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asconcepçoes

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  • 1AS CONCEPES DE PROFESSORES SOBRE VIOLNCIA E AUTORITARISMO

    NO CONTEXTO ESCOLAR1

    Cludia Regina Costa Pacheco2

    Jorge Luiz da Cunha3

    O presente estudo tem por objetivos compreender em que medida as concepes

    referentes a violncia e o autoritarismo incutem nas prticas pedaggicas dos docentes. Com

    este intuito, fez-se uma pesquisa de cunho bibliogrfico, na qual foram analisadas obras de

    distintos autores no que diz respeito a temtica. Aliado a isso, tem-se uma abordagem

    metodolgica relativa a histria oral, com o propsito de restabelecer as memrias dos

    colaboradores para, com isso, rever as origens de suas construes no que tange as suas

    concepes de violncia e de autoritarismo. A partir das leituras e anlises, foram

    estabelecidos trs eixos principais referentes, primeiramente, a origem das concepes de

    violncia e autoritarismo. Um segundo eixo, que ressalta a questo das representaes sociais

    e um terceiro, que preocupa-se com os efeitos e repercusses nas prticas docentes.

    Palavras-chave: violncia, autoritarismo, concepes docentes

    Introduo

    Este trabalho visa investigar as concepes sobre violncia e autoritarismo, no quetange as representaes sociais constitudas por um grupo de professores e as repercussesdestas nas suas aes docentes. Tendo como meta, compreender em que medida a constituiode representaes referentes a violncia e o autoritarismo incutem nas prticas pedaggicas detais profissionais, o que por conseqncia, influenciar nas concepes dos seus educandos.

    O foco desta investigao diz respeito ao estudo e compreenso de trs eixos

    principais referentes, primeiramente, a origem das concepes de violncia e autoritarismo.

    Um segundo eixo, que ressalta a questo das representaes sociais e um terceiro, que

    preocupa-se com os efeitos e repercusses nas prticas docentes.

    1 Trabalho desenvolvido no Ncleo de Estudos em Educao e Memria - CLIO/CE/UFSM. 2 Autora - Aluna do Curso de Mestrado em Educao / UFSM. E-mail: [email protected] Orientador - Prof. Dr. do Departamento de Fundamentos da Educao - UFSM.

    1

  • Frente a isso, fez-se uma pesquisa de cunho bibliogrfico, na qual foram analisadas

    obras de autores de distintos campos do conhecimento, mas principalmente os estudos de

    Arendt, Albornoz, Gallo e Odalia, no que tange as percepes de violncia e autoritarismo. Os

    trabalhos de Jodelet e seus colaboradores no que diz respeito as representaes sociais. E as

    obras de Altet e Freire, que deram suporte para o entendimento das prticas docentes.

    Alm disso, foi tambm utilizada, uma abordagem metodolgica relativa a histriaoral, sobretudo nas modalidades: histria oral temtica e histria de vida, com o intuito derecuperar as memrias dos colaboradores para, com isso, restabelecer as origens de suasconstrues a respeito de suas percepes de violncia e autoritarismo. Para compreendermelhor a referida abordagem metodolgica, foram utilizadas obras de especialistas na rea. Aexemplo disso, tem-se os estudos de Meihy e Von Simson.

    Pretende-se a partir das histrias de vida de aproximadamente trinta professores de

    sries iniciais de Ensino Fundamental de escolas pblicas e particulares da cidade de Santa

    Maria - RS, estudar um determinado processo de representao social, que refere-se a uma

    forma de conceber a violncia e o autoritarismo. Busca-se tambm, verificar como essa

    concepo de violncia e de autoritarismo influencia em seu trabalho, enquanto educador

    visto que isso vai interferir de forma direta ou indireta na formao dos educandos.

    Presume-se que este estudo venha a colaborar na formao e no aperfeioamento de

    professores, pois estar trabalhando com suas identidades, tanto profissionais, quanto

    pessoais, devido ao uso de uma abordagem metodolgica que contempla a histria oral

    vivenciada pelos colaboradores. Justifica-se esta investigao, tambm pela necessidade de

    um maior conhecimento, de um dos fatores que vem provocando muita efervescncia nos

    debates realizados em relao violncia.

    Destaca-se, nesse momento, as anlises parciais do estudo que j vem sendo

    desenvolvido. Cabe salientar que as entrevistas com os professores no foram ainda

    realizadas, visto a necessidade de um maior suporte terico que d sustentao para as

    mesmas. Por esse motivo, traz-se na seqncia, os resultados parciais do estudo bibliogrfico

    at ento realizado.

    Partindo-se dos trs eixos temticos, anteriormente citados, que constituem-se na

    base estrutural da pesquisa. Faz-se agora, a anlise do primeiro eixo que refere-se as

    percepes de violncia e autoritarismo. Para isso, observa-se a necessidade de uma

    compreenso sobre as origens e as conceituaes dos referidos termos.

    Violncia e Autoritarismo: Origens e Conceituaes

    2

  • A palavra violncia tem sua origem no latim violentia e, de acordo com Albornoz

    (2000, p.13), est em proximidade com violao, dilacerao, despedaamento, agresso,

    desordem, alm de aludir a quebra, ruptura de um tabu, ultrapassagem de um limite,

    transgresso de uma proibio, indo at a idia de abuso de um corpo, falta de respeito, etc.

    Com essa breve conceitualizao do que seria a violncia, observa-se que esta

    vista, comumente, como algo que est relacionado ao campo fsico, porm pelo que se sabe e,

    o que traz Ferreira (1986), a violncia vai alm do meio fsico, pois refere-se tambm a um

    constrangimento moral, a uma coao. Sob essa tica, percebe-se uma outra face da violncia

    que estaria relacionada ao campo simblico e , sobretudo, a esse aspecto que a referida

    pesquisa se dispe a investigar.

    Pelo que se observa raramente a violncia percebida no cotidiano, embora ela

    muitas vezes aparea, a violncia fsica mais aparente. O temor, de certa forma, maior em

    relao ao fsico, ainda que se saiba que marcas profundas podem ser deixadas pela violncia

    simblica.

    Frente a isso, percebe-se que a violncia manifesta-se de distintas formas e, por esse

    motivo, ela caracterizada e denominada de diferentes modos variando de acordo com as

    concepes de cada autor. A exemplo, tem-se os cinco tipos de violncia estabelecidos por

    Nilo Odalia (1991), que so: a violncia original, a institucional, a social, a poltica e a

    revolucionria.

    A violncia original seria a primeira imagem, a face mais imediata da violncia, que

    se exprime atravs da agresso, em outras palavras, seria a violncia fsica. Tal agresso, de

    acordo com Odalia, atinge diretamente o homem tanto naquilo que possui, seu corpo, seus

    bens, quanto naquilo que mais ama, seus amigos, sua famlia. Nesse contexto, percebe-se que

    a falta de uma soluo para a violncia da vida cotidiana faz com que esta torne-se um

    componente normal das relaes entre os homens. Observa-se, ento, uma espcie de

    banalizao da violncia, tanto por parte das pessoas, quanto das mdias, formadoras de

    opinio.

    Concorda-se com o autor ao destacar que o viver em sociedade sempre foi violento e

    que aparece em suas vrias faces. A exemplo tem-se o homem medieval e o seu temor as

    trevas, por estas propiciarem um nascimento daquilo que no se podia ver, mas sentir por

    meio de uma sensibilidade e de uma imaginao exarcebadas pela rigidez com que

    demarcavam os contrastes do dia e da noite, do claro e do escuro.

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  • Outro contraste histrico, seria a piedade crist versus as terrveis punies a que

    estavam sujeitos criminosos, hereges e outros que se opusessem ao cristianismo. Neste

    contexto, eram comuns purificaes em fogueiras, mortes pblicas, mos decepadas, entre

    outros castigos exemplares, tudo em nome de uma prtica educativa e intimidativa.

    A violncia institucionalizada, ao contrrio da anterior, nunca antes foi to divulgada

    como na atualidade. Isto se deve ao grande nmero de informaes que chegam at as

    pessoas, o que de certa forma, vem causando a to famosa banalizao da violncia. Nessa

    perspectiva, as desigualdades das diferenas entre os homens, enquanto violncias, vem sendo

    camufladas e consumidas atravs dos meios de comunicao, como forma de manter uma

    espcie de conformismo e um sentimento de impotncia perante a realidade violenta.

    No que tange a violncia social, observa-se conforme Odalia (1991), que toda a

    violncia social, no somente a questo do menor abandonado e da delinqncia, mas

    tambm as discriminaes raciais, sociais e sexuais. Quanto a violncia poltica, esta abrange

    desde o terrorrismo at as fraudes no sistema eleitoral. O autor destaca ainda as influncias

    polticas no contexto educacional afirmando que:

    A educao sempre foi um instrumento privilegiado de dominao e isso facilmente explicvel por um processo longo, contnuo e que trabalha comum material altamente sensvel, a criana e o jovem. Contudo, no deve sertido como o nico instrumento de dominao e nem o mais eficaz (...)Mesmo porque o processo educativo do povo no se limita ao sistemaeducacional formal, ele mais abrangente e dele no se pode excluir oschamados meios de comunicao de massa (1991, p.57).

    Concorda-se com a afirmao do autor, compreendendo o papel desempenhado pela

    educao e pela mdia nos processos de dominao, reproduzindo, muitas vezes, a ideologia

    das classes dominantes. Nesse contexto, insere-se a ltima violncia estabelecida por Odalia,

    a violncia revolucionria como uma forma de violncia poltica que se pratica com o intuito

    de diminuir as privaes do homem, buscando destruir os obstculos que separam o homem

    da criao e usos dos bens de sua sociedade.

    Tendo como pressuposto de que a poltica e o poder esto intimamente relacionados,

    insere-se as concepes da autora Arendt (1985) que destaca em sua obra os conceitos de

    poder, fora, autoridade e violncia, ressaltando que tais termos so semanticamente distintos

    e, por esse motivo, devem ser cuidadosamente examinados para no gerarem interpretaes

    errneas.

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  • Segundo a autora, a necessidade do emprego correto dessas palvras no se refere

    somente a uma concordncia gramatical, mas a uma perspectiva histrica. Utiliz-las como

    sinnimos, indicaria uma certa cegueira. Para elucidar este impasse Arendt (1985, p. 24) traz

    algumas concepes a respeito dos referidos termos. Primeiramente ela destaca o poder, como

    habilidade humana de no apenas agir, mas de agir em comum acordo. Assim, o poder jamais

    propriedade de um indivduo, pertence ele a um grupo e existe apenas enquanto o grupo se

    mantiver unido.

    Sobre fora que, muitas vezes, utilizada como sinnimo de violncia,

    especialmente a violncia da coero, para a autora, deveria designar as foras da natureza,

    indicando a energia liberada atravs de fenmenos fsicos ou sociais. J na autoridade

    destaca-se como caracterstica principal, o reconhecimento sem discusses por aqueles que

    so solicitados a obedecer; nem a coero e nem a persuaso so necessrias. Para que se

    possa conservar a autoridade, faz-se de suma importncia, o respeito pela pessoa ou pelo

    cargo.

    Partindo desses pressupostos, concorda-se com Gallo (1998), quando este afirma que

    a mais racional das autoridades seria a do contrato, a que nasce de um encontro de partes que

    se respeitam e que se ergue e se sustenta sobre o consentimento. Para o autor, o exerccio da

    autoridade seria legtimo desde que feito em nome da construo da desigualdade, tanto no

    que se refere a relao aluno-aluno, quanto na relao aluno-professor e vice-versa.

    Retomando-se a conceituao de Arendt tem-se, finalmente, a violncia com seu

    carter instrumental, o que a aproxima do vigor, uma vez que os instrumentos da violncia so

    concebidos e usados para o propsito da multiplicao do vigor natural at que o possam

    substituir.

    Frente a isso, cabe ainda salientar as diferenas semnticas dos termos autoridade,

    autoritrio e autoritarismo, que a autora no salientou em sua obra, mas que para esta

    pesquisa fazem-se necessrias. Para isto, busca-se as concepes de Ferreira (1986). Para ele,

    a autoridade seria sinnimo de influncia, de prestgio, de crdito. Em outras palavras, seria o

    indivduo de competncia indiscutvel em determinado assunto. O autoritrio seria aquele que

    procura impor-se pela autoridade. Seria altivo, impositivo, dominador, arrogante, opressor e,

    por vezes, violento. J o autoritarismo, seria um regime que postula o princpio da autoridade,

    aplicada com freqncia em detrimento da liberdade individual.

    Sobre esse fato, Moraes (1986) destaca que o autoritarismo a doena da

    autoridade, logo por ser uma doena deve ser tratado e no mais usado em sala de aula. Para o

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  • autor, a autoridade faz-se de fundamental importncia na estrutura da escola e no

    estabelecimento de relaes com os alunos, isto porque na sua concepo, a autoridade tem a

    ver com a liderana e nada tem a ver com a chefia.

    A partir disso, o autor estabelece que lder aquele que se prope e aceito,

    enquanto que chefe, no mais comum, aquele que se impe por um recurso de poder. E isso,

    o que, historicamente, vem ocorrendo com alguns professores, que por falta de liderana,

    impem as suas vontades por meio da coao de seus alunos.

    Tem-se em mente que cabe ao professor usar a sua autoridade diante da turma, pois

    isso seria inerente a sua funo e auxilia o seu aluno a ir reconhecendo as peculiaridades da

    vida. Faz-se interessante a citao de Moraes na qual ele faz uma analogia que explica muito

    bem a atuao do professor diante de sua classe:

    O filhote estabanado e ansioso quer se atirar de qualquer jeito para fora doninho, mas a ave-me no deixa. A ave sabe que o ninho est em galhomais alto, sabe que as asas do filhote ainda esto fracas, conhece ventosfortes e outros ventos mais apropriados. Pela no-diretividade das aves-mes, no teramos hoje a maior parte das lindas espcies de pssaros queainda vivem nas matas (1986, p. 25).

    Com essa analogia feita, busca-se entender o professor no como uma me ou uma

    tia, mas como um profissional responsvel com o crescimento de seus alunos. Pensa-se que o

    professor deve ser compreendido atravs de seu grande papel que desempenha junto a

    sociedade e, por esse motivo, a grande necessidade de se rever a questo da sua valorizao.

    Nesse clima de ensino-aprendizagem que se estabelece em sala de aula, tem-se em

    mente, que para que se efetue um trabalho de qualidade, preciso que o professor, alm de

    ensinar seus alunos, tambm abra espao para ouv-los, j que estes so peas fundamentais

    desse processo.

    Segundo Moraes (1986), compete ao professor que lidera seus alunos auxili-los a

    no fazer uma imagem fantasiosa da vida cotidiana. Como se esta fosse apenas uma grande

    brincadeira. O referido autor ainda destaca que ...para deixar nascer a disciplina no , nem

    nunca foi necessrio, sufocar o ldico ou eliminar a alegria. A vida no isto ou aquilo, mas

    na verdade isto e aquilo. (1986, p.28).

    Observa-se que para o professor estabelecer um clima de disciplina e organizao

    em sua sala de aula ele precisa juntamente com os seus alunos estabelecer princpios e

    algumas regras e, no apenas impor normas usando o autoritarismo para isso.

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  • Tendo como pressuposto os termos anteriormente enunciados e elucidados, parte-se

    agora para o segundo eixo que trata das representaes.

    A Teoria das Representaes Sociais

    As primeiras noes de Representao Social surgiram a partir de movimentos

    iniciados na Frana sob o impulso de Serge Moscovici. A autora Denise Jodelet configurou-se

    numa das maiores responsveis pelo aprofundamento da teoria das representaes. A partir

    dos anos 80, Jodelet vem ao Brasil e, desde ento, tem-se aqui uma intensa caminhada no

    campo das representaes sociais.

    A nfase dada a referida teoria nesta pesquisa se d por esta ser uma forma de

    conhecimento, que de acordo com Jodelet (2001), socialmente elaborada e construda, com

    um objetivo prtico, e que vem para contribuir para a construo de uma realidade comum a

    um conjunto social, no caso da pesquisa, a comunidade escolar.

    O referido estudo faz uso das noes de representaes sociais devido as suas

    particularidades de vitalidade, transversalidade e complexidade. Somado a isso, a autora

    Jodelet salienta que elas esto intimamente articuladas aos elementos afetivos, mentais e

    sociais, integrados ao lado da cognio, da linguagem e da comunicao. Em suma, tais

    representaes viriam como uma forma de saber prtico que liga um sujeito a um objeto.

    Com isso, de acordo com a autora, a representao social teria como seu objeto uma

    relao de simbolizao e de interpretao. Sua riqueza estaria enquanto fenmeno na

    descoberta de diversos elementos, tais como: informativos, cognitivos, ideolgicos,

    normativos, crenas, valores, atitudes, opinies, entre outros. E, com base nesses

    pressupostos, que a referida pesquisa busca unir essas duas abordagens - das representaes

    sociais e da histria oral - objetivando compreender melhor as percepes de professores no

    que tange a questo da violncia e do autoritarismo.

    Salienta-se mais uma vez que a utilizao de uma abordagem metodolgica que

    contempla as histrias de vida nesta pesquisa tem o intuito de reconstruir atravs de vrios

    relatos a trajetria de um grupo social - no caso de profissionais da rea da educao, o que de

    certa forma, vem contribuir para um melhor entendimento da identidade docente.

    Concorda-se com o autor Meihy, quando este afirma que ... A memria revela

    tambm a pluralidade das verses do vivido, opondo vozes que narram um mundo de

    conflitos, onde as relaes sociais no so lineares, as vozes que idealizam um passado sem

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  • contradies, portanto a-histrico.(1996, p.60). Percebe-se com a citao a importncia de

    diferentes verses sobre um mesmo aspecto, que vem para enriquecer e, quem sabe

    complementar um fato, possibilitando uma melhor interpretao da realidade.

    Acredita-se que ao trabalhar com mais de uma verso, menor tornar-se o risco de se

    recair em verdades absolutas e dogmticas. Busca-se com o auxlio dos professores-

    colaboradores sair de um contexto fechado e encontrar alternativas que possam contemplar

    aspectos globais vistos no contexto escolar, sem se perder das peculiaridades individuais de

    cada entrevistado, que com certeza enriquecero a pesquisa, ao repensar suas trajetrias e

    restabelecer suas percepes.

    Efeitos e Repercusses nas Prticas Docentes

    O terceiro e, ltimo eixo enunciado por esta pesquisa refere-se aos efeitos e

    repercusses nas prticas docentes. Como o referido estudo traz, neste momento, os resultados

    parciais da pesquisa, no trazendo ainda a parte das entrevistas aos professores, este eixo

    apresenta somente os achados bibliogrficos guiados por autores como Altet e Freire sobre as

    prticas docentes, ficando as repercusses para trabalhos futuros.

    Ao inserir-se no campo das prticas docentes cabe ressaltar a questo do professor,

    enquanto um profissional que atua frente ao inesperado. Sobre isso, tem-se as concepes de

    Altet que afirma:

    O professor um profissional que se defronta com situaes sempre novase difceis de resolver; mas, se tiver uma atitude de pesquisa e dispuser deinstrumentos que lhe permitam interpretar objetivamente as situaes emque se encontra implicado, o professor tornar-se-, assim capaz deencontrar as solues mais pertinentes para resolver os problemas que selhe apresentam na prtica (2000, p. 10).

    Observa-se com a citao, a necessidade de um constante aperfeioamento docente

    para que o professor consiga na sua prtica pedaggica resolver possveis problemas que

    venham aparecer ao longo de sua atuao junto a comunidade escolar. Acredita-se que o

    professor precisa estar sempre se questionando, levando em considerao a natureza de sua

    atuao, que de acordo com Schn (1992), estaria baseada em trs conceitos, que so:

    conhecimento na ao, reflexo na ao e reflexo sobre a ao. Tais conceitos

    influenciariam de modo significativo na tomada de decises frente as situaes escolares.

    8

  • Como j foi dito anteriormente, a violncia insere-se em vrios lugares, porm a

    preocupao deste estudo est naquela que atua dentro da escola sobretudo na sala de aula.

    Para isso, a anlise recai sobre dois atores: o professor e o aluno.

    Paulo Freire (1996), no captulo Ensinar no transferir conhecimento, constituinte

    de sua conhecidssima obra Pedagogia da Autonomia, traz alguns caminhos que podem

    ajudar na construo de uma nova concepo a respeito da educao, vista como algo

    prazeroso tanto para alunos quanto para professores e, alm disso, valorizada por uma

    sociedade que compreender o papel fundamental que a educao desempenha frente a um

    contexto real e concreto.

    Percebe-se nos textos de Paulo Freire uma boa dose de utopias, pois, para ele,

    enquanto existir um homem ou uma mulher, h esperana de construir-se um mundo melhor,

    onde as diferenas no sero vistas com olhos preconceituosos que as minimizam, mas sim

    sero percebidas como formas que ajudam na produo de um conhecimento coletivo para a

    transformao social. Tem-se a convico de que essa constante busca da humanidade por

    um mundo melhor que proporcionar, no a erradicao total da violncia, mas a

    conscientizao dos seres humanos para que preservem mais alguns valores essenciais para a

    sua permanncia e convivncia em sociedade.

    Referncias Bibliogrficas

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    Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2000.

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