o essencial sobre linguistic a

Upload: soledad-esponda

Post on 07-Jul-2015

324 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

ColecoO EssencialCoordenaoMariaHelenaMiraMateusFaculdadedeLetrasdaUniversidade deLisboaILTECAlinaViII alvaFaculdade de Letras da Universidade deLisboaf8swcialLINGuSTICAMaria Helena Mira MateusAlina VillalvaColecoOCssendalCoordenao Ma' HI . . na e ena Mlfa Mateus e Alina VllalvaCAMIN-IOo ESSENCIALSOBRE LINGuSTICAAutoras: MariaHelenaMiraMateusAlinaViII alvaDesigngrfico' dacapa: JosSerroIlustraodacapa: Reproduode uma iluminura. da rvore de gramticainclufda nasGrammaticesRudimenta,de Joode Barros(c. 1540) Editorial Caminho, SA, Lisboa- 2006Tiragem: 5000exemplaresImpresso e acabamento: TipografiaLousanense, L. d.Datadeimpresso: Fevereirode 2006Depsitolegal: 238708/06ISBN972-21-1777-7www.editorial-caminho.ptoEssencial uma coleco dedicada divulgao doconhecimentoque temvindoa ser produzidono domnioda lingustica,particularmente no que diz respeito ao Por-tugus.Esta coleco constituda por vinte volumes que tra-tamindependentementematriasdiversas, masestoorganizadosdeacordocomumaestruturacomum. Emcadavolumepoderoleitorencontrar, naseco Antesde mais... , uma informao sumria sobre as questes pos-teriormente desenvolvidas. Perguntas interessantes& respostas conhecidas abre espao para a apresentaodos assuntos prprios de cadavolume, segundoas esco-lhasdoseuouseusrespectivosautores. Ainformaoaqui apresentadacomplementada pelocontedodoGlossrio, quedispealfabeticamenteostermosfunda-mentaisdecadadisciplina. Os leitoresquedesejaremaprofundarosseusconhecimentosencontraroalgumassugestesemOutras leituras.Esta srie destina-se a um pblico alargado com forma-omuitodiversa, queprocureconsolidar umnvel m-dio de cultura geral. Destina-se, em particular,a todos osprofissionaisqueusama lnguacomoferramentade tra-balho, dos professores de Portugus aos tradutores e dosjornalistasaoscriadoresliterrios. Dadaaprofusoderelaes de interdisciplinaridade em que a lingustica par-ticipa,esta srie tambm dever interessar a profissionaisde diversas formaes e actividades, como psiclogos, so-cilogos, terapeutas da fala,agentes culturais e polticos.- - ---- ----- - ~ - -----NDICE11 Antesdemais...19 Perguntasinteressantes&respostasconhecidas21 Comosesabequeumalngua umalngua?29 De onde vema reflexosobrea linguagem e as lnguas?39 Ondecomeaa lingustica?49 Sera lingusticaumacincia?55 Doque trataa lingustica?79 Paraque servea lingustica?93 Glossrio101 Outrasleituras107 Referncias------------ --------ANTESDEMAIS...Areflexosobreaslnguasvemdehmuitotempo, masalingustica umacinciarecente, poucodivulgadae mal conhe- .cida. Aindamenosconhecidaa actividadedosquetrabalhamemlingustica- oslinguistas. Seropessoasquesabemmuitaslnguas?Ou seroaqueles cujaespecialidade consisteapenasnadeciso sobre o correcto uso da lngua(escrita e oral),no conhe-cimento da origem das palavras ou na informao sobre se existeumaregioondesefale'bem' umadeterminadalngua? certoque o linguista tem conhecimentos em qualquer um destes dom-nios, mas a sua actividade ultrapassa muitssimo este tipo de pro-blemas.Vejamosalgumasperguntasaquealingusticaprocuradarresposta: Comoaprendemosafalar? Quaisascaractersticascomunseasquediferenciamaslnguas?Comoserelacionaouso da lngua coma actividade do nosso crebro?Por que variamaslnguas, por que desaparecem umas e surgemoutras?E mais,muitasmaissoasquestescomquesepreocupamosquees-tudama linguagem e aslnguas. Dar a conhecer o que constitui acinciada linguagem e a actividade dos linguistas o objectivo dacoleco que se inaugura com este livro e que, para tal, constitudopor uma apresentao geraldo quese entende hoje comolingus-tica. Comecemos, ento, por indagar comosedefineeste termo.Quando procuramos uma definio de lingustica emdicion-riosgeraisouespecializados, emenciclopdiasouemobrasde-dicadasespecificamentea estarea, encontramos, emsntese,umafrasedo tipo: Iingurstica o estudocientrficodalinguagem--- ---------------------..- ---_J14 MARIA HELENAMIRA MATEUS! ALlNAVILLAL VAhumanae daslnguasnaturais. Paraquemnuncatevecontactocom esta disciplina, a definio pode causar algumaperplexidade:... lnguas naturais... Mas haver lnguas 'no-naturais'? Epor-qu estudarsasnaturais?Comecemosporestaquestodaslnguasnaturais. Esteodado a lnguas como o Portugus, o Francs, o Irlands ouo Arabe, j que podem ser aprendidas comolngua materna,masque tambm dado ao Latim1,que ainda hoje pode ser aprendidoe falado,mas que j no est disponvel como lngua materna' ouaoSnscrito, queperduranandiaapenascomolngua As lnguas artificiais. IntegradocolecoConstruir a Europa, UmbertoEco[081pu- um.onde estabelece uma tipologia das ( lnguas cons- a.rtlflclalmentell com base na identificao dos seus objectivos.Eco distingue assim:as lnguas que buscam a perfeio estrutural ou funcional comoas lnguas filosficas criadas em Inglaterra nos sculos XVI" e XVIII(queprocuravam substituir o Latim por outra lngua veicular), comooLo!ba.n(umalnguaoral criadacomo propsitodeeliminar aou como o Ladan(que apresentada como umahngua mais adequada expresso das mulheres);as chamadas lnguas internacionais, como o Esperanto ou o Ido(que pretende ser um aperfeioamento do Esperanto); e aslrnguas oucifradas, .como a LnguadosPs, quetemalgumprestigioentreascrianas, ouoMindericodoscardadores e negociadores de l de Minde, no incio do sculo XVIII,lembrar os sistemas de criptologia que os meios de comu-nlcaao actualmente disponveis tornam cada vez mais necessrios.Fora tipologia fic?m vrias lnguas artificiais, como, porexemplo, o Khngon, uma Ilngua Inventada para os alienrgenas do StarTrek.1Latim umtermoquerecobresistemaslingusticosmuitodistin-tos: doLati.mdostextosliterriosdeautoresconsagrados, aoLatim EcleSIstiCO usado regularmente na liturgia catlica at ao incio dosculoXX, por exemplo.o ESSENCIALSOBRE LlNGU{STlCA 15Aindaquea questodaorigemdaslnguascontinueafazerpartedalistadostemasemdebate, o quesesabequeasln-guasnaturais(emaisespecificamente, as protolnguasdequenoexistemregistosmateriais) somanifestaesespontneasda capacidade de linguagem, ou seja, no foram construdas 'pelo'homem, foramconstrudas'com' ohomem. Pelocontrrio, aslnguasartificiaisforamarquitectadasdeliberadamentepor umapessoaouporumpequenogrupode pessoas, num temporelati-vamentecurtoe, portanto, nosedesenvolveramespontanea-mente numa comunidade de falantes,nem nunca foram aprendidascomolnguamaterna. Por outraspalavras, aslnguasartificiaissodefinidaspartida, enquantoaslnguasnaturaiscorrespon-dem activaode umpotencial inscritonocdigogenticohu-mano.O interessedalingusticapelaslnguasnaturaiseocomple-mentardesinteressepelaslnguasartificiais(emborahajaalgunstrabalhos dedescriodaformacomoestaslnguasseorgani-zam)decorrem do entendimento da lingustica como uma cinciacognitiva, o quenosconduz segundaquesto:... linguagem humana...Mas haver linguagem 'no-humana'?E porqurestringir?Esta restriope forado alcancedalingusticaoutrossiste-masdecomunicao, comoodaslinguagensdosanimais, quesoigualmente naturais, masse distinguemdalinguagemhuma-na(soclssicososexemplosde comunicaoentreabelhasouentregolfinhos); ouodeformas decomunicaocodificadas,como a linguagem das flores, a linguagem dos tambores ouaindalinguagensdeprogramao.Quandoa'linguagem' seacrescentaoadjectivo'humana',oquesepretende referir exclusivamentea actividadequede-corredaexistnciageneticamentedeterminadadafaculdadedalinguagem. Ora, se este ummecanismouniversal, entoa rela-ocomagramticadaslnguastambmuniversal, oqueimplicaquetodas as lnguas possuempropriedades comuns.A estas propriedades d-se o nome de universais lingusticos:porexemplo, oconjuntodesons quepodemser utilizadospelaslnguasnaturaisuniversal; tal comoapresenadeelementos16 MARIAHELENAMIRA MATEUS I ALlNAVILLAL VAo ESSENCIALSOBRE LINGuSTICA 77(a linguagemhumanaeaslnguas naturais) umaabordagemobjectiva, sistemtica, rigorosa eteoricamente enquadrada.Noentanto, a demonstraodequealingustica umacincia,como sucede comqualquer outro domnio do conhecimento, e emparticular comas chamadascinciashumanas, uma tarefaexi-gente. Aafirmaoserve, ento, paraj, comoumadeclaraode princpios e a demonstrao vir um pouco mais adiante nestelivro.Anaturezaconcisadasdefiniesdeixaentrever quemuitoficadefora. Fecha-seento, aqui, a definiodaenciclopdiaeabre-se a porta a uma visita guiada pelas diversas dimenses destedomniodoconhecimento, que a lingustica.fundamentais nafrase.comoosujeitoeopre-dicado. Apar dos uni-versais lingusticos.comuns atodas as ln-guas, hcaractersticasparticularesqueas dife-renciam: por exemplo,nemtodas as lnguastmumaflexo verbaltoricacomoa doPor-tugus; nemtodas aslnguastmacentofixonaltimaslaba de cadapalavra, como o Fran-cs.Compete, pois, lingusticacontempor-nea estudar a capacida-de humana de falar e decompreender enuncia-doslingusticoseesta-belecer arelao entreafaculdade dalingua-gemeaslnguasqueaactualizam.Altimadasques-tessuscitadas pela de-finio apresentada noincio diz respeitoao ca-rcter cientficodoses-tudoslingusticos:... estudocientfico... Masporqu'cientfico'?E 'cientfico'poroposioa qu?Estarestrioserve, antes demais, paragarantir que a abor-dagemquealingusticafaz ao seu objectodeconhecimento---------------,Afaculdade da linguagemOconhecimento dos processos cogniti-vosligadossformasdecomportamentohumanoalcanouenormesprogressosnasegunda metade do sculo xx. o que tornouposslvel afirmar que esses processos decor-rem de uma base gentica universal. Sendoa linguagem uma forma de comportamentohumano. jquetodosossereshumanosfalam. deve ento tambm admitir-se aexis-tncia de uma capacidade do sistema cogni-tivo. inata e universal, que lhe est associada.essa capacidade.a que se d o nome defaculdade da linguagem. que permite a rea-lizao de actividade lingustica, ou seja, quepermite compreender e construir, com basenumaspoucasdezenasdesonsenumconhecimento gramatical implfcito. uma in-finidade de expresses lingusticas.A existnciada faculdadedalinguagemno . porm. uma hiptese assente apenasna constatao da universalidade dos proces-soscognitivose dequetodososhomensfalam. Estahiptese tambmsustentadapela forma como se processa aaquisio dalngua.Trata-sedeumprocesso comumatodasas crianas. qualquer que sejao est-mulolingustico a que so expostas. isto.qualquer que seja a Ifngua que ouvem falar sua volta. Em tempo incrivelmente breve. eperante dadosincompletos. a competncialingusticarapidamenteadquirida. Essaaprendizagem no pode provir seno de ummecanismo cognitivo universal e gentico es-pecialmente preparado para esse fim.------ _. -------"""'----------------PERGUNTASINTERESSANTES& RESPOSTASCONHECIDASCOMOSESABEQUEUMALNGUAUMALNGUA?Se, entreoutrascompetncias, lingusticacabeoestudodas lnguas, ento justifica-se reflectir sobre o que uma lngua econceitos relacionados,como dialecto, sociolecto, idiolecto e va-riedade.O entendimento comum destes termos faz com que se aceiteque dialectoidentifica o sistemalingustico prpriodeuma dadaregio(comoodialectodeLisboa, porexemplo); que lnguare-meteparaosistemalingusticoqueconjugatodososdialectosfalados num pas (o Portugus uma lngua); e que variedade sejainterpretadacomoa manifestaonacional queumalngua fala-daempasesdiversosassumeemcadaumdeles (oPortugusEuropeu uma variedade do Portugus).Sociolecto fica fora destahierarquiadeconceitos, emborasepossadefinir comoumcon-junto de idiolectos que corresponde a um recorte social da lngua(podefalar-senosociolectodosadolescentes, dossurfistasoudos economistas).Otermo sociolecto tende a ser substitudo pordialecto(queganhaemgeneralidade), encontrandomesmoumadesignao especficapara algumas destas realidades, como noscasos de 'economs' ou de 'futebols'.Idiolecto, que identifica osistema lingustico de cada falante, individualmente considerado,umconceitopraticamente desconhecido.O que o entendimento comumdestes termos mostra que adefiniodestesconceitosnoassentaemcritriosdenaturezalingustica. Destepontodevista, umalnguaumsistemadecomunicao que faz uso da faculdade da linguagem activada pelaexposiodosfalantesaestmuloslingusticos, duranteocha-22 MARIAHELENAMIRA MATEUS/ALINAVILLALVAo ESSENCIALSOBRE LlNGUfSTlCA 23Eduardo Paiva Raposo (*)[151(*) Osnmerosdelimitadosporparntesesrectosremetemparaasreferncias bibliogrficas que encontrano final.A lngua portuguesaA realidadedanoo de lnguaportuguesa, aquiloquelhedumadimensoqualitativaparaalmdeum mero estatuto de repositrio devariantes,pertence,mais do que aodomniolingUstico, aodomnio dahistria,da culturae, em ltima ins-tncia, da poltica. Na medida em quea percepodestasrealidadesforvariando com o decorrer dos tempose das geraes, ser certamente deesperar,concomitantemente. queaextensoda noo delnguaportu-guesa varie tambm.))oPortugus BrasileiroMuitosintelectuaisbrasileiros,particularmentenoinciodoscu-lo xx, procuraramatribuiraoPortu-gusBrasileiro o estatuto de lnguae de lngua distinta do Portugus Eu-ropeu.Ocarcter voluntarista destatentativa condenou-a ao fracasso.Em contrapartida, tem-se vindo avulgarizar, emPortugal, a opinio(algopejorativa) dequealnguafaladapelacrescentecomunidadeimigrantebrasileira o'brasileiro'.Talvezosportuguesesaindanotenhamcompreendidoasimplica-es desta posio: de um ponto devistaestratgico, a unidadelingus-tica entre Portugal e o Brasil interes-saaoBrasil e interessatambmaPortugal.Por outrolado, emdeter-minadas circunstncias,o ter-mo lngua no chega paraidentificar oconceito, razopelaqual a lingusticafazusodedistines como lnguamaterna, lnguasegunda, ln-gua estrangeira, lngua oficial,lnguadetrabalho, lnguadecomunicao, lngua franca oulngua grafa,para referir ape-nasalgunsexemplos.Facea estavariedade ter-minolgica, no, pois, fcildeterminar onmerodeln-guas existentes no mundo:tudodependedoquesecon-sideraser umalngUaou seclassificacomodialecto. En-contram-sealgumasrefern-ciasa umnmero prximo dos 3000,mas oThe Ethn%gue[9l,uma base de dados sobre as lnguas do mundo, apresenta um totalde6809, sendoquea Europacontribui comapenas3%(ouseja230 lnguas, muitas das quais esto quase extintas). tambm inte-ressante notar que 96% das lnguas existentes no mundo so fala-das por apenas 4% da populao mundial; que cerca de 80%daslnguas so faladasapenas em um pas e que cerca de 20 lnguassofaladasporvriosmilhesdepessoasemdiversospases.O interesse destes dados no meramente estatstico. O volu-medeAbril de2000doTheCourier [181 dedicadoaosconfli-tos e coexistncia das diferentes lnguas do mundo. A se chamaa ateno para o facto de metade da populao mundial usar ape-nasoitolnguas, enquantoumsextodaslnguasdomundosofaladas apenas na Nova Guin.Omesmo documento refere o alas-tramentodoInglscomomeiodecomunicaomundial (vistocomo resultado de um fenmeno de imperialismo cultural). Emen-cionaaindaofactodegrandenmerodaschamadas lnguasminoritriasestaremadesaparecer aumritmocadavezmaismadoperododeaquisiodalngua. Ora, dopontodevistadalingustica, oconceitodedialectopodeser definidodamesmaexactamaneira.Tem, alis, sidodefendidopormuitoslinguistasquedevemser tratados no mbito de uma poltica lingustica. Os critrios ob-jectivos(comoainteligibi-lidade mtua, o nmero defalantes, a coesogeogr-fica e poltica da comunida-de de falantes) nem semprepermitemidentificar comclarezao que uma lnguae oque umdialecto.Na verdade, so muitososcasosemquesistemaslingusticosdiferentessoclassificadosoracomoln-guasdiferentes, oracomoumalnguaeumdialectodessa lngua.Por exemplo,o factode o Portugus e oGalegoserem, poralguns,consideradas duas lnguas,. aindaque derivadasdeummesmoGalaico-Portugussadodamatriz latina, no pode deixar de ser relacionado com a soberaniados pases onde essas lnguas so originalmente faladas:o Galego,emEspanha; oPortugus, emPortugal. Emcontrapartida, queoPortugus Europeu e o Portugus Brasileiro sejam considerados amesmalngua oresultado, porvezescontestado, deumdadopercurso histrico, quer por viadaheranaquePortugal partilhacomoBrasil, quer pelavontadeque oBrasil sentirdemanter aconexo comPortugal. A escolha do Portugus, lngua falada nassedesdopoder polticodesdeoinciodacolonizaoeuropeia,poderserviressefim.24 MARIAHELENAMIRAMATEUS / ALlNAVILLAL VAoESSENCIALSOBRE LINGuSTICA 25Varedades d PortugusPortugus Falado. Documentos Au-tnticos [1 O] um registo (com cerca de9 horas de gravao e transcrio orto-grficaalinhadacomo som). querdeconversasinformaisquerdeinterven-esmaisformais, exemplificativodoPortugus falado em todos os paises deexpresso oficial portuguesa.;"""''1,cabo vH1l."m.cauf'"moambiquebraslflul"-!)l....,pf1I.llillr.10 lomn"prlnclpe ,'o !'PortugusFaladoDOCUMENTOS .udlo com .Ilnh,adalInaolazao do uso de tecnologiasmultimdia,como a televiso, tendea esbaterasdiferenasdialectais.Por outro lado,ainda que o Portugus no sejaa nica lnguaoficial dePortugal, estaalnguafaladapor maior nmerodefalantese a quetemmaiorespossibilidadesdecrescimento. Asoutras lnguas oficiais soaLngua Gestual PortuguesaeoMirands. A Lngua GestualPortuguesautilizadaporboapartedacomunidadesurda portuguesa comolnguamaterna. Estalnguas foi oficialmente reconhe-cidaem2003, factoqueveioapermitir, por exem-plo, aescolarizao dosseusfalantesnestalngua.OMirands3, que umalngua de origem asturo-Ieo-nesaenogalaico-portu-guesa(comooPortugus),temestatutodelnguaofi-ciai desde 1999, mas sfalado por umpequenonmerodefalantes, numaregiodoNordestetrans-montano, oquea caracte-riza como lngua minoritriae, aprazo, pode pr emcausaa suasobrevivncia.Paraalmdaslnguasoficiaish, emPortugal, comunidadesfa-lantesdelnguasestrangeiras, comooCriouloCaboverdiano, oRomenoouo Ucraniano.Por ltimo, a distribuiogeogrfica dascomunidadesfalan-tes do Portugus assegura a presena desta lngua na Europa (Por-tugal), em frica (Angola, Cabo Verde, Guin-Bissau, MoambiqueRepartiodaslnguas por continentesfrica30%acelerado(sendoque comunidadeslingusticas formadaspor umnmero de indivduosinferior a 100 000 no asseguram a sobre-vivnciadasualngua).O nomedaslnguas outradasquestesquepodesuscitarcontrovrsia. Parece ser um facto pacfico, espervel at, que emPortugal sefalePortugus, masqueessesejao nomedalnguafaladanoBrasil umdado ques compreensvel luz do con-textohistrico deformaodessepas. Por outrolado, queumadas lnguas oficiais de Espanha seja o Espanhol, quando esse nomecorrespondea umarenomeaodoCastelhano, umfactoquemuitosdosfalantesnativosdasrestanteslnguasoficiaisdeEs-panha(comooCataloouo Basco)tmdificuldadeemaceitar.AcaracterizaolingusticadePortugal mostra-nosqueacomunidade de falantes maioritariamente falantenativa do Por-tugus, o que significaque se tratade uma comunidade que no afectadapormuitastenseslingusticas. Porumlado, asdes-criesda diversidade doPortugus no territriodePortugal (cf.[06al e [07]) mostramumadivisomais oumenosestvel entreosdialectos setentrionais(queincluemosdialectos transmonta-nos,minhotos e beires),os dialectos centro-meridionais(que in-cluemosdialectosdoCentroedoSul) eosdialectosinsulares(dosAcorese daMadeira)2. Sabe-se, no entanto, que a general i-2Hregistossonoros dos dialectosportugueses emwww.instituto-camoes.pt/cvc/hlp/geografia/mapa06.html3 Sobre este assuntopode consultar-semirandes.no.sapo.pt26 MARIA HELENAMIRAMATEUS/ ALlNAVILLALVAo ESSENCIALSOBRE LlNGU{STlCA 274 Dados do Ethnologue Survey (1999), disponfveis em web.archive.orglweb/19990422030645/www.sil.org/ethnologueltop100.htmlAsituaodoPortugus, pois, complexae merecedoradeatenolingustica e poltica. No conjunto das lnguas do mundo,oPortugusumadasmaisfaladas: emboraaordenaodaslnguas varie de autor para autor, em funo dos dados considera-dose das fontesutilizadas, a graduaomostracomclarezaqueo Portugus ocupa uma das posies de topo. Vejamos o seguinteexempl04:Estadescriodo'valor' doPortugusnumahierarquizaodas lnguasdomundopodeinduzir noerrodequehlnguasmelhores oumaisimportantes do que outras. No esse o senti-doquedeveser dadoaoqueacabadeser dito: nopor serfaladapor maispessoas, emmaispases ouemmaisinstituiesinternacionais que uma lngua ganha maior valor intrnseco.O queessasmedidasasseguramavitalidadedalnguaealgumaga-rantia da sua preservao,como que isso pode significar de van-tagempara as comunidades queafalam. Dopontodevistalingustico, onmerodefalantes deumalnguaouoprestgiointernacional que ela possa ter so critrios de comparaoabso-lutamentevaziosdesignificado.Apresuno de que h lnguas melhores oumaisimportantesdo que outras radica integralmente em raciocnios preconceituosos,semelhantes, alis, aosque tomama normadeumalnguacomoumdialectomais'correcto', 'respeitvel' ou'sofisticado' doquee So Tom e Prncipe), na Amrica do Sul (Brasil) e na sia (TimorLorosaee, residualmente, Macau). OreconhecimentodoPortu-guscomolnguadetrabalhoemorganizaes internacionais,como a Unio Europeia, o Mercosul oua Organizao de UnidadeAfricana, vemdestadisseminao pelos diversoscontinentes. Acomunidadeinternacional falante dePortugusjencontrou,mesmo, umainstituiosuarepresentante, aComunidadedosPasesdeLnguaPortuguesa. Aestadiversidadegeogrficacor-respondeumaespervel diversidadelingustica.Os crioulos de base portuguesaA propsito dadiversidadedoPortugusnopodedeixardereferir-seo papel destalnguanaformaodeumgrandenmerode crioulos:Os crioulos so lnguas natUrais, de formao rpida, criadas pelanecessidade de expresso e comunicaoplena entre indivduosin-seridos em comunidades multilinguesrelativamente estveis.Cha-mam-se de base portuguesa os crioulos cujo lxico , na sua maioria,de origem portuguesa.No entanto; do ponto de vista gramatical, oscrioulos so lnguas diferenciadas e autnomas. I...)Em frica formaram-se os Crioulos da Alta Guin (em Cabo Ver-de, Guin-Bissaue Casamansa) e osdoGolfodaGuin(emSoTom, Prncipe Ano Bom). Classificam-se como Indo-port\.lguesesoscrioulosdaIndia(deDiu, Damo, Bombaim, Korlai, Quilom,Cananor, Tellicherry,Cochim Vaipim e da Costa de Coromandel edee os crioulos do Sri-Lanka,(Trincomalee eBattlcaloa, Mannar e zona de Puttallam). NaAsia surgiram ainda criou-losdebaseportuguesana Malsia(Malaca, KualaLumpur eSingapura)' e em algumas ilhasdaIndonsia(Java, Flores,remate,Ambom, Macassar e Timor) conhlcidos soba designaode Malaio-portugueses. Os criOlJlos de Macau eHong--Kong. Na Amrica encontramos ainda um crioulo que se poder con-siderar de base ibrica, j que o portugus partilha com o castelhanoa origem de uma grande parte do lxico (o Papiamento de Curaau,ArubaeBonaire, nas Antilhas) eumoutrobrioulohOSlJriname, oSaramacano, que, sendodebaseinglesa, manifestano seulxicouma forte influncia portuguesa.)Dulce Pereira [06 b]1. Chins, Mandarim2. Espanhol3. Ingls4. Bengali5. Hindi/Urdu6. Portugus7. Russo8. Japons9. Alemo10. Chins, Wu885,000,000332,000,000322,000,000189,000,000182,000,000170,000,000170,000,000125,000,00098,000,00077,175,00028 MARIAHELENAMIRAMATEUS I ALlNAVILLALVAoutros ou aos que consideramque os crioulos no so lnguas ousolnguas'deficientes', ouaindaquelesqueafirmamqueagramticadeumadadalngua maiscomplexaoudifcil doquea deoutra. Noexistequalquer fundamentolingusticoparane-nhum destes raciocnios - trata-se de manifestaes de uma ideo-logiaquereconheceaosdetentoresdopoder direitosquenoreconheceaosrestantesindivduose quedefendequeo acessoaopoder passapelaimitao dospoderosos.DEONDEVEMA REFLEXOSOBRE A LINGUAGEME ASLNGUAS?Asnotciasconhecidassobrea origemdaslnguashumanassituam-nosentre100 000e 20000a. C. Sabe-sequeo tractovocal evoluiudeumaformano-humana, demodoa permitiroestabelecimentode um sistema de comunicaorpidoe eficaz,aindaquecustadeumaperdadeproficincianosistemarespiratrioe na deglutio. Tambmsesabe que o tractovocaldeumNeandertal semelhanteao deumacrianarecm-nasci-danossa contempornea, o quepermitepr a hiptese de que asuaacuidadelingusticaseriaidntica. Aorigemdasreflexessobreaslnguastem, naturalmente, deserposterior. O quesesegue procura dar conta dos pontos de viragemnahistria destedomnio do conhecimento.AINVENODAESCRITAPovos como os egpcios ouos sumrios, que inventaram for-mas de escrita numa pocalongnqua situada entre o IV e oII mi-lniosa. C" tiveramnecessariamentequetomarconscinciadaestrutura da sua lngua para a escrever. A inveno da escrita teriaquelevar a uma reflexosobre a natureza da lngua,visto tratar-se de uma tcnica que deveria dar conta dos elementos da lnguafalada separando, pelomenos, asfrasesumas das outras. Tantoosegpciosquantoos sumriosescreviamj frasesconstitudaspor umasucessodesmbolosquecorrespondiamspalavras.Alfabetos3D MARIA HELENAMIRAMATEUS /ALlNAVILLALVAAlfabeto latinoAsprimeiras descries lingusticas conhecidas foramprodu-zidasemobrasde gramticoshindus, noI milnioa. C. Nandiaantiga, oSnscrito(palavraquesignifica'perfeito') eraconside-radocomoumalnguamgicae sagradae, poressarazo, nopodiasofrer a menor alterao de pronnciaaoser usadanosri-tuaisreligiosos. , pois, emconsequnciadeumapreocupaoreligiosaqueasdescriesdestalnguavosurgir.O maisconhecidodosgramticoshindus Panini, que viveunosculoVouIVa. C. Adescriodossons, a representaodasslabaspordiferentescaracteresconformeasconsoanteseasvogaisqueas constituem, asregrasoudefinies comque oautorexplicaa construodasfrasesoudosnomescompostosmostramumconhecimentoaprofundadodofuncionamentodoSnscrito. Estapreocupaocomapreservaodapurezadalngua, ouseja, comasconsequnciasdamudanalingustica- atitudequecaracterizaa gramticadePanini edosrestantesgramticoshindus -, ir sendoretomadaaolongo dos sculosepersisteaindanaschamadasgramticasnormativas, como, porexemplo,as gramticas escolares destinadas ao ensino da lngua.AsPRIMEIRASGRAMTICASo ESSENCIALSOBRE LINGuSTICA 31OSGREGOSEOSROMANOSO estudo das lnguas desenvolvido pelos gregos orienta-se emdois sentidos. Por um lado,a curiosidadee o interesse acercadaorigemdalinguagem, damudanaedadiversidadelingusticalevam a reflexes filosficas como as que encontramos em Plato(428-348a. C.l e emAristteles(384-322a. C.). O pontocru-cial destasreflexessitua-senadiscussoentrea defesa, feitaporPlatonoCrtlo[13], dequeaspalavrasreflectem, porna-tureza, arealidadequenomeiam, eaconvicoaristotlicadequeoseusignificadoresultadeumacordoentreoshomense,portanto, convencional [01].Outrosautoresprocuraramalcanar umconhecimentomaisaprofundadoacercadofuncionamentodasualngua. AanlisedoGregoemtodososseusnveiscomeaporpermitir umaper-Almdisso, oshierglifosegpciosassociavamfrequentementeimagens de objectos reais a sons. Por sua vez, entre 1500 e 1000a. C., oschinesesutilizavamideogramas, ouseja, pequenosde-senhosquerepresentamobjectosouconceitose correspondemapalavrasmonossilbicas,para representar outras pala-vras. Umdicionriochinsdo sculo I a.C. regista 9000smboloscorrespondentesa9000 palavras. H portanto,tantonumcaso como nooutro, uma anlise, aindaque muito elementar,de cer-tas unidades bsicas das ln-guas como as frases easpalavras.Foram, porm, osfen-cos, queinventaramumal-fabetodebasefonticanasegunda metade doII milnioa. C., osprimeirosa tomarconscinciados sons queconstituama sualngua. Emboranopossuacaracteresquere-presentemasvogais, estesistemadeescritapodeclassificar-secomoumsistemadebasefontica. E estealfabetofencio,reinterpretado primeiro pelos gregos e pelos romanos depois, queestnabasedoalfabetousadopelageneralidadedossistemasdeescritacontemporneos:{ ~ 1 4 ~ Y 8 ~ ~ L ~ ~ O7 ~ ~ Wt V~ ZA B CG D E F H IJK L M N o P Q R S T U X ZvwOs alfabetos de base fontica solistas de smbolos grficos convencio-nalmenteordenados, querepresen-tamsons. A estessmbolosd-seonome de grafemas.Umsistemadeescritadebasefontica corresponde a um avano nahistria do conhecimento,j que a re-lao entre um som e um smbolo gr-fico pode ser mais universal do que arelaoque envolveumconjunto desons associado a umsignificado,rela"oques6compreensvel numadada lngua particular.Alfabeto fencio32 MARIAHELENAMIRAMATEUS / ALlNAVILLALVAfeioamentodoalfabeto, mastambmconduzelaboraodegramticas. Aautoriada primeiragramtica grega,que distingueoito partesdo discurso5- artigo, nome, pronome, verbo, partic-pio, advrbio, preposio e conjuno- atribudaa Dionsio deTrcia(170-90a. C.l. AanlisesintcticadoGrego desenvol-vidanaobradeApolnioDscolo(sculoII d. C.) que, naesteirade Aristteles,considera que a estrutura da frase assenta em doiselementosfundamentais: o sujeito e o predicado.O conhecimentoda lngua e o desenvolvimento da gramticaentre os gregos estiveram intimamente ligados preocupao comainterpretaodostextosdospoetasantigos, sobretudodosclebrespoemaspicosIladaeOdisseia, atribudosaHomero(sculoIX ouVIII a. C.), dando,deste modo,origem criaodafilologia,disciplina que estuda as lnguas a partir de textos, liter-riosouno.Asobrasdosgramticosgregose a suadoutrinagramaticaltiveramrepercussosobretudonoorientegrego, chegandotar-diamenteao ocidente daEuropa, atravs dos gramticos latinos.NaspalavrasdeMounin, seRomamereceumcaptulonumahistriadalingustica, bemmenospor ter produzidoqueporhaver transmitido[12]. Narealidade, e apesardeasobrasdosgramticoslatinos seremmaisdemoradamentedescritasnahis-triada lingustica do que as dos gregos,o seumrito sobretu-doodenosteremdadoaconhecer asreflexesgramaticaisefilosficasdos seus antecessores, na linha, alis, de outrosensi-namentosqueRomafoi buscar Grciasubjugada.No entanto,tambmsedeve ter emcontaa importncia dosgramticos latinos, sobretudo porque muitas das suas obras apon-tam, originalmente, parauma finalidadediferentedoestudofilo-sfico ou da doutrina gramatical.Note-se, por exemplo, que Varro(116-27a. C.), umgramticolatino, distingueousodalnguacomum do uso literrio (considerado como o bom uso), presta umaateno especial s questes etimolgicas e procede a uma codi-5 Chama-se'partes dodiscurso' ou'partesdaorao' scategoriassintcticas,como'verbo', 'adjectivo' ou'advrbio',que tambmpodemser designadascategorias gramaticais.o ESSENCIALSOBRE LINGUSTICA 33ficaodasregrasfundamentaisdalngua latina. Por outrolado,a obra de Quintiliano (c.40-100 d.C.),professor de retrica,des-tinava-se basicamente a formar o orador que utilizava a lngua paraconvencer o seu auditrio. E no se pode esquecer,por fim, EliusDonatus(sculoIVd. C.), autor daobraDePartibusOrationis,que se ocupa, como Dionsio de Trcia, da categorizaodas pa-lavras.AIDADEMDIAOsgramticoslatinosmantiveram-secomomodelodurantetodaaIdadeMdia. Nospasesnrdicose anglo-saxnicos, asgramticas latinas foramas primeiras a ser sistematicamentee l a ~boradasparao ensinodeumalnguaestrangeira- nestecasooLatimque, durantesculos, cumpriua funode lnguafranca.Nospasesdematrizromnica, oestudodas lnguasver-nculas- comoasvriaslnguasfaladasnaEuropaOcidental _erafeito, at meados do sculoXVI, a partir de gramticas escri-tasemLatime que seguiamo modelo das primitivasgramticaslatinas. Apartir dessaaltura, a alfabetizao recebeuum notvelimpulso, que prosseguiucoma possibilidade de difuso dos tex-tos escritos, nosquais seincluamasgramticas. Apartir daBblia de Mainz, com apenas 42 linhas e cujos cerca de 180 exem-plares foramimpressos entre 1452e1455nas oficinas deGutenberg(outalveza partir da Ars Minor,uma gramtica esco-lardeEliusDonatuscujaediopodeterantecedidoa daBbliade Gutenberg), a tipografiaassegurou uma difuso muito maior amuitosmaistextos. Asgramticasdaslnguasvernculase es-critasnessasmesmas lnguaspassaram, assim, achegar maisfacilmentesmos dosestudantesdapoca.EmPortugal, onde jsefalavaPortugushalgunssculos,a Gramtica da Linguagem Portuguesa que Ferno de Oliveira pu-blicouem1536,e a Gramtica da Lngua Portuguesa(1540), deJoo deBarros, soas primeirasgramticas do Portugus, escri-tasemPortugus. Almdese tratar deobrasescritas emvern-culo, estas gramticas fornecem informaes sobre a construodaspalavrase das frases. Masa reado estudo daslnguas que.f{.34 MARIAHELENAMIRA MATEUS / ALlNAVILLALVAo ESSENCIALSOBRE LINGuSTICA 35A Ortografiade Nunes de LeoAlguns exemplares esto dis-ponveisnosreservadosdaBi-bliotecaNacional. Afolhaderosto aqui reproduzida provm daedio digitalizada, que pode serconsultada em purl.pt/15.A edio maisrecente, que a4. a, tem introduo, notas e lei-turadeMariaLeonorCarvalhoBuescue foi publicadapelaIm-prensaNacional... CasadaMoe-da, em1983.tenceaosprimrdiosdoRenascimento e podelocalizar-se no in-cio do sculoXIV, a partir deumtratadodeDantesobrecatorzedialectositalianos6, quemostraa sensibilidadedopoetasdife-renasdialectais, emboraasconsiderepoucodignasdaverda-deiralnguaitaliana, tambmnofinal daIdadeMdia e no incio do Renascimen-toquesedumincrementodoensino daleiturae daescritaemvernculo, correspondendo s ne-cessidades provocadas pelas cir-cunstnciashistricasdapoca(como por exemploasviagensmartimas eas consequentestrocas econmicas). DuranteaprimeirametadedosculoXVI,surgem numerosas Cartinhas,ouCartilhas, para aprender a ler, uti-lizadas em Portugal mas tambmenviadaspara terraslongnquas,comoaCartinhapublicadaemconjuntocomaGramtica deJoodeBarros, ouaindicao,datadade 1512, deumenviodelivrosparaafndiacomase-guinteinformao Remete-seumcaixote de Cartilhas paraCochim[111.ApartirdosculoXVI publi-cam-sevrias Ortografias, dasquaisvalea penadestacara Or-tografia da Lngua Portuguesa,deDuarte Nunes de Leo(1576), as6 Apesar de escrito em Latim, no De Vulgari Eloquentia/1304-1305),Dante fazumelogiodalnguavulgar, quenoseucasoo Toscano, ln-gua que estnabase domoderno Italiano.conheceumaior desenvolvimento durante e a partir do sculoXVIfoi a fontica, emconsequnciadaimportnciaque se deu, pelaprimeiravez, lnguafalada. AdescrioqueFernodeOliveirafazdasvogaise dasconsoantesdoPortugusuminteressan-tssimoexemplodolugarderelevoemqueoautorcolocavaasquestesdearticulaodossons.oRENASCIMENTOE O INTERESSEPELOVERNCULOComoRenascimento desenvolveu-se, deformasistemtica,oestudodaslnguasparticulares. Afastando-sedatradicionalateno dadaa aspectos geraisque ultrapassavamaslnguas in-dividuais (por exemplo,as definies genricas de 'sujeito'e 'pre-dicado' comopartesindispensveisdaorao), osgramticoscomearama examinarascaractersticasquedistinguiamasln-guasentresi. O comeo dointeresse pelavariaodialectal per-A primeira gramtica portuguesaA primeira edio da Gramtica da Linguagem Portuguesa, de Fernode Oliveira, foi publicada emLisboa, em1536. O nico exemplar conhe-cido destaediopertence BibliotecaNacional, que, em1981, editouumfac-simile. Mais recentementefoidisponibilizadaumaversointegral naSrie Memriada Unguada BibliotecaNacional Digital (purl.pt/120j, dequeaqui se reproduz a folha de rosto.A terceira edio de 1933 efoipre-parada por Rodrigo de S Nogueira (Lis-boa: Jos Fernandes Jnior).Em 1975,a edio e notas preparadasporMariaLeonor CarvalhoBuescuso publica-daspelaImprensaNacional - CasadaMoeda. A ediomaisrecente, fixadapor Amadeu Torres e Carlos Assuno,foi publicada em 2000 pela Academia dasCincias de Lisboa.36 MARIAHELENAMIRA MATEUS / ALlNAVILLAL VAo ESSENCIALSOBRE LINGuSTICA 37_____________________Ilo Verdadeiro Mtodo de VieiraA.SrieMemriadaLnguadaBiblioteca Nacional Digitaldisponibi-lizaumareproduodigitalizadada1. edio do Verdadeiro Mtodo deEstudar, em purl.pt/118.. uma edio em cinco vo-lumes, de. Antnio SalgadoJnior,publicada -pela Sda CQsta.. Elntre1949 e 1952.A Gramtica FilosficaA SrieMemriadaLnguadaBi-bliotecaNacional Digital disponibilizauma reproduo digitalizada da1.aedi-odaGramtica Filosfica, publicadaem 1822, pela Academiadas Cinciasde Lisboa (purl.pt/128).incluindoa'ortografiabrbara' oua'sintaxesolecista', termosusadosparareferirerros de ortografiae de sintaxe.Apar destaperspectiva prticado ensinoe do estudoda ln-gua, ossculosXVII eXVIII foramprdigosemreflexesfilosfi-cas sobre a linguagem humana e as caractersticas universais daslnguas. Tendo como exemplo a Grammaire Gnrale et RaisonedosfrancesesArnault eLancelot (1660), surgiramnossculosseguintes, emvriaslnguas,gramticas filosficasque procura-vamosfundamentosdacapacidadehumanadefalare interpre-tavamasestruturasdas lnguas de acordocomaspectoslgicosdopensamento. EmPortugal, aobramaisnotvel econhecidanestedomniofoi aGramticaFilosficadaLnguaPortuguesa,de JernimoSoaresBarbosa.RegrasGerais, Breves e CompreensivasdaMelhor Ortografia, deBento Pereira (1666), e a Ortografia ou Arte de Escrever e Pronun-ciar com Acerto a Lngua Portuguesa, de Madureira Feij(17341.Entre ossculosXVI e XVIII, o ensinodaslnguas vernculasocupou um espao progressivamente mais amplo. Em Portugal,apar dasgramticas, dascartinhas edasortografias, surgiramdicionrios e vocabulrios - so descries do lxico da lngua por-tuguesa em que o Latim ocupa-va j uma parte diminuta.Notvel neste domnio oVo-cabulrio de Rafael deBluteau,uma obra enciclopdica em dezvolumes, publicada entre1712e1721.Foi tambm no sculo XVIII,ecomofirmeapoiodoMar-qus de Pombal, que floresceueseimpsaimportnciadaaprendizagemdo Portugusnasescolasbsicas. LusAn-tnioVerneyiniciaoseuVer-dadeiro Mtodo de Estudarparaser til RepblicaeIgreja, Proporcionado ao EstiloeNecessidade de Portugal(1746) pelaafirmaode que necessrio aprender a gram-ticadalnguamaternacomobasee'porta' paraoutroses-tudos. Foi, alis, a preocupaocomo ensino da'normaculta'e da correcta ortografia e sinta-xe que levou criao,no tem-podePombal, daReal MesaCensria, cuja funo consistiaem eliminar os textos que apre-sentassemaspectoscensur-____________ veis de contedooude forma,ONDECOMEA A LINGuSTICA?Pode dizer-se que a especulao acerca da origem das lnguas quaseinfrutfera: nohregistosenohcomocontornar aefemeridade da produo lingustica. Os enunciados vivem enquan-to so produzidos e recebidos, pelo que deles mais no pode res-tar doqueamemrianosfalantesenvolvidosnasituaodeenunciao. Sabersea capacidadedelinguagemnasceucomaespciehumana, ouseo desenvolvimento do homo loquens (ex-pressolatinausadaparareferir aespciehumanadotadadecapacidadedelinguagem) posterior, e setodasaslnguas tmorigemnumnicosistemalingusticoousea diversidadeumdado de partida,so desgnios to(in)alcanveis, para j, quantoo do conhecimento da origeme evoluo da prpria humanidade.Adificuldadedeencontrar umateoriasatisfatoriamenteex-plicativa acerca da origem de todasas lnguas levoua Socit deLinguistiquedeParisa aprovar, em1866, umamooproibindoqualquer referncia origem da linguagem nas suas reunies. Estaproibionofez, contudo, desaparecer o interesse pelarelaohistrica e genealgica entre as lnguas. Foi, alis, esse interesseque motivoua enormeaceitaocomque foi recebidaumacon-fernciasobreoSnscrito, apresentadapor WilliamJones, umestudioso de lnguas orientais, na Sociedade Asitica de Bengala,em1786. Nessa conferncia, Jones afirmou que o Snscrito pos-suaumaestruturamaravilhosa, maisperfeitadoqueoGregoemais abundante do que o Latim, mas que, simultaneamente, evi-denciavaumestreitoparentesconoscomessasduaslnguasmas tambm com o Cltico, o Gtico e o antigo Persa. A existn-40 MARIAHELENAMIRAMATEUS I ALlNAVILLALVA oESSENCIALSOBRE LINGUSTICA 41 ,IApalavra 'lingustica'Cabe aqui abrir um parntese sobre a utili-zao do termo lingustica,jque algumare-lao existeentreo seuusoe. a consideraodalingusticacomoumdomniocientfico.'Sprachwissenschaft', 'Iinguistics', 'Iinguistique'e 'lingustica' so termos de lnguas diferentes(Alemo, Ingls, Francs e Portugus, respec-tivamente) que no comearam aser usados si-multaneamente. Com os linguistas alemes, otermo Sprachwissenschaft surgiu apartir da se-gunda metade do sculo XIX. Ouso dos termosequivalentes nas outras lnguas bem posterior.Vale como curiosidade referir que, athbem tempo, a palavrainglesa'Iinguist'signi-ficava, sobretudo, 'aquelequesabelnguas'.A Romnia(designao que engloba o conjun-todosparsesromnicos) tambmfoi muitorenitentenasubstituiodadenominao tra-diCional de filologia (que estuda textos escritos)pela de 'lingustica' quando se tratava do estu-do das lnguas.Note-se, por exemplo,que nosanos50dosculoXXasdisciplinasque trata-vamdelnguanaFaculdadedeLetrasdelis-boa - mesmoquando jsefalavadotrabalhode Saussure -se chamavam 'Filologia Portugue-sa'e 'Gramtica Comparativa'.vivo que nasce, cresce e morre aproximou o seuestudo daship-teses formuladas por Darwin sobre a origem das espcies e a suaevoluopormeiodeumaseleconatural. Noentanto, nofoipor causa deste enfo-que histrico queessa poca foi enten-didacomoa donas-cimento da lingusticacomo cincia.Foi simemconsequnciadadescriosistemti-ca, rigorosa e compa-rada das unidadesfonticasemorfol-gicas das lnguas emanlise. Nosetra-tava j de estudar as-pectos histricosou filosficos atra-vs das lnguas, mas,como dizia FranzBopp [05], as lnguaseram estudadas por simesmas, como objec-toenocomomeiode conhecimento.Este o momen-toemqueseconsi-dera que a lingusticase constitui como umdomniodoconheci-A. marca visvelaparece nos trabalhos de toda uma pliadede investigadores alemes e nrdicos,maioritariamente redigidos que fixarama relao entre as lnguas indo-europeias,eVidenCiando as correspondncias fonticas emorfolgicasdetectadasnaanlisedaslnguasescandinavasegermnicas,doGregoe doLatim, doLituano, doArmnio, doSnscritoedoIraniano.ciadeumtal parentescopoderiavira mostrarquetodasderiva-vamde uma fontecomum que talvez j no existisse, sendopor-tantonecessrioproceder a umacomparaodoSnscritocomlnguas europeias, paraque sepudesseir mais longe no conheci-mentodasuaorigeme dassuascaractersticasgramaticais. Seesseparentescoviesseaser provado, entoalnguafaladanandiaantigaeaslnguasqueestavamnabasedaslnguaseuro-peias actuais teriam tido uma 'me'comum.A hiptese da existn-cia dessa protolngua desconhecida veio a ser aceite, tratando-sedeumarecriaoa partir dosaspectoscomunsque erapossveldetectarentreassuas'filhas' (aslnguasantigasdandiaedaEuropa), ouseja, entreaslnguas a quesepodia teracesso,fos-sedirecto, atravsdedocumentosescritos, ouindirecto, anali-sandoaslnguas contemporneas. Essa protolngua passoua serdenominadaIndo-europeu.Iniciou-se, ento, a grandeempresadoslinguistasdapocaque, seguindoointeressecontemporneopeladescobertadasorigens do pensamento e da religio, o estenderam ao estudo daslnguas, tomandoemmosotrabalhodeestabelecer sistemati-camente a comparao entre elas. Dos estudiosos comparatistascujasobrasaindahojesomerecedorasdeateno, destacam--se Rasmus Rask (1787-1832), fillogo dinamarqus, e Franz Bopp(1791-1867), fillogoalemo, queestabeleceramprincpiosemtodos parao estudo comparado das lnguas a partir da anlisefilolgicadetextos. Aestes nomes deveacrescentar-seodeWilhelmvonHumboldt (1767-1835), linguistaepolticoalemoqueseinteressoupelarelaoentreo homeme a linguagem(