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Recurso Especial 1241748TRANSCRIPT
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.241.748 - DF (2009/0018581-0)
RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURARECORRENTE : DISTRITO FEDERAL PROCURADOR : IVAN MACHADO BARBOSA E OUTRO(S)RECORRIDO : ROGÉRIO DE OLIVEIRA CANTUÁRIA ADVOGADO : MARIA BERNADETE SILVA PIRES E OUTRO(S)
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. PRAÇA COM ESTABILIDADE ASSEGURADA. EXCLUSÃO A BEM DA DISCIPLINA. COMANDANTE-GERAL DA PMDF. POSSIBILIDADE DE DIVERGÊNCIA DO JULGAMENTO PELO CONSELHO DE DISCIPLINA, DESDE QUE FUNDAMENTADAMENTE. CONCLUSÃO DO ARESTO RECORRIDO PELA AUSÊNCIA DA DEVIDA MOTIVAÇÃO. APLICAÇÃO DA SÚMULA 7/STJ.1. Admite-se a análise, em sede de recurso especial, de leis que regulam disposições relativas à polícia militar do Distrito Federal, pois têm natureza federal, sendo da competência da União legislar com exclusividade sobre o regime jurídico da polícia militar do Distrito Federal, nos termos do art. 21, inciso XIV, da Constituição Federal. Precedentes.2. O Comandante-Geral da PMDF, competente para exclusão a bem da disciplina de Praça com estabilidade assegurada, não se vincula ao julgamento do Conselho de Disciplina, podendo dele divergir desde que fundamentadamente. Aplicação do disposto no artigo 13, IV, da Lei nº 6.477/77.3. No caso, considerando que a Corte Distrital concluiu pela ausência da devida motivação do ato de exclusão e, ainda, que não se admite a revisão de matéria fático-probatória nesta instância extraordinária (Súmula 7/STJ), deve ser mantido o acórdão recorrido, que declarou nulos os atos que excluíram o autor dos Quadros da Polícia Militar do Distrito Federal determinando sua reintegração no cargo.4. Recurso especial improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça: "A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora." O Sr. Ministro Og Fernandes e a Sra. Ministra Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ/PE) votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Og Fernandes.
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Brasília, 18 de junho de 2012(Data do Julgamento)
Ministra Maria Thereza de Assis Moura Relatora
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.241.748 - DF (2009/0018581-0)
RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURARECORRENTE : DISTRITO FEDERAL PROCURADOR : IVAN MACHADO BARBOSA E OUTRO(S)RECORRIDO : ROGÉRIO DE OLIVEIRA CANTUÁRIA ADVOGADO : MARIA BERNADETE SILVA PIRES E OUTRO(S)
RELATÓRIO
MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA(Relatora):
Trata-se de recurso especial, interposto pelo DISTRITO FEDERAL, em
face de acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios que julgou
procedentes, em parte, os pedidos formulados na presente ação rescisória, ante a violação
literal ao artigo 112 da Lei nº 7.289/84 (Estatuto dos Policiais-Militares da Polícia Militar
do Distrito Federal), para declarar nulos os atos que excluíram o autor dos Quadros da
Polícia Militar do Distrito Federal determinando, via conseqüência, sua reintegração no
cargo.
Concluiu a Corte Distrital que "o Policial Militar que tiver a estabilidade
assegurada só poderá ser excluído se o Conselho de Disciplina o considerar culpado, de
onde se percebe, portanto, que para haver a exclusão de algum praça com estabilidade
assegurada ou Aspirante-a-Oficial PM a bem da disciplina, necessário se faz que ocorra
uma das hipóteses acima, fato que não aconteceu no presente caso, porquanto o autor
sofreu julgamento pelo Conselho de Disciplina, no entanto este não o considerou culpado."
Além disso, ressaltou que "o Comandante Geral da PMDF, ao decidir
contrariamente ao que foi considerado pelo Conselho de disciplina, determinando a
exclusão de um membro da corporação, deveria ter motivado e fundamentado sua decisão,
porquanto possuía o autor o direito de saber o motivo de sua dispensa até mesmo para
poder se defender e requerer o que lhe fosse de direito, eis que em tal situação há de ser
sempre respeitado o contraditório e a ampla defesa tanto no processo judicial como no
administrativo."
A ementa do aresto foi redigida nos seguintes termos:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL AÇÃO RESCISÓRIA MILITAR ESTÁVEL EXCLUÍDO DA CORPORAÇÃO ACÓRDÃO QUE APLICOU O ART 109 DA LEI 7.289/84 VIOLAÇÃO LITERAL DE DISPOSIÇÃO DE LEI DANO MATERIAL E MORAL PROCEDÊNCIA PARCIAL
I - Tratando-se de militar estável, aplica-se o artigo 112, III, da Lei n ° 7.289/84 para sua exclusão da corporação declarando-se rescindido o acórdão que analisou a questão sob a ótica do artigo 109 da mesma Lei.
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II - Ante a ausência dos requisitos exigidos na norma para o desligamento do militar da PMDF e considerando a arbitrariedade da decisão que assim decidiu, eis que prolatada sem motivação, merece ser reconhecida a procedência do pedido inicial no sentado de declarar nulo o ato de exclusão, assegurando ao Autor, a titulo de danos materiais, a percepção de seus direitos funcionais a partir da data de seu desligamento
III - Incabível a pretensão de indenização por danos morais notadamente por verificar que a conduta do agente administrativo não se mostra revestida de improbidade ou má-fé.
III - Pedidos parcialmente acolhidos
Alega o recorrente, nas razões do recurso especial, interposto com amparo
na alínea "a" do permissivo constitucional, violação dos artigos 13, IV, da Lei 6.477/77 e
112, III, da Lei 7.289/84.
Afirma, em síntese, que "o Comandante-Geral da Polícia Militar não está
atrelado às conclusões do Conselho de Disciplina que julgou a permanência do autor nas
fileiras da corporação, podendo delas discordar, no uso do poder discricionário que lhe é
inerente, desde que baseado nos fatos apurados e por ato devidamente fundamentado,
revestindo-se de legalidade o ato de exclusão do autor das fileiras da corporação, diante do
seu ajustamento à normatização que rege os policiais militares locais, especialmente
porque as graves acusações foram apuradas regularmente, vez que foi permitido ao militar
excluído valer-se de todos os meios para contrapor-se à decisão que antecedeu sua
exclusão, tanto que em momento algum alegou a ocorrência de cerceamento de defesa" (fl.
154).
Por outro lado, sustenta que "não há se falar em afronta ao princípio da
motivação, que pudesse violar o caput do artigo 13 da Lei nº 6.477/77, eis que o
Comandante da Corporação Militar adotou as razões do Corregedor da Polícia Civil."
Acrescenta, ao final, que "tal fato não constituiu fundamentação da ação rescisória, embora
tenha constado do voto do relator."
É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.241.748 - DF (2009/0018581-0)
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. PRAÇA COM ESTABILIDADE ASSEGURADA. EXCLUSÃO A BEM DA DISCIPLINA. COMANDANTE-GERAL DA PMDF. POSSIBILIDADE DE DIVERGÊNCIA DO JULGAMENTO PELO CONSELHO DE DISCIPLINA, DESDE QUE FUNDAMENTADAMENTE. CONCLUSÃO DO ARESTO RECORRIDO PELA AUSÊNCIA DA DEVIDA MOTIVAÇÃO. APLICAÇÃO DA SÚMULA 7/STJ.1. Admite-se a análise, em sede de recurso especial, de leis que regulam disposições relativas à polícia militar do Distrito Federal, pois têm natureza federal, sendo da competência da União legislar com exclusividade sobre o regime jurídico da polícia militar do Distrito Federal, nos termos do art. 21, inciso XIV, da Constituição Federal. Precedentes.2. O Comandante-Geral da PMDF, competente para exclusão a bem da disciplina de Praça com estabilidade assegurada, não se vincula ao julgamento do Conselho de Disciplina, podendo dele divergir desde que fundamentadamente. Aplicação do disposto no artigo 13, IV, da Lei nº 6.477/77.3. No caso, considerando que a Corte Distrital concluiu pela ausência da devida motivação do ato de exclusão e, ainda, que não se admite a revisão de matéria fático-probatória nesta instância extraordinária (Súmula 7/STJ), deve ser mantido o acórdão recorrido, que declarou nulos os atos que excluíram o autor dos Quadros da Polícia Militar do Distrito Federal determinando sua reintegração no cargo.4. Recurso especial improvido.
VOTO
MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA(Relatora):
Inicialmente, cumpre esclarecer que este Superior Tribunal de Justiça
outrora acolhia o entendimento no sentido da impossibilidade de exame, no julgamento do
recurso especial, de violação a leis que regulam disposições relativas à polícia militar do
Distrito Federal, tendo em vista o seu conteúdo de caráter local, aplicando o óbice da
Súmula 280/STF.
Ocorre, contudo, que a atual jurisprudência desta Corte consolidou-se no
sentido de que se admite a análise de tais leis em sede de recurso especial, pois têm
natureza federal, uma vez que é da competência da União legislar com exclusividade sobre Documento: 1155788 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 27/06/2012 Página 5 de 12
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o regime jurídico da polícia militar do Distrito Federal, nos termos do art. 21, inciso XIV,
da Constituição Federal.
Nesse sentido, confiram-se os seguintes precedentes deste Sodalício:
ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. POLICIAL MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. LEI FEDERAL N. 7.289/1984. SÚMULA N. 280/STF AFASTADA. EXAME PSICOTÉCNICO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL.
1. Data venia das decisões em sentido contrário, afasta-se a aplicação da Súmula n. 280/STF quando o recurso especial apontar afronta ou negativa de vigência à Lei n. 7.289/1984, a qual rege a corporação militar do Distrito Federal, por se tratar de norma federal. Precedente: REsp n. 953.395/DF.
(...)4. Recurso especial conhecido, mas desprovido.(REsp 1046586/DF, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 17/11/2009, DJe 29/03/2010)
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONCURSO PÚBLICO. SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR. CANDIDATO DENUNCIADO EM PROCESSO CRIMINAL. EXCLUSÃO DO CERTAME. IMPOSSIBILIDADE. ART. 5º, LVII, DA CF/88. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA. OFENSA.
1. Quanto aos artigos 2º e 29 da Lei n. 7.289/94, tidos por violados, a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, bem como do e. Supremo Tribunal Federal, ainda que não seja pacífica, é dominante no sentido de que em nosso ordenamento jurídico prevalece o princípio da presunção de inocência, segundo o qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal que o tenha condenado (art. 5º, inciso LVII, da CF/88).
(...)(AgRg no REsp 1195587/DF, Rel. Ministro BENEDITO
GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/10/2010, DJe 28/10/2010)
DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. POLICIAL MILITAR. REFORMA. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. APLICABILIDADE DA LEI VIGENTE AO TEMPO EM QUE OCORREU A INCAPACIDADE DEFINITIVA DO MILITAR. AFRONTA AO ART. 6º DA LICC. NÃO OCORRÊNCIA. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADA.
(...)4. Considerando que a incapacidade definitiva do recorrido foi
ocasionada em 2002, por acidente de trabalho, quando ainda vigente o art. 98 da Lei 7.289/84, deve o direito à reforma ser apreciado a partir deste dispositivo legal. Por conseguinte, não há falar em afronta ao art. 6º da LICC.
(...)(AgRg no REsp 1296639/DF, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 03/05/2012, DJe 22/05/2012)
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DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. POLICIAL MILITAR DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. SÚMULA 280/STJ. INAPLICABILIDADE. SUCESSÃO DE LEIS NO TEMPO. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. INAPLICABILIDADE. REFORMA. SOLDO CALCULADO COM BASE NO SOLDO DO GRAU HIERÁRQUICO OCUPADO ENQUANTO NO SERVIÇO ATIVO. ART. 50, II, E § 1º, I, II, E III, DA LEI 7.289/84. INCOMPATIBILIDADE COM O ART. 20, § 4º, DA LEI 10.486/02. REVOGAÇÃO TÁCITA. ART. 2º, § 1º, DA LICC. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.
1. É cabível o recurso especial no qual se discute interpretação de lei federal referente aos vencimentos ou ao regime jurídico dos integrantes da polícia civil, polícia militar e corpo de bombeiros militar do Distrito Federal. Precedente da Quinta Turma.
2. Há revogação tácita da lei na hipótese em que a matéria for regulada inteiramente pela nova legislação, com aquela incompatível. Inteligência do art. 2º, § 1º, da LICC.
3. O art. 20, § 4º, da Lei 10.486/02, ao disciplinar a transferência dos Policiais Militares do Distrito Federal e dos Territórios para a reserva remunerada, tacitamente revogou o art. 50, II, e § 1º, I, II, e III, da Lei 7.289/84, que assegurava aos militares com mais de 30 (trinta) anos de serviço o recebimento do soldo equivalente ao do nível hierárquico superior àquele ocupado na ativa.
4. Recurso especial conhecido e improvido.(REsp 1060668/DF, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,
QUINTA TURMA, julgado em 06/04/2010, DJe 03/05/2010)
Desse modo, não há falar em aplicação do disposto na Súmula 280/STF à
hipótese em apreço.
No mérito, cinge-se a controvérsia à ocorrência de violação literal ao
disposto no artigo 112, III, da Lei nº 7.289/84 (Estatuto dos Policiais-Militares da Polícia
Militar do Distrito Federal), in verbis :
Art 112 - A exclusão a bem da disciplina será aplicada ex officio ao Aspirante-a-Oficial PM ou às Praças com estabilidade assegurada:
I - sobre os quais houver pronunciado tal sentença o Conselho Permanente de Justiça, por haverem sido condenados em sentença transitada em julgado por aquele Conselho ou Tribunal Civil, à pena restritiva da liberdade superior a 2 (dois) anos ou nos crimes previstos na legislação concernente à segurança do Estado à pena de qualquer duração;
II - sobre os quais houver pronunciado tal sentença o Conselho Permanente da Justiça, por haverem perdido a nacionalidade brasileira; e
III - que incidirem nos casos que motivarem o julgamento pelo Conselho de Disciplina, previsto no artigo 49 e neste forem considerados culpados. (grifo não original)
Referido dispositivo legal prevê a necessidade, para a exclusão de praça
estável, de sentença condenatória do Conselho Permanente de Justiça à pena restritiva da
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liberdade superior a 2 (dois) anos ou à pena de qualquer duração nos crimes previstos na
legislação concernente à segurança do Estado. Além disso, estabelece que haverá sua
exclusão nos casos que motivarem o julgamento pelo Conselho de Disciplina e forem
considerados culpados.
Em acréscimo, o artigo 49 do Estatuto em tela cuida da necessidade de
submissão do praça estável a Conselho de Disciplina:
Art 49 - O Aspirante-a-Oficial PM, bem como as Praças com estabilidade assegurada, presumivelmente incapazes de permanecer como policiais-militares da ativa, serão submetidos a Conselho de Disciplina e afastados das atividades que estiverem exercendo, na forma da legislação específica.
§ 1º - Cabe ao Governador do Distrito Federal, em última instância, julgar os recursos que forem interpostos nos processos oriundos de Conselho de Disciplina.
§ 2º - A Conselho de Disciplina poderá, também, ser submetido a Praça na reserva remunerada ou reformada, presumivelmente incapaz de permanecer na situação de inatividade em que se encontra.
Na hipótese em exame, consoante esclarecido pelo aresto recorrido, que
julgou procedentes em parte os pedidos formulados na presente ação rescisória, o autor foi
afastado dos quadros da PMDF embora fosse policial militar estável e o Conselho de
Disciplina tivesse concluído pela improcedência da acusação.
Alega o Distrito Federal que o Comandante-Geral da Polícia Militar não
está atrelado às conclusões do Conselho de Disciplina que julgou pela permanência do
autor nas fileiras da corporação, podendo delas discordar, e que se aplica à espécie a
previsão do artigo 13, IV, da Lei nº 6.477/77, que dispõe sobre o Conselho de Disciplina
na Polícia Militar:
Art. 13 - Recebidos os autos do processo do Conselho de Disciplina, o Comandante-Geral, dentro do prazo de 20 (vinte) dias, aceitando ou não seu julgamento e, nesse último caso, justificando os motivos de seu despacho, determina:
(...)IV - a exclusão a bem da disciplina ou a remessa do processo ao
Governador do Distrito Federal propondo a efetivação da reforma, se considerar que:
a) se, pelo crime cometido, previsto no item III, do artigo 2º, desta Lei, a praça foi julgada incapaz de permanecer na ativa ou na inatividade; ou
b) a razão pela qual a praça foi julgada culpada está prevista nos itens I, II ou IV, do artigo 2º, desta Lei.
§ 1º - O despacho que determinar o arquivamento do processo deve ser publicado em Boletim Interno da Corporação e transcrito nos assentamentos da praça, se esta é da ativa.
§ 2º - A reforma da praça é efetuada no grau hierárquico que possui na
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ativa, com proventos proporcionais, ao tempo de serviço.
No entender do Tribunal a quo, referido dispositivo, que faculta ao
Comandante-Geral da Polícia Militar do Distrito Federal aceitar ou não o julgamento do
Conselho de Disciplina, motivadamente, teria sido revogado pelo artigo 112, III, da Lei nº
7.289/84.
Com a devida vênia da tese acolhida na origem, não se verifica a existência
de antinomia entre os referidos artigos, e sim relação de complementaridade, devendo-se
ressaltar que o Estatuto dos Policiais-Militares da Polícia Militar do Distrito Federal (Lei
nº 7.289/84) não trata de matéria relativa ao Conselho de Disciplina.
Ademais, nos termos da própria Lei nº 7.289/84, o Comandante-Geral da
Polícia Militar do Distrito Federal é a autoridade competente para excluir o Praça com
estabilidade assegurada:
Art. 113. É da competência do Comando-Geral o ato de exclusão a bem da disciplina do Aspirante-a-Oficial PM, bem como das Praças com estabilidade assegurada.
Desse modo, considerando que o Comandante-Geral da Polícia Militar do
Distrito Federal é a autoridade competente para excluir o Praça com estabilidade
assegurada, e tendo em vista o disposto na Lei nº 6.477/77, conclui-se que o ato de
exclusão em referência não é vinculado ao julgamento do Conselho de Disciplina. Nesse
sentido, como o Comandante-Geral não está adstrito à manifestação daquele Conselho,
pode dele divergir desde que fundamentadamente.
Na mesma linha de raciocínio, mutatis mutandis , a Lei nº 8.112/90 também
admite que a autoridade julgadora, motivadamente, divirja do relatório da comissão
processante se contrário às provas dos autos:
Art. 168. O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo quando contrário às provas dos autos.
Parágrafo único. Quando o relatório da comissão contrariar as provas dos autos, a autoridade julgadora poderá, motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de responsabilidade.
No caso em tela, contudo, concluiu a Corte Distrital, competente pelo
exame do acervo probatório dos autos, que o Comandante-Geral da Polícia Militar do
Distrito Federal não expôs os fundamentos necessários para não acatar o resultado do
julgamento do Conselho de Disciplina, o que contraria a legislação aplicável ao caso.
A título de ilustração, cumpre transcrever trechos dos votos que integram o
aresto recorrido:Documento: 1155788 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 27/06/2012 Página 9 de 12
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De outra parte, note-se que o ato de exclusão do militar, além de se encontrar em dissonância com as conclusões referentes à apuração administrativa de sua conduta, o que vai de encontro ao artigo 112 da Lei nº 7.284/84, sequer foi motivado, inviabilizando o direito de defesa do então demandante.
(...)Logo, ante a ausência dos requisitos exigidos na lei para o desligamento
do militar das fileiras da corporação e considerando a arbitrariedade da decisão prolatada sem motivação, merece ser reconhecia a procedência do pedido inicial, no sentido de declarar nulo o ato de exclusão assegurando ao Autor, a título de danos materiais, a percepção de seus direitos funcionais a partir da data de seu desligamento. (grifo não original - fls. 146 e 148)
Ademais, cumpre salientar que o Comandante Geral da PMDF, ao decidir contrariamente ao que foi considerado pelo Conselho de disciplina, determinando a exclusão de um membro da corporação, deveria ter motivado e fundamentado sua decisão, porquanto possuía o autor o direito de saber o motivo de sua dispensa até mesmo para poder se defender e requerer o que lhe fosse de direito, eis que em tal situação há de ser sempre respeitado o contraditório e a ampla defesa tanto no processo judicial como no administrativo.
Assim, por ter sido aplicado dispositivo de lei diverso do efetivamente cabível ao caso e, ainda, por não ter sido motivada a decisão do Senhor Comandante-Gerai ao excluir o autor militar das fileiras da corporação, entendo que deva ser julgado procedente o pedido formulado na presente ação rescisória para aplicando a lei correta ao caso concreto, declarar nulo o ato que excluiu o autor das fileiras da Policia Militar do Distrito Federal por falta de motivação e fundamentação tratando-se, enfim, de um ato arbitrário. (grifo não original - fl. 150)
Em assim sendo, e considerando que é não se admite a revisão de matéria
fático-probatória nesta instância extraordinária (Súmula 7/STJ), deve ser mantido o
acórdão recorrido, que rescindiu o aresto rescindendo para declarar nulos os atos que
excluíram o autor dos Quadros da Polícia Militar do Distrito Federal determinando sua
reintegração no cargo.
Nessa linha de raciocínio, cumpre trazer à baila precedente da Quinta
Turma desta Corte que negou provimento ao recurso do Distrito Federal ao apreciar
questão similar à presente, concluindo pela aplicação ao caso do disposto na Súmula
7/STJ:
ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. POLICIAL MILITAR EXPULSO DAS FILEIRAS DA CORPORAÇÃO. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO NO ATO HOMOLOGATÓRIO. NULIDADE INSANÁVEL. REINTEGRAÇÃO. RECONHECIMENTO. LEI 7.289/84, DE CONTEÚDO MATERIALMENTE LOCAL. STATUS DE NORMA DISTRITAL. IMPOSSIBILIDADE DE IMPUGNAÇÃO NA
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VIA DO RECURSO ESPECIAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 280/STF. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Não obstante a Lei 7.289/84 (Estatuto dos Policiais Militares da Polícia Militar do Distrito Federal) seja federal, seu conteúdo é materialmente local, uma vez que regula disposições atinentes apenas à Polícia Militar do Distrito Federal, o que lhe confere o status de norma distrital, impedindo, portanto, o conhecimento da matéria por esta Corte.
2. Ao contrário do que alega o agravante, não se trata, na espécie, de questão meramente jurídica, porquanto o acolhimento das alegações deduzidas no Apelo Nobre ensejaria o revolvimento das circunstâncias fáticas que permearam a controvérsia, notadamente quanto à correção e lisura do procedimento administrativo que indiciou o ora agravado, e que culminou com sua exclusão das fileiras da Corporação 'a bem da disciplina'. Desse modo, mostra-se, inafastável, a incidência da Súmula 7/STJ.
3. Agravo Regimental desprovido.(grifo não original - AgRg no Ag 972.788/DF, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 30/10/2008, DJe 01/12/2008)
Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial.
É como voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTOSEXTA TURMA
Número Registro: 2009/0018581-0 REsp 1.241.748 / DF
Números Origem: 20070020097630 20080070187393
PAUTA: 12/06/2012 JULGADO: 18/06/2012
RelatoraExma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro OG FERNANDES
Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. MOACIR MENDES DE SOUSA
SecretárioBel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : DISTRITO FEDERALPROCURADOR : IVAN MACHADO BARBOSA E OUTRO(S)RECORRIDO : ROGÉRIO DE OLIVEIRA CANTUÁRIAADVOGADO : MARIA BERNADETE SILVA PIRES E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Militar
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora."
O Sr. Ministro Og Fernandes e a Sra. Ministra Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ/PE) votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Og Fernandes.
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