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Omnes Humanitate – Revista Científica da ESAB - janeiro a junho de 2013, Vol. 3. N. 9
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Vila Velha – ES, janeiro a junho
de 2013, Vol. 3. N. 9. Omnes Humanitate
Revista Científica da ESAB
Omnes Humanitate – Revista Científica da ESAB - janeiro a junho de 2013, Vol. 3. N. 9
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OMNES HUMANITATE
Revista Científica da Escola Superior Aberta do Brasil
Diretor Presidente
Sr. Nildo Ferreira
Diretora Acadêmica
Ms. Beatriz Christo Gobbi
CORPO EDITORIAL
Editor
Dr. Carlos Cariacás
Conselho Editorial
Ma. Doralice Alves Nunes – Faculdade Católica Salesiana (Vitória – ES, Brasil)
Me. Francisco Pinheiro de Assis – UFAC (Rio Branco – AC, Brasil)
Ma.Isabele Santos Eleotério – FAESA (Vitória – ES, Brasil)
Francisco Daniel Mota Lima – USP (São Paulo – SP, Brasil)
Conselho Científico
Dr. Airton Chaves da Rocha- UFAC (Rio Branco – AC, Brasil)
Dr. Carlos Cariacás – ESAB (Espírito Santo – ES, Brasil)
Dra. Daniela Zanetti – UFES (Espírito Santo – ES, Brasil)
Me. Beatriz Christo Gobbi
Omnes Humanitate – Revista Científica da ESAB - janeiro a junho de 2013, Vol. 3. N. 9
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ISSN 2179-9628
OMNES HUMANITATE
Revista Científica da
Escola Superior Aberta do Brasil
Vila Velha – ES, janeiro-junho, vol. 3, no. 09.
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Projeto Gráfico e Diagramação
Anderson de Souza Couto
Na Capa
Foto disposta em Blog in< http://www.sabervencer.com.br/2013/06/marqueteiro-
improvisa-discurso-insonso.html >
ISSN 2179-9628
Ficha Catalográfica
Omnes Humanitate: Revista Científica da Escola Superior Aberta do Brasil. – v.3, n.9 (jan/jun. 2013). – Vila Velha, ES: Escola Superior Aberta do Brasil, 2013. Trimestral. ISSN 2179-9628 1. Conhecimento Multidisciplinar – Periódico. I. Escola Superior Aberta do Brasil
Os artigos publicados são de inteira responsabilidade dos autores e a Instituição e
os organismos editoriais não se responsabilizam pelas ideias, conceitos e opiniões
emitidos.
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SUMÁRIO
EDITORIAL ..................................................................................................................................06
EDUCAÇÃO , LINGUAGEM E CULTURA
O uso dos dispositivos móveis na educação online: diminuindo a distância e
ampliando o conhecimento
Simone de Lucena Ferreira, Silvio Fernandes Menezes Vasconcelos , Vinícius Sampaio
Silva....................................................................................................................................................08 Organização dos espaços de uma brinquedoteca
Karina Cristiane Belz Garcia.........................................................................................................17
O uso do “amém” em cultos evangélicos
Claudia Silva Fernandes..............................................................................................................30
GESTÃO
Aspectos discursivos da comunicação empresarial contemporânea
Rodrigo Leite da Silva....................................................................................................................38
Estudo exploratório sobre a visão dos gestores de produção e gestores de RH nas
empresas
Renato Brito do Carmo................................................................................................................47
TI e Meio Ambiente: Uma Reflexão Sobre os Impactos Ambientais, Legislação e
Soluções Propostas
Diego Santana Silveira....................................................................................................................57
Normas para o envio de artigos e/ou resenhas...................................................................68
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EDITORIAL
As ruas que morrem à noite,
Solitárias, meu Deus,
Sem gemidos,
O que dizem elas
E a quem dizem?
As ruas não dormem, meninos,
As ruas velam.
E por que velam?
Pastoras resignadas,
Assistem o sonho Humano
Não comunicado (e perdido)
Dos seres
Descobrindo-se uns nos outros,
Perplexos e tardios.
As ruas velam silenciosas
Por esses homens
Mortos
Nos passos apressados
Da humanidade.
A poesia acima, do poeta paraense Eleazar Carrias, pode ser usada com
tranquilidade para expressar a atual conjuntura de acontecimentos que se desdobram pelo
país. Contemplamos nas semanas anteriores uma onda de exigências cidadãs por qualidade
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nos serviços públicos e, sobretudo, contra a famigerada corrupção que em seu estado de
metástase se acomodou nas entranhas da vida brasileira. Este número da Omnes Humanidade
quer ser extensão dos anseios de nosso povo em busca não do utópico e demasiado, mas
do necessário e urgente.
As ruas, diferente do que expressa o poeta, não vigiaram somente, outrossim,
testemunharam a possibilidade de um novo alvorecer. Caberá às ruas relatarem no futuro
que o sentido e manifesto não foi à toa ou, até mesmo, uma simples histeria coletiva.
Oxalá, que não!
A revista traz em seu número artigos das áreas da Educação, Gestão e Tecnologia –
em número de seis (tão somente), mas muito preciosos.
Da educação recebemos a contribuição de Ferreira, Vasconcelos e Silva com o seu
artigo O uso dos dispositivos móveis na educação online: diminuindo a distância e ampliando o
conhecimento, bem como ficamos gratos pela contribuição de Belz Garcia com a produção do
texto Organização dos espaços de uma brinquedoteca e, por fim, pelo texto de Fernades com o seu
O uso do “amém” em cultos evangélicos.
Na área de Gestão, com a nítida marca interdisciplinar (gestão, comunicação,
linguagem) está o artigo de Leite da Silva com o seu Aspectos discursivos da comunicação
empresarial contemporânea. Bem como o artigo de Brito do Carmo intitulado Estudo exploratório
sobre a visão dos gestores de produção e gestores de RH nas empresas.
No tangente a Tecnologia há a relevante pesquisa de Santana Silveira sobre TI e
Meio Ambiente: Uma Reflexão Sobre os Impactos Ambientais, Legislação e Soluções Propostas.
Que as esperanças trazidas pelos ventos do fim do outono em nosso país seja
motivo para lermos com mais satisfação este número da Omnes Humanitate (que abre o seu
terceiro volume).
Na estima de sempre
Carlos Cariacás.
- o editor –
Em São Paulo, no terceiro dia do inverno de 2013.
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O uso dos dispositivos móveis na educação online: diminuindo a distância e
ampliando o conhecimento
_______________________________________________________________
Simone de Lucena Ferreira
Doutorado em Educação, Universidade Federal da Bahia
Silvio Fernandes Menezes Vasconcelos
Licenciatura em Informática, Universidade Tiradentes
Vinícius Sampaio Silva
Licenciatura em Letras/Inglês, Universidade Tiradentes
_______________________________________________________________
Resumo
As tecnologias de informação e comunicação estão presentes em diversos setores da sociedade desde meados
do século XX, especialmente com a expansão massiva da internet e dos meios de comunicação e informação
baseados nesta ferramenta de conectividade. Entretanto, no campo educacional, ainda são consideradas
poucas as experiências que utilizam estas tecnologias de maneira a oportunizar aos alunos a construção de
aprendizagens significativas. Esta pesquisa tem como objetivo a construção de um sistema cuja proposta é a
de que seja utilizado em dispositivos eletrônicos móveis, numa perspectiva de convergência de tecnologias,
sendo produzido a partir da linguagem computacional Java (JEE e JME).
Palavras-chave: aplicação WEB; TIC; tecnologias móveis
Introdução
Desde meados do século XX, a presença de recursos tecnológicos na economia,
cultura, política e comunicação tem sido cada vez mais notória, visto que as demandas
nestas áreas crescem massivamente e ampliam as possibilidades de produção e veiculação.
No âmbito educacional não tem sido diferente. De maneira mais tímida, a educação
também tem sofrido mudanças por conta da entrada das mídias. Estas têm oportunizado a
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construção de aprendizagens significativas dentro e fora dos espaços escolares. Pensando
nesta perspectiva de constantes e profundas mudanças, o presente trabalho encontra a sua
relevância na busca de novos formatos de ensino para que contribua de forma positiva com
a formação de sujeitos através da educação, trazendo para o contexto da produção de
conhecimento científico a interatividade e a coletividade, fortemente presentes no
ciberespaço que surge com a internet.
Ao longo da história, a Educação a Distância (EaD) foi considerada como uma
alternativa educacional para aqueles que não tiveram a oportunidade de obter sua formação
educativa de forma presencial. Com o desenvolvimento e a ampliação das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC), este contexto começa a ser relativizado e o alcance da
EaD toma dimensões maiores, com um público cada vez mais exigente, demandando a
construção de desenhos didáticos e curriculares capazes de oferecer educação online de
qualidade. A educação online é uma modalidade educacional na qual pessoas, em locais
físicos distintos, interagem por meio de dispositivos tecnológicos que permitem acesso ao
ciberespaço (Lévy, 1999), tornando-se necessárias inovações tecnológicas.
Desenvolvimento da pesquisa
Este projeto objetivou estudar o comportamento da sociedade contemporânea no
que cerne os processos de aprendizagem e as necessidades de consumo de tecnologia, bem
como, pautado nestas características sociais, produzir um Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA) a partir do qual fosse possível não somente disponibilizar materiais
pré-prontos para os alunos, mas ampliar as possibilidades de criação também por parte
destes, uma vez que os princípios básicos que norteiam os comportamentos da “geração
digital” (Tapscott, 2011) perpassam por questões relacionadas à autoria e produção, de
forma pessoal e colaborativa, utilizando recursos tecnológicos digitais com o suporte da
rede mundial de computadores.
Pensando em melhores formas de promover interações diversas em meio aos
processos educacionais, a mobilidade entra como peça chave para a diversificação das
atividades, permitindo uma flexibilidade ainda maior para que os sujeitos possam construir,
compartilhar, verificar e produzir resultados, numa perspectiva efetiva de aprendizagem.
Com uma interface amigável e congregando ferramentas fundamentais para o
desenvolvimento de atividades educacionais interativas, foi construído o AVA “Educação
Móvel” que utiliza uma concepção de aprendizagem interativa e favorece uma comunicação
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bidirecional nos sentidos todos - todos. Além disso, o ambiente possibilitará que o
professor envie mensagens para uma turma, para um grupo de alunos e também para um
único aluno se assim for necessário, bem como postar arquivos (conteúdos) da mesma
maneira e podem criar atividades para os alunos responderem, sendo utilizada uma
estrutura lógica (software) na linguagem JAVA JDK, JAVA J2EE e composta por um banco
de dados Firebird e um servidor de aplicação web TomCat.
A partir deste ambiente, com o apoio de uma mídia tecnológica móvel (PDA,
smartphone, tablet, netbook, notebook, etc.) e uma conexão com a internet (banda larga,
3G, 4G, etc.), é possível dinamizar os processos relacionados ao ensino e à aprendizagem,
tanto na educação básica quanto no ensino superior, abordando conteúdos curriculares e
científicos imprescindíveis para a formação educativa e profissional dos sujeitos de maneira
ativa, produtiva e interativa.
A seguir, detalha-se o desenvolvimento do sistema, bem como sua estrutura física
e algumas telas para que possa ser verificado o funcionamento do ambiente:
1ª fase: desktop
Constitui-se de uma tela gerencial, espaço onde são realizados os cadastros dos
diversos segmentos do AVA, quais sejam disciplinas, professores, alunos, turmas, etc., bem
como movimentos, principalmente postagens de conteúdos, exercícios avaliativos,
gabaritos, etc.
2ª fase: tablet/netbook
A partir de interfaces móveis, dentre as principais inovações do projeto aqui
detalhado, os alunos podem acessar o ambiente e estudar dentro do espaço da sala de aula,
sob orientação do profissional docente responsável pela turma, realizando exercícios,
avaliações, produzindo e publicando materiais diversos relacionados direta ou
indiretamente com o currículo escolar, além de ser possível interagir com os seus colegas
de turma e professores também pelo ambiente. Para isto, utilizam dispositivos móveis
como tablets, netbooks, notebooks, PDAs e smartphones, com capacidade de memória
suficiente para baixar e abrir arquivos em diferentes formatos. Fora da sala de aula, também
é possível acessar o sistema, bastando que o dispositivo móvel capte algum sinal de
conexão com a internet.
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3ª fase: WEB
Recurso utilizado por ambos (aluno e professor) para execução de atividades e
compartilhamento de arquivos em rede, como para a elaboração de materiais e avaliação.
Também há no desenvolvimento do sistema a possibilidade de importação de
dados (como informações sobre turmas, professores, disciplinas, etc.) criados a partir de
uma outra aplicação existente na instituição, como um sistema acadêmico por exemplo.
A estrutura física do sistema possui a configuração apresentada na Figura 1. Para a
sua utilização, é necessário um Servidor, responsável por manter os dados do Ambiente
Virtual de Aprendizagem, e um Switch, responsável pela conexão entre o servidor e a rede
sem fio (Wi-Fi); além disto, é necessário um dspositivo móvel (ilustrado como tablets na
Figura 1) bem como acesso à internet (banda larga, 3G, 4G, etc.).
Figura 1. Sala de aula com utilização de dispositivo móvel.
Para melhor ilustrar a configuração do sistema e as opções pelas quais se é
possível navegar, seguem algumas imagens com as principais telas do sistema e suas
respectivas legendas.
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Figura 2. Tela de entrada (login) do sistema.
Figura 3.
Figura 4. Tela do menu inicial do sistema.
Figura 5. Tela do menu com opção de cadastro.
Figura 6. Tela do menu Movimento e seus sub-menus.
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Figura 7. Tela do cadastro de cursos.
Figura 8. Tela de inclusão/alteração/exclusão de cursos.
Conclusão
Nos últimos anos, temos percebido um aumento no número de cursos de EaD.
Em 2010 o Brasil possuía cerca de 84.713 alunos frequentando cursos virtuais. Recente
pesquisa realizada pelo Centro de Estudos sobre Tecnologia da Informação e Comunicação
(Cetic.br) demonstra um aumento no número de matrículas em cursos EaD para mais de
900.000, dentre os mais de 900 cursos ofertados em quase 230 instituições de ensino a
distância credenciadas, ainda que haja um número de evasão mais alto do que a educação
presencial.
Apesar da internet ser um dos espaços que melhor possibilita a interatividade para
os cursos de EaD, nem sempre este meio é o mais usado pelo fato da maior parte da
população brasileira ainda não estar conectada à rede mundial de computadores de maneira
eficiente, especialmente pelo fato de as regiões distantes das áreas costeiras e grandes
capitais não serem privilegiadas com uma boa conexão. Contudo, o fato de termos um
baixo índice da população conectada não pode servir de justificativa para não criarmos
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alternativas de cursos interativos na internet. É necessário pensar no desenvolvimento de
espaços virtuais interativos e buscar meios de garantir o acesso ao maior número possível
de pessoas a essa tecnologia.
A questão da mobilidade na sociedade brasileira também apresenta características
bastante importantes e está diretamente lgada ao cotidiano da população. É fácil perceber
este aspecto, bastando para isso entender que existem muito mais equipamentos móveis
(celulares, notebooks) do que pessoas no país. Cada pessoa tem, pelo menos, um telefone
celular e grande parte da população é adepta da convergência (Jenkins, 2009) entre o
celular, o tablet e o netbook, por exemplo.
Tendo esta perspectiva em mente, e pensando sob a ótica de Tapscott (2011)
quando trata do comportamento da geração digital, a inserção das tecnologias de
informação e comunicação no âmbito educacional podem oferecer novas formas de
aprendizagem que, em sintonia com os métodos clássicos de ensino, podem transformar o
contexto da sala de aula, possibilitando diversas formas de aprendizagem, respeitando as
limitações e facilidades de cada aluno e engajando-os num contexto sociocultural permeado
pela tecnologia.
O espaço escolar acaba sendo ampliado, uma vez que a mobilidade permite aos
alunos e professores acessar o sistema de educação virtual a partir de qualquer dispositivo e
em qualquer espaço físico, não somente o espaço do edifício escolar. Esta maleabilidade da
educação online torna-se, então, atrativa para aqueles alunos que não têm disponibilidade
de tempo ou que encontram dificuldades de deslocamento, para que a sua qualificação não
fique prejudicada e a formação educativa aconteça de maneira significativa e multimídia.
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<http://seer.ufrgs.br/renote/article/view/13572/8832>, Capa > v. 7, n. 3 (2009). Acesso
em: 21 de Agosto de 2010 18:39.
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FRANCISCATO, Fabio Teixeira. Novas Tecnologia da Educação. RENOTE - Revista
Novas Tecnologias na Educação. Disponível em:
<http://seer.ufrgs.br/renote/article/view/14671/8580>, Capa > v. 6, n. 2 (2008). Acesso
em: 21 de Agosto de 2010 18:39.
Organização dos espaços de uma brinquedoteca
____________________________________________________________
Karina Cristiane Belz Garcia
Mestre em Educação pela UFSC
_____________________________________________________________________________
RESUMO
A presença de espaços para brincar tem um papel fundamental na vida das crianças, uma vez que estes permitem que a criança aprenda, adquira conhecimentos, desenvolva habilidades e diferentes linguagens de forma natural e agradável. A existência de brinquedotecas na vida das crianças vem reforçar esta idéia, porém é necessário a clareza que a criação deste espaço lúdico prevê um espaço físico adequado, disponbilizando brinquedos, jogos e materiais diversificados e que leve em consideração os aspectos do desenvolvimento infantil. Para tanto, este artigo apresenta algumas considerações sobre a organização do espaço, infraestrura e acervo lúdico de uma brinquedoteca, entendendo que este deve ser um local de aprendizagens, de criação, onde a criança possa brincar com liberdade, criar e recriar seus brinquedos, seus jogos e suas brincadeiras, bem como, seu mundo de faz-de-conta.
Palavras-chave: brinquedoteca, espaço, brinquedos, jogos.
ABSTRACT
The presence of spaces for children to play has a key role in their lives, since they allow the child to learn, acquire knowledge, develop skills and different languages in a natural and joyful way. The existence of playrooms in children's lives comes to reinforce this idea, but it is necessary to clarity that the creation of this kind of space requires suitable toys, games and diversified materials that takes into account the aspects of child development. Therefore, this paper presents some considerations about the organization of space, infrastructure and playful collection of a playroom, understanding that this should be a place of learning, creation, where the child can play with freedom, create and recreate their toys, their games and their play as well as his world of make-believe
.Keywords: playroom , space, toys, games.
Introdução
O artigo em questão tem como objetivo apresentar algumas considerações sobre
a organização dos espaços, estrutura e acervo lúdico de uma brinquedoteca. Para tanto,
primeiramente, são elencadas questões sobre os espaços disponíveis na atualidade que são
destinados ao brincar e qual a importância que os mesmos assumem na vida das crianças.
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Deste modo, a brinquedoteca é apresentada como um dos espaços destinado ao
jogo, ao brincar e a brincadeira, enfatizando que esta deve ser concebida como um espaço
fundamental para que a criança construa sua aprendizagem, sua identidade, autonomia e
diferentes linguagens.
Em sequência, o artigo dá alguns destaques sobre a origem histórica da
Brinquedoteca e segue efetuando algumas considerações a respeito das funções que esta
assume em nossa sociedade.
Por fim, faz-se a apresentação da organização, estrutura, acervo de objetos
lúdicos de uma brinquedoteca, enfatizando que este espaço deve ser um planejado, sendo
muito mais do que um simples espaço para o depósito de brinquedos. Seu objetivo
principal deve ser de estimular o brincar e a brincadeira, disponibilizando uma variedade de
brinquedos em um local planejado e organizado, atendendo de melhor forma o público
infantil.
Esclarece-se que o presente artigo utilizou-se da pesquisa bibliográfica para
alcançar o objetivo proposto, pautando-se em grande pesquisadores sobre as
brinquedotecas como Kischimoto (1994, 1996, 1998, 2006), Cunha (1994, 1995, 2001),
Bomtempo (1992), Muniz (2002) e Santos (2002).
Espaços para brincar
É sabido, na atualidade, qual a importância de se resguardar um espaço que
possibilite que a criança vivencie o brincar, o jogo e a brincadeira. Devido a nova
organização de nossa sociedade, nossas crianças e suas famílias tem experimentado poucas
possibilidades de criação e vivência de espaços destinados para o desenvolvimento da
cultura lúdica. É perceptível também que com o crescimento das cidades limitou-se os
espaços de brincar para as crianças e com a saída da mulher para o mercado de trabalho
propiciou a ida das crianças para um determinado tipo de instituição.
Deste modo, é de grande importância garantir-se um espaço para que a criança
vivencie a cultura lúdica. Principalmente nas grandes cidades, com o advento do
desenvolvimento industrial, com a urbanização e os meios de comunicação de massa,
houve um decréscimo na transmissão da cultura lúdica entre as crianças e entre os adultos.
Assim, é fundamental criar novas situações de discussão e reflexão sobre os espaços
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garantidos para a criança exercer o ato de brincar.
Para a criança da atualidade há dificuldade em ela encontrar espaços adequados para
que ela exerça seu direito de brincar, sendo muitas vezes este espaço bastante pequeno e
cheio de restrições, ou, em outras situações, o brincar se torna caro e sofisticado,
acontecendo quase que exclusivamente em shoppings e parques infantis.
Nesse sentido, a prática lúdica precisa ser ampliada para espaços que ofereçam
inúmeras possibilidades, garantindo uma relação entre a criança e o brinquedo e também
com seus pares. O ato de brincar não pode ficar restrito apenas em espaços como o da casa
da criança ou o espaço existente na escola. Estes espaços de estímulo organizado tendem
ocasionar a diminuição do nível de autonomia das crianças, impactando no seu
desenvolvimento motriz, social e emocional. Também a criança passa a ter mais dificuldade
em se defender e se adaptar às novas circunstancias que lhes são impostas no mundo atual.
A garantia de espaços destinados ao brincar pode perpassar pela criação de políticas
públicas e privadas de construção e manutenção de espaços para brincar. Estes espaços
devem garantir a existência de diversos materiais lúdicos e a presença de brinquedistas
e/ou recreadores, visando assim, o cumprimento básico do principio da educação do ser
humano: o desenvolvimento integral da criança e sua plena integração/socialização com a
família e com a sociedade.
Este espaço estruturado para brincar pode tornar-se um ambiente rico para o
processo de aprendizagem da criança e também para seu desenvolvimento; além de
favorecer a socialização entre as pessoas. Por isso, o brincar tem grande valor educativo,
seja na formação ou no desenvolvimento infantil.
Sanchez (2004) enfatiza que é no brincar espontâneo que a criança tem
oportunidade de vivenciar diferentes conflitos, atos de solidariedade, de amizade e de
rompimento, de dominação, de inclusão, de autoridade e de transgressão com as demais
crianças e/ou adultos. Ou seja, é durante o brincar que a criança constrói, destrói e
reconstrói o mundo a sua volta, sempre lhe atribuindo novos significados.
Em 1998, Friedmann já apontava que a criança do mundo atual brincava menos em
comparação com as crianças de 50 anos atrás e atribuiu este fato devido ao crescimento
tecnológico. Ou seja, o chamado “mundo moderno” trouxe consigo a diminuição das
interações sociais entre crianças e crianças e crianças e adultos e que são tão importantes
para o desenvolvimento humano.
Constitucionalmente a criança tem direito ao brincar e isso implica afirmar que
todas as crianças devem ter as mínimas condições para brincar nos locais onde vivem.
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Deste modo, cabe ao mundo adulto o dever de ofertar a elas um espaço lúdico com
qualidade e segurança.
Deste modo, a existência de espaço para o brincar é um elemento fundamental
para a ampliação do repertório de vida e de conhecimento da criança. Para tanto é
fundamental que espaços como as brinquedotecas sejam garantidos para que se fortaleça a
autonomia da criança, sua capacidade de criação, sua solidariedade e cooperação com seus
pares e sua consciência coletiva.
O surgimento das brinquedotecas
Segundo a Associação Brasileira de Brinquedoteca é no ano de 1934 que surgem as
primeiras brinquedotecas. Devido a uma queixa de roubos em uma loja de brinquedos a um
diretor de uma escola municipal em Los Angeles, chegou-se à conclusão de que as crianças
americanas não tinham com o que brincar. Foi assim que surgiu o Los Angeles Toy Loan,
que existe até hoje e que funciona como um serviço de empréstimo de brinquedos para a
comunidade.
É no ano de 1963, na Suécia, que a ideia da criação de brinquedotecas toma mais
forma, onde passa-se a realizar o empréstimo de brinquedos para crianças com algum tipo
de deficiência e também a prestar orientações para as famílias de como estes poderiam
brincar com seus filhos e estimulá-los. Assim, duas professores, que eram mães de crianças
com algum tipo de deficiência, fundam a LEKOTEK (ludoteca) na cidade de Estocolmo.
A partir do ano de 1967, na Inglaterra surgem as Toy Libraries (biblioteca de
brinquedos), um espaço onde as crianças podiam escolher seu brinquedo, levá-lo para casa
e depois devolve-lo passado alguns dias. Com o passar do tempo, este serviço foi sendo
expandido, deixando de ser apenas um serviço de empréstimo de brinquedos, e passou a
ofertar também apoio aos familiares, orientação educacional, estímulo à socialização e
resgate da cultura lúdica da população.
Já no Brasil a criação das primeiras brinquedotecas também objetivavam a oferecer
estímulos para as crianças com algum tipo de deficiência. Sendo que no ano de 1971,
durante a inauguração da Associação de Pais e Amigo dos Excepcionais (APAE) de São
Paulo houve uma exposição de brinquedos pedagógicos e que devido ao interesse que
despertou na comunidade a exposição de brinquedos pedagógicos foi transformado em um
Setor de Recursos Pedagógicos.
No ano de 1973 foi implantado na APAE de São Paulo o Sistema de Rodízios de
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Brinquedos e Materiais Pedagógicos, a Ludoteca. Deste modo, os brinquedos do Setor
Educacional passaram a ser disponibilizados para a comunidade no mesmo padrão
desenvolvido pelas bibliotecas circulantes.
Em 1981, na cidade de Indianapólis (SP) é montada a primeira brinquedoteca do
Brasil e que teve a pedagoga Nylse Cunha como diretora e a pessoa responsável pela
criação do termo Brinquedoteca. No ano de 1984, há um aumento do interesse sobre o
assunto e surge aí a necessidade da criação de uma associação que se responsabilizasse pela
demanda crescente em torno do tema Brinquedoteca. Desde então, a Assosciação Brasileira
de Brinquedotecas (ABBri) vem se responsabilizando pelas divulgações a favor da
brincadeira e do brincar, da formação dos brinquedista e prestando auxílio na montagem
de brinquedotecas por todo o Brasil.
Atualmente existem cerca de 300 brinquedotecas no Brasil e encontram-se
disponíveis em escolas, universidades, creches, centros comunitários e em hospitais com o
objetivo de valorizar a cultura lúdica infantil.
As funções da brinquedoteca
A brinquedoteca é um espaço positivo para o brincar e dotado de variados
brinquedos com o objetivo de possibilitar à criança interações por meio do brinquedo e
perpetuação de uma cultura lúdica. Assim, a brinquedoteca tem diferentes objetivos, que
ora são lúdicos e ora possuem a finalidade de aprendizagem.
O motivo de criação e o objetivo de uma brinquedoteca depende muito do local e
da comunidade que utilizará seu serviço, da instituição que lhe manterá e da faixa etária que
será atendida. Estes elementos associados ao contexto sócio-cultural onde a brinquedoteca
está inserida poderão definir o objetivo da brinquedoteca, podendo existir àquelas que
visam somente o empréstimos de brinquedos, outras para se testar algum brinquedo, outras
para ações terapêuticas e por fim, àquelas que estão voltadas para o ensino e para oferecer
suporte a uma prática educativa.
É fundamental que se tenha atenção quanto a essência da brinquedoteca, sendo este
uma ambiente que valoriza e promove o brincar, ou seja, um espaço incentivador do
brincar (CUNHA, 1997; KISHIMOTO, 1992).
Há diversos autores que discutem a finalidade da brinquedoteca e as possibilidades
que este ambiente favorece para o desenvolvimento infantil, sendo que para Friedmann
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(1998a) a brinquedoteca passa a ser um meio de descobrir conhecimentos sobre o mundo.
Já Kishimoto (1998b) afirma que a brinquedoteca incentiva a autonomia da criança,
desenvolve o senso crítico, promove o trabalho em grupo, a socialização e o
desenvolvimento infantil, além da comunicação, da criatividade, da imaginação e por fim, o
desenvolvimento de atividades lúdicas. (KISHIMOTO, 1998b; CUNHA, 1998; MUNIZ,
2000; SANTOS, 2002).
Para Santos (2000) a brinquedoteca é um espaço destinado ao lúdico, ao
desenvolvimento da imaginação, da criatividades, da auto-estima, do pensamento, da
sensibilidade, do experimento de diferente emoções, da construção de conhecimentos e
habilidades. Para Wajskop (1992) a brinquedoteca é um espaço contínuo de formação de
brinquedistas e dever servir também à pesquisa sobre brinquedos, brincadeiras e sobre o
brincar infantil.
Já para Vectore e Kishimoto (2001) a brinquedoteca pode ser compreendida como
um palco onde ocorrem diversas situações reais que são vivenciadas pelas crianças ou
veiculadas pela mídia. Wanderlind et al. (2006) coloca que a brinquedoteca é um espaço que
tem finalidade de estimular a criança brincar, dando possibilidade que esta acesse a uma
variedade de brinquedos dentro de uma espaço preparado para o brincar. Bomtempo
(1992) entende a brinquedoteca como um espaço da criança e que permite a realização de
diversos jogos e brincadeiras.
Para Fortuna (2011) a brinquedoteca deve cumprir sua função que é propiciar a
brincadeira e valorizar o ato de brincar, assim é fundamental que este espaço seja
organizado com diversos brinquedos e brincadeiras, que permita o encontro de diferentes
pares (crianças e crianças, adultos e crianças) e que haja com comprometimento contínuo
sobre o brincar.
Cunha (2001, p. 15 e 16) coloca que,
[...] a brinquedoteca é um espaço criado para favorecer a brincadeira, [...] aonde a criança (e os adultos) vão para brincar livremente, com todo o estímulo à manifestação de potencialidades e necessidades lúdicas". E ainda, "muitos brinquedos, jogos variados e diversos materiais que permitem expressão da criatividade". Desta forma, a autora disserta que a brinquedoteca propicia a construção do saber, sendo uma deliciosa aventura, na qual a busca pelo saber é espontânea e prazerosa.
É no espaço da brinquedoteca que as crianças podem assumir o sentimento de
amor, de ódio, de justiça, de injustiça, de tristeza, de alegria, etc. É neste espaço também
que as crianças transformam as coisas materiais e imateriais em representações de seus
sentimentos, onde os desejos e as emoções são desveladas.
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Brincar e aprender ou vice-versa pode acrescentar na formação das crianças,
principalmente no que diz respeito aos valores e que servirão para o fortalecimento das
relações com seus pares e com o mundo que a cerca. Assim, as brinquedotecas podem ser
compreendidas como espaços geradores de diversas situações lúdicas e de intercâmbios
sociais. Ou seja, o ato de brincar é um importante instrumento de integração e de inclusão
para as crianças, e as brinquedotecas podem ser encaradas como um ambiente propício
para o favorecimento destas relações.
O espaço das brinquedotecas: tipos e organização
É certo que muitas brinquedotecas brasileiras ainda possuem questões para serem
resolvidas a respeito dos espaços destinados para sua instalação, entre elas a questão da
manutenção, a diversidade dos brinquedos e jogos, a segurança do espaço e do próprio
brinquedo, da formação do brinquedista e/ou recreador entre outras, porém, o
fundamental nisso tudo é garantir, primeiramente, que a população infantil tenha acesso e
possa utilizar plenamente estes espaços.
Assim, para que uma brinquedoteca exerça sua função, seja ela educativa, inclusiva
ou integradora, é necessário que este espaço possua um alto nível de qualidade e de
constante cuidado, já que a falta de manutenção destes espaços (como brinquedos e jogos
estragados e/ou deteriorados) pode ocasionar a perda de seu objetivo educativo podendo
tornar-se um espaço não-educativo.
Trata-se de conceber a brinquedoteca como um espaço para o brincar, para a
brincadeira e para o jogo, mas também um espaço cheio de possibilidades, de momentos
ricos, diversos e transformadores; onde a criança possa usar este espaço de seu livre
arbítrio, do seu desejo próprio, pelo prazer de brincar e de jogar, de encontrar e
reencontrar seus pares.
Ou seja, nos dias atuais a brinquedoteca deixa de ser vista como uma simples sala
de brinquedos e torna-se um espaço com funções de caráter pedagógico, social e
comunitário. É um espaço no qual a criança aprende partilhar, participar, colaborar e que
proporciona que a criança conviva com os diferentes e também com seus pares, o que
contribui significativamente para seu desenvolvimento social.
A brinquedoteca como sendo uma local que a criança frequenta para brincar deve
ser higienizado e o espaço físico deve ser adequado, já que estes são requisitos que vão
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contribuir que a criança tenho um momento de lazer saudável, prazeroso e confortável.
Para Porto (2008, p. 54 e 55),
O ambiente onde deve funcionar a brinquedoteca deve ser aconchegante, limpo e arrumado ao final de cada sessão e para aquelas crianças que não conseguem ir até esse local, o profissional deverá levar os brinquedos até elas, mas sempre observando suas limitações e seu esforço entre outros agravantes que possam interferir na recuperação da mesma.” (PORTO, 2008, p.54 e 55).
Reforçando a idéia de como deve ser organizado o espaço da brinquedoteca, Mato
e Mugiatti (2009) esclarecem que
O fundamental é que, por meio das instalações, como móveis, a decoração, a distribuição e a organização dos brinquedos, as crianças queiram brincar e tenham liberdade de escolha e de expressão, seja individualmente ou em grupos.” (MATOS e MUGIATTI, 2009, p.153).
Ou seja, para que as crianças brinquem com liberdade, segurança e que tenham
possibilidade de efetuar escolhas de como e o que brincar é importante que o ambiente seja
decorado com cores vivas alegres, tornando o lugar agradável aos olhos da criança.
Também é bastante importante que a criança tenha oportunidade de brincar sozinha ou
acompanhada, porém é fundamental que uma brinquedista acompanhe a criança no seu
brincar.
Conforme Fonseca (2008):
A interação e a mediação do adulto com o brincar da criança auxilia em seu brincar com outras crianças, assim como, em seu brincar sozinha e com outros diferentes adultos.” (FONSECA, 2008, p.74).
Na organização de uma brinquedoteca há a existência de subdivisões que são
chamados de “cantinhos”, como por exemplo: cantinho da leitura, cantinho da casinha,
cantinho da beleza, cantinho dos carrinhos, etc. Estes cantinhos, organizados na
brinquedoteca, não devem ser estáticos, pois a intenção é que as crianças criem e recriem
estes espaços durante as interações realizadas.
Vaz (2009, p. 02) e Ramalho (2000, p.84) sugerem 11 tipos de “cantinhos” possíveis
a serem disponibilizados nas brinquedotecas:
1. Canto do "Faz de Conta": espaço com mobílias e utensílios domésticos; canto do supermercado; camarim com fantasias, chapéus, espelhos, fantasias, para representação de diversos papéis, entre outros brinquedos infantis
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miniaturizados. 2. Canto da "Leitura": diversos tipos de livros para atender às todas as faixas etárias e estimular o hábito e gosto pela leitura. 3. Canto das "Invenções ou Criação ou Sucatoteca": uso de materiais recicláveis ou objetos diversos para inventar, construir e recriar coisas e brinquedos; 4. Canto do Teatro ou do Fantoche: criação e construção de histórias e fantoches, com painéis e palcos para encenações. 5. Canto da Oficina: para construção e restauração de brinquedos, entre outros. 6. Mesa Coletiva: espaço utilizado para jogos coletivos; 7. Canto do Mural de Recados: para comunicações ao usuário, com notícias, avisos, normas, entre outros. 8. Canto do Playground: local composto de brinquedos de parquinho infantil seja de fibra, plástico resistente ou metal. 9. Cantos dos tapetes e colchões: espaço com tapetes grandes ao chão para brincadeiras, rolamentos, movimentos acrobáticos, entre outros. 10. Canto do Cinema: local com televisão e DVD, com almofadas, tapetes e sofás para as crianças apreciarem filmes diversos, e atender as diversas faixas etárias. 11. Canto da Pintura e Desenhos: disponibilizar a criança materiais às pinturas e desenhos como: pincéis, telas, papéis, cartolinas, sulfites, entre outros.
É também importante dar atenção à escolha da decoração das paredes e dos
“cantinhos”, à organização, disposição e acesso aos brinquedos e ao tamanho do mobiliário
a ser utilizado. Ou seja, é essencial que a estrutura disponibilizada e os objetos de
decoração (mobiliário e decoração das paredes e “cantinhos”) permitam que a criança
brinque com liberdade, com segurança e que, principalmente, desperte sua motivação para
criar, recriar , se expressar, para interagir com seus pares e exercer suas práticas lúdicas.
A implantação de uma brinquedoteca deve prever o público alvo a ser atendido e
deve ter seus objetivos previamente definidos. Porém é fundamental que o profissional
responsável por questões como atividades a serem ofertadas, localização da brinquedoteca,
normas e regras de atendimento, acervo de brinquedos a serem disponibilizado, tenha
formação e conhecimentos suficientes sobre o funcionamento de uma brinquedoteca.
Segundo Vaz (2009, p. 01) antes de se efetuar a instalação de uma brinquedoteca é
fundamental que se realize uma pesquisa sociocultural e ambiental sobre a comunidade que
receberá este espaço lúdico, levantando dados sobre a vida e tipos de brincadeiras das
crianças. Assim, antes da definição das atividades a serem ofertadas é fundamental que se
conheça qual público estará sendo atendido.
Hypolitto (2001, p. 34) em seus estudos a respeito das brinquedotecas aponta 08
tipos existentes de brinquedotecas, a saber:
1.Brinquedotecas escolar: organizadas num setor da escola com finalidade pedagógica ou centros de educação continuada; 2. Brinquedoteca comunitária: as mantenedoras geralmente são associações, prefeituras e organizações filantrópicas; 3. Brinquedotecas em Instituição de Atendimento Especial: local de atendimento a crianças com necessidades especiais e suas diversas modalidade: APAE, LARAMARA E LARABRINQ; 4. Brinquedoteca em Instituições de Saúde: Hospitais, Consultórios Médicos, Clínicas, entre outras,
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objetivando amenizar as situações traumáticas das crianças hospitalizadas ou em tratamento médico; 5. Brinquedotecas em Universidades e Faculdades: (Laboratórios de Aprendizagens - formação de professores e Recursos Humanos, para pesquisas e prestação de serviços à comunidade). A USP foi pioneira - LABRINP; fornece subsídios para práticas pedagógicas com uso de brinquedos; 6. Brinquedotecas Circulantes: instaladas em ônibus, caminhonetes itinerantes para crianças da periferia e outros espaços; (PUC-SP com Ônibus Ludicidade); 7. Brinquedotecas em espaços de entretenimento: em shopping centers, casas de diversões com parques e playground, centros culturais, entre outros; 8. Brinquedotecas junto ás bibliotecas: geralmente não realizam empréstimo de brinquedos no Brasil. Mas, a criança utiliza o espaço com liberdade para brincar.
É importante salientar que independente do tipo ou função, todas as
brinquedotecas possuem um objetivos único: a prática lúdica e o empréstimo de
brinquedos, permitindo que a criança construa diferentes aprendizagens durante o brincar,
todas elas dotadas de significado.
Em relação ao espaço há brinquedotecas que disponibilizam para as crianças o
espaço externo com gramado, organizando locais com espaço para brincadeiras com água,
com plantas, com areia e com brinquedos adequados.
Acima de tudo, o ambiente disponibilizado deve estimular o desenvolvimento da
autonomia das crianças e sua independência durante a brincadeira. Assim sendo, os
brinquedos (de uso externo ou de uso interno da brinquedoteca) precisam motivar e
despertar a criatividade nas crianças. Também é importante que os brinquedos sejam
compatíveis à faixa etária das crianças atendidas e que apresentam algumas características
como segurança, durabilidade e toxicidade.
Sobre as características do brinquedo, Fonseca (2008) esclarece que é importante
que os brinquedos e objetos devem ser verificados por um adulto para que não ocorra
nenhum tipo de frustração ou alguma ameaça para a integridade física da criança.
Deste modo, as crianças menores de três anos de idade devem ter acesso restringido
aos brinquedos que contém peças pequenas ou que sejam inadequados para seu uso. Outro
aspecto que merece atenção é a higiene dos brinquedos, sendo que estes devem estar
sempre limpos, sem poeira ou algum tipo de resíduo, evitando assim qualquer tipo de risco
à saude da criança que freqüenta o espaço da brinquedoteca.
Por fim, o acervo de brinquedos disponibilizados na brinquedoteca deve permitir
que a criança desenvolva suas capacidades e potencialidades, experimente as diferentes
formas de arte e de comunicação, que desenvolva um comportamento social equilibrado e
que esteja sob a orientação de um brinquedista que entenda do assunto.
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Conclusão
No espaço das brinquedotecas a criança tem oportunidade de encontrar um lugar
mágico e colorido, com seus “cantinhos” tematizados, tendo como objetivo favorecer o
brincar através do mundo do faz de conta.
A organização dos espaços de uma brinquedoteca devem observar critérios
importantes, mantendo o local limpo e organizado; os materiais dispostos atendendo o
perfil do público (por idade, por funções psicopedagógicas e quantidade adequada de
material ofertado); brinquedistas capacitados para receber as crianças, interesse da equipe
de brinquedistas em buscar idéias e soluções inovadoras objetivando enriquecer o espaço,
controle dos materiais e de crianças que frequentam a brinquedoteca.
Os jogos, brinquedos e materiais que estão disponíveis na brinquedoteca podem ser
industrializados ou não, sendo que oficinas lúdicas e de criação de brinquedos podem ser
oferecidas na própria brinquedoteca.O uso de materiais recicláveis permite que a
brinquedoteca seja incrementada e também se torne um tema para ser debatido com as
crianças, como a importância da reciclagem e da coleta de materiais.
O fundamental nos espaços da brinquedoteca é que o acesso ao brincar, ao jogo, e à
brincadeira sejam acessíveis na vida de todas as crianças, para que ela tenha possibilidade de
explorar, de sentir e de experimentar.
Nesse, sentido, a brinquedoteca é compreendida com um espaço onde o brinquedo,
a brincadeira, o jogo são considerados coisa séria. Independe se o brinquedo é novo, usado,
de madeira ou de plástico, mas ele é oportunizará que criança satisfaça, desmistifique ou
estimule suas fantasias.
Por fim, o espaço da brinquedoteca deve ser organizado para que a criança seja
tocada pela expressividade da decoração, pela alegria, pelas cores e pelo encanto do
ambiente.
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REFERÊNCIAS
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O uso do “amém” em cultos evangélicos
Claudia Silva Fernandes
Especialista e Mestranda em Língua Portuguesa – PUC – SP
Professora da Universidade Nove de Julho
______________________________________________________________________
Resumo:
Este artigo apresenta uma breve análise sobre o uso do “amém” em cultos evangélicos pentecostais sob o
enfoque do funcionalismo linguístico. Para verificarmos os processos de mudança e de criação linguística
presentes na utilização dessa palavra, consultamos os pressupostos teóricos de Martelotta (1996, 2003)
sobre discursivização e marcadores discursivos e os postulados de Dino Preti (2003) sobre marcadores de
turno. Ao final, constatamos que pastores e fiéis, para a organização do discurso religioso, empregam esse
vocábulo como marcador de turno e como marcador discursivo.
Palavras-chave: discursivização; marcador discursivo; marcador de turno.
Abstract:
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This paper presents an analysis on the use of "amen" in Pentecostal church from the standpoint of
linguistic functionalism. To verify the processes of change and linguistic creations used in this word, we
consulted the theoretical assumptions of Martelotta (1996, 2003) and discourse markers on
discursivization and postulates of Dino Preti (2003) on markers of turn. At the end, we found that pastors
and faithful, for the organization of religious discourse, employ this term as turn marker and as
discoursive markers.
Keywords: discursivization; turn marker; discoursive markers.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, discutimos o papel exercido pelo amém na estruturação do discurso
falado nos cultos evangélicos. Estudamos esse uso na língua em funcionamento, por se
tratar de uma modalidade privilegiada para examinar os processos de mudança e os
produtos da língua.
Nosso objetivo geral é investigar, sob o enfoque do funcionalismo linguístico, que
descreve e explica a língua com foco nos aspectos pragmáticos e psicológicos, os padrões
de uso do amém. Para tanto, utilizamos os postulados de Martelotta (1996, 2003) sobre
discursivização e marcadores discursivos e os estudos de Dino Preti (2003) sobre
marcadores de turno, a fim de verificarmos os processos de mudança e de criação
linguística presentes no emprego dessa palavra.
Ao observarmos os sermões dos pastores em cultos evangélicos, notamos que os
preletores/pastores e os adeptos/fiéis usam muito esse vocábulo, fazendo-nos questionar
se tal elemento, nesse contexto, assume o papel de marcador discursivo, de marcador de
turno e se, ainda, desempenha uma função na organização do discurso religioso.
Para analisarmos a diversidade de uso do amém, escolhemos, como corpus de análise,
trechos de pregações feitas por pastores e falas de adeptos em cultos evangélicos das
seguintes denominações: Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Mundial, Igreja da
Graça e Igreja Pentecostal da Bíblia. Tal escolha se justifica pelo fato desses templos
configurarem campos apropriados para nosso estudo.
Além disso, o uso desse vocábulo faz emergir a necessidade de olharmos para essas
construções, inseridas nas práticas discursivas religiosas, para apreendermos seus sentidos
nesses contextos conversacionais, uma vez que a língua em uso é uma fonte inesgotável de
possibilidades de partilhar o conhecimento.
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com a concepção funcionalista, (MARTELOTTA, 1996, p. 49)
gramática e discurso são conceitos inseparáveis, tendo em vista que ambos “constituem
uma simbiose: a gramática molda o discurso e o discurso molda a gramática”.
Nesse enfoque, gramática não é entendida como um organismo autossuficiente
gerado por fatores cognitivos inatos, mas como
o conjunto de padrões convencionais provenientes e
reguladores do discurso, conhecidos e apropriados pelos
usuários para a produção e recepção de frases e textos da
língua. (MARTELOTTA, 2006)
O discurso, por sua vez, é definido por Martelotta (1996) como sendo o uso
potencial das estratégias linguísticas, de maneira individual e criativa, que permite as
práticas interativas em uma situação comunicativa.
Dessa forma, percebemos que tanto a heterogeneidade quanto a variedade são
consideradas no estudo da linguagem. Segundo Palma (2004), isso ocorre devido à grande
quantidade de grupos sociais existentes na sociedade, que por sua vez possui variadas
formas de expressão, confirmando-se a heterogeneidade do sistema. Ela ressalta que uma
língua está em constante funcionamento e mudança, pois serve de instrumento para a
comunicação e que, por isso, descrevê-la em uso significa confrontar-se com o mutável.
A gramática de um idioma, em constante mudança, está em permanente processo
de construção, já que o ser humano busca incessantemente novas maneiras de se expressar.
Estudar a língua em uso implica, portanto, considerar aspectos sintáticos, semânticos,
cognitivos e pragmáticos.
Martelotta (1996, p. 49) ao considerar que as línguas não estão definitivamente
estruturadas, chama de gramaticalização “a manifestação dos aspectos não estáticos de uma
gramática”. O estudioso lembra que esse termo tem sido discutido com vários sentidos,
porém ele considera o sentido em que designa
um processo unidirecional segundo o qual itens lexicais e
construções sintáticas, em determinados contextos, passam a
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assumir funções gramaticais e, uma vez gramaticalizados,
continuam a desenvolver novas funções gramaticais.
A gramaticalização oferece explicações que dão conta de como e por que as
categorias gramaticais surgem e se desenvolvem ao longo do tempo. Desse modo, um
aspecto bastante relevante, em relação a esse processo, diz respeito à natureza da
transformação.
Outro processo de mudança é a discursivização que, segundo Martelotta (1996, p.
263) consiste em
um processo em que os elementos perdem função lexical e gramatical para
ficar a serviço da organização da linha de raciocínio na fala, funcionando
como marcadores discursivos.”
Castilho apud Neves (2001, p. 32) chama de desgramaticalização quando “um item
perde suas propriedades gramaticais, passando a constituir-se uma categoria discursiva”. O
autor comenta que ao passar de um nível sintático para um nível discursivo, alguns itens
assumem uma função fática, ou seja, um caráter interacional, que é característico do
discurso.
Martelotta et al. (op. cit.) propõem que a discursivização leva o elemento a assumir
gradualmente funções mais abstratas relativamente à organização do discurso. Assim, ele
vai perdendo sentido referencial para assumir um conjunto de funções não discretas
voltadas para a viabilização do processamento discursivo.
Os estudiosos destacam que esses processos são distintos, pois na discursivização
os elementos marcam relações entre os interlocutores, funcionando, desse modo, em uma
área mais vasta e, além disso, eles não estabelecem relações entre elementos da gramática.
Os marcadores discursivos são usados com o intuito de reorganizarem as
informações de maneira linear em nível de discurso, uma vez que eles desempenham várias
funções que estão ligadas às reformulações da fala, tornando, dessa forma, as informações
transmitidas mais compreensíveis.
Em um texto escrito, o emissor tem mais condições de planejar as informações,
porém isso não ocorre na fala, já que esta modalidade linguística exige uma constante
organização dos pensamentos.
Com a finalidade de deixarem evidentes, para o ouvinte, as reformulações dos
pensamentos ou para orientarem o falante, os marcadores podem ser empregados para
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marcarem hesitações ou reformulações, para modalizarem o discurso, para marcarem
mudanças de direção comunicativa, para criarem reticências, para retomarem referentes já
mencionados, para preencherem pausas etc.
O que motiva, portanto, esse processo é a necessidade do locutor de usar
elementos que marquem estratégias interativas no sentido de reorganizar seus pensamentos
e, ao mesmo tempo, registrar essa reorganização para o interlocutor.
Para Preti (2003) a conversação tem como característica principal a alternância de
turno entre os interlocutores, no caso o falante e o ouvinte. Turno é entendido, pelo
pesquisador, como aquilo que um falante faz ou diz enquanto tem a palavra, incluindo
também a possibilidade de silêncio, tratando-se, portanto, de qualquer intervenção do
interlocutor.
Para o estudioso, a ideia de turno está ligada às várias situações em que os membros
de um grupo se alternam ou se sucedem na consecução de um objetivo comum, como
ocorre, por exemplo, em um jogo de xadrez ou em uma mesa-redonda. Essa alternância de
turnos permite que se apreenda a organização no texto conversacional.
Dentro da caracterização de turno, há os denominados turnos nucleares que veiculam
informações, de modo que o falante desenvolve o tópico em andamento e os chamados
turnos inseridos que, por sua vez, não transmitem conteúdos informativos, mas indicam que o
interlocutor está atento ao falante.
Dessa forma, o falante, para ser compreendido, utiliza vários elementos que servem
para organizar seu discurso e para mostrar que as ideias transmitidas são organizadas,
orientando, desse modo, a interação.
ANÁLISE
Amém é uma palavra de origem hebraica que traduzida quer dizer “assim seja”, “é
assim” e que, usualmente, indica a ideia de confiança e convicção a respeito do que se está
concordando: uma prece ou a fala de alguém. Na gramática tradicional, o vocábulo vem
especificado como interjeição ou como substantivo masculino; no primeiro caso tem valor
de assim seja e no segundo, aprovação, consentimento. Seu uso como interjeição é comumente
encontrado após uma prece, como notamos nos fragmentos abaixo:
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre. Amém!
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Glória a Deus por meio da Igreja e por meio de Cristo Jesus, por todos os tempos e para todo o
sempre! Amém!
Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal. Amém!
Constatamos também esse uso nas igrejas evangélicas, onde frequentemente, essa
palavra é utilizada pelos adeptos para indicar concordância com o que o pastor está
pregando. Nesse caso, o termo significa “certamente”, “de fato”, “com certeza”, como notamos
em:
Pastor: ...minha filha, você está curada em nome de Jesus!
Adepta: Amém, pastor!
Percebemos que como substantivo não é habitual o emprego desse vocábulo,
todavia, encontramos as seguintes ocorrências que indicam a ideia de consentimento e
aprovação:
Deu amém ao projeto.
Ele diz amém para tudo.
Além desses usos, constatamos que a palavra “amém” assume ainda a função de
marcador discursivo, pois é utilizada, pelo pastor, como “preenchedor de pausa” com o
intuito de não interromper o fluxo de sua fala e de ganhar tempo para pensar no que
continuará a pregar, conforme vemos em:
1. Pastor:...precisamos perdoar... amém... nosso irmão... somos irmãos... amém... irmãos em
Cristo Jesus. (O pastor, enquanto fala, folheia a Bíblia Sagrada).
2. Pastor: teremos nossa ceia neste Natal... amém... dessa vez você poderá trazer convidados...
amém... somente os de casa...amém! (O pastor informa, pausadamente, sobre a novidade
na ceia de Natal: os adeptos poderão levar seus familiares para cear na igreja).
Notamos, ainda, que “amém” desempenha a função de marcador de turno, já que o
pastor detém os turnos de fala e, nesse contexto, os adeptos apenas dizem amém para
concordar com ele. Trata-se, nesse caso, de um marcador de turno nuclear, visto que
veicula informações, como vemos em:
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3. Pastor: ...essa é a realidade...vocês têm que colocar toda tua força...Amém?
Adeptos: Amém.
4. Pastor: Deus é forte demais, mas é preciso que você se entregue. Amém?
Adeptos: Amém.
.
No trecho abaixo, amém é entendido também como um marcador de turno nuclear,
tendo em vista que ele é utilizado pelo interlocutor como “forma de verificação”, ou seja,
esse elemento é utilizado apenas para confirmar se seu interlocutor está atento ao seu
discurso e não para passar o turno para os adeptos/ interlocutores.
5. Pastor: duvido que você vai continuar ansioso, ter depressão, porque a plenitude de Deus
está dentro de você. Amém?
Pastor: Amém, pessoal?
Adeptos: Amém!
Entretanto, ao analisarmos o “amém” dito pelos adeptos, ele assume o papel de
marcador de turno inserido, porque indica apenas que o interlocutor está atento ao falante,
não havendo a transmissão de conteúdos informativos.
Nos exemplos 3, 4 e 5, o elemento perde suas restrições gramaticais e ganha
restrições de caráter pragmático e interacional, sendo, portanto, operador de discurso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este breve exame do uso do amém, no discurso falado dos cultos evangélicos,
revelou-nos que essa construção atua como marcador discursivo e como marcador de
turno, assumindo, assim, funções pragmáticas relacionadas com a interação falante/
ouvinte e com a organização do discurso.
Vimos ainda que ele opera como uma forma linguística sistematizada para expressar
a parceria de pontos de vista entre o pastor e os fiéis, já que, ao utilizá-la, o preletor
pretende fazer o destinatário concordar e assumir seu posicionamento.
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Nesse sentido, percebemos que esse elemento não desempenha apenas função
gramatical referente à organização interna do texto, mas que assume o papel de reorganizar
o discurso, já que o falante, para ser compreendido pelo ouvinte em uma determinada
situação comunicativa, cria estratégias para organizar seus pensamentos para atingir seu
objetivo: a interação.
Concluímos que a necessidade comunicativa do falante é um dos fatores que
determinam que uma palavra mude com o passar do tempo. Diante disso, é inquestionável
que, para apreendermos esses outros sentidos, precisamos entrar em contato com as teorias
funcionalistas e não utilizar somente a gramática normativa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2011.
MARTELOTTA, M. E. et al. (orgs.). Gramaticalização no português do Brasil: uma abordagem
funcional. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1996.
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Paulo: Cultura Acadêmica Editora, 2001. p.p. 37- 49.
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PRETI, Dino (org.). Análise de textos orais. São Paulo: Humanitas, 2003.
Aspectos discursivos da comunicação empresarial contemporânea
Rodrigo Leite da Silva
Mestre e Doutorando em Língua Portuguesa (PUC-SP)
Professor da Universidade Nove de Julho – SP
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Valéria Carraro (UNINOVE-SP)
Especialista em Gestão empresarial (UNINOVE-SP)
Professora da Universidade Nove de Julho
______________________________________________________________________
Resumo
Este artigo propõe uma reflexão a respeito da comunicação nas organizações, tendo em vista seu potencial estratégico para a construção e difusão de diversos fluxos de informação que transmitem os valores integrados e estimulam a realização de uma ação. As organizações empresariais contemporâneas zelam pela excelência de sua imagem no mercado e têm como objetivo obter a adesão dos seus interlocutores, formados por colaboradores, acionistas, clientes, stake holders e a sociedade de modo geral. Neste novo paradigma, a comunicação empresarial não se restringe apenas a um meio de comunicação, ela também é considerada um instrumento de marketing e de controle. Em função desta responsabilidade e do processo de reestruturação produtiva, inovam-se as estratégias discursivas, entendidas como um “jogo que provoca ação e reação”; neste sentido, a produção dos textos que circulam no ambiente empresarial contribui para a formalização de procedimentos administrativos que visam à ampliação das habilidades da empresa em gerir sua evolução tecnológica e organizacional e as necessárias transformações sociais que possibilitarão sua manutenção no mercado competitivo.
Palavras-chave: comunicação organizacional; estratégias discursivas; marketing; controle.
Abstract This paper proposes a reflection on communication in organizations, in view of its strategic potential for the construction and dissemination of diverse information flows that transmit integrated values and encourage the realization of an action. The contemporary business organizations shall provide for the excellence of its image in the market and aim to get the membership of its interlocutors, formed by employees, shareholders, customers, stake holders and society in general. In this new paradigm, business communication is not restricted to one medium, she is also considered a marketing tool and control. Because of this responsibility and the restructuring process, innovate up the discursive strategies, perceived as a "game that provokes action and reaction" in this sense, the production of texts circulating in the business environment contributes to the formalization of administrative procedures aimed at expanding the company's ability to manage its technological and organizational change and the necessary social changes that will enable its maintenance in the competitive market. Keywords: organizational communication; discursive strategies, marketing, control.
1. Introdução
A correspondência empresarial contemporânea sofreu constantes transformações,
ao longo do tempo, em função da dinamicidade exigida pelas organizações empresariais
contemporâneas, pois o objetivo principal da comunicação empresarial é o de “gerar uma
resposta objetiva àquilo que é transmitido” (GOLD, 2010: 05), ou seja, estimular a
realização de uma ação.
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Nota-se, assim, que este tipo de comunicação não se restringe apenas a um meio de
comunicação, é considerado, também, um instrumento de marketing e de controle: de
marketing em função de a comunicação organizacional ser responsável direta pela
construção e manutenção da imagem da empresa para o seu público interno (grupo de
colaboradores) e externo (fornecedores, clientes etc.), com vistas a integrar a organização
empresarial no mercado competitivo, na qual a diversidade de comportamentos adquire
sentido, levando a empresa ao encontro dessa visão abrangente. No que se refere ao
controle, materializa informações e responsabilidades de todos os seus participantes, no
estabelecimento das crenças e valores regentes da cultura organizacional vigente.
Informação
Correspondência
empresarial
Controle Marketing
Fonte: GOLD, 2010.
Os textos produzidos, no âmbito empresarial, devem ser reconhecidos como um
instrumento que possibilite a execução das ações empresariais na intervenção de três
dimensões primordiais, que são: a cultura da organização empresarial, das estratégias
motivacionais e, principalmente, no aspecto econômico.
No que tange à cultura empresarial, temos a organização de um conjunto de
crenças, valores e tecnologias responsáveis pela coesão dos diferentes participantes,
pertencentes a todos os níveis hierárquicos, na orientação de ações que contribuam para a
redução das dificuldades cotidianas, no estabelecimento de metas estruturadas sob a forma
de objetivos que assegurem a manutenção da empresa no mercado competitivo.
Em se tratando das estratégias motivacionais, é necessária a cristalização da ideia de
que o colaborador precisa aglutinar em suas características a multifuncionalidade
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profissional. Sendo traduzida pela disponibilidade em realizar tarefas complexas, na
habilidade de trabalhar em equipe, na transferência de conhecimento a diferentes setores da
empresa e transposição frequente das metas estabelecidas, de modo que se responsabilize
pela sua permanência no mercado que explora.
Em relação ao aspecto econômico, constata-se o estabelecimento do processo de
reestruturação produtiva, sendo entendida por dois componentes de base: inovações
tecnológicas e inovação organizacional. Em que a primeira, relaciona-se ao uso das
ferramentas mais sofisticadas da informática, como softwares e programas de linguagem
arrojados, sistemas integrados de telecomunicações e novos materiais que estejam em
consonância aos interesses da empresa. Já a segunda, a existência de um colaborador
polivalente, ou seja, que saiba trabalhar em grupo, sob pressão, tendo flexibilidade para se
adequar às rápidas transformações presentes no cenário organizacional.
Assim sendo, os textos que circulam no ambiente organizacional contribuem para a
formalização de procedimentos administrativos que ampliem a participação da empresa no
mercado competitivo.
2. Por uma definição de discurso...
O discurso é entendido como um objeto linguístico e histórico, que implica uma
constituição linguística, por intermédio de regras oriundas de um sistema “que define sua
especificidade, mas ao mesmo tempo, que nem tudo é dizível. O que se pode dizer forma
um sistema e delimita uma identidade” (Fiorin, 2002: 146).
Nesse sentido, a definição de discurso subjaz o entendimento de forma clara do
conceito de linguagem que compreende uma atividade exercida entre falantes, ou seja,
assegura as interações entre os interlocutores constituintes do processo de comunicação.
Assim, entende-se que apenas o homem é capaz de construir suas expressões pela
linguagem, sendo um trabalho desenvolvido pela sua capacidade de produzir sentidos a
partir do seu uso.
Entretanto, para que haja exercício e domínio da linguagem é indispensável o
desenvolvimento de conhecimentos linguísticos e extralinguísticos. Diante desse aspecto,
nota-se a importância em esclarecer que não é suficiente conhecer apenas a gramática da
língua, deve-se ter conhecimento do local em que está situada a pessoa com quem se fala
ou escreve, para que ocorram as adequações necessárias da linguagem utilizada no processo
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de comunicação, em consonância às necessidades exigidas pela situação de interação
comunicativa, ou seja, deve-se conhecer o contexto, para a produção do discurso.
Assim, pode-se definir o discurso como “toda atividade comunicativa entre
interlocutores”, sendo responsável pela produção de sentidos que ocorre no processo de
interação entre os envolvidos no processo de comunicação. Estes estão situados num
momento histórico, num espaço geográfico, fazem parte de uma comunidade constituída
de valores (culturais, sociais) e crenças que formam a ideologia da sua comunidade de
pertencimento. Esse conjunto de saberes constituído de crenças, valores e ideologias
grupais é veiculado por meio do discurso, assim é possível identificar que não há
neutralidade na produção discursiva, pois os sentidos nele encontrados referem-se a
posicionamentos sociais, culturais, ideológicos dos sujeitos da linguagem.
Segundo Maingueneau (2004), as características fundamentais do discurso sãos:
1) Sobrepuja o limite exclusivamente gramatical, tendo-o como ponto de apoio,
considerado nível linguístico, levando em consideração os interlocutores envolvidos
no processo de interação, impregnados de valores e crenças, a situação delimitada
ao tempo histórico e espaço geográfico, no momento da produção discursiva.
2) No nível discursivo, os interlocutores necessitam possuir além dos conhecimentos
linguísticos, relacionados às normas de uso da língua, conhecimentos
extralinguísticos, que se referem à produção de discursos que se adéquam as mais
diversas situações que organizam nossas atividades cotidianas; conhecimento de
temas que organizam as discussões sociais para que seja possível a concretização da
interação social, por meio da troca verbal.
3) O discurso é contextualizado, pois todo enunciado possui sentido, a partir do
momento em que estiver inserido num contexto de produção, em função de um
mesmo enunciado ter sentidos diferentes, se usados seja por sujeitos diferentes ou
por momentos diferentes, podendo corresponder a distintos discursos.
4) É produzido por um sujeito que assume a responsabilidade do que for dito do
modo explícito ou implícito, conforme as exigências delimitadas à situação e é
organizado em torno das suas referências espaço-temporais.
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5) É interativo, em função de exigir no mínimo a existência de dois parceiros para que
se concretize.
6) É considerado, também, um modo de agir, de atuar sobre o outro, pois de acordo
com nossas intenções (convencer, insultar, agradar etc.) realizamos uma ação por
meio do uso da linguagem (um ato de fala), com a finalidade de mudar uma
situação.
7) Trabalha com enunciados concretos, ou seja, que foram de fato produzidos e suas
pesquisas têm por objetivo a descrição de normas acerca do funcionamento da
língua em seu uso efetivo.
8) Tem por princípio geral o dialogismo, ou seja, presume-se a existência de um
diálogo, que admite no mínimo dois falantes, pois quando alguém fala ou escreve
virtualiza a imagem da pessoa que lê ou escuta e, também, relaciona-se no
momento em que se usa no próprio discurso outros discursos.
9) Considera-se, ainda, o aspecto dialógico em função de ao se trazer para seu
discurso outros discursos há o estabelecimento de diálogos, pela incorporação da
fala do outro à sua.
10) Em função de sua natureza dialógica seus efeitos são polifônicos, pois à medida
que um discurso dialoga com outros, há outras vozes que conforme as intenções,
ao conjunto de crenças e valores que demarcam seu pertencimento a um grupo,
pode-se concordar ou discordar, total ou parcialmente das vozes que o atravessam
e, neste caso, caracterizá-lo como heterogênio.
11) Todo discurso constrói uma rede interdiscursiva (ou seja, de outros discursos),
pelo fato de não se caracterizar como singular, já que encontra-se em constante
interação com outros discursos que, ou estão em seu momento de produção ou já
foram produzidos. Nesse contexto, há a disputa pela verdade, por meio do uso da
palavra, estabelecendo uma relação de aliança, de polêmica ou de oposição, por isso
é considerado um espaço de embate, no qual divergentes posições sociais, culturais
e ideológicas buscam interagir e atuar sobre os outros.
Diante desse aspecto,
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o discurso é como um jogo estratégico que provoca ação e reação, é como uma arena de lutas (verbais, que se dão pela palavra) em que ocorre um jogo de dominação ou aliança, de submissão ou resistência, o discurso é o lugar em que se travam polêmicas. (BRANDÃO, 2001: 06).
Assim, pode-se afirmar que o sujeito produtor de discurso, segundo os princípios
da Análise do Discurso, caracteriza-se como:
a) Marcado pela historicidade, ou seja, encontra-se situado na história da sua
comunidade de pertencimento, num tempo e espaço concretos;
b) Um sujeito ideológico, pois em seu discurso se identifica valores, crenças, de
um momento histórico e de um grupo social;
c) Não é único, em função de dividir o espaço de seu discurso, com outros, “na
medida em que orienta, planeja, ajusta sua fala, tendo em vista seu interlocutor e
também dialoga com a fala de outros sujeitos (nível interdiscurso)”.
d) Assim sendo, nota-se que em seu discurso outras vozes o atravessam, em que se
conclui que o sujeito do discurso se constrói nessa relação com outro.
3. O discurso empresarial
O discurso empresarial é compreendido por intermédio dos pressupostos
neoliberais, postulado pelo paradigma da globalização, em que as demandas recaem sobre a
organização de um processo de reestruturação produtiva, demarcada por meio da conquista
de maior competitividade entre as empresas, no cenário mundial.
Nesse contexto, a reestruturação produtiva é entendida por dois elementos
constitutivos, que são: a inovação tecnológica e a inovação organizacional. A primeira se
constitui pela utilização da informática, robôs, sistemas integrados de telecomunicação e
novos materiais como a biotecnologia. Já a segunda, refere-se à existência de um
funcionário polivalente, que trabalhe em equipe, seja flexível, consiga trabalhar sob pressão,
respeitando a hierarquia presente na empresa e, assim constituindo a sua cultura
organizacional.
Diante desse aspecto, é possível constatar que a inovação se organiza enquanto uma
atitude esperada pelas empresas para que se mantenham no mercado competitivo, sendo
integrada em seu plano discursivo, em função de entendê-la como força motriz responsável
por alavancar o crescimento e desenvolvimento econômico de uma organização
empresarial. Assim, a inovação se caracteriza pela adoção de atitudes que levam em
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consideração um conjunto de variáveis, componentes do espaço em que se concretiza,
como seus limites, obstáculos a serem transpostos, as possibilidades de mudanças
pertinentes a uma formação social, ou seja, se suas condições de produção coadunam com
os fatores políticos, sociais, econômicos e culturais que podem exercer a função de
motivação para a concretização da inovação empresarial ou dificuldades, se valendo como
obstáculo desse processo.
Observa-se, então que discursivamente vai se construindo um cenário caracterizado
pela cultura organizacional, sendo definida como:
...o conjunto de valores, crenças e tecnologias que mantém unidos os mais diferentes membros, de todos os escalões hierárquicos, perante as dificuldades, operações do cotidiano, metas e objetivos. Pode-se afirmar ainda que é a cultura organizacional que produz junto aos mais diferentes públicos, diante da sociedade e mercados o conjunto de percepções, ícones, índices e símbolos que chamamos de imagem corporativa (NASSAR, 2000:40)
A cultura organizacional contribui para a construção de uma unidade de sentido
que visa traduzir as rotinas administrativas da organização empresarial, de modo que as
ações produzidas por seus colaboradores atendam as necessidades nela imbricadas.
Nesse sentido, o discurso empresarial é responsável pela construção e difusão de
diversos fluxos de informação que transmitam os valores integrados em determinada
organização empresarial, zelando pela alta qualidade da sua imagem, tendo como resultado
a geração de efeitos de sentido positivos com o objetivo de obter a adesão dos seus
interlocutores, formados por colaboradores, acionistas, clientes, stake holders, sociedade de
modo geral.
Em função dessa responsabilidade, o paradigma permeado pela inovação integra-se
nas estratégias discursivas de modo que possibilite a ampliação das habilidades da empresa
em gerir sua evolução tecnológica, contribuindo para as necessárias transformações sociais
que assegurem sua manutenção no mercado competitivo.
Constata-se, então, que as organizações empresariais utilizam de sua estrutura
formal de comunicação para estratificar os papéis ocupados por seus colaboradores, com
vistas a legitimar as relações hierárquicas, estabelecidas nesse espaço, em que determina o
exercício do poder por parte dos detentores dos meios de produção, de modo que,
discursivamente eles expõem o sistema de coerções organizacional, com o objetivo de
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convencer seus colaboradores à cooperação, no desenvolvimento de atividades geradoras
de lucros.
Assim, sendo,
A estrutura do campo comunicativo, destinada a produzir o sentimento da comunicabilidade plena, da participação e da comunicação, não é um processo de constituição recíproca dos interlocutores, mas antecede, regula, controla e predetermina a própria comunicação. O espaço é anterior aos seus ocupantes, não é criado ou recriado por eles segundo a lógica peculiar ao ato comunicativo (CHAUÍ, 1989: 31-32)
Nesse contexto, os textos que circulam nas empresas na forma de correspondência
corporativa cristalizam planos discursivos, que influenciam os trabalhadores a acreditar que
simbolicamente são detentoras de sua felicidade, em função de reforçar a ideia de sucesso
vinculada ao desenvolvimento de trabalhos que transponham as atribuições exigidas pelo
seu cargo/ocupação, construindo uma nova designação para este novo colaborador, o
“multifuncional”. Característica profissional necessária para que os projetos de inovação
rentáveis sejam desenvolvidos na empresa.
Este processo funciona numa dinâmica paradoxal, pois exige do grupo de
colaboradores conhecimento para inovar sua presença no mercado competitivo, mas
esvazia sua criticidade, no que se refere ao despertar do sentimento de dependência dos
colaboradores da organização empresarial, levando-os simbolicamente à submissão.
Considerações Finais
A comunicação assume um papel desafiador no ambiente organizacional
contemporâneo, o de servir de suporte para um modelo de gestão bem estruturado e com
capacidade de levar a empresa a enfrentar os desafios cada vez mais competitivos de uma
sociedade que está consciente dos seus direitos. A informação e os processos de
comunicação fazem referência a tudo que diz respeito à posição social e ao funcionamento
da organização e que envolve desde seu clima interno até suas relações institucionais.
Sendo assim, torna-se cada vez mais necessário entender a complexidade da informação e
os processos comunicacionais na gestão estratégica das organizações, porque é preciso
buscar novas lógicas de gestão para enfrentar a competitividade, as transformações e
contextos cada vez mais complexos.
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Essa constante busca de oportunidades para a manutenção da empresa no mercado
competitivo implica a adoção de uma cultura organizacional inovadora no que se refere ao
desenvolvimento de novas práticas que minimizem a propensão de riscos e fracassos
dispendiosos, tendo sua ênfase na exploração da criatividade do grupo de colaboradores.
Nesse sentido, as empresas fazem uso de estratégias comunicativas formais que,
mediante as demandas contemporâneas, constroem planos discursivos que levem seus
trabalhadores/colaboradores a aderirem à ideia de que o sucesso está vinculado à
multifuncionalidade profissional, característica que exige a constante superação do que
prescreve as atribuições do seu cargo, na proposição velada da exploração da sua força de
trabalho.
O ambiente empresarial contemporâneo deve apresentar habilidades inovadoras e
flexíveis, enquanto cultura corporativa, para conseguir obter vantagens competitivas em
relação aos seus concorrentes. As dimensões que norteiam a inovação baseiam-se no
desenvolvimento de novos produtos e processos, propensão ao risco ou a disposição de
buscar as oportunidades que podem ter a chance razoável de um fracasso dispendioso, pró-
atividade, ou ênfase na persistência e criatividade em superar obstáculos, até que o conceito
inovador seja implantado enquanto cultura organizacional.
Referências Bibliográficas
BRANDÃO, Helena Hathsue Nagamine. (2001) Analisando o discurso. FFLCH. Disponível:
www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/brand001.pdf . Acesso: 03/08/2012.
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cursos de Administração, Contabilidade e Informática. São Paulo: Atlas, 2005.
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Estudo exploratório sobre a visão dos gestores de produção e gestores
de RH nas empresas
___________________________________________________________
Renato Brito do Carmo Pós-graduado Engª de Produção com enfase Gestão Industrial - UERJ
[email protected] _________________________________________________________________________
RESUMO
Este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa realizada com 07gestores de produção e 03 gestores de RH de empresas variadas da região Sul Fluminense, interior do estado do Rio de Janeiro. O estudo baseou-se em aspectos distintos, porém inter-relacionados. São eles: como os gestores lidam no dia-a-dia com os diferentes aspectos relacionados, tais como; conflitos, motivação e resultados das suas equipes de forma a atingirem as metas. Este artigo tem como objetivo, observar as visões dos gestores de produção e gestores de Rh, e como esses gestores interagem junto a suas equipes na busca dos resultados. O trabalho encontra-se estruturado em quatro seções. Na primeira, são abordados os conceitos existentes e encontrados através de uma pesquisa bibliográfica. Na segunda seção, a metodologia utilizada. No terceiro tópico, são expostos os dados coletados e suas análises comparadas com os conceitos já existentes. E por fim, na última seção, apresentam-se os comentários finais, com uma conclusão dos resultados obtidos. Palavras-chave: .
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ABSTRACT
This article presents the result of a research accomplished with 07 managers of production and 03 managers of resource human varied companies of the Fluminense South area, and Rio de Janeiro’s countryside. The study based on different aspects, however interrelated. They are them: as the managers work in the day by day with the different related aspects, such as: conflicts, motivation and results of your teams, in way reach her/it the goals. This article has as objective, to observe the production managers' visions and Resource Human, and as those managers interact with your teams, in the search of the results. The work is structured in four sections. In the first section, the existent concepts are approached and found through a bibliographical research. In the second section, explain a methodology. In the third topic, they are exposed the collected data and your analyses already compared with the concepts existent. It is finally, in the last section, and the last comments, with a conclusion of the obtained results. Keywords: management, resource human, conflicts and motivation.
1. Introdução
No mundo atual, caracterizado por grandes avanços tecnológicos e acelerado
crescimento da competitividade, as organizações buscam novas estratégias sustentáveis de
negócios e ferramentas que as destaquem. Vemos que as relações entre as pessoas
continuam sendo motivos de grandes conflitos e muitas dificuldades, apesar de todo
progresso alcançado pelo homem. As diferenças de valores, crenças, experiências,
percepções e opiniões são tão grandes quanto diversas são as pessoas que habitam o
mundo.
Segundo (Nonaka e Takeuchi) numa economia onde a única certeza é a incerteza, a
única fonte de garantia de vantagem competitiva duradoura é o conhecimento.
As empresas de sucesso são aquelas que criam sistematicamente novos conhecimentos,
disseminam-nos pela organização inteira e rapidamente os incorporam em novas
tecnologias e produtos.
Cada empresa, ao definir sua estratégia, está suportada por competência
organizacionais, individuais, das suas equipes e da própria organização – que assegura o
melhor desempenho. É assim de certa forma, que se criam perfis profissionais que servem
de referencia para o desenvolvimento do capital humano na organização (Stewart, 1999).
Neste contexto , indivíduo competente não é aquele que tem determinados
recursos e sim aquele que consegue mobilizá-lo em momentos oportuno, sob a forma de
conhecimento, capacidade cognitivas, capacidade relacionais e competência.
Toda e qualquer organização necessita em maior ou menor grau, do elemento
humano. Por isso, o presente artigo visa realizar um estudo das competências e habilidades
necessárias aos gestores, de forma a verificar se os mesmos utilizam técnicas de gestão de
pessoas, a fim de motivarem suas equipes visando um bom relacionamento, entre as partes,
no cumprimento das metas estipuladas por suas empresas.
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Para tal, foi realizada uma pesquisa exploratória de campo com onze gestores,
responsáveis por equipes de trabalhos ou processos cuja análise foi comparada com
conceitos teóricos já existentes.
2. Fundamentação Teórica
A utilização da psicologia como ciência capaz de apoiar a compreensão e a
intervenção na vida organizacional provocou nova orientação do foco de ação da gestão de
recursos humanos.
Para Millesi, em um artigo da Harvad Business Review, o modelo de recursos humanos
corresponderia a uma nova fase do processo de gerenciamento de pessoas, na qual a
diferença fundamental estaria na postura do gerente na condução das equipes de trabalho
(CONRAD e PIEPER, 1990).
Millesi publicaria em 1975, Theories of management, propondo uma classificação
composta de três modelos de gerenciamento: o tradicional, o modelo de relações humanas
e o modelo de recursos humanos.
Considerando a importância desses modelos como ferramenta de apoio, observou-se
sua utilização pelas organizações para nortear e inspirar seus gerentes.
À medida que se entenda que os objetivos humanos e organizacionais são paralelos
e não antagônicos, a tarefa será facilitada e todos assumirão com maior naturalidade a
necessidade de modificar-se, para que a organização se modifique como um todo, tendo
em vista alcançar as transformações necessárias, não antagônicas. A tarefa será facilitada e
todos assumirão com maior naturalidade a necessidade de modificar-se, para que a
organização se modifique como um todo, tendo em vista a não adoção de uma simples
atitude reativa, mas sobretudo "proativa", em face das ameaças do ambiente. Prever as
dificuldades e antecipar-se a elas, promovendo a tempo as mudanças necessárias, dar às
organizações a possibilidade de gerenciar as mudanças, em lugar de simplesmente serem
gerenciadas por elas, como vítimas passivas dos desafios.
3. Metodologia
Buscou-se fazer um estudo de caráter exploratório que, segundo Vergara (1997), é
realizado em áreas nas quais há pouco conhecimento acumulado e sistematizado e, por sua
natureza de sondagem, não comporta hipóteses que, todavia, poderão surgir durante ou ao
final da pesquisa. O procedimento utilizado nesta pesquisa para a coleta de dados foi a
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entrevista, que é considerada por muitos autores como a técnica por excelência na
investigação social, possuindo grande flexibilidade. Gil (1989, p.113) a define como “uma
forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se
apresenta como fonte de informação”.
As entrevistas foram realizadas com onze gestores (gerentes, supervisor,
coordenador ou líderes) de diferentes empresas situadas na região Sul Fluminense, no
interior do estado do Rio de Janeiro. É importante ressaltar que as empresas selecionadas
possuem faturamento anual acima de R$ 6 bilhões, sendo duas empresas do setor
automobilístico e uma empresa do ramo de siderurgia. Os gestores foram questionados
separadamente, sem que um conhecesse as respostas do outro e sem quaisquer explicações
sobre conceitos referentes a gerenciamento de pessoas.
Para alcançar os objetivos propostos neste artigo, inicialmente realizou-se um
estudo bibliográfico sobre gestão de pessoas. O objetivo dessa pesquisa em campo é servir
de embasamento para as análises e comparativos da visão da organização versus a visão dos
gestores entrevistados.
Logo após, são apresentadas as entrevistas dos onze gestores, seguidas de suas
respectivas análises. E finalmente, as considerações, apresentando as conclusões
observadas na pesquisa com os gestores das organizações.
4. Descrição e Análise de Dados
Os dados obtidos através das entrevistas com os gestores foram analisados e
comparados ao referencial teórico. Algumas respostas de alguns entrevistados, cujos
nomes não foram revelados, foram destacadas para ilustrar o assunto abordado.
4.1. Entrevista com Gestores de Produção
4.1.1. O que é esperado de você?
Constatamos que o relacionamento do superior com seus os funcionários tem um foco em
garantir resultados determinados pela empresa e ao mesmo tempo avaliar em sua equipe sob sua
supervisão possíveis comportamentos interpessoais de forma singular para agregar novos valores a
organização “...G1 entrevista A - o meu principal objetivo é atingir as metas de qualidade da produção. A gestão
das pessoas que trabalham na minha equipe é a base para a qualidade da produção. Portanto, o meu papel é formar
uma equipe que trabalhe com o máximo de autonomia para gerar resultados para a empresa. Isso envolve a
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contratação de profissionais que preencham os pré-requisitos que eu estabeleço para cada cargo/função, o
desenvolvimento deles, o acompanhamento e o direcionamento do trabalho de cada um...”
4.1.2. Quais os principais problemas enfrentados por você na indústria?
Verificamos nas entrevistas de campo que os gestores apontaram as dificuldades
atualmente é conciliar a necessidade de dar resultados para organização, encontrar pessoas
comprometidas com os objetivos da empresa na implementação de novos processos e
projetos de linhas. Na visão dos gestores eles buscam inicialmente o resultado diário e em
contra partida os seus colaboradores não atendem as expectativas. “...G3 entrevista B -
Funcionários desmotivados e falta de comprometimento...“
4.1.3. Quais os principais problemas relativos a gestão de pessoas?
Percebemos que os gestores entrevistados, das diferentes empresas pesquisadas,
apresentam um conflito em relação a visão altamente economicista das organizações, ou
seja, procuram uma mão de obra altamente especializada, porém as empresas não estão
dispostas a pagar. “... G2 entrevista A – Hoje é administrar expectativa dos colaboradores
em um mercado de trabalho em expansão ou seja administrar a demanda por maiores
salários dos colaboradores versus a capacidade de fato da empresa em ofertar melhores
salários ou benefícios...”
4.1.4. Como você gerencia conflitos na sua equipe?
Observamos nas entrevistas de campo referente a gestão de pessoas que em
momentos de conflitos, a maior parte dos gestores entrevistados procuram ou tentam
sinalizar um comportamento imparcial de mediador.
Percebemos que os conflitos são gerados por vários motivos, tais como, aumento
de salário, viagens, treinamentos diferenciados e problemas interpessoais e
comportamentais de determinados grupos.
4.1.5. Como você classifica a atuação da área de recursos humanos?
Omnes Humanitate – Revista Científica da ESAB - janeiro a junho de 2013, Vol. 3. N. 9
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Na classificação dos gestores dos vários setores industriais pesquisados constatamos
que a grande maioria deu seu parecer favorável à atuação do RH como um setor
fundamental. Na avaliação dos gestores 67% consideram fundamental a atuação do RH na
sua gestão, 16,5 % acreditam que é muito importante e 16,5% considera importante.
4.2. Entrevista com Gestores de Recursos Humanos
4.2.1. Como vocês fazem o recrutamento na empresa (interno ou externo)?
Nesta questão de Rh percebemos na pesquisa realizada como os gestores de Rh que
o recrutamento no primeiro instante a empresa procura internamente preencher a vaga
com colaboradores internos aptos ao perfil da vaga. Na falta do perfil adequado a vaga a
empresa recorre ao recrutamento externo. “...R1 entrevista A - A empresa procura dar
prioridade ao recrutamento interno, entretanto quando não há candidatos cuja
competências, formação e habilidades se encaixem ao perfil previsto para a vaga recorre-se
ao recrutamento externo...”
4.2.2. Como vocês integram os novos empregados/colaboradores no seu
trabalho?
Foi identificado por intermédio da pesquisa de campo que as empresas procuram
apresentar sua visão, missão e valores internos da organização como forma de motivação e
atração deste capital intelectual que foi captado no mercado de trabalho. A ferramenta mais
utilizada pelos gestores entrevistados é o programa de integração no primeiro dia de
trabalho, atualmente as empresas consultadas utilizam-se de vários recursos, tais como,
filmes, animações, demonstrando a história da empresa o portfólio de produtos e o seu
processo produtivo. Posteriormente os novos colaboradores são deslocados para suas áreas
de atividades onde receberão treinamento direcionado. “...R1 entrevista B - Todos os
colaboradores passam por um processo de integração, onde é apresentada a empresa e em
seguida ele realiza o reconhecimento/treinamento no local onde irá desempenhar suas
atividades...”
4.2.3. Vocês sabem os principais motivos de turn-over (rotatividade) na
planta industrial?
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Na pesquisa de campo percebemos que os gestores, omitiram os detalhes das
causas reais do turn-over em função de uma visão protecionista dos dados fidedignos da
organização, porém alguns gestores de Rh foram bastante generalistas na suas respostas
“...R1 entrevista B - Não podemos divulgar essas informações...”
“...R1 entrevista A - Aquecimento da economia, que ocasiona uma oferta maior de
postos de trabalho...”
4.2.4. Como a empresa faz para se tornar atrativa em seu mercado, visando
a atração de pessoas?
Em resposta a este item da pesquisa de campo constamos que o gestores de Rh
comungam com a mesma visão de retenção de capital intelectual onde o apelo mais forte
foi percebido quanto ao aspecto dos benefícios, salários e oportunidade de
desenvolvimento. Em nenhum momento percebemos que os gestores valorizavam a
organização como uma instituição altamente diferenciada no mercado onde ela atua.
“...R1 entrevista B - Buscamos manter a política de cargo e salário conforme o
mercado e oferecemos oportunidades de crescimento pessoal e financeiro dentro da
nossa organização...”
4.2.5. Qual é o papel esperado dos gestores na indústria?
A principio verificamos que os gestores de Rh esperam dos gestores da produção
que eles atendam as metas de produção à ser atingida. Em segundo plano os gestores de
produção necessitam ter outras habilidades para atingir os resultados, tais como,
administrar equipes, conflitos interpessoais e motivar sua equipe para resultados. “...R1
entrevista B - Ter a sensibilidade de lapidar as pessoas da sua gestão, conseguindo obter e
descobrir o seu melhor potencial, superando todos os desafios propostos com alto índice
de motivação da equipe...”
4.2.6. Qual o papel esperado dos gestores na industria?
Os gestores pesquisados em campo indicaram que diariamente a maior
preocupação é com as oscilações de produção que afetam diretamente todos os meios de
Omnes Humanitate – Revista Científica da ESAB - janeiro a junho de 2013, Vol. 3. N. 9
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produção, tais como, mão de obra, máquinas, custo fixo e outras barreiras que possam
impedir o fluxo de produção. Os gestores apontaram também que a maior preocupação é
oferecer um sistema de produção flexível e adaptativo. “...R1 entrevista A - Lidar com as
adversidades da economia e do mercado consumidor, oferecendo um sistema de produção
flexível e adaptativo. Portanto, a busca pela flexibilidade é o maior desafio, dado que nessa
ação o gestor pode encontrar situações que podem ser barreiras, como máquinas,
capacidade de mão de obra e custos fixos...”
4.2.7. Quais os principais problemas relativos a gestão de pessoas,
enfrentados pelos gestores na sua planta industrial?
Analisando as pesquisas realizadas em campo observamos a seguinte visão dos
gestores de Rh, a preocupação em administrar os seguintes aspectos relacionado ao
comportamento do capital intelectual, como a motivação, as adversidades pessoais dos
colaboradores e atingir metas. “... R1 entrevista B - Motivação, diversidade de opiniões,
descobrir talentos, superar metas...”
4.2.8. Como você classifica a atuação da área de Rh na sua planta industrial?
Os entrevistados nas organizações industriais apesar de uma resposta direta
alegando que o seu papel como gestor de Rh é fundamental. Percebemos através das
questões pesquisadas a concordância dos gestores de produção entrevistados sobre o papel
desempenhado pelo Rh.
4.2.9. Como você acha que os gestores de produção classificam a atuação
da área de recursos humanos na sua planta industrial?
Primeiramente vamos acrescentar as informações da pesquisa de campo dos gestores
de produção onde a visão da produção indica que 67% dos gestores entrevistados acharam
fundamental a atuação do Rh na planta industrial. As pesquisas realizadas com os gestores
de Rh alegaram de forma direta que consideram o seu papel fundamental para
sobrevivência da visão organizacional.
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5. Considerações finais
O presente estudo foi desenvolvido em três empresas dos Sul Fluminense com ramo
de atuação bastante distinto. Essas empresas possuem um faturamento anual
aproximadamente de 2 bilhões cada e cultura bastante diferente, uma vez que, a empresa A
de origem alemã, a empresa B nacional e a empresa C de origem francesa. Apesar, de essas
empresas terem visões organizacionais bem diferentes, observamos pontos em comuns nas
respostas dos gestores de níveis estratégicos e operacionais. Tanto a empresa A quanto a
empresa B os gestores entrevistados são da área de qualidade e processo, ou seja, gestores
de nível estratégico maior que os gestores da empresa C cuja a entrevista foi realizada com
gestores de produção com nível operacional. Observamos que todos os gestores estão
preocupados em cumprir suas atribuições, que seu foco é naquilo que a empresa determina,
entretanto, os gestores da empresa A e B utilizam um modelo gestão mais próximo ao
modelo de recursos humanos – que visa promover atitude de autodeterminação e
autogerenciamento entre seus subordinados. Já os gestores da empresa C se identificam
mais com o modelo de relações humanas – onde procuram reconhecer as expectativas de
seus subordinados, levando-os a sentir-se úteis e importantes naquilo que fazem.
A segunda fase deste estudo, se deu também através de entrevistas, porém desta vez os
gestores entrevistados eram da área de Rh. É importante ressaltar que todos os gestores
entrevistados possuem nível superior e pelo menos um curso de especialização.
Observou-se que os colaboradores das distintas empresas pesquisadas são de várias
gerações e de culturas fabris diferenciadas. As organizações onde estão inseridos os
gestores e os colaboradores carregam consigo visões organizacionais de gestão focadas em
resultados operacionais. Entretanto as pessoas quando se inter-relacionam em um ambiente
fechado das organizações entrevistadas elas são submetidas a um direcionamento de
trabalho em grupo internamente, em função destas características são esperados destes
colaboradores a competência para a resolução de problemas e melhorias na capacidade de
gerar resultados para essas organizações. Tendo em vista esta realidade de gestão de
pessoas os gestores no seu dia-a-dia percebem as ações ao seu redor e intervém quando for
necessário para motivar ou eliminar interfaces de conflitos entre seus colaboradores e
demais setores das organizações. Segundo Barrett, Richard. Pag. 92. - Edgar Schein,
professor de Administração da Escola de Administração Sloan do M.I.T, acredita que
executivos e engenheiros tende a “ver pessoas como recursos impessoais que geram
problemas em vez de soluções... eles vêem as pessoas e os relacionamentos como meios de
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alcançar eficiência e produtividade, não como fins em si mesmos”. A cultura do operador,
por outro lado, tende a se encontrar no que funciona – valores como participação, trabalho
em equipe e colaboração – em outras palavras, valores que se alinham com a execução do
trabalho e com a coesão organizacional. É importante também ressaltar sobre as questões
das entrevistas que buscaram alinhar por meio do questionamento com os entrevistados
que por parte do gestor ele detém a visão da organização em contra partida do outro lado
ele percebe a visão real dos acontecimentos por meio do relacionamento com outras
pessoas, neste caso os colaboradores que detém uma visão própria desenvolvida no decorre
da sua vida. É neste momento que percebemos as dificuldades que os gestores encontram
na gestão das pessoas dentro das organizações.
Enfim, cabe dizer que o artigo realizado abre a possibilidade de novos
questionamentos, visando continuar a exploração do tema, ou utilizando-se de uma
amostra maior.
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TI e Meio Ambiente: Uma Reflexão Sobre os Impactos Ambientais,
Legislação e Soluções Propostas
____________________________________________________________ Diego Santana Silveira
Mestrando em Ciência da Computação (UFS/SE)
Pós-graduando em Engenharia de Sistemas (ESAB/ES)
______________________________________________________________________
Resumo Nos últimos anos, o desenvolvimento de equipamentos eletroeletrônicos, especialmente os relacionados a TI (Tecnologia da Informação), vem crescendo em ritmo acelerado e tornou-se de suma importância para o cotidiano das pessoas e organizações ao apoiar a realização de atividades laborais, educacionais, de comunicação, de entretenimento, de transações financeiras, entre outras. A utilização efetiva desses aparatos tecnológicos tem proporcionado muitos benefícios para o público em geral, que vão desde a automatização e maior velocidade na execução das tarefas até a redução de custos. No entanto, diversos problemas relacionados ao processo de fabricação, manipulação e destino desses equipamentos como, por exemplo, o alto consumo de matérias-primas não renováveis, a poluição e o descarte inadequado desses componentes no meio ambiente, têm sido apresentados e tonaram-se objetos de estudo por parte de pesquisadores e organizações. Diante disso, este artigo tem por objetivo realizar uma reflexão acerca dos impactos dos recursos tecnológicos no meio ambiente, legislação existente, bem como apresentar iniciativas para solução
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e/ou minimização dos problemas identificados, a exemplo da TI Verde, que visa a utilização racional e
eficiente dos recursos da TI.
Palavras-chave: TI, Meio Ambiente, Impactos Ambientais e TI Verde.
Abstract In recent years, the development of electronic equipment, especially those related to IT (Information Technology), has been growing at a rapid pace and has become of paramount importance to the daily lives of people and organizations to support the implementation of labor activities, educational communication, entertainment, financial transactions, among others. The effective use of these technological devices has provided many benefits to the general public, ranging from automation and greater speed of execution of the tasks to reduce costs. However, several problems related to process manufacturing, handling and use of such equipment, for example, high consumption of non-renewable raw materials, pollution and improper disposal of these components into the environment, have been presented and became objects study by researchers and organizations. Thus, this article aims to make a reflection on the impact of technological resources in the environment, existing legislation and introduce initiatives to remedy and / or minimize the problems identified, the example of Green IT, which aims to achieve rational and efficient use of IT resources.
Keywords: IT, Environment, Environmental Impacts and Green IT.
1. Introdução
A Tecnologia da Informação, por meio dos equipamentos elétricos e eletrônicos,
tem se expandido rapidamente ao longo dos últimos anos e se consolidou no cotidiano não
somente das pessoas como também das organizações de modo geral. Inúmeros são os
benefícios proporcionados a partir do uso desses aparatos tecnológicos, a exemplo da
melhoria e ampliação dos meios de comunicação, automatização e otimização na realização
de tarefas, economia de tempo e de deslocamentos, etc.
Ultimamente, os diversos meios de comunicação em conjunto com a
obsolescência programada dos equipamentos eletroeletrônicos disseminam a cultura do
consumismo e da necessidade de substituição constante de tais aparelhos (MAGALHÃES,
2011), quer seja pela rápida evolução tecnológica ou pela diminuição nos custos de
produção e de venda. Com isso, um número crescente de consumidores acaba adquirindo
novos produtos que serão descartados em um período de tempo cada vez menor.
Como resultado disso, cresce a quantidade de equipamentos obsoletos e
defeituosos que vão sendo descartados e convertidos em resíduos. Tais equipamentos
possuem na sua composição materiais que demandam muito tempo para se decompor
como plásticos, vidros e, sobretudo, metais pesados e compostos químicos tóxicos, que são
altamente nocivos ao meio ambiente e a saúde humana.
Ao ser descartado de maneira inadequada no meio ambiente por meio do lixo
doméstico e aterros sanitários, os resíduos provenientes dos produtos eletroeletrônicos,
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também conhecidos como lixo eletrônico, liberam substâncias tóxicas, que contaminam
solos, rios, lençóis freáticos, ar, plantas, animais e seres humanos. É importante ressaltar
que esse tipo de resíduo é o que apresenta maior tendência de crescimento no planeta
(GREENPEACE, 2011). Outro dado muito preocupante é que uma grande parcela da
população desconhece os perigos inerentes ao descarte inadequado dos equipamentos
eletroeletrônicos no meio ambiente.
Diante dessa problemática, o presente artigo tem por objetivo discorrer sobre os
impactos dos resíduos oriundos da Tecnologia da Informação no meio ambiente, abordar
legislações existentes, bem como apresentar iniciativas para solução e/ou minimização dos
problemas anteriormente elencados.
2. Lixo Eletrônico, Impactos Ambientais, Reciclagem e Legislação
Ao longo das duas últimas décadas, o consumo de produtos eletroeletrônicos vem
crescendo rapidamente devido, em grande parte, a inovação tecnológica e a obsolescência
programada dos recursos tecnológicos por parte dos fabricantes. São inúmeros os produtos
pertencentes a essa classe e que contribuem para auxiliar na realização de atividades e
melhorar a qualidade de vida das pessoas como, por exemplo, celulares, televisores,
computadores, aparelhos de áudio e vídeo, eletrodomésticos, entre outros.
Os benefícios proporcionados pelo uso desses aparatos tecnológicos são muitos,
não podem ser esquecidos ou negligenciados. No entanto, esse fenômeno de consumo
elevado e, de certo modo, desenfreado entre alguns aficionados por tecnologia também
está contribuindo para o crescimento do volume de resíduo eletroeletrônico gerado e
descartado inadequadamente no meio ambiente através de lixões e aterros sanitários.
O resíduo eletroeletrônico é classificado pela NBR 10004 (ABNT, 2004) como
Classe I: Perigosos, isto é, apresentam periculosidade em virtude das propriedades físicas,
químicas e infecto contagiosas podendo provocar: risco à saúde pública, com o aumento de
doenças e mortalidade; e risco ao meio ambiente, quando resíduos são descartados e
tratados de forma inadequada.
Os equipamentos eletroeletrônicos possuem em sua composição materiais que
demandam muito tempo para se decompor, o que contribui para ampliar a poluição do
meio ambiente. Para exemplificar, o processo de degradação do plástico, alumínio e metais
em geral demora aproximadamente até 450 anos.
Além de levar vários anos para completar o processo de decomposição, os
equipamentos eletrônicos possuem elementos químicos perigosos como, por exemplo,
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chumbo, mercúrio, cobre, zinco, arsênio, níquel, cádmio, bromo, e etc. A Tabela 1 traz
uma relação de metais pesados e respectivos danos causados à saúde humana.
Tabela 1: Metais pesados e danos causados à saúde humana.
Metal Pesado Principais danos causados à saúde do homem
Alumínio Solos ricos em alumínio são ácidos e podem afetar as funções vitais de algumas plantas. Alguns autores sugerem haver relação da contaminação do alumínio como um dos fatores ambientais para a ocorrência do Mal de Alzheimer.
Arsênio Pode ser acumulado no fígado, rins, trato gastrointestinal, baço, pulmões, ossos, unhas. Dentre os efeitos crônicos: câncer de pele e dos pulmões, anormalidades cromossômicas e efeitos teratogênicos (deformação fetal).
Cádmio Acumula-se nos rins, fígado, pulmões, pâncreas, testículos e coração. Pode gerar descalcificação óssea, lesão renal, enfisema pulmonar, além de efeitos teratogênicos e carcinogênicos (câncer).
Bário Não possui efeito cumulativo. Provoca efeitos no coração, no Sistema Nervoso Central (SNC), constrição dos vasos sanguíneos e elevação da pressão arterial.
Cobre Intoxicações como lesões no fígado.
Chumbo É o mais tóxico dos elementos. Acumula-se nos ossos, cabelos, unhas, cérebro, fígado e rins. Em baixas concentrações causa dores de cabeça e anemia, exerce ação tóxica na biossíntese do sangue, no sistema nervoso, renal e no fígado. Constitui-se veneno cumulativo de intoxicações crônicas que provocam alterações gastrintestinais, neuromusculares, hematológicas podendo levar à morte.
Mercúrio Atravessa facilmente as membranas celulares, sendo prontamente absorvido pelos pulmões. Possui propriedades de precipitação de proteínas (modifica as configurações das proteínas) sendo grave suficiente para causar colapso circulatório no paciente, levando a morte. É altamente tóxico ao homem, sendo que doses de 3g a 30g são fatais, apresentando efeito acumulativo e provocando lesões cerebrais, além de efeitos de envenenamento no sistema nervoso e teratogênicos.
Cromo Armazena-se nos pulmões, pele, músculos e tecido adiposo. Pode provocar anemia, alterações hepáticas e renais, além de câncer do pulmão.
Níquel Carcinogênico (atua diretamente na mutação genética).
Zinco Efeito mais tóxico é sobre os peixes e algas (conhecido). Experiências com outros organismos são escassas.
Prata 10g como Nitrato de Prata é letal ao homem.
Fonte: Greenpeace (2011).
Diante desses dados, percebe-se a necessidade de se elaborar, incentivar e manter
ações e medidas para o tratamento e descarte adequados desses resíduos, que podem
alcançar de 20 a 50 milhões de toneladas ao ano no mundo e que representam cerca de 5%
dos resíduos sólidos gerados nas zonas urbanas (GREENPEACE, 2011).
No momento, não há dados oficiais a respeito do lixo eletrônico no Brasil. As
informações que existem sobre o tema são escassas, a iniciar pelas estimativas sobre o
volume de resíduos eletroeletrônicos que é gerado (HENRIQUES, 2004). No entanto, é
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possível mensurar, a partir do número de equipamentos em uso e do volume de vendas,
que a quantidade desse tipo de resíduo é elevada e está em franco crescimento.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio realizada pelo IBGE
(IBGE, 2009) revelam que: 96% das residências brasileiras possuem televisor e geladeira;
31,5% dos lares estão conectados à Internet; e, existem 215,4 milhões de telefones.
Ao analisar as informações da pesquisa, fica evidente que o volume de lixo
eletrônico no país é grande e continuará se expandindo. Entretanto, percebe-se que a
reciclagem, reutilização e o processo de descarte adequado dos aparatos tecnológicos não
são práticas usuais no Brasil. A falta de campanhas para a conscientização da sociedade e de
um grupo de trabalho que pesquise o assunto, aliada à inexistência de um centro de
excelência para a gestão completa desses resíduos não corroboram para a solução do
problema.
São poucas as iniciativas, programas e estratégias desenvolvidas por Estados,
empresas e organizações não governamentais acerca do tratamento e descarte dos
equipamentos eletroeletrônicos no país. Além disso, o processo de reciclagem do lixo
eletrônico geralmente é muito elevado. E, para agravar ainda mais a situação, em muitas
ocasiões a compra de um novo equipamento torna-se mais vantajosa do que o conserto do
antigo (LEONARD, 2010). Tudo isso contribui para a ampliação do lixo eletrônico
lançado no meio ambiente.
É verdade que os equipamentos eletroeletrônicos são constituídos por substâncias
tóxicas, corrosíveis e inflamáveis, mas estes mesmos aparelhos contém uma grande
quantidade de elementos que podem ser recuperados e que possuem alto valor econômico
(MAGALHÃES, 2011). Estima-se que 94% dos componentes presentes nos computadores
podem ser reciclados e/ou recuperados e que apenas 6% não são reaproveitados
(PALLONE, 2008).
Duas iniciativas governamentais e não governamentais têm contribuído para
minimizar os problemas decorrentes do lixo eletrônico, a partir da reutilização de
computadores com vistas à inclusão digital e educacional, a saber: Projeto Computadores
Para Inclusão e MetaReciclagem.
O Projeto Computadores para Inclusão é uma iniciativa do Governo Federal que
tem por objetivo recondicionar computadores usados que foram doados por instituições
públicas e privadas. A recuperação desses computadores é feita por jovens de baixa renda
alunos de cursos profissionalizantes. No momento, há seis Centros de Recondicionamento
de Computadores (CRCs) em funcionamento nas seguintes cidades: Porto Alegre (RS),
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Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Lauro de Freitas (BA), Belém (PA). Os
computadores remanufaturados são distribuídos em bibliotecas, escolas e telecentros
(GOVERNO FEDERAL, 2013).
O MetaReciclagem, por sua vez, consiste em uma rede distribuída em atividade
desde 2002 que tem por objetivo a apropriação da tecnologia para a transformação social.
O projeto iniciou com a coleta e recondicionamento de computadores usados para
posterior distribuição em telecentros e projetos sociais, mas o enfoque foi evoluindo ao
longo dos anos ao pregar não somente a desconstrução do hardware como também a
utilização de software livre e licenças abertas (METARECICLAGEM, 2013).
É de suma importância a participação da sociedade, organizações e instituições no
desenvolvimento de soluções para o gerenciamento adequado dos resíduos
eletroeletrônicos oriundos dos mais variados aparatos tecnológicos. No entanto, também se
faz necessária a existência de uma legislação para regimentar a temática do lixo eletrônico.
Pensando nisso, alguns tratados e políticas foram desenvolvidos ao longo dos anos como,
por exemplo: a Convenção de Basiléia, a Agenda 21 da Rio-92 e a Política Nacional de
Resíduos Sólidos.
A Convenção de Basiléia, ocorrida em 1989, trata-se de um tratado internacional
que tem por objetivos a redução da geração de resíduos eletroeletrônicos, a implantação de
mudanças nos processos produtivos, bem como minimizar o envio desses resíduos para
países menos desenvolvidos. Além disso, o tratado prevê o monitoramento dos impactos
ambientais inerentes às operações de descarte, reciclagem e recuperação. Nesse evento,
foram aprovadas três listas que conferem ao lixo eletrônico a categoria de resíduo perigoso
e também foi proposto o banimento dos resíduos constituídos por ligas de chumbo,
cádmio, arsênio e mercúrio (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2013).
A Agenda 21 da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUCED), ocorrida em 1992 na Rio-92, discorreu acerca do tema
desenvolvimento sustentável. Nesse evento, foi proposto um conjunto de ações para
viabilizar um padrão de desenvolvimento ambiental mais racional envolvendo questões de
consumo, reutilização e reciclagem de resíduos sólidos (MINISTÉRIO DO MEIO
AMBIENTE, 2013).
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída a partir da
promulgação da Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010, dispõe sobre princípios, objetivos e
instrumentos, assim como estabelece diretrizes inerentes à gestão integrada e ao
gerenciamento dos resíduos sólidos, inclusive os perigosos, às responsabilidades dos
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geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos cabíveis. A legislação no
artigo 49 estabelece, por exemplo, a proibição da importação de resíduos sólidos perigosos
e rejeitos, bem como de resíduos sólidos que possuem características causadoras de danos
ao meio ambiente, à saúde pública e à sanidade vegetal, mesmo que seja feita para fins de
tratamento, reutilização ou reforma (PLANALTO, 2013).
Após abordar a temática do lixo eletrônico e o meio ambiente, que envolveu uma
discussão acerca dos resíduos eletroeletrônicos e dos possíveis impactos ambientais e danos
à saúde do ser humano, bem como apresentar iniciativas e tratados já desenvolvidos, será
feita uma explanação sobre a TI Verde que visa a utilização racional e eficiente dos recursos
da TI.
3. TI Verde
A TI Verde é definida como o estudo e a prática de projetar, produzir, utilizar e
descartar equipamentos computacionais de forma eficiente, eficaz e com o mínimo de
impacto ambiental (MURUGESAN, 2008). A TI Verde pretende através de suas ações
alcançar a viabilidade econômica em conjunto com o atendimento das responsabilidades
ambientais.
É importante ressaltar que diversos benefícios financeiros e ambientais podem ser
obtidos através da adoção de políticas de TI Verde, tais como: diminuição dos gastos
operacionais; elevação da produtividade através da otimização dos processos; redução da
emissão de gases poluentes, do consumo de energia e de matérias-primas não renováveis
(GUPTA, 2010).
Para se implantar práticas de TI Verde, é necessário antes definir objetivos, metas,
planos de ação e cronogramas. E existem três abordagens para adoção de ações da TI
Verde, a saber: abordagem incremental, caracterizada pela preservação da infraestrutura de
TI e adoção de medidas simples; abordagem estratégica, que consiste na realização de uma
auditoria na infraestrutura de TI para implementar mudanças; e, a abordagem radical, que
engloba as anteriores, mas tem como objetivos principais o projeto e implantação de uma
nova infraestrutura de TI de alto desempenho e baixo impacto ambiental (MURUGESAN,
2008).
A TI Verde enfrenta diversos desafios para minimizar os impactos ambientais,
dentre eles podem ser citados os seguintes: emissão de gases tóxicos como CO2; alto
consumo de energia; alto consumo de matérias-primas não renováveis; e descarte do lixo
eletrônico. A Tecnologia da Informação contribui com cerca de 2% da emissão de dióxido
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de carbono no mundo. Desse total, os Data Center são responsáveis por 23% e os
computadores e monitores contribuem com 40% da emissão de gases (MANSUR, 2009).
Não se pode negar que a TI tem proporcionado diversos benefícios para as
empresas como, por exemplo, aumento da produtividade, redução de custos operacionais e
otimização dos processos de desenvolvimento e distribuição de produtos e serviços. No
entanto, para que todos esses benefícios possam ser devidamente obtidos, uma série de
problemas e impactos ambientais vem sendo obsevados como o crescimento da emissão de
gases tóxicos, alto consumo de energia e matérias-primas não renováveis e descarte
inadequado do lixo eletrônico (MANSUR, 2009).
Para combater e minimizar tais impactos ambientais, uma série de ações e
políticas para o uso mais sustentável e ecologicamente correto dos recursos naturais vem
sendo desenvolvidas pela TI Verde, a saber: práticas de conscientização; Data Center verde;
descarte e reciclagem; hardware; impressão; e software.
A prática de conscientização engloba ações como campanhas realizadas nas
empresas acerca dos problemas e impactos ambientais, a existência de uma política de
utilização dos recursos de maneira sustentável e a análise da eficiência energética dos
equipamentos eletroeletrônicos. A prática Data Center verde envolve a virtualização de
servidores, que consiste na utilização de uma única máquina física com diversas máquinas
virtuais. Essa estratégia contribui para aumentar a taxa de utilização dos servidores,
promover o isolamento dos servidores, diminuir o consumo de energia e a emissão de
gases poluentes.
A prática descarte e reciclagem é implantada através de ações como reciclagem de
equipamentos, descarte adequado dos resíduos eletroeletrônicos, doação de equipamentos
e incentivo à entrega de equipamentos antigos no momento da aquisição de um novo. A
prática hardware diz respeito à criação de aparelhos mais eficientes energeticamente,
eliminação de componentes nocivos dos produtos, utilização de componentes reciclados
no processo de criação de novos equipamentos, bem como a ampliação do ciclo de vida. A
prática de impressão está relacionada ao monitoramento das impressões, consolidação de
impressoras, utilização de papel reciclado e digitalização de documentos. Por fim, a prática
software diz respeito à construção de softwares mais eficientes. A Figura 1 apresenta um
resumo dos benefícios proporcionados pela utilização das práticas de TI Verde.
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Figura 1: Benefícios da adoção de práticas de TI Verde.
Fonte: Murugesan (2008).
As práticas de TI Verde como visto são de suma importância para a redução dos
impactos ambientais provocados pela utilização dos recursos da Tecnologia da Informação.
Tais práticas podem trazer uma série de benefícios para as empresas e meio ambiente
como, por exemplo, redução do consumo de energia, redução do espaço utilizado,
melhoria no desempenho dos sistemas, redução dos custos, redução da emissão de gases e
impacto ambiental.
4. Conclusão
Os equipamentos eletroeletrônicos oriundos da Tecnologia da Informação têm
proporcionado inúmeros benefícios para as pessoas e organizações de modo geral. Isso é
fato e não pode ser ignorado. São melhorias efetuadas nos meios de comunicação, nos
processos de produção com a automatização e o aperfeiçoamento na realização de tarefas,
além de economia de tempo e de recursos, dentre tantos outros.
No entanto, o alto consumo dos mais variados equipamentos desenvolvidos pela
TI também tem contribuído para a geração elevada de resíduos tecnológicos, denominados
de lixo eletrônico. Esse tipo de resíduo é o que apresenta maior tendência de crescimento
no mundo, provoca sérios problemas ao meio ambiente ao ser descartado de forma
inadequada e traz danos a saúde do ser humano.
Diante disso, depreende-se que ações integradas e contínuas precisam ser
adotadas por parte das instituições públicas e privadas, bem como da comunidade de modo
geral com o objetivo de contribuir para a solução e/ou redução dos problemas inerentes
aos resíduos eletroeletrônicos. Algumas iniciativas já estão sendo desenvolvidas nesse
sentido como o Projeto Computadores para Inclusão do Governo Federal, que consiste no
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recondicionamento e redistribuição de computadores doados por instituições a bibliotecas,
escolas e telecentros; e o MetaReciclagem, rede distribuída que visa a apropriação da
tecnologia para a transformação social, através de ações como coleta e conserto de
computadores para posterior distribuição em telecentros e projetos sociais.
Outra iniciativa (denominada de TI Verde) que está contribuindo vem da própria
TI, que passou a se preocupar mais com o tema em questão ao desenvolver produtos e
soluções além de promover medidas mais sustentáveis e ambientalmente corretas como,
por exemplo, campanhas de conscientização sobre os impactos ambientais decorrentes da
TI, virtualização de servidores, a digitalização de documentos e redução de impressões.
Diante das reflexões realizadas ao longo do artigo, foi possível perceber que o
tratamento e descarte adequados dos resíduos eletroeletrônicos no Brasil e no mundo são
questões de suma importância e que precisam ser devidamente discutidas e administradas,
tem do em vista os sérios desdobramentos e problemas que os resíduos eletroeletrônicos
provocam não somente ao meio ambiente, mas também aos seres humanos.
5. Referências
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HENRIQUES, Raquel. M. Aproveitamento Energético dos Resíduos Sólidos Urbanos: Uma Abordagem Tecnológica. Rio de Janeiro: Planejamento Energético – COPPE/UFRJ, 2004.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 2009 (PNAD 2009). Rio de Janeiro: IBGE, 2009. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2009/pnad_sintese_2009.pdf>. Acesso em: 04 fev 2013.
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LEONARD, Annie. The story of stuff: how our obsession with stuff is trashing the planet, our communities and our health – and a vision for change. New York: A division of Simon & Schuster, Inc., 2010.
MAGALHÃES, Diego de Castilho Suckow. Panorama dos Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE): O Lixo Eletroeletrônico – E-lixo. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento. Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2011.
MANSUR, R. Governança Avançada de TI: na prática. Rio de Janeiro: Brasport, 2009.
METARECICLAGEM. Apropriação tecnológica para a transformação social. Disponível em: <http://www.rede.metareciclagem.org>. Acesso em: 05 fev 2013.
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NORMAS PARA O ENVIO DE ARTIGOS E/OU RESENHAS
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O título: tamanho 14; centralizado; negrito; fonte Garamond.
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Em seguida virá o Resumo com as respectivas Palavras-chave (prosseguindo com o
Abstract e o Keywords); os citados termos devem estar em maiúsculo – bem como
disposto em negrito; o corpo do texto não deve estar em negrito; tamanho da
fonte: 10; espaçamento simples; resumo entre cem e 150 palavras e em tamanho 10
e palavras-chave com no máximo quatro. O texto assim deve estar organizado:
- deve conter uma introdução, o desenvolvimento da pesquisa (explanação); conclusão e referências bibliográficas.
- os passos acima citados devem ser enumerados, a começar da introdução até as referências.
- tamanho da fonte dos subtítulos: 12 (em negrito); em minúsculo (exceto nomes próprios).
Trabalhos no Word (DOC) ou programa compatível; fonte Garamond, tamanho 12,
justificado, com recuo de parágrafo, e espaçamento (entrelinhas) 1,5;
A produção deverá ter entre 15 mil e 35 mil caracteres com espaços, e resenhas,
entre 3,5 mil e 7 mil caracteres com espaços;
O recuo para citação acima de três linhas é de 4 cm (conforme régua disposta no
editor de texto). O espaçamento é simples.
Palavras estrangeiras deverão estar sempre em itálico;
Os casos de neologismos ou acepções incomuns, bem como ironia, deverão estar
entre “aspas”.
Pode-se postar no máximo 10(dez) figuras (mapas, tabelas, gráficos, etc.). A resenha assim deve estar disposta:
- Exemplo:
No limite da racionalidade convivendo com o capitalismo global. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004. GIDDENS, A; HUTTON, W. (orgs).
________________________________________________
Francis Sodré
Doutoranda em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social –UERJ
_____________________________________________________________
- O título: tamanho 14; autor: tamanho 12; titulação , instituição e email será no tamanho
10, Garamond, centralizado
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Para as referências seguir o modelo abaixo (conforme http://www.cdcc.usp.br):
- Livros:
WEISS, Donald. Como Escrever com Facilidade. São Paulo: Círculo do Livro, 1992.
** Quando houver dois autores os mesmos serão separados por ponto e vírgula.
SCHWARTZMAN, Simon. Como a Universidade Está se Pensando? In: PEREIRA,
Antonio Gomes (Org.). Para Onde Vai a Universidade Brasileira? Fortaleza: UFC, 1983. P. 29-45.
- Entrevista:
CRUZ, Joaquim. A Estratégia para Vencer. Pisa: Veja, São Paulo, v. 20, n. 37, p. 5-8, 14 set. 1988. Entrevista concedida a J.A. Dias Lopes.
- Tese e dissertação:
OTT, Margot Bertolucci. Tendências Ideológicas no Ensino de Primeiro Grau. Porto
Alegre: UFRGS, 1983. 214 p. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em
Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1983.
- Evento:
SEMINÁRIO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO, 3., 1993, Brasília. Anais. Brasília: MEC, 1994. 300 p.
- Documento eletrônico:
MELLO, Luiz Antonio. A Onda Maldita: como nasceu a Fluminense FM. Niterói: Arte &
Ofício, 1992. Disponível em:<http://www.actech.com.br/aondamaldita/ creditos.html> Acesso em: 13 out. 1997.
- Dicionário:
FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 1838 p.
ou
ENCICLOPÉDIA Mirador Internacional. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1995. 20 v.
- Programa de televisão ou rádio:
UM MUNDO ANIMAL. Nosso Universo. Rio de Janeiro, GNT, 4 de agosto de 2000. Programa de TV.
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- CD-Rom
ALMANAQUE Abril: sua fonte de pesquisa. São Paulo: Abril, 1998. 1 CD-ROM
OS ARTIGOS DEVERÃO SER ENVIADOS PARA: