canção brasileira e ensino de português como língua adicional

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS Leandra Gularte Paiva Canção brasileira e ensino de Português como Língua Adicional: uma leitura de propostas vinculadas ao PPE UFRGS PORTO ALEGRE, RS. 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE LETRAS

Leandra Gularte Paiva

Canção brasileira e ensino de Português como Língua Adicional:

uma leitura de propostas vinculadas ao PPE UFRGS

PORTO ALEGRE, RS.

2015

Leandra Gularte Paiva

Trabalho de conclusão de curso apresentado

como requisito parcial para obtenção do título de

Licenciado em Letras pela Universidade Federal

do Rio Grande do Sul

Orientador: Prof. Dr. Antônio Marcos Vieira

Sanseverino.

PORTO ALEGRE, RS.

2015

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus pela minha vida e pelas bênçãos que

recebo todos os dias; aos meus pais, Maria Sueli e Jorge Luis, minha pequena grande

família, pelo apoio, suporte, incentivo e amor, palavras nunca serão suficientes para

agradecer por tudo que fizeram e fazem por mim.

Ao meu orientador Antônio Sanseverino, pelas ideias, motivação,

mesmo nos momentos de desânimo. Um professor que admiro por sua dedicação,

conhecimento e humildade.

À professora Gabriela Bulla, pelas ideias e auxílio que foram muito

importantes no desencadeamento deste trabalho.

Ao meu grande amigo André Vicente, obrigada por compartilhar teus

conhecimentos musicais, por ter ficado tantas vezes acordado até tão tarde, em

infinitas conversas via Skype, interpretando textos e analisando canções comigo,

escutando minhas escritas, opinando, enfim, ajudando muito. Sem a tua colaboração

e dedicação, não sei o que seria deste trabalho.

Ao Arnar, ástin mín, por ter vindo de uma ilha tão distante para mudar

minha vida, me mostrando novas perspectivas, e por ser minha pequena experiência

pessoal no ensino de português para estrangeiros, além de partilhar comigo seu

grande interesse por canção brasileira. E também pela paciência e compreensão em

entender esse momento da minha vida em que não pude lhe dedicar tanta atenção,

situação agravada pela distância no tempo e no espaço.

As minhas duas colegas e amigas, presentes que a UFRGS me deu.

Jéssica, minha companheira de RU, que agora se aventura em terras distantes, mas

está sempre presente; e Mariana, melhor parceira de estágio que eu poderia ter.

Ao Edu, meu outro grande parceiro de RU e que também se aventura

em terras distantes, obrigada pelas conversas, pelas festas, enfim pela parceria nos

mais diversos momentos.

Ao grupo do Coral da Letras, por ter me proporcionado momentos tão

especiais e por ter me ajudado a encarar esse ano pesado com mais leveza.

Ao meu instrutor de acrobacia, Guilherme, por ter não somente me

ensinado tantos movimentos, me ajudando a superar meus limites e medos (físicos e

psicológicos), mas também pelas conversas e incentivo em momentos de estresse,

principalmente durante a elaboração deste TCC.

À chefa, Renata, pela compreensão neste momento tenso em que estive

menos presente nas atividades da ONG.

Aos meus amigos e colegas que me acompanharam nesse percurso

acadêmico de diversas formas, em diversos períodos e que contribuíram de alguma

forma para que eu chegasse até aqui. Lembro aqui de quatro nomes: Letícia, Rapha,

Thiago, Bruna.

Enfim, agradecer, ter gratidão, traz um sentimento tão bom que é difícil

parar, finalizo agradecendo a todos que torcem por mim e que tiveram alguma

participação nessa trajetória.

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo investigar a utilização da canção como

ferramenta para o ensino de português como língua adicional. Para isso, é realizada

uma breve reflexão de aspectos linguísticos, literários e musicais da canção para um

uso mais proveitoso em sala de aula. Após, é feita uma análise de dois TCC’s

realizados nessa área de estudo, enriquecendo a discussão.

Palavras-chave: canção brasileira; ensino; literatura; português como língua

adicional.

SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 7

2.0 ENSINO DE LÍNGUA E LITERATURA E O GÊNERO CANÇÃO ............... 8

2.1 PLA - ensino de língua vinculado à literatura e à cultura ..................... 10

3.0 A CANÇÃO NO ENSINO ........................................................................... 13

3.1 Definição de canção, considerações sobre a canção ........................... 13

3.2 Canção no ensino de PLA ....................................................................... 15

4.0 DA POSSIBILIDADE DE SE PENSAR UM PROJETO DE ENSINO EM PLA

TENDO COMO GÊNERO ESTRUTURANTE A CANÇÃO .............................. 26

4.1 Quanto à variação da definição de canção: ........................................... 27

4.2 Quanto aos temas culturais. ................................................................... 28

4.3 Quanto aos critérios para a seleção de um repertório de canções. .... 29

4.4 Quanto às reflexões literária e linguística. ............................................. 31

4.5 Como entra a leitura do texto. ................................................................. 33

4.6 Desdobramentos possíveis a partir dos TCC analisados..................... 34

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 41

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 43

7

1 INTRODUÇÃO

Despertado há pouco tempo e por motivos pessoais: assim começou o

interesse em realizar o presente trabalho. Presenciei estrangeiros bastante

interessados pela canção brasileira. Esse contato me fez perceber que eu mesma não

tinha muito conhecimento sobre o assunto, apesar de o interesse já existir, pois havia

cursado a disciplina de Canção Popular, disciplina eletiva oferecida pelo curso de

Letras, há algum tempo. A experiência com ensino de Língua Portuguesa como

Língua Adicional (PLAQ) também foi pessoal e informal, mas tais experiências foram

o que bastou para despertar a vontade de fazer esse trabalho. A canção é uma

possibilidade de conhecer aspectos culturais de um povo, por meio de seu contexto,

aspectos linguísticos e literários, pensar como a literatura e a canção existem no

mundo, partindo do olhar de diferentes culturas. A apropriação de uma língua adicional

proporciona o diálogo com outra cultura, a partir da sua própria e a chance de se

apropriar de uma nova possibilidade de pensar a condição humana desde o ponto de

vista do outro. Desse modo, ao propor o trabalho com canção brasileira, pensamos

na diversidade cultural que ela expressa. Ela pode ser uma porta para que se dê o

encontro do aluno não apenas com outra língua, como também com outra cultura e

com os valores que vêm junto com ela.

Encontrei dificuldades na elaboração deste trabalho principalmente pela falta

de experiência prática na área, em sala de aula. O interesse pelo tema é importante,

mas a experiência auxilia no embasamento, por isso a opção por analisar trabalhos

de pessoas com o mesmo interesse e com experiências significativas.

Este trabalho pretende estabelecer um diálogo entre as áreas de Letras e

Música, tendo como foco o uso da canção no ensino de PLA. Está dividido em 4

capítulos. No primeiro capítulo deste trabalho são abordadas questões relativas ao

ensino de Língua Portuguesa e Literatura e um pouco mais detidamente no ensino de

PLA. No segundo capítulo é feita uma reflexão sobre o gênero canção, suas

características e sua utilização em sala de aula. No capítulo final, dois TCCs são

analisados com base em alguns critérios e, por fim, uma proposta de atividade com

canção para ser utilizada em aula de Português como Língua Adicional.

8

2 ENSINO DE LÍNGUA E LITERATURA E O GÊNERO CANÇÃO

Os Referenciais Curriculares do Rio Grande do Sul, RC’s (2009, p. 54) nos

trazem a importância de realizar o estudo da língua sempre por meio do texto, e isso

aparece tanto no documento voltado para o ensino de Língua Portuguesa e Literatura

quanto nos de ensino de Línguas Adicionais. É por meio do texto que se fará o estudo

da língua, seja a materna ou a adicional. Ele também será o elo entre os estudos de

Língua Portuguesa e Literatura, “o ponto de partida e de chegada, em torno do qual

todas as tarefas propostas pelos alunos se estruturam” (2009, p. 52). Dessa forma, é

interessante pensar o ensino de Literatura também como fundamento para o ensino

de Língua Portuguesa:

A educação literária contribui para a formação da pessoa, favorece a socialização por meio de textos que tratam dos modos como as diferentes gerações têm valorizado a atividade humana através da linguagem (...) oportuniza conhecer a diversidade sociocultural e acompanhar o desenvolvimento ético e estético de grandes temas através dos tempos. Tudo isso ocorre na literatura por meio da linguagem, daí também ser importante

instrumento de formação linguística (...) (FILIPOUSKI, Ana Mariza Ribeiro;

MARCHI, Diana Maria; SIMÕES, Luciene Juliano 2009, p. 83)

Todo o trabalho de estudo do texto, de reflexão linguística, pode ser feito por

meio dos gêneros literários, sem deixar de lado o estudo de suas características

próprias, além da fruição, do prazer de ler. Assim, aliando texto literário à reflexão

linguística, essas duas disciplinas tornam-se uma só.

E, quando se fala em leitura e compreensão de texto, não se restringe apenas

à forma escrita, mas também inclui a compreensão oral, pois ela também faz parte de

práticas letradas as quais a escola precisa dar acesso. Conforme a situação de

comunicação, diferentes gêneros, escritos ou orais, serão mais adequados para

cumprir os propósitos tendo em vista a situação, os interlocutores e as ações

envolvidas. Por exemplo, em esferas públicas e institucionais em que “as práticas de

linguagem serão letradas, (...) se fazem presentes fortes efeitos de continuidade entre

fala e escrita” (FILIPOUSKI; MARCH; SIMÕES, 2009, p.55). Nesse caso, é preciso

partir de situações concretas de uso da língua, situações com as quais os alunos

possam se identificar e de gêneros escritos adequados. Além dos textos literários

escritos, a canção, gênero de suporte oral, também pode ser usada para explorar

elementos literários e trata-se de um gênero que está presente na vida da maioria das

9

pessoas. Na vida cotidiana, a literatura existe nas práticas sociais mais diversas. Para

exemplificar, podemos referir desde literatura de autoajuda até aquelas obras que se

tornam best-sellers, que viram filmes, que são comentadas pelo público leitor, pela

imprensa. Não se trata de estabelecer juízo de valor, mas de pensar como a literatura

existe fora da escola e pode ser trazida para sala de aula. A canção, enquanto gênero

híbrido, conforme discutido em seguida, tem uma presença muito forte fora da escola,

circulando nas mais diversas situações.

Um projeto de ensino, de acordo com o que nos aponta os RC’s, é criado a

partir de um tema e de gêneros estruturantes, que irão guiar todo o trabalho em sala

de aula. A escolha do tema deve se basear na experiência pessoal dos alunos, nos

seus interesses, deve se tratar de algo relevante para o grupo de alunos com os quais

será desenvolvido. No caso do presente trabalho, a escolha da canção como gênero

estruturante se deu a partir da reflexão sobre o interesse de estrangeiros pelo Brasil,

que passa pela escuta de canções brasileiras, pois estas circulam pelo mundo. Há

alguns estilos e canções específicas conhecidas entre os estrangeiros, principalmente

entre aqueles que têm o interesse por música, como o samba e a bossa nova, por

exemplo. Portanto, sabendo-se que os têm, em geral, algum conhecimento sobre

canção e que se trata de um tema e de um gênero de interesse de alunos estrangeiros,

este estudo pretende oferecer uma oportunidade para os alunos ampliarem seu

repertório de canções, descobrirem novos e diferentes estilos e também dará a

chance de conhecer o assunto ao aluno que ainda que não tenha se interessado ou

não tenha tido essa oportunidade. Além disso, com a canção é possível conhecer

alguns aspectos importantes da cultura do país e fazer com que o aluno tenha uma

maior imersão no idioma e na cultura do Brasil.

De acordo com Bakhtin (2010), os gêneros discursivos circulam, formam-se

dentro das práticas sociais, ou seja, por meio dos usos. Isso se aplica, no ensino, no

ponto em que se deve partir da realidade e interesse dos alunos e de situações reais

de comunicação para que o aprendizado seja efetivo e tenha sentido para quem está

aprendendo. Por isso, é importante considerar as práticas em que os alunos estão

envolvidos no momento de pensar um gênero para um projeto.

No caso da canção, trata-se de um gênero literário que, por sua característica

de brevidade, é possível trabalhar-se na íntegra em sala de aula e está presente no

cotidiano de muitas pessoas. Além disso, a canção é um gênero que envolve o lúdico,

10

a fruição, o prazer estético. Por ser um gênero híbrido, que articula música e letra,

ambos os aspectos devem ser trabalhados em sala de aula, não apenas se atendo à

poesia presente na letra da canção, esquecendo de sua melodia. Um trabalho

unilateral correria o risco de prejudicar a função estética da fruição para transformá-la

apenas em objeto de análise, ignorando seu contexto. Assim, há vários aspectos que

envolvem o interesse pela canção. Uma pessoa pode se apegar ao conteúdo da letra

(a imagem, a interlocução, a narrativa), mas o envolvimento se dá através da

articulação da palavra com a música, através da performance de um cancionista.

Nesse caminho, um ouvinte pode gostar tanto de uma canção, que decora sua letra e

música e é capaz de mimetizar a performance do intérprete. Ao mesmo tempo, a

canção não é apenas experiência pessoal, ela se diversifica em várias modalidades

(samba, modinha, MPB, rap, funk, rock etc.), de tal modo que gosto musical (tipo,

compositor, tipo de letra etc.) serve como reconhecimento identitário. Por fim, sem

ambição de esgotar a riqueza do gênero, a canção traz as marcas culturais de uma

comunidade, talvez de uma nação. Por isso, pensar um projeto de ensino que integre

língua e literatura pode partir desse gênero.

2.1 PLA – ensino de língua vinculado à literatura e à cultura

No presente trabalho, utilizamos o termo Língua Adicional com base nos RC’s

(SCHLATTER, M.; GARCEZ, P, 2009) e em textos consultados sobre o assunto. De

acordo com Barbosa:

Apesar do contexto de aula envolver alunos estrangeiros, o modo como o professor se refere à língua está sujeito a interpretações, e o termo Língua Adicional evidencia a aquisição de mais uma língua e consequente ampliação do repertório linguístico do aluno; diferentemente do termo Língua Estrangeira, que enfoca certo distanciamento do aluno com a língua em estudo. (BARBOSA, 2011, p. 21).

Os RC’s (FILIPOUSKI; MARCH; SIMÕES, 2009) definem Língua Adicional

como objeto de ensino de Língua Espanhola e Língua Inglesa na escola, ou seja, uma

língua a acrescentar ao repertório do aluno, que muitas vezes já tem uma segunda

língua que provém de sua comunidade ou descendência. Quando uma nova língua é

acrescentada a esse repertório, ela não vem sozinha, ou seja, não se aprende apenas

seus elementos linguísticos constitutivos. Quando aprendemos uma língua diferente

11

também nos deparamos com outras questões que nos acrescentam e nos

surpreendem; tudo depende de como iremos receber tais informações e se isso será

influenciado ou se irá se relacionar, de alguma forma, com nosso próprio repertório,

nossa bagagem. Esses elementos estão relacionados à cultura, entendida aqui como

a totalidade complexa que engloba conhecimentos, crenças, artes, moral, lei,

costumes e quaisquer capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro

de uma sociedade, incluindo, naturalmente, também as criações materiais como

instrumentos, vestuários, receptáculos, armas, moradias.

No caso do ensino para estrangeiros, o professor pode tentar fazer com que

o aluno relacione a língua adicional, o português, e traga para a sala de aula aspectos

de sua própria cultura, de modo a ajudá-lo a entender aspectos da cultura brasileira.

Um terreno muito fértil para trabalhar tais relações é a literatura. Como já apontado no

capítulo anterior, o texto literário pode ser usado como fundamento para o ensino de

Língua Portuguesa, o que se aplica não só ao ensino de língua materna, mas também

ao ensino de português como Língua Adicional. A diversidade de gêneros, estilos e

temas presentes na literatura não é apenas uma amostra da língua, mas também de

uma riqueza cultural através dos tempos. Por meio do contato, da leitura e do trabalho

com o texto literário pode-se compreender melhor questões históricas e sociais e isso

é importante para o aluno estrangeiro se inserir e compreender melhor a cultura na

qual está imerso. No caso, estamos pensando a literatura enquanto uma forma

estética de trabalho com a linguagem, que, na modernidade, traz o cruzamento de

vários fatores. Temos a expressão pessoal, subjetiva, de afetos, de emoções, de

sentimentos e pensamentos, que permite, por meio da identificação com uma canção

lírica ou com uma narrativa, um envolvimento muito intenso do leitor (ouvinte) com a

obra fruída. Há um grande prazer em aprendermos com a imitação do mundo e isso

pode vir, então, do reconhecimento, mas também da forma como essa representação

foi feita.

Wolfgang Iser, teórico da literatura, nos ajuda a entender o que move o leitor

em direção à ficção. A experiência de leitura da ficção abre ao leitor um vasto universo

imaginário. Nesse mergulho, ele encontra personagens, ações e conflitos que o

afastam de seu cotidiano. Ao arrancá-lo de sua rotina, a literatura apresenta ao leitor

as possibilidades humanas, complexas e pesadas, duras e angustiantes, risíveis e

patéticas, degradantes e humilhantes, sofridas e trágicas etc. Na liberdade com que

12

mergulha na ficção, ele amplia seus horizontes e retorna enriquecido para vida de

todos os dias. Nesse caminho, também uma canção oferece uma possibilidade de

fruir uma expressão estética (poética e musical) que se interpola na rotina.

O que é que faz com que o leitor deseje participar das aventuras da literatura? Essa questão, talvez, seja mais para o antropólogo do que para o crítico literário, mas o fato evidente é que as pessoas sempre tenderam a gostar de fazer parte dos perigos fictícios do mundo literário; agrada-lhes deixar a própria segurança e entrar em domínios do pensamento e do comportamento que não são, de modo algum, sempre edificantes. A literatura simula a vida, não para retratá-la, mas para permitir que o leitor dela participe. Ele pode sair de seu próprio mundo e entrar em outro onde pode viver extremos de prazer e de dor, sem ser envolvido em quaisquer consequências. É essa falta de consequência que lhe permite experimentar coisas que, de outra forma, lhe seriam inacessíveis, devido às exigências prementes da realidade cotidiana. Precisamente por que o texto literário não faz nenhuma exigência objetivamente real aos leitores, ele descortina uma liberdade que cada um pode interpretar a seu modo. (Iser, 1999)

A canção agrega essa experiência pessoal de fruição estética e aspectos

culturais, assim como obras literárias escritas, pois a canção nos traz amostras de

culturas regionais e de diferentes tempos históricos. Além disso, é um gênero bem

viável de ser de ser trabalhado em sala de aula, no tempo da aula, e pode contribuir

para uma ampliação de vocabulário e repertório para estudantes estrangeiros com

diferentes níveis de proficiência.

13

3 A CANÇÃO NO ENSINO

No capítulo anterior situamos a canção como possível gênero estruturante para

um projeto de trabalho que desse conta de questões da língua e da literatura e de

aspectos culturais no ensino de PLA. Neste capítulo, será apresentada o conceito de

canção que orienta este trabalho e, em seguida, serão exploradas algumas formas de

usá-la em sala de aula.

3.1 Considerações sobre a canção

Para Luiz Tatit, canção não é o mesmo que música, mas um desdobramento

dela. O autor diz que “canção é sempre a junção entre melodia e letra” (TATIT, 2011),

ambas devem passar a mesma mensagem, mas a grande questão por trás da

definição desse gênero é a oralidade, a fala que acompanha a melodia. Essa primeira

noção é parte da definição de canção que orienta este trabalho. Nosso entendimento

sobre o gênero também encontra suporte na definição de Manzoni e Rosa, segundo

os autores,

A canção é uma peça pequena, que tem como principal meio de execução o canto (voz) com ou sem acompanhamento (instrumento). Para que ela seja executada, é necessária a composição de uma melodia, ainda que no momento da reprodução vocal não haja instrumento musical para o acompanhamento, e a composição de uma letra, seja ela advinda de um texto poético já existente ou de um texto criado juntamente com a melodia pelo compositor musical.” (MANZONI; ROSA, sem data, p. 2, grifo nosso)

Tais definições entendem canção principalmente como a junção entre letra e

melodia, mas como nos lembra Souza (2009, p.10-11), outros elementos a compõe,

como a harmonia e o ritmo. No entanto, os dois elementos presentes nas definições

se relacionam diretamente e são os que podem ser mais produtivos para um trabalho

em sala de aula, em uma aula de literatura. Entendo esses conceitos de acordo com

Med (1996 p.11), que define melodia como um “conjunto de sons dispostos em ordem

sucessiva”, harmonia como um “conjunto de sons dispostos em ordem simultânea” e

ritmo como a “ordem e proporção em que estão dispostos os sons que constituem a

melodia e a harmonia”. Assim, a grande questão da canção está na forma como a

palavra, oralizada, ganha feição especial quando se articula com a música.

Napolitano (2002) aprofunda o estudo da estrutura e nos traz o conceito de

dupla articulação da canção, uma divisão que é feita para fins didáticos, deixa claro,

14

pois “na experiência estética da canção eles formam uma unidade” (Napolitano, 2002,

p. 54). Essa dupla natureza, ou dupla articulação da canção é composta basicamente

pelos parâmetros verbais e pelos parâmetros musicais. Os primeiros se referem à

poesia e seus procedimentos, ao uso de figuras de linguagem, ao uso da linguagem

verbal, da palavra; os segundos se referem aos elementos musicais (harmonia,

melodia, ritmo), interpretação (arranjo, vocalização) e de criação, de composição. O

autor trata da relevância do estudo de tais elementos, mas ressalta que se deve tomar

cuidado para não dar demasiada importância a determinado aspecto em detrimento

de outro. Aponta que “foi muito comum, até o passado recente, a abordagem da

música popular centrada unicamente nas ‘letras’ das canções, levando a conclusões

problemáticas e generalizando aspectos parciais das obras e seus significados”

(Napolitano, 2002, p. 54). Esse aspecto é ressaltado também ao longo do presente

trabalho, quando se aponta a importância de um trabalho articulado justamente entre

os elementos verbais, como a letra, e musicais, como a melodia. Todos os aspectos

são importantes, inclusive, como nos lembra Barbosa (2011), a palavra na canção tem

a mesma importância que tem na literatura. É relevante essa distinção em um estudo

mais aprofundado da canção para que se possa ter um maior entendimento e tirar um

melhor proveito do que ela pode nos oferecer. Ao finalizar o trecho em que trata do

assunto, Napolitano (2002) salienta que essa dupla natureza desaparece no momento

da composição, pois um bom compositor de canções “consegue passar para o ouvinte

uma perfeita articulação entre os parâmetros verbais e musicais de sua obra, fazendo

fluir a palavra cantada, como se tivessem nascido juntos.” (Napolitano p. 63-64).

15

3.2 Canção no ensino de PLA

Conforme discutido anteriormente, a canção circula entre o oral e o

escrito e reúne elementos das duas esferas, o que pode potencializar o seu trabalho

em sala de aula, especialmente no caso do ensino de português como língua

adicional. A canção é um texto autêntico, o que significa que foi criada para cumprir

um propósito em determinado contexto por pessoas que fazem uso da língua,

conforme os RC’s (FILIPOUSKI; MARCH; SIMÕES, 2009, p 136.) A elaboração de

um projeto de ensino envolvendo canção deve levar em consideração essa

autenticidade, atentando para um trabalho com a letra de uma canção sem

desconsiderar sua melodia e seu contexto. Há diversos aspectos a serem explorados:

literários, linguísticos, musicais e também as práticas sociais com as quais essa

produção se vincula.

Outro motivo que pode levar à escolha desse gênero para estruturar um

projeto é o interesse dos alunos. Muitos estrangeiros têm interesse em conhecer ou

saber mais sobre a música brasileira, mas talvez não tenham tido a chance de se

aprofundarem e apenas saibam algo sobre bossa nova, samba ou estilos mais atuais,

hits que circulam pelo mundo, como o famoso Ai, se eu te pego. Projetos como esse

possibilitam que os alunos explorem e conheçam melhor o gênero canção e seu

contexto de produção, circulação, além de proporcionarem uma oportunidade de

reflexão sobre as letras, os sentidos, a relação entre letra e melodia, entre diversos

outros fatores. O trabalho de mediação do professor consiste em ampliar o repertório

para além daquelas mais conhecidas1. Essa mediação permite abrir a canção para os

aspectos sociais, históricos, culturais que revelam algo do Brasil, para além do embalo

do corpo ao som de uma entoação sedutora. Por exemplo, ao ouvir “Cálice”, o

professor pode trazer o contexto da Ditadura Militar que fez com que Chico Buarque

e Milton Nascimento trabalhassem numa dimensão sutil do duplo sentido, como se

mostra no título: Cale-se e Cálice. Não diminui a fruição, e pode ampliar o horizonte

de compreensão sobre o Brasil.

O Brasil é rico em estilos que variam de acordo com a região, com a história.

No trabalho em sala de aula, em que a canção será objeto de estudo, em se tratando

1 Mesmo que não seja trabalhado na sala de aula, pode-se montar um banco de canções enquanto uma pequena “biblioteca” disponível para ir além do tempo da sala de aula.

16

de alunos estrangeiros aprendendo a língua portuguesa, o estudo da letra da canção

é importante, mas não o único elemento a ser analisado. Como visto anteriormente, a

canção é um gênero composto por vários elementos, mas a melodia é a que mais se

relaciona diretamente com a letra, que costuma ser o objeto de estudo da língua e,

por essa relação, é importante estudá-la como um todo. A poesia, a letra se relaciona

com a melodia, que pode nos dizer muito sobre a canção, ajudando na sua

interpretação e na compreensão de aspectos que se relacionam com ela, como o

contexto em que ela foi produzida, para qual público.

Com base nos pontos expostos acima, uma possibilidade de trabalho para o

ensino de PLA por meio de canções seria pensar a relação temática, do tema

escolhido, com o estilo musical. Para ilustrar essas e outras relações, enriquecendo o

percurso de reflexão sobre canção no ensino de PLA, são apresentadas, a seguir,

análises da canção “Cotidiano”, de Chico Buarque, e “Deixando o pago”, de Vitor

Ramil2.

O primeiro exemplo, “Cotidiano”, é uma canção estrófica, sem a presença de

um refrão, em que possível explorar as relações entre letra e melodia. Segue a letra

da canção:

Todo dia ela faz tudo sempre igual

Me sacode às seis horas da manhã

Me sorri um sorriso pontual

E me beija com a boca de hortelã

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar

E essas coisas que diz toda mulher

Diz que está me esperando pro jantar

E me beija com a boca de café

Todo dia eu só penso em poder parar

Meio dia eu só penso em dizer não

Depois penso na vida pra levar

E me calo com a boca de feijão

Seis da tarde como era de se esperar

Ela pega e me espera no portão

Diz que está muito louca pra beijar

E me beija com a boca de paixão

Toda noite ela diz pra eu não me afastar

Meia-noite ela jura eterno amor

E me aperta pra eu quase sufocar

E me morde com a boca de pavor

2 São utilizados como referência para este trabalho as versões encontradas no CD Construção, de 1971 e no CD Foi no mês que vem, de 2013, respectivamente.

17

Nessa canção, a melodia sempre se repete, acompanhando o sentido do

texto, apenas mudando a letra, como na primeira estrofe, por exemplo:

Todo dia ela faz tudo sempre igual

Me sacode às seis horas da manhã

Me sorri um sorriso pontual

E me beija com a boca de hortelã

Aí temos a melodia completa. A cada estrofe a melodia se completa e se

repete na estrofe seguinte, que começa sempre com

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar

E essas coisas que diz toda mulher

Diz que está me esperando pro jantar

E me beija com a boca de café

Todo dia eu só penso em poder parar

Meio dia eu só penso em dizer não

Depois penso na vida pra levar

E me calo com a boca de feijão

A melodia reinicia da mesma maneira a cada estrofe. Portanto, há uma

relação direta com o sentido da letra, que retrata o cotidiano, pois a melodia

acompanha esse sentido de repetição da letra. É interessante enfatizar nesta relação

entre letra e melodia, que as palavras TODO DIA são cantadas somente no início da

estrofe e que são cantadas sempre com as mesmas notas. Importante salientar que,

do ponto de vista musical, essa melodia transmite a sensação de conclusão, de

fechamento de uma ideia. A cada começo de estrofe a melodia também recomeça,

assim como a cada final de estrofe, trazendo a ideia de repetição. A melodia

acompanha, assim, o sentido da letra.

18

A exceção disso está na quarta estrofe, pois existe uma pequena alteração

na segunda metade, caracterizando a ideia de inconclusão na melodia, apesar de o

texto concluir a ideia. Não há, entre a quarta e a quinta estrofes, a pausa na melodia,

existente na relação entre outras estrofes. Apenas ao final da quinta estrofe a melodia

voltará a transmitir a ideia de conclusão.

Seis da tarde como era de se esperar

Ela pega e me espera no portão

Diz que está muito louca pra beijar

E me beija com a boca de paixão

Toda noite ela diz pra eu não me afastar

Meia-noite ela jura eterno amor

E me aperta pra eu quase sufocar

E me morde com a boca de pavor

Todo dia ela faz tudo sempre igual

Me sacode às seis horas da manhã

Me sorri um sorriso pontual

E me beija com a boca de hortelã

Não se pode esquecer ainda da possibilidade de se fazer uma reflexão

literário-linguística da canção. E o eu poético do poema-em-canção é masculino, um

homem que apresenta sua rotina repetitiva a partir do retrato da mulher presa ao

universo doméstico. Para isso, o tempo verbal utilizado é o presente do indicativo,

numa indicação de uma descrição que escapa ao tempo, que se mostra como um

perfil repetido no tempo, sempre igual. Esse aspecto pode ser observado

principalmente nas repetições da expressão Todo dia e nas horas marcadas ao longo

da canção (6 da manhã, 12h, 6 da tarde, meia noite). Esse discurso incorpora a sintaxe

19

e o vocabulário próprios do uso oral da língua. Essa fala (em um tom de lamento?)

ganha forma poético-cancional através da métrica regular e das rimas intercaladas.

Além da análise dos aspectos estruturais, literários e musicais da canção,

também é preciso levar em consideração o meio em que ela circula, o contexto

histórico e social em que foi produzida. No caso, estamos nos anos de 1970, quando

Música Popular Brasileira (MPB) está numa fase de esplendor criativo e dá voz ao

confronto com a ordem instituída, seja na denúncia da Ditadura Militar, seja na

repressão aos costumes não burgueses. Tudo isso contribui e enriquece o

aprendizado do gênero e principalmente da cultura, mostrando especificidades de

determinadas regiões, costumes, uma análise mais completa, explorando diversas

possibilidades. Um outro aspecto a ser estudado na canção, que ajuda a entender seu

sentido, é pensar sobre o meio sócio-histórico-cultural em que ela foi produzida, pois

é importante, quando se utiliza a canção como ferramenta no ensino de língua, situar

aqueles que estão aprendendo no tempo e espaço. Ou seja, situar o aluno no contexto

histórico, social e geográfico de produção ou circulação da canção que está sendo

utilizada como objeto de ensino e aprendizagem.

Outra das estratégias utilizadas para tal reflexão é utilizar canções regionais.

Para isso, escolhi como exemplo uma milonga: ritmo presente na cultura gaúcha.

Ramil nos mostra um pouco do contexto histórico e geográfico da milonga em seu livro

A Estética Do Frio, em que diz que “Assim como o gaúcho e o pampa, a milonga é

comum a Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina, inexistindo no resto do Brasil. ”

(Ramil, 2004, p.21). Isso nos mostra a especificidade regional do estilo, que carrega

características da cultura de determinadas regiões que talvez não façam o mesmo

sentido em outras do mesmo país. Ramil também nos esclarece a origem do vocábulo

milonga, que é plural de mulonga, de origem africana, que significa “palavra”. Além

disso, o autor acrescenta que há diversas teorias sobre a origem do estilo, que se

caracteriza por ser versátil, pois há muitas maneiras diferentes de tocá-lo, podendo

ser alegre (em tom maior), para dançar, mas que, pessoalmente, associa a milonga

ao gaúcho do pampa, milonga pampeana ou campeira, também conhecida como

milonga-canção, que quase sempre se apresenta em tom menor, é mais melancólica,

emocional, repetitiva.

Considerando o que nos apresenta o autor sobre os tipos de milonga, escolhi

para esta análise a canção intitulada Deixando o Pago, de Vitor Ramil e João da

20

Cunha Vargas. Interessante observar que a letra de Deixando o Pago é um poema de

João da Cunha Vargas que foi posteriormente musicado por Vitor Ramil. O fato de

essa música não ter sido composta simultaneamente com a letra não é impedimento

para esta ser considerada canção, pois, como iremos perceber ao longo da análise, é

possível relacionarmos letra e melodia sem deixar arestas. “Que outra, se não essa,

escolheria o gaúcho solitário da minha imagem para se expressar diante daquela fria

vastidão de campo e céu?” (RAMIL, 2004, p 22). Essa pergunta, considero, deixa clara

a escolha de Ramil em ter a milonga pampeana como o tipo de música que irá ilustrar

essa melancolia, esse jeito tranquilo e reflexivo como vive o solitário homem do campo

no pampa gaúcho. De acordo com Moraes, “Nas obras literárias com temas

gauchescos, sentimentos como solidão, melancolia e introspecção são recorrentes, e

essas particularidades parecem acompanhar a figura do gaúcho em complemento ao

território regional.” (MORAES, 2013, p.53). Assim, o ritmo escolhido vai ao encontro

da literatura gaúcha que apresenta tais características baseadas na realidades desse

homem do campo retratado no poema e na canção. Moraes (2013) também aponta a

característica introspectiva que diferencia o gaúcho de pessoas de outras regiões do

país. Isso acontece também pelo clima que pode ser tão diferente no sul em

comparação ao resto do Brasil, como aponta Ramil em sua estética do frio. E no caso

do homem do campo, essa introspecção é acentuada pela vastidão dos campos que

percorre com seu cavalo, companheiro de viagem, criando essa atmosfera diferente,

essa cultura que vai desde o comportamento, passando pelo linguajar. No entanto,

essa vastidão também pode significar liberdade. De acordo com Moraes (2013)

Os mitos do sul espalham-se pelos ventos nas palavras dos poetas,

escritores e personagens que vagueiam pelo pampa. Embora o gaúcho se

diferencie em tipos, o uso das palavras que compõem o linguajar gauchesco

e a característica nômade são sempre presenças fortes em suas narrativas

literárias. As histórias e os versos registram, simbolicamente, as recordações

e a visão sobre o universo campeiro. A imensidão do pampa, de certa forma,

faz do gaúcho um homem livre que percorre toda sua extensão. (Moraes,

2013, p. 52)

Deixando o Pago é uma canção cuja letra é uma descrição, realizada pelo

próprio eu-lírico, da partida de sua terra natal, seu local querido (o seu pago).

Sabemos que esse lugar que ele está deixando é um local rural, pois o cenário descrito

na letra da canção e o linguajar que é expressado pelo homem que conta a história é

um linguajar campesino (ou campeiro). Segue a letra da canção:

21

Alcei a perna no pingo

E saí sem rumo certo

Olhei o pampa deserto

E o céu fincado no chão

(horizonte)

Troquei as rédeas de mão

Mudei o pala de braço

E vi a lua no espaço

Clareando todo o rincão

E a trotezito no mais

Fui aumentando a distância

Deixar o rancho da infância

Coberto pela neblina

Nunca pensei que minha

sina

Fosse andar longe do pago

E trago na boca o amargo

Dum doce beijo de china Sempre gostei da morena

É a minha cor predileta

Da carreira em cancha reta

Dum truco numa carona

Dum churrasco de mamona

Na sombra do arvoredo

Onde se oculta o segredo

Num teclado de cordeona

Cruzo a última cancela

Do campo pro corredor

E sinto um perfume de flor

Que brotou na primavera.

À noite, linda que era,

Banhada pelo luar

Como é linda a liberdade

Sobre o lombo do cavalo

E ouvir o canto do galo

Anunciando a madrugada

Dormir na beira da estrada

Num sono largo e sereno

E ver que o mundo é pequeno

E que a vida não vale nada

O pingo tranqueava largo

Na direção de um bolicho

Onde se ouvia o cochicho

De uma cordeona acordada

Era linda a madrugada

A estrela d'alva saía

No rastro das três marias

Na volta grande da estrada

Era um baile, um casamento

Quem sabe algum batizado

Eu não era convidado

Mas tava ali de cruzada

Bolicho em beira de estrada

Sempre tem um índio vago

Cachaça pra tomar um trago

Carpeta pra uma carteada

Falam muito no destino

Até nem sei se acredito

Eu fui criado solito

Mas sempre bem prevenido

Índio do queixo torcido

Que se amansou na experiência

22

Tive ganas de chorar

Ao ver meu rancho tapera

Eu vou voltar pra querência

Que se amansou na experiência

Essa canção é também estrófica, não apresenta refrão, no entanto a melodia

é composta por duas partes que ora se repetem e ora se alternam, conforme o sentido

da letra. Uma é mais lenta, em tonalidade menor, mais melancólica e outra em

tonalidade maior, mais rápida, com mais movimento, mais alegre. Na primeira e

segunda estrofes abaixo, o eu-lírico conta sobre a saída de sua terra natal e a melodia

se repete em ambas as estrofes.

Alcei a perna no pingo

E saí sem rumo certo

Olhei o pampa deserto

E o céu fincado no chão

Troquei as rédeas de mão

Mudei o pala de braço

E vi a lua no espaço

Clareando todo o rincão

E a trotezito no mais

Fui aumentando a distância

Deixar o rancho da infância

Coberto pela neblina

Nunca pensei que minha sina

Fosse andar longe do pago

E trago na boca o amargo

Dum doce beijo de china

Na terceira estrofe, há uma mudança, pois nessa a letra é cantada sobre a

segunda parte da melodia (em tonalidade maior). Note que existe também uma

mudança de sentido na letra, pois antes era mais melancólica, agora o viajante está

retratando as coisas que gosta.

Sempre gostei da morena

É a minha cor predileta

Da carreira em cancha reta

Dum truco numa carona

23

Dum churrasco de mamona

Na sombra do arvoredo

Onde se oculta o segredo

Num teclado de cordeona

Na quarta estrofe novamente temos a primeira parte da melodia (em

tonalidade menor), em que o eu-lírico se emociona ao lembrar do rancho tapera (casa

que deixou para trás).

Cruzo a última cancela

Do campo pro corredor

E sinto um perfume de flor

Que brotou na primavera.

À noite, linda que era,

Banhada pelo luar

Tive ganas de chorar

Ao ver meu rancho tapera

Na quinta estrofe se repete a segunda parte da melodia (em tonalidade maior),

ao refletir sobre a liberdade.

Como é linda a liberdade

Sobre o lombo do cavalo

E ouvir o canto do galo

Anunciando a madrugada

Dormir na beira da estrada

Num sono largo e sereno

E ver que o mundo é pequeno

E que a vida não vale nada

Na sexta estrofe é interessante observar que a marca do ritmo remete ao trote,

ao andar do cavalo. A primeira parte da melodia se repete, em tonalidade menor.

O pingo tranqueava largo

Na direção de um bolicho

Onde se ouvia o cochicho

De uma cordeona acordada

Era linda a madrugada

A estrela d'alva saía

No rastro das três marias

Na volta grande da estrada

24

Na sétima estrofe, temos a segunda parte da melodia (em tonalidade maior),

retratando a festa, o bolicho, o trago e o jogo de cartas.

Era um baile, um casamento

Quem sabe algum batizado

Eu não era convidado

Mas tava ali de cruzada

Bolicho em beira de estrada

Sempre tem um índio vago

Cachaça pra tomar um trago

Carpeta pra uma carteada

E na oitava estrofe, se repete a primeira parte da melodia (em tonalidade

menor). Nesse momento o eu-lírico faz uma reflexão sobre sua vida e o que aprendeu,

ele parece estar mais tranquilo e pronto para voltar para casa.

Falam muito no destino

Até nem sei se acredito

Eu fui criado solito

Mas sempre bem prevenido

Índio do queixo torcido

Que se amansou na experiência

Eu vou voltar pra querência

Lugar onde fui parido

Não fica claro na letra o real motivo pelo qual o homem está deixando sua

terra, deixando aberto a interpretações, uma interpretação possível é de Moraes

(2013), que afirma que essa canção se concentra na “busca pela liberdade e

companheirismo do cavalo” (MORAES, 2013, p.60).

Essa canção também oferece outras possibilidades de trabalho em aula, uma

delas está relacionada à temática de deixar a terra natal. Os estrangeiros podem se

identificar com o sentimento que a melodia transmite, especialmente após entender o

sentido da letra, com um estudo de vocabulário. Podem relacionar com sua cultura de

origem, pois como já mencionado, sempre relacionamos o que aprendemos com a

nossa própria cultura, assim, podem lembrar, citar músicas de sua cultura que tratem

da temática de deixar sua terra, lembrando de termos típicos, como acontece na

25

canção analisada, que é regional e que usa termos que talvez não sejam entendidos

em outras regiões, dentro do mesmo país.

Até o momento procurei apresentar reflexões sobre a canção e seu uso em

sala de aula. Para ilustrar o que foi apresentado, duas canções foram analisadas, não

esgotando suas possibilidades de leituras e aspectos a serem analisados. O próximo

capítulo tratará, em um primeiro momento, da análise de dois trabalhos acadêmicos

que pensaram uma possibilidade prática de trabalho com a canção no ensino de PLA.

Em um segundo momento, apresentará a proposta de uma unidade didática.

26

4 POSSIBILIDADE DE SE PENSAR UM PROJETO DE ENSINO EM PLA TENDO

COMO GÊNERO ESTRUTURANTE A CANÇÃO

Com base na análise de dois trabalhos acadêmicos sobre o uso da canção no

ensino de PLA, um deles que o que deu origem ao curso de canção utilizado pelo PPE

(Programa de Português para Estrangeiros) da UFRGS, nível intermediário, material

que também entra no corpus deste trabalho, alguns aspectos foram selecionados para

uma análise. A ideia é perceber como cada um dos autores vê esses aspectos e como

os usam na prática, para gerar uma reflexão sobre como esses aspectos vêm sendo

trabalhados e, ao final, reunir orientações para propor uma unidade didática. A seguir

um breve resumo sobre do que trata cada um dos estudos analisados.

O trabalho de Souza (2009), intitulado são “Canção brasileira: Proposta de

material didático para um curso de Português como Língua Adicional”, é um trabalho

que procura refletir sobre o uso da canção em sala de aula, por meio da proposta de

estruturação de um curso de Português como Língua Adicional (PLA) com base na

canção brasileira. Esse curso é composto por nove unidades planejadas para serem

executadas em quinze aulas de duas horas cada, totalizando 30 horas. Há uma

unidade introdutória planejada para ser trabalhada na primeira aula, que pretende

apresentar aos alunos os gêneros que serão abordados ao longo do curso. Após, há

oito unidades referentes a oito gêneros musicais: samba, bossa nova, música gaúcha,

música nordestina, rock, MPB, tropicalismo, funk carioca. Todas as unidades

pretendem trabalhar a prática das quatro habilidades, compreensão oral, leitura,

produção oral e escrita, algumas vezes de maneira integrada.

O trabalho de Barbosa (2011), intitulado “Língua e canção: Proposta de tarefa

com canção no ensino de português como língua adicional”, parte de uma perspectiva

bakhtiniana da noção de língua como atividade social. Fundamenta-se nas áreas de

Letras e Música, entendendo a canção como um gênero discursivo híbrido, com

características linguísticas e conteúdo musical. Com tais reflexões, pretende contribuir

para o debate sobre o uso de canção no ensino de português como língua adicional.

Ao final do trabalho, uma tarefa é proposta.

Foram selecionados para análise cinco pontos em comum desenvolvidos nos

TCCs, de modo a promover a reflexão sobre como a canção vem sendo trabalhada

27

no ensino. A seguir, apresento como os autores definem canção, como se referem

aos aspectos culturais, quais são os critérios para a seleção de um repertório de

canções para atividades em sala de aula, como as atividades propostas por ambos

refletem sobre questões literárias e linguísticas e como é proposta a leitura do texto

em tais atividades

4.1 Quanto à variação da definição de canção

Analisando os conceitos trazidos por ambos autores pude perceber algumas

diferenças nas escolhas e perspectivas, assim como muitas semelhanças, apenas

maneiras diferentes de colocar. Barbosa traz a discussão logo no primeiro capítulo,

intitulado “O que é canção?”, partindo de uma discussão mais geral sobre música

como manifestação artística, um pouco da história da música e os contextos em que

é produzida e utilizada. Após essa pequena introdução, a canção é apresentada como

um desdobramento da música, como seu produto, pois música não implica

necessariamente a presença de uma letra, e se refere à canção em oposição à música

instrumental. Souza também conceitua canção logo no começo do trabalho, no

capítulo sobre canção no ensino de línguas, partindo de uma questão mais

terminológica, de uma forma mais direta (canção como híbrido, intersemiótico). Ambos

reconhecem que existem muitas perspectivas possíveis para definir canção. Barbosa

traz Leandro Maia (2007), definindo canção como um texto multimodal, matéria verbal

e não verbal, enquanto Souza diz que a canção é formada por uma interface verbal e

outra musical e que o termo música refere-se à segunda. Barbosa diz que a

composição de uma canção se dá a partir da combinação da palavra com a melodia

e compara a canção à literatura em relação à importância da palavra. Adiciona a

junção entre letra e melodia também a harmonia e o ritmo, no mesmo patamar de

importância, como constituintes do gênero e que devem ser levados em conta em seu

uso no ensino. Após, traz alguns exemplos para ilustrar as explicações. Comenta

sobre a confusão encontrada em certos materiais sobre ensino que se referem à

música quando, na verdade, estão falando de canção. Souza define canção como um

gênero híbrido em que há relações entre os elementos letra e gênero (no sentido de

estilo) musical e entre letra e melodia e que o sentido da letra deve ser atribuído

levando em conta a sua relação como a interpretação da música para não limitar sua

28

compreensão. Por fim, o Souza diz que não há uma definição mais aprofundada de

canção enquanto gênero do discurso, enquanto Barbosa aprofunda essa questão e

dedica um subcapítulo para tratar da canção enquanto gênero do discurso com base

na teoria bakhtiniana, a classificando como enunciado.

4.2 Quanto aos temas culturais

No que diz respeito à relação entre música e cultura, Souza dedica um

capítulo a essa questão e o começa trazendo a noção de que, estudando uma língua,

não temos contato apenas com seu léxico e aspectos gramaticais, mas também com

diversos aspectos culturais do povo que fala aquela língua. No ensino de línguas é

importante auxiliar o aluno a compreender esses aspectos culturais por meio da sua

própria cultura, utilizando material autêntico, entendido como aquele criado para um

propósito social onde foi criado, conforme já citado anteriormente, e podemos

entender a canção como exemplo de material autêntico, pois tem uma carga cultural

inerente, o que faz com que se possa usá-la para ensinar língua e cultura de forma

contextualizada, mostrando ao aluno a diversidade cultural do país onde foi produzida,

por meio de diversos temas e variantes linguísticas e de elementos musicais. Além

disso, a canção também pode ajudar o aluno no entendimento sobre formas de agir e

de se posicionar na sociedade em que circula e também fazer com que o aluno

estrangeiro reflita sobre seus próprios valores. Por fim, o autor sustenta que, na cultura

brasileira, a canção produzida é uma expressão cultural diversificada, representando

uma diversidade de aspectos culturais de diferentes povos, regiões etc.

No trabalho de Barbosa, a discussão sobre a cultura aparece, em um primeiro

momento, em um subcapítulo intitulado “Por onde anda a canção?” Depois de explorar

definições e analisar canções, passa-se a analisar seu entorno e sua relação com

alguns elementos externos. A canção é entendida como comunicação cultural, pois

seus temas variam, mas costumam apresentar um discurso ideológico, complexo e

polifônico. A autora traz Maia (2007), novamente, que anteriormente já havia tratado

a canção pelo viés intermelódico-textualidades, para tratar agora as questões

extramelódico-textualidades da canção, ou seja, das relações da melodia com

elementos externos. Esse nível trata da relação da canção com outras canções, com

outros gêneros musicais e do cruzamento de suas tradições e características. Trata

29

da canção vinculada ao seu contexto cultural, às citações musicais, à aproximação

com outros gêneros. Além disso, há o nível extratextual, que trata da canção e suas

relações com outros autores e obras, da cultura em que está inserido o compositor.

Todos esses elementos e implicações no seu meio, junto com melodia e texto da

canção e o posicionamento do compositor no contexto, nos permite formar uma ideia

sobre a circulação do gênero. E a abordagem dessas questões culturais vinculadas à

canção a ser trabalhada é de suma importância e pode ser estudada junto com os

seus aspectos formais, como o estudo linguístico.

Mais adiante, em seu trabalho, em um capítulo sobre os gêneros musicais

brasileiros, Barbosa nos traz os elementos que compõem, que devem ser levados em

consideração ao definir um gênero musical: origem, função social, estrutura, conteúdo

e circulação. Ela também aproxima a definição de gêneros musicais com a de gêneros

discursivos, pois ambos acolhem produções mais ou menos estáveis com

características em comum. No entanto, alguns gêneros ou estilos são de difícil

delimitação. Há, por exemplo, os ritmos nordestinos como forró, baião, coco, axé, que

possuem características em comum, mas também essa noção de estilo é amplamente

compartilhada. Os gêneros são classificações das músicas em tipos e são um retrato

dela em relação aos elementos citados, música entendida como a noção geral

(instrumental ou canção).

Barbosa salienta que o valor musical no Brasil é conhecido, pois tem variados

gêneros musicais, devido à sua extensão territorial, pluralidade cultural com relação

às regiões, talento e criatividade do povo em criar e recriar ritmos. Também é relevante

considerar, para compreender a cultura brasileira, que ele é a origem da bossa nova

e do samba. Por fim, é importante, no trabalho em sala de aula, situar social e

estruturalmente os gêneros e suas derivações (por exemplo, forró e o derivado forró

universitário) em relação às suas especificidades.

4.3 Quanto aos critérios para a seleção de um repertório de canções

Ainda no final do subcapítulo sobre gêneros musicais brasileiros, quando trata

da questão da restrição de circulação de alguns gêneros musicais, Barbosa pontua

um critério para seleção de repertório. O professor, ao fazer essa seleção, deve levar

30

em conta, além da subjetividade, a questão da circulação ou veiculação de músicas

pela mídia, pois essa circulação é muito limitada. Os canais de TV aberta e rádio

tocam sempre as mesmas músicas, em vez de servir de veículo de comunicação e

cumprir seu papel de dar espaço para a diversidade musical produzida no país. Assim,

o professor de deve ir além dessas canções veiculadas, aumentando o repertório do

aluno. Outro critério de seleção apontado é optar por canções com as quais os alunos

possam dialogar e que isso enriqueça sua formação cultural, pois a música tem um

caráter comunicativo com alcance universal.

No capítulo intitulado “Ensino de Língua e Canção”, Barbosa salienta a

importância de o professor trazer para a sala de aula material que ele próprio já

conheça, sobre o qual já tenha certo domínio. No caso do trabalho com a canção, o

professor já deve conhecer sua letra, ter escutado a canção escolhida previamente e

saber do que trata. E considerando-se o ensino de língua adicional, o professor deve

pesquisar sobre o repertório e um breve histórico das canções da cultura em questão.

E se o professor já dominar todos esses elementos, deve partir para uma pesquisa

mais aprofundada, se for condizente com os objetivos pedagógicos.

Barbosa salienta que a escolha do professor estará carregada de

subjetividade, por isso precisa se ter a certeza de que a canção escolhida está a

serviço do ensino, focando na temática, se tal for a opção, e nos recursos linguísticos.

Deve se dar preferência por escolher uma canção representativa de um gênero

musical e não considerar apenas o apelo popular, pois o aluno poderá ter esse contato

por meio dos veículos de massa. Por isso o professor poderá usar material autêntico

e elaborado, contribuindo com a ampliação do horizonte cultural do aluno. E, por fim,

traz como exemplo a canção escolhida para a tarefa que irá propor e justifica sua

escolha. A canção é “E o mundo não se acabou”, de Assis Valente, e a escolha foi

feita a partir do tema abordado na letra e de seu conteúdo linguístico. Além de esta

ser uma canção representativa do gênero samba e de seu autor ter grande

importância nesse cenário.

No capítulo “A canção no ensino de línguas”, Souza lembra dos benefícios do

trabalho com a canção na sala de aula, pois ela está associada a momentos de prazer

para as pessoas que se identificam com gêneros musicais, além de ter uma carga

cultural muito importante. Em relação à escolha de repertório, o professor deve levar

31

em conta a faixa etária dos alunos, seus interesses, além do gosto do próprio

professor, mas sempre levando em consideração o público a quem se destina.

Em um outro subcapítulo, intitulado “Elaboração de material didático”, o autor

diz que o nível de proficiência do aluno não influencia na escolha do texto ou, no caso,

da canção, mas sim os objetivos de ensino que esse texto permite desenvolver.

Já no capítulo que trata propriamente do Curso de Canção Brasileira, diz que

a escolha do repertório foi baseada em gêneros, para que os alunos aprendessem a

distingui-los e que os critérios para a seleção desses gêneros são subjetivos e passam

pela sua relevância no contexto musical do país em questão, pela apreciação pessoal,

pela exposição dos alunos a uma variedade deles e pelo grau de representatividade

no cenário brasileiro. Após a escolha dos gêneros, se dá a escolha dos temas e das

canções com base em representatividade, em relação aos aspectos musicais do

gênero a que pertence e em temática, um assunto relevante para os alunos e que

permita levantar discussões.

4.4 Quanto às reflexões literária e linguística

Ambos os autores estruturam suas propostas de forma semelhante, pois

Barbosa utilizou o modelo desenvolvido por Souza, fazendo alguns acréscimos e

modificações. Todas são pensadas para alunos com nível intermediário de Língua

Portuguesa.

O curso de canção desenvolvido por Souza é composto por nove unidades,

sendo a primeira uma unidade introdutória, em que foram expostos os gêneros

musicais a serem trabalhados ao longo da unidade. As demais unidades foram

divididas por gêneros musicais (samba, bossa nova, música gaúcha, música

nordestina, rock brasileiro, MPB, tropicalismo, funk carioca) e apresentaram a

seguinte estrutura: “Para começar” (perguntas para introduzir o tema), “Conhecendo

a canção” (letra e música), “Compreendendo a letra” (produção oral sobre o tema e

questões específicas da letra), “Ouvindo música” (conhecer outras músicas do

gênero), “Produção escrita” (proposta de produção de um gênero textual) e

“Conhecendo mais” (informações adicionais, como sites e nomes de outros artistas)

32

Analisando as unidades, podem ser percebidas algumas reflexões propostas

nas atividades. Uma reflexão bastante presente é em relação ao uso da linguagem,

aos diferentes sotaques, ao vocabulário utilizado em diferentes regiões do país, às

regionalidades, apresentadas como variantes. Essa questão está presente

principalmente nas unidades dedicadas ao samba, à música nordestina, ao funk e, em

certa medida, à música gaúcha. Outras reflexões linguísticas aparecem no estudo do

texto em algumas unidades em que o aluno precisa identificar interlocutores referentes

dentro do texto da canção.

Em relação à reflexão literária, ela está muito presente na unidade sobre

bossa nova, em que são presentadas as características da linguagem poética em

língua portuguesa e seus elementos (rima, aliteração, metáfora), além de enfatizar as

diferenças entre os gêneros poema e artigo jornalístico. No entanto, essa reflexão

aparece ao longo de todos os cursos, na análise da poesia da canção e no trabalho

com diversos gêneros literários.

Já a unidade proposta por Barbosa se estrutura da seguinte forma: “Bate-

papo” (introdução ao tema, realizada de forma oral), “Leitura” (antes de chegar à

canção, passar por outros gêneros para contextualizar a linguagem, o gênero musical

ou temática, pode-se utilizar textos pertencentes a outros gêneros), “Conhecendo a

letra” (estudo que pode estar diluído ao longo da atividade, que pode tratar de

aspectos da letra, de vocabulário, de temática), “Conhecendo a canção” (contato com

a canção, escuta e leitura da letra), “Discutindo a canção” (compreender sentidos,

relações com repertório de leituras do aluno, retomar bate-papo, como o tema é

abordado na canção, como o tema é ou não é recorrente fora da canção), “Analisando

a letra” (trabalho com as estruturas linguísticas, aspecto gramatical), “Ouvindo a

canção” (audição da canção, acompanhada da leitura da letra) “Produção textual”

(pode-se solicitar o mesmo gênero abordado na seção Leitura, outro tipo textual ou

até mesmo canção).

A reflexão linguística, na unidade proposta, se dá no estudo do sentido

figurado, por meio do estudo de vocabulário utilizado na letra da canção e por meio

do estudo dos tempos verbais empregados. A reflexão literária se dá na produção

textual, em que o aluno deverá reescrever o refrão da canção, atentando à rima e ao

sentido.

33

4.5 Como entra a leitura do texto

Barbosa traz, dentro do capítulo “Por que utilizar a canção no ensino de

Língua Adicional?”, traz subcapítulos tratando das quatro habilidades linguísticas e

como elas podem ser trabalhadas em relação à canção. O primeiro desses tópicos

trata especificamente de canção e leitura, afirmando que a leitura pode ser feita por

meio da letra da canção, de maneiras diversas, de acordo com os objetivos, nível do

aluno, conteúdo. Outros textos também podem ser utilizados, servindo como textos

de apoio, para auxiliar na compreensão da canção estudada, de seu contexto. No

entanto, além da leitura da letra impressa, a canção também precisa ser escutada,

pois mesmo que a leitura seja o objetivo do estudo, ela deve ser acompanhada da

audição da canção, para uma melhor compreensão.

Na estrutura de tarefa proposta, a leitura é um item importante e destacado,

vem logo após a introdução, o “Bate-papo”. Nesse item, é realizada a leitura de textos

de outros gêneros, para contextualizar o gênero, a temática ou a linguagem. Na tarefa

proposta, foi escolhido um texto informativo, contextualizando a época em que a

canção foi composta e dizendo que se trata de um samba. No entanto, outros textos

poderiam ser trabalhados, como um site, uma notícia, um encarte de CD. A leitura

também aparece ao longo das atividades propostas: da letra e do som da canção.

No material proposto por Souza, a leitura aparece ao longo do

desenvolvimento das tarefas, não há um tópico tratando especificamente sobre ela.

Após a tarefa introdutória, passa-se à escuta da canção, acompanhada da leitura da

letra e, depois, para um estudo de compreensão da letra, mas com um foco maior na

produção oral sobre o tema.

Após a reflexão e discussão sobre diversos aspectos do ensino de PLA, é

importante destacar que, em se tratando de ensino, as análises e estudos feitos não

precisam ser apenas reflexões, mas também nos levem a agir. E, pensando nisso,

proponho uma tarefa a partir de tais reflexões. Disso tratará o próximo item.

34

4.6 Desdobramentos possíveis a partir dos TCC analisados

A partir do que foi visto e analisado nas obras consultadas, proponho uma

tarefa pensada para alunos de PLA nível intermediário, mas que pode ser ajustada e

adaptada para outros níveis, de acordo com os objetivos de ensino. A unidade

proposta neste trabalho divide-se em oito etapas, que a seguir serão apresentadas de

acordo com seus objetivos de ensino. O modelo de tarefa utilizado está baseado no

que foi proposto nos dois TCCs analisados, Souza (2009) e Barbosa (2011), e seu

conteúdo e temática partiu de uma das análises realizadas no capítulo “Canção e

ensino” do presente trabalho. A temática proposta é a saída terra natal: sentimentos

e descobertas e o gênero musical (no sentido de estilo) é a milonga, música gaúcha.

I Para começar

Nesta seção são feitas perguntas introdutórias à temática e à canção a ser

estudada. Os alunos poderão responder oralmente ou por escrito, pois o objetivo é

explorar o seu conhecimento prévio e começar a fazê-lo pensar sobre o que será

tratado na unidade.

II Leitura

Neste momento, antes do contato com a canção, os alunos irão ler um outro

gênero textual, que trata da canção e, no caso, também da poesia que será estudada.

A ideia é fornecer algumas informações sobre os artistas envolvidos, além de

curiosidades, questões de vocabulário.

III Conhecendo a canção

Neste momento, será realizada a audição da canção, acompanhada de sua

letra. Será a primeira vez que os alunos terão contato com a canção propriamente dita

e é importante uma audição atenta. Ao final, é apresentado um pequeno glossário,

mas os alunos devem ser incentivados a procurar o significado de outras palavras que

não conheçam.

IV Discutindo a canção

Neste momento serão realizadas perguntas relacionadas à compreensão da

canção, ao tema, ao contexto. Também podem ser retomadas perguntas da primeira

seção, para comparar as impressões deixadas.

35

V Analisando a letra

Questões de estudos linguísticos poderão ser abordados nesta seção,

questões de vocabulário, de expressões idiomáticas, tempos verbais ou o que estiver

de acordo com os objetivos de ensino.

VI Ouvindo canções

Esta seção tem como objetivo apresentar aos alunos outras canções

produzidas na região da música estudada e de estilos um pouco diferentes. A tabela

utilizada é adaptada de Souza (2009) e também tem como objetivo ampliar a

percepção do aluno a diversos aspectos da canção.

VII Produção textual

Essa seção, que pode ou não ser feita em sala de aula, será proposta a

produção de um gênero textual igual ou diferente dos trabalhados na unidade. Na

tarefa aqui proposta o gênero depoimento foi escolhido pelo fato de a temática ser um

assunto pessoal, de identidade.

VI Letras

Nesta seção final serão apresentadas letras de canções utilizadas na tarefa.

TAREFA

Para começar

1 Como você se sentiu quando estava deixando o seu país? Quais foram seus

pensamentos durante a viagem?

2 Fale sobre coisas, lugares, pessoas que lhe chamaram a atenção nesse seu

caminho desde a saída de casa.

3 Do que você sente saudades da sua terra natal?

4 A seguir vamos ouvir uma canção intitulada “Deixando o pago”. Fale um pouco sobre

o que você sabe sobre música em geral, o que gosta de escutar e se conhece algumas

canções brasileiras.

Leitura

O nome desse livro de poemas “Deixando o Pago” de João da Cunha Vargas

me faz lembrar uma história que ouvi do poeta gaúcho Vitor Ramil.

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Em uma das vezes que o encontrei em São Paulo ele contou que viajava com

seus músicos pelo Brasil e em uma de suas apresentações antes de “cantar” o poema

Deixando o Pago de João da Cunha Vargas explicou a seus expectadores o porquê

do título do poema. Pago é, para o natural do Rio Grande do Sul, seu lugar de

nascimento, sua região natal etc.

Depois da apresentação um de seus músicos disse:

– Pô Vitor, pensei que deixando pago fosse ‘tipo’ ter deixado o aluguel pago ou

algo assim…

O Vitor se matou de rir e disse que quando canta Deixando o Pago adora

explicar o título, pediu desculpas aos que já sabiam ou já conheciam a história, mas

disse ainda não conseguir deixar de contá-la.

Há alguns anos consegui um exemplar da única edição do raro livro de poemas

Deixando o Pago: poemas xucros de João da Cunha Vargas editado pela Habitasul.

Uma edição simples, muito cuidadosa e lindamente ilustrada por Glênio Fagundes.

João da Cunha Vargas nasceu em 28/12/1900 e não foi além das primeiras

letras, como ele mesmo costumava dizer, não era muito manso de livros. Certamente

aprendeu os segredos que nos conta ao ranger dos bastos e no tranco das tropeadas,

talvez por isso sua poesia mais que repete o que o povo diz, ela tem uma inscrição

pessoal poucas vezes vista.

Um nativista que se aproxima ao extremo das fontes tradicionais da poesia,

poesia brotada em estado de pureza, sem contaminações intelectuais, feita para ser

lida e declamada. João da Cunha Vargas sabia todos seus versos de cor – literalmente

de coração.

Os poemas desse livro foram ditados pelo poeta a seus familiares ou retirados

de fitas gravadas da época em que João da Cunha Vargas ainda interpretava seus

poemas, como dizem, recriando-os na palpitação dos seus gestos comandados pela

palpitação com que vivia, com seu timbre de voz ímpar, na névoa de seu olhar, na

mistura de fogo e de nostalgia…

Texto adaptado de https://sgambatti.wordpress.com/2010/01/12/deixando-o-

pago-de-joao-da-cunha-vargas/

Sobre o texto que você acabou de ler responda:

1 No texto, aparecem dois significados da palavra pago, quais são eles?

2 Quem é o autor do poema citado no texto?

3 Quem você entendeu que é a outra pessoa citada?

4 Você ficou interessado em conhecer esse poema?

Conhecendo a canção

Agora você vai ouvir a canção “Deixando o pago”, gravado por Vitor Ramil em 2013.

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Alcei a perna no pingo

E saí sem rumo certo

Olhei o pampa deserto

E o céu fincado no chão

(horizonte)

Troquei as rédeas de mão

Mudei o pala de braço

E vi a lua no espaço

Clareando todo o rincão

E a trotezito no mais

Fui aumentando a distância

Deixar o rancho da infância

Coberto pela neblina

Nunca pensei que minha

sina

Fosse andar longe do pago

E trago na boca o amargo

Dum doce beijo de china Sempre gostei da morena

É a minha cor predileta

Da carreira em cancha reta

Dum truco numa carona

Dum churrasco de mamona

Na sombra do arvoredo

Onde se oculta o segredo

Num teclado de cordeona

Cruzo a última cancela

Do campo pro corredor

E sinto um perfume de flor

Que brotou na primavera.

À noite, linda que era,

Como é linda a liberdade

Sobre o lombo do cavalo

E ouvir o canto do galo

Anunciando a madrugada

Dormir na beira da estrada

Num sono largo e sereno

E ver que o mundo é pequeno

E que a vida não vale nada

O pingo tranqueava largo

Na direção de um bolicho

Onde se ouvia o cochicho

De uma cordeona acordada

Era linda a madrugada

A estrela d'alva saía

No rastro das três marias

Na volta grande da estrada

Era um baile, um casamento

Quem sabe algum batizado

Eu não era convidado

Mas tava ali de cruzada

Bolicho em beira de estrada

Sempre tem um índio vago

Cachaça pra tomar um trago

Carpeta pra uma carteada

Falam muito no destino

Até nem sei se acredito

Eu fui criado solito

Mas sempre bem prevenido

Índio do queixo torcido

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Banhada pelo luar

Tive ganas de chorar

Ao ver meu rancho tapera

Que se amansou na experiência

Eu vou voltar pra querência

Que se amansou na experiência

Glossário:

Pampa: tipo de formação campestre,

com raros arbustos e pequenas árvores,

e predominância de pequenas

gramíneas perenes, característica da

parte meridional da América do Sul,

especialmente Argentina, Brasil (RS) e

Uruguai.

Rédea: correia presa ao freio do animal

de tiro ou de montaria, e que o cavaleiro

segura nas mãos ao cavalgar.

Pala: poncho leve, geralmente

confeccionado de brim, vicunha ou seda,

com as extremidades arredondadas e

guarnecidas de franjas.

Rincão: lugar afastado, longínquo;

recanto.

Bolicho: pequeno armazém Sina: destino.

Alçar a perna: montar a cavalo

Discutindo a canção

1 Como você acha que o personagem se sente ao deixar sua terra natal? Você se

identifica com o sentimento ou sentimentos?

2 O que você achou mais interessante das coisas com as quais ele se deparou nesse

caminho?

3 Quais as semelhanças ou diferenças entre a paisagem descrita na canção e

paisagens que podemos encontrar no seu país?

Analisando a letra

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1 Como você entende as seguintes expressões sublinhadas, retiradas da letra da

canção?

a- Alcei a perna no pingo

b- E o céu fincado no chão

c- Mas tava ali de cruzada

d- Que se amansou na experiência

e- Lugar onde fui parido

Ouvindo canções

Canção Instrumentos

(1/2 ou 3/4 ou +)

Tempo

(rápido/médio/lento)

Clima

(feliz/triste/...)

Observações

Água no

fogão

(milonga)

Vira Virou

Produção textual

Imagine que você foi convidado para escrever um depoimento em uma revista

sobre intercâmbios. Você deve escrever sobre sua experiência em deixar sua terra

natal, seu percurso, descobertas e se considera que essa experiência mudou sua

maneira de pensar ou agir.

Letras

Água no fogão

Composição: Carlos Omar Villella Gomes e Túlio Urach

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Toda manhã eu me levanto cedo, Vou lavando a cara, água no fogão Boto o rádio numa FM Dessas que se perdem por um milongão Lá vem o Jayme declamando uns versos Se eu tava disperso, já não to mais não Um Guarany vem me contar segredos E eu percebo as coisas que tenho na mão Eu sinto em mim uma Felicidade Que só Lupicínio pôde descrever Veio do campo, ganhou a cidade E eu sei que me invade meio sem querer Quero domingo uma guerra santa Pra incendiar o "Porto", que vai ter GRENAL Enquanto isso nos fundões do estado A platéia vibra "nalgum" festival Rica essa terra que vem qual enchente Carregando a gente pra tanto lugar Olha dois "loco" tangueando tragédias Nos mostrando a Sbórnia que há no seu cantar

Enquanto isso nos fundões do estado A platéia vibra "nalgum" festival Rica essa terra que vem qual enchente Carregando a gente pra tanto lugar Olha dois "loco" tangueando tragédias Nos mostrando a Sbórnia que há no seu cantar Coisa mais linda ter um Silva Rillo Pra rodar seu canto por todo Brasil Fazendo rima com essa força "loca" Que verte da boca dos irmãos Ramil Vi como o mundo fica diferente Quando a alma sente o cantar da Elis Vi como o Oscar quase achou seu trilho Rumando pra serra do sul do País Água ferveu, vou esquentar de novo Mas vi que este povo tem amor ao chão E eu sigo ao tranco dessa FM Que quase se espreme noutro milongão!

Vira Virou

Composição: Kleiton e Kledir

Vou voltar na primavera E era tudo que eu queria Levo terra nova daqui Quero ver o passaredo Pelos portos de Lisboa Voa, voa que eu chego já Ai se alguém segura o leme Dessa nave incandescente

Que incendeia minha vida Que era viajante lenta Tão faminta da alegria Hoje é porto de partida Ah! Vira virou Meu coração navegador Ah! Gira girou Essa galera

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho foram abordadas algumas questões relativas ao uso

da canção na sala de aula, mais especificamente voltado ao ensino de Português

como Língua Adicional. Procurou-se passar por alguns aspectos importantes para

essa discussão sobre o ensino e também sobre o gênero canção, refletindo sobre

algumas definições e teorias, além de reflexões literárias e linguísticas.

No primeiro capítulo, procurei situar a discussão no contexto de ensino de

Língua Portuguesa e Literatura de maneira geral e abordar o ensino de PLA tendo

como foco o trabalho com aspectos culturais. Do que foi discutido, ficou claro que a

canção pode ser uma boa opção para estruturar um projeto de ensino, inclusive no

caso de estrangeiros aprendendo a língua portuguesa

No capítulo seguinte, voltei a atenção para questões específicas do gênero

canção, começando por suas definições e elementos que a compõe. Discutir essas

questões foi bastante complicado, devido à diversidade de materiais e conceitos

diversos encontrados. Por esse motivo, optei por não aprofundar o estudo e

apresentar apenas o necessário para o desenvolvimento deste trabalho. Após

apresentar e discutir o conceito de canção utilizado neste trabalho, discuto o seu uso

no ensino de PLA e, para isso, utilizo exemplos de duas canções que são atentamente

analisadas sob diversos aspectos, explorando suas possibilidades de trabalho. Essas

análises foram realizadas partindo de determinados pontos e provavelmente aspectos

relevantes ficaram de fora delas, mas acredito que tenha sido possível demonstrar o

quão produtivo pode ser o trabalho com canção.

Finalmente, no capítulo final, faço uma análise de dois trabalhos de conclusão

sobre o ensino de canção na aprendizagem de PLA. O objetivo era entender como

essa questão vem sendo trabalhada e analisar tarefas já produzidas com base em

canção. Nesse último capítulo analiso cinco diferentes itens, começando com as

definições de canção com as quais autores trabalham e como isso varia, passando

depois para as questões culturais relacionadas ao gênero e como elas aparecem nos

trabalhos desenvolvidos. Em outro item, mais voltado ao ensino, analiso quais os

critérios para a escolha de repertório exposto pelos autores, por estilos, aspectos

sociais, culturais, regionais, ou critérios mais subjetivos. Em relação às tarefas, como

são feitas as reflexões linguísticas e literárias e, por fim, como é feita a leitura do texto.

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Feitas as análises, há ainda um último item, em que, com base nos conhecimentos

levantados nas análises, proponho uma unidade didática tendo como gênero

estruturante a canção, em uma sala de aula de PLA, com alunos nível intermediário.

Apesar das dificuldades, credito que aprendi bastante por meio desses relatos

e projetos e consegui traçar, minimamente, um panorama do que já foi desenvolvido

especificamente nessa área. Trabalho que considero bastante produtivo, pois a

canção atinge a todos, de alguma forma. Desse modo, o que visamos aqui não é

recriar a roda, mas dialogar com trabalhos já existentes, a fim de que, mesmo que de

modo simples, seja possível contribuir para uma reflexão sobre a canção no ensino.

Considero que muito ainda precisa ser desenvolvido neste trabalho. A unidade

proposta pode e deve ser mais explorada, outros aspectos podem ser trabalhados,

tudo dependendo dos objetivos de ensino, pois o que foi apresentado aqui é apenas

uma possibilidade entre tantas possíveis.

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REFERÊNCIAS

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BARBOSA, Nicole Cunha. Língua e canção: proposta de tarefa com canção no ensino de português como língua adicional. Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto de Letras, UFRGS, Porto Alegre, 2011.

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MED, Bohumil. Teoria da Música. Brasília: MusiMed. 1996.

MORAES, Marcos Ferreira de. A ilusão do pampa: uma leitura de Delibàb, Vitor Ramil. Dissertação de Mestrado - Programa de pós graduação em Letras – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, UPF, Passo Fundo, 2013.

NAPOLITANO, Marcos. História e Música: história cultural da música popular. 5. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

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(Acesso em dez. de 2015) Disponível em

https://books.google.is/books?id=8oz2QZsQDRsC&printsec=frontcover#v=onepage&

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RAMIL, Vitor. A estética do frio. Pelotas: Satolep, 2004. (Acesso em nov. 2015). Disponível em http://www.vitorramil.com.br/textos/Vitor_Ramil_-_A_Estetica_do_Frio.pdf.

SCHLATTER, M.; GARCEZ, P. Referenciais Curriculares para o Ensino de Língua Espanhola e de Língua Inglesa. Rio Grande do Sul: Secretaria de Educação do Estado, 2009.

SOUZA, José Peixoto Coelho de. Canção Brasileira: proposta de material didático para um curso de Português como Língua Adicional. Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto de Letras, UFRGS, Porto Alegre, 2009.

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