um estudo sobre a aprendizagem de nÚmeros … · metodológica sobre números irracionais para a...

180
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO GRATULIANO ERIGOI ALVES DA SILVA UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS IRRACIONAIS NO ENSINO MÉDIO NATAL 2006

Upload: hoangnguyet

Post on 13-Feb-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

GRATULIANO ERIGOI ALVES DA SILVA

UUMM EESSTTUUDDOO SSOOBBRREE AA AAPPRREENNDDIIZZAAGGEEMM DDEE

NNÚÚMMEERROOSS IIRRRRAACCIIOONNAAIISS NNOO EENNSSIINNOO MMÉÉDDIIOO

NATAL2006

Page 2: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

2

GRATULIANO ERIGOI ALVES DA SILVA

UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS IRRACIONAIS NO

ENSINO MÉDIO

NATAL2006

Tese apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Educação da

Universidade Federal do Rio Grande

do Norte como requisito parcial para

obtenção do título de Doutor em

Educação.

Orientador:

Professor Dr. Francisco Peregrino

Rodrigues Neto

Page 3: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

3

Page 4: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

4

Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra,

no trabalho, na ação-reflexão. Por isso o diálogo é uma

exigência existencial.

Não há porém, diálogo, se não há uma intensa fé nos

homens. Fé no seu poder de fazer e refazer, de criar e

recriar. Fé na sua vocação de ser mais, que não é privilégio

de alguns eleitos, mas direito dos homens.

Paulo Freire

Page 5: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

5

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer a todos aqueles que contribuíram de forma direta ou indireta

com este trabalho, mais especialmente aos três professores que fizeram parte da

banca de seleção doutoral que acreditaram na minha capacidade de luta — sem a

confiança deles não teria nem mesmo iniciado esta caminhada.

Inicio citando a Professora Doutora Betânia Leite Ramalho a quem devo toda

gratidão; ao professor Doutor Iran Abreu Mendes que atuou como grande amigo e

ao professor Doutor Francisco Peregrino Rodrigues Neto que além de ter participado

da Banca assumiu a orientação dos estudos, o qual fez com muita paciência e

tranqüilidade.

Agradeço ao professor Dr. John Andrew Fossa e a professora Doutora

Rogéria Gaudêncio do Rego pelas contribuições ao trabalho. A então diretora da

escola estadual Walftredo Gurgel, professora Edjane Maria Vilar de Souza Ramos,

pelo apoio e interesse em conseguir um professor para ceder uma das turmas para

que realizássemos parte da intervenção metodológica da pesquisa. A professora

Francisca das Chagas Sena Lobato (chaguinha), por ter cedido uma das turmas

para realização do trabalho.

A professora Lígia Souza de Santana Pereira coordenadora pedagógica do

Ensino Médio da escola Agrícola de Jundiaí por ter cedido uma das turmas para

fazer parte do estudo.

Aos alunos que contribuíram participando voluntariamente do

desenvolvimento da intervenção metodológica da pesquisa.

À minha esposa Francisca Terezinha e aos meus filhos: Diego Felipe, Ricardo

Luiz e Fernando Vitor, pela compreensão e apoio nos momentos mais difíceis da

árdua caminhada.

Page 6: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

6

RESUMO

O presente estudo descreve as relações teórico-práticas entre a elaboração e aaplicação de atividades de ensino de matemática. Propomos uma abordagemmetodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio,amparando-nos em uma experiência que envolve o ensino de números irracionaisatravés do uso de atividades construtivistas aplicadas obedecendo a uma seqüênciadidática. Utilizamos o construtivismo como referencial teórico importante no ensino-aprendizagem da Matemática. A intervenção metodológica foi levada a efeito junto aestudantes de duas turmas de 1ª série do Ensino Médio de duas escolas públicas,uma estadual e outra federal, situadas na grande Natal, no Estado do Rio Grande doNorte. A elaboração, aplicação e a avaliação das atividades usadas nestaexperiência nos levaram a refletir mais profundamente acerca do valor das idéiasconstrutivistas e entender que o uso de atividades obedecendo a uma seqüênciadidática no ensino de Matemática favorecem a aprendizagem dos educandos.Discutimos também os resultados da pesquisa comentando-os de forma a contribuircom o avanço da proposta e seu uso mais constante. A participação e a avaliaçãodos estudantes foram analisadas e julgadas mediante os conceitos de compreensãorelacional e compreensão instrumental de Skemp. Dado os resultados alcançadosque consideramos positivos de nossa pesquisa, acreditamos que esta intervençãometodológica pode ser usada de forma mais freqüente em sala de aula do EnsinoMédio e também pode ser aplicada a professores em cursos de formação inicial e/ouformação contínua.

Palavras-chave: Ensino–aprendizagem, Números Irracionais, Ensino Médio,Matemática.

Page 7: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

7

ABSTRACT

The present study describes theoretical–practical relationships between developmentand application of activities in Mathematics education. It’s proposed a methodologicalapproach to Mathematics in the first grade of Ensino Médio, supported by anexperiment involving Irrational Numbers education by using constructive activities,applied obeying an educational sequence. Constructivism is used as an importanttheoretical reference in teaching–learning process of Mathematics. Themethodological intervention was done with two classes of students of the first gradeof Ensino Médio, in two public schools, a state one and a federal one, located on thecity of Natal, Rio Grande do Norte. The development, application and testing of theactivities used on this experiment led us to think more profoundly about the value ofconstructivism ideas and understand that the use of activities that obey aneducational sequence favors the learning. It’s also discussed the research results,commented on a way to contribute to the advances of the proposal and it’s moreconstant use. The participation and testing of the students were analyzed and judgedusing Skemp’s Instrumental Understanding and Relational Understanding concepts.The results of the research were considered good, so we believe this methodologicalintervention can be used more frequently in the classes of Ensino Médio and also beapplied to teachers in courses of initial education and continuous formation.

Key-Words: Teaching–Learning process, Irrational Numbers, Ensino Médio,Mathematics

Page 8: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

8

RESUMÉ

Cette étude décrit les rapports théorique-pratiques entre l’élaboration et l’applicationd’activités d’enseignement de mathématiques. Nous proposons une approcheméthodologique pour les mathématiques à la première année de l’EnseignementMoyen, en nous appuyant sur une expérience qui concerne l’enseignement desnombres irrationnels à partir de l’usage d’activités constructives appliquées obéissantà une séquence didactique. Nous avons pris le constructivisme comme référencethéorique importante dans l’enseignement-apprentissage des mathématiques.L’intervention méthodologique a été effectuée auprès d’étudiants de deux classes depremière année de l’Enseignement Moyen de deux écoles publiques : L’une de l’étatet l’autre fédérale, situées sur la banlieue de Natal, à l’état du Rio Grande do Norte.L’élaboration, l´application et l’évaluation des activités utilisées dans cette expériencenous amènent à réfléchir plus profondément à propos de la valeur des idéesconstructivistes et comprendre que l’usage d’activités obéissant à une séquencedidactique dans l’enseignement de mathématiques favorise l’appretissage desapprenants. Nous avons également discuté les résultats de la recherche en lescommentant de manière à contribuer à l’avancement de la proposition et à sonutilisation plus constante. La participation et l’évaluation des apprenants ont étéanalisées et jugées conformément aux concepts de compréhension relationnelle etcompréhension instrumentale de Skemp. Par les résultats positifs obtenus de notrerecherche, nous croyons que cette intervention méthodologue peut être utilisée demanière plus fréquente en salle de classe de l´Enseignement Moyen et peut aussiêtre appliquée à des professeurs en cours de formation initiale et/ou formationcontinue.

Mots-clés : Enseignement-apprentissage, Nombres irrationnnels, EnseignementMoyen, Mathématiques.

Page 9: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO 14

1.1 A Educação Escolar Brasileira 1960 – 2003 14

1.2 A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 15

1.2.1 As reformas da LDB – Lei de nº 5.692/71 15

1.3 A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9394/96 17

1.4 As Leis de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira e as Exigências parao Exercício da Função de Professor 18

1.5 O Novo Ensino Médio no Brasil 19

1.5.1 O Currículo de Matemática para o Ensino Médio: PCNEM 21

1.6 O Ensino de Matemática no Brasil 22

1.6.1 O Ensino de Matemática no estado do Rio Grande do Norte 25

1.7 Os Livros Didáticos e os Conteúdos Propostos para a 1ª série do EnsinoMédio

27

2 METODOLOGIA 30

30

2.2 O Estudo sobre a Aprendizagem de Números Irracionais no Ensino Médio 32

2.3 O Construtivismo de Jean Piaget 35

2.4 O Construtivismo Radical de von Glasersfeld 39

2.5 Skemp e os conceitos de aprendizagem 40

2.6 Os obstáculos que interferem na aprendizagem da matemática 42

2.6.1 Obstáculos epistemológicos 43

44

2.6.3 Obstáculos ontogênicos 45

2.6.4 Números irracionais e os obstáculos 45

2.7 Outros trabalhos que envolvem números irracionais 46

2.8 Percurso Metodológico 46

2.9 Instrumentos para levantamento de dados 48

3 A INTERVENÇÃO METODOLÓGICA NO ENSINO MÉDIO 50

3.1 Caracterização dos sujeitos 50

3.2 A opção de pesquisa 50

Page 10: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

10

3.3 Avaliação diagnóstica 51

3.3.1 Objetivos da Avaliação Diagnóstica 53

3.3.2 A entrevista para a Avaliação Diagnóstica 54

3.3.3 Apresentação dos objetivos das questões da prova escrita para aavaliação diagnóstica e respectivas questões

55

3.3.4 Critérios para correção das questões da prova escrita da AvaliaçãoDiagnóstica

61

3.3.5 Pontuação das respostas das questões 62

3.3.6 Apresentação dos dados 62

3.3.7 Comentário sobre as respostas dos alunos 65

3.3.8 As entrevistas 71

3.3.9 Análise dos dados da avaliação diagnóstica 80

3.4 O Módulo de Ensino 84

3.4.1 Atividades para o Módulo de Ensino 84

3.4.2 Comentários sobre aplicação do Módulo de Ensino 86

3.4.3 A Aplicação do Módulo de Ensino 89

3.4.4 A Aplicação das atividades no grupo 1 90

3.4.5 A aplicação do Módulo de Ensino no grupo 2 99

3.4.6 Conclusões sobre a aplicação do Módulo de Ensino 107

3.5 Avaliação final 107

3.5.1 Objetivos da Avaliação de saída 108

3.5.2 Critérios para a correção e julgamento das respostas dos alunos 108

3.5.3 Questões da prova escrita da avaliação de saída 109

3.5.4 Apresentação dos dados da avaliação de saída em tabelas e gráficos 114

3.5.5 Apresentação gráfica dos dados da avaliação de saída 114

3.5.6 Comentários sobre as respostas dos alunos na avaliação final 117

3.5.7 Análise qualitativa dos dados da avaliação final 118

Conclusões do estudo 123

BIBLIOGAFIA REFERIDA 126

BIBLIOGAFIA CONSULTDA 130

APÊNDICE 1: O MÓDULO DE ENSINO 131

APENDICE 2: OS NÚMEROS REAIS 161

Page 11: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

11

INTRODUÇÂO

O nosso interesse pelo tema números irracionais, surgiu da própria prática

como professor de Matemática dos dois níveis do ensino básico, 1º e 2º graus, hoje,

denominados de Ensino Fundamental e Ensino Médio, respectivamente — Iniciando

a função de professor de Matemática no ano de 1979, quando começamos a

graduação em tecnologia têxtil pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(UFRN).

Com a implantação da Lei 9394/96, comentada neste trabalho, e nossa

participação como professor-formador do curso de atualização curricular para

professores de Matemática da rede estadual de ensino, visando à implantação dos

Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática, em sua versão preliminar, vimos

à necessidade e importância de continuarmos estudando e nos aperfeiçoando no

campo da atuação profissional. O que veio a ocorrer com o curso de especialização

em Matemática, promovido pelo Departamento de Matemática da UFRN, onde

realizamos uma pesquisa bibliográfica objetivando verificar a maneira pela qual o

conteúdo matemático número irracional era abordado nos livros didáticos.

A definição de número irracional é abordada na 7ª série, mas geralmente, o

assunto é apresentado em termos práticos através de regras para operar com

radicais, o que se verifica na 8ª série. Muitas vezes não se usam justificativas

convincentes que possibilitem aos alunos perceberem a utilidade do estudo deste

conteúdo.

Partindo dessa análise bibliográfica percebemos a necessidade de fazer uma

intervenção metodológica sobre o ensino dos números irracionais junto a alunos da

8ª série do Ensino Fundamental, que pudesse tornar o trabalho sobre esses

números mais significativo. Além disso, alunos, da 7ª e da 8ª série, como também

das três séries do Ensino Médio, não conseguem entender que o conjunto dos

números irracionais é parte dos números reais, ficando sua aplicação restrita à

racionalização de denominadores.

Ao realizarmos a intervenção metodológica, com atividades de ensino, junto a

alunos da 8ª série, constatamos a deficiência na aprendizagem deste conteúdo,

Page 12: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

12

havendo a necessidade de se rever o modo como é desenvolvido em sala de aula,

em conseqüência do nível de entendimento demonstrado pelos alunos.

Considerando o baixo desempenho dos alunos da 8ª série sobre os números

irracionais, surgem os questionamentos: i) Será que ao oportunizarmos aos alunos

da 1ª série do Ensino Médio um trabalho com os números irracionais por meio de

atividades de ensino haverá uma aprendizagem mais significativa deste conteúdo?

ii) É realmente necessário estudar os números irracionais no Ensino Médio? É nossa

finalidade responder as questões ao elaborarmos, aplicarmos e avaliarmos uma

proposta metodológica para o conteúdo dos números irracionais que priorize a

construção dos conceitos pelos alunos.

Ao propormos um trabalho com atividades de ensino aos alunos priorizando a

construção de conceitos, acreditamos que estes alcançarão uma aprendizagem que

seja mais significativa. Sendo assim, concebemos a aprendizagem significativa

como aquela em que os alunos aprendem com mais compreensão, ou seja, que o

assunto aprendido tem significância lógica e se transforma em psicológica para o

aprendiz e é incorporado por este, a partir da bagagem cognitiva que possui.

O texto está dividido em três partes onde comentamos sobre as Leis que

deram estrutura organizacional à Educação Escolar brasileira no período de 1960

(séc. XX) a 2003 do corrente; discutimos a proposta sugerida pelos Parâmetros

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM); discorremos sobre o ensino

da matemática no Brasil, no Estado do Rio Grande do Norte e apontamos os

conteúdos abordados nos livros didáticos para a primeira série do Ensino Médio.

Apresentamos dados sobre o trabalho realizado no mestrado: Um estudo

sobre a aprendizagem de números irracionais no Ensino Fundamental. Apontamos

outros trabalhos envolvendo os números irracionais e traçamos um perfil deste

trabalho indicando objeto de estudo, teorias de ensino, o construtivismo de Jean

Piaget, o construtivismo radical, os conceitos de compreensão instrumental e

relacional de Skemp, o percurso metodológico da pesquisa e os instrumentos para

levantamento de dados.

Destacamos a metodologia da pesquisa descrevendo sobre as três fases da

intervenção metodológica: A avaliação inicial, o Módulo de Ensino e a Avaliação de

Saída. Apontamos também os procedimentos para avaliar as respostas dos alunos e

os critérios que adotamos para análise e julgamento dos dados. Finalizando,

Page 13: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

13

apresentamos as conclusões do estudo descrevendo a importância dos irracionais

serem trabalhados no Ensino Médio por meio de atividades de ensino.

Page 14: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

14

1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO

Este capítulo tem como objetivo apresentarmos as considerações iniciais da

pesquisa, descrevendo os vários momentos históricos da educação escolar

brasileira, apontando as propostas de mudanças na denominação dos níveis de

ensino e a organização curricular no período de 1960 a 2003. Neste intervalo de

tempo fatos importantes influenciaram a educação nacional.

Para falarmos dos momentos marcantes da educação no Brasil recorreremos

às leis de ensino. A Lei nº 4024, de 20 de dezembro de 1961, e suas reformas

através da Lei nº 5692 de 1971 foram marcos no contexto educacional — como

também foi a segunda e atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei

de nº 9394 de 20 de dezembro de 1996. Estas leis trouxeram mudanças

significativas e reorganizaram a estrutura do ensino-aprendizagem no Brasil.

Destacaremos a estrutura do novo ensino médio proposta pelos Parâmetros

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) discutindo o currículo de

Matemática lá colocado e comentaremos os conteúdos abordados nos livros

didáticos do referido componente curricular para a primeira série do ensino médio,

comentaremos ainda sobre o ensino de Matemática no Brasil, perpassando pelo

movimento da Matemática Moderna e ressaltaremos o ensino desta disciplina no

Estado do Rio Grande do Norte.

1.1 A Educação Escolar Brasileira 1960 – 2003

A educação escolar brasileira ao longo de sua história tem passado por

mudanças na legislação e organização curricular. Neste estudo retrataremos

aspectos importantes e um pouco dessa história a partir da primeira Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional (LDB de 1961, Lei 4.024 de 20 de dezembro de

1961). Também relataremos as reformas feitas à LDB, com a 5.692/71 e a atual de

20 de dezembro de 1996.

Nessas quatro últimas décadas o Sistema de Educação Escolar do Brasil

passou por reformas, foram elaboradas diretrizes e bases da educação nacional,

estabeleceram-se metas e parâmetros de organização da educação. Todas essas

mudanças favoreceram um acompanhamento, pela população brasileira, das

Page 15: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

15

decisões tomadas na área da educação escolar que passou a ser vista como um

problema de ordem nacional.

Para organizar a educação escolar há a necessidade de leis que estabeleçam

diretrizes e parâmetros para o seu funcionamento. Assim, comentaremos algumas

importantes leis de ensino no Brasil, a partir da década de 1960, destacando a parte

que se refere ao atual Ensino Médio.

1.2 A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei de nº 4024 de

20 de dezembro de 1961, manteve a estrutura do ensino em vigor, seguindo o

estabelecido nas leis orgânicas do ensino decretadas em 1942 e 1946. Ela manteve

o ensino primário em quatro anos, seqüenciado pelo ensino médio com duração de

sete anos e dividido de forma vertical em duas etapas: A primeira, ginasial, com a

duração de quatro anos; e a segunda, colegial, com três anos de duração. O colegial

estava subdividido horizontalmente em: Secundário, Normal e Técnico. A primeira

LDB deu nova forma ao curso Técnico deixando-o organizado em Industrial, Agrícola

e Comercial e, apenas o curso Secundário permitia acesso ao ensino superior. A

LDB mudou essa estrutura dando a oportunidade do acesso ao ensino superior

através do vestibular, independentemente do curso realizado no ensino médio.

(SAVIANI, 2001).

1.2.1 As reformas da LDB – Lei de nº 5.692/71

As reformas na LDB feitas pela Lei nº 5.692/71 alteraram toda a estrutura do

ensino em vigor. O sistema de ensino brasileiro passou a ter a seguinte organização:

um ensino de primeiro grau com duração de oito anos e um ensino de segundo grau

de três anos. Como regra geral, instituiu um curso de segundo grau unificado, de

caráter profissionalizante, abrindo espaço para as diversas habilidades profissionais,

implantando o tecnicismo no Brasil. A pedagogia tecnicista se baseava na

pressuposta neutralidade científica, bem como na racionalidade, eficiência e

produtividade. Tinha a função de reorganizar o processo educativo, de modo a

torná-lo objetivo e operacional. Nesta pedagogia surgiram propostas com enfoque

sistêmico — o micro-ensino e o tele-ensino. Além disso, surgiu também a divisão do

Page 16: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

16

trabalho pedagógico em diferentes funções: os chamados especialistas (SAVIANI,

2000, p. 13).

O enfoque do tecnicismo não era o aluno e nem tão pouco o professor e sim,

“[...] a organização racional dos meios [...]”, (SAVIANI, 2000, p. 13). O planejamento,

a coordenação e o controle de todo o processo educativo ficava a cargo dos

especialistas, pessoas que supostamente eram habilitadas, para tal atividade e

isentos de parcialidade. Permitiu, também, espaço para um ajustamento regional e

local do educando ao sistema de ensino. Segundo o parecer nº 853/71, citado em

Brasil (1979),

A escolha dos conteúdos que irão formar cada currículo é feita,segundo sistemática da lei por aproximação sucessiva em escaladecrescente, numa intencional busca de autenticidade aos váriosníveis de influência que se projetam no ensino: o nível dosconhecimentos humanos, o nível nacional, o nível regional, o nívelescolar, o nível do próprio aluno. (BRASIL, 1979, p, 221).

Reportando-nos ao parecer 853/71 percebemos que a legislação, em sua

flexibilidade, dava a oportunidade para a escola adaptar o seu currículo, mas ao

mesmo tempo retirava essa autonomia dando poderes aos conselhos de educação

para determinarem o que poderia ou não ser incluído como parte diversificada.

Observemos o que determina o artigo 4º da Lei 5692/71: “Os currículos do ensino de

1º e 2º graus terão um núcleo comum obrigatório em âmbito nacional, e uma parte

diversificada para atender, conforme as necessidades e possibilidades concretas, as

peculiaridades locais, aos planos dos estabelecimentos e às diferenças individuais

dos alunos”.

Esta Lei propiciava ao educando, além dos conteúdos obrigatórios em todo o

país, uma abertura para que fossem implantados no currículo escolar conteúdos

com particularidades de interesses da comunidade, mas ao mesmo tempo, dava

poderes aos conselhos estaduais de educação para restringir e subtrair essa

abertura usando os mais diversos artifícios como mostra o parágrafo 1º do artigo 4º

que orienta as seguintes prescrições na definição dos conteúdos curriculares: “I — O

conselho Federal de Educação fixará para cada grau as matérias relativas ao núcleo

comum, definindo-lhes os objetivos e amplitude”; “II — Os Conselhos de Educação

relacionarão para os respectivos sistemas de ensino as matérias dentre as quais

Page 17: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

17

poderá cada estabelecimento escolher as que devem constituir a parte

diversificada”. Neste caso os conselhos decidiam quais as disciplinas que os

estabelecimentos escolares poderiam ou não escolher como parte diversificada, não

assumindo a responsabilidade direta nessa escolha.

Como podemos perceber com a Lei 5.692/71, a parte diversificada da

estrutura curricular do sistema de ensino nacional passou a ser de controle dos

conselhos de educação, não cabendo às escolas ou à comunidade escolar opinar e

decidir sobre o assunto.

1.3 A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9394/96

Em 20 de dezembro de 1996, o Sistema Nacional de Educação passou a ser

regido pela nova Lei, a 9394/96, que tem como proposta o fim da dualidade entre o

ensino médio e a educação profissional. Assim, os sistemas e os estabelecimentos

escolares de ensino médio deverão ser capazes de criar e desenvolver, com a

participação de professores e a comunidade escolar, alternativas institucionais com

identidade própria, observada a missão de promover a educação do jovem, usando

as várias possibilidades de organização pedagógica. Os sistemas educacionais

terão de contemplar a formação básica, integrando as séries finais do ensino

fundamental com o ensino médio, dado a proximidade de faixa etária dos alunos

desses níveis de ensino e as características comuns entre as disciplinas desses

segmentos de ensino.

A organização curricular na LDB apresenta uma base comum que determina

a construção do currículo no ensino fundamental e médio, a ser complementada em

cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por parte diversificada, exigida

pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da

clientela (art. 26, da Lei 9394/96).

A base comum contém em si a dimensão de preparação para o

prosseguimento de estudos e deve caminhar no sentido de que a construção de

competências e habilidades básicas seja o objetivo do processo de aprendizagem e

não o acúmulo de esquemas pré-estabelecidos.

A parte diversificada do currículo destina-se a atender às características de

cada região, da sociedade, da cultura e da clientela; complementa a base nacional

comum podendo ser definida em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar.

Page 18: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

18

O art. 26 da LDB determina a obrigatoriedade, nessa base nacional comum,

de “estudos da língua portuguesa e de matemática, conhecimento do mundo físico e

natural e da realidade social e política, especialmente, do Brasil [...]”. Este é o

direcionamento dado para os conhecimentos básicos que devem ser trabalhados

pelos sistemas de ensino.

1.4 As Leis de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira e as Exigências para o

Exercício da Função de Professor.

A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 20 de

dezembro de 1961 apresenta, pela primeira vez, exigência e fixa diretrizes para a

educação nacional. Neste sentido, o Art. 5º inciso XIV diz que: “traçar as diretrizes

da educação nacional” é dever da União. Indica a necessidade de se fixar um plano

nacional de educação em seu Artigo 150, alínea “a”, em que está escrito: “fixar o

plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos,

comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução, em todo território

do país”. Como também, dá poderes ao Conselho Nacional de Educação para

elaborá-lo e encaminhá-lo ao Poder Legislativo para aprovação.

A Lei nº 4024/61 apresentava em seu Capítulo IV a exigência para atuar no

magistério de ensino primário e médio. O ensino normal era responsável pela

formação de professores e especialistas do ensino primário. Dentre eles,

orientadores, supervisores e administradores escolares. Para a função de professor

do ensino médio era exigida a formação e habilitação nas Faculdades de Filosofia.

Quanto aos docentes do Ensino Normal sua formação deveria acontecer nos

Institutos de Educação.

A atual e segunda LDB (Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996), trata a

carreira do profissional da educação com ênfase no seu Título VI, tocando em

questões substantivas e princípios. A Lei afirma que a formação dos profissionais da

educação terá como fundamentos “a associação entre teorias e práticas, inclusive

mediante a capacitação em serviço” e, conseqüentemente, “aproveitamento da

formação e das experiências anteriores, em instituição de ensino e outras

atividades”. Propõe “formação preferencial em nível superior”. No Art. 67, sugere que

os sistemas de ensino deverão promover a valorização dos professores enquanto

profissionais, com estatutos e planos de carreira definidos.

Page 19: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

19

O ingresso no magistério público deve-se dar exclusivamente por concurso

público de provas e títulos, devendo ser assegurado aos professores

aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive em serviço, piso salarial

profissional, incentivos à titulação e produtividade.

1.5 O Novo Ensino Médio no Brasil

O Novo Ensino Médio tem uma organização curricular dividida em três áreas

de conhecimento, assim propostas:

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias: nessa área de conhecimento estão

agrupadas as disciplinas de Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna,

Educação Física, Arte e conhecimentos de Informática. O fio condutor desse

agrupamento é o entendimento de que as linguagens e códigos são vistos em suas

multiplicidades, dinamicidades e situados no tempo e espaço, com implicações de

caráter histórico, sociológico e antropológico.

Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias: são agrupadas as

disciplinas de Biologia, Física, Química e Matemática. A finalidade proposta para

esse agrupamento é o ensino das disciplinas produzir um conhecimento efetivo e

significativo para os alunos, perdendo um pouco do caráter propedêutico que

sempre marcou o ensino de 2º grau.

Ciências Humanas e suas Tecnologias: nessa área é proposto o agrupamento

das disciplinas História, Geografia, conhecimentos de Sociologia, Antropologia,

Política e Filosofia. A tônica é trabalhar essas áreas do conhecimento de forma que

os alunos compreendam que a sociedade é resultado de uma construção humana.

Os PCNEM propõem, ainda, que todas as áreas sejam trabalhadas tendo-se

como eixos norteadores a interdisciplinaridade e a contextualização. A

interdisciplinaridade tem a finalidade “[...] de utilizar os conhecimentos de várias

disciplinas para resolver um problema concreto ou compreender um determinado

fenômeno sob diferentes pontos de vista” (BRASIL, 1999, p. 34). A compreensão do

trabalho com a interdisciplinaridade se dá a partir da abordagem relacional, onde se

propõe que através da prática escolar, aconteça o estabelecimento de interconexões

entre os diversos conhecimentos, possibilitando aos professores maior liberdade

para abordar os conteúdos e aos alunos uma aprendizagem motivadora e

significativa. A contextualização propõe que se pense em um ensino que esteja mais

Page 20: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

20

próximo do cotidiano dos alunos possibilitando-lhes condições de compreender e

intervir na realidade em que vivem.

As diretrizes do novo ensino médio colocam a escola como agente principal

na definição do currículo escolar, o professor como agente mediador e transformador

e o estudante, o cidadão alvo de toda a mudança. As diretrizes estão definidas nos

Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio como guias para orientar o

estabelecimento escolar e os professores na aplicação do novo modelo. Ao dispor

os conteúdos interligados por área, os PCNEM facilitam e criam caminhos para

atingir o objetivo de levar ao estudante conhecimentos capazes de torná-lo uma

pessoa crítica e hábil para continuar aprendendo e se adaptando ao mundo

globalizado.

Os PCNEM propõem que os conteúdos devam ser vistos como meios para a

constituição de competências e não como fins em si mesmo. O trabalho do

raciocínio deve prevalecer sobre o da memória e o conhecimento deve ser

experimentado pelo aluno e não apenas transmitido a ele pelo professor. O aluno

deverá ser capacitado a construir competências, habilidades e disposição de

condutas que lhe tornem possível a inserção na sociedade de forma produtiva,

deixando de ter um comportamento passivo diante das informações recebidas.

Com as novas diretrizes fica maior a responsabilidade da escola e do

professor em planejar seu programa de ensino procurando dar dinamismo e evitando

seguir rigorosamente o livro didático. Para isso, deverão identificar as necessidades

imediatas dos alunos e traçar um planejamento adequado às novas exigências. O

professor passa a ter uma maior liberdade, mas requer disciplina, responsabilidade e

também um maior preparo por parte deste. Percebemos então que essa nova

exigência para a escola e o professor requer mudanças profundas de postura, de

materiais didáticos e principalmente uma formação adequada aos professores, tanto

a inicial, quanto a continuada, essenciais para haver melhorias na educação.

O trabalho com a Matemática no Ensino Médio deve se propor, segundo os

Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), a desenvolver

competências que ajudarão ao aluno na sua vida cotidiana. Para isso a Matemática

deve ser trabalhada de forma a estimular nos alunos o interesse, a criatividade, o

espírito investigativo e crítico diante do que lhes são expostos. Assim, segundo os

PCNEM “a Matemática no Ensino Médio tem um valor formativo que ajuda a

estruturar o pensamento e o raciocínio dedutivo [...]” (BRASIL, 1999, p. 251).

Page 21: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

21

A idéia é que se pense em propostas de trabalho com a Matemática que

auxiliem os alunos a trilhar esse caminho e isto só será possível se houver uma

ressignificação dos conteúdos trabalhados no Ensino Médio. Tais conteúdos

necessitam ser propostos aos alunos com um novo formato, onde possam participar

significativamente: fazendo, debatendo, construindo a partir do que é posto.

1.5.1 O Currículo de Matemática para o Ensino Médio: o que apontam os PCNEM

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio — PCNEM,

(BRASIL, 1999, p. 250-260), afirmam que a Matemática deve ter um papel formativo,

contribuir para o desenvolvimento de processo de pensamento e aquisição de

atitudes, ajudando a estruturar o pensamento e o raciocínio dedutivo. Além de seu

caráter instrumental, ela deve ser vista pelo aluno como um conjunto de técnicas e

estratégias para serem aplicadas a outras áreas do conhecimento. “O aluno deve

perceber a Matemática como um sistema de códigos e regras que a torna uma

linguagem de comunicação de idéias e permite modelar a realidade e interpretá-las”,

Brasil, (1999, p. 253).

O currículo de Matemática para o Ensino Médio deve conter os conteúdos

mínimos para a Base Nacional Comum e o currículo flexível organizado pela unidade

escolar. O currículo a ser elaborado deve apresentar uma boa seleção de conteúdos

e contemplar aspectos dos conteúdos a serem enfatizados. Os PCNEM propõem

que o currículo de Matemática do Ensino Médio contemple os seguintes conteúdos:

i) Funções — destacando as funções trigonométricas e seus gráficos; as

seqüências, enfatizando progressões aritméticas e progressões

geométricas; as propriedades de retas e parábolas estudadas em

geometria analítica; polinômios e equações algébricas, dando ênfase às

funções polinomiais;

ii) Trigonometria — enfatizando a aplicação da trigonometria na resolução

de problemas que envolvem medições;

iii) Números e álgebra — esses temas devem ser trabalhados interligados a

outros conceitos e problemas como também associados a sua perspectiva

sócio-histórica;

Page 22: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

22

iv) Geometria — destacando as formas e as propriedades geométricas,

contemplando as habilidades de visualização, desenho e argumentação

lógica;

v) Probabilidade e combinatória — destacando as técnicas e raciocínios

estatísticos e probabilísticos;

Desta maneira os PCNEM (1999), destacam a importância do currículo de

Matemática para o Ensino Médio, de forma a contemplar os conceitos, os

procedimentos, o desenvolvimento de valores e atitudes como pontos fundamentais

para que o aluno desenvolva suas habilidades.

1.6 O Ensino de Matemática no Brasil

O ensino da matemática elementar tem sido objeto de estudo de

pesquisadores, com crescente interesse, desde o Movimento da Matemática

Moderna como uma conseqüência de discussões de estudiosos da Educação

Matemática. Esse movimento, com ênfase nos anos setenta teve como

características marcantes a reestruturação do currículo de matemática, com a

inclusão de novos conteúdos — a exemplo, Teorias dos Conjuntos e Funções —

além de uma visão estruturalista do ensino da Álgebra. A questão metodológica, que

no começo estava voltada para os meios de ensino sob influência do behaviorismo,

receberia importantes contribuições da área da cognição, notadamente dos estudos

de Piaget, como o conceito de abstração reflexiva, que dariam base a trabalhos

voltados para teoria de aprendizagem em matemática numa perspectiva

construtivista.

Ao longo das décadas de oitenta e noventa, os encontros de Educação

Matemática discutiram questões gerais de teorias de ensino, livros-textos e

metodologias para abordagem de conteúdos (BRASIL, 1998, Matemática). A

pesquisa nessa área contemplou estudos sobre conteúdos de matemática dos

vários níveis de ensino. Vale salientar que na primeira década aqui mencionada, as

discussões tinham lugar principalmente nos Congressos Internacionais. Nos anos

noventa, os encontros de Educação Matemática no Brasil, como por exemplo, os

Encontros Nacionais de Educação Matemática (ENEM), multiplicaram-se em

encontros regionais e locais por todo o país para discutirem ensino e pesquisa.

Page 23: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

23

Apesar das discussões sobre o ensino de matemática e as diversas pesquisas

realizadas, a disciplina ainda é considerada um verdadeiro filtro social.

O ensino de matemática que foi marcado pela excessiva preocupação com a

memorização, em detrimento da compreensão, de fórmulas e a formação incompleta

de conceitos, numa época que antecede ao que se chamaria de “Matemática

Moderna”, não tem mudado de maneira geral, nem mesmo com as propostas de

inovações metodológicas incorporadas em alguns currículos.

A Matemática Moderna, que a partir dos trabalhos do grupo Nicolas Bourbaki

cujo objetivo central consistia na exposição de toda a matemática de forma

axiomática e unificada, tendo como elementos unificadores as estruturas, teve

grande repercussão na educação matemática mundial, recebeu considerável

importância no Brasil e conseguiu acabar com alguns mitos existentes. Como todo

movimento inovador radical, sofreu desgastes com os exageros das improvisações e

das precipitações, como relatado por D’Ambrosio (1996).

A matemática moderna no Brasil dos anos 70 estava ligada diretamente aos

livros didáticos teve grande influência no ensino-aprendizagem e foi repensada

depois da constatação de que era inadequada em alguns de seus princípios (formar

um adulto bem disciplinado, persistente, rigoroso). Segundo Fonseca (1995), “a

Matemática Moderna seria um meio pelo qual se formariam homens bem

organizados, de pensamentos claros, preciosos e ordenados”

Miorim refere-se à Matemática Moderna, afirmando que:

A organização da Matemática Moderna baseava-se na teoria dosconjuntos, nas estruturas matemáticas e na lógica matemática.Esses três elementos foram responsáveis pela “unificação” doscampos matemáticos, um dos maiores objetivos do movimento. Paraisso, enfatizou-se o uso de uma linguagem matemática precisa e dejustificações matemáticas rigorosas os alunos não precisam “saberfazer”, mas sim, “saber justificar” por que faziam. A teoria dosconjuntos, as propriedades estruturais dos conjuntos, as relações efunções, tornaram-se temas básicos para o desenvolvimento dessaspropostas. (MIORIM, 1998, p. 114).

A Matemática Moderna surgiu como um movimento educacional inserido

numa política de modernização econômica e foi posta na linha de frente, por ser

considerada uma via de acesso privilegiada para o pensamento científico e

tecnológico. A Matemática a ser ensinada era aquela concebida pela lógica, tendo

Page 24: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

24

como papel fundamental a linguagem matemática; o ensino estava mais voltado à

teoria do que à prática, dando-se ênfase a linguagem da teoria dos conjuntos em

detrimento do cálculo da aritmética, da geometria e das medidas. A repercussão da

Matemática Moderna no Brasil se deveu à ênfase dada pelos livros didáticos de

matemática para o 1º e 2º graus.

Algumas propostas curriculares de Matemática, elaboradas a partir da

segunda metade da década de 1980, não surtiram o efeito esperado, apresentando

incoerência entre a carta de princípios, os conteúdos e a metodologia indicada:

confundiram-se os fundamentos ideológicos dos educadores matemáticos

progressistas e a sugestão de uma lista de conteúdos que hoje são de pouco

interesse e também apresentavam uma abordagem de ensino-aprendizagem

apenas como transmissão de conhecimento, sem a preocupação de definir critérios

que pudessem indicar, de modo claro e objetivo, as capacidades a serem

desenvolvidas.

Nos recentes anos, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) realizou

pesquisas sobre o ensino-aprendizagem nos vários níveis da educação escolar. Os

resultados obtidos pelos alunos de 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental nos testes

em matemática não foram muito animadores.

Dados do Sistema Nacional de Avaliação Escolar da Educação Básica

(SAEB), coletados através de testes aplicados em todos os estados brasileiros,

podem ser considerados indicadores expressivos de como se encontra o ensino da

Matemática.

Nas provas de proficiências em matemática, aplicadas em 1993, verificou-se

que 5,9% dos alunos de 7ª Série acertaram, pelo menos, metade das questões.

Nas provas de proficiências de matemática, aplicadas em 1995, englobando

estudantes de 4ª e 8ª Séries do Ensino Fundamental, os percentuais de acertos e de

capacidade cognitiva continuavam diminuindo à medida que aumentava o tempo de

escolaridade mostrando, também, que as maiores dificuldades apresentadas pelos

alunos estavam relacionadas à aplicação de conceitos e resolução de problemas.

Associado a esse baixo índice de desempenho dos alunos em matemática,

está a alta taxa de reprovação e, agravando ainda mais este quadro, está a

formação dos professores, tanto na sua formação inicial quanto na continuada.

Dispondo de poucos recursos para a compra de instrumentos para desenvolverem

suas atividades na sala de aula, tais como livros paradidáticos, revistas e outros que

Page 25: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

25

pudessem ser utilizados como recursos metodológicos, os professores se apóiam

nos livros didáticos, mas nem sempre levando em consideração a qualidade destes.

Propostas inovadoras são esbarradas na existência de concepções

pedagógicas inadequadas, e a prática de qualquer professor, mesmo por vezes de

forma não consciente, apóia-se numa concepção de ensino e aprendizagem que é

responsável pelo tipo de representação que ele constrói sobre o seu papel, o papel

do aluno, a metodologia, a função social da escola e os conteúdos a serem

trabalhados. (BRASIL, 1997).

1.6.1 O Ensino de Matemática no Estado do Rio Grande do Norte

O ensino de matemática no estado do Rio Grande do Norte não difere

historicamente dos outros estados brasileiros, mas no estudo comparativo dos

resultados do SAEB – 1995/1997, o Rio Grande do Norte apresentou um melhor

desempenho dos alunos da 8ª série, em 1997, quando se observou um aumento

significativo nas médias de proficiência do Ensino Fundamental.

Em 1996, a Secretaria de Educação Cultura e Desportos do Estado do Rio

Grande do Norte, realizou pesquisa avaliativa sobre o ensino-aprendizagem de

matemática do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Os dados foram publicados

no Relatório Geral da Sub-Coordenadoria de Avaliação da Secretaria Estadual de

Educação, Cultura e Desportos do Rio Grande do Norte, SUAV/SECD-RN, 1999.

Discutiremos neste trabalho apenas os dados referentes à 8ª série do Ensino

Fundamental. Segundo o Relatório Final de Matemática da Sub-coordenadoria de

Avaliação SUAV/SECD-RN, a análise teve como objetivo fornecer um diagnóstico

psicopedagógico das habilidades alcançadas pelos alunos em cada nível de

proficiência, identificando as atividades que eles dominam.

Foi constatado que, quando se trata de ensino-aprendizagem de matemática,

os alunos da 8ª série do Ensino Fundamental das Escolas Públicas do Estado do

Rio Grande do Norte pouco se diferenciam quando comparados com a média da

proficiência dos alunos desta mesma série das escolas públicas brasileiras. A

caracterização do perfil dos alunos da 8ª série partiu das variáveis: dados gerais e

vida escolar.

Verificamos que mais da metade dos alunos da 8ª série — 51% — situam-se

na faixa etária que vai de 15 a 17 anos de idade, mas também se observa que é

Page 26: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

26

significativa a porcentagem de alunos, com 18 anos, ou mais, chegando a 32% e

apenas 17% dos alunos da 8ª série (que participaram da avaliação) estão na faixa

de idade esperada. Do total de alunos avaliados, 40% são do sexo masculino e 60%

do sexo feminino, mostrando que a população da 8ª série pesquisada é

predominantemente feminina.

Um fato importante que merece ser citado é que o desempenho dos alunos

em matemática também está associado à média de proficiência de gestão escolar

(Administração da escola). Observou-se que nas escolas jurisdicionadas pelos 12

centros escolares de proficiência mais baixa, o rendimento dos alunos avaliados foi

inferior à média de proficiência dos alunos em que a gestão escolar apresentou uma

média de proficiência maior que à média, ou seja, cerca de 20% do total dos centros

escolares.

O baixo desempenho em matemática dos alunos da 8ª série, também é

atribuído à formação do professor, sendo que aproximadamente 62% deles possui

diploma de curso superior. Também associado ao fracasso está o pouco tempo que

o professor tem para preparar suas aulas, ocupando quase a totalidade do tempo de

aula com o ensino, não sobrando tempo para o estudo e pesquisa.

Nas escolas jurisdicionadas pelos centros escolares, considerados na

pesquisa como superiores (média de proficiência maior que a média geral do

estado), 93% dos professores usam o livro didático de matemática que, para muitos,

torna-se um bom manual de ensino pela sistematização das informações fornecidas

sobre o conteúdo a ser ensinado.

A avaliação das escolas públicas indica que, a instituição escolar com infra-

estrutura organizacional e pedagógica e que disponha de mais recursos materiais

(livros didáticos, livros paradidáticos, dicionários, TV, vídeo, fita de vídeo, papel

sulfite, cartolina, etc.), tende a ajudar significativamente o desempenho do aluno.

Em 1997, a Secretaria de Educação, Cultura e Desportos do Estado do Rio

Grande do Norte iniciou o processo de implantação dos Parâmetros Curriculares

Nacionais, objetivando dar uma formação continuada ao professor do Ensino

Fundamental através do Curso de Atualização Curricular e, ao mesmo tempo,

começou a equipar as escolas públicas estaduais com laboratórios de informática

que poderiam ajudar ao professor a desempenhar um melhor trabalho junto aos

alunos.

Page 27: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

27

O relatório geral do caderno de avaliação das escolas públicas estaduais

aponta um crescimento no índice da média de proficiência em matemática dos

alunos pesquisados, tanto da 8ª série como 3ª série do Ensino Médio. O relatório

mostra que, na 8ª série o índice de reprovação em matemática decresceu, mas isto

não significa um aumento considerável dos alunos quanto aos conhecimentos

matemáticos apreendidos.

Finalizando este sub-tópico, chegamos à conclusão de que o ensino-

aprendizagem de matemática na 8ª série do Ensino Fundamental no Brasil

apresenta um menor índice de repetência, mas este crescimento no número de

aprovados na 8ª série não está refletindo no crescimento do conhecimento adquirido

pelo aluno. No Relatório Geral de Avaliação das Escolas Públicas, (março, 1999

p.59), SUAV/SECD-RN, observa-se que os alunos da 8ª série do Ensino

Fundamental apresentaram médias superiores às do Estado quando professores

desenvolveram todo o conteúdo, ou pelo menos, 80% do previsto para o ano letivo,

indicando assim que, quando os alunos possuem habilidades necessárias à

aprendizagem, o ensino do conteúdo ocorre em menor tempo, elevando, portanto, a

quantidade de conteúdos que podem ser ensinados durante o ano.

1.7 Os Livros Didáticos e os Conteúdos Propostos para a 1ª série do Ensino Médio

Ao recorrermos aos PCNEM (proposta oficial do governo), percebemos que o

currículo de matemática proposto para o Ensino Médio não difere daqueles

indicados pelos autores de livros didáticos para a 1ª Série. Para chegarmos a esta

constatação consultamos alguns livros adotados nas escolas do Estado, dentre eles

o de: Kátia Smole e Roku Kiyukama (1998), volume 1; José Ruy Giovanni, José

Roberto Bonjorno e José Ruy Giovanni Jr. (2002), volume único; Manoel Rodrigues

Paiva (1995), volume 1; Marcio Cintra Goulart, (1999), volume 1; Luiz Roberto Dante

(1999), volume 1; Nelson Gentil et al (1996), volume 1. Dentre os livros consultados,

apenas Nelson Gentil et al (1996) e Manoel Rodrigues Paiva (1995), apresentam

uma abordagem da Teoria dos Conjuntos, os outros autores citados apresentam o

currículo de Matemática para a 1ª Série do Ensino Médio seguindo de certa forma os

mesmos conteúdos, alterando em alguns casos a ordem de abordagem, o que

significa dizer que divergem na seqüência. Os conteúdos propostos são:

Page 28: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

28

i) Conjuntos numéricos – destacando os números naturais, os inteiros, os

racionais, os números reais e intervalos;

ii) Funções – enfatizando os diversos tipos de funções, função do 1º grau,

função do 2º grau e função definida por mais de uma sentença;

iii) Função Exponencial – enfatizando equações e inequações exponenciais;

iv) Logaritmos – dando ênfase às propriedades operatórias, mudanças de

bases, funções logaritmos e suas aplicações;

v) Razões trigonométricas – destacando seno, cosseno, tangente, relação

fundamental e área do triângulo;

vi) Trigonometria – enfatizando o ciclo trigonométrico e as funções seno,

cosseno, tangente e a relação fundamental;

vii) Progressões – progressões aritméticas (PA) e progressões geométricas

(PG).

Observando os currículos de Matemática para o antigo 2º Grau e o Novo

Ensino Médio, verificando ainda o que propõem os PCNEM e os livros didáticos para

a 1ª Série do Ensino Médio, percebemos que quando se trata de conteúdos não há

uma grande diferença a não ser na Teoria dos Conjuntos, que não é incluída no

currículo oficial atualmente. A diferença entre o antigo e Novo Ensino Médio está na

proposta para a abordagem metodológica e, conseqüentemente, no referencial

teórico.

A proposta para o atual Ensino Médio relaciona as competências indicadas na

base comum, organiza o ensino-aprendizagem de forma a atender as exigências da

Matemática e suas tecnologias produzindo conhecimento significativo, sugere a

interdisciplinaridade e a contextualização dos conteúdos, atribui competências

humanas a serem atingidas com o uso do conhecimento matemático. (BRASIL,

1999).

A Matemática ciência, com seus processos de construção evalidação de conceitos e argumentações e os procedimentos degeneralizar, relacionar e concluir que lhe são característicos, permiteestabelecer relações e interpretar fenômenos e informações. Asformas de pensar dessa ciência possibilitam ir além da descrição darealidade e da elaboração de modelos. (BRASIL, 1999, p. 211).

Page 29: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

29

O desenvolvimento dos procedimentos matemáticos, envolvendo raciocínio

lógico e expressões não deve ser exclusivo do professor de matemática, é preciso

haver a interdisciplinaridade envolvendo os quatro componentes curriculares

científico-tecnológicos de forma coordenada para que o aluno possa construir as

abstrações matemáticas evitando a memorização de algoritmos.

2 METODOLOGIA

Page 30: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

30

Este capítulo objetiva apresentarmos uma discussão sobre o percurso

metodológico deste trabalho, destacando o objeto de estudo e as questões

norteadoras da pesquisa. Para tanto, retomamos pontos relevantes da nossa

pesquisa de mestrado (SILVA 2002) sobre a aprendizagem de números irracionais

no ensino fundamental, realizada junto a alunos de 8ª série. Neste capitulo também

enfatizaremos o construtivismo de Jean Piaget; o construtivismo Radical de

Glasersfeld; e os conceitos de compreensão instrumental e a relacional de Skemp;

os obstáculos no processo de ensino/aprendizagem; além de comentarmos os dois

trabalhos encontrados no portal da capes, sobre a temática.

2.1 Os números irracionais no Ensino Fundamental

Os números irracionais são inseridos nos livros didáticos de matemática

destinados a alunos de 7º e 8ª série, geralmente com uma abordagem superficial,

conclusão essa pensada a partir de pesquisa bibliográfica que realizamos como

trabalho final da Especialização em Matemática/UFRN (SILVA, 2000).

Partindo dessa análise bibliográfica percebemos a necessidade de fazer uma

intervenção metodológica sobre o ensino dos números irracionais junto a alunos da

8ª série do Ensino Fundamental, que pudesse tornar o trabalho sobre esses

números mais significativo.

Apesar dos alunos que estão cursando ou que já cursaram a 8ª série, terem

estudado o conjunto dos números irracionais, eles não vêem a utilização destes em

situações práticas. Essa deficiência de aprendizagem fica confirmada pelas

pesquisas realizadas no Rio Grande do Norte e comentadas neste trabalho.

Diante do exposto, percebemos a necessidade de se rever o modo como

esse conteúdo é desenvolvido em sala de aula em conseqüência do nível de

entendimento demonstrado pelos alunos, o que foi concretizado através de um

Mestrado em Educação, (SILVA, 2002).

Apresentaremos a seguir um resumo da pesquisa de Mestrado, apontando as

principais conclusões.

Page 31: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

31

Realizamos a intervenção metodológica na sala de aula de uma turma de 8ª

série, composta por 31 alunos, dos quais, 20 do sexo masculino e 11 do sexo

feminino, de uma escola da rede pública municipal de ensino da cidade do Natal,

localizada na Zona Norte, no segundo semestre de 2000.

O referido estudo teve quatro fases intercaladas entre si:

i) Avaliação Diagnóstica; ii) Intervenção em Sala de Aula; iii) Pós-teste; iv) Análise

dos dados.

Sintetizamos as conclusões desse estudo considerando a metodologia geral

da pesquisa que compreendeu uma coleta de dados, com fases de avaliação e

aplicação de módulo de ensino, caracterizada nos seguintes pontos:

i) A Avaliação Diagnóstica mostrou que, de modo geral, a maioria dos alunos

não tinha conhecimento dos conceitos matemáticos explorados que permitisse

responder as questões de forma satisfatória. No geral, percebemos que o nível de

compreensão relacional demonstrado pelos participantes está muito baixo,

esperava-se que alunos da série em questão apresentassem mais habilidades sobre

os conteúdos explorados. Os resultados das respostas das questões avaliadas no

estudo reforçam as pesquisas que apontam deficiência no ensino-aprendizagem de

matemática.

ii) A aplicação das atividades do módulo de ensino foi bem recebida pelos

alunos, cujo interesse em realizá-la foi percebido desde o início, tendo o grupo

demonstrado uma afetividade positiva em relação à intervenção como um todo, o

que contribuiu para o desenvolvimento do trabalho. As condições gerais de estudo

favoreceram a aplicação desse instrumento da pesquisa. Verificamos também que a

intervenção com o módulo de ensino foi positiva do ponto de vista da aprendizagem,

em virtude da superação das dificuldades apontadas na avaliação diagnóstica. As

atividades sobre números irracionais foram desenvolvidas de maneira satisfatória,

atendendo aos objetivos propostos.

iii) Analisando o resultado do pós-teste, podemos afirmar que, a aplicação do

módulo de ensino promoveu um avanço no nível de aprendizagem dos indivíduos

envolvidos, notadamente sobre o conceito de área de retângulo, o desenvolvimento

dos procedimentos para o cálculo de raiz quadrada por aproximação e o teorema de

Pitágoras. Sobre números irracionais, objeto da pesquisa, o entendimento dos

alunos também foi favorecido.

Page 32: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

32

Diante dos resultados apresentados pelos alunos da 8ª série pesquisada

retornamos aos seguintes questionamentos: i) Será que ao oportunizarmos aos

alunos da 1ª série do Ensino Médio um trabalho com os números irracionais por

meio de atividades de ensino haverá uma aprendizagem mais significativa deste

conteúdo? ii) É realmente necessário estudar os números irracionais no Ensino

Médio? Na tentativa de respondermos a esses questionamentos nos propomos a

realizar uma pesquisa junto a alunos do ensino médio da rede pública de ensino.

2.2 O Estudo sobre a Aprendizagem de Números Irracionais no Ensino Médio

Diante dos resultados apontados na pesquisa de mestrando, relatados neste

trabalho, e a necessidade de continuarmos os estudos sobre números irracionais,

propomos este trabalho para dar continuidade à pesquisa (SILVA, 2002),

considerando o conhecimento dos alunos da primeira série do Ensino Médio, tendo

como objeto de estudo os números irracionais. Sendo assim, é nossa finalidade

elaborar, aplicar e avaliar uma proposta metodológica sobre este conteúdo

matemático que priorize a construção dos conceitos pelos alunos.

Dentre os campos que compõem a matemática elementar — tradicionalmente

visto como Aritmética, Álgebra e Geometria — isolamos os Números Irracionais

como sendo o assunto de nosso interesse para um estudo do ponto de vista do

ensino.

Segundo Níven (1984), a História dos Números Irracionais remonta há cerca

de 2500 anos, quando matemáticos gregos constataram a incomensurabilidade

entre o lado e a diagonal do quadrado unitário. Em outras palavras, isso significa

que 2 não pode ser escrito na forma de um número racional, (isto é, b

a com a e b

inteiros). Uma discussão sobre números irracionais geralmente contém a prova

clássica da irracionalidade de 2 , por um argumento lógico chamado “redução ao

absurdo”. Num estudo mais aprofundado sobre números reais, estes são

classificados não apenas como racionais e irracionais, mas também em duas outras

categorias — que não são estudadas no nível do presente trabalho. Uma categoria

compreende os que são chamados de “números algébricos”, ou seja, os números

que são soluções de equações algébricas com coeficientes inteiros (por exemplo:

Page 33: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

33

2 é solução de x2 – 2 = 0) e uma outra contém todos os demais números, sendo

estes chamados de números transcendentes, como o número irracional (PI).

O estudo dos Números Reais faz parte do currículo oficial de Matemática

para o Ensino Fundamental e consta nos livros-texto de Matemática para as 7ª e 8ª

séries. Constatamos as dificuldades que os alunos de 8ª série apresentam no

entendimento dos números irracionais, principalmente nos conteúdos que

consideramos pré-requisitos para a aprendizagem do tema em foco, como:

operações com raiz quadrada exata e não-exata, dízimas periódicas, cálculo de área

do retângulo e teorema de Pitágoras. No estudo realizamos uma intervenção

metodológica com base nesses conteúdos e percebemos ser possível, a partir dos

resultados alcançados, haver um melhor entendimento do assunto por parte dos

alunos, em razão da maneira como são trabalhados.

Consideramos os conceitos avaliados de fundamental importância para a

aprendizagem e uso da matemática nas três séries do Ensino Médio, A nossa

proposta de aprofundar o estudo sobre o conteúdo Números Irracionais em duas

turmas de 1ª série do Ensino Médio, enquadra-se no currículo atual, tanto na

proposta de conteúdos sugerida nos PCNEM, quanto à abordada nos livros

didáticos. Segundo os PCNEM “[...] A Matemática no Ensino Médio não possui

apenas o caráter formativo ou instrumental, mas deve ser vista como ciência, com

suas características estruturais específicas” (BRASIL, 1999, p. 252).

Os Números Irracionais como comentamos neste trabalho são explorados

como forma de subconjunto dos Números Reais nas últimas séries do Ensino

Fundamental, mas também são utilizados dentro dos vários conteúdos Matemáticos

do Ensino Médio. Perpassando por intervalos, geometria e na trigonometria como

seno, cosseno, tangente, [...], exemplo: seno de 45º que é igual a 2

2; no cálculo de

determinante, aplica-se junto ao conjunto dos números imaginários, também é

explorado em geometria plana e geometria analítica.

Mas é de fundamental importância ressaltar que os Números Irracionais têm

aplicação prática no nosso cotidiano e que muitas vezes passa despercebida essa

aplicação por trabalharmos com aproximações (limites). Como exemplo comum que

acontece nas cidades, podemos citar que: Um motorista ao perceber que um

pedestre displicente estava atravessando uma avenida, pisou fundo no freio

Page 34: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

34

cantando os pneus no asfalto para não provocar um acidente, parando próximo ao

assustado pedestre. Um guarda próximo ao local quis logo multar o motorista por

excesso de velocidade, mas o motorista disse que estava dirigindo a menos de 80

quilômetros por hora, velocidade máxima permitida naquela avenida. Como o guarda

poderia saber a velocidade com que vinha o carro?

Em uma freada brusca os pneus deixam uma marca no asfalto, medindo o

comprimento dessa marca é possível saber, aproximadamente a velocidade com

que vinha o carro. A fórmula, obtida através da física é a seguinte: V =14,6 c , onde

V representa a velocidade do carro em quilômetro por hora e c é o comprimento da

marca deixada pelos pneus em metros — No caso citado, se os pneus do carro

deixassem gravadas no asfalto uma marca de 43 metros. Aplicando a fórmula

V =14,6 c , teríamos a utilização de um número irracional e ficaria 436,14V =

78,9556,66,14 , ou seja, o carro vinha aproximadamente a 96 km/h e o motorista

deveria ser multado. Nessa situação, qualquer valor que fosse o comprimento da

marca dos pneus no asfalto e que a medida não representasse um número

quadrado perfeito se estaria usando números irracionais. Os referidos números

também são muito utilizados nas engenharias, principalmente na construção civil,

tendo assim, grande importância na prática, mesmo sendo utilizado com

determinação de limite de casas decimais.

Outro ponto importante e, que chama nossa atenção para a necessidade de

se aprofundar a abordagem dos Números Irracionais no Ensino Médio é a crescente

procura dos estudantes desse nível de ensino pelos cursos da área tecnológica na

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), nos últimos anos.

Em 2004, das 3.711 vagas ofertadas pela UFRN, cerca de 28,9% foram

preenchidas na área tecnológica. Em 2005, de 25.332 inscritos no vestibular, 18,8%

optaram pela área tecnológica, incluindo os Centros de Tecnologia e Ciências

Exatas e da Terra. Nesse mesmo ano, das 3.741 vagas ofertadas pela UFRN, 28,7%

efetuaram matrículas na referida área, dados fornecidos pela Comissão permanente

do vestibular (COMPERVE, 2004).

Page 35: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

35

2.3 O Construtivismo de Jean Piaget

O construtivismo foi certamente o movimento predominante na educação em

geral e, em particular, na pesquisa em ensino de ciências nas últimas décadas. A

imagem de que o conhecimento é ativamente construído pelo aprendiz e não

apenas transmitido pelo professor e passivamente apreendido é hoje um lugar

comum não apenas entre pesquisadores, mas também no discurso de boa parte dos

professores de todas as áreas. Embora seja difícil avaliar a extensão das mudanças,

é notória a influência desse movimento nas concepções e práticas docentes. Talvez

o principal impacto das orientações construtivistas esteja na atenção antes dirigida

aos métodos de ensino, entendidos como técnicas capazes de ensinar com

eficiência, para os processos de aprendizagem. O olhar do educador dirige-se assim

para as potencialidades e as dificuldades dos estudantes em suas interações com

os conteúdos escolares.

No ensino de ciências, a partir do final da década de 1970, a vertente

predominante desse movimento dedicou-se a um grande esforço de pesquisa no

sentido de mapear os conteúdos do conhecimento prévio dos estudantes acerca de

fenômenos e processos naturais, bem como as interações dessas concepções

espontâneas com os conceitos e teorias científicas que lhes são apresentados na

escola.

Dos anos 1980 para cá, no Brasil, percebemos que há uma busca crescente

da “perspectiva construtivista”, fundamentada nas pesquisas de Jean Piaget sobre

epistemologia genética. O construtivismo surgiu para se contrapor ao inatismo e ao

empirismo, que dominaram as explicações cognitivas, desde muito tempo. No

inatismo, o ser humano já nasce com uma carga que o predispõe a aprender e

compreender a realidade que o cerca. Já o empirismo coloca a origem do

conhecimento nas experiências vividas pelo sujeito.

Tanto o inatismo quanto o empirismo não dão espaço para a ação do sujeito

no conhecimento do mundo, e o construtivismo começa a valorizar essa ação do

sujeito na busca pelo conhecimento.

Jean Piaget (1896 – 1980) procurou estudar a aprendizagem de forma

científica, destacando-se a capacidade de interação do sujeito com o mundo e o

objeto.

Page 36: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

36

O pensamento psicogenético considera fatores internos e fatores de interação

do sujeito com a realidade. Existem fatores que possuem aspectos que influenciam o

desenvolvimento e um dos fatores Piaget considera dominante. Os influenciadores

são: Hereditariedade (considerado maturação biológica), experiência física,

transmissão social. A equilibração é fator dominante. A hereditariedade influencia o

desenvolvimento, mas não é suficiente para explicá-lo a maturação está na

dependência da ação do sujeito, ou seja, o nosso mundo sensorial é resultante das

nossas próprias atividades perceptivas de depende da maneira de percebermos e

concebermos.

A experiência física é considerada como toda a experiência que resulta das

ações realizadas materialmente; é fundamental ao desenvolvimento, também é

insuficiente porque a lógica do sujeito não é resultante apenas dela. É necessária a

coordenação interna entre as ações que o sujeito exerce sobre os objetos.

A transmissão social diz respeito ao aspecto da educação que é

fundamental, mas não suficiente. Para a transmissão ser possível entre o adulto e a

criança ou entre o meio social e a criança a ser educada, é necessário que ela

assimile o que o meio lhe quer transmitir, e essa assimilação é acionada pelas leis

do desenvolvimento.

A equilibração é o fator essencial e determinante no desenvolvimento do

sujeito neste processo de adaptação ao meio em que vive. A equilibração se

caracteriza por dois aspectos: equilibrar entre si os outros três fatores do

desenvolvimento e equilibrar a descoberta de uma noção nova com outras, já

existentes nas possibilidades de entendimento da criança ou do adulto. Diante do

enfrentamento de um conflito cognitivo, é necessário um jogo de regulações e de

compensações para que se atinja uma coerência entre o que já se sabia com as

novidades provocadoras deste conflito; isto acontece pelas leis da equilibração. O

processo interno de regulação e compensação se dá através de mecanismos

internos de assimilação e acomodação.

Assimilação: É o processo que o sujeito utiliza para procurar compreender o

mundo. Todas as coisas, todas as idéias e pensamentos tendem a ser explicadas,

inicialmente, pelo próprio sujeito em função de seus esquemas ou estruturas

cognitivas construídas. O sujeito está num movimento constante de assimilação

desta realidade com seus esquemas ou estruturas cognitivas. Assim, o sujeito está

Page 37: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

37

em constante assimilação. Quando estamos diante de qualquer situação nova,

primeiramente buscamos interpretá-la segundo nossas concepções atuais, emitindo

hipóteses possíveis à sua interpretação dentro do contexto presente de nossa

inteligência.

Acomodação: Quando o objeto que se pretende assimilar apresenta

resistências e não é possível a sua apreensão o sujeito faz um esforço em sentido

oposto ao da assimilação, isto é, se lança em movimento de acomodação. Modifica

as suas hipóteses anteriores às exigências por esta novidade e torna possível sua

assimilação. A acomodação surge a partir das perturbações provocadas pelas

situações novas que o sujeito enfrenta. Na acomodação, o sujeito age no sentido de

se transformar, ajustando-se através de um esforço pessoal e espontâneo às

resistências impostas pelo objeto de conhecimento, que não foi possível ser

assimilado imediatamente.

Piaget e seus colaboradores percebem o conhecimento como proveniente de

fontes internas e externas ao sujeito e o reconhecem em três aspectos distintos e

interligados: o físico, o lógico-matemático e o social.

Na teoria de Piaget, a abstração da cor dos objetos é considerada muito

diferente da natureza ou abstração de números. Para a abstração de propriedade de

objetos, Piaget usou o termo abstração empírica (ou simples); para a abstração de

número, ele usou o termo abstração reflexiva (KAMII, 1986). Na Abstração

Construtiva, a experiência lógico-matemática envolve não somente as abstrações

exercidas sobre os objetos, mas as abstrações das coordenações que ligam essas

ações; ela se relaciona com as propriedades das ações e não apenas dos objetos. É

característica da experiência lógico-matemática a abstração construtiva ou reflexiva.

A abstração construtiva é elaborada na mente do sujeito ao criar

relacionamentos entre vários objetos e coordenar essas relações entre si. Na

abstração simples é a abstração do próprio objeto, ou seja, de suas propriedades

mediante a observação das respostas que o objeto dá à ação exercida sobre ele.

Ex.: estabelecer relações entre a massa de modelar e outros objetos, ordenar

mentalmente essas relações, distinguir objetos que são moldáveis dos que não são.

Nesse caso a criança já pensa no objeto em si, mas relaciona-o com outros

objetos, em função das ações exercidas sobre ele e coordenando essas relações no

Page 38: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

38

seu pensamento. A partir de um dado momento o sujeito é capaz de realizar

operações lógico-matemáticas dispensando a experiência física, interiorizando as

ações em operações simbolicamente manipuláveis. Neste nível existe uma lógica e

uma matemática pura onde a experiência física torna-se desnecessária.

A abstração reflexiva é considerada por Piaget um dos aspectos mais gerais

do processo de equilibração e um dos motores do desenvolvimento. Ela se apóia

nas coordenações das ações do sujeito, podendo estar inconsciente ou haver

tomado de consciência. A abstração reflexiva possui dois aspectos inseparáveis: o

refletir, ou seja, a projeção sobre o plano superior daquilo que é retirado do plano

inferior, e a reflexão ato mental de reconstrução e reorganização, no plano superior,

do que é transferido do inferior. A abstração reflexiva é, então, uma reflexão crítica

das nossas atividades de reflexão, resultante num todo conceitual consistente, quer

seja pela adição de novas experiências ao esquema já construído, quer pela

reorganização da situação para acomodar o novo material. Em qualquer um desses

casos, a compreensão conceitual é conseguida através de atividades

organizacionais do sujeito epistemológico (PIAGET; GARCIA, 1987).

César Coll, (1998) ao falar na intervenção pedagógica do professor dentro da

concepção construtivista de ensino, ressalta o quanto ela é importante e necessária.

O aluno é o sujeito que constrói, modifica o seu conhecimento, mas é a ajuda

pedagógica que favorece e direciona de forma mais organizada esse processo. Ela

“[...] consiste essencialmente em criar condições adequadas para que essa dinâmica

interna ocorra e para orientá-la em determinada direção: a que as intenções

educativas indicam” (COLL, 1998, p. 139). Assim, a intervenção pedagógica

funciona como algo necessário para que a aprendizagem dos alunos ocorra e seja

significativa.

Os PCN sugerem como abordagem para o desenvolvimento dos trabalhos

em sala de aula, metodologias embasadas na construção do conhecimento,

tomando a “perspectiva construtivista” como teoria para fundamentação do trabalho

na sala de aula. E, nesse processo, sugerem que o conhecimento não é entendido

como algo fora do indivíduo, “[…] é, antes de mais nada, uma construção histórica e

social, na qual interferem fatores de ordem cultural e psicológicos.” (BRASIL, 1997,

p. 42).

Page 39: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

39

Os PCNEM sugerem que “O Ensino Médio deve, sem ser profissionalizante,

propiciar um aprendizado útil à vida e ao trabalho, desenvolvendo instrumentos reais

de julgamento, atuação e aprendizado permanente”. (BRASIL, 1999, p. 202). O

processo ensino-aprendizagem deixa de ser centralizado exclusivamente no

professor, para centrar-se no aluno, sujeito que constrói seu conhecimento ao

elaborar representações relativas a um determinado conteúdo.

O papel do professor é muito importante nesse processo, pois, é ele, através

de sua intervenção consciente, que possibilita ao aluno um caminho para uma

aprendizagem significativa. Assim, o conhecimento se dará como algo resultante

”[…] de um complexo e intricado processo de modificação, reorganização e

construção, utilizado pelos alunos para assimilar e interpretar os conteúdos

escolares“. (BRASIL, 1997, p. 43).

O conhecimento é construído a partir da interação entre o aluno, o objeto de

estudo e o professor, pois cada um desses agentes envolvidos no processo

construtivo está diretamente ligado à construção final do conhecimento, ou seja, do

saber. Em nosso trabalho utilizamos a proposta construtivista a partir da socialização

das questões e suas respostas, da troca de experiências dos estudantes, da

interação entre objeto de estudo e estudante, o diálogo entre os pares do mesmo

grupo e também da turma, e a valorização dos saberes.

Os estudos de Jean Piaget foram muito importantes para a matemática, pois

deles pode-se perceber o conhecimento de outro modo. Mas, neste trabalho também

comentaremos o construtivismo radical de Ernsto van Glasersfeld.

2.4 O Construtivismo Radical de von Glasersfeld

Compreender o construtivismo educacional enquanto movimento heterogêneo

cujas fontes têm passado por contribuições da epistemologia genética, da filosofia

das ciências, da sociologia do conhecimento e da psicologia cognitiva é um espectro

que está longe de oferecer uma base consensual significativa. As variedades das

contribuições dos vários autores dependem não apenas das fontes que inspiram

seus trabalhos, mas ainda da maneira peculiar como às interpretam e, sobretudo, da

visão que têm do processo educacional como um todo e do ensino de ciências, em

particular.

Page 40: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

40

O construtivismo radical de Glasersfeld, que é uma dessas vertentes que

assume uma posição nitidamente subjetivista e idealista. Segundo Glasersfeld, o

conhecimento reside na mente do sujeito cognoscente e não tem qualquer

existência externa: "Se nossos conceitos são derivados por abstração da

experiência, não há base para acreditar que eles possam captar nada que exista

além da nossa experiência" (GLASERSFELD, 1991, p. 31).

A idéia de verdade é substituída pelo conceito de viabilidade. O conhecimento

viável é aquele coerente com outros entendimentos da pessoa e que se organiza e

se adapta com sua experiência. Disso resulta o fato de que o conhecimento

científico não se diferencia de outras formas de conhecimento senão por sua

linguagem, por sua forma, mas não por seus métodos ou por seus méritos.

Mesmo quando o indivíduo está limitado ao mundo da experiência perceptiva,

este não está capacitado a colher todos os dados que seus sentidos podem

oferecer. O indivíduo é, antes de tudo, um participante ativo no processo de

conhecimento, devendo organizar e selecionar suas experiências, de modo a

conferir significado a todas as suas aquisições sensoriais.

Os conceitos básicos, como o de identidade ou o de mudança, são

construídos pelo sujeito epistemológico, em lugar de serem dados de uma realidade

externa. Sendo assim, os resultados de atividades organizadas cognitivamente do

sujeito, são mais ou menos coerentes, ou seja, estruturas cognitivas criadas por

abstração reflexiva e desenvolvidas por atividade intencional (FOSSA, 1998, p. 23-

26).

2.5 Skemp e os conceitos de aprendizagem

A análise do desenvolvimento das atividades de ensino da intervenção

metodológica deste estudo foi realizada mediante os conceitos de compreensão

instrumental e compreensão relacional de Skemp,

Segundo Skemp (1993, p. 42-43) o indivíduo alcança o nível de compreensão

relacional quando é capaz de resolver um grande número de atividades com rapidez

e inteligência, justificando suas respostas, ou seja, a aprendizagem de matemática

relacional está voltada para a construção de estruturas conceituais, a partir das

quais passam a ser exploradas possibilidades distintas para a realização de uma

Page 41: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

41

mesma tarefa. Enquanto que, no nível de compreensão instrumental, o indivíduo só

consegue resolver algumas questões mecanicamente. A aprendizagem da

matemática instrumental consiste no domínio de um conjunto de planos

pré-estabelecidos e fixos para realizar tarefas matemáticas, planos que determinam

procedimentos passo a passo.

À caracterização em compreensão relacional ou instrumental, Skemp chamou

de o conhecimento, ou seja, o Saber. Na compreensão instrumental o Saber é

considerado superficial, ligado a fatos concretos e reduzidos a situações decorrentes

do próprio saber.

Para o pesquisador e professor John Fossa (2001, p. 83), “[...] a compreensão

instrumental é não somente útil em certas circunstâncias, mas também é uma etapa

necessária no desenvolvimento da compreensão relacional desde que o particular e

o concreto vêm antes do geral e abstrato”.

Enquanto a compreensão relacional é o conhecimento mais aprofundado

mais abstrato o qual permite ao indivíduo atuar com criatividade em novas situações.

Podemos observar que esses dois conceitos de compreensão denominados por

Skemp, são dois estágios de conhecimento que estão interligados apenas

quantitativamente. O nosso trabalho sobre números irracionais está embasado na

concepção dos conceitos de compreensão instrumental e relacional de Skemp.

Skemp também contextualiza esquema como sendo uma estruturação de

conceitos formados e relacionados pelo sujeito epistemológico, não percebe um

esquema como uma única estrutura da mente, pois considera a existência de vários

esquemas simultaneamente. Para ele, o esquema tem duas funções principais:

integra o conhecimento existente e também serve como um instrumento mental para

a aquisição de novos conhecimentos.

Fossa (2001) define os esquemas associados à caracterização supracitada

da seguinte maneira:

Os esquemas associados com compreensão relacional, emcontraste aos associados com compreensão instrumental, são ricosem ligações internas e externas, o que promove o reconhecimentode situações relacionadas entre si, ou situações analógicas. Assim,o sujeito epistemológico poderá reduzir o conjunto numeroso deregras especiais a um pequeno grupo de princípios gerais por umprocesso de abstração. Esta redução facilita a retenção e um

Page 42: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

42

manuseio num vasto elenco de conhecimentos, favorecendo assimo pensamento crítico e criativo. Ao mesmo tempo, odesenvolvimento do pequeno grupo de princípios gerais permiteuma organização mais eficiente dos vários elementos doconhecimento em um todo significativo, favorecendo a memória.Assim, o sujeito se torna mais adaptável à realização de tarefasnovas e menos dependente das situações já vivenciadas. (FOSSA,2001, p. 85-86),

A fala de Fossa destaca a importância de trabalharmos no sentido dos alunos

(sujeitos da aprendizagem) atingirem o nível de compreensão relacional, reduzindo o

número de regras facilitando a abstração e havendo assim um maior desempenho e

consequentemente mais aproveitamento.

2.6 Os obstáculos que interferem na aprendizagem da matemática

A análise da avaliação diagnóstica torna-se impraticável, caso seja associada

às compreensões relacionais e instrumentais. Haja vista que, para classificarmos os

resultados dos alunos mediante estes conceitos precisávamos estar

acompanhando-os e observando-os há certo tempo. Para isto, recorremos a

Bachelard (2005), quando se refere aos obstáculos.

O ensino e a aprendizagem da Matemática é muitas vezes caracterizado por

dificuldades entre o saber que é produzido pelos matemáticos (saber científico) e o

saber que é ensinado (saber escolar). A dualidade entre estes saberes é marcada

por tentativas de transformar um saber, que na gênese de sua criação tem como

prioridade inicial, a generalização, e para isso recorre a uma descontextualização do

espaço/tempo/local de sua criação para ser universal (saber científico); e o saber

escolar que tem, na ação do professor, uma tentativa de recontextualizá-lo, para

torná-lo mais acessível à aprendizagem pelo aluno. Este contexto “recriado” pelo

professor para o saber escolar não é o contexto original em que o saber foi

inicialmente elaborado.

Trazer à tona essa dualidade entre saber científico e saber escolar é

importante para discutirmos obstáculos que permeiam o ensino e a aprendizagem da

Matemática, pois um ponto inicial dessa discussão é exatamente a dificuldade que o

professor tem em realizar a transformação do saber científico em saber escolar.

Page 43: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

43

Bachelard (2005) mostra que os primeiros obstáculos são os provocados

pelas primeiras experiências, quando estas são realizadas sem maiores reflexões e

críticas. Essa atitude primária é contrária ao espírito científico e resulta na fragilidade

do conhecimento. Para a validação da ciência, esse abuso da intuição não se

constitui em um elemento plausível à elaboração conceitual. No plano pedagógico,

associam-se esses obstáculos à forma simplificada dos conteúdos no livro didático,

onde o formalismo não corresponde aos desafios do fenômeno cognitivo.

Em termos de Matemática podemos encontrar três tipos de obstáculos: os

epistemológicos, os didáticos e os ontogênicos. Para discutirmos o que são esses

tipos de obstáculos e alguns exemplos de ocorrência destes, é preciso inicialmente

fazer um comentário sobre o contexto de criação do conceito de obstáculos. Gaston

Bachelard no livro A Formação do Espírito Científico de 2005, discute a noção de

obstáculos, ao analisar a passagem de um conhecimento pré-científico para um

conhecimento científico.

Na análise de Bachelard observa-se que ao acontecer essa passagem pode

ocorrer a rejeição de conhecimentos anteriores, onde ocorrem obstáculos em virtude

de que esses conhecimentos antigos já estão cristalizados, resistindo a novas

concepções.

Brousseau apresenta três tipos de obstáculos no sistema didático:

Obstáculos epistemológicos: são os resultantes do próprio

saber, do conhecimento em si;

Obstáculos didáticos: são resultantes da escolha de um

determinado sistema educacional;

Obstáculos ontogênicos: são resultantes de limitações do sujeito

em um determinado momento mental.

2.6.1 Obstáculos epistemológicos

Pais (2001) traz uma discussão sobre os obstáculos epistemológicos no

sentido de estabelecer um percurso para seu entendimento. Para isso, recorre a

diversos autores fundamentando a sua discussão. Inicialmente, Pais (2001) aponta

que a criação do saber matemático passa por etapas de conflitos que não são

explicitadas no texto final e, para estudar o conceito de obstáculos epistemológicos é

necessário recorrer à formação dos conceitos matemáticos. O autor argumenta que

Page 44: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

44

os obstáculos que aparecem no ato de criação do saber matemático não estão

postos no texto final e sim, são observados nos caminhos percorridos para a

elaboração de tal saber.

Os obstáculos epistemológicos podem ser considerados objeto de estudo em

Matemática, uma vez que ao se desenvolver as provas, estas são permeadas por

uma seqüência de rupturas dos argumentos que existem até então. Esta observação

apontada por Lakatos contribui para enfatizar que os obstáculos epistemológicos

estão mais presentes na fase de produção do saber matemático, do que no texto

final de uma demonstração matemática.

Pais (2001) observa que as provas matemáticas evoluem de acordo com as

refutações feitas pelo sujeito cognitivo e que tais refutações podem ajudar ou

dificultar a validação da Matemática. As refutações nesse caso podem se constituir

em obstáculos epistemológicos.

Os obstáculos epistemológicos são erros que estão ligados à maneira de

conhecer e podem explicar erros recorrentes de alunos dentro de certos conteúdos

matemáticos, a noção de obstáculo pode ser usada para analisar a gênese histórica

de um conhecimento ou também, situações de ensino e evolução espontânea do

aluno na aprendizagem de um conceito. Com isso, a noção de obstáculo não está

restrita apenas ao plano epistemológico e nem tampouco isolada no plano

pedagógico. Ela pode permear os dois planos.

2.6.2 Obstáculos didáticos

Esses obstáculos estão relacionados diretamente às questões educacionais.

Segundo Pais (2001, p. 44), “obstáculos didáticos são conhecimentos que se

encontram relativamente estabilizados no plano intelectual e podem dificultar a

evolução da aprendizagem do saber escolar”. Os obstáculos didáticos podem ser

colocados como dificuldades que são criadas pela escola, pela ação do professor ao

abordar um determinado conteúdo, ou ao usar uma determinada metodologia que

posteriormente provocará obstáculos ao desenvolvimento e entendimento do

conceito. A percepção, pelo professor, do obstáculo didático, lhe permitirá retornar o

trabalho com o conteúdo no sentido de superar as dificuldades vivenciadas pelos

alunos.

Page 45: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

45

À medida que os professores trabalham os conhecimentos matemáticos como

se fossem dogmas, que não podem ser questionados e são verdades absolutas,

contribui para tornar o conhecimento matemático um obstáculo para a aprendizagem

pelos alunos. Uma possível superação desse obstáculo seria uma mudança de

concepção por parte dos professores no sentido de compreenderem a Matemática

como uma atividade humana.

2.6.3 Obstáculos ontogênicos

Os obstáculos ontogênicos são os decorrentes de limitações do tipo

neurofisiológicas do sujeito e que podem se manifestar em determinados momentos

do processo de aquisição do conhecimento. São limitações que ocorrem com o

sujeito em um dado momento do desenvolvimento mental. Isto pode acontecer

quando uma determinada aprendizagem está deslocada em relação ao momento

intelectual pelo qual o aluno está passando.

Após fazermos um comentário geral acerca dos obstáculos que estão

presentes no campo didático, comentaremos a seguir, como estes obstáculos estão

presentes no ensino e aprendizagem dos números irracionais. Procederemos

destacando os obstáculos epistemológicos identificados no decorrer do trabalho.

2.6.4 Números irracionais e os obstáculos

A aprendizagem dos números irracionais é permeada por uma série de

questões que dificultam tal aprendizagem. Perez (1998) comenta que dificuldade é

algo que impede de executar de imediato e bem, alguma coisa. Essa dificuldade

pode ser causada por diversos fatores, tais como: o conceito que se aprende, o

método utilizado pelo professor, os conhecimentos prévios dos alunos e também

pela própria disposição do aluno em aprender.

Os obstáculos que estão presentes na compreensão, pelos alunos, dos

números irracionais, seja na representação em radical, seja na representação

decimal, são oriundos do conhecimento que eles possuem acerca dos números

racionais. O conhecimento dos números racionais por se encontrar sedimentado,

cristalizado pelos alunos, se constituem em obstáculos à compreensão e

Page 46: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

46

aprendizagem dos novos números, os irracionais, que devem ser mais explorados

em forma de atividades de ensino para favorecer a compreensão.

2.7 Outros trabalhos que envolvem números irracionais

Pesquisando no Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (CAPES), encontramos dois trabalhos nas áreas de Matemática e

Educação Matemática que tratam sobre os números irracionais. Miguel, (1993): Três

estudos sobre história e educação matemática, em um desses estudos Miguel

destaca os números irracionais apontando como a história pode influenciar em um

tema específico da Matemática, revelando o potencial educativo e cultural da

humanidade. Apresenta os Números Irracionais de maneira informativa, utilizando

uma didática construtiva, tudo indica que o trabalho proposto por Miguel foi aplicado

em sala de aula por outros professores, aos níveis de 1º e 2º graus.

O autor elaborou uma unidade de ensino sobre Números Irracionais com 44

atividades associadas à história da Matemática. Não utilizou os exercícios de

algoritmos comumente abordados, mas utilizou os aspectos conceituais

contextualizando-os.

Outro trabalho que cita os irracionais é o de Silvana Martins Melo: Um estudo

das relações dos saberes dos alunos sobre matemática escolar, (2003). Nesse

trabalho a autora utiliza questões envolvendo números irracionais na entrevista com

os alunos.

Em nossa opinião o trabalho de Miguel representa um ponto positivo na

história da matemática e é importante que seja discutido e ampliado no âmbito de

cursos de Licenciatura de Matemática como forma de contribuição aos futuros

professores.

Os trabalhos que encontramos no referido portal diferem do nosso, pois,

elaboramos atividades de ensino sobre números irracionais, aplicamos em sala de

aula e avaliamos os resultados.

2.8 Percurso Metodológico

Page 47: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

47

Nessa pesquisa optamos pela abordagem qualitativa. Para André (2000), o

conceito de pesquisa qualitativa não tem sido suficientemente discutido, apesar da

extensa literatura disponível. Mas nesse trabalho vamos seguir a orientação

conceitual de Bogdan (1984, p. 16) que afirma: “utilizamos a expressão investigação

qualitativa como um termo genérico que agrupa diversas estratégicas de

investigação que partilham determinadas características”. Referendado nessa

abordagem, faremos um estudo etnográfico com observação participante em duas

turmas de alunos de primeira série do Ensino Médio de duas escolas públicas: uma

da Rede Estadual e outra da Rede Federal de Ensino, localizadas na Zona Sul da

cidade do Natal e no distrito de Jundiaí, em Macaíba, na grande Natal,

respectivamente, sendo a intervenção pedagógica realizada no ano letivo de 2004.

De acordo com André (2000), a pesquisa qualitativa com abordagem

etnográfica apresenta características como: ênfase no processo, ou seja, no

experimento que está ocorrendo e não no produto final; observação da maneira em

que as pessoas vêem a si mesmas e suas experiências; contato direto entre o

pesquisador e as pessoas, havendo assim uma maior aproximação, não

pretendendo mudar o ambiente nem introduzir modificações que serão

experimentalmente controladas; o pesquisador utiliza grande quantidade de dados

descritivos; faz uso de um plano de trabalho flexível e aberto. Os dados investigados

vão sendo revistos e reavaliados objetivando construir novos conceitos e novas

formas de entender a realidade.

Segundo André (2000, p. 44) na abordagem etnográfica “o processo de

investigação da sala de aula se fará basicamente por intermédio da observação

direta das situações de ensino-aprendizagem, assim como por meio da análise do

material utilizado pelo professor e do material produzido pelo aluno”.

Para Ferreira (2000),

A grande vantagem da etnografia, por privilegiar o olhar sobre ocotidiano focal, reside justamente na sua melhor capacidade decompreender os micro-fundamentos da sociedade global, isto sópode ser atingido pelo estudo de pessoas de carne e osso emrealidades circunscritas, seja por fronteiras institucionais, seja peladelimitação mais ou menos arbitrária do alcance das explicações dopesquisador. (FERREIRA, 2000, p.32-33).

Page 48: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

48

Com base nessa afirmação vemos a grande importância da escola como

fonte para um trabalho etnográfico, já que esta faz parte de uma estrutura maior,

mas apresenta particularidade própria à sua existência cotidiana.

2.9 Instrumentos para levantamento de dados

A abordagem qualitativa requer do pesquisador o maior cuidado no

levantamento dos dados para não deixar dúvidas nas suas interpretações. Nesse

trabalho usamos os seguintes instrumentos de pesquisa para levantamento dos

dados:

i) Documentos escritos pelos alunos sobre os conteúdos estudados. Os

documentos escritos pelos alunos sobre os conteúdos trabalhados durante a

abordagem metodológica visam explicitar seus entendimentos;

ii) Entrevista. A entrevista será um dos mais importantes instrumentos da

pesquisa, nela o aluno terá a oportunidade de expressar-se oralmente, contribuindo

para o aprofundamento das questões e dirimindo possíveis dúvidas.

iii) Observação participante. A Observação do pesquisador sobre a

participação e desenvolvimento dará respaldo ao pesquisador para analisar

detalhadamente a participação e atuação dos alunos podendo fazer um julgamento

quanto aos conceitos de compreensão instrumental e relacional.

Segundo Lüdke (1998, p.46), a entrevista se desenvolve a partir de um

esquema organizado, mas que não é aplicado com rigor, podendo ser alterado pelo

pesquisador quando necessário no transcorrer do percurso.

Para Minayo et al (2002), a entrevista é um dos procedimentos mais utilizados

no trabalho de campo, pois “através dela o pesquisador busca obter informações

contidas nas falas dos atores sociais”. As questões da entrevista foram sobre o nível

dos conteúdos que serão trabalhados durante a intervenção metodológica com as

atividades, considerando ou não os conhecimentos prévios dos alunos, além de

conteúdos considerados pré-requisitos para o entendimento dos números irracionais.

Ver Silva (2002).

Segundo Lüdke e André (2001, p. 25), para que a observação se torne um

instrumento considerado de investigação científica, “[...] precisa ser antes de tudo

controlada e sistemática,” pressupondo haver antecipadamente um planejamento do

Page 49: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

49

que vai ser observado e um direcionamento daquilo que realmente se quer observar.

O planejamento das aulas e atividades que serão propostas e realizadas pelos

alunos também, constituir-se-ão como momentos importantes de análise. Serão

realizados registros sobre o que observarmos. Esses registros servirão para detalhar

aspectos e expressões observados.

Diante do exposto, fizemos a opção por um estudo experimental e analítico na

área de Educação Matemática, especificamente na elaboração e testagem de

atividades organizadas através de um módulo de ensino e voltadas ao ensino-

aprendizagem de números irracionais. Nestas atividades destacamos conceitos

fundamentais da construção dos números reais, enfatizando os números irracionais

e seu ensino por meio de atividades fundamentadas em princípios construtivistas,

desenvolvendo a construção e (re)-construção de conceitos numéricos visando

contribuir para o ensino da matemática no Ensino Médio.

Para tanto, no capítulo a seguir faremos uma apresentação, discussão e

análise das fases que compõem a intervenção metodológica bem como os

instrumentos que possibilitaram compreender todo o processo da pesquisa.

Page 50: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

50

3 A INTERVENÇÃO METODOLÓGICA NO ENSINO MÉDIO

Neste capítulo objetivamos apresentar, discutir e analisar as três fases da

intervenção metodológica (Avaliação Diagnóstica, Módulo de Ensino e Avaliação de

Saída), realizada em duas turmas de 1ª série do Ensino Médio. Também traremos a

discussão sobre os instrumentos e procedimentos para coletas de dados,

considerando os aspectos relacionados ao conhecimento matemático dos alunos

nas construções e (re)-reconstruções dos conceitos de números racionais e

irracionais, durante a resolução das atividades de ensino, buscando responder uma

das questões que norteiam nosso estudo: i) Será que ao oportunizarmos aos alunos

da 1ª série do Ensino Médio um trabalho com os números irracionais por meio de

atividades de ensino haverá uma aprendizagem mais significativa deste conteúdo?

3.1 Caracterização dos sujeitos

A intervenção metodológica foi realizada em duas turmas de 1ª série do

Ensino Médio, denominadas de grupo participativo 1 e grupo participativo 2,

respectivamente. Uma das turmas era composta por 28 alunos sendo 17 do sexo

feminino e 11 do sexo masculino — turma esta da escola pública estadual e a outra

composta por 17 alunos: oito do sexo feminino e nove do masculino, educandos

estes pertencentes à Rede Pública Federal de Ensino. Os alunos pesquisados

estavam em uma faixa etária compreendida entre 14 e 18 anos de idade. Com

exceção de duas alunas, maiores de 18 anos. A renda familiar de aproximadamente

57% (cinqüenta e sete por cento), era em torno de dois salários mínimos. Os demais

indicaram renda familiar maior que dois salários.

3.2 A opção de pesquisa

Fazer a escolha por um tipo de pesquisa demanda leituras e posicionamentos

assumidos. Em nosso trabalho fizemos a opção pela pesquisa etnográfica com

Page 51: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

51

grupos participativos por acreditarmos que ela se enquadra dentro de nossas

escolhas para os estudos do doutorado. O nosso trabalho tem o caráter etnográfico

participativo, haja vista que atuamos com dois grupos participativos de

características diferentes, mas com os mesmos objetivos.

De acordo com André (2000), a pesquisa qualitativa com abordagem

etnográfica tem como principais características:

a) Ênfase no experimento que está sendo executado e não no produto final;

b) Observação da maneira como as pessoas vêem a si mesmas e suas

experiências;

c) Contato direto do pesquisador com os sujeitos participantes, havendo assim

uma maior aproximação, não pretendendo mudar o ambiente nem tão pouco

introduzir modificações que serão experimentalmente controladas;

d) Utilização de grande quantidade de dados descritivos, demandando o uso de

um plano de trabalho aberto e flexível;

e) Os dados investigados vão sendo revistos e reavaliados no objetivo de

construir novos conceitos e novas formas de entender a realidade.

Para a referida autora a abordagem etnográfica se dá através do processo de

investigação em sala de aula e é feito por meio da observação direta das situações

de ensino-aprendizagem e também pela análise do material utilizado pelo professor.

Partindo dos resultados obtidos pelos alunos na prova escrita da Avaliação

Diagnóstica reforçados pelos resultados apontados nas entrevistas da (avaliação

inicial), percebemos a necessidade de retomar conteúdos básicos que consideramos

importante o seu conhecimento antes de uma abordagem com os Números

Irracionais propostos neste trabalho. As deficiências de aprendizagens que os

alunos de 1ª série do Ensino Médio apresentaram, não são diferentes dos resultados

da pesquisa realizada no mestrado Silva (2002).

3.3 Avaliação Diagnóstica

Avaliar se constitui em um elemento importante no processo de ensino-

aprendizagem, segundo Libâneo (2001):

Page 52: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

52

A avaliação é um termo geral que diz respeito a um conjunto deações voltadas para o estudo sistemático de um fenômeno, umasituação, um processo, um evento, uma pessoa, visando a emitir umjuízo valorativo. Considera-se, em geral, que os processos deavaliação implicam a coleta de dados (de informação), a análise deuma apreciação (juízo) valorativa com base em critérios prévios,tendo em vista a tomada de decisões para novas ações. (LIBÂNEO,2001, p. 199).

Nesta fase da pesquisa usamos uma das funções da avaliação, a função

diagnóstica. A avaliação diagnóstica tem como uma de suas finalidades averiguar o

nível de conhecimento dos alunos acerca de determinados conteúdos.

Rodrigues Neto (1998), chama de avaliação diagnóstica um teste de

conhecimento básico (prova escrita) sobre determinado conteúdo, servindo como

referencial para indicar a eventual necessidade de se promover um nivelamento dos

alunos.

Segundo Libâneo (1998), a função da avaliação diagnóstica é identificar

progressos e dificuldades dos alunos e a atuação do professor, que podem mudar o

processo de ensino para se adequar às exigências dos objetivos, podendo ocorrer,

no início, durante e no final do desenvolvimento das unidades de ensino. O autor

afirma que:

No início, verificam-se as condições prévias dos alunos de modo aprepará-los para o estudo da matéria nova. Esta etapa inicial é desondagem de conhecimentos e de experiências já disponíveis bemcomo de provimentos dos pré-requisitos para a seqüência daunidade didática. (LIBÂNEO, 1998, p. 197).

No nosso estudo utilizamos a avaliação diagnóstica como recurso

fundamental para identificar os conhecimentos dos alunos sobre conteúdos que

consideramos importantes a um aprofundamento dos números irracionais através de

um módulo de ensino, e ao mesmo tempo indicou a necessidade de se fazer uma

retomada de conteúdos visando relembrar conceitos e operações. A Avaliação

Diagnóstica se deu por meio de uma prova escrita e uma entrevista.

A prova escrita examinou e verificou os conhecimentos dos alunos dos dois

grupos, sobre números irracionais, teorema de Pitágoras, teorema de Tales e

equações irracionais. Dentre estes conteúdos os alunos deveriam apresentar

Page 53: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

53

conhecimento sobre potenciação, radiciação, decomposição de número em fatores

primos, razão, proporção, regra de três simples, equações do 1º e do 2º graus,

ângulos, retas paralelas e retas transversais, que consideramos pré-requisitos a uma

abordagem com os números irracionais.

A prova foi composta por 10 questões e os conteúdos abordados são

contemplados no currículo oficial de Matemática explorados nas três últimas séries

do Ensino Fundamental.

As questões abordadas na Avaliação Inicial serviram como base para

identificar os conhecimentos dos alunos sobre os referidos conteúdos,

conhecimentos esses, que consideramos de fundamental importância para que os

alunos possam participar com rendimento satisfatório de um Módulo de Ensino que

fará um aprofundamento sobre números irracionais consideramos a priori os

objetivos da Avaliação diagnóstica seguido de elementos para uma análise

preliminar.

3.3.1 Objetivos da Avaliação Diagnóstica

Dentro da perspectiva de nossa pesquisa a avaliação diagnóstica objetivava

verificar o nível de conhecimento do aluno quanto:

i) Identificação de número irracional;

ii) À representação geométrica de um número real;

iii) Ao entendimento sobre operações com radicais e simplificação

de radicais;

iv) Ao reconhecimento e a aplicação do teorema de Pitágoras em

situações-problema;

v) À identificação do fator racionalizante e racionalização de

denominadores de frações;

vi) Ao conhecimento sobre equações irracionais.

Dentre os elementos levados em consideração para uma análise preliminar

destacamos:

i) Cálculo de raiz quadrada por aproximação;

ii) Demonstração da irracionalidade de raiz quadrada de dois ( 2 );

Page 54: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

54

iii) Processo matemático para o cálculo de pi ( ), ou seja, método de

Arquimedes;

iv) Equações irracionais.

3.3.2 A entrevista para a Avaliação Diagnóstica

A entrevista é usada nas pesquisas como técnica importante para coleta de

dados, L dke e André (2001), consideram a entrevista como um instrumento básico

para a coleta de dados. Para essas pesquisadoras, é importante que se perceba o

caráter de interação que permeia a entrevista, considerando que há uma atmosfera

de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde. Segundo as autoras:

“A grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a

capitação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer

tipo de informante e sobre os mais variados tópicos”. (LÜDKE; ANDRÉ, 2001, p. 33).

Rummel (1977) discute a entrevista como técnica que representa uma relação

não-recíproca entre os indivíduos envolvidos, ou seja, uma parte pretende obter

informações para um objetivo determinado, enquanto a outra, contribui dando as

informações. Para ele, a entrevista deve ter objetivo definido e não ser uma ocasião

para observações desorganizadas, sem um princípio e um fim.

No nosso estudo utilizamos a entrevista como um instrumento para

aprofundar a análise. Foi realizada com uma amostra da população e para tal

utilizamos a Amostragem sistemática, na qual os elementos foram selecionados por

um sistema pré-estabelecido. No caso dos alunos do grupo 1, enumerados em

ordem crescente de acordo com o diário de classe, selecionamos para ser

entrevistado o número 2 (o número 1 não pertencia mais à turma) e acrescentamos

mais cinco, ficando a seqüência 2, 7, 12, 17, 22, 27 e 32. Para o grupo 2, como não

fizemos o uso do diário de classe, enumeramos as provas da Avaliação Diagnóstica,

em ordem crescente, seguindo a ordem alfabética e pegamos os números 01, 06,

11, e 16. Atingimos assim, uma amostra de aproximadamente 32% (trinta e dois por

cento) da população participante da intervenção metodológica da pesquisa.

Dentro da perspectiva do nosso estudo, fizemos opção pela entrevista do tipo

semi-estruturada, que segundo Lüdke (1998), se desenvolve a partir de um

esquema organizado, mas não é aplicado com rigor e permite que o pesquisador

faça as adaptações necessárias no decorrer do estudo. Como partimos do resultado

da prova escrita, as perguntas foram associadas diretamente às respostas de cada

Page 55: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

55

aluno, e foram elaboradas seguindo um esquema organizado, mas não foram

aplicadas rigidamente, pois uma pergunta feita a um aluno não foi obrigatoriamente

feita aos outros. Durante a entrevista, o entrevistado teve acesso à sua prova, para

que pudesse acompanhar as perguntas do entrevistador.

3.3.3 Apresentação dos objetivos das questões da prova escrita para a

avaliação diagnóstica e respectivas questões

Apresentamos a seguir as questões da prova escrita da avaliação diagnóstica

que foi aplicada junto a alunos da primeira série do Ensino Médio de escolas

públicas.

O bloco que envolve as três primeiras questões tem como objetivos:

i) Reconhecer um número racional na forma fracionária ou decimal;

ii) Representar na reta numérica números reais;

v) Extrair raiz quadrada não-exata;

vi) Comparar número irracional em suas formas de radical e decimal;

vii) Reconhecer que o número (pi), não pode ser representado na reta

numérica utilizando régua e compasso.

A primeira questão apresenta dois itens, no item i, são indicados números

racionais sobre as formas de radical, fracionária e decimal, como também números

irracionais. Nesse item, o aluno deveria identificar o tipo de número e escrever a

palavra racional ou irracional no espaço apropriado. No item ii apresentamos uma

idéia de reta numerada e solicitamos que o aluno representasse os números

indicados do item anterior, na tal reta. Esperávamos que alunos de 1ª série do

Ensino Médio não demonstrassem dificuldades em identificar números irracionais e

representá-los na reta numérica, como também percebesse que o número pi não

pode ser representado na reta numerada por através dos instrumentos régua e

compasso.

1ª) Observe as representações numéricas a seguir e:

Page 56: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

56

i) Identifique, escrevendo nos espaços, se os números abaixo são racionais

ou irracionais:

a) 4 _____________ ; b) 0,42 _______________ ; c) 5 ____________ ;

d) 2 9 ___________ ; e) 7 _______________; f) 4

3 _____________ ;

g) - 1 ___________ ; h) ______________

ii) Represente na reta numérica os números indicados no item anterior.

0 1

Na segunda questão apresentamos exemplos de números irracionais sob a

forma de radical e solicitamos que os alunos os representassem sob a forma

decimal. Nessa questão o aluno poderia fazer uso da calculadora, o que no nosso

entender facilitaria a representação numérica. Como determinamos o uso de apenas

três casas decimais, esperávamos que o aluno aplicasse corretamente a regra de

arredondamento, no caso específico de décimo de milésimo para milésimo.

2ª) Complete as igualdades a seguir, (considere três casas decimais):

a) 8 = b) 3 =

c) 10 = d) 5 =

Na terceira questão esperávamos que o aluno conseguisse fazer a

comparação de um número irracional sob a forma de radical, com o mesmo número

sob a forma decimal.

Page 57: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

57

3ª) Observe os resultados obtidos na 2ª questão e complete os espaços usando os

sinais , ou , ou :

a) 10 ___3,163 b) 5 ___ 2,237

c) 8 ___ 2,828 d) 3 ___ 1,731

A quarta questão requeria do aluno o conhecimento sobre conteúdos

matemáticos, tais como: definição de número irracional, dominar o cálculo de

perímetro de um polígono, saber fazer a decomposição de um número em fatores

primos e representá-lo sob a forma de potência, como também precisaria operar

com radicais, simplificando-os para depois adicionar (somar radicais). Acreditávamos

que esta questão faria com que o aluno demonstrasse habilidades com a seqüência

de procedimentos e operações necessárias ao seu desfecho. A quarta questão tinha

como objetivos:

i) Reconhecer o perímetro de um polígono;

ii) Decompor um número em fatores primos;

iii) Simplificar radicais por decomposição de radicando;

iv) Somar radicais de mesmo índice.

4ª) No triângulo da figura abaixo estão indicadas as medidas dos lados numa certa

unidade de comprimento. Calcule o perímetro desse triângulo.

17528

112

Page 58: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

58

O bloco envolvendo a quinta e a sexta questões tem como objetivos:

i) Identificar e representar a diagonal de um polígono;

ii) Reconhecer e aplicar o teorema de Pitágoras em situações-problema do

cotidiano;

iii) Reconhecer a aplicação prática dos números irracionais.

A quinta questão exigia do aluno habilidade com o uso de régua e/ou

esquadros, instrumentos que consideramos de grande importância na matemática,

mas que muitas vezes o aluno não consegue usar corretamente. Nessa questão, o

aluno precisaria reconhecer a diagonal de um retângulo, aplicar corretamente a

relação de Pitágoras e extrair raiz quadrada.

5ª) De acordo com os dados a seguir, desenhe a figura e calcule a diagonal em cada

um dos casos:

a) Um retângulo de 5 centímetros de comprimento por 4 centímetros de altura;

b) Um quadrado de lado unitário (cm).

A sexta questão referia-se à aplicação prática da matemática em situação que

pode ocorrer no dia-a-dia. Na resolução o aluno deveria representar a escada em

forma de figura, o que indicaria um triângulo retângulo, (indicado no próprio

enunciado), identificar os catetos com suas medidas definidas no próprio problema,

a hipotenusa que estava representada pelo comprimento da escada e calcular essa

hipotenusa, chegando a um número irracional na sua representação de radical que

deveria ser transformado na representação decimal.

6ª) Daniele é arquiteta. Ao fazer a planta de uma casa, deparou-se com a seguinte

situação: se a altura da parede são 5 metros e o afastamento da escada à parede é

de 6 metros, qual deve ser a medida do comprimento da escada? (Sugestão: faça

um desenho de um triângulo retângulo cujos lados que formam o ângulo reto medem

6 m e 5 m, depois aplique a relação de Pitágoras).

Page 59: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

59

A sétima questão tem como objetivos:

i) Racionalizar o denominador de uma fração;

ii) Identificar e aplicar as diversas maneiras de racionalizar um denominador

de uma fração.

7ª) Racionalize o denominador de cada fração em cada um dos casos:

a)3

1 b)

3 b

a c)

4 3

3

d)ab

a e)

25

3

O bloco envolvendo a oitava e nona questões tem como objetivos:

i) Resolver problemas envolvendo razões e proporções;

ii) Interpretar e aplicar o teorema de que um feixe de retas paralelas

determina sobre duas transversais, segmentos proporcionais;

iii) Reconhecer e calcular o perímetro de um polígono.

A oitava questão é uma aplicação do teorema de Tales, para isto, o aluno

deveria apresentar conhecimento sobre razão e proporção, reconhecer retas

paralelas e retas transversais, saber resolver sistema de equações com duas

incógnitas (utilizando pelo menos um dos métodos) e saber resolver equação do

primeiro grau.

Page 60: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

60

8ª) Calcule as medidas a e b dos segmentos determinados pelas paralelas cortadas

pelas transversais t e u, sabendo que a diferença dessas medidas é 1,5 cm.

A nona questão para ser resolvida precisaria que o aluno apresentasse

conhecimento sobre semelhança de triângulos, razão e proporção (regra de três

simples), e soubesse resolver equação do segundo grau incompleta, fazendo a

escolha de uma das raízes como resposta adequada para solução da situação-

problema.

9ª) Calcule o perímetro do triângulo ABC, sabendo que BC DE. Considere todas

as medidas em centímetros.

a

6

4

b

tu

B

A

x -2

x

C

x + 5

D

4x

2x

E

Page 61: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

61

A décima questão tinha como objetivos:

i) reconhecer e resolver equações irracionais;

ii) verificar a validade da raiz de uma equação com radicais.

A décima e última questão apresentava cinco itens envolvendo equações

irracionais, requeria aplicação direta da regra para resolução de equações

irracionais, exigia também do aluno habilidade com potenciação em todos os itens, e

também seria necessário o entendimento sobre equação do primeiro grau.

10ª) Determine o valor do número real x em cada um dos casos abaixo e em

seguida verifique se o valor encontrado satisfaz a igualdade:

a) 1x = 4 b) 3 2x = 10 c) 213x = 31x

d) 3x = 3

7

x e) 6x = x

3.3.4 Critérios para correção das questões da prova escrita da Avaliação

Diagnóstica

As questões da prova escrita foram corrigidas seguindo os seguintes critérios:

i) Totalmente Certa (TC): a questão em que o aluno usou corretamente

todos os procedimentos necessários à sua solução e chegou à resposta

adequada;

ii) Errada (E): a questão em que o aluno não conseguiu usar os

procedimentos necessários para encontrar a solução adequada (quando

nada pode se aproveitar do que foi feito pelo aluno);

iii) Parcialmente Certa (PC): aquela questão em que o aluno conseguiu

aplicar corretamente os procedimentos necessários ao seu

desenvolvimento, mas não chegou a uma resposta satisfatória, ou chegou

à resposta certa com procedimentos inadequados;

Page 62: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

62

iv) Em Branco (EB): as questões que não foram respondidas pelos alunos.

3.3.5 Pontuação das respostas das questões

Para melhor organização e análise das respostas dadas pelos alunos, estas

receberam uma escala de pontuação variando de acordo com o nível de acerto. A

questão considerada totalmente certa recebeu a pontuação equivalente a um (1,0)

ponto; as questões consideradas erradas e/ou em branco receberam nota zero (0,0)

e, as questões parcialmente certas receberam notas proporcionais ao grau de acerto

no seu desenvolvimento, variando entre zero (0,0) e um (1,0). Além de atribuirmos

uma pontuação por cada questão, também atribuímos um conceito geral, que

corresponde à somatória dos pontos de todas as questões.

A prova escrita recebeu os seguintes conceitos A – B – C – D – E, seguindo

os intervalos:

i) de 0,0 a 2,0 conceito E;

ii) de 2,1 a 4,0 conceito D;

iii) de 4,1 a 6,0 conceito C;

iv) de 6,1 a 8,0 conceito B;

v) de 8,1 a 10,0 conceito A

A atribuição de conceitos para a prova escrita tem a finalidade de facilitar a

organização dos dados em tabelas e gráficos para a análise posterior.

3.3.6 Apresentação dos dados

Após a aplicação e correção da prova escrita da avaliação diagnóstica junto

aos dois grupos, apresentamos os resultados obtidos, em tabelas e gráficos. As

tabelas demonstrativas I e II mostram o número da questão e a quantidade de

alunos que acertaram totalmente, parcialmente ou erraram e a porcentagem em

cada um dos casos, nos grupos 1 e 2 respectivamente. Nos gráficos 1 e 2 são

indicados os resultados obtidos e representados em forma de conceitos referentes

ao grupo 1. Nos gráficos 3 e 4, os resultados do grupo 2. Os dados mostrados nas

tabelas e nos gráficos por meios de valores absolutos e relativos, serão

posteriormente analisados e comentados neste trabalho.

Page 63: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

63

Tabela demonstrativa I (dados referentes ao grupo 1)

TC PC E EB total %NqN % N % N % N %

i - - 28 100 - - - - 28 1001ªii 1 4 6 21 12 43 9 32 28 100

2ª 8 29 2 7 4 14 14 50 28 100 3ª 2 7 16 57 2 7 8 29 28 100 4ª 2 7 5 18 5 18 16 57 28 100 5ª 1 4 7 25 10 35,5 10 35,5 28 100 6ª 3 11 6 21 6 21 13 47 28 100 7ª 1 4 4 14 3 11 20 71 28 100 8ª - - 2 7 - - 26 93 28 100 9ª 1 4 - - - - 27 96 28 100 10ª 1 4 - - 04 14 23 82 28 100

Legenda:

Nq – número da questão

TC – questão certa

PC – questão parcialmente certa

E – questão errada

EB – questão em branco

Tabela demonstrativa II (dados referentes ao grupo 2)

TC PC E EB total %NqN % N % N % N %

i 1 5,9 16 94,1 - - - - 17 1001ªii - - 3 17,7 10 58,8 4 23,5 17 100

2ª 4 23,5 5 29,4 3 17,7 5 29,4 17 1003ª 2 11,8 12 70,5 - - 3 17,7 17 1004ª 1 5,9 - - 2 11,8 14 82,3 17 1005ª 3 17,7 - - 4 23,5 10 58,8 17 1006ª 3 17,7 - - 4 23,5 10 58,8 17 1007ª 1 5,9 3 17,7 4 23,5 9 52,9 17 1008ª - - 2 11,8 4 23,5 11 64,7 17 1009ª 2 11,8 - - 3 17,7 12 70,5 17 100

10ª - - - - 6 35,3 11 64,7 17 100

Page 64: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

64

16

10

10

102468

10121416

Alu

no

s

E: 0 - 2,0 D: 2,1 - 4,0 C: 4,1 - 6,0 B: 6,1 - 8,0 A - 8,1 - 10

Conceitos

11

23

100

2

4

6

8

10

12

me

ro d

e a

lun

os

E: 0 - 2,0 D: 2,1 -4,0

C: 4,1 -6,0

B: 6,1 -8,0

A: 8,1 - 10

Conceitos

Gráfico I (valores absolutos referentes ao grupo 1)

Gráfico II (valores absolutos referentes ao grupo 2)

Page 65: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

65

56

37

3,50

3,50

10

20

30

40

50

60

Po

rcen

tag

em

E: 0 - 2,0 D: 2,1 - 4,0 C: 4,1 - 6,0 B: 6,1 - 8,0 A: 8,1 - 10

Conceitos

64,7

11,817,6

5,900

10

20

30

40

50

60

70

Po

rce

nta

ge

m

E: 0 - 2,0 D: 2,1 - 4,0 C: 4,1 - 6,0 B: 6,1 - 8,0 A: 8,1 - 10

Conceitos

Gráfico III (valores relativos referentes ao grupo 1)

Gráfico IV (valores relativos referentes ao grupo 2)

Apresentados os dados organizados em tabelas e gráficos indicando os

valores absolutos e relativos referentes aos dois grupos pesquisados, passamos a

descrevê-los, comentá-los e classificá-los indicando possíveis obstáculos

demonstrados pelos alunos.

3.3.7 Comentário sobre as respostas dos alunos

Page 66: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

66

Fazendo uma análise inicial, (neste momento não estamos levando em

consideração os dados coletados nas entrevistas), percebemos que dentre os

alunos do grupo 1 que foram avaliados, 19 indicaram que 0,42 é um Número

Irracional; 15 escreveram que - 1 é um Número Irracional; nove afirmaram que 4

3 é

Irracional, oito consideraram como racional; dois não responderam se é Irracional,

deixando esse item em branco; três alunos responderam que 2 9 é irracional;

enquanto oito alunos escreveram que é racional e sete responderam que 7 é

racional. No item (ii) dessa mesma questão, a maioria dos alunos não conseguiu

representar na reta numérica os números indicados no item (i). Apresentamos a

seguir repostas dadas por três alunos:

Page 67: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

67

Nos três casos citados percebemos que há certa regularidade: repetição em

relação aos erros cometidos sobre números racionais na forma decimal. Esses

alunos, como os demais participantes da intervenção metodológica deixaram a

entender que não dominam o conceito de número racional, não compreendendo

assim que um número racional pode ser representado em forma decimal. Neste caso

fica subtendido que quando se trata do conceito do referido número o estudante

precisa ter uma boa formação matemática nas etapas anteriores ao Ensino Médio,

mas parece que esta base conceitual mais eficaz com o conjunto dos números

racionais e seus subconjuntos não está sendo bem trabalhada. Tanto que todos os

alunos participantes da intervenção metodológica apresentam obstáculos

epistemológicos quanto à compreensão desse conceito. Na primeira e na terceira

respostas apresentadas percebemos que os dois alunos afirmam que 4

3 é irracional,

na segunda resposta o aluno considera que - 1 é irracional. Nos três casos

apresentados como exemplos percebemos a fragmentação no conhecimento

matemático que eles detêm.

Na 2ª questão, três alunos responderam que 8 = 4, dois afirmaram 8 = 64

e um respondeu que 8 = 2,888; dois alunos responderam que 5 e 10 são

respectivamente 9 e 100; um aluno respondeu que 5 é 25 e três deram 2,5 como

resposta para 5 e um outro respondeu que 3 = 1,15.

Page 68: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

68

Exemplo:

Neste caso percebemos que o aluno não tem idéia de como extrair raiz

quadrada por aproximação, deixando a entender que não compreende o que é um

número irracional.

Na comparação de Números Irracionais em suas representações de radical e

decimal, com o número de casas decimais determinado na questão anterior, 16

alunos afirmaram que 5 é maior que 2,237; sete alunos responderam que 8 é

maior que 2,828 e cinco responderam que é menor; oito não responderam esse

item.

Na 4ª questão, dois alunos acertaram totalmente. Um utilizou os

procedimentos para o cálculo de adição de radicais, ou seja, a decomposição dos

radicandos em fatores primos, simplificação de radicais e a extração das raízes para

chegar ao perímetro do triângulo, que é solicitado no enunciado da questão. Um

outro aluno fez uso da calculadora e chegou ao perímetro do triângulo de forma

direta. Os cinco alunos que acertaram a questão parcialmente usaram a calculadora,

fizeram os cálculos diretos, mas não conseguiram fazer as aproximações

corretamente, errando assim a resposta da referida questão.

Na 5ª questão um aluno conseguiu acertar os dois itens; quatro não

acertaram os dois itens; oito alunos desenharam as figuras do retângulo e do

quadrado, mas utilizaram a relação de Pitágoras apenas para o cálculo da diagonal

do retângulo. Dentre estes, quatro deram a resposta utilizando o sinal de para

medida; dois alunos desenharam um triângulo no lugar do retângulo, confundindo

assim o retângulo com um triângulo e três alunos fizeram o desenho do quadrado,

mas nada responderam.

Page 69: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

69

No exemplo citado o aluno conseguiu desenvolver os procedimentos para o

cálculo, mas no final não encontrou a raiz quadrada por aproximação como era

esperado, mesmo assim consideramos a resposta como certa, pois não

esclarecemos no enunciado o tipo de resposta que queríamos.

A 6ª questão é uma aplicação direta do teorema de Pitágoras e os três alunos

que a acertaram totalmente desenharam o triângulo, indicaram as medidas, ou seja,

os catetos e a hipotenusa e aplicaram corretamente a relação de Pitágoras. Os que

acertaram parcialmente desenharam o triângulo, dentre eles, quatro, indicaram as

medidas dos lados do referido triângulo, enquanto dois não conseguiram representar

as medidas — mesmo desenhando a figura do triângulo esses alunos não

conseguiram desenvolver os cálculos corretamente.

Na 7ª questão apenas um aluno conseguiu fazer a racionalização de

denominadores de frações corretamente, aplicando as regras necessárias e obtendo

resultado satisfatório. Cinco alunos iniciaram as operações de racionalização, mas

não conseguiram utilizar as regras para todos os itens indicados. No exemplo que

citamos a seguir, o estudante tentou as racionalizações solicitadas, mas em alguns

casos não chegou a completar o item, parecendo insegura quanto aos

procedimentos necessários.

Page 70: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

70

Verificando as respostas acima percebemos que o aluno tentou racionalizar

todas as frações indicadas demonstrando um certo conhecimento sobre o assunto,

mas em alguns casos deixou incompleta a resposta.

A 8ª questão, nenhum dos alunos avaliados conseguiu acertar totalmente. O

aluno que a acertou parcialmente fez a subtração da medida do segmento menor

pelo maior, o que daria um resultado negativo. Conseguiu inverter as operações

indicadas na proporção resultante e chegou ao resultado correto, ou seja, chegou ao

resultado através de um desenvolvimento incorreto. Os outros não tentaram fazer a

questão.

Um único aluno acertou totalmente as questões 9 e 10. Utilizou todos os

procedimentos necessários para chegar aos resultados, aplicou de forma correta as

propriedades das proporcionalidades, resolveu as equações de 1º e 2º graus que

surgiram e resolveu as equações irracionais testando a veracidade de cada uma

delas. Os demais, não responderam as referidas questões.

A seguir apresentamos a resposta da questão de número nove, de um dos

alunos. O estudante que respondeu essa questão demonstrou um certo

conhecimento prévio sobre equação do primeiro grau, perímetro de figuras planas,

proporcionalidade, e multiplicação de monômio por número inteiro.

Page 71: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

71

3.3.8 As entrevistas

As entrevistas foram realizadas poucos dias após a aplicação da prova escrita

e não seguiram um sistema rigoroso. Nem sempre a pergunta feita a um aluno foi

feita a outros, com exceção da primeira que seguiu um padrão para todos os

entrevistados. Para participar das entrevistas foram selecionados sete alunos do

grupo 1 e quatro do grupo 2 perfazendo um total de onze alunos, aproximadamente

28% (vinte e oito por cento) dos alunos pesquisados. A amostra seguiu o método da

amostragem estratificada. Os entrevistados não foram identificados nominalmente,

sendo que para registrar a participação dos mesmos utilizamos as suas iniciais.

A primeira a participar das entrevistas foi à aluna Tsila, 17 anos, residente no

bairro Planalto, zona oeste de Natal. Sempre estudou em escola pública, obtendo

aprovação em todas as séries, com renda familiar de um salário mínimo. A aluna

Tsila conseguiu responder apenas dois dos sub-itens da primeira questão proposta

na prova escrita, deixando parte desta questão e o restante da prova em branco.

Nos sub-itens a e b que respondeu, escreveu que a raiz quadrada de 4, e o número

racional escrito na forma decimal 0,42 são irracionais.

Entrevistador: Tsila, por que você não tentou responder às outras questões da

prova?

Entrevistada: Professor, nunca aprendi matemática, não gosto e não vou

conseguir aprender. Para falar a verdade, professor, se o senhor colocar uma conta

de dividir para eu fazer, eu não vou acertar, nem isso sei fazer, nunca aprendi.

Diante da reposta da aluna resolvemos agradecer-lhe e evitamos fazer outras

perguntas.

A aluna Maria Regineide, 18 anos, residente na Colônia do Pium, Município

de Parnamirim, sempre estudou em escola pública, foi reprovada em uma das séries

que estudou, possui renda familiar de dois salários mínimos e trabalha na parte da

Page 72: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

72

manhã na casa de uma tia. A aluna afirmou que o número racional na forma decimal

0,42 é irracional e que o número irracional 5 é racional. Deixando dúvida quanto ao

seu conhecimento sobre a definição de número irracional, não conseguiu

representar os pontos no segmento de reta indicados no item dois, deixou em

branco cinco questões.

Entrevistador: Regineide, por que você não tentou fazer todas as questões da

prova?

Entrevistada: As três primeiras respondi porque ainda me lembrava, estudei

na 7ª série, as outras li, mas não consegui entender.

Entrevistador: No sub-item a da primeira questão você escreveu que 0,42 é

irracional. Por quê?

Entrevistada: Esse número é irracional porque tem vírgula, foi assim que eu

aprendi.

Entrevistador: As outras questões você não respondeu. Qual foi o motivo?

Entrevistada: Essa que tem um desenho de um triângulo é para calcular o

perímetro, eu não sei calcular isso. A número cinco fiz os desenhos, mas não sabia

o que era diagonal nem muito menos como calcular.

Entrevistador: Na 8ª série você estudou o teorema de Pitágoras?

Entrevistada: Estudei.

Entrevistador: Você afirma ter estudado o teorema de Pitágoras na oitava

série. Será que agora você consegue responder a quinta ou a sexta questão que

são aplicações do teorema de Pitágoras?

Entrevistada: Não consigo professor. Estudei no ano passado, mas não me

lembro.

Entrevistador: Racionalização de denominadores de fração é um assunto

muito discutido na oitava série. Por que você não tentou fazer a sétima questão que

é sobre esse conteúdo?

Entrevistada: Ah! Professor, o senhor sabe que quando a gente estuda em

sala de aula o professor faz um exemplo no quadro e bota os outros parecidos pra

gente fazer. Assim, sem ter um exemplo feito é difícil. Eu acho que ninguém fez essa

daqui.

Mônica, 15 anos, residente no bairro do Planalto, renda familiar entre um e

dois salários mínimos, sempre estudou em escola pública, conseguindo êxito em

todas as séries pelas quais passou. Trabalha em uma lanchonete no período da

Page 73: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

73

noite para ajudar a manter a família, muitas vezes tendo que sair da escola antes de

terminar o horário das aulas. A aluna inverteu as respostas do item i, da primeira

questão; o que deveria receber a resposta como sendo racional, ela colocou

irracional e que o era irracional, ela escreveu racional, mostrando assim que não

sabe classificar esses números.

Entrevistador: Mônica, por que você não fez todas as questões propostas na

prova?

Entrevistada: Professor, alguns assuntos que caíram na prova eu tinha

estudado no ano passado, quando estava na oitava série e outros eu nunca estudei.

Não gosto de prova desse tipo que a gente tem que calcular.

Entrevistador: Na primeira questão você respondeu que - 1 e 4 são números

irracionais e 7 e 5 são números racionais. Você não se enganou? Não seria o

contrário?

Entrevistada: É assim mesmo, era só para colocar o nome e eu coloquei.

Entrevistador: Na sexta questão você desenhou um triângulo, mas não fez os

cálculos. Por quê?

Entrevistada: Porque o que está pedindo eu fiz.

Entrevistador: Quantos graus tem um ângulo reto?

Entrevistada: Ah! Professor, eu ainda não estudei isso.

Entrevistador: A sétima questão é sobre racionalização de denominadores de

frações, conteúdo este que você deve ter estudado na oitava série, mas não fez

essa questão da prova. Será que você consegue resolver agora?

Entrevistada: Não, não me lembro, sei que estudei no ano passado, mas

agora não estou entendendo — responde depois de olhar a prova e ler a questão.

Entrevistador: Mônica, você estudou o teorema de Tales, na oitava série?

Entrevistada: Não, não sei nem o que danado é isso.

Entrevistador: Você não tentou fazer as outras questões da prova. Por quê?

Entrevistada: O que eu estudei não aprendi, imagine uma coisa que nunca

estudei, é algo impossível!

O aluno Josivan, 16 anos, residente no conjunto Santarém, zona norte de

Natal, renda familiar mais de dois salários mínimos, sempre estudou em escola

pública tendo sido reprovado em uma das séries anteriores. Na primeira questão o

Page 74: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

74

aluno escreveu que 7 e 5 são racionais e o número 0,42 escreveu que é irracional,

demonstrando claramente que não consegue identificar um número irracional.

Entrevistador: Josivan, por que você não tentou fazer todas as questões da

prova?

Entrevistado: Só deixei em branco as três últimas questões, por que não deu

tempo de fazer, a prova, era muito grande.

Entrevistador: Você está dizendo que não fez as três últimas questões porque

o tempo foi pouco. Tente fazer uma delas agora.

Entrevistado: Não dá, eu nunca estudei isso assim.

Entrevistador: Na oitava série, ano passado, você estudou o teorema de

Pitágoras?

Entrevistado: Estudei.

Entrevistador: Você estudou o teorema de Tales na oitava série ou não? E

equações irracionais?

Entrevistado: O teorema de Tales eu ainda não estudei e equações

irracionais também não. São matérias que não deu tempo a minha professora de

Matemática dar.

Entrevistador: Na segunda questão da prova você escreveu que 8 = 64 e

3 = 9; será que você não enganou-se ou é assim mesmo?

Entrevistado: A raiz de 64 é 8 e a raiz de nove é três, mas a raiz de 8 é, ..., eu

não sei não.

Como foi que você chegou ao resultado da quarta questão?

Entrevistado: Encontrei na calculadora as raízes dos números dos lados do

triângulo e depois somei e deu o resultado.

Entrevistador: Na sexta questão você desenhou um triângulo, poderia me

mostrar nele onde fica o ângulo de 90º?

Entrevistado: É esse que tem uma seta.

A aluna Cariliana, 15 anos, reside no bairro dos Guarapes, zona oeste de

Natal. Com renda familiar de um salário mínimo, nunca foi reprovada e sempre

estudou em escola pública.

Entrevistador: Cariliana, Por que você não tentou fazer todas as questões da

prova?

Page 75: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

75

Entrevistada: Nesta prova tem assuntos que eu nunca estudei e têm outros

que estudei, mas não me lembro mais, por isso, nem tentei fazer para não perder

tempo. Não ia acertar mesmo, então para quê fazer?

Entrevistador: Os conteúdos teorema de Tales e equações irracionais

explorados na oitava, na nona e na décima questões estão incluídos dentre aqueles

que você nunca estudou?

Entrevistada: Estão, nunca estudei esses assuntos.

Entrevistador: A sétima questão é sobre racionalização de denominadores de

frações, conteúdo muito explorado pelos livros didáticos e trabalhado em sala de

aula pelos professores de Matemática, mas você nem tentou fazer essa questão por

quê?

Entrevistada: É esse assunto eu estudei no ano passado, mas não sei nem

pra onde é que vai, não aprendi mesmo.

Entrevistador: Na segunda questão você respondeu que 8 é igual a quatro.

Você tem certeza que a resposta é essa mesmo?

Entrevistada: Tenho certeza porque quatro vezes dois é igual a oito.

A aluna Ednalva, 16 anos, residente no bairro do Bom Pastor, zona oeste de

Natal, nunca foi reprovada e sempre estudou em escola pública. A aluna deixou de

responder a segunda, a terceira, a quarta, a sétima, a oitava, a nona e a décima

questão. Na primeira questão afirmou que - 1 é irracional e que é racional.

Entrevistador: Ednalva, Por que você não tentou fazer todas as questões da

prova?

Entrevistada: Ah! Essa prova é muito grande, não deu tempo fazer tudo.

Entrevistador: Mas você me entregou a prova bem antes do tempo previsto

para terminar. Por que não continuou fazendo até completar o tempo?

Entrevistada: Ah! Eu não me lembrava mais de nada, e por isso parei de fazer

e entreguei.

Entrevistador: Você não fez a segunda e terceira questões que são sobre raiz

quadrada, não lembra mais?

Entrevistada: Não, isso eu não me lembro ter estudado. Assim não.

Entrevistador: A quarta questão você também deixou em branco. Não lembra

mais como se calcula o perímetro de um polígono?

Entrevistada: Não respondi porque não sei, é muito complicado quando

aparece figura desenhada. É muito complicado.

Page 76: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

76

Entrevistador: As três últimas questões você não respondeu. Foi o tempo que

não deu?

Entrevistada: Não. É porque eu não sabia. Nunca estudei isso.

Entrevistador: Você estudou o teorema de Tales na oitava série ou não?

Entrevistada: Não. Nunca ouvi falar nisso.

Entrevistador: A sétima questão é sobre racionalização de denominadores de

frações, conteúdo abordado nos livros didáticos de Matemática para a oitava série e

muito repetido pelos professores dessa disciplina, você não respondeu é por que

nunca estudou ou esqueceu?

Entrevistada: Estudei, é porque não aprendi, não me interessei. Não gosto de

Matemática. Odeio quem inventou Matemática.

A aluna Gerlane, 16 anos, reside no bairro Planalto, renda familiar entre um e

dois salários mínimos, sempre estudou em escola pública e já passou pelo processo

de reprovação em série anterior. A aluna deixou em branco a sexta, a oitava, a nona

e décima questões, e respondeu que - 1 é irracional.

Entrevistador: Gerlane, Você não respondeu todas as questões da prova Por

quê?

Entrevistada: Só não respondi as quatro que não sabia. Coisas que ainda não

estudei.

Entrevistador: Você afirma ter deixado em branco as questões sobre

conteúdo que você não estudou. Mas a sexta questão é uma aplicação do teorema

de Pitágoras. Você não lembra ter estudado?

Entrevistada: O teorema de Pitágoras eu estudei na oitava série, mas não era

assim com problema, por isso não entendi.

Entrevistador: E o teorema de Tales você estudou?

Entrevistada: Não estudei.

Entrevistador: A última questão é sobre equações irracionais, conteúdo da

oitava série. Você não estudou ou estudou e não está lembrada?

Entrevistada: Não estudei mesmo esse assunto.

No grupo 2 entrevistamos quatro alunos, dentre os 17 que fizeram a prova

escrita, seguindo os mesmos procedimentos utilizados para as entrevistas com os

alunos do grupo 1.

A aluna Micaella, residente no Sítio Araçá I, município de Vera Cruz, 15 anos

de idade, renda familiar entre um e dois salários, sempre estudou em escola pública,

Page 77: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

77

já foi reprovada uma vez. A aluna afirmou que 0,42, 4

3 e - 1 são números

irracionais, não conseguiu representar os números na reta numérica, deixou de

responder quatro questões: a quarta, a quinta, oitava e a décima.

Entrevistador: Micaella, Você não respondeu todas as questões da prova. Por

quê?

Entrevistada: Alguns assuntos eu não estudei, por isso não fiz, não sabia.

Outros eu estudei, faz tempo, não consegui me lembrar.

Entrevistador: Na primeira questão você respondeu que 0,42, 4

3 e - 1 são

números irracionais. Você tem certeza que suas respostas estão corretas?

Entrevistada: Não. Eu chutei, mas acho que estão certas.

Entrevistador: A quarta questão pede para calcular o perímetro do triângulo

indicado. Você nem tentou fazer?

Entrevistada: Não me lembro como se calcula o perímetro. Faz muito tempo

que estudei isso.

Entrevistador: A quinta questão é uma aplicação da relação de Pitágoras,

você a deixou em branco, por quê?

Entrevistada: Relação de Pitágoras? O que é isso?

Entrevistador: Você nunca estudou o teorema de Pitágoras?

Entrevistada: Estudei. É a2 = b2 + c2.

Entrevistador: Agora você poderia responder a quinta questão?

Entrevistada: Não, não dá. Não entendo. — disse após ter lido a questão.

Entrevistador: Na oitava série você estudou o teorema de Tales?

Entrevistada: Não, meu professor de matemática não deu esse assunto.

Entrevistador: Equações Irracionais, você também nunca estudou?

Entrevistada: Estudei, meu professor de matemática do ano passado deu

esse assunto, mas não aprendi, foi no final do ano e não ia cair na prova, nem me

interessei em aprender, é muito complicado.

Outra aluna entrevistada no grupo 2 foi Ana Cecília, 16 anos, residente na

cidade de Vera Cruz, renda familiar de dois salários mínimos, que sempre estudou

em escola pública e não foi reprovada em séries anteriores à primeira série do

Ensino Médio. A referida aluna respondeu apenas quatro itens da primeira questão

Page 78: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

78

da prova. Afirmando que 4

3 e - 1 , são números irracionais, as outras questões

deixou em branco.

Entrevistador: Ana Cecília, Você não respondeu todas as questões da prova.

Por quê?

Entrevistada: Tem coisas nesta prova que eu ainda não estudei. Outros

assuntos eu estudei, só que até hoje não aprendi nada de matemática, não sei nem

porque ainda estudo, não vou aprender mesmo. Só serve para quebrar a cabeça,

cada ano complica mais.

Entrevistador: Na primeira questão você deixou quatro itens sem resposta,

por quê?

Entrevistada: Respondi os que eu tinha certeza.

Entrevistador: Você afirma que ainda não estudou alguns conteúdos

explorados na prova. Lembra se estudou o teorema de Pitágoras e o teorema de

Tales?

Entrevistada: O teorema de Pitágoras eu estudei. O teorema de Tales nunca

estudei.

Entrevistador: Você afirma ter estudado o teorema de Pitágoras, mas não

tentou responder a quarta, a quinta e sexta questões que são aplicação desse

teorema. Tente resolver uma delas agora.

Entrevistada: Professor, eu disse que estudei. Não disse que aprendi. Nem

sempre o que a gente estuda, a gente aprende, principalmente matemática, que até

hoje não aprendi nada — disse ao ler as questões.

O aluno Eduardo, 16 anos, residente no bairro Parque Industrial em

Parnamirim, sempre estudou em escola pública e nunca foi reprovado, renda familiar

entre um e dois salários mínimos. O aluno não respondeu todas as questões da

prova e as que tentou responder não se saiu bem como, por exemplo, na primeira

questão afirmou que 5 e 7 são números racionais e 2 9 e - 1 são irracionais.

Entrevistador: Eduardo, você não respondeu todas as questões da prova. Por

quê?

Entrevistado: A prova era muito grande e tinha problemas complicados,

coisas que eu não entendia.

Entrevistador: Na quinta questão você desenhou as figuras mas não calculou

as diagonais, poderia calcular agora?

Page 79: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

79

Entrevistado: Não me lembro.

Você estudou o teorema de Pitágoras na oitava série?

Entrevistado: Estudei, foi assunto da última prova do ano passado.

Entrevistador: Tente lembrar do teorema de Pitágoras e responda a quinta

questão.

Entrevistado: Não dá.

Entrevistador: Você estudou o teorema de Tales?

Entrevistado: Não. Não estudei ainda.

Entrevistador: A sétima questão é sobre racionalização de denominadores de

frações, conteúdo que é trabalhado na oitava série. Essa questão você começou

mas não terminou, quer terminar agora?

Entrevistado: Eu só fiz o que me lembrava. Sem ver um exemplo feito não

consigo fazer os outros.

Entrevistador: Você já estudou o teorema de Tales?

Entrevistado: Não. Professor, se o senhor tivesse feito uma revisão dos

assuntos que iam cair na prova teria ficado mais fácil, porque a gente ia se lembrado

e respondia certo.

Vandson, 16 anos, residente na Cidade de Boa Saúde, sempre estudou em

escola pública, tendo sido reprovado em uma das séries que estudou, renda familiar

de um salário mínimo. O aluno deixou em branco a sétima questão sobre

racionalização de denominadores de frações e tentou encontrar solução para todas

as outras e mesmo sendo de forma desorganizada e sem um conhecimento maior

do conteúdo, afirmou que - 1 é irracional e o número (pi) é racional. Não

conseguiu representar no segmento de reta indicado os pontos referentes aos

números do item i da primeira questão.

Entrevistador: Vandson, você já estudou o teorema de Pitágoras?

Entrevistado: Estudei, na oitava série, no quarto bimestre, já no final do ano

passado.

Entrevistador: Você não conseguiu acertar a quinta e sexta questões que são

aplicações do teorema de Pitágoras, tente fazer uma delas.

Entrevistado: Professor, a letra a da quinta questão eu fiz no dia da prova,

olhe aqui.

Entrevistador: Como foi que você chegou a esse resultado?

Page 80: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

80

Entrevistado: Multipliquei o valor de um lado, que é cinco centímetros, pelo

outro quatro centímetros, e aí encontrei 20 cm que é o valor da diagonal.

Entrevistador: Você pode me dizer onde fica a diagonal nessa figura que

desenhou?

Entrevistado: É a do traço que divide o retângulo no meio.

Entrevistador: A sétima questão refere-se à racionalização de denominadores

de frações. Você deixou em branco, é por que não estudou o conteúdo ou

esqueceu?

Entrevistado: Estudei, não respondi, porque foi um conteúdo que não aprendi,

mas estudei no início do ano passado, na oitava série.

Entrevistador: Você estudou equações irracionais?

Entrevistado: Estudei na oitava série.

Entrevistador: Como foi que você chegou ao resultado de cada um dos itens

da décima questão?

Entrevistado: Na letra a, fiz x + 1 = 4 e calculei x, que é igual a três, na letra c,

peguei 3x +21 coloquei igual a x + 31. Resolvi a expressão e encontrei 10.

3.3.9 Análise dos dados da avaliação diagnóstica

Faremos à análise dos dados levantados na prova escrita e também da

entrevista da avaliação diagnóstica deste estudo, fundamentado nos obstáculos

apresentados e discutidos neste trabalho e também verificaremos os possíveis

obstáculos apresentados pelos alunos levando em consideração Bachelard (2005).

Nesta análise constatamos que os alunos avaliados não dominam o conceito

de Número Irracional provavelmente por não ter tido uma boa aprendizagem

matemática nas séries iniciais. Apresentaram obstáculos epistemológicos e

demonstraram não ter uma boa compreensão sobre o conjunto dos números

racionais e seus subconjuntos numéricos.

A aprendizagem dos números racionais é permeada por uma série de

questões que dificultam tal aprendizagem. Perez (1998) comenta que dificuldade é

algo que impede de executar de imediato e bem alguma coisa. As dificuldades

apresentadas pelos alunos na prova escrita e referendadas pelas entrevistas podem

ter sido causadas por diversos fatores, tais como: o conceito que eles não

aprenderam, o método utilizado pelos professores das etapas anteriores, os

Page 81: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

81

conhecimentos prévios deles e também pela própria disposição do aluno em

responder a questão.

Percebemos que eles confundem um número racional representado em sua

forma decimal com Número Irracional e não conseguem representar corretamente

um número qualquer na reta numérica. Cerca de 49% (quarenta e nove por cento)

deles não consegue comparar um Número Irracional na suas representações de

radical e decimal — conteúdos estes, explorados nas três primeiras questões. Eles

demonstraram não saber as operações mais simples com radicais, por exemplo:

simplificação e adição que foram explorados na 4ª questão.

Aproximadamente 67% (sessenta e sete por cento), dos alunos teve

dificuldade em representar a diagonal de quadrado e não soube aplicar

corretamente o teorema de Pitágoras; o que era necessário para responder a 5ª e a

6ª questões.

Na questão que tratou do assunto racionalização de denominadores de

frações, conteúdo trabalhado com ênfase por alguns professores de Matemática na

8ª série do Ensino Fundamental e também abordado nos livros didáticos

correspondente a tal série do segmento de ensino em foco, apenas três alunos

conseguiram obter êxito. Quanto ao teorema de Tales, explorado na 8ª e na 9ª

questões, os alunos demonstraram não ter conhecimento sobre o assunto, o mesmo

acontecendo com as equações irracionais.

Vale salientar que essa análise é extremamente subjetiva e é espelhada em

resultados apresentados por indivíduos que não foram nossos alunos nas séries

finais do Ensino Fundamental, e também não foram alunos dos colegas que nos

cederam as turmas, com exceção de seis do grupo 1, alunos de uma turma de 8ª

série. Outro fato que deve ser levado em consideração é que os indivíduos

envolvidos na pesquisa não são oriundos da mesma escola e sim de comunidades

distintas.

Concluídas as entrevistas, percebemos que os alunos pesquisados

apresentaram muitas dúvidas em relação ao conjunto dos números racionais, isto,

pode ser levando em consideração o que é proposto para os ciclos inicias. O estudo

dos racionais nos 3º e 4º ciclos tem como objetivo levar os alunos a perceberem a

insuficiência dos números naturais para resolver situações-problema relacionadas a

medidas, grandezas e resultados de uma divisão.

Nesse contexto, os racionais assumem diferentes interpretações:

Page 82: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

82

Relação parte-todo: é apresentado quando um todo é dividido em partes

equivalentes;

Divisão: é a interpretação de um número racional como resultado da

divisão de um número inteiro por outro inteiro;

Razão: é aquela em que o racional é usado como índice comparativo entre

duas quantidades;

Número como operador: quando ele desempenha a função de mudar,

transformar uma situação.

A proposta é que esses diversos significados sejam trabalhados

separadamente. Os PCN também sugerem que seja feito um trabalho sistemático ao

longo desses ciclos para que seja consolidada a aprendizagem dos racionais.

Os livros didáticos apresentam, em sua maioria, a forma convencional de

apresentar o conceito dos números racionais. O trabalho é iniciado pela

representação fracionária dos números, leitura e escrita e como operar com eles. Em

seguida é apresentada a representação decimal como escrita de uma fração,

seguindo os mesmos passos metodológicos da representação fracionária.

O equívoco maior está no fato dos livros abordarem a escrita fracionária dos

racionais e a decimal como se estas não fossem representações de números de um

mesmo conjunto numérico.

Dado o exposto, podemos associar às respostas dos estudantes na primeira

questão, provavelmente a fragmentação desse conhecimento prévio. Quando o

aluno não tem conhecimento do conceito de número racional tende a confundir um

racional em sua forma decimal como sendo um número irracional. Verificamos este

fato nas respostas da 1ª questão apresentadas neste trabalho.

Ao verificarmos o bloco com as três primeiras questões e considerarmos

também as entrevistas com uma amostra da população participante, constatamos

que do grupo 1, dezessete (17) indivíduos, cerca de 61% (sessenta e um por cento),

não atingiram os objetivos propostos, o que significa dizer que eles não dominam, ou

não sabem os conteúdos. Oito indivíduos, aproximadamente 28% (vinte e oito por

cento), conseguiram atingir, de forma parcial, os objetivos propostos não

apresentando um domínio total. Os outros três indivíduos, equivalentes a 11% (onze

por cento) atingiram satisfatoriamente os objetivos indicados.

A partir dos resultados e considerando os dois grupos como um todo,

percebemos que 22 indivíduos, cerca de 49% (quarenta e nove por cento), não

Page 83: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

83

conseguiram atingir os objetivos traçados para as três primeiras questões.

Aproximadamente 44% (quarenta e quatro por cento), ou seja, 20 indivíduos

atingiram os objetivos parcialmente; e, apenas três, o que corresponde a

aproximadamente 7% (sete por cento) conseguiram atingir os objetivos propostos.

Levando em consideração o bloco incluindo a quarta, a quinta e a sexta

questões, verificamos que 17 indivíduos do grupo 1, aproximadamente 61%

(sessenta e um por cento), não conseguiram atingir os objetivos propostos, enquanto

que no grupo 2 esse percentual chega a se aproximar de 76% (setenta e seis por

cento), 13 indivíduos.

No grupo 1, cerca de 36% (trinta e seis por cento), 10 indivíduos atingiram

parcialmente os objetivos e, no grupo 2 esse percentual chegou aproximadamente a

18% (dezoito por cento), totalizando três alunos.

Um indivíduo de cada grupo participante conseguiu atingir satisfatoriamente

os objetivos. Em porcentagem, isto representa 3% (três por cento) do grupo 1 e 6%

(seis por cento) do grupo 2, respectivamente.

Considerando os dois grupos, verificamos que 30 indivíduos, cerca de 67%

(sessenta e sete por cento), não atingiram os objetivos propostos para as referidas

questões, não sabem ou não dominam os conteúdos explorados. Aproximadamente

29% (vinte e nove por cento), o que corresponde a 13 indivíduos, atingiram

parcialmente os objetivos e, dois indivíduos, 4% (quatro por cento), saíram-se

razoavelmente bem.

A sétima questão por se tratar de racionalização de denominadores de fração

e o objetivo v ter sido proposto especificamente para ela, evitamos agrupá-la com

outra. Nesta questão cerca de 75% (setenta e cinco por cento), 21 indivíduos do

grupo 1 e 82% (oitenta e dois por cento), 14 do grupo 2, não conseguiram atingir os

objetivos. Cerca de 18% (dezoito por cento), cinco indivíduos do grupo 1 e

aproximadamente 6% (seis por cento) um do grupo 2, respectivamente, atingiram

parcialmente os objetivos traçados para a referida questão. Em cada um dos grupos,

dois indivíduos, aproximadamente 7% (sete por cento) do grupo 1 e cerca de 12%

(doze por cento) do grupo 2, respectivamente atingiram satisfatoriamente os

objetivos. Fazendo a junção dos dois grupos classificamos como não tendo atingido

o nível de compreensão instrumental um total de 35 indivíduos, aproximadamente

78% (setenta e oito por cento), enquanto que seis, 13% (treze), ficaram no nível de

Page 84: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

84

compreensão instrumental e cerca de 9% (nove por cento), quatro alunos

conseguiram se sair bem.

Nas questões que tratam da aplicação do teorema dito de Tales, a oitava e a

nona, aproximadamente 96% (noventa seis por cento), totalizando 27 alunos do

grupo 1 não atingiram os objetivos propostos; enquanto no grupo 2, esse percentual

chegou a 76% (setenta e seis por cento), ou seja, 13 indivíduos. Nenhum aluno do

grupo 1 conseguiu atingir os objetivos indicados para essas questões, mas quatro

alunos do grupo 2, cerca de 24% (vinte e quatro por cento), conseguiram atingir

parcialmente os objetivos propostos sobre o conteúdo explorado nas questões.

Apenas um aluno do grupo 1, representando 4% (quatro por cento), conseguiu

atingir satisfatoriamente os objetivos propostos.

Com a junção dos grupos, a representação percentual dos indivíduos que não

atingiram os objetivos ficou em torno de 89% (oitenta e nove por cento), perfazendo

um total de 40. Outros 9% (nove por cento), quatro alunos atingiram parcialmente os

objetivos e um indivíduo, o que representa apenas, 2% (dois por cento), conseguiu

na totalidade.

Finalizando, verificamos que 26 indivíduos do grupo 1 e 16 do grupo 2, 93%

(noventa e três por cento) e 94% (noventa e quatro por cento), respectivamente, não

conseguiram alcançar os objetivos propostos para o décima questão, demonstrando

não ter conhecimento sobre o conteúdo. Um indivíduo de cada grupo atingiu

parcialmente os objetivos, o que representa cerca 3% (três por cento), para o grupo

1 e 6% (seis por cento), para o grupo 2, e aproximadamente 2% (dois por cento), isto

é, um aluno, conseguiu alcançar os objetivos de forma satisfatória.

De modo geral percebemos que o resultado da avaliação inicial contribuiu

para fazermos o seguinte comentário: identificamos dificuldades dos alunos ao lidar

com números irracionais. Essas dificuldades relacionavam-se, dentre outras, à

possibilidade de divisão infinita de um segmento, à distribuição dos números reais,

dentre eles destacamos os irracionais na reta, ao conceito de irracionalidade e ao

surgimento dos irracionais. Dentre estas, a última expressa no estudo mencionado é

particularmente curiosa porque muitos alunos demonstraram desconhecer os

motivos pelos quais surgiram os números irracionais.

3.4 O Módulo de Ensino

Page 85: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

85

3.4.1 Atividades para o módulo de ensino

Considerando o objetivo principal da pesquisa que foi promover atividades

para o aprofundamento do ensino de Números Irracionais no Ensino Médio,

retornamos ao questionamento inicial: Será que ao oportunizarmos aos alunos da 1ª

série do Ensino Médio um trabalho com os números irracionais por meio de

atividades de ensino haverá uma aprendizagem mais significativa deste conteúdo?

Tentando responder este questionamento verificamos que o resultado

apresentado na avaliação diagnóstica, indicou a necessidade de se promover uma

retomada (revisão) dos conceitos testados, a partir desta necessidade, elaboramos

um módulo de ensino com a finalidade de minimizar as deficiências de conteúdos

dos alunos, através de atividades visando atender aos objetivos da pesquisa.

Uma atividade de ensino deve ser clara quanto aos objetivos, e nestes serem

definidos na própria atividade, o material de apoio a ser usado pelos alunos.

Também é importante antes da resolução, o professor fazer um rápido comentário

sobre os procedimentos a serem adotados para a execução da tarefa. Ainda é

oportuno que o professor (pesquisador), elabore as atividades por escrito, com as

devidas orientações. Deve ser entregue uma cópia a cada aluno e, em seguida,

reuni-los em pequenos grupos para a discussão e desenvolvimento da atividade.

Rodrigues Neto (1998).

Destacamos quatro momentos importantes numa atividade de ensino:

i) leitura e compreensão do enunciado (texto);

ii) discussão da atividade entre os componentes do grupo;

iii) realização da atividade pelos alunos;

iv) apresentação dos resultados ao grande grupo.

Assim, enquanto os alunos trabalham em uma interação em grupo, o

professor (pesquisador) atua como um mediador (orientador), devendo ficar atento

ao desenvolvimento da aprendizagem do aluno para dirimir possíveis dúvidas.

Para esse trabalho, tivemos o cuidado de selecionar algumas atividades de

ensino de livros-textos, fazendo as adaptações e mudanças necessárias para

adequá-las aos objetivos da pesquisa, como também elaboramos parte delas, tendo

a preocupação de não seguir rigorosamente os modelos apresentados em livros.

Page 86: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

86

Enfim, procuramos selecionar as atividades de forma a proporcionar um

entendimento dos conceitos abordados.

Fossa (2001, p. 79), afirma: "[...] atividades bem estruturadas e usadas com

consistência e criatividade podem ser instrumento poderoso na aquisição de

conceitos matemáticos [...]". As atividades que compõem o módulo de ensino,

seguiram uma seqüência e inicialmente foram discutidas, para em seguida serem

aplicadas.

As atividades propostas foram desenvolvidas em pequenos grupos, seguindo

os seguintes procedimentos:

i) discussão sobre como resolver a atividade proposta;

ii) resolução da atividade (uso de materiais, procedimentos de cálculo,

anotações, e outros);

iii) comunicação das idéias.

As atividades desenvolvidas nos grupos visaram proporcionar uma interação

entre os alunos, a discussão das questões e, conseqüentemente, reforçando a

aprendizagem, o que de acordo com Keil (1999, p. 140) possibilita "[...] aos sujeitos

explicitarem, valorizarem e trocarem uns com os outros, vivências oriundas de

universos simbólicos de experiências cotidianas [...]". Para a autora, os indivíduos

buscam a companhia de seus pares, que pensam e agem da mesma forma

convivendo com uma troca de sentimentos e emoções um tanto quanto igualitárias,

construindo as representações dos sujeitos a partir de um substrato oriundo de

movimento dialético. Esse ponto de vista vem reforçar o intuito de nossa pesquisa de

aplicar as atividades de ensino com os alunos organizados em pequenos grupos.

Iniciamos a aplicação do módulo de ensino com uma seqüência didática

previamente organizada e distribuída em um bloco com atividades, dentre elas seis

visando retomar conteúdos e relembrar conceitos matemáticos aos indivíduos dos

dois grupos participantes: as outras envolveram o teorema de Tales, equações

irracionais, irracionalidade de raiz de dois, procedimentos para o cálculo de raiz

quadrada por aproximação e o cálculo do valor aproximado de pi.

O módulo de ensino obedeceu a uma seqüência não-linear, indicando

objetivos, conteúdos e procedimentos, seguida de exercícios propostos.

3.4.2 Comentários sobre a aplicação do módulo de ensino

Page 87: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

87

O módulo de ensino foi aplicado em duas turmas de 1ª série do Ensino Médio,

sendo uma composta por 28 alunos (escola Estadual, ou seja, grupo participativo 1)

e a outra com 17 alunos (escola federal, grupo participativo 2), totalizando 45.

Na escola estadual assumimos o compromisso com a professora titular da

disciplina e a equipe pedagógica de aplicar também, atividades referentes aos

conteúdos planejados para o ano letivo de 2004 e fazer avaliação para registro de

notas no diário de classe nos três últimos bimestres letivos, ao mesmo tempo em

que assumiríamos a turma até o final do ano letivo, inclusive a recuperação e prova

final. Nessa escola o calendário de aulas de Matemática manteve uma certa

irregularidade apresentando como dificuldades e problemas a serem superadas:

i) a carga horária da disciplina, que consideramos pequena em relação

ao conteúdo proposto pelo currículo, três horas aulas semanais;

ii) A distribuição da carga horária não oferecia condições de trabalhar

determinado conteúdo sem quebrar a seqüência da atividade, como

por exemplo, representação de Números Irracionais na reta numérica

usando régua e compasso, demanda um certo tempo.

iii) A distribuição das aulas não oportuniza duas aulas seguidas em um

mesmo dia;

iv) A ausência de professores dos outros componentes curriculares nos

primeiros horários de aula fazia com que alunos fossem embora mais

cedo, não esperando pelas duas últimas aulas;

v) Outros fatores também contribuíram negativamente para prejudicar o

ensino-aprendizagem, tais como: suspensão das aulas para os

alunos ensaiarem festividades juninas, semana da cultura,

participação no carnatal.

vi) Às vezes os horários das aulas eram reduzidos a trinta minutos por

falta de água na escola.

vii) Quando a aula era no primeiro horário alguns alunos chegavam

atrasados alegando morarem longe da escola e depender de

transportes coletivos que nem sempre passam no horário.

Enfim, qualquer acontecimento se tornava motivo para a liberação dos alunos

das aulas e também, passamos por uma greve dos professores estaduais, que

prejudicou o andamento dos trabalhos. No entanto, mesmo com esses entraves,

Page 88: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

88

desenvolvemos os trabalhos avançando com a pesquisa, no intuito de alcançarmos

os objetivos estabelecidos.

Na escola pública federal, combinamos com a coordenadora pedagógica do

Ensino Médio e com os alunos, ocuparmos duas aulas que estes tinham “livres”.

Nesses horários livres, aplicamos o módulo de ensino com a participação de 17

indivíduos de uma turma de 25, pois apenas esses 17 se dispuseram a ocupar seu

horário disponível para colaborar com a pesquisa. Para este grupo de alunos as

atividades não foram registradas como notas no diário de classe. Usamos dois

horários de 50 minutos de aula, sendo que as aulas corridas, um dos pontos

considerados positivos, favoreceram o desenvolvimento das atividades e a

participação dos envolvidos.

Para o desenvolvimento das atividades usamos a prática do estudo em grupo,

prática essa que nos últimos anos, temos desenvolvido em cursos de formação de

professores e que tem apresentado bons resultados, pois os alunos participam

ativamente dos trabalhos, discutindo as questões no próprio grupo de estudo e em

seguida apresentam os resultados aos colegas de turma. Esse tipo de estudo em

grupo não foi bem aceito pelos alunos da escola estadual. No inicio eles não

concordavam em se reunir nos grupos para discutir as questões e diziam: “professor

é melhor você explicar um ou mais exemplos no quadro e colocar exercícios para

nós fazermos”. Quando conseguiam reunir-se em grupos, tentavam fazer as

atividades individualmente ou copiar o que algum colega do grupo tinha feito,

prejudicando, assim, o trabalho de sala de aula, precisando sempre da nossa

intervenção para tirar as dúvidas.

Os alunos da escola pública federal, ao contrário, tiveram uma boa aceitação

para esse tipo de trabalho e desenvolveram as atividades em grupos,

satisfatoriamente. Boa parte das dúvidas eles tiravam com os próprios colegas,

ficando a nossa intervenção para os casos considerados mais difíceis.

Procuramos acompanhar e observar todos os grupos, onde foi possível

perceber a participação individual dos alunos e fazer uma análise valorativa mais

adequada. Vale salientar, que no mesmo grupo nem todos apresentavam a mesma

facilidade de aprender, uns conseguiam entender com mais facilidade, outros tinham

dificuldades, mas sempre havia uma interação entre eles, que ajudou no

desenvolvimento do ensino-aprendizagem e melhorou o nível de aprendizagem do

grupo.

Page 89: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

89

As atividades foram selecionadas e elaboradas visando atender os objetivos

da pesquisa e na sua aplicação ficamos como professor mediador dos estudos. As

atividades foram desenvolvidas em pequenos grupos, seguindo os procedimentos:

i) Leitura individual e silenciosa;

ii) Discussão sobre como resolver a atividade proposta;

iii) Resolução da atividade (uso de materiais, procedimentos de cálculos,

anotações e outros);

iv) Comunicação das idéias e dos procedimentos adotados na resolução;

v) Quando necessário, havia intervenção do professor-pesquisador para

esclarecimentos.

As atividades desenvolvidas em grupos visam proporcionar uma maior

interação entre os alunos e entre os alunos e o pesquisador, facilitando a discussão

e o entendimento de cada uma das questões propostas.

3.4.3 A Aplicação do Módulo de Ensino

O módulo de ensino seguindo uma seqüência didática com atividades

previamente organizadas foi entregue a cada um dos alunos dos dois grupos

participantes em um bloco contendo todas as atividades previstas.

Antes de iniciarmos a aplicação das atividades propostas procuramos discutir

todas as questões da avaliação inicial, fazendo-as no quadro e explicando

detalhadamente os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais nelas

envolvidos.

Ao propormos as atividades, sugerimos a leitura e discussão nos grupos de

estudo para melhor entendimento do procedimento.

No grupo participante 1 (escola estadual), diante da primeira atividade tendo

como objetivos retomar os conceitos de números primos e compostos, identificar os

divisores de um número e também decompor um número em fatores primos, logo

percebemos que os indivíduos não costumavam se reunir para estudar em sala de

aula, pois passamos a ouvir frases como: “Professor, faça como a professora [...]

fazia, que é melhor. Ela copiava no quadro, fazia dois ou três exemplos e colocava

exercícios para a gente fazer.” “Professor, o senhor não acha melhor copiar no

quadro e explicar, depois colocar exercícios parecidos?” “Professor, assim a sala fica

muito desorganizada.”

Page 90: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

90

Mesmo assim insistimos nesta metodologia de trabalho com a aplicação das

atividades em grupos de estudo e orientando para que os componentes dos grupos

ao encontrarem a solução da situação-problema, ou questão, comentassem os

resultados com os colegas.

No grupo participativo 1 havia dez alunos assistindo aulas de forma regular.

Enquanto estes dez alunos não costumavam faltar às aulas, os outros, pareciam

combinar um revezamento entre si. Ao questionarmos os motivos para as constantes

faltas, as justificativas eram as mais variadas possíveis, alegavam que saíam do

trabalho mais tarde; não tinham o dinheiro para locomoção; precisavam sair cedo

para ir trabalhar; não tiveram as primeiras aulas, por isso foram embora mais cedo.

Essas e outras desculpas eram postas.

Nesse grupo as atividades foram sempre retomadas na aula seguinte, o que

levou um tempo maior para a aplicação do módulo de ensino.

O grupo participativo 2 acatou de imediato a metodologia desenvolvida. Os

alunos se envolveram com facilidade nos grupos de estudo e passaram a colaborar

com os colegas que apresentavam dúvidas em determinada atividade, sendo

necessária a nossa intervenção nos momentos de sugerir os procedimentos e

conclusões das atividades.

3.4.4 A aplicação das atividades no grupo 1

Iniciamos a intervenção metodológica com o módulo de ensino no grupo 1, no

segundo bimestre letivo. Distribuímos entre os alunos o material (apostilas) para

acompanhamento e resolução das atividades. Entregamos também à equipe técnica

uma cópia para controle e arquivo na escola.

Acompanhamos o desempenho e desenvolvimento da aprendizagem dos

alunos desse grupo por meio de observação na atuação em sala de aula,

participação na atividade individual e em grupo, aplicação de exercícios e tarefas

referentes aos conteúdos explorados, como também verificamos a aprendizagem

dos indivíduos envolvidos através de provas bimestrais, ficha avaliativa para

recuperação semestral e prova final, sempre de acordo com o planejamento da

escola. Ressaltamos que o foco principal da avaliação foi a observação em sala de

aula e posterior registro do que foi observado.

Page 91: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

91

A primeira atividade do módulo de ensino procurava fazer uma retomada da

identificação de um número primo e também a decomposição de um número em

fatores primos.

Organizamos a turma em quatro grupos com quatro (4) componentes e um

com três, totalizando 19 (dezenove) alunos na aula.

Iniciamos com as seguintes perguntas: o que é um número primo? E quais

são os divisores de 17?

A definição de número primo já estava no texto, mesmo assim, percebemos

que os alunos de três grupos apresentavam dificuldades em identificar um número

primo. Na expectativa de dirimir estas dúvidas passamos a dar orientação aos

estudantes com outros exemplos, ou seja, pedimos que escrevessem os divisores

de cinco e de seis, de sete e de oito. Com a exploração destes exemplos tiramos as

dúvidas e continuamos a atividade, trabalhando decomposição de um número em

fatores primos, o que já havíamos feito com os números cinco e seis.

Na atividade, os números 60 e 90 estão decompostos em fatores primos e

escritos em forma de produtos. Pedimos que os estudantes observassem os

exemplos e, aproveitando-se do conhecimento que tinham sobre o assunto

procurassem fazer a decomposição dos outros números apontados na atividade e

representassem na forma de produto (multiplicação).

Fazendo a observação e acompanhamento grupo a grupo, percebemos que

um dos grupos terminou muito rápido, fomos ao grupo e o estudante Michel disse:

“Professor esse assunto eu aprendi na 5ª série”. Outro componente do grupo, a

estudante Tâmara falou: “Eu não sabia fazer, aprendi agora com Michel”.

O grupo formado por Gerlane, Graça, Carmelita e Daniele Ferreira apresentou

dificuldade em decompor os números 700, 42, 500, mas como acertaram a

decomposição do número 18, solicitei que tentassem fazer a decomposição de 42

seguindo os passos da de 18, três delas conseguiram fazer, mas uma disse: “Não

tem jeito professor, não aprendo mesmo”. Percebendo a dificuldade da estudante

passamos a explicar a decomposição dos números oito e 10, utilizando a regra de

decomposição. Depois dos dois exemplos feitos ela disse: “Assim é mais fácil, agora

vou ver se acerto os outros exemplos”.

O conteúdo em discussão consta no currículo oficial e é abordado nos livros

didáticos da 5ª série. Portanto, esperávamos que esses estudantes aproveitassem o

conhecimento prévio sobre o assunto para agilizar o desenvolvimento das atividades

Page 92: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

92

propostas, mas identificamos que a dificuldade na aprendizagem desses conteúdos,

que deveriam ser do domínio dos alunos é falta de segurança em conhecimentos

básicos, tais como a multiplicação e a divisão. Essa insegurança dos estudantes é

provocada provavelmente pelos obstáculos epistemológico e cognitivo

apresentados.

A segunda atividade do módulo de ensino foi desenvolvida objetivando

retomar o conteúdo de equação do 1º grau. A atividade foi composta por seis

situações-problema, contemplando os aspectos instrumental e relacional e os

estudantes precisavam apresentar conhecimentos prévios sobre operações com

números racionais fracionários, soma de ângulos interno de um triângulo, ângulos

complementares e ângulos alternos externos.

Na atividade foram trabalhados os aspectos instrumentais tais como: saber

calcular o termo desconhecido, saber aplicar fórmula, identificar os termos de uma

equação, saber o que são ângulos suplementares, reconhecer ângulos alternos

externos, lembrar que a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual 180

graus. Partindo dos aspectos instrumentais apresentados esperávamos avançar a

aprendizagem relacional nos aspectos: relacionar equação do 1º grau com o

cotidiano, compreender o problema proposto, evitar aplicar fórmulas, ler e imaginar

soluções das equações, saber o significado de cada termo. Aplicar fora do contexto,

saber o porquê e para que estudar equações, descobrir novas relações entre os

tópicos.

Essa atividade foi trabalhada em duas aulas, na primeira contamos com a

presença de 25 estudantes distribuídos em seis grupos. Os grupos foram formados

sem a nossa interferência, a única exigência que fizemos foi que nenhum grupo

poderia ter mais de cinco componentes. Depois dos grupos organizados, tal qual na

primeira atividade, percebemos que os alunos não costumavam se agrupar para

estudar em sala de aula e voltamos a explicar a importância do estudo ser realizado

em grupos, citando e mostrando para eles como tinha sido proveitosa a aula anterior

com esse tipo de organização.

No desenvolvimento da atividade percebemos que dois grupos avançavam

em relação aos demais. No grupo formado por Michel, Wallyson, Ester e Cidemar

cada aluno fazia uma questão e em seguida socializava com os demais. Este grupo

apresentou dificuldade no item ii da atividade, provavelmente por não lembrarem

que poderiam aplicar a relação de Pitágoras para o cálculo da altura do triângulo,

Page 93: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

93

precisando da nossa interferência. Em um dos grupos formado por Cariliana,

Carmelita, Daniele e Danielly, cada aluna tentava resolver a mesma questão em

seguida faziam os comentários sobre os procedimentos adotados e conferiam os

resultados uma com as outras.

Os outros grupos demonstraram uma certa dependência precisando da nossa

orientação, caso a caso e, em alguns momentos percebemos a dificuldade real de

entendimento sobre os objetivos traçados para a atividade. Havia uma preocupação

entre eles de chegar à resposta de forma imediata esquecendo que era necessário

ter um entendimento geral da questão.

Essa atividade foi interrompida com o final da aula e, dado prosseguimento na

aula seguinte na presença de 23 alunos com a falta das alunas Regineide e Graça.

Para concluirmos a atividade propomos que cada grupo fizesse uma questão no

quadro, e, feito isto, passavamos a explicar detalhadamente os procedimentos para

resolução da questão dirimindo assim as possíveis dúvidas.

Podemos dizer que, de modo geral, os alunos conseguiram cumprir a

atividade e atingiram os objetivos traçados.

A terceira atividade abordava os conceitos de razão, proporção e discutia a

idéia de proporcionalidade. As questões para essa atividade foram elaboradas

seguindo uma das atuais tendências do ensino da matemática: a resolução de

problemas.

Utilizamos os mesmos procedimentos das atividades anteriores com os

trabalhos desenvolvidos em grupos. Observamos que dois grupos permaneciam

com os mesmos componentes da aula anterior e os outros foram recompostos de

acordo com os interesses dos próprios alunos.

Em relação à discussão que os grupos deveriam realizar, percebemos que

em princípio os estudantes estavam mais preocupados em chegar à resposta, com

exceção de dois grupos.

Essa atividade daria condições ao aluno de, por exemplo, identificar os

termos de uma razão, representar a razão entre dois segmentos, situar a idéia de

proporcionalidade do aspecto relacional, dominando o conceito de

proporcionalidade.

Observamos que alguns alunos conseguiam fazer a comparação entre

grandezas e representá-las em forma de razão com mais facilidade de que outros.

Percebemos também que, boa parte dos estudantes, aproximadamente 56%

Page 94: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

94

demonstraram muitas dificuldades em desenvolver a atividade, provavelmente por

não terem o hábito de estudar ou por desatenção na leitura, ou mesmo por falta de

conhecimento do conteúdo básico de matemática. Dez alunos apresentaram

dificuldades na linguagem, liam o enunciado do problema, mas não compreendiam e

vinham os pedidos, como exemplo, citamos o da aluna Graça: “Professor, é melhor o

senhor fazer um exemplo parecido com esse no quadro e depois a gente faz os

outros”. Tentando reverter esse tipo de pensamento da aluna, ou seja, receber o

conteúdo pronto, como sendo um modelo, mas compreendendo a posição dela,

passamos a incentivá-la a encontrar a uma solução para questão.

Essa atividade foi desenvolvida em dois encontros e finalizada com a

participação dos estudantes apresentando suas respostas no quadro.

A despeito da idéia de proporcionalidade, verificamos que o conhecimento

prévio dos alunos sobre esse assunto deixava muito a desejar. Acreditamos que se

eles tivessem melhor conhecimento sobre o conteúdo em pauta, a aprendizagem

teria se dado de forma mais rápida.

A quarta atividade objetivava explorar o conhecimento dos estudantes sobre

números irracionais. Para essa atividade o estudante deveria saber usar a régua e o

compasso, instrumentos importantes e imprescindíveis na representação de um

número irracional na reta numérica. Para tanto, solicitamos na aula anterior que eles

levassem esses instrumentos para sala de aula.

Nessa atividade, a maioria dos alunos demonstrou desconhecer o uso do

compasso, sendo que 10 nunca tinham usado, levando um certo tempo para que

pudéssemos dar essa orientação, que foi feita grupo a grupo. Duas alunas não

sabiam representar um número inteiro na reta numerada, escreveram os números de

forma desordenada, não obedecendo a uma seqüência.

Com a realização dessa atividade percebemos que houve um avanço em

relação aos objetivos traçados, pois, alunos como Tsila e Graça afirmaram que a

partir daquela aula nunca mais iam esquecer que podem representar os números

inteiros e os irracionais em uma reta. A colega de outro grupo que estava ao lado

disse: Nem só esses, mas também os números racionais”.

A quinta atividade abordava o conteúdo referente a Radical, explorando suas

principais operações, discutindo a importância da racionalização de frações com

denominadores em forma de radical, assuntos esses, explorados nos livros didáticos

e contidos na proposta oficial para a oitava série do Ensino Fundamental

Page 95: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

95

intercalando e associando as operações de radicais a outros conceitos matemáticos,

como área e perímetro de figuras planas, principalmente do retângulo.

Essa atividade foi desenvolvida em duas aulas: na primeira, os estudantes

reunidos em grupos resolveram os dois primeiros itens, e na segunda os outros

quatro. Os alunos demonstraram pouca habilidade nas operações com radicais,

confundiam perímetro com área, não sabiam calcular área de um triângulo e nos

parece que a maior dúvida foi quando solicitado que calculassem a área do

retângulo, lados 25 cm e 23 cm, questão 1, item a. Percebemos que um dos

grupos conseguiu resolver e dar a resposta correta, dois grupos conseguiram

escrever a expressão cmcm 2325 , mas na resposta final não colocaram cm2,

demonstrando não ter o conceito de área totalmente formado.

O grupo formado por Girlane, Graça, Tsila, Márcia e Micarla demonstrou não

saber como se calculava a área de um retângulo e quanto à multiplicação com

radicais disseram nunca ter estudado. Este grupo apresentou um grande obstáculo

no aprendizado por falta de base, o que dificultou um pouco o desenvolvimento dos

trabalhos.

Superados os obstáculos apresentados pelo grupo sobre área de retângulo e

multiplicação com radicais, avançamos para o item b da questão. Para esse item os

estudantes deveriam apresentar os aspectos instrumentais de: reconhecer um

triângulo, saber a fórmula para calcular a área de um triângulo, identificar a altura e

os lados de um triângulo, saber a relação de Pitágoras e também os aspectos

relacionais de: aplicar a relação de Pitágoras para calcular a área de um triângulo e

utilizar a fórmula resolutiva para calcular a área do triângulo.

Nesse item um dos grupos conseguiu encontrar a altura do triângulo

aplicando a relação de Pitágoras chegando ao resultado esperado. Outros grupos

precisaram da nossa orientação para avançar. Percebemos que a maior dificuldade

desses alunos não estava na multiplicação de radicais e sim na falta de

conhecimento prévio sobre o conceito de área de figuras planas e do teorema de

Pitágoras.

Os outros itens da questão envolvendo áreas de figuras planas e radicais

foram desenvolvidos sem maiores obstáculos, mas, no item v as alunas Rusiane e

Tâmara confundiram área de retângulo com perímetro.

Page 96: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

96

No último item envolvendo racionalização de frações com denominadores

irracionais, percebemos que 12 alunos, dentre os 17 que estavam em sala de aula,

não sabiam as técnicas de racionalização de denominadores, seis deles disseram

que nunca estudaram e os outros seis disseram que viram, na 8ª série, mas não

aprenderam e que gostariam de aprender.

Finalizando essa atividade, retomamos todas as questões no quadro, com os

estudantes resolvendo-as, e em seguida fizemos uma explanação das técnicas de

racionalização de denominadores de frações discutindo caso a caso com o uso do

retroprojetor e transparência.

Na sexta atividade fizemos uma retomada geral objetivando verificar os

conhecimentos prévios dos estudantes sobre semelhança de figuras. Nessa

atividade o maior obstáculo apresentado pelos alunos foi na utilização dos

instrumentos de desenho, o compasso e o par de esquadros exigidos para

realização do item iv, boa parte dos alunos alegaram nunca ter usado o par de

esquadros. Passamos então a orientá-los grupo a grupo. Percebemos que houve um

avanço na aprendizagem dos alunos durante o desenvolvimento da atividade.

Na sétima atividade foram estudados os procedimentos para calcular raiz

quadrada por aproximação. Esse conteúdo por ser muito abstrato exigia do

estudante um conhecimento no aspecto instrumental, ou seja, saber os

procedimentos e aplicá-los. Explicamos a técnica do cálculo de raiz quadrada por

aproximação e solicitamos que eles em grupos aplicassem a alguns exemplos. No

desenvolvimento da atividade percebemos que havia alunos com dúvidas nos

cálculos e passamos a orientá-los de acordo com a necessidade. Nesse

acompanhamento observamos que o maior obstáculo que os estudantes

apresentavam não era no entendimento da técnica operatória e sim na operação de

divisão e também nos exemplos que poderiam ser resolvidos fazendo as

decomposições em fatores primos e depois simplificando os radicais, nos casos de

8 e 18 .

Nessa atividade os alunos compreenderam a técnica operatória de encontrar

por aproximação uma raiz quadrada não-exata, mas 10 deles perceberam que

tinham que estudar a tabuada de dividir e praticar a divisão, já que havia a

necessidade de avançar nos estudos.

Page 97: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

97

A oitava atividade foi uma explanação sobre a demonstração da

irracionalidade de raiz de dois, conteúdo esse que não consta no currículo oficial,

não é abordado nos livros didáticos de Matemática para a 8ª série do Ensino

Fundamental nem nos livros de Matemática para a 1ª série do Ensino Médio, e que

exige um alto grau de abstração. Por isso resolvemos fazer apenas a demonstração

usando retroprojetor e transparência, acompanhando tópicos da história sobre a

descoberta de grandezas incomensuráveis.

A nona atividade explorou o conteúdo de equações irracionais, assunto esse

abordado na última série do Ensino Fundamental. Essa atividade requeria do aluno

conhecimento nos aspectos instrumentais de identificar dentre os diversos tipos de

equações uma equação irracional, saber elevar os dois membros de uma equação

irracional a um mesmo expoente, resolver equação do 1º grau, e os aspectos

relacionais: compreender porque elevar os dois membros de uma equação irracional

ao mesmo expoente, saber e perceber quando é necessário aplicar a fórmula de

Báskara e ainda testar os resultados para verificar se os resultados encontrados

satisfazem ou não a igualdade proposta.

Iniciamos a atividade com exemplos de equações irracionais e com um

exercício proposto solicitando que os estudantes identificassem as equações

irracionais. No grupo formado por Willame, Randerson, Mirley e Marcelo, Mirley

disse que ficava difícil responder à questão, pois na escola que estudou a 8ª série

quase não teve aula devido a uma reforma no prédio que levou meses. Fomos ao

grupo e perguntamos aos outros alunos se não lembravam do assunto para tentar

responder à questão e comentar com os colegas. Marcelo falou que sim, tinha

estudado e ia tentar dar a resposta; acompanhamos de perto o grupo e os

estudantes chegaram à solução sem uma maior interferência de nossa parte.

Os grupos continuavam o desenvolvimento da atividade, mas tivemos que

interromper. A aula naquela tarde teve duração de 30 minutos devido à falta d’água

na escola.

Na aula seguinte retomamos a atividade com um número de estudantes bem

menor que a aula anterior. Nesse dia faltaram cinco alunos dentre aqueles que

freqüentavam normalmente, ficando a turma com 16 apenas.

Nessa aula propomos um exercício incluindo quatro questões sobre equações

irracionais. Nas duas primeiras, os quatro grupos fizeram sem apresentar maiores

Page 98: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

98

obstáculos, fomos chamados aos grupos para confirmar com eles a resposta que já

tinham testado.

Nas outras questões, dois grupos apresentaram dificuldades na resolução

quando era necessário aplicar conhecimentos prévios sobre equação do 2º grau e

também para desenvolver o produto notável (1 – x)2.

Na equação x2 – 4x +3 = 0, o grupo formado por João Paulo, Josivan, Marcelo

e Mirley estava atribuindo valores a x substituindo na expressão e verificando se o

resultado era zero, ou seja, estavam fazendo por tentativa e erro. Explicamos a eles

que seria melhor utilizar outro procedimento e encontrar as raízes da equação, mas

que o seu raciocínio não estava errado, provavelmente demorasse mais um pouco a

chegar ao resultado.

A conclusão dessa atividade seguiu os mesmos procedimentos das atividades

anteriores: os alunos apresentavam os resultados no quadro e fazíamos o

fechamento com uma explicação mais abrangente dirimindo as possíveis dúvidas.

Percebemos que mesmo os alunos apresentando obstáculos em conteúdos

matemáticos do Ensino Fundamental, o envolvimento deles no desenvolvimento das

questões propostas superava a dificuldades e os objetivos traçados foram

alcançados.

Para ser trabalhada a décima atividade, foi necessário retomarmos os

conteúdos envolvendo trigonometria no triângulo retângulo para dar aos estudantes

a idéia de seno, cosseno e tangente, orientação de como usar a tabela

trigonométrica e os ângulos de 30º, 45º e 60º como sendo os mais utilizados.

Trabalhamos também os polígonos regulares: o quadrado, o triângulo e o retângulo,

estudamos os polígonos regulares inscritos e circunscritos. Esses assuntos foram

abordados por meio de transparência e exercícios de treinamento como também foi

usado o “manual do estudante”, um bloco de conteúdos chamado de livro e doado

ao aluno por meio da Secretaria de Educação, o qual serviu como ponto de apoio.

Realizada a revisão, ou seja, ministrado o conteúdo passamos a trabalhar a décima

atividade.

A décima atividade foi iniciada com a leitura de um tópico da história do

número pi. Essa leitura foi feita por alunos: Josivan leu uma parte e a outra foi lida

pela estudante Ester. Logo após a leitura a aluna Cariliana comentou: “Professor,

não precisava isso, leitura se faz em Português e não em Matemática”. Diante da

preocupação da aluna passamos a explicar a importância da história e principais

Page 99: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

99

descobertas em matemática e demos prosseguimento à atividade orientando aos

grupos na construção de polígonos inscritos e circunscritos no círculo.

No desenvolvimento da atividade surgiram dificuldades que foram sendo

superadas caso a caso, mas também surgiram preocupações do tipo a de Cariliana:

“Professor, mas para que isso, já sabemos que o valor de pi é 3,14”. Outra aluna

disse: “É melhor dizer que pi é igual a 3,14 e pronto”.

Partindo da preocupação das estudantes em querer apenas o valor de pi,

explicamos que o mais importante era saber os procedimentos para se chegar a

aproximação e não apenas saber o valor de pi sem as noções de como se chegou

naquele valor. Mostramos também que era importante que eles soubessem calcular

a aproximação de pi utilizando o método dos polígonos inscritos e circunscritos, para

se ter uma idéia de como surgiu o valor do número pi.

3.4.5 Aplicação do Módulo de Ensino no grupo 2

Iniciamos a aplicação das atividades de ensino no grupo participativo 2 no

segundo semestre letivo do ano 2004. A participação dos alunos desse grupo foi de

forma totalmente espontânea. As atividades, tarefas e exercícios aplicados não

tiveram efeito de nota registrada no diário de classe. As observações e anotações

que fizemos como pesquisador foram para avaliarmos o desenvolvimento do grupo,

e não para atribuirmos um conceito ou uma nota, ou seja, não havia um incentivo,

como a atribuição de nota no componente curricular de Matemática.

Utilizamos o mesmos procedimentos do grupo 1. Distribuímos o material para

cada um dos alunos, uma cópia para a coordenadora pedagógica do Ensino Médio

da escola e entregamos também uma cópia para o professor de Matemática da

turma, mesmo ele não tendo influência direta em ceder a turma, pois os horários que

ocupamos não foram cedidos dos seus horários.

Os alunos desse grupo mantiveram uma freqüência regular às aulas com

participação ativa nas atividades procurando resolvê-las, comentar com os colegas e

depois socializando as repostas no quadro para todos os colegas.

A avaliação foi realizada por meio de observação da participação e

desempenho deles a cada atividade, fazendo as anotações pertinentes caso a caso.

A classe, reunida em pequenos grupos, desenvolveu a primeira atividade sem

apresentar maiores dificuldades. Houve grande interação entre os componentes dos

Page 100: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

100

grupos nesse primeiro estudo, e perguntas foram feitas sobre números primos, como

exemplo: “O número 1 (um) é primo ou é composto?”.

Havia necessidade dos estudantes apresentarem conhecimentos prévios

sobre os aspectos instrumentais destacados a seguir: identificar um número primo,

reconhecer os principais critérios de divisibilidade de um número, efetuar as

operações de multiplicação e divisão com números naturais e os aspectos

relacionais de compreender que um número composto pode ser representado em

forma de produto de fatores primos, relacionar o número a sua classificação (primo

ou composto).

Essa atividade foi finalizada com a participação de estudantes resolvendo

questões no quadro.

Concluímos que os objetivos desejados para a atividade foram atingidos

satisfatoriamente.

A segunda atividade foi desenvolvida com o objetivo de retomar o conteúdo

de equações de primeiro grau. Nessa atividade esperávamos que os estudantes

apresentassem conhecimentos prévios nos seguintes aspectos instrumentais: ler e

identificar uma sentença matemática, reconhecer os termos de uma equação,

representar uma equação do 1º grau na linguagem matemática a partir de situações-

problema, calcular o termo desconhecido de uma equação do 1º grau, saber aplicar

fórmula, saber o que são ângulos suplementares, reconhecer ângulos alternos

externos, lembrar que a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual 180

graus, reconhecer ângulos suplementares e a compreensão dos aspectos

relacionais tais como: interpretar e compreender uma situação-problema

contextualizada fazendo a sua passagem para a linguagem matemática, saber

aplicar equações no seu cotidiano, saber o porquê e para que estudar equações do

1º grau.

Essa atividade foi desenvolvida em dois encontros, que contou com a

presença de todos os 17 estudantes, formando grupos com quatro ou cinco

componentes. A organização dos grupos de estudo seguiu os mesmos

procedimentos utilizados para o grupo participativo 1.

No desenvolvimento da atividade percebemos que o grupo formado por

Rômulo, Paulo César, Hélder e Vandsom desenvolvia as questões com mais

facilidade que os outros grupos, mas observamos que o aluno Vandson que estava

no grupo não acompanhava o desenvolvimento das questões. Apresentando

Page 101: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

101

obstáculo epistemológico na leitura e compreensão do enunciado, não conseguia

representar a expressão em linguagem matemática e não sabia resolver equação

quando era necessário fazer operações com frações. Neste caso específico do

grupo, solicitamos que os colegas dele tivessem mais calma e procurassem discutir

de forma mais aberta cada uma das questões, pois não adiantava avançar sem o

entendimento de todos do grupo.

O grupo formado por Micaella, Danielli, Gustavo, Flávia e Eduardo apresentou

dificuldade no desenvolvimento de todos os itens da atividade. Provavelmente por

não conseguirem fazer uma leitura compreensiva do enunciado, não conseguirem

compreender o que estava sendo proposto, apresentando assim obstáculos de

ordem epistemológica sobre os conteúdos explorados, precisando da nossa

interferência junto ao grupo.

Os outros grupos também demonstraram uma certa dependência precisando

da nossa orientação, caso a caso e, em alguns momentos percebemos a dificuldade

real, principalmente no item iii quando a questão envolvia o conteúdo sobre ângulos.

A conclusão da atividade se deu com a participação dos alunos resolvendo as

questões no quadro, ao que passávamos a explicar detalhadamente quais os

procedimentos usados para a resolução da questão, dirimindo assim as possíveis

dúvidas.

Podemos dizer que, de modo geral, os alunos conseguiram cumprir a

atividade e atingiram os objetivos propostos.

A terceira atividade foi elaborada seguindo uma das atuais tendências do

ensino da matemática: a resolução de problemas. Nessa perspectiva discutimos a

idéia de proporcionalidade, abordamos também os conceitos de razão e proporção,

e os procedimentos utilizados foram os mesmos das atividades anteriores.

Observamos que os grupos foram compostos de acordo com os interesses dos

próprios alunos.

Dentro da perspectiva do nosso trabalho essa atividade daria condições ao

aluno de apresentar conhecimento nos aspectos instrumental e relacional. Por

exemplo, no instrumental: identificar os termos de uma razão, representar a razão

entre dois segmentos, representar razão entre duas grandezas, reconhecer e

identificar os termos de uma proporção, reconhecer a propriedade fundamental de

uma proporção, calcular o termo desconhecido de uma proporção. Dentre os

Page 102: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

102

aspectos relacionais os estudantes deveriam situar a idéia de proporcionalidade no

dia-a-dia, identificar e reconhecer as propriedades da proporção, perceber a

importância da proporcionalidade identificando grandezas diretamente e

inversamente proporcionais dominando o conceito de proporcionalidade.

Observamos que as alunas Danielli, Beatriz e o estudante Armando não

conseguiram se sair bem na identificação de grandezas inversamente proporcionais;

a aluna Micaella apresentou dificuldades na interpretação de situações-problema

envolvendo grandezas de mesma unidade e não conseguiu resolver os problemas

em que precisavam aplicar o conhecimento sobre razão. Eles foram superando as

dificuldades no desenvolvimento da atividade e avançando no aprendizado de forma

gradativa quando tirava as dúvidas com os colegas de grupo. Esses estudantes

precisaram de um maior acompanhamento de nossa parte, o que foi feito

procurando fazê-los superar os obstáculos apresentados, provavelmente por falta de

conhecimento básico do conteúdo explorado.

A referida atividade foi desenvolvida em dois encontros com a participação e

desempenho dos estudantes superando as dificuldades e obstáculos, a despeito da

idéia de razão e proporcionalidade. Verificamos que o conhecimento prévio dos

alunos sobre esses assuntos não era o esperado, mas aos poucos eles foram

avançando e chegaram a cumprir a tarefa alcançando os objetivos propostos.

A quarta atividade explorou os aspectos instrumentais e relacionais dos

estudantes; os instrumentais no sentido saber usar régua e compasso, reconhecer

um número irracional, reconhecer um número decimal ilimitado e não periódico.

Quanto aos aspectos relacionais: utilizar corretamente os instrumentos régua e

compasso para representar graficamente um número irracional na reta numerada e

reconhecer número irracional como pertencente ao conjunto dos números reais.

Nessa atividade a maioria dos alunos demonstrou utilizar corretamente a

régua e o compasso, três alunos disseram que nunca tinham utilizado esses

instrumentos e tinham dúvidas de como usá-los, mas ao mesmo tempo, a aluna

Beatriz disse que era porque eles tinham perdido as últimas duas aulas do professor

Evilásio (Evilásio era o professor de Matemática deles na Escola). Segundo a aluna,

o professor Evilásio tinha trabalhado o uso da régua e do compasso, por isso os

alunos não apresentavam muitas dúvidas nem dificuldades com esses instrumentos,

o que facilitou o nosso trabalho. O maior obstáculo apresentado por três alunos foi

na representação dos números negativos na reta numérica, mas esse obstáculo foi

Page 103: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

103

superado sem maiores problemas. Com a aplicação dessa atividade percebemos

que estava havendo maior interação entre os componentes dos grupos e as

respostas das questões estavam sendo socializadas com toda a classe.

A quinta atividade explorava o conteúdo “operações com radicais”, nela o

estudante deveria demonstrar conhecimento prévio nos aspectos instrumentais,

dentre eles: identificar os termos da radiciação, saber simplificar radicais, efetuar

adição e multiplicação de radicais, saber reduzir radicais ao mesmo índice,

reconhecer um triângulo, saber a fórmula para calcular a área de um triângulo, saber

calcular a área de triângulo e de retângulo, identificar a altura e os lados de um

triângulo, saber a relação de Pitágoras, saber calcular o perímetro de um retângulo e

identificar a diagonal de um quadrado, utilizar a fórmula resolutiva para calcular área

de triângulo; e também os aspectos relacionais de: aplicar a relação de Pitágoras

para calcular a área de um triângulo, reconhecer e relacionar áreas e perímetro de

figuras planas, reconhecer o fator racionalizante de uma fração com denominador

irracional e saber aplicá-lo corretamente em cada caso, comparar área de retângulos

quando a medida dos lados é um número em forma de radical, compreender e

aplicar quando necessário a relação de Pitágoras para calcular a diagonal de um

quadrado.

Essa atividade foi desenvolvida em dois encontros, e pudemos perceber a

real dificuldade que os estudantes têm na base do ensino da Matemática. Alunos da

1ª série do Ensino Médio apresentando dúvidas e confundindo perímetro de

retângulo com área, área com perímetro, não deveria acontecer. No primeiro

encontro os alunos reunidos em grupos resolveram as três primeiras questões da

atividade, e no segundo as três restantes.

Os alunos demonstraram pouca habilidade nas operações com radicais,

principalmente com a racionalização de denominadores de frações dos tipos 3

2

x e

52

5, nesses dois casos eles tinham dificuldades em determinar o fator

racionalizante. No segundo caso, quando encontravam o fator racionalizante,

esqueciam o procedimento para calcular o produto notável resultante. Percebidos

esses obstáculos de ordem epistemológica, passamos a orientá-los grupo a grupo.

Superados os obstáculos individuais apresentados sobre os conteúdos

explorados, passamos a retomar todas as questões no quadro, com os estudantes

Page 104: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

104

resolvendo-as, e em seguida fizemos uma explanação das técnicas de

racionalização de denominadores de frações discutindo caso a caso — com o uso

de retroprojetor e de transparência.

A sexta atividade que explorava semelhança de figuras não foi trabalhada no

grupo participativo 2.

A sétima atividade explorou o cálculo de raiz quadrada por aproximação.

Iniciamos essa atividade com um tópico da História da Matemática e demos

seqüência orientando como utilizar a regra para calcular a 1ª e a 2ª aproximações. O

conteúdo explorado, por ser de grande abstração, exigia do estudante

conhecimentos prévios sobre aspectos instrumentais e saberes básicos da

matemática, como: saber somar, multiplicar e dividir com números inteiros, saber os

procedimentos para calcular a aproximação e aplicá-los, saber somar, multiplicar e

dividir números racionais na forma decimal e calcular média aritmética.

Antes de iniciarmos a explicação dos procedimentos para o cálculo de raiz

quadrada por aproximação surgiram alguns comentários, como o da aluna Maria

Juliene: “Professor, esse assunto eu nunca estudei, deve ser difícil.”

Explicamos os procedimentos para se encontrar a raiz quadrada por

aproximação e em seguida solicitamos que eles aplicassem em alguns exemplos e

passamos a acompanhar o desenvolvimento dos estudos grupo a grupo. Nessas

observações percebemos que havia alunos com dúvidas no cálculo da média

aritmética, como por exemplo 2

33,3, as alunas Flávia e Samara não sabiam fazer e

precisaram da nossa ajuda para explicar como se procedia para somar um número

decimal com um número inteiro. Surgiram outras dúvidas, mas foram dirimidas no

decorrer da aula.

No desenvolvimento da atividade verificamos que o maior obstáculo

encontrado não era no entendimento da regra para calcular a raiz quadrada por

aproximação e sim nas operações fundamentais, provavelmente por falta de prática

do cálculo mental ou mesmo da tabuada de multiplicar e dividir.

Concluindo, podemos considerar a atividade proveitosa, pois serviu de

incentivo aos estudantes no que refere ao cálculo mental e todos participaram

ativamente superando os obstáculos e alcançando os objetivos propostos.

A oitava atividade apresentava a irracionalidade da raiz quadrada de dois

( 2 ), por ser um conteúdo que exige um alto grau de abstração resolvemos fazer

Page 105: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

105

apenas a demonstração acompanhada de tópicos da história sobre a descoberta de

grandezas incomensuráveis. A demonstração foi realizada com o uso de

retroprojetor e transparências. No final os estudantes disseram que o professor de

Matemática deles já tinha feito a demonstração em sala de aula.

A nona atividade abordava o conteúdo de equações irracionais, assunto esse

que consta no currículo oficial para a 8ª série do Ensino Fundamental e também é

apresentado nos livros didáticos para a referida série.

Na perspectiva de nosso estudo essa atividade requeria do aluno

conhecimentos prévios sobre os aspectos instrumentais e relacionais. Destacando-

se dentre os instrumentais: identificar uma equação irracional, saber os

procedimentos para se resolver uma equação irracional, saber resolver equações do

1º e do 2º grau, calcular produtos notáveis. Nos aspectos relacionais destacamos a

compreensão dos procedimentos para se resolver uma equação irracional, saber

identificar outros assuntos necessários à resolução de equação irracional, testar os

resultados para verificar a sua veracidade.

Essa atividade foi desenvolvida seguindo a mesma sistemática das anteriores

e os grupos de estudos passaram a resolver um exercício sobre equações

irracionais. No desenvolvimento das questões percebemos que o grupo formado por

Samara, Ana Cecília, Patrícia e João Andrade apresentava dificuldade em resolver

equação do tipo 3x=x2, pois eles estavam tentando a solução através da aplicação

da fórmula de Báskara e não estavam conseguindo. Explicamos para os estudantes

que poderiam resolver utilizando os procedimentos da fatoração, colocando o x em

evidência. Outros alunos apresentaram obstáculos no cálculo de equação do 2º grau

do tipo x2 - 4x + 3 = 0. Os estudantes Eduardo, Flávia, e Danielli não conseguiram

desenvolver o produto notável (1 – x)2. Observados esses obstáculos

epistemológicos dos alunos, obstáculos esses sobre assuntos matemáticos que

consideramos pré-requisitos a uma abordagem com equações irracionais, passamos

a retomar esses conteúdos caso a caso, em todos os grupos, dirimindo as dúvidas

de acordo com a necessidade de cada aluno.

A atividade foi concluída com os estudantes apresentando as questões no

quadro, com nossa explicação mais detalhada logo em seguida. O envolvimento e a

participação dos estudantes no desenvolvimento das questões propostas, superou

as dificuldades apresentadas no decorrer das aulas. As tarefas foram realizadas e os

objetivos traçados, alcançados.

Page 106: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

106

A décima atividade foi precedida por uma revisão de conteúdos que constam

no currículo oficial e são explorados nos livros de Matemática para a última série do

Ensino fundamental como também são explorados na 2ª série do Ensino Médio.

Dentre eles destacamos: trigonometria no triângulo retângulo para dar aos

estudantes a idéia de seno, cosseno e tangente, orientação de como usar a tabela

trigonométrica e os ângulos de 30º, 45º e 60º como sendo os mais utilizados; os

polígonos regulares; o quadrado; o triângulo e o retângulo e revisamos polígonos

regulares inscritos e circunscritos. Esses assuntos foram explicados com o uso de

retroprojetor e transparências e também foram aplicados exercícios de treinamento

preparados em folha de papel sulfite. Ao discutirmos esses assuntos os estudantes

disseram que o professor de Matemática deles já lhes tinha explicado alguns dos

conteúdos em pauta, o que veio favorecer e contribuir com o andamento dos

estudos.

Destacamos alguns aspectos instrumentais importantes para o

desenvolvimento dessa atividade como: leitura e utilização da tabela trigonométrica,

identificação e reconhecimento de tangente de um ângulo, saber o que é um

polígono, identificar os diversos tipos de polígonos, reconhecer polígonos inscritos e

circunscritos, saber utilizar os instrumentos de desenho, régua e compasso, saber o

que é perímetro de um polígono.

Essa foi uma das atividades que chamou mais a atenção dos estudantes: eles

tinham a curiosidade de saber como se chegou à aproximação de pi que só se utiliza

3,14; por que esse valor e não outro? Essa era uma das indagações.

No desenvolvimento da atividade surgiram algumas dúvidas que foram sendo

tiradas junto aos grupos. Mas também apresentamos um tópico da história de pi que

foi lido pela aluna Beatriz. Partindo da leitura eles puderam perceber que mesmo

tendo sido Willian Jones que introduziu a letra grega como símbolo para

representar o número pi, esse símbolo só veio ser popularizado e conhecido por

meio do famoso Leonhard Euler. A parte histórica foi importante, pois surgiram no

grupo de estudantes dois interessados em ler mais sobre o assunto.

Em conclusão pudemos perceber que as questões propostas foram feitas,

havendo envolvimento e participação de todos os alunos que superaram os

obstáculos apresentados, avançando assim na aprendizagem matemática.

Page 107: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

107

3.4.6 Conclusões sobre a aplicação do Módulo de Ensino

A nossa participação no trabalho de pesquisa, como observador da

intervenção metodológica, a observação e o acompanhamento no desenvolvimento

das atividades de ensino, nos permite tirar as seguintes conclusões:

i. A aplicação das atividades de ensino foi bem recebida pelos alunos, tendo

os dois grupos demonstrado interesse e afetividade em relação a intervenção,

contribuindo assim para o desenvolvimento do trabalho;

ii. A partir da discussão e aplicação da primeira atividade em grupo e feito o

fechamento com esclarecimento do pesquisador, percebemos o interesse dos

alunos em realizar as atividades subseqüentes;

iii. Com o desenvolvimento da seqüência de atividades percebemos que a

intervenção estava favorecendo a aprendizagem dos indivíduos envolvidos,

pois vimos que a dificuldade dos conteúdos apresentados na avaliação

diagnóstica estava sendo superada;

iv. Os alunos demonstraram empenho e interesse em desenvolver as

atividades sobre números irracionais;

v. A estrutura organizacional da escola favorece o desenvolvimento das

atividades e contribui para a aprendizagem dos alunos;

vi. Comparando a atuação dos dois grupos percebemos que a obrigatoriedade

da nota não favorece a aprendizagem do aluno;

vii. O acompanhamento da coordenação pedagógica e equipe técnica ao

trabalho do professor, mantendo diálogo com este e com os alunos,

interagindo entre si, contribui para o desenvolvimento de um trabalho de

qualidade.

viii. A freqüência de forma regular às aulas é fator relevante para melhorar a

aprendizagem dos conteúdos trabalhados.

3.5 Avaliação final

Page 108: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

108

A avaliação de saída ou avaliação final teve como finalidade verificar o

desenvolvimento e a aprendizagem do aluno na sua participação no Módulo de

Ensino e foi composta por questões sobre números irracionais.

A prova escrita contendo seis questões foi aplicada seguindo o calendário

letivo das escolas. O grupo participante 1 teve o teste escrito aplicado no dia nove

de dezembro de 2004, cumprindo assim o calendário de provas da escola referente

ao 4º bimestre, com a respectiva nota registrada no diário de classe. Compareceram

e fizeram a prova 22 alunos.

O grupo participativo 2 teve a prova aplicada no dia 1º de dezembro. Apenas

duas alunas deixaram de fazer a prova: uma não compareceu e a outra alegou que

não tinha interesse em fazê-la.

3.5.1 Objetivos da Avaliação de saída

A prova escrita da avaliação de saída ou final objetivava ao aluno:

Identificar um número irracional;

Aplicar procedimentos para racionalizar denominadores de fração;

Representar geometricamente um número irracional;

Calcular por aproximação raiz quadrada de um número irracional;

Encontrar o termo desconhecido em uma equação irracional;

Verificar a validade da raiz de uma equação irracional;

Interpretar problemas que envolvam números irracionais;

Resolver situações-problema que envolvam número irracional;

Aplicar o teorema de Pitágoras em situações cotidiana;

Calcular o valor aproximado de pi utilizando polígonos inscrito e circunscrito a

uma circunferência.

3.5.2 Critérios para correção e julgamento das respostas dos alunos

Utilizamos os mesmos critérios para julgamento da avaliação inicial na

avaliação de saída. Foram diferentes o número de questões e seus respectivos

valores: na avaliação inicial, foi atribuído um ponto (1,0) para cada uma das dez

Page 109: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

109

questões aplicadas; na de saída, seis questões, sendo que 1,6 para as duas

primeiras e 1,7 para as demais. A classificação conceitual foi realizada o seguindo a

mesma escala intervalar usada para a avaliação diagnóstica.

3.5.3 Questões da prova escrita da avaliação de saída

A prova escrita previamente elaborada foi aplicada aos dois grupos

participativos em datas diferentes obedecendo ao calendário escolar.

Apresentaremos a seguir as questões propostas, respectivos objetivos e

comentários sobre os possíveis aspectos instrumentais e relacionais apontados.

Escola:_________________________________________________________

Aluno (a):_________________________________________Data:___/12/2004

Atividades sobre números irracionais

LEIA COM ATENÇÃO TODAS AS QUESTÕES ANTES DE RESPONDÊ-LAS

Objetivos traçados para a 1ª questão

i) Identificar um número irracional;

ii) Calcular a medida do lado de um quadrado, dado o valor de sua área;

iii) Identificar o fator racionalizante em uma fração com denominadores

irracionais;

iv) Racionalizar uma fração com denominador irracional;

v) Representar na reta numérica um número real, seja ele racional ou

irracional.

Essa questão, dado o seu grau de abstração exige do aluno conhecimentos

nos aspectos instrumentais, tais como: saber extrair raiz quadrada exata,

reconhecimento de um número racional nas formas decimal e fracionária, efetuar a

racionalização, saber representar um ponto na reta numerada, saber simplificar

frações. No aspecto relacional destacamos a representação geométrica de um ponto

na reta, reconhecer quando é necessário e porque racionalizar uma fração,

Page 110: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

110

relacionar um denominador irracional a outro conteúdo matemático, reconhecer e

saber aplicar o conjugado de uma expressão.

1ª) Represente na reta abaixo os seguintes números, exibindo os cálculos e

procedimentos geométricos, e diga quais deles são números irracionais:

a) A medida do lado l de um quadrado de área igual a 9.

b)2

2 c)

9

4

d) - 1 e) 25

3 f) 0,25

A segunda questão tinha tem como objetivo

i) Calcular raiz quadrada de um número irracional por aproximação

A extração de raiz quadrada por aproximação requer do estudante

conhecimentos nos aspectos instrumentais tais como: saber dividir números

racionais, decompor um número em fatores primos, saber multiplicação de radicais,

representar um número composto em produto de potências, simplificar radicais,

calcular média aritmética, aplicar corretamente a técnica de calcular raiz quadrada

por aproximação.

2ª) Calcule por aproximação, exibindo os cálculos, as seguintes raízes quadradas, e

utilize pelo menos uma casa decimal:

a) 7 b) 18

Objetivos da terceira questão

i) Reconhecer uma equação irracional;

ii) Calcular o valor do termo desconhecido de uma equação irracional.

Page 111: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

111

A resolução de equações irracionais requer por parte do estudante

conhecimentos de outros conteúdos como pré-requisitos. O saber desses conteúdos

se enquadra nos aspectos instrumentais e relacionais. Dentre os instrumentais

destacamos: saber identificar, conhecer os procedimentos para resolução de uma

equação irracional, resolver equações do 1º e do 2º grau e calcular produtos

notáveis. Podemos destacar os conhecimentos dentre os aspectos relacionais como:

a compreensão de quando e como aplicar outro conteúdo para resolver equações

irracionais, relacionar equações irracionais com outro conteúdo e testar se a

resposta encontrada satisfaz a igualdade proposta.

3ª) Nos exemplos a seguir, assinale com x as equações irracionais. Depois, escolha

apenas uma dessas equações irracionais e resolva para determinar o conjunto

verdade.

a) x2 ( 5 ) – x = 1 ( ) b) 3 2 4 3 0x x ( ) c) 1 2x x ( )

g) 22 5x x ( ) e) x2 3 5 7x ( ) f) 1x = 7 ( )

Objetivos para a quarta questão

i) Aplicar números irracionais em situações do cotidiano;

ii) Resolver problemas envolvendo números irracionais.

O problema planejado para esta questão representa uma situação

contextualizada do nosso dia-a-dia, onde podemos perceber a aplicação de números

irracionais. Neste caso, o estudante precisa demonstrar conhecimentos sobre

compreensão instrumental e relacional. A compreensão instrumental deve estar

dentre os seguintes aspectos: saber a relação de Pitágoras, reconhecer um número

irracional, calcular raiz quadrada por aproximação, saber aplicar o teorema de

Pitágoras. Destacamos como aspectos relacionais: leitura e compreensão do

enunciado do problema, a discussão do resultado dos pontos de vista teórico e

prático, relacionar números irracionais à situações-problema do cotidiano.

4ª) Ao projetar um prédio um engenheiro indicou a construção de uma rampa para

facilitar a subida de pessoas com dificuldade de locomoção. O piso que a rampa

acessa tem 3m de altura em relação ao andar térreo e a rampa mede 7m

Page 112: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

112

comprimento. Determine a medida da distância horizontal do começo da rampa até a

parede do prédio, e discuta esse resultado do ponto de vista teórico e do ponto de

vista prático.

Objetivos para a quinta questão

i) Aplicar números irracionais em situações-problema do dia-a-dia;

ii) Calcular área e perímetro de quadrado.

A situação a seguir requer do estudante habilidade e conhecimento sobre

compreensão instrumental, a saber: calcular área e perímetro de quadrado, calcular

o lado de um quadrado tendo a medida da área, conhecer a relação de Pitágoras e

reconhecer número irracional. Dentre os aspectos relacionais citamos: saber a

diferença entre medida e unidade de medida, relacionar a medida de um lado de um

quadrado com a medida de sua área, ter a percepção que a área de uma figura

poderá ser calculada pelo processo de contagem.

5ª) A igreja Santa Terezinha, no Tirol, em Natal, cuja construção levou em torno de

seis anos, (1925-1930), é uma das mais tradicionais de Natal, mantém seu piso

original em mosaico, cujo formato está representado na figura a seguir. Sendo a

área da figura sombreada correspondente a 3 u², responda o que se pede: a)

Calcule a área do quadrado ABCD. b) Determine o perímetro da figura ABCD.

Comente sobre as medidas encontradas quanto ao tipo de número.

A B

a

a

C D

Page 113: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

113

Objetivo para a sexta questão

i) Calcular a aproximação de pi utilizando os perímetros dos polígonos inscritos e

circunscritos e uma circunferência.

O desenvolvimento dessa atividade dependia do conhecimento prévio dos

alunos sobre seno, cosseno, tangente, leitura e compreensão da tabela

trigonométrica, saber identificar tipos de polígonos, saber as operações de adição e

multiplicação com decimais, reconhecer ângulos e suas medidas — conteúdos

esses que consideramos como aspectos instrumentais. Os aspectos relacionais que

podemos destacar são: comparar perímetro de polígonos inscritos e circunscritos em

uma circunferência, comparar a aproximação de pi encontrada no dodecágono com

as aproximações calculadas em sala de aula de outros polígonos.

6ª) Com base no que foi discutido nas aulas, encontre um valor aproximado para pi

=r

C

2 usando a figura do dodecágono regular (polígono de 12 lados), como mostra a

figura a seguir. Sabendo-se que: tangente de 15º é 0,27 e o seno é 0,26.

15°

Page 114: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

114

3.5.4 Apresentação dos dados da avaliação de saída em tabelas e gráficos

A seguir faremos a apresentação dos resultados das respostas das questões

da prova escrita da avaliação final e a representação em tabelas e gráficos,

referentes aos dois grupos participantes.

3.5.5 Apresentação gráfica dos dados da avaliação de saída

A correção das provas escritas dos indivíduos dos dois grupos participativos

apresentou os resultados indicados nas tabelas e nos gráficos que se seguem. As

tabelas mostram os dados em valores absolutos e relativos; e os gráficos, além

destes dados, indicam também os conceitos por escala intervalar.

Tabela III - representa os dados apresentados na avaliação de saída do grupo 1.

TC PC E EB total %Nq

N % N % N % N %

1ª - - 20 90,9 2 9,1 - - 22 100

2ª 9 40,9 11 50,0 2 9,1 - - 22 100

3ª 18 81,8 4 18,2 - - - - 22 100

4ª 19 86,4 - - 1 4,5 2 9,1 22 100

5ª 3 13,6 9 41,0 5 22,7 5 22,7 22 100

6ª 8 36,4 1 4,5 4 18,2 9 40,9 22 100

Legenda:

Nq – número da questão

TC – questão certa

PC – questão parcialmente certa

E – questão errada

EB – questão em branco

Page 115: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

115

Tabela demonstrativa IV (Dados da avaliação de saída do grupo 2)

TC PC E EB total %Nq

N % N % N % N %

1ª 2 13,3 4 26,7 5 33,3 4 26,7 15 100

2ª 6 40 5 33,3 4 26,7 15 100

3ª 3 20 6 40 2 13,3 4 26,7 15 100

4ª 10 66,6 3 20 1 6,7 1 6,7 15 100

5ª 3 20 1 6,7 7 46,6 4 26,7 15 100

6ª 14 93,3 1 6,7 15 100

Gráfico V – Valores absolutos e seus respectivos conceitos referentes ao grupo

participativo 1

13

8

2 1

15

02468

10121416

E 0-2,0 D 2,1-4,0 C 4,1-6,0 B 6,1-8,0 A 8,1-10,0

TOTAL

Conceitos

Gráfico VI – Valores absolutos e seus respectivos conceitos referentes ao

grupo participativo 2

Page 116: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

116

03

11

62

22

0

5

10

15

20

25

E 0-2,0 D 2,1-4,0 C 4,1-6,0B 6,1-8,0 A 8,1-10,0

TOTAL

Conceitos

Gráfico VII – Dados apresentados em valores relativos e conceitos do grupo 1

7 13

53

207

100

0

20

40

60

80

100

Po

rcen

tag

em

E 0-2,0 D 2,1-4,0C 4,1-6,0B 6,1-8,0 A 8,1-10,0

TOTAL

Conceitos

Gráfico VIII – Dados apresentados em valores relativos e conceitos do grupo 2

Page 117: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

117

014

50

27

9

100

0

20

40

60

80

100

Po

rcen

tag

emE 0-2,0 D 2,1-4,0 C 4,1-6,0 B 6,1-8,0 A 8,1-

10,0TOTAL

Conceitos

A tabela demonstrativa V apresenta os dados em valores absolutos e relativos

referente às seis questões, considerando as respostas dos alunos, em totalmente

certas, parcialmente certas, erradas e em branco.

Tabela demonstrativa V (Dados da avaliação de saída dos grupos 1 e 2)

TC PC E EB total %Nq

N % N % N % N %

1ª 2 5,4 24 64,9 7 18,9 4 10,8 37 100

2ª 15 40,5 16 43,2 6 16,3 - - 37 100

3ª 21 56,8 10 27,0 2 5,4 4 10,8 37 100

4ª 29 78,4 3 8,1 2 5,4 3 8,1 37 100

5ª 6 16,2 10 27 12 32,5 9 24,3 37 100

6ª 22 59,5 1 2,7 5 13,5 9 24,3 27 100

3.5.6 Comentários sobre as respostas dos alunos na avaliação final

Observando os dados apresentados nas tabelas e gráficos que tratam da

avaliação final, percebemos que no grupo 1 os alunos mesmo tendo respondido à

primeira questão não conseguiram representar geometricamente correto todos os

Page 118: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

118

números indicados, principalmente aqueles que exigiam a utilização de régua e

compasso. No grupo 2, dois alunos conseguiram responder corretamente à questão.

Enquanto que dois alunos do grupo 1 responderam errado, e do grupo 2, cinco

alunos não responderam corretamente, correspondendo a 9,1% e 33,3%

respectivamente, tendo também quatro do grupo 2 que deixaram a questão em

branco.

Na segunda questão o número de acertos foi equivalente nos dois grupos,

ficando em torno de 40% (quarenta por cento). Mas no número de respostas que

consideramos parcialmente corretas, o grupo 1 conseguiu cerca de 50% (cinqüenta

por cento) do total de respostas e, o grupo 2 aproximadamente 33% (trinta e três por

cento) — dois alunos do grupo 1 não responderam essa questão.

Observando as tabelas III e IV verificamos que os alunos do grupo 1 se

saíram melhor do que os do grupo 2 nas questões que abordam equações

irracionais e a aplicação do teorema de Pitágoras — 3ª e 4ª, respectivamente;

enquanto os alunos do grupo 2 superaram em termos percentuais os do grupo 1 na

5ª e na 6ª questões. Essas questões abordaram a resolução de problemas

envolvendo área e perímetro e o cálculo do valor aproximado de usando o método

dos polígonos inscrito e circunscrito.

3.5.7 Análise qualitativa dos dados da avaliação final

A terceira parte da intervenção metodológica foi o pós-teste que denominaram

de avaliação final.

Corrigimos as provas considerando inicialmente o certo ou errado, ou

questões em branco, mas levando em consideração a relevância dos procedimentos

adotados pelos alunos, não nos detendo apenas no resultado final de cada questão.

Atribuímos conceitos e tabulamos os dados em tabelas e gráficos por grupo

participativo e também por agrupamento total de alunos.

Organizamos os dados qualitativamente e passamos a analisá-los

embasados nos conceitos de compreensão instrumental (habitual) e relacional de

Skemp (1993). Os conceitos de compreensão denominados por Skemp de

compreensão instrumental ou (habitual) e compreensão relacional são dois estágios

de conhecimento que estão interligados qualitativamente.

Page 119: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

119

No estágio da compreensão instrumental, o indivíduo consegue resolver as

atividades propostas mecanicamente, não contextualiza e nem consegue relacioná-

las a outros conteúdos, é um conhecimento superficial ligado a fatos concretos e

limitado às situações do próprio saber. Fossa (2001, p. 83), afirma que: “[…] a

compreensão instrumental é não somente útil em certas circunstâncias, mas

também é uma etapa necessária no desenvolvimento da compreensão relacional

desde que o particular e o concreto vêm antes do geral e abstrato”.

A compreensão relacional é um estágio mais avançado do conhecimento.

Nesse estágio o sujeito epistemológico é capaz de resolver um grande número de

atividades, justificando suas respostas, contextualizando e relacionando a outros

conceitos.

Neste trabalho consideramos o aluno no estágio da compreensão relacional

quando consegue abstrair os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais em

cada questão, relacionando-os entre si e, no nível de compreensão instrumental,

quando não consegue resolver a questão percebendo os conceitos envolvidos, os

procedimentos, as atitudes necessárias a resolução da questão.

A categorização em um dos dois tipos de compreensão instrumental e

relacional, comentados neste trabalho nos dá resultados aproximados em termos de

entendimento dos conceitos explorados, motivado pelo caráter qualitativo da

investigação e da subjetividade da interpretação. Desse modo, por exemplo, uma

resposta categorizada em um nível relacional, se o aluno não abstraiu todo o

conteúdo explorado no questionamento atingindo o objetivo proposto, podemos

considerar que ele estaria em uma fase de transição entre os dois tipos de

compreensão.

Para a 1ª questão que requer do aluno conhecimento sobre os conteúdos

conceituais (de números inteiros positivos e negativos, racionais nas formas

fracionária e decimal; irracionais, área de quadrado; raiz quadrada exata;

racionalização de denominadores de frações; identificação e representação de um

ponto na reta numérica) requer também os conteúdos procedimentais como:

procedimento para o cálculo de área e lado de um quadrado, procedimentos para

racionalizar um denominador de uma fração, procedimento para representar

geometricamente um ponto na reta real e, as atitudes de: ler a questão atentamente,

representar na reta, primeiro o ponto indicado por números inteiros, utilizar os

instrumentos necessários à representação geométrica de um ponto, de racionalizar

Page 120: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

120

quando necessário os denominadores das frações indicadas. O aluno que conseguir

atingir este estágio será considerado em um nível de compreensão relacional para a

questão.

Nessa questão dois alunos atingiram satisfatoriamente os objetivos propostos

e apresentaram o entendimento sobre os conteúdos explorando o que estamos

considerando-os no nível de compreensão relacional. Representaram em valores

relativos 5,4% (cinco vírgula quatro por cento), 24 alunos. Aproximadamente 64,9%

(sessenta e quatro vírgula nove por cento) atingiram parcialmente os objetivos

propostos e apresentaram conhecimento fragmentado sobre os conteúdos. Neste

caso estamos considerando-os em um nível intermediário, entre a compreensão

instrumental e a compreensão relacional. Outros 11 alunos, aproximadamente

29,7% (vinte e nove vírgula sete por cento) estão no nível de compreensão

instrumental, do nosso ponto de vista.

A 2ª questão requer do aluno o conhecimento do conceito de número

irracional, os procedimentos de cálculo de raiz quadrada por aproximação e

decomposição de um número em fatores primos, e sua representação em forma de

potência, os conceitos em procedimento para os cálculos das operações adição,

multiplicação e divisão, além da atitude de leitura do enunciado e comparação entre

raízes quadradas.

Nessa questão consideramos que cerca de 40,5% (quarenta vírgula cinco por

cento), ou seja, 15 alunos atingiram o nível de compreensão relacional; 16

aproximadamente 43,2% (quarenta e três vírgula dois por cento) atingiram o nível

intermediário de conhecimento ficando entre a compreensão instrumental e a

relacional; enquanto os outros 6 alunos, 16,3% (dezesseis vírgula três por cento)

ficaram no nível de compreensão instrumental.

A 3ª questão explora o conteúdo conceitual de equações irracionais, requer

do aluno o conhecimento dos conteúdos conceituais de equação do 1º e 2º graus,

produtos notáveis (quadrado da soma e quadrado da diferença de dois termos),

necessita saber os conteúdos conceituais das operações adição e subtração e de

potenciação; requer do aluno o entendimento sobre os conteúdos procedimentais de

como encontrar o termo desconhecido em uma equação irracional, os

procedimentos para a resolução de equação do 1º e do 2º graus, o entendimento

sobre produtos notáveis e o procedimento para o cálculo da adição e subtração.

Essa questão também envolve as atitudes de ler atentamente o enunciado, observar

Page 121: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

121

e escolher a equação a ser resolvida, testar a(s) resposta(s) encontrada(s). Num

percentual de 56,8% (cinqüenta e seis vírgula oito por cento), correspondente a 21

alunos, atingiram satisfatoriamente os objetivos propostos para essa questão,

demonstrando entendimento sobre os conteúdos explorados, dando-nos a condição

de categorizá-los no nível de conhecimento relacional. Aproximadamente 27% (vinte

e sete por cento), totalizando 10 alunos, não entenderam a totalidade dos objetivos e

apresentaram dúvidas em alguns conteúdos explorados na questão, o que nos faz

categorizá-los em um nível intermediário de conhecimento sobre o assunto em

pauta, ficando entre a compreensão instrumental e a relacional e os outros 6 alunos,

16,2% (dezesseis vírgula dois por cento), permaneceram no nível de compreensão

instrumental, o que significa dizer que eles não conseguiram demonstrar

conhecimento sobre o assunto.

A 4ª questão é uma situação-problema que a solução envolve os conteúdos

conceituais do teorema de Pitágoras, equação do 2º grau e a extração de raiz

quadrada por aproximação. Exige do aluno a compreensão do procedimento para

resolução de problemas, equação do 2º grau e decomposição de um número em

fatores primos, requer também a utilização das atitudes de ler e interpretar, testar a

validade da resposta encontrada e discutir o resultado no ponto de vista teórico e

prático. Foram 29 alunos, o equivalente a cerca de 78,4% (setenta e oito vírgula

quatro por cento) conseguiram atender satisfatoriamente o objetivo proposto

demonstrando entendimento no conteúdo explorado, o que nos faz categorizá-los no

nível de compreensão relacional. O correspondente a 8,1% (oito vírgula um por

cento), ou 3 alunos, atingiram parcialmente o objetivo ficando no nível intermediário

entre a compreensão instrumental e a relacional, e os outros 13,5% (treze vírgula

cinco por cento), 5 alunos ficaram no nível de compreensão instrumental.

A 5ª questão é uma situação contextualizada e requer do aluno o

conhecimento sobre os conteúdos conceituais sobre área e perímetro de quadrado,

o teorema de Pitágoras, equações do 2º grau incompletas, racionalização de

denominadores de frações, e o cálculo de raiz quadrada por aproximação. Exige

conhecimento sobre os procedimentos para aplicação do teorema de Pitágoras, os

procedimentos para o cálculo de área e perímetro de um quadrado, e também para

resolver equações do 2º grau incompletas. Oferece condições para as atitudes de

leitura e interpretação de enunciados, escolha de um procedimento adequado para

resolução e testar a solução encontrada.

Page 122: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

122

Nessa questão, 6 alunos, aproximadamente 16,2% (dezesseis vírgula dois

por cento), atingiram satisfatoriamente os objetivos propostos, demonstrando

habilidade e compreensão sobre os conteúdos explorados, conseguindo assim o

nível de compreensão relacional. O equivalente a 27% (vinte e sete por cento), 10

alunos, atingiram parcialmente os objetivos planejados, sendo considerados entre o

nível de compreensão instrumental e o relacional, ou seja, em um nível intermediário

de conhecimento e os outros 21 alunos, cerca de 56,7% (cinqüenta e seis vírgula

oito por cento) foram categorizados no nível de compreensão instrumental.

Finalizando, a 6ª questão refere-se ao cálculo do valor da aproximação de pi

utilizando o método de Arquimedes, ou seja, o método dos polígonos inscrito e

circunscrito em uma circunferência. Para a resolução dessa questão é necessário

conhecimento sobre os conteúdos conceituais das operações de adição,

multiplicação e divisão de números racionais na forma decimal e conhecimento

sobre perímetro.

Page 123: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

123

Cerca de 59,5% (cinqüenta e nove vírgula cinco por cento), 22 alunos,

conseguiram atingir os objetivos propostos de forma satisfatória, apresentando

habilidade nos cálculos. Consideramos esses alunos no nível de compreensão

relacional, um (1) aluno, aproximadamente 2,7% (dois vírgula sete por cento),

conseguiu atingir o nível intermediário ficando entre a compreensão instrumental e a

relacional. 37,8% (trinta e sete vírgula oito por cento), o que representa 14 alunos,

não conseguiram atingir os objetivos planejados, sendo assim, categorizados no

nível de compreensão instrumental.

Com as observações e anotações realizadas durante a aplicação do módulo

de ensino e a realização da avaliação final, percebemos que as atividades de ensino

contribuíram favoravelmente para o desenvolvimento e avanço dos alunos.

CONCLUSÕES DO ESTUDO

A realização de uma pesquisa de doutorado requer que aprofundemos a

temática a qual nos debruçamos ao longo do desenvolvimento do estudo (o ensino e

a aprendizagem dos números irracionais no ensino médio). Tentando responder a

indagação: Será que ao oportunizarmos aos alunos da 1ª série do Ensino Médio um

trabalho com os números irracionais por meio de atividades de ensino haverá uma

aprendizagem mais significativa deste conteúdo? É que construímos este texto o

qual traçamos a seguir as conclusões a que chegamos.

Sendo assim, ao chegarmos às considerações finais de nosso texto

retornamos ao objetivo principal do estudo que foi elaborar, aplicar e avaliar um

módulo de ensino com atividades fundamentadas em propostas construtivistas sobre

números irracionais, aplicado a estudantes da primeira série do Ensino Médio e

efetivado pelas três fases da intervenção metodológica: a avaliação diagnóstica ou

inicial, o módulo de ensino e a avaliação de saída, sendo estas integradas entre si,

ou seja, uma dependendo da outra. Apontamos as seguintes considerações

relevantes sobre o estudo:

Ao fazermos uso dos instrumentos da avaliação diagnóstica, da prova escrita

e das entrevistas, percebemos que o estudante chega à primeira série do Ensino

Médio apresentando pouca habilidade com os números irracionais. Isto se deve

talvez pela abstração do conteúdo e às vezes pelo fato de o educando não tê-lo

Page 124: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

124

estudado nas séries finais do Ensino Fundamental, conforme constatamos nas

entrevistas com os alunos pesquisados — apesar de o conteúdo fazer parte do

currículo oficial e também ser abordado nos livros de Matemática para a sétima e a

oitava séries (atuais oitavo e nono anos do Ensino Fundamental).

A avaliação diagnóstica apontou a necessidade de retomarmos conteúdos

que consideramos relevantes e necessários ao conhecimento do estudante como

pré-requisitos à aplicação dos números irracionais, mesmo não considerando uma

organização linear de conteúdos matemáticos.

A retomada de conteúdos e a aplicação do módulo envolvendo os números

irracionais foram realizadas por meio de atividades de ensino. As atividades foram

fundamentadas em pressupostos construtivistas, as quais favorecem a interação

entre os estudantes no grupo de estudo e no grande grupo, dando a oportunidade

para que eles tirem dúvidas entre si, comentem o desenvolvimento de seus

resultados e façam a socialização para os demais colegas de sala.

Os números irracionais são utilizados nos conteúdos propostos no currículo

oficial de Matemática para as três séries do Ensino Médio e a procura pelas áreas

Tecnológica e Ciências Exatas, no vestibular da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, vem apresentando um grande número de estudantes que faz a

opção por essas áreas e conseqüentemente, a elevada porcentagem de alunos

matriculados na UFRN, em tais áreas. Estas duas indicações já justificam o estudo

deste conteúdo no Ensino Médio.

Partindo do exposto, consideramos que o conjunto dos números irracionais é

extremamente necessário e deve ser incluído no currículo oficial para ser trabalhado

junto a alunos da primeira série do Ensino Médio.

Os conteúdos envolvendo os números irracionais devem ser abordados em

sala de aula embasados em atividades construtivistas, seguindo uma seqüência

didática e desenvolvidas em pequenos grupos de estudo. No grupo, a atividade deve

ser lida e discutida pelos pares para serem dirimidas possíveis dúvidas. Caso

persista alguma dúvida, o professor, coordenador dos trabalhos de sala, entra em

ação junto ao grupo, não para prontamente dar a resposta e sim para fazer

indagações instigando o estudante a pensar sobre a questão e chegar a uma

solução, desempenhando assim um papel de intervenção problematizadora para

favorecer a construção do conhecimento pelo estudante.

Page 125: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

125

A metodologia utilizando atividades construtivas desenvolvidas em pequenos

grupos pode não ser fator decisivo no processo de ensino-aprendizagem, mas torna-

se muito importante e colabora com o desenvolvimento do trabalho. Os estudantes

se envolvem nos estudos e passam a interagir uns com os outros, de forma mais

descontraída, o que favorece a aprendizagem. Esta constatação nos foi possível ao

passarmos um ano letivo desenvolvendo um trabalho pedagógico dessa ordem em

duas turmas do Ensino Médio.

Diante dos obstáculos epistemológicos apresentados pelos alunos das duas

turmas e que foram constatados através da avaliação diagnóstica, vimos que a

aplicação do módulo de ensino por meio de atividades desenvolvidas em pequenos

grupos contribuiu de forma significativa para que os alunos avançassem

gradativamente nos níveis de conhecimentos.

Os dois grupos participativos apresentaram praticamente as mesmas

dificuldades iniciais, a despeito da falta de conhecimentos dos conteúdos

matemáticos básicos, os seja, os conteúdos explorados nas séries iniciais. Essas

dificuldades foram sendo superadas na medida em que as atividades de retomada

de conteúdo iam acontecendo e os aspectos instrumentais e relacionais, explorados.

Dentre os dois grupos percebemos que havia um certo nivelamento em

relação aos obstáculos apresentados inicialmente, mas além dos obstáculos

relacionados ao conhecimento, o grupo 1 apresentou dificuldades de ordem

estrutural e pedagógica da escola.

Sabemos que as atuais condições de trabalho dos professores não favorecem

a eles a busca de alternativas metodológicas para uma prática docente em que os

estudantes tenham a oportunidade de participar mais diretamente do processo de

ensino-aprendizagem, mas é possível sim, fazê-lo em escolas públicas. Ao se propor

um trabalho de interação com os estudantes, a aprendizagem, além de ser

significativa para estes, estimula-os, desafiando-os a buscar respostas que até então

esperavam que o professor lhes fornecesse prontas.

Ao elaborarmos e aplicarmos o módulo de ensino sobre números irracionais,

em turmas de 1ª série do Ensino Médio, tivemos a oportunidade de vermos se

concretizando um tipo de educação em que os estudantes são sujeitos participantes

do processo de ensino-aprendizagem, não de forma apenas a receber algo pronto,

dado pelo professor, mas que a partir das atividades propostas pelo professor, ele, o

aluno, sinta-se instigado a resolver as situações apresentadas, a buscar alternativas

Page 126: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

126

de resolução e principalmente ser co-responsável pela sua aprendizagem, o que

pressupõe um envolvimento maior dos estudantes, estimula sua a freqüência, a

assiduidade às aulas e conseqüentemente uma aprendizagem com mais qualidade.

A avaliação no decorrer do processo, ou seja, durante a aplicação do módulo

de ensino favoreceu a compreensão do estudante, aproximando-o cada vez mais da

compreensão relacional. As anotações e registros dos relatos e perguntas feitas

pelos componentes dos grupos de estudos e também dos registros das falas

individuais colaboraram no sentido de retomarmos conteúdos e avaliarmos passo a

passo a participação e o desenvolvimento de cada um.

Esperamos que este trabalho venha colaborar com a melhoria do ensino e

aprendizagem da Matemática no Ensino Médio e que seja uma possibilidade de

alternativa metodológica para os professores de Matemática desse nível de ensino.

BIBLIOGRAFIA REFERIDA

AABOE, Asger. Episódio da História Antiga da Matemática. São Paulo: SBM,1984.

ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia da prática escolar. Campinas:Papirus, 2000.

ÁVILA, Geraldo. Grandezas incomensuráveis e números irracionais. In: Revista doprofessor de Matemática, nº 5, p. 6-11. São Paulo: SBM, 1984.

BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição para umapsicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005.

BOGDAN, Robert C.; BIKLEIN Sari Knopp. A Investigação Qualitativa emEducação. Tradução: Maria João Alvarez; Sara Baia dos Santos e Telmo MourinhoBaptista Porto Codex: Porto Editora, 1994.

BOYER, Carl Benjamim. História da Matemática. São Paulo: Edgar Blücher LTDA,1974.

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica.Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio. Brasília: MEC/SEMT, 1999.

______. SAEB — Matrizes Curriculares de Referência, Brasília: INEPE, 1999.

______. Departamento de Ensino Fundamental, do Ensino de Primeiro GrauLegislação e Pareceres. Brasília: MEC, 1979.

______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros CurricularesNacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998.

COLL, César. Psicologia e Currículo: Uma Aproximação Psicopedagógica àElaboração do Currículo Escolar. São Paulo: Ática, 1998.

Page 127: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

127

COURANT Richard; ROBBINS, Herbert. O que é matemática? Uma abordagemelementar de métodos e conceitos. Tradução de BRITO, Adalberto da Silva. Rio deJaneiro: Editora Ciência Moderna Ltda, 2000.

D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação Matemática: Da teoria a prática. Campinas:Papirus, 1996.

EVES, Howard. Introdução à História da Matemática. Campinas: ed. Unicamp1995.

FONSECA, Maria da Conceição. Por Que Ensinar Matemática? Presençapedagógica, p. 47-54, mar/abr/1995.

FONTANA, Roseli; CRUZ, Maria Nazaré da. Psicologia e Trabalho Pedagógico.São Paulo: Atual, 1997.

FOSSA, John Andrew. Ensaios sobre a Educação Matemática. Belém: UEPA,2001.

FOSSA, John Andrew. Encontro de Pesquisa Educacional do Nordeste: EducaçãoMatemática. Natal: EDUFURN, 1998.

FRAGA, Maria Lucia. A Matemática na escola primária: uma observação docotidiano. São Paulo: EPU, 1998.

GLASERSFELD, Enest von. Adeus à objetividade. In: WATZLAWICK P; Krieg, Peter.(Orgs.).O Olhar do observador. Campinas, 1991.

GLASERSFELD, Enest von. Construtivismo: Aspectos introdutórios. In: FOSNOT,Catherine Twomey. Construtivismo: teoria, perspectivas e práticas pedagógicas.Porto alegre: Artmed, 1998.

GLASERSFELD, Enest von. Construtivismo radical: Uma forma de conhecer eaprender. Portugal: Instituto Piaget, 1995.

GOMES, M. G.; MORETTI, M. T. A noção de obstáculos em Bachelard e suaimplicação na formação de professores. Santos: Anais do II SimpósioInternacional de Educação Matemática, 2003.

GOULART, Márcio Cintra. Matemática no Ensino Médio. São Paulo: Scipione,1999, v. 1.

GROSSI, Esther Pillar; BORDIN, Jussara. (Org.), Paixão de aprender. Petrópolis:Vozes, 1999.

GUEDY, Denis. O Teorema do Papagaio: Um Thriller da História da Matemática.São Paulo: ed. Schwarcz LTDA, 1999.

GUELLI, Oscar. Contando a História da Matemática: a invenção dos números. SãoPaulo: Ática, 1998.

Page 128: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

128

GUNDLACH, Bernard H. História dos Números e Numerais: Tópicos da História daMatemática para uso em sala de aula v. 1. São Paulo: Atual, 1993.

HOGBEN, Lancelot. Maravilhas da Matemática. Porto Alegre: ed. Globo, 1970.

IGLIORI, Sonia Barbosa Camargo. A noção de “obstáculo epistemológico” e aEducação Matemática. In. MACHADO, Silvia Dias Alcântara. (Org.). EducaçãoMatemática: uma introdução. São Paulo: EDUC, 2000.

KAMII, Constance. Reinventando a aritmética: implicações da teoria de Piaget.São Paulo: Papirus, 1986.

KEIL, Ivete Menetzeder. Fascinação do Estar-Junto. In: GROSS, Ester Pilar;BORDIN, Jussara. Construtivismo Pós-Piagetiano: um novo paradigma sobreaprendizagem, 8ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1999, p.135-143.

LIBÂNIO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: Teoria e Prática. 4 ed.Goiânia, Editora Alternativa, 2001.

LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor adeus professora: Novas experiênciaseducacionais e profissionais docentes. São Paulo: Cortez, 1998.

LIMA, Elon Lages; CARVALHO, Paulo César Pinto; WAGNER, Eduardo;MORGADO, Augusto César. A Matemática do Ensino Médio. V. 1. Rio de Janeiro:SMB, 1998.

LOPES, Regina Maria Gonçalves Pereira. Concepções Pedagógicas e EmancipaçãoHumana: Um Estudo Crítico. In: Selma Garrido Pimenta. (Org.). SaberesPedagógicos e Atividades Docentes. São Paulo: Cortez, 1999

LÜDKE, Menga.; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Pesquisa em Educação:abordagem qualitativa. São Paulo: EPU, 2001.

LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Pesquisa em Educação:Uma Introdução. São Paulo: EPU, 1986.

MIGUEL, Antônio. Três Estudos Sobre História e Educação. Tese de Doutorado:Faculdade de Educação, Campinas: UNICAMP, 1993.

MINAYO, Maria Cecilia de S. (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade.Petrópolis: Vozes, 2002.

MIORIM, Ângela Maria. Introdução à História da Educação Matemática. SãoPaulo: Atual, 1998.

MELO Silvana Martins. Um estudo das relações dos alunos com os saberesmatemáticos escolares. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de MinasGerais. 137p. UFMG, 2003

NIVEN, Ivan Morton. Números: Racionais e Irracionais. Rio de Janeiro: SMB,1984.

Page 129: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

129

PAIS, Luiz Carlos. Didática da matemática: Uma análise da influência francesa. BeloHorizonte: Autêntica, 2001.

PÉREZ, J. C. Números Decimles. Por Que? Para quê? Madrid: Sítesis, 1998.

PIAGET, Jean; GARCIA, Rolando. Psicogénese e história das ciências. Lisboa:Dom Quixote, 1987.

PIAGET, Jean. Psicologia e epistemologia: por uma teoria do conhecimento. Riode Janeiro: Forense Universitária, 1978.

RODRIGUES NETO, Francisco Peregrino. Um estudo sobre a aprendizagem deconceitos algébricos fundamentais. Tese de Doutorado em Educação, 270 f. –Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande doNorte: Natal, 1998.

ROSA, Euclides. As coisas que ensinamos: Mania de Pitágoras. In: Revista doprofessor de Matemática, nº 2, p. 14-17. São Paulo: SBM, 1983.

RUMMEL, F. Introdução aos Procedimentos de Pesquisa em Educação. PortoAlegre. Globo, 1997.

SAVIANI, Demerval. A Nova Lei da Educação: LDB Trajetória Limites ePerspectiva. Campinas: Autores Associados, 2001.

SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia: Polêmicas do nosso tempo. Campinas:Autores Associados, 2000a.

SAVIANI, Demerval. Da Nova LDB ao Novo Plano Nacional de Educação: PorUma Outra Política Educacional. Campinas: Autores Associados, 2000b.

SILVA, Gratuliano Erigoi Alves da. Um estudo sobre a aprendizagem de númerosirracionais no ensino fundamental. Dissertação de mestrado em educação, 138 f.Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande doNorte: Natal, 2002.

SKEMP, Richard R. Psicología del aprendizaje de las matemáticas. Madri:Morata, 1993.

Page 130: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

130

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AMOROSO, C. M. As Idéias Fundamentais da Matemática e outros Ensaios. SãoPaulo: Convívio - USP, 1981.

BRASIL, Departamento de Ensino Fundamental, do Ensino de Primeiro GrauLegislação e Pareceres. Brasília: MEC, 1979.

BIGODE, Antônio José Lopes. Matemática hoje é feita assim. São Paulo: FTD,2002.

BORDEAUX, Ana Lúcia; et al. Matemática na vida e na escola. São Paulo: Editorado Brasil, 2002.

BREJON, M. Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º Graus. São Paulo:Pioneira, 1984.

CANDAU, V. M. Rumo a nova didática. 6ª ed. Petrópolis. Vozes, 1988.

CARVALHO, Dione Lucchesi de. Metodologia do Ensino de Matemática. SãoPaulo: Cortez, 1990.

COULON, Alan. Etnometodologia e Educação. Tradução Guilherme João deFreitas Teixeira. Petrópolis: Vozes, 1995

COULON, Alan. Etnometodologia. Tradução:Ephaim Ferreira Alves. Petrópolis:Vozes, 1995.

CUNHA, Luiz. Antônio. Educação, Estado e Democracia no Brasil. São Paulo:Cortez, 1999.

D’AMBROSIO, Ubiratan. Da Realidade à Ação: Reflexões Sobre EducaçãoMatemática. Campinas: Ed. Summus, 1986.

DANTE, Luiz Roberto. Matemática Contexto e Aplicações. São Paulo: Ática, 1999,v. 1

DANTE, Luiz Roberto. Tudo é matemática. São Paulo: Ática 2002.

DIENES, Z.P.; GOLDING, E. W. A Geometria pelas Transformações. GeometriaEuclidiana. São Paulo: Ed. Herder, 1971

Page 131: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

131

EVES, Howard. Tópicos da história da matemática para uso em sala de aula:Geometria.São Paulo: Atual, 1992.

FOSNOT, Catherine Twomey. Construtivismo: Teoria, perspectiva e práticaspedagógicas. Porto Alegre: Artmed, 1998.

GENTIL, Nelson; et al. Matemática para o 2º grau. São Paulo: Ática, 1996, v. 1.

GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar um Projeto de Pesquisa. São Paulo: Atlas,1993.

GIOVANNI, José Rui; BONJORNO, José Roberto; GIOVANNI JUNIOR José.Matemática Fundamental: Uma Nova Abordagem. São Paulo: FTD, 2002, v. único.

GLASERSFELD, Enest von. Introdução ao Construtivismo Radical. In:WATZLAWICK P. (Org.). A Realidade Inventada. Como Sabemos o CremosSaber? Trad. Jonas P. dos Santos: Editorial Psy, 1994.

GLASERSFELD, Enest von. A Construção do conhecimento. In: SCHNITMAN, D. F;et al. (org.), Novos paradigmas, Cultura e subjetividade. Porto Alegre: ArtesMédicas, 1996.

GLASERSFELD, Enest von. Radical Constructivism in Mathematics Education.Boston: Kluwer Academic Publishers, 1999.

GRESSLER, L. A. Pesquisas Educacionais. São Paulo: Edições Loyola, 1983.

GUELLI, Oscar Uma Aventura do Pensamento: 7ª e 8ª Séries. São Paulo: Ática,2001.

GUILLEN, M. Pontes para o Infinito: o lado humano dos matemáticos. Lisboa:Gradativa, 1998.

IMENES, Luiz Márcio; LELLIS, Marcelo. Matemática para todos. São Paulo:Scipione, 2002.

KAMII, Constance; LIVINGATON, Sally Jones. Desvendando a Aritmética:Implicações Teóricas da teoria de Piaget. Campinas: Papirus, 1995.

KÖCHE, José Carlos. Fundamentos da Metodologia Científica: Teoria da Ciênciae Prática da Pesquisa. 16. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

LIBERMAN, Manhucia Perelberg; et al. Fazendo e Compreendendo Matemática.(7ª e 8ª Séries). São Paulo: ed. Solução, 1996.

LOVELL, K. O Desenvolvimento dos Conceitos Matemáticos e Científicos naCriança, Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.

MACHADO, José Nilson. Matemática e Língua Materna: Análise de ImpregnaçãoMútua. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1998.

Page 132: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

132

MACHADO, José Nilson. Epistemologia e Didática: as Concepções deConhecimento e Inteligência e a Prática docente. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

MACHADO, José Nilson. Matemática e Realidade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

PAIVA, Manoel Rodrigues. Matemática. São Paulo: Moderna, 1995, v. 1.

PEREIRA, Júlio César Rodrigues. Análise de dados qualitativos: estratégiasmetodológicas para as ciências da saúde, humanas e sociais. São Paulo: Fapesp,2001.

PIAGET, Jean. Psicologia da Inteligência. Rio de Janeiro, ZAHAR Editores,1977.

PIAGET, Jean. Psicologia e Epistemologia: por uma teoria do conhecimento. Riode Janeiro: Forense Universitária, 1978.

PIAGET, Jean. A Epistemologia genética sabedoria e ilusões da filosofia:problemas de psicologia genética. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

PIAGET, Jean. Memória e Inteligência. Rio de Janeiro: Artenova, 1979.

PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. Lisboa: Publicações Dom Quixote,1983.

PIAGET, Jean. O estruturalismo. São Paulo: DIFEL,1983.

Piaget, Jean. O possível e o necessário. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

Piaget, Jean; INHELDER, Barbel. A representação do espaço na criança. PortoAlegre: Artes Médicas, 1993.

PILETTI, Nelson. História da Educação no Brasil. São Paulo: Ática, 1995.

RUCKER, R. Infinity and the Mind: The Science and Philosophy of the Infinite.Boston: Birkhäuser, 1982.

SABER, Maria da Glória. Piaget. O diálogo com a criança e o desenvolvimento doraciocínio. São Paulo: Scipione, 1997.

SANTOS, Antônio. R. dos. Metodologia Científica: a Construção do Conhecimento.3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

SANTOS, I. E. dos. Textos Selecionados de Métodos e Técnicas de PesquisaCientífica. 3. ed. Rio de Janeiro: Impetus,2002.

SILVA, Gratuliano Erigoi Alves da. Os Números Irracionais. Monografia deespecialização em Matemática. Departamento de Matemática da UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte: Natal, 2000.

Page 133: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

133

SILVA, J, D; FERNANDES, V.S. Matemática: Coleção Horizontes. São Paulo: IBEP,1999.

SKEMP, R. R. Relational understanding and instrumental understanding. ArithmeticTeacher, p. 9-15, (1978).

SKEMP, R. R. Intelligence, learning and action: A foundation for theory andpractice in education. Chichester: Wiley, 1979.

SKEMP, Richard R. Psicologia del aprendizaje de las matemática. Madri:Ediciones Moratas, 1980.

SKEMP, R. R. What is a good environment for the intelligent learning ofmathematics? Do schools provide it? Can they?. Recherches en Didactique desMathématiques, 257-266, (1981).

SMOLE, Kátia Stocco; KIYUKAWA, Roku. Matemática: Ensino Médio. São Paulo:Saraiva, 1998, v. 1.

TENÓRIO, Robinson Moreira. (Org.). Aprendendo pelas Raízes: alguns caminhosda matemática na história. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1995.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Sistema de Bibliotecas. Normas paraApresentação de Documentos Científicos: citações e notas de rodapé. Curitiba,PR: UFPR, 2002

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Sistema de Bibliotecas. Normas paraApresentação de Documentos Científicos: referências. Curitiba, PR: UFPR, 2002.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Sistema de Bibliotecas. Normas paraApresentação de Documentos Científicos: redação e editoração. Curitiba, PR:UFPR, 2002.

VERGANI Tereza. A surpresa do mundo: ensaios sobre cognição, cultura eeducação. SILVA, Carlos Aldemir da; MENDES, Iran Abreu. (Org.). Natal: editoraflecha do tempo, 2003.

ZABALLA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma propostapara o currículo escolar. Porto Alegre: Artmed, 2002.

ZABALLA, Antoni. A Prática Educativa: Como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Page 134: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

134

APÊNDICE 1 — O Módulo de Ensino

As atividades para o módulo de ensino

1ª ATIVIDADE

Objetivos:

Identificar números primos e compostos;

Decompor um número composto em fatores primos;

Identificar os divisores de um número;

Representar um número como produto de fatores primos;

Escrever um número a partir de um produto de fatores primos.

Conteúdo:

Decomposição de um número em fatores primos.

O que é um número primo?

Quais são os divisores de 17?

Partindo desses dois questionamentos chegamos à conclusão que: número

primo é todo número natural maior do que 1 que tem apenas dois divisores, 1 e ele

mesmo. E que, o número natural maior do que 1 que tem mais de dois divisores é

chamado número composto e sendo assim, pode ser feita sua decomposição em

fatores primos.

Exemplos:

a) Vamos decompor 60 em fatores primos.

Por divisões sucessivas, teremos:

60 2 30 30 2 15 15 3 5 5 5 1,

portanto, 60 = 2 2 3 5

Page 135: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

135

Os números 2, 2, 3 e 5 são os fatores primos de 60

observe a decomposição de 900 em fatores

900 450

2 450 2 225

225 75 25 5

3 75 3 25 5 5 5 1

Portanto: 900 2 2 3 3 5 5

Aplicação:

i) Faça a decomposição dos seguintes números em fatores primos:

a) 700 b) 18 c) 42 d) 500

ii) Escreva o número composto cuja decomposição é dada por:

a) 2 3 5 b) 2 2 3 5 5 c) 5 7 7

2ª ATIVIDADE:

Objetivos:

Reconhecer sentenças matemáticas verdadeiras e falsas;

Reconhecer as variáveis de uma equação;

Identificar a equação do primeiro grau e os seus termos;

Representar simbolicamente uma equação do primeiro grau a partir de

uma situação-problema;

Page 136: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

136

Resolver equações do primeiro grau, aplicando técnicas algébricas;

Resolver problemas envolvendo equações do primeiro grau;

Determinar o conjunto solução de uma equação do primeiro e testar sua

validade;

Interpretar a solução de equação.

Conteúdo:

Equação do 1º grau.

Retomaremos equação do primeiro grau, partindo de situações-problema.

Leia atentamente as situações-problema indicadas a seguir e tente encontrar

uma solução. Em seguida verifique se o resultado que você encontrou satisfaz a

igualdade.

i) Hélio tinha uma certa quantia de dinheiro e foi ao shopping. Lá gastou 3

1

da quantia na compra de um livro, gastou 4

1da quantia na compra de um

CD e ainda ficou com R$ 25,00. Qual era a quantia que Hélio tinha?

ii) O perímetro de um triângulo ABC é 16 cm. A medida do lado AB é igual à

medida do lado AC. A medida do lado BC é 3

2 da medida de AC.

Descubra as medidas dos três lados.

iii) Nas figuras apresentadas a seguir, encontre o valor de x e determine as

medidas dos ângulos em cada caso.

a)2

x

x + 30º

Page 137: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

137

b) Considere r e s : retas paralelas

c)

3ª ATIVIDADE:

Objetivos:

Obter a razão de dois números inteiros;

Expressar uma razão como uma fração, um quociente ou na notação

decimal;

Resolver problemas envolvendo razões;

Determinar razão entre grandezas;

r

s

x + 75º

3x – 25º

x

x

3x + 5º

Page 138: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

138

Identificar uma proporção;

Identificar os termos de uma proporção;

Calcular o termo desconhecido de uma proporção;

Resolver problema com o auxilio de proporção.

Conteúdo:

Razão e proporção

Observe os segmentos seguintes:

Representamos a razão entre os segmentos AB e CD da seguinte forma: CD

AB, ou

AB CD, como CD

AB

36

24

3

2

A razão entre dois segmentos é quociente da medida de um pela medida do

outro, desde que as medidas sejam expressas na mesma unidade.

Dados quatro segmentos:

As razões CD

AB e

GH

EF são iguais:

4

3

8

6

CD

AB

4

3

12

9

GH

EF

Quando quatro segmentos EFCDAB ,, e GH formam a proporção

CB

D

24 cm

36 cm

BA

HA B G

FEDC

6 cm 12 cm

9 cm8 cm

Page 139: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

139

GH

EF

CD

AB, dizemos que os segmentos AB e CD são proporcionais a EF e GH .

Aplicação:

1º) Encontre a razão b

ana sua forma mais simples quando:

i) a = 18 e b = 15 ii) a = 27 e b = 45

iii) a = 21 cm e b = 2,8 m iv) a = 2 semanas e b = 4 dias

v) a = 1 ano e b = 5 meses vi) a = 2 h 30 min e b = 4 h

2º) Seb

a,

2

3encontre as razões:

i)b

ba ii)

a

ba iii)

b

ba iv)

a

ba

Idéia de Proporcionalidade

i) Dona Joselita é costureira. Ela está fazendo camisas encomendadas para

uma instituição. Com 1,40 m de tecido, ela faz duas camisas. Agora ela quer saber

de quantos metros do mesmo tecido precisa para fazer seis camisas? Tente

encontrar a solução para esta situação de duas maneiras diferentes.

ii) Um feirante está vendendo saquinhos com três maçãs ao preço de R$

5,00. Joaquim é dono de uma lanchonete e vai precisar de 36 maçãs para fazer

torta. Quanto Joaquim vai pagar ao feirante para comprar as maças que precisa?

iii) Para percorrer 310 km, o carro de José gastou 25 litros de gasolina. Nas

mesmas condições, José quer saber quantos quilômetros seu carro percorrerá com

50 litros.

Cuidado: nem sempre há proporcionalidade em uma situação. Veja: um jogo

de futebol, dura 90 minutos. Aos 30 minutos de jogo, o placar é 4 x 2. qual será o

placar final?

Page 140: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

140

Nessa situação o tempo de jogo triplica, de 30 para 90 minutos, mas será que

o placar vai triplicar?

O tempo de jogo e placar não são grandezas proporcionais.

Grandeza é tudo aquilo que pode ser medido ou contatado. Por exemplo, são

grandezas: comprimento, tempo, temperatura, massa, preço e idade.

Duas grandezas são ditas diretamente proporcionais quando na medida que

uma cresce a cresce na mesma proporção.

Outras situações envolvendo proporção:

iv) Determine o menor de dois números positivos cuja razão é 10

9, sendo a

diferença entre eles 4.

v) Divida um segmento de reta de 48 cm de comprimento em outros dois

segmentos de razão 3

1.

4ª ATIVIDADE:

Objetivos:

Identificar números irracionais;

Representar geometricamente números irracionais;

Reconhecer a existência de um número decimal ilimitado não-periódico.

Conteúdo

Números irracionais.

i) Utilizando régua e compasso e se possível papel quadriculado,

represente os seguintes números na reta numerada: (sugerimos partir

de um quadrado de lado unitário).

a) 2 b) 3

c) 4 d) 5

Page 141: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

141

5ª ATIVIDADE:

Objetivos

Identificar os termos da radiciação;

Reconhecer e aplicar as propriedades dos radicais;

Simplificar radicais;

Operar com radicais;

Identificar radicais semelhantes;

Reduzir radicais ao mesmo índice;

Identificar o fator racionalizante de uma fração cujo denominador é um

número irracional;

Racionalizar o denominador de uma fração.

Conteúdo:

Radicais: identificação – simplificação – operações.

Racionalização de denominadores

Para a retomarmos estes conteúdos vamos partir de situações envolvendo

figuras planas.

i) Calcule a área de cada uma das figuras a seguir:

a)3 2 cm

5 2 cm

b)

12 cm

3 7 cm3 7 cm

Page 142: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

142

c)

ii) O retângulo a seguir tem área igual a 12 cm2, Obtenha o valor de sua

altura.

h

iii) Obtenha o perímetro p e a área A do retângulo da figura, simplificando os

radicais resultantes:

iv) O lado de um quadrado mede 5 2 cm. Encontre:

a) a área do quadrado ... b) o perímetro ... c) a medida da diagonal ...

v) Um retângulo mede 5 3 m de comprimento e 6 2 m de largura. Outro

retângulo tem 6 3 m de comprimento e 5 2 m de largura.

8 2 cm

2 2 cm

6 2 cm

1+ 18

2 2

Page 143: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

143

a) Qual dos dois retângulos tem a maior área?

b) Encontre o perímetro aproximado desses dois retângulos.

vi) Racionalize os seguintes denominadores:

a)5

5 = b)

22

1 c)

32

10

6ª ATIVIDADE:

Objetivos:

Identificar figuras de mesma forma;

Ampliar figuras

Reduzir figuras;

Reconhecer quando dois triângulos são semelhantes;

Identificar quadriláteros semelhantes.

Conteúdo

Semelhança de polígonos

Para identificar figuras semelhantes os alunos receberam atividades com

figuras de tamanhos diferentes, no item i, cada grupo deverá decidir qual dos

quadriláteros pequenos é semelhante ao grande, justificando a escolha.

O grupo deverá comparar os ângulos de cada polígono pequeno com os

ângulos do grande e também deve medir os lados, comparando-os. Em seguida

foram comentamos as condições para que dois quadriláteros sejam semelhantes.

No item ii, os alunos receberam figuras de triângulos e cada grupo usou os

mesmos procedimentos do item anterior, em seguida foi fizemos um comentário

sobre equivalência de triângulos.

Page 144: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

144

i) Observe os quadriláteros e identifique qual dos quadriláteros pequenos é

semelhante ao grande.

C

A

B

Page 145: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

145

ii) Observem os triângulos indicados abaixo e verifique qual dos

triângulos pequenos é semelhante ao grande.

A

C

B

Page 146: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

146

iii) Observem a figura abaixo e verifiquem se os pares a seguir, são ou

não semelhantes:

ADE e ABC

ADE e AFG

ABC e AFG

iv) Os pontos marcados sobre os lados dos polígonos abaixo dividem

esses lados em duas ou três partes iguais.

Desenhe, em cada uma das figuras, um polígono semelhante ao dado,

usando esquadros e compasso.

7ª ATIVIDADE:

Objetivos:

C

G

B

D

F

E

A

Page 147: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

147

Reconhecer procedimentos para calcular por aproximação raiz quadrada

não exata;

Calcular raiz quadrada por aproximação.

Conteúdo:

Cálculo de raiz quadrada por aproximação

Acerca de 1800 a. C., foi encontrada uma tabuleta de barro, na qual estava

escrito, com estilete, um método para se calcular o valor aproximado da raiz

quadrada de um número. O autor dessa descoberta não é conhecido.

Para obter n , iniciamos com a primeira aproximação a1, escolhida de modo

qualquer. A menos que n seja um quadrado perfeito, tem-se em geral, a1 n .

Então um dos dois números a1,1a

n é menor do que n e o outro é maior. A média

aritmética a2 = 2

1(a1

2a

n), é neste caso, uma aproximação para n , melhor do

que a1 . caso seja solicitada uma aproximação melhor, deve-se encontrar a3, ou seja,

a3 = 2

1 (a2

2a

n) e assim por diante.

Para esta atividade, vamos descrever os procedimento para se encontrar por

aproximação a raiz quadrada dos números 10 e 72,5.

Para o número 10, devemos:

* Procurar um número inteiro positivo que mais se aproxima de 10 por falta:

12 1

22 4

32 9

42 16

3 é a 1ª aproximação

Page 148: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

148

Dividimos o número do qual vai se extrair a raiz quadrada pela 1ª

aproximação. A divisão termina quando o número de algarismos do quociente é o

dobro do número de algarismos do divisor:

10 3

10 3,3

1

A segunda aproximação se obtém calculando a média aritmética entre esse

quociente e a 1ª aproximação, com tantas casas decimais quanto o quociente 3,3

1,32

33,3

O número 3,1 é a 2ª aproximação (o símbolo significa “é aproximadamente

igual a”)

Assim, 1,310

Dividimos 10 por 3,1, que é a 2ª aproximação:

10,0 3,1

0 70 3,225

080

180

25

Calculamos a média aritmética entre 3,1 e 3,225:

162,32

1,3225,3

Page 149: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

149

A 3ª aproximação, 3,162, deve ter tantas casas decimais quanto o quociente

3,225. E assim continuamos até quantas casas decimais quisermos.

Veja como calculamos a raiz quadrada de 72,5 até a segunda aproximação:

52 = 25

62 = 36 72,5 8,0

72 = 49 0 50 9,0

82 = 64 8 é a 1ª aproximação

92 = 81

5,82

80,92ª aproximação

Então, .5,85,72

Exercício proposto:

i) Calcule cada raiz quadrada até a 2ª aproximação. Use como aproximação

um número inteiro.

a) 5 b) 11 c) 17

d) 8 e) 8 f)

Page 150: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

150

8ª ATIVIDADE:

Objetivo:

Reconhecer a irracionalidade de raiz de dois.

Para essa atividade, fizemos uma apresentação da irracionalidade de 2

Começamos supondo que existisse uma fração irredutível m/n tal que

2 =n

m. Então:

22

2

2

22 nmn

m

Daqui segue-se que m2 é um número par, portanto o mesmo é verdade para

m, isto é, m = 2r, sendo r outro número inteiro. Substituindo m = 2r em m2 = 2n2

obtemos:

2222 224 rnnr

Mas esta última relação nos diz que n2 é número par, logo n também é par.

Chegamos a um absurdo, pois m/n é fração irredutível, não sendo possível que m e

n sejam ambos pares. Somos, assim, forçados a rejeitar a suposição inicial de que

2 seja um número racional m/n.

A demonstração que acabamos de dar está baseada num argumento, que

segundo Aristóteles, teria sido usado na descoberta de grandezas incomensuráveis.

É um argumento que encerra um alto grau de abstração, razão pela qual muitos

historiadores da Ciência acreditam que a descoberta dos incomensuráveis tenha

ocorrido com um raciocínio mais concreto, como o argumento geométrico.

Page 151: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

151

9ª ATIVIDADE:

Objetivos:

Identificar uma equação irracional;

Calcular o termo desconhecido em uma equação irracional;

Identificar raízes estranhas;

Verificar a validade do resultado encontrado.

Conteúdo:

Equações Irracionais

Quando uma equação tem uma variável, ou variáveis no radicando, então ela

é chamada de equação irracional. Ex.:

a) 2x = 5 b) 42x = 12x c) 3 x - 10 = 6 d) x – 1x =

1

Exercício proposto:

1) Nos exemplos abaixo, indique as equações irracionais?

a) 5 . x2 – x = 1 b) 3 2 4 3 0x x c) 1 2x x

d) 7 3x e) 0 35 272

xf) 3 3 1x x

g) 22 5x x h) 7 61 3 1x i) 23 5 7x x

j) 3 0 39 3 8x

Page 152: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

152

2) Como são chamadas as equações que tem incógnitas no radicando?

RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES IRRACIONAIS

Na resolução de equações irracionais em R , devemos proceder do seguinte

modo:

Isolamos um dos radicais em um dos membros da equação dada.

Elevamos os dois membros da equação a um expoente conveniente.

E se ainda restar um ou mais radicais, devemos repetir as operações

anteriores.

Verificas as soluções encontradas.

RAÍZES ESTRANHAS

Quando elevamos os dois membros de uma equação a um mesmo expoente

par, a equação que obtemos tem, em geral, raízes estranhas à equação original.

Acompanhe essa verificação:

Resolvendo a equação x – 3 = 0 temos como conjunto verdade V = {3}.

· Agora, isolando x e elevando ambos os membros ao quadrado, temos:

x – 3 = 0 x = 3 x2 = 32x2 = 9 x = 9 x = 3

cujo conjunto verdade é V = {– 3; 3}. Então, podemos concluir que:

Na resolução de uma equação irracional com radical de índice par,

devemos fazer uma verificação da validade das raízes encontradas na equação

original e em seguida fazer a eliminação das raízes estranhas.

Exercícios resolvidos:

Page 153: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

153

1) Qual é o conjunto solução da equação

Resolução:

1 7x2

21 7x 1 49x 49 1x 48x

Verificação:

1x = 7 148 = 7 49 = 7 7 = 7 (sentença verdadeira)

2) Resolva a equação 7 4 2 3x x .

Resolução: Elevamos ao quadrado os dois membros da equação.

7 4 2 3x x2 2

7 4 2 3x x2

27 4 2 2.2. 3 3x x x

7 4 4 4 3 3x x x

Agora, isolamos o termo com radical num dos membros, elevamos ao quadrado

novamente e resolvemos a equação obtida:

4 3 3 7 4 4x x x 4 3 4x x :4 3x x2 2

3x x

23x x x.(x – 3) = 0 x = 0 ou x -3 = 0; x = 3

verificação:

7.0 4 2 3.0 7.3 4 2 3.3

4 2 25 2 3

2 = 2 (verdadeira) 5 = – 1 (falsa)

Logo: S = {0}

Exercício proposto:

Page 154: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

154

3) Qual é o conjunto solução da equação irracional 3x = 7

4) Qual é o conjunto solução da equação irracional 4 = 1x

5) Para quais valores de x as expressões 22 1x e 1 x são iguais?

6) Determine o valor de x nas equações abaixo:

a) 2x = 5

b) 3 2 4 3 0x x

10ª ATIVIDADE:

Objetivos:

Reconhecer o número pi;

Calcular o valor aproximado de pi, usando polígonos inscrito e circunscrito.

Conteúdo:

Cálculo do valor de pi pelo método utilizando polígonos Inscrito e circunscrito.

Procedimentos para inscrever e circunscrever um hexágono numa

circunferência usando régua e compasso

Page 155: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

155

Pi: Um pouco de História sobre pi

Fig. 1

Trace uma circunferência, com uma abertura

qualquer do compasso, como mostra a figura

1.

Com a mesma abertura do compasso marque

pontos eqüidistantes na circunferência. Fig. 2

Fig. 2

60

Fig. 3

Fig. 4

Usando régua una os pontos como

mostra a figura 3.A partir do centro, trace um triângulo

formando um ângulo de 60º

Page 156: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

156

O número pi é a constante matemática que representa a relação entre a

extensão da circunferência de um círculo e seu diâmetro. Por isto, sempre que

dividimos o comprimento de qualquer circunferência pelo seu diâmetro, obtemos o

mesmo número: Pi.

O símbolo que usamos hoje para representar essa constante é a letra do

alfabeto grego pi, que foi introduzida em 1706 pelo escritor e matemático inglês

Willian Jones. Mas, este símbolo se tornou conhecido e popularizado por meio do

famoso matemático suíço Leonhard Euler no século XVIII.

Arquimedes de Siracusa, um dos maiores matemáticos de todos os tempo,

estabeleceu rigorosamente a equivalência entre ambas as razões no seu tratado

Medição de Círculo.

Todas as tentativas de calcular o número pi realizadas na Europa até

meados do século XVII se basearam nos princípios de Arquimedes.

Citamos neste trabalho quatro métodos de se calcular os dígitos de pi:

1- Obtenção da extensão da circunferência por meio de polígonos de n-

lados inscritos e circunscritos.

2- Mediante a utilização de séries estatísticas.

3- Aráveis de procedimentos analíticos e geométricos e

4- Por meio de ordenadores (IBM 1620 Universidade de Deusto)

O primeiro cálculo teórico do número pi foi feito por Arquimedes de Siracusa.

Ele determinou que este número seria delimitado pela equação,223

71< pi <

22

7. Para

isto Arquimedes se baseou no fato da largura da circunferência ter obrigatoriamente

que estar compreendida entre o perímetro de um polígono regular que circunscreve

e outro que estivesse inscrito na mesma.

Chamando c a circunferência do círculo e d o diâmetro, sabemos que: c =

d, quando o diâmetro é igual a unidade (o raio é igual a 1

2). A seguir, na figura 1

está representado um polígono de 6 lados equivalentes, circunscrito a um circulo de

diâmetro igual a unidade (r = 1

2). È evidente que tal polígono é constituído 2n

Page 157: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

157

triângulos retângulos, cada um deles tendo um ângulo  (central e valendo, 360º

2n) e

um cateto igual à metade do lado do polígono circunscrito. Assim, o perímetro do

polígono circunscrito (Pc), será igual a 2n vezes p. pela figura temos:

p = 1

2tg

360º

2n, Pc = n . tg

360º

2n, como na figura 5, temos um

hexágono regular n =6, teremos:

Pc = 6 . tg 360º

12 = 6 tg 30º = 6 (0,58) = 3,48

Neste caso o ângulo  = 3607

2n

No polígono de 6 lados equivalentes, temos

DA

r

B

EF

C

r r r

r

rrrr

r

r

r

b = r

Ah

p

Fig. 5

A

Page 158: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

158

p

r = tg A se r =

1

2, p = tg

360º

2n e sen =

p

r , se r =

1

2, p = sen

360º

2n

A figura 6, mostra também, que o perímetro (Pi) do polígono inscrito de n

lados equivalestes, pode ser expresso da seguinte maneira:

Pi = n sen360º

2n, no nosso caso, o polígono é um hexágono, teremos:

Pi = 6 sen360º

12 = 6 sen30º = 6 (0,50) = 3,00

sen =p

r , se r =

1

2, p = sen

360º

2n

Neste caso estará incluído entre os valores limites, 3, 00 e 3,48 o que

equivale dizer que = 3,24.

Aumentado o número de lados do polígono, obtêm-se valores ainda mais

aproximados para pi

B

h = r

p

b

A

A

60

D

C

EF

Fig. 6

Page 159: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

159

´

2

p p

Curiosidade sobre o número (pi)

1. Arquimedes (287-212 a.C.) mostrou que o valor da razão entre o diâmetro e o

comprimento da circunferência estava entre 3 + 1

7 e 3 +

10

7.

2. O símbolo usado para a razão entre o diâmetro e o comprimento da

circunferência somente foi introduzido no século XVIII.

3. O valor de correto com 10 dígitos decimais foi usado no cálculo do

comprimento da linha do Equador terrestre.

4. Uma vez conhecida uma unidade de comprimento, é impossível construir um

segmento de comprimento Pi através de régua e compasso.

5. O número exerce um papel muito importante na Matemática e nas ciências,

predominantemente quando determinamos perímetros, áreas, centros de

gravidade, informações sobre segmentos e setores circulares e elípticos,

inclusive em cálculos de navegação, etc.

6. Com o uso de computadores, já foi realizado o cálculo do valor aproximado de

com mais de cem mil dígitos decimais.

Detalhes sobre o cálculo de Pi: De modo análogo ao resultado obtido

através do limite de polígonos regulares inscritos também podemos aproximar o

perímetro e a área do círculo de raio r, pelo valor limite de polígonos regulares

circunscritos no círculo quando o número de lados desse cresce arbitrariamente.

Exercício resolvido

1) Cálculo de pi utilizando a média dos perímetros dos polígonos inscritos e

circunscritos.

=

p´ é o perímetro do polígono circunscrito e p é o perímetro do polígono inscrito.

Page 160: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

160

360

8

4 2,8

2

Para o quadrado circunscrito, temos: tangente de 45º igual a 1, e seno de 45ºigual a 0,7.

O perímetro do quadrado circunscrito é dado por:

p´ = 4 . tg

4. tg 45º p´ = 4 . 1 p´= 4

p = 4. seno 45º p = 4. 0,7 p = 2,8

=

= 3,4

Exercício proposto

Sabendo-se que a tangente do ângulo de 18º é 0,33 e o seno é 0,31. Calcule

o valor aproximado de (no decágono), polígono de 10 lados.

B

A D

C

r

L

l4

r

Page 161: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

161

APÊNDICE 2 — OS NÚMEROS REAIS

Este apêndice objetiva discutirmos a importância do número para as

atividades da humanidade e sua relevância para este trabalho. Nele apresentaremos

uma discussão sobre o conjunto dos números reais, conjunto numérico pelo qual se

desenvolve o ensino da Matemática nos níveis Fundamental e Médio. Destacaremos

os subconjuntos numéricos enfatizando os racionais. Enfocaremos os irracionais,

discutindo a apresentação da clássica demonstração de raiz quadrada de dois, e a

obtenção de raiz quadrada de dois por aproximação com e sem o uso da

calculadora. Expressaremos o método para calcular a raiz quadrada de um número

irracional, descreveremos os procedimentos para obtenção gráfica de um número

irracional, e enfocando sua trajetória histórica do número irracional transcendente PI,

discutiremos o teorema de Pitágoras e sua importância nos estudos dos números

irracionais. Finalizaremos com uma exposição sobre equações irracionais.

Representação dos números inteiros

Os números inteiros são representados por símbolos como 6, II, XIX, mas é

necessário distinguir um símbolo qualquer indicado para representar um número

inteiro, de um inteiro. No sistema decimal, os dez símbolos de dígitos, 0, 1, 2, 3, 4, 5,

6, 7, 8, e 9, são utilizados para representar os nove inteiros positivos e o zero. Um

inteiro maior como duzentos e sessenta e cinco, pode ser expresso da seguinte

forma: 200 + 60 + 5 = 2 102 + 6 10 + 5, que é representado no sistema decimal pelo

símbolo 265. (COURANT; ROBBINS, 2000, p 5 - 7).

Nesse caso, o significado dos algarismos 2, 6 e 5 depende de sua posição

nas ordens, ou na casa das unidades, dezenas ou centenas. Com essa notação

posicional podemos representar todo e qualquer inteiro usando os dez algarismos

em combinações diferentes. Para representar um número inteiro com três ordens

usamos a regra geral expressa na forma, Z = a 103 + b 102 + c 10 + d, onde o

inteiro Z é o símbolo abreviado e os dígitos a , b, c, d, são inteiros de zero a nove.

Como as potências de dez podem ser muito altas se faz necessário representar com

uma potência de expoente n, 10n, sendo n considerado um inteiro arbitrário. Assim,

Page 162: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

162

para representar um inteiro qualquer no sistema decimal, utilizamos a forma:

Z = an 10n+ an – 1 10n – 1+ a1 10+ a0

Os números racionais

Os números naturais, representados simbolicamente por N, são fechados em

relação às operações de adição e multiplicação e que os inteiros, Z são fechados em

relação à adição, multiplicação e subtração, mas nenhum desses dois conjuntos é

fechado em relação à divisão. A divisão de inteiros pode produzir frações do tipo

5

4,

2

7,

4

5,..., o conjunto de todas as frações é o conjunto dos números racionais, ou

seja, um racional, (ou uma fração ordinária) é um número que pode ser colocado na

formab

a, onde a e b são inteiros e b é diferente de zero, Niven (1984).

Representação dos irracionais, Q ={b

a, com a, b Z e b 0}.

Comensurabilidade

A palavra comensurável significa medida comum n

mQ, ou seja, a razão entre

dois comprimentos m e n como sendo um numero racional. Assim, para uma

definição de segmentos comensuráveis, considera-se AB um segmento de reta que

se quer medir. Para tanto, é necessário compará-lo com um segmento padrão u,

denominado segmento unitário. Por definição, a medida do segmento u é igual a 1.

Estipularemos ainda que, segmentos congruentes tenham a mesma medida e que n

-1 pontos interiores decompõe AB em n segmentos justapostos, daí que a medida

de AB, será igual à soma das medidas desses n segmentos. Se todos os segmentos

parciais forem congruentes a u, diremos que u cabe n vezes em AB e a medida de

AB (que representamos por AB) será igual a n. Observar figura 1, em que n = 5.

A B UFig. 1

Page 163: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

163

Pode ocorrer o caso em que o segmento unitário não cabe um número exato

de vezes em AB, o segmento que se quer medir. Por exemplo, se AB for menor do

que a unidade u, então a medida de AB não será um número natural. Mas esta

situação conduz a uma medida fracionária, como mostramos a seguir.

Tomamos um pequeno segmento de reta v, que caiba n vezes no segmento

unitário u e m vezes em AB. Este segmento v será então uma medida comum de u e

AB, isto é, um submúltiplo comum a AB e u. Encontrado v, diremos que AB é

comensurável com u. A medida de v será a fração n

1 e nv = u ou

nn

uv

1 e AB =

mv AB = n

m, m, n N e n 0 (LIMA, et all 1998, p. 52-53).

A figura 2 ilustra o caso para n = 2 e m = 11. Logo: AB = 2

11

Na prática, como temos um limite de percepção visual — até mesmo os

instrumentos mais sensíveis de aferição têm precisão limitada — “sendo incapazes

de distinguir dois pontos que, embora distintos, achem-se situados a uma distância

inferior a esse limite, tudo se passa como se dois segmentos quaisquer fossem

sempre comensuráveis” (LIMA, 1991, p.3). Porém, nem sempre dois segmentos de

reta são comensuráveis.

Incomensurabilidade

As circunstâncias que nortearam a identificação da incomensurabilidade e a

época em que foi descoberta são incertas. Eves (1995) e Ávila (1984), associam

essa descoberta aos filósofos e matemáticos gregos, por volta de 450 e 400 a.C.,

provavelmente feita pelos pitagóricos, membros de uma escola filosófica que

acreditavam que tudo poderia ser representado por números naturais ou por uma

razão entre números naturais. Para esses historiadores, a descoberta partiu de um

VA B U

Fig. 2

Page 164: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

164

argumento geométrico, não se saber ao certo se da constatação de que o lado e a

diagonal de um quadrado de lado 1 são segmentos incomensuráveis. Figura 3.

Isto significa, geometricamente, que não existe uma unidade de comprimento

comum ao lado e a diagonal de um quadrado. Como por exemplo: “não há uma tira,

por mais curta que seja, que possa ser colocada um número inteiro de vezes sobre o

lado e a diagonal de um quadrado” (NÍVEN, 1984, p. 2). Conclui-se, assim que, os

números naturais, ou a razão entre dois deles, não seriam suficientes para

representar todas as relações de grandezas da natureza. Boyer (1974, p. 54), afirma

que: “Aristóteles se refere a uma prova de incomensurabilidade da diagonal de um

quadrado com seu lado, indicando que se baseava na distinção entre pares e

ímpares”.

Segundo Boyer há outras maneiras pelas quais a incomensurabilidade pode

ter sido descoberta, dentre essas se encontra a possibilidade do pentágono regular,

já que traçando as cinco diagonais do pentágono regular elas formam um novo

pentágono regular menor e assim por indefinidamente. Esse mesmo pensamento é

apresentado por Miguel (1993).

Fig.3

1

Fig.4

Page 165: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

165

A descoberta de incomensuráveis acarretou a necessidade de se estabelecer

uma nova teoria das proporções que independesse da comensurabilidade, o que foi

feito por Eudóxo (c. 370 a. C), segundo (GUNDLACH, 1993).

Uma conseqüência da existência de grandezas incomensuráveis é a

existência de pontos na reta sem abscissas racionais, como é mostrado na figura 5.

Com referência a essa figura, tomando-se OP = AO, onde AO é a diagonal de

um quadrado de lado unitário OU, como OP e OU são incomensuráveis, não é

possível expressar a razão OU

OP como um número racional.

Pelo teorema de Pitágoras, chega-se ao número que será a abscissa de P, ou

seja, 222 UAOUAO , como OPAO e 1OUUA , obtém-se 22 2OUOP ,onde

2OP , esta é a abscissa de P, tomando-se OU como unidade de comprimento.

Irracionalidade de 2

Considerando-se que 2 é um número racional, ele poderá ser representado

pela fração n

m , que por suposição é irredutível, ou seja, em que m e n são primos

entre si, e em que, portanto, m e n são números naturais. Então,

n

m2 ou seja, 2

2

2

n

m e 22 2 nm

Então m2 será par (pois é o dobro de n2). O mesmo acontece a m pois,

quando o quadrado de um número é par, o número é par, mas se a fração n

m é

Fig.5

A

PUO

x

Page 166: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

166

irredutível n terá de ser um número ímpar. Por outro lado, se m é par existe um

número natural t tal que m = 2t. Substituindo este valor em,

22

2

n

m, daí resulta em: 2222

2

2

22424

tnntn

t

Então, n2 será par (pois é o dobro de t2), e n é par, pois só o quadrado de um

número par é um número par.

Quer dizer, se existisse a fração n

m irredutível, n teria de ser par e ímpar ao

mesmo tempo. Ora, isso é impossível. Conclui-se então que não pode existir o

número racional,

n

m tal que 2

n

m

Quer dizer que n

m não é um número racional; é pois um número irracional, ou

seja, que 2 é um número irracional, (ÁVILA, p. 10).

Irracionalidade de 3

Niven (1984, p. 66), apresenta a demonstração da irracionalidade de 3

seguindo os mesmos procedimentos utilizados para a demonstração da

irracionalidade de 2 , com exceção do importante argumento que envolve o critério

de divisibilidade por 3. Como ilustração do seu processo vamos aplicá-lo à prova de

que 3 é um número irracional.

Supondo que 3 seja um número racional, portanto: 3 =b

a, com a e b

inteiros, considerando ainda, que b

a seja irredutível e de modo que a e b não sejam

ambos divisíveis por 3. Elevando a equação ao quadrado, obtemos:

( 32 =

2

b

a2

2

3b

a 22 3ba . Como o inteiro 23b é divisível por 3, 2a

também é divisível por 3, neste caso, a é divisível por 3, fazendo a=3c, onde c é um

Page 167: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

167

inteiro e substituindo a por 3c na equação 22 3ba , chegamos a 22 3)3( bc

22 39 bc bc23 , sendo assim b2 é divisível por 3 e, portanto, b é divisível por

3. Assim, pode-se concluir que a e b, ambos são divisíveis por 3, contrariando a

hipótese inicial de que b

a é irredutível. Conclui-se que 3 é irracional.

Raiz quadrada de dois por aproximação sem o uso da calculadora

O matemático grego Eudóxo (500 a .C), provavelmente foi o primeiro a lidar

de modo preciso com grandezas incomensuráveis e teria desenvolvido uma teoria

que pode ser escrita da seguinte maneira “para conhecer um número irracional x

basta conhecer os números racionais menores do que x (suas aproximações por

falta), e os números racionais maiores, (aproximações por excesso)”. Lima (1991).

Fig.6

Na figura 5, pelo teorema de Pitágoras temos: a área do quadrado A é igual à

soma das áreas dos quadrados B e C, ou seja:

A = x2

B = 12 = 1

C = 12 = 1

Assim, podemos escrever a equação x2 = 1 + 1, ou x2 = 2

O numero x, que satisfaz a equação formada, representa a raiz quadrada do

número 2, sendo assim, x = 2 .

x

x

x

1

1

1

1

1

1C

B

A

Page 168: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

168

No universo dos números racionais, podemos encontrar somente um valor

aproximado para o comprimento do lado x do quadrado de área 2.

O número 2 está entre os quadrados perfeitos 1 e 4. como 1 = 12 e 4 = 22 o

valor procurado está entre 1 e 2. assim, podemos fazer:

(1,1)2 = 1,21 < 2

(1,2)2 = 1,44 < 2

(1,3)2 = 1,69 < 2

(1,4)2 = 1,96 < 2

(1,5)2 = 2,25 > 2

Observamos que 1,4 < 2 < 1,5. Para descobrirmos a segunda casa decimal

utilizamos o mesmo procedimento:

(1,41)2 = 1,9881 < 2

(1,42)2 = 2,0164 > 2, então 2 está entre 1,41 e 1,42. Prosseguindo no

cálculo, teremos:

(1,411)2 = 1,990921 < 2

(1,412)2 = 1,993744 < 2

(1,413)2 = 1,996569 < 2

(1,414)2 = 1,999396 < 2

(1,415)2 = 2,002225 > 2

Assim, observamos que 2 está entre 1,414 e 1,415. Se continuarmos com o

cálculo, vamos chegar a um valor aproximado a 1,414213562... para 2 .

Na figura 12, esse valor corresponde à medida do lado representado por x no

quadrado de área A = 2. As desigualdades 1,414 < 2 < 1,415 significam que 1,414

é um valor aproximado por falta, e 1,415 é um valor aproximado por excesso para o

número irracional 2 .

Desde que 1,414 – 1,415 = 0,001, isso significa que substituindo-se 2 por

qualquer um desses dois valores aproximados, o erro cometido será inferior a 0,001

(um milésimo).

Método para calcular um valor aproximado de raiz quadrada de um número

Page 169: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

169

Há aproximadamente 1800 a.C., foi encontrada uma tabuleta de barro, na

qual estava escrito, com estilete, um método para se calcular o valor aproximado da

raiz quadrada de um número. O autor dessa descoberta é desconhecido.

Para obter n , iniciamos com a primeira aproximação a1, escolhida de modo

qualquer. A menos que n seja um quadrado perfeito, tem-se em geral, a1 n .

Então um dos dois números a1,1a

n é menor do que n e o outro é maior. A média

aritmética a2 = 2

1(a1

2a

n), é neste caso, uma aproximação para n , melhor do que

a1. Caso seja solicitada uma aproximação melhor, deve-se encontrar a3, ou seja, a3

=2

1 (a2

2a

n) e assim por diante.

Para calcularmos a raiz quadrada aproximada de um número, devemos seguir

os seguintes passos:

i) Devemos procurar um número inteiro positivo cujo quadrado mais se

aproxime do número dado;

ii) Dividimos o número do qual se quer extrair a raiz quadrada pela

primeira aproximação. A divisão termina quando o número de

algarismos do quociente é o dobro do número de algarismos do divisor;

iii) A 2ª aproximação se obtém calculando a média aritmética entre esse

quociente e a primeira aproximação, com tantas casas decimais quanto

o quociente.

Seguindo o procedimento anterior, podemos calcular a aproximação com o

número de casas decimais que desejarmos. Os exemplos que seguem ilustram o

método.

Para obtermos uma aproximação melhor, podemos começar com um número

expresso na notação decimal em vez de um número inteiro, (GUELLI, 1998a).

Neste trabalho vamos descrever os procedimentos para se encontrar por

aproximação as raízes quadradas dos números 10 e 72,5.

Calcular 10 considerando o 3 como primeira aproximação.

10 : 3 = 3,3

1,32

33,3, o número 3,1 é a segunda aproximação.

Page 170: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

170

10 : 3,1 = 3,225

162,32

1,3225,3

A 3ª aproximação 3,162, deve ter tantas casas decimais quanto o quociente

3,225.

Veja como calculamos a raiz quadrada de 72,5 até a segunda aproximação:

52 = 25

62 = 36

72 = 49

82 = 64

92 = 81

Dividindo-se 72,5 por 8 encontraremos 9,0, veja: 72,5 ÷ 8,0 = 9,0 e sobra 0,5,

o valor 8 é a 1ª aproximação, já que 8 é o número inteiro que elevado ao quadrado

mais se aproxima por falta de raiz quadrada de 72,5.

Agora se encontra a média aritmética entre 9,0 e 8,0 como segue, chegando-

se à 2ª aproximação:

5,82

80,92ª aproximação, Então, .5,85,72

A Construção de 2 , 3 ,..., 10

Utilizando o teorema de Pitágoras podemos representar esses números na

reta.

Para determinarmos a 2 , devemos construir um triângulo retângulo de

catetos iguais a uma unidade, neste caso, a hipotenusa mede 2 . Sobre a

hipotenusa do triângulo, construiremos um outro triângulo retângulo, com cateto

igual a um, encontrando 3 como hipotenusa. Seguindo esse procedimento,

representaremos os números indicados acima, formando uma figura tipo espiral

pitagórica, como mostra a figura 7.

Page 171: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

171

1

1

11

1

1

6

5

43

3

7

O número (pi)

O número é dos irracionais transcendente mais discutido e estudado pelos

matemáticos e é definido como sendo a área limitada por um círculo de raio 1.

A demonstração de que é um número irracional, pode ser feita usando-se

apenas o cálculo diferencial elementar que às vezes é ensinado no primeiro período

dos cursos de exatas. A primeira demonstração de que é irracional data de 1766

por J. H. Lambert, tendo sido finalmente obtida de modo rigoroso pelo matemático A.

M. Legendre e publicada em 1855. A prova de que é transcendente é muito mais

complexa e só foi obtida em 1882 por F. Lindermann, e não será comentada neste

trabalho.

A história da obtenção dessa constante remonta da Grécia Antiga, com o

clássico método dos perímetros, criado por Arquimedes, em um dos seus tratados

matemáticos. Esse cálculo era feito com base nos perímetros de polígonos regulares

inscritos e de qualquer polígono regular circunscrito, Eves (1995). Por suposição,

toma-se um círculo de diâmetro unitário. O comprimento da circunferência do círculo

situa-se entre o perímetro de qualquer polígono regular inscrito e de qualquer

polígono regular circunscrito; realiza-se, em seguida, os cálculos dos perímetros dos

hexágonos regulares inscritos e circunscritos para se obter limites para pi ( ). Para

esses cálculos, segundo Eves (1995, p. 156), Arquimedes utilizou as seguintes

fórmulas:nn

nn

nPp

PpP

22 , p2n=(pn P2n) 2

1, fórmulas essas consideradas algoritmos de

Arquimedes. Partindo da seqüência Pn, Pn,, P2n, P2n, P4n, P4n,..., onde Pn e Pn

Fig. 7

Page 172: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

172

representam os perímetros dos polígonos regulares inscritos e circunscritos de n

lados.

Iniciando no terceiro termo, calcula-se cada termo a partir dos dois anteriores,

utilizando alternadamente a média harmônica e a média geométrica. Neste caso

calcula-se sucessivamente os perímetros dos pares de polígonos de lados 12, 24, 48

e 96, determinando-se limites cada vez mais próximos para pi ( ).

Usando o método descrito acima, Arquimedes concluiu que o valor de

estava entre 71

223, (

71

103 ) e

7

22 (3

7

1), ou que usando até duas casas decimais, o

valor obtido para é 3,14. Depois desses cálculos feitos por Arquimedes, muitos

sucederam. Com um polígono de 720 lados, inscrito numa circunferência de 60

unidades de raio, Ptolomeu (século III d.C.), conseguiu o valor de pi como sendo

3,1416.

As figuras 8a, 8b e 8c representam uma ilustração do método usado por

Arquimedes para conseguir o valor de pi por aproximação. As figuras 8a, 8b e 8c

mostram polígonos regulares inscritos e circunscritos a um mesmo círculo, em cada

caso, Hogben (1970).

O fascínio pelo cálculo do valor exato de pi também tomou conta dos

chineses. No século III d. C., Liu Hui, um copista, conseguiu obter o valor 3,14159

com um polígono de 3072 lados. Mas no fim do século V, o matemático Isu Ch’ung-

Chih foi mais longe ainda, encontrando como valor de pi, um número entre

3,1415926 e 3,1415927. Já no século XV, al-Kashi encontrou o valor de pi como

sendo 3,1415926535897932. Mas, o símbolo que usamos hoje para representar

essa constante é a letra do alfabeto grego (pi), que foi introduzida em 1706 pelo

escritor e matemático inglês Willian Jones. Este símbolo se tornou conhecido e

Fig. 8a: Quadrado inscrito ecircunscrito a um círculo.

Fig. 8b: Hexágono inscrito ecircunscrito a um círculo.

Fig. 8c: Octógono inscrito ecircunscrito a um círculo.

Page 173: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

173

popularizado por meio do famoso matemático suíço Leonhard Euler no século XVIII.

Três décadas depois, os matemáticos desistiram de calcular o seu valor exato;

descobriram que pi é um número irracional e tem infinitas casas decimais. Em 1995,

estudantes japoneses, usando um supercomputador, calcularam um valor de pi com

seis bilhões de casas decimais, (GUELLI 1998a).

Arquimedes de Siracusa, um dos maiores matemáticos de todos os tempos,

estabeleceu rigorosamente a equivalência entre ambas as razões no seu tratado

Medição de Círculo.

Todas as tentativas de calcular o número pi realizadas na Europa até

meados do século XVII se basearam nos princípios de Arquimedes.

Hoje, pode-se calcular os dígitos de pi usando quatro métodos diferentes:

1- Obtenção da extensão da circunferência por meio de polígonos de n-lados

inscritos e circunscritos.

2- Mediante a utilização de séries estatísticas.

3- Através de procedimentos analíticos e geométricos e

4- Por meio de computadores.

Documentos históricos antigos trazem relatos que egípcios e babilônicos já

conheciam a relação constante entre a circunferência de um círculo e seu diâmetro.

Os babilônicos adotavam uma aproximação grosseira de que pi era igual a 3. Os

egípcios adotavam o valor mais exato de pi igual a 3,16, Hogben (1970). Em Lima

(1991), consta que os babilônicos adotavam a aproximação de pi = 38

1 (pi = 3,125).

Segundo Hogben (1970), em Maravilhas da Matemática, o papiro de Ahmes (1600

a.C.), aproximadamente, dá para a relação entre a circunferência e seu diâmetro um

valor de 3,16, em nossa notação. Já o papiro de Moscou contém uma fórmula para

se calcular a área da esfera, em que se atribui a o valor de 3,14. Isso nos mostra

que a medição egípcia da circunferência tinha erro menor que um por cento.

Aproximação de

Aproximações cada vez melhores de podem ser encontradas com o auxílio

de uma máquina de calcular, capaz de fazer as operações básicas e mais a

Page 174: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

174

operação de raiz quadrada, da seguinte forma: a idéia é aproximarmos o círculo de

raio 1 por polígonos regulares de n2 lados inscritos neste círculo.

Notadamente não é difícil verificar que para a área e o perímetro do polígono

regular de n2 lados inscritos num círculo de raio 1 temos:

Área = 4

1 perímetro ,4 2l onde l é o comprimento do lado do polígono.

Como l se aproxima mais e mais de 0 à medida que n cresce, vemos que para o

círculo de raio 1 devemos ter (fazendo l = 0). Na fórmula indicada obtemos área =

4

1 perímetro.

Neste caso, podemos também considerar como sendo a metade do

perímetro do círculo de raio 1. Por outro lado, usando a relação de Pitágoras e se nl

representa o comprimento do lado do polígono regular de n2 lados, é fácil mostrar

que .42 2

1 nn ll . Para n = 2 temos o polígono regular de 4 lados, quadrado,

inscrito no círculo de raio 1, cujo lado é facilmente obtido usando-se o teorema de

Pitágoras, ou seja: .22l , Portanto, podemos obter para os polígonos de n lados

(n-ágono), (COURANT; ROBBINS, 2000, p.148-150).

,2224l

,22225l

,222226l

,2222227l

,22222228l

Para obter uma boa aproximação de calculemos, por exemplo, o valor da

metade do perímetro do polígono de 25628 lados, inscrito no círculo de raio 1,

cujo lado tem comprimento igual a .8l

765366864,03l

Page 175: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

175

390180644,04l

19603428,05l

098135348,06l

049082457,07l

024543076,08l

283027456,62568l

141513728,32

2568l

al

2

2568

000078925,0a

Teorema de Pitágoras

Filósofo e matemático grego, Pitágoras de Samos (580 - 500 a.C.),

aproximadamente, nasceu na ilha de Egéia de Samos. Segundo relatos históricos,

Pitágoras viajou ao Egito e Babilônia, onde adquiriu informações e conhecimentos

filosóficos e matemáticos. Fundou a escola pitagórica que serviu como centro de

estudos matemáticos, filosóficos e de ciências naturais. A filosofia da escola

pitagórica fundamentava-se no estudo dos números inteiros, Eves (1995). Não se

sabe ao certo o método que é atribuído a Pitágoras para a demonstração, supõe-se

que foi uma prova por comparação de áreas de figuras geométricas, como sugerem

as figuras 9a e 9b, a seguir.

Fig.9bFig.9a

Page 176: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

176

Considere dois quadrados, ambos com lados iguais (a + b). O primeiro que

chamamos de Fig. 9a é composto de seis figuras: um quadrado de lado a, um

quadrado de lado b, e quatro triângulos retângulos de catetos a e b. Se chamarmos

de S a área de um desses triângulos e sendo a área total da figura 2)( ba , temos:

Scba 4)( 22 , onde S indica a área do quadrado.

O segundo quadrado, que chamamos de Fig.9b é composto por quatro

triângulos retângulos e de um quadrado de lado c equivalente à hipotenusa dos

triângulos. Logo nesse quadrado temos: Sbaba 4)( 222 , igualando os

segundos membros das equações, resulta:

SbaSc 44 222

Adicionando-se S4 aos dois membros da equação, resulta em:

222 bac

O enunciado do teorema de Pitágoras é “a área do quadrado cujo lado é a

hipotenusa de um triângulo retângulo é igual a soma das áreas dos quadrados que

têm como lados cada um dos catetos”. Assim, sendo b e c as medidas dos catetos

de um triângulo retângulo e sendo h a medida da hipotenusa desse triângulo, o

enunciado acima equivale afirmar que na figura 10, temos h2 = a2 + b2.

Fig. 10

Segundo os historiadores Hogben (1970); Aaboe (1984); Eves (1995) e

Guedy (1999), o teorema sobre os lados do triângulo retângulo, denominado de

teorema de Pitágoras já era conhecido pelos egípcios e também pelos babilônios, há

pelo menos 1000 anos antes à época em que viveu Pitágoras. Mas atribui-se a

Pitágoras sua descoberta, pois se supõe que a demonstração formal foi feita por ele.

O teorema antes da época da escola pitagórica era expresso em relações como:

32 + 42 = 52 e 12 + (4

3)2 = (1

4

1)2.

b

ha

Page 177: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

177

Em Aaboe encontramos a cópia de um tablete da Babilônia Antiga, figura 10a,

que apresenta uma das características mais relevantes da matemática suméria: o

uso do sistema de numeração posicional. Isto possibilitava o cálculo do valor

numérico de grandezas geométricas com uma precisão admirável para a época. Um

exemplo notável pode ser visto no tablete sumeriano da Yale Babylonian Collection,

catalogado sob a sigla YBC7289.

Nele vemos representado um quadrado, suas duas diagonais e três números

escritos no sistema sexagesimal sumeriano. Nessa notação os algarismos do

sistema sexagesimal são indicados por 0, 1, 2, ..., 9, 10, 11, 12, ...,59, e a vírgula

separa as casas.

Fig. 11b

Fig. 11a

Page 178: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

178

A figura 11b, apresentada acima, mostra um desenho esquemático do tablete

sumério YBC7289, mostrando um quadrado, suas duas diagonais, e três números

sexagesimais, um sendo o valor do lado do quadrado, outro uma aproximação do

valor de 2 , e o terceiro uma aproximação do valor de sua diagonal.

Calculando na base sexagesimal temos:

Portanto,

c = a b

Por outro lado, interpretando a figura 10b, considerando c como valor da

diagonal do quadrado de lado a, temos:

c = a 2

Assim, relacionando c = a b e c = a 2 , vemos que b deve ser uma

aproximação de 2 . É importante lembrar que os sumérios não tinham notação

para separar a parte inteira da parte fracionária na representação escrita dos

números, portanto, passamos a interpretar a, b e c como:

a = (0;30)60

b = (1;24;51;10)60

c = (0;42;25;35)60

Partindo desse ponto, temos que [(1;24;51;10)60]2 = (1;59;59;38;1;40)60,

resultando na aproximação de raiz quadrada de dois, 2 (1;24;51;10)60, no

sistema decimal equivale a 2 1 + 60

24 +

260

51 +

360

10 1,414212963.

Comparando com 2 1,414213562 10-9, percebemos que a aproximação

calculada pelos sumérios tem erro menor do que 10-6. O que podemos considerar

como um cálculo muito preciso para época.

1, 24, 51, 10 x 30 5, 0

25, 30 12 30

42, 25, 35,

Page 179: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

179

Equações Irracionais

As equações são freqüentemente designadas segundo o tipo de funções

nelas envolvidas. Assim, uma equação diz-se irracional se a(s) incógnita(s) surge(m)

sob um radical.

Exemplos:

a) 12x = x + 2;

b) 5x = 3x

c) 42x = 12x

Para resolver uma equação irracional é necessário:

(i) Organizar os termos de modo a que pelo menos um dos membros

contenha apenas um radical;

(ii) Elevar ambos os membros da equação à potência que é igual ao

índice do radical;

(iii) Se ainda restarem radicais, repetir (i) e (ii) com o objetivo de

eliminá-los;

(iv) Resolver a equação obtida.

A equação diz-se racionalizada quando todos os radicais tiverem sido

eliminados. É sempre necessário verificar se cada uma das soluções obtidas para a

equação racionalizada é também solução da equação original, pois ao elevarmos

ambos os membros da equação a uma potência, podemos correr o risco de estar

introduzindo novas raízes à equação.

Exemplo:

Resolver a equação 22x + 3x = 2. Seguindo os procedimentosdescritos, temos:

22x + 3x = 2

22x = 2 - 3x

[ 22x ]2 = [2 – ( 3x )]2

2x - 2 = 4 – 4. 3x + x – 3

x – 3 = - 4 3x

(x – 3)2 = [- 4( 3x )]2

Page 180: UM ESTUDO SOBRE A APRENDIZAGEM DE NÚMEROS … · metodológica sobre números irracionais para a primeira série do Ensino Médio, amparando-nos em uma experiência que envolve o

180

x2 – 6x + 9 = 16x – 48

x2 – 22x + 57 = 0

Resolvendo a equação, verificamos que as raízes da equação obtida

(racionalizada) são: x = 3 e x = 19. No entanto, substituindo na equação original x

por cada um destes valores, facilmente verificamos que x = 3 é raiz desta e

x = 19 não o é.

Em relação à utilização deste tipo de equação no dia-a-dia, considera a

seguinte situação: Um vazamento de petróleo em uma plataforma na Bacia de

Campos, Rio de Janeiro, está formando uma mancha circular de petróleo à

superfície das águas. Quando os técnicos a detectaram, a mancha já tinha uma

superfície de 157 metros quadrados. A superfície da mancha cresce à velocidade de

5 metros quadrados por minuto. Se determinarmos a função que dá o raio da

mancha em função do tempo t decorrido desde que foi dado o alerta chegamos à

expressão1575t

. Supondo que os técnicos garantem que vão conseguir reparar

a avaria antes que a mancha tenha um raio de 20 metros, qual é o tempo de que

dispõem para cumprir a promessa? Para responder a esta questão temos que

resolver a equação 1575t

=20, ou seja, estamos diante da necessidade de

resolver uma equação irracional.