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III Encontro Internacional de Governança da Água São Paulo – novembro/2011 FUNÇÕES E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E SERVIÇOS AMBIENTAIS: Conceitos e Abordagens TADEU 1 , Natalia Dias; SOSA 2 , Pablo Ricardo Belosevich; SINISGALLI 3 , Paulo Antônio RESUMO Neste trabalho apresenta-se uma breve diferenciação entre os conceitos de serviços ecossistêmicos (SE) e ambientais (SA), bem como entre a utilização dos conceitos de funções (FE) e serviços ecossistêmicos. Apresenta-se uma metodologia para determinação e uma sugestão de abordagem mais adequada para análise de FE e SE. Pôde-se constatar que boa parte da literatura que contempla de alguma maneira esse assunto não demonstra a preocupação e cuidado necessários ao emprego dos termos e conceitos. Observou-se também o mesmo problema com os conceitos de SE e SA. Neste sentido, este trabalho apresentou uma breve revisão da literatura e discussão, mostrando diferentes definições e utilizações destes termos, buscando contribuir para o esclarecimento e uniformização de seus empregos. PALAVRAS CHAVE: Funções ecossistêmicas, serviços ecossistêmicos, serviços ambientais. 1. INTRODUÇÃO Há uma estreita relação entre processos ecológicos e estruturas que se traduzem em funções ecossistêmicas, que, por conseguinte originarão os bens e serviços ecossistêmicos (DE GROOT et al, 2002). Às vezes, o conceito de função é usado para descrever o funcionamento interno dos ecossistemas, por exemplo: manutenção de fluxo de energia, ciclagem de nutrientes. Por outro lado, às vezes relata os benefícios aos humanos advindos das propriedades e processos do ecossistema (DE GROOT et al, 2002). Os termos e conceitos de funções ecossistêmicas (FE) e serviços ecossistêmicos (SE) podem ser utilizados para diversos fins, desde a escolha de unidades prioritárias para conservação até a escolha de áreas e os valores a serem pagos por serviços ambientais (SA), amplamente conhecidos por Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA). Em função da escassez de dados e da ausência de coerência observada na literatura, este trabalho apresenta uma discussão acerca da utilização dos termos SA, SE e FE. Os termos SA e SE têm sido muito utilizados nos últimos anos. O que se percebe, no entanto, é que não existe uma clara diferenciação dos conceitos, permitindo que esses sejam ora usados com significados distintos, ora como sinônimos. A proposta deste trabalho seria a expansão da distinção dos termos para todas as suas aplicações, não apenas quando tratam de PSA, já que a utilização indiscriminada destes termos dificulta buscas e pesquisas, uma vez 1 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo. Contato: [email protected] 2 Gestor Ambiental pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo 3 Profº Drº da Escola de Artes, Ciências e Humanidades e Programa de Pós Graduação em Ciência Ambiental

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Encontro Internacional de Governança da Água (PROCAM/USP)

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III Encontro Internacional de Governança da Água São Paulo – novembro/2011

 

FUNÇÕES E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E SERVIÇOS AMBIENTAIS: Conceitos e Abordagens

TADEU1, Natalia Dias; SOSA2, Pablo Ricardo Belosevich; SINISGALLI3, Paulo Antônio

RESUMO

Neste trabalho apresenta-se uma breve diferenciação entre os conceitos de serviços ecossistêmicos (SE) e ambientais (SA), bem como entre a utilização dos conceitos de funções (FE) e serviços ecossistêmicos. Apresenta-se uma metodologia para determinação e uma sugestão de abordagem mais adequada para análise de FE e SE. Pôde-se constatar que boa parte da literatura que contempla de alguma maneira esse assunto não demonstra a preocupação e cuidado necessários ao emprego dos termos e conceitos. Observou-se também o mesmo problema com os conceitos de SE e SA. Neste sentido, este trabalho apresentou uma breve revisão da literatura e discussão, mostrando diferentes definições e utilizações destes termos, buscando contribuir para o esclarecimento e uniformização de seus empregos.

PALAVRAS CHAVE: Funções ecossistêmicas, serviços ecossistêmicos, serviços ambientais.

1. INTRODUÇÃO

Há uma estreita relação entre processos ecológicos e estruturas que se traduzem em

funções ecossistêmicas, que, por conseguinte originarão os bens e serviços ecossistêmicos (DE GROOT et al, 2002). Às vezes, o conceito de função é usado para descrever o funcionamento interno dos ecossistemas, por exemplo: manutenção de fluxo de energia, ciclagem de nutrientes. Por outro lado, às vezes relata os benefícios aos humanos advindos das propriedades e processos do ecossistema (DE GROOT et al, 2002).

Os termos e conceitos de funções ecossistêmicas (FE) e serviços ecossistêmicos (SE) podem ser utilizados para diversos fins, desde a escolha de unidades prioritárias para conservação até a escolha de áreas e os valores a serem pagos por serviços ambientais (SA), amplamente conhecidos por Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA). Em função da escassez de dados e da ausência de coerência observada na literatura, este trabalho apresenta uma discussão acerca da utilização dos termos SA, SE e FE.

Os termos SA e SE têm sido muito utilizados nos últimos anos. O que se percebe, no entanto, é que não existe uma clara diferenciação dos conceitos, permitindo que esses sejam ora usados com significados distintos, ora como sinônimos. A proposta deste trabalho seria a expansão da distinção dos termos para todas as suas aplicações, não apenas quando tratam de PSA, já que a utilização indiscriminada destes termos dificulta buscas e pesquisas, uma vez                                                             1 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo. Contato: [email protected] 2 Gestor Ambiental pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo 3 Profº Drº da Escola de Artes, Ciências e Humanidades e Programa de Pós Graduação em Ciência Ambiental 

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que se empregam diversos termos como sinônimos, bem como o mesmo termo com significados distintos.

Para atender à proposta este trabalho será dividido em etapas, partindo de uma revisão não exaustiva dos conceitos e definições de SE e FE, posteriormente abordando como os termos vêm sendo atualmente empregados, em seguida, propõe-se uma forma de adoção dos termos e conceitos, dependendo do uso e do interesse do estudo ou projeto, a seguir, adentra-se na distinção entre os termos SE e SA, realizando uma breve revisão quanto ao desenvolvimento histórico dos conceitos, utilizações usuais em diversas áreas, incluindo as políticas nacionais e estaduais (São Paulo) de Serviços Ecossistêmicos e Mudanças Climáticas, e por fim a sugestão das melhores formas de uso, de acordo com os conceitos embutidos nos termos.

2. OBJETIVOS

O objetivo principal desta pesquisa foi analisar as diversas abordagens de funções

ecossistêmicas (FE), serviços ecossistêmicos (SE) e serviços ambientais (SA), definir quais os conceitos que embasam a existência de cada termo e propor uma abordagem mais adequada para o emprego destes conceitos, de acordo com sua finalidade.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Primeiramente, procurou-se definir e diferenciar claramente os conceitos de FE e SE,

devido à recorrente utilização de tais conceitos como sinônimos. Dessa maneira, efetuou-se uma revisão da literatura definindo e diferenciando tais conceitos e empregando as referências De Groot et al (2002) e MEA (2005), principalmente.

Após esta etapa, as referências de distinção foram comparadas e analisadas, de forma a se obter a melhor abordagem para cada finalidade de aplicação.

Quanto à confusão conceitual da aplicação dos termos SA e SE, realizou-se um levantamento não exaustivo do histórico de aplicação dos conceitos, desde o seu surgimento até os trabalhos e de políticas mais atuais de forma a elucidar os conceitos que embasam estes termos, bem como apresentar o ‘por que’ e ‘quando’ começou a ocorrer a utilização indiscriminada dos termos com significados, ora tão distintos entre si, ora sinonímicos.

4. ANÁLISE

4.1. Funções e Serviços Ecossistêmicos

Neste tópico, foram levantadas algumas das principais referências utilizadas quando

se aborda o tema serviços dos ecossistemas. O objetivo desta revisão é fornecer, minimamente, uma base para a discussão e diferenciação dos conceitos para posteriormente analisar as melhores abordagens.

Sendo assim, optou-se por iniciar pela referência de De Groot et al (2002) e De Groot (1992) que define que as FE seriam a capacidade dos componentes e processos naturais de fornecerem bens e SE aqueles que poderiam satisfazer as necessidades humanas, direta ou indiretamente. As FE provêem os bens e SE aqueles que são valorados pelos humanos e são resultantes dos processos ecológicos e das estruturas ecossistêmicas.

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Cada FE é resultado de processos naturais do subsistema ecológico total do qual faz parte. Os processos ecológicos, por sua vez, são resultado de complexas interações entre o meio biótico e abiótico. De Groot et al (2002), diferencia as FE de bens e SE e separa as funções em 4 categorias:

1) Função de regulação: capacidade de ecossistemas naturais e seminaturais regularem processos ecológicos essenciais e sistemas de suporte à vida através de ciclos biogeoquímicos e outros sistemas biosféricos. Alguns serviços providos por este tipo de função: Manutenção da qualidade de água, ar , solo e sistemas biológicos.

2) Função de Habitat: ecossistemas naturais fornecem refúgio e habitat para reprodução de plantas e animais selvagens, contribuindo para a diversidade genética, conservação biológica e processos evolutivos.

3) Função de produção: fotossíntese e absorção de nutrientes pelos autótrofos convertem energia, dióxido de carbono, água e nutrientes numa variedade de estruturas de carboidratos, que por sua vez são usados por produtores secundários para produzir uma ampla variedade de biomassa (viva). Esta ampla variedade de estruturas de carboidratos fornece muitos bens ecossistêmicos para o consumo humano, desde alimentos, material para combustíveis até recursos genéticos.

4) Função de informação: provém a oportunidade de reflexão, enriquecimento espiritual, desenvolvimento cognitivo, o que permite a manutenção da saúde humana e do meio natural, uma vez que atualmente o homem possui consciência do contexto no qual está inserido, direcionando suas ações de maneira a conservar o meio natural.

Embora pareça arbitrária, a hierarquização possui uma lógica subjacente, pois as duas primeiras são essenciais para a manutenção dos processos naturais e seus componentes. São, portanto, imprescindíveis para a viabilidade dos outros dois grupos de funções. As funções ecossistêmicas, assim conceituadas, fornecem uma base empírica para a classificação dos aspectos dos ecossistemas naturais (potencialmente) passíveis de serem usados por humanos (DE GROOT et al, 2002). A seguir serão apresentadas alguns dos serviços que podem ser providos pelas categorias de funções apontadas por De Groot et al (2002):

FUNÇÕES SERVIÇOS

REGULAÇÃO Regulação de gás, regulação climática,

regulação de distúrbios, etc

Proteção UVb, devido ao O3

Manutenção da qualidade do ar Proteção contra tempestades

HABITAT Berçário e Refúgio de espécies

Manutenção da diversidade biológica e genética Manutenção de espécies comercializáveis

PRODUÇÃO Alimentos, recursos ornamentais, recursos

genéticos

Fornecimento de caça, pesca, etc Fornecimento de combustíveis e energia

Fornecimento de medicamentos

INFORMAÇÃO Informação estética, recreação, informação

histórica, etc

Aproveitamento estético Utilização para propósitos religiosos ou culturais

Ecoturismo

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Figura 1: Classificação de Funções Ecossistêmicas por De Groot et al (2002). Adaptado de De Groot et al (2002).

Cabe ressaltar, no entanto, que De Groot et al (2002) deixa claro que cada função pode formar um ou mais serviços, bem como um serviço pode ser fornecido por mais de uma função.

Daly & Farley (2004) definem estrutura ecossistêmica como sendo todos os indivíduos e comunidades (animais e vegetais) que compõe o ecossistema, junto aos recursos abióticos (combustíveis, minerais, etc). Eles destacam ainda que diversos ecossistemas possuem milhares de estruturas ecossistêmicas ou elementos estruturais, cada um deles possuindo seu grau de complexidade, que atuam e interagem de forma a produzir o todo (ecossistema), que seria mais do que a somatória de todas as partes individuais.

Esta interação resulta no surgimento do fenômeno emergente, inerente a associação de agentes em um sistema complexo. Para estes autores, este fenômeno emergente dos ecossistemas poderia ser compreendido como sendo as FE, que incluem transferências de energia, ciclagem de nutrientes, regulação climática, regulação de gases e o ciclo da água (DALY & FARLEY, 2004).

Segundo a Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MEA, 2005), os serviços ecossistêmicos seriam os benefícios provindos dos ecossistemas. Esta avaliação busca analisar o impacto das alterações dos ecossistemas sobre o bem estar humano, ressaltando que os ecossistemas vêm sendo modificados não apenas em sua estrutura e sistemas (tais como habitats), mas também as funções e processos. Ele aponta que os serviços ecossistêmicos, provenientes dos ecossistemas, derivam diretamente de processos, como ciclos biogeoquímicos, que vêm sendo modificados significativamente. O relatório aponta ainda que aproximadamente 60% dos serviços fornecidos pelos ecossistemas têm sido degradados.

No relatório da Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MEA, 2005) é realizada a classificação dos serviços ecossistêmicos. Nesta classificação os serviços são sub alocados nas categorias:

Serviços de provisão: estes serviços seriam os produtos obtidos diretamente dos ecossistemas para a utilização humana. Como exemplo deste serviço tem-se a obtenção de alimentos, madeira, etc.

Serviços de regulação: seriam os benefícios humanos obtidos pelos processos de regulação dos processos ecossistêmicos, como por exemplo a regulação da qualidade do ar.

Serviços culturais: seriam os benefícios não materiais obtidos dos ecossistemas que proporcionam um enriquecimento espiritual, desenvolvimento cognitivo, reflexão, recreação e experiências estéticas.

Serviços de suporte: esta categoria engloba todos os serviços necessários para a produção de todos os outros serviços ecossistêmicos.

Esta classificação pode ser observada de forma esquematizada na figura abaixo:

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Figura 2: Classificação de Serviços Ecossistêmicos pela MEA (2005). Adaptado de MEA (2005).

Os serviços ecossistêmicos, em última instância, são fluxos de energia, matéria e informação provindos dos ecossistemas que, quando associados aos demais tipos de capitais (manufaturado, social e humano) produzem o bem estar humano (ADRADE & ROMEIRO, 2009a, 2009b).

4.2. Aplicação dos conceitos de Funções e Serviços Ecossistêmicos

Usualmente, encontra-se disponível uma ampla gama de trabalhos que listam uma

série de benefícios de diversos ecossistemas, sem diferenciá-los em FE ou SE, dificultando uma análise mais detalhada que exija tal nível de diferenciação. A título de ilustração, é muito comum observar trabalhos que classifiquem determinados benefícios advindos da natureza como SE, ao passo que outros trabalhos referem-se aos mesmos benefícios classificando-os como FE.

No entanto, podem ser encontradas algumas referências bibliográficas que se debruçam sobre tais conceitos, não só definindo-os, como sistematizando-os em categorias, sendo algumas delas previamente apresentadas neste trabalho.

Conforme observado na revisão da literatura apresentada, podemos constatar que não existem grandes problemas no que tange à diferenciação conceitual entre FE e SE, uma vez que uma considerável parte da literatura acadêmica contempla tal assunto de maneira satisfatória.

Na revisão do arcabouço conceitual deste trabalho, foram utilizadas duas referências com abordagens distintas para classificação e categorização de FE e SE. A primeira delas, seria a de De Groot et al (2002), que classifica uma serie de FE e SE partindo de uma categorização das FE, geradas pelas estruturas e processos de um determinado ecossistema. A segunda seria a do Millennium Ecossystem Assessment (MEA, 2005), que classifica uma série de serviços partindo de uma categorização dos SE e dos benefícios por estes gerados.

Se por um lado, do ponto de vista teórico, em termos conceituais, tal diferenciação parece-nos consolidada, devidamente sedimentada e clara, como se pode observar em De Groot (1992), Costanza et al (1997), De Groot et al (2002), Daly e Farley (2004) e MEA (2005), em termos práticos não é isso o que se observa.

SERVIÇOS DE PROVISÃO Comida Água

Fibra e Madeira Combustíveis

SERVIÇOS DE REGULAÇÃO Regulação climática Purificação da água

Regulação de doenças

SERVIÇOS CULTURAIS Estético

Educacional Espiritual Recreação

SERVIÇOS DE SUPORTE

Produção primária Ciclagem de nutrientes

Formação de solos

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Ainda que existam trabalhos que forneçam uma base sólida, conceitual e teórica, relativa à classificação de benefícios advindos da natureza em Funções ou Serviços Ecossistêmicos (DE GROOT, 1992; DE GROOT et al, 2002; MEA, 2005), grande parte dos trabalhos, que tratam de alguma maneira de tal tema, parece seguir outra classificação ou ignoram as classificações existentes, tendo em vista que não definem os benefícios como SE ou mesmo classificando-os indiscriminadamente com o uso de outros termos, sem uma clara apresentação dos critérios ou referências utilizados.

Hueting et al (1998) apresenta uma definição distinta de FE e SE, amplamente citada, que define que uma função pode ser considerada um serviço ecossistêmico ao passo que gere benefícios humanos. Desta forma, os autores apontam que seria possível valorar as FE, em contraponto a definição de De Groot (1992) e De Groot et al (2002), seguindo as metodologias inicialmente propostas por Hueting (1970, 1974a and 1974b apud HUETING et al, 1998).

Muitos dos autores que trabalham com o tema, citam esta referência e utilizam esta definição de FE que se traduzem em SE e, por conseguinte, podem ser valoradas economicamente. Entendemos que como consequências da falta de uma diferenciação de tais conceitos, segundo as classificações anteriormente apresentadas, que distinguem FE de SE, têm-se a inviabilidade de estudos mais aprofundados que envolvam estes conceitos.

Estudos minimamente aprofundados acerca de FE e SE de uma dada região, área, parque, ecossistema ou qualquer que seja o objeto de estudo, exigem uma mínima noção e conhecimento acerca das relações entre os SE (a serem valorados e ou estudados e analisados de qualquer outra forma) e suas respectivas FE. Uma vez que, segundo Costanza et al (1997), De Groot et al (2002) e Daly e Farley (2004), os SE são gerados pelas FE que emergem das interações entre os componentes bióticos e abióticos dos ecossistemas.

Sendo assim, pode-se dizer que a ausência de diferenciação entre conceitos configura-se como um obstáculo tanto às análises econômicas, de valoração econômica de serviços ecossistêmicos, quanto às análises ecológicas de cadeias de interações (que visam estimar os impactos ecológicos através da consideração de limites e das interações presentes nos ecossistemas).

4.3. Abordagem mais adequada para análise de serviços ecossistêmicos

Considerando o exposto anteriormente, fica evidente a importância da classificação e

categorização de funções e serviços ecossistêmicos. Como já foi dito, uma análise que envolva tais conceitos exige que se conheça minimamente o conjunto de serviços e funções, devidamente classificados, de acordo com critérios sólidos, de maneira a não comprometer as análises.

No entanto, ainda é possível encontrar na literatura acadêmica divergências em relação à classificação de determinados benefícios. Isto ocorre por diferenças entres escalas de análises e, como De Groot et al (2002) ressalta, por serem os bens e serviços ecossistêmicos frequentemente tratados sob diversas escalas de análise sendo classificados de diferentes maneiras por diversos autores.

As duas abordagens analisadas neste trabalho são: a apresentada por De Groot et al (2002) e a proposta pela Avaliação Ecossistêmica do Milênio (2005). Enquanto a primeira foca o estudo nas FE, classificando-as, a segunda classifica diretamente os SE (MEA, 2005). As diferenças observadas, não se restringem somente ao tipo de abordagem (seja partindo de uma classificação das funções, seja partindo de uma classificação dos serviços).

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Figura 3: Esquema das relações entre Função Ecossistêmica e Serviços Ecossistêmicos para as duas abordagens

(DE GROOT et al, 2002; MEA, 2005).

Tal diferença de abordagem entre os trabalhos implica, por vezes, em divergências no que tange à classificação de alguns benefícios. Em outras palavras, o que se observa é que tais referências aparentemente não apresentam relação entre si no que concerne aos critérios adotados.

Tanto De Groot et al (2002) quanto o MEA (2005), que são importantes referências, classificam o mesmo benefício ora como serviço, ora como função. Não obstante, a referência MEA (2005), classifica uma série de benefícios como constituintes do bem estar humano e relacionando-os aos SE. Tal diferença de abordagens e de critérios de classificação e categorização termina por excluir a possibilidade de utilização mútua das referências para determinação da classificação ou, até mesmo, para a seleção de áreas de estudo, prioritárias à conservação, etc. Ainda que se pretenda analisar tanto funções como serviços, faz-se necessário adotar apenas uma dessas abordagens, tendo em vista a falta de paralelismo entre ambas.

Na figura acima (Figura 3), pode-se observar que: a realização de uma análise de relações, visando estimar o impacto de uma ação antrópica sobre o fornecimento de um serviço, quando feita a partir do serviço em questão, acaba por se tornar mais difícil, pois como já citado, um único serviço pode ser gerado por uma ou mais funções, funções estas, que por sua vez são fruto de uma complexa cadeia de interações. De maneira que, estimar ou quantificar alterações na provisão de um serviço ecossistêmico a partir da análise das variações ocorridas nas complexas cadeias de interações de mais de uma função ecossistêmica, configura-se como uma tarefa praticamente inviável, dada a complexidade dos processos envolvidos que deveriam ser analisados.

Por outro lado, a realização de uma análise de relações, visando estimar o impacto de uma ação antrópica sobre o fornecimento de um serviço, quando feita a partir de uma determinada função ecossistêmica, diretamente associada ao serviço em questão, apresenta-se como alternativa mais factível, mais viável em termos práticos. Isto porque, ao se escolher apenas uma função como ponto de partida para a análise, automaticamente elimina-se assim necessidade de análise de duas ou mais funções, o que, devido à complexidade subjacente às mesmas, inviabilizaria em termos práticos a análise, conforme destacado anteriormente.

Sendo assim, de acordo com a finalidade de aplicação dos métodos (escolha de uma área de estudo, ou preservação, identificação das estruturas e processos a serem preservados, identificação de áreas que podem ter planos ou projetos de PSA, entre outros), pode-se adotar uma metodologia ou outra. A metodologia proposta por De Groot et al (2002), permite

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estabelecer uma cadeia de relações que possibilitam identificar a área responsável pela geração dos serviços focado no projeto ou pesquisa, já o método proposto pelo MEA (2005) permite estabelecer as relações entre estes serviços e os benefícios humanos.

Neste sentido, as duas metodologias não podem ser usadas para a mesma finalidade, no entanto, não parece impossível a complementação posterior da análise, quando necessária, dos benefícios humanos (como aponta a classificação do MEA, 2005) após a definição das estruturas e processos ecológicos, responsáveis pela produção das funções e serviços (de acordo com a definição de De Groot et al, 2002). A dificuldade da utilização das duas metodologias, em suma, se dá no momento da escolha da cadeia de relações, uma vez que nem sempre será possível identificar os processos e estruturas geradores dos bens e SE, os quais se pretende preservar ou recuperar devido a sua importância para o bem estar humano.

A proposta, neste sentido, seria partir da escolha das funções que geram os serviços ecossistêmicos que parecem inicialmente prioritários ao bem estar humano, identificar os processos e estruturas que permitem sua geração e com isso delimitar a área. A seguir torna-se possível a identificação de mais FE e SE que podem ou não ser úteis ao homem, no contexto local e temporal.

4.4. Serviços Ecossistêmicos e Serviços Ambientais (SE e SA)

Os termos Serviços Ambientais e Serviços Ecossistêmicos têm sido muito utilizados

nos últimos anos. O que se percebe, no entanto, é que não existe uma clara diferenciação dos conceitos, permitindo que esses sejam ora usados com significados distintos, ora como sinônimos.

A seguir será apresentado um breve histórico acerca da introdução dos termos na literatura científica, de forma a permitir a discussão sobre os atuais usos (científicos e governamentais) e, por fim, a sugestão de uma diferenciação, visando evitar confusões conceituais e facilitar a compreensão da utilização de cada termo.

Em 1970 foi descrito, pela primeira vez, o processo de funcionamento de ecossistemas de forma a prover determinados serviços para a humanidade no relatório denominado “Study of critical Environmental Problems (SCEP)” (DAILY, 1997). Segundo Daily (1997), nas páginas 122 a 125 do relatório são apontados como “serviços ambientais”: controle de pestes, polinização por insetos, pesca, regulação climática, retenção de solo, controle de cheias, formação de solos, ciclagem de matéria e composição da atmosfera. Posteriormente, esta lista foi refinada por John P. Holdren e Paul R. Ehrlich em 1974, incluindo a manutenção da fertilidade dos solos e manutenção do banco genético (DAILY, 1997).

Algum tempo depois, foi introduzido o termo “serviços da natureza” ou “nature’s services” por Walter E. Westman, em 1977 (HAINES-YOUNG & POTSCHIN, 2009). Ainda segundo Haines-Young & Potschin (2009), em 1981, o termo “serviço ecossistêmico” foi introduzido por Paul R. Ehrlich e Anne H. Ehrlich passando a ser este o termo utilizado em referências científicas quando estas se referem aos serviços provindos dos ecossistemas que satisfazem as necessidades humanas.

Outra forma de utilização do termo “serviços ambientais” observada na literatura científica faz referência à realização de serviços que evitem impactos ambientais de maior proporção, tais como coleta e disposição de resíduos, tratamento de água e esgoto, dentre outros. Neste mesmo sentido temos referências da década de 1970, como o trabalho de Ruttan (1971), intitulado como ‘Technology and the Environment’, que trata da demanda por serviços ambientais, consideram os “serviços ambientais” como serviços que evitem ou

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reduzam a contaminação e poluição ambiental, em um contexto de desenvolvimento econômico e tecnológico.

Com este mesmo significado, podemos observar diversas empresas que prestam serviços de coleta de resíduos sólidos, tratamento de efluentes e até mesmo empresas que trabalham com Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), dentre outras, autointitulando-se como empresas prestadoras de serviços ambientais.

No que concerne ao emprego de tais termos na esfera governamental nacional, pode-se dizer que não há uniformidade na aplicação dos conceitos. Isto se evidencia quando observados os Projetos de Lei (PLs) relativos à criação da Política Nacional dos Serviços Ambientais. No Brasil, com inicio em 2007, tramitou no Congresso Projetos de Lei que visavam definir “serviços ambientais” e regulamentar a atividade de PSA àqueles que preservem o ecossistema fornecedor de serviços. O primeiro PL relativo a essa questão foi proposto em 2007 (PL – 792/2007), no qual o termo “serviço ambiental” é aplicado com o sentido de ‘benefícios advindos dos ecossistemas’, sem qualquer menção a atividades ou iniciativas antrópicas. Em contrapartida, o PL - N.º 1.190/2007 considera “serviço ambiental” a adoção de práticas que visem: a redução do desmatamento; a recuperação de áreas degradadas; a redução do risco de queimadas; a conservação do solo, da água e da biodiversidade; bem como, outras práticas que reduzam a emissão de gases causadores do efeito estufa.

Art.1º Consideram-se serviços ambientais aqueles que se apresentam como fluxos de matéria, energia e informação de estoque de capital natural, que combinados com serviços do capital construído e humano produzem benefícios aos seres humanos, tais como: I - os bens produzidos e proporcionados pelos ecossistemas, incluindo alimentos, água, combustíveis, fibras, recursos genéticos, medicinas naturais; II - serviços obtidos da regulação dos processos ecossistêmicos, como a qualidade do ar, regulação do clima, regulação da água, purificação da água, controle de erosão, regulação enfermidades humanas, controle biológico e mitigação de riscos; III - benefícios não materiais que enriquecem a qualidade de vida, tais como a diversidade cultura, os valores religiosos e espirituais, conhecimento – tradicional e formal –, inspirações, valores estéticos, relações sociais, sentido de lugar, valor de patrimônio cultural, recreação e ecoturismo; IV - serviços necessários para produzir todos os outros serviços, incluindo a produção primária, a formação do solo, a produção de oxigênio, retenção de solos, polinização, provisão de habitat e reciclagem de nutrientes. (PL - 792/2007).

Não obstante, apensos a este PL – Nº 792/2007, surgiram alguns outros PLs visando

regulamentar outras esferas importantes da então proposta Política Nacional dos Serviços Ambientais. Dentre os PLs apensos, alguns também apresentam sua definição para “serviços ambientais”. São estes: o PL - N.º 1.667/2007, que Dispõe sobre a criação do Programa Bolsa Natureza e dá outras providências, o PL - N.º 1.190/2007 que Cria o Programa Nacional de Compensação por Serviços Ambientais – Programa Bolsa Verde, destinado à transferência de renda com condicionalidades e o PL - N.º 5.487/2009, que visa instituir a Política Nacional dos Serviços Ambientais, criar o Programa Federal de Pagamento por Serviços Ambientais e estabelecer formas de controle e financiamento.

Conforme dito anteriormente, cada um destes PLs, apensos ao PL 792/2007, apresenta uma definição para “serviços ambientais”. O PL - N.º 1.667/2007, por exemplo, considera “serviços ambientais” como: “[...] as funções oferecidas naturalmente pelos ecossistemas para a manutenção de condições ambientais adequadas para a vida no Planeta”. (PL - 1.667/2007)

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Ainda neste mesmo sentido, o PL - N.º 5.487/2009 define “serviços ambietais” como: “Serviços desempenhados pelo meio ambiente que resultam em condições adequadas à sadia qualidade de vida” (PL - N.º 5.487/2009). Assim sendo, da mesma maneira que o PL 792/2007, as definições de “serviço ambiental” apresentadas atribuem ao termo o sentido de benefícios advindos dos ecossistemas para o homem, sem qualquer menção a iniciativas antrópicas.

Em contrapartida, o PL - N.º 1.190/2007 considera “serviço ambiental” a adoção de práticas que visem: a redução do desmatamento; a recuperação de áreas degradadas; a redução do risco de queimadas; a conservação do solo, da água e da biodiversidade; bem como, outras práticas que reduzam a emissão de gases causadores do efeito estufa.

Esta definição, por sua vez, destoa das definições apresentadas nos PLs anteriores, pois associa o termo a iniciativas e ações humanas em prol da conservação, ou seja, considera “serviço ambiental” como os benefícios advindos do homem para a natureza (e não da natureza para o homem) através de um determinado conjunto de ações de cunho conservacionista, ao contrário das definições anteriores que não fazem menção à nenhum tipo de adoção de práticas, iniciativas ou qualquer ação humana.

A última proposta de Projeto de Lei apresentada, base para a aprovação da criação da Política Nacional de Serviços Ambientais, foi o PL – 5487/2009. Neste PL, é mantida a mesma definição inicial proposta pelo PL 792/2007, que define SA como sendo os benefícios providos pelos ecossistemas e PSA o pagamento monetário ou não aos responsáveis por preservação, recuperação, manutenção e melhoria dos ecossistemas que estejam amparadas por planos ou projetos específicos.

Já a Política Estadual de Mudanças Climáticas, do Estado de São Paulo, Lei nº 13.798/2009 (precedente em alguns meses à Política Nacional), por sua vez, define os serviços ambientais como: “...produtos e atividades, potencial ou efetivamente utilizados para medir, evitar, limitar, minimizar ou reparar danos à água, atmosfera, solo, biota e humanos, minimizando a poluição e o uso de recursos naturais” (PEMC/2009). Neste caso, pode-se notar que a definição refere-se a ações antrópicas destinadas a minimização de impactos ambientais, como também utilizado por Ruttan (1971).

Como mais uma forma de exemplificar uma das possíveis implicações das confusões conceituais é possível citar Landers (2009) que em uma apresentação realizada em um congresso em Belo Horizonte (MG), fez a seguinte observação (slide 5):

“Ambientalistas tendem a restringir este termo a serviços fornecidos pela natureza ao homem e não do homem para a natureza.” (Slide 5, LANDERS, 2009)

Analisando o emprego dos termos pela esfera governamental ainda é possível observar o emprego do termo para a aplicação do Pagamento por Serviços Ambientais, ora denominado Pagamento por Serviços Ecossistêmicos. Wunder (2005) aponta que existem duas naturezas de serviços, o ‘ambiental’ e o ‘ecossistêmico’, no entanto, após tal diferenciação, o autor opta pelo termo serviço ambiental, referindo aos serviços fornecidos pela natureza. Wunder et al (2008), em um relatório elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), realiza uma breve distinção entre as terminologias, apontando que após a publicação do Relatório da Avaliação Ecossistêmica do Milênio (Millenium Ecosystem Assesment) grande parte da literatura passou a adotar “serviços ecossistêmicos”, referindo-se a produtos e serviços fornecidos pela natureza, sendo os produtos classificados como serviços de provisão. O autor aponta também a literatura anteriormente citada, Daily (1997), para indicar que esta autora realiza a distinção entre serviços e produtos, não enquadrando como serviços os produtos dos ecossistemas (madeira, alimento, etc). Segundo Chomitz et al (1999 apud WUNDER et al, 2008), serviços ambientais podem ser também entendidos como sendo as atividades antrópicas que potencializam ou mantém a provisão dos benefícios provindos da

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natureza. Por fim, o autor define que por ser o termo mais utilizado na literatura de língua espanhola e portuguesa, o termo “serviço ambiental” seria o mais adequado.

As utilizações dos termos, apontadas até o momento, ainda que não resultem de uma revisão bibliográfica exaustiva, evidenciam a falta de clareza do significado de cada termo, sendo possível notar que há diferenças significativas na adoção e utilização do conceito de ”serviço ambiental”. No entanto, além das diferenças no emprego, faz-se importante ressaltar as possíveis causas de tal inconsistência. Acreditamos que a incoerência na definição dos termos quando da elaboração das políticas públicas seja reflexo da ausência de uma diferenciação clara na literatura acadêmica, associada a uma revisão não exaustiva da literatura quando da elaboração destas políticas. Estes dois fatores associados culminariam na adoção dos conceitos de “serviços ambientais” e “serviços ecossistêmicos” como sinônimos tanto na política, quanto em parte da literatura acadêmica, podendo permitir que cada um adote o termo que lhe convenha dificultando a clareza do seu sentido, de maneira a atender a diferentes interesses.

Cabe relembrar que como visto no histórico anteriormente apresentado, o termo “serviço ecossistêmico” já vem sendo utilizado na literatura científica desde a década de 1980, bem como o termo de “serviço ambiental”, referindo-se a ações antrópicas, é utilizado desde a década de 1970. É importante destacar também que existem diferentes formas de classificações para os serviços ecossistêmicos, como será discutido com maior profundidade a diante, porém, neste momento, o foco, desta discussão se restringe apenas às terminologias empregadas.

A proposta deste tópico seria a expansão da distinção dos termos para todas as suas aplicações, não apenas quando tratam de pagamentos por serviços, já que a utilização indiscriminada dos termos dificulta buscas e pesquisas, uma vez que se utilizam diversos termos, ou o mesmo termo com distintos significados.

De acordo com Amazonas (2009), há uma possível distinção, quando empregada para “pagamentos por serviços”. Neste caso os ‘serviços ambientais’ (aplicados no caso de PSA’s) seriam as ações de preservação e ou recuperação por parte dos proprietários, ou, o não desmatamento de parte de sua propriedade, por exemplo. Esta ação seria responsável pela manutenção do provimento dos benefícios sociais provindos do ecossistema, denominado serviços ecossistêmicos (SE’s).

A necessidade da expansão da diferenciação dos termos se evidenciou quando da execução de um trabalho que visava analisar os SEs afetados por impactos ambientais, mais especificamente, visava-se analisar o dano provocado por uma sobre determinado ecossistema. Para isso foram analisados os impactos da existência de uma obra civil sobre serviços provindos do ecossistema, considerando a classificação de serviços que engloba os produtos (bens de uso direto).

Sendo assim, ressaltamos a necessidade do cuidado no emprego dos termos, atentando ao histórico de seu uso na literatura científica e não científica, a fim de deixar claro o emprego deste termo nos mais diversos âmbitos, seja em artigos científicos, arenas de debates políticos, proposição de políticas públicas, entre outras ações.

5. CONCLUSÃO

Em suma, pôde-se constatar que boa parte da literatura acadêmica que contempla de

alguma maneira o tema FE e SE não demonstra a atenção necessária em relação à diferenciação ou utilização de tais conceitos. Neste sentido, adotou-se a definição de Costanza et al (1997), De Groot (1992), De Groot et al (2002), Daly & Farley (2004) e MEA (2005).

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Tanto De Groot et al (2002) como MEA (2005) apontam para possíveis metodologias de classificação. As diferenças entre as abordagens são consideráveis.

Tentou-se demonstrar, neste trabalho, que a diferenciação conceitual entre SE e FE passa a ter importância quando se deseja compreender a cadeia de relações existentes entre os componentes bióticos e abióticos dos ecossistemas. Desta forma, dependendo da utilidade desejada para o emprego dos termos, pode-se fazer necessária a identificação das FE, de forma a permitir a identificação dos componentes ecossistêmicos que a geram, de forma a possibilitar a definição da escala de análise entre outras definições. Partindo deste ponto, seria possível, posteriormente, a listagem dos SEs associados a esta função específica e sua utilidade humana e relações com o bem estar, como definido pelo MEA (2005).

No que tange a utilização dos termos SE e SA, este trabalho apresentou uma breve revisão da literatura mostrando diferentes definições e utilizações destes, explicitando as definições e conceitos que originaram tais termos. A proposta deste trabalho seria a expansão da distinção dos termos para todas as suas aplicações, não apenas quando tratam de PSA, já que a utilização indiscriminada dos termos dificulta buscas e pesquisas, uma vez que se utilizam diversos termos, ou o mesmo termo com distintos significados.

Neste sentido, os Serviços Ecossistêmicos seriam empregados de acordo com a definição de De Groot et al (2002) e MEA (2005), no qual os serviços seriam os benefícios que satisfazem as necessidades humanas obtidos (direta ou indiretamente) a partir dos ecossistemas, fornecidos pelas Funções Ecossistêmicas. Já os Serviços Ambientais seriam aqueles que envolvem ação antrópica visando à redução de um impacto ambiental ou a manutenção do fornecimento de serviços ecossistêmicos (RUTTAN, 1971; AMAZONAS, 2009).

Em seguida das considerações em relação às Funções e Serviços Ecossistêmicos, apresentadas anteriormente, faz-se importante destacar a metodologia proposta neste trabalho para determinar as FE, área de estudo ou projeto, SE e benefícios provindos destes serviços, inerentes a um determinado ecossistema.

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