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Centro Universitário Senac | Arquitetura e Urbanismo | Letícia Miranda 6° Semestre

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EDITORIAL

Se construído, escrito ou desenhado, o trabalho do renomado arquiteto, teórico e educador Peter Eisenman é caracterizado pelo descons-trutivismo, com um interesse em sinais, símbo-los e os processos de tomada de significado sempre em primeiro plano. Como tal, Eisenman tem sido um dos teóricos mais importante da arquitetura das últimas décadas; Também no entanto, às vezes eu tenho sido uma figura controversa no mundo arquitetônico, professan-do desinteresse em preocupações mais pragmá-ticas: como a sustentabilidade ambiental.

E aqui ganha destaque uma das diversas obras, repleta dos elementos que caracterizam o arqui-teto: simbolismo, significado e profundidade. O Memorial aos Judeus da Europa é um “must see” para aqueles que visitam Berlim. Qualquer acontecimento histórico depende muito da forma como foi narrada pelo 'história oficial'. Assim, o movimento moderno é um conceito construído por várias narrativas que por sua vez influenciaram na prática arquitetô-nica do momento.

O projeto de Eisenman é anti-simbólico e nele o observador o experimenta com o própriocorpo e em sua experiência nada é previsível - não há centro, nenhum foco, nenhumarepresentação. Em certo sentido, esta experiên-cia também é um ato de lembrança.18 Seumonumento não deve permitir uma catarse e sim um “abrir-se” para uma atual tomada deconsciência da importância do Holocausto, em sentidos diferentes. Eisenman vê omemorial como um lugar espiritual onde se medita: porque isto aconteceu? Isso podelevar o sujeito ao acontecimento sem que esta informação tenha sido dada pronta comonos circuitos de exposição dos museus.

UM LEQUE DE SIGNIFICADOS

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“Não havia visto nenhuma placa, nenhum cartaz explicando de que se tratava aquela peculiar praça, mas o que vi e senti na caminhada me fez intuir que se tratava de uma home-nagem às vítimas do nazismo.”

| Paulo Gleich, jornalista e psicanalista

No idioma alemão há duas palavras similares para "memorial": Denkmal e Mahnmal. O Mal, que ambas têm em comum, significa "sinal", "marco". A sutil diferença está nos prefixos: Denk vem de "pensamento", ou seja, um memorial é um sinal para pensar, refletir. Já Mahn tem o sentido de "alerta": um Mahnmal existe não apenas para preservar a memória, mas para alertar as gerações futuras em relação ao acon-tecido. Preservar a memória de um passado funesto é não apenas um ato público de contri-ção, mas também uma forma de tentar evitar que se repita.

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Memória em ruínas

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A idéia de construir um memorial para as vítimas do holo-causto nasceu já em 1988 e nos anos seguintes foi discuti-do sobre a local onde deveria ser construído, a sua forma e mensagem que deveria transmitir. Uma licitação pú-blica foi feita e centenas de propostas para um memorial foram recebidas. Somente em junho de 1999, o parlamento alemão aprovou a construção do Memorial do Holocausto próximo ao Portão de Brandenburgo. O projeto vencedor para o Memorial do Holocausto foi do arquiteto americano Peter Eisenman. A sua construção foi iniciada em abril de 2003 e em dezembro de 2004 foi concluída. Em 10 de maio de 2005 o monumento foi inaugurado, fazendo parte das celebrações dos 60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, e dois dias depois foi aberto ao público. Faz parte ainda do memorial, uma sala subterrânea com 800 me-tros quadrados chamada de “Local da Informação” (ou Ort der Information em alemão) onde é documentado sobre a perseguição e o extermínio dos judeus. A exposição mos-tra detalhes biográficos de pessoas e famílias que foram vítimas do holocausto.

O Memorial é controverso. Muita gente não gosta da esté-tica, diz que lembra um cemitério com lápides. Também já sofreu muitas críticas por seu tamanho, forma e por só lembrar as vítimas judias do holocausto, esquecendo outras minorias que também foram perseguidas pelos na-zistas, como por exemplo os sinti e roma. Esta crítica levou a decisão de construir um pequeno memorial para estas vítimas. O memorial para os sinti e roma mortos pelos nazistas está sendo construído no Simsonweg, no parque Tiergarten (entre o Portão de Brandenburgo e o Reichs-tag) e é uma fonte onde diariamente uma flor natural será colocada.

Mais de 10 milhões de pessoas já visitaram o Memorial aos judeus vítimas do Holocausto, fazendo deste ponto uma parada quase obrigatória para os turistas que visitam Berlim. 19 mil metros quadrados cobertos por uma grelha de 2.711 blocos de concreto aparente compõem este mo-numento. Porém, este cemitério simbólico concebido por Peter Eisenman resistiu por apenas 8 anos. O que acon-teceu? Um erro de cálculo e uma rigoroso inverno causa-ram a deterioração do monumento. Logo após a queda do muro de Berlim, uma vez que a Alemanha recuperava sua normalidade geográfica perdida com a derrota nazista, o governo colocou em andamento a construção de uma série de monumentos em homenagem às vítimas, quase que num “processo de auto-flagelação”. Entre estes, o Monu-mentos dos vítimas judias do Holocausto, projetado por Peter Eisenman e inaugurado em 2005, com objetivo pres-tar uma homenagem solene aos seis milhões de judeus assassinados durante o Terceiro Reich.

Entretanto, este cemitério simbólico quase sagrado está a ponto de se tornar uma enorme ruína devido a um erro de cálculo. O surgimento de infiltração d’água seguido por um rigoroso inverno fizeram que a água congelasse dentro das fissuras no material, causando trincas mais profundas. Hoje, mais de dois terços dos blocos estão marcados por rachaduras preocupantes.

Os berlinenses estão preocupados, pois um dos locais mais sagrados e solenes do país se converteu em uma praça de lazer, onde os adultos se deitam sobre os blocos para tomar sol e onde as crianças brincam de esconde-esconde neste labirinto; também se preocupam com as rachaduras que ameaçam a existência deste belo e frio monumento.

O lugar em que o memorial se encontra tem uma atmosfera muito diferente da agitação da cidade. É um local silencioso e imóvel que convida à reflexão solene. E isso se torna par-ticularmente evidente quando se chega ao centro. Aqui, os blocos de pedra são tão altos que bloqueiam a maior parte do ruído do tráfego. Embora possam parecer plataformas, considera-se impróprio caminhar sobre eles. É permitido andar pelos caminhos formados entre os blocos, que têm diferentes alturas e ondulam conforme os aclives e declives do terreno.

Nos últimos oito anos, mais de 10 milhões de pessoas visi-taram o Memorial que se tornou uma obrigação para cen-tenas de milhares de turistas estrangeiros e alemães que visitam Berlim. Mas esse lugar solene se torna cada ano, com a chegada da primavera, em um lugar profano diverti-do onde os adultos podem desfrutar o sol deitado sobre os blocos, comer cachorros-quentes e as crianças brincarem de esconde-esconde entre as centenas de pilares, indife-rente às fissuras que ameaçam acabar com a beleza fria dos blocos de concreto. O projeto representa uma aproximação radical ao conceito tradicional de um memorial, em parte porque Eisenman não usou nenhum simbolismo. Há tam-bém o uso do solo como recurso, e na visão de Eisenman, “o terreno que serve de suporte para a construção é o que diferencia a arquitetura das outras artes e da mídia (…) e só através de um trabalho consciente com o solo o arquiteto pode atingir a totalidade midiática.” Isso se justifica, quan-do das ruas adjacentes do terreno do Memorial, o visitante é colocado na posição de desorientação das vítimas do holocausto, a partir da visão dos 2700 blocos de concreto de diferentes alturas decorrentes da diferença de nível da rua e do terreno da obra.

Por entre os blocos, o visitante consegue sentir a calmaria e o desconfor-to ao mesmo tempo.

A instabilidade e inquitetude é transmitida através das diferentes alturas dos blocos

Visão geral do memorial e entorno da cidade

Há o contraste entre a agitação do entorno e o silêncio por entre os blocos do memorial.

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O parque foi dividido em diversas entradas para facilitar a dispersão das pessoas dentro dele, fazendo com que seja usado homogenea-mente. Também por esse motivo os núcleos de usos se repetem ao longo do parque.

As entradas são identificadas pelos degradês de azul e violeta e têm passagens que fazem uma conexão com o outro lado do parque até a área das “pistas” (cooper, ciclovia e caminho verde). A entrada principal tem como ponto focal um grande Flamboyant laranja e diversas árvores de médio porte que servem como um hall para a passarela dos quatro decks, que permite uma visão ampla da parte principal do parque e o tapete de flores que atravessa toda a sua extensão longitudinal.

Possui espaços de contemplação como os decks irregulares do lado oposto às entradas e decks sobre a margem do Rio Pinheiros. Um dos outros destaques do projeto é a passarela vermelha que conecta o parque à Estação Jurubatuba da CPTM.