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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
NÁGELA ONOFRE DE SOUSA
SIGNIFICADOS PARA OS ADOLESCENTES E SEUS FAMILIARES SOBRE O ACOMPANHAMENTO DA FAMÍLIA NO PERÍODO DE INTERNAÇÃO
PROVISÓRIA
FORTALEZA - CE
2013
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NÁGELA ONOFRE DE SOUSA
SIGNIFICADOS PARA OS ADOLESCENTES E SEUS FAMILIARES SOBRE O ACOMPANHAMENTO DA FAMÍLIA NO PERÍODO DE INTERNAÇÃO
PROVISÓRIA
Monografia apresentada ao Centro de Ensino
Superior do Ceará, mantenedora da Faculdade
Cearense (FAC), como requisito parcial para a
obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.
Orientadora: Eliane Nunes de Carvalho
FORTALEZA – CE
2013
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Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
S725s Sousa, Nágela Onofre de
Significados para os adolescentes e seus familiares sobre o acompanhamento da família no período de internação provisória / Nágela Onofre de Sousa. Fortaleza – 2013.
74f.
Orientador: Profª. Ms. Eliane Nunes de Carvalho.
Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade Cearense, Curso de Serviço Social, 2013.
1. Adolescentes - famílias. 2. Atos infracionais. 3. Internação provisória. I. Carvalho, Eliane Nunes. II. Título
CDU 347.157
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Dedico este trabalho as pessoas mais importantes da minha vida, em especial minha mãe Suzana Nobre (in: memorian) que foi a grande responsável por essa conquista, ao meu noivo pela força e apoio, a minha grande família e amigos sem a qual esta realização não teria sido possível.
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AGRADECIMENTOS
Quando acreditamos em algo nos sentimos mais fortes e essa força agradeço a Deus
por sempre estar do meu lado e me iluminar em toda minha vida, seja nos momentos
difíceis ou nos fáceis, nunca me deixou sozinha.
A minha mãe Suzana Nobre (in memorian) que me deu o bem mais precioso, a vida,
me esperou com tanto carinho e me ensinou os primeiros passos, as primeiras
palavras, que me ensinou a ser mulher, mas continuar com meus sonhos de criança.
Muitas vitórias foram frutos de sua oração, a sua torcida foi maior que tudo, um cuidado
mais que especial, um jeito de amar tão sem igual. Que eu possa sempre sentir e ter
esse amor maior em todos os momentos de minha vida. Obrigada mãezinha por tudo,
você sempre será a razão da minha vida e um exemplo de mulher que eu quero ser, sei
que estas do lado de Deus e nunca vai me abandonar. Eu te amo para sempre.
Ao meu noivo Ermerson Sousa, que minha querida mãe me apresentou, tornando-se
essencial em nossas vidas, me sinto tão amada por você, obrigada meu amor pelo
apoio constante, e por não me deixar desistir do meu sonho, esse ano não foi nada fácil
pois perdemos nosso anjo, mas juntos vamos superar essa dor. Eu quero sempre estar
com você, eu te amo muito minha vida.
A minha querida vovó Maria Nobre que com suas sábias palavras influenciou no meu
sucesso, eu lhe agradeço pela ajuda em todos os momentos da minha vida. Passamos
por um momento muito difícil, mas juntas vamos superar, pois temos uma a outra, e
agora eu sou um pedaço da minha mãe para a senhora lembrar-se dela, a saudade
nunca vai passar vovó, eu te amo demais.
Ao meu ’’filho’’ peludo que me ajudou muito a superar a perda da minha mãe, me fez
companhia durante todos esses meses difíceis, obrigada neném você foi a coisa mais
linda que nos apareceu.
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Ao meu vovô que mesmo distante nunca deixou de estar presente em minha vida, além
de ser um exemplo de como um homem deve ser, eu te amo demais.
Aos meus queridos tios David Nobre, Saledna Nobre, Junior Nobre, Erica Sá e Solange
Nobre por acreditar que eu seria capaz de chegar aqui, obrigada tios pelas conversas e
risadas nos almoços em família, vocês são essenciais em minha vida.
A minha prima mais linda desse mundo Sabrina Keltia que eu tenho um amor
incondicional.
Ao meu padrasto Antônio Carlos, que foi um pai maravilhoso durante muitos anos de
minha vida, obrigada “toinho” pelos ensinamentos.
A minha amiga Nayane Felix nossa amizade começou nos primeiros dias de faculdade
e a cada dia sentia que a amizade era verdadeira e duradoura, obrigada amiga por
todos esses anos de companheirismo, agradeço também aos seus pais por me fazerem
sentir parte da família, nós sempre estaremos juntas, amo você.
A minha querida Itamara Firmino, se eu fosse contar todas as nossas histórias passaria
horas escrevendo, obrigada amiga pelos momentos únicos que passei ao seu lado,
quero que nossa amizade dure eternamente, amo- te hoje e sempre, sua mãe é como
se fosse uma mãe para mim, sua irmã, sua família toda faz parte da minha vida.
A minha amiga Lorena Suely que na verdade foi uma mãe durante esses anos de
faculdade, agradeço a oportunidade de te conhecer nessa nossa trajetória de
faculdade, valeu a pena os dias de cansaço, de tédio e exaustão, cada momento
compartilhado e vivido com muita intensidade valeu a pena. Amo você.
A todas as pessoas que conheci na trajetória de faculdade.
A minha orientadora, que durante algumas aulas suas ficava a observando e pensava
que queria ser assim quando crescer, obrigada pelo apoio e paciência durante esses
últimos meses, por acreditar na minha capacidade de conclusão deste trabalho.
A todos os maravilhosos professores que pude conhecer durante esses quatro anos de
faculdade.
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A minha sogra Luciene de Sousa e ao meu sogro Geraldo da Silva, por serem pessoas
com um coração enorme e por me acolherem quando perdi minha mãe, vocês são
muito importantes na minha vida.
As minhas cunhadas Dayse Vasconcelos que além de minha cunhada é uma grande
amiga, obrigada pelo apoio nos momentos difíceis e pela confiança que você me
deposita. A Daniele Maranhão a quem eu admiro muito pela garra em prol das suas
conquistas, obrigada por me ensinar a ser durona como você. A Márcia Cristina por me
ensinar a ser uma boa dona de casa. Quando olho para você lembro um pouco da
minha mãe, obrigada por tudo. Enfim, obrigada meninas por além de serem minhas
cunhadas, serem minhas irmãs e minhas amigas.
Aos meus cunhados Anderson Sousa e Rogério Sousa pelas longas conversas na
cozinha da casa da minha sogra
As minhas amigas de infância Tassiana Nobre, Rebeca da Silva, Bruno Lima, Iara
Bruna, Rogério da Costa, Thamara Rayanne, Joyce Gomes, Nataly Gomes e Douglas
Veras por todos os ensinamentos e momentos de crianças compartilhados, eu sempre
vou lembrar de vocês.
As minhas inesquecíveis amigas da escola Maria do Livramento e Karol Caxile, pelos
grupos de estudos para as provas, os passeios e a amizade verdadeira, sentem muitas
saudades de vocês.
As minhas supervisoras de campo Nara Lopes por todo o ensinamento, pela paciência
durante esses dois anos de estagio, obrigada você é um exemplo de profissional;
Larissa Rodrigues, quando te conheci fiquei com tanto medo, você contribuiu muito
para o meu crescimento como profissional. Obrigada meninas por tudo, não tenho
palavras para dizer o quanto vocês são importantes em minha vida. Vamos nos
encontrar muito, adoro vocês demais.
A toda a equipe do Centro Socioeducativo Passaré, obrigada pela confiança depositada
em mim.
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[...] “Sempre fui sonhador, é isso que me mantém vivo, quando pivete meu sonho era ser jogador de futebol, vai vendo. Mas o sistema limita nossa vida de tal forma que tive que faze minha escolha, sonhar ou sobreviver/O capitalismo me obrigou a ser bem sucedido, acredito que o sonho de todo pobre, é ser rico. Em busca do meu sonho de consumo procurei dar uma solução rápida e fácil pros meus problemas, o crime, mas é um dinheiro amaldiçoado/É necessário sempre acreditar que o sonho é possível/ Que o tempo ruim vai passar é só uma fase, e o sofrimento alimenta mais a sua coragem/ sua família precisa de você”.
Racionais Mc's – A Vida é Um Desafio
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RESUMO
O perfil dos adolescentes em conflito com a lei e as condições de subsistência de suas famílias são temas bastante discutidos no âmbito acadêmico, político e social. Também tem se tornado comum o debate sobre o envolvimento dos adolescentes com a prática de atos infracionais, além do aumento do número de reincidências. Diante dessa realidade, este estudo propõe trabalhar as questões pertinentes ao acompanhamento das famílias dos adolescentes autores de atos infracionais e tem como objetivo investigar o significado para os adolescentes e seus familiares sobre o acompanhamento da família no processo de internação provisória e, especificamente, analisar a relação do adolescente com sua família; identificar o acompanhamento dos adolescentes durante a internação provisória; identificar qual a frequência de visitas que os adolescentes recebem e investigar qual o posicionamento da família sobre o cometimento do ato infracional pelo filho. A pesquisa, de natureza qualitativa, foi realizada no Centro Socioeducativo Passaré – CESP, unidade para atendimento da internação provisória para adolescentes autores de atos infracionais. Os instrumentos para a coleta de dados foram compostos de entrevista semidirigida e de questionário com 06 adolescentes e 06 familiares. Os resultados da pesquisa mostraram que o acompanhamento de adolescentes autores de ato infracional é vivenciado numa realidade permeada pela precariedade social e econômica e que a família tem um papel fundamental durante o período de internação provisória, pois os familiares quando os apoiam podem incentivá-los para o desejo de mudança, para o retorno aos estudos, para o afastamento de amigos que possam contribuir para o cometimento de atos infracionais e para a inserção em cursos profissionalizantes na perspectiva futura de entrada no mercado de trabalho.
Palavras-Chave: Adolescentes; Atos Infracionais; Famílias e Internação Provisória.
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ABSTRACT
Adolescents in conflict with the law and the livelihoods of their families have been thoroughly discussed in the academic, political and social. It has also become common in the great debates adolescents' involvement with the practice of illegal acts, in addition to increasing the number of relapses. Given this reality, this study proposes work on issues relevant to the support of families of adolescent perpetrators of illegal acts and aims to analyze users Centro Socio Passaré taking into account all its trajectory during the stay in the unit, in addition to identifying the monitoring of family in the process of detention and specifically analyze the relationship between teenager with his family, to identify the family's role in the monitoring of adolescents during detention; identify which frequency of visits that adolescents receive and investigate how the family reacts when the teenager commits the offense. The research was qualitative, was held at the Centre Socio Passaré - CESP unit to serve the detention for juvenile offenders. The instruments for data collection were composed of semistructured interview and questionnaire with 06 adolescents and 06 families. The results showed that monitoring of adolescents in conflict with the law are experienced in reality permeated by social and economic precariousness and that the family plays a key role during the detention, because the family when the support can encourage them for the desire to change, to return to their studies, the removal of friends who can contribute to the commission of illegal acts and for insertion into professional courses in future prospect of entry into the labor market.
Keywords: Adolescents; infractions; Families and Provisional Admission.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................12
I – RECONHECIMENTO DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES: DO CÓDIGO DE MENORES AO ECA, UMA NOVA ABORDAGEM NO ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE AUTORES DE ATOS INFRACIONAIS 1.1 PROCESSOS DE CONSTITUIÇÃO DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES: ASPECTOS HISTÓRICOS..............................................................16 1.2 O ECA E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS........................................................26 1.2.1 AS ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELO SINASE....................................................31 1.3 A EXECUÇÃO DA INTERNAÇÃO PROVISÓRIA NO CESP: CENTRO SOCIOEDUCATIVO PASSARÉ.....................................................................................35 II – A FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE E OS SIGNIFICADOS DO ACOMPANHAMENTO DE ADOLESCENTES AUTORES DE ATOS INFRACIONAIS 2.1 OS MODELOS DE FAMÍLIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E A REALIDADE BRASILEIRA.............................................................................................41 2.1.1 O PAPEL SOCIAL DA FAMÍLIA...........................................................................44 2.1.2 OS ADOLESCENTES E O COMETIMENTO DO ATO INFRACIONAL................46 2.2 PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS ADOLESCENTES DO CENTRO SOCIOEDUCATIVO PASSARÉ.....................................................................................47 2.3 ESCULTANDO OS ADOLESCENTES - “OLHANDO AS FAMILIAS”....................52 2.4 ESCULTANDO AS FAMÍLIAS – “OLHANDO OS ADOLESCENTES”...................54 2.5 CONSIDERAÇÕES DAS FAMÍLIAS SOBRE OS ADOLESCENTES DO CESP...............................................................................................................................59 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................62 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................64 APÊNDICES....................................................................................................................68
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ANEXOS.........................................................................................................................73
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como tema central o significado para os adolescentes e
seus familiares no acompanhamento de adolescentes autores de atos infracionais no
Centro Socioeducativo Passaré O estudo realizado nesse trabalho buscar destacar a
importância do acompanhamento familiar para os adolescentes que se encontram na
unidade em cumprimento de internação provisória.
Meu interesse pela temática surgiu a partir da minha experiência adquirida no
estágio supervisionado obrigatório, pois eu como estagiária acompanhava a minha
supervisora de campo durante os atendimentos aos adolescentes e as famílias e
observava cada detalhe. Quando comecei a atendê-los, percebi o quanto algumas
famílias não deixavam de comparecer nos seus dias de visitas. No momento dos
atendimentos com os adolescentes ouvia suas falas e percebia a importância da vinda
de suas famílias a unidade. Esses atendimentos me incentivaram bastante para a
pesquisa sobre a temática. O meu estágio foi realizado no Centro Socioeducativo
Passaré, uma Unidade de Privação de Liberdade, vinculada à Secretaria do Trabalho e
Desenvolvimento Social (STDS), para adolescentes autores de atos infracionais em
cumprimento de Internação Provisória.
A sociedade brasileira reconhece a partir da década de 1980 e particularmente
após a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069, de 13 de julho
de 1990) que as crianças e os adolescentes são sujeitos com direitos, pessoas em
peculiar condição de desenvolvimento. Com o advento do referido Estatuto, a conduta
do adolescente autor de ato infracional não é mais analisada singularmente, pois o
jovem é fruto da relação com seus familiares e com a sociedade que o cerca. Nessa
percepção, os adolescentes autores de ato infracional e o acompanhamento da família
são pontos de constantes discussões.
Diante dessa conjuntura, os objetivos da minha pesquisa são os, de modo geral,
o significado para os adolescentes e seus familiares sobre o acompanhamento da
família no processo de internação provisória e, especificamente, analisar a relação do
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adolescente com sua família; identificar o acompanhamento dos adolescentes durante
a internação provisória; identificar qual a frequência de visitas que os adolescentes
recebem e investigar como a família reage quando o adolescente comete o ato
infracional.
A pesquisa foi realizada em abril e maio de 2013, tendo como campo de
pesquisa o Centro Socioeducativo Passaré, que atende, em regime de internação
provisória, adolescentes do sexo masculino autores de atos infracionais, enquanto
aguardam a conclusão do processo de apuração do ato infracional pelo Juizado da
Infância e da Juventude.
Escolhi a pesquisa qualitativa de campo e bibliográfica. A partir da pesquisa de
campo pretendia pesquisar os adolescentes internos no Centro Socioeducativo Passaré
para que eu pudesse analisar a relação dos adolescentes com suas famílias. Já a
pesquisa bibliográfica foi de suma importância para minha pesquisa, devido a
aproximação com os diversos autores que discutem a temática. Destaco que também
realizei uma pesquisa documental, através dos prontuários dos adolescentes onde
pude coletar dados específicos dos adolescentes e de suas famílias.
Quando comecei minha pesquisa de campo senti muita ansiedade, empolgação
e medo. Uma mistura de sentimentos que me fazia querer começar logo a pesquisar.
Quando iniciei a entrevista com o primeiro adolescente, a princípio fiquei um pouco
nervosa, pois tinha medo que o adolescente não quisesse participar da entrevista,
contudo, a partir do momento que começou foi ficando mais fácil continuar, até finalizar
com o primeiro entrevistado. Da mesma forma aconteceu com a primeira família
entrevistada.
A autorização para a realização desta pesquisa com os adolescentes internos no
CESP foi concedida pelo Diretor da Unidade, tendo sido apresentado a ele meu projeto
de pesquisa, destacando os objetivos e a relevância da pesquisa.
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Foi elaborado um questionário para traçar o perfil dos entrevistados
(naturalidade, renda, escolaridade, sexo, entre outros) os quais serão apresentados
nesta pesquisa. Saliento a utilização de nomes fictícios, tanto para os adolescentes
quanto para os familiares, com o intuito de resguardar o sigilo da pesquisa.
O desenvolvimento do trabalho está dividido em dois capítulos. No primeiro,
apresento os períodos da história que marcaram a construção do Direito da Criança do
Adolescente no Brasil e as formas de atendimento ao adolescente que comete ato
infracional.
Descreve-se brevemente a trajetória do atendimento ao adolescente autor de ato
infracional no Brasil. Partindo do Código de Menores ao Estatuto da Criança e do
Adolescente, considerando os avanços e retrocessos da legislação vigente, as
alterações trazidas pelo SINASE, E por fim um relato de como funciona a execução da
internação provisória no Centro Socioeducativo Passaré
O segundo capítulo retrata os diversos modelos de família que se encontram na
sociedade contemporânea, bem como os significados sobre o acompanhamento dos
adolescentes durante a internação provisória, destacando o perfil socioeconômico dos
adolescentes do Centro Socioeducativo Passaré, são apresentadas ainda, suas falas
sobre o convívio familiar e sobre a importância da família para suas vidas. Por fim
destacamos o processo de acompanhamento dos adolescentes pelos familiares.
Sobre os achados da pesquisa pode-se destacar que a maioria dos adolescentes
vive essa transição marcada por um contexto familiar, social e econômico
particularmente desfavorecido e privado dos direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana
Acredito que o resultado desta pesquisa poderá contribuir com um olhar mais
focado nas relações e significados que os sujeitos envolvidos dão a sua realidade e
como as enfrentam, mostrando que a análise dos padrões legitimados da família
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cuidadora, que tem a responsabilidade pelo “bom” desenvolvimento do adolescente não
deve estar desconectada das situações sociais, econômicas e afetivas vivenciadas.
16
I – RECONHECIMENTO DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES: DO CÓDIGO DE MENORES AO ECA, UMA NOVA ABORDAGEM NO ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE AUTORES DE ATOS INFRACIONAIS Neste capítulo serão destacados períodos da história que marcaram a construção
do Direito da Criança e do Adolescente no Brasil. Esses momentos históricos apontam
como a sociedade e o Estado enfrenta as problemáticas e expressões da temática
“Infância e adolescência”, destacando o percurso da luta pela garantia dos direitos das
crianças e adolescentes e as formas de atendimento ao adolescente que comete ato
infracional.
1.1 O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES: ASPECTOS HISTÓRICOS
Não há possibilidade de se analisar o processo de constituição dos direitos das
crianças e adolescentes sem antes voltar ao contexto ao qual se iniciou o processo de
institucionalização de crianças e adolescentes no Brasil. A história da
institucionalização de crianças e adolescentes no Brasil começa a ganhar espaço no
período colonial. Nesta época, segundo o autor Rizzini a assistência à infância no
Brasil seguia determinações de Portugal, aplicadas por meio da burocracia, dos
representantes da Corte e da Igreja Católica. (Rizzini, 2009, p. 17)
A partir desse contexto foram sendo criados no Brasil colégios internos,
educandários, reformatórios, entre outras instituições. Para os adolescentes que se
envolvessem em conflitos eram encaminhados a essas instituições, que
acompanhavam os modelos educacionais e assistenciais da época. Os jesuítas1
chegaram ao Brasil com o intuito de alcançar uma ação educacional, que de acordo 1 Os jesuítas eram padres da Igreja Católica que faziam parte da Companhia de Jesus, esta ordem religiosa foi criada no contexto da Contra-Reforma Católica. Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil no ano de 1549, com a expedição de Tomé de Souza. Os principais objetivos dos jesuitas eram: levar o catolicismo para as regiões recém descobertas, no século XVI, principalmente à América e catequizar os índios americanos, transmitindo-lhes as línguas portuguesa e espanhola, os costumes europeus e a religião católica. (www.suapesquisa.com/religiaosociais/jesuitas.htm )
17
com Pilotti, ao cuidar das crianças índias, os jesuítas visavam tirá-las do paganismo2 e
discipliná-las, inculcando-lhes normas e costumes cristãos. (Pilotti, 2008, p. 17)
Segundo retrata Pilotti (2009), tal ação apresentava um duplo objetivo
estratégico, visando submeter à infância uma intervenção, moldando-a de acordo com o
padrão da época.
Convertiam crianças e adolescentes ameríndias em futuros súditos dóceis do Estado português e, através delas, exerciam influência decisiva na conversão dos adultos às estruturas sociais e culturais recém-importadas. (Pilotti, 2008, p. 17).
O trabalho dos jesuítas no Brasil se deu até meados do século XVIII, quando
foram expulsos do território brasileiro, em 1759. A partir da segunda metade do século
XVIII iniciam-se atividades caritativas, mediante recolhimento dos órfãos e criação de
colégios para os mesmos, apresentavam um caráter rigoroso com relação ao
atendimento às crianças.
O regime de funcionamento das instituições seguia o modelo de claustro e da vida religiosa. As práticas religiosas e o restrito contato com o mundo exterior eram características fundamentais dos colégios para meninos órfãos e dos recolhimentos femininos, sendo que, no segundo caso, a clausura era imposta com mais rigor. (Rizzini, 2004, p.24)
No século XIX outro modelo de assistência à infância foi bem perceptível, tal
como os asilos para crianças pobres órfãs, abandonadas ou desvalidas, o que
predominava era o ensino religioso que passou a ser questionado e a educação foi
direcionada para as concepções de progresso e de civilização da sociedade, com a
finalidade de oferecer ensinamentos úteis para as crianças e os adolescentes. Foram
inseridos e logo em seguida ganham força os planos de ofertar educação industrial para
os meninos e educação doméstica às meninas, com o intuito de prepará-los para serem
reconhecidos e conseguirem ocupar seu lugar na sociedade. (Rizzini, 2004). O principal
objetivo da instituição era acrescentá-los uma vontade de aprender e, acima de tudo,
2 Paganismo (do latim paganus, que significa "camponês", “rústico”.) é um termo geral, normalmente usado para se referir a tradições religiosas politeístas. (www.paganfederation.org/principi.htm ).
18
buscar sempre amor pelo trabalho e principalmente dispor de uma educação moral que
fosse decente ao momento.
A partir da segunda metade do século XIX, as crianças e os adolescentes, que
eram conhecidas pela infância pobre e dita perigosa, sofrem intervenção
formadora/reformadora por parte do Estado, através de instituições religiosas e
filantrópicas. O método do recolhimento das crianças em instituições de reclusões foi o
principal instrumento de assistência à infância no país nesta época. Neste período, as
ações praticadas pela assistência, que eram voltadas à infância, historicamente
caracterizavam-se pelo hábito que existia de controle das classes populares.
Com o advento da república, as questões sobre a assistência à infância no Brasil
ganharam um novo olhar:
Se a grande questão do Império brasileiro repousou na ilustração do povo, sob a perspectiva da formação da força do trabalho, da colonização do país e da contenção das massas desvalidas, no período republicano a tônica centrou-se na identificação e no estudo das categorias necessitadas de proteção e reforma, visando ao melhor aparelhamento institucional capaz de “salvar” a infância brasileira no século XX. (Rizzini, 2004, p.28).
Com a chegada do século XX, a prática de internação para os filhos das famílias
economicamente abundantes deixa de acontecer. O processo de encaminhar às
instituições passa a existir apenas para crianças e adolescentes pobres.
Acompanhando o supracitado, a institucionalização era destinada a grupos diversos
como índios, filhos de escravos, contudo, os meninos pobres e livres das cidades
constituíram o grande alvo da intervenção das práticas de internação. Tal prática mostra
claramente uma impressão incerta, pois visava ao mesmo tempo proteger a sociedade
no que diz respeito à periculosidade, supostamente ligada à criança pauperizada e
também proteger a infância desvalida. (Rizzini, 2008).
A partir daí as questões relacionadas a este grupo da sociedade passam a ser
debatidas por profissionais das áreas de assistência social, médico-higienista e jurídica,
todos buscavam soluções para a situação das crianças e adolescentes. Neste contexto,
19
cresce a categoria menor abandonado3, dentre várias outras subcategorias que foram
criadas no decorrer do século XX. Após o processo de organização da assistência a
infância a partir da interferência dos órgãos especializados do Estado, o atendimento
aos abandonados sofre mudanças de uma forma mais direta para intervir mais
diretamente na área da assistência a essa parcela da população, deixando de atuar
como uma forma de caridade e passando a participar mais efetivamente no
planejamento e efetivação das políticas de atenção ao menor. Também ganham
firmeza os movimentos em torno de elaboração de leis de proteção e assistência à
infância, no Rio de Janeiro.
A assistência e a proteção às crianças e adolescentes por parte do Estado ganha
importância a partir da legislação denominada “Direito do Menor”, sendo em seu campo
social marcada pela instauração de políticas sociais em meados da década de XX com
a república no Brasil.
O Código de Menores, conhecido por Código Mello Mattos, entra em vigor no
decreto nº 17.943-A, datado do ano de 1927, que tinha por característica principal a
“higienização” da sociedade (Arantes, 1999), foi instituído em 12 de outubro de 1927,
era destinado as crianças e aos adolescentes abandonados que não possuíam
condições de habitação adequada, tampouco, condições de subsídios, devido à
indigência, enfermidade, ausência ou prisão de seus genitores, era válido até para os
que possuíam famílias e ainda assim se envolvessem com prática de atos considerados
contrários à moral e aos bons costumes.
O código de Menores era voltado particularmente às crianças e aos adolescentes
pobres. O Estado sobrepõe-se à família, intervindo e instituindo uma vigilância de
autoridade pública com o objetivo principal de garantir proteção. Porém, Faleiros (1995)
afirma que:
3 Categoria “definida tanto pela ausência dos pais quanto pela incapacidade da família de oferecer condições apropriadas de vida à sua prole.” (Rizzini, 2004, p.29).
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Se é bem verdade que, na orientação então prevalecente, a questão para a criança se coloque como problema do menor, com dois encaminhamentos o abrigo e a disciplina, a assistência e a repressão, há emergência de novas obrigações do Estado em cuidar da infância pobre com educação, formação profissional, encaminhamento e pessoal competente. “Ao lado das estratégias de encaminhamento para o trabalho, clientelismo, patrimonialismo, começa a emergir a estratégia dos direitos da criança (no caso o menor) já que o Estado passa a ter obrigações de proteção.” (Faleiros, 1995, p.63).
O Código Mello Mattos tinha como principal particularidade o artigo 1º:
O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente às medidas de assistência e proteção contidas neste Código. (art. 1º, decreto 17.943-A, 1927).
Assim sendo, era especialmente destinado a uma parcela da sociedade
pauperizada. O Código foi pioneiro em diversos assuntos, é de suma relevância
evidenciar o tratamento diferenciado de menores infratores já que era proibido o
internamento dos mesmos em prisão para adultos.
Posteriormente foram produzidos novos modelos de atendimentos pelos demais
estados do Brasil. Contudo, houve um destaque importante à internação das crianças e
adolescentes abandonados e delinquentes, ou seja, os que mais ameaçavam a ordem
pública.
Na década de 1930 muitas questões referentes à infância e adolescência são
colocadas em discussão como peças fundamentais do projeto de reformulação do
papel do Estado. Rizzini (1995) destaca que a situação generalizada de pobreza da
população levou a um reconhecimento da infância como um problema social nos
discursos e nas leis
Nesse mesmo período, foi criado o SAM – Serviço de Assistência ao Menor –
órgão criado e voltado ao atendimento de crianças e adolescentes, implantado no
governo de Getúlio Vargas. Nesta época, o governo tinha como prioridade a defesa de
crianças e adolescentes. Os atendimentos prestados por este órgão voltavam-se as
crianças, adolescentes e suas famílias, contudo, seu objetivo inicial era de prestar
21
assistência aos desvalidos. Não possuindo finalidade, sua ação voltou-se ao
atendimento dos considerados transviados4 e o SAM passou a ser considerado pela
sociedade como uma “escola para o crime” (Rizzini, 2004). Durante a época de 1930 a
mídia possui papel fundamental para a criação desta imagem, pois ao mesmo tempo
em que denunciava os abusos contra os internados, relatava o grau de periculosidade
dos “bandidos” que estiveram nessa instituição.
A partir da década de 1950, um movimento começa a se preparar contra o modelo
do SAM. Autoridades públicas, políticos e diretores do SAM condenavam a instituição e
propunham a criação de uma nova instituição.
Com a intenção de instituir o anti-SAM, onde fossem esquecidos os
acontecimentos mencionados anteriormente, nasce, então, em 1964 a FUNABEM –
Fundação Nacional de Bem Estar do Menor – que teria sua atuação baseada na
Política Nacional de Bem-Estar do Menor, que tem como objetivo principal o fim da
“doutrina do internamento”, tendo como prioridade a valorização da família como peça
fundamental na vida de crianças e adolescentes e a ressocialização dos mesmos à sua
comunidade. Este é um assunto que merece muito destaque, tendo em vista que a
família, desde o princípio da construção da assistência à Infância no Brasil, era
atribuída à culpa pelo “estado de abandono de crianças e adolescentes”.
Após 30 anos de lutas para acabar com o Serviço de Assistência ao Menor –
SAM, foi instituída a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor - FUNABEM, que tinha
como diretriz formular e implantar a Política Nacional do Bem-Estar do Menor - PNBEM
em todo o território nacional. A partir daí, criaram-se as Fundações Estaduais do Bem-
Estar do Menor - FEBEM, com um sistema de internação vinculado a Secretaria de
Estado e Serviço Social, a qual se destinava a prestar assistência ao menor, na faixa
etária entre zero e 18 anos de idade em situação irregular: o "menor abandonado", o
4 Termo empregado para designar os menores delinquentes, durante todo o período da existência do SAM (1941 – 1964) (Rizzini, 2004, p.91).
22
"menor carente", o "menor infrator", "o menor com desvio de conduta", o "menor
viciado", com responsabilidade de observar a política estabelecida e de executar, nos
Estados, as ações pertinentes a essa política.
Para Volpi (2001), o golpe militar de 1964 abordou, entre os muitos interesses, o
de modificar o tratamento dado à infância e à adolescência. A vontade de acabar com o
Serviço de Assistência ao Menor e construir uma política que atendessem os direitos
infanto-juvenis foram substituídos pela Política Nacional de Bem-Estar do Menor que
contemplava aspectos de uma política assistencialista, que possuía uma prática de
repressão, o que dava continuidade a crueldade que as crianças e adolescentes
sofriam.
Em 1979 foi instituído um novo Código de Menores (lei 6697 de 10/10/1979)
instituído pelo governo, construído por um grupo de juristas selecionados, com o intuito
de substituir o Código de Menores anterior. Contudo, é notório que não apresenta em si
mudanças expressivas, apresenta pressupostos e características que colocam a
criança e os adolescentes pauperizados como ameaça à ordem vigente.
Pela legislação que vigorou no Brasil de 1927 a 1990, no Código de Menores,
particularmente em sua segunda versão, todas as crianças e os adolescentes tidos
como em perigo ou perigosos, por exemplo: abandonados, carentes, infratores,
apresentando conduta dita “antissocial”, deficiência ou doentes, ociosos,
perambulantes, eram passíveis, em um momento ou outro, de serem enviados às
instituições de recolhimento. Na prática isto significa que o Estado podia, através do
Juiz de Menor, destituir o pátrio poder através da decretação da sentença de "situação
irregular do menor". Como diz Arantes:
Sendo a "carência" uma das hipóteses de "situação irregular", podemos ter uma ideia do que isto podia representar em um país, onde já se estimou em 36 milhões o número de crianças pobres. (ARANTES, 1999, p. 258).
23
A reformulação do Código de Menores propõe a nova categoria de “menor em
situação irregular” 5. Na condição de menores em situação irregular enquadrava- se
tanto os infratores quanto as crianças e adolescentes abandonados, sendo tratados da
mesma forma e condenados a passarem até os seus 18 anos em internados em
institutos.
O Código de Menores de 1979 ganha cara nova alguns anos depois, desta
forma, vale destacar a instituição da Liberdade Assistida6·, que era destinada as
crianças e adolescentes que possuíssem idade menor que dezoito anos em “situação
irregular” e as pessoas entre dezoito e vinte um anos expressos na lei (art. 1°, II),
definido no artigo 2° daquele Código, com a finalidade de vigiar, auxiliar, tratar e
orientar o menor.
Esses “menores” como eram denominados pela sociedade, sofriam de violência
física, negligência, discriminação social e racial e injustiças judiciais, que apontavam o
abandono em que viviam. (Rizzini & Pilotti, 1995)
Nas instituições ocorriam diversas negligências, causando revolta nos cidadãos
que não admitindo mais presenciar as atrocidades cometidas começaram a se unir para
realização de protestos, contudo, a situação encontrou-se ainda pior com a revolta dos
meninos expressas através de fugas e motins, os quais passaram a ser percebidos pela
sociedade.
5 “Categoria empregada (...) para designar todo menor de 18 anos de idade, que esteja privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória em razão de falta, ação ou omissão dos pais ou responsáveis ou pela impossibilidade dos mesmos em provê-la; vítima de maus tratos ou castigos imoderados; em perigo moral devido a encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes, exploração em atividade contrária aos bons costumes; privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar comunitária; autor de infração penal.” (RIZZINI, 2004, p.94) 6 Regras de conduta fixadas na Liberdade Assistida prevista no Código de Menores (1979): a) Não mais se envolver na prática de infrações penais; b) recolher-se à sua residência ou a estabelecimento aberto até determinada hora; c) não freqüentar lugares considerados nocivos à sua formação; d) reparar o dano na medida de suas possibilidades; e) apresentar-se regularmente a juízo ou à pessoa ou serviço encarregados da execução da medida; f) submeter-se a tratamento médico ou psicológico; g) ser assíduo à escola” (Ferreira, 2006 p. 400).
24
A partir daí ressurgem os movimentos populares a fim de acabarem com a
”assistência” que era dada as crianças e adolescentes na época. Diferentes grupos
técnicos, educadores, agentes sociais passaram a discutir outros meios a essa política.
“A segunda metade dos anos 1980 foi marcada pela presença atuante e inovadora do
Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua” (Rizzini & Pilotti, 1995, p. 161). É
notável que existisse um problema ainda maior por trás dos meninos e meninas de rua:
milhões de famílias não possuíam condições alguma de sobrevivência com dignidade
de atendimento e acompanhamento. Desta forma, era de suma importância que fosse
criada uma nova forma inovadora à questão da infância e adolescência brasileira. Era
preciso buscar alternativas que possibilitassem melhora na condição de vida dessa
parte da população, o que demonstrava que a maioria dos adolescentes vivenciava
uma realidade marcada pela desigualdade social fragilizada e vitimizada.
No final da década de 1970 e início da década de 1980, os movimentos sociais de
várias partes da sociedade que lutavam contra o modelo de assistência a população
pauperizada ganham força, questionando a eficácia das medidas utilizadas. A forte
cultura institucional presente no Brasil passa a ser debatida, Rizzini (2004) ressalta que
“até esse momento, o termo “internato de crianças e adolescentes” era utilizado para
designar todas as instituições de acolhimento, provisório ou permanente”.
A trajetória da institucionalização começa a percorrer outros caminhos a partir de
meados da década de 1980, o discurso para o fechamento dos grandes internatos
ganha bastante força, estimulados pelo movimento internacional de revisão das
políticas voltadas ao atendimento de crianças e adolescentes que buscavam o conceito
de criança enquanto sujeito de direitos. Passa a ser exigida uma lei adequada para a
efetivação desses direitos. É nítido observar que ganha corpo a noção de que os
problemas das crianças e dos adolescentes pauperizados advinham da diferença de
renda e da desigualdade social
Os diversos movimentos na luta pela defesa dos direitos das crianças e dos
adolescentes adquirem bastantes espaços de ação. A Assembleia Nacional da Criança
25
e do Adolescente convoca a Comissão Nacional Criança e Constituinte, a Frente
Nacional dos Direitos e o Fórum Nacional – DCA para participarem do processo de
mobilização social através do encaminhamento de propostas e elaboração de
documentos sobre direitos da criança e do adolescente. Como resultado dessa
mobilização, é apresentada à Assembleia Nacional Criança e Constituinte uma emenda
popular que culmina no artigo 2277 da Constituição Federal de 1988. Essa nova
concepção de criança como sujeito de direitos substitui as anteriores enquanto modelo
de lei, fundamentada na “Doutrina da Proteção Integral”.
Após o cenário supracitado, o Código de Menores de 1979 passa a ser
amplamente questionado por sua forma de instituir as crianças e adolescentes. A
sociedade mobiliza uma luta pelo estabelecimento de uma nova lei e,
consequentemente, de uma Política de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente. O movimento de redemocratização da sociedade se intensificou nos anos
1980, na luta pelas eleições diretas e pelo Estado de Direito, trazendo a reforma
democrática do Estado e um atenuante ao autoritarismo (Rizzini & Pilotti, 1995).
Consequentemente, o Código de Menores (1979) foi revogado e entrou em vigor
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei Federal n° 8.069 de 13 de julho de
1990. A Doutrina da Proteção Integral, presente no Estatuto da Criança e do
Adolescente, trouxe inúmeras mudanças na busca pelos direitos das crianças e
adolescentes. O que antigamente não existia, pois os mesmos eram tratados com
preconceito por sua condição de vida, hoje são reconhecidos como sujeitos de direitos
e possuem prioridade em suas garantias.
De acordo com Silva,
7“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
26
É nos marcos do neoliberalismo que o direito infanto-juvenil deixa de ser considerado um direito ‘menor’, ‘pequeno’, de criança para se tornar um direito ‘maior’, equiparado ao do adulto. (Silva, 2005, p. 37).
O Estatuto da Criança e do Adolescente regulamentando o que menciona os
artigos 227 e 228 da Constituição Federal (1988), estabelece avanços para os direitos
da criança e do adolescente. O Brasil, ao adotar a Doutrina da Proteção Integral, dirige-
se a todas as crianças e adolescentes, busca assegurar os totais direitos às crianças e
adolescentes, sem exceção.
1.2 O ECA e as medidas socioeducativas
É mister salientar que o Brasil ao promover a construção dos direitos das
crianças e adolescentes através do ECA, traz consigo um novo método de
responsabilização do autor de ato infracional. O então conhecido “menor”, passa a ser
chamado de criança/adolescente, vão surgindo novas categorias jurídicas que
favorecem a condição de sujeito do mesmo.
Para a nova legislação a adolescência é gerada como uma fase privilegiada do
desenvolvimento humano, na qual é identificado que o indivíduo constrói sua
personalidade, sendo um momento de suma importância no delineamento de sua
relação com o mundo. Crianças e adolescentes, por estarem em condição peculiar de
desenvolvimento, estão no processo de desenvolvimento psicológico, sexual e
emocional, na maioria das vezes é perceptível que estão mais expostos a situações
que violem seus direitos, por não conseguirem defender-se pela falta de condição plena
de enfrentamento das relações de poder entre elas e os adultos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA apresenta em seu artigo 112 no
que diz respeito ao adolescente que cometer ato infracional, um método de
responsabilização para suas práticas ilícitas.
Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V -
27
inserção em regime de semi-liberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. ( § 1º) A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. (§ 2º) Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado. (§ 3º) Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições. (ECA, p. 57 e 58).
Com embasamento no Estatuto da Criança e do Adolescente as medidas devem
ser aplicadas isoladamente ou de forma acumulada, inclusive com as medidas
específicas de proteção, assim como podem ser substituídas por outras a qualquer
tempo. É importante ressaltar que um dos grandes avanços do Estatuto da Criança e
do Adolescente foi a criação e efetivação dos direitos das crianças e adolescentes com
a criação do Conselho de Direitos8 e o Conselho Tutelar9. Em ambos os espaços, foi
privilegiada a participação popular em atenção à determinação dos princípios da
Constituição Federal e da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança.
O Estatuto da Criança e do Adolescente surge como uma forma de trazer aos
adolescentes que cometem ato infracional chances de estudo e formação para o
trabalho através da aplicação das medidas socioeducativas, com enfoque na garantia
de seus direitos. Este se apresenta diferente das legislações que eram postas algumas
épocas atrás no Código de Menores de 1979, pois seu intuito não é apenas internar os
adolescentes autores de ato infracional em centros educacionais, e sim buscar que os
mesmos voltem a ser inseridos em sua comunidade, além do retorno ao convívio
familiar e o acesso a uma educação de qualidade.
É de suma importância observar inicialmente que as legislações anteriores, como
por exemplo, o Código de Menores (Lei nº 6.697/79) não conceituava a prática ilícita
8 Os Conselhos Direitos encontram-se sua fundamentação no artigo 204, II, da Constituição de 1988 e no artigo 88 do ECA. São instancias deliberativas de formulação das políticas e controle das ações relacionadas com a promoção e defesa de direitos do publico infanto-juvenil e controle da sua efetivação (acesso e qualidade). 9 Os Conselhos Tutelares são organismos criados por lei, em nível municipal, e formados por pessoas eleitas pela comunidade e não por organizações. Esses conselhos se dedicam a casos concretos de ameaça ou violação de direitos.
28
eventualmente cometida por criança ou adolescente, se referia a ela apenas como
infração penal.
Art. 2.º Para efeitos desse código considera-se em situação irregular o menor: VI: Autor de infração penal Art. 99. O menor de dezoito anos, a que se atribua autoria de infração penal, será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária. (Lei nº 6.697, de 10 de outubro de 1979, p. 02).
O ECA define como ato infracional aquela conduta prevista em lei como
contravenção penal ou crime. A responsabilidade pela conduta descrita começa aos 12
anos. Ao definir o ato infracional, em correspondência com a Convenção Internacional
dos Direito das Crianças, retrata que o adolescente faz parte da categoria jurídica,
sendo assim, passa a ser sujeito de direitos constituído na Doutrina da Proteção
Integral.
O ato infracional cometido por criança e adolescente está previsto no Estatuto da
Criança e do Adolescente, como pode ser visto no Art. 2º - “Considera-se criança, para
os efeitos desta lei, até doze anos de idade incompleto, e adolescente aquela entre
doze e dezoito anos de idade”.
São classificados como atos infracionais/práticas ilícitas: Furto; Roubo; Tráfico
Ilícito de Drogas; Porte Ilegal de arma de fogo; Lesão corporal; Ameaça; Homicídio;
Latrocínio Estupro; Estelionato; Receptação etc. Ao cometerem tais práticas ilícitas as
crianças e adolescentes não são comparadas aos adultos, não são impostas pelo
Direito Penal, uma vez, que somente aos 18 anos são denominadas como adultos,
ficando a criança sujeita às medidas de proteção, e o adolescente, responsabilizado por
meio das medidas socioeducativas.
O que foi dito acima quer dizer que os adolescentes que cometerem práticas
ilícitas deverão ser encaminhados para Delegacia da Criança e do Adolescente – DCA,
quando então, aguardam audiência para que seja decidido pelo juiz o procedimento
judicial ao qual serão encaminhados. Se necessário, os adolescentes serão
direcionados primeiramente a Centros Socioeducativos de Internação Provisória
29
procedimento onde aguardam a averiguação do juiz para apuração do caso para
identificar participação ou não na prática ilícita, caso ocorra a constatação, os mesmos
são encaminhados para cumprimento de medidas socioeducativas.
Verificada a prática do ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar as
seguintes medidas socioeducativas previstas no Art. 112 do ECA:
I – ADVERTÊNCIA - Trata-se de mera orientação verbal feita ao adolescente, a
qual é reduzida a termo (art. 115). Os pais devem estar presentes, se possível. Essa
medida poderá ser aplicada sempre que houver prova da materialidade da infração e
indícios suficientes de autoria.
II – OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO – encontra-se prevista no art. 116. É
aplicável aos atos infracionais de reflexos patrimoniais. Espécies: restituição, reparação
e compensação. Aplica-se a disciplina do Código Civil em relação ao patrimônio dos
pais, sendo que se possível deve-se buscar a reparação pelo próprio infrator (pagando,
por exemplo, com sua “mesada”, para que perceba o efeito da medida sofrida). Existe
responsabilidade solidária dos pais se o menor for relativamente incapaz.
III – PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE – prevista no art. 117, do
ECA. Consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não
excedente a seis meses, por no máximo oito horas semanais, de forma a não prejudicar
seus estudos, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas ou outros
estabelecimentos congêneres.
IV – LIBERDADE ASSISTIDA – art. 118, do ECA. Destina-se a acompanhar,
auxiliar e orientar o adolescente. O caso será acompanhado por pessoa capacitada,
designada pela autoridade. Deverá ser nomeado um orientador, a quem incumbirá
promover socialmente o adolescente e sua família, supervisionar a frequência escolar,
diligenciar a profissionalização. Terá prazo mínimo de seis meses e deverá ser
30
apresentado relatório de acompanhamento. A medida poderá ser prorrogada, revogada
ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o Defensor.
V – SEMILIBERDADE – está prevista no art. 120, do ECA. É admissível como
início ou como forma de progressão para o meio aberto. Comporta o exercício de
atividades externas, independentemente de autorização judicial. É obrigatória a
escolarização e a profissionalização. Não comporta prazo determinado, devendo ser
aplicadas as disposições a respeito da internação, no que couber. Deverá ser revista a
cada 6 meses (art. 121, § 2º,subsidiariamente).
VI – INTERNAÇÃO – medida prevista no art.121, do ECA. É medida privativa de
liberdade, sujeita aos princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição
peculiar de pessoas em desenvolvimento. Terá prazo máximo de três anos, com
avaliação a cada seis meses. Atingido o limite de três anos o adolescente será
colocado em liberdade, e, dependendo do caso, sujeitar-se à medida de semiliberdade
ou liberdade assistida. Ocorrerá nas seguintes hipóteses: ato infracional cometido
mediante violência ou grave ameaça; reincidência em infrações graves (punidas com
reclusão) e descumprimento reiterado e injustificável de outra medida imposta (máximo
de três meses). Nesse caso, é obrigatória a observância do princípio do contraditório.
Aos vinte e um anos a liberdade é compulsória.
DA REMISSÃO - A remissão é uma espécie de perdão concedido pelo Promotor
de Justiça ou pelo Juiz de Direito. Trata-se de ato bilateral, onde o adolescente
juntamente com seus pais troca o processo por uma tutela antecipada10·..
Ao adolescente autor de ato infracional, segundo o ECA, são assegurados
inúmeras garantias: pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional,
mediante citação ou meio equivalente; igualdade na relação processual, podendo
10 Medida antecipada é o ato do juiz, por meio de decisão interlocutória, que adianta ao postulante, total ou parcialmente, os efeitos do julgamento de mérito, quer em primeira instância quer em sede de recurso. (wikipedia.org/wiki/Tutela_antecipada )
31
confrontar-se com vitimas e testemunhas, podendo produzir provas necessárias a sua
defesa; defesa técnica por advogado; assistência judiciária gratuita e integral aos
necessitados; direito de ser ouvido pela autoridade competente; direito de solicitar a
presença dos pais ou responsável em qualquer fase do procedimento ( art. 111 ECA),
ressaltando a lei que nenhum adolescente será privado de liberdade sem o devido
processo legal (art. 110 ECA).
1.2.1 AS ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELO SINASE
Em comemoração aos 16 anos da publicação do Estatuto da Criança e do
Adolescente, a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e
o Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente apresentam o Sistema
Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE, fruto de uma construção coletiva
que envolveu nos últimos anos diversas áreas de governo, representantes de entidades
e especialistas da área, além de uma série de debates protagonizados por operadores
do Sistema de Garantia de Direitos em encontros regionais que cobriram todo o País11.
O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE foi implantado no
Projeto de Lei 1627/07, sendo consolidado em fevereiro de 2004. Foi elaborado visando
fortalecer o Estatuto da Criança e do Adolescente, determinando diretrizes claras e
específicas para a execução das medidas socioeducativas por parte das instituições e
profissionais que atuam nesta área.
A construção do SINASE busca dar efetividade o que já foi imposto no ECA, isto
é, garantir a proteção integral à infância e adolescência, reafirmar as responsabilidades
do Estado, família e sociedade na promoção e proteção dos direitos da população
infanto-adolescente, respeito à sua condição de pessoa em desenvolvimento.
Destaque-se, ainda, o papel do Estado como promotor de políticas públicas dos direitos
das crianças e adolescentes. O SINASE é a política pública de implementação do
atendimento das medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do
11 Projeto de Lei 1627/07 – SINASE, p. 12.
32
Adolescente - ECA para as situações em que crianças e adolescentes se envolvam
com atos infracionais.
De acordo com o SINASE, a aplicação, a execução e o atendimento das medidas
socioeducativas é imprescindível a observância desse princípio previsto no artigo 5º,
inciso II, da Constituição Federal: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei”. Logo, os agentes públicos não podem suprimir
direitos que não tenham sido objeto de restrição imposta por lei ou decisão proferida
por juiz competente (decisão esta que também deve respeitar as disposições legais). O
próprio ECA dispõe de normas que responsabilizam o agente e a administração (entre
eles os artigos 230 a 236 e 246 do ECA), caso incidam em posturas autoritárias e
contrárias à lei.
O SINASE retrata que o adolescente deve ser alvo de um conjunto de ações
socioeducativas que contribua na sua formação, de modo que venha a ser um cidadão
autônomo e solidário, capaz de se relacionar melhor consigo mesmo, com os outros e
com tudo que integra a sua circunstância e sem reincidir na prática de atos infracionais.
Ele deve desenvolver a capacidade de tomar decisões fundamentadas, com critérios
para avaliar situações relacionadas ao interesse próprio e ao bem comum, aprendendo
com a experiência acumulada individual e social, potencializando sua competência
pessoal, relacional, cognitiva e produtiva. A participação da família, da comunidade e
das organizações da sociedade civil voltada à defesa dos direitos da criança e do
adolescente na ação socioeducativa é fundamental para a consecução dos objetivos da
medida aplicada ao adolescente.
O SINASE é o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter
jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo
de apuração de ato infracional até a execução de medida socioeducativa. De acordo
com o SINASE sua implementação objetiva o desenvolvimento de uma ação
socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos humanos.
33
É de suma importância ressaltar os princípios do SINASE:
1. Respeito aos direitos humanos; 2. Responsabilidade solidária da Família,
Sociedade e Estado pela promoção e a defesa dos direitos de crianças e adolescentes – artigos 227 da Constituição Federal e 4º do ECA; 3. Adolescente como pessoa em situação peculiar de desenvolvimento, sujeito de direitos e responsabilidades – artigos § 3º, inciso V, da CF; e 3º, 6º e 15º do ECA; 4. Prioridade absoluta para a criança e o adolescente – artigos 227 da Constituição Federal e 4º do ECA; 5. Legalidade; 6. Respeito ao devido processo legal – artigos 227, § 3º, inciso IV da Constituição Federal, 40 da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança e 108, 110 e 111 do ECA e nos tratados internacionais; 7. Excepcionalidade, brevidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento; 8. Incolumidade, integridade física e segurança (artigos 124 e 125 do ECA); 9. Respeito à capacidade do adolescente de cumprir a medida; às circunstâncias; à gravidade da infração e às necessidades pedagógicas do adolescente na escolha da medida, com preferência pelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários – artigos 100, 112, § 1º, e 112, § 3º do ECA; 10. Incompletude institucional, caracterizada pela utilização do máximo possível de serviços na comunidade, responsabilizando as políticas setoriais no atendimento aos adolescentes – artigo 86 do ECA; 11. Garantia de atendimento especializado para adolescentes com deficiência – artigo 227, parágrafo único, inciso II da Constituição Federal; 12. Municipalização do atendimento – artigo 88, inciso I do ECA; 13. Descentralização político-administrativa mediante a criação e a manutenção de programas específicos – artigos 204, inc. I, da Constituição Federal e 88, inc. II, do ECA; 14. Gestão democrática e participativa na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; 15. Co-responsabilidade no financiamento do atendimento às medidas socioeducativas; 16. Mobilização da opinião pública no sentido da indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade. (SINASE, p. 25 e 26)
De acordo o que retrata o SINASE, o mesmo delineia os parâmetros de ação e
gestão das medidas socioeducativas, desde a maneira como o atendimento inicial do
adolescente deve ser realizado (procedimentos e serviços jurídicos da apuração do ato
infracional).
O SINASE determina que em cada unidade exista uma proposta pedagógica.
Esta define o papel da unidade e as atividades pedagógicas que devem ser
desempenhadas ali. A proposta deve ser norteada pelas diretrizes pedagógicas para o
atendimento socioeducativo. Pedagogicamente, o SINASE trabalha com o conceito de
plano individual de atendimento, que leve em consideração as potencialidades,
capacidades e limitações dos adolescentes, ao mesmo tempo em que valoriza a prática
34
da tolerância e a inclusão dos indivíduos, com o respeito à diversidade étnico-racial, de
gênero e orientação sexual de cada adolescente.
Outra característica em destaque no SINASE é a ênfase à participação familiar e
comunitária no processo de socioeducação, por intermédio de atividades programáticas
que possam aproximar a família e fortalecer os vínculos com a comunidade.
O adolescente deve ser alvo de um conjunto de ações socioeducativas que contribua na sua formação, de modo que venha a ser um cidadão autônomo e solidário, capaz de se relacionar melhor consigo mesmo, com os outros e com tudo que integra a sua circunstância e sem reincidir na prática de atos infracionais. Ele deve desenvolver a capacidade de tomar decisões fundamentadas, com critérios para avaliar situações relacionadas ao interesse próprio e ao bem-comum, aprendendo com a experiência acumulada individual e social, potencializando sua competência pessoal, relacional, cognitiva e produtiva.( SINASE, 2006, p.51.).
O SINASE fortalece o ECA ao determinar diretrizes claras e específicas para a
execução das medidas socioeducativas por parte das instituições e profissionais que
atuam nesta área. Evita, assim, interpretações equivocadas de artigos do Estatuto que
trazem informações, às vezes, pouco aprofundadas sobre a operacionalização dessas
medidas.
De acordo com o SINASE as famílias devem possuir seus direitos tais como:
1) Garantir o atendimento às famílias dos adolescentes estruturado em conceitos e métodos que assegurem a qualificação das relações afetivas, das condições de sobrevivência e do acesso às políticas públicas dos integrantes do núcleo familiar, visando seu fortalecimento;2) Ampliar o conceito de família para aquele grupo ou pessoa com as quais os adolescentes possuam vínculos afetivos, respeitando os diferentes arranjos familiares; 3) Propiciar trabalhos de integração entre adolescentes e seus familiares que possam desenvolver os temas referentes à promoção de igualdade nas relações de gênero e étnico-raciais, direitos sexuais, direito à visita íntima (exclusivo para medida de internação), 4) Discussão sobre a abordagem e o tratamento sobre o uso indevido de drogas e saúde mental; 5) Desenvolver as ações contidas no Plano Nacional de Promoção, Defesa e Garantia do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária; 6) Realizar visitas domiciliares a fim de constatar a necessidade socioeconômica e afetiva das famílias e encaminhá-las aos programas públicos de assistência social e apoio à família; 7) Identificar e incentivar potencialidades e competência do núcleo familiar para o mundo do trabalho articulando programas de geração de renda, desenvolvendo habilidades básicas, específicas e de gestão necessárias à auto-sustentacão; 8) Promover ações de orientação e conscientização das famílias sobre seus direitos e deveres junto à previdência social, sua
35
importância e proteção ao garantir ao trabalhador e sua família uma renda substitutiva do salário e a cobertura dos chamados riscos sociais (tais como: idade avançada, acidente, doença, maternidade, reclusão e invalidez, entre outros), geradores de limitação ou incapacidade para o trabalho; 9) prever na metodologia da abordagem familiar do atendimento socioeducativo basicamente: atendimento individualizado, familiar e em grupo; elaboração de plano familiar de atendimento; trabalho com famílias e grupos de pares; inclusão de famílias em programas de transferência de renda visando à provisão de condições de sobrevivência às famílias integradas com políticas de emprego; visitas domiciliares; 10) Adotar sempre que possível e por meio de técnica de mediação de conflitos, com expressa concordância do adolescente, da família, do ofendido e das demais pessoas diretamente interessadas, a restauração do dano causado pela infração; 11) Rever na metodologia da abordagem comunitária dos programas de atendimento socioeducativo minimamente: espaços de convivência e participação em atividades de lazer, esporte e cultura com a vizinhança; participação da comunidade nos espaços do programa socioeducativo; divulgação das ações do programa nos meios de comunicação comunitária (SINASE, 2006,p 74 e 75).
1.3 A EXECUÇÃO DA INTERNAÇÃO PROVISÓRIA NO CESP: CENTRO SOCIOEDUCATIVO PASSARÉ
O Centro Socioeducativo Passaré - CESP é um dos oitos centros educacionais
mantidos pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social - STDS do Governo do
Estado do Ceará. Sua fundação ocorreu em sete de dezembro de dois mil e dez, localiza-se na Rua El Dourado, s/n, Passaré. Seu objetivo é atender, em regime de
internação provisória, adolescentes do sexo masculino, na faixa etária de 12 a 15 anos,
autores de ato infracional, por até 45 dias, enquanto aguardam o julgamento
processual. A capacidade total de acolhimento da instituição é de noventa e seis
adolescentes, dispostos em vinte e quatro dormitórios, sendo estes distribuídos em
duas alas existentes no CESP.
A missão da instituição é apoiar o adolescente no sentido da desconstrução da
identidade de infrator que lhe é impressa na situação de privado de liberdade com
vistas ao seu crescimento pessoal e atender os familiares, a fim de torná-los parceiros
no processo de retorno de seu filho ao convívio sócio-familiar. Seus objetivos atuais são
facilitar, através de atendimentos e atividades Sócio/Psíco/Pedagógicas, a reflexão de
adolescentes em conflito com a lei na sociedade, possibilitando que o mesmo seja
36
reinserido em seu ambiente sócio familiar e trabalhar juntamente com os adolescentes
as possibilidades para suas mudanças comportamentais e oportunidades para
superação de sua atual situação de vida. (Regimento Interno, 2011, p. 06).
O CESP é uma unidade de internação provisória vinculada à Proteção Social
Especial, que atualmente está sob responsabilidade do Programa de Proteção Social e
Medidas Sócio-Educativas da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social
(STDS). Segundo a Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004) a Proteção
Social Especial é:
A modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas sócio-educativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras. (BRASIL, p.31, 2004)
As ações demandam acompanhamento individual e apoio que assegurem
“qualidade na atenção protetiva e efetividade na reinserção almejada” (PNAS, p.31,
2004). As ações da proteção social especial podem ser consideradas de Média
Complexidade ou Alta Complexidade.
As ações de Média Complexidade proporcionam atendimentos às famílias e
sujeitos que tem seus direitos violados, porém seus vínculos familiares e comunitários
não foram rompidos. Dessa forma, necessitam de uma estruturação operacional
especializada e individualizada, através de acompanhamentos contínuos, nos seguintes
serviços e medidas: Serviço de Orientação e Apoio Sociofamiliar; Plantão Social;
Abordagem de Rua; Cuidado no Domicilio; Serviços de Habilitação e Reabilitação na
comunidade das pessoas com deficiência; Medidas socioeducativas em meio aberto
(Prestação de Serviços à Comunidade – PSC e Liberdade Assistida – L.A). (BRASIL,
p.20, 2004).
Já as ações relacionadas à Alta Complexidade têm por objetivo a proteção
integral através de ações relacionadas à moradia, alimentação, higienização e trabalho,
37
englobando famílias e indivíduos com vínculos familiares e comunitários rompidos, sem
referência e em situação de ameaça, necessitando afastar-se do convívio sócio-familiar.
Temos os seguintes espaços que contribuem para esse processo: Atendimento Integral
Institucional; Casa Lar; Abrigos; Casa de Passagem; Albergue; Família Substituta;
Família Acolhedora; Trabalho protegido e Medidas socioeducativas de privação de
liberdade (semiliberdade, internação provisória, internação sanção e internação sem
prazo). (BRASIL, p.20, 2004).
Sobre esta última, através da Coordenadoria de Proteção Social Especial do
Estado, busca-se garantir o atendimento e a proteção integral aos adolescentes autores
de atos infracionais, estando abalizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) e pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE).
Vale destacar que a oferta do serviço das medidas socioeducativas de privação
de liberdade cabe ao Estado, já os demais serviços podem ser oferecidos pelos
municípios.
O ECA dispõe dos procedimentos técnicos – operativos e jurídicos que deverão
ser aplicados à crianças e adolescentes, estabelecendo os direitos fundamentais desse
público. Vale salientar que o Estatuto deixa evidente, em seus capítulos referentes aos
atos infracionais, que os adolescentes autores de alguma ação ilícita possuem direitos
individuais e garantias processuais, entendendo esses atores como sujeitos em
desenvolvimento e que qualquer medida a ser aplicada deve considerar essa
peculiaridade, bem como primar por ações de caráter socioeducativo que possibilite o
adolescente um retorno ao convivo sócio-familiar.
As ações dos Centros Educacionais devem ser norteadas por esses três
documentos: PNAS, ECA e SINASE, pois neles constam os objetivos e ações que
precisam ser implementadas para um efetivo desenvolvimento dos adolescentes no seu
processo de privação de liberdade.
38
O regimento interno do CESP diz em seu Art. 3º que o mesmo possui
finalidade de executar a Internação Provisória, respeitando os dispositivos
constitucionais Federais e Estaduais, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei
8.069/90 e os pressupostos pedagógicos do Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo (SINASE).
O SINASE evidencia que a “internação provisória, cuja natureza é cautelar,
segue os mesmos princípios da medida Socioeducativa de internação (brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição de pessoa em desenvolvimento)” (SINASE,
2006, p. 27-28). A Internação Provisória não é uma medida socioeducativa, contudo,
pressupõe uma decisão judicial devidamente embasada nos princípios dos direitos
humanos e, principalmente, encontra-se descrita e assegurada pelo ECA e pelo
SINASE. O artigo 123 caput e seu parágrafo único prevêem que a internação provisória
deverá ocorrer em entidade exclusiva para adolescentes, ou abrigo para crianças até
12 anos incompletos, obedecida rigorosa separação por critérios de idade e compleição
física, sendo obrigatório que os mesmos estejam inseridos em atividades escolares.
O atendimento deverá garantir a proteção integral dos direitos dos adolescentes,
por meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais.
De acordo com o regimento interno, em seu Art. 9º - São princípios do atendimento
socioeducativo ao adolescente:
I Respeito aos direitos humanos; II Responsabilidade solidária entre a sociedade, comunidade, o Estado e a família; III Respeito à situação peculiar do adolescente como pessoa em desenvolvimento; IV Prioridade absoluta para o adolescente; V Legalidade; VI Respeito ao devido processo legal; VII Excepcionalidade e brevidade; VIII Incolumidade, integridade física e segurança; IX Respeito à capacidade do adolescente em cumprir a medida, com preferência àquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários; X Incompletude institucional; XI Garantia de atendimento especializado ao adolescente portador de deficiência; XII Mobilização da opinião pública no sentido da indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade; XIII Descentralização político-administrativa; XIV Gestão democrática e participativa; XV Prevalência da ação socioeducativa sobre os aspectos meramente sancionatório; XVI Projeto Político-Pedagógico Institucional como ordenador da ação e gestão do atendimento socioeducativo; XVII Participação dos adolescentes na construção, no monitoramento e na avaliação das ações socioeducativas; XVIII Respeito à singularidade do
39
adolescente, presença educativa e exemplaridade como condições necessárias na ação socioeducativa; XIX Disciplina como meio para a realização da ação socioeducativa; XX Família e comunidade participando ativamente da experiência socioeducativa. (Regimento Interno, 2010, p. 09 e 10).
O CESP conta com uma equipe multiprofissional, composta por uma equipe
técnica com uma Advogada, duas Assistentes Sociais, uma Psicóloga, duas Pedagogas
e um Educador Físico, complementada com uma auxiliar de enfermagem; bem como
uma secretária que auxilia nos procedimentos administrativos da unidade. A direção
fica responsável por toda a dinâmica do centro educacional e os instrutores
educacionais pelo acompanhamento e supervisão dos adolescentes em todas as
atividades internas e externas a Unidade.
A admissão do adolescente na unidade ocorre mediante encaminhamento, via
oficio, do Juizado da Infância e Juventude de Fortaleza, ou através do termo de
transferência encaminhada pelo Centro Educacional São Miguel – CESM12. No caso do
adolescente ser advindo de outra comarca, o mesmo deverá ser encaminhado pelo seu
condutor a Unidade de Recepção Luiz Barros Montenegro13 para os procedimentos
necessários.
Ao chegar à unidade o adolescente é recepcionado e atendido pela direção,
quando a mesma passa orientações sobre as regras da unidade, logo depois é
atendido pelos demais setores como o Serviço Social, Setor Jurídico, Setor
Pedagógico, Setor Psicológico e Setor de Enfermagem. Vale ressaltar o Art. 92 do
Regimento Interno (p.55, 2011) que diz: “A recepção constitui-se em um conjunto de
procedimentos direcionados para realizar a entrada do adolescente no Centro
Educacional em que cada setor possui atribuições específicas”.
12 Atende, em regime de internação provisória, adolescentes de 12 a 18 anos do sexo masculino em conflito com a Lei, enquanto aguardam a conclusão do processo de apuração do ato infracional pelo Juizado da Infância e da Juventude. 13 Acolhe o adolescente de 12 e 18 anos acusado da prática de ato infracional, por até 24 horas, encaminhado pela Delegacia da Criança e do Adolescente ou reconduzido pelo Juiz da Infância e da Juventude e pelas comarcas do interior do Estado, enquanto a medida socioeducativa é estabelecida judicialmente.
40
Em relação à infra-estrutura, além dos setores técnicos, com estrutura de cinco
salas de atendimento e disponibilidade de uma sala para as reuniões, há a sala da
direção, da secretaria, do almoxarifado, a cozinha e a lavanderia. Para os adolescentes
existem: alas de convivência, dormitórios; salas de aula; salão para atividades lúdicas
(extras); quadra esportiva, refeitório e salas para as oficinas.
Os adolescentes possuem além dos deveres de frequentar a sala de aula
escolar, a aula de esporte e as oficinas, os seguintes direitos: atendimento nos setores
social, jurídico, pedagógico e psicológico; atendimentos médico-odontológico; contato
telefônico semanalmente com seus familiares (caso o adolescente não receba visita);
receber visitas dos pais, avós, (duas vezes por semana) tios e irmãos (uma vez por
semana), tiragem de documentos e atendimento no Centro de Atenção Psico Social
(CAPS) sempre que necessitar. O CESP através de atendimentos e projetos busca
estimular reflexões criticas dos adolescentes.
Pode-se citar os seguintes projetos: Projeto “Papo-Cabeça”: realização de
palestras, buscando temas interligados a cada setor técnico, ficando de
responsabilidade de cada setor técnico a organização, exibição e convite de
palestrantes e colaboradores; Projeto “Pipoca pra Vida”: exibição de filmes com temas
diversos e discussão dos mesmos junto aos adolescentes e equipe técnica, com o
objetivo de abordar, através e rodas de conversas, temas interligados à medida
socioeducativa, dando importância à fala dos adolescentes; Projeto de “Família”:
conversas realizadas junto às famílias dos adolescentes com o intuito de manutenção
dos vínculos; Projeto “Adolescente Cidadão”: emissão de documentação (RG, CPF,
Carteira de Trabalho, entre outros), nas instituições adequadas ou na forma de mutirão
da instituição vindo até à Unidade, além da criação de currículo a partir da participação
das oficinas e cursos profissionalizantes oferecidos na unidade.
41
II – A FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE E OS SIGNIFICADOS DO ACOMPANHAMENTO DE ADOLESCENTES AUTORES DE ATOS INFRACIONAIS
Este capítulo tratará os diversos modelos de família que se encontram na
sociedade contemporânea, bem como serão expostos os significados para os
adolescentes e para seus familiares sobre o acompanhamento dos adolescentes
durante a internação provisória.
2.1 OS MODELOS DE FAMÍLIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E A REALIDADE BRASILEIRA
Para se pensar sobre a formação da família brasileira hoje, faz-se necessário
entender os aspectos históricos e culturais que têm marcado a sua formação social.
Existiram povos de diferentes etnias, e surgiu uma grande diversidade de cultura, e
consequente de famílias.
De acordo com o autor Bruschini:
Nos primeiros séculos de colonização temos como modelo dominante de organização a família tradicional, patriarcal, extensa, rural que resultou da adaptação do modelo de família trazido pelos portugueses ao modelo socioeconômico em vigor no país. (2000, p.50).
O “pater famílias14”, chefe da família, concentrava as funções militantes,
empresariais e afetivas, com uma distribuição extremamente rígida e hierárquica de
papéis, a família patriarcal caracteriza-se também pelo controle da sexualidade feminina
e regulamentação da procriação, para fins de herança e sucessão. A sexualidade
masculina se exercia, no entanto, livremente. Os casamentos eram realizados por
14 Pater famílias (plural: patres famílias) era o mais elevado estatuto familiar (status família) na Roma Antiga, sempre uma posição masculina. O termo é latim e significa, literalmente, "pai da família". A forma é irregular e arcaica em Latim, preservando a antiga terminação do genitivo em-as. O termo pater se refere a um território ou jurisdição governado por um patriarca. (www, artigos as-inovacoes-constitucionais-no-direito-de-familia ).
42
conveniência, entre parentes ou entre membros de famílias ricas que desejavam
estabelecer alianças.
A família patriarcal era composta pela esposa e seus filhos. Este modelo de
familia era uma forma dominante de constituição social e política e tinha no seu poder,
o controle dos recursos da sociedade.
Com a chegada da segunda metade do século XIX, com o início do processo de
industrialização, ocorrem inúmeras mudanças na família e principalmente no modelo
patriarcal, seguido até então. Começa a aparecer à família denominada como moderna,
na qual as pessoas tinham o poder de escolher para a realização do casamento
parceiros por sua opção.
Com a chegada da modernização mudaram-se as concepções sobre o lugar da
mulher nos alicerces da moral familiar e social. A mulher passa a exercer o papel de
mãe educadora dos filhos e de suporte do homem para que este pudesse exercer o
trabalho fora de casa.
As existências de traços da família patriarcal na família moderna persistem até o
século XX, fundamentada inclusive na legislação, pois, no Brasil, somente a
Constituição de 1988 que dispõe em seu artigo 5º, caput, sobre o princípio
constitucional da igualdade, perante a lei, nos seguintes termos: Artigo 5º. Todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. A mulher e o homem
são assumidos com igualdade no que diz respeito aos direitos e deveres na sociedade
conjugal.
Hoje os novos modelos de família que se apresentam na sociedade, sofreram
várias modificações ao longo dos tempos. Ao retratar sobre o significado de família,
surgem varias explicações.
43
Silva (1991) trata que o termo família, origina-se do latim fâmulus que significa
conjunto de servos e dependentes de um chefe ou senhor. Entre os dependentes inclui-
se a esposa e filhos. Pensar em família ainda traz a mente o modelo convencional, um
homem e uma mulher unidos pelo casamento e cercados de filhos. É evidente o quanto
esse modelo não é mais padrão na sociedade. É válido ressaltar o que mostra Sarti
(2005) acerca de sua percepção sobre o tema:
Embora a família continue sendo objeto de profundas idealizações, as realidades das mudanças em curso abalam de tal maneira o modelo idealizado que se torna difícil sustentar a ideia de um modelo “adequado”. Não se sabe mais, de antemão, o que é adequado ou inadequado relativamente à família. No que se refere às relações conjugais quem são os parceiros? Que família criaram? Como delimitar a família se as relações entre pais e filhos cada vez menos se resumem ao núcleo conjugal? Como se dão as relações entre irmãos, filhos de casamentos, divórcios, recasamentos de casais em situações tão diferenciadas? Enfim, a família contemporânea comporta uma enorme elasticidade. (2005, p. 25).
Apesar de todas as transformações que ocorreram ao longo da trajetória
histórica, sejam no aspecto econômico, cultural ou social, a família nuclear é vista como
um produto da sociedade contemporânea, o modelo nuclear burguês não deixa de ser
dominante. De acordo com DIAS “A família moderna, nuclear, é influenciada pelo
individualismo, não se liga muito aos laços de parentesco, como antes, no entanto é
bastante centrada no afeto entre seus membros”. (2007, p. 30).
Na contemporaneidade entende-se por família um grupo de pessoas que optam
por conviver por razões afetivas, assumindo um compromisso, ou seja, independente
até mesmo de laços sanguíneos. Percebem-se hoje, famílias com base em uniões
livres, sem o casamento civil e/ou religioso. As novas configurações familiares de
acordo Kaslow (2002) podem ser classificadas em nove tipos de composição familiar:
1) Família nuclear, incluindo duas gerações, com filhos biológicos; 2) famílias extensas, incluindo três ou quadro gerações; 3) famílias adotivas temporárias (Foster); 4) famílias adotivas, que podem ser bi-raciais ou multiculturais; 5) casais; 6) famílias monoparentais, chefiadas por pai ou mãe; 7) casais homossexuais com ou sem crianças; 8) famílias
44
reconstituídas depois do divórcio; 9) várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte compromisso mútuo (2002, p.10).
Citando Calderon e Guimarães (1994), o modelo de família nuclear vem se
modificando como resultado dos impactos causados pelo crescimento da economia e
da sociedade burguesa, fragilizando os vínculos familiares. A família nuclear composta
por pai, mães e filhos, por meio de laços de aliança e consanguinidade, é ainda
considerada um modelo de família ideal.
Não existe um único modelo familiar, a família, pela perspectiva histórica, tem-se
apresentado em diversas composições e características, sendo de suma importância
para a construção de uma igualdade na sociedade.
2.1.1 O PAPEL SOCIAL DA FAMÍLIA
A família é a instituição primária de referência para crianças e adolescentes,
conforme o ECA no art.4º a família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar
os direitos a estas crianças e adolescentes que estão em fase de desenvolvimento.
[...] um ambiente familiar afetivo e continente às necessidades da criança, e mais tarde do adolescente, constitui a base para o desenvolvimento saudável ao longo de todo o ciclo vital. Tanto a imposição do limite, da autoridade e da realidade, quanto o cuidado e a afetividade são fundamentais para a constituição da subjetividade e desenvolvimento das habilidades necessárias à vida em comunidade. Assim, as experiências vividas na família tornarão gradativamente a criança e o adolescente capazes de se sentirem amados, de cuidar, se preocupar e amar o outro, de se responsabilizar por suas próprias ações e sentimentos. Estas vivências são importantes para que se sintam aceitos também nos círculos cada vez mais amplos que passarão a integrar ao longo do desenvolvimento da socialização e da autonomia. (WINNICOTT, 2006, p.32).
De acordo com Jesus (2006), os laços de afeto e a convivência geram uma
responsabilidade mútua entre os membros de uma família, um dever de cuidado
recíproco, que se acentua em relação à responsabilidade dos mais velhos pelos mais
novos. No processo de desenvolvimento da criança e do adolescente, a família tem o
papel de prover dos direitos fundamentais que são: afeto, saúde, alimentação, abrigo e
45
educação. É imprescindível compreendermos que “as trocas afetivas na família, deixam
marcas que as pessoas carregam por toda a vida, definindo direções no modo de ser
afetivamente e no modo de agir com as pessoas” (Szymanski, 2002, p. 12).
De acordo com Szymanski (2005) O mundo familiar mostra-se numa vibrante
variedade de formas de organização, com crenças, valores e práticas desenvolvidas na
busca de soluções para as vicissitudes que a vida vai trazendo. .
Pode-se ver que a importância da família como entidade relacionada nos
vínculos familiares está reduzindo a cada dia. A influência da escola, do ambiente de
trabalho e de outras instâncias pode introduzir no diálogo familiar elementos de
discussão e até de conflito.
Segundo Corrêa (2002):
Pai e mãe sentem-se esmaecidos, confusos, ambivalentes quanto aos seus papéis e quanto aos valores a serem transmitidos aos filhos. A exposição a que estamos submetidos pela avalanche das transformações sociais, culturais e econômicas acaba por alterar os códigos e valores que são usados na formulação que possamos fazer de nós mesmos e da família. (Corrêa, 2000, p. 130).
A família é uma entidade que desempenha funções variadas. Uma das funções
principais da família é preparar a criança para ser inserida na sociedade. O artigo 226
da Constituição Federal de 1988 dispõe que “a família é a base da sociedade”.
Contudo, a família pouco tem condições para inserir as crianças na sociedade e, cada
vez menos, o faz devidamente. Pode-se ver que muitas famílias passam mais tempo no
âmbito da rua do que com seus filhos, diminuindo assim as conversas, já não fazem
refeições em comum ocorrendo um afastamento devido ao seu cotidiano.
As transformações sociais atingiram diretamente o núcleo familiar e originaram
novas concepções de família, que não são mais equiparadas à tradicional família
patriarcal. A busca pela realização pessoal tem diminuído o número de componentes
familiares e consequentemente, há uma redução no tempo que os pais deveriam
disponibilizar aos filhos. Com a desigualdade na distribuição de renda, aumenta-se os
níveis de pobreza, muitas famílias são excluídas das condições mínimas de
46
subsistência, ou seja são excluídas das políticas sociais que abrangem o trabalho, a
educação, a saúde, a habitação e a alimentação. (Teixeira, 2009)
2.1.2 OS ADOLESCENTES E O COMETIMENTO DO ATO INFRACIONAL
Faz-se necessário explicitar que a adolescência é um período de construção da
identidade. É por volta dos doze anos de idade que a criança passa por transformações físicas e psíquicas em parte motivadas pelo início da produção dos hormônios sexuais, mas para a Organização Mundial de Saúde esse processo pode tanto começar mais cedo quanto se estender além dos dezoito anos. (JESUS, 2006, p. 27).
A identidade é um processo, que se dá com turbulências e provoca confusões.
Durante a adolescência ocorrem as seguintes mudanças: maturidade sexual e
reprodutiva; desenvolvimento psicológico dos padrões cognitivo e emocional do adulto,
emergência do estado infantil de total dependência socioeconômica para um estado de
relativa independência.
É visível que crianças e adolescentes, para atender suas necessidades básicas
de consumo, de realização pessoal e busca pela identidade, se inserem no mercado de
trabalho para ajudar sua família com as despesas e algumas crianças e adolescentes
por não terem condições mínimas de subsistência e para realizar seus desejos de
compra, acabam se envolvendo com práticas de atos infracionais.
Eu trabalhava ajudando meu pai na lan house, mas a minha madrasta não queria me dar dinheiro, ai eu fui atrás de outra coisa, no mercantil pra entregar água só que é muito puxado e o dinheiro é muito pouco, ai os cara me chamaram pra ganhar dinheiro fácil ai eu fui. (Eduardo).
Percebe-se que alguns adolescentes, mesmo tendo uma fonte de renda,
acabam se envolvendo com o cometimento de ato infracional como furtos, roubos e
outros que possam render dinheiros ou bens para manter a compra de drogas ou de
roupas e tênis de marcas famosas, bem como de aparelhos tecnológicos que os façam
se sentirem inseridos na sociedade de consumo.
47
O desejo de ser reconhecido socialmente e o apelo à autonomia, em um cenário permeado pelos valores burgueses neoliberais que defendem o efêmero, a competição predatória, o individualismo e outros, têm feito os adolescentes agirem de formas diversas, em alguns casos, submetendo-se a ordem e, em outros, infringindo as regras sociais impostas, o que muitas vezes os levam a um comportamento transgressor. (CARVALHO, 2005, p.02)
Após o cometimento do ato infracional e tendo que responder pelo ato cometido
com a internação, muitos adolescentes passam a reconhecer sua realidade social e
apresentam o discurso de valorização da escola, do trabalho e da família como
processo de “mudança de vida”.
Quando eu sair daqui, eu não vou mais fazer isso não, vou voltar pra escola, e vou trabalhar pra ajudar minha mãe que tem muito mais futuro (Daniel).
No entanto, há pouca expectativa em relação às reais transformações de suas
vidas no que consiste a escolarização e o trabalho, mas o acompanhamento da família
se torna um fator preponderante para enfrentamento do cumprimento da medida.
2.2 PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS ADOLESCENTES DO CENTRO SOCIOEDUCATIVO PASSARÉ
Com o intuito de melhor sistematizar as informações contidas neste item são
considerados o perfil socioeconômico dos adolescentes participantes da pesquisa. É
necessário informar que a definição dos adolescentes pesquisados foi feita através dos
seguintes critérios: adolescentes da comarca de Fortaleza, que estão internos no CESP
e que receberam visitas semanais na primeira quinzena de abril, já que o foco era
analisar o papel da família no acompanhamento dos adolescentes. Neste perfil, 06
adolescentes foram selecionados.
Para garantir o anonimato e o sigilo dos adolescentes serão usados nomes
fictícios para identificá-los, uma vez que relataram sobre seu relacionamento familiar e
vivências no Centro Socioeducativo Passaré, sendo assim, pode-se ouvir os
entrevistados;
48
Ermerson, 14 anos, reincidente, cessou as atividades escolares no nível fundamental
I, nunca trabalhou, sua renda familiar é aproximadamente dois salários mínimos, relata
que seu domicílio é alugado sendo mantido por sua genitora, é filho de pais separados
há aproximadamente 10 anos, ficando sob os cuidados de sua genitora e avó. Verbaliza
fazer uso de maconha desde os 12 anos de idade. No tocante ao cometimento do seu
ato infracional, foi encaminhado ao CESP pelo ato infracional tipificado como Tentativa
de Homicídio. Quanto ao seu relacionamento familiar, cita que antes do envolvimento
com práticas ilícitas possuía uma ótima relação com todos, sobretudo, desde que
iniciou tais práticas tornou-se muito agressivo com sua genitora e irmãs. Indagado
sobre o que é família relata serem sua mãe e sua avó, sendo estas que lhe visitam na
unidade com frequência, conta ainda saber que as duas ficam muito tristes, contudo,
sente-se bem com a presença das mesmas. Descreve seu cotidiano na unidade como
bom, pois brinca de dominó com os outros adolescentes, joga bola e faz artesanato.
Conta que se não recebesse visita ficaria com muita saudade e não saberia como iria
suportar a falta da família.
Breno, 14 anos, reincidente, interrompeu as atividades escolares no nível fundamental
II, nunca trabalhou, sua renda familiar é um salário mínimo, seu domicílio é alugado,
sendo mantido por sua genitora, seus genitores são separados há 15 anos, reside
atualmente com a genitora, o padrasto e um irmão com quem, segundo sua fala, possui
um bom relacionamento. Verbaliza fazer uso de entorpecentes tais como: maconha e
roupynol desde os 11 anos de idade. Quanto ao cometimento do seu ato, foi
encaminhado ao CESP pelo ato infracional tipificado como Roubo. Verbaliza que
mesmo entrando para o crime seu relacionamento familiar nunca mudou. Descreve que
família significa sua mãe e sem a presença dela ficaria triste, sendo esta que lhe visita
com frequência na unidade, relata que conta os dias para a visita, conta que já ouviu
muitos conselhos de sua mãe e sabe que lhe causa muita tristeza seus envolvimentos,
contudo, não tem interesse de sair do mundo do crime. Descreve seu cotidiano como
“mais ou menos”, pois quando está em seu dormitório não se sente bem pelo fato de
ficar com outros adolescentes, em contra partida, faz artesanato e participa da oficina
49
de vime. Expõe que sua mãe nunca o deixaria de lado e jamais o abandonaria e caso
isso acontecesse ele ia ficar com muita raiva.
Anderson, 15 anos, reincidente, cursa o nível fundamental II, nunca trabalhou, sua
renda familiar é um salário mínimo, sua residência é alugada, sendo mantida por seu
genitor, reside com sua genitora, genitor e irmãos. Relata fazer uso de entorpecentes
tais como: maconha e rhoupynol desde os 13 anos de idade. Foi encaminhado para o
CESP pelo ato infracional tipificado como Porte Ilegal de Arma de Fogo. Conta que seu
relacionamento familiar mudou bastante desde que cometeu seu primeiro ato
infracional, pois antes não tinha briga com ninguém e agora está muito difícil conviver
com seus pais. Quando indagado sobre o significado de família fala ser sua mãe,
amizade, carinho e apoio. Recebe visita frequente de sua genitora e fica muito feliz por
ela não faltar nenhum dia, pois se a genitora deixasse de visita-lo ia ser difícil passar
quarenta e cinco dias sem vê-la. Quanto ao seu cotidiano na unidade, relata que é fazer
artesanato, almoçar e conversar com os amigos. Conta que a presença de sua mãe é
muito importante para apoiá-lo e aconselhá-lo a sair dessa vida e estudar para arranjar
um emprego.
Daniel, 15 anos, reincidente, cursa o nível fundamental II, trabalha como ajudante de
pedreiro, sua renda familiar é um salário mínimo, sua residência é própria, sendo
mantida por seu padrasto e sua irmã, é filho de pais separados há aproximadamente 13
anos, reside com sua genitora, irmãos e padrasto com quem, segundo sua fala, possui
uma boa relação. Quanto ao genitor relata possuir contato frequente. Verbaliza fazer
uso de maconha desde os 10 anos de idade. No tocante ao cometimento do seu ato
infracional foi encaminhado ao CESP pelo ato infracional tipificado como Homicídio.
Relata que seu relacionamento familiar é normal e nunca mudou. Quando indagado
sobre o que significa família o mesmo diz que são sua mãe, seu pai e seus irmãos. São
sua genitora e suas irmãs que lhe visitam na unidade com frequência, conta ainda que
sua mãe em todas as visitas chora muito, descreve que a sua maior alegria é ver sua
visita chegando a unidade, pois durante as visitas escuta muito os conselhos de sua
mãe. Seu cotidiano na unidade é muito “legal” de acordo com sua fala, acorda, toma
50
banho, escova os dentes, merenda, estuda, almoça, joga bola, recebe visita e janta.
Menciona que se não recebesse visita seria ruim, ia acabar se envolvendo em conflitos,
além de ficar chorando, já que para ele a família será o motivo de sua mudança.
Eduardo, 15 anos, reincidente, cessou as atividades escolares no nível fundamental II,
trabalha como entregador de água em um mercadinho, sua renda familiar é mais de
dois salários mínimos, sua residência é alugada, sendo mantida por seu genitor, é filho
de pais separados há aproximadamente 10 anos, reside com o genitor e sua madrasta
com quem, segundo sua fala, possui uma boa relação. Possui contato frequente com
sua genitora. Verbaliza fazer uso de entorpecentes tais como: maconha, cocaína e
roupynol desde os 10 anos de idade. No tocante ao cometimento do seu ato infracional,
foi encaminhado ao CESP pelo ato infracional tipificado como Roubo. Relata que seu
relacionamento familiar é normal e não apresenta diferenças após o cometimento do
ato infracional. Quando indagado sobre o que significa família, o mesmo diz que são
sua mãe e seu pai, sendo sua genitora e seu genitor quem lhe visita na unidade com
frequência, conta ainda que se não recebesse visita ficaria “perturbado do juízo”.
Menciona que seu cotidiano na unidade é praticar esporte, estudar e fazer artesanato.
Verbaliza que sem o apoio de seus genitores não aguentaria passar esses quarenta e
cinco dias.
Douglas, 13 anos, primário, cessou as atividades escolares no nível fundamental I,
trabalha em um lava-jato de carros, sua renda familiar é de um salário mínimo, relata
que sua residência é própria, sendo mantida por seu padrasto, é filho de pais
separados há aproximadamente 10 anos e ficou sob os cuidados de sua genitora.
Verbaliza fazer uso de entorpecentes tais como: maconha e cocaína desde os 13 anos
de idade. No tocante ao cometimento do seu ato infracional, foi encaminhado ao CESP
pelo ato infracional tipificado como Roubo. Quanto ao seu relacionamento familiar, cita
que sempre estava perto de seus entes, contudo, após o envolvimentos com práticas
ilícitas se afastou de todos. Quando indagado sobre o que significa família o mesmo diz
ser tudo em sua vida, recebe visita frequente de sua genitora quando escuta vários
conselhos, exemplo: “todo mundo erra e tem uma segunda chance”. Seu cotidiano na
51
unidade, de acordo com sua fala, é ficar com os amigos jogando bola. Sem o apoio da
sua família os dias seriam tristes e de muita saudade.
É válido ressaltar que cinco dos entrevistados acima tiveram grande interesse
em colaborar com a pesquisa, apenas um a princípio falava respostas prontas, contudo,
após alguns momentos de conversa começou a se envolver com a pesquisa. As
conversas ocorreram na sala do serviço social em horário normal de atendimentos. A
duração da conversa foi de quinze minutos com cada adolescente.
Durante a pesquisa, senti a necessidade de construir uma análise que
permitisse uma aproximação maior com a realidade dos fatos, de modo que o leitor
entenda o que pretendi passar e contribuir para um melhor entendimento do
acompanhamento familiar dos adolescentes, bem como demonstrar a importância
desse acompanhamento como um dos elementos que contribui para que possam assim
cessar com as práticas de atos infracionais.
Percebe-se no perfil dos sujeitos entrevistados que 04 adolescentes cessaram
as atividades escolares e apenas 02 continuam estudando. É importante destacar
também a questão da renda, pois dos 06 adolescentes entrevistados, 04 vivem com um
salário mínimo e 02 vivem com mais de um salário e mesmo sendo menores de 16
anos, 03 adolescentes trabalhavam o que de acordo com o ECA configura trabalho
infantil. Podemos ressaltar que os 06 adolescentes são dependentes químicos e quanto
ao cometimento de ato infracional, as tipologias dos atos podem ser consideradas
graves e outro elemento relevante observado foi a reincidência, pois dos 06
adolescentes 05 são reincidentes. Quanto aos aspectos familiares, observamos a
constituição de configurações familiares, isto é, novos modelos de organização familiar,
percebemos que o cometimento das infrações para 03 adolescentes alterou a relação
com os membros da família, sobre a percepção de família, os adolescentes em sua
maioria destacaram que a representação familiar se refere as pessoas que possuem
referência afetiva, acompanhamento ou grau de importância na vida do adolescente
podemos enfatizar que todos os seis entrevistados relataram que a família é de suma
52
importância no acompanhamento da internação provisória, uma vez que a presença
dos familiares ajuda a enfrentar a internação, embora os 06 adolescentes tenham
relatado que estão bem no cotidiano institucional.
2.3 ESCUTANDO OS ADOLESCENTES - “OLHANDO AS FAMILIAS”
Aqui iremos relatar os principais significados dados pelos adolescentes sobre o
acompanhamento familiar durante a internação provisória. Ao escutar os adolescentes
percebe-se que os mesmos se sentem mais confiantes quando têm a presença da
família no cotidiano da instituição.
Minha família pra mim é tudo. Eu acho que família é em primeiro lugar né, pois ela te ajuda em tudo, pra o que der e vier né, nos dias difíceis, nos dias fáceis. Ah eu acho que, quando tipo quando eu sair daqui vou ouvir mas ela, ela aqui me visitando sempre está sendo ótimo, com certeza agora tipo eu não pensava na minha mãe, agora eu penso, agora acho que se eu ficar sem ela acho que seria muito triste. (Ermerson) Ah, a família pra mim é minha mãe, isso que é família pra mim. (Breno).
Diante do relato dos adolescentes percebe-se (sujeito indefinido) que a família é
de extrema importância para o acompanhamento dos adolescentes, pois estes estão
em processo de desenvolvimento e compete a família o cuidado e o afeto,
compreendendo que os adolescentes precisam de referências para a formação da sua
identidade.
Ainda com o intuito de aprofundar mais a temática família e sua importância no
acompanhamento dos adolescentes, podemos perceber a identificação dos familiares
como a base ou um apoio para superação dos problemas dos adolescentes:
A minha família sempre me incentivou a estudar, a fazer cursos profissionalizantes para que eu conseguisse meu primeiro emprego, na verdade eu que segui o caminho errado, mas graças a deus minha mãe não me abandonou. (Douglas) Meus pais mesmos separados são tudo e nunca me desampararam, antes de eu vir pra cá eles ficavam tristes porque eu ficava na rua direto, mas mesmo eu estando aqui eles vem me visitar alegre e emocionado. (Eduardo)
53
Diante do exposto podemos perceber que a presença da família é
imprescindível no processo de formação da criança e do adolescente, pois é a primeira
instituição que o adolescente vai se referenciar, todavia, a ausência familiar pode
ocasionar a aproximação das crianças e adolescentes de grupos sociais envolvidos
com práticas ilícitas.
O empobrecimento social descomedido, gerado pelo modelo econômico capitalista, concentrador de rendas, e ampliado pela falta de políticas públicas, faz com que comportamentos adversos se instalem no seio familiar. Percebemos uma ausência dos adultos advinda, dentre outros fatores, do acumulo ou da busca de trabalho. [...] essa ausência, mesmo que involuntária, leva o adolescente/jovem a estabelecer outros laços em sua comunidade, muitas vezes bastante desviantes. (Losacco, 2002, p. 73).
Deste modo, entende-se que o acompanhamento da família é de suma
importância no processo no qual o adolescente do CESP está enfrentando, de buscar
novas perspectivas de vida e cessação dos atos infracionais. Não podemos culpabilizar
a família por tais pratica ilícita, porém, compreende-se que esta se encontra inserida em
uma sociedade capitalista, onde vários familiares enfrentam diversas situações sendo o
desemprego o maior de todos, além do trabalho precário com jornadas de trabalho que
torna as relações familiares muito fragilizadas e muitas vezes rompidas.
Eu tenho que roubar pra comprar minhas coisas é um dinheiro certo e fácil, não peço minha mãe porque sei que ela só tem o da comida, e também não tem trabalho pro de menor. (Breno).
Alguns adolescentes relatam o trabalho como um fator negativo, uma vez que
por serem inseridos em um mercado informal (sem registro profissional na carteira de
trabalho) acabam sendo explorados em seus afazeres e não satisfazem suas
necessidades de consumo, os adolescentes buscam, então, em atos infracionais uma
saída para a satisfação de suas necessidades.
É valido ressaltar que é necessária a realização de um acompanhamento da vida
do adolescente, principalmente por parte de seus familiares, sejam eles genitora,
genitor, uma avó, uma tia, isto é, uma figura referência na vida do adolescente, que
54
possa promover/incentivar o desenvolvimento das habilidades deste, para que ele
possa pensar em um futuro melhor, com oportunidades e chances de superar a vida
infratora. Também é preciso destacar o papel do Estado e da organização social na
promoção de estratégias humanas e políticas que promovam o acesso aos bens sociais
ao adolescente que está buscando uma mudança de vida.
2.4 ESCUTANDO AS FAMÍLIAS – “OLHANDO OS ADOLESCENTES”
É visto que em todas as famílias ocorrem períodos de mudanças, provocados
por acontecimentos que interferem e modificam sua realidade. Muitas vezes essas
modificações são provocadas por conta do desenvolvimento de cada ser humano,
como o nascimento, a infância, adolescência, a vida adulta, velhice e, por fim, a morte.
O processo considerado doloroso, é marcado por um período de insegurança e tensão,
mas a tendência é que a família passe pela tentativa de acerto e erro, buscando algum
equilíbrio entre os padrões confortáveis que lhes serviram no passado e as exigências
realistas de sua nova situação (P. Minuchin,Colapinto & S. Minuchin, l999).
Para Minuchin (1990), a família é uma unidade social que tem como função
atuar em uma série de tarefas de desenvolvimento. Dessa forma, cada cultura tem suas
variáveis, mas a família em si tem origens mundiais.
É valido complementar o quanto a estrutura familiar deve ter flexibilidade para se
adaptar quando as circunstâncias mudam. O apoio, a educação e a orientação são
estratégias fundamentais para as reorganizações familiares.
Falceto (1989) afirma que:
Família é considerada tanto mais normal, funcional, quanto mais estiver num ponto intermediário, de equilíbrio, tendo regras estabelecidas, usadas flexivelmente, de acordo com o momento vivido e o estágio de desenvolvimento. (p.134).
55
Como já foi visto no capitulo anterior, nos dias atuais as famílias caracterizam-
se de diversos modos: casais em seu segundo ou terceiro casamentos, vivendo com
filhos de relacionamentos anteriores; pais e mães solteiras se responsabilizando por
sua prole ou dividindo esta responsabilidade com suas famílias originais; filhos adotivos
dessas diferentes relações etc. Há toda essa diversidade e inúmeras outras fazendo
parte do contexto atual.
Após entrevistar os adolescentes e ouvir seus relatos, é de suma importância
escutar seus familiares sobre o contexto de suas vidas, os mesmos serão nomeados de
forma fictícia, como forma de preservar o anonimato.
Sabrina, mãe do adolescente Ermerson, cessou as atividades escolares no 7º ano do
ensino fundamental, atualmente não está trabalhando, sua renda familiar é um salário
mínimo, relata que sua residência é própria sendo mantida por seu companheiro, onde
residem seus filhos e o padrasto dos mesmos. Quanto aos envolvimentos do
adolescente com as práticas ilícitas verbaliza que só descobriu quando os vizinhos
começaram a falar, sendo constato em sua primeira apreensão, sobre a reincidência na
unidade a referida senhora relata que ficou tranquila, pois já havia o aconselhado a se
afastar dessas amizades. Conta ainda que antes ele era calmo com as irmãs, contudo,
hoje não respeita mas ninguém. Expõe que não pensa em desistir de visita- ló, porque
sabe que ele é um menino bom e não quer que ele se sinta sozinho. Quando indagada
sobre como ela percebe o acompanhamento da unidade com o adolescente, a genitora
descreve que em alguns momentos ficam muito triste devido os conflitos do
adolescente com outros na unidade, contudo, acha que todos ajudam muito para o
mesmo parar de se envolver. Perguntada como a família tem acompanhado o
adolescente, a genitora diz que o tem acompanhado com visita, e vai sempre ficar do
lado dele para aconselhá-lo.
Bruna, mãe do adolescente Breno, cessou as atividades escolares no 6º ano do
ensino fundamental, atualmente está trabalhando como faxineira, sua renda familiar é
de um salário mínimo, relata que sua residência é alugada, sendo mantida pela mesma
56
e por seu companheiro, onde residem seus dois filhos e o padrasto dos mesmos.
Quanto aos envolvimentos do adolescente com as práticas ilícitas verbaliza que só
descobriu quando o adolescente começou a chegar com objetos em casa. Quanto sua
reincidência na unidade, a referida senhora relata que já esperava devido ao
adolescente continuar chegando tarde à sua casa e com objetos que não conhecia.
Verbaliza que nunca o tratou diferente, e não pensa em deixar de visita-ló, pois
abandonar não resolve nada. Expõe que percebe o acompanhamento da unidade muito
bom para que o mesmo se afaste desses envolvimentos. Perguntada como a família
tem acompanhado o adolescente, a genitora diz que não pretende desistir de ajudar
para que ele pare de se envolver com atos infracionais.
Larissa, mãe do adolescente Anderson, interrompeu as atividades escolares no 5º
ano do ensino fundamental, sua renda familiar é de um salário mínimo, sua residência é
alugada, sendo mantida por seu companheiro, reside com seus filhos e o genitor dos
mesmos. No tocante aos envolvimentos do adolescente com atos infracionais relata
que descobriu quando ia atrás dele e o encontrava com colegas que já eram envolvidos
com práticas ilícitas. Quanto a sua reincidência a mesma verbaliza que não é como a
primeira vez, mas ainda é muito difícil vê-lo aqui. Quanto a relação familiar relata que
com a mesma nunca mudou, contudo, com o genitor mudou completamente. Expõe que
jamais deixaria de visita-ló, uma vez que a mesma tem certeza que a sua presença o
deixa feliz. Descreve o acompanhamento da unidade como satisfatório, devido o púbere
ser orientado e acompanhado a parar de cometer atos infracionais. Conta ainda que o
acompanha da melhor maneira possível, não faltando um dia de suas visitas.
Cesár, pai do adolescente Eduardo, terminou as atividades escolares no ensino
médio trabalha como eletricista e possui uma pequena lan house, sua renda familiar é
mais de dois salários mínimos, seu domicilio é alugado, sendo mantida pelo referido
senhor, reside com sua companheira e seu filho. No tocante aos envolvimentos do
adolescente, relata que desconfiava, mas não tinha certeza, só descobriu mesmo
quando o adolescente foi apreendido. Quanto a sua reincidência o mesmo relata que
não é o que ele queria para seu filho, uma vez, que o mesmo não tem a necessidade
57
de cometer ato infracional. A relação familiar segundo Cesar é bastante difícil, contudo,
tenta sempre o aconselhar. Expõe que pensou em não visitá-lo, sobretudo, relata ser
sua responsabilidade educar o púbere. Descreve o acompanhamento da unidade como
satisfatório, devido o que percebeu sobre as devidas orientações que são dadas para
os adolescentes. Verbaliza ainda que não falta nenhum dia de suas visitas.
Elisa, mãe do adolescente Daniel, cessou as atividades escolares no 3º ano do nível
fundamental, atualmente não esta trabalhando, sua renda familiar é de um salário
mínimo, sua residência é própria, sendo mantida por seu companheiro e sua filha.
Quanto aos envolvimentos do adolescente relata que não lembra quando começou, só
sabe que ele ficou muito estranho e passou mal. Quanto a sua reincidência a mesma
relata que não acreditou chegando a desmaiar. A relação familiar segundo Elisa não
mudou muito a não ser quando a referida senhora vai buscar o púbere na casa de seus
amigos. Expõe que nunca pensou em desistir de visitá-lo e não vai deixá-lo sozinho.
Descreve o acompanhamento da unidade como bom, “a gente é bem atendida”.
Verbaliza ainda que não falta um dia de visita, pois sabe que para ele parar de cometer
atos infracionais precisa do seu apoio.
Carla, mãe do adolescente Douglas, cessou as atividades escolares no 4º ano do
nível fundamental I, atualmente não trabalha, sua renda familiar é de um salário
mínimo, relata que sua residência é própria, sendo mantida por seu companheiro,
Quanto aos envolvimentos ilícitos do filho relata que só soube quando o adolescente foi
apreendido. Verbaliza que ficou muito triste com a reincidência do púbere. No tocante a
sua relação familiar relata ser boa, nunca houve mudanças nessa relação. Descreve
que não pensa em desistir de visitá-lo. Quando indagada sobre o acompanhamento da
unidade a mesma relata saber que o adolescente está em boas mãos. Conta ainda que
nos seus dias de visita não falta.
É de suma importância ressaltar que quatro dos entrevistados acima tiveram
grande interesse em colaborar com a pesquisa, apenas dois em alguns momentos
disseram não querer participar da pesquisa, contudo, compareceram na unidade no dia
58
marcado. As conversas ocorreram na sala do serviço social em horário normal de
atendimentos. A duração da conversa foi de quinze minutos com casa familiar. Apos
início das conversas eram perceptíveis o quanto as mesmas sentiam a necessidade de
falar sobre as perguntas da entrevista.
Podemos caracterizar o perfil das famílias, na sua maioria, trata-se de famílias
grandes (em torno de 6 pessoas), com mais de um filho envolvido com a prática de atos
infracionais, e que estão no CESP em cumprimento de internação provisória. A
entrevista com as genitoras também revelou o cometimento repetido de atos
infracionais, tendo já o adolescente passado pela unidade para o cumprimento da
provisória. Como exemplo, é importante expor o que diz as genitoras de dois dos
adolescentes:
Ele caiu de novo não sei por que, da primeira vez foi por homicídio, dessa vez tava andando na moto roubada, mas diz ele que não é dele. (Elisa, mãe do adolescente Daniel). Essa é a terceira vez que ele tá aqui pela mesma coisa, não sei o que ele quer andando armado. (Larissa, mãe do adolescente Anderson).
As famílias entrevistadas possuem em comum as precárias condições
financeiras que, mesmo quando os integrantes da residência colaboram no orçamento
familiar, não é suficiente para atender todas as necessidades da família.
Tal problemática é uma das particularidades da questão social definida por
Iamamoto (2002) como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade
capitalista É visto que muitas dessas famílias vivenciam uma situação de desemprego
constante, pois de acordo com muitas mães elas estão inseridas no mercado informal
de trabalho, sobrevivendo de serviço de biscates, serviços domésticos e de bolsas
oferecidas pelo Governo Federal, como a Bolsa Família, por exemplo, como verbaliza a
mãe de um adolescente:
Eu tenho que trabalhar para sustentar meus filhos, às vezes trabalho como faxineira, outras vezes como zeladora em uma escola, não tenho ajuda do pai dos meus filhos porque ele nunca se importou, quem me ajuda é meu
59
companheiro, e eu recebo a Bolsa Escola do meu filho que ainda estuda. (Bruna, mãe do adolescente Breno).
2.5 CONSIDERAÇÕES DAS FAMÍLIAS SOBRE OS ADOLESCENTES DO CESP
Verifica-se, que além da má distribuição de renda, outro fator de desigualdade é
a educação, uma vez que quando não é valorizada pela família, tende a favorecer a
pobreza, pode-se citar que as maiorias dos adolescentes do Centro Socioeducativo
Passaré não são alfabetizadas é o que relata algumas famílias.
Ele parou de estudar porque quis, não posso ficar controlando a ida dele para a escola não, porque tenho que trabalhar. (Bruna, mãe do adolescente Breno).
Eu não sei o que fazer com esse menino, não quer estudar de jeito nenhum, e fica difícil obrigar ele a ir para a escola. (Sabrina, mãe do adolescente Ermerson).
Pode-se constatar que as maiorias desses adolescentes interromperam os
estudos, não chegando a concluir o Ensino Fundamental. Os principais motivos
destacados socialmente para o abandono dos estudos são: reprovação, evasão da
escola no horário da aula ou conflitos com outros adolescentes dentro da escola. Os
adolescentes aqui pesquisados, em sua maioria, pararam de estudar devido a
suspensão escolar pelos envolvimentos com entorpecentes e influências de amigos que
já estão envolvidos com as práticas ilícitas. Pode-se ouvir isso nas falas de algumas
famílias:
O Meu filho tava estudando normal, aí começou a não querer ir mais para escola, começou a chegar cedo em casa, até que chegou um dia que não foi mas de jeito nenhum, depois descobri que ele tinha sido expulso. ( Bruna, mãe do adolescente Breno).
Já faz tempo que o Douglas não estuda, só quer saber de ficar com os amigos, eu vou falar ele fica é com raiva. (Carla, mãe do adolescente Douglas).
É notório que esses adolescentes cessaram as atividades escolares aos poucos,
ou seja, faltando aula, indo para a casa de amigos, até não frequentarem mais a escola
nenhum dia. A escola para esses adolescentes parece desinteressante, além de não
oferecer alternativas que estimulem sua permanência na escola. Algumas famílias
60
relatam que seus filhos preferem estar no âmbito da rua a escola ou até mesmo em
suas casas.
Ele não estuda faz um tempo parou de estudar sem dar nenhuma satisfação, só ficava ouvindo dos vizinhos que ele passava o dia na rua, usando droga e roubando com os colegas. (Bruna, mãe do adolescente Breno).
Contudo, as famílias buscam estratégias para o afastamento dos adolescentes
das amizades que possuem envolvimentos com o “mundo do crime”, muitas vezes
mudando a rotina e a escola, porém, o desinteresse pelos estudos muitas vezes
permanece Os relatos dessas famílias demonstram bem o que foi dito:
Eu tentei tirar ele da escola, coloquei ele em outra, mas não teve jeito, ele voltou a faltar até parar de ir. (Sabrina, mãe do adolescente Ermerson).
Eu mandei meu filho para a casa da minha mãe, para ele estudar por lá, só que ele não quis nada. (Larissa, mãe do adolescente Anderson).
As famílias relatam que o acompanhamento do Centro Socioeducativo Passaré
ajuda os adolescentes a não se envolverem mais com práticas ilícitas, pois os afasta do
cometimento atos infracionais e ainda apresenta projetos pedagógicos compatíveis com
as necessidades dos adolescentes, uma vez, que quando os adolescentes são
admitidos na unidade eles participam de todas as atividades da unidade.
Nas entrevistas realizadas com os familiares, estes a todo o momento relatam
saber que o Centro Socioeducativo é fundamental na luta para que os adolescentes
não pratiquem mais atos infracionais, assim como o acompanhamento de seus
familiares, que os incentivam a mudar de vida.
Eu fico muito feliz de saber que meu filho está no caminho certo, com todas as festas que acontecem na unidade a gente ver como nossos filhos são bem tratados. ( Elisa, mãe do adolescente Daniel).
Eu acho que todas as atividades oferecidas pela unidade pode ajudar meu filho a não querer mais se envolver, pois eles conversam muito com os adolescentes e mostram que o caminho do crime não é o certo. (Cesar, pai do adolescente Eduardo).
Ressaltamos que a família não tem o dever de simplesmente ir visitar o
adolescente, o seu papel de acompanhamento estar muito, além disso. A família deve
continuar educando e ensinando o adolescente para a vida. De acordo com as
61
diretrizes da proposta pedagógica desenvolvida pelo Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo – SINASE, para o adolescente ser reintegrado em sua comunidade, é
necessário a participação direta e efetiva de sua família.
Quanto ao acompanhamento familiar dos adolescentes na unidade, pode-se
constatar que a maioria das famílias entrevistadas relata ser de suma importância, pois,
com a presença dos membros familiares os adolescentes sentem-se mais seguros e
sabem que seus entes lutam para a cessão no envolvimento com práticas ilícitas, uma
vez que nos dias de visita a família passa mais tempo os aconselhando de que os
envolvimentos com práticas ilícitas não vão lhes trazer um bom futuro, como pode ser
visto da fala de algumas genitoras:
Eu sei que é muito importante eu vir sempre visitar meu filho, Deus me livre abandonar ele, a gente conversa muito e eu digo pra ele que essas amizades não prestam e o certo é ele se afastar, eu dou muito conselho sobre esse mundo do crime. (Sabrina, mãe do adolescente Ermerson). Eu sei que meu filho errou, mas se eu não estiver do lado dele eu não vou ter como ajudar ele a sair dessa vida, não posso abandonar, é meu filho e ainda é menor de idade. (Cesar, pai do adolescente Eduardo).
Desse modo, percebe-se que o adolescente não pode ser afastado totalmente
de sua família, eis que, diante do sofrimento natural imposto pela segregação, ele
poderá ficar exposto a uma série de dificuldades durante a internação provisória sem a
manutenção desses vínculos. Como dificuldades pode-se citar: a revolta, o sentimento
de abandono, a falta de perspectiva de mudanças, as influências negativas do grupo de
convívio, a baixa autoestima, dentre outros.
Portanto, é fundamental reconhecer que os seres humanos em seu processo de
sociabilidade necessitam de outros seres humanos para se desenvolverem, e estas
relações podem ser fortalecido por laços de afeto, apoio e de compromisso. O
adolescente, como pessoa em desenvolvimento, necessita de seu grupo familiar para
ter bases emocionais, psicológicas, afetivas e financeiras para enfrentamento da
realidade social que está submetido.
62
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que a pesquisa aparece na fala dos adolescentes e de suas
famílias como um importante potencializador no que se refere ao significado do
acompanhamento familiar. É importante ressaltar que a família, que acompanha o
adolescente e o incentiva a não se envolver mais com atos infracionais, apresenta
maior capacidade de fornecer suporte ao adolescente, influenciando de forma positiva
sua recuperação.
De acordo com as informações colhidas através da pesquisa, foi possível
perceber que no cotidiano das famílias e dos adolescentes envolvidos em atos
infracionais é evidente a grande dificuldade e problemas que os mesmos enfrentam,
tais como a falta de educação/escolarização, o desemprego, a violência, o preconceito,
as situações de riscos sociais e a fragilidade dos vínculos familiares.
Precisa-se contextualizar a realidade dos adolescentes em conflito com a lei para
compreendermos melhor os fatores que influenciam as práticas ilícitas, destacando
como grande influência o fator social e o econômico, que torna esta demanda um
fenômeno social profundo, um cenário com marcas, pois ao mesmo tempo em que
ocorre a prática do ato infracional, os adolescentes se tornam vitimas de uma
sociedade mercantilista e excludente, poucas são as necessidades básicas oferecidas
como: acesso à escola, à educação, a saúde, à habitação, ao lazer, ao emprego, à
assistência social. A sociedade capitalista com toda sua desigualdade social favorece
ainda mais um mundo dominado pelo crime.
Para esses adolescentes, a mudança de vida é um caminho difícil, uma vez que
a comunidade os critica e sempre os tem como autores de ato infracional, ocorre uma
falta de credibilidade da comunidade para com esses adolescentes.
Muitas vezes são lhes negadas oportunidades de inserção em programas ou
projetos sociais e mesmo dificuldade de acesso às políticas públicas básicas como
63
saúde e educação. Essa ação da comunidade em nada acrescenta para a saída desses
adolescentes do cometimento de práticas ilícitas, pois os mesmos são conhecidos pelos
seus delitos, o que acarreta discriminações e humilhações e sensação de fracasso.
A atenção para a falta de políticas públicas adequadas a situação de
vulnerabilidade social que os adolescentes em cumprimento de internação provisória
estão inseridos é visivelmente clara. Os familiares ficam com seu tempo reduzido, uma
vez que precisam trabalhar para prover as condições de manutenção da casa ou
buscar outras estratégias de sobrevivência. Os adolescentes acabam ficando sem
acompanhamento e acabam procurando uma forma de garantir sua própria
sobrevivência, um exemplo claro é o envolvimento com as práticas ilícitas e
consequentemente o uso de entorpecentes. Essa falta de proximidade por conta do
cotidiano torna os vínculos familiares fragilizados, os diálogos entre as famílias e os
adolescentes ficam praticamente inexistentes. Em algumas famílias foi visto que existe
relação familiar muito forte, contudo, pode-se ver em outras famílias uma relação
bastante fragilizada.
É necessário que seja criada uma parceria entre o Estado, sociedade e família,
que tenha como objetivo garantir os direitos fundamentais desses adolescentes, como a
entrada no mercado de trabalho, uma educação de qualidade e apoio psicossocial
eficaz. A família pode contribuir demonstrando todo apoio para o púbere sentir-se
seguro e afastar-se das práticas ilícitas, embora reconheçamos que não cabe somente
a família este papel, pois as problemáticas geradoras da prática ilícita são estruturais e
precisam de ações conjuntas (Estado, família e sociedade) e eficazes.
Portanto, o intuito de valorizar a participação das famílias enquanto o
adolescente encontra-se privado de liberdade é de suma importância, para que a
equipe técnica do Centro Socioeducativo Passaré possa realizar atividades que
aproximem os adolescentes de suas famílias, e assim possam trocar experiência e se
apoiarem durante o processo de internação provisória.
64
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68
APÊNDICE
69
APÊNDICE I – Roteiro de entrevista com os adolescentes.
1. Nome:
2. Idade:
( ) 12 anos ( ) 13 anos ( ) 14 anos ( ) 15 anos
3 Escolaridade ( ) Não alfabetizado ( ) Nível Fundamental I Incompleto ( ) Nível Fundamental I ( ) Nível Fundamental II Incompleto ( ) Nível Fundamental II ( ) Nível Médio Completo ( ) Nível Médio Incompleto Cursando: ( ) Sim ( )Não
4 Renda familiar: ( ) Inferior a 1 salário mínimo ( ) 1 salário mínimo ( ) Mais de 1 a 2 salários mínimos ( ) Mais de 2 a 3 salários mínimos
5 Número de moradores na residência ( ) Um ( ) Dois a Quatro ( ) Cinco a Dez ( ) Mais de Dez Quem são:________________________________________________________
6 Espécie do domicílio:
( ) Particular próprio/quitado ( ) Particular – ainda pagando ( ) Alugado ( ) Cedido
70
( ) Outra condição Uso de entorpecentes: ( ) sim ( ) não Caso sim, Quais? Caso sim, a quanto tempo faz uso? I Realidade Infracional
7 Qual o ato cometido?
8 O que levou a cometer um ato onfracional?
9 Como você percebeu a reação da família com o cometimento do ato infracional?
II Adolescente e Família
10 Como é o seu relacionamento familiar?
11 O que é família para você?
12 Quando sua família vem visita-ló como você se sente?
13 Quem lhe visita com frequência na unidade?
14 Como seria a internação provisória se você não recebesse visita?
15 Qual o papel da família na sua vida antes da internação?
16 Qual o papel da família durante sua internação?
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APÊNDICE II- Roteiro de entrevista com as famílias
1. Nome:
2. Sexo:
( ) Masculino
( ) Feminino
3. Idade:
( ) 20 a 30 anos ( ) 31 a 40 anos ( ) 41 a 50 anos ( ) 51 a 60 anos ( ) Mais de 65 anos
4. Escolaridade:
( ) Não alfabetizado ( ) Nível Fundamental I incompleto ( ) Nível Fundamental I ( ) Nível Fundamental II incompleto ( ) Nível Fundamental II ( ) Nível Médio Imcompleto ( ) Nível Médio Completo Cursando: ( ) Sim ( ) Não ( ) Nível Médio Completo
5. Renda familiar: ( ) Inferior a 1 salário mínimo ( ) 1 salário mínimo ( ) 1 a 2 salários mínimos ( ) 2 a 3 salários mínimos
6. Número de moradores na residência ( ) Um ( ) Dois a Quatro ( ) Cinco a Dez ( ) Mais de Dez Quem são:________________________________________________________
7. Espécie do domicílio:
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( ) Particular próprio/quitado ( ) Particular – ainda pagando ( ) Alugado ( ) Cedido ( ) Outra condição
8. Como você reagiu após a reincidência ao cometimento do ato infracional?
9. Quando você percebeu o envolvimento do adolescente com o cometimento de atos infracionais?
10. Qual a sua relação familiar antes e depois do cometimento do ato infracional.
11. O que leva você a fazer visitas frequentes ao adolescente?
12. O que ocorre durante a visita ao adolescente na instituição?
13. Você já pensou em desistir de visita-lo?
14. Como você percebe o acompanhamento da unidade com o adolescente?
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ANEXOS
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ANEXO I – Termo de consentimento livre e esclarecido
Prezado(a) participante,
Sou estudante do curso de graduação de Serviço Social da Faculdade Cearense. Estou realizando uma pesquisa sob orientação da professora Eliane Carvalho, cujo objetivo é identificar o papel da família no acompanhamento dos adolescentes internos no Centro Socioeducativo Passaré. Sua participação será através de entrevista, que será gravada se assim você permitir, e que tem a duração aproximada de vinte minutos.
A participação nesse estudo é voluntária e se você decidir não participar ou quiser desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo.
Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam identificá-lo(a).
Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você estará contribuindo para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de conhecimento científico.
Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pela pesquisadora através do telefone __________________.
Atenciosamente,
_________________________________ Nome e assinatura da estudante Matrícula:
____________________________ Local e data
__________________________________________________
Nome e assinatura da professora orientadora CRESS:
Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia
deste termo de consentimento.
________________________________ Nome e assinatura do participante
____________________________ Local e data