homilias padre jose

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    Homilias Dominicaisdo Padre José Amaral de Almeida Prado

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    © Colégio Santa Cruz, 2010.

    Diretor Geral do Colégio Santa Cruz: Fábio AidarCoordenação e organização editorial: Cláudio Rondello,

    Cristine Conforti, Paulo MarianoEdição das ilustrações: Paulo MarianoTexto de capa e prefácio: Cláudio RondelloRevisão:  Ana Cláudia Smaira e Vera T. FranciscoIlustrações:  Alunos do curso de catequese de 2010 Professoras de Catequese:  Ana Sílvia Barreto, Elismara Motta,Fernanda de Oliveira, Maria Carolina SantosDesenhos da capa:  Alunos do curso de catequese de 2010 Foto da capa: Manoel Costa SantosEditoração de texto: Nancy Stefanelli, Vanessa Baradel,Sofia Camargo LimaDigitação: professores do Colégio Santa CruzProjeto gráfico e diagramação: Candida Bitencourt HaesbaertImpressão: Graphium Gráfica e Fotolito

    Produção: Colégio Santa Cruz  Av. Arruda Botelho 255 – São PauloCep. 05466-000 – www.santacruz.g12.br

    Congregação de Santa Cruz Rua Egberto Ferrei ra de Arruda Camargo, 151 – Campinas, SP – Cep. 13092-621www.congregacaodesantacruz.org.brSuperior de Distrito: Pe. Laudenir Barbosa, csc

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    Agradecimentos 

      À Direção Geral do Colégio Santa Cruz, que estimulou eapoiou esta publicação.

     À equipe da Pastoral do Colégio Santa Cruz, que avaliou aimportância de tornar públicas estas homilias e concretizousua editoração.

     Aos professores e funcionários do Colégio Santa Cruz que sededicaram à digitação dos manuscritos.

     Aos educadores que revisaram o texto final e conferiram aeditoração.

     Aos professores que planejaram com os alunos a produçãodos desenhos.

     A todos os que se comprometeram na construção desse so-

    nho cristão de compartilhar o saber sobre o sagrado.

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    Índice 

    1o Domingo do Advento ................. .................. 23

    2o Domingo do Advento ................. .................. 26

    3o Domingo do Advento ................. .................. 28

    4o Domingo do Advento ................. .................. 31

    Natal do Senhor (Noite) ................... ............... 35

    Natal do Senhor (Missa do Dia) ................. ...... 37

    Missa da Sagrada Família .................. ................ 41

    Santa Mãe de deus, Maria ................ ................ 45

    Epifania do Senhor .................. .................. ....... 49

    Batismo do Senhor .................. .................. ....... 53

    1o Domingo da Quaresma .................. ............... 56

    2o Domingo da Quaresma .................. ............... 59

    3o Domingo da Quaresma .................. ............... 62

    4o Domingo da Quaresma .................. ............... 65

    Missa do Domingo de Ramos

    da Paixão do Senhor ................ ................... ...... 69

    Missa da Ceia do Senhor ................... ............... 71

    Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor .... 75

    2o Domingo da Páscoa ................. .................. ... 79

    3o Domingo da Páscoa ................. .................. ... 83

    4o Domingo da Páscoa ................. .................. ... 87

    5o Domingo da Páscoa ................. .................. ... 91

    6o Domingo da Páscoa ................. .................. ... 95

     A Ascensão do Senhor .... ..... ..... ..... .... ..... .... ..... 99

    Domingo de Pentescostes .................. .............. 103

    Santíssima Trindade ................ ................... ..... 107

    Corpus Christi ou Festa do

    Corpo do Sangue e do Cristo ........................... 111

    2o Domingo do Tempo Comum ........................ 115

    3o Domingo do Tempo Comum ........................ 117

    4o Domingo do Tempo Comum ........................ 121

    8o Domingo do Tempo Comum .................. ..... 124

    9o Domingo do Tempo Comum ........................ 127

    10o Domingo do Tempo Comum ................ ..... 130

     Apresentação............................................................11

    Ano A

    Essas Homilias .........................................................17

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    1o Domingo do Advento .................. ................ 207

    2o Domingo do Advento e

    Solenidade daImaculada Conceição ................. 210

    3o Domingo do Advento .................. ................ 212

    4o Domingo do Advento .................. ................ 215

    Natal do Senhor (Noite) ................. ................ 219

    Sagrada Família de Jesus, Maria e José ............. 223

    Epifania do Senhor ................. .................. ....... 226

    Batismo do Senhor ................. .................. ....... 229

    1o Domingo da Quaresma ................ ................ 232

    2o Domingo da Quaresma ................ ................ 235

    3o Domingo da Quaresma ................ ................ 238

    4o Domingo da Quaresma .................. .............. 241

    5o Domingo da Quaresma .................. .............. 244

    Domingo de Ramos da Paixão do Senhor ......... 246

    Celebração da Paixão do Senhor ................ ...... 249

    Domingo de Páscoa na Ressurreição do Senhor ... 251

    2o Domingo da Páscoa ................ ................... .. 254

    3o Domingo da Páscoa ................ ................... .. 257

    4o Domingo da Páscoa ................ ................... .. 260

    5o Domingo da Páscoa ................ ................... .. 263

    6o Domingo da Páscoa ................ ................... .. 266

     Ascensão do Senhor ........ ..... ..... .... ..... .... ..... .... 269

    Domingo de Pentecostes .................. ............... 269

    11o Domingo do Tempo Pascal .................. ....... 133

    12o Domingo do Tempo Comum .................. ... 137

    Solenidade de São Pedro e São PauLo ............. 140

    14o Domingo do Tempo Comum .................. ... 143

    15o Domingo do Tempo Comum .................. ... 146

    16o Domingo do Tempo Comum .................. ... 149

    17o Domingo do Tempo Comum .................. ... 151

    18o Domingo do Tempo Comum .................. ... 154

    19o Domingo do Tempo Comum .................. ... 157

     Assunção de Nossa Senhora.... ..... .... ..... .... ..... .. 161

    21o Domingo do Tempo Comum .................. ... 164

    22o Domingo do Tempo Comum .................. ... 167

    23o Domingo do Tempo Comum ................... .. 170

    25o Domingo do Tempo Comum ................... .. 173

    26o Domingo do Tempo Comum ...................... 176

    27o Domingo do Tempo Comum ...................... 179

    Nossa Senhora Aparecida ................................. 183

    29o Domingo do Tempo Comum:

    Dia das Missões ............................................... 186

    30o Domingo do Tempo Comum ...................... 189

    Celebração de Finados ..................................... 193

    dedicação da Basílica do Latrão ........................ 196

    33o Domingo do Tempo Comum ...................... 199

    34o Domingo do Tempo Comum ...................... 201

    Ano B 

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    1o Domingo do Advento ...................................... 371

    2o Domingo do Advento ...................................... 374

    3o Domingo do Advento ...................................... 377

    4o Domingo do Advento ...................................... 380

    Natal do senhor ................................................... 383

    Sagrada Família de Jesus, Maria e José ................ 386

    Solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria ........... 389

    Epifania do Senhor .............................................. 392

    Ano C 

    Batismo do Senhor .............................................. 395

    1o Domingo da Quaresma ................................... 399

    2o Domingo da Quaresma ................................... 402

    3o Domingo da Quaresma ................................... 405

    4o Domingo da Quaresma ................................... 408

    5o Domingo da Quaresma ................................... 411

    Domingo de Ramos da Paixão do Senhor ............ 414

    Quarta-feira Santa ............................................... 417

    Solenidade da Santíssima Trindade...................... 276

    2o Domingo do Tempo Comum .................. ..... 279

    4o Domingo do Tempo Comum .................. ..... 282

    5o Domingo do Tempo Comum .................. ..... 285

    6o Domingo do Tempo Comum .................. ..... 288

    7o Domingo do Tempo Comum .................. ..... 291

    11o Domingo do Tempo Comum ................ ..... 294

    12o Domingo do Tempo Comum ................ ..... 297

    13o Domingo do Tempo Comum e

    Solenidade de São Pedro e São Paulo ............... 300

    14o Domingo do Tempo Comum ................ ..... 303

    15o Domingo do Tempo Comum ................ ..... 306

    16o Domingo do Tempo Comum ................ ..... 309

    17o Domingo do Tempo Comum ................ ..... 312

    18o Domingo do Tempo Comum ................ ..... 315

    19o

     Domingo do Tempo Comum ................ ..... 31820o Domingo do Tempo Comum e

    Solenidade da Assunção de Nossa Senhora ...... 321

    21o Domingo do Tempo Comum .................. ... 324

    22o Domingo do Tempo Comum .................. ... 327

    23o Domingo do Tempo Comum .................. ... 330

    24o Domingo do Tempo Comum .................. ... 333

    25o Domingo do Tempo Comum .................. ... 336

    26o Domingo do Tempo Comum .................. ... 339

    27o Domingo do Tempo Comum .................. ... 342

    28o Domingo do Tempo Comum .................. ... 345

    29o Domingo do Tempo Comum .................. ... 348

    30o Domingo do Tempo Comum .................. ... 351

    31o Domingo do Tempo Comum e

    Solenidade de Todos os Santos ................. ....... 354

    Celebração dos Mortos.................................... 357

    32o Domingo do Tempo Comum .................. ... 359

    33o Domingo do Tempo Comum .................. ... 362

    34o Domingo do Tempo Comum eSolenidade de Cristo, Rei do Universo ............ 365

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    50 Anos de Formatura dos Alunos

    Fundadores do Colégio Santa Cruz ...................... 537

    Ciência e Fé ......................................................... 542

     A Fé ...................................................................... 544

    Discernimento e Consciência Moral ...................... 548

    Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor ... 419

    2o Domingo da Páscoa ......................................... 422

    3o Domingo da Páscoa ......................................... 424

    4o Domingo da Páscoa ......................................... 427

    5o Domingo da Páscoa ......................................... 430

    6o Domingo do Senhor e Dia das Mães ............... 433

     Ascensão do Senhor ............................................ 436

    Domingo de Pentecostes ..................................... 439

    Solenidade da Santíssima Trindade...................... 442

    Solenidade do Sagrado Coração de Jesus............. 445

    2o Domingo do Tempo Comum .......................... 448

    3o Domingo do Tempo Comum .......................... 451

    4o Domingo do Tempo Comum .......................... 454

    5o  Domingo do Tempo Comum ......................... 457

    6o  Domingo do Tempo Comum ......................... 460

    10o Domingo do Tempo Comum ........................ 463

    11o Domingo do Tempo Comum ........................ 466

    12o Domingo do Tempo Comum ........................ 469

    13o Domingo do Tempo Comum ........................ 472

    14o Domingo do Tempo Comum ........................ 475

    15o Domingo do Tempo Comum ........................ 478

    16o Domingo do Tempo Comum ........................ 481

    17o Domingo do Tempo Comum ........................ 484

    18o Domingo do Tempo Comum ........................ 487

    19o Domingo do Tempo Comum ........................ 490

    20o Domingo do Tempo Comum ........................ 493

    21o Domingo do Tempo Comum ........................ 496

    22o Domingo do Tempo Comum ........................ 499

    23o Domingo do Tempo Comum ........................ 502

    24o Domingo do Tempo Comum ........................ 505

    25o Domingo do Tempo Comum ........................ 508

    26o Domingo do Tempo Comum ........................ 511

    27o Domingo do Tempo Comum ........................ 514

    28o Domingo do Tempo Comum ........................ 517

    29o Domingo do Tempo Comum ........................ 520

    30o

     Domingo do Tempo Comum eSolenidade de Todos os Santos e Santas .............. 523

    32o Domingo do Tempo Comum ........................ 526

    33o Domingo do Tempo Comum ........................ 529

    34o Domingo do Tempo Comum e

    Solenidade de Cristo, Rei do Universo ................ 532

    Anexos Entrega da Bíblia .................................................. 551

    O Deus de Jesus Cristo ........................................ 553

    Reflexão sobre a Catequese no Ano

    Catequético em 26/08/2009 ................................ 557

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    Apresentação 

    Em tempos distantes dos “Sermões do Padre Vieira” em quemultidões de fiéis acorriam para ouvi-lo, esta publicação das

    Homilias do Padre José Amaral de Almeida Prado, da Congre-gação de Santa Cruz, pode parecer a muitos, no mínimo, es-tranha. Publicar homilias é inusitado porque, ao ouvi-las numamissa às vezes elas nos parecem longas e discursivas demais, atémesmo repetitivas.

    No entanto, a oportunidade de organizar e participar da edi-ção das Homilias do Padre José mobilizou, com muito prazer

    e reverência, a Direção geral e os professores do Colégio SantaCruz. Isto se deveu não só ao apreço, à amizade e admiraçãoque todos nutrimos pelo amigo Padre José, que em 14 de no- vembro deste ano completou oitenta anos, mas também peloreconhecimento e percepção de que estamos diante de umaexcelente e importante contribuição pastoral e teológica para

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    a Igreja do Brasil. Essa amizade é construída diariamente peloscontatos que temos com o Padre José: anualmente os profes-

    sores refletem sobre o tema da Campanha da Fraternidade; osprofessores de catequese partilham o estudo das diretrizes dacatequese renovada e os demais professores que integram a Pas-toral com ele dialogam nas frequentes reuniões de integração.Também os alunos de sétima série o acolhem com atenção napalestra de Ciência e Fé. Os de oitava série, nas palestras sobreDeus e sobre a Consciência Moral.

     Admiro nele a simplicidade em que vive, a espiritualidadeque testemunha, a atenção que dá a todos que o procuram, acompaixão pelos que sofrem e a competência com que abor-da com precisão temas religiosos da atualidade. Padre José nãoimpõe,mas propõe e nos mostra um Deus exigente e, ao mesmotempo, Pai misericordioso e cheio de amor que abraça e acolhea todos.

    Padre José escreve à mão suas homilias, embora redija suaspalestras e outros trabalhos em seu computador na Bibliotecado Colégio onde é visto todos os dias. As homilias são escri-tas com esmero, cuidado, profundidade e respeito por quem vai ouvi-las.Todas têm o tamanho de uma folha sulfite frente e verso, “redigidas não como um rigoroso exegeta, mas ao correr

    da pena”, como ele diz, visando sempre à realidade das duas co-munidades onde preside as três missas dominicais: a do ColégioSanta Cruz e a da Vila São Francisco, na zona oeste da cidadede São Paulo.

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    Uma obra em mutirão 

    No dia 16 de julho deste ano de 2010, recebi um bilhete doPadre José, que dizia: “Esses escritos ao lado são homilias doúltimo ano litúrgico B (2008-2009) que alguém se dispôs a di-gitar. Acho que na sua sala estarão a salvo. Espero que no correrda semana que vem alguém virá buscá-los.

    Obrigado.Padre José”

    No final de julho, como as homilias ainda estavam na sala dePastoral, propus a ele que os professores de catequese, ensinoreligioso e das demais áreas digitassem os manuscritos, até en-tão guardados num saquinho de supermercado. Com emoção,ele aceitou a proposta e como a adesão dos professores foi ime-diata, foi organizado o mutirão que, durante agosto e setembro,possibilitou a digitação das 170 homilias dos anos litúrgicos A,

    B e C e a organização em quinze pastas de A a Z de mil e sete-centos manuscritos de homilias diárias e dominicais a partir doano de 2003.

    O projeto teve a participação decisiva dos três membros dadireção geral do Colégio Santa Cruz que, a partir da etapa dadigitação dos textos, ampliaram a proposta e organizaram com

    carinho esta edição que apresenta as homilias escritas nos perí-odos de novembro de 2007 a novembro de 2008 (Ano A); no- vembro de 2008 a novembro de 2009 (Ano B); e de novembrode 2009 a novembro de 2010 (Ano C).

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    Informações sobre os Anos Litúrgicos A, B e C 

     A Igreja, através dos séculos, organizou lentamente o AnoLitúrgico, que, no início, tinha apenas a celebração dominical daPáscoa e, logo em seguida, a instituição de um domingo especialpara a celebração da Páscoa. Foi escolhido o domingo seguinteà primeira lua cheia, no equinócio da primavera (no hemisférionorte), por ser este o ponto de equilíbrio de duração entre o diae a noite e por representar o surgimento da vida nova da natu-

    reza na primavera. A celebração da Páscoa tinha um prolonga-mento de cinquenta dias até Pentecostes, que celebra a vinda doEspírito e o inicio da atividade dos apóstolos.

    Na primeira metade do século IV, foi organizada a Quares-ma e, na segunda metade desse mesmo século, surgiu a festa deNatal, com o objetivo de afastar os fiéis das festas pagãs do “solinvicto” — no solstício do inverno do hemisfério norte — festa

    que celebrava a força e o ressurgimento do sol depois do rigo-roso inverno. No Natal se celebra Jesus Cristo como verdadeirosol e luz que pode iluminar a todos. No século V, foi organizadoo tempo de preparação de quatro semanas chamado Advento eum prolongamento de duas semanas com as festas da Epifaniae do Batismo de Jesus. No século V, a Igreja já tinha um calen-dário litúrgico como conhecemos hoje, com os ciclos de Natal

    e Páscoa e os domingos do Tempo Comum, composto pelasrestantes 33 ou 34 semanas do ano. A cada uma dessas etapas do Ano Litúrgico corresponde

    uma cor: roxo para a Quaresma e Advento, branco para a Pás-coa, vermelho para o Pentecostes e verde para o Tempo Co-mum. A cor branca é utilizada também em algumas grandesfestas e solenidades e a vermelha nas celebrações dos mártires.

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    Prof. Cláudio Antônio RondelloCoordenador da Pastoral do

    Colégio Santa Cruz

    Em relação aos textos bíblicos, o rito litúrgico romano possuium conjunto de leituras que se repetem a cada três anos nos do-

    mingos e solenidades. A cada ano há uma sequência de leituraspróprias divididas em anos A, B e C, que são proclamadas emtodas as igrejas do mundo. Nas liturgias diárias há dois ciclos:um para os anos pares e outro para os anos ímpares. No ano A,são lidos os textos do evangelho de São Mateus; no ano B, os deSão Marcos; e no C, os de São Lucas. Os textos do evangelhode São João são reservados para as grandes festas e solenidades.

    Dessa forma, de três em três anos, os cristãos que participamdas liturgias dominicais leem os quatro evangelhos.

     Para descobrir o Ano litúrgico em que estamos, é só somaros algarismos do ano. O ano em que a soma dos algarismos forum número múltiplo de 3 é Ano litúrgico C. Por exemplo: 2010é Ano litúrgico C, e 2011 será Ano A.

    No entanto, o Ano litúrgico não coincide com o ano civil. O

     Ano litúrgico inicia-se no primeiro Domingo do Advento, cercade quatro semanas antes do Natal, e se encerra com a solenidadede Cristo Rei do Universo, no final do mês de novembro. Nesteano de 2010, o Ano litúrgico C terminou na sexta feira seguinteao dia 21 de novembro; e no sábado, 27 de novembro, iniciou-seo Ano litúrgico A, que vai se estender até novembro de 2011.

    Padre José nos brindou com este presente, as homilias, em

    que ele se revela e propõe Jesus Cristo como caminho, verdadee vida. Que a sua leitura e meditação alimentem nossa espi-ritualidade, nos tornem mais compassivos com todos os sereshumanos e comprometidos com a promoção da vida.

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    Essas Homilias...Essas homilias que hoje são publicadas pela iniciativa da

    Equipe de Catequese do Colégio Santa Cruz têm uma históriarelativamente longa que se iniciou no fim da década de setenta,quando tive a graça de iniciar um trabalho pastoral na Capelade Nossa Senhora de Fátima no bairro de Santa Mônica emPirituba, São Paulo, paróquia Nossa Senhora Auxiliadora. Hoje

    Santa Mônica é uma paróquia.Era o tempo memorável da pastoral popular no Brasil e de

    modo particular em São Paulo. Era o tempo da controvertida,mas muito rica e fecunda Teologia da Libertação, que revita-lizou pastoralmente as grandes periferias das grandes cidadesbrasileiras, inclusive as paulistanas. Estavam em evidência as

    Comunidades de Base e dentro delas os

    Grupos de Rua onde

    se praticavam as novenas de Natal, entre outras, caracterizadaspelo forte conteúdo bíblico. Essa leitura bíblica era inspiradano método criado e difundido em todo o Brasil pelo biblista epastoralista Frei Carlos Mesters, frade carmelita. A ele tantodevemos nesse imenso Brasil. A leitura da Bíblia era comunitá-ria e ela levava em conta não só a letra do texto, mas também o

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    contexto do texto, ao tempo da sua redação, e também o con-texto da sua recepção atual e também o contexto do leitor, aqui

    e agora, de tal modo que o mesmo texto terá sempre a qualquerleitura um sabor muito particular.

     Ao mesmo tempo em que trabalhava em Santa Mônica, fuiconvidado pelas autoridades da Congregação a assumir a funçãode formador em nosso Postulantado em Jaguaré. Tratava-se deum grupo de seis ou sete jovens que desejavam entrar para a vidareligiosa em Santa Cruz. Era um item importante no programa

    a Missa diária, que inclui, evidentemente, a liturgia da Palavrae a homilia. Ao invés de assumi-la pessoalmente, partilhava-acom os postulantes. Essa experiência confirmava a riqueza daleitura comunitária da Bíblia e era um pouco como um mergu-lho nas águas da Palavra, cujo frescor jamais nos abandona.

    Já havia alguns anos que eu celebrava uma vez por mês amissa dominical para a Comunidade de Base do Boaçava, bairropaulistano da zona oeste da cidade de São Paulo. No fim dosanos 80, ninguém registrou o ano exato, um velho amigo, ex- jucista dos anos 50, convida-me para fazer parte de um grupode leitura bíblica. Mais precisamente, queriam fazer uma lei-tura mais aprofundada e comunitária dos evangelhos para, nãosó conhecê-los melhor, mas para melhor vivê-los. Começamos,

    como deve ser, pelo evangelho de Marcos. Líamos uma passa-gem, pela ordem dos capítulos, numa primeira etapa e, depoisde uma breve reflexão pessoal, cada um verbalizava as suas rea-ções e o padre, que já se havia preparado para a discussão, faziaa sua parte. Atravessamos os quatro evangelhos, já estamos ter-minando o evangelho de Mateus, o primeiro evangelho, que, na

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    nossa ordem de leitura em grupo, está sendo o quarto. Posso ga-rantir que essa experiência foi a que mais me familiarizou com

    a Palavra de Deus e mais me ensinou. A substância das homiliasdesta publicação é tributária da experiência no Boaçava.

    O ano 2000 trouxe-me de volta ao Colégio Santa Cruz,onde me cabia celebrar a Missa duas ou três vezes por semana.Como é comum, fazia as homilias sem um texto previamenteredigido. Algumas pessoas gostaram e me pediram para regis-trá-las de alguma maneira por escrito, pois poderiam servir paraalguém no futuro. O mesmo pedido me foi feito na Capela deSão Francisco da Vila São Francisco, hoje mais conhecida comoColinas de São Francisco, nas proximidades de Osasco, SP. Como passar do tempo, passei a redigir todas as homilias, não comoum rigoroso exegeta, mas ao correr da pena, as dominicais e asdiárias. Alguém, com muito carinho, as guardava cuidadosa-

    mente, muito mais do que eu o poderia fazer... Elas estavam ládisponíveis e já se acumulavam; o prof. Cláudio Rondello teve aidéia de colocá-las em pastas. Uma vez devidamente dispostas,surgiu a possibilidade de publicá-las por ocasião dos meus oi-tenta anos... Aceitar ou recusar? Seja o que Deus quiser...

    Pe. José de Almeida Prado, csc

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    Lecionário Dominical Ano A

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    1º Domingo do Advento 

    1. I ntrodução 

    O tempo do Advento marca o início do Ano Litúrgico e

    o Ano Litúrgico é uma parábola da vida cristã, que se iniciacom o nascimento e se prolonga para além da nossa morte, naeternidade. Temos o mesmo destino de Nosso Senhor JesusCristo, que nasceu em Belém de Judá, morreu em Jerusalém,mas, tendo ressuscitado, viverá eternamente na glória ao ladodo Pai. Temos, pois, o Jesus terreno e o Jesus celeste. O tempodo Advento tem uma dimensão terrena e uma dimensão celes-

    te. Nas duas primeiras semanas, contemplamos a sua dimensãoceleste e nas duas últimas, a terrestre. Contemplar a dimensãoterrena do mistério é recordar a primeira vinda do Senhor, oseu nascimento na gruta de Belém, a adoração dos reis magos,o massacre dos inocentes, a fuga ao Egito e o seu retorno aNazaré. Contemplar a dimensão celeste do mistério é celebrarna esperança a vinda gloriosa do Senhor na Parusia ou no final

    dos tempos. A primeira vinda do Senhor, nós a celebramos re-cordando a sua história e embebendo-nos com seu Espírito. Asegunda vinda do senhor, nós a celebramos na fé. Sabendo dafidelidade de Jesus, acreditamos firmemente que Ele não nosabandonará nunca, nem depois da nossa história terrena, nemdepois do fim da História.

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    2. L ivro do Profeta Isaías 2, 1-5 

    O profeta Isaías representa um dos pontos altos da revela-ção que Deus faz de si mesmo ao longo da Bíblia. Com Abraão,Deus, ao recusar o sacrifício de Isaac, revela-se como o Deusda vida e não o Deus da morte, como os ídolos pagãos, que exi-giam para si sacrifícios humanos. Com Moisés, Javé surge comoo maior de todos os deuses que vem em socorro dos homens erestaura a justiça ao libertar os hebreus da escravidão do Egito.

    Com Isaías, se dá a grande revolução teológica. Deus não é ape-nas o maior de todos os deuses, mas é o único Deus verdadeiroe não há outro: “ Acontecerá nos últimos tempos, que o monte dacasa do Senhor estará firmemente estabelecido no ponto maisalto das montanhas e dominará as colinas. A ele acorrerão to-das as nações, para lá irão numerosos povos”.

    3. Carta de São Paulo aos Romanos 13, 11-14a Paulo faz hoje uma exortação aos cristãos das comunidades

    de Roma para que vivam segundo os preceitos evangélicos, por-que a qualquer momento poderiam ser surpreendidos pelo fim, já que a expectativa era de que o retorno do Senhor seria parabreve: a noite já vai avançada e o dia vai chegando! A experiên-

    cia de Paulo vale para todos nós hoje, ainda que não esperemospara breve o fim da História, mas sobre o fim da nossa históriapessoal não temos nenhum controle. A nossa morte é certa, asua hora, porém, incerta. Tanto o Antigo como o Novo Testa-mento nos convidam à vigilância e o Advento, que é um tempode expectativa, é um tempo propício para a nossa conversão,

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    que significa mudança de vida: “procedamos honestamentecomo em pleno dia”.

    4. Evangelho de Jesus Cristo

    segundo Mateus 24, 37-44 

    Como os profetas de Israel e de modo particular comoJoão Batista, Jesus também pregava a necessidade de estarmospreparados para a incerteza do futuro. Que não fôssemos sur-

    preendidos como as vítimas do dilúvio! Lucas, ao redigir esteevangelho, estava traumatizado pela destruição de Jerusaléme do Templo onde não ficou pedra sobre pedra. Tal destruiçãopareceu a Isaías como uma parábola do fim do mundo. Umaboa ocasião para chamar a atenção de todos para não serem sur-preendidos na irresponsabilidade. Porque na hora em que menos

     pensais o Filho do Homem virá!

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    2º Domingo do Advento 1. I ntrodução 

    O messianismo é um tema importantíssimo no AT e tam-bém na liturgia do Advento; como se sabe, o termo messianis-mo prende-se à palavra Messias, ou ungido, em hebraico, que,por sua vez, se traduz em grego, por . Após os reinosgloriosos de Davi e Salomão, o Reino de Israel, tanto o do Nor-

    te quanto o do Sul, entraram em rápida decadência: foram in- vadidos, expulsos e as antigas tribos foram dispersas, excetoas poucas tribos de Judá. Apesar das sucessivas derrotas, umpequeno grupo de servos de Javé guardava a esperança de que,um dia, Javé enviaria do alto o seu Messias, o seu ungido. Estaesperança jamais se perderia, até hoje os judeus tradicionalistasa conservam. Os discípulos de Jesus viram no próprio Jesus o

    Messias prometido. A liturgia do Advento, do Tempo que está para chegar , aproveita esse tempo preparatório para o Natal deJesus para, em quatro semanas, reviver a história sagrada desdeos seus inícios até o nascimento de Jesus.

    2. L ivro do Profeta Isaías 11, 1-10 

    Isaías, um homem do VIII século antes de Cristo, foi talvez

    o maior profeta, aquele que foi escolhido, desde o ventre da suamãe, para falar em nome de Javé e anunciar em plena escuridãoo broto de Jessé, o Espírito do Senhor. Isaías profetizou de ma-neira tão clara a respeito do enviado de Javé: “ Ele não julgará

     pelas aparências que vê nem decidirá somente por ouvir dizer,mas mostrará justiça para os humildes e uma ordem justa parahomens pacíficos”. Os contemporâneos de Jesus, ao ouvirem a

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    sua pregação, logo perceberam que Ele era aquele que tinha

    sido profetizado pelo profeta Isaías. Jesus veio para renovar omundo e trazer a alegria para os homens. Em que pesem asdificuldades da vida e os limites terrenos da existência, jamaisperderemos a proteção do Pai.

    3. Carta de São Paulo aos Romanos 15, 4-9 

    São Paulo, ao mesmo tempo judeu e apóstolo dos gentios,

    leva hoje aos cristãos de Roma, judeus ou gentios, uma mensa-gem ecumênica sem nenhuma restrição. Assim como Paulo soubesuperar as graves restrições que fazia ao mundo pagão, tambémnós devemos abrir os nossos corações para encontrarmos no amortodos os nossos irmãos, ainda que sejam diferentes de nós.

    4. Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 3, 1-12 

    João Batista é uma das figuras mais importantes do Adven-to. João Batista era portador de uma figura austera sem meiasmedidas. João Batista, como não era incomum no seu tempo,aguardava para breve o fim do mundo. Era um pregador popu-lar e mantinha fiel a si um grupo de discípulos. Sabemos pelasnarrativas dos evangelhos que João e Jesus se conheceram emesmo conviveram por um tempo no mesmo grupo. Do tem-

    peramento de João, podemos guardar a sua radicalidade. Denada serve adiar a solução dos nossos problemas, das nossas pe-quenas ou grandes fraquezas. O Advento também é um tempode conversão. A espiritualidade do Natal nos coloca num pata-mar tão alto que vale a pena esforçar-nos para por a nossa vidaem dia. Às vezes o chamado “espírito natalino” nos parece tãomercadológico que vale a pena lembrar-nos de João Batista!

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    séculos. Paralelamente às dificuldades que acompanham a vida

    de todos os povos, as gerações fiéis continuavam alimentando aesperança da grande volta por cima. “O coxo haveria de saltarcomo o cervo e se desataria a língua do mudo”. Assim tambémem breve se desatará a língua de Jesus Infante!

    3. Carta de São Tiago 5, 7-10 

    Conforme acontecia com as comunidades primitivas, dentro

    delas esperava-se para breve o retorno do Senhor e isso causavaapreensão devido à incerteza que gerava entre os fiéis. Tiago ten-tava, ao mesmo tempo, mantê-los vigilantes e tranquilos, comofaziam os antigos profetas. Os conselhos de Tiago têm algum valor ainda para nós? Poderão ser-nos úteis na medida em quenos colocam diante da vida, dando-lhe a devida importância.Nesta quadra do Advento, por exemplo, tomar consciência deque o nascimento de Jesus é o acontecimento mais revolucioná-rio de toda a História da humanidade, nada maior já aconteceue jamais acontecerá. Tudo o que nos possa acontecer assume oseu significado a partir do nascimento de Jesus.

    4. Evangelho de Jesus Cristo

    segundo Mateus 11, 2-11 Por que teria João Batista enviado alguns discípulos seus

    para interrogar Jesus sobre o seu ministério? Estaria duvidandode Jesus, ele que o apresentara como Cordeiro de Deus que ti-rava o pecado do mundo? Talvez João Batista estranhasse o pou-co impacto político do ministério de Jesus, nenhuma mudança

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    substancial se via no horizonte! Deveriam esperar por um outroMessias? Em resposta a João, Jesus cita a profecia de Isaías: “os

    cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos sãocurados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres sãoevangelizados.” Jesus não veio para ser servido, Jesus veio paraservir. O reino de Jesus não é um reino de poder, mas um reinode Amor. É essa a grande novidade do Evangelho. A primeiralição será o nascimento de Jesus na gruta de Belém.

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    4º Domingo do Advento 

    1. I ntrodução 

    O tempo do Advento, a quadra de preparação para o Natal,está chegando ao seu termo e é mais do que hora de dar-nosconta de que está chegando a hora de lembrar o nascimento deJesus, o Filho de Deus e de Maria; não se trata apenas de uma

    grande data e de um grande acontecimento, trata-se do eventomaior da História da humanidade, viveremos dentro de doisdias a memória da entrada do Filho de Deus na História dahumanidade. Podemos dizer com razão que todo o universo foicriado, toda a vida nele se desenvolveu para que um dia na grutade Belém nascesse Jesus Rei do Universo e Salvador de todosos homens. Ainda que o mundo se enfeite todo para celebrar oNatal e deixe soar toda a música do Universo, não celebraremosnunca à altura o Natal do Senhor: Glória aos céus nas alturas e

     paz na terra aos homens de boa vontade!

    2. L ivro do Profeta Isaías 7, 10-14 

    No texto de hoje, Isaías dirige-se em nome de Javé, a

     Acaz, rei de Judá, da descendência de Davi, para dar-lheesperança quando se achava ameaçado pelo rei de Damasco. Apesar da sua inferioridade militar, a sua dinastia não ha- veria de tombar por terra. Isaías prevê que uma virgem, nocaso uma mulher jovem, conhecerá e dará à luz um filho e lhedará o nome de Emanuel. Não seria, pois, o fim de Judá; a di-

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    nastia davídica haveria de continuar. Com o passar do tempo,os discípulos de Jesus releram a história do nascimento de

    Emanuel, descendente de Acaz, filho de uma mulher jovem,e viram nele uma antecipação, uma profecia sobre Maria e onascimento de Jesus. Mateus, o primeiro evangelista, evocaráa cena ao dizer sobre Maria e Jesus: “Eis que a virgem ficará

     grávida e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel que significa Deus conosco”.

    3. Carta de São Paulo aos Romanos 1, 1-7 

    Esses poucos versículos da segunda leitura de hoje foram ti-rados da primeira carta de Paulo aos romanos. Paulo apresenta-se aos cristãos de Roma, a capital de todo o império romano,como apóstolo de Jesus Cristo,  segundo a carne, descendentede Davi, mas segundo o Espírito, constituído Filho de Deus com

     poder, desde a ressurreição dos mortos. Nestes tempos de Natal,quando meditamos o mistério da Encarnação do Senhor, nãodevemos esquecer a dupla natureza de Jesus, a humana, comofilho de Maria, e a divina, como filho de Deus. Não poderemos jamais entender esse mistério, mas podemos, com a graça deDeus, vivê-lo na fé que nos faz experimentar, pelo menos umpouco, a infinitude do amor de Deus por nós.

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    4. Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 1,

    18-24  Antes que termine o Advento, a liturgia nos traz à medita-

    ção a figura, ao mesmo tempo grandiosa e modesta de São José.Submetido a uma dura prova de confiança diante da gravidezde Maria, José, não querendo denunciá-la publicamente, pen-sou em despedi-la secretamente, como se não ousasse julgá-la.Na verdade, José não a julgou, mas suspendeu seu julgamento,

    em outras palavras, entregou-a nas mãos de Deus. E com issoJosé nos dá uma grande lição de vida. Com que direito nos eri-gimos como juízes dos nossos irmãos? Oxalá pudéssemos imi-tar a José em nossa vida, na família, no trabalho e na sociedade. Aquela paz que tanto desejamos no Natal estaria, com certeza,muito mais perto de nós. Quando acordou, José fez como o anjotinha mandado e acolheu a sua esposa.

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    Natal do Senhor 

    Noite 

    1. I ntrodução: Ver introdução da noite 

    2. L ivro do Profeta Isaías 9, 1-6 Esta primeira leitura tirada do profeta Isaías é uma das pro-

    fecias messiânicas mais evidentes. Isaías, quando proferiu esseoráculo, pensava para um futuro próximo a vinda de um Mes-sias, ou seja, um rei para restaurar, não só a Dinastia de Davi,mas a Glória do Reino de Judá e Israel, cujas tribos tinham sido

    dispersas. Isso jamais aconteceu, mas os seguidores de Jesus ecom eles a Igreja de todos os séculos viram em Jesus o Messiasprometido. Não se tratava de um rei guerreiro, nem poderoso“porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; eletraz aos ombros a marca da realeza; o nome que lhe foi dado é:conselheiro admirável, Deus forte, pai dos tempos futuros, prín-cipe da Paz.

    3. Carta de São Paulo a Tito 2, 11-14 

     A alegria do Natal é uma graça transformadora. Não passa-mos por ela sem que os nossos corações mudem de orientação,ou seja, convertam-se. Diz Paulo ao seu discípulo Tito: “ Elanos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas

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    e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade.”  Abretambém os nossos olhos para novos horizontes, lembra-nos que

    o horizonte visual é apenas uma ilusão, para além dele estende-se ainda uma paisagem ilimitada que podemos enxergar comos olhos da fé. Tudo isso nos revelou Jesus e começou a fazê-lodesde os primeiros instantes da sua vida, através dos seus va-gidos na gruta de Belém. Eram sons inarticulados, mas cheiosde significado porque provinham dos lábios de um Deus que sefazia o irmão menor de todos nós, homens e mulheres de todas

    as gerações.

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    Natal do Senhor Missa do dia 

    1. I ntrodução: Noite e manhã

    Estamos celebrando, nesta vigília de Natal, a grande festado nascimento de Jesus. No nosso mundo de hoje, o Natal

    apresenta uma dupla dimensão, ambas importantes, mas de valor desigual. A mais evidente é o lado mundano, festivo, mastambém social, já que as pessoas se sentem prontas para ajudaros pobres, principalmente as crianças. A nossa comunidadesente-se fortemente engajada nessa campanha. Há também adimensão de fé que também devemos cultivar nestes dias fes-

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    tivos. Estamos celebrando, nesta data, a encarnação de Jesus,filho de Deus e de Maria. Nesta data, há um pouco mais de

    2000 anos, cumpriu-se o desígnio de Deus, alimentado desdetoda a eternidade. Podemos pensar que Deus criou o céu e aterra, o homem e a mulher e tudo o que nela existe para quepudessem viver a experiência humana em Jesus Cristo e as-sim partilhar com todos os humanos o seu infinito amor. Dagruta de Belém, nos vem a luz que ilumina toda a História dosHomens, filhos amados de Deus, e por isso podemos clamar:

    “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Eleamados.”

    2. Livro do Profeta Isaías 52, 7-10 (manhã) 

    O profeta Isaías, o profeta messiânico por excelência, con-clama Jerusalém em ruínas, para alegrar-se no Senhor. A tem-

    porada de humilhação um dia haveria de chegar a seu termo:“Alegrai-vos e exultai ao mesmo tempo, ó ruínas de Jerusalém,o Senhor consolou o seu povo e resgatou Jerusalém.” Jesus foireconhecido pelos seus discípulos e por toda a tradição da Igre- ja como o mensageiro cujos pés anunciaram a paz, o bem e asalvação. Esse mesmo Jesus que anunciou a paz durante o seuministério terreno continua a anunciá-la a cada geração. Esta é

    a nossa fé que nós proclamamos com especial ênfase nesta noitede Natal. Estas palavras que empolgaram os contemporâneosde Isaías e também o fizeram aos discípulos de Jesus, suscitamem nós, hoje, as mesmas esperanças.

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    3. Carta de São Paulo aos Hebreus 1, 1-6 (manhã) 

    O autor desta carta que estamos a ler hoje tenta mostrar aosseus destinatários, cristãos vindos do judaísmo e conhecedoresda mensagem do profeta Isaías, tenta mostrar-lhes que era, na verdade, o Messias que o profeta anunciava que haveria de vir: “Ele é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele

     sustenta o universo com o poder da sua palavra.” No dia em queconseguirmos conciliar a grandeza do Messias, tal como descri-

    ta pelo autor da Carta aos Hebreus e a pequenez do MeninoJesus na gruta de Belém, estaremos a compreender um poucoda graça, da beleza e do mistério insondável do Natal.

    4. Evangelho de Jesus Cristo

    segundo Lucas 2, 1-14 (noite e manhã) 

     A descrição mais bela do nascimento de Jesus, nós a encon-tramos em Lucas. É ele que nos fala da viagem de José e Mariapara se recensearem em Belém, é ele que nos fala da gruta deBelém e do nascimento de Jesus e do seu repouso entre faixasna manjedoura. Conta-nos como os anjos convocaram os pasto-res e como foi o cântico dos anjos. Essas imagens que deliciarama nossa imaginação e alimentaram a nossa fé num Deus de rosto

    humano devem continuar a alimentar as nossas mentes e osnossos corações e principalmente os nossos filhos e filhas. Elesnão podem ser privados desse tesouro.

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    Missa da Sagrada Família 

    de Jesus, Maria e José 

    1. I ntrodução 

    Iniciaremos hoje a nossa reflexão, meditando sobre a Sa-grada Familia: Jesus, Maria e José, como reflexo da SantíssimaTrindade, Pai, Filho e Espírito Santo e, em segundo lugar, me-ditaremos sobre a nossa família, pai, mãe e filhos, como reflexoda Sagrada Família. José, com o seu semblante sereno, comocondutor da sua família nos momentos mais difíceis, a viagem aJerusalém para o recenseamento, a assistência a Maria na gruta

    de Belém, a defesa do menino Jesus perante os seus perseguido-res, a fuga para o Egito e o retorno a Nazaré, a sua criatividadecomo artesão, refletem a imagem da primeira pessoa da Santís-sima Trindade, o Pai, criador do céu e da terra que em Jesus ex-pressou o seu rosto humano. Maria, cheia de graça e sabedoria,é um reflexo suave do Espírito Santo, que nos transmite coma sua luz e calor a ternura do Pai. Jesus não é apenas o reflexo

    do Filho, mas é o próprio Filho Encarnado, caminho, verdadee vida, o pão descido do céu, luz da luz e salvação nossa. Poroutro lado, ao olhar para as nossas famílias, nós vemos que, em-bora sem termo de comparação, elas podem com humildaderefletir em seus lares as imagens de Jesus, Maria e José. Asnossas famílias vivem hoje uma grande crise e não poderia ser

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    diferente diante do ritmo vertiginoso em que tenta viver a nossasociedade de hoje. O pai de hoje em nossos lares deve mirar-se

    no exemplo de José. Ele era o chefe da Sagrada Família, masexercia a sua função de chefe como um humilde servidor. Masa sua humildade em nada diminuía a sua criatividade e a suaautoridade, ao contrário, as tornava mais eficazes.

     A esposa e mãe, que é a rainha do lar, é a Maria das nos-sas famílias, aquela que evidencia moral e espiritualmente apresença de Deus em nossos lares. Como Maria trouxe para o

    lar de José a figura do seu filho Jesus, a mãe de família devetornar Jesus de alguma maneira presente em nossos lares.

    2. L ivro do Eclesiástico 3, 3-7.14-17a 

    Embora esta primeira leitura tenha sido escrita há bem maisde 2000 anos, pois ela recolhe a sabedoria de vários milênios,

    ela parece dirigida às famílias de hoje. Ela pede aos filhos quehonrem os seus pais e lhes promete com isso uma vida longa.Não é verdade que hoje vivemos em nossos lares uma crise deautoridade? Não é verdade que caducou o autoritarismo e que a verdadeira autoridade deve ser restabelecida? Não vem a calharo versículo 14? “Meu filho, ampara o seu pai na velhice e nãolhes cause desgosto enquanto ele vive.”

    3. Carta de São Paulo aos Colossenses 3, 12-21 

    Contento-me também com apenas um versículo desta cartade Paulo aos colossenses: “Como o senhor nos perdoou, assim

     perdoai-vos também.” Não existe viabilidade nenhuma para ne-nhuma família se não houver perdão dentro dela. Como todos

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    somos pecadores, não existe possibilidade de convivência se nãohouver entre nós capacidade de perdoar-nos uns aos outros.

    4. Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus

    2, 13-15.19-23 

    “José levantou-se de noite, pegou o menino e a sua mãe e partiu para o Egito.” Após algum tempo, de novo o Anjo acordaJosé: “levanta-te, pega o menino e sua mãe e volta para a terra de

    Israel.” José, homem simples, modesto carpinteiro, não era umpai para si, mas exclusivamente para sua esposa e seu filho.

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    Santa Mãe de Deus, Maria 1. Introdução 

     A devoção a Maria iniciou-se logo após a ressurreição doSenhor e, como prova desse fato, temos em Mateus e Lucas osevangelhos da infância de Jesus. Não muito mais tarde, iniciou-se o culto a Maria. Entre os vários títulos que se atribuíam aMaria, surgiu com força o de Maria, Mãe de Deus, mas foi logoobjeto de discussão: seria razoável atribuir-se a Maria o título

    de Mãe de Deus? Como poderia ser Ela chamada de Mãe deDeus, o criador do céu e da terra e de tudo o que nela existe,inclusive dela mesma? Já no século V, o Concílio de Éfeso con-sagra o direito de Maria a ser invocada como Mãe de Deus. SeMaria é Mãe de Jesus, Deus e Homem, mas uma só pessoa,um só eu, e se ela pode ser chamada de Mãe de Jesus Homempoderá também ser chamada Mãe de Jesus, Deus. Essa devoção

    foi transformada em festa litúrgica de preceito como a celebra-mos hoje nesta vigília do Ano Bom. O dia 1o de janeiro, com asua vigília, também é festivo no Calendário Civil que tem tam-bém uma conotação religiosa para os homens e mulheres de fé. Aproveitamos esta missa para desejar-nos a todos um Feliz AnoNovo perante Deus e perante os homens.

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    2. L ivro dos Números 6,22-27 

     As palavras que Abraão sugere a Aarão, quando abençoasseo seu povo, merecem ser lidas com atenção. Abraão diz a Aarão,que era sacerdote, diga que Deus te abençõe e não eu, Aarão, teabençoo. Isso quer dizer que é Deus que abençoa e não o sacer-dote. O padre é apenas um intermediário que lembra aos fiéisque Deus está sempre a abençoar-nos, mesmo quando não noslembramos de pedir-Lhe que nos abençoe. E o que é a benção,

    senão um olhar carinhoso e eficaz de Deus sobre nós e sobre anossa vida? Se nós nos esmeramos em recebê-la com devoção,ela nos converte e, convertendo-nos, nos transforma.

    3. Carta de São Paulo aos Gálatas 4, 4-7 

    É na carta aos Gálatas que Paulo faz, nos seus escritos, aúnica referência a Maria. Ele o faz, na condição de mãe de Je-sus, Filho de Deus. Como irmãos de Jesus, passamos tambémà condição de filhos de Deus. Já não somos mais servos, mas fi-lhos. É por isso que o Espírito suscita em nossos corações o doceclamor. Abba: Pai. Deus já não é mais visto como um princípiode força, mas como um Pai carinhoso, inclinando à misericórdiae ao perdão. É nesse contexto que nos acompanha a presença de

    Maria, Mãe de Deus.

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    4. Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 2,

    16-21  A festa da Mãe de Deus, antes de ser a festa do dia 1o de

     janeiro, é a festa da oitava do Natal. Entre os judeus, o oitavodia do nascimento era o dia em que os filhos homens eram cir-cuncidados conforme exigia a Lei. A circuncisão, mais do queuma pequena cirurgia, como diríamos hoje, era uma cerimôniareligiosa de consagração a Javé, pela qual o recém-nascido se

    tornava membro do povo eleito. É como o batismo, uma espéciede segundo nascimento. E nesse dia recebia-se o nome que emIsrael era sempre uma referência religiosa a orientar toda a vida.É assim que o filho de Maria e José recebeu o nome de Jesus,isto é, Salvador que, como diz o anjo a José: “ Maria dará à luzum filho, a quem tu chamarás Jesus, porque ele salvará o seu

     povo de seus pecados”.

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    Epifania do Senhor 

    1. I ntrodução 

    Epifania do Senhor, ou seja, Manifestação do Senhor, é onome litúrgico oficial do que popularmente se chama o Dia deReis. Na verdade, os que chamamos de Reis nas línguas latinassão chamados de magos nos evangelhos, ou seja, são sábios as-

    trólogos que vieram do Oriente para adorar o Senhor, alertadosque foram pelo brilho de uma estrela que lhes serviu de guia. Atradição popular confundiu esses magos com os reis de todas aspartes que Isaías, no seu oráculo que veremos na primeira leitu-ra da Litúrgia de hoje, anteviu que acorreriam a Jerusalém para,ao clarão de uma grande luz, adorar Javé, o verdadeiro Deus,não só de Israel, mas de todos os povos, mesmo o das ilhas maisdistantes. O essencial do significado teológico da festa de hojeé que Jesus, filho de Deus e de Maria, veio para salvar não ape-nas o povo de Israel, mas todos os povos do mundo, de todas asraças, religiões e culturas e de todas as gerações até o fim dostempos.

    2. L ivro do Profeta Isaías 60, 1-6 Este trecho do 2o Isaías é um dos textos mais importantes

    do AT no que se refere à autorrevelação de Deus aos homens eà consequente experiência de Deus por parte dos que nele acre-ditam. Pode ser colocado ao lado da passagem do não sacrifíciode Isaac, filho de Abraão, em que Deus se revela como o Deus

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    da vida que rejeita sacrifícios humanos; pode ser colocado aolado do episódio da sarça ardente, em que Deus se revela como

     Aquele que ouve o clamor dos pobres e desvalidos e não comoDeus dos poderosos. Neste trecho do 2° Isaías, Deus se revelacomo o Deus de todos os povos e nações e não só de Israel, opovo eleito. Essa mudança na compreensão não é apenas quan-titativa, mas qualitativa. Por mais distinta que seja a sorte doindivíduo humano, a sua cultura, a sua cor ou a sua fortuna, eleé igualmente amado por Deus. Quando alguém incorpora essaconvicção interior, ele já não será mais o mesmo em relação aoseu próximo e em relação a si mesmo.

    3. Carta de São Paulo aos Efésios 3, 2-3.5-6 

    Embora Paulo, com certeza, tivesse lido o capítulo 60 do 2o Isaias, ele não se deu conta de que Javé era o Deus de todos e

    não apenas de Israel. O fariseu Paulo, da estrita observância, an-tes da sua conversão, era um judeu estreito, incapaz de igualar-se a um gentio ou pagão. O que já tinha sido revelado a Isaíasnão fora compreendido por ele; era para ele um mistério que eleagora, convertido ao Deus revelado em e por Jesus, compreen-dera. Agora Paulo ardia de vontade de revelar aos gentios essemistério: esse mistério... acaba de ser revelado agora pelo Espí-

    rito: os pagãos são co-herdeiros conosco (que somos judeus), sãomembros do mesmo corpo e participantes à em mesma promessaJesus Cristo, por meio do evangelho.

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    4. Evangelho de Jesus Cristo

    segundo Mateus 2, 1-12Os pormenores da narrativa de Mateus a respeito da visi-

    tação dos magos a Jesus não são necessariamente históricos.Trata-se de uma alegoria que aponta para uma verdade histó-rica inegável. A verdade histórica de fundo é que o povo deIsrael na sua maioria rejeitou o Messias – vejam a atitude dossumos sacerdotes e fariseus, todos legítimos representantes do

    seu povo, e vejam por outro lado os pagãos representados pelosreis magos. Segundo a tradição, Melquior, Gaspar e Baltasaracolheram Jesus, como homem, oferecendo-lhe mirra, e comoDeus, oferecendo-lhe incenso, e correram risco de vida pela visita que fizeram a Jesus. Mas, caros irmãos, à maneira dosreis magos que abriram generosamente os seus cofres, abramosos nossos corações para adorar a Jesus que se manifesta a nósnesta Epifania ao lado de todos os nossos irmãos sem nenhumaexceção.

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    Batismo do Senhor 

    1. I ntrodução 

    É de alto significado teológico a liturgia do Batismo do Se-nhor, como se pode verificar pela riqueza das leituras de hoje.No Ano Litúrgico, o domingo de hoje encerra o tempo do Natale se inicia a 1ª parte do Tempo Comum que só se interromperá

    com a Quaresma. Num certo momento da sua vida, Jesus to-mou a decisão de deixar Nazaré, na Galileia, para fazer-se discí-pulo de João Batista, no deserto da Judeia, em quem ele via umemissário de Javé, um precursor do anúncio do Reino de Deus.João pregava o arrependimento dos pecados e a conversão atra- vés da prática da justiça. Não bastavam a prática cultual e opagamento dos impostos do Templo, importava sim a prática da justiça que vale muito mais do que a pertença ao povo de Deus,pois até das pedras Deus poderia suscitar filhos de Abraão.

    2. Livro do Profeta I saías 42, 1-4.6-7 

    O servo do Senhor, também identificado como Servo Sofre-dor, é uma das figuras mais reveladoras do A.T. Não há como

    não ver nele uma antecipação de Jesus de Nazaré. Uns exegetas veem nele uma personificação do 1o Isaías ou de Jeremias, oumesmo de todo o povo de Israel que, apesar de todas as suasinfidelidades, conservou a chama messiânica da salvação. Dequalquer maneira, numa visão retrospectiva, não há como não ver no Servo Sofredor uma prefiguração de Jesus de Nazaré.

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    Basta reler atentamente alguns versículos para identificá-loscom Jesus de Nazaré! “Ele não chama nem levanta a voz – não

    quebra uma cama rachada nem apaga um pavio que ainda fu-mega; mas promoverá o julgamento para obter a verdade. Eu,o Senhor, o chamei para a justiça e te tomei pela mão e... teconstituí para ser luz das nações e para abrir os olhos dos cegose para tirar os cativos da prisão...”

    3. Atos dos Apóstolos 10, 34-38 

     A certa altura do seu ministério, após a ressurreição do Se-nhor, o apóstolo Pedro, líder maior dos seguidores de Jesus,foi convidado a visitar a casa do pagão Cornélio, mas seguidorde Jesus, e com ele tomar refeição. Pedro aceita o convite eaproveita-se dessa oportunidade para quebrar um tabu segundoo qual “era proibido a qualquer judeu juntar-se a pessoas de

    outras raças ou visitá-las”. Esse tabu, não há como disfarçá-locom outro nome, Pedro quebrou. Como Jesus, que frequentavae comia com pecadores, os seguidores de Jesus dali para frentedeveriam agir da mesma maneira: De fato, diz Pedro: “estoucompreendendo que Deus não faz distinção de pessoas. Pelocontrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquerque seja a nação a que pertença”.

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    4. Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 3,

    13-17  Vindo de Nazaré até o deserto da Judeia para unir-se ao Ba-

    tista, Jesus o faz guiado pelo Espírito. Ele se inseria na linhagemdos profetas para se revelar como o Profeta definitivo; atravésde sua boca, todas as verdades e toda a verdade. Resta-nos ouvi-lo: Então o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus descendocomo pomba e vindo pousar sobre ele. E do céu veio uma voz

    que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus meu agra-do”. A partir de amanhã, inicia-se o Tempo Comum do Ano B,em que se privilegia a leitura do Evangelho de Marcos, o pri-meiro a ser redigido nos anos 70 depois de Cristo e que serviude base para Mateus e Lucas. Marcos, sem negar a divindadede Jesus, ao contrário sublinhando-a desde o início, nos tornafamiliar o rosto humano de Jesus, Filho de Deus.

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    1º Domingo da Quaresma 

    1. I ntrodução 

    O Ano Litúrgico em cada uma das suas fases, de algumamaneira, reflete as modulações do psiquismo humano. Assim,o Advento reflete os momentos da Esperança; a Páscoa, de jú-bilo; o Natal, de alegria e a Quaresma, que estamos iniciando

    neste domingo, os momentos de retomada em que tentamosreconstruir o que foi destruído, recomeçar o que foi abando-nado. O homem e a mulher são limitados moral, espiritual efisicamente, por isso mesmo, de quando em quando, têm queparar um pouco e... recomeçar. Todos nós somos gananciosos,precisamos limitar a nossa ganância; todos nós nos deixamosseduzir pelo prazer, precisamos coibir essa sede; todos nós que-remos o poder, precisamos aprender a servir. A Quaresma nossugere o antídoto para esses males. Para corrigir essa ganância, aQuaresma nos sugere a esmola; para corrigir a sede de prazeres,sugere-nos o jejum; para corrigir o apetite pelo poder, sugere-nos a oração.

    2. Livro do Gênesis 2, 7-9; 3,1-7 O mito da queda de nossos pais, na sua aparente ingenuida-

    de, é extremamente revelador da natureza humana de um ladoe também da natureza divina de outro. Deus criador, generosoe permissivo no bom sentido da palavra, deu ao homem e àmulher plena liberdade de escolha para construírem as suas vi-

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    das. O homem e a mulher aparecem de corpo inteiro e nós nosreconhecemos neles. Em primeiro lugar, notamos neles o que os

    gregos chamam de hybris, o desejo de ir muito além dos seuslimites, ou seja, o desejo de ser como Deus, o desejo de vivernum mundo sem barreiras; notamos a labilidade do homem,que é muito nossa, de não resistir à beleza do fruto proibido;notamos mais do que tudo a nossa incapacidade, demasiada-mente humana, para assumir a nossa responsabilidade peranteos nossos atos.

    3. Carta aos Romanos 5, 12-19 

    Enquanto na primeira leitura temos em Adão a criação dohomem, em Cristo, o verdadeiro Adão, temos a recriação defi-nitiva do homem novo. O homem, criado livre desde o início,teve um largo tempo para aprender a ser homem e mulher e

    educar a sua liberdade. O Antigo Testamento nos mostra comose deu essa educação, como diz São Paulo, para a verdadeiraliberdade com que Cristo nos libertou “ Como, pela obediênciade um só homem, a humanidade toda foi estabelecida numa si-tuação de pecado, assim também pela obediência de um só, todaa humanidade passou para uma situação de justiça”.

    4. Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 4, 1-11 Mais do que uma narrativa realista de fatos históricos, as ten-

    tações de Jesus pelo diabo no deserto são uma dramatizaçãosimbólica que antecipa as tentações sofridas por Jesus duranteos anos de seu ministério, tentações sofridas diretamente, nãoexercidas pelo diabo, mas pelos sumos sacerdotes, doutores da

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    lei, fariseus, quando não pelos seus próprios discípulos. Nós noslembramos da cena em que Pedro tentou dissuadir Jesus de subir

    a Jerusalém para evitar a sua morte na cruz. Jesus, diante da ati-tude de Pedro, voltou-se contra ele e disse: “Vade retro satanás,vai-te embora satanás”.  A tentação do pão lembra o episódioem que a multidão queria fazer Jesus Rei para que ele pudesseindefinidamente multiplicar pães, mas para Jesus nem só de pãovive o homem. Ao longo de todo o seu ministério, Jesus teve deafirmar-se não como um Messias, rei poderoso, mas como um

    rei, sim, diferente, que veio para servir e não ser servido.

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    2º Domingo da Quaresma1. I ntrodução 

     A liturgia de hoje, através das leituras, a vocação de Abraão,a vocação de Timóteo e a Transfiguração do Senhor, mostra-nos que, como cristãos seguidores de Jesus, temos também umpapel ativo dentro do plano de Deus para a instauração do seuReino neste mundo. O nosso batismo não é uma senha que nospermite frequentar um clube de privilegiados, mas é uma voca-ção, um chamado para construir o Reino, ao nosso lado, em nos-sa área de atuação. O nosso próximo não é senão o irmão queestá do nosso lado e que podemos ajudar. Podemos também serchamados para abrir uma nova frente. Por isso, temos que estar

    atentos para ouvir o chamado de Deus. Isso é importante paratodos nós, mas de modo particular para os mais jovens que têmainda um longo futuro à vista. O evangelho de hoje mostra-nosque a transfiguração é possível. A transfiguração era a garantiade que o rosto desfigurado do Cristo poderia transfigurar-se. Alimenta também a esperança de que o mundo desfigurado doshomens pode transfigurar-se no Reino de Deus.

    2. Livro do Gênesis 12, 1-4a 

    O chamado de Deus a Abraão para que saísse da sua terra,a cidade de Ur, na Caldeia, para fundar uma nova e numerosa

    nação, mostra como o que parecia apenas uma aventura pes-

    soal revelou-se como um gesto que revolucionou a História e

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    a revoluciona até hoje. Hoje, mulçumanos, judeus e cristãos

    são bilhões de homens e mulheres, todos filhos e filhas de

     Abraão. Javé cumpriu o que prometera: “ Farei de ti um grande povo”. É importante que hoje mulçumanos, judeus e cristãos,em que pesem as nossas diferenças, façamos valer a herança

    que temos em comum. Abraão deixou a sua cidade de Ur,

    marcada pela injustiça, para fundar uma nova nação, ungida

    pela justiça e pela paz. Que seja também esse o sonho dos

    filhos de Abraão, inclusive o nosso.

    3. Segunda Carta de São Paulo a Timóteo 1, 8b-10 

    Paulo e o seu discípulo Timóteo foram dignos filhos de Abraão. Como Abraão, responderam afirmativamente ao cha-mado de Deus, para fundarem uma nova nação, ambos interpe-lados por Jesus ressuscitado, Paulo diretamente e Timóteo pela

    mediação de Paulo. Ambos tiveram de romper com um passadopara construir um futuro novo. Isso está implícito no que Paulodiz a Timóteo: “caríssimo, sofre comigo pelo evangelho, fortifica-do pelo poder de Deus”. Paulo não iludiu o seu jovem discípulo,escondendo-lhe o sofrimento inerente à sua nova tarefa, mas aotempo receitava-lhe o remédio curador: “Deus não nos chamou

    em virtude das nossas obras, mas em virtude do seu desígnio eda sua graça”.

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    4. Evangelho de Jesus Cristo

    segundo Mateus 17, 1-9 No evangelho das tentações de Jesus pelo diabo no deserto,

    Jesus recusa-se a qualquer exibicionismo e não faz nenhumaostentação de grandeza. Por que então sobe ao topo do Tabore lá deixa-se transfigurar?  Jesus... sobe uma alta montanha...

     foi transfigurado... seu rosto brilhava como o sol e as suas rou- pas ficaram brancas como a luz. A resposta mais curta a essa

    pergunta talvez seja: antes de tudo, Jesus levou consigo apenasos seus três discípulos mais chegados: Pedro, Tiago e João. Porquê? Eles eram o núcleo duro dos seus amigos. Era preciso queeles pudessem ver em filigrana no rosto desfigurado de Jesusno alto da cruz o rosto transfigurado de Jesus ressuscitado.Que nós possamos ver no rosto desfigurado dos nossos irmãose irmãs caídos à beira da estrada o rosto transfigurado de Jesusressuscitado.

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    3º Domingo da Quaresma1. I ntrodução 

     As leituras de hoje nos falam da água e do Espírito. A águamaterial é a fonte da vida material, nós o sabemos pelas ciên-cias naturais. A água batismal é a fonte da vida sobrenatural,que é ungida pelo Espírito Santo. O Espírito Santo é Aqueleque renova a face da terra. Desde o primeiro capítulo do Gêne-sis, versículo 2, sabemos que o Espírito de Deus pairava sobreas águas.  Antes que os seres vivos fossem criados, o Espírito já lhes era oferecido com um dom antecipado pelo Pai. E serásempre assim, porque o amor de Deus é preveniente, ele nuncachega tarde, mas sempre se antecipa, porque ele é um dom gra-tuito. Em nossa Capela, quase todos os domingos, celebramos

    um, dois ou três batismos. A nossa comunidade está sempre arenovar as suas promessas batismais.

    2. Livro do Êxodo 17, 3-7 

    Era longo e árduo o caminho a ser percorrido entre Egito ea Terra Prometida pelos hebreus sob a conduta de Moisés. Essaaventura inaudita sempre foi vista como uma parábola da cami-

    nhada dos humanos desde seu nascimento até sua morte. Nóssabemos como a nossa vida pode ser exigente e difícil. As lei-turas de hoje mostram-nos como diante das piores dificuldadessempre encontramos guarida à sombra de Deus nosso Pai, ape-sar de todo o nosso desânimo ou mesmo revolta, pois o Amor deDeus não é só preveniente, ele é também reparador. Não vem só

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    antes, ele vem depois também. São Paulo, ao referir-se à pedrada qual Moisés fez, ao toque da sua vara, jorrar água, dizia que

    essa pedra era o Cristo, o manancial da água viva que jorra paraa vida eterna. Jesus é o verdadeiro Moisés que livrou o homemde todas as escravidões e não apenas da escravidão do Egito.

    3. Carta de São Paulo aos Romanos 5, 1-2.5-8 

     Assim como Javé matou a sede de um povo indócil, fazen-

    do com que a água viva jorrasse da pedra bruta, também o Paimandou o seu Filho Único para salvar-nos a todos nós quandoéramos ainda pecadores. “Com efeito quando éramos ainda fra-cos, Cristo morreu pelos ímpios no tempo marcado”. Estamosno tempo da Quaresma, um tempo de esmola, de jejum e deoração. Mais do que um tempo de penitência, a Quaresma étambém um tempo de esperança que não decepciona, porque

    o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo EspíritoSanto que nos foi dado.

    4. Evangelho de Jesus Cristo segundo João 4, 5-42 

    Cada palavra ou gesto de Jesus no seu diálogo com a Sama-ritana são importantes em sua mensagem, no seu evangelho.Ser mulher e samaritana eram duas caracterizações negativasperante o cidadão judeu. Em Israel, povo eleito, ser mulher eraser menos que um homem, ser samaritano era ser menos queum judeu. Israel desprezava o samaritano porque na Samariade depois do exílio houve miscigenação e os descendentes, porcausa disso, perderam o status de judeus e já não podiam adoraro verdadeiro Deus no Templo de Jerusalém. Jesus viola esses

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    tabus e de propósito dirige-se a ela e pede-lhe de beber. Jesusconsiderava-a irmã e não estrangeira. Jesus prevê o tempo em

    que em qualquer Templo ou lugar se poderá adorar em espíritoe em verdade o verdadeiro Deus que não faz acepção de pessoa.Na realidade, Jesus não queria um pouco d’água para matar asua sede, mas sim oferecer-lhe a água viva que jorra para a vidaeterna, ou seja, o Espírito e a vida, Aquele que no início domundo já pairava sobre as águas, à espera dos filhos de Deus.

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    4º Domingo da Quaresma 

    1. I ntrodução 

     As leituras deste 4° domingo da Quaresma são como um jato de luz em meio às trevas. A palavra de Deus nos revela, napessoa do jovem Davi, que o que é fraqueza aos nossos olhosmíopes, pode ser força aos olhos da fé. Falando diretamente aosefésios e indiretamente à nossa comunidade aqui reunida, S.Paulo nos diz que não somos filhos das trevas, mas filhos da luz.No evangelho de João, que narra a cura de cego de nascença,Jesus ao curá-lo, mostra como os olhos da fé podem ver o queos olhos da carne, aparentemente tão instruídos e penetrantes,não podem ver. Estamos ainda na quaresma, por isso pedimos

    mais luz, mas nas sombras já vemos brilhar, no fim do túnel, aluz da fé que vai eclodir na Páscoa da Ressurreição. Vai lavar-tena piscina de Siloé! Esse mesmo convite que Jesus fez ao cegode nascença, Jesus o faz a cada um de nós neste fim da quadraquaresmal.

    2. Primeiro Livro de Samuel 16, 1b.6-7.10-13a 

     A unção real de Davi por Samuel se faz, não através da opo-sição luz e trevas, mas da oposição entre aparência e realidade.

    Davi, aos olhos da família, parecia frágil: era ruivo, de belosolhos e de formosa aparência, não tinha nada do que esperavamdo sucessor de Saul que, apesar da estatura avantajada, malogra-

     va no campo de batalha. E, no entanto, Davi foi o rei por exce-

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    lência entre os reis de Israel, tão importante que o rei messiâni-

    co previsto pelos profetas de Israel seria da sua dinastia, Jesus,

    filho de Davi! A sabedoria popular garante que as aparênciasenganam e a experiência de vida o confirma. No plano físico,

    falamos de força muscular; no plano moral e religioso, falamos

    da virtude da fortaleza como a que o jovem Davi exibiu no seu

    confronto com o gigante Golias. A vitória de Davi não foi fruto

    da força, mas da coragem e da confiança em Javé.

    3. Carta de São Paulo aos Efésios 5, 8-14 

     A conversão de Paulo se fez sob o signo da luz.  Estando – Paulo – em viagem, já perto de Damasco, de repente, uma luzceleste o ofuscou. Caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia:Saulo, Saulo porque me persegues. Em quase todas as suas car-tas, Paulo refere-se a Cristo como a luz que ilumina as trevas.

    O que antes Paulo não conseguia nem perceber, depois da ex-periência de Damasco, pôde ver com clareza. Cada um de nóstambém, fascinados pelos bens deste mundo, o poder, o di-nheiro e o prazer, temos dificuldade em perceber os valores doevangelho. Ainda nos restam duas semanas de Quaresma paranos preparar para as luzes da Páscoa.

    4. Evangelho de Jesus Cristo segundo João 9, 1-41 

    O roteiro da cura do cego de nascença por Jesus dispõe tãobem as diferenças das cenas que se sucedem que qualquer leitoratento pode apreender com facilidade não só a sucessão dos fa-tos, mas também o seu alcance moral e espiritual. Qualquer um

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    percebe que o mais importante não foi a cura material da vi-são, mas a cura espiritual da fé. A cegueira material do cego de

    nascença é a nossa cegueira espiritual, a nossa incapacidade deperceber os valores luminosos da fé, da esperança e da caridade.Como os fariseus, que eram israelitas observantes da lei, tam-bém nós somos católicos praticantes, mas erramos o alvo. Nãosomos adoradores de Deus em espírito e verdade, apegamo-nosao secundário e deixamos de lado o principal: apressar a chega-da do Reino de Deus, um mundo justo de paz e amor!

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    Missa do Domingo de

    Ramos da Paixão do Senhor  Ao longo do Ano Litúrgico e do Ministério de Jesus, segun-

    do os evangelhos, de muitos modos e maneiras, Jesus é pro-clamado Rei do verdadeiro Israel. Já no seu nascimento, o Paiconvoca os seus anjos para anunciarem ao mundo inteiro glória

    a Deus e Paz na terra, pois nascera o Salvador; na festa da Epi-fania, os magos do Oriente deslocam-se até Belém na Judeiapara adorarem o Messias, o novo Rei dos judeus e lhe oferecemmirra porque homem, ouro porque rei e incenso porque Deus;durante o seu ministério, após multiplicar pães e peixes, os seusseguidores, embora equivocadamente, queriam proclamá-lo rei;o cego Bartimeu, em Jericó, antes que Jesus subisse a Jerusalém

    e ele mesmo fosse curado, clamando, chamava-o Filho de Davi,o mais querido Rei de Israel. Se em todas essas circunstânciasJesus reage mais do que discretamente, no Domingo de Ramos,Jesus deixa-se proclamar rei: “As multidões que iam na frentede Jesus e os que o seguiam gritavam: Hosana ao Filho de Davi!

     Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana do mais alto céu”.O dia de hoje, Domingo de Ramos, é o momento de perguntar-nospor que Jesus deixa-se proclamar Rei e Messias, tão abertamente,quando antes, durante o seu ministério, impedia os seus discípulose até os seus miraculados de fazê-lo? Ao tempo de Jesus, antes quea sua pregação deixasse claro e a sua história pessoal esclarecesse,não havia unanimidade entre os judeus sobre o Messias esperado.Estaria na linha de Davi, o grande Rei de Israel, como o seu filho

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    Salomão, que herdara a sua sabedoria e o seu poder? Seria a verda-deira missão do Messias restaurar para sempre a dinastia davídica?

    Ou seria, muito ao contrário, a encarnação do Servo de Javé dequem nos fala o profeta Isaias: “O Senhor abriu-me os ouvidos;não lhe resisti nem voltei atrás. Ofereci as minhas costas para mebaterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rostodos bofetões e cusparadas”. Jesus, desde que João Batista, seu mes-tre por algum tempo, foi preso na Judeia, (Jesus) tomou a decisãode anunciar, a partir da Galileia, o Reino de Deus: Convertei-vos

    e crede no evangelho, porque o Reino de Deus está próximo. Jesuspregava o Reino de Deus e não a restauração da dinastia davídica.No Reino de Deus, os grandes serão os pequenos; os últimos serãoos primeiros; Ele não veio para ser servido, mas para servir. ParaEle a misericórdia valia mais do que os holocaustos e os sacrifícios.Para Ele, os que ferem com a espada, com a espada serão feridos.Para deixar bem claro para todos que tipo de Rei Ele seria, Jesusdeixou-se entrar em Jerusalém aclamado, sem sombra de dúvidacomo Filho de Davi. Mas o fez montado num jumento, a tradicio-nal montaria dos reis de Israel, e não montado num soberbo corcel,como o faziam os faraós do Egito. Essa postura firme, mas humildede Jesus, que agora se afirmava como um Messias não esperado,nem bem-vindo pelos grandes, essa postura foi muito bem inter-

    pretada pelos sumos sacerdotes, pelos fariseus e doutores da Lei,pelo rei Herodes e por Pilatos. Os seus adversários perceberamque era agora ou nunca, não havia mais tempo a perder. E come-çaram a agir. Jesus ainda teria tempo para celebrar pela última veza Páscoa com os seus discípulos, Judas teria tempo para traí-lo...mas a sorte de Jesus já estava lançada... para muitos, Ele não era oMessias esperado.

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    Missa da Ceia do Senhor 1. I ntrodução 

    Estamos iniciando hoje, dentro desta Semana Santa, o trí-duo pascal, em que se celebram a Ceia do Senhor e o lava-pés,a crucificação, a morte e a sepultura do Senhor, a vigília pascalna noite de sábado e a gloriosa ressurreição na manhã de do-mingo. Nesta homilia, conforme orientação da Igreja, vamosrefletir sobre três temas ligados à liturgia de hoje: primeirotendo como pano de fundo o lava-pés, vamos refletir sobre omandamento do amor; segundo tendo como pano de fundo aúltima ceia, vamos refletir sobre a sagrada Eucaristia e tam-bém sobre o sacerdócio católico.

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    a) Mandamento do Senhor: amai-vos uns aos outros comoeu vos amei. Podemos, como discípulos de Jesus, sem sombra

    de dúvidas, defender a tese de que o Pai enviou seu Filho Úni-co ao mundo para revelar a todos os seus filhos e filhas, nestemundo, que o amor ao próximo é o valor mais alto, o único quepode saciar a sede de felicidade que lateja no fundo do coraçãode todos os homens. Estamos falando de amor ao próximo enão de amor a si. Jesus, para fazer valer sem sombra de dúvidasesse ensinamento, sendo ele Mestre e Senhor, levantou-se da

    mesa, cingiu-se com uma toalha e, ajoelhando-se, lavou os pésdos seus discípulos, invertendo a lógica do mundo em que ospequenos é que lavam os pés dos grandes e não vice-versa. Jesussabia que o seu fim estava próximo. Pouco antes de levantar-see cingir-se, Judas abandonara a ceia e saíra do cenáculo com opropósito de entregá-Lo aos sumos sacerdotes por trinta moe-das de prata. Ele, Jesus, sentiu a necessidade de com um gestoeloquente resumir a essência do que ensinara durante os trêsanos de ministério: no Reino de Deus, grande e verdadeiramen-te feliz é aquele que serve e não o contrário.

    b) Instituição da Sagrada Eucaristia: o ano litúrgico celebra aEucaristia em Corpus Christi e na 5a feira santa. No dia de Cor-pus Christi, sublinha o aspecto sacramental, ou seja, a presença

    real do Senhor sob as espécies do pão e do vinho. Encerradono Sacrário iluminado, Jesus lá nos espera para responder aosnossos anseios, expressos em oração e adoração. Na quinta-feirasanta, a liturgia sublinha a Eucaristia como a memória do sacri-fício na cruz e da ressurreição do Senhor. O Senhor se ofereceude uma vez por todas ao Pai e o Pai, aceitando o seu sacrifício, o

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    ressuscitou na manhã do terceiro dia. À luz da Palavra de Deuse sentados à mesma mesa, partilhando do mesmo pão e do mes-

    mo vinho transfigurados, nós fazemos memória da Paixão, daMorte e da Ressurreição do Senhor. É com esse sentimento nocoração que devemos deslocar-nos de casa para a Missa domini-cal nesta nossa querida Capela de São Francisco de Assis.

    c) Instituição do Sacerdócio católico: a Igreja vê no convitede Jesus aos discípulos “ Fazei isto em memória de mim”, du-rante a última ceia, a instituição do ministério sacerdotal, já

    que a celebração eucarística e a pregação da palavra de Deussão o essencial do ministério sacerdotal. O padre tem comoobrigação primeira distribuir o pão eucarístico e o pão da pa-lavra e, fazendo isso, reunir o povo de Deus em comunidade.Mais importante para o sacerdote do que cumprir uma tarefaé como cumpri-la. Jesus mostrou através do lava-pés como sedeve cumprir o ministério sacerdotal. O ministério sacerdotalnão é um poder que se exerce, mas é um serviço que se presta:“Vós me chamais mestre e Senhor... e dizeis bem... se eu, o Senhore mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés unsaos outros. Dei-vos o exemplo para que façais a mesma coisaque eu fiz”.

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    Domingo da Páscoa 

    na Ressurreição do Senhor 

    1. I ntrodução 

    Estamos chegando ao fim e ao topo do tríduo pascal, ini-ciado na quinta-feira, cujo ícone é o lava-pés, continuado naSexta-feira Santa quando celebramos a Paixão, a Morte e o Se-pultamento do Senhor. Este tríduo encerra-se hoje nesta manhãem que nos alegramos definitivamente com a Ressurreição doSenhor. Sim, o Senhor ressuscitou e está no meio de nós e ja-mais nos abandonará. A Ressurreição do Senhor é a promessainviolável de que também ressuscitaremos. Lavando os pés aos

    discípulos, Jesus garantia que ele não veio ao mundo para serservido, mas para servir; morrendo na cruz, Jesus provava defi-nitivamente que o seu amor por nós era maior do que a morte;na manhã deste domingo, Jesus concluiu a sua tarefa na terra ea consolida para sempre no céu e na terra. Ele está no meio denós e para sempre estará conosco.

    2. Atos dos Apóstolos 10, 34.37-43  A primeira leitura de hoje reproduz o primeiro discurso de

    Pedro ao povo de Jerusalém. Outros discursos virão ao longodos domingos do tempo pascal. Pedro recorda aos judeus os atose as palavras de Jesus de Nazaré, ungido pelo Espírito Santo.Jesus passou sua vida fazendo o bem, curando enfermidades e

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    expulsando os demônios e, no entanto, ao invés de ser louvado eagradecido, eles, os poderosos da religião e da política, incitan-

    do o povo, o mataram. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia,concedendo-lhe manifestar-se não a todo o povo, mas às testemu-nhas que Deus havia escolhido, a nós que comemos e bebemoscom Jesus. Terminado o tempo do ministério terreno de Jesus,iniciam-se os tempos apostólicos que continuam até hoje. Essediscurso primeiro de Pedro, ainda não perdeu a sua força, ele éendereçado a nós hoje. Conforme nos diz hoje: todo aquele que

    crê em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados.

    3. Carta de São Paulo aos Colossenses 3, 1-4 

    O zelo apostólico indomável de Paulo teve origem no seuencontro com Jesus ressuscitado no caminho de Damasco. An-tes dessa experiência inaudita, Paulo acreditava na morte de

    Jesus e blasfemava a sua ressurreição. Após a sua conversão,Paulo tomou consciência de quão mesquinho era o seu hori-zonte e quão terrenos os seus interesses. Estava em busca dapreservação do passado em prejuízo da abertura para o futuro.Na sua própria linguagem, Paulo buscava as coisas terrestrese não as celestes. Depois da sua conversão, Paulo estimulavaos cristãos da comunidade de Colossos a buscarem as coisas

    celestes e não as terrestres. Terrestre é o ego, a tradição pelatradição, a letra da lei. Celeste é o outro, a novidade do evange-lho, o espírito da lei e não a letra. “Quando Cristo, nossa vida,aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também como

     Ele, revestido de glória.”

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    4. Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20, 1-9 

    Segundo o evangelho de hoje, estamos na manhã do primei-ro dia da semana, o domingo. Jesus morreu e fora sepultado nasexta-feira anterior. Tanto Maria Madalena, que era tão bem sin-tonizada com Jesus, como os discípulos, que por três anos con- viveram com o Mestre, estavam todos angustiados. Esperavampor alguma coisa, mas não sabiam bem o quê: “ Eles não tinhamainda compreendido a Escritura, segundo a qual Ele – Jesus –

    devia ressuscitar dos mortos.” O primeiro a ver claro, a crer, foio apóstolo João, aquele discípulo a quem Jesus amava e que naúltima ceia reclinara-se sobre o ombro de Jesus e recebera-lhea confidência de que o traidor seria Judas Iscariotes. João aopenetrar no sepulcro “viu e acreditou”. João viu com os olhos dafé. A fé é um dom de Deus. Diria mais, é o dom de Deus, mãede todos os outros dons. O que podemos fazer é estarmos maisou menos abertos a ele. O carinho de Madalena, a amizade deJoão e o arrependimento de Pedro levaram-nos à fé.

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    2º Domingo da Páscoa 1. I ntrodução 

    Este segundo domingo da Páscoa era o dia em que, na Igrejados primeiros séculos da nossa era, celebrava-se o batismo doscatecúmenos que tinham terminado a sua formação catequéticadurante a Quaresma. Até então, os catecúmenos assistiam apenasà liturgia da palavra. No segundo domingo da Páscoa, recebiamao mesmo tempo os sacramentos da iniciação cristã, ou seja, oBatismo, a Eucaristia e a Confirmação. Eram todos adultos e des-de esse dia, permaneciam na Igreja até que terminasse a liturgiaeucarística. Hoje os usos e costumes são diferentes, mas nadaimpede que tiremos proveito do dia de hoje para refletir sobrea nossa condição de adultos batizados, confirmados e participan-

    tes da mesa eucarística. Pelo batismo, renascemos de novo pelaágua sacramental para a vida so