base na nova metodologia do IBGE e fornece tambm a projeo dos valores gerados para o ano de 2010.

    2.44 1.81 Inv. Pblico-PIB 20.76 16.63 Inv. Privado-PIB 9.03 17.00 Tx Juros Dvida

    29.23 30.10 Gastos-PIB 30.20 34.00 Receita-PIB 5.99 3.78 Crescimento 4.01 3.11 Inflao 7.93 12.75 Tx Juros Swap 8.84 13.25 Tx Juros Selic 7.68 10.00 Tx Juros Natural 1.87 2.00 Embi 0.97 3.90 Supravit-PIB

    38.19 45.00 Dvida-PIB 2010 2006

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    As trajetrias de ajuste de cada varivel so dadas por:

    Dvida Pblica como Proporo do PIB

    34.00

    36.00

    38.00

    40.00

    42.00

    44.00

    46.00

    2006 2010 2014 2018 2022

    %

    Supervit Primrio como Proporo do PIB

    -2.00

    -1.00

    0.00

    1.00

    2.00

    3.00

    4.00

    5.00

    2006 2010 2014 2018 2022

    %

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    43

    Risco Brasil: Embi

    1.60 1.65 1.70 1.75

    1.80 1.85 1.90 1.95 2.00 2.05

    2006 2010 2014 2018 2022

    %

    Taxa de Juros Natural

    7.00

    7.50

    8.00

    8.50

    9.00

    9.50

    10.00

    10.50

    2006 2010 2014 2018 2022

    %

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    Taxa de juros de curto prazo (Selic)

    6.00

    7.00

    8.00

    9.00

    10.00

    11.00

    12.00

    13.00

    14.00

    2006

    2010

    2014

    2018

    2022

    %

    Taxa de Juros de Longo Prazo

    6.00

    7.00

    8.00

    9.00

    10.00

    11.00

    12.00

    13.00

    14.00

    2006 2010 2014 2018 2022

    %

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

    45

    Inflao

    2.00

    2.50

    3.00

    3.50

    4.00

    4.50

    2006 2010 2014 2018 2022

    %

    Crescimento do PIB

    0.00

    1.00

    2.00

    3.00

    4.00

    5.00

    6.00

    7.00

    2006 2010 2014 2018 2022

    %

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    Receita (r) e Gasto (g) Proporo do PIB

    28.00

    29.00

    30.00

    31.00

    32.00

    33.00

    34.00

    35.00

    2006 2010 2014 2018 2022

    %

    r g

    Gasto Corrente + Transferncias / PIB

    25.50

    26.00

    26.50

    27.00

    27.50

    28.00

    28.50

    2006 2010 2014 2018 2022

    %

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

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    Proporo da Despesa Publica com Investimento Pblico

    0.00

    2.00

    4.00

    6.00

    8.00

    10.00

    12.00

    2006 2010 2014 2018 2022

    Taxa de Juros Incidente sobre a Dvida Pblica

    0.00 2.00 4.00 6.00 8.00

    10.00

    12.00 14.00 16.00 18.00

    2006 2010 2014 2018 2022

    %

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

    48

    Investimento Privado como Proporo do PIB

    10.00

    12.00

    14.00

    16.00

    18.00

    20.00

    22.00

    24.00

    2006 2010 2014 2018 2022

    %

    Investimento Pblico como Proporo do PIB

    0.00

    0.50

    1.00

    1.50

    2.00

    2.50

    3.00

    3.50

    2006 2010 2014 2018 2022

    %

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

    49

    2.3 Parmetros utilizados

    1 0.8 0 7 2a

    -0.5 3.5 4p 2.6 nat 0.2

    2 0.7 1 3 3a

    -0.99 prodgrowth

    1.25 3p 0.2 1 0.001

    3 0.01 1 0.1 4a

    -1 1

    42 5p 1.5 2 0.01

    1 0.38 2 0.9 b 40 2 0.77 0.5 3 0.05

    2 1.6 3 -0.01 g 29 3 5 6 3 5 0.5

    3 0.2 1 0.7 1

    0.8 tdivfat 1.02 i 5 4 34

    1

    0.65 2 29 2

    0.90 4 34

    2 0.5 1a 0.95 1p

    1/2.8

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

    50

    Captulo III

    Concluso

    O Modelo Macroeconmico de Coordenao de Poltica (MMCP) representa um conceito destinado a subsidiar a discusso de estratgias de poltica econmica e a formulao de cenrios macroeconmicos para o Brasil no longo prazo. Est baseado na intensa interao entre tcnicos responsveis pela elaborao do modelo e os formuladores/gestores de poltica econmica. Uma caracterstica central do modelo sua preocupao sobre como as decises de poltica econmica no curto prazo afetam as perspectivas de crescimento no longo prazo. O MMCP no busca ser exaustivo neste aspecto, o que significa que certamente existem dimenses relevantes para o longo prazo que no esto nele contempladas; contudo, o modelo procura abordar com cautela de que maneira a coordenao de polticas fiscal e monetria esto relacionadas ao tema crescimento econmico. Uma de suas mensagens principais a de que curto e longo prazos no devem ser pensados como instncias dicotmicas para realidade brasileira.

    O MMCP no construdo para ser uma pea acadmica, embora seu desenvolvimento deva estar fundado nos recentes avanos sobre modelagem macroeconmica encontrados na literatura. Enquanto conceito, o MMCP procura funcionar como uma ncora do debate poltico e econmico, sistematizando discusses sem limit-las. A exemplo de outras instncias de formulao de poltica econmica pelo mundo, este conceito procura integrar a elevada formao tcnica de jovens profissionais com a experincia e traquejo necessrios ao exerccio da formulao e gesto da poltica econmica. Assim, trata-se, acima de tudo, de uma proposta de valorizao tcnica no servio pblico.

    O MMCP identifica a poltica fiscal como sendo uma instncia particularmente importante nesta interao entre curto e longo prazos na medida em que esta contribui para o bom funcionamento da poltica monetria e tambm para o crescimento econmico. Assim, no apenas a magnitude do resultado fiscal

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

    51

    (meta fiscal) se torna um elemento relevante para o pas alcanar seus objetivos de longo prazo, mas tambm a qualidade deste resultado. Enquanto o Brasil j desfruta de garantias institucionais que preservem o quesito magnitude, falta-lhe o desenvolvimento de garantias que faam o mesmo no quesito qualidade. O MMCP, ao propor uma regra fiscal consistente com a solvncia da dvida e com a manuteno do programa de metas de inflao, em um contexto em que a qualidade do resultado fiscal importa para o crescimento, integra os temas curto e longo prazo e fornece um substrato para se discutir o trade-off entre magnitude e qualidade do resulta fiscal. Desta maneira, o modelo se contrape noo de que alcanar a meta fiscal seja o requerimento mais importante na conduo da poltica fiscal.

    O objetivo central do NAE ao apresentar este caderno no o de fornecer um modelo pronto que j nasa desfrutando de plena relevncia institucional. Pela prpria natureza do modelo proposto, provavelmente jamais este desfrutar de tal nvel de reconhecimento. O importante que ele funcione como uma plataforma de dilogo que permita um debate fundado em bases tcnicas e que torne transparente os argumentos envolvidos. Assim, o NAE pretende persuadir o leitor de que existe espao para um melhoramento da poltica fiscal at aqui conduzida e que tal melhoramento se beneficiaria enormermente caso sua discusso fosse balizada pela construo e aprimoramento de um arcabouo analtico que integrasse dilemas econmicos de curto e longo prazo hoje vividos pelo Brasil.

    Neste sentido, o caderno apresenta argumentos em prol do uso de tcnicas de modelagem macroeconmica para subsidiar processos decisrios, salientando experincias internacionais e a mudana de paradigmas na construo de modelos macroeconmicos. Apresenta-se tambm um breve diagnstico sobre a economia brasileira voltado para o papel dual da poltica fiscal no Brasil: enquanto elemento viabilizador de um programa de metas de inflao bem sucedido e como elemento viabilizador do crescimento econmico pela qualidade do resultado fiscal. Em seguida, MMCP apresentado e utilizado para ilustrar trajetrias de diversas variveis macroeconmicas em resposta a uma estratgia de longo prazo para o Brasil baseada na trade estabilidade

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

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    macroeconmica, investimento privado e investimento pblico. O eixo central desta estratgia a reduo programada e anunciada da carga tributria, aumento do investimento pblico e manuteno da estabilidade macroeconmica mediante uma regra fiscal que garanta a solvncia da dvida e no ameace o programa de metas de inflao.

    O MMCP apenas um exemplo de modelo, mas certamente existem outras opes de modelagem e isto deve ser discutido abertamente. Existem muitos avanos possveis a serem incorporados, mas o NAE espera que os argumentos e exerccios de simulao aqui apresentados indiquem a grande utilidade de se desenvolver um projeto que promova uma aproximao sistematizada dos j existentes estudos de competentes tcnicos da rea com o processo decisrio referente conduo da poltica fiscal. O Modelo Macroeconmico de Coordenao de Poltica (MMCP) almeja facilitar a discusso de estratgias de poltica econmica ao tornar transparentes os mecanismos de transmisso associados a medidas alternativas de poltica econmica.

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

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    Apndice I Construo de cenrios contingentes

    Uma das vrias aplicaes das tcnicas de modelagem defendidas neste texto e, em particular, do MMCP diz respeito construo de cenrios contingentes; ou seja, cenrios macroeconmicos condicionados ocorrncia de choques exgenos. Tais cenrios contingentes subsidiam a tomada de decises preventivas contra eventuais turbulncias exgenas ao fornecerem uma avaliao qualitativa e quantitativa de riscos macroeconmicos. Apresenta-se, abaixo, um exerccio de simulao que captura este ponto, ressalvando-se que as magnitudes e a seqncia temporal dos choques envolvidos tm carter apenas ilustrativo.

    1 Trajetrias centrais e cenrios

    No captulo II, item 2.2, deste estudo, o MMCP foi utilizado para ilustrar uma estratgia de crescimento baseada na reduo da carga tributria e no aumento do investimento pblico. Neste contexto, uma pergunta que poderia surgir como esta estratgia seria afetada por choques econmicos. Assim, consideramos dois tipos de choques. O primeiro deles seria o aumento do risco pas ocasionado primordialmente por fatores domsticos; ou seja, no se trata ento de uma reduo global do apetite ao risco. O segundo choque seria, este sim, resultado de uma restrio no cenrio de liquidez internacional, materializado pelo aumento da taxa de juros americana, ocasionando simultaneamente uma elevao do risco pas.

    Em ambos os casos, contempla-se choques temporrios sobre as trajetrias centrais identificadas na seo anterior, fornecendo assim uma noo de cenrios macroeconmicos contingentes realizao de eventos negativos para a economia brasileira. Espera-se, com isso, avaliar a capacidade de auto-

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

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    correo da economia vis a vis a necessidade de intervenes de poltica que no esto contempladas no modelo. A este respeito, MMCP traz consigo dois pilares de poltica econmica que so capazes de promover ajustes necessrios, quais sejam: as regras de poltica monetria e fiscal. Enquanto a primeira j desfruta de amplo respaldo acadmico e poltico, a segunda regra uma novidade para qual ser necessria esforos institucionais deliberados e especficos para sua construo e operacionalizao.

    2 Os choques

    Suponha que, por fora de fatores domsticos, o Embi + sofra um repentino aumento de 300 pontos no ano de 2007. Embora o acrscimo de 300 pontos ocorra, enquanto um choque exgeno, apenas no ano de 2007, seus efeitos se prolongam por todo o horizonte de previso. Ou seja, os efeitos nocivos do choque no so imediatamente purgados. O MMCP nos permite rastrear a difuso de efeitos sobre as demais variveis macroeconmicas, mais notadamente sobre crescimento, dvida-PIB, supervit-PIB e taxa de juros de longo prazo.

    Conforme apresentado abaixo, um aumento repentino do risco pas provoca uma reduo significativa do crescimento do produto, uma deteriorao da dinmica da dvida, a necessidade de um esforo fiscal maior e uma elevao significativa da taxa de juros de mercado de longo prazo.

    Atravs das equaes do MMCP possvel compreender por que as variveis supracitadas seguem a dinmica ilustrada nos grficos. Em particular, uma elevao do Embi + impacta negativamente a equao que descreve a estrutura a termos da taxa de juros. Com isso, ocorre uma elevao do custo de capital que inibe o crescimento econmico pela reduo do investimento privado. A elevao da taxa de juros de mercado de longo prazo tambm impacta negativamente o custo implcito da dvida, o que piora a sua dinmica. Dado o requerimento de sustentabilidade fiscal embutido no modelo, passa a ser necessrio um maior esforo fiscal, conforme ilustrado abaixo.

  • Modelagem Macroeconmica de Coordenao de Polticas

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    O segundo choque considera um cenrio de elevao da taxa de juros americana. Em particular, supe-se que a economia dos Estados Unido