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1 Governo do Estado de São Paulo Geraldo Alckmim/Governador Secretaria de Estado do Meio Ambiente José Goldemberg/Secretário Serra do Mar: Uma viagem à Mata Atlântica (2ª edição) - São Paulo, 2001

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Governo do Estado de São PauloGeraldo Alckmim/Governador

Secretaria de Estado do Meio AmbienteJosé Goldemberg/Secretário

Serra do Mar: Uma viagem à Mata Atlântica

(2ª edição) - São Paulo, 2001

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Ficha técnica 2ª edição

Preparação e revisão de textosMaria Julieta A.C.PenteadoRevisão técnica e novos textosSueli Angelo Furlan

Apoio técnicoSonally R. Paulino da Costa PelizonSandra N.S. Almeida

Projeto gráficoLetra e Imagem

InformáticaPedro Orlando V. Galletta

CapaWittrockia spiralipetalain Bromélia da Mata Atlântica

Agradecimentos especiaisAna Fernandes Xavier, Sérgio Luis Pompéia,Suzana Ehlin Martins,Clayton Ferreira Lino, Maria Inês Ladeira,Geraldo Barbosa Linhares,Lucia Maria Gonçalves Marins

Ficha Catalográfica

São Paulo (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Coordenadoria de EducaçãoAmbiental.

Serra do Mar: Uma viagem à Mata Atlântica. 2ª Ed. São Paulo: SMA/CEAM, 2001 (SérieEducação Ambiental)

Bibliografia.ISBN 85.86347.07.8

1.Mata Atlântica 2. Ecologia 3. Educação Ambiental 4. Serra do MarI. Título II. Série

CDD 574.56242098161

Ficha Técnica da 1ª ediçãoSérie Educação Ambiental ISSN 0103-2658© Secretaria do Meio Ambiente

Coordenação da PublicaçãoJosilene Ticianelli Vannuzini Ferrer

Pesquisa e redaçãoWanda Teresinha Passos de VasconcellosMaldonadoMaria Beatriz Santos GrelletMaria Julieta de Alcântara Carreira Penteado

Apoio à pesquisaEliana de Cássia Berte (estagiária)Márcia Cristina de Paula Soares (estagiária)Patrícia Bardawil Postiglione Kfouri (estagiária)Renato Horácio Pinto (estagiário)Sérgio Luiz Nogueira Bernardes (estagiário)

Preparação e revisão de textoMaria Julieta de Alcântara Carreira Penteado

Consultoria e revisão técnicaSueli Angelo Furlan

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Serra do Mar: Uma viagem à Mata Atlântica

Governo do Estado de São PauloGeraldo Alckmim Governador

Secretaria de Estado do Meio AmbienteJosé Goldemberg Secretário

Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratégicoe Educação Ambiental

Lucia Bastos Ribeiro de Sena Coordenadora

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Cananéia vista do Mar Pequeno

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Sumário

Introdução - 9

Estação de Embarque nº 1: A Floresta – 13A mata vista de fora e de dentro – 13Moradores da mata – 14Olhando da serra para o mar – 16É tempo de refletir – 20

Estação de Embarque nº 2: O Homem na Floresta – 23Os índios – 23As comunidades tradicionais – 29É tempo de refletir – 34

Estação de Embarque nº 3: O Homem e o Urbano – 39Uma volta a 1500 – 39Um salto para a era industrial – 42Falando um pouco da Baixada Santista... especialmente de Cubatão – 43Pela estrada afora... para o litoral norte – 47Pegando a estrada para o litoral sul – 51É tempo de refletir – 56

Última Estação: Recuperando a Mata Perdida – 61O desmatamento tem uma história – 61A natureza também tem seus métodos – 64A delicada trama da recuperação – 65O papel do Estado na trajetória da conservação – 66Aproximando o foco: a proteção da Mata Atlântica – 68Uma pergunta final – 70

Bibliografia – 74

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“...foi que vi pela primeira vez as

inteira. Porém, lá, não estavas nua,

Terra. Por mais distante, o errante

[...] Do mar se diz `terra à vista´;

para a mão carícia; outros astros

Terra, Terra. Por mais distante, o

te esqueceria.”

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7Trecho da canção Terra, de Caetano Veloso.

tais fotografias em que apareces

e sim coberta de nuvens. Terra,

navegante, quem jamais te esqueceria.

terra, para o pé firmeza; terra,

te são guia.

errante navegante, quem jamais

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Este é um convite para viajarmos juntos. Percorreremosuma região do Brasil de 1.500.000 ha – onde a Mata

Atlântica recobre a Serra do Mar e as planícies costeiras doEstado de São Paulo. Mas, iremos muito mais longe notempo: recuaremos 100, 200, 500 anos e até mais. Voltaremosao presente, retornaremos ao passado. Haverá paradas paraalgum olhar mais atento. Detalhes revelarão processos emostrarão modos de viver, pensar e trabalhar das pessoas;reflexões apontarão caminhos. Muitas perguntas vão surgir;respostas, nem todas.

O trajeto começa na mata, passa pelo homem que viveu evive nela, distancia-se um pouco para ver o que há em tornoe volta. Vamos nos deter em alguns pontos para conheceraspectos das relações entre o homem e a mata. Veremos mo-dos de vida diferentes. Formas de economia altamente des-trutivas, outras mais cooperativas. Conversaremos sobreproblemas. Mostraremos algumas iniciativas do poder pú-blico para conservar o que restou dessa convivência demuitos séculos entre o homem e a Mata Atlântica no litoraldo Estado de São Paulo.

Introdução

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A Mata Atlântica, como é comumente conhecida, não éuma única floresta. Na verdade, é um conjunto de florestasdiferentes, que têm em comum o fato de localizarem-se nolado atlântico do continente. Essa vegetação que cobriu nopassado as encostas das montanhas voltadas para o OceanoAtlântico, de norte a sul do País, avançando para o interiorem muitos pontos, acha-se hoje reduzida a manchas esparsas,cujas porções mais extensas, significativas e conservadasencontram-se no litoral dos Estados do Rio de Janeiro, SãoPaulo e Paraná. Sua principal característica é a de concentrargrande número de espécies da flora e da fauna, fato que fazaumentar a responsabilidade quanto à conservação, poisdestruir trechos da mata, ainda que pequenos, significa per-der muitas espécies que nunca mais serão conhecidas.

A decisão de escrever sobre este conjunto de florestasdeve-se à sua grande importância, atualmente, para o Brasil ede modo particular para o Estado de São Paulo.

Outro motivo importante para falar da Mata Atlântica notrecho paulista da Serra do Mar é o fato de tratar-se de umaregião que, por um lado, veio sofrendo forte impactoambiental, desde o período da colonização, a partir de 1500,até as últimas décadas do século XX, quando conheceu osefeitos da industrialização e da urbanização. Por outro lado,manteve formas tradicionais de economia em comuni-

dades com estreitas ligações com a natureza.O tema será abordado sob vários aspectos – biológicos,

geográficos, históricos, culturais, sociais e econômicos –,que se entrecruzam, articulados de modo a propiciar aoleitor a reflexão acerca da necessidade e da abrangênciadas ações possíveis para conservar a região. Procurandotraduzir em linguagem clara e acessível conceitos dessesvários ramos da ciência, este trabalho pode ser aplicado emprogramas de educação ambiental, cujo objetivo for discu-tir a conservação. Pode ser útil a todos os que se interessampela questão ecológica e também aos educadores em geral.Estes últimos poderão aproveitá-lo, conforme suas necessi-dades, no todo ou em parte, como ponto de partida parauma reflexão mais aprofundada ou estímulo para trabalhospráticos de educação ambiental.

Espera-se que esta publicação seja mais um instrumentoa contribuir com informações e sensibilização para asquestões de que trata, abrindo um espaço de discussão eum tempo de amadurecimento, que resultem na participa-ção do leitor em ações concretas de conservação dosrecursos naturais.

Boa leitura. E vamos embarcar!

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Mata Atlântica vista de dentro, revelando sua riqueza e exuberância.

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Em São Paulo, a Serra do Mar e a de Paranapiacaba marcam um limite

geográfico entre litoral e interior. Estasduas serras são formadas por rochasdatadas de milhões de anos e muitoresistentes ao intemperismo1. Sobreessas rochas, existe uma camada desolo geralmente pouco profunda,formada por partículas de rocha, quevão se desprendendo com o passar dotempo sob a ação das chuvas e dosventos, entre outros fatores, restos deanimais e vegetais em vários graus dedecomposição, e material transportadopor ação da força da gravidade. Nestascondições de relevo e solos variados, aMata Atlântica se instalou.

A floresta é resultado da ação doclima. Os ventos quentes e úmidos vin-dos constantemente do oceano, ao sedefrontarem com o relevo serrano,elevam-se e resfriam-se, formando nuvens baixas, quepodem precipitar-se sob a forma de chuva ou neblina.

As chuvas frequentes, a neblina e o tipo de solo propi-ciam o acúmulo de água no subsolo, o que dá origem a

inúmeras nascentes, cujas águas irão formarrios e cachoeiras de porte considerável.Entre os rios mais importantes dessa região,não poderiam deixar de ser citados oRibeira do Iguape, o Juquiá, o Cubatão, oItapanhaú, o Juqueriquerê e o Fazenda,entre outros.

A mata vista de fora e de dentro

Olhada de fora e de uma certa distân-cia, como numa vista aérea, a primeiraimagem que se tem da Mata Atlântica é deuma grande cobertura, como se fosse umenorme manto, formado pelas copasverdes de árvores com mais de 20 metrosde altura. É o que se costuma chamar dedossel. Nas encostas da serra, geralmenteos troncos são finos como os das palmeirase embaúbas, com as copas se concentrandono alto. Mas há também árvores com

troncos largos e majestosos como a figueira, a peroba, acanela, o pau d’óleo e o pau d’alho, entre outras.

Ao entrar na floresta, a primeira impressão que se tem éa de que todos os espaços estão preenchidos. Há uma

ESTAÇÃO DE EMBARQUE Nº 1: A FLORESTA

Muriqui, o maior primata brasileiro, vivenos fragmentos florestais da Mata Atlântica.

O muriqui ou mono-carvoeiro é umaespécie ameaçada de extinção (Estação

Ecológica Juréia-Itatins).

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profusão de plantas em todos osníveis. Olhando de cima parabaixo, encontra-se logo depoisdo dossel uma camada devegetação formada por árvoresmenores, com troncos finos elongos, cujos ramos e folhas, aexemplo das grandes árvores,concentram-se no alto dasplantas. É o caso do palmiteiro,da samambaia-açu, de plantasjovens que atingirão mais tarde odossel e, finalmente, de plantasque germinam na sombra.

Uma das características dasflorestas tropicais úm idas2 , particularmente da MataAtlântica, é a variedade de plantas. Chamam a atenção, demodo especial, aquelas que ocupam os troncos das árvores:epífitas, lianas, musgos e liquens. As duas primeiras sãomais visíveis na Mata Atlântica da Região Sudeste do Brasil.

As epífitas instalam-se sobre o tronco eos ramos de certas árvores, conseguindo,assim, captar a luz do sol, essencial naprodução do seu próprio alimento. Paraobter a água e os sais minerais de que ne-cessitam, algumas emitem raízes que che-gam até o solo; outras valem-se das folhasem forma de calha, onde a água é armaze-nada. As plantas mais representativas daMata Atlântica e exclusivas do mundo tro-pical são as bromélias e orquídeas, de bele-za incomparável na forma e no colorido.

Lianas são trepadeiras que sobem pelas

árvores em busca da luz dosol, prendendo-se nos troncospor meio de garras, como é ocaso das jibóias, dos imbés eda costela-de-adão.

Os musgos recobremtroncos e pedras como umtecido verde, delicado emacio, cuja textura lembra oveludo.

Os liquens são formaçõesvegetais presentes emambientes úmidos, onde a

poluição é baixa ou inexistente. Por isso funcionam comoum sinal de boa qualidade ambiental. Há um tipo, cujos fiosmuito finos, parecendo uma cabeleira leve e transparente,dependuram-se nos galhos das outras plantas: é a úsnia oubarba-de-velho, muito semelhante a um tipo de bromélia.

Moradores da mata

Toda essa riqueza de formas de vege-tação cria condições para uma fauna dedossel, de tronco e de chão muito rica,espalhada pelos diferentes ambientes.

Os mamíferos de chão desse tipo defloresta têm porte pequeno e alongado,adaptados a viver e se deslocar entre ostroncos das árvores. Um alce – um ani-mal de formações vegetais abertas –ficaria com seus chifres presos noemaranhado de plantas, na primeiratentativa de passeio. E a girafa, comofaria com seu pescoço tão longo?

Líquens pendentes de galhos.

O lobo-guará é um animal solitário e noturno.O nome guará, vermelho em tupi-guaraní, é

devido a seu pelo que tem esta côr.

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Ao contrário das plantas, que se mostram emtoda a exuberância ao visitante, é difícil ver osanimais. Além de se esconderem ao menorindício da presença humana, muitos só saem ànoite, como os gatos do mato, os morcegos, osgambás e as cuícas, e outros são mais visíveisem determinadas estações do ano. Assim,dependendo do horário que se entra na floresta,o que se ouve é um ou outro ruído, o pio de umpássaro; o que se sente, os insetos; e o que sevê, alguns animais de solo ou de tronco deárvores. O resto são apenas vestígios dosdemais habitantes: pegadas, penas, pelos, ossos,fezes, tocas. E, muitas vezes, apenas estes vestí-gios norteiam o pesquisador no seu trabalho. A observaçãodireta dos animais é mais difícil.

Eis aí um dos motivos pelos quais existem mais informa-ções disponíveis sobre a flora do que sobre a fauna. Noentanto, mais de um milhão de espécies de insetos ecentenas de aves e mamíferos vivem nas matas atlânticas,estabelecendo com a floresta relações vitais para a suaprópria manutenção e determinantes nos processosecológicos. Há realmente várias trocas. A floresta forneceabrigo e alimento aos animais, e eles retribuem, porexemplo, carregando para longe, na pelagem ou no aparelhodigestivo, as sementes e os grãos de pólen das plantas.

. A vida neste verdadeiro edifícioNos andares superiores, nas copas das árvores e dos

arbustos, vivem o macaco-muriqui – também conhecidocomo mono-carvoeiro –, o bugio, o tucano-de-bico-verde eo papagaio-de-cara-roxa, entre muitos outros.

Mais embaixo, habitam vários pássaros.

Outros animais moram predominantemente no chãocomo a paca, a jaguatirica e o quati; ou mesmo em tocas,como os tatus.

Essa distribuição por andares não é estática. Há trânsitono sentido horizontal, vertical, na terra e no ar. Enquanto asaves que sobrevoam o imenso dossel verde entram na mataem busca de alimento, outros animais o fazem percorrendoquilômetros por terra.

O cardápio dessa fauna é variadíssimo. O caxinguelê,também conhecido como esquilo brasileiro, come brotose sementes oleoginosas; o macuco alimenta-se de insetos,vermes e frutos caídos no manto de folhagem que cobre osolo; já a cutia sustenta-se de raízes e talos suculentos,além de frutos.

Os felinos – a jaguatirica, o gato-do-mato, entre outros– são carnívoros, que devoram pequenas aves emamíferos. Um dos mais belos gaviões brasileiros – ogavião-pega-macaco – alimenta-se de macacos, de outrosmamíferos e de aves.

Trecho do Parque Estadual cortado pela rodovia dosImigrantes na região do município de Cubatão.

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Olhando daserra para o mar

Depois desse contato com ointerior da mata, suas plantas eseus animais, caminharemosnum sentido diferente – doplanalto para o mar. A ca-minhada começa com a desci-da da encosta, para chegardepois ao ambiente derestinga. Daí pode-se atingir omar pelas praias e peloscostões rochosos – doisambientes contra os quais as ondas quebram. Outra opção éacompanhar um rio qualquer até o ponto em que suas águasdoces encontram-se com a água salgada. É bem comum, nolitoral brasileiro, que esse ponto seja um local de sololodoso, cheiro forte e vegetação típica, cuja riqueza eimportância ecológica são poucoconhecidas e valorizadas. Trata-se domangue.

É importante que nessa descida daserra sejam observadas as mudanças quevão ocorrendo. A umidade muda à me-dida que se desce. O solo altera-se conti-nuamente, sofrendo a influência de váriosfatores: da inclinação dos terrenos, dasrochas, da água, da salinidade do mar.Isso causa modificações tanto em cadaplanta, como no conjunto que compõe avegetação, transformando sensivelmente asua fisionomia. Na planície, a mata vaiperdendo densidade e altura. Já não se vê

aquele dossel contínuo. O solo,cada vez mais arenoso, recobre-se de plantas baixas, e maisresistentes à ação do sol e àsalinidade do mar, que as atingenos borrifos ou na subida damaré.

Toda essa região de planíciese modificou muito ao longo dotempo. Muitas planícies atuaisestiveram submersas há dezenas

de milhares de anos. Com o recuo dos oceanos, nasglaciações, surgiu uma faixa terrestre com um solo deelevação muito suave, formando cordões ou fileiras,semelhante ao mar quando se encrespa levemente sob a açãodo vento. São os chamados cordões de restinga.

A vegetação desse tipo de solovaria desde a mata pluvial de planície,à de restinga, passando por pequenasárvores e arbustos, até as plantas deporte baixo, como a orelha-de-onça eplantas rasteiras de cauleestolonífero3, como a açariçoba e ofeijão-de-praia.

O contraste com essa paisagem deondulações suaves é dado pelas dunasque ocorrem em alguns setores dolitoral paulista. Nestas formaçõesarenosas de altura variada, observa-seescassa vegetação estolonífera.

. Um berçário quase flutuantePercorrendo com o olhar os

Vegetação rasteira em terrenoarenoso à beira d’água.

Manguezal com raízes-escora, no RioItapanhaú na região de Bertioga.

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ambientes alagadiços próximos aos estuários, vemos omangue, que não se parece com um berçário, é claro, mascuja função mais importante é oferecer boas condições paraa reprodução das espécies e dar proteção a espécimes jovensque nele se abrigam. E por quê?

O primeiro motivo é aconstituição do seu solo,rico em nutrientes4, devidoà decomposição dedetritos de rochas, desedimentos de solo e dematéria orgânica trazidapelos rios, além de umíndice elevado desalinidade, em virtude doencontro com a água domar. Não nos esqueçamosde que o mangue é o pontode encontro de duas águas– a doce e a marinha – ede sedimentos5 terrestres.

Outro motivo é umaquestão de localização. Osmanguezais desenvolvem-se em locais abrigados dacosta e banhados pelasmarés, e em desemboca-duras de rios. O relevo,em geral suave, permiteacesso fácil a muitasespécies marinhas. Peixes, crustáceos, aves e, também,fungos e bactérias desenvolvem-se ali, alimentam-se eservem de alimento, estabelecendo assim importantescadeias alimentares.

Nesse ambiente, tão propício aos animais, as únicas plan-tas que crescem são aquelas que se adaptam ao solo lodoso,

pouco arejado, movediço, constantemente inundado e comalto teor de salinidade. Um exemplo dessa adaptação é aestrutura das raízes aéreas: raízes-escora, que ajudam aplanta a fixar-se, e pneumatóforos6, através dos quais aplanta capta o oxigênio de que necessita.

Nos manguezais do litoralde São Paulo, predominambosques de mangue vermelho,branco e preto (siriúba),associados a uma granderiqueza de outros tipos deplantas, como as algas, osliquens, as orquídeas, asbromélias e, em algunspontos, um tipo de vegetaçãorasteira, onde se destaca umagramínea chamada spartina.

. Como as coisasacontecem?

Neste rápido passeio pelaMata Atlântica, pudemos verum pouco como ela é.Percebemos ligações entre orelevo, o solo, a vegetação e afauna. Notamos uma inter-relação vital em tudo quecompõe esse ambiente. Masfaltou saber como issoacontece, o que rege todo esse

movimento, enfim, os processos naturais.Há processos que garantem a sobrevivência; outros que

explicam o comportamento de reprodução dos seres vivos;aqueles que envolvem transformações no ambiente; emuitos outros, que não poderão ser abordados nestetrabalho.

Detalhe de uma inflorescência de Bromélia. P. E. Serra do Mar.

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. Adaptações e resistênciaÉ assim que podem ser cha-

madas a constituição e a estru-tura das plantas que sobrevivemem ambientes pouco propícios,nos quais há desafios a vencer.Por exemplo, as grandes árvorescomo as figueiras ou sapopemastêm raízes avantajadas e emforma de lâmina, para protegê-las da ação dos ventos, dasfortes declividades e do rastejo7

do solo, além de aumentar aárea de absorção ou captura dealimentos e garantir-lhes ooxigênio, escasso no solo damata devido à umidade etemperatura elevadas, e àpresença de grande quantidadede raízes, microrganismos eanimais.

O gravatá – bromélia de chão– resolve o problema da poucaágua disponível, armazenando-anas suas folhas grandes esuculentas.

No cardo-da-praia, as folhastransformaram-se em espinhose o caule armazena a água.

A vegetação de manguefirma-se no lodo com a ajuda deinúmeras raízes aéreas do tipo escora, que lhe dão aqueleaspecto emaranhado na base do tronco. E as plantasrasteiras, vistas na areia, desenvolvem-se nesse tipo de solograças a caules subterrâneos, conhecidos como estolões,fixados por pequenos tufos de raízes.

. Em busca de um lugar ao solA chuva forte, o vento ou

mesmo a ação do homem podemderrubar as árvores da mata,abrindo uma clareira. Quando issoacontece, as plantas de camadasmais internas saem da penumbra epassam a receber diretamente a luzdo sol. As sementes de algumasplantas que estavam adormecidasbrotam e, aos poucos, a vegetaçãose recompõe, preenchendonovamente o espaço vazio. Está seformando a mata secundária,através de um processo comum naMata Atlântica – o processo desucessão biológica, no qual asespécies vegetais vão sendosubstituídas gradualmente, com opassar do tempo, umascolaborando com as outras.

. Um sistema curioso desemeadura

A paisagem da floresta émarcada pela presença de plantasda mesma espécie, em pontosdistantes entre si. A ação do ventoatua na semeadura de muitasplantas das matas atlânticas, mas é

mínima dentro da mata, sendo mais freqüente quando se abreuma clareira. Então, quem leva as sementes para longe? Osresponsáveis por isso são principalmente os animais. Além decarregá-las na pelagem, deixando-as cair por onde passam, o

Na Mata Atlântica muitos animais ao se alimentaremde plantas carregam no seu aparelho digestivo as sementes

que serão defecadas em lugares distantes.

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seu aparelho digestivo pode funcionar como meio detransporte. É que ao comer o fruto, eles engolem também assementes. Passado algum tempo e longe da planta matriz,essas sementes vão sendo devolvidas à terra, pelas fezes oupelo regurgitamento. É um processo de dispersão dassementes. Deixadas em diferentes pontos da mata, muitasdelas germinam e crescem.

. Triângulo amoroso entre duas flores e um animalPor causa da sua capacidade de locomover-se, os animais

representam um papel importante na reprodução de certasflores: eles levam o pólen, gameta masculino das flores, parao óvulo de uma flor “feminina”, que, depois da sua visita,fertiliza-se. Este é o processo de polinização, que aconteceaparentemente por acaso. O polinizador, que pode ser umaabelha, um beija-flor, ou um determinado tipo de morcego,tem intenção apenas de alimentar-se; o que vai buscar nasflores é o néctar de que necessita. Mas, ao fazer isso, seucorpo fica coberto de pólen que ele acidentalmente depositade flor em flor.

. Relações, contatos e transferênciasOs seres mantêm-se vivos porque obtêm energia ao se

alimentarem uns dos outros. Por exemplo, as plantas sãocomidas pelos insetos, que são comidos por sapos, que sãocomidos por cobras. Ou, então, as plantas são comidas porroedores, que são comidos por aves.

A transferência da energia contida nos alimentos, pormeio de uma série de organismos que repetidamente sealimentam e servem de alimento, chama-se cadeia alimentar.

As plantas que formam o primeiro elo da cadeia alimen-tar são chamadas de produtoras, porque produzem seu pró-prio alimento a partir da energia solar, de nutrientes, saisminerais e água: é a fotossíntese.

Os animais são conhecidos como consumidores e temos,ainda, os decompositores – bactérias, fungos e vários ou-tros invertebrados, que decompõem restos de plantas eanimais –, os quais se misturam depois com o solo, a água eo ar, e voltam para os animais e para as plantas, iniciando-se, assim, um novo ciclo.

O consumidor recebe diferentes denominações confor-

Esquema da cadeia alimentar Rede alimentar

onça pintadajaguatirica

tucano

inseto

pássaroquati

rato

sapo

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me a posição na cadeiaalimentar. Quando sealimenta de plantas éherbívoro ouconsumidor primário;quando se alimenta deherbívoros, éconsumidorsecundário, como oscarnívoros; quando sealimenta dessescarnívoros é terciário;quando se alimenta deum terciário, équaternário e assimpor diante.

Os exemplos dadosaté agora são simples,lineares, mas na natureza as inter-relações entre produtores,consumidores e decompositores são mais complexas,configurando teias alimentares, em que um animal ou plantapodem ser consumidos por vários outros e com isso ocuparposições diferentes nas cadeias em que está presente.

É tempo de refletir

Chegando ao fim desta primeira etapa da nossa viagem,é importante pensar um pouco a respeito do modo comocompreendemos os fenômenos naturais. É inevitável aohomem uma interpretação desses fenômenos, carregadade valores vinculados à sua história e à sua cultura.E é essa interpretação que torna relativas e, às vezes, até

contraditórias, suasatitudes, decisões eopiniões.

No passado, osestudos sobre os pro-cessos da naturezaressaltavam apenas acompetição, a lutapela sobrevivência e a leido mais forte. A vida dosanimais e das plantas erainterpretada como umaverdadeira guerra de

extermínio. Era a idéia da seleção natural pela competição.Hoje, são reconhecidos, também, muitos exemplos decooperação: o beija-flor extrai o néctar e, em contrapartida,traz o pólen; o animal come o fruto, porém guarda intacta asemente; por uma clareira na mata entram a luz e a água quepermitem à semente desenvolver-se. As adaptações podem servista como formas de cooperação entre elementos opostos,que encontram um modo sutil de conviver, sem o qual pelomenos um deles seria destruído.

Reconhecer e preservar essas relações de cooperação podeindicar um amadurecimento da sociedade, no sentido de umaatitude menos predatória e de uma consciência mais aguda danecessidade de proteger e recuperar o ambiente.

Continuemos a nossa viagem.

O quati vive mais nas árvores,em pequenos bandos e possuihábitos diurnos.

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Índios Guarani, habitantes da Mata Atlântica no litoral paulista.

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Mais do que nunca, interessam-nos todas as relações decooperação ou de agressão, só que agora entre os ele-

mentos da natureza e as diferentes culturas humanas, umavez que os homens também se relacionam com a mata.

Os índios

A Mata Atlântica não era um espaço onde cresciam ape-nas plantas e animais. Espalhadas pelo imenso territórioencontrado pelos portugueses em 1500, viviam nações indí-genas, com línguas e costumes próprios.

No espaço que é hoje o litoral do Estado de São Paulo,concentravam-se os grupos de língua tupi-guarani, cuja his-tória, durante a colonização, assemelha-se a de outros povosindígenas existentes em áreas descobertas pelosportugueses.

Estes povos nativos foram considerados não somentepropriedade, mas também um bom instrumento para astarefas necessárias à realização do projeto de colonização.Para garantir o domínio efetivo sobre o novo território, osportugueses necessitavam do índio como mão-de-obra paraos diversos serviços braçais e também como guias, que lhesmostrassem os recursos naturais existentes e lhes abrissemcaminho num meio natural acidentado e coberto por densafloresta tropical.

ESTAÇÃO DE EMBARQUE Nº 2: O HOMEM NA FLORESTA

Assalto dos Tupinambá contra os tupiniquins e portugueses,segundo Hans Staden, viajante alemão do séc. XVI.

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Ao encontrar resistência por parte dos indígenas à suadominação, os portugueses deram início a um dos capítulosde violência mais tristes da nossa história. No decorrer dosquase quatro séculos em que o Brasil permaneceu colônia dePortugal, os povos indígenas foram perseguidos,escravizados e, muitas vezes, dizimados numa luta desigual.O trabalho imposto a eles não tinha qualquer relação com asua cultura. Suas mulheres eram violadas. E a catequese aque os missionários jesuítas dedicaram-se foi mais uminstrumento de dominação sobre os povos nativos.

Mas houve resistência. As relações entre indígenas eeuropeus foram marcadas por violentos confrontos. Gruposinimigos entre si compunham alianças com os portugueses,acirrando ainda mais os conflitos; vários destes foram regis-trados por viajantes naturalistas e estudados porhistoriadores.

Embora dominados pelos brancos, os povos indígenasvêm lutando até hoje para sobreviver e resistir àdescaracterização cultural. As informações que nos chegam,veiculadas pela televisão ou por revistas, contam-nos muitopouco sobre o seu modo de vida e seus costumes; por isso,vale a pena olhar mais atentamente para um grupo próximode nós – o de língua guarani, da família tupi-guarani, dotronco tupi.

. O povo Guarani e seu territórioEntre o litoral e o planalto do Estado de São Paulo, exis-

tem aldeias indígenas, habitadas pelos Mbya e Ñandeva,grupos cuja língua é dialeto do guarani.

O território, para o guarani, não se limita à área dasaldeias onde ele habita; é toda parte pela qual o povo tran-sita hoje, ou transitou no passado. Engloba cidades e países,bastando para isso que suas tradições revelem a presença deseus antepassados na região. O território não é exclusivo deseu povo, podendo haver convivência pacífica com osbrancos.

Quadro das famílias indígenas

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O local de moradia, porém, deve estar protegido dainterferência de estranhos, sendo necessário haver mata, águae terra para plantar. Essas são as condições que garantem ospadrões tradicionais de vida, ou seja, o exercício da caça, dacoleta, da pesca e da agricultura. Mas nem sempre istoaconteceu.

. Modo de vidaTodas as atividades deste povo

estão ligadas aos aspectos mágicos erituais contidos na sua tradiçãocultural.

As coisas acontecem como sempreaconteceram, ou melhor, como osmais velhos contam que aconteceram.É esse relato oral carregado de lendasque orienta as gerações mais novas,garantindo a perpetuação dos usos ecostumes.

Os aldeamentos de todo oterritório guarani estão ligados porestreitos laços de parentesco e porintercâmbio econômico. As visitasentre os habitantes das aldeias dolitoral e do planalto são constantes efeitas a pé. As trilhas percorridas naSerra do Mar são as mesmas utilizadas pelos seusantepassados há séculos.

Cada núcleo é formado por poucas famílias compostaspor pais, filhos, genros e netos, que obedecem ao líderpolítico-espiritual, que transmite o que aprendeu dos an-tepassados e possui o dom de comunicar-se com os deuses.A população numa aldeia é pouco numerosa e bastanteinstável, devido aos deslocamentos constantes, em funçãode casamentos ou cisões entre as famílias.

Uma aldeia pode ainda servir como ponto de passagem

para outras mais distantes.Hoje, a distribuição das habitações no território não

obedece mais à configuração tradicional. As casas dispersasligam-se umas às outras, por caminhos abertos e a distânciaentre elas relaciona-se com o grau de parentesco de seus

moradores. Diante da casa do líderexiste uma área para a realização dosrituais coletivos.

. O trabalho com a terraOs guarani produzem para o próprio

sustento, por meio da agricultura, dacaça, da pesca e da coleta; e para ocomércio, por meio do artesanato.

Os guarani são semi-nômades e,sempre fixaram-se em função da ativi-dade agrícola. O tipo de agriculturatradicionalmente praticado pelosguarani é o sistema de roças de coivara.Esta técnica, que consiste na queima davegetação sem limpeza do terreno, nautilização do que restou da queimadacomo adubo natural e na plantação demais de uma cultura na mesma área,espalhou-se pelo litoral e interior, sendoutilizada atualmente por inúmeras

comunidades tradicionais.Os guarani desenvolveram, no decorrer do tempo,

técnicas para o cultivo de muitas espécies, algumas das quaisservem de alimento, hoje, para grande parte da população,como o milho, a mandioca, o feijão, o amendoim, o mamãoe a erva-mate, entre outras.

Dedicaram-se também à melhoria de algumas plantasnativas, através de experimentos simples. Assim, consegui-ram aumentar a resistência biológica do milho, cuja produ-ção foi ampliada.

Índias de aldeia em Silveiras.

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Conheciam muitos tiposdiferentes de mandioca esabiam tratar a mandiocabrava para consumo humano,extraindo-lhe a substânciatóxica.

. O cultivo do milho, motivode celebração

Dissemos que aspectossagrados e rituais envolvemtodas as atividades da vida dopovo guarani. O ciclo decultivo do milho é umexemplo: suas fases sãomarcadas por vários rituaisque celebram acontecimentossociais e religiosos. Acolheita anual abre-se comuma grande festa, durante aqual as crianças das famíliasde várias aldeias recebem seus nomes.

Quando uma família se muda, deve começar a caminha-da antes da época do plantio, para que já esteja instalada naoutra aldeia, no momento de fazer a roça.

. Aproveitando o que a natureza dáAs tradições culturais guarani também orientam a pesca,

a caça e a coleta. Esta última, que consiste na extração demel e plantas da mata, além de prover o grupo comalimentos, fornece taquara para as flechas, fibras para ascordas e cestos, tintas para a pintura do corpo, cera e resinautilizadas como cola, e remédios. Através deste trabalho,que é masculino, os índios obtêm matéria-prima para suaprincipal atividade comercial: o artesanato.

O modo de caçar e pescar dos guarani é muito diferente

Uma partida de pesca, reproduzida do livro DuasViagens ao Brasil, de Hans Staden.

M i t o s d e o r i g e m

Um mito tupinambá,que é o povo que habitou o li-toral norte do Estado de SãoPaulo, conta que certa estre-la vermelha que aparece per-to da lua, a que davam o nomede lanovare, ia ao seu encal-ço para devorá-la. E quandoa lua, no período das chuvas,depois de muitos dias semaparecer, tornava a surgir,vermelha, acreditavam que es-tava iminente o momento deser alcançada pelo lanovare.Acreditavam que seria o fimdo mundo. Os homens grita-vam de alegria, saudando oavô mítico que iriam encon-trar, mas as mulheres, commedo da morte, gritavam, cho-rando e se lamentando.

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daquele do branco. No lugar das armas de fogo, estão arcose flechas; instrumentos rústicos entalhados com as própriasmãos, além do timbó, substituem anzóis e redes sofisticadas.(O timbó é uma substância extraída de algumas plantas, que,jogada na água, entorpece os peixes. Nesse estado, eles vêmà superfície, boiam e isso facilita a captura.)

. As mãos: o instrumento de trabalhoO trabalho artesanal sempre fez parte da cultura guarani.

Na aldeia confeccionam-se utensílios e instrumentos de usocotidiano: cestos, esteiras, potes, armas e objetos rituais.

A proximidade entre as aldeias indígenas e os centrosurbanos possibilitou a comercialização desses objetos,que se tornaram uma fonte de recursos para a comprade alimentos na entressafra e de outros produtos de quea aldeia não dispõe.

Toda família participa desta atividade, que hoje, misturaelementos do meio natural e industrializados. A venda diretaé feita pelo produtor em praças públicas, feiras e estradas,principalmente por mulheres e crianças, e a indireta, naslojas de artesanato.

. O saber GuaraniToda a sabedoria do povo guarani está contida nos ritos e

implícita na sua tradição. Para manter o modo de vida tradi-cional, os indígenas contam com o conhecimento preciosodas relações entre os seres vivos e o meio ambiente local –condição essencial para sua sobrevivência física e cultural.

Para caçar é preciso conhecer os hábitos dos animais;para a coleta, reconhecer a época em que os frutosamadurecem e o poder de cura das plantas; para a pesca e aagricultura, conhecer astronomia e sua relação com aschuvas e marés. A previsão de chuvas, por exemplo, é feitaa partir do surgimento de determinadas estrelas.

A dimensão artística faz-se presente nos utensílios parauso diário, nos objetos para uso ritual, nos cânticos e nas

Índios guarani paramentados com artesanato indígena: cocares,colares para diferentes idades.

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danças. As vestimentas, enfeites e pinturas no corpo,especiais para cada cerimônia, também revelam asensibilidade artística, presente na beleza e harmonia dascombinações de formas e cores.

Cada grupo tem suas características peculiares deexpressão e isso pode ser observado ao compararmos otrançado dos cestos, o ritmo dos cânticos e os passos dasdanças.

À direita, Staden orando em agradecimento pela realização de um milagre,junto a uma cruz, erguida na aldeia de Ubatuba. À esquerda, mulheres

trabalhando com seus filhos enfaixados às costas.

. A resistência indígenaA existência física e cultural de aldeias indígenas na

Serra do Mar e no litoral do Estado de São Paulo é prova daresistência deste povo à dominação a que tem sidosubmetido ao longo de sua história. A pressão sobre osguarani não se resumiu ao período colonial, em que osindígenas foram massacrados pelos colonizadores. Aindahoje, eles enfrentam inúmeros obstáculos à manutenção doseu modo de vida, e um deles se relaciona com a questão doacesso à terra. Os guarani agora lutam pela reconquista deum território que, no passado, foi do seu povo, não maiscom arcos e flechas, mas através das leis que, aodemarcarem as reservas, reconhecem o seu direito aoterritório coletivo que lhes permite viver com dignidade.

Os guarani das diversas aldeias têm se organizado atravésda Ação Guarani Indígena-Aguai que, além de atuar nasolução dos problemas decorrentes de conflitos fundiários,incentiva a organização dos tembiguai – associaçõesinternas em cada aldeia, por meio das quais os jovensassessoram os caciques em projetos comunitários, como é ocaso da criação de abelhas e peixes na aldeia de Ubatuba.Esta é uma iniciativa e há outras no sentido da permanênciadessa cultura minoritária.

Além da questão ética, do direito de manifestação eexpressão das minorias, que outro motivo justificaria amanutenção do modo de vida guarani? No momento emque a sociedade volta as suas preocupações para a buscado equilíbrio entre desenvolvimento e aproveitamento dosrecursos, é importante a existência de uma cultura que lidacom os recursos naturais, de um modo bastante alternativoao da sociedade abrangente, e que estendeu sua influênciaa outros grupos com os quais manteve contato nesseespaço da Mata Atlântica, a saber: no litoral, os caiçaras;nas margens dos rios, os ribeirinhos; no interior, oscaboclos. Conhecidos também como comunidadestradicionais, esses grupos expressam no seu modo de vida

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muitos aspectos da cultura indígena que vale a penaresgatar.

As comunidades tradicionais

O índio é a influência preponderante na formação dessascomunidades, depois do europeu, principalmente oportuguês, que foi fator dominante, sem esquecer do negro,que completa o quadro dessa pluralidade cultural.

Da miscigenação originou-se uma população comprofundas marcas da cultura indígena, que vive hoje emcontato muito próximo com a Mata Atlântica. Essas pe-quenas comunidades mantêm diferentes estágios de contatocom os centros urbanos, em maior ou menor grau deisolamento, em pequenos núcleos esparsos, seja nas ilhas, nabeira do mar ou dos rios, ou nas encostas da Serra. Sãochamadas de tradicionais porque, à semelhança dos índios, ohábito datransmissão oral doscostumes econhecimentos émuito forte. Suacultura baseia-se natradição.

Esses gruposcaracterizam-se porum modo de vidasemi-fechado emgraus variados,geralmente àmargem doprocesso dedesenvolvimento.Permanecendo emcontato direto com anatureza, extraem

dela os meios parasua sobrevivência.Grande parte dosinstrumentos detrabalho, dos uten-sílios domésticos edos objetos de ador-no é confeccionadapela própria comu-nidade. O material éretirado diretamenteda natureza: fibras,madeiras, folhas eargila transformam-se nas mãos do arte-são em gamelas, cuias, mobílias, redes, remos e canoas.

Da necessidade de sobreviver apenas dos recursosdisponíveis na mata e nomar, e do contato diretocom suas plantas eanimais, esses gruposforam acumulando umconhecimento empírico8

e profundo dos ecossis-temas da região. Suasatividades foram desen-volvidas de forma a con-ciliar as necessidades desobrevivência própriacom a dos recursosnaturais dos quais elasdependem.

E é essa sabedoriaque nos interessaconhecer agora, registrare aplicar.

Covo, apetrecho de pesca fabricado artesanalmente, utilizandomaterial vegetal coletado na floresta ou manguezal.

A R T E S Ã O X A R T E S A N A T OA R T E S Ã O X A R T E S A N A T O

Artesão é aquele que detém o seuconhecimento com tal maestria, que o seutrabalho se destaca pela criatividade, uti-lidade e beleza. O artesão domina a téc-nica e as qualidades do material e issolhe confere o reconhecimento de toda acomunidade. Sua fama muitas vezes ul-trapassa os limites do seu núcleo, chegan-do a lugares muito distantes.

Artesanato significa trabalho fei-to com as mãos, para o qual é necessárioo conhecimento das técnicas e dos mate-riais adequados.

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. Como se desenvolve a economia tradicionalDependendo do grau de isolamento em que as

comunidades tradicionais se encontram, sua economiapode diferir total ou parcialmente daquela do sistemade mercado, como o conhecemos nas cidades. Porém,há pontos comuns entre os diversos grupos, o que nospermite falar de uma economia tradicional.

O aproveitamento dos recursos naturais dá-sediretamente por meio da coleta manual ou com oauxílio de instrumentos simples, pela caça e a pesca,sem passar pelas etapas de transformação próprias doprocesso industrial. É uma atividade de baixo impactoao meio ambiente, devido principalmente à pequenaquantidade exigida para o consumo dessas populações.

A relação com esses recursos exige do indivíduoconhecer muito bem as estações do ano, os ciclos eoutras condições da natureza, como a melhor épocae o melhor terreno para a semeadura, colheita, caça,pesca e coleta.

A produção visa suprir basicamente as necessidadesdo grupo, não havendo a preocupação de estocar paracomercialização futura. O estoque do que é necessárioà sobrevivência encontra-se na natureza, resultandodaí o empenho em preservá-la. Grande parte daprodução dentro dessas comunidades é realizadade forma artesanal.

O método e os instrumentos utilizados no trabalhosão muito semelhantes aos usados pelas geraçõespassadas, embora já se tenha introduzido elementospróprios da produção industrial, como a motosserra, arede de náilon e os motores das embarcações, entreoutros. Isto de certo modo vem alterando a economiatradicional.

Casa da Farinha típica do ParqueEstadual da Serra do Mar - Núcleo

Picinguaba.

Preparação do soloPlantio

ColheitaPlantio e colheita na mesma época

Calendário agrícola de umacomunidade do Rio Verde. EstaçãoEcológica de Juréia – Itatins

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. Uma relação com a terra: plantarNas comunidades tradicionais

planta-se o que faz parte da alimentaçãodiária: arroz, mandioca, milho, feijão,batata, banana e outras frutas.

As frutas, com exceção da banana,são plantadas nos quintais das casas; asoutras culturas são realizadas na roça,ou seja, em locais próprios para cadatipo de cultivo.

A agricultura praticada é a de roçasitinerantes. Trata-se de um processocaracterizado pelo descanso da terra,quando o solo dá mostras de esgota-mento. O sinal de recuperação de umaárea que foi abandonada após o cultivoé expresso pelo surgimento de um novo tipo de vegetaçãono local: as capoeiras.

Também é utilizado um sistema no qual mais de umacultura divide o mesmo espaço de roça: o consorciamento.Como exemplo, temos o milho com o arroz, o cará indaiáou o cará branco com a mandioca, o milho com a mandio-ca e a cana com a mandioca. A cana é plantada para aobtenção do açúcar mascavo, a rapadura e a garapa.

As plantas nativas são outro sinal para os agricultores;mostram qual é a lavoura adequada ao local. Assim, ondecrescem a caxeta e a cana-do-brejo, pode-se plantar arroz,pois aquelas plantas indicam áreas inundáveis, propíciasao cultivo deste cereal.

Obedecer o ciclo agrícola anual é muito importantepara essas comunidades, pois cada colheita fornece se-mentes para o plantio do ano seguinte. As técnicas depreparo do solo são marcas deixadas pela influência dacultura indígena. Vinte dias antes da semeadura, as plantase os troncos finos são roçados; o machado vem depois,cortando as madeiras grossas. Na véspera do plantio,

queima-se aquilo que foi cortado, quevai funcionar como adubo ali mesmo.

As pragas são geralmente controla-das de forma natural. Utiliza-se maisde um tipo de semente para cadacultura, pois se uma delas foratingida por alguma praga, outraspoderão estar imunes, garantindo aprodução esperada.

O produto da lavoura destina-se, emgeral, à subsistência; comercializa-sequando a safra rende além das expecta-tivas de consumo. Outras vezes, osprodutos agrícolas entram num sistemade trocas dentro da comunidade oufora dela. Um dos produtos plantados

com o objetivo de comércio é a banana.Em muitas comunidades o sistema de trabalho agrícola é

coletivo ou cooperativo nas etapas de preparo da terra,plantio e colheita. O proprietário da roça convida pessoas dolocal, e até de fora, para o mutirão e oferece a refeição emtroca do trabalho. O final da colheita, em alguns casos, écomemorado com uma grande festa, com bebida, comida,música e danças características.

Esses pequenos agricultores têm encontrado muitosobstáculos para continuar sobrevivendo. A valorização dasterras com vistas a empreendimentos imobiliários e a pres-são exercida pelos seus responsáveis levam os moradores avender suas pequenas propriedades. Aqueles que resistemenfrentam, em alguns casos, a proibição de usar a terra parao cultivo, porque, atualmente, a maioria das terras cobertaspela Mata Atlântica está colocada sob a proteção da legisla-ção ambiental, que também coíbe suas atividades. Emmuitos casos, como no dos parques, estações ecológicas ereservas biológicas, a legislação não permite nenhumaatividade de agricultura ou extrativismo. Essas dificuldades

C O M O A M A N D I O C AB R A V A V I R A F A R I N H A

Depois de colhida, a mandioca éprocessada na casa de farinha, presenteem quase todo bairro ou vila dessas co-munidades. Em geral de uso comunitá-rio, consiste num conjunto de equipa-mentos rústicos, semelhantes aos que osíndios usavam há centenas de anos. Alise descasca, lava, moe e peneira a man-dioca, que depois é utilizada como ali-mento em forma de farinha. Cada um queleva a mandioca para fazer farinha, dei-xa uma certa quantidade para o dono doequipamento, que depois a vende.

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obrigam o moradorlocal a procurartrabalho nos centrosurbanos, sem habili-tação para conseguiros empregos melhorremunerados nacidade; assim, ele écolocado numasituação profissionale de vida que,muitas vezes, beira amarginalidade.

. A pescaPesca artesanal é

aquela realizada nosrios, nos estuários eno mar, próximo aocontinente, com instrumentos em geral confeccionadospelos próprios pescadores e embarcações simples, muitasvezes sem motor.

O pescador artesanal é autônomo, não tem patrão. Traba-lha principalmente em grupos familiares ou em parceria.Embora possa dedicar-se eventualmente a outra atividadecomo a agricultura, a pesca é sua principal fonte de renda.

O produto da pesca é dividido em partes com colegas dacomunidade: uma vai para o dono do barco e a outra érepartida entre os camaradas ou parceiros. Muitas vezes,quem leva esse produto até o consumidor, atualmente, é umintermediário – chamado de atravessador –, responsávelpela colocação do peixe no mercado.

Os principais produtos da pesca artesanal no litoralpaulista são a tainha, o parati, a pescada, o bagre, a manjubae a corvina.

Para pescar, o pescador, do mesmo modo que o agricul-

tor, precisa conhecermuito bem o complexosistema de funciona-mento da natureza: asépocas de reproduçãodos peixes, o períodoadequado para suacaptura – em quefase da lua, em quemaré, se à noite oudurante o dia – e o localpropício para a pesca decada espécie.

Quantos são essespescadores? É difícilcalcular seu número,mas o que importa saberé que o fruto da suaatividade abastece

significativamente mercados locais e regionais.A partir da década de 60 a pesca industrial/empresarial

passou a exercer grande pressão sobre a pesca artesanal.Com embarcações motorizadas mais velozes, redes e demaisapetrechos mais sofisticados, as empresas de pesca apanhamo produto em locais distantes da costa e em quantidademuito maior.

A técnica de captura dos animais que têm valor comer-cial, muitas vezes, depreda o estoque natural. É o caso daparelha, uma técnica de pesca industrial em que dois barcosemparelhados dirigem-se à costa, arrastando uma rede quevarre o fundo do mar e provoca a destruição da fauna e daflora marinhas. Isto porque nesse movimento capturam-se,também, filhotes e jovens que serviriam para a reprodução.A conseqüência é a ameaça de desaparecimento das espéciesde maior interesse econômico. A parelha arrasta consigo asredes de espera e os cercos flutuantes, destruindo-os.

A pesca comercial utiliza barcos motorizados e emprega pescadores pagando salários.Traineira em Ubatuba – litoral norte de São Paulo.

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A pesca industrial tem prejudicado a pesca artesanal e aopescador não resta outra alternativa a não ser a de tornar-seempregado desse sistema industrial – o embarcado –, quelhe rouba as condições que o faziam dono do seu trabalho,um artesão. A garantia de salário e os benefícios decorrentesdo registro em carteira apresentam-se como vantagem, prin-cipalmente quando os estoques de pescado diminuem e omercado se organiza para a produção industrial.

Outras ameaças à pesca artesanal advêm da valorizaçãoimobiliária nas áreas de praia e da ação da poluição, querestringem ou degradam o espaço de pesca, obrigando opescador a deslocar-se por maiores distâncias, o que ele po-derá fazer somente se tiver melhores condições.

. Os “doutores” da Mata AtlânticaA intimidade das comunidades com o meio natural e o

conhecimento da fauna e da flora permitem a existência de“médicos” na floresta. A utilização da flora para a cura dedoenças corriqueiras é muito comum entre os moradores damata, mas há pessoas que se destacampela capacidade de curar. Distinguem oque causa os diferentes sintomas e sabemo que fazer para curar o doente, asso-ciando plantas e materiais de origemanimal. Seu conhecimento não se resumea informações como o tipo de planta eonde encontrá-la, mas abrange qual aparte indicada para cada doença e comofazer sua combinação com outras plan-tas, como preparar medicamentos.

Este “doutor”, que aprendeu o quesabe com os pais e avós e o ensinará aosseus filhos, lida também com o aspectosagrado e religioso, mantendo contatoconstante com os espíritos da mata, queprotegem as plantas garantindo-lhes as

virtudes. Geralmente líder religioso na sua comunidade,acrescenta rituais, benzedura e “simpatias” aos processosde cura.

. A mata transformada em objetos de usoVários tipos de plantas são extraídas para a construção de

casas, canoas, barcos e utensílios domésticos; as folhas,depois de trançadas, servem como telhados; e óleos, resinase fibras tiradas das árvores têm utilidade. É o caso do taninoque, depois de preparado, serve para proteger as redes depesca contra a fixação de algas e animais.

O turismo transformou a confecção de objetos artesanaispara uso diário em atividade comercial. Essas peças feitas àmão chamaram a atenção dos turistas que começaram aprocurá-las cada vez mais. A procura incentivou uma produ-ção em maior quantidade, melhor acabada e mais colorida,bem ao gosto do comprador urbano. Assim, cestos, gamelas,cuias, abanos, esteiras e redes foram, muitas vezes, parar nasparedes e recantos das casas, como peças decorativas.

Cerco fixo – técnica artesanal utilizada peloscaiçaras para a pesca em rios e canais quesofrem influência das marés.

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. Uma economia mistaFalamos um pouco antes que a economia tradicional

misturava-se à industrial. E, de fato, há elementos comoprodução em série, mercado intermediário e outros, embuti-dos no trabalho das comunidades da mata. Isso depende dasrelações das comunidades com a sociedade mais ampla emque se encontram inseridas. Quanto menor a resistência amudanças dentro das comunidades, quanto maior o grau decontato com os centros urbanos, mais transformações vãoocorrendo. Dá-se, assim, uma verdadeira troca de influên-cias na economia dessas comunidades.

Bons exemplos dessa mistura ocorrem na extração dopalmito e da caxeta. Quando se destina à alimentação dascomunidades, o palmito é retirado em pequena escala; mas,se o objetivo é abastecer os centros urbanos, muito maisárvores são derrubadas. No caso da caxeta, sua madeiramacia presta-se à confecção de artesanato em comunidadespróximas à sua área de ocorrência e também é utilizada naindústria para a fabricação de lápis de excelente qualidade.

No primeiro caso, o machado derruba pequenaquantidade; já para o aproveitamento industrialentra em cena a motosserra, capaz de retirarmais madeira em menos tempo. Algumascomunidades encontram-se envolvidas comessas duas formas bem distintas de produção.

É tempo de refletir

Estamos chegando ao fim da segunda etapade nossa viagem. Neste trecho, procuramosconhecer alguma coisa da dinâmica das rela-ções, com o meio ambiente e com a sociedadeurbana, de pequenos grupos humanos muitopróximos da Mata Atlântica, cuja economia

privilegia uma produção de pequena escala e para os quais afloresta é uma companheira.

Como uma forma de nos despedir dessas comunidadestradicionais vamos participar de um acontecimento muitoimportante, uma manifestação da cultura caiçara que misturatrabalho, conhecimento, festa, e que é, enfim, expressão davida: a pesca da tainha.

. Apresentação da tainhaA tainha é um peixe do mar, da família dos mugilídeos.

Cria-se, porém, em água doce e vive, durante a primeira fasede sua vida (que coincide com os meses de verão), emlagoas, rios e estuários, no sul do País; depois, vai para omar. Quando, em abril, os primeiros ventos minuanostrazem o frio andino, as tainhas nadam para o norte, próxi-mas à costa.

A pesca da tainha dura cerca de três meses no litoralpaulista e apresenta três fases em que o envolvimento dospescadores é bastante distinto.

Cerâmica folclórica de Apiaí.

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Antes da chegada do peixe, os pescadoresdedicam-se ao conserto das redes, como otresmalho, substituindo as partes corroídas pelouso no ano anterior. Fabricam redes novas quereceberão o tratamento de um banho de taninofeito com a casca da aroeira, mangue vermelho oucajueiro, por exemplo, antes de estrearem naságuas do mar.

No final do mês de maio, quando chega o ventosudoeste, “o vento que encosta a tainha”, os pesca-dores sabem que o peixe se aproxima e saem, ànoite, à sua procura. Neste início não importatanto o lucro que possa advir da venda do peixe,mas a emoção de ostentar os primeiros resultadosda pescaria.

Os meses de junho e julho representam o ponto alto dapesca. Os pescadores estão organizados e voltados intei-ramente para esta tarefa. Mesmo aqueles que se dedicamà pesca de outros produtos têm que aproveitar a chegadada tainha, para garantirem a sua subsistência. No final decada tarde, um “vigia” se coloca numa posição de ondepossa observar o mar e, ao perceber a movimentação docardume, anuncia-o aos outros. Todos tomam posiçãonos barcos, cada qual com sua tarefa, e passam, muitasvezes, a noite toda pescando. O resultado da pesca édividido em partes.

A festa da tainha é o grande acontecimento social paraesses caiçaras. É comemorada no dia de São Pedro – pa-droeiro dos pescadores –, ou de outros santos, cuja datacoincida com a temporada da tainha, conforme a região.

Com o mês de agosto vai terminando a pesca. O “peixede arribada” – aquele que sobra – está começando sua voltapara o sul. Outras espécies de peixe vão requerer outrosinstrumentos, outra rotina.

. Comparando as coisasPodemos aproveitar a descrição da pesca da tainha para

fazer uma ligeira comparação com as rotinas de trabalho deum habitante qualquer da cidade grande. Vamos lá?• Na cidade há uma separação clara entre moradia e local detrabalho; para o caiçara, o espaço do trabalho é um prolonga-mento do local onde ele mora.

• O tempo do trabalhador urbano é o tempo do relógio, seuritmo está ligado às exigências da produção; na pesca, anatureza é quem dita o ritmo da vida.

• A escola é, no meio urbano, um importante espaço deaprendizagem da profissão; na arte da pesca – inclusive atécnica de construção de embarcações e instrumentos – todoo conhecimento é aprendido na prática do trabalho, aoacompanhar os mais velhos, desde cedo, na realização dasatividades.

Essas diferenças nos dão a idéia de como é possível, em

Pesca da tainha

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lugares bem próximos no espaço e no tempo, coexistiremmodos de vida tão distintos.

Quando nos interessamos em compreender uma culturadiferente da nossa, temos que estar atentos para o fato deque vamos fazê-lo a partir do nosso ponto de vista, usandoas nossas medidas e os nossos valores, o que pode nos levara julgar como inferior aquilo que é diferente.

Cada cultura tem suas características. Conceitos comoprogresso, civilização, novo e moderno são relativos; nãoguardam em si garantia absoluta de qualidade ou vantagem.

Tendo isso em mente, estaremos abertos para o que há departicular e interessante em outros modos de vida. Nemmelhores, nem piores, apenas diferentes!

Mas, afinal, o que nos interessa em tudo isso?O simples fato de existir comunidades tradicionais convi-

vendo com uma população urbana, num sistema industriali-

zado, já seria motivo de interesse para uma análise e umregistro. Mais do que isso, interessa-nos identificar e divul-gar formas menos agressivas de explorar a natureza, numaárea importante, em que se encontra o pouco que resta daMata Atlântica em São Paulo.

Não se pretende substituir tecnologias avançadas deprodução pelas formas tradicionais aqui apresentadas.As relações que essas comunidades estabelecem com omeio natural não são modelo para sociedades urbanas,com milhões de habitantes. Porém, o desenvolvimentotecnológico e o avanço científico não substituem o co-nhecimento empírico e as formas tradicionais de vida.A alternativa que se coloca é a possibilidade de reuniãode diferentes formas de saber – o tradicional e o moderno– para, quem sabe, a partir disso, começarmos a desen-volver sem destruir.

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Porto de Santos localizado no estuário da Baixada Santista.

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Pelo modo como temos cami-nhado até agora, fica claro

que os índios e as comunidadestradicionais não são os únicoshabitantes da região pela qualviajamos. Ao contrário, representamuma minoria, no meio da vasta popu-lação urbana que vive de forma muitodiferente, oposta mesmo, onde as ativi-dades econômicas obedecem aoutro ritmo – o tempo da fábrica–, cujas origens encontram-semuitos séculos atrás e longe doBrasil, na Europa, que viviaum período de plena expansãocomercial.

Voltemos no tempo e atravesse-mos o Oceano Atlântico. Continue-mos viajando.

Uma volta a 1500

Tudo começou porque Portu-gal, dotado de um projeto

mercantil colonial semelhante ao deoutros países da Europa, entre osséculos XV e XVI, expandiu seusdomínios, cruzando os mares eapossando-se das novas terras encon-tradas. Foi por isso que, navegadoreseuropeus e, no caso do Brasil, princi-

palmente os portugueses, empreende-ram viagens a terras americanas,procurando novas fontes para o abaste-cimento do mercado mundial.O Brasil, como uma dessas fontes,acabou sendo transformado em colôniade Portugal.

Ao desembarcarem na costabrasileira, os portugueses traziam

em sua bagagem uma visão danatureza bem de acordo com omomento expansionista em quese encontravam. A atraçãoexercida pela fauna prendia-se à possibilidade de explo-ração dos recursos naturaisque representava. A nature-za aí estava, pronta para ser

ESTAÇÃO DE EMBARQUE Nº 3: O HOMEM E O URBANO

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usufruída e aproveitada. Para o colonizador, o fantásticodesafio de dominá-la, transformando-a em objeto de lucro,constituía a motivação para suas ações. Implantou-se aquiuma economia predatória, na qual importava retirar, deimediato, o que tinha valor comercial, sem qualquer preocu-pação com o futuro da colônia. Foi o início de uma atitudede destruição da natureza que, depois, incorporou-se aomodo de vida da sociedade brasileira.

A extração, concentrada nos recursos naturais que inte-ressavam à Coroa, localizou-se, inicialmente, apenas emalguns pontos da colônia, devido às limitações deconhecimento do território e da capacidade de absorção,pelo mercado mundial. Assim, trechos da costa atlântica,revestidos por exuberante mata, começaram a sofrer aextração dos seus recursos, como o pau-brasil, e a servirempara o cultivo do que mais interessava, no momento, aomercado mundial, que era a cana-de-açúcar.

Pela proximidade com o litoral, a Mata Atlântica foi afloresta mais prejudicada com a entrada deste novo homemem cena – o colonizador. Como diz Vital Farias, num trechoda sua canção Saga da Amazônia, “se a floresta, meu amigo,

tivesse pé para andar, eu garanto, meu amigo, com o perigo,não tinha ficado lá”.

. Mata Atlântica, a preferida do colonizadorUma das regiões mais exploradas desde o início da

colonização foi o litoral brasileiro, onde naquela épocapredominavam as matas atlânticas e outros ecossistemasassociados. As matas atlânticas acompanhavam o litoralbrasileiro, do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul.Em São Paulo, foram exploradas desde os primeiros cicloseconômicos, na época da Colônia.

Duas vilas destacaram-se na história do Brasil Colônia:a Vila de São Vicente e a Vila de São João Batista deCananéia, fundadas na primeira metade do século XVI. Sualocalização era estratégica e correspondia ao que os portu-gueses procuravam em toda costa: pontos favoráveis para aatracação9 das embarcações, com águas calmas e protegidas.

. Jóias para a CoroaDe Cananéia partiram para o interior expedições em

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busca de ouro e pedras preciosas. Da primeira, que seguiupara o interior pelo rio Ribeira de Iguape, não se teve notí-cias, mas o ouro foi encontrado algum tempo depois, no altodesse mesmo rio, nos atuais municípios de Apiaí e Iporanga.

Nessa região, que corresponde hoje ao Vale do Ribeira eao litoral sul de São Paulo, o ouro foi o principal produto deexploração e o centro de todas as atividades. Vários povoa-dos foram fundados nas margens do rio e o porto de Iguapepassou a realizar as exportações. A cidade, transformada empólo regional, viveu seus “anos dourados” enquanto durouesse ciclo.

. O Ciclo da canaMais ao norte, a Vila de São Vicente firmava-se.

A paisagem começava a ser alterada com a introdução deanimais domésticos, como o gado e o cavalo, e da cana-de-açúcar, trazida da Ilha da Madeira, outra colônia portuguesa.Na planície costeira, estabeleceram-se extensas lavourascanavieiras e grandes engenhos junto às grandes proprieda-des, o que gerou uma organização do espaço com base na

monocultura – cultivo exclusivo de um produto, no caso,a cana-de-açúcar. Sua produção era ali beneficiada e depoisexportada.

Porém, a área disponível para o cultivo da cana-de-açúcarnessa região era limitada, devido à presença de locaisinundáveis, como brejos e mangues, e das escarpas da Serrado Mar, inadequadas para a agricultura. O nordeste doBrasil, por sua vez, já estava produzindo o açúcar comcustos mais baixos, em virtude de melhores condições detransporte e da qualidade dos solos na Zona da Mata.

A produção de açúcar da Vila de São Vicente entrou emdecadência e perdeu expressão no mercado mundial.A função portuária passou a ser exercida em Santos que,apresentando condições mais favoráveis de atracação,transformou-se em pólo de exportação dos produtos doplanalto, para onde a colonização já havia se dirigido.

A cana-de-açúcar persistiu no litoral por meio de umanova tentativa de monocultura em grandes áreas, dessa vezem São Sebastião e Ubatuba, no litoral norte. Essa região,que até a metade do século XVIII manteve pequenos núcleos

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populacionais isolados, produzindo para a subsistência,começou a conhecer a devastação da economia predatória jáinstalada em outros pontos do país. O açúcar, produzido emlarga escala, e a aguardente tinham o mesmo destino que aprodução de São Vicente no século XVI: o mercado euro-peu. Mas as características geográficas também aí não erampropícias para a lavoura canavieira; o litoral recortado e asescarpas da Serra do Mar aproximando-se da linha da costadeixavam poucas áreas de planícies.

. Um pouco de café?O café para exportação também foi experimentado no

litoral norte, nos primeiros anos do século XIX. O seucultivo cresceu economicamente até 1850, mas foi abando-nado em função da produção das lavouras do Vale doParaíba, que suplantaram a produção litorânea, com suasterras mais extensas e férteis.

Assim, o ouro, a cana-de-açúcar e o café estabeleceramciclos que tiveram, em comum, um caráter de depredação,palavra que tem como sinônimos saque, pilhagem, devasta-ção. Também a pesca da baleia teve importância regional,porque dela extraía-se o óleo utilizado na iluminação dasvilas. A Ilha do Bom Abrigo, várias localidades no municí-pio de São Sebastião e Bertioga eram locais que se destaca-vam e Armação, Baleia e Espia são nomes de praias queguardam a lembrança dessa atividade extrativista, responsá-vel pelo desaparecimento das baleias na costa paulista.

Com os interesses coloniais caminhando para outrasdireções, esse litoral passou a ser ocupado de formas varia-das, ligando-se à metrópole apenas com relação ao escoa-mento dos produtos da terra, principalmente através doporto de Santos.

O povoamento já estabelecido continuou a desenvolver-se, baseado, na maior parte das áreas, numa agricultura de

subsistência. No entanto, nota-se a presença de ciclos bempontuais, como o do arroz, em Iguape, no fim do séculoXIX e início do século XX.

Um salto para a era industrial

De 1822, data da independência do Brasil, até as primei-ras décadas de 1900, alguns trechos das regiões litorâneas eda Serra do Mar mantiveram-se à margem do desenvolvi-mento do Estado, o que permitiu a recuperação natural demuitas áreas devastadas, que hoje formam a mata secundáriaexistente.

No final do século XIX, algumas indústrias de pequenoporte haviam se instalado no litoral. Eram fábricas quebeneficiavam produtos agrícolas, como o arroz em Iguape ea banana na Baixada Santista, além de olarias e curtumes.Indústrias de anilinas, adubos e papel foram implantadas nolitoral central.

Essa situação perdurou até meados do século XX, quan-do a economia predatória retornou ao litoral, desta vez não

Mapa de Cubatão em 1852.

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mais para extração de recur-sos, mas visando o aprovei-tamento do solo para aconstrução. Novamente, osinteresses e as decisõesencontravam-se distantesdali.

A infra-estrutura detransporte montada comoapoio às atividades do portode Santos favoreceu a con-centração industrial, odesenvolvimento do comér-cio e das atividades deserviço, e a conseqüente urbanização da Baixada Santista.As condições ambientais e a proximidade com o maiorcentro produtor e consumidor – São Paulo –, aliadas àsfacilidades do transporte nacional e internacional oferecidaspelo porto, trouxeram para a região o maior pólo petro-químico do País. Foi uma decisão oportuna, na perspectivados grandes interesses econômicos, que, no entanto, provo-cou resultados dramáticos em termos ambientais.

Falando um pouco da Baixada Santista...especialmente de Cubatão

A paisagem do litoral central ou Baixada Santistaé marcada pelas escarpas da Serra do Mar, umamuralha coberta por florestas que cercam o mar,como bem observaram os colonizadoresportugueses ao chegarem a essa região. Damuralha ao mar, uma rede de drenagens desce eencontra a planície formada por cordões areno-sos da restinga, e uma grande área estuarina

com extensas formações demanguezais. É uma regiãode grande crescimentoeconômico, com gravesproblemas decorrentes daindustrialização, principal-mente em Cubatão, onde aurbanização caótica criousérios problemasambientais. O turismo semplanejamento na Baixada

Santista criou também uma paisagem urbana marcada pelosarranha-céus, que criaram outra muralha, agora de cimento econcreto. Nesta região, a Mata Atlântica tem uma parteprotegida pelo Parque Estadual da Serra do Mar – que é omaior parque do Estado.

Mapa do litoral central.

Bairro-cota, nome dos assentamentosnos limites do Parque Estadual daSerra do Mar, na região de Cubatão.

PERUIBE

ITANHAEM

MONGAGUA

PRAIA GRANDE

GUARUJÁ

SANTOS

CUBATÃOBERTIOGA

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A Baixada Santista é formada porvários municípios, como mostra omapa. Além de Cubatão e dos muni-cípios costeiros, fazem parte da Bai-xada Santista várias ilhas, dentre elasa de São Vicente – onde se localiza asede do município de Santos – e a deSanto Amaro – onde fica o municípiode Guarujá.

A cidade de Cubatão fica na planí-cie onde se dá o encontro da foz dedois grandes rios que descem a Serrado Mar: o Cubatão e o Mogi. Essaplanície é cercada quase totalmentepela escarpa da Serra do Mar.Os ventos que vêm do mar, encon-trando esse obstáculo, elevam-se eprovocam aquela neblina tão caracte-rística da serra; porém, é pouca acirculação do ar.

Num local assim, em que o arquase não se renova, a fumaça que saidas chaminés das fábricas causou umapoluição de dimensões dramáticaspara a vida das pessoas e da vegetação. Pois foi exatamen-te nessa região que se implantou um pólo petroquímico.

. Refinando o petróleo e engrossando o caldoNa década de 50, o governo federal decidiu implantar

uma grande refinaria de petróleo no País – a RefinariaPresidente Arthur Bernardes. Depois de acirrada disputapolítica entre os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, aescolha recaiu sobre São Paulo.

Foram investidos muitos recursos públicos na região.Por exemplo, o curso do rio Pinheiros na capital paulistateve de ser revertido, para que a Usina Henry Borden

pudesse suprir de energia elétrica onovo empreendimento.

Com a refinaria chegaram outrasindústrias nacionais e estrangeiras,cujo objetivo era utilizar produtos esubprodutos dela gerados, ou apro-veitar a infra-estrutura e as vantagensgovernamentais concedidas para aformação daquele pólo industrial.

Em 1964 foi instalada a Compa-nhia Siderúrgica Paulista – Cosipa,a maior siderúrgica do País, para aprodução de chapas de aço destina-das principalmente à fabricação deautomóveis.

Atualmente, o pólo abrange maisde 20 indústrias, a maioria delas parafabricar produtos químicos, comocloro, soda cáustica, ácido clorídricoe fertilizantes.

. E olha aí o resultadoA decisão de destinar parte da área domunicípio à atividade industrial

desafiou a administração pública a lidar com os sériostranstornos causados à população local.

Os altos índices de poluição do ar literalmente destruí-ram a vegetação das encostas, que não se refez. Perdendoas plantas que o seguravam, o solo da escarpa sofreuviolenta erosão. A terra deslocada com a erosão começou aassorear10 o estuário, comprometendo a reprodução deinúmeras espécies animais e vegetais. Todos os ambientesforam afetados. Até as indústrias passaram a correr perigopor causa desses escorregamentos. O assoreamento atin-giu também o Porto de Santos que, pelas suas condiçõesgeográficas, exige ser dragado periodicamente para manter

Sangramento das encostas da Serra decorrenteda poluição na região do pólo industrial

de Cubatão, em 1985.

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a sua profundidade. Alémdisto, muitas indústriasforam construídas ematerros sobre manguezais.Os resíduos industriais, porsua vez, contaminaram aságuas e o solo, provocandosérios problemas de abas-tecimento.

Deste quadro, resulta-ram graves conseqüênciassociais e para a saúde.A construção das indús-trias atraiu trabalhadoresde várias partes do Brasil,muitos dos quais, termina-das as obras, ficaramdesempregados, tendo de se valer do subempregopara sobreviver.

Os moradores antigos também sofreram com asprofundas mudanças que as indústrias trouxeram para oseu modo de vida. Quase sem espaço e com o ambientedegradado, não podiam exercer plenamente suas ativida-des. Marginalizaram-se.

A vida em condições de extrema pobreza transformouesses grupos sociais em agentes da degradação. Isso por-que houve ocupação de áreas impróprias para a habitação:barracos foram levantados nas encostas da Serra e nosmanguezais, colocando a vida em risco, frente ao perigo dedeslizamentos iminentes a cada temporada de chuvas.Produtos perigosos transportados em encanamentos subter-râneos provocaram graves acidentes, como a explosãoocorrida na Vila Socó, em 1984.

. Correndo para pagar o prejuízoFace a este cenário insuportável de poluição e devasta-

ção, que se tornou deconhecimento público esensibilizou a sociedadecivil nacional e interna-cional, o governo doEstado de São Paulocomeçou a buscar solu-ções para prevenir, recu-perar e remediar o mal jáinstalado.

Diversos órgãosreceberam verbas para

pesquisas que permitissem acompanhar e controlar as fontesde poluição do ar, da água e do solo, e fiscalizar as indús-trias, principalmente quanto à instalação de filtros naschaminés e tratamento de efluentes industriais. Um progra-ma de controle permanente da poluição e dosescorregamentos foi criado na década de 80, e várias outrasações governamentais desencadearam-se na região. Muitasobras foram realizadas para contenção de encostas, com afinalidade de reduzir o perigo de escorregamento da Serra, acada estação de chuvas.

Os canais assoreados pelo material proveniente dadestruição dos manguezais foram dragados3 e, pararecuperar a vegetação das encostas da Serra, foi realizada,em caráter experimental, a primeira semeadura aérea deespécies nativas.

. “Nós vamos invadir sua praia”Outro aspecto bastante polêmico do desenvolvimento é a

atividade turística, da forma como ela acontece no Brasil.

Plântula de Tibouchina pulchra,espécie utilizada na semeaduraaérea para recuperar as encos-tas desmatadas da Serra do Mar,no setor que margeia Cubatão.

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No litoral do Estado de São Paulo, tudo começou na Baixa-da Santista.

O município de Santos sempre se destacou como balneá-rio. Nas primeiras décadas deste século, as chácaras deveraneio na orla marítima foram substituídas, aos poucos,por palacetes de propriedade de fazendeiros e comerciantesdo café. A implantação da infra-estrutura hoteleira na regiãoteve início em 1914, com a inauguração do Hotel ParqueBalneário, na praia do Gonzaga, que funcionava tambémcomo cassino.

Nos anos 30, Santos começou a receber um público detodas as camadas sociais, o que gerou a necessidade dediversificar os tipos de alojamento: palacetes passaram afuncionar como pensões e proliferaram as cabines parabanho e troca de roupa, na avenida à beira-mar.

Com a inauguração da via Anchieta, em 1947, a situaçãosofreu nova mudança: o acesso a Santos ficou muito maisrápido, significando uma alternativa de lazer para opaulistano, que já podia descer a Serra de trem, ônibus ouautomóvel e permanecer no litoral apenas por um dia.O paulista do interior também tinha onde passar suas férias,ou mesmo o fim de semana.

O panorama da orla transformou-se rapidamente com aconstrução de edifícios de apartamentos, cujo apelopromocional era o de uma segunda residência, ou de uminvestimento seguro. O comércio de produtos e serviçoscresceu rapidamente para atender a um volume enormede pessoas.

A construção da Rodovia dos Imigrantes, no início dadécada de 70, e da Pedro Taques, facilitou ainda mais oacesso à Baixada Santista. Santos ressentiu-se e começou amostrar sinais de saturação: a falta de água, energia, proble-mas de esgoto e de abastecimento de produtos tornaram-sefatos comuns. Suas praias poluíram-se, perdendo as condi-ções de uso durante os períodos de férias. O espaço urbano,repleto de edifícios, fechou a paisagem da orla marítima.A expansão para outras áreas tornou-se inevitável e o cami-nho foi São Vicente, Ilha Porchat e Guarujá.

A partir da década de 70, a Prefeitura de Santos restrin-giu a utilização das praias, fechando as cabines de banho eproibindo o estacionamento de ônibus fretados. Lá se foramos chamados “farofeiros” em direção à Ponte Pênsil. Atra-vessando-a, sairam para outros locais, principalmente aPraia Grande.

E o fluxo turístico foi caminhando: Mongaguá, Suarão,Itanhaém, Peruíbe. Inúmeros bairros cresceram entre essescentros mais populosos. Os veranistas que freqüentavam oGuarujá, tornaram a balsa mais uma vez, agora com destinoà Bertioga e outras praias mais isoladas.

Tômbolo que liga a Ilha Porchat (primeiro plano)à Ilha de São Vicente (segundo plano).

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ILHABELA

CARAGUTATUBA

UBATUBA

SÃO SEBASTIÃO

um dia, quando o mar esteve mais recuado, portanto maisbaixo, já estiveram ligados ao continente. Por isso suavegetação apresenta características semelhantes àquelasencontradas na Serra do Mar.

Até 1950, a situação dos moradores dos diversos bairrosdos municípios do litoral norte, inclusive das ilhas, era derelativo isolamento, pois dependiam quase que somente domar como via de contato. Havia poucas estradas de terra eapenas algumas trilhas abertas na mata, como a antiga rotade tropeiros ligando Ubatuba a Parati, atual Trilha do Coris-co, no Parque Estadual da Serra do Mar – NúcleoPicinguaba.

A construção da estrada Caraguatatuba-Ubatuba deuinício à interligação entre os municípios do litoral norte, masfoi somente nos anos 70, com o início dos investimentos nosetor imobiliário, que a região deu um salto quanto ao fluxode visitantes. A abertura da Rodovia dos Tamoios – na alturade São José dos Campos – que desce até Caraguatatuba, ealguns trechos da Rio-Santos, uniram pontos importantes

Vista de uma das poucas praias e restingas não atingidas pelaespeculação imobiliária, no litoral norte de São Paulo. Praia da

Fazenda – Núcleo Picinguaba – Parque Estadual da Serra do Mar.

Litoral norte

Pela estrada afora... para o litoral norte

As estradas Piaçaguera-Guarujá e Mogi-Bertiogaintensificaram a tendência para o nordeste do Estado,porque eliminavam as longas filas à espera de uma balsa.Porém, o que permitiu que o turismo em grande escalapegasse a estrada rumo a esse litoral exuberante, foi aconstrução da Rio-Santos – a BR 101 – famosa por seutraçado, muitas vezes, a poucos metros do mar.

A paisagem observada da estrada que serpenteia pelasescarpas, morros isolados e planícies, é magnífica. Demuitos pontos o viajante pode apreciar a costa recortada,cujo relevo irregular causa um efeito de forte impacto,que a cor turquesa do mar ajuda a reforçar. Em vários tre-chos as ondas arrebentam nos costões rochosos de esporõesda Serra do Mar.

Esse litoral rendilhado inclui baías onde seconcentra o maior número de ilhas rochosasdo litoral paulista. As que podemosobservar nada mais são do queantigos morros, os quais

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desse pedaço do litoral e também foram responsáveis pelocrescimento sócioeconômico da região. Hoje, a RodoviaCarvalho Pinto também se tornou uma nova interligaçãoimportante e provavelmente desencadeará novos processossócioeconômicos.

. De Bertioga a São SebastiãoSaindo de Bertioga, depois de ampla planície com áreas

inundáveis de ambos os lados da estrada, surge uma seqüên-cia de praias, de tamanho muito variado. Após cada curva,uma nova imagem: a praia de Toque-Toque, por exemplo,com sua belíssima cachoeira na beira da estrada. Em vilasmais populosas, como Boissucanga, predominam as casasde veranistas, os hotéis e as pousadas. Na direção da Serra,temos o chamado “sertão”, onde agora vivem os caiçaras,

cada vez mais distantes domar. Em muitas praias de-sembocam pequenos rios quese pode acompanhar até o péda serra. Durante o percurso,poços e cachoeiras com ofundo pedregoso e as águasgeladas compõem um cenárioperfeito para a magia deborboletas amarelas quebrincam em pleno ar.

Alguns rios deste trecho,como o Juqueí, tiveram ocurso alterado, próximo aomar, em função deescorregamentos durante a

construção da BR-101.O município de São Sebastião tem um centro urbano com

infra-estrutura de bancos, supermercados, um comérciovariado e o porto, que guarda a lembrança de glórias passa-das, além de ser considerado como um dos principais termi-nais petrolíferos do Estado de São Paulo. Tudo isto faz deSão Sebastião um município com função de pólo para a redede cidades vizinhas, principalmente para a lindíssimaIlhabela, que fica bem em frente.

O Terminal Almirante Barroso–Tebar da Petrobras é umaextensão de Cubatão no litoral norte. Recebe petróleo vindodo exterior, envia-o à Refinaria Arthur Bernardes através deoleodutos e recebe-o de volta, dessa vez para distribuir oproduto já refinado a vários pontos do território nacional.Instalado na década de 60, trouxe consigo a ameaça e aconcretização de grandes desastres ecológicos. Os constan-

Litoral norte de São Paulo – noprimeiro plano, Ilha das Couves; nosegundo, Núcleo Picinguaba doParque Estadual da Serra do Mar.

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tes vazamentos de óleo degrandes proporções destroema fauna marinha e chegamaté as praias, prejudicando apesca dos moradores locais eo lazer dos turistas.

. IlhabelaMesmo de longe, Ilhabela

encanta o observador. Atra-vessando o canal de SãoSebastião, a beleza se confir-ma: são praias, costões,cachoeiras e a água límpida,agitada por cardumes colori-dos. A arquitetura arrojadade algumas casas de veraneioimpõe-se na paisagem,contrastando com a simplici-dade das moradias dospescadores. No pequeno centro urbano, as construções nosremetem ao passado da Vila Bela da Princesa, famosa pelaprodução de açúcar e aguardente de primeira qualidade.Cerca de 80% da ilha encontram-se protegidos pelo ParqueEstadual de Ilhabela, que abrange outras ilhas do arquipéla-go, entre elas, a Vitória e a de Búzios.

. CaraguatatubaCaraguatatuba é a cidade que mais cedo conheceu o

turismo no litoral norte. A facilidade de acesso às suaspraias tornou-as muito procuradas principalmente durante adécada de 50. Isso provocou a instalação de uma infra-estrutura de serviços que contribuiu para o aumento dapopulação urbana. Ainda hoje, muito freqüentada por turis-

tas, Caraguatatuba tornou-se ponto de passagem para quemse dirige a outras praias do litoral, descendo pela Rodoviados Tamoios. No quilômetro 20, na pista que desce, encon-tra-se o acesso ao Núcleo Caraguatatuba do Parque Estadualda Serra do Mar.

. UbatubaNessa costa bastante recortada, Ubatuba destaca-se com

um colar de pequenas praias que seguem rumo à divisa como Rio de Janeiro.

O centro urbano, como o de outras cidades desta porçãodo litoral, dispõe de infra-estrutura tanto para os moradoreslocais como para turistas. No Perequê-Açu, o convívio entremoradores e turistas é muito próximo. Praias mais distantes

Costão rochoso em Caraguatatuba.

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do centro fazem ocontraponto, alojando exclu-sivamente turistas, emcondomínios de alto luxo eresidências que reproduzemos padrões de conforto dacidade grande.

O Saco da Ribeira, o maisimportante atracadouro daregião, parece um pátio deestacionamento para lan-chas, iates e escunas, que osproprietários vêm usar nosperíodos de férias ou feria-dos. Este ponto é saída parao Parque Estadual da IlhaAnchieta onde, além dasbelezas naturais, encontra-seum antigo presídio de tristememória, que abrigou presos políticos na época do EstadoNovo, período da ditadura de Getúlio Vargas. O edifício foiprojetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo e tombado peloPatrimônio Histórico.

De volta ao continente e sempre para o norte, a estradasegue os contornos da serra: ora plana, quase no nível domar, ora sinuosa, a alguns metros de altitude, permitindo vero mar salpicado de pequenas ilhas. A pujante vegetaçãoencontra-se protegida pelo Parque Estadual da Serra do Mar/Núcleos Santa Virgínia e Cunha, na serra, e Picinguaba, nacosta. Neste último, a vila do mesmo nome e o bairro doCamburi reúnem antigos povoados de pescadores, a casa dafarinha restaurada de uma fazenda, além de importantesambientes costeiros.

. Turismo no litoral norte: culpado ou inocente?O turismo parece a atividade mais adequada ao potencial

desta belíssima região. Porém, a política de abertura deestradas por parte do governo federal favoreceu uma ativida-de imobiliária selvagem, onde se permitiu o investimentomaciço na construção de condomínios de luxo, que exigiramo desmatamento de grandes áreas, ou o avanço para a orlamarítima. Uma verdadeira barreira de moradias modificou apaisagem, impedindo, muitas vezes, o acesso às praias einterferindo até mesmo na visão que se pode ter do mar aalguma distância. Esses condomínios e loteamentosencontraram clientela principalmente na elite paulista que,fugindo da saturação do turismo na Baixada Santista, procu-rava locais mais sossegados para o seu lazer.

Índios de uma aldeia naregião de Ubatuba.

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Outra conseqüência da abertura de acesso sem planeja-mento e sem restrições de uso do solo, desrespeitando, aliás,leis já existentes, foi uma vertiginosa valorização das terraslocalizadas à beira-mar, onde viviam e trabalhavam oscaiçaras – tradicionais moradores das praias. Empurradospara o interior, muitos deles mudaram-se para o “sertão”, oupara os bairros periféricos dos centros urbanos próximos.Até as encostas – áreas de risco ambiental ou de proteção amananciais12 de abastecimento para cidades litorâneas –começaram a ser habitadas. Os mesmos problemas se repeti-ram nas ilhas litorâneas, exploradas por esse tipo de turismo.

O litoral norte, pelos recursos naturais que oferece àcontemplação e ao lazer, pela posição geográfica em que seencontra, muito perto de grandes cidades do Vale doParaíba, e pela facilidade cada vez maior de acesso, é umgrande pólo turístico do Estado de São Paulo. Mas não sedeve reproduzir neste trecho o que aconteceu na BaixadaSantista, sob risco de ver-mos sucumbir, ao mesmotempo, uma fontede renda para apopulação local eas belezas queencantam

qualquer pessoa sensível.Aliás, desafios semelhantes apresentam-se no último

trecho dessa nossa viagem: o litoral sul e sudeste, e o Valedo Ribeira.

Pegando a estrada para o litoral sul

Um dos caminhos para se chegar ao litoral sul é porPeruíbe, seguindo pela Rodovia Pedro Taques. Em Peruíbe,podemos sentir o primeiro impacto das sensações que vãonos acompanhar na visita a essa região: o majestoso Maciçodo Itatins, protegido pela Estação Ecológica de Juréia-Itatins, ao pé do qual serpenteia o rio Una do Prelado. E portodo o litoral sul e Vale do Rio Ribeira de Iguape aimponência da vegetação, a imensidão das águas e a origina-lidade dos extensos manguezais nos passarão uma impres-são de natureza intocada de grande beleza cênica.

Mas para entrarmos em contato com o homem que vivenessa região, escolhemos um outro trajeto, que sai da cidadede São Paulo e entra em diversos municípios desse trechomajestoso da Mata Atlântica.

Da capital paulista rumo ao sul pela Rodovia RégisBittencourt, BR-116, passamos por uma regiãointensamente urbanizada, próxima a São Paulo. ApósTaboão da Serra, a paisagem começa a mudar. É o “cinturãoverde”: chácaras de lazer e vastas hortasresponsáveis em grande parte pelo abastecimento dehortifrutigranjeiros da capital.

A vegetação que vemos da estrada até onde a vista alcan-ça é remanescente da própria Mata Atlântica. Lembremo-nos das condições climáticas desta parte da Serra, da eleva-ção e do resfriamento dos ventos vindos do Oceano Atlânti-co, e muito cuidado com a neblina!

Litoral sul

ILHA COMPRIDA

IGUAPE

CANANÉIA

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Pequenos bairros em pon-tos esparsos da estrada dedi-cam-se à prestação de serviçosao viajante. Bem mais paradentro da floresta, próximo aomunicípio de Miracatu, hápovoados que desenvolvema agricultura para auto-susten-to e que obtêm sua rendaatravés da extração de produ-tos da mata.

Terminada a descida daSerra, entramos numa vastaregião plana. A sinalizaçãoanuncia o município deJuquiá. Ali, no início do séculoXX, foi construída a ferroviaSantos-Juquiá, que alterou ofluxo de transporte, dirigidoaté então para o litoral dopróprio Vale, no sentido daBaixada Santista. Isso reforçouuma tendência já existente decentralizar todas as exporta-ções do Estado a partir doPorto de Santos. Mais algunsquilômetros e passamos poruma ponte sobre o maior riode todo o trajeto: o Ribeira de Iguape.

. RegistroConhecida como a “capital do Vale”, Registro destaca-se

pela infra-estrutura de que dispõe. Localizada nas margensdo rio Ribeira, foi o ponto de passagem daqueles que seaventuravam em busca do ouro; ali era cobrado o quinto –imposto sobre a extração do ouro devido à Coroa Portu-

guesa –, no começo da colonização.No início do século XX, imigrantes

japoneses instalaram-se no local porconta de um projeto de assentamentoagrícola, apoiados por uma agência deseu país, a KKKK-Kaigai KogaiKabushi Kajsha/Companhia Ultrama-rina de Empréstimo S/A. Os japonesesse dedicaram à agricultura, produzindonovos produtos e técnicas de cultivo.As plantações de chá que são vistas daestrada passaram a ocupar vastasáreas, tanto em Registro, quanto emmunicípios vizinhos. Após beneficia-mento em indústrias locais, o chá –um dos principais produtos agrícolasda região – é exportado, além deabastecer o mercado interno.

Retomando o caminho, deixamos aBR-116, a única rodovia que liga o sulao sudeste do Brasil, e entramosna estrada que atravessa a pequenacidade de Pariqüera-Açu, em direçãoà Iguape.

. Iguape As ruas e edificações revelam um

passado de muita riqueza. No séculoXVI, esta cidade fundada na foz do rio Ribeira de Iguapesediava o principal porto para escoamento do ouro encontra-do no alto do rio Ribeira, o que a tornou um pólo regional.Até companhias teatrais européias apresentavam-se regular-mente na cidade.

Terminado o ciclo do ouro no final do século XVIII, o quesustentou Iguape a partir daí foi a característica de cidadeportuária. Em meados do século XIX, um fato novo veio

Prédio da Cooperativa Agrícola de Registro.

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alterar este quadro: a decisão de reduzir o trecho final dopercurso até o porto. Para isso, foi necessário abrir um canalartificial entre o rio e o Mar Pequeno, cortando perpendicu-larmente a planície e transformando parte de Iguape numailha. Porém, pouco depois deconstruído, a ação da corrente-za provocou desbarrancamen-tos, alargando tanto o leito e asmargens do canal que elepassou a ser o caminho prefe-rencial do rio. Os sedimentoscarregados para o Mar Pequenoprovocaram o assoreamentodo porto, inviabilizando suautilização. Perdia-se, assim,uma das únicas vias de escoa-mento da produção da região.

A atividade mais prejudicada foi arizicultura. Embora o arroz produzi-do no Vale tenha recebido prêmiospor sua qualidade, já havia dificulda-des em competir no mercado comoutras regiões produtoras. Com oassoreamento do porto, os custoscom transportes inviabilizaram seuspreços, causando o encerramento demais um período de importânciaeconômica para a região.

Hoje, a população de Iguapevive principalmente do aproveita-mento de parte do seu potencialturístico e da pesca da manjuba,do camarão e da tainha.

Iguape é riquíssima em recursos naturais, como todos osmunicípios do Vale do Ribeira. Não é por acaso que algu-mas das Unidades de Conservação mais importantes doEstado localizam-se nessa área, como a Estação Ecológica

de Juréia-Itatins, criada a partirde um grande movimento daopinião pública, contrária àproposta de se instalarem aliusinas nucleares.

Uma balsa sai de Iguape e nosleva ao município de Ilha Com-prida, transformada em Área deProteção Ambiental – APA.A Ilha formou-se a partir dadeposição de sedimentos mari-nhos e continentais; seu soloarenoso resiste pouco à ocupação

Vista aérea da cidade de Iguape.

Festa do Bom Jesus de Iguape.

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humana e às modificações que isso traz ao ambiente, comoos desmatamentos da vegetação natural. Como o próprionome diz, a ilha é comprida, alongando-se numa única praiade 70 quilômetros de extensão. Mais para o sul, surgem asilhas do Bom Abrigo e do Cardoso.

E agora a balsa nos levará à Ilha de Cananéia: umanova parada.

. CananéiaCananéia foi uma das primeiras vilas ocupadas pelos

colonizadores. A arquitetura da cidade testemunha isso: ruasestreitas e construções coloniais trazem o passado para osnossos olhos.

Desde o início, Cananéia destacou-se por seus estaleiros,onde se construíam embarcações marítimas e fluviais –atividade que faz parte da vida dos moradores até hoje.

Duas grandes instalações marcam presença na beira docanal, ambas construídas na década de 70: o Hotel Glória,

administrado até 1989 pelo governo doEstado e, posteriormente, pela prefeiturade Cananéia, e o entreposto de pesca querecebe o pescado da região e abastece parteda capital paulista.

Saindo da Ilha de Cananéia, as águascalmas do canal da baía de Trapandé noslevarão ao extremo sul do litoral paulista.

Do lado direito, o continente; do ladoesquerdo, o Parque Estadual da Ilha doCardoso, onde foi criado, também nos anos70, o Centro de Pesquisas Aplicadas aosRecursos Naturais da Ilha do Cardoso, oCeparnic. Com o objetivo de realizarestudos sobre a região, o Centro foiequipado com laboratórios e alojamentos

para cientistas, mas desde a sua abertura tem sidosubaproveitado.

De ambos os lados do canal uma visão fantástica: aondulação dos morros e a vegetação dos mangues com suasraízes na beira d’água. Durante alguns quilômetros estare-mos percorrendo um ambiente cuja importância é reconhe-cida no mundo inteiro: o complexo estuarino-lagunarIguape-Cananéia-Paranaguá13. Formado pelo encontro daságuas de rios com as águas salgadas do mar, este ambiente éextremamente propício à vida marinha e possui osmanguezais mais preservados do País. Próximo dessesmanguezais podemos ver saliências como se fossemmorrinhos de conchas: são os sambaquis ou casqueiros.

Na Ilha do Cardoso, uma ou outra casa nos chamará aatenção. Mais adiante a fisionomia da ilha se altera: emlugar dos morros cobertos por imensas árvores, uma planí-cie com cerca de 500 metros separa o canal do mar. Daí atéo final da ilha, algumas pequenas vilas de pescadores com-

Cananéia

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pletam o cenário. Marujá, a maior delas, destaca-se por suabeleza natural e pelo modo de vida de seus moradores –profundos conhecedores do ambiente que habitam. Esseconhecimento pode ser observado a partir de um instrumen-to de pesca extremamente eficiente: o cerco.

A riqueza ambiental continua em direção ao Paraná, masnós nos dirigiremos até alguns pontos interioranos do Valedo Alto Ribeira, como Apiaí e Iporanga. Ali, está localizadoo Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira – Petar, onde orelevo de rochas calcárias, comum nesta região, possibilitouo desenvolvimento de inúmeras cavernas, grutas e abismos.

A visão que se tem na entrada e no interior de uma cavernaé fascinante. Além do Petar, que se destaca por possuir omaior número de cavernas, também no Parque EstadualIntervales e no Parque Estadual de Jacupiranga – com aconhecida Caverna do Diabo – podemos contemplar essetipo de formação.

. Muito bonito o litoral sul, porém...Apesar da riqueza ambiental, histórica e cultural do Vale

do Ribeira esta região esteve, na maior parte do tempo, àmargem do desenvolvimento do Estado de São Paulo. Váriasatividades econômicas que se estabeleceram com sucessoem outras regiões, foram tentadas também ali, mas, comvias de acesso escassas e um tipo de solo pouco propício

Os sambaquis são amontoados de con-

chas, instrumentos e ossadas humanas encontradas

em algumas áreas perto de lagoas e estuários. Essas

formações estão sendo pesquisadas desde o início

deste século, e o resultado permite afirmar que povos

primitivos habitaram a região, há mais de seis mil

anos! O estudo do material revelou ainda que esses

povos desconheciam a agricultura, viviam da coleta,

pesca e caça; utilizavam instrumentos bastante rudi-

mentares; instalavam-se em locais onde poderiam fa-

cilmente dispor de alimentos; ali permaneciam por cerca

de 40 anos e depois mudavam-se, em função do es-

gotamento temporário dos recursos. Ainda não se sabe

ao certo a causa do desaparecimento do “homem do

sambaqui”. Guerras com povos mais adiantados ou

alterações no ambiente natural? Não se sabe... O que

se sabe é que esses achados constituem verdadeiras

relíquias arqueológicas, pois por meio deles é possível

obter-se informações acerca do modo de vida do ho-

mem brasileiro daquela época.

S A M B A Q U I

Caverna Morro Preto, uma das cavernas mais visitadas do Núcleo Santana, situada noParque Estadual Turístico do Alto Ribeira – Petar.

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para a agricultura, os resultados foram inexpressivos.Assim, seus municípios mantiveram-se centrados basica-mente numa agricultura de subsistência e no extrativismodos recursos naturais, por meio da pesca, da coleta vegetale da extração mineral.

Não somente o isolamento geográfico, mas também abaixa densidade demográfica entre outros fatores favorece-ram, na década de 70, que integrantes de movimentos decontestação ao regime políticoinstalado no País, em 1964, ali serefugiassem e treinassem gruposguerrilheiros. Tal atividade foienergicamente reprimida peloExército, que aniquilou a guerri-lha. Porém, a partir desse episó-dio, as autoridades. governamen-tais voltaram sua atenção para aregião e passaram a investir eminfra-estrutura básica, buscandodiminuir o isolamento e evitarcom isso o risco de repetição doacontecido.

A retomada do desenvolvimen-to deu-se através de medidas concretas de incentivo à agri-cultura, à pesca e à ocupação imobiliária, que incluíram aconstrução de inúmeras obras, principalmente estradasvicinais14, abrindo o acesso à região.

Muito antes disso, o litoral sul e o Vale do Ribeira jáeram palco de problemas sociais muito graves, que perma-necem até hoje sem solução. Na base deles encontra-se aquestão fundiária, ou seja, a questão da posse legítima edocumentada das terras. A situação é complexa, porqueexistem ali inúmeras áreas das antigas províncias do Impé-rio, que passaram, a partir de 1891, a constituir territóriodos Estados – as terras devolutas –, além de pessoas queocupam as terras antes dos processos legais de regulamen-

tação – os posseiros. Não bastando, existem, ainda, terrascuja documentação em cartório confere propriedade a maisde uma pessoa. Questão antiga na região, agravou-se com ainstalação da infra-estrutura viária e turística. A conseqüentevalorização das terras aprofundou conflitos fundiáriosantigos, que resultaram em concentração das terras nas mãosde poucos, e na sistemática expulsão e marginalização dosantigos moradores. Com isso, estava aberto o caminho para

a especulação, além do aprovei-tamento pelo setor turístico-imobiliário, que acabou ocupan-do áreas sem aptidão para aconstrução, como é o caso dosmangues e da restinga, e, demodo especial, muitas áreas daIlha Comprida.

Isolamento, pobreza, ques-tões fundiárias, Mata Atlânticaquase intocada, grande volumede água, ecossistemas preciosos,são algumas das expressões quedefinem este último ponto danossa viagem – o litoral sul e o

Vale do rio Ribeira de Iguape.

É tempo de refletir

O caminho para a busca de soluções talvez se encontre naresposta a algumas perguntas.

Qual a vocação desta região, cuja forma de desenvolvi-mento resultou na preservação espontânea de alguns espaçosnaturais extremamente importantes para o equilíbrioambiental da região?

Qual é a saída para desenvolver e, ao mesmo tempo,manter a riqueza ambiental?

Há, de fato, oposição entre desenvolvimento econômico

A Ilha Comprida – litoral sul – teve suas restingasdesmatadas para dar lugar a loteamentos.

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e conservação dos recursos naturais?É justo a população de uma região considerada patri-

mônio de toda a humanidade arcar sozinha com o ônus deconservá-la?

Existem mecanismos políticos e econômicos que permi-tam aos moradores da região desenvolver atividades econô-micas compatíveis com a conservação da riqueza do seuambiente?

Responder a essas e a outras perguntas com ações efeti-vas é o grande desafio que se coloca para todo aquele que seinteressa e tem responsabilidade sobre o futuro da conserva-ção da Mata Atlântica no Estado de São Paulo.

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A capivara é o maior roedor do mundo e vive próxima a lagoas e áreas alagadas, porque só defeca na água.

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E neste ponto vamos começar a fechar o círculo da nossa trajetória. Até aqui vimos como e por que este conjunto

de florestas sofreu tamanha devastação. Agora vamos vercomo o homem tem reagido frente ao desafio que significaequilibrar desenvolvimento e conservação. Muitas iniciati-vas no sentido de defender os recursos naturais surgiram,fruto não apenas de ações individuais, mas de decisõesoficiais, expressas em leis.

É verdade que os objetivos da conservação dessesfragmentos de floresta ampliaram-se, embora as interven-ções para recuperar a mata ainda sejam pontuais. Não étarefa fácil. Requer muita pesquisa, colaboração das pes-soas e fundamentalmente dinheiro para investir.

São muitos os objetivos dessa recuperação. Um deles éatenuar pressões sobre os remanescentes, criando umaespécie de reserva complementar de matérias-primas, paraevitar o saque nas matas ainda conservadas. Outro é o derecuperar para garantir qualidade ambiental, recursoshídricos, biomassa vegetal etc. Existe ainda uma propostade criação de zonas-tampão para proteção de áreas singula-res que conservam espécies originais da fauna ou da flora.Para entender bem esta questão, vamos discutir um poucoo desmatamento.

ÚLTIMA ESTAÇÃO : RECUPERANDO A MATA PERDIDA

O desmatamento tem uma história

O desmatamento tem sido um dos principais problemaspara o que ainda restou da Mata Atlântica.

As matas atlânticas foram intensamente destruídas aolongo da história brasileira. Originariamente, elas ocorriamao longo do litoral brasileiro, de norte a sul, e ocupavamtambém grandes extensões de terras do interior nas RegiõesSudeste e Sul. Hoje, restam apenas 5% de um total de1.000.000 de quilômetros quadrados dessas matas, locali-zados em sua maior parte no Estado de São Paulo.

Se observarmos bem, perceberemos que as maiorescidades brasileiras, onde vivem cerca de 80 milhões depessoas, ou mais de 50% da população brasileira, locali-zam-se em áreas em que dominavam essas matas. O mes-mo acontecendo com os grandes pólos industriais, quími-cos, petroleiros e portuários do Brasil, que são responsá-veis por 80% do PIB nacional.

O nosso Estado, por exemplo, fica numa região dedomínio das matas atlânticas. Foi aqui que elas maisavançaram interior a dentro, por isso é que o seudesmatamento é muito significativo. No interior de SãoPaulo, quase toda a vegetação de florestas tropicais foi

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dizimada, restando apenas algumas manchas abrigadas emUnidades de Conservação, que significam 3% da coberturavegetal original. Embora os maiores desmatamentos te-nham ocorrido no ciclo cafeeiro, hoje ainda temos umaforte tendência de utilizar áreas de floresta para construirhidrelétricas e expandir investimentos turísticos imobiliá-rios, principalmente na zona litorânea.

No século XVI, o Estado de São Paulo possuía aproxi-madamente 81,8 % de seu território coberto por florestas,segundo estudo de Mauro Victor (1975), abrangendo umavariedade de matas determinada pelo clima e pelo relevo,presentes desde as escarpas litorâneas até as barrancas doRio Paraná. Estas florestas, pouco estudadas ecologica-mente, receberam denominações diferentes, conformea condição de localização e clima em que se desenvolve-ram ou, simplesmente, conforme a sua fisionomia.Assim, é possível encontrar na literatura, principalmentenos relatos de botânicos e viajantes naturalis-tas, designações, tais como: florestas pluvi-ais (as da faixa litorânea), mesófilas deinterior, de altitude (nas regiões serranas),matas frias de araucária (no planalto atlânti-co), entre outras.

Várias destas formações foram pratica-mente extintas durante os diferentes cicloseconômicos que comandaram a agricultura, aindustrialização e a urbanização. Atualmen-te, as chamadas mesófilas e as matasde araucárias, destruídas com a expansãodo café, estão representadas por pequenasmanchas isoladas.

No sudeste brasileiro, à época do ciclo docafé, os desmatamentos progrediram pelaregião litorânea, a partir da fronteira com oEstado do Rio de Janeiro, alcançando o Valedo Rio Paraíba. A cafeicultura expandiu-se

para o interior, abrangendo quase todo o Estado, e nos anos20 deste século, a devastação já havia reduzido a coberturaoriginal a 44,8% de sua área total. Na década de 50,restavam apenas 26%. Hoje as estimativas apontam rema-nescentes de cobertura florestal em torno de 8,3% paratodo o Estado. Outras culturas também colaboraram para aextinção das florestas paulistas, como a do eucalipto e dopinheiro do Caribe, a da cana-de-açúcar e as pastagens.

Estas estatísticas devem ser olhadas com cuidado poisse referem também a uma média para o Estado. No Vale doRibeira encontram-se as maiores extensões de florestasremanescentes, significando uma porcentagem de mais de50% de sua área original.

Flores que sinalizam a presença de mata secundária irrompemdo majestoso dossel verde da Mata Atlântica.

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Evolução da perda de cobertura florestal no Vale doRibeira – Estado de São Paulo.

Ano Área (x100 ha) Área* (%)

1500 15.000 94,5

1854 14.990 94,4

1886 14.960 94,2

1907 14.940 94,1

1920 14.900 93,8

1935 14.720 92,7

1952 14.590 91,9

1962 13.930 87,8

1973 11.270 71,0

1985 8.680 54,7

1990 8.540 53,8

* Relativo à área total do Estado.Fontes: Victor (1975) 1500 a 1973; Fundação SOS Mata Atlântica(1992); 1985 a 1990

A explicação para essas diferenças na intensidade dedesmatamento encontra-se no fato de que o Vale do Ribei-ra nunca acompanhou os ciclos econômicos dominantes noEstado, configurando-se sempre como uma região deeconomia marginal. Somente a partir da década de 70,com a abertura de estradas, é que a agricultura da bananase expandiu pelo centro do Vale, ao mesmo tempo que osmunicípios ao longo da rodovia apresentavam um cresci-mento urbano. Recentemente, quase todas as áreas deflorestas remanescentes nesta região foram incluídas emUnidades de Conservação, que abrangem cerca de 58,51%das terras florestadas do Vale.

As florestas remanescentes que recobrem a Serra do Mare de Paranapiacaba em São Paulo têm como característicafundamental uma elevada biodiversidade, reflexo de ummosaico natural que se desenvolveu em conseqüência defatores como altitude, topografia e tipo de solo. Essas dife-rentes formações florestais interligam-se por complexosprocessos ecológicos. Matas de encosta e de montanhafazem transição, por um lado, com as das planíciesaluviais e marinhas e, por outro, com formações mais

Áreas cobertas por remanescentes de mata atlântica e ecossistemas associados no Estado de São Paulo.

1985 1990 Incremento Decremento

Classe ha %* há %* ha %** ha %**Floresta 1.792.629 7,42 1.731.472 7,16 563 0,03 61.720 3,44Restinga 175.936 0,73 174.793 0,72 0 0,00 1.153 0,66Mangue 16.460 0,07 16.359 0,07 0 0,00 101 0,61

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secas do reverso da serra; tudoisso permeado por manchas decapoeirões e matas secundárias deextensões variáveis, ainda mal conhe-cidas em profundidade.

A complexidade ambiental e abiodiversidade também são resultadoda ação, sobre essas florestas, daspopulações que se sucederam, comovimos durante esta nossa viagem.

. Consertar, enquanto é tempoExistem no Brasil várias iniciativas

de recuperação florestal em áreasdegradadas pelo desmatamento, mine-ração, urbanização, agropecuária,barragens e estradas. Depois da grandeonda preservacionista da década de 80,os anos 90 parecem marcados pelabusca de alternativas de recuperação.Além dos objetivos ecológicos, arecuperação de florestas também tem afinalidade de buscar alternativas paraaliviar as pressões humanas sobre o queresta de florestas no País.

A tendência atual é direcionar os esforços de conservaçãonão apenas para aspectos preventivos, punitivos ou compen-satórios, mas reabilitar áreas degradadas também pararecuperar as qualidades ecológicas e estéticas, e, em muitoscasos, para garantir a segurança da população do entornodessas áreas.

Os projetos de recuperação representam também umaoportunidade de desenvolver novos conhecimentos sobredinâmica ambiental e capacitar diferentes agentes para o usosustentável dos recursos. Tais projetos, quando feitos com aparticipação da comunidade, ganham uma projeção ainda

maior no campo da educaçãoambiental, ao conscientizar apopulação contra o desperdícioe a favor da recuperação e respeitoà natureza.

Outra dimensão dos projetos derecuperação ambiental é a possibili-dade de orientar os estudos sobreconservação florestal para finalida-des múltiplas, sejam elas corretivas,ecológicas ou produtivas. Atualmen-te, crescem as possibilidades técni-cas de propor alternativas combina-das, buscando responder a necessi-dades sócioambientais legítimas,uma vez que muitas áreas críticassão as mesmas onde a ocupaçãohumana é mais intensa. Neste caso,um projeto de recuperação devecumprir função social mais ampla,indo além da estética da paisagem eda ecologia para alcançar tambémuma dimensão econômica.

A natureza também tem seus métodos

Conhecemos pouco sobre o funcionamento de nossasflorestas, mas a urgência do problema da degradação temincentivado as pesquisas neste campo. Como os conheci-mentos adquiridos ainda não permitem generalizações,alguns estudiosos consideram que as intervenções de mane-jo ainda são empíricas. Assim, cada pesquisa se convertenum experimento.

Em relação às florestas naturais é preciso decidir, porexemplo, quais delas podem e devem ser manejadas parafinalidades econômicas. Um ponto fundamental neste tipo

Regeneração natural da Mata Atlântica com Tibouchina.Caminho do Mar, Cubatão/SP.

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de manejo deve ser o conhecimento de como e por quedeterminadas plantas ocorrem no bosque, distribuem-senele, qual o seu potencial de exploração e quais as suasnecessidades para a manutenção dos processos reprodutivos,de crescimento etc.

Algumas experiências de manejo já foram acumuladas e,em geral, sua proposta é a de otimizar as práticas da popula-ção local. É o caso da exploração da castanha-do-pará, daborracha, das fibras e frutos em reservas extrativistas.

Outro ponto muito importante nesta questão de recupera-ção é que as florestas podem se recuperar naturalmente.Vejamos como isto acontece.

Quando por alguma razão uma floresta tropical é derru-bada, o clima daquele pedaço, chamado de microclimaoriginal, desaparece. O solo fica diretamente exposto à luzdo sol, o ar e o solo secam e a temperatura sofre flutuaçõesacentuadas entre o dia e a noite.

Certas espécies de árvores pioneiras estão adaptadas paratirar proveito desta situação: crescem rápido, porém sua vidaé breve; morrem antes dos quinze anos. Uma segunda ondade pioneiras que também exige luz abundante, cresce comrapidez, porém vive mais tempo, talvez mais de um século.Estas árvores fixam grandes quantidades de nitrogênio,desempenhando um importantíssimo papel na recuperaçãodas reservas de nutrientes. Elas criam as condições para oretorno das espécies da fase madura.

Essas fases de sucessão duram tempos variáveis confor-me o tipo de floresta, intensidade de degradação e principal-mente ao tipo de pioneiras que se instalam. Segundo algunsautores, na Mata Atlântica, a fase de plantas secundárias,antes da idade madura da floresta, pode durar até 200 anos emesmo uma fase de secundárias pode se repetir várias vezes.

A eliminação de toda a vegetação com tratores podetrazer sérias conseqüências para o processo natural derecuperação. Os solos podem se tornar empobrecidos parasempre, o que pode transformar uma floresta rica e exube-

rante numa vegetação de ervas ou arbustos secos.As mudanças no clima também influem. Se as plantas de

uma floresta madura foram geradas em períodos de climamais úmidos do que o atual, nunca se formará outra florestaigual à que foi destruída, pois o seu ponto ótimo em termosde clima já teria deixado de existir.

A delicada trama da recuperação

As estratégias para a recuperação de matas atlânticas têmrevelado como esta tarefa é delicada. Vários experimentosvem se desenvolvendo há mais de duas décadas em áreas daSerra do Mar que sofreram deslizamentos de encosta. Umdos primeiros projetos de recomposição florestal foi implan-tado na Serra do Mar, no município de Cubatão.

Tudo começou quando, em meados da década de 80, umgrupo de trabalho da Secretaria da Agricultura concluiu,depois de uma ampla avaliação, que:

• as informações disponíveis para recompor a vegetaçãonão permitiam a proposição de medidas concretas eemergenciais, visando a recuperação e o repovoamento deflorestas na encosta da Serra do Mar;

• uma das medidas urgentes era fazer um diagnóstico dasituação ambiental que informasse sobre as condições davegetação, da serapilheira, dos solos e da água, nas áreasdegradadas pela emissão de poluentes do complexo indus-trial de Cubatão;

• uma forma emergencial de conter os processos erosivosera a introdução experimental de espécies exóticas, adaptá-veis ao ambiente degradado;

• deveriam ser estimuladas todas as iniciativas institu-cionais, das universidades e dos órgãos de governo, tendoem vista a urgência do problema e as conseqüências nefastaspara a população local, caso os movimentos de massaviessem a ocorrer no período das chuvas, naquela região.

Uma das primeiras propostas causou uma avalanche de

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críticas por parte de pesquisadores e ambientalistas. Aproposta consistia no seguinte: seriam implantados projetosemergenciais com gramíneas, para conter o escoamentosuperficial da água e preparar o solo para receber espéciesflorestais nativas.

Uma grande polêmica nascia em torno da questão darecomposição e recuperação ambiental. De um lado, coloca-vam-se aqueles que defendiam um estilo de recuperação queutilizava plantas exóticas e nativas, e até mesmo obras deengenharia, para controlar o risco ambiental de acidentes degrandes proporções, como o que já havia ocorrido na Serrado Mar, em Caraguatatuba, 1978. Nessa ocasião, durante overão, houve um grande deslizamento de terra, que destruiumoradias, matando pessoas e gerando uma situação decalamidade pública.

De outro lado, posicionavam-se aqueles que considera-vam essas soluções como paliativas e de resultados duvido-sos. Sua sugestão era experimentos de reflorestamento,considerando aspectos ecológicos da floresta já conhecidosnas academias. O princípio desta proposta era procurarimitar a própria floresta, auxiliando-a nos seus processossucessórios naturais. A recomposição, neste caso, deveriaapoiar-se na flora nativa da Serra do Mar e nos seus própriosmecanismos sucessórios. O problema era que pouco seconhecia sobre esse processo para empreendê-lo com segu-rança, além do que, a emissão dos gases tóxicos dasindustrias, que era a principal causa da destruição florestal,foi combatida com timidez. Era preciso combater as causase não os efeitos da degradação.

Estes experimentos iniciais, se surtiram pouco efeito,muito contribuíram para multiplicar experiências em outrasáreas e acumular conhecimentos sobre os procedimentospara recuperação de áreas degradadas por poluição. Signifi-caram o pontapé inicial para uma série de experimentos derecomposição florestal e pesquisas sobre sucessão ecológicae fitossociologia na Mata Atlântica que viriam em seguida.

Ainda na década de 80, surge o primeiro projeto nestesentido, utilizando uma metodologia sofisticada de disper-são artificial de sementes de espécies nativas, próprias dasucessão da Mata Atlântica. Estudos prévios determinaramquais espécies eram resistentes a ambientes degradados porpoluição. As sementes destas plantas foram preparadas emlaboratório, num processo chamado de peletização.Simplificadamente esse processo consiste em juntar umgrupo de sementes num gel protetor em forma de pelete.Um helicóptero despejava chuvas desses grupos de semen-tes nas encostas de Cubatão. O processo foi válido, masrecebeu muitas críticas, quanto aos custos e às vinculaçõespolíticas a que esteve submetido. Outros pesquisadores,utilizando técnicas mais baratas de cultivo de plântulas emviveiros e replantio manual dessas mudas, obtiveram resulta-dos muito próximos.

O papel do Estado na tragetória da conservação

O poder público desenvolve ações concretas para aconservação do ambiente, procurando defender a vegetação,disciplinar o extrativismo ou proteger os mananciais. E essapreocupação com os recursos naturais é muito antiga, embo-ra os motivos que lhe deram origem fossem muito diferentesdos atuais, refletindo preocupações e interesses próprios docontexto de uma outra época.

Todas as medidas no sentido da proteção da naturezasempre expressam as condições políticas, sociais, econômi-cas e culturais que definem a relação entre poder público,sociedade civil e meio natural, naquele determinado mo-mento. Por exemplo, no Brasil colonial, as medidas deproteção das florestas visavam resguardar o monopólio daCoroa Portuguesa sobre os recursos. E as preocupaçõesiniciais giravam em torno do aproveitamento econômico eda sua possibilidade de uso. A proteção aos mananciaisseguia a linha da conservação dos recursos hídricos com

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fins exclusivos de abastecimento.Foi assim que se criou na cidade de São Paulo o Par-

que da Cidade, na Serra da Cantareira, onde se localizavao ponto de captação de água para o abastecimento domunicípio.

Alguns episódios desta história demonstram açõesoficiais no sentido da proteção das riquezas naturais. Porexemplo:

• no século XVII, Maurício de Nassau apresentou medi-das para proteger as florestas da Região Nordeste do País;

• no século XVIII, em 1796 e 1797, as Cartas Régiasdecretaram como propriedade da Coroa Portuguesa todas asmatas e arvoredos da borda da costa ou dos rios, utilizadospara o transporte de madeira. Alertavam para a necessidadede conservação das florestas;

• no século XIX, em 1821, José Bonifácio de Andrada eSilva propôs a criação de um setor administrativo responsá-vel por matas e bosques; em 1876, André Rebouças propôs acriação de parques nacionais na Ilha do Bananal e em SeteQuedas; em 1896, foi criado o Parque da Cidade ou ReservaFlorestal da Cantareira, em São Paulo;

• no século XX, na década de 30, tivemos alguns fatos:em 1934, o Código Florestal e o Código das Águas; em1937, a criação do Parque Nacional de Itatiaia, no Rio deJaneiro, e a legislação de proteção do patrimônio histórico eartístico nacional; e em 1939, a criação do Parque Nacionalde Iguaçu (PR).

Uma das formas que o Estado possui para proteger osrecursos naturais é declarar uma determinada área ou localcomo Unidade de Conservação, passando assim a ser res-ponsável pelo que ocorre dentro dos seus limites.

A demarcação de áreas naturais esteve, até há poucotempo, mais ligada à idéia de reserva – local destinado aexperimentos científicos ou ao aproveitamento da madeirapara a produção e consumo – do que à concepção de conser-vação ecológica, com o objetivo de intervir minimamente na

paisagem. Nas reservas introduziam-se espécies vegetaisexóticas, como o pínus e o eucalipto, visando a produção demadeira, e as pesquisas eram conduzidas para verificar aadaptação dessas espécies ao novo habitat. As espéciesnativas eram protegidas com a intenção de garantir estoquespara o futuro.

Uma área é escolhida para receber legislação que aproteja, quando se revela de interesse ecológico e cultural.Atualmente, o conceito de unidade de conservação é bastan-te abrangente; envolve áreas que abrigam ambientes ecologi-camente importantes, representativos do que restou davegetação que outrora cobria grande parte do território, cujadestruição pode ameaçar de extinção a fauna e a flora.Envolve também locais onde existem monumentos oucomunidades cujo modo de vida e relação com o meionatural representam um patrimônio a ser conservado.

. Como se implanta uma Unidade de ConservaçãoProteger oficialmente uma área ou um monumento

requer uma série de medidas. Após defini-la, realiza-se umestudo, em que são levantadas as características naturais, ograu de ocupação humana e demais aspectos do trecho emquestão. Esse estudo orienta a escolha do melhor tipo deproteção para aquela área, ou seja, a categoria de manejomais adequada.

Há várias categorias de manejo: parque estadual, estaçãoecológica, área de proteção ambiental e outras. A áreaprotegida é enquadrada na categoria mais apropriada às suascaracterísticas, através de um diploma legal. Essa etapa émuito importante, pois qualquer falha no estudo ou, princi-palmente, a sua ausência podem acarretar um enquadramen-to inadequado que dificultará a implantação.

No ato da criação, é necessário demarcar a área, definirseus limites. Esse trabalho de gabinete e de campo devecriar condições, tanto para uma fiscalização eficiente do usodos recursos naturais, como para o levantamento da situação

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fundiária. Essa é a primeira etapa do processo de regulariza-ção fundiária. Nos casos em que o Estado deve tornar-seproprietário da área, é preciso indenizar ou propor permutasaos donos das terras. Para tanto, o governo necessita dedocumentação que comprove claramente a propriedade. Istopode ser difícil e demorado no caso de terras devolutas oude propriedade indefinida, além do que, a indenização emgeral exige do Estado recursos financeiros vultosos.

Outro passo para a implantação de uma Unidade é definira sua utilização. Isto é feito por meio de um plano de mane-jo que estabelece um zoneamento que pode destinar áreaspara preservação constante, pesquisa e visitação pública.Esse processo deve envolver todos os interessados. OsPlanos de Gestão têm sido uma tentativa de definir as dire-trizes básicas para esse manejo, a partir da realidade local,incluindo os conflitos de interesse. Finalmente, para queuma Unidade de Conservação possa funcionar, é necessáriodotá-la de infra-estrutura administrativa adequada aos seusdiferentes objetivos.

Essas fases de implantação não acontecem obrigatoria-mente na ordem em que foram explicadas e isso depende dasituação real de cada Unidade.

A Mata Atlântica é protegida por diferentes categorias demanejo, tais como:. Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Parque Nacional. Parque Estadual. Estação Ecológica. Reserva Biológica. Área de Proteção Ambiental. Área de Relevante Interesse Ecológico. Área Natural Tombada. Área sob Proteção Especial. Corredores Ecológicos. Terras Indígenas. Reservas Particulares do Patrimônio Nacional

Aproximando o foco: aproteção da Mata Atlântica

A Mata Atlântica na Serrado Mar começou a ser protegi-da em 1935, com a criação daReserva Estadual de Pilões ouQueiroz. Dessa data até adécada de 70, a idéia deproteção começou a incluiráreas que se estacavam porsua beleza natural.

A partir da década de 70,um importante conceitopassou a ser introduzidonas estratégias de conserva-ção: é o conceito de áreascontínuas, que garantem umaárea de vida extensa para as espécies da fauna e da flora. OParque Estadual da Serra do Mar, criado em 1977, fruto dajunção de 14 áreas protegidas, é um ótimo exemplo dessaidéia inovadora.

Nos anos 80, a criação de Unidades de Conservaçãoligou-se cada vez mais à necessidade de proteção ecológicadas áreas naturais, o que se traduz por uma preocupaçãomaior com o fato de que os recursos naturais se esgotam epodem extinguir-se.

Um passo decisivo para a conservação da Mata Atlântica,por exemplo, foi dado a partir da criação da Estação Ecoló-gica Juréia-Itatins, pelo governo federal. O objetivo dessamedida era reservar a área para estudos que subsidiariam aimplantação de usinas nucleares, como parte do programaenergético do País. A opinião pública, contrária à presençade usinas nucleares em local tão preservado, mobilizou-secontra o empreendimento. E embora já existissem algumas

Q U A R E S M E I R A

A quaresmeira, jacatirãoou manacá-da-serra, cresce emabundância na Mata Atlântica.Entre milhares de espécies distri-buídas principalmente nas regi-ões tropicais, a quaresmeira éuma planta da vegetação secun-dária, cujo colorido rosa, roxoou branco, destaca-se do imensodossel verde. É uma planta orna-mental e esse efeito pode ser apre-ciado também nas ruas das cida-des onde é utilizada paraarborização.

No Estado de São Paulo,a quaresmeira foi introduzida,pois sua área original de distri-buição localiza-se acima do Es-tado do Rio de Janeiro.

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entidades dedicadas à defesa doambiente, essa iniciativa emdefesa da Juréia propiciougrande participação, incentivouo surgimento de vários grupos efez crescer o movimentoambientalista. Depois disso, aatuação em benefício da con-servação de áreas naturaispassou a ser mais significativa,ultrapassando os limites daque-la região.

No período de dez anos,entre 1977 e 1987, muitasUnidades de Conservaçãoforam criadas na Mata Atlânti-ca, com maior ou menor restri-ção de uso. Integradas a umaestratégia ampla de conserva-ção, que tem como eixo centralo planejamento ambiental, elasprotegem os recursos naturais eprocuram compatibilizar o desenvolvimento de atividadeseconômicas com as características ambientais locais.

O tombamento da Serra do Mar, em 1985, foi ocoroamento desse novo conceito de conservação queprocura proteger uma grande mancha de Mata Atlântica.Ampliando o território protegido, instalou uma zonade contenção do processo de degradação, ou deocupação desordenada, junto às áreas de proteçãointegral do ambiente.

Assim, a Mata Atlântica no Estado de São Paulo é res-guardada através de vários tipos de Unidades de Conserva-ção, que vão ajudando a configurar a área contínua deproteção, como podemos observar no mapa das páginas 72 e73. O planejamento, a fiscalização e a educação são outros

poderosos instrumentos de proteção de que o poder públicodispõe para a defesa das áreas naturais.

O planejamento ambiental estabelece medidas que defi-nem o melhor tipo de atividade econômica a ser desenvolvi-da em determinadas áreas.

A fiscalização ambiental pode atuar de modo preventivomediante orientação, ou punitivo por meio de penalidadesque variam conforme o estabelecido pela legislação.

A educação ambiental tem um vasto caminho por ondeenveredar para cumprir seu papel, a saber: através de campa-nhas de mobilização com alvos específicos, como a limpezade praias ou a prevenção de incêndios florestais; dandoapoio à rede formal de ensino; atuando na formação deagentes multiplicadores; e utilizando as áreas naturais

Estação Ecológica Juréia-Itatins.

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protegidas enquanto espaço para divulgação de informações.

Uma pergunta final

Depois de tudo o que vimos e dos lugares por ondepassamos, talvez reste ainda uma pergunta: por que preser-var a Mata Atlântica?

A esta altura cabem respostas que, embora concisas,traduzem a abrangência das questões que quisemos levantar:

. as plantas, os animais e o homem têm direito à vida;

. na Mata Atlântica existem espécies da fauna e da floraque não são encontradas em nenhum outro conjunto deflorestas: é direito das gerações futuras conhecê-las e saberusá-las;

. a Mata Atlântica concentra grande volume de água –elemento indispensável à vida –, que nas próximas décadasse tornará escasso;

. muitas plantas e animais destas matas ainda são desco-nhecidos. É preciso dar tempo para que suas possibilidadesalimentares e terapêuticas sejam pesquisadas;

. esse espaço natural constitui-se num precioso laborató-rio de experiências, cujos resultados podem conter as respos-tas para futuros problemas ecológicos;

. a sua paisagem oferece oportunidade de lazer e descan-so, em contato com uma extrema beleza natural;

. a Mata Atlântica tem potencial para tornar-se umaimportante fonte de recursos econômicos;

. as populações tradicionais que ali vivem possuem algoimportantíssimo a nos ensinar: a forma branda de explorar osrecursos da mata, a partir da qual novas tecnologias podemser aperfeiçoadas. Essas populações têm direitos sociais queprecisam ser respeitados;

. a Mata Atlântica é hoje reconhecida como patrimôniomundial;

. o homem é natureza; faz parte dela. E qualquer quebradesta unidade põe em risco a vida na Terra.

F A U N A E F L O R A E M E X T I N Ç Ã O

A extinção biológica de uma espécie significa o seudesaparecimento completo devido à não-adaptação às mudançasambientais. Trata-se de um processo natural que existe desde quesurgiu a vida no planeta, e que se define pela impossibilidade deuma espécie manter-se por reprodução. O que caracteriza a extinçãoé a morte do último casal, o enfraquecimento que impede os repre-sentantes de se reproduzir ou a taxa de mortalidade maior que ataxa de natalidade.

Alguns fatores que podem ser responsáveis pelaextinção:

a competição entre os seres vivos por espaço, alimento etc.;o isolamento geográfico de uma população muito pequena;as alterações geológicas e climáticas;a ação predatória do homem.

A ação do homem sobre a natureza, hoje, é de tal or-dem que a palavra extinção terminou por ganhar um significadodramático. Tornou-se sinônimo de desaparecimento prematuro erepentino de plantas e animais que não estão em processo naturalde desaparecimento. Isto porque os ecossistemas foram muito re-duzidos em área ou foram transformados por ações predatórias in-diretas, tais como o desbaste seletivo de espécies, a ponto de cau-sar problemas de espaço ou alimento para os que vivem neles.

Infelizmente há muitas espécies de peixes, aves e in-setos que já desapareceram sem que pudéssemos sequer conhecê-las. Para evitar que isto continue acontecendo é necessário voltaras atenções para espécies em perigo de extinção, que devem serobjeto de pesquisa, como já vem acontecendo com o jacaré-de-papo-amarelo e o mono-carvoeiro.

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1. Intemperismo – Processo que ocasiona a desintegração ea decomposição dos minerais em geral, graças à ação dechuvas, ventos, neve e seres vivos.

2. Florestas tropicas úmidas – Associações vegetais degrande porte, relacionadas a climas quentes e úmidos. É aformação vegetal de máximo desenvolvimento na terra.

3. Caule estolonífero – Caule lateral subterrâneo, delgado,em geral longo, que nasce na base de um caulepreexistente e se expande, enraizando-se em certos nós egeralmente formando ramos aéreos. Este caule é capaz deformar outros ramos da planta.

4. Nutrientes – Substâncias ou elementos químicos quefornecem matérias ou energia necessária para um organis-mo; recurso alimentar.

5. Sedimentos – Material originário da destrição (decom-posição) de qualquer tipo de rocha ou material de origembiológica, que é transportado e depositado na superfície dequalquer terreno.

6. Pneumatóforos – Raiz aérea, submersa ou exposta. Raizrespiratória do mangue siriúba.

7. Rastejo – Processo de movimentação do solo. É maiscomum quanto mais ingreme é a encosta, que reflete o seugrau de instabilidade. São indicadores de rastejo o conjun-to de árvore inclinadas, blocos deslocados e degraus naencosta.

8. Conhecimento empírico – Conhecimento baseado naexperiência pessoal ou coletiva.

9. Atracação – Ato de deixar a embarcação à terra.

10. Assorear – Obstruir – por areia ou por sedimentosquaisquer – um rio, canal ou estuário, tornando-os maisrasos.

11. Dragagem – Remoção de material sólido do fundo deum ambiente aquático.

12. Mananciais – Nascentes de água; fonte. Conjunto denascentes.

13. Complexo estuarino-lagunar-Iguape-Cananéia-Paranaguá – Região da costa paulista onde ocorre o en-contro da vários rios de água doce com a água do mar.Formam-se canais de água salobra, delimitados por cor-dões de sedimentos, onde se desenvolve o mangue.

14. Estrada vicinal – Caminho ou estrada que liga po-voações próximas.

Notas:

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CRÉDITOS – FOTOS E FONTE DAS ILUSTRAÇÕESSERRA DO MAR: UMA VIAGEM À MATA ATLÂNTICA

Fotos:Adriana MattosoFoto pág. 30

Antonio GaudérioFotos págs. 13, 18, 21 e 27

Clayton Ferreira LinoFotos págs. 14, 54, 55 e 62

Elton M. C. LemeFoto capa

Igrécio Perez FloraFotos págs. 4, 52 e 53

Neréia MassiniFoto pág. 46

Sérgio PompéiaFotos págs. 15, 37, 43, 44 e 45

Sueli Ângelo FurlanFotos págs. 17 e 47

Wilson RizzoFotos págs. 29 e 33

Ilustrações: – Fontes:

- Página 19: Cadeia Alimentar 1 – Livro Serra do Mar – 2ª edição- Página 19: Rede Alimentar 2 – Livro Serra do Mar – 2º edição- Página 23: Livro Duas viagens ao Brasil. Hans Staden. Ed. Itatiaia

Edusp, 1988- Página 24: Quadro famílias indígenas – Livro Serra do Mar – 2ª

edição- Página 26: Uma partida de pesca – Fonte: Duas viagens ao Brasil,

Hans Staden. Ed. Itatiaia, Edusp, 1988- Página 28: À direita, Staden orando em agradecimento da realiza-

ção de um milagre, junto a uma cruz, erguida na aldeiade Ubatuba. À esquerda, mulheres trabalhando comseus filhos enfaixados às costas – Fonte: Duas viagensao Brasil. Hans Staden. Ed. Itatiaia Edusp, 1988

- Página 30: Calendário Agrícola de uma comunidade do Rio Verde.Estação Ecológica de Juréia-Itatins – Fonte:Equipe da Juréia – Instituto Florestal/SMA

- Página 42: Mapa de Cubatão – Fonte: Ab’Saber, A. N. Um exem-plo a não ser seguido. Ciência Hoje, v.I, nº 1. jul.ago.1982; baseado no livro Romagem pela Terra dosAndradas, de Costa e Silva Sobrinho

- Página 43: Mapa do Litoral Central – SMA/CPLA/DPAA/DPVI/SP- Página 47: Mapa do Litoral Norte – SMA/CPLA/DPAA/DPVI/SP- Página 51: Mapa do Litoral Sul – SMA/CPLA/DPAA/DPVI/SP

Agradecemos especialmente a Caetano Velosopela autorização da publicação da letra da músi-ca “Terra” (Caetano Veloso); copyright by Gui-lherme Araújo Produções Artísticas Ltda. (Adm.

por Warner/Chappel Edições Musicais Ltda.),todos os direitos reservados.