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  • 8/8/2019 Artigo_Netnografia

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    34 Sesses do imaginrio Cinema Cibercultura Tecnologias da Imagem

    comunicao ciberntica

    NETNOGRAFIA COMO APORTE METODOLGICODA PESQUISA EM COMUNICAO DIGITAL*

    Adriana Amaral **, Gergia Natal *** e Lucina Viana****

    R e s u m oR e s u m oR e s u m oR e s u m oR e s u m o

    Ao definir o papel da netnografia como umametodologia para estudos na Internet (HINE, 2000) ecomo um mtodo interpretativo e investigativo parao comportamento cultural e de comunidades on-line(KOZINETS, 1997), o prprio mtodo se traduz como

    objeto de estudo no presente artigo. Abordamosaqui alguns exemplos de uso do mtodo nos estu-dos em comunicao mediada pelo computador, as-sim como uma breve problematizao sobre o papeldo pesquisador nesse contexto.

    P a l a v r a s - c h a v e P a l a v r a s - c h a v e P a l a v r a s - c h a v e P a l a v r a s - c h a v e P a l a v r a s - c h a v e Netnografia - Metodologia de pesquisa - Cibercultura

    By defining the place of netnography as amethodological tool for Internet studies (HINE, 2000)and as an interpretative and researching method forcultural behaviour of on-line communities(KOZINETS, 1997), the method itself became an object

    of study in our present paper. We also share someexamples of netnographic uses and analyses insidecomputer mediated communication studies as also asa brief analysis about the research role in this context.

    Key WordsKey WordsKey WordsKey WordsKey Words

    Na noo fundamental de simbolizao mstica,

    prtica ou matemtica, no faz diferena temos

    o problema central de todos os problemas

    humansticos. Nela repousa a nova concepo de

    mentalidade que pode iluminar questes da

    vida e conscincia, em vez de obscurec-las como

    os mtodos cientficos tradicionais tem feito1

    (LANGER, 1942).

    BREVEDESCRIODOTEMAEESCOLHASTERICO-METODOLGICAS

    O presente artigo analisa algumasaplicaes da ferramenta metodolgica netnografia

    no campo da comunicao digital, apresentandoformas de apropriao do mesmo nos estudos emcibercultura. Para tanto, iniciamos nossaabordagem com algumas definies preliminaresdessa metodologia. O termo netnografia tem sidomais amplamente utilizado pelos pesquisadores darea do marketing e da administrao enquanto otermo etnografia virtual mais utilizado pelos

    pesquisadores da rea da antropologia e dascincias sociais. Para fins didticos, utilizamosambos como sinnimos.

    O neologismo netnografia (nethnography= net + ethnography) foi originalmentecunhado por um grupo de pesquisadores/as norte americanos/as, Bishop, Star,

    Neumann, Ignacio, Sandusky & Schatz, em1995, para descrever um desafiometodolgico: preservar os detalhes ricosda observao em campo etnogrficousando o meio eletrnico para seguir osatores (BRAGA, 2001, p. 05)

    Todavia discordamos da autora ao sugerirque a netnografia seja constituda por uma meratransposio do mtodo etnogrfico aos ambientesmiditicos e de relacionamento on-line atravs de

    um acompanhamento dos atores sociais, uma vezque as dinmicas comunicacionais tanto entre osobjetos observados como na relao pesquisador-objeto podem diferir, principalmente em relao noo de tempo-espao, conforme discutem Hine(2005) e Hodkinson (2005), por exemplo.

    Baseada na observao de que na reflexodos principais estudiosos da comunicao em redeas prticas e metodologias de pesquisa so poucoexplicitadas e discutidas (S, 2002, p. 155),

    justifica-se a discusso da metodologia abordada

    Netnography - Research methodology - Cyberculture

    A b s t r a c t A b s t r a c t A b s t r a c t A b s t r a c t A b s t r a c t

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    e a pertinncia de trabalhos que trabalhem no

    sentido de clarear os caminhos que sero traados por diversas reas como a antropologia e omarketing e, obviamente, a comunicao, porvezes demandando aproximao com outrosaparatos terico-metodolgicos como anlisesquantitativas e estatsticas (webmetria, nmerode links, etc.), Anlise de Discurso (AD), Anlisede contedo (AC), Anlise de Redes Sociais2, entreoutros, dependente do desenho e das delimitaesque o problema pertinente ao objetocomunicacional requerer.

    A netnografia tambm leva em conta asprticas de consumo miditico (BRAGA, 2007),os processos de sociabilidade e os fenmenos

    comunicacionais que envolvem as representaesdo homem dentro de comunidades virtuais3, faz-se necessrio ressaltar que estas esto emconstante transformao, apresentando-se emformas constantemente provisrias, alm derepresentarem um fenmeno embrionrio(MOSCOVICI, 2006, p. 78).

    ETNOGRAFIAE NETNOGRAFIA

    A etnografia um mtodo de investigaooriundo da antropologia que rene tcnicas quemunem o pesquisador para o trabalho deobservao, a partir da insero em comunidades

    para pesquisa4, onde o pesquisador entra emcontato intra-subjetivo com o objeto de estudo.Fazer etnografia :

    como tentar ler (no sentido de construiruma leitura de) um manuscrito estranho,desbotado, cheio de elipses, incoerncias,emendas suspeitas e comentriostendenciosos, escrito no com os sinaisconvencionais do som, mas com exemplostransitrios de comportamento modelado(GEERTZ, 2001, p. 20) .

    Segundo Christine Hine (2000), aetnografia, em sua forma bsica, consiste em queo pesquisador submerja no mundo que estuda porum tempo determinado e leve em consideraoas relaes que se formam entre quem participados processos sociais deste recorte de mundo,com objetivo de dar sentido s pessoas, quer essesentido seja por suposio ou pela maneiraimplcita em que as prprias pessoas do sentidos suas vidas.

    A transposio dessa metodologia para o

    estudo de prticas comunicacionais mediadas porcomputador recebe o nome de Netnografia, ouetnografia virtual e sua adoo validada no campoda comunicao pelo fato de que muitos objetosde estudo localizam-se no ciberespao(MONTARDO & ROCHA, 2005, p. 01) edemandam instrumental apropriado para suaanlise. Assim, a partir de um determinadoentendimento inicial, observamos a netnografiacomo um dos mtodos qualitativos que amplia oleque epistemolgico dos estudos em comunicaoe cibercultura.

    Essa vertente metodolgica comeou a serexplorada a partir do surgimento de comunidadesvirtuais, no final dos anos 805. No Brasil,entretanto, ainda so poucos os estudos voltados

    para essa questo, seja no que diz respeito metodologia em si ou aos objetos analisados. S(2002) discutiu a questo da aplicao dametodologia para a compreenso das redes digitais.Montardo e Rocha (2005) questionaram a

    pertinncia dos estudos netnogrficos ao campoda comunicao e da cibercultura.

    Duarte (2008) apropriou-se do mtodopara anlise das comunidades de cosplayers,6 doOrkut. Por sua vez, Amaral (2008) enfatiza ocarter mais imersivo do pesquisador, no que

    constitui uma reflexo sobre esse nvel deaproximao entre pesquisador-objeto, designadacomo autonetnografia (2008).

    Os blogs, em seus mais variadosformatos e gneros, tm sido uma ferramenta rica

    para os estudos empricos ao serem analisados a partir de perspectivas netnogrfica nos ltimosanos, conforme detectado por Amaral, Recuero eMontardo (2008), sejam eles de Pessoas com

    Necessidades Especiais (MONTARDO &PASSERINO, 2006) e nos usos e consumos de

    O pesquisador quando vestido de

    netngrafo, se transforma num

    experimentador do campo, engajado

    na utilizao do objeto pesquisado

    enquanto o pesquisa (KOZINETS,

    2007).

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    uma comunidade digital que se organizou em torno

    de um blog cujo tema central a maternidade(BRAGA, 2007). Outros estudos analisam o portal

    jornalstico ClicRBS 7, (ROCHA, 2006); o ambienteon-line dos games (SEP, 2007); o Last.fm8, uma

    plataforma social voltada para a msica(AMARAL, 2007), entre outros.

    A partir da insero do pesquisador nacomunicao mediada por computador para aobservao e investigao de prticas culturais ede comunicao, troca-se o campo no por umno-lugar como aferia Aug (1994) nos anos90, mas por um territrio contguo ao off-line quetanto constitui um meio de comunicao, umambiente de relacionamento e um artefato cultural

    (SHAH, 2005) o que fornece pistas evidentes daconexo da antropologia com a cibercultura(MONTARDO & ROCHA, 2005, p. 08)

    No s a disponibilidade de informaesa respeito de objetos de pesquisa na internet fatordeterminante para o emergir de uma metodologiade pesquisas on-line, mas tambm a localizaodos objetos no ciberespao, alm do

    posicionamento da internet como prprio objetode estudo em sua intrnseca relao com diversasculturas.

    A netnografia, como transposio virtualdas formas de pesquisa face a face e similares8,apresenta vantagens explcitas tais como consumirmenos tempo, ser menos dispendiosa e menossubjetiva, alm de menos invasiva j que pode secomportar como uma janela ao olhar do

    pesquisador sobre comportamentos naturais deuma comunidade durante seu funcionamento, forade um espao fabricado para pesquisa, sem queeste interfira diretamente no processo como

    participante fisicamente presente (KOZINETS,2002). Por outro lado, ela perde em termos degestual e de contato presencial off-line que podemrevelar nuances obnubiladas pelo texto escrito,emoticons, etc.

    O acesso informao tambm

    facilitado, pois a prpria criao de dados on-line feita de forma textual. Nos mtodos face a facede pesquisa qualitativa, necessrio que os dadossejam transcritos para posterior anlise.

    O pesquisador quando vestido denetngrafo, se transforma num experimentadordo campo, engajado na utilizao do objeto

    pesquisado enquanto o pesquisa (KOZINETS,2007). Assim, o acesso informao enfrentadificuldades igualmente proporcionais s

    dificuldades do pesquisador frente utilizao datecnologia em si, conforme nos indica Markham(1998).

    Nesse sentido que as Tecnologias deComunicao e Informao (TICs) se apresentamcomo artefatos culturais (HINE, 2000; 2005,SHAH, 2005), passveis elas mesmas dedificuldades acerca da acessibilidade do

    pesquisador mediante as interfaces adjacentes aosobjetos no campo virtual, como no caso do blogs.

    Como artefatos culturais, eles soapropriados pelos usurios e constitudosatravs de marcaes e motivaes. Almdisso, perceber os blogs como artefatos,indica tambm (...) que so eles orepositrio das marcaes culturais dedeterminados grupos e populaes no

    ciberespao, nos quais possvel, tambm,recuperar seus traados culturais(AMARAL, RECUERO e MONTARDO,2008).

    Os traados culturais demarcados pelainterao nas comunidades, fruns, blogs,

    plataformas so as pistas seguidas pelospesquisadores em sua anlise. Eles indicam umagama variada de posicionamentos, mas

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    principalmente norteiam de onde parte o olhar do

    pesquisador e sua identidade terica. este pontoque trataremos de forma condensada no prximosegmento do texto, ao abordar o posicionamentodo pesquisador em relao ao objeto.

    DE ONDE OLHAR?

    As anlises netnogrficas podem variarao longo de um espectro que vai desde serintensamente participativa at ser completamenteno-obstrutiva e observacional (KOZINETS,2007: 15). Para Hine (2000), o etngrafo habitanuma espcie de mundo intermedirio, sendo

    simultaneamente um estranho e um nativo, tendoque cercar-se suficientemente tanto da cultura queestuda para entender seu funcionamento, comomanter a distncia necessria para dar conta deseu estudo.

    To importante como escolher o grau deinsero em uma comunidade virtual, deixar claroo ponto de observao ao fazer as consideraessobre seu objeto, pois o posicionamento do

    pesquisador pode interferir na forma como osdados so compilados e analisados.

    PARAONDEOLHAR?

    Ainda de acordo com Hine (2000), aforma pela qual a perspectiva etnogrfica funciona

    para os estudos da internet atravs do estudo deseus diferentes usos. Segundo a autora, a definiode Knorr-Cetina (1983) em relao ao carterocasionado, localmente situado exemplifica

    como, ao centrar os estudos nesses usos,

    possvel descrever as negociao sobre o estadodas redes no contexto tanto das prticas

    profissionais e/ou sociais como de suas lgicasoperativas (FISCHER, 2008), sejam elas nocontexto macro ou micro.

    Hine (2000) tambm acredita ser umametodologia ideal para iniciar esta classe deestudos, pois serve para explorar as complexasrelaes existentes entre as afirmaes previsveisdas novas tecnologias em diferentes contextos,como jogos, espaos de trabalho, meios decomunicao de massa, etc. Uma etnografia virtual

    pode observar com detalhe as formas deexperimentao do uso de uma tecnologia, se

    fortalecendo como mtodo justamente por suafalta de receita, sendo um artefato e no ummtodo protocolar, uma metodologia inseparveldo contexto onde se desenvolve, sendoconsiderada adaptativa.

    A netnografia tambm se apresenta comointeressante para o mapeamento dos perfis deconsumo de seus participantes a partir de suas

    prticas comunicacionais nas plataformas sociais(AMARAL, 2007), que corrobora com o

    pensamento de Hine (2005):

    A chegada da Internet colocou um desafiosignificante para a compreenso dosmtodos de pesquisa. Atravs das cinciassociais e humanidades as pessoas seencontraram querendo explorar as novasformaes sociais que surgem quando as

    pessoas se comunicam e se organizam viaemail, websites, telefones mveis e o restodas cada vez mais mediadas formas decomunicao. Interaes mediadaschegaram dianteira como chave, na qual,as prticas sociais so definidas eexperimentadas (HINE, 2005, p. 01).

    Tendo o ciberespao como um meio rico

    para a comunicao a partir do aumento do nmerode usurios (HINE, 2005), as novas tecnologiasampliam a questo da multiplexidade metodolgica

    por transpor a discusso da evoluo tecnolgicaem si para as questes de sociabilidade eapropriao, j o agente de mudana no atecnologia em si, e sim os usos e as construesde sentido ao redor dela (HINE, 2005: 13). Aautora defende ainda a utilizao da etnografiatransposta ao ciberespao como metodologia para

    A superao das dificuldades

    tcnicas do pesquisador acerca dos

    objetos pesquisados e a prpria

    limitao de alguns objetos

    representam barreiras a serem

    transportas pela anlise do trabalho

    netnogrfico

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    suprir o espao de estudo das prticas cotidianas

    em torno da internet.

    COMOOLHAR? OUPREMISSASPARAFUTURASINVESTIGAES

    A netnografia mantm as premissasbsicas da tradio etnogrfica (S, 2002, p. 159)levantadas a partir dos trabalhos de Geertz (2001):manter postura inicial de estranhamento do

    pesquisador em relao ao objeto; considerar asubjetividade; considerar os dados resultantescomo interpretaes de segunda e terceira mo; efinalmente considerar o relato etnogrfico como

    sendo de textualidades mltiplas.Por se tratar de uma transposio de

    metodologia do espao fsico ao espao on-line,ao utilizar a netnografia faz-se necessrio incluir

    procedimentos especficos acerca da tipologia dosobjetos estudados.

    Primeiramente, ressaltamos os critrios deconfiabilidade frente filtragem dos informantesdentro das comunidades virtuais para que se analiseas questes contextualizadas em seu objeto. Dentreas diversas maneiras de aferir essa confiabilidade,destacamos os critrios utilizados por Kozinets(1997) para a escolha de seus informantes e gruposestudados:

    (1) indivduos familiarizados entre eles, (2)comunicaes que sejam especificamenteidentificadas e no-annimas, (3) gruposcom linguagens, smbolos, e normasespecficas e, (4) comportamentos demanuteno do enquadramento dentro dasfronteiras de dentro e fora do grupo(KOZINETS, 1997, p. 9).

    Ainda segundo o autor, a inteno dautilizao desses quatro critrios garante que seest de fato estudando uma cultura ou uma

    comunidade, (...) e no simplesmente examinandouma reunio temporria (KOZINETS,1997).A partir dessa validao da comunidade e

    de seus informantes, Kozinets (2007) recuperaos quatro procedimentos bsicos de metodologiaespecficos da transposio da etnografia para anetnografia. So elas: Entre cultural; coleta eanlise dos dados; tica de pesquisa; e feedback echecagem de informaes com os membros dogrupo As etapas no acontecem de forma esttica,e os pesquisadores trabalham indo e vindo por

    entre elas, apontando vivncia de sobreposies

    e interferncias (aqui num sentido positivo) noqual os procedimentos acontecem de formainterligada (AMARAL, 2008).

    A entre cultural uma etapa delimitadapelo pesquisador previamente, como preparaopara o trabalho de campo. Para se comear um procedimento netnogrfico o pesquisadorprimeiramente precisa preparar-se, levantandoquais tpicos e quais questes ele deseja analisar;e em que tipo de comunidades, fruns e grupos

    pode obter respostas satisfatrias e pertinentes sua pesquisa. Os participantes atuantes nestascomunidades so tambm de grande importnciaquando estudados individualmente, e atravs de

    ferramentas de busca e de pesquisa on-line pode-se chegar a resultados efetivos para o encontrode especficas informaes.

    Para a coleta e anlise, trs tipos decaptura de dados so eficazes, segundo Kozinets(2002). A primeira so os dados coletados ecopiados diretamente dos membros dascomunidades on-line de interesse, onde, devidoao grande nmero de informaes coletadas e sdvidas que estas possam causar, prudente o

    pesquisador se utilizar de vrios tipos filtros paraque sobrem apenas informaes de relevncia parao contorno da pesquisa. A segunda coleta refere-se s informaes que o pesquisador observoudas prticas comunicacionais dos membros dascomunidades, das interaes, simbologias e de sua

    prpria participao. A terceira, finalmente, soos dados levantados em entrevistas com osindivduos, atravs da troca de e-mails ou emconversas em chats, mensagens instantneas ououtras ferramentas.

    Os pontos cruciais que requerem adiscusso de uma tica de pesquisa, segundoKozinets (2002) so, at onde a informao contidanum site pblica ou privada e o que o usoconsensual de informaes no ciberespao. Sendoa netnografia uma metodologia que se utiliza da

    captura de informaes interativas vindas depessoas reais, no apenas de informaes textuaispassadas por uma edio. Assim, o caminhoeticamente recomendvel, que o pesquisador seidentifique e identifique o interesse de sua pesquisa,

    pedindo as permisses necessrias para o uso dasinformaes obtidas em postagens e em conversascom os participantes das comunidades e fruns.Alm da garantia de confidencialidade e anonimatoaos informantes, tratando-os por pseudnimos eno por seus nomes de usurio, incorporando na

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    pesquisa as respostas efeedbacks vindas dos

    participantes ativos das comunidades.Alm de eticamente recomendvel, para

    Kozinets (2002), a checagem de dados com osprprios membros do grupo, legitima e acrescentacredibilidade pesquisa. Atravs dos membros dogrupo e da solicitao de suas opinies, pode-sechegar a insights e concluses alm das observadasem campo.

    CONSIDERAES FINAIS

    Da mesma forma que a comunicaomediada por computador (CMC) corre na trilhadas inovaes tecnolgicas, as metodologiasutilizadas para pesquisa nessa rea seguem omesmo caminho e precisam ser constantementerevisadas para que permaneam pertinentes eatualizadas de acordo com as dinmicas desociabilidade da rede.

    A superao das dificuldades tcnicas dopesquisador acerca dos objetos pesquisados e aprpria limitao de alguns objetos representambarreiras a serem transportas pela anlise dotrabalho netnogrfico, e no pela metodologia emsi, e assim, oferecem ainda muitas indagaes parafuturas pesquisas.

    O etngrafo no um simples voyeur ouum observador desengajado, mas , emcerto sentido, um participantecompartilhando algumas das preocupaes,emoes e compromissos dos sujeitos

    pesquisados. Essa forma estendida dependetambm da interao, em um constantequestionamento do que possuir umacompreenso etnogrfica do fenmeno(HINE, 2000: 47).

    No presente artigo, de carterintrodutrio, procuramos indicar alguns estudos

    e procedimentos que constituem a netnografiaenquanto ferramenta metodolgica utilizada napesquisa em cibercultura e comunicao, pensandoos objetos (games, chats, plataformas sociais,etc.) como dinmicos e mutveis frente satualizaes no apenas tecnolgicas, mas,sobretudo de ordem comportamental e subjetiva.

    O pesquisador deve permanecerconsciente de que est observando um recortecomunicacional das atividades de uma comunidadeon-line, e no a comunidade em si, composta por

    outros desdobramentos comportamentais alm da

    comunicao (gestual, apropriaes fsicas, etc.),sendo esse um dos principais diferenciais entre o

    processo etnogrfico off-line e o on-line.

    *O presente artigo, cujo carter muito mais uma propos-ta em andamento, foi produzido no mbito das discussesdo Grupo de Pesquisa Cibercultura do MCL-UTP. im-

    portante salientar as contribuies de todos os seus inte-grantes e tambm a alguns professores que participaram dereunies e debates ao longo do ano de 2008, em especialGisela Castro (ESPM-SP), Joo Freire Filho (UFRJ) eSandra Montardo (FEEVALE-RS). Tambm contribuiu

    para algumas problemticas e questionamentos a confern-cia Antropologia no ciberespao: fundamentos terico-metodolgicos da cibercultura proferida pelo pesquisa-dor Tephilos Rifitis na mesa de abertura do II Simpsioda ABCiber Associao Brasileira dos Pesquisadores emCibercultura, realizado em novembro de 2008 na PUCSP.

    ** Adriana Amaral doutora em Comunicao Social pelaPUCRS com doutorado Sanduche pelo Boston College,EUA (Bolsa CNPq). Professora e Pesquisadora doMestrado em Comunicao da UTP-PR. Autora de Vises

    Perigosas uma arque-genealogia do cyberpunk(Ed.Sulina, 2006). Email: [email protected] Blog: http://

    palavrasecoisas.blogspot.com.

    *** Gergia Natal mestranda em Comunicao e Lingua-gens da UTP. E-mail: [email protected].

    **** Lucina Viana mestranda em Comunicao e Lingua-gens da UTP e bolsista do CNPq. E-mail:[email protected].

    1As tradues de todos textos em lngua estrangeira apre-sentadas nesse texto foram feitas pelas autoras.

    2 Como no caso do trabalho de Recuero (2006).

    3 Para efeito de definio, nesse artigo o termo comunida-de virtual foi adotado para designar as comunidades medi-adas por computador que se formam em torno de platafor-mas on-line de interao social.

    4 Para um aprofundamento maior sobre a disseminao domtodo etnogrfico da antropologia s outras cincias comoa comunicao ver Caiafa (2007).

    5 H uma ampla gama de estudos netnogrficos, principal-mente nos pases anglo-saxes. Kozinets (1997, 2002,2007), Hine (2000, 2005), Markham (1998), Strangelove(2007) entre outros utilizam-se da metodologia para a pes-quisa sobre diversas ferramentas tecnolgicas tais comochats, listas de discusso, fruns virtuais e videogames.

    6 Praticantes do cosplay, juno das palavras inglesas cos-tume play, e que se refere ao hbito de fs vestirem-se eteatralizarem um personagem escolhido a partir de quadri-nhos, filmes, games, etc.

    7 http://www.clicrbs.com.br

    NOTAS

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    7/7

    40 Sesses do imaginrio Cinema Cibercultura Tecnologias da Imagem

    8 http://www.last.fm

    9 Entrevistas pessoais efocus groups.

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