billings retrato p registro

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Billings Retrato

Billings,

Retrato de uma Represa

Roteiro para filme documentrio

de Lus Carlos Soares

Colorido e P&B

70 minutos

a partir do livro Billings Viva! de Toninho Macedo

Produo

bambu Filmes

SINOPSE

Expedio audiovisual sobre a Represa Billings a partir do livro Billings Viva! de Toninho Macedo.

Expedio sobre uma morte anunciada.

Billings viva ou uma morte anunciada.

JUSTIFICATIVA

Revelar o maior manancial da Grande So Paulo. Abastecedora de vrias cidades do ABC e a Capital. Concentradora biodiversidade extensa. Das guas da Billings saem vrios tipos de peixes que alimentam muitas famlias. Nas suas margens temos extensa flora e fauna diversa. Billings ainda a reserva biodiversa da grande metrpole paulista. Refratria das transformaes sociais, econmicas e culturais de So Paulo, a Billings vive o dilema da morte anunciada.Nessa dualidade encontramos desde o puro estrativismo guarani aos sobreviventes pescadores, aos bateles dos carvoeiros. Mas nela h muita vida, muitas formas de se viver dela, com ela e para ela.JUSTIFICATIVA

Revelar as vrias faces da Represa Billings. Mostrar um pouco de tudo: a colonizao italiana, a subida das guas, os transtornos causados, as atividades a partir da represa (pesca, caa, lazer, estrativismo, carvoaria, transporte de cargas). Os problemas detectados e as possveis solues.1. VISTA AREA DA REPRESA BILLINGS.

NARRADOR

(Voz Off)

Represa Billings - Dados Tcnicos.

Compartimento Pedreira

Finalidade: aproveitamento hidroeltrico

Municpios atingidos: So Paulo, So Bernando do Campo, Santo Andr e Diadema.Principais contribuintes naturais: Rio Grande, Capivari, Pedra Branca, Pequeno, Taquaquecetuba, Boror, ribeires, Cocaia, e da Fazenda.Nveis d'gua:

Cota mxima - 747 m acima do nvel do mar.

Volume d'gua - 1.102.500.000 mrea da bacia - 377 km.

Compartimento Rio Grande

Finalidade: aproveitamento hidroeltrico e abastecimento pblico

Municpios atingidos: Santo Andr, Ribeiro Pires, Rio Grande da Serra, e So Bernardo.Principais contribuintes naturais: Rio Grande, Ribeiro Pires e Pedroso.Nveis d'gua:

Cota mxima - 747 m acima do nvel do mar.

Volume d'gua - 126.200.000 mrea da bacia - 183 km.

2. NINFIAS.

Barco vai repartindo as guas at encontrar ninfias de vrias cores.

3. ENTREVISTA COM TONINHO MACEDO.

Toninho nos conta como comeou a idia de escrever o livro Billings Viva!.

4. IMAGENS DE ARQUIVO. DESENHO DA REA DA REPRESA.

Vemos o contorno da Represa que passa por vrias cidades da grande So Paulo.

5. IMAGENS DE ARQUIVO. VISTA AREA.

Imagens e fotos areas da Represa Billings.

6. ENTREVISTA COM TONINHO MACEDO.

Toninho nos conta a histria da Represa.

7. TABLE TOP. TEXTO DO PADRE VASCONCELOS.

Uma das mais antigas descries da mesma foi feita por um padre jesuta, de nome Vasconcelos, por volta de 1640:

NARRADOR

(Voz Off)

No andando que a pessoa faz a maior parte da viagem, e sim de gatinhas, com os ps e as mos no cho, agarrando-se s razes das rvores, em meio a rochas pontiagudas e terrveis precipcios, e meu corpo estremecia devo confess-lo - quando olhava para baixo. A profundeza do abismo assustadora, e a profuso de montanhas que vo surgindo sucessivamente parece deixar-nos sem nenhuma esperana de chegar ao final. Quando acreditamos ter alcanado o cume de uma delas, vemos que nos achamos apenas no Sop de uma outra de igual altura. E bem verdade, porm, que de vez em quando somos recompensados das fadigas da subida. Quando me sentava por sobre um penhasco e olhava para baixo, parecia-me estar situado no alto do firmamento e que tinha o mundo inteiro a meus ps. Uma vista admirvel, a terra e o mar, as plancies, as matas, as cadeias de montanhas - tudo variava ao infinito, e era mais belo do que possvel imaginar.

(in: Augusto de Sant-Hilaire,

Viagem Provncia de S. Paulo)

8. TABLE TOP. TEXTO DE COMERCIANTE INGLS.

Relato de John Mawe, comerciante ingls que andou pelo Brasil de 1807 a 1811 buscando enriquecimento fcil, assim relata sua experincia:

NARRADOR

(Voz Off)

Obtido um guia, montamos e caminhamos cerca de meia milha, quando chegamos ao sop de magnficas montanhas, que teramos de atravessar. A estrada boa e bem pavimentada, mas estreita e devido s subidas ngremes, foi talhada em ziguezague, com voltas freqentes e abruptas na ascenso. As tropas de mulas carregadas, que encontrvamos no caminho para Santos, dificultaram-nos a passagem, tornando-a desagradvel, muitas vezes perigosa. Em alguns lugares a estrada atravessa vrios ps de rocha, em outros, sobe perpendicularmente, conduzindo, com freqncia, a uma das montanhas cnicas, ladeando precipcios, onde o viajante est sujeito a ser lanado numa floresta inacessvel, trinta jardas abaixo. Esses lugares perigosos esto protegidos por parapeitos. Depois de subirmos por hora e meia, dando numerosas voltas, chegvamos a um pouso, em cujas proximidades, num lugar pouco abaixo da estrada, encontramos gua. Segundo nos informou o guia, distava apenas meio caminho do cume; ficamos pasmados com a informao, pois as nuvens estavam to distantes, abaixo de ns, que obstruam toda a viso.

(John Mawe, In Viagens ao Interior do Brasil)

9. TABLE TOP. ESCRITOS DE UM PASTOR AMERICANO.

Daniel Kider, pastor metodista americano, que viajou pelo Brasil entre 1837 e 1840 (passou pela regio por volta de 1939) assim observou:

NARRADOR

(Voz Off)

A verdade que no alto da Serra que, como j dissemos est a 2.250 ps acima do nvel do mar, a distncia at S. Paulo de cerca de trinta milhas sobre uma regio diversamente acidentada cuja declividade geral orienta-se para o interior, como alis o demonstram os cursos dgua que a cortam. Apesar disso porm, to insignificante a variao de nvel (grosso modo), que o ponto mais alto da cidade de S. Paulo tem, ao que se calcula, exatamente a mesma altitude que o alto da Serra. Os inconvenientes que adviriam da rarefao da atmosfera a tal elevao, podem ser facilmente avaliados!.

10. ENTREVISTA COM TONINHO MACEDO.

Toninho continua contando a histria da represa.

11. RIO GRANDE. TRAVESSIA DE BALSA.

Balsa vai descortinando a verde represa repleta de gua-ps.

12. TABLE TOP. ESCRITOS DO PROFESSOR JOS DE SOUZA MARTINS.

As principais atividades econmicas centravam-se, assim, na agricultura e extrao de madeira. O professor Jos de Souza Martins assim situa as atividades na regio de S. Bernardo:

NARRADOR

(Voz Off)

Houve nos sculos 18 e 19, na regio de S. Bernardo, fazendeiros ricos que eram senhores de escravos. Mas houve, tambm, pobres que tinham escravos. De modo geral, os fazendeiros ricos, com grande nmero de cativos, dedicados agricultura, estavam nas regies de mata, em direo serra. J os sitiantes pobres estavam nas velhas regies de campo, em direo a S. Paulo, dedicados principalmente pequena criao de gado e ao carro de boi no transporte de lenha e madeira para a cidade.

In A escravido em So Bernardo, na Colnia e no Imprio13. TABLE TOP. TEXTO DA THE S. PAULO TRAMWAY LIGHT & POWER.NARRADOR

(Voz Off)

As reas que vo ser ocupadas pelos reservatrios so quase todas despovoadas, exceto na mais baixa do reservatrio do Rio Grande, entre o local da represa e o crrego Alvarengas, onde existem vivendas muito esparsas. Aproximadamente 60% das guas que ficaro inundadas so de terras de brejo, imprestveis para a cultura. Cerca de 20% so & terras que tm ou teriam pequenas culturas; os restantes so de matas e capoeirinhas. Em geral, estas terras so de inferior qualidade e, devido a isso pouco exploradas. (6)

The S. Paulo Tramway Light & Power Co. Ltd.

1. So Paulo, 22 de agosto de 1925.

14. ENTREVISTA COM TONINHO MACEDO.

Toninho fala como foi o incio da colonizao na regio da Represa Billings.

15. ARQUIVO. FOTO SOBRE TRANSPORTE EM BOTES.Vemos foto sobre o transporte de materiais em batelo e botes. Brao do Rio Pequeno, 1925.

16. TABLE TOP. TEXTO DE NEWTON A. MADSEN BARBOSA.Em 1878 comeavam a ser assentadas as primeiras famlias na regio. As extensas reservas florestais e as terras produtivas garantiram subsistncia aos imigrantes durante um bom tempo.

NARRADOR

(Voz Off)

Radicados que foram no ncleo de S. Bernardo, esses imigrantes encontraram pela frente a mata a vencer, originando a explorao inicial da indstria extrativa da lenha, a fabricao do carvo e aproveitamento da madeira de lei, que produzida era transportada para a venda principalmente em So Paulo, ou embarcada na Santos-Jundia. Rara a famlia descendente de imigrante em So Bernardo do Campo que no possuiu, ou no possui, um elemento que seja, que no estivesse ligado extrao da lenha e produo de carvo. Concomitantemente a existncia de madeira de lei propiciou a instalao de serrarias.

(Newton A. Madsen Barbosa)

17. ENTREVISTA COM DONA ZARA BESOGNINI.

A descendente de italanos fala como chegou ao lugar. Conta tambm da fartura de antigamente.

18. ENTREVISTA COM ZATO PECCHI.

O morador Osvaldo de Oliveira Sales fala como chegou ao lugar, explica porque recebeu o apelido de Zato Pecchi. Tambm descreve a fartura da comida antigamente.

19. ENTREVISTA COM D. LINA ROSA.

A imigrante italiana fala como era o lugar antigamente.

20. ENTREVISTA COM ANSELMO MARIO FINCO.

O imigrante italiano fala como o lugar era alegre por causa da msica.

21. ENTREVISTA COM NONO ROSA.

O imigrante italiano ngelo Rosa (o Nono) fala da atividade carvoeira, que foi importante na regio.

22. ARQUIVO. FOTO DE NONO ROSA EM 1992.Vemos foto de Nono Rosa e sua histrica Marreta.

23. ARQUIVO. FOTO DE CAIERA PARA O FABRICO DO CARVO.24. ENTREVISTA COM ZATO PECCHI.

O morador fala da extrao do palmito.

25. ENTREVISTA COM NONO ROSA.

O imigrante italiano fala como era o critrio da extrao do palmito.

26. ENTREVISTA COM ZATO PECCHI.

O morador fala dos bichos que haviam na regio.

27. ENTREVISTA COM ANSELMO E FEDERICO FINCO.

Os comerciantes de mveis falam como comeou a represa, como a gua foi subindo.

28. ENTREVISTA COM NONO ROSA.

O imigrante italiano conta que a idia de fazer a represa no foi boa, porque a terra inundada era muito boa.

29. ENTREVISTA COM LLI (QUIRINO VIZENTIN).

O imigrante italiano fala da qualidade da gua at tempos atrs.

NARRADOR

(Voz Off)

Ali chegados, parte se instalou nas regies baixas, prximas aos rios (Grande, Pequeno, Capivari, Boror...) e foram constituindo as chcaras. Nelas dedicavam-se ao cultivo de frutas (pera, uva, melancia, laranja), ao plantio (milho, feijo, arroz...) e criao.

30. PEDREIRA. ALDEIA GUARANI.

Entrevista com membros da Tribo Guarani Morro da Saudade sobre a relao deles com a Represa.

31. PEDREIRA. ALDEIA GUARANI.

Entrevista com integrantes da Tribo Guarani Morro da Saudade. Kara-Mirim, professor de histria, nos explica o aumenta do sensvel aumento da populao de sua tribo.

32. BRAO DA BILLINGS. ALDEIA GUARANI.

Entrevista com membros da Tribo Guarani Curucutu sobre a relao deles com a Represa.

33. ARMAZM DE PESCA.

O dono da venda nos apresenta todos os tipos de peixe encontrados na Billings. Vemos tilpias, traras, carpas, acars, mandis e lambaris.

34. ARMAZM DE PESCA.

O dono da venda nos apresenta todos os tipos de peixe encontrados na Billings. Vemos tilpias, traras, carpas, acars, mandis e lambaris.

35. LUGAR. COMUNIDADES PESQUEIRAS.

Entrevistamos membros de vrias comunidades pesqueiras que se vivem da pesca h dcadas.

36. ONGs ECOLGICAS E AMBIENTAIS.

Entrevistaremos membros de vrias ONGs que atuam na defesa e na preservao da Represa Billings.

37. ENTREVISTA COM LLI (QUIRINO VIZENTIN).

O imigrante italiano fala da qualidade da gua at tempos atrs.????LLI

Aquele tempo era bom porque ns tinha muita crian, bastante vaca de leite, porco, cavalo. Tiravam leite, faziam queijo; muito frango para a macarronada, para acompanhar, vez e outra, a polenta de cada dia, mexida em panela especial por tempo nunca inferior a 40. Pronta, era raspada sobre o tagliere, para esfriar.

LLI

Faziam aquelas paneladas de polenta e ponhava numa tbua redonda e ia cortando com um fio (aquela linha). Polenta e leite. No era como agora que a gente come o que pode ter. Naquele tempo a gente tinha de tudo, tinha mais fartura, bastante.

ZARA BESOGNINI????

Tinha dificuldades, mas graas a Deus nunca faltou nada na mesa.

ZATO PECCHI????

Na casa dos avs era uma famlia muito grande, tinha uma mesona para as refeies, tinha muitas tia e tio, a famlia era muito grande.

ZATO PECCHI????

Polenta era todo dia. De tarde fazia polenta naquela panela prpria de alumnio, tinha que mexer 40 a 50 p ela fic boa, n. Na hora da janta tinha que nem um quadrado de tboa p p a polenta em cima, ia p mesa e o que sobrava da janta, de manh cedo era polenta com leite.

LLI ???

No podia faltar mesa um copo de bom vinho. Por isto cultivavam a uva e fabricavam seu vinho.

LLI ???

Era plantan de uva, plantan de pera, banana, melancia. Mas muita pera. A regio era boa para os pererais e parrerais. Os ovs faziam vinho. Os tios tambm. Tinha uns par deles. Cada um tinha as plantan deles. E todos faziam vinho. Se trabalhava muito, mas se divertia bastante

ZATO PECCHI

E naquele tempo aqui era s a italianada. Quando se juntava 7, 8 italiano, , era aquele baruio. Era truco. E jogava muita mora, os vio. Punha o dedo assim, to rpido -joga em dois n - um pe um dedo, o outro pe 2, o outro pe 3 - rpido.E falava: uno, d, tre, quatro... Ento quando batiam l e gritavam mora, mora.

ZATO PECCHI

Todos faziam po em casa. Possuam fornos de barro, como nas padaria: Daqueles po grande. Durava p semana inteira. Minha me, Iolanda Laia, fazia muito po aqui. At o Brito, que tem asilo aqui, comprava trigo, mandava em casa pra ns faze po pra ele l. Naquele tempo fazia o po e ele guentava 8, 9 dias. Era um pouco difcil, n. Precisava de 3 pra mover o cilindro: um virava um dos rolos para um lado, o outro no sentido oposto e o 39 punha a massa. Tudo na mo. (Zato).

D.LINA ROSA

As casas dos imigrantes eram de madeira. Portas de tbua, cho de terra, cobertura de zinco ou sap. Quando chovia fazia um barulho no teto de zinco! Mas era tranquilo naquela poca. Agentesaa, a porta tinha um trinco assim, num tinha save (chave), no tinha nada. Vortava, tava tudo no memo lugar.

LLI ???

A luz nas casas era lampio ou lamparina a querosene. E vela. noite, ficavam fora vendo os vagalumes e a lua.

ZARA

Quando era aquele luar bonito, a gente saa pra v. Agora a gente no v nem a lua, porque no sai da televiso.

ZARA???

Quando iam cidade, seguiam cavalo ou de charrete. O mais mesmo era de charrete.ZARA???

Nos casamentos a animao se redobrava. Casavam-se na igreja e no cartrio e isto muitas das vezes em Santo Andr. Faziam aquela janta, com muita fartura, muita carne, frango com polenta e... o bom vino. E a viravam no baile, com aquela sanfoninha l at que o dia amanhecia.ZARA???

Naquele tempo l se danava valsa, samba, porca (polca) ranchera. Se costumava danar muito ranchera. E mazurca. Danavam, bebiam e cantavam a noite toda. (N. Rosa).ANSELMO MRIO FINCO

Cantavam bastante msica italiana e tambm brasileira. Quem sabia cantar msica italiana cantava. Tambm os outros cantavam msica brasileira. 2. Un masolin di fiori

3. che vien de la montagna

4. Pai, Fortunato Benvenuto Finco, que morava na casa de madeira da esquina, dava sempre festas e bailes. O lugar era conhecido como lugar de festas, lugar alegre. A me, Luiza Viezer Finco.

5. Danavam tarantela. Tinham uma vitrola antiga e o velho Fortunato trouxe discos das viagens que fez Itlia. E punha pr turma danar. Arapaziada que vinha de 5. Bernardo dormia no paiol, onde havia feno.

6. E foi assim que as moas de famlia acabaram casando com moos de fora. Savordelli, Bechelli - turma que vinha pra se divertir aqui. Vinham a cavalo, de carroa ou de charrete. O velho Fortunato tinha uma charrete, que ainda est guardada com o Sr. Frederico Finco. Depois comprou um carro velho.

7. Carvo e Carvoeiros

8. Parte considervel dos colonos radicados na linha do Rio Grande dedicou-se feitura do carvo e extrao de lenha. Foi de tal maneira importante a atividade carvoeira, que os habitantes do Riacho eram conhecidos como carvoeiros."

ZATO PECCHI

Por aqui tudo faziam carvn. Aqui pelo Rio Acima, Rio Pequeno, tudo p esse lado.9. Com o carvo abasteciam So Paulo, So Bernardo e Santo Andr. Derrubavam a lenha na mata e preparavam as caieiras. Trabalhavam sempre em turmas. NONO ROSA

Si o sinhor subesse os carvoeiro como trabalhavam, o sinhor ficava admirado. O tipo de trabalhar. Ali se trabalhava com o machado, com a marreta, se trabalhava com cunha, se fazia mina nos toco que numa rachava. Pra pod rach e faz a caieira. Mas cada vida que era uma coisa de admir. Hoje em dia ningum acredita.

10. As rvores abatidas eram cortadas em toras de 1,30 de comprimento. Ento abriram-nas em achas, para facilitar a queima, a destilao do carvo. A madeira que mais havia na mata era a comichava. Madeira boa, macia e que rachava bem. A mais dura e que dava mais trabalho era a sapopemba. NONO ROSA

As otras dava trabalho mas dava pra levar na mn. Abriam (rachavam) as toras em achas com a ajuda de marretas e cunhas, e quando j mais finas, com o machado. As marretas eram grandes e de madeira pesada. No de ferro, porque a de ferro estragaria todas as ferramentas, estragaria as cunha..

11. Quando as toras eram grossas e de madeira difcil de racha?", faziam mina: uma perfurao de uns 15 cm nos troncos, carregavam com plvora e socavam bem. Punham uma mecha e por cima um tijolo. Tocavam fogo. A ela estourava no meio e a gente terminava de rachar com cunha e marreta. Depois da lenha pronta, faziam as caieiras. Empilhavam as achas em p, umas encostadas s outras, em forma cnica.

12. Tinha caieira com 60,70 e at 80 m de lenha. Depois de prontas ficavam com o formato de um cone. Cobriam tudo com terra e estava pronta para comear a queima. Acendiam, ento, um fogo na boca, no tope, l em cima

13. As brasas caam do topo no centro da caieira e incendiavam a base. Da o fogo subia de novo ao tope. Punham um pouco mais de lenha para compensar o quanto havia abaixado. A comeava a queimar por igual, de cima pra baixo, em camadas horizontais. E ia descendo. A cada dia, faziam uma carreira de furos, sempre em camadas, comeando pelo tope at chegar ao cho. Os furos chamavam o fogo. Faziam o fogo ir queimando, lentamente, em sucessivas camadas por igual. At cham-lo ao cho.

NONO ROSA

Pra destilar o carvn, pro carvn ficar bom, a gente furava com um pedao de madera comprida. Fura em toda a volta pra sair a fumaa. Saindo a fumaa, destila o carvn. Cada dia fazia uma carreira daquelas e vinha descendo. At chegar ao cho. Chegava no cho, parava de soltar fumaa, tava pronto. Ento a gente pegava as ferramentas especiais e limpava toda a terra e cobria tudo de novo, pra apagar o fogo.

14. No outro dia tava tudo apagado. Podia comear a tirar e ensacar o carvo.

Certa vez fizeram uma caieira incomum, na Serra Negra. To incomum que os demais carvoeiros vieram v-la. Uma caieira de 663 saco. Me lembro como se fosse agora. Uma caieira enorme. Ningum tinha visto ainda. Aquela demor 16, 17 dias pra ela ficar pronta, queimada. Fizemo daquele jeito l porque ns era muita gente, trabaiava tudo junto." (Nono Rosa).

Tropeiros e CarroceirosPreparar carvo era comum nas colnias.

Quantos imigrantes e seus descententes eram, ao mesmo tempo, carvoeiros e carroceiros?

Praticamente todos os sitiantes mantinham suas chcaras nas velhas colnias e lidavam com carvo. Era assim com Giuseppe Stangorlini.

(Mrio Stangorlini, As colnias do Bairro Assuno)

Carvo pronto e ensacado, entrava em cena outra sorte de trabalhadores: tropeiros e carroceiros. Estes com suas tropas ou em carroas possibilitavam que o produto chegasse aos centros consumidores - SBC, Santo Andr e So Paulo.

Com sua carroa e 3 animais, Giuseppe dirigia-se aos vrios locais das colnias - Rio Grande, Montanho - onde havia carvo. De volta sua casa, o carvo era despejado num depsito, onde passava pelas peneiras para a retirada do p acumulado. Depois o produto era novamente ensacado. Feito isto o carvo era levado de novo carroa para ser conduzido a So Paulo e vendido freguesia. (Mrio Stangorlini). Naquele tempo tinha muito carro de boi. Vinham do lado da balsa, do Curucutu, desses lado afora tudo. De l puchavam carvn at o Riacho Grande. (Zato Pecchi).

As carroas, ou carretn, como tambm costumavam chamar, eram bastante empregadas. Chegavam a lugares de difcil acesso, mas por suas prprias caractersticas tinham suas limitaes.

Com as tropas, ao contrrio, no havia onde no se pudesse chegar. Eram grupos de 7, 8 ou at mais burros ou mulas, conduzidos por um tropeiro, sempre precedidos por um animal guia. Este mais dcil, mais experiente, com um cincerro (pequeno sino) ao pescoo guiava o resto da tropa.

Haviam muitos tropeiros na regio. Prestavam servios a todos os carvoeiros (bem como a outros produtores das colnias). Cada burro tinha sua cangalha, qual eram atados 2 sacos de carvo de cada lado. Vinham certinho. Traziam o carvo at a cidade.

As tropas de mulas e burros tambm eram usadas para o transporte de milho e outros produtos. Acondicionavam tudo nos balaios (jacs). Cada animal seguia com um balaio de cada lado pra equilibrar o peso.

Carretas e carros de bois eram responsveis pelo transporte das toras de madeira. Resistentes, transitavam pesados pelos caminhos e pelo leito degenerado da Estrada Velha do Mar (Estrada do Vergueiro).

Em 1910, quando se preparava a recuperao da Estrada do Vergueiro, das informaes para o parecer da comisso de obras da cmara dos Deputados constava:

NONO ROSA

Entre o km O e 26, isto , entre 5. Paulo e Rio Grande, transitam carroas, carros de bois, troleys, aranhas e carros, conduzindo as seguintes mercadorias: madeiras, carvo e mantimentos para as colnias do Rio Grande, Capivary e So Bernardo.

(Relatrio sobre os transportes feitos na Estrada do Vergueiro. Arthur Rudge Ramos)

Evidentemente os veculos deveriam levar carvo, madeira e outros produtos da colnia para So Paulo e de l trazer mantimentos e outros gneros para abastecimento da colnia. Mais frente, no referido relatrio, Rudge Ramos descreve a primeira tentativa de descida que fez da Estrada do Vergueiro. A equipe atolou-se bem antes do Zanzal. Em meio operao de tirar o carro do atoleiro, eis que apontam, na curva da estrada, os animais de uns carreiros caipiras, cujos carretes se destinavam serraria do Rio Grande, para onde faziam transporte de madeira

Ao que tudo indica, ao falarem dos carretn os colonos italianos esto se referindo a grandes transportes de 2 eixos: o da frente imvel (para manobras), 4 rodas, sendo as da frente menores. De origem polaca/alem, tais carretas so de uso bastante difundido em Santa Catarina, Paran e interior sul de S. Paulo.

Palmito

Dentre os produtos que a mata oferecia para a sobrevivncia dos colonos, um era bastante apreciado: o palmito (euterpe edulis).

ZATO PECCHI

Palmito aqui ns tirava todo domingo. Ns ia pra mata e fazia fexe de palmito. Ento ns tinha a mistura pa semana intera.

Tiravam consciente e criteriosamente, s os grandes para o uso, e deixavam crescer os outros. NONO ROSA

S grande! S grande! Pra continuar a ter palmito na mata. Assim crescia e tinha sempre.

- E no acabava o palmito?

ZATO PECCHI

... Ah, no! Nunca que acabava. Porque naquele tempo tinha bastante.

ZATO PECCHI

E crescia rpido, porque na mata ele cresce rpido. Tirava os grande e j vinha os otro,j tinha mais p novo j. Os ps grandes j davam o cacho, caam os cocos e brotavam. Os passarinho memo come aquela fruita e espalha. A araponga comia e regorgitava (soltava pela boca) mata afora. Ento vai esparramando os coquinho na mata. E por isso tinha palmito por tudo quanto lado.

H uma unidade de opinies sobre a reposio rpida dos palmitos na mata. Bem como sobre a importncia que ele tinha mesa. ANSELMO FINCO

O palmito cresce depressa e bom. Fazia aquela polenta gostosa com aquele ensopado, com leo e temperos. E um copo de vinho. Ah, se era gostoso.

Preparavam-no de diversas maneiras e usando criatividade. Ensopado com carne; como molho; cozido e em forma de salada; em forma de bolinho (cozido, amassado com ovos, temperos e trigo: depois frito).

Ah, se era gostoso!

Nono Rosa trabalhou tambm muitos anos extraindo palmitos dentro desta filosofia de preservar para ter. No era que nem hoje em dia. Hoje estragam tudo. O palmito est pequeno assim, o pessoal j vai l corta e estraga tudo. Naquele tempo as pessoas procuravam preservar. Eu fazia uma viagem de 40 dzias por semana, que saa l da mata do Capivari e ia em Santo Andr, no Turco. Os pequenos, ningum estragava. Cortava tudo grande que nem esses a (apontando para 3 palmitos adultos no quintal, um deles com idade de 4 anos). O senhor v! A gente no perdeu a lembrana dos ps de palmito tudo plantado, tudo bonito; s pra ter a lembrana daquele tempo.

medida que os coquinhos caem e brotam no cho, transplantam-nos para outros lugares. E crescem rpido porque a terra mida.

Como os Rosa. Tambm os Besognini e muitos outros moradores antigos do Riacho plantaram palmitos ao redor das casas. Porque viam nos matos e achavam bonito. A traziam mudas para casa. No demorava muito a crescer. Se pega em lugar mido, ele vai num instantinho.

Na mata havia muita paca, capivara, quati, sagi, bugiu. ZATO PECCHI

Tinha tudo esses bichos no mato. E muitas arapongas. Ento, aos domingos, quando saam para fazer feixe de palmito, aproveitavam para caar araponga. Pegavam 7 ou 8 e as colocavam em gaiolas separadas, uma a uma. E j na segunda-feira vinha o comprador de So Paulo. Levava embora tudo. Isto at uns 20 anos atrs. Hoje ainda cantam muitas arapongas nos meses de novembro e dezembro. Mas j no as caam mais. E nem tiram mais palmito. Mora estes havia muita gara e tiriba. E ainda h. Tiriba um passarinho verdinho. Parece papagaio, mas menor. Fazem muito barulho. Tem baitaca tambm. Tiriba e baitaca so a mesma coisa. S que menor (o tiriba). Tem tambm o cuiu-cuiu, como ns italianos tratava. do tamanho da baitaca. Barulhento tambm, eh!, Aquilo p mord o dedo da gente era quatro pau.

Quando iam para a mata, no faziam nenhuma orao especial. Valiam as oraes matutinas, apesar da quantidade de cobras: cascavis, urutus, jaracuus... ZATO PECCHI

Tinha muita caninana, mas caninana no faz nada. Hoje quase no tem mais cobras. Em compensao aumentaram os ratos. Esses tem a p demais, eh! Rato se num pe veneno, num acaba. Sempre tem.

4- A LUZ VIRIA DA SERRA

Queremos o progresso sim. Mas o progresso traz muita coisa que nos d medo. Tenho medo que as indstrias que hoje poluem os rios amanh acabem com a minha pescaria.(Ito - Luiz Gonzaga Nestlener; Iporanga, 87)

A partir da segunda metade do sculo XIX, acentuando-se no incio deste, cresceu e se diversificou muito, de forma no prevista, o consumo de energia eltrica. So Paulo entrava numa fase de desenvolvimento extraordinrio, como no experimentara ainda nos sculos anteriores. O cultivo do caf, que chegava pelo Vale do Paraba, ganhava vulto e fazia a riqueza dos Bares do Caf e de So Paulo.

Possuindo mercado certo no exterior, urgia vencer o desafio das intransponveis escarpas da Serra do Mar, para dar mais agilidade ao fluxo da mercadoria entre o Planalto e o Porto de Santos. Assim, em 1860 tem incio a construo da Estrada de Ferro Santos-Jundia (pela So Paulo Railway Company Ltd, recm criada firma inglesa), inaugurada em 1867.

Estava vencido, em parte, o desafio da Serra do Mar, altura de Paranapiacaba, ficando estabelecido um corredor de exportao/importao. Como era de se esperar, ao longo do leite ferrovirio no Planalto, foram se estabelecendo pequenas indstrias, que no pararam de crescer e se multiplicar, e a expanso ferroviria pelo interior paulista se fez necessria a partir do tronco da Santos-Jundial. Tal foi o crescimento verificado que forou a duplicao, ainda na ltima dcada do sculo XIX, do trecho ferrovirio inicial.

Afora isto, os bondes com trao eltrica foram substituindo os antigos, com trao animal, dando um salto nos transportes coletivos e de cargas na cidade de So Paulo. Delineou-se nova expanso urbana/ocupao do solo ao longo do traado da via Centro-Santo Amaro.

Timidamente a lmpada eltrica foi substituindo os bicos de gs na iluminao pblica das ruas centrais.

Tudo isto significou um aumento vertiginoso na demanda de energia eltrica. E o Estado no estava preparado para atend-la. Muitas solues vinham sendo intentadas, mas no resolviam o problema.

Por decreto de 17.7.1899 o governo do Estado, impotente para solucionar a questo, concede firma canadense The S. Paulo Trainway, Light and Power Company Ltd, (que j administrava o servio de bondes), previlgios para o fornecimento de energia eltrica para luz, fora e outros fins industriais.

Afora a urgncia em prover a demanda, alguns desafios se impunham:

- produzir energia prximo ao maior centro consumidor, que j se delineava;

- So Paulo no possua nenhuma cachoeira ou corredeira significativa;

- seus rios - o principal dentre eles o Tiet - de vazo lenta (rios de planalto e de vrzeas) estavam sujeitos a cclicos decrscimos no volume de gua.

Sem perda de tempo a Light - como passou a ser conhecida - dava incio a um mosaico de obras, verdadeiro quebra-cabea, que seguiu a toque de caixa e de forma ininterrupta por 60 anos.

Entretanto, todos os esforos empreendidos nos primeiros 25 anos (ver Anexo I), ficaram comprometidos pela grande estiagem que castigou So Paulo em 1924/1925, e que motivou graves medidas restritivas ao consumo de energia na cidade de So Paulo. (Ver Anexo II).

Tais medidas, apesar de bastante pesadas, no foram capazes de ajudar o governo e a Light a contornar a crise, O reservatrio de Sorocaba esgotou-se a tal ponto que a produo da usina de Ituporanga, que fornecia considervel suprimento de energia para a Light, foi 40% menor que a do ms anterior, e isto motivou o recrudescimento das medidas restritivas iniciais. (Ver Anexo III).

Um ms depois o governo do estado estendia as tais medidas aos municpios de So Bernardo, Santo Amaro ( poca desvinculado de So Paulo), Guarulhos, Santana de Paraba, Sorocaba, So Roque, Ibina e Jundia. Era um quadro calamitoso.

O Projeto da Serra

Ainda antes deste perodo crtico, o Governo do Estado encomendara Light o desenvolvimento de estudos abrangentes que solucionassem o problema da demanda de energia, aproveitando as guas do Alto e Mdio Tiet, e ao mesmo tempo controlasse as cheias nas vrzeas do Tiet e Pinheiros, alm do abastecimento de gua. Antes de 1923 os estudos indicaram preferncia pelo Vale do Itapanha, com barragem do rio Tiet em Ponte Nova (Mogi das Cruzes), desviando as guas armazenadas para o rio Itapanha atravs do leito do Ribeiro Grande.

A Light j havia adquirido terras na rea a ser inundada.

Mas o abastecimento de energia se agravava e exigia solues mais rpidas, arrojadas e duradouras.

Por isso em 1923 o problema foi entregue ao Eng A.W.K. Billings, construtor de importantssimas usinas hidreltricas no Mxico e em Barcelona, na Espanha. Billings estava no Brasil construindo a represa usina de Ribeiro das Lages (RJ) para o reforo do abastecimento do Rio de Janeiro, desviando, para isto, guas do Paraba do Sul (na altura de Barra do Pira para o Vale do rio Guandu.

Encarregou um de seus auxiliares, o Eng F.S. Hyde, de obter mais informaes sobre o Itapanha e procurar, no planalto, ao longo da encosta da Serra do Mar, outros locais apropriados construo de represas, com a possibilidade de diverso das suas guas para a vertente martima, como no caso do Itapanha.

Hyde percorreu durante vrios meses o aparado dessimtrico da Serra do Mar altura de Santos, analisando as condies da regio e estudando alternativas.

Depois de examinadas as vrias condies, indicou como ideal para a obra o vale do Rio das Pedras (Rio com nascentes na crista da Serra e despencando prximo ao Cubato), a Serra do Cubato, ponto em que a escarpa da Serra oferecia a queda mais abrupta.

Ali deveria ser construda o Reservatrio do Rio das Pedras, cujas guas moveriam as turbinas da usina a ser construda ao p da serra, em Cubato, para aproveitar ao mximo a fora esttica das guas.

Ocorre que a vazo do Crrego das Pedras, como tambm era conhecido o manancial, era pequena e desaparecia durante as estiagens. Incapaz, portanto, de manter o nvel de guas no Reservatrio.

Desviando-se para o mesmo guas represadas da bacia do Rio Grande, conseguir-se-ia estabilizar-lhe o nvel e aumentar a necessria vazo das guas.

Billings aprovou a idia, e comeou a ganhar fora o denominado Projeto da Serra, cuja execuo deveria ter incio imediato, e que no prprio decorrer das obras sofreria alteraes visando maior aproveitamento dos recursos naturais disponveis. (Ver Anexo IV).

A regio escolhida oferecia condies excepcionais e at hoje no superadas em nenhuma obra do gnero. Em primeiro lugar suas caractersticas topogrficas e metereolgicas. Um ndice de chuvas bastante elevado: ... porquanto os ventos do Atlntico, carregados de umidade,. produzem abundante precipitao nas cumeadas da Serra e no Planalto adjacente em quantidade raramente excedida em qualquer outra regio, chegando, s vezes, a precipitao anual ultrapassar 6m. (Edgard de Souza).

Estas condies metereolgicas alimentam uma abundante rede de rios que, nascendo na serra, prximos ao mar e dele escapando, se dirigem a oeste - caracterstica peculiar desta regio de S. Paulo. De pequeno curso (pertencem bacia do Tiet), e com caractersticas de rios de vrzeas, portanto com fluxo lento das guas, esto sujeitos a transbordamentos no tempo das cheias.

De um lado as encostas da serra do Mar descem em escarpa abrupta, queda de aproximadamente 725 m. A fora das guas represadas, e precipitando-se desta altura, seria integralmente aproveitada para mover as turbinas gerando, com economia, mais energia.

De outro, o terreno forma um planalto ligeiramente inclinado a oeste, numa descida suave que se estende desde a serra s margens do rio Paran. Para represamento do Rio Grande e inverso do seu curso no seriam necessrias barragens e diques muito altos.

Ao lado das condies excepcionais que as caractersticas geofsicas possibilitavam, proporcionando maior armazenamento de gua e melhor aproveitamento de sua fora pela possibilidade de desvio de seu fluxo para a vertente martima, a regio ainda ofereceria as melhores condies para a construo:

- facilidade de transporte de materiais pela construo de um desvio ferrovrio (Est. de Ferro Santos a Jundia);

- ainda pela construo de desvio da antiga estrada do Vegueiro (Est. Velha de Santos);

- menor distncia para a transmisso da energia gerada ao centro consumidor.

No auge da crise energtica de 24/25 e j de posse dos dados dos levantamentos de campo, o governo e a Light resolvem comear a executar, sem demora e a toque de caixa, as obras do Projeto da Serra. (Ver Anexo V).

E assim tiveram incio em maio de 1925. medida que as obras foram se desenvolvendo, e de acordo com os estudos que tiveram prosseguimento, a Light solicitou ao governo do estado uma srie de alteraes no projeto original, buscando ampli-lo, potencializando ao mximo os recursos do complexo energtico em construo. (Ver Anexo VI).

As alteraes solicitadas deveriam trazer, como efetivamente trouxeram, uma srie de benefcios: Sobretudo a possibilidade de multiplicar vrias vezes o potencial energtico da usina de Cubato sem causar mais danos regio.

Em termos prticos, ao solicitar a elevao de sua cota para 747 metros acima do nvel do mar, a Light propunha no s descarregar no Reservatrio do Rio Grande as guas do reservatrio do Guarapiranga, levadas at ali pelos leitos beneficiados dos rios Grande e Guarapiranga, como tambm encaminhar para aquele reservatrio, sem prejudicar a terceiros, as sobras das guas que correm pelo leito do Tiet colhendo-as a foz do rio Pinheiros e elevando-as pelo leito canalizado e retificado deste rio para o referido reservatrio, elevadas essas sobras de guas por meio de bombas em pontos convenientes. (Edgard de Souza).

Com o aceleramento da degradao das guas do rio Tiet e Pinheiros, bem como do Guarapiranga, este item (o bombeamento das guas) passou a ser o ponto crucial para a, tambm crescente, degradao da represa Billings.

5- BILLINGS: UM RIO CORRE SERRA ACIMA (7)

LLI

Quando trabalhava com batelo a gente tomava dessa gua e no precisava ferver nem nada. Do jeito qte baixava a caneca, tomava. Era limpinha.

(Lli - trabalhou com batelo at incio dos anos 60)

GILBERTO

Agora, o que que eles devia faz? Limp esse rio pra ns. Porque a coisa que o povo mais gosta aqui a pescaria. O governo devia limpar a Billings.

A represa Billings, tambm conhecida oficialmente como Reservatrio do Rio Grande, ao lado dos reservatrios do Rio das Pedras e do Guarapiranga, passaram a ter relevada importncia scio-cultural para a populao da Grande S. Paulo. Sobretudo Billings/Pedras, encravadas numa regio de importncia histrica, e em meio a um cinturo verde, como vrios monumentos preservados. quase certo que se hoje temos a oportunidade de fruio destes bens naturais e culturais (restaurados ou em processo de restauro) so crditos a serem conferidos ao Projeto da Serra.

Questiona-se bastante a importncia de se manter atualmente o to discutvel bombeamento das guas do Guarapiranga/Pinheiros/Tiet para a Billings, (e se deve discutir), por conta de um acrscimo de kilowatts pouco significativos ao binmio da demanda/produo.

Pensar assim, pura e simplesmente, poderia levar concluso de que no ter valido a pena o sacrifcio das centenas de colonos e tantos outros moradores e trabalhadores que as guas desalojaram dos vales dos rios da regio. No se deve esquecer, entretanto, que durante muitos anos, o fornecimento de energia foi garantido pelo complexo de obras da serra. E que outros benefcios dele advieram.

Parte dos moradores da orla da Billings conhecem-na pura e simplesmente por represa - a represa, l na represa, vou represa. Sobretudo a partir do Botujuru na direo do Eldorado.

H mesmo os que a tratam por rio, numa aluso inconsciente, ao Rio Grande a que, represado, deu-lhe origem.

certo que a usina Henry Borden defasou-se nesses 60 anos em sua capacidade de produo de energia visando suprir parto considervel da demanda que, desde o comeo do sculo, no parou de crescer. Mesmo assim, no podemos negar concepo e execuo do Projeto da Serra, com seu complexo de obras interligadas e buscando solues integradas para problemas diversos, uma certa centelha de genialidade. E se o Tamanduate, o Tiet e o Pinheiros esto mortos, pedindo gua, Billings/Pedras encontram-se vivas.

Vivas sim, mas seriamente ameaadas. E disto nos demos conta em tempo. E temos que ganhar tempo. E ganhar tempo pode significar, por exemplo, diminuio ou mesmo suspenso temporria do bombeamento das guas das citadas fontes para a Billinggs. Mas pouco. E sobre o tempo a ganhar falarei noutro lugar.

Prefiro falar agora do potencial de lazer scio-cultural e outros potenciais do conjunto de represas. Antes, porm, devo colocar, uma vez mais a palavra na boca de ex-colonos ou de seus descendentes, pois se de um lado a subida das guas causou traumas, por outro propiciou a ampliao de algumas das atividades desenvolvidas anteriormente. E at mesmo o surgimento de outras. Portanto, se no fundo de seus coraes ficaram camufladas mgoas e tristezas (o que muito natural), eis que de repente vibram quando falam da relao que passaram a ter com a aquele novo mundo de guas que surgia. Foi atravs do contato com eles que entendi que no houve uma inaugurao da represa, um fechamento oficial de comportas. Com um grande nmero de obras acontecendo concomitantemente, o reservatrio foi se fazendo pouco a pouco. (Ver Anexo V).

FREDERICO FINCO

Quando a Light comprou os terrenos, fez os paredn aqui no Schmidt Canal e em Pedreira, aqui embaixo, perto de Santo Amaro. Depois a gua ficou subindo, porque fechou todos os crregos. Demorou um pouco at encher tudo. Depois ela encheu bem, baixava, suspendia. Antes da construo da represa eram chcaras e mata. Veio uma turma dos Estados Unidos, compraram os terrenos e fizeram a represa. A gua corre pra serra e toca as turbinas da Light. A luz eltrica de San Pablo era tudo l. Quando veio gua aqui eu era moo. A gua veio em 27 ou 28, parece. Depois de uns par de ano aumentaro mais um pouco. Dois ou trs anos depois, subiu mais. Sempre teve muito peixe. Antigamente tinha menos ou tinha a mesma quantidade de peixe. Eram peixes pequenos. ANSELMO MRIO FINCO

Tudo aqui era italiano. Vieram da Itlia para o interior. Mas parece que no deu muito certo. Ento por aqui passou um engenheiro, medindo as terras e destinando a cada famlia de italiano uma colnia, um pedao de terra de 150 m de largura por 150 de comprimento. E os italianos no tinham nada; ficaram contente e quiseram ficar em S. Bernardo. O engenheiro era alemo. Cada famlia recebeu uma colnia. Naquele tempo alemn vinha em primeiro lugar. Tinha mato virge aqui. Tudo mundo trabalhava no mato e ia na festa. Agora ainda gosto de mexer na terra. No consigo ficar parado. Sou filho de italiano; meu pai e minha me eram imigrantes, vieram da Itlia. As pessoas ficaram tristes. Aqui antigamente era tudo chcara: uva, pera, toda qualidade de frutas. Depois a gua invadiu, ento veio aqui pra cima.

ZATO PECCHI

aqui no bairro dos Finco memo. Tinha 7 anos quando a gua comeou a subir, morava perto do clube da Prefeitura, do lado de l da represa. Morava junto com meu av e tio. Agora, o pai e a me naquele tempo morava em S. Bernardo. E eu ficava aqui com meus avs. Tava cuns 7 anos de idade, a fecharo a barrage e a gua vinha subino, vinha subino e tivero que mud s pressa, aos trote. Tava fazendo a mudana e a gua tava entrano dentro da casa j. Tinha aviso de que a gua ia subir, mas a turma no acreditava, n. E ela vinha vindo, vinha vindo, e veio mesmo.

ZATO PECCHI

Antes do fechamento da barragem s havia mato, mato virgem por tudo. A altura do bairro dos Fincos, na baixada, era tudo chcaras. Plantavam uva, pera, laranja. Isso no tempo dos meus avs. Eram todos italianos. Criavam muito gado, vaca, tiravam leite, faziam queijo. A maioria era tudo italianada. Os velhos jogavam, saam daqui p i l no Riacho jog bocha, no bar do Jos e da Mafalda. Tinham o boteco e 2 jogos p turma jog bocha. Passava o dia l. Era o que tinha. E muito jogo de truco.

Lli (Quimo Vizentin) nasceu em 1925, e nem tinha a represa ainda. S tinha o Rio Grande, que passava l embaixo no ponto que ficou apelidado de encruzo (onde os 2 rios se encruzavam).

A Billings comeou a encher em 1930, mais ou menos. Demorou bom tempo para cobrir as chcaras. Subiu muito devagar. As guas subiram mesmo a partir de 32. Para chegar at este nvel foi at 1940. Foram mais de 10 anos.

- O surgimento da Billings foi bom ou no foi para a regio?

- Eu acho que pelos terrenos que a Billings invadiu, num foi vantage nenhuma. Os terreno teria muito mais valor do que a gua. Olha que tem milharis de alqueiris interrado embaixo dessa gua que hoje em dia podiam ser aproveitados para plantao e tudo. (Nono Rosa)

- E a terra era boa?

- (com nfase) Boa terra! (Nono)

- A terra era boa! Naquele tempo era boa! (Lli)

Tem bastante rea de terra inundada. Trabalhei 18 anos na represa, com batelo, tem bastante espao memo de gua. Pega l de Santo Amaro, do Boror e vai at o Tatetuba, barragem pra cima da Balsa, no Rio Pequeno. Atravessa a estrada de ferro no Rio Grande da Serra. M uma infinidade de terra estragada. (Nono).

Zara Besoguini, 52 anos.

- Naquele tempo a represa vinha at aqui dentro, na cota. Era tudo limpo, e a turma pescava muito. Muito bonito. Minha me e minha av tinham patos ali. Tinha muito lambari trara.

Bateles (9)

LLI

No comeo a gua era limpa, no tinha poluio, todo mundo pescava, todo mundo comia... uma beleza.

A malha fluvial da regio do Riacho Grande possibilitava o acesso a pontos distantes (para a poca), facilitando o transporte fluvial. Estabelecia-se, atravs de embarcaes pequenas e mdias, comunicao entre chcaras e pontos isolados, e o comrcio. Era um reforo rede de transportes (tropas, montarias, carroas, charretes) e que a certa altura foi insupervel. Sobretudo depois que o reservatrio encheu.

Com a subida das guas da represa, certo tipo de embarcao muito usada ficou gravada na memria da comunidade: os bateln"(batelo). Forma dicionarizada como barca de grandes propores, prpria para transporte de carga pesada. Na Billings chegavam a transportar 600 sacos de carvo. ZATO PECCHI

Naquele tempo tinha aqueles barco, que carregava 80,90 metros de lenha. Ns ia busc lenha l pr trs da balsa l. O lugar l chamava Rio Pequeno, passando a balsa, po lado de baixo. Era lenha da mata mesmo. Era um dia pa carreg e outro pr descarreg. Ia tudo pa Santo Andr p toc usina l. Era um dia intero p carreg um barcn, daquele de lenha e um dia intero p descarreg. E a vida era aquela mesmo. Os barcos eram do prprio pessoal que puxava lenha. Cada barcn daqueles grande, como digo, carregava 80, 85, 90 metro de lenha.

Os bateles j subiam e desciam os rios antes de seu represamento.

Sebastio Domingos da Silva, cunhado de Lli, por esse tempo transportava lenha com um deles. Tiravam-na perto dos rios, nas vrzeas cobertas por mata rala. Descarregavam na atual prainha (perto do Centro do Riacho), na poca - e at a dcada de 60 - conhecida por porto de lenha. Dali seguiam destino em caminhes. Nos rios, os barcos iam s no varejo.

SEBASTIO DOMINGOS DA SILVA

Antes de ter as lancha, trabalhava como os tacn, longas vara de madeira feitas de propsito. Aonde alcanava os tacn, entn o barqueiro fincava assim e torcava o barco (pressionava com a vara o fundo das guas impulsionando a embarcao). Quando os tacns no alcanavam mais a fundura da gua, entn pegava os remos. Era verejn. Muitos bateles eram feitos no Riacho mesmo pelo Joo Portugus. Era o melhor carpinteiro que tinha.

Quando subiram as guas, os bateles comearam a navegar na represa. Aumentaram de nmero e passaram a fazer o transporte de carvo e madeira. No incio a navegao se dava no varejo, a remo e a pano (a vela).

As velas chegavam a ter 30 m de pano. Usavam-nas quando o vento estava a favor. Nestes casos poderiam encurtar pela metade o tempo do percurso. E poupavam as foras dos barqueiros.

LLI

Quando ia a favor ia bem; depois a represa virava de lado (i.., deveriam entrar num outro brao da mesma, navegando em direo oposta anterior e tendo agora o vento contra), a tinha que descer o pano e ir s no remo.

O batelo de Lli chamava-se Boa Hora, e com ele trabalhou na Billings at 1963. Foi um dos ltimos a parar. De uma navegao feita com a fora dos braos, evoluiu-se para as lanchas, os rebocadores, os motores. Naquele tempo ainda no tinha lancha, motor. Era tudo feito no brao, tocado a remo. (Zato Pecchi).

Henrique Rosa foi um dos primeiros a colocar bateles a reboque. Porque eram pesados. "Vinham cn mil duzentis e vinti saco. Estes eram os maiores. Era um volume enorme. (N. Rosa).

Eram 2: Reno e Nossa gua. Antes das lanchas (dos rebocadores) podiam demorar at 2 dias pra fazer uma viagem. Na ida, vazios, iam no remo. Na volta, carregados, podiam gastar pra mais de 6 horas desde Cubato de cima at o porto de lenha. Se desse um vento bom, erguia as velas, a fazia em 3 h.

Dormiam e cozinhavam no prprio batelo. Havia no bico do barco uma pequena cozinha com um fogozinho a lenha. Atrs tinha uma casinha coberta. Ali era pra dormir; quando entrava, j tinha que entrar meio sentado; era baixinho. LLI

A gua era pura. Quando trabalhava com batelo a gente tomava dessa gua e no precisava nem ferver nem nada. Do jeito que baixava a caneca tomava. Era limpinha. A gente trabalhava assim com o barco, ia andando, dava sede, pegava a caneca assim.., e bebia. Limpinha. noite pegava uma caneca dgua, deixava em cima da pia (pilha) de lenha. Da a pouco, uns 10,, quando fosse tomar estava geladinha.

PESCA

ZATO PECCHI

Quando a gua subiu, j tinha peixe, porque os rios que foro represados tinha muito peixe. Ento j comeou a peg pexe, ei! Especialmente car, ei! A gente pegava a mas de monte.

A pescaria foi e continuou sendo atividade importante para os moradores do Riacho. Sempre dentro do binmio lazer e diversificao da dieta alimentar. J era forte antes mesmo da construo da Billings. Alguns afirmam at que era mais farta. De qualquer forma, no se nota, pelo depoimento das pessoas, um corte, uma diferena entre a pesca que era praticada no Rio Grande, e na que passa a ser praticada na represa, depois da construo da barragem de Padreiras. Quando a gua subiu, j tinha peixe, pois os rios represados eram piscosos. Ento j comeou a peg pexe, ei! Especialmente car, ei! A gente pegava a, mas de monte!. Os costumes que tinham com relao ao Rio Grande, foram transferidos para a represa.

ZATO PECCHI

Ns lavava a ropa no lavad na represa memo. Sempre jogava comida ali; servia de ceva. Num dia cismei: peguei um saco de estopa, enchi de polenta dentro, pus l adiante do lavad assim uns 4 ou 5. E!... mas eu pegava lambari... um atrs do outro! Ah! Era lambari um atrs do outro. Naquele tempo tinha mais pexe que hoje: tinha bagre, trara, car e at tabarana chegava a pegar aqui. Era um pexe que podia ficar grande + rolio, malhado, cor de cinza, cor de... malhado. ZATO PECCHI

Naquele tempo tinha a fbrica de cadera aqui, dos Fincos. Ento ns largava a 5:10, 5:15, tarde. n. Ento quando era no fim de novembro p dezembro o dia mais comprido. Ento chegava em casa, eu pegava uma vara comprida com anz e linha, atravessava o aterro ali, era s bat assim e j pegava trara, uma atrs da otra. Car era a mesma coisa, uma atrs da outra. Trazia, limpava, fritava e comia; comia com polenta.

Se a pescaria podia possuir certas peculiaridades para determinadas pessoas ou grupamentos, um trao entretanto era comum a todos: o prazer de pescar. Naquela poca todo domingo o gosto era esse: pescar. Pescar era timo. Principalmente nas noites que no tinha lua. Noites escura era melhor pr pesca - quarto minguante, lua nova. Lua cheia fica muito claro.

Lli tambm pescava no Rio Grande, e continuou pescando depois do fechamento da represa. Nos contou como a pesca tinha importncia para o lazer de adultos e crianas.

Quando chovia a gua espalhava pelas vrzeas - era quase tudo plano. Ento formavam-se pequenas lagoas. Quando a gua baixava, estas ficavam cheias de peixes. O sol comeava a esquentar, os garotos e a rapaziada, por brincadeira secavam a gua e recolhiam os peixes. Quando saiam pr beira dgua cedo, ficavam por l brincando e pescando. Ao voltarem, quase nem podiam carregar de tanto peixe que tinha. Era tudo molecada. Comiam peixe nem que no quisessem. Tinham por demais. Dava mais trara e bagre. NONO ROSA

Tambm dava tabarana, um peixn branco, quase que nem carpa, mas era mais fininho. A carpa arredondada. A tabarana achatada. Pegava-se muita tabarana quando chovia pelas cabeceiras. A desciam. A gua fazia aquele movimento e a gente pegava tabarana. Sempre no anzol. Agora, naquele tempo o pessoal apreciava mais a trara.

NONO ROSA

Pescavam com canio, com linhada e raramente com rede. Alguns gostavam de pescar com fisga, outros at com faco. Com fisga ou com faco se podia pescar de dia ou noite. E qualquer peixe. Se esta fisga falasse... ningum acreditaria quanto peixe pegou esta fisga! ( Nono Rosa, mostrando a fisga, em tridente, que usa desde moo).

NONO ROSA

Iam at onde tinha a vrzea, onde a gua rasinha. Iam andando, "bem longe (dentro da gua) e l fisgavam ou acertavam os peixes com o faco. S no dava pra pegar bagre, porque fica mais escondido. Quando a pesca se dava noite, usavam um farolete carregado a carboreto. De noite enxergava que era uma beleza.

Para a pesca com linhada ou canio a isca era sempre a minhoca. Para trara usavam o lambari ou ento uma rzinha. Tinha muito lambari na Billings. Eram geralmente pescados na rede.

Tambm noite, quando saam para pescar com fisga, aproveitavam para caar r - Pegar r, como dizem - ou saam especificamente para peg-las.

ZATO PECCHI

noite era ca r. Era com farol de carboreto. Batia a claridade nas vista dela, pegava at com a mo. Mas ns tinha a fisga e s ia fisgando.ZATO PECCHI

0, se gostoso!! R?! a milhor carne que tem! Ainda existe hoje. Mas que nem o car: sumiu do mapa.

Todos pegavam r e so concordes quanto excelncia de sua carne. S discordavam na tcnica de captura.

Fisga s para peixe. R s se pega com a mo. Ns nunca machucamos uma r pra pegar. De resto, era tudo igual: o uso do farolete de carbureto, nas vrzeas ou beirada da represa.

LENHA

Lenha e carvo eram os principais combustveis na regio at o final da dcada de 50. ZATO PECCHI

Antigamente tinha muita lenha pra tirar. A tinha, eh! Tiravam lenha por tudo. S no foi mexido das comportas da balsa pra l, porque ali tudo inda virge. Daqueles lado ningum nunca mexeu.

Cortavam a lenha e os bateles iam pegar. Traziam at a prainha, onde formavam-se pilhas de lenha. Os caminhes levavam e vendiam em Sto Andr, S. Bernardo, S. Paulo... Havia porto de lenha em Santo Amaro, s margens do rio Pinheiros, onde tambm descarregavam lenha.

Usavam lenha para abastecimento geral: das casas, das padarias, da ferrovia, das fbricas... As fbricas consumiam muita lenha. Isso na dcada de 40. A Rhodia, a Kovarick, as Indstrias Matarazzo, as fbricas de vidro gastavam muita lenha. O problema que no dava tempo de crescer de novo.

NONO ROSA

A mata virgem uma coisa. Depois j vem outro tipo de mato. No nasce o mesmo. No tempo da mata virgem tudo madeira boa. Depois que cresce o mato novo, tudo madeira fraca.

Na poca da 2 guerra os que distribuam lenha, passaram a vender por quilo. Por isso queriam lenha verde. Ns sofria pra carregar.

A demanda tambm cresceu muito, sobretudo por parte da Santos-Jundial. Com a impossibilidade de importao de carvo, as fornalhas das locomotivas passaram a ser alimentadas a lenha. (10)

Gostaria de, em tempo, fazer um lembrete, para que no fique a impresso de que estou querendo apresentar o colono italiano como desmatador. Nem poderia faz-lo, pois que no foram os primeiros habitantes da regio e a atividade de extrao de madeira existia bem antes da criao do ncleo colonial. Recorro, mais uma vez, colaborao do Prof. Jos de Souza Martins, cujos estudos tornam-se cada vez mais imprescindveis para o conhecimento e a compreenso do ABC:

A 16 de agosto de 1825, 0 comandante da 2 Companhia de ordenanas de S. Bernardo, o fazendeiro Francisco Mariano Galvo, relacionou em sua rea 5 moradores com carros de bois para o transporte de lenha para a cidade de S. Paulo e 6 com carros de transporte de madeira, totalizando 15 carros, pois alguns tinham 2. Na 1 Companhia de ordenanas de S. Bernardo, o alferes Joo Jos Barbosa anotou 18 homens que tm carros e trabalham com eles. Portanto, um total de 29 pessoas que viviam de transportar lenha e madeira em carros de boi. (A escravido em S. Bernardo, na Colnia e no Imprio).

Das 6 linhas (subdivises do ncleo colonial de S. Bernardo) criadas a partir de 1878, uma delas, a linha do Jurubatuba ocupou exatamente as terras da Fazenda Jurubatuba, aberta em 1754, e tambm pertencente aos monges beneditinos., para onde deslocaram os escravos e o prprio padre-fazendeiro, como era ento chamado o monge que a administrava. E ali haviam plantado bastante milho, feijo, arroz e trs quartis de mandioca. Nessa regio, na 2 metade do sculo 18, extraram os monges, da Fazenda de So Bernardo, muita madeira para as obras de sua igreja e de suas fazendas. A ponto de que fizeram feitor dela um escravo de nome Caetano, serrador e faquejador, isto , carpinteiro. (idem).

FESTA DE N. SENHORA DA BOA VIAGEM

Quase todos os antigos se lembram dela. Muitos dos novos lembram de relatos: Para uns e outros era uma festa muito bonita.

ANSELMO MRIO FINCO

Tinha a festa de N. Sr. da Boa Viagem com procisso de barcos. Vinha gente de Santo Andr, de S. Bernardo, de todo lado.Em S. Bernardo tinha uma festa com a procisso dos carroceiros. E aqui a N. Senhora com barcos. A imagem de N. Sra. da Boa Viagem vinha de S. Bernardo. E depois voltava. Nos barcos cantavam as oraes. Faz tempo que no tem.

o tipo da manifestao que o surgimento do reservatrio ensejou. ZATO PECCHI

Quando a represa encheu e que tava cheia, eles fazia essa procisso. Naquele tempo tinha aqueles barco, mas barco que carregava 80, 90 metro de lenha... Tinha outras embarcao menores, canoas de um pau s, bote... Ento no dia de N. Sra. da Boa Viagem, em setembro, fazia uma grande procisso com os barcos. Saia do Riacho, e naquele tempo me parece que passava por baixo da ponte (via Anchieta); no me lembro. E vinham at por aqui tudo (at a altura do bairro dos Finco).

ANSELMO FINCO

A imagem de N. Sr. da Boa Viagem vinha de carro de S. Bernardo. Depois da procisso, levavam de volta para S. Bernardo. O povo todo acompanhava. Mas tudo isso j se foi. Passou o tempo.ZARA BESOGUINI

J se interrompeu pra mais de 20 anos. Cheguei a acompanhar. Pegava os barcos, ia at a balneria (atual Parque Chico Mendes) e voltava. Barcos todos enfeitados, os italianos nos barcos, pais, avs, bisavs, tios cantavam louvando a Maria. De resto no se lembra. Era bonito demais, demais. Se voltasse agora, era uma maravilha. uma pena que tudo se acabou.Lli, dono do batelo Boa Hora, oferece dados interessantes sobre as procisses na gua. Estas no existiam anteriormente ao represamento do Rio Grande. Surgiram bem depois que as guas subiram, por volta de 1950 e com o estmulo do Pe. Fiorentti Elena. Ele que fez a Matriz de S. Bernardo. A de Rudge tambm. Ele gostava dessas coisas e como pessoal do Riacho fazia estas procisses. A principal era a de N. Sra. da Boa Viagem, no dia 7 de setembro. Mas faziam outras tambm. No dia 20 de janeiro, dia de S. Sebastio, iam no Boror, em Santo Amaro. Nis ento lotava os batelo aqui e ia l. Dia 3 de maio, era o dia da festa de Santa Cruz, no Linguanoto. Costumava levar o Pe Fiorentti e o pessoal l. Ia de manh e voltava noite.

A de 7 de setembro era aqui mesmo em volta do Riacho. A procisso de N. Sra. da Boa Viagem, conhecida por procisso dos Carroceiros em S. Bernardo bem anterior a esta realizada no Riacho.

Ento, um dia foi pegada a N. Senhora ali nos Demarchi, a peguemo a Santa l e trouxemo aqui. E daqui foi que saiu a procisso. E os carrocero saro daqui pra S. Bernardo. A imagem foi conduzida, na vspera, ao Bairro Demarchi, que perto da represa. L os bateles a pegaram e vieram em procisso at a Prainha.

Tanta gente! Naquele dia foro bastante batelo! Uns 10 batelo cheio de gente. E da continuou. No to grande que nem naquele dia, mas sempre fizemos. A turma toda de S. Bernardo, que no cabia nos barcos, ficou esperando aqui. Os carroceiros tambm estavam esperando. Tambm pessoas com carros e a cavalo. Naquela poca tinha muitos carroceiros, troperos, carreteiros, charreteiros, cavaleiros. E assim seguiam para a igreja matriz em S. Bernardo. A procisso entrou em decrscimo, e por fim parou no comeo da dcada de 60. Lli atribui o fato ao decrscimo da importncia dos barcos. Comeou a acabar a lenha e passou a diminuir o nmero de barcos. Eu parei de trabalhar em 1963.

quase certo que a festa de N. Sr da Boa Viagem no Riacho durante um tempo esteve desvinculada da mesma festa em SBC. Da o fato de que algumas pessoas se lembrem com segurana, ou vagamente, do percurso da procisso at o atual Parque Chico Mendes.

Para D. Maria, Conrado Rosa, que era filha de Maria poca, a imagem levada em cortejo pertencia capelinha do Riacho. Ficava no local em que foi construda a atual igreja, uma pequena elevao, com um cruzeiro frente. Era uma coisa muito fervorosa, muito linda, se rezava muito, grande participao dos fiis, o padre acompanhava. Cantavam-se hinos religiosos. Seguia at a Balneria (chcaras que do fundo para a represa, perto da Balsa). Ocorria tambm de levarem a imagem de N. Senhora para a capelinha de So Bartolomeu, no Parque Municipal. Os bateles iam at o parque ao encontro da imagem. A procisso descia da capelinha e vinha beirada da represa. Ento tinha incio a procisso na gua.

No sabem se foi o padre que desestimulou a festa ou se foi o povo que a foi deixando de lado. De qualquer forma, foi interrompida nos primeiros anos da dcada de 60. poca do Conclio Vaticano II, de grande renovao na Igreja, de desestmulo s manifestaes de religiosidade popular.

Era vigrio o Pe. Osvaldo Guerreiro, que chegara ao Riacho em 1962 - quando se demoliu a antiga capelinha e se deu incio construo da nova.

OS VENTOS

Quem trabalhou com barco, sabe bem o cruzamento dos ventos. Tem que saber. (Nono Rosa)

Saber identificar os ventos era muito importante para os moradores do Riacho. E sabiam faz-lo muito bem. Os antigos ainda conseguem identific-los, e costumam consultar os ventos para saber do tempo.

Identificam basicamente 3 ventos: o sul/suleste; o leste conhecido pelo nome de vento nascente; o noroeste, conhecido tambm por meio noroeste, ou norte.

Sul o vento que sopra da Baixada Santista. Traz cerrao, garoa e chuva fraca. s vezes chove forte. Mas no muito. ZATO PECCHI

O vento sul traz a cerrao, mas era naquele tempo. Hoje t cabano a cerrao, fumaa. quase difcil. Mas naquele tempo era todo dia. E chuva ento... Nossa. A turma aqui j estava tudo acostumado. Hoje a fumaa quase nem vem vino mais! T se acabano..

NONO ROSA

Dava sempre tarde, depois do meio dia. Vinha cerrao e fechava. Uma coisa triste mesmo..

Depois que as guas das represas subiram cresceu tambm o nvel de. umidade. ZATO PECCHI

Chuvisquero e garoa aqui era direto. Teve uma ocasio aqui que foi um, ms, dia e noite, sem parar. Agora, cerrao, chegava depois do almoo. Virava o sul, era tudo dia, num se enxergava nada.

D. LIA ROSA

... A umidade estragava tudo em casa. Era o tempo que s vezes chovia 8 dias... Pr evitar o mofo usava abrir as janelas pra circular o ar.

O leste, o vento do nascente, um vento muito bom. Quando amanhecia e dava esse vento, o dia era bom. No havia garoa, chuva ou fumaa (cerrao). Ao contrrio, quando amanhecia soprando sul ou sudeste era garoa o dia todo.

Noroeste (por alguns conhecido por norte) o vento mais temido, o mais 1 perigoso. vento de chuva forte, de temporal. Quando dava o noroeste levantavam nuvens pretas, e a sabia que o vento vinha bravo.

Mas h momentos que atrapalha tudo. Sopra um, sopra outro.

Quando o vento est mudando de direo, dizem que est rodando. Boa parte dos comerciantes (sobretudo donos de bares e restaurantes) do Riacho costuma observar os ventos para planejar o movimento da casa. Da prevm se haver sol, se vir cerrao, se vai ficar frio. Mas s vezes a virada brusca, inesperada.

Quando baixa a cerrao inviabiliza o lazer e a pescaria. Cai o movimento. O acesso ao brao do Rio Pequeno e Alto da Serra fica impossvel. Quem no conhece no acha. E a estrada perigosa. A chuva tambm prejudica bastante.

Choveu, o movimento no Riacho cai no geral

Para os pescadores aficcionados, os ventos so muito importantes. Segundo eles os peixes costumam encostar sempre a favor do vento. Ou seja, se o vento est movimentando a gua na direo do pescador, h grandes chances de boa pescaria. Ao contrrio, se o est pegando por trs, em geral os peixes seguem o sentido do vento e encostam do outro lado.

No mesmo lugar pode no dar peixe de manh e dar tarde, se o vento virar. (Lionel Ventura).

No abordo aqui as dezenas de clubes ou entidades recreativas de carter associativo que se instalaram em vrios pontos da orla. Dedico-me to somente aos espaos de fruio livre, sem cerceamentos, multiplicados e no convencionados.

Encontrar lazer nos domnios das represas Billings/Pedras ou nos seus entornos coisa simples. E por vezes surpreendente. Quem, por exemplo, pode imaginar que se possa acampar em ilhas, aqui na Grande So Paulo? Pois bem, isto possvel.

Quando as guas subiram, formaram-se vrias ilhas, de pequeno porte na rea da represa. Sobretudo no brao do Rio Pequeno. Ali, a mais conhecida a ilha do Buchero (a 1,5km do Bar Flutuante), a mais procurada por pescadores que buscam isolamento e querem um pique-nique.

Entretanto no so conhecidas por denominaes muito pertinentes, podendo a mesma ilha ser conhecida por nomes variados. A no ser a do Buchero, as demais no tm nomes muito certos. Os freqentadores vo batizando-as.

Assim so citadas as Ilhas do Jlio, do Tatuzero, a Pelada e da Placa (porque tomam como referncia as placas de marcao da antiga Light.

Correr na orla da Billings, longe do rudo ou da fumaa dos carros, tem tambm seus adeptos. O local preferido a Estrada da Pedra Branca, bairro do Montanho. Fica ao lado direito do setor Reservatrio do Rio Grande, tomando como referencial o sentido do fluxo das guas.

Estradinha de terra, e; zigue-zague, subidas e descidas com rvores em ambas as laterais no maior trecho do percurso. Por vezes passa ao nvel da represa. Outras no costo muitos metros acima. Mas sempre seguindo o traado acidentado da represa.

6 - PESCARIA

Em 1947, o ingls Turing declarava: os peixes constituem um barmetro muito til do real estado de pureza de uma gua. Nenhum corpo dgua pode ser considerado em condies satisfatrias se nele no viverem e proliferarem peixes.

(in: Produtos de Pesca e contaminantes qumicos na gua da represa Billings, So Paulo).

Os caras trabalham numa firma, na folga eles querem passear, um lazer, levar um peixinho para casa. a melhor coisa que eles tem. um divertimento pra eles" (Gilberto)

Se a pesca era to do gosto dos antigos colonos italianos e dos que moravam tias adjacncias da represa, este gosto estendeu-se a uma faixa muito maior e diversificada da populao. Sobretudo depois do arranque desenvolvimentista da regio a partir da dcada de 50, o nmero dos que buscam na Billings, e mais particularmente na pescaria, seu lazer multiplicou-se por alguns milhares. De todas as profisses e estamentos sociais. A quantidade de pessoas mexendo-se na orla da represa, vista de longe, mais parece um carreiro de savas em dia de carrego. De perto, a melhor imagem ficou registrada pelo comentrio de um pescador: Fico at vesgo de tanto v as varinha subi e dec.

Pontos de acesso fcil e piscosos chegam a ficar congestionados (como a regio prxima Anchieta, Prainha, do Bairro dos Fincos e o Alto da Serra).

bom pescar! Ficar em casa fazendo o qu? Ento vai tirar um lazer l (na beira da represa). Esquecer um pouco o servio.

Peixe bom com uma cervejinha, com uma caipirinha. Peixinho bom a qualquer hora. (Eduardo - morador do bairro dos Fincos)

O paulistano Jos Luis, 34 anos, pedreiro e nos finais de semana vem pescar. uma higiene mental muito boa. Cleide, sua mulher, acocorada dentro do carro da famlia, intervm: Para ns, que somos pobres; quem rico tem condies de ir para outros lugares; a gente que pobre. Mas, atalhou Jorge, tem rico que vem aqui, mdico, etc.... Quando voltam do rio esto bem relaxados. A pesca o melhor. Eu, s de chegar aqui e parar o carro j me sinto bem. Jorge, natural do Ipiranga, pesca desde criana. Com seu pai pescava no Eldorado at uns 20 anos atrs - poca que ainda dava peixe.

Ter pegado gosto pela pescaria acompanhando os pais, ou mais velhos em geral, parece ser uma constante entre os pescadores. Conversei com no poucos rapazes e senhores na faixa dos 20 aos 42 anos e que pescam na Billings desde crianas. Comearam vindo com os pais, familiares e amigos. Com o tempo. passaram a vir sozinhos, ou trazendo outros acompanhantes. E continuam a pescar, hoje, acompanhados das famlias que constitufram.

So tambm muitos que comearam a pescar quando ao passar pela regio e vendo tanta gente beira dgua, despertou-se-lhes a curiosidade. E comearam tambm.

o caso do coreano Lee (quis identificar-se somente assim), que est no Brasil h 20 anos. H 2, passando pelo Alto da Serra notou o movimento. Comprei uma varinha de Cr$ 50,00, mas no consegui pescar nada.

No tinha nenhuma experincia com a pesca, no sabia colocar alinha, a isca, o chumbo, a bia. Hoje chega ao Alto da Serra, encosta seu Escort e prepara-se para a pesca da carpa, com seus molinetes e uma dezena de outros petrechos que ele mesmo foi criando.

Parte destes pescadores" busca beira dgua to somente um cantinho que possa receb-los com seus canios. E em certos fins de semana isto quase impossvel nos pontos de maior concentrao. Preferem, por isto, chegar bem cedo, madrugada ainda, para garantirem melhores acomodaes.

Os que buscam tal lazer chegam a p, de moto, de bicicleta, de nibus ou de caminhonete. Trazem nas mos uma sacolinha de plstico e um ou vrios canios de tamanhos variados ou apetrechos mais sofisticados como varas e molinetes importados. Como complementos, simples pus (coador), samburs de arame para manter os peixes vivos na gua e at maletas especiais com anzis, iscas artificiais e outros que tais.

Mantm-se em p, sentados nas pedras, barrancos, em banquinhos ou em confortveis cadeiras de alumnio beira dgua, ou enfiam-se represa adentro, gua pela cintura, no importando a roupa e o tempo, em busca da melhor posio para fisgar o peixe.

Alguns chegam a nvel de requinte bastante grande. Marcam um ponto para cova e pagam o dono de um barco para lev-los, ss, para cevar (jogar comida, milho, batata, mandioca), ou para eles prprios - os barqueiros - cumprirem tal tarefa. importante no revelar a localizao a ningum. No tempo certo, vo e fazem a pescaria, voltando com enormes carpas (dizem que geralmente so japoneses).

H os que preferem lugares mais isolados, tranqilos. Dirigem-se assim para as muitas ilhas que se formaram na represa, sobretudo no brao do Rio Pequeno. Para estes h servios de transportes com barcos. O mais conhecido deles o do Anto. Levam-nos pela manh e marcam horrio para o retorno tarde. O barco vai passando pelas ilhas, pelos pontos desejados e distribuindo os passageiros/pescadores. tarde volta para recolh-los.

Tambm junto ao Bar Flutuante (Estrada Velha do Mar) h um barco que presta o mesmo servio. As sadas comeam s 6 horas, com uma demanda, aos sbados e domingos, em torno de 200 pessoas. Alguns marcam retorno para o mesmo dia. Outros ficam para acampar, e j deixam marcado o retorno para o dia seguinte. H passageiros para piqueniques. Mas a maioria vai mesmo para a pesca. Tanto pesca como acampamentos se do nas orlas das ilhas.

No Riacho 2 feira dia dos feirantes. o que todos dizem. Vm muitos feirantes. o dia de folga deles e eles vm de monto. Preferem pescar no Alto da Serra, na Agua Limpa (depois da Balsa Joo Basso) ou mesmo aqui pelo Riacho.

Os minhoqueiros no trabalham nesse dia. Por isso os feirantes dirigem-se s lojas especializadas. Ao contrrio do que se possa pensar, pesca por lazer.

Quem transita pela Anchieta ou pela Estrada Velha de Santos, nos finais de semana ensolarados, cruza com um grande nmero de carros com canios amarrados nos ba~gefros,em suportes improvisados ou mesmo enviesados em seus interiores. Indo para a Billings ou dela voltando.

No fim da tarde, no sbado ou no domingo, forma-se um congestionamento de grandes propores no trevo do Riacho. Esto pegando a Anchieta os que esto de volta da pescaria ou do dia de lazer no Riacho, no Alto da Serra, ou no Parque Chico Mendes Estoril. Quem faz os caminhos no contra-fluxo, percorrendo a Estrada Velha do Mar no sentido serra ou mesmo a Rodovia Tibiri e estradas vicinais, ver um sem nmero de pessoas, homens e mulheres, adultos e jovens, a p voltando para casa, canios no ombro, e sacolas fartas ou minguadas de pescado. O mesmo pode-se observar at mesmo nas margens da Anchieta nas proximidades do Riacho e de So Bernardo.

A pesca com tarrafa, apesar de proibida, bastante freqente. Seu arremesso facilitado pelo uso de botes, ou o pescador entrando direto na gua. O resultado chega, frequentemente, a sacos de tilpias.

O PEIXE

Peixe bom com cervejinha, com caipirinha... Peixinho bom a qualquer hora. (Eduardo)

Agora, depois de fritinho tem que ter um limozinho em cima... uma caipirinha, uma gelada. E manda ver. (Gilberto).

Nem todos tm pacincia para a pescaria. Mas o deguste de um peixinho fresco, pescado na hora, fisga todos por um ponto muito fraco - a boca. E ainda por um trao da cultura universal: a comensalidade.

Em toda a orla da Billings, mas sobretudo no Riacho, todos estes elementos ser observados de forma aliada. Primeiro uma grande massa humana que sente comiches, o corao bater, enquanto espera - canio na mo e anzol na gua - os belisces. E uma perda de flego ao primeiro puxo na linha. Dentre estes, gostam exatamente disto: a emoo que a pescaria propicia.

Muitos dentre estes no dispensam a complementao desta emoo com satisfao bastante mpar: comer o peixe pescado com as prprias mos.

Algo equiparado a andar em um pomar, escolher na fruteira a fruta do agrado, colh-la e degust-la enquanto continua a caminhada por entre as rvores ou sombra de uma delas.

Os primeiros, os que gostam de sentir o peixe na linha, buscam ampliar a satisfao da pescaria em si com a exibio aos prximos, parentes, amigos e vizinhos, do resultado da mesma. Sentem-se bem ainda em repartir com os mesmos o pescado, ou em convid-los para compartilh-lo mesa.

Os outros, os que gostam de pescar e apreciam o peixe, frequentemente no conseguem adiar o deguste para um outro momento. Fundem os dois (pescaria e saboreio) em um s.

Assim, muitas das pessoas que se dirigem ao Riacho, j vo munidas, afora os petrechos de pesca, de fogareiros gs e frigideiras. At mesmo de pequenas churrasqueiras a carvo.

Ento, pescaria e comensalidade se confundem numa enorme emoo de estar beira dgua, com pessoas queridas, pescando e comendo.

Esta ansiedade por consumir o prprio pescado, ainda na beira dgua, leva muitos rapazes a limp-los, ali mesmo, de forma improvisada e a arranjar um jeitinho para que os mesmos sejam fritos nos quiosques ou barracas.

H uma terceira categoria de apreciadores de peixes: os que preferem pura e simplesmente sabore-los. Principalmente na companhia de amigos. Estes buscam na regio da Billings uma satisfao extra: sabore-los em um dos muitos bares e quiosques que ali surgiram, h bastante tempo, com a sensao de estarem consumindo peixe fresquinho, fisgado ali mesmo, pela janela do bar e passado diretamente para a cozinha. E desta para a mesa. Mesmo que saibam, no fundo, ser isto iluso. Uma gostosa iluso regada a cerveja e caipiinha.

Estes so chamados, pelos que trabalham no ramo, de turistas. Quando frequentadores assduos, de fregueses. Para atenderem demanda de turistas e fregueses estabeleceu-se na regio uma pesca, profissional, mas no muito expressiva. Entregam nos bares especializados parte do produto necessrio: tilpias; lambaris, traras e s vezes bagres; nos botequins e quiosques a tilpia; em suas casas, ou em pontos, vendem peixe fresco.

Entretanto, grande controvrsia tem causado o consumo do peixe capturado na Billings. Mas nem de longe os debatedores podem imaginar o que acontece ao redor da represa no que diz respeito pesca com canio, de manh, de tarde e noite adentro. Reina sempre um clima de suposies. inacreditvel, mas real. Tem-se discutido tanto a poluio da Billings (e por vezes em termos quase catastrficos) e no se realizou, no presente (1991) nenhum estudo sobre a propriedade, ou no, do peixe capturado na represa para o consumo.

Consultei alguns organismos oficiais (Cetesb, Instituto Adolfo Lutz...) se j haviam procedido a algum exame de vsceras e de tecidos de tilpias ali capturadas, tendo em vista a viabilidade de consumo. A constatao foi triste: ningum fez nada. Ou porque no se pensou, ou porque no era de competncia, ou porque... (11)

Enquanto isto, no Riacho as pessoas tm suas opinies, de teores variados.

A pesca hoje decresceu. mais um esporte. O peixe quase no se aproveita um peixe sujo. Hoje ocorre o seguinte: quando chove bastante, a represa fica limpa vrios dias, mas depois ela comea a sujar de novo. (N. Rosa)

A Billings todo mundo j sabe, porque deu no reporte, fica sempre poluda Mas o peixe daqui no faz mal pra ningum. Seno j tinha muita gente morrido Eu mesmo pesco, tenho 3 filhos - um de 2 anos - e a coisa que ele mais adora peixe. Logo que eu chego ele diz: Pai, quero peixe. E nunca meu filho ficou doente, graas a Deus. No Alto da Serra tambm Billings e a gua mais pura. J no vai gua poluida. (Gilberto)

Acrescentem-se a elas outras idias que os moradores do Riacho fazem sobre o peixe, e o equilbrio/desequilbrio de espcies nas guas dos rios e represas da regio, e incorporados em vrios momentos deste trabalho.

Igualmente no tivemos notcia de nenhum estudo oficial recente a respeito da populao de peixes, de espcies, como vem reagindo... De forma resumida, e sempre tendo em vista os conhecimentos dos que esto lidando diretamente e de forma intensiva com a pesca na regio, parece-nos que a populao atual se distribui assim:

Traira (Hoplias malabaricus)

Espcie nativa. Peixe bastante apreciado especialmente pelos oriundos do Riacho. pescada com anzol, sobretudo depois que escurece.

noite ela vem barranque pra procurar peixe (alimento). Ento capturada com iscas de lambari, rzinhas, moela de galinha e at pedacinho de tilpia. No peixe muito procurado por turistas nos bares. Acham-na espinhenta. Os da terra, os contrrio, acham-na mais saborosa. Como a grande maioria dos pescadores est em busca de lazer, no se interessa ou mesmo nem tem conhecimento deste peixe e de como pesc-lo na represa. H formas inusitadas de captura de trara, j descritas neste trabalho (com faco, com a mo).

Conta-se que por volta de 1985 houve grande estiagem e a represa secou muito. Ficou um filete de gua. As traras foram se alojando na lama. Com o sol, a lama esquentou e elas ficaram ariscas. Ento entravam na lama e matavam-nas com pequenos porretes. Eram sacos e sacos de trara. Ainda tem muita nessa represa. Mesmo perto do Botujuru, na parte em que o crrego d fundura, chegam a pesc-las de at quilo ou quilo e meio. (Iremar). No 45 (km 45 da Anchieta) at uns 2 anos atrs eu pegava trara de at 2 quilos. Mas hoje no tenho pescado mais. (Pedro).

Trara depois de limpa e temperada agosto, pode ser frita, ou no forno(assada) se for grande.

Lambari (Astynax bimaculatus)

Espcie nativa. Ainda tem muito lambari, dizem vrios pescadores. No do lado da Billings, que t poludo. Mas do lado da Sabesp (o brao Rio Grande) que essa gua que ns bebemos, completam outros.

A bem da verdade nunca vi um lambari sendo pescado ou j capturado por onde andei na orla da Billings. Mas devem pesc-lo, pois nas lojas especializadas continuam a vender o macarrozinho que uma de suas iscas.

As outras so a massa de po e a minhoca. pescado com canio e anzol miudinho. Entretanto pescado mesmo com rede ou tarrafa. Em alguns pontos do brao Rio Pequeno, dizem que conseguem captur-lo de forma abundante, mesmo com canios. peixe bastante apreciado como petisco, sobretudo para acompanhar a cervejinha. Sempre frito, torradinho.

Dizem que melhor capturado em noites escuras. peixe arisco, e em noites claras (lua cheia) facilmente escapa da rede. No bar Flutuante, consomem em torno de 50kg de lambari por fim de semana. Parte dele puxado do Rio Pequeno. Outra parte puxado da represa de Salespolis, onde esto pegando bem.

Era peixe bastante apreciado pelos antigos, que o capturavam nas guas do Rio Grande.

Tilpia rendalli, (T. Melanopleura)

Espcie aliengina. Antigamente no existia essa tilpia do Nilo na represa. Havia s tilpia comum (rendalli). Esta praticamente desapareceu. Pelo menos do lado de c (lado oeste). De vez em quando a gente pega uma. A tilpia do Nilo mais bruta e come os outros. (12)

As tilpias comuns eram menores, e davam bastante onde tinha capim na beira da represa. As do Nilo crescem mais e se multiplicam rpido. Chegam a ser pescados exemplares com 700 a 800 g de peso. Mas o cara tem que sab pesc pra peg as grandes. Foi importada do ex-Congo Belga (Zaire) e introduzida na Billings em 1953.

Para sua captura empregada linha de bitolas 0,30 e 0,40 mm e anzis pequenos (14 a 16).

pescada em qualquer profundidade. Mais tona, melhor.

Suas iscas so capim, erva doce e iscas artificiais. J a tilpia do Nilo apresenta maior desenvolvimento podendo chegar a 35 cm e 2 kg. herbvora, mas ataca qualquer tipo de iscas: capim, erva doce, milho, massa, minhoca, guaru (peixinhos de beira dgua), larvas, formigas, cupim, insetos. Segundo Adauto, as iscas para tilpia tm temporada: "Tem poca que s d na minhoca. Outra s no capim. E assim vo tentando, experimentando. No sabem explicar porque isso acontece.

Quanto ao consumo, ao contrrio do que possa sugerir sua aparncia a tilpia de fcil preparo. Para limp-la comeam cortando a serra e as nadadeiras. Alguns preferem faz-lo munidos de uma tesoura velha. Corta-se fora a cabea e retira-se a barrigada. Pega-se a ponta do couro e puxa-se no sentido da cabea para a cauda. Sai inteiro. Primeiro um lado. Depois o outro. Tilpia peixe de escama e couro. Mas no deve ser escamada. D muito trabalho e faz muita sujeira. Solta escama para todo lado. Alm disso o couro tem gosto de barro. Depois de limpas, parecem porquinho (peixe do mar). Lavam-nas com limo ou vinagre para tirar uma espcie de limo de dentro dela.

Temperam a gosto (sal, limo ou vinagre, alho, pimenta do reino). Se quiser pode ser consumida na hora. Sempre frita. Mas bom deixar uns dois dias no tempero. Pega mais gosto. H os que preferem-na em fil. Mas fil, s das grandes. Depois de limpas, passam a faca longitudinalmente, rente espinha. Sai inteiro. Isto facilita o deguste. Outros preferem-nas inteiras por serem de melhor paladar ou por dar mais graa. Para estes, em fil ela perde o gosto. O fil no d trabaio, mas eu j gosto de ver o trabaio, senti o sabor da danada.

Nos bares, botequins e quiosques servida frita inteira e frita em fil. At espetinho de fil de tilpia.

Para se ter uma idia de seu consumo, tomemos como exemplo o Bar Flutuante, um dos vrios especializados em peixes na regio: uma freqncia de 1.200 pessoas por fim de semana. De incio s serviam peixes da represa (tilpia, trara, lambari). Aos poucos foram introduzindo outros, do mar, inclusos.

De todos, o mais procurado a tilpia. Consomem-na em forma de fil ou iscas (o fil cortado em tiras). Como h muitos japoneses e mesmo pela demanda dei turistas, passaram a oferecer sachimi - tilpia cortada em iscas pequenas, consumida crua com shoyu (incorporado de forma permanente aos temperos de mesa no bar).

Entram, por fim de semana, 600 kg brutos de tilpia, que se convertem em l20kg de fil e iscas. Somente 10% a gente puxa da represa. O restante a gente puxa de Guaraci (divisa de S. Paulo e Minas), por ser um peixe mais grado, fornecendo fil. maiores

Ao contrrio do que se pensa, a tilpia no espinhenta (espinhuda, dizem). Antes de frit-la passam-na na farinha ou em fub, que seja. Que assim no gruda na frigideira. E o peixe no desmancha.

Carpa (Cyprinus carpio)

Foi a primeira espcie aliengina a ser introduzida (1948) na Billings pelo antigo Servio de Piscicultura da Light. Peixe originrio da sia, onde bastante apreciado e sua cultura muito antiga. De l foi trazida para a Europa e Amricas. Vive em guas paradas e lodosas, com bastante fundo. Passa o inverno enterrado no lodo. Seu crescimento lento, chegando ao estado adulto em 2 ou 3 anos. Com 6 anos pode pesar at 4kg. So resistentes e longevos podendo chegar a 1,50m ou mais, pesando 20 a 30 kg.

Jorge Luis nos informou que na Billings existem 2 tipos de carpas: a japonesa e a alem. Aquela branca. Esta pintada e costuma ser maior. No comeo de maio Jorge pegou uma alem de 8 kg.

So muitas as notcias de carpas maiores. Cheguei a ver fotos (pescador adora foto).

Mas depende da sorte do pescador.

Segundo os pescadores, d carpa em vrios pontos da represa, sobretudo no Alto da Serra, no Rio Pequeno, e passando a Balsa. Tambm no km 40. Mas tem que fazer a ceva dela. Marcar o ponto em que pescada e ali jogar mandioca, batata doce, po velho. Elas fica sempre comendo e voc vai ali bat a ceva.

Para quem gosta mesmo de pescar, dizem ser a melhor pescaria. Mas tem alguns segredos. E talvez por isso ela seja mais emocionante.

O primeiro segredo a isca: massa de batata doce com acar. E este tipo de isca no comercializado. Cada pescador prepara para si (o preparo descrito frente). O segundo diz respeito ao anzol. Ou melhor, aos anzis, pois em cada linha devem ser amarrados 3 anzis (n 6) de tal forma que ao serem ocultos no interior da bola de massa de batata se armem como uma ncora de 3 pernas.

Isto se deve ao fato de a carpa possuir toca mole, correndo sempre o risco de rasgar-se se fisgada por um nico anzol.

pesca de espera. Por isto os pescadores iscam vrias linhadas e deixam-nas armadas. Os mais humildes preparam varetas com vergalho com aproximadamente 1 metro. Em uma das extremidades pem de lado um pequeno gancho e no topo uma proteo feita de um pequeno pedao de borracha, pneu velho. Espetam vrios destes, em seqncia, no ponto de pesca. No ganchinho pem um sininho. Iscam o anzol e arremessam-no o mais longe possvel na gua, com giros vigorosos da linhada. Passam a linha por uma pequena fenda na borracha (que funciona como um breque) e depositam a latinha em que a sobra da linha est enrolada ao p de ferro. Depois de todos os dispositivos estarem arrumados, s sentar e esperar. pescaria de pacincia.

O peixe fisga-se e o sino balana. Ento, ao primeiro toque do sininho a correria geral.

Os de mais posses substituem a linhada (linha enrolada na latinha) por molinetes. Mas no prescindem dos sininhos.

Carpas fisgada, a vez do ltimo segredinho: No se deve pux-la para fora; deve-se cans-la. Se pede linha, isto , se resiste, deve-se dar folga na linha, soltar linha, dar linha. E vai recolhendo aos poucos. Assim o pescador vai acompanhando seus movimentos e trazendo-a para a borda. Geralmente so recolhidas a 80 ou 10m do local em que foram fisgadas. Dependendo do tamanho. Ao chegarem prximo borda so recolhidas com o coador (pa)E capturada sobretudo no frio (nos 4 meses sem r). Gilberto diz que tambm j pescou muitas. A maior que viu pescada pesava em torno de 20 kg. Os donos do Bar Flutuante j viram muita carpa grande. Mas dizem que muitos pescadores acabam soltando-as, pois no apreciam seu paladar.

Dizem que tem um gosto forte de barro. A vai muito do cuidar dela, diz Jorge Lus. Segundo Cleide, sua esposa, quando a carpa grande deve-se fazer um corte na altura de sua nuca e puxar um filete preto que fica no dorso. A pode assar ou fritar.

O tempero vai do gosto de cada um. Eu uso alho, sal e limo.

No muito pra no tirar o gosto prprio do peixe. Se vai ass-la acrescenta cheiro verde, cebola e tomate (este para que o peixe no fique ressecado). Para fritar, deve-se cort-la em postas. E o tempero alho e sal. Entre carpa, bagre e tilpia, ficam com carpa. Mas os 3 gostoso.

Muitos, depois de limp-las e livr-las dos ditos filetes escuros do dorso, pe-nas em uma bandeja com leite e deixam-nas curtir pelo menos 2 dias na geladeira. Assim que temperam-nas. Ento ficam gostosas. Fritas ou assadas. Grandona assada.

Dizem que aprenderam com japoneses. Quem sabe mesmo a japonesada. Idntico processo de tratamento para retirar o piti (cheiro forte) de certos peixes registrei junto aos pescadores caiaras no Litoral Sul Paulista. Tambm afirmam ter aprendido com japoneses.

Outros peixes

H peixes que hoje so mais dificilmente capturados, e os pescadores no sabem dizer por que. Muitos deles afirmam que foi a tilpia que acabou com eles.

Entretanto fcil constatar que a tilpia mais resistente poluio do meio. Portanto so encontrveis em toda a extenso da represa. Os peixes que relacionaremos, incluindo-se a carpa, s so capturados nos braos ainda no comprometidos da Billings (Rio Pequeno, Capivari, Rio Grande).

Bagre (Rhamdia sp)

Espcie nativa.

Ainda so capturados sobretudo no brao do Rio Pequeno. Mas, em geral, no muito grande. Com sorte o pescador pode chegar a fisgar um exemplar de 1 kg. Mas no mais. mais facilmente pescado na espera. Porta