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Revista Brasileira de Brazilian Journal of Functional Nutrition NUTRIÇÃO FUNCIONAL ano 20. edição 81 www.vponline.com.br ISSN 2176-4522 Microbiota e preferências alimentares: qual a relação? Crononutrição & Saúde Escute o solo, as raízes e ouças os ventos de Primavesi RECEITA Alimentos Fermentados e Saúde: Como Fazer Kefir

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Page 1: Revista Brasileira de NUTRIÇÃO FUNCIONAL · A matéria desta edição traz aspectos importantes sobre a vida e obra de Ana Primavesi, agrônoma e autora de valiosas obras de referência

Revista Brasileira de

Brazilian Journal of Functional Nutrition

NUTRIÇÃOFUNCIONAL

ano 20. edição 81www.vponline.com.br

ISSN 2176-4522

Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?

Crononutrição & Saúde

Escute o solo, as raízes e ouças os ventos de Primavesi

RECEITAAlimentos Fermentados e Saúde: Como Fazer Kefir

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Editorial

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Nesta primeira edição do ano, a Revista Brasileira de Nutrição Funcional traz, além de atualizações científicas relevantes para a prática clínica, algumas novidades para tornar a experiência de nossos leitores mais interativa, com vídeos complementares ao conteúdo escrito dos artigos científicos, matéria jornalística e seção de gastronomia. Alguns artigos ainda trarão exemplos de casos clínicos, aliando a teoria à prática.

O conteúdo científico desta edição contará com revisões sobre o papel dos alimentos nas doenças neurodegenerativas, abordando de forma objetiva e prática os principais alimentos investigados em pesquisas clínicas recentes, e sobre os conceitos e a importância da crononutrição na saúde humana, elucidando os principais fatores a serem considerados na conduta dietética no que se refere aos aspectos temporais da alimentação.

Complementando o conteúdo de nutrição clínica, serão abordadas atualizações importantes sobre microbiota e preferências alimentares e modulação nutricional no transtorno do espectro autista, ambos artigos tratando de aspectos teóricos e práticos, com exemplos de estudos de caso que enriquecerão o entendimento sobre as respectivas temáticas.

Na área de nutrição esportiva, um artigo sobre os efeitos fisiológicos de ultraendurance ampliará os conceitos sobre exercícios físicos prolongados, trazendo um estudo de caso de uma atleta com estratégias periodizadas de nutrição e suplementação.

A matéria desta edição traz aspectos importantes sobre a vida e obra de Ana Primavesi, agrônoma e autora de valiosas obras de referência em agroecologia e estudos do solo, como principal agente propagador da vitalidade no meio ambiente. Ainda, apresenta um vídeo com um modelo de agricultura regenerativa no Sítio Eco Recanto Lótus.

Para finalizar, nossa seção de gastronomia traz um vídeo com o passo a passo para você aprender como fazer adequadamente o Kefir, uma estratégia prática e acessível para inserir probióticos no planejamento alimentar.

Boa leitura!

Dra. Valéria PaschoalDiretora da VP Centro de Nutrição Funcional

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Expediente

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Conselho Editorial

Ana Cláudia Poletto Nutricionista pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (2002) e mestre em Ciências, com ênfase em Fisiologia Humana pela Universidade de São Paulo (2006). Pesquisadora (doutoranda, desde 2007) do programa de Fisiologia Humana da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Fisiologia Endócrina, atuando nos temas: mecanismos transcricionais envolvidos na regulação da expressão do gene SLC2A4, sensibilidade à insulina, metabolismo lipídico, obesidade e diabetes mellitus.

Ana Vládia Bandeira Moreira Nutricionista graduada pela Universidade Estadual do Ceará (1996), mestre em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (1999) e doutora em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (2003). Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Viçosa (MG). Coordenadora do Laboratório de Análise de alimentos e coordenadora do Projeto de extensão pró-celíaco. Ministra as disciplinas de Técnica Dietética na Graduação e Dietética Aplicada no Mestrado e Doutorado e Gastronomia Funcional na especialização na UFV.

Anna Cecília Queiroz de MedeirosNutricionista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Experiência na área de Nutrição, com ênfase em Nutrição e metabolismo de nutrientes nos diversos estados fisiológicos.

Fátima Aparecida Arantes Sardinha Nutricionista. Doutora em Ciência dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas/USP. Mestre em Ciências Aplicadas à Pediatria pela UNIFESP/EPM. Especialista em Nutrição e Saúde Pública pela UNIFESP/EPM. Docente convidada do curso de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul.

Revista Brasileira de Nutrição Funcional - 2020 - edição 81Indexação: Sumários (www.sumarios.org) e ESALQ (http://dibd.esalq.usp.br)

Diretora ResponsávelValéria Paschoal

Coordenação CientíficaNeiva dos Santos Souza

[email protected]

Jornalista ResponsávelJosé Maria M. Filho

MTB – 19.852 - [email protected]

Revisão OrtográficaLemuel Cintra

[email protected]

Capa, Ilustrações e EditoraçãoBárbara Feracin Meira

PublicaçõesVP Editora

[email protected]

Redação, Publicidade e AdministraçãoVP Centro de Nutrição Funcional

Yu Mei - [email protected] / Fax: (11)3582-5600

As condutas nutricionais preconizadas naRevista Brasileira de Nutrição Funcional

devem ser supervisionadas exclusivamentepor nutricionistas ou médicos especializados.

Os editores não se responsabilizam peloconteúdo dos anúncios, matérias e artigos

assinados. A reprodução total ou parcialdesta publicação só será permitida mediante

autorização prévia.

VP Centro de Nutrição FuncionalFone/ Fax: (11)[email protected]

www.vponline.com.br

Revista Brasileira de

Brazilian Journal of Functional Nutrition

NUTRIÇÃOFUNCIONAL

ano 19. edição 79www.vponline.com.br

ISSN 2176-4522

Bases molecularesdas estratégias de treinamento

Leite maternocomo regulador epigenético

Cobertura completa do

do XV Congresso Internacional de Nutrição Funcional

RECEITAPanqueca de cogumelos com taioba ao molho funcional

de laranja

Coordenação e Autores

Apoio

Revista Brasileira de

Brazilian Journal of Functional Nutrition

NUTRIÇÃO

FUNCIONAL

ano 19. edição 80

www.vponline.com.brISSN 2176-4522

Efeito do néctar de camu-camu

(Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh) sobre o perfil lipídico e a glicemia

de adultos normocolesterolêmicos

Ação dos compostos bioativos

dos alimentos no envelhecimento e longevidade

Os 60+ da

Agricultura Sustentável

RECEITADrink Refrescante de

Melancia com Laranja e Hortelã

Revista Brasileira de Nutrição Funcional - 2020 - edição 81Indexação: Sumários (www.sumarios.org) e ESALQ (http://dibd.esalq.usp.br)

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Coordenação e Autores

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2018

Fernanda Serpa Diretora e Docente da Empresa Nutconsult. Nutricionista pela Universidade do Estado do RJ/UERJ. Título de residência em Clínica Médica no Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Docente convidada dos cursos de pós-graduação e extensão da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Mestre em Clínica Médica - IPPMG/UFRJ. Nutricionista Militar do Corpo de Bombeiros do RJ. Nutricionista Municipal do Hospital Souza Aguiar.

Gilberti Hübscher Nutricionista. Mestre e Doutora em Fisiologia Cardiovascular pela UFRGS. Especialista em Gestão e Saúde pela PUC-RS, Gestão em UAN pela UNISINOS e em Saúde da Família pela ULBRA (RS). Docente convidada dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul e dos cursos de graduação em Nutrição e pós-graduação em Saúde e Trabalho da Feevale (RS). Membro do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF).

Márcia Cristina PaivaNutricionista, graduada na Universidade de Passo Fundo - RS. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e pós-graduanda em Fitoterapia Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Educadora em diabetes certificada pela empresa Medtronic Brasil de equipamentos médicos (Bombas de infusão de insulina). Atua em atendimento clínico em clínica de gastroenterologia em São José dos Campos - SP.

Renata Alves CarnaubaNutricionista graduada pelo Centro Universitário São Camilo. Doutoranda em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo. Especialista em Revisão Sistemática e Meta-Análise pela Universidade de São Paulo. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e pós- graduada em Genômica Nutricional pela Unicsul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Nutricionista do Departamento Científico da VP Centro de Nutrição Funcional.

Rosangela Passos de Jesus Professora Adjunta da Escola de Nutrição da UFBA (ENUFBA). Doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da USP. Mestre em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Nutrição Clínica Funcional, coordenadora do Ambulatório de Nutrição e Hepatologia do Hospital Universitário Prof Edgard Santos.

Sandra Matsudo Médica Especializada em Medicina Esportiva pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Doutorado e pós-doutorado em Ciências pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Diretora Geral do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul - CELAFISCS. Coordenadora geral do Projeto Longitudinal de Envelhecimento e Aptidão Física de São Caetano do Sul. Coordenadora pela IUHPE dos Cursos de Atividade Física e Saúde Pública - Agita Mundo. Professora Titular do Curso de Educação Física do Centro Universitário FMU. Editora Executiva da Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Autora dos Livros: “Avaliação do Idoso - Física e Funcional”, “Envelhecimento e Atividade Física” e “Obesidade e Atividade Física”.

Valéria Paschoal Nutricionista. Mestre na área de Nutrição e Pediatria pela UNIFESP – EPM. Editora Científica da Revista Brasileira de Nutrição Funcional. Coordenadora científica e docente convidada dos cursos de Nutrição Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional. Autora dos Livros “Nutrição Clínica Funcional: dos Princípios à Prática Clínica”, “Suplementação Funcional Magistral: dos Nutrientes aos Compostos Bioativos”, “Nutrição Clínica Funcional: câncer” "Tratado de Nutrição Esportiva Funcional" e "Nutrição & Sustentabilidade: alimentando um mundo saudável". Coordenadora da Comissão Científica do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF). Membro do The Institute for Functional Medicine – USA. Nutricionista do CSA Brasil (Community Supported Agriculture - Agricultura Sustentada pela Comunidade). Membro do conselho consultivo da CNTU (Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados).

Wagner Alessandro dos ReisNutricionista graduado pelo Centro Universitário Newton Paiva. Especialista em Formação Pedagógica para Profissionais de Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós-graduado em Nutrição Esportiva Funcional e em Fitoterapia Funcional pela Unicsul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Docente convidado nos cursos de pós-graduação em Nutrição Esportiva Funcional, Nutrição Clínica Funcional e Fitoterapia Funcional pela Unicsul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional.

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Coordenação e Autores

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Lista de Autores

Angélica Simões Ferrari Nutricionista graduada pela Universidade Federal de Alfenas-MG. Mestre em Biociências Aplicadas à Saúde com ênfase em fisiopatologia e ciência de alimentos, também pela Universidade Federal de Alfenas-MG. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e em Fitoterapia Funcional, ambas pela da UNICSUL em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Pós-graduanda em Nutrição Esportiva Funcional também pela da UNICSUL em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Exerce atendimento nutricional em consultório e atua também como docente convidada da pós-graduação pela UNICSUL em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional, lecionando a disciplina de disbiose.

Caroline Aparecida Pereira de SouzaNutricionista. Especialista em Nutrição Clínica e Mestre em Neurofisiologia - Unifesp. Especialista em Nutrição Clínica: Metabolismo, Prática e Terapia Nutricional pela Universidade Gama Filho. Atualmente doutoranda do laboratório de Neurobiologia da Pineal do Departamento de Fisiologia da Unifesp.

Franciela Salete Santin Graduada em Comunicação Social Jornalismo pela Unochapecó. Pós-graduada em Comunicação e Marketing pela Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. Pós-graduada em Comunicação, informação e cultura pela Universidade do Contestado – UNC. Pós-graduada em Gestão de Instituições de Ensino Superior e Tecnologia pelo Serviço nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI. Mestre em Ciências da Educação pela Universidad Privada Del Guaira – UPG. Graduanda em Nutrição pela Unisociesc. Estagiária do Departamento Médico do AVAÍ Futebol Clube.

Guilherme Cysne Rosa Graduado em Nutrição pela Universidade do Vale do Itajaí com intercâmbio de graduação em Nutrición Humana y Diétoterapia pela Universitat de Valencia (Espanha). Mestrado em Nutrição - Metabolismo e Dietoterapia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Pós-graduado em Nutrição Esportiva pela Universidade Castelo Branco. Pós-graduado em Nutrição Esportiva Funcional pela UNICSUL em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Especialista em Nutrição em Esportes por Mérito pela Associação Brasileira de Nutrição. Docente convidado do curso de pós-graduação em Nutrição Esportiva Funcional pela UNICSUL em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Nutricionista da equipe profissional do AVAÍ Futebol Clube.

Luana Meller ManossoDoutora em Bioquímica pela USFC. Mestre em Neurociências pela UFSC. Nutricionista pela UFSC. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional. Pós-graduada em Fitoterapia Funcional. Pós-graduada em Nutrição Esportiva Funcional. Docente convidada nos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional e em Fitoterapia Funcional. Atendimento em consultório. Autora do livro “Nutrição Clínica Funcional: Neurologia”.

Ludmilla Scodeler de CamargoNutricionista. Especialista em Nutrição Clínica. Mestre em ciências da saúde - Unifesp. Doutoranda no laboratório de Neurobiologia da Pineal - Departamento de Fisiologia da Unifesp.

Neiva dos Santos SouzaNutricionista. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional, em Fitoterapia Funcional e em Nutrição Esportiva Funcional pela UNICSUL em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Nutricionista da Editora VP. Autora do livro “Nutrição Funcional & Sustentabilidade: alimentando um mundo saudável”. Docente convidada dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional e em Fitoterapia Funcional da UNICSUL em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Membro da coordenação científica da Revista Brasileira de Nutrição Clínica Funcional. Membro do Laboratório de Neurobiologia da Pineal do Departamento de Fisiologia da Unifesp.

Ticiane Aragão da Silveira GomesNutricionista graduada pelo Centro Universitário Estácio do Ceará. Mestranda em Saúde da Mulher e da Criança (Faculdade de Medicina UFC). Pós-graduada em Nutrição Materno Infantil na Prática Clínica e Ortomolecular (FAPES/SP). Pós-graduada em Nutrição Clínica Aplicada a Patologias com Base na Prática Ortomolecular (FAPES/SP). Docente convidada do curso de Pós-graduação em Nutrição Funcional da Concepção à Adolescência no módulo Síndrome de Down, Neuropatias e Erros Inatos de Metabolismo da UNICSUL em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Experiência no atendimento em consultório de mulheres que desejam engravidar, gestantes, lactantes e crianças; especialmente crianças com diagnóstico de TEA, TDAH, síndrome de down, neuropatias, erros inatos de metabolismo.

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Crononutrição & Saúde

Modulação nutricional no transtorno do espectro autista – um estudo de caso

Alimentos Fermentados e Saúde: Como Fazer Kefir

O papel da alimentação na melhora da cognição e prevenção de doenças neurodegenerativas

Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?

Efeitos fisiológicos do exercício físico prolongado: estudo de caso de uma atleta de ultraendurance

Escute o solo, as raízes e ouça os ventos de Primavesi

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Caroline Aparecida Pereira de Souza, Ludmilla Scodeler de Camargo e Neiva dos Santos Souza

Abstract

The ability of living beings to adapt to the characteristics of the environment enabled their evolution and survival. The presence of bio-logical rhythms in living organisms is fundamental for the predictive adaptation of physiology and behavior to the cyclical characteristics of the environment. In this context, chrononutrition studies the relationship between biological rhythms, nutrition and metabolism, and considers, for adequate nutritional assessment, the temporal aspect of food. It is important to point out that the expression of eating behavior is linked to the biological clock, and that dietary approaches must also consider the individual's chronotype so that health results are more individualized and effective.

Keywords:Chrononutrition, chronobiology, biological rhythms, chronotype.

Crononutrição & Saúde

Chrononutrition & health

Resumo

A capacidade de adaptação dos seres vivos às características do meio ambiente possibilitou sua evolução e sobrevivência. A presença de ritmos biológicos nos organismos vivos é fundamental para a adaptação preditiva da fisiologia e do comportamento às características cíclicas do meio ambiente. Nesse contexto, a crononutrição estuda a relação entre os ritmos biológicos, nutrição e metabolismo e considera, para a adequada avaliação nutricional, o aspecto temporal da alimentação. É importante apontar que a expressão do comportamento alimentar está ligada ao relógio biológico, e que abordagens dietéticas devem considerar também o cronotipo do indivíduo para que os resultados à saúde sejam mais individualizados e efetivos.

Palavras-chave: Crononutrição, cronobiologia, ritmos biológicos, cronotipo.

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AA Crononutrição nada mais é que a junção do estudo de duas áreas: a cronobiologia e a nutrição. Desta forma, esta ciência investiga a relação entre os ritmos biológicos, nutrição e metabolismo1. Para entendermos esta relação, necessitamos ter conhecimento de um fator indispensável à nossa evolução, que é a capacidade dos seres vivos de adaptarem-se às alterações que ocorreram/ocorrem no meio ambiente. Dentre os vários fenômenos biológicos que permitiram que esse processo adaptativo ocorresse, estão os ritmos biológicos. Uma das classificações dos ritmos biológicos baseia-se na frequência de ocorrência, a saber: ritmos infradianos, ultradianos e circadianos. Esse último tem o nome derivado do latim circa diem, que significa em torno de um dia e refere-se aos ritmos que ocorrem a cada 24 horas aproximadamente. Os ritmos circadianos estão normalmente sincronizados ao processo de rotação da terra, que nos expõe diariamente à alternância dos ciclos claro/escuro (dia e noite) e às mudanças de temperatura2,3.

Para que esse processo ocorra de modo adequado, o nosso organismo conta com um intricado sistema de temporização formado por um oscilador ou relógio central, conexões neurais e humorais, e relógios periféricos localizados em órgãos e tecidos. Um importante mediador hormonal desse sistema é a melatonina. Essa indolamina, que tem sua concentração plasmática garantida pela produção pela glândula pineal, é sintetizada somente durante a noite desde que a mesma seja escura, sendo esse processo inibido pela presença de luz. Devido a essa característica, ela atua como um sinalizador do fotoperíodo para o ambiente interno e, por meio dessa função, a melatonina é capaz de controlar diversos processos fisiológicos como: sono e vigília, processos reprodutivo, digestivo e de sinalização insulínica, além de garantir a manutenção do balanço energético4,5. Nesse sentido, é importante também considerar o âmbito da frequência alimentar, do horário das refeições e, até mesmo, do comportamento alimentar, que são aspectos nutricionais que também podem influenciar a homeostase do metabolismo energético6.

A relação entre nutrição, ritmos biológicos e

metabolismo, estudada pela crononutrição, já está descrita na literatura, pautando a disponibilidade dos alimentos como transmissor de informação de tempo para o relógio biológico, sincronizando alguns relógios periféricos6.

Vale ressaltar que os seres humanos são parte de uma espécie diurna que se alimenta durante o período de claro (dia) e repousa/jejua durante a noite. A alimentação e o comportamento alimentar são influenciados pelo ritmo biológico do indivíduo. O conflito entre o padrão de alimentação e a alternância de luminosidade do ciclo claro/escuro veio em decorrência do mundo moderno, que possibilitou e estendeu o período de disponibilidade de alimentos também para o período da noite, momento em que o organismo humano apresenta menor capacidade de resposta à ingestão alimentar7,8. Tal cenário não fez parte da evolução da espécie ao longo de milhares de anos, estando presente a partir do advento da energia elétrica e do processo avançado de urbanização, que trouxeram como resultados, por exemplo, a obtenção de alimentos, seu preparo, armazenamento e conservação sem a limitação do tempo.

Existem também padrões rítmicos de sinalização endogenamente gerados e que fazem parte da constituição do organismo vivo, como a adequada temporização de órgãos como o fígado e a liberação de hormônios e secreções orgânicas, que participam dos processos de digestão e absorção de nutrientes. A ingesta alimentar, como um marcador de tempo, pode interferir com a sincronização desses padrões rítmicos6-8. Assim, é importante que os processos correlacionados à alimentação, digestão e absorção dos nutrientes, que são essenciais para um adequado funcionamento do organismo, sejam conduzidos da melhor forma possível. Somado a isso, o número crescente dos casos de obesidade e doenças cardiometabólicas fez com que a alimentação adequada se tornasse o foco de diversas pesquisas.

A qualidade e a quantidade do que se é ingerido ganhou destaque, porém alguns estudos apontam que a busca por uma alimentação e estilo de vida saudáveis deve levar em conta o horário em que as refeições são realizadas ou não realizadas.

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Crononutrição & Saúde

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A metanálise de Chen et al.9 buscou avaliar a associação entre não realizar o café da manhã e o risco cardiovascular, avaliando 7 estudos de coorte, totalizando 221.732 indivíduos. Os indivíduos que não realizavam essa refeição típica do período da manhã, em comparação com aqueles que a realizavam regularmente, apresentaram um risco elevado de doença cardiovascular (risco relativo de 1,22 - intervalo de confiança de 95% 1,10–1,35) e de todas as causas de mortalidade relacionadas (risco relativo de 1,25 - intervalo de confiança de 95% 1,11–1,40). Os autores discutiram possíveis explicações para esse achado, como possíveis alterações fisiológicas e metabólicas que podem ocorrer nos indivíduos que não realizaram o café da manhã e tiveram risco aumentado de doenças cardiovasculares, dentre as quais possível hiperatividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, não atrelada ao estresse, que elevaria a concentração de cortisol e a pressão arterial; aumento nos níveis de colesterol total e LDL-colesterol (colesterol ligado à lipoproteína de baixa densidade); prejuízos à sensibilidade à insulina e maior risco de diabetes; e a relação com preferências alimentares e hábitos de vida menos saudáveis, como maior ingestão de bebidas açucaradas, aperitivos e álcool, tabagismo e sedentarismo.

Alguns indivíduos, como aqueles que pulam o café da manhã ou acordam mais tardiamente, tendem a arrastar os horários das próximas refeições para mais tarde, avançando no período noturno.

McHill et al.10 examinaram a associação entre o momento do consumo alimentar (em relação ao horário do relógio e ao DLMO – Dim light

melatonin onset, que se refere ao momento de início do aumento na curva plasmática de melatonina) com o conteúdo dos alimentos ingeridos e com a composição corporal. Participaram do estudo transversal 110 jovens entre 18 e 22 anos que registraram toda a ingestão de alimentos durante 7 dias consecutivos em sua rotina diária regular, além de terem aferidas as medidas de composição corporal e concentração salivar de melatonina. Os principais resultados mostraram que os indivíduos com alta porcentagem de gordura corporal consumiram a maior parte das calorias diárias cerca de 1,1h mais perto do início do horário de liberação noturna de melatonina (que informa o início da noite biológica para o organismo), do que indivíduos com baixa porcentagem de gordura corporal. De acordo com a análise de regressão múltipla, o momento da ingestão de alimentos em relação ao horário de início da liberação de melatonina foi significativamente associado com a porcentagem de gordura corporal e índice de massa corporal. O mesmo não foi observado quando considerada a quantidade ou qualidade dos alimentos. Dessa forma, os autores concluíram que o consumo alimentar próximo ao início da noite circadiana, independentemente de outros fatores de risco tradicionais como quantidade ou qualidade da ingestão de alimentos e nível de atividade, desempenha um papel importante na composição corporal.

Indícios como esse fizeram com que a crono-nutrição ganhasse mais destaque. De acordo com os preceitos seguidos pela crononutrição três as-pectos relacionados ao tempo devem ser levados em conta para adequada avaliação nutricional do indivíduo11:

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Resumo gráfico

Fonte: Adaptado de: Henry; Kaur e Quek12

Estes aspectos são influenciados por ações individuais dependentes do cronotipo (é definido como a expressão fenotípica da relação do indivíduo com a flutuação rítmica do meio ambiente em que ele vive), levando em conta que os horários de sono e de atividade influenciam a característica temporal do hábito alimentar, que são tão importantes quanto os aspectos qualitativos e quantitativos da alimentação11.

Pesquisas mostram que indivíduos com cronotipo vespertino, que são aqueles que têm preferência por realizar as atividades mais tardiamente, têm maior incidência de doenças cardiometabólicas e sobrepeso devido à propensão a manter uma rotina alimentar irregular e uma ingestão tardia de alimentos. Por outro lado, indivíduos com cronotipo matutino, ou seja, que apresentam preferência em realizar suas atividades durante em horários mais cedo do dia, tendem a manter maior regularidade em seus hábitos alimentares e a apresentarem menor predisposição ao risco cardiometabólico e ao desenvolvimento de obesidade11,12.

Outros aspectos também devem ser considerados nessa avaliação como a idade, etnia, moradia, estresse, carga de trabalho, trabalho em turno, qualidade e horas de sono e jetlag social. Estes fatores podem influenciar a ingestão alimentar e a

imposição social, que molda nosso estilo de vida e reflete em nosso contexto alimentar11-13.

Há ainda a influência dos padrões de vida atuais, como a exposição excessiva à luz artificial no período noturno e o hábito de se alimentar tardiamente, especialmente na madrugada, que causam uma desorganização temporal do ritmo circadiano de funções biológicas gerando impactos negativos à saúde ao intensificar ou desencadear processos moleculares envolvidos em diferentes doenças crônicas não transmissíveis como obesidade, diabetes, resistência à insulina e síndrome metabólica11-13.

É possível concluir que abordagens dietéticas que considerem os preceitos da crononutrição – que visam garantir a organização dos hábitos alimentares considerando o relógio biológico –, são importantes para a organização temporal de nossa fisiologia e comportamento, auxiliando a manutenção de nossas respostas celulares e modulações fisiológicas para a promoção da saúde. Ainda, quando tais estratégias vão de encontro ao cronotipo, respeitando a organização biológica de nosso corpo e suas necessidades e o ciclo de jejum/alimentação, as respostas podem ser mais efetivas quando utilizadas para melhorar a saúde metabólica, reduzindo os riscos de doenças.

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Crononutrição & Saúde

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Referências bibliográficas

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Angélica Simões Ferrari

Abstract

The human gastrointestinal tract is composed of abundant and diverse microbial communities, the colon being the main habitat for them, with about 1013 to 1014 microorganisms that exercise a mutualistic relationship with the host influencing the immune and metabolic phenotype and thus impacting human health. From this mutualistic relationship, the microbiota-gut-brain axis plays an important role in the function of the nervous system, connecting the intestine with the center of hunger/satiety, which can influence eating behavior and affect the quality and quantity of what is consumed. This communication between the brain and the intestine can occur through four main routes interconnected: immune, neuronal, endocrine and metabolic, where the immune pathway occurs through the cytokines produced by immune cells, the neuronal communication occurs through the enteric nervous system and the vagus nerve, the endocrine connection is made through the hypothalamic-pituitary-adrenal axis and in the metabolic path there is the participation of metabolites produced by the intestinal microbiota, such as butyrate. Therefore, the intestinal microbiota has a key role in these communications, which can influence appetite and food preferences, thus highlighting the importance of microbial homeostasis and intestinal health in eating behavior.

Keywords :Microbiota; eating behavior; vagus nerve; leaky gut.

Microbiota e preferências alimentares:

qual a relação?

Microbiota and food preferences: what is the relation?

Resumo

O trato gastrointestinal humano é composto por abundantes e diversas comunidades microbianas, sendo o cólon o principal habitat para elas, com cerca de 1013 a 1014 microrganismos que exercem uma relação mutualista com o hospedeiro, influenciando no fenótipo imunológico e metabólico e, assim, impactando na saúde do ser humano. Dessa relação mutualista, o eixo microbiota-intestino-cérebro exerce um papel importante na função do sistema nervoso, interligando o intestino com o centro da fome/saciedade, podendo influenciar no comportamento alimentar e afetar a qualidade e quantidade do que é consumido. Essa comunicação entre cérebro e intestino pode ocorrer através de quatro vias principais interligadas entre si: imune, neuronal, endócrina e metabólica, onde a via imune ocorre por meio das citocinas produzidas pelas células imunológicas, a comunicação neuronal dá-se por meio do sistema nervoso entérico e nervo vago, a ligação endócrina faz-se por intermédio do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e na via metabólica tem-se a participação dos metabólitos produzidos pela microbiota intestinal, como o butirato. Portanto a microbiota intestinal tem um papel chave nessas comunicações, podendo influenciar no apetite e preferências alimentares, destacando-se, assim a importância da homeostase microbiana e saúde intestinal no comportamento alimentar.

Palavras-chave: Microbiota; comportamento alimentar; nervo vago; leaky gut.

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OIntrodução

O intestino humano é composto por abundantes e diversas comunidades microbianas, que consistem principalmente em bactérias, fungos, protozoários, vírus e arqueias, denominadas de microbiota intestinal. O cólon é quem abriga a maior parte desse ecossistema, com cerca de 1013 a 1014 microrganismos, que interagem com o hospedeiro desempenhando importantes funções metabólicas e imunológicas, impactando assim na saúde do ser humano1-3. A microbiota intestinal também tem um papel importante no desenvolvimento e função do sistema nervoso, exercendo uma comunicação bidirecional com o cérebro, através das vias neuronal, endócrina, imune e/ou metabólica, por meio do eixo microbiota-intestino-cérebro, que também interliga o intestino com o centro da fome/saciedade, podendo impactar no comportamento alimentar, afetando a qualidade e quantidade do que é consumido2-4.

Considerando essa influência que a microbiota exerce no controle da fome/saciedade, é importante salientar que ela pode ocorrer por diferentes maneiras, controlando a ingestão alimentar. Dentre tais maneiras, destaca-se a capacidade das bactérias intestinais de sintetizar neurotransmissores, como serotonina, dopamina e ácido γ-aminobutírico (GABA) que podem atuar localmente no sistema nervoso entérico ou transmitir sinais ao sistema nervoso central através dos neurônios aferentes vagais, no nervo vago. Além disso, tais bactérias, também podem metabolizar carboidratos indigeríveis em ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), principalmente butirato, acetato e propionato, que podem ligar-se a receptores acoplados a proteína G, especificamente GPR41 e GPR43, nas células intestinais enteroendócrinas, estimulando a liberação do peptídeo semelhante ao glucagon (do inglês, glucagon-like peptide – GLP-1) e peptídeo YY (PYY), ambos conhecidos pelo efeito anorexigênico2,5,6. Em contrapartida, um desequilíbrio da microbiota intestinal, com diminuição da diversidade microbiana, aumento de patobiontes ou diminuição de microrganismos

comensais, estado denominado de disbiose, associado a um aumento da permeabilidade intestinal, pode predispor o organismo a uma inflamação crônica de baixo grau, ocasionando um remodelamento vagal, levando à alterações no controle da fome/saciedade, aumentando a ingestão alimentar7,8.

Diante do exposto, a presente revisão de literatura teve como objetivo abordar o impacto da microbiota no comportamento alimentar, o que pode influenciar em distúrbios metabólicos como a obesidade, e a importância do equilíbrio microbiano para um melhor controle da fome/saciedade, visando uma melhor qualidade de vida. Será, ainda, apresentado um estudo de caso, com o intuito de discutir, de forma prática, os conceitos teóricos abordados.

Para a escrita foram considerados como objetos de estudo artigos e outras revisões da literatura, disponíveis no banco de dados PubMed, publicados nos últimos 10 anos, utilizando as palavras-chave “microbiota”, “microbioma” “comportamento alimentar” e o termo “microbiota e ingestão alimentar”. Os artigos incluídos foram apenas aqueles que relacionavam a microbiota com a ingestão alimentar, tanto em modelo experimental, quanto em humanos.

Microbiota

O trato gastrointestinal humano é colonizado por trilhões de microrganismos, como fungos, vírus, protozoários, arqueias e principalmente bactérias, conhecidos como microbiota intestinal, que vive uma relação mutualista com o hospedeiro1,3,9. Essa colonização dá-se ao início da vida, sendo influenciada pela microbiota da mãe, modo de entrega (parto normal ou cesárea), tipo de leite recebido (aleitamento materno ou fórmula infantil), introdução alimentar, ambiente que a criança está inserida, alimentação ao longo da vida, uso de antibióticos, dentre outros fatores9-11 (Figura 1).

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Nos primeiros anos de vida, a microbiota é relativamente instável e menos diversa, com uma predominância dos gêneros Bifidobacterium e Lactobacillus. Com o passar do tempo, quando a criança atinge 3 a 4 anos de idade essa microbiota assemelha-se a do adulto, tonando-se mais diversa e estável. Em adultos saudáveis ela é composta essencialmente por bactérias, que perfazem cerca de 99% dos genes no intestino, com uma predominância de cinco filos: Actinobacteria, Proteobacteria, Verrucomicrobia e, principalmente, Bacteroidetes e Firmicutes e, na velhice, ela será novamente modificada, com uma queda na diversidade microbiana2,9,12.

Sendo assim, manter uma microbiota saudável é essencial para o equilíbrio imunológico e metabólico do hospedeiro, pois ela promove proteção contra patógenos, exerce imunomodulação através do aumento da produção de IgA e maturação do

tecido linfoide associado ao intestino (do inglês – gut associated lymphoid tissue - GALT), sintetiza algumas vitaminas, como por exemplo as vitaminas B9, B12 e K e, por fim, também influencia no processo digestivo, expressando algumas enzimas digestivas e degradando carboidratos indigeríveis em AGCC, onde o butirato é utilizado como principal fonte energética para os colonócitos, com consequente manutenção da integridade da barreira intestinal12-14.

Por outro lado, quando ocorre uma diminuição na quantidade de microrganismos comensais, aumento na proliferação de patobiontes e/ou redução na diversidade microbiana, origina-se um quadro de disbiose, uma alteração que pode favorecer desordens imunológicas, causando degradação do muco intestinal, rompimento de junções fortes da barreira epitelial, com consequente aumento da permeabilidade intestinal,

Figura 1. Fatores que afetam a composição e função da microbiota intestinal.

Fonte: Adaptado de: Clarke et al.11

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levando ao chamado intestino “gotejante” ou, do inglês, leaky gut, além de um aumento de lipopolissacarídeos bacterianos (LPS - componente da membrana celular de bactérias gram-negativas) no lúmen intestinal que, através desse intestino mais permeável, atinge a corrente sanguínea, provocando uma endotoxemia metabólica, com inflamação crônica de baixo grau7,8,12.

Quando esse desequilíbrio microbiano acontece na relação entre os filos Firmicutes e Bacteroidetes há uma correlação com a obesidade, com a microbiota intervindo na coleta de energia, nas alterações no comportamento, na modulação de respostas imunológicas e na sinalização inadequada de AGCC, com consequente impacto no controle da saciedade15,16. Ademais, a microbiota também pode influenciar no desenvolvimento e função do sistema nervoso, onde a disbiose associa-se à algumas patologias que atingem esse sistema, com a endotoxemia metabólica gerando uma inflamação neuronal, com consequente remodelamento vagal, causando hiperfagia e impactando assim, no comportamento alimentar, conforme discutido a seguir3,5,7.

Influência da microbiota no comporta-mento alimentar

Um adequado controle da ingestão alimentar depende de um equilíbrio neuronal e hormonal entre o intestino e o sistema nervoso central (SNC), onde o cérebro recebe e assimila sinais intestinais, modificando o comportamento alimentar conforme a necessidade e o desejo do organismo. Essa comunicação entre o cérebro e o intestino é bidirecional, através de quatro vias principais interligadas entre si: imune, neuronal, endócrina e metabólica. Em síntese, a via imune ocorre por meio das citocinas produzidas pelas células imunológicas, ao passo que a comunicação neuronal dá-se por meio do sistema nervoso entérico e nervo vago, com neurônios aferentes e eferentes vagais. Já a ligação endócrina faz-se por intermédio do eixo hipotálamo-hipófise(pituitária)-adrenal (HPA) e na via metabólica tem-se a participação dos metabólitos produzidos pela microbiota intestinal, como os AGCC2,17. Um crescente corpo de evidências tem demostrado que

todas essas vias sofrem interferência da microbiota, por meio do eixo microbiota-intestino-cérebro, no qual ela pode impactar de alguma maneira no comportamento alimentar, influenciando nas preferências alimentares e apetite, bem como em distúrbios alimentares e metabólicos18,19.

À vista disso, segue uma discussão mais detalhada de cada uma dessas vias que fazem a comunicação do intestino com o cérebro, lembrando que elas estão interligadas entre si.

Via imunológica – comunicação microbiota-intestino-cérebro através de citocinas

Bactérias intestinais possuem componentes na membrana celular (padrões moleculares) que podem ser reconhecidos por receptores de reconhecimento de padrão, particularmente os do tipo Toll (TLR) que são expressos em diferentes células no trato gastrointestinal e sistema nervoso. Dentre tais receptores destacam-se o TLR4 responsável por reconhecer o LPS proveniente da membrana celular de bactérias gram-negativas5,7. O nervo vago possui neurônios envolvidos na regulação da ingestão alimentar, estando os terminais periféricos dos neurônios aferentes vagais localizados na mucosa intestinal. Tais neurônios, juntamente com os plexos mioentérico e submucoso expressam tais receptores, sugerindo que o LPS pode controlar as sinalizações neuronais entéricas5,20.

Quando o LPS se liga ao TLR4 ocorre a translocação nuclear do NF-κB, um fator de transcrição que regula positivamente a liberação de citocinas com ação pró-inflamatória, como as interleucinas 1β e 6 (IL-1β e IL-6) e o fator de necrose tumoral α (TNF-α). Dessa maneira, na disbiose intestinal, ocorre um aumento do LPS no lúmen, devido ao aumento de bactérias gram-negativas, levando a uma maior ativação desses receptores, gerando uma resposta inflamatória que lesiona a barreira intestinal, aumentando a permeabilidade com consequente passagem do LPS para a corrente sanguínea, provocando uma inflamação crônica de baixo grau (endotoxemia metabólica). Foi demonstrado em modelos experimentais que a endotoxemia metabólica leva à ligação do LPS nos TLR4 expressos no gânglio nodoso, aumentado a liberação de

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citocinas pró-inflamatórias que direcionam uma maior ativação dos aferentes vagais e conseguinte remodelamento vagal, prejudicando a sinalização de saciedade mediada vagamente para o núcleo do trato solitário no tronco encefálico, favorecendo desordens no comportamento alimentar com aumento da ingestão energética, mostrando um papel da microbiota na contribuição da patogênese da obesidade, através de um desequilíbrio na comunicação vagal7,8.

Via endócrina – comunicação microbiota-intestino-cérebro através de hormônios e peptídeos intestinais e eixo HPA

As células intestinais enteroendócrinas (CEE) recebem sinais do lúmen intestinal como a presença de nutrientes e metabólitos microbianos e então interagem com as fibras aferentes vagais por meio da liberação de hormônios como a colecistocinina (CCK) e peptídeos, como o GLP-1 e PYY, que ligam-se a receptores presentes no nervo vago, levando assim as informações ao SNC e/ou atingem o hipotálamo e tronco cerebral por meio da circulação, regulando o apetite, com promoção de saciedade e então sinalizando para o término da refeição2,4,7,17,21.

A CCK é um hormônio secretado no intestino em resposta a gorduras e proteínas, atuando no processo digestivo e também como um anorexígeno. O GLP-1 é uma incretina liberada pelas células L-enteroendócrinas em resposta a ingestão de carboidratos, com ação na inibição do esvaziamento gástrico, secreção de insulina, controle da fome e homeostase da glicose, ligando-se a receptores expressos no intestino, células β-pancreáticas, rins, nervo vago, núcleo do trato solitário e hipotálamo. O PYY é um peptídeo produzido em resposta ao consumo principalmente de lipídeos, mas também de proteínas e, em menor intensidade, carboidratos, ligando-se a receptores contidos no eixo intestino-cérebro, proporcionando um controle na ingestão de alimentos21. Essas substâncias enviam sinais ao SNC indiretamente por vias aferentes do nervo vago ou diretamente através dos neurônios no núcleo arqueado do hipotálamo. Dentre esses neurônios, o GLP-1 e o PYY irão atuar naqueles que possuem ação anorexígena, ou seja, que promovem saciedade

e expressam a pró-opiomelanocortina (POMC) e o transcripto regulado por anfetamina e cocaína (CART) que, quando estimulados, liberam o hormônio estimulador de α-melanócitos (α-MSH) que ativa o receptor de melanocortina-4 (MC4R) suprimindo a fome e aumentando o gasto de energia4,6,21,22.

Dessa maneira, a microbiota intestinal influenciará na ingestão de alimentos por meio do papel que exerce na liberação de GLP-1, PYY e CCK, sinalizando as células enteroendócrinas através da produção de metabólitos como os AGCC, que serão abordados no próximo tópico. Essas células também possuem TLR4 que reconhecem o LPS, interagindo diretamente com a microbiota e influenciando a ingestão de alimentos, pois o aumento na concentração de citocinas pró-inflamatórias vindos por exemplo da disbiose e estresse emocional levam a ativação do eixo HPA, com liberação do hormônio liberador de corticotrofina (CRH) pelo hipotálamo, que então estimulará a secreção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) pela hipófise e com isso a liberação de cortisol pela glândula adrenal. Cronicamente, essa elevação do cortisol também irá modular a microbiota intestinal para um perfil mais disbiótico, com crescimento de patobiontes como Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e Yersinia enterocolitica, mantendo o quadro inflamatório, entrando, assim, em um ciclo vicioso4,18. Ademais, exacerbando ainda mais esse ciclo, um estresse emocional interfere na escolha alimentar, com propensão ao consumo de alimentos mais palatáveis, ricos em gordura, açúcar e energia que, além de ativarem regiões cerebrais de recompensa e prazer, podem piorar o quadro de disbiose que também, conforme supõe Norris, Molina e Gewirtz23, pode influenciar na escolha alimentar, devido à plasticidade da microbiota que se molda rapidamente para motivar preferências alimentares, mantendo-se assim esse looping infinito4,18,23,24.

Pensando ainda na produção hormonal pelo trato gastrintestinal e a influência da microbiota, vale ressaltar também que Cani e Knauf5

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demonstraram que modular a microbiota de ratos obesos com prebióticos diminui significativamente a grelina sanguínea – um hormônio com ação orexígena, ou seja, associado ao aumento da fome e ingestão energética –, diminuindo, dessa maneira, a ingestão alimentar e contribuindo com a homeostase energética5.

Outro ponto importante de ressaltar é o papel da disbiose no sistema endocanabinoide, um sistema de sinalização presente no eixo intestino-cérebro e que estimula o apetite e a ingestão de alimentos, especialmente daqueles mais palatáveis, ricos em gordura e açúcar. Esse sistema possui substâncias endógenas denominadas endocanabinoides que se ligam a receptores acoplados a proteína G, chamados de canabinoides 1 e 2 (CB1 e CB2). De acordo com Ringseis, Gessner e Eder22, o LPS estimula a produção de anandamida a partir do ácido araquidônico, uma substância com alta afinidade pelos receptores CB, ativando-os em diferentes tecidos periféricos, particularmente adiposo e hepático, levando a uma alteração no metabolismo energético e maior consumo alimentar. A modulação da microbiota de camundongos obesos, por uma alimentação rica em prebióticos, com aumento de Akkermansia muciniphila (uma espécie bacteriana relacionada à saúde intestinal), protege a barreira intestinal e, consequentemente, leva a uma menor ativação desse sistema. Sendo assim, fica claro a importância de estratégias alimentares que promovam um perfil microbiano mais saudável e a integridade da barreira intestinal12,22,25.

Via metabólica – comunicação microbiota-intestino-cérebro através de metabólitos produzidos pela microbiota – AGCC

Prebióticos são componentes alimentares não digeríveis que serão fermentados pela microbiota intestinal com consequente produção de AGCC. Dentre os alimentos fontes de prebióticos cita-se banana verde, cebola, chicória, aspargo e aveia, ressaltando também que os polifenóis presentes nos alimentos vegetais podem exercer efeitos prebióticos26,27,28. No tocante aos microrganismos,

as bifidobactérias e bactérias do ácido lático são bem conhecidas por produzirem acetato e lactato, que serão utilizados como substratos por outros microrganismos para produção de butirato e propionato e, dentre as bactérias produtoras de butirato, o Faecalibacterium prausnitizzi e a Akkermansia muciniphila têm demostrado participação especial, estando associadas a um perfil de microbiota mais saudável, com efeitos benéficos à saúde28,29.

Pensando no papel que os AGCC exercem no comportamento alimentar, eles podem se ligar a receptores acoplados a proteína G, especificamente o GPR41 e GPR43, presentes nas células L-enteroendócrinas, estimulando-as a secretarem os peptídeos anorexígenos, GLP-1 e PYY, reduzindo a ingestão alimentar e melhorando a homeostase de glicose. AGCC também exercem função imunomoduladora, com modulação da função de linfócitos e neutrófilos, e anti-inflamatória neutralizando a inflamação mediada pelo LPS5,12,30. Além disso, os AGCC também podem regular a sensibilidade à insulina e a liberação de leptina pelo tecido adiposo, pelo mesmo mecanismo de ligação ao GPR41 e GPR43 presentes nesse tecido5,8,12. A leptina é um hormônio produzido pelos adipócitos que está envolvido na regulação da ingestão energética e que também sofre influência da microbiota intestinal, onde uma endotoxemia metabólica vinda de uma disbiose intestinal pode favorecer um quadro de resistência à leptina, contribuindo para um desequilíbrio na homeostase energética, ao passo que uma alimentação rica em prebióticos pode melhorar a sensibilidade desse hormônio5.

Ademais, os quimiorreceptores dos aferentes vagais também são capazes de detectar metabólitos microbianos, como os AGCC, transmitindo mensagens ao SNC para controle da fome2 e, somado à isso a microbiota também é capaz de influenciar a diferenciação de células tronco intestinais em células enteroendócrinas, aumentando ainda mais a secreção de GLP-1 e PYY, com estudos demonstrando que tais células podem produzir também o GLP-2 que auxilia

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na integridade da barreira intestinal, diminuindo assim a translocação de LPS para corrente sanguínea5.

Outro quesito eminente é a influência da microbiota nos receptores de sabor acoplados às células enteroendócrinas (CEE), dentre eles os receptores de sabor doce que ligam açúcares e adoçantes não calóricos, receptores de sabor amargo e receptores de ácidos graxos livres, que além dos ácidos graxos da alimentação, ligam também os AGCC provenientes da microbiota18,21. De acordo com Lyte18, existe uma hipótese de que a composição microbiana é diferenciada para a preferência pelo sabor doce, gerando efeitos comportamentais através da comunicação da microbiota, CEE e nervo vago18. Isso mostra o quão importante é modular a microbiota para um perfil mais saudável, limitando o consumo de alimentos açucarados.

Via neuronal – comunicação microbiota-intestino-cérebro através de neurotransmissores

O controle da atitude alimentar pela via neuronal caminha junto à via hedônica, onde não apenas hormônios influenciam a ingestão alimentar como também o comportamento e humor do indivíduo, com uma grande participação da microbiota nesse processo, onde um alto e frequente consumo de alimentos ricos em gordura e açúcar ativam a via de recompensa dopaminérgica, com tendência ao vício nesses alimentos, que consequentemente levarão a microbiota à um perfil mais negativo, devido a plasticidade de adequarem-se ao ambiente em benefício próprio. Além disso, a via neuronal associada ao intestino está firmemente conectada ao centro da fome/saciedade e homeostase energética, através de neurotransmissores produzidos tanto pelas células intestinais quanto pela microbiota, modulando o comportamento alimentar4,18,23,24.

Em um ambiente microbiano equilibrado as bactérias intestinais tanto podem sintetizar a serotonina, quanto expressarem uma enzima denominada triptofano descaboxilase, capaz de converter o triptofano em triptamina, que

induz a secreção de serotonina pelas células enterocromafins intestinais. Dessa maneira, a serotonina liga-se então a receptores nos aferentes vagais, regulando a ingestão energética através de sinais emitidos ao tronco cerebral5,18,31. É interessante ressaltar que 80 a 90% da serotonina do corpo é sintetizada e centralizada no trato gastrointestinal, não atravessando a barreira hematoencefálica, mas sim, transmitindo sinais ao SNC por meio do nervo vago, regulando dessa maneira o humor e o apetite, tanto em relação ao que se come, como o volume das refeições e, somado a isso, a liberação da serotonina em nível cerebral similarmente sofrerá influência da alimentação. Ademais, a serotonina intestinal também tem uma importante ação local para controle por exemplo, dos movimentos peristálticos24,31.

Em contrapartida, estudos demostram que a disbiose intestinal pode gerar inflamação, controlando o metabolismo do triptofano, desviando-o para a via das quinureninas, diminuindo, assim, a síntese de serotonina e melatonina, levando a um comportamento alimentar negativo, pois a serotonina é um neurotransmissor ligado à regulação do humor e apetite4,31.

Digno de nota também são as catecolaminas, serotonina, glutamato e GABA, atuando como mensageiros na comunicação microbiota-intestino-cérebro, com alguns estudos demostrando que a disbiose pode afetar a síntese e sinalização desses neurotransmissores através do nervo vago, promovendo alterações comportamentais, como por exemplo ansiedade e humor deprimido que, como dito anteriormente, podem promover ainda mais alterações desfavoráveis da microbiota, impactando na sinalização desses neurotransmissores e controle da alimentação4,12,18.

À vista de tudo o que foi exposto nota-se que alterações na composição e atividade microbiana podem impactar no comportamento alimentar, influenciando tanto a qualidade quanto a quantidade do que é consumido, com estudos mostrando a importância de modular a microbiota intestinal com uma alimentação rica

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em prebióticos e hábitos de vida saudáveis, para um melhor controle da fome/saciedade e equilíbrio

energético. A Figura 2 sintetiza todas essa vias de controle que sofrem influência microbiana.

Figura 2. Influência da microbiota no controle da ingestão alimentar.

Legenda: AGCC: ácidos graxos de cadeia curta; DA: dopamina; GABA: ácido γ-aminobutírico; Ach: acetilcolina; HI: histamina; TRP: triptamina; 5-HT: serotonina; NA: noradrenalina; Neurotrans.: neurotransmissores; ClpB: protease caseinolítica; CEE: células L-enteroendócrinas; Perm. BI: Permeabilidade da barreira intestinal; IN: insulina; LP: leptina; GR: grelina; Comp alim: comportamento alimentar; TC: tronco cerebral; Cels. recep. paladar: diferenciação de células receptoras do paladar.

Fonte: Adaptado de Van de Wouw et al.19

Outro aspecto que também merece atenção é a conexão da microbiota com o ciclo circadiano pois, conforme Kaczmarek, Thompson e Holscher3, o metabolismo microbiano pode variar ao longo do dia, apontando ritmos diurnos, ao passo que o momento da alimentação também pode promover mudanças na função microbiana3. Em

contrapartida, modificar o relógio biológico, com hábitos noturnos e restrição do sono, estilo de vida estressante e comportamento alimentar tipo ocidental, com alto consumo de alimentos industrializados, pode diminuir a diversidade microbiana, favorecendo a disbiose e alterações metabólicas32.

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Estudo de Caso

De maneira a melhor compreender a influência da microbiota no comportamento alimentar e, consequentemente, a importância da saúde intestinal nesse quesito, segue um exemplo de estudo de caso com possíveis estratégicas nutricionais baseadas nos princípios da nutrição funcional com foco na modulação da microbiota e integridade da mucosa intestinal, proporcionando mais saúde e qualidade de vida.

Caso Clínico: Paciente com disfunções do trato gastrointestinal e compulsão alimentar.

1. Descrição do caso:Mulher, 23 anos de idade, estudante

universitária, procura atendimento nutricional com objetivo de emagrecimento e queixa de má funcionamento intestinal.

Antecedentes: nasceu por cesárea, recebeu aleitamento materno apenas por três meses, e então iniciou a alimentação por fórmula. Relata ter sido uma criança com peso adequado porém, com aumento da massa de gordura na adolescência, que acentuou-se no início da fase adulta. Possui histórico de infecção de urina recorrente, com uso frequente de antibióticos. Referiu sempre possuir intestino mais lento, com evacuação a cada 2 ou 3 dias, com fezes ressecadas e volumosas e, atualmente vem sentindo-se incomodada com o aumento de gases, distensão abdominal e má digestão.

Possui o hábito de estudar a noite, devido ao silêncio, pois relata dificuldade de concentração. Além disso, mencionou estresse com o período de provas na faculdade. Visto que mora sozinha, baseia a sua alimentação em produtos industrializados, como macarrão instantâneo, bolachas recheadas e lanches prontos. Somado a isso, tem percebido um aumento no consumo alimentar nos últimos meses, com dificuldade em perceber a saciedade.

2. Entendimento funcional do caso:Pensando na Teia das Interconexões Metabólicas

proposta pelo Instituto de Medicina Funcional e representada por Souza et al.37, alguns pontos

chamam a atenção, dentre eles, os antecedentes e histórico clínico, a parte da assimilação englobando as alterações do trato gastrointestinal, a comunicação com possíveis alterações na sinalização de neurotransmissores e hormônios e o centro da teia, englobando as emoções, mente e espírito, todos abordados a seguir de maneira sucinta.

Considerando que a colonização microbiana dá-se ao início da vida, sofrendo diversas influências, pode-se cogitar que desde o nascimento as condições foram mais propícias para a prevalência de uma microbiota com um perfil mais negativo pois, de acordo com Thursby e Juge33, o nascimento por cesariana proporciona um atraso na colonização pelo gênero Bacteroides, com predominância do gênero Clostridium e pouca semelhança à microbiota intestinal da mãe e, bebês alimentados por fórmulas, possuem uma menor concentração de Bifidobacterium e maior de Escherichia coli e Clostridium difficile33. Além disso, o uso frequente de antibióticos também contribui para uma diminuição da diversidade microbiana e consequente disbiose11,33.

Analisando o funcionamento do trato gastrointestinal é possível que haja correlação da má digestão com uma diminuição na produção de ácido clorídrico, o que dificulta a digestão e absorção de nutrientes, pois um pH estomacal menos ácido dificulta a digestão de proteína, diminui a ionização de minerais e impacta na absorção da vitamina B12, que precisa do fator intrínseco para ser absorvida e, esse fator depende de um meio estomacal ácido para ser produzido. Ainda, essa má digestão proporciona uma passagem maior de fragmentos alimentares para o intestino, favorecendo a fermentação microbiana e produção de gases, corroborando com o aumento da distensão abdominal relatado pela paciente. Além disso, um tempo de trânsito mais lento, também permite que nutrientes fiquem disponíveis para fermentação por um tempo maior, favorecendo a proliferação microbiana. Portanto, todos esses fatores possibilitam o surgimento de uma disbiose intestinal, piorando ainda mais a saúde e qualidade de vida dessa mulher34,35,36.

Contr ibuindo com esse quadro, uma alimentação baseada em produtos alimentícios

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ultraprocessados exacerbam a disbiose, visto que um número crescente de evidências tem associado o padrão alimentar ocidental, rico em açúcar e gordura, à alterações da microbiota7,8,32. Somado a isso, esse tipo de alimentação é pobre em fibras prebióticas, limitando a produção de AGCC, o que pode impactar na integridade da membrana intestinal, além de atenuar a secreção de peptídeos como o GLP-1 e PYY, favorecendo o aumento da ingestão energética. E, ainda, a restrição de sono, com interrupção do relógio biológico e estilo de vida mais estressante também são pontos importantes que vão a favor da disbiose intestinal5,12,30,32.

Por fim, pode-se pensar que tanto a compulsão alimentar pode impactar na microbiota, quanto a disbiose pode promover um desequilíbrio no controle da fome/saciedade, conforme descrito anteriormente, possibilitando aumento da permeabilidade intestinal e consequente endotoxemia metabólica, com redução da sinalização hormonal e de neurotransmissores, colocando essa paciente num ciclo vicioso que precisa ser rompido. Ademais, vale considerar que a disbiose ativa o sistema endocanabinoide aumentando o consumo de alimentos mais palatáveis, ricos em gordura e açúcar e também diminui a síntese de serotonina, que cronicamente pode deprimir o humor dessa paciente e contribuir com a compulsão alimentar.

3. Possíveis intervenções nutricionais funcionais:Quando tem-se o foco em modular a saúde

intestinal, uma intervenção funcional pertinente deve envolver um planejamento alimentar que compreenda o programa dos 6R: Remover, Recolocar, Reinocular, Reparar, Reequilibrar e Reavaliar37.

Remover: o foco está em diminuir a colonização de patobiontes e reduzir a ingestão de xenobióticos e alérgenos alimentares, para tanto deve-se minimizar o consumo de alimentos ultraprocessados, cheios de aditivos químicos e orientar o consumo de alimentos mais naturais, ricos em vitaminas, minerais e fitoquímicos, inclusive aqueles com ação antimicrobiana. Recolocar: utilizar estratégias que visam uma melhor produção de ácido clorídrico e enzimas,

importantes para a adequada digestão dos alimentos, considerando-se assim, o uso de chás com ação digestiva e enzimas compostas nos próprios alimentos, como a bromelina presente no abacaxi e que auxilia na digestão de proteínas. Reinocular: pensar em uma alimentação rica em fibras prebióticas para contribuir com o crescimento de bactérias comensais, como bifidobactérias e lactobacilos e assim aumentar a produção de AGCC que podem sinalizar as células enteroendócrinas para produção de peptídeos ligados ao controle da ingestão alimentar, como GLP-1 e PYY. Avaliar a necessidade de reinocular probióticos. Reparar: restaurar a integridade da mucosa intestinal, por meio de uma dieta não irritativa e rica em nutrientes importantes para a integridade da barreira intestinal, como vitaminas A, D, zinco, ômega 3 e glutamina. Reequilibrar: focar em hábitos de vida saudáveis, e por fim Reavaliar: verificar se os objetivos foram alcançados, se houve melhora na saúde e então reavaliar as condutas nutricionais37,38,39.

É relevante salientar que as condutas nutricionais devem sempre ser individualizadas e que as estratégias aqui comentadas foram pertinentes ao exemplo de caso clínico relatado. Portanto, deve-se sempre pensar no contexto que o paciente está inserido e todas as suas particularidades, para então traçar as intervenções nutricionais pertinentes, visando sempre mais saúde e qualidade de vida.

Conclusão

Mesmo com um crescente corpo de evidências associando a microbiota ao comportamento alimentar, ainda há a necessidade de mais estudos em humanos, com uma abordagem mais profunda sobre causa e efeito no que tange esse tema, principalmente em relação à preferência por determinados alimentos. Porém, pode-se concluir que ter um estilo de vida mais estressante e/ou sedentário e alimentar-se sobretudo de produtos industrializados repletos de açúcar e gordura e também ricos em aditivos alimentares pode corromper a microbiota intestinal, levando ao aumento da permeabilidade intestinal, com translocação do LPS para a corrente sanguínea, causando endotoxemia metabólica, favorecendo a

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compulsão alimentar, obesidade e outras desordens metabólicas, além de colocar o organismo em um looping infinito, partindo para escolhas alimentares mais palatáveis, exacerbando a disbiose que aumenta a fome por alimentos mais palatáveis e

assim sucessivamente, o que deixa claro a primazia de hábitos de vida saudáveis na modulação da microbiota para um perfil mais positivo, que então irá modular o comportamento alimentar,

• Manter uma microbiota saudável é essencial para o equilíbrio imunológico e metabólico do hospedeiro;

• A microbiota também pode influenciar no desenvolvimento e função do sistema nervoso, onde a disbiose associa-se a alterações no comportamento alimentar;

• Um adequado controle da ingestão alimentar depende de um equilíbrio neuronal e hormonal entre o intestino e o sistema nervoso central (SNC);

• A comunicação entre o cérebro e o intestino ocorre através de quatro vias principais interligadas entre si: imune, neuronal, endócrina e metabólica, todas sofrendo influência da microbiota;

• Uma das estratégias utilizadas para modular a microbiota intestinal e, consequentemente, equilibrar o comportamento alimentar, pode ser o programa dos 6R.

Highlights

Referências bibliográficas

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Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?

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Luana Meller Manosso

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Short Communication:

O papel da alimentação na melhora

da cognição e prevenção de

doenças neurodegenerativas

Short Communication: The role of food in improving cognition and preventing neurodegenerative diseases

DDados da Organização Mundial da Saúde evidenciam que já existem mais de 50 milhões de pessoas com demências1. Várias questões podem influenciar no funcionamento cerebral, piorando a cognição e aumentando o risco de doenças neurodegenerativas, incluindo: estresse oxidativo, disfunção mitocondrial, inflamação, prejuízo na eliminação de resíduos moleculares/agregados proteicos, prejuízo no reparo no DNA, alteração na comunicação neuronal, diminuição nos níveis do fator neurotrófico derivado do encéfalo (BDNF), diminuição da neurogênese, entre outros2–4.

Por outro lado, a alimentação tem um papel importante na melhora da cognição e na diminuição no risco de desenvolver alguma doença neurodegenerativa. O padrão alimentar que tem sido mais estudado é o baseado na dieta do mediterrâneo, com mais frutas, verduras, alimentos integrais, azeite de oliva, maior ingestão de peixes, menor ingestão de carnes vermelhas e menos alimentos industrializados e refinados5–7. Além disso, uma alimentação orgânica é bem importante, já que pesticidas podem aumentar o risco de doenças neurodegenerativas8.

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Além de manter um padrão alimentar saudável, podemos pensar em alguns alimentos em específi-co, os quais já foram estudados em pesquisas em

Vegetais verdes escuros9

Açafrão-da-terra / curcumina14

Frutas em geral10

Ovos15,16

Chocolate amargo / cacau11–13

Peixes / ômega-317–19

Castanha-do-Brasil20 Chá verde21

humanos que foram associados com melhora de algum aspecto da cognição:

Para mais detalhes, acesse o vídeo a seguir.

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Guilherme Cysne Rosa e Franciela Salete Santin

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Efeitos fisiológicos do

exercício físico prolongado: estudo de caso

de uma atleta de ultraendurance

Physiological effects of prolonged physical exercise: a case study of an ultraendurance athlete

Resumo

Caracteriza-se uma ultramaratona como qualquer corrida a pé com distância superior à da maratona, 42.195 m, sendo as mais populares as de 50 km, 100 km e 100 milhas. Além da distância e variabilidade de terrenos, vários pontos diferenciam a ultra de uma maratona, principalmente em relação aos aspectos fisiológicos. Atletas que competem em esportes de ultra-resistência devem gerenciar questões nutricionais, especialmente no que diz respeito ao equilíbrio energético e à ingestão hídrica. Este trabalho teve por objetivo avaliar os efeitos do exercício físico prolongado em uma atleta amadora de ultraendurance, detalhando as alterações hematológicas e bioquímicas relacionadas 27 dias antes, 48 horas depois e 10 dias após a corrida, bem como apresenta as estratégias periodizadas de nutrição e suplementação, considerando sua participação em uma ultramaratona de 100 km. Os resultados demonstraram que 48 horas após a ultramaratona houve grandes alterações, principalmente nos marcadores inflamatórios avaliados, como PCR e CK, além dos marcadores hepáticos, como TAG e TGP, marcadores do sistema renal, como creatinina e ureia, porém, com rápida recuperação dos parâmetros avaliados 10 dias após a competição.

Palavras-chave: Ultraendurance, desempenho, corrida, biomarcadores fisiológicos, alimentação, suplementação.

Abstract

Ultramarathon is characterized as any walking race with a distance greater than the marathon, 42,195m, the most popular being those of 50 km, 100 km and 100 miles. In addition to the distance and variability of terrain, several points differentiate the ultra from a mar-athon, mainly in relation to the physiological aspects. Athletes who compete in ultra-resistance sports must manage nutritional issues, especially with regard to energy balance and water intake. This study aimed to evaluate the effects of prolonged physical exercise in an amateur ultraendurance athlete, detailing the related hematological and biochemical changes 27 days before, 48 hours after and 10 days after the race, as well as presenting the periodic nutrition and supplementation strategies, considering its participation in a 100 km ultramarathon. The results showed that 48 hours after the ultramarathon there were major changes, mainly in the inflammatory markers evaluated, such as CRP and CK, in addition to the hepatic markers, such as TAG and TGP, markers of the renal system, such as creatinine and urea, however, with rapid recovery of parameters evaluated 10 days after the competition.

Keywords: Ultraendurance, performance, running, physiological biomarkers, food, supplementation.

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04Guilherme Cysne Rosa e Franciela Salete Santin

AIntrodução

A participação de atletas amadores em competi-ções desportivas aumentou consideravelmente nos últimos anos, porém são as provas de ultraendu-rance ou de longa duração que despertam maior fascínio1. A cada ano, verifica-se um número maior de corredores de rua migrando para esse tipo de esporte, assim como profissionais e pesquisadores da área da Saúde interessando-se nessas compe-tições para gerar novos estudos que forneçam informações sobre os benefícios e riscos desse estresse fisiológico.

Denissen et al.2 publicaram estudo sobre os marcadores de lesão muscular e inflamação em ultramaratonistas durante três dias de corrida. Os biomarcadores foram coletados antes, imediatamente após e nas 24 e 72 horas subsequentes do pós prova. Tais biomarcadores incluíam creatina quinase (CK), proteína C-reativa (PCR), cortisol, troponina T (cTnT) e osmolalidade (sOsm), bem como mioglobina urinária (UMB), mudanças na massa corporal e dor muscular de início tardio. Os autores constataram que aumentos significativos foram verificados na CK e PCR, não tendo sido constatadas mudanças expressivas em troponina T, cortisol e mioglobina urinária. Os autores concluíram que três dias consecutivos com 95 km de corrida em trilha resultaram em aumento dos marcadores de lesão muscular e inflamação, apesar da manutenção de uma frequência cardíaca acima de 77%.

O exercício físico extenuante pode resultar em prejuízo muscular, o qual é caracterizado por microtraumas em nível de sarcômero e sarcolema desencadeados possivelmente por estresse mecânico, resposta inflamatória e estresse oxidativo3,4. Esses microtraumas representam danos na integridade da membrana e no acoplamento excitação-contração do músculo esquelético e podem ser evidenciados por um aumento sérico de proteínas musculares, como a creatina quinase (CK), a lactato desidrogenase (LDH), as aminotransferases e a mioglobina, bem como pela dor muscular tardia e perda de força4.

Diversas alterações bioquímicas também foram relatadas por Fallon et al.5 durante uma ultramaratona de 1.600 km, entre 10 e 16 dias, embora tenham mostrado que uma série de variáveis também permaneceram dentro dos limites normais, apesar de grave estresse físico após a corrida. Os resultados mostraram aumento significativo na ureia, lactato, CK, TGO, TGP, glicose, albumina, cálcio e fosfato, porém diminuição significativa foi encontrada para globulina, ácido úrico e colesterol. Nenhuma alteração ocorreu no potássio sérico, bicarbonato, creatinina e triglicerídeos.

A ureia é o principal produto final do metabolismo das proteínas. A maior parte da ureia é filtrada pelos rins e eliminada pela urina6. Concentrações elevadas podem sinalizar uma possível aceleração do catabolismo das proteínas musculares, o que poderia comprometer o desempenho aeróbio e a potência muscular do atleta7. Um aumento na concentração de ureia pode ser relacionado com a redução do fluxo sanguíneo renal (e da taxa de filtração glomerular) secundário à deficiência de volume de líquidos, ao aumento do catabolismo proteico e/ou sangramento para o intestino, que podem, todos, ocorrer após uma ultraendurance.

A concentração de creatinina também aumenta geralmente após esforço prolongado, incluindo eventos como uma ultramaratona. O aumento na concentração plasmática de creatinina é provavelmente o resultado de sua liberação em consequência do trabalho muscular, desidratação e/ou redução no fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular.

Nesse sentido, linhas de estudos têm observado uma grande perturbação nas respostas inflamatória, hematológica, de estresse oxidativo, prejuízo muscular e composição corporal em provas de ultramaratonas. E, interessantemente, tem sido proposto que essas respostas podem estar entre os fatores fisiológicos determinantes da performance em ultramaratona8 ao lado de fatores físicos, ambientais, psicológicos, motivacionais e táticos9-11.

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Efeitos fisiológicos do exercício físico prolongado: estudo de caso de uma atleta de ultraendurance

Estudo realizado no Brasil, no ano de 2009, com 11 atletas participantes da Brazil 135 Ul-tramarathon, ultramaratona de 217 quilômetros, analisou as respostas inflamatórias e hematoló-gicas desses atletas, bem como verificou se essas respostas estavam correlacionadas com a perfor-mance dos mesmos. Amostras de sangue foram coletadas pré e pós-prova para determinação de hemograma completo e de proteína C-reativa. Os principais encontrados desse estudo foram que os atletas que concluíram a Brazil 135 Ultramara-thon tinham valores significativamente elevados de leucócitos, neutrófilos, monócitos e proteína C-reativa, valores significativamente reduzidos de basófilos e que, apesar de os valores de eritrócitos, hemoglobina, hematócrito, MCV e RDW terem permanecido mantidos, as concentrações de MCH, MCHC e de plaquetas aumentaram após a prova. Além disso, maiores valores de leucócitos e neu-trófilos ao final da corrida estiveram relacionados com maior velocidade média e porcentagem de velocidade crítica em que os atletas percorreram a prova, bem como com menor tempo de pausa dos atletas.

Objetivando ampliar os estudos existentes com atletas de ultraendurance, este trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos do exercício físico prolongado em uma atleta amadora de ultramaratona, 38 anos de idade, detalhando as alterações hematológicas e bioquímicas relacionadas 27 dias antes, 48 horas depois e 10 dias após a corrida, por meio de exames de sangue e urina, bem como apresentar as estratégias periodizadas de nutrição e suplementação, considerando sua part icipação em uma ultramaratona de 100 quilômetros.

Para esta revisão foram analisados trabalhos publicados em base de dados como: PubMed, Google Acadêmico e SciELO, buscando selecionar artigos publicados recentemente. Os descritores de busca utilizados foram: ultramarathon; endurance; nutritional strategies and ultramarathon; biomarkers; nutritional supplements and ultramarathon. Os artigos selecionados para a discussão foram aqueles

que reuniram, de maneira mais completa, a sua respectiva abordagem ao escopo deste artigo, de forma a atender a discussão baseada nas palavras-chave aqui apresentadas: “ultraendurance”, “desempenho”, “corrida”, “biomarcadores fisiológicos”, “alimentação”, “suplementação”.

Desenvolvimento

A ultramaratona de que a atleta deste estudo participou foi a TUTAN – Transmantiqueira Ultratrail Agulhas Negras, realizada no dia 20 de abril de 2019, com largada na cidade de Itamonte - MG e chegada na cidade de Rezende - RJ. Largaram 64 corredores, porém concluíram a prova 40 ultramaratonistas dos sexos feminino e masculino. Nove corredores foram desclassificados, e outros 15 desistiram em algum ponto da competição. O percurso da prova foi realizado em terrenos acidentados compostos de trilhas na mata (70%), estradões de terra (25%) e asfalto (5%), com altimetria acumulada de mais de 3.000 metros.

Essa competição possui importante relevância no cenário internacional de ultramaratonas, uma vez que concede pontuação junto ao ITRA – Internacional Trail Running Association, uma associação mundial com normas e diretrizes voltadas para a modalidade. A atleta em estudo foi a campeã da prova no sexo feminino, realizando-a em 15:03:29, quebrando o recorde de tempo que até então era de 16:27:56. A segunda colocada fez a prova em 18:43:43, seguida da terceira, que necessitou de 19:25:55 para concluir a ultramaratona.

Ciclo de treinamento

O ciclo de treinamento da atleta em estudo foi elaborado e acompanhado por profissional habilitado em educação física, treinador de corrida com experiência internacional em provas de trail running. O ciclo se iniciou no mês de fevereiro de 2019, com conclusão 3 dias antes da competição, realizada em 20 de abril de 2019.

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Nesse período, a atleta percorreu 850 quilômetros em treinos variados, como fartleks, intervalados, regenerativos e os longões do final de semana, divididos em 5 treinos semanais de corrida. Além disso, como forma de fortalecer a musculatura, a atleta realizou 2 treinos físicos semanais de 1 h cada um, perfazendo 22 h totais nesse período. Os treinos foram acompanhados por personal com formação em educação física.

Alimentação e suplementação

O impacto da nutrição no desempenho e na saúde humana tem sido foco de estudos que buscam estabelecer estratégias dietéticas capazes de aperfeiçoar o desempenho e a ergogênese12. A nutrição bem equilibrada pode minimizar a fadiga, reduzir as lesões, otimizar os depósitos de energia, e finalmente, ajudar a saúde em um modo geral13,14.

Diante disso, durante o ciclo de treinamento de corrida e treino físico, a atleta foi orientada e acompanhada por nutricionista, especialista em nutrição ortomolecular, funcional e esportiva. Toda a alimentação e suplementação prescritas estavam em consonância com a periodização do treinamento, e o que foi utilizado na competição foi testado anteriormente durante os treinos, objetivando gerar processo adaptativo e maximização dos resultados.

As atividades de endurance promovem elevação do gasto energético, com aumento significativo das taxas de oxidação de carboidratos15. Para a reposição dos estoques de carboidratos torna-se necessário um aumento da ingestão de CHO durante todo o período de competição (antes, durante e após), e essa manipulação dietética é uma prática cientificamente comprovada como benéfica para o desempenho no exercício16.

No período pré evento, estudos aconselham o armazenamento de energia muscular. Diante disso, 3 dias anteriores à prova ocorreu aumento significativo no consumo de carboidratos, apro-ximadamente 230 gramas por refeição no almoço e jantar. Além disso, foi realizada saturação de alguns suplementos 7 dias antes da competição, sendo ingeridas doses específicas de beta-alanina, bicarbonato de sódio e creatina juntamente com café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche

da tarde e jantar. Também foi dada especial aten-ção à hidratação pré prova, sendo que houve o consumo diário de 2 litros de água, acrescida de repositor eletrolítico, 4 dias antes da competição.

As atividades de endurance geram uma eleva-ção do gasto energético com significativo aumento das taxas de oxidação de carboidratos15. Durante o exercício físico, é importante que a suplemen-tação de carboidratos ingerida seja rapidamente absorvida, para que se mantenha a concentração de glicose sanguínea, principalmente em esforços realizados por períodos de tempo prolongados, quando os depósitos endógenos de carboidratos tendem a se reduzir significativamente17.

Durante a competição, a atleta utilizou-se de 40 a 50 g de carboidrato/hora por meio da ingestão de comida (p.e.: batata inglesa, tâmaras, goiabada cascão, banana seca, castanhas de caju, damascos, chocolate 70%, bisnagas de pão recheadas com creme de castanhas, gel de carboidrato, entre ou-tros), além da suplementação diluída em água que também continha carboidratos de rápida, média e lenta absorções, associados a doses específicas de creatina e BCAA, que era ingerida a cada 10 minutos em forma de pequenos goles durante toda a ultramaratona. Além disso, no período noturno da prova a atleta utilizou-se de uma combinação de cápsulas de cafeína, associadas a L-taurina sublingual.

Conforme Jeukendrup18, existe uma relação direta entre a ingestão alimentar do atleta e seu desempenho na prática esportiva, sendo funda-mental que as necessidades de nutrientes e energia sejam satisfeitas. Em provas de endurance, o des-gaste físico dos atletas promove uma significativa demanda energética e substancial aceleração do metabolismo. A rotina exaustiva de treinamento físico conduz a alterações consideráveis nas ne-cessidades nutricionais de um atleta19.

As refeições e estratégias de hidratação e uso de recursos ergogênicos nos períodos pré, durante e principalmente pós-exercício devem focar no fornecimento de energia e nutrientes adequados às características daquele esforço. Falhas relacio-nadas a esses períodos de ingestão podem provo-car sintomas como tonturas e náuseas durante o exercício, muitas vezes ocasionados por escolha de alimentos com índice glicêmico, quantidade, perfil lipídico e outras estratégias inadequadas20-22.

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Efeitos fisiológicos do exercício físico prolongado: estudo de caso de uma atleta de ultraendurance

Nesse sentido, logo após a competição a atleta se utilizou de suplementação 4:1, que ofereceu uma combinação de 4 partes de carboidrato com diferentes perfis de absorção (rápida, intermediária e lenta) para 1 parte de proteína, associada a blend de vitaminas e minerais, objetivando proporcionar um rápido reabastecimento de energia, além de cápsulas de ômega-3, doses específicas de glutamina, BCAA e um composto de probióticos manipulados em farmácia especializada, com foco em reduzir possíveis quedas no sistema imunológico. Nos 4 dias subsequentes à competição, o cuidado com a hidratação permaneceu, e a atleta fez uso diário de repositor eletrolítico diluído em água, além da alimentação, que permaneceu rica em carboidratos.

Objetivando avaliar os efeitos do exercício físico prolongado, a atleta em estudo realizou coleta de sangue e urina em laboratório autorizado 27 dias antes da competição. Justifica-se esse período de coleta, tendo em vista a periodização

do treinamento da atleta em questão elaborado por seu treinador, período esse em que se iniciava a redução dos volumes de treino.

A coleta laboratorial 48 horas após a ultramaratona de 100 km e 10 dias subsequentes se deu por questões de logística de retorno da prova e após 1 semana de repouso.

Os resultados demonstraram que 48 horas após a ultramaratona houve grandes alterações principalmente nos marcadores inflamatórios avaliados, como PCR e CK, além dos marcadores hepáticos como TAG e TGP, marcadores do sistema renal, como creatinina e ureia, porém, com rápida recuperação dos parâmetros avaliados 10 dias após a competição.

As tabelas abaixo representam os parâmetros avaliados, considerando coleta de sangue e urina 27 dias antes da competição, 48 horas após e 10 dias subsequentes ao término da ultramaratona. O objetivo foi verificar as alterações decorrentes do esforço físico extenuante, bem como verificar a recuperação da atleta posteriormente.

Tabela 1. Comportamento hematológico de inflamação e dano tecidual pré, 48 h após e 10 dias pós competição em atleta amadora de ultraendurance.

Parâmetros27 dias antes

da prova48 h pós

prova10 dias pós

prova

Creatinina

Creatina quinase (CK)

Proteína C-reativa (PCR)

Desidrogenase láctica

Transaminase ALT (TGP)

Transaminase AST (TGO)

Ureia

Cortisol

1,02 mg/dl

222 U/l

2,07 mg/l

198 U/l

22 U/l

22 U/l

50 mg/dl

23,17 mcg/dl

1,03 mg/dl

2.598 U/l

87,3 mg/l

376 U/l

97 U/l

162 U/l

54 mg/dl

19,73 mcg/dl

0,98 mg/dl

96 U/l

1,37 mg/l

187 U/l

26 U/l

20 U/l

47 mg/dl

34,93 mcg/dl

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Conclusão

Nossos achados mostraram valores muito elevados de creatina quinase, assim como tendências de dano hepático (TGO e TGP), que podem ser explicados pela sobrecarga decorrente da lesão tecidual cardíaca e musculoesquelética que ocorre após exercício físico prolongado, porém com regressão expressiva dos valores que retornaram aos parâmetros normais após 10 dias de repouso ativo.

A hiponatremia não foi um achado consistente, e, embora outros fatores possam ter sido considerados importantes, a ingestão provável de alimentos sólidos, utilização de eletrólitos e bebidas com concentração de glicose podem

ter sido importantes fatores de proteção para a atleta, que demonstrou rápida recuperação dos marcadores relacionados apenas sete dias após a competição.

O efeito a longo prazo de alterações com a manutenção da prática desse tipo de atividade ainda é desconhecido. Porém os estudos têm de-monstrado importantes alterações hematológicas, bioquímicas e até mesmo cardíacas em atletas de ultraendurance, o que demonstra a importância da continuidade de pesquisas ainda mais aprofun-dadas nesse campo e com um número maior de atletas amadores de ultramaratonas.

Tabela 2. Comportamento do hemograma pré, 48h após e 10 dias pós competição em atleta amadora de ultraendurance.

Parâmetros27 dias antes

da prova48 h pós

prova10 dias pós

prova

CorAspectoDensidadepHProteínaGlicoseCetonasBilirrubinasSangueUrobilinogênioNitrito

LeucócitosHemáciasCélulas epiteliaisBactériasCilindros

AmarelaTurvo1.034

6NegativaNegativaNegativaNegativaNegativaNegativaNegativa

76.500 p/ml22.800 p/ml

129.000 p/ml3.995 p/mcl

Inferior a 1.000 p/ml

AmarelaTurvo1.036

7,5Positiva (+)

NegativaNegativaNegativa

Positiva (+)NegativaNegativa

35.400 p/ml5.600 p/ml

130.000 p/ml1.791 p/mcl

Inferior a 1.000 p/ml

AmarelaTurvo1.033

6NegativaNegativaNegativaNegativaNegativaNegativaNegativa

45.200 p/ml18.700 p/ml

201.000 p/ml5.391 p/mcl

Inferior a 1.000 p/ml

EXAME FÍSICO-QUÍMICO

ANÁLISE DE ELEMENTOS FIGURADOS

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Efeitos fisiológicos do exercício físico prolongado: estudo de caso de uma atleta de ultraendurance

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Referências bibliográficas

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Ticiane Aragão da Silveira Gomes

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Modulação nutricional no

transtorno do espectro autista -

um estudo de caso

Nutritional modulation in autism spectrum disorder - a case study

Resumo

O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio de desenvolvimento neurológico complexo e geneticamente heterogêneo caracterizado por comprometimento das habilidades sociais, falta de recursos verbais e não verbais, além de alterações comportamentais estereotipadas e repetitivas. Dentre os problemas mais frequentemente identificados em indivíduos autistas estão patologias gastrointestinais, carências de vitaminas e de minerais, deficiências nos processos de destoxificação e metilação. Atualmente, várias formas alternativas de tratamento têm sido propostas, dentre as quais se incluem dietas isentas de glúten e caseína, associadas a suplementações de vitaminas, minerais, ômega-3, probióticos e antioxidantes, além de enzimas digestivas para auxiliar nos problemas gastrointestinais tão presentes nesses pacientes. O objetivo do presente estudo foi relatar um caso de um paciente com TEA, com a meta de equilibrar a microbiota, reduzindo a inflamação intestinal e cerebral, melhorar a digestão e absorção dos nutrientes e reduzir a carga tóxica do organismo, por meio da implementação de uma dieta de exclusão de alimentos que contivessem glúten e caseína, associada à suplementação individualizada com micronutrientes que auxiliariam na melhora dos sinais e sintomas. Foram realizadas quatro consultas, compostas de avaliação nutricional pelos parâmetros antropométricos, bioquímicos, dietéticos e exame clínico nutricional, através da teia das interconexões metabólicas. Após as avaliações, foi elaborada a prescrição de plano alimentar e de suplementação individualizada. Concluiu-se que a intervenção nutricional levou a um resultado positivo, com a melhora da maioria dos sinais e sintomas apresentados pelo paciente. Para estabelecer a conduta nutricional utilizada na prescrição do plano dietoterápico e suplementação foi realizada uma revisão bibliográfica através das plataformas Scielo, MEDLINE, PubMed e Lilacs, utilizando os seguintes termos: português e inglês, “autismo” relacionado a “nutrição”, “dieta”, “suplementação”, “distúrbio gastrointestinal”, “eixo intestino-cérebro”, “gestação”.

Palavras-chave: Autismo, nutrição, dieta, eixo intestino-cérebro, suplementação.

Abstract

Autism spectrum disorder (ASD) is a complex and genetically heterogeneous neurodevelopmental disorder characterized by impaired social skills, lack of verbal and non-verbal resources, in addition to stereotyped and repetitive behavioral changes. Among the problems most frequently identified in autistic individuals are gastrointestinal disorders, deficiencies in vitamins and minerals, deficiencies in the processes of detoxification and methylation. Currently, several alternative forms of treatment have been proposed, including gluten-free and casein-free diets, associated with supplementation of vitamins, minerals, omega 3, probiotics and antioxidants, in addition to digestive enzymes to assist in gastrointestinal problems, a frequent issue between such patients. The objective of the present study was to report a case of a patient with ASD, with the goal of balancing the microbiota, reducing intestinal and cerebral inflammation, improving the digestion and absorption of nutrients and reducing the toxic load of the organism, through the implementation of an exclusion diet of foods containing gluten and casein, associated with individualized supplementation with micronutrients that would help in the improve-ment of signs and symptoms. Four consultations were held, consisting of nutritional assessment of anthropometric, biochemical, dietary parameters and clinical nutritional examination, through the web of metabolic interconnections. After the evaluations, the prescription of a diet plan and individualized supplementation was prepared. It was concluded that the nutritional intervention led to a positive result, with the improvement of most of the signs and symptoms presented by the patient. To establish the nutritional conduct used in the prescription of the dietary plan and supplementation, a bibliographic review was carried out through Scielo, MEDLINE, PubMed and Lilacs platforms, using the following terms: Portuguese and English, "autism" related to "nutrition", "diet", “supplementation", “gastrointestinal disorder", “gut-brain axis", "pregnancy".Keywords: Autism, nutrition, diet, gut-brain axis, supplementation..

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Modulação nutricional no transtorno do espectro autista – um estudo de caso

OIntrodução

O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio de desenvolvimento neurológico complexo e geneticamente heterogêneo caracterizado por comprometimento das habilidades sociais, falta de recursos verbais e não verbais, além de alterações comportamentais estereotipadas e repetitivas1,2.

Sua etiologia multifatorial envolve uma interação complexa de fatores genéticos e fatores de risco ambientais, com alterações imunes e deficiência de conexão sináptica no início da vida. Evidências sugerem que haja um conjunto de múltiplos genes defeituosos e fatores ambientais desempenhando uma ação catalisadora. Segundo Fakhoury3, existe uma desregulação do sistema imunológico, além de inflamação, exposição a tóxicos e uma relação com a microbiota intestinal3,4.

Dados atuais dos Centros de Controle de Doenças mostram que o autismo afeta 1 em cada 58 indivíduos com menos de 21 anos que vivem nos EUA. Isso representa um aumento de 15% na prevalência em relação à taxa anterior de 1 em 68, ressaltando a urgência de mais pesquisas relacionadas a etiologia do TEA5. Além disso, alguns estudos mostram que o TEA ocorre quatro vezes mais em meninos do que em meninas6,7.

Embora o TEA possa ser classicamente pensado como um distúrbio neurológico em sua patologia, estudos relatam que o microbioma intestinal tem desempenhado um importante papel no eixo bidirecional intestino-cérebro, o qual integra as atividades relacionadas ao intestino e ao sistema nervoso central. Dessa forma, o conceito eixo microbioma-intestino-cérebro tem sido bastante estudado nos últimos anos. Os estudos estão revelando como diversas formas de distúrbios neuroimunes e neuropsiquiátricos estão correlacionados e ou modulados por variações no microbioma. Por conseguinte, o intestino provavelmente está envolvido na fisiopatologia de diversas desordens do sistema nervoso central, incluindo o TEA8,9.

Existem muitos fatores que demonstraram ter um efeito modulador no cérebro e na microbiota, incluindo hereditariedade congênita e epigenética

associada, ambiente, medicamentos, prática de exercícios, tipo de parto, comportamentos cognitivos e sociais, estresse, medo e ingestão de alimentos8.

O microbioma pode produzir efeitos locais e sistêmicos na biologia do hospedeiro. A ruptura de uma composição equilibrada do microbioma intestinal, denominada disbiose, pode causar inflamação intestinal crônica, que pode estar relacionada ao TEA10. O sistema imunológico também atua como uma das rotas para a comunicação intestino-cerebral11.

Indivíduos com TEA geralmente apresentam problemas de saúde gastrointestinal, incluindo problemas de motilidade intestinal, autoimunes e / ou outras respostas adversas a certos alimentos e falta de absorção de nutrientes. Esses problemas podem ser causados ou exacerbados por padrões comportamentais restritivos (por exemplo, preferência por alimentos doces, salgados e/ou recusa de alimentos saudáveis). Os indivíduos com problemas gastrointestinais tendem a demonstrar mais déficits comportamentais (por exemplo, irritabilidade, agitação, hiperatividade) e também tendem a ter um desequilíbrio na composição geral do microbioma intestinal, corroborando vários estudos que implicaram vias cérebro-intestinais como potenciais mediadores da disfunção comportamental12.

De acordo com o manual de orientação da SBP13 sobre TEA, aproximadamente 91% das crianças autistas apresentam distúrbios gastrointestinais como distensão gasosa, constipação, diarreia e dor abdominal.

Outros sintomas também relatados nesses pacientes são: dor abdominal, azia, refluxo gastroesofágico e flatulência10. Um estudo14 mostrou que constipação era o sintoma gastrointestinal mais prevalente em crianças com TEA: 85% de acordo com relatos dos pais e avaliações das crianças por gastroenterologistas.

Crianças autistas com sintomas gastrointestinais apresentam uma maior prevalência em relação aos distúrbios do sono, comparadas com o estado geral da população que não tem sintomas gastrointestinais e com irmãos15,16. Além disso, os sintomas gastrointestinais estão significativamente correlacionados com insônia e parassonias17.

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No estudo de Horvarth e Perman15 foram descritas alterações patológicas na permeabilidade intestinal, alteração na acidez gástrica e diminuição da atividade enzimática digestiva em crianças com espectro autista. No estudo de Ashwood e Wakefield18 com 50 crianças autistas com queixas gastrointestinais, foi observada hiperplasia de linfonodos no íleo de 93% e no cólon de 30% das crianças, bem como colite em 88% delas.

Então, o desequilíbrio na microbiota intestinal, em que microrganismos de baixa virulência tornam-se patogênicos, cria condições de maior permeabilidade, e com a disbiose surge a perda da permeabilidade seletiva, com translocação de produtos bacterianos, alérgenos alimentares e metais tóxicos, gerando reações inflamatórias e imunológicas sistêmicas, além da absorção reduzida de minerais e vitaminas19.

Pacientes com TEA frequentemente apresentam sintomas gastrointestinais e manifestações comportamentais significativas associadas, tais como ansiedade, autolesão e agressão20. Em um estudo De Magistris et al.21, verificou-se uma maior porcentagem de anormalidade intestinal, com alterações na permeabilidade em 36,7% dos pacientes com TEA em comparação com crianças controle (4,8%). Um aumento da permeabilidade intestinal resulta em uma carga antigênica mais alta do sistema gastrointestinal, com linfócitos e citocinas associadas como interleucina-6, interferon-g (IFN-g) e fator de necrose tumoral (TNF-a), os quais estão presentes na circulação e atravessam a barreira hematoencefálica.

Nesse cenário, a mucosa e a microbiota intestinal desempenham um papel importante na maturação e modulação do sistema imunológico. O relacionamento entre a microbiota intestinal e o sistema imunológico é bidirecional11. Em modelos de camundongos com TEA, ativações imunológicas resultam em alterações intestinais e microbianas que, por sua vez, trazem como consequência déficits na sociabilidade, na comunicação e comportamentos repetitivos22. Sendo assim, o controle da microbiota intestinal desses pacientes é um dos objetivos do tratamento clínico nutricional, contribuindo para minimizar tais sintomas gastrointestinais e comportamentais.

O tratamento nutricional sugerido para os pacientes com TEA baseia-se no controle dos sintomas do trato gastrointestinal (TGI) e na implementação de uma dieta de exclusão (glúten e caseína) associada à suplementação individualizada com micronutrientes que irão auxiliar na melhora dos sinais e sintomas23,24.

A dieta demonstrou ser um dos fatores ambientais mais influentes que modulam a composição da microbiota intestinal, o cérebro e o comportamento. Dados clínicos e pré-clínicos mostraram como diferentes fontes de dieta afetam significativamente a composição da microbiota intestinal e o humor em indivíduos diagnosticados com transtornos como TEA8.

O objetivo do presente estudo foi relatar um caso de um paciente com TEA, com a meta de equilibrar a microbiota, reduzindo a inflamação intestinal e cerebral, melhorar a digestão e absorção dos nutrientes e reduzir a carga tóxica do organismo, por meio da implementação de uma dieta de exclusão de alimentos que contivessem glúten e caseína, associada à suplementação individualizada com micronutrientes que iriam auxiliar na melhora dos sinais e sintomas.

Materiais e Métodos

O presente estudo refere-se a um acompanha-mento nutricional individualizado de um paciente pediátrico, do sexo masculino, com diagnóstico pelo neurologista de autismo moderado, baseado na quinta edição do Manual Estatístico e Diag-nóstico da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-V)25. Foram realizadas quatro consultas, nas quais foram aferidas as medidas de peso, altura e circunferências de cintura, estando o paciente com roupas leves e sem sapatos.

Nas consultas foram aplicadas algumas ferramentas para avaliação do paciente, dentre as quais: avaliação nutricional pelos parâmetros antropométricos, bioquímicos, dietéticos, para avaliar a presença de cada sintoma baseado em seu perfil de saúde, e exame clínico nutricional através da teia das interconexões metabólicas, instrumento usado na nutrição funcional para identificar os possíveis gatilhos, antecedentes e mediadores do caso em questão, excelente

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ferramenta de auxílio para ampliar os aspectos integrativos do paciente, já que representa as interrelações que ocorrem no metabolismo, como os mecanismos bioquímicos, hormonais, neurológicos, imunológicos e químicos26.

Após as avaliações, foi proposto um tratamento nutricional, com a elaboração de um plano alimentar e a prescrição de suplementação de forma individualizada.

A metodologia empregada na revisão bibliográfica para embasamento das condutas envolveu o levantamento de artigos indexados através das plataformas Scielo, MEDLINE, PubMed e Lilacs, utilizando os seguintes termos: português e inglês, “autismo” relacionado a “nutrição”, “dieta”, suplementação”, “distúrbio gastrointestinal”, “eixo intestino-cérebro”, “gestação”. A pesquisa foi realizada no período de fevereiro a abril de 2020. Salienta-se que os trabalhos encontrados foram triados a partir dos resumos, sendo selecionados para discussão os artigos que apresentaram em seu conteúdo uma associação direta entre os termos pesquisados, tornando-se relevantes para a revisão aqui apresentada. Foram excluídos os artigos que, embora contemplassem o tema, não abordassem uma consonância científica na sua intervenção nutricional.

Detalhamento do caso estudado

Paciente, sexo masculino, com idade de 5 anos e 4 meses, residente da cidade de Fortaleza, Ceará. Nasceu de parto prematuro, cesárea, com 32 semanas de gestação, com 1.700 gramas, devido provavelmente a uma amniorrexe prematura.

Ficou internado na UTI por cerca de 30 dias e mamou exclusivo por apenas dois dias. Ainda no berçário da UTI, recebeu fórmula infantil antirregurgitação de proteína intacta, apresentou muitas cólicas e distensão abdominal, e a fórmula foi substituída por fórmula infantil extensamente hidrolisada sem lactose.

Referente ao estado nutricional, a medida da estatura foi obtida por meio de um estadiômetro digital de parede da marca Inbody®, com resolução de 1 mm e altura máxima de 210 cm; enquanto o peso foi obtido pela utilização de uma

balança da marca Inbody®, com capacidade para 250 kg e resolução de 0,1 kg.

O critério utilizado para avaliação dos resultados dos parâmetros antropométricos foi a classificação pelas curvas de referência da OMS 200727. Utilizando a idade e valores de peso, estatura e IMC, foram classificados os indicadores P/I, E/I e IMC/I28.

Dessa forma, o diagnóstico antropométrico indicou magreza acentuada para a idade (IMC 11,35 Kg/m2, Escore-z < -3), muito baixo peso para a idade (P/I Escore-z < -3) e estatura adequada para a idade (E/I Escore-z < -1).

Em relação à anamnese nutricional, a mãe descreveu que a criança era muito seletiva e, apesar de não ter problemas com a textura dos alimentos, consumia quase todas as refeições por mamadeiras (vitamina de frutas e cereais, hortaliças, leguminosas e carnes liquidificadas), todas adicionadas com leite de vaca integral e mucilagens contendo grandes quantidades de glúten e açúcar. O paciente apresentava uma ingestão alimentar abaixo das suas necessidades de macro e micronutrientes.

Em relação aos dados bioquímicos, observaram-se as seguintes alterações nos exames: pesquisa de polimorfismo no gene MTHFR indicou mutação heterozigótica no cromossomo C677T, sinalizando uma baixa atividade enzimática; hemoglobina glicada elevada de 5,7% indicando risco aumentado para desenvolver diabetes; hipertrigliceridemia de 138 mg/dl; ferritina baixa de 7,9 ng/ml; zinco eritrocitário baixo de 430,6 μg/dl; hipovitaminose D de 16,41 ng/ml; e alumínio elevado de 15,7 μg/l. Além disso, o exame de coprologia funcional apresentou muco, indicando provavelmente estado inflamatório da mucosa intestinal, presença numerosa de fungos e leveduras, flora bacteriana aumentada, presença de amido e fibras bem e mal digeridas.

De acordo com a descrição da mãe, a criança apresentava dificuldades com o sono, despertava de madrugada e passava horas acordada andando pela casa, só vindo a adormecer novamente pela manhã. Também rangia muito os dentes enquanto dormia.

Mãe relatou que a criança apresentou dificul-dades de interação social desde o nascimento,

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sendo esse o único sintoma até os 3 anos de idade. Com 3 anos, começou a apresentar algumas este-reotipias e crises de birra. Com 3 anos e 6 meses, parou de falar e perdeu algumas habilidades. Já sabia o seu próprio nome completo, o nome dos pais, o nome das cores, reconhecia os números, reconhecia parentes em fotos e respondia sobre todas essas coisas quando era perguntada. Adorava cantar. Com 3 anos e 6 meses perdeu todas essas habilidades.

Pelo exame físico, foram observadas na criança olheiras, distensão abdominal, pele ressecada, saburra lingual e urticária papular causada por alergia a picada de mosquitos.

Em relação à função intestinal do paciente, a mãe referiu histórico de fezes muito volumosas e dificuldades para evacuar, levando à formação de fecalomas algumas vezes. Passou a fazer uso de laxantes e, ainda assim, o paciente ficava às vezes por três dias sem defecar. Também foi relatada flatulência, com evacuação oscilando entre constipação e diarreia, e, conforme a Escala de Bristol, suas fezes se encontravam entre os números 1 e 7.

No consultório, a criança apresentou compor-tamento hiperativo e ansioso, não passando mais do que cinco minutos brincando com o mesmo brinquedo nem parada no mesmo lugar, sempre andando de um lado para o outro.

Em relação à teia de interconexões metabólicas, foram registrados antecedentes como o parto prematuro e o consumo de fórmulas lácteas desde os primeiros dias de vida, gatilhos como disbiose intestinal, sono inadequado e dieta inflamatória, apresentando provavelmente excesso de radicais livres, citocinas inflamatórias e neuropeptídeos como mediadores, influenciando nos sinais e sintomas do paciente.

Detalhamento da conduta nutridiconal

No acompanhamento nutricional de crianças com TEA, tornam-se imprescindíveis a prevenção e o tratamento dos fatores etiológicos que podem estar presentes. Depois de realizada toda a investigação dos parâmetros antropométricos, bioquímicos, dietéticos, além da anamnese alimentar com histórico de alergias, informações

sobre sinais e sintomas gastrointestinais, preferências e aversões e exame físico nutricional, no primeiro momento foi implementado um plano alimentar individualizado, com exclusão de possíveis alérgenos e alimentos que formam compostos opioides que continham glúten, caseína, soja e açúcar, por serem proteínas mais difíceis de digerir. Além disso, houve redução de aditivos químicos e disruptores endócrinos, com o objetivo de equilibrar a microbiota, reduzindo a inflamação intestinal e cerebral, melhorando a digestão e absorção dos nutrientes e reduzindo a carga tóxica do organismo, adequado às necessidades do paciente. A prescrição nutricional contou com uma dieta com baixo teor de oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e poliálcoois fermentáveis (FODMAPs) para auxiliar a modificar favoravelmente a microbiota intestinal, diminuir a formação de gases e restaurar as anormalidades nas células endócrinas gastrointestinais.

Nessa etapa, destacou-se também a orientação a uma dieta ecológica, priorizando alimentos livres de agrotóxicos, pesticidas e aditivos, visando a melhora da microbiota intestinal. Além disso, para eliminar patógenos como fungos e leveduras, foi sugerido adicionar o consumo de óleo de coco, alho, cebola, orégano, cúrcuma, tomilho, sementes de abóbora e ervas antiparasitárias, antifúngicas e antibacterianas, associado a um adequado consumo de banana verde e farelo de aveia sem glúten como fontes de prebióticos e líquidos como água saborizada e chás digestivos como hortelã, erva-doce e chá da casca do abacaxi.

Ainda, foi associada suplementação específica com enzimas digestivas e probióticos com as seguintes cepas: Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus rhamnosus, Lactobacillus paracasei, Lactobacillus reuteri e Lactobacillus plantarium, e as do gênero Bifidobacterium, sendo Bifidobacterium bifidum, Bifidobacterium longum e Bifidobacterium lactis, e Saccharomyces boulardii, nesse primeiro momento, por contribuírem para uma regulação do processo inflamatório, equilibrando as citocinas inflamatórias, e por auxiliarem no restabelecimento da barreira intestinal, diminuindo fungos e leveduras e, com isso, favorecendo a melhora da digestão e absorção

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dos nutrientes e a diminuição dos sintomas. Na segunda etapa, foi mantido o plano alimentar

com evolução nas texturas, já que o paciente teve uma boa adesão à conduta sugerida. De acordo com a melhora significativa da maioria dos sintomas apresentados, como sintomas gástricos e função intestinal, foi incluída a prescrição de: vitamina A, vitaminas do complexo B, vitaminas C, D, E, K; minerais como magnésio, ferro, zinco, vanádio, entre outros; aminoácidos como lisina, carnitina, carnosina; fitoquímicos, como coenzima Q10, visando a prevenção e correção de deficiências nutricionais; e ácidos graxos ômega-3, por seu papel antinflamatório e imunomodulador, no intuito de auxiliar na melhora dos sinais e sintomas de comportamento, memória e cognição.

A exclusão de açúcar também permaneceu, uma vez que ele favorece a disbiose nas crianças autistas. Sendo necessária a restrição por tempo mais prolongado, o açúcar foi substituído por edulcorantes naturais à base de esteviosídio e taumatina. Da mesma forma, continuou a recomendação para evitar alimentos que contenham corantes como tartrazina e vermelho carmoisine, edulcorantes artificiais à base de aspartame e conservantes à base de benzoato e glutamato de sódio19.

As condutas foram orientadas no período de dezembro de 2018 a novembro de 2019, sendo cada consulta realizada com posterior reavaliação por um período de 30 dias.

Resultados e discussão

No decorrer do acompanhamento nutricional, o paciente teve uma boa adesão à conduta sugerida. Na segunda consulta, a mãe do paciente descreveu melhora significativa nos sintomas digestivos, função intestinal mais controlada, e, segundo a Escala de Bristol, as fezes estão nos tipos 3 e 4. Com o uso dos probióticos e da banana verde, além da suspensão de alimentos com glúten, lácteos, açúcar e da redução dos alimentos industrializados em geral, o paciente obteve melhora nos sintomas intestinais, diminuiu a distensão abdominal e a constipação, e o sono se tornou mais regular. Mas ainda apresentava, segundo relato da mãe, crises de birra, embora menos frequentes, além da mania

de levar objetos ou a mão à boca e continuava não se interessando muito pelas atividades escolares, apesar de estar interagindo mais com outras crianças, permitindo que os colegas brincassem com ele.

Nesse contexto, a prescrição de probióticos para pacientes com TEA, segundo Critchfield et al.29, é baseada em três pilares: primeiro, no tratamento da síndrome do intestino irritável (SII), devido às semelhanças dos sintomas gastrointestinais presentes em ambas as doenças, uma vez que a melhora dos pacientes com SII após os probióticos já está bem estabelecida, melhorando os sintomas gastrointestinais, como distensão e dor abdominais, entre outros; em segundo lugar, pela elevada quantidade de espécies de Clostridium encontrada nas crianças com TEA associadas com problemas gastrointestinais, o comportamento e a comunicação melhoraram durante o período de tratamento, implicando na correção do equilíbrio microbiano da microbiota intestinal pelo mecanismo de ação dos probióticos29; em terceiro lugar, pelo aumento da permeabilidade intestinal encontrada no autismo, a qual pode ser melhorada pelos probióticos, pois eles são capazes de estabilizar a barreira mucosa e reduzir supercrescimento bacteriano, sintetizar antioxidantes, aumentar a expressão de mucina e estimular a imunidade da mucosa, melhorando, assim, sua permeabilidade intestinal29.

Ao longo do acompanhamento nutricional, o paciente apresentou melhoras nos sintomas gastrointestinais de uma maneira geral, função intestinal mais controlada (fezes no tipo 3 na Escala de Bristol) e, depois da prescrição de uma suplementação individualizada de vitaminas, minerais, fitoquímicos e ômega-3, a mãe relatou que houve uma melhora progressiva no comportamento da criança (mais falante, dizendo palavras e frases soltas, algumas vezes com função e outras não). Também passou a responder bem melhor aos comandos e conseguir ficar um tempo maior participando de atividades com outras crianças.

Importante salientar que, nas primeiras consul-tas, a prioridade foi remover os alimentos da dieta que estavam causando inflamação e uma provável síndrome desabsortiva, prejudicando o desenvol-

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vimento e a saúde da criança, substituindo por uma alimentação anti-inflamatória, antioxidante e livre de glúten, leite e soja. Tratar o aparelho digestivo foi o passo seguinte, fornecendo enzimas digesti-vas por meio da inclusão de chás digestivos (150 ml após as refeições) contendo alecrim, sálvia, cidreira, canela, erva-doce ou hortelã e frutas como abacaxi e mamão, que melhoram a digestão das proteínas, associados à suplementação de clori-drato de betaína, proteases, lipases e sacaridases, além de prebióticos, como banana verde e aveia, e probióticos, recuperando o intestino e restituindo os nutrientes23.

A dieta de exclusão de glúten, soja e caseína é baseada na alteração da permeabilidade intestinal, a qual torna ineficiente a digestão das proteínas do leite e do trigo, gerando peptídeos de cadeia curta, estruturalmente semelhantes a opioides, capazes de adentrar o sangue e a barreira hematoencefálica, trazendo, assim, repercussões negativas30.

Ressalta-se que, no cérebro, os opioides gerados pela caseína (caseomorfinas) e pelo glúten (gluteomorfinas) podem passar através da mucosa intestinal e atravessar a barreira hematoencefálica, atingindo o sistema nervoso central e promovendo ações semelhantes às que ocorrem em usuários de morfina, podendo afetar os lobos temporais e causar dificuldades na fala e na integração da audição, redução das células nervosas do sistema nervoso central e inibição de alguns neurotransmissores. Além disso, tais compostos opioides são capazes de bloquear receptores dopaminérgicos, causando derramamento de dopamina no líquido cefalorraquidiano ou na urina, podendo afetar, dessa forma, a fala, a percepção, a emoção, o humor e o comportamento dos pacientes31,32,19,33.

Além disso, tem sido relatado um aumento de anticorpos IgA contra a caseína e a gliadina, com liberação de citocinas inflamatórias que promovem a inflamação da mucosa intestinal. Essa condição, por sua vez, conduz a menor atividade das enzimas, dificultando o processo de degradação proteica, levando a concentrações elevadas na urina de pessoas autistas33,31,34.

Nesse contexto, quanto ao glúten, foi orientada a substituição nas preparações da farinha de trigo por farinha de arroz, farinha de quinoa, farinhas

a base de mandioca (polvilho doce e azedo), farinhas de leguminosas (grão-de-bico) e de oleaginosas (amêndoas, castanhas) e amido de milho. Em relação ao leite animal, foi sugerida a troca por um rodízio de leites vegetais, acrescidos de proteína vegetal, e um aumento no cardápio de alimentos ricos em cálcio, como gergelim, chia, aveia, grão-de-bico, sardinha e ovos.

Deficiências no processamento sensorial também são extremamente comuns, afetando muitas áreas da vida diária, incluindo o comer. As crianças com TEA são frequentemente descritas como seletivas35.

Na primeira consulta, a mãe relatou que a criança era muito seletiva: não tinha problemas com a consistência e nem com as texturas dos alimentos, mas apresentava alguma alteração sensorial com a textura de certos tecidos e com determinados sons.

Vários fatores podem contribuir para a seletividade de alimentos, e um número de explicações têm sido propostas36,31. Um desses fatores refere-se à sensibilidade sensorial: tátil, oral e olfativa. Tem sido sugerido que a sensibilidade sensorial pode levar crianças com TEA a restringir a ingestão de alimentos somente aos preferidos, toleráveis, e texturas agradáveis por longos períodos37. A textura é identificada como um aspecto fundamental relacionado à aceitação de alimentos, o que reforça que a sensibilidade sensorial pode ser um fator que contribui negativamente para a seletividade de alimentos.

Resultados de vários estudos fornecem evidências de que crianças com dietas mais restritas têm maior risco de inadequações nutricionais, até porque a seletividade alimentar severa em crianças com TEA envolve a omissão frequente de vegetais e frutas38, ressaltando a necessidade de estabelecer critérios para definir o alcance e a apresentação de novos alimentos para essas crianças.

No caso do paciente, foi orientada a substituição gradual, padronizada e controlada dos alimentos com leite animal e dos alimentos com glúten da dieta, justamente por causa da seletividade informada pela mãe e visando a uma redução dos efeitos de abstinência desses compostos. Com sua eliminação percebeu-

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se uma melhora significativa na sociabilidade e na comunicação do paciente, bem como uma diminuição da seletividade e uma maior aceitação por novos alimentos. Diante de todas as implicações do distúrbio neurológico e metabólico do autista, esse tratamento deve ser aplicado de forma interativa e multidisciplinar, sendo a nutrição um importante contribuinte no somatório para melhoria nas características e nos sintomas da desordem autista.

Pacientes com TEA apresentam uma demanda maior de alguns nutrientes tendo em vista sua disfunção mitocondrial, intestinal e imunológica. Sendo assim, com a melhora dos sintomas gastrointestinais de uma maneira geral, na terceira consulta foi prescrita uma suplementação com o objetivo de restaurar as funções imunológicas, antialérgicas, anti-inflamatórias, destoxificantes e mitocondriais.

Nesse contexto, além das enzimas digestivas, prebióticos e probióticos, um suplemento vitamínico/mineral, ômega-3, aminoácidos, quercetina e coenzima Q10 foram prescritos, com o objetivo da melhora do estado nutricional e metabólico do paciente.

Normalmente as deficiências nutricionais mais comuns em TEA são de ômega-3, vitaminas do complexo B, minerais e aminoácidos, que são essenciais na formação de neurotransmissores e responsáveis por trazer equilíbrio no sistema nervoso central. Uma suplementação com probióticos, vitamina A, vitamina B6 (piridoxina), juntamente com a suplementação de magnésio, vitamina B9 (ácido fólico), vitamina B12, vitamina C, vitamina D, zinco, ferro e ômega-3 têm vindo mostrar efeitos positivos na melhoria de alguns dos sintomas do autismo23.

Estudo realizado por Adams et al.39 com 141 pacientes com autismo utilizou um suplemento vitamínico/mineral, o qual foi geralmente bem tolerado e apresentou ótimo benefício nos níveis séricos de muitas vitaminas, minerais e biomarcadores. Os autores concluíram que a suplementação oral de vitaminas/minerais é benéfica para melhorar o estado nutricional e metabólico de crianças com autismo, incluindo melhorias na metilação, glutationa, estresse oxidativo e sulfatação desses pacientes.

Tendo em vista os dados mencionados e os estudos relacionados, pode-se notar que o paciente obteve melhoras e que a intervenção nutricional utilizada levou a um resultado positivo, com a remoção dos possíveis patógenos, alérgenos alimentares, xenobióticos, poluentes e fatores estressantes; com o suporte dado para recolocar, para reinocular probióticos e prebióticos; com a reparação da mucosa gastrointestinal por meio de uma dieta não irritativa, hipoalergênica e com nutrientes saudáveis, dado o suporte para restaurar a homeostase do paciente. Acrescido, por fim, da reavaliação dos objetivos traçados e das condutas nutricionais, houve uma melhora da maioria dos sinais e sintomas apresentados pelo paciente e uma melhor evolução nas terapias.

Conclusão

Os fatores citados podem ser avaliados separadamente, porém estão totalmente relacionados entre si, ficando claro o quanto a nutrição é determinante nesse processo. É essencial a restauração do desequilíbrio fisiológico e bioquímico, buscando a harmonia dos sistemas de base de funcionamento do corpo humano e contribuindo com a melhora dos sintomas dos indivíduos que se encontram no espectro autista. É muito visível como os fatores envolvidos no autismo estão relacionados com disfunção imunológica e inflamatória, estresse oxidativo, alterações gastrointestinais, desequilíbrios estruturais, problemas de destoxificação, interações corpo-mente e disfunções neuroendócrinas.

Faz-se necessário, diante de todas as implicações do distúrbio neurológico e metabólico do autista, que esse tratamento seja aplicado de forma interativa e multidisciplinar, sendo a nutrição um importante contribuinte no somatório para melhoria na qualidade de vida e na funcionalidade dos pacientes autistas.

Para o sucesso do tratamento, é primordial o papel do nutricionista no acompanhamento nutricional dos pacientes com TEA, implementando dietas individualizadas, calculadas de acordo com as necessidades nutricionais, estado nutricional, nível sócio econômico e cultural, além de análise de sinais e sintomas.

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Sendo assim, sugere-se novos estudos randomizados e pré-clínicos controlados para uma melhor compreensão dos riscos e benefícios relacionados com a suplementação, assim como as dosagens mais adequadas às diversas faixas etárias

e as várias alternativas dietoterápicas, incluindo principalmente a dieta isenta de glúten e caseína, a seletividade alimentar e relação com alergia alimentar nos pacientes com TEA.1. KRAL, T.V. et al. Eating behaviors, diet quality, and

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• O objetivo do tratamento nutricional no TEA é equilibrar a microbiota, reduzir inflamação intestinal e cerebral, melhorar a digestão e absorção dos nutrientes e reduzir a carga tóxica do organismo;

• O tratamento proposto inclui uma dieta livre de glúten, caseína, soja e açúcar, associada a uma suplementação de micronutrientes, respeitando a individualidade bioquímica do paciente;

• O passo número 1 é remover possíveis alérgenos e alimentos que formam compostos opioides que contenham glúten, caseína, soja e açúcar, para reparar a barreira intestinal;

• O passo número 2 é restaurar a microbiota, com enzimas e chás digestivos, e reinocular probióticos;

• Com o intestino recuperado e mais equilibrado, associa-se a suplementação de vitaminas, minerais, ômega-3 e antioxidantes, restaurando as funções imunológicas, antialérgicas, anti-inflamatórias, destoxificantes e mitocondriais.

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Modulação nutricional no transtorno do espectro autista – um estudo de caso

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Escute o solo, as raízes e ouça os ventos de Primavesi

Solo é vida e é a base da vida. Há muita vida nele e muita dependência dele”.

Do livro “A Convenção dos Ventos”, da agrônoma Dra. Ana Maria Primavesi

Apaixonada pela natureza em harmonia com os seres vivos, a precursora da Agroecologia no Brasil, a agrônoma Profa. Dra. Ana Maria Primavesi conferiu ao solo o papel de principal agente propagador da vitalidade no meio ambiente, valorizando a interação dos insetos, fungos e nutrientes para o manejo do solo, que culmina numa agricultura transformadora para a vida do homem, da fauna e da flora no planeta Terra.

A agrônoma Dra. Ana Maria Primavesi em vários momentos da carreira, em trabalho de campo.

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Os filhos da Dra. Ana Primavesi, Carin Primavesi Silveira e Odo Primavesi, que também é agrônomo, contextualizam: “Ela nasceu e se criou em uma propriedade agrícola, nos Alpes austríacos, e que tinha a integração entre lavoura, pastagem e floresta, tudo como fonte de renda. Naquela ocasião, ela conta, já havia sinais de esgotamento de alguns nutrientes na terra, e na Universidade Rural de Viena ela encontrou um professor tutor e outro professor extensionista que se especializaram em recuperar solos e aumentar sua produtividade utilizando métodos biológicos (e microbiológicos) e nutricionais. Foram esses dois que mudaram a visão dela para uma mais holística, e que a marcou para sempre. A ideia era sempre observar a natureza, como ela desenvolvia os solos e como ela resolvia os problemas. O teste da pá reta (para analisar a raiz e a agregação do solo) era o indicador mais utilizado no caso dos aspectos biológicos, e os sintomas visuais de deficiência no caso da nutrição mineral das plantas”.

Primavesi via além do simples orgânico, relatam Carin e Odo. “Ela dizia que precisava ser orgânico em bases ecológicas, ou seja, realizar o manejo do agroecossistema não simplesmente substituindo insumos, mas verificando quais as causas que estão deprimindo a produção. Em solos de regiões tropicais, a degradação da matéria orgânica é muito rápida, e o solo logo fica exposto à radiação solar intensa e ao impacto das chuvas tropicais. Era preciso manejar os restos vegetais na superfície, como a natureza mostra claramente (horizonte orgânico), evitando virar muito o solo. E, analisando o comportamento de raízes pivotantes, avaliar se havia adensamentos no perfil superior que precisavam ser eliminados por práticas vegetativas (eventualmente mecânicas também). O solo na natureza (ecossistemas naturais) é protegido por tripla camada: dossel das plantas diversificadas, a serapilheira (restos vegetais) e a camada de raízes entrelaçadas. Isso deveria ser repetido nos agroecossistemas”.

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O estudo dos nutrientes do solo adquiriu importância durante os primeiros estudos na academia

Visão holística, observação da natureza e biodinâmica do solo

E como é esse aspecto de alimentos nutricionalmente mais saudáveis para os animais e as pessoas?

Carin relata ainda que, já na Universidade, a Profa. Primavesi teve um professor muito bom na área de nutrientes. Isso a estimulou a acompanhar de perto os estudos na área, especialmente de pesquisadores russos e alemães tanto ocidentais como orientais. Na área animal, ela descobriu trabalhos americanos excelentes reforçando a visão holística de solo-planta-animal-homem. “O homem depende do que o solo fornece”.

A professora Ana Primavesi não aprendeu sendo agroecologista, mas como uma visão holística, a partir da observação da natureza, a considerar a biodinâmica no solo, procurar pelas causas primárias, ver as interrelações entre plantas, organismos associados e organismos independentes, todos eles dependentes de material orgânico (complexo ou simples) como fonte energética ou mineral.

Para Carin e Odo, a agrônoma Ana Primavesi amava o solo, a natureza, da qual todos nós dependemos. “Falava com paixão sobre o seu conhecimento adquirido da natureza, conhecimento que não tinha lido ou escutado de alguém, mas vivido na prática, portanto falava com autoridade, com convicção, e isso arrastava as pessoas que quisessem ou não (os defensores da revolução verde, dos agroquímicos e outros). Ana trazia exemplos, ilustrava fartamente as palestras, e isso facilita o entendimento dos ouvintes”.

Esse era um aspecto interessante. Primavesi simplesmente mostrava como funciona a natureza, o que significava algum tipo de deficiência, o que é um solo sadio, sem precisar falar contra os agroquímicos. Quando se conduz um sistema agroecologicamente, cuidando para que o sistema radicular das plantas esteja saudável e que o solo seja grumoso (grumos são agregados estabilizados biologicamente contra a dispersão pela água) e, além disso, diversificado, resulta em uma área com elevada atividade biológica, que exerce seus controles para evitar deficiências ou excessos minerais, populacionais e outros.

Numa condição de muita vida na área (sobre um solo vivo e não morto biologicamente), as plantas têm seu estado nutricional equilibrado – exceto em casos agudos de alguma deficiência mineral, quando se agrega esse nutriente, especialmente em solos marginais lixiviados com deficiências múltiplas de nutrientes – e têm todas as condições de formar substâncias orgânicas complexas previstas no programa genético, sem acúmulo de substâncias orgânicas de cadeia curta e, portanto, ricas em substâncias nutritivas de elevado valor, vigorosas, com todo seu sistema de defesa funcionando (inclusive os inimigos naturais, por causa da diversidade elevada no campo, de plantas vivas, seus resíduos e sistemas radiculares vigorosos), não havendo praticamente necessidade de se aplicar grandes quantidades de fertilizantes e defensivos agrícolas (também no sistema orgânico).

Ana mostrava que não se precisava aplicar defensivos. As chamadas pragas viviam tranquilamente em meio aos outros seres, sem trazer danos econômicos. Os agroecossistemas bem conduzidos são eficientes no uso de nutrientes e de água e de captação de energia solar, reduzindo o custo de produção. No caso dos componentes florestais, ela batalhava para pelo menos haver quebra-ventos nos sistemas de produção, e, no caso da pecuária, também sombra para os animais.

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Sobre a Dra Ana Maria Primavesi

Depoimentos e desenvolvimento científico inspirados na obra da Profa. Primavesi

O agrônomo Hiroshi Ota, da Fundação Mokiti Okada, fala da importância do solo como base da agricultura

Ana Maria Baronesa Primavesi, nascida Annemarie Conrad, nasceu num domingo, no dia 3 de outubro de 1920, no Castelo Pichlhofen, distrito de St. Georgen ob Judenburg, no estado da Estíria, na Áustria. Cursou agronomia na Escola Agrícola de Viena, tendo concluído o curso em 1942. Doutorou-se em Cultura de Solos e Nutrição Vegetal. Casou-se em 1946 com o diplomata, fazendeiro e também Doutor Artur Barão Primavesi, e em 1948 vieram para o Brasil, onde continuaram suas pesquisas. Lecionaram na Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, instituição na qual Artur fundou o Instituto de Solos e Culturas e criou o primeiro o curso de pós-graduação em Produtividade e Conservação do Solos. Também trouxe para a cidade o Segundo Congresso de Biologia de Solos da América Latina, patrocinado pela UNESCO.

Primavesi publicou diversos artigos científicos. É autora de livros como: Pergunte ao solo e às raízes, Manejo ecológico do solo, Manejo ecológico de pragas e doenças, Manual do solo vivo, A convenção dos ventos – agroecologia em contos, Manejo de pastagens em regiões tropicais e subtropicais, Agricultura sustentável – manual do produtor rural, Agroecologia – agroesfera, tecnosfera e agricultura, entre outros.

Dra. Ana Maria Primavesi faleceu em São Paulo, no dia 5 de janeiro de 2020, aos 99 anos.

O agrônomo Hiroshi Ota durante o lançamento do livro da Dra. Primavesi na sede da AAO-SP

O agrônomo Hiroshi Ota no solo de Agricultura Natural, na zona Sul de SP

A Profa. Primavesi foi quem começou a dar ênfase para a importância do solo como base da agricultura. Ela sempre reforçou a observação de como está o solo. Sempre que íamos ao campo levávamos a pá para cavar e observar os torrões”.

Pensando na prática, na observação do mato como indicador e não como inimigo, para saber o que está acontecendo no solo dá para tentar descobrir a causa dos problemas e não só cuidar do sintoma com os venenos e muito adubo.

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Causa e efeito

Dependendo de como cuidamos do solo, as plantas que crescem nele podem ser alimentos melhores para nós.

A agricultura natural, orgânica ou agroecológica também desenvolve produtos bonitos, verdadeiramente saudáveis. Primavesi buscava conhecimento do mundo e trazia para a prática de forma mais fácil e mostrava isso para o agricultor. Ela traduzia para o cotidiano o conhecimento científico que acumulou com muitos estudos na Áustria e aqui no Brasil, não só focando na produção agrícola, mas em um estilo de vida que tem sustentabilidade.

Para Hiroshi Ota, a Dra. Primavesi se tornou, com paciência e persistência, uma pessoa importante no contexto da agroecologia e também para a agricultura natural. “Convivemos mais de 25 anos aprendendo bastante juntos. A Professora foi consultora da Fundação Mokiti Okada, onde realizávamos encontros de agricultores, participações em conferências, apresentando resultados e visitando agricultores”.

Hiroshi Ota é agrônomo, gestor da Secretaria de Agricultura Natural e Paisagismo do Solo Sagrado, na Fundação Mokiti Okada.

Agricultura regenerativa - a importância dos microrganismos para a proteção do solo

Atividades no Sítio Eco Recanto Lótus O técnico agrícola Marcos Soares e a chef naturalista Tânia Alves no Sítio Eco Recanto

Lótus, em Pindamonhangaba

De acordo com Marcos Soares, a agricultura regenerativa é um trabalho sistêmico. “Como mostrou a Profa. Ana Maria Primavesi em seus estudos, os microrganismos desempenham papel fundamental para a vitalidade do solo. A primeira ação é a limpeza da terra, que depois não deverá mais ser revolvida para não descontruir as estruturas produzidas pelos microrganismos. Quando falamos em cultivo, em produções de alimentos, estamos falando em agricultura regenerativa, como bem pontuava a Dra. Primavesi. A gente alimenta o solo e o solo alimenta os frutos”.

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A agricultura inicia-se com o solo. No modelo convencional de cultivo, o solo é bombardeado com química sintética, como agrotóxicos, fungicidas, bactericidas e outros, e o solo fica exposto

safra após safra. Esses insumos sintéticos destroem a vida do solo, a microbiologia, especialmente na camada superficial, que tem entre 20 a 30 cm e onde se encontra muita vida, tornando o solo pobre e sem vitalidade. Nesse processo, toda a parte fisiológica da planta se desenvolve muito bem, mas numa análise nutricional de um tomate produzido nesse modelo agrícola, por exemplo, verifica-se que ele aparece recheado de nutrientes sintéticos, com potencial malefício ao organismo humano.

A ideia da agricultura regenerativa é regenerar e proteger o solo da temperatura, do excesso de águas das chuvas, deixar que ele fique coberto e protegido. Sem essa proteção, seus nutrientes são afetados por esse excesso de temperatura ou água das chuvas, matando toda a camada superficial dos microrganismos. Os modelos de agricultura sustentável vão inserir no solo não só a alimentação das plantas, os nutrientes orgânicos, mas proteger os microrganismos que têm o papel de solubilizar esses insumos orgânicos. Eles é que irão derreter e conduzir no sistema radicular, na boca da raiz esses nutrientes, que serão solubilizados nos compostos orgânicos, como húmus de minhoca, pós de rocha à base de fósforo, de potássio, e assim por diante.

Quando existem riquezas e diversidades de famílias de microrganismos no solo, eles protegem o sistema radicular e não deixam as doenças adentrarem esse sistema. Nesse contexto, o papel da microbiologia é muito importante, da inserção de matéria orgânica, de insumos orgânicos. O que antes era considerado um pedaço de terra passa a ser chamado de solo, porque passa a ter todo um equilíbrio na parte física, química e biológica. O resultado disso tudo é que os frutos e cereais absorvem os nutrientes orgânicos e ficam preenchidos com esses nutrientes. Nosso organismo interpreta positivamente o poder dos princípios ativos dos orgânicos e não tem trabalho de quebrar as moléculas desses alimentos que são ingeridos.

Marcos Soares é técnico agrícola, especializado em cultivos de tomates orgânicos, olericultura orgânica e bananicultura orgânica. É presidente e administrador da Orgânicos Cooper, cooperativa do Vale do Paraíba que reúne 26 agricultores orgânicos e duas agroindústrias. É proprietário e agricultor orgânico e biológico do Sítio Eco Recanto Lótus, que fica no bairro de Cruz Grande, em Pindamonhangaba.

O pesquisador Antônio Devide, da APTA – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios –, de Pindamonhangaba, fala sobre a importância do trabalho da Dra. Ana Maria Primavesi e seu legado para a ciência e apresenta o sistema agroflorestal como sistema tridimensional, descrito nos estudo de Primavesi, porque a agrofloresta está conectada ao ambiente físico, para cima da terra e para dentro do solo e também conectada no tempo. Se observarmos uma floresta se formando numa área abandonada que era uma pastagem, por exemplo, vamos perceber no início umas graminhas, principalmente, com alguma vegetação herbácea de porte mais elevado, com mais lignina, mais gravetos, que vai aumentando, daí um animal pousa ali e defeca e libera uma semente diferente, e assim começa a ter uma vegetação mais diversa, mais arbustiva e arbórea, e nesse processo de sucessão de vegetação vai se tornando também mais complexa essa rede de interações para cima e para baixo da terra e no tempo.

Agrofloresta - sistema tridimensional também está na obra da Profa. Primavesi

O pesquisador da APTA – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – Antônio Devide fala sobre o tema

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Numa observação em câmera lenta, podemos verificar que temos uma teia da vida se desenvolvendo. Em função do sombreamento e da adição de matéria orgânica, aqueles organismos que ainda estavam lá em um ambiente perturbado, que eram os cupins e as formigas cortadeiras, vão sendo substituídos por organismos com maior requerimento de vida, ou seja, de qualidade de vida; com sombra e matéria orgânica, entrarão fungos e bactérias que fixam nitrogênio associado ao arbusto leguminoso e vão se desenvolvendo, formando abrigo para fauna, inclusive.

O princípio inicial da agrofloresta, portanto, é trabalhar dentro processo de sucessão vegetal, utilizando questões ligadas ao ambiente natural, ou seja, espécies que ocorrem na paisagem local que são mais eficientes na reconstrução do solo, leguminosas que fixam nitrogênio, plantas que fazem associação com fungos micorrízicos, que melhoram a absorção de nutrientes, plantas

funcionais, com arquiteturas diferentes, com tempos de vida diferente. Assim, cabe planejar o sistema para ter diferentes extratos no tempo, e dentro desse sistema introduzir plantas cultivadas com o interesse de produzir alimentos, resinas, medicamentos, madeira, nozes, o que seja. Essas plantas podem ser introduzidas no sistema biodiverso que vai ser manejado ao longo do tempo, de maneira que seja possível melhorar o meio ambiente, o solo e as conexões que há na paisagem. Essa conexão evita que a água do solo se evapore, contribuindo para a produção de água nesses sistemas.

Com o solo melhorando, haverá condições de produzir alimentos que antes não se produziam. E depois que a agrofloresta virar uma floresta, é possível enriquecer o ambiente com frutos do futuro, por exemplo os nativos da Mata Atlântica, como a palmeira juçara, para utilizar a polpa da juçara, trabalhar com frutas como cambuci, grumixama, fruta-do-conde, araçá-boi, cabeludinha, frutas de mesa como cambucá, e trabalhar com geleias e polpas, que têm um bom shelf life e comercializar, o que agregará valor ao produto agroflorestal.

No sistema de pastagem, a arborização, o Pastoreio Racional Voisin e pastejo rotacionado, que tanto preconiza a Dra. Primavesi, são os mais sustentáveis. Se existe uma diversidade de vegetação herbácea para o animal se alimentar, este será mais equilibrado nutricionalmente do que se comer apenas capim, que tem sempre os mesmos elementos minerais. Se há uma variedade na pastagem de ervas espontâneas isso favorece, pois muitas plantas medicinais auxiliam o trato digestivo dos animais e a criar os mecanismos de defesa. Se eu tenho diversidades minerais e micronutrientes que vão funcionar nos processos de chave e fechadura, esse sistema vai desenvolver rotas metabólicas nos animais para que eles produzam as próprias defesas.

Sistema de pastagens sustentáveis preconizados por Primavesi

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Portanto, os princípios da diversidade e da biodiversidade que são defendidos pela Dra. Ana Maria Primavesi, inclusive nas pastagens, também precisam ser trabalhados ao pensar, utilizar

a arborização principalmente com árvores que fixam o nitrogênio, que colocam matéria orgânica no solo, que melhoram a qualidade do solo, melhoram a recarga hídrica, e, com isso, se criam condições de produzir água dentro da pastagem para que a vegetação possa sobreviver no período de estiagem, como ocorre no Vale do Paraíba.

A agroecologia preconiza a utilização de agricultores para participar no processo: os agricultores e pessoas em geral participam de mutirões, dias de campo, em que ocorrem trocas de informações, trocas de sementes e atividades práticas, implantações e manejos de sistemas de produção. O trabalho com os sistemas agroflorestais teve início em 2010; em 2012, formou-se a Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, com disseminação em toda região.

Os sistemas agroflorestais têm como foco reconectar o ser humano ao planeta Terra. Os princípios da Dra. Ana Primavesi são a base desse trabalho da Rede Agroflorestal, porque o objetivo é manter o solo coberto com matéria orgânica, base da energia, composto de estruturas complexas de carbono, hidrogênio, nitrogênio e vários minerais e quando a matéria orgânica é adicionada ao solo. Com a poda de uma árvore, por exemplo, se enriquece o solo de minerais, trazendo toda uma vida para o solo, o que se traduz em fertilidade do solo, com estruturação, porosidade, agregação biológica, diversidade de vida, fungos e bactérias benéficas, equilíbrio biológico, entre outros agentes transformadores do solo, que evitam os surtos de doenças e pragas. A fertilidade também deve ser vista do ponto de vista químico, ou seja, o solo tem estoques de nutrientes suficientes para manter a vida se desenvolvendo, o que se traduz na qualidade do alimento que é produzido, que tem mais energia vital.

“Eu não vejo uma condição de ter vida no planeta se não tiver agroecologia e os sistemas agroflorestais. Pode parecer romântico, mas é uma condição para a vida. Essa reconexão humana com as questões mais delicadas está mais ligada à área espiritual, talvez. Nos médio e longo prazos, verificamos que a produção de alimentos orgânicos vem crescendo, bem como a agricultura urbana no mundo todo, e o despertar de pessoas com essa reconexão com a terra vem crescendo na mesma proporção. Vejo uma fuga de pessoas do meio urbano para o interior, em busca de um banho de rio, de sol, de caminhar no meio da vegetação, é um momento de cada um buscar esse refúgio”.

As plataformas governamentais devem priorizar a agroecologia, a agricultura familiar e a agrofloresta para que o Brasil possa ser de verdade um celeiro na produção de alimentos, assim como a África e países em desenvolvimento da América Central também têm esse potencial. Temos que ficarmos alertas para as questões políticas estarem atreladas à agroecologia como forma de termos um planeta vivo, para as gerações presentes e futuras.

Antônio Carlos Pries Devide é agrônomo pela UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), Mestre em Fitotécnica pela UFRRJ e Doutor em Fitotécnica também pela UFRRJ. Atua como pesquisador da APTA - Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, no Polo Regional do Vale do Paraíba em Pindamonhangaba. Membro fundador da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, coordena o Projeto Vitrine Agroecológica, com foco em pesquisas sobre sistemas de produção de base agroecológica, com ênfase no desenho, implementação, monitoramento e análise de sistemas agroflorestais.

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Veja no vídeo a seguir o Técnico Agrícola Marcos Soares mostrando um modelo de Agricultura Regenerativa no Sítio Eco Recanto Lótus, em Pindamonhangaba.

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Ana Vládia Bandeira e Daniel Francisco de Assis

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Nessa oficina culinária, a nutricionista Ana Vládia Bandeira e o Chef Daniel Francisco de Assis, mostram os benefícios e a forma de preparar adequadamente o Kefir, uma excelente maneira de agregar probióticos na alimentação, contribuindo para a modulação da microbiota e para a saúde intestinal. Aprenda o passo a passo da fermentação do Kefir no vídeo a seguir.

Alimentos Fermentados e Saúde:

Como Fazer Kefir

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Normas para Publicação de Artigos Científicos

A Revista Brasileira de Nutrição Funcional publica artigos inéditos que contribuam para o estudo e o desenvolvimento da ciência da nutrição nas áreas de Nutrição Clínica Funcional, Nutrição Esportiva Funcional, Fitoterapia e Nutrição & Ciclos de Vida.

São publicados artigos originais (inclusive estudo de caso), metanálise, artigos de revisão e receitas. Os artigos recebidos são avaliados pelo Conselho Editorial da revista. Os autores são responsáveis pelas informações contidas nos artigos. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Nutrição Funcional poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios que surjam no futuro. Ao autorizar a publicação de seus artigos na revista, os autores concordam com estas condições.

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Deve conter o título em português e inglês, o nome completo sem abreviações de cada autor, palavras-chave para indexação em português e inglês, resumo em português e inglês com no máximo 300 palavras, texto com tabelas e gráficos, e as referências.

O texto deverá conter: introdução, metodologia, resultados, discussão e conclusões. As imagens obtidas com “scanner” (figuras e gráficos) deverão ser enviadas em formato .jpg em resolução de 300 dpi.

A receita deve apresentar: ingredientes, modo de preparo e propriedades funcionais atribuídas à receita. Deve conter no máximo 6 referências bibliográficas.

Pacientes envolvidos em estudos e pesquisas devem ter assinado o Consentimento Informado e a pesquisa deve ter a aprovação do conselho de ética em pesquisa da instituição à qual os autores estão vinculados.

Guidelines for Publication of Scientific Articles

The Brazilian Journal of Functional Nutrition publishes previously unpublished articles which contribute to the study and development of the science of nutrition, in the areas of Functional Clinical Nutrition, Functional Sports Nutrition, Phytotherapy, and Nutrition & Life Cycles.

Original articles (including case studies), meta-analysis, reviews and recipes are published. The articles received are evaluated by the journal’s Editorial Board. Authors are responsible for the information contained in their articles. Articles published in the Brazilian Journal of Functional Nutrition may also be published in the electronic (Internet) version of the journal, as well as in other media that might emerge in the future. By authorizing publication of their articles in the journal, authors agree to these conditions.

Article submission

Articles must be sent to VP Centro Nutrição Funcional at the email address [email protected], in a MS Word file formatted in A4 paper, 2.0 cm margins (top, bottom, left and right), 1,5 line spacing, Times New Roman font, size 12 for text and size 7 for references. Maximum article length is 15 pages, including abstract, tables, figures, diagrams and references.

All authors mentioned in the text body must be followed by numbers also listed in the references. Thus, references must be listed in the order they appear in the text, in compliance with Vancouver norms. Reference numbers in the text body must be in superscript, without space. Several references in a row are to be separated with commas, without space.

The name, address, telephone and fax numbers, email address and résumé of the author(s) must be provided, as well as the ORCID number (for new register access: https://orcid.org/ and click "Register Now" for data entry and number generation. Authors may submit only articles not previously published in other journals.

Article Presentation

The article must include the title in English, the full (non-abbreviated) name of each author, keywords in English for indexation, abstract in English with a maximum of 300 words, text with tables and graphs, and references.

The text must contain: background, methodology, results, discussion and conclusions. Scanned images (illustrations and graphs) must be submitted in .jpg format at a 300 dpi resolution.

Recipes must include: ingredients, preparation instructions, and functional properties of the recipe. They must include a maximum of 6 references.

Patients enrolled in studies and trials must have signed an Informed Consent Document, and the studies must have been approved by the research ethics committee of the institutions the authors are affiliated to.