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Universidade de São Paulo Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Departamento de Contabilidade e Atuária DEMONSTRAÇÃO CONTÁBIL DO VALOR ADICIONADO – DVA – UM INSTRUMENTO DE MENSURAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA DAS EMPRESAS PARA OS FUNCIONÁRIOS Jacqueline Veneroso Alves da Cunha São Paulo, 2002

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  • Universidade de So Paulo Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade

    Departamento de Contabilidade e Aturia

    DEMONSTRAO CONTBIL DO VALOR ADICIONADO DVA UM INSTRUMENTO DE MENSURAO DA

    DISTRIBUIO DA RIQUEZA DAS EMPRESAS PARA OS FUNCIONRIOS

    Jacqueline Veneroso Alves da Cunha

    So Paulo, 2002

  • Universidade de So Paulo Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade

    Departamento de Contabilidade e Aturia

    DEMONSTRAO CONTBIL DO VALOR ADICIONADO DVA UM INSTRUMENTO DE MENSURAO DA

    DISTRIBUIO DA RIQUEZA DAS EMPRESAS PARA OS FUNCIONRIOS

    Jacqueline Veneroso Alves da Cunha

    Dissertao apresentada Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade de So Paulo, para obteno do ttulo de Mestre em Controladoria e Contabilidade

    Orientadora: Profa. Dra. Maisa de Souza Ribeiro

    So Paulo, 2002

  • ii

    Dedico este trabalho minha filha Patrcia, meu marido Svio, e a meus

    pais Maria Tereza e Onsimo, grandes amores da minha vida.

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, pelo dom da vida e por colocar no meu caminho pessoas to especiais.

    minha filha Patrcia, que sempre compreendeu meus momentos de ausncia e por entender a importncia desta etapa na minha vida.

    Ao meu marido Svio, grande companheiro de todos os momentos, pelo apoio incondicional e por no me deixar desistir nunca.

    Aos meus pais, por me ensinarem a acreditar, confiar e lutar pelos meus ideais. E por terem acreditado, confiado e lutado junto comigo.

    Glria, Eustquio, Bruno e Flvio, que me receberam em sua casa em So Paulo, durante a minha permanncia na cidade para concluso do mestrado.

    Ao Nelson e Professora Valria, grandes incentivadores e amigos.

    Professora Dra. Maisa de Souza Ribeiro, por aceitar ao convite de me orientar neste trabalho, mesmo sem me conhecer, e t-lo feito com tanta sabedoria, competncia e brilhantismo, mas principalmente com humildade, generosidade, entusiasmo e dedicao.

    Ao Unicentro Newton Paiva, na pessoa dos seus diretores, por propiciarem apoio financeiro para a realizao deste trabalho.

    Ao Professor Carlos Joarestes das Graas Ferreira, pela amizade, incentivo e confiana em minha capacidade.

    FIPECAFI que, na pessoa do Professor Dr. Ariovaldo dos Santos, disponibilizou seu banco de dados para minha pesquisa.

  • iv

    Maria Lcia Malu que secretariou o Programa de Mestrado e me acolheu com tanta amizade durante minha permanncia na FEA/USP.

    Aos Professores Drs. Gilberto de Andrade Martins e Luiz Joo Corrar, que durante a elaborao deste trabalho me auxiliaram sobre a melhor forma de sua apresentao e sobre as tcnicas estatsticas que poderiam ser nele empregadas.

    Aos Professores Drs. Ariovaldo dos Santos e Fernanda Gabriela Borger, que participaram da minha banca de qualificao e contriburam para aumentar a

    qualidade desta dissertao.

    A todos os professores dos quais tive o privilgio de ser aluna durante o Mestrado.

    A todos os meus colegas de mestrado, pela convivncia e, ainda que alguns tenham ficado no meio do caminho, pelo incentivo para continuar.

  • v

    RESUMO

    A contabilidade, como veculo de informao, tem como um de seus grandes desafios colocar, disposio de seus usurios, informaes que retratem as relaes das empresas com a sociedade. O Balano Social, no todo, e a Demonstrao do Valor Adicionado DVA - como uma de suas vertentes, se apresentam como os instrumentos capazes de evidenciar tanto os aspectos econmicos, quanto os sociais, inovando o enfoque utilizado at ento, e se constituindo nos mais ricos demonstrativos para aferio dessas relaes. Entretanto, nenhum deles, apesar do poder informativo que possuem, vem sendo utilizado da forma esperada. Desmistificando o que vem sendo propagado, a realidade que a utilizao do Balano Social e da DVA est muito aqum do desejado, seja no Brasil ou em mbito internacional. Dessa forma, o principal objetivo deste estudo foi a realizao de uma pesquisa junto a 198 empresas, retiradas do cadastro mantido pela FIPECAFI para edio anual de Melhores e Maiores da Revista Exame. Nessa pesquisa procurou-se avaliar o poder de aferio representado pela DVA, no que concerne a informaes sobre a formao de riqueza pelas empresas e sua distribuio aos agentes econmicos que ajudaram a cri-la, como proprietrio, scios e acionistas, governo, financiadores externos, empregados e a prpria empresa. Especificamente buscou-se, pelas informaes prestadas na DVA, avaliar a relao existente entre a variao da riqueza criada e a remunerao paga aos funcionrios. Algumas constataes foram possveis durante a realizao desse estudo, dentre elas: de 1996 a 2000 perodo analisado o nmero mdio de pessoas empregadas nas empresas participantes da amostra, apresentou queda tanto no ramo industrial quanto no de servios, onde se constatou a maior oscilao negativa no valor adicionado distribudo por empregado; dentro de um mesmo ano, as empresas consideradas como maiores criadoras de riqueza, no participaram do rol daquelas que mais distriburam valor adicionado a empregados; em algumas empresas, setores ou ramos de atividade, a relao entre a evoluo da riqueza e do valor adicionado distribudo por empregado se apresentou negativa, demonstrando que, enquanto uma das variveis aumentava, com a outra ocorria exatamente o oposto. Ao final do estudo tornou-se possvel afirmar que os indicadores retirados da DVA constituem-se num excelente avaliador da distribuio da riqueza, disposio da contabilidade, no entanto sem nenhuma pretenso em substituir, ou at mesmo rivalizar, outros indicadores de riqueza j existentes.

  • vi

    ABSTRACT

    Making available to its users information about the relations between companies and society is one of the great challenges for Accounting as an information vehicle. The

    Social Balance Sheet in general and the Statement of Value Added SVA as one

    of its complements appear as the instruments capable of demonstrating the economic as well as social aspects, thus innovating on what had been focused until then, which turns them into the richest statements for verifying these relations. Nevertheless, in

    spite of their informative power, none of them has been used as expected. Demystifying what is said about them, actually, the use of the Social Balance Sheet

    and the SVA does not correspond to what is desired, neither in Brazil nor abroad. Thus, a research was realized in 198 companies that were taken from FIPECAFIs Melhores e Maiores database for the Magazine Exame. This survey aimed to evaluate the verifying power of the SVA with respect to information about

    companies wealth formation and its distribution to those economic agents that helped to create it, such as proprietors, partners and shareholders, government, external financiers, employees and the company itself. Through the information provided in the SVA, a specific attempt was made to evaluate the existing relation between the variation in created wealth and employees remuneration. During this study, some observations could be made, such as: between 1996 and 2000 which is the period under analysis the average amount of employees in the companies that made up the sample fell in the industrial as well as service areas, which demonstrated

    the highest negative variation in value added distributed to the employees; in one and the same year, the companies considered as the largest wealth generators were no part of the list of those companies that most distributed value added to employees; in some companies, sectors or activity fields, the relation between wealth evolution and

    distributed value added per employee turned out negative, which demonstrates that, while one of the variables increased, the other revealed exactly the opposite behavior. At the end of the study, it could be affirmed that the indicators taken from the SVA make up an excellent means of evaluating wealth distribution, which is

    available to accounting, although without any intent to substitute or even compete with other, already existing wealth indicators.

  • vii

    SUMRIO LISTA DE FIGURAS...........................................................................................IX LISTA DE GRFICOS......................................................................................... X LISTA DE TABELAS........................................................................................ XII INTRODUO ...................................................................................................... 1 CAPTULO 1 - O PROBLEMA DE PESQUISA..................................................3 1.1 Identificao do Problema.............................................................................3

    1.1.1 O papel da contabilidade..............................................................................6 1.2 Objetivos do trabalho..........................................................................................8

    1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................. 8 1.2.2 Objetivos especficos ................................................................................... 8

    1.3 Hipteses............................................................................................................ 8 1.4 Metodologia da Pesquisa .................................................................................... 9 1.5 Estrutura do trabalho ........................................................................................ 10 CAPTULO 2 - REVISO DA BIBLIOGRAFIA .............................................. 12 2.1 Balano social .................................................................................................. 12

    2.1.1 Aspectos conceituais .................................................................................. 14 2.1.2 O primeiro balano social no mundo - o francs......................................... 17 2.1.3 O balano social em outros pases do mundo.............................................. 19 2.1.4 O balano social no Brasil.......................................................................... 23 2.1.5 O modelo do IBASE .................................................................................. 28

    2.2 Valor adicionado .............................................................................................. 33 2.2.1 Conceito econmico .................................................................................. 33 2.2.2 Conceito contbil ....................................................................................... 36 2.2.3 Demonstrao do Valor Adicionado........................................................... 41

    2.2.3.1 A DVA no exterior.............................................................................. 46 2.2.3.2 Exemplos de DVA publicadas por empresas no exterior...................... 50 2.2.3.3 A DVA no Brasil ................................................................................ 57

    2.3 Renda ............................................................................................................... 63 2.3.1 Distribuio de renda ................................................................................. 64 2.3.2 Concentrao de renda ............................................................................... 67 2.3.3 Distribuio de renda no Brasil .................................................................. 69 2.3.4 A renda do trabalhador............................................................................... 80

    CAPTULO 3 - ASPECTOS PRTICOS DA DVA ........................................... 85 3.1 Introduo ........................................................................................................ 85 3.2 Como fazer ....................................................................................................... 86

    3.2.1 Exemplo de elaborao de DVA ................................................................ 87 3.3 Tratamento de alguns dos elementos que compem a DVA .............................. 92

    3.3.1 Impostos .................................................................................................... 92 3.3.2 Vendas de mercadorias, produtos e servios............................................... 93 3.3.3 Proviso para devedores duvidosos reverso/constituio........................ 94 3.3.4 Depreciao, amortizao e exausto. ........................................................ 94 3.3.5 Pessoal e encargos ..................................................................................... 95 3.3.6 Remunerao do capital ............................................................................. 96

  • viii

    3.3.7 Receita financeira e receita de equivalncia patrimonial............................. 97 3.4 Algumas situaes especiais ............................................................................. 98

    3.4.1 O caso dos bancos...................................................................................... 98 3.4.2 Empresas com prejuzos contbeis e/ou valor adicionado negativo............. 99

    CAPTULO 4 - PLANEJAMENTO E COLETA DOS DADOS......................101 4.1 Introduo ...................................................................................................... 101 4.2 Definio e Caracterizao da Populao........................................................ 102 4.3 Amostragem ................................................................................................... 104 4.4 Caracterizao da Amostra .............................................................................105 4.5 Tratamento dos Dados .................................................................................... 107 CAPTULO 5 - ANLISE DOS RESULTADOS .............................................108 5.1 Introduo ...................................................................................................... 108 5.2 Anlise Geral.................................................................................................. 109 5.3 Anlise por Ramos de Atividade.....................................................................117 5.4 Anlise por Setores......................................................................................... 132 5.5 Anlise por Regies........................................................................................ 160 5.6 Testes das Hipteses .......................................................................................162 CAPTULO 6 - CONCLUSES........................................................................173 BIBLIOGRAFIA................................................................................................178 ANEXOS VOL.2.............................................................................................. 187 Anexo A Modelo de balano social francs .......................................................188 Anexo B Modelo de balano social chileno .......................................................234 Anexo C Modelo de balano social belga ..........................................................238 Anexo D Modelo de balano social portugus ...................................................241 APNDICES VOL.2 .......................................................................................254 Apndice A Quadros e tabelas ........................................................................... 255

  • ix

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Modelo de balano social do IBASE e instrues de preenchimento ...... 30 Figura 2- DVA da Lakeland Dairies Co-Operative Society Ltd. 2000 .................. 51 Figura 3 - DVA da Times Publishing Limited 30-09-2000 ................................... 52 Figura 4 - DVA da Allied Electronics Corporation Limited Altron 2001........... 54 Figura 5 - DVA da Gold Fields Limited 2001...................................................... 55 Figura 6 - DVA da BSES Limited 1996-2001....................................................... 56 Figura 7 - DVA modelo FIPECAFI ....................................................................... 61 Figura 8 DVA modelo FIPECAFI ....................................................................... 85 Figura 9 - Demonstrao do Resultado do Exerccio............................................... 88 Figura 10 - Demonstrao do Valor Adicionado ..................................................... 89

  • x

    LISTA DE GRFICOS Grfico 1 Distribuio do valor adicionado em 1996 ..........................................110 Grfico 2 Distribuio do valor adicionado em 1997 .........................................110 Grfico 3 Distribuio do valor adicionado em 1998 .........................................111 Grfico 4 Distribuio do valor adicionado em 1999 .........................................111 Grfico 5 Distribuio do valor adicionado em 2000 .........................................112 Grfico 6 Nmero mdio de empregados de 1997 a 2000 .................................. 112 Grfico 7 Valor agregado por empregado de 1997 a 2000.................................. 113 Grfico 8 Distribuio da amostra por ramos de atividade .................................117

    Grfico 9 Valor adicionado pelas empresas da amostra em 1996 .......................118 Grfico 10 Distribuio do valor adicionado em 1996 Comrcio .................... 118 Grfico 11 Distribuio do valor adicionado em 1996 - Indstria.......................119 Grfico 12 Distribuio do valor adicionado em 1996 Servios ......................119 Grfico 13 - Valor adicionado pelas empresas da amostra em 1997 ......................120 Grfico 14 Distribuio do valor adicionado em 1997 Comrcio .................... 120 Grfico 15 - Distribuio do valor adicionado em 1997 Indstria.......................121 Grfico 16 - Distribuio do valor adicionado em 1997 Servios.......................121 Grfico 17 - Valor adicionado pelas empresas da amostra em 1998 ......................122 Grfico 18 Distribuio do valor adicionado em 1998 Comrcio .................... 122 Grfico 19 Distribuio do valor adicionado em 1998 Indstria......................123 Grfico 20 Distribuio do valor adicionado em 1998 Servios ......................123 Grfico 21 - Valor adicionado pelas empresas da amostra em 1999 ......................124 Grfico 22 Distribuio do valor adicionado em 1999 - Comrcio ..................... 124 Grfico 23 Distribuio do valor adicionado em 1999 Indstria......................125 Grfico 24 Distribuio do valor adicionado em 1999 Servios ......................125 Grfico 25 - Valor adicionado pelas empresas da amostra em 2000 ......................126 Grfico 26 Distribuio do valor adicionado em 2000 Comrcio .................... 126 Grfico 27 Distribuio do valor adicionado em 2000 Indstria......................127 Grfico 28 Distribuio do valor adicionado em 2000 Servios ......................127 Grfico 29 Mdia de empregados por ramos de atividade 1997 a 2000 ........... 128 Grfico 30 Valor adicionado por empregado de 1997 a 2000 Por ramos .........128 Grfico 31 Nmero de empresas por setor ......................................................... 132

  • xi

    Grfico 32 Maiores geradores de valor adicionado em 1996 .............................. 133 Grfico 33 Maiores e menores distribuidores a empregados em 1996 ................ 134 Grfico 34 Maiores geradores de valor adicionado em 1997 .............................. 135 Grfico 35 - Maiores e menores distribuidores a empregados em 1997 .................135 Grfico 36 Maiores geradores de valor adicionado em 1998 .............................. 136 Grfico 37 - Maiores e menores distribuidores a empregados em 1998 .................136 Grfico 38 Maiores geradores de valor adicionado em 1999 .............................. 137 Grfico 39 - Maiores e menores distribuidores a empregados em 1999 .................137 Grfico 40 Maiores geradores de valor adicionado em 2000 .............................. 138

    Grfico 41 Maiores e menores distribuidores a empregados em 2000 ................ 138 Grfico 42 Maiores e menores distribuidores ao governo em 1996 .................... 139 Grfico 43 Maiores e menores distribuidores ao governo em 1997 .................... 140 Grfico 44 Maiores e menores distribuidores ao governo em 1998 .................... 140 Grfico 45 Maiores e menores distribuidores ao governo em 1999 .................... 141 Grfico 46 Maiores e menores distribuidores ao governo em 2000 .................... 141 Grfico 47 Mdia de empregados dos maiores empregadores de 1997 a 2000.....155 Grfico 48 Setores com maior e menor distribuio de VA por empregado.........155 Grfico 49 Empresas geradoras de maior valor adicionado em 1997..................163 Grfico 50 Empresas distribuidoras de maior valor adicionado por empregado em

    1997 .............................................................................................................164 Grfico 51 Empresas geradoras de maior valor adicionado em 1998..................164 Grfico 52 - Empresas distribuidoras de maior valor adicionado por empregado em

    1998 .............................................................................................................165 Grfico 53 - Empresas geradoras de maior valor adicionado em 1999...................165 Grfico 54 - Empresas distribuidoras de maior valor adicionado por empregado em

    1999 .............................................................................................................166 Grfico 55 - Empresas geradoras de maior valor adicionado em 2000...................166 Grfico 56 - Empresas distribuidoras de maior valor adicionado por empregado em

    2000 .............................................................................................................167 Grfico 57 Coeficientes de correlao dos diversos setores................................172

  • xii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Evoluo Temporal dos Indicadores de Desigualdade da Renda............ 69

    Tabela 2 - Evoluo Temporal da Desigualdade da Renda...................................... 70

    Tabela 3- Distribuio do rendimento, por Regies e Unidades da Federao, dos 50% mais pobres e dos 1% mais ricos, em relao ao rendimento total ........... 71

    Tabela 4 - Renda mdia familiar per capita, em reais e em salrios mnimos, por Grandes Regies e Unidades da Federao 1992/1999. ................................ 73

    Tabela 5 - Desigualdade da renda ao redor do mundo ............................................. 75

    Tabela 6 - Distribuio da Renda ou do Consumo ................................................. 76

    Tabela 7 Informaes Gerais ..............................................................................114

    Tabela 8 Nmero mdio de empregados e percentual de 1997 a 2000 ................ 127

    Tabela 9 - Informaes gerais por ramos de atividade........................................130

    Tabela 10 Menores geradores de valor adicionado de 1996 a 2000 .................... 139

    Tabela 11 Informaes gerais por setores: Alimentos .........................................142

    Tabela 12 - Informaes gerais por setores: Atacado e comrcio exterior ............ 142

    Tabela 13 Informaes gerais por setores: Automotivo....................................... 143

    Tabela 14 Informaes gerais por setores: Bebidas .............................................143

    Tabela 15 Informaes gerais por setores: Comrcio varejista ............................144

    Tabela 16 Informaes gerais por setores: Comunicaes................................... 144

    Tabela 17 Informaes gerais por setores: Confeces e txteis ......................... 145

    Tabela 18 Informaes gerais por setores: Construo........................................145

    Tabela 19 Informaes gerais por setores: Diversos............................................ 146

    Tabela 20 Informaes gerais por setores: Eletroeletrnicos ...............................146

    Tabela 21 Informaes gerais por setores: Farmacutico.....................................147

    Tabela 22 Informaes gerais por setores: Fumo ................................................ 147

  • xiii

    Tabela 23 Informaes gerais por setores: Higiene, limpeza e cosmticos ..........148

    Tabela 24 Informaes gerais por setores: Material de construo ......................148

    Tabela 25 Informaes gerais por setores: Mecnica ..........................................149

    Tabela 26 Informaes gerais por setores: Minerao .........................................149

    Tabela 27 Informaes gerais por setores: Papel e celulose.................................150

    Tabela 28- Informaes gerais por setores: Plsticos e borrachas..........................150

    Tabela 29 Informaes gerais por setores: Qumica e petroqumica .................... 151

    Tabela 30- Informaes gerais por setores: Servio de transporte ......................... 151

    Tabela 31 Informaes gerais por setores: Servios diversos .............................. 152

    Tabela 32- Informaes gerais por setores: Servios pblicos...............................152

    Tabela 33 Informaes gerais por setores: Siderurgia e metalurgia ..................... 153

    Tabela 34 Informaes gerais por setores: Tecnologia e computao..................153

    Tabela 35 Informaes gerais por setores: Telecomunicaes............................. 154

    Tabela 36 Nmero mdio de empregados e percentual dos setores responsveis por mais de 50% das vagas no perodo................................................................154

    Tabela 37 Variaes na evoluo da riqueza e do valor adicionado por empregado por ramos de atividades ................................................................................ 169

    Tabela 38 - Variaes na evoluo da riqueza e do valor adicionado por empregado por setores ....................................................................................................170

  • INTRODUO

    Pode-se afirmar que a contabilidade possui 3 grandes desafios: a identificao, a mensurao e a comunicao dos atos e fatos ocorridos em uma entidade.

    O desafio em se comunicar, at ento, vem sendo resolvido por meio da elaborao e divulgao das demonstraes contbeis ditas tradicionais, como: Balano Patrimonial (BP), Demonstrao do Resultado do Exerccio (DRE), Demonstrao das Origens e Aplicaes de Recursos (DOAR), Demonstrao das Mutaes do Patrimnio Lquido (DMPL) e Notas Explicativas.

    por meio dessas demonstraes que as necessidades da maioria dos usurios da contabilidade, bem ou mal, vm sendo atendidas, sejam eles scios ou acionistas, fornecedores e financiadores, governo, administradores e empregados.

    Estes ltimos, entretanto, nunca obtiveram, por meio das demonstraes contbeis citadas, informaes sobre suas prprias condies de trabalho, como higiene,

    segurana e salubridade, e sobre o peso de sua remunerao e respectivos encargos sociais, dentro do universo de agentes econmicos que colaboram para que a empresa atinja seu objetivo de gerar riqueza.

    Tambm, a comunidade onde a entidade est inserida, e a sociedade de uma forma geral, jamais puderam contar com informaes que as ajudassem a avaliar as vantagens e desvantagens em acolher essas entidades.

    Nesse sentido, e principalmente com o surgimento de movimentos sociais iniciados

    na Frana, Alemanha e Inglaterra na dcada de 60, as exigncias da sociedade em

  • 2

    relao cobrana de responsabilidade social por parte das empresas se tornaram mais intensas.

    Estas exigncias culminaram com a adoo, pela Frana no ano de 1977, do chamado Balano Social, de forma obrigatria para as empresas com 300 empregados ou mais.

    O Balano Social o instrumental que a contabilidade coloca disposio da sociedade para demonstrar suas relaes com a empresa.

    Dentre as vertentes do Balano Social, destaca-se a Demonstrao do Valor Adicionado (DVA), que produz informaes referentes riqueza gerada pela empresa e a forma como foi feita sua distribuio aos agentes econmicos que ajudaram a produzi-la: os empregados, o governo, o proprietrio, scios e acionistas e a prpria entidade, que retm os lucros.

    Enquanto em alguns pases do mundo no sequer permitido que uma empresa se estabelea em seu solo sem que apresente a DVA, no Brasil ela pouco conhecida e

    divulgada, possivelmente por no tratar-se, ainda, de uma demonstrao obrigatria. Dessa forma, um dos principais beneficirios de suas informaes - os empregados por no contarem com nenhum tipo de informao semelhante, muitas vezes no a conhecem.

    O caminho para a elaborao e, principalmente, divulgao da DVA, longo. Muito se tem feito em prol disso, inclusive com a apresentao do Projeto de Lei n. 3.741/2000 pelo Poder Executivo, alterando a Lei 6.404/76 a Lei das Sociedades por Aes no que concerne s demonstraes contbeis obrigatrias. A DVA poder passar a ser uma delas.

    Entretanto, necessrio que se estabeleam esforos, tambm, para a sua efetiva

    utilizao, principalmente por aqueles que podem encontrar nela informaes que, de outra forma, no estariam disponveis.

  • 3

    CAPTULO 1 - O PROBLEMA DE PESQUISA

    1.1 Identificao do Problema

    Dentre os males que se agravaram no final do sculo XX e incio do sculo XXI , certamente a m distribuio de renda dos mais relevantes. O problema de mbito mundial, mas em pases ditos de terceiro mundo se apresenta mais acentuado, principalmente devido queda no nvel geral de empregos.

    Na viso de Dupas1,

    ...h algum tempo, a imagem do trabalhador repetindo o gesto de apertar parafusos retratada por Charles Chaplin em Tempos Modernos representava o pesadelo da modernidade. Hoje, esse posto de trabalho aparece como desejvel e j quase um sonho distante de segurana e estabilidade.

    Esta afirmativa ilustra claramente o paradoxo da situao vivida atualmente; o que j era uma conquista do trabalhador o direito ao emprego transformou-se em utopia. Continua, afirmando que

    ...a percepo de que a dinmica capitalista, que move a economia global neste final de sculo XX, pudesse estar agravando a excluso social comeou a se configurar como hiptese quando os ndices de desemprego e marginalidade cresceram significativamente na Frana e Alemanha.

    Especificamente no caso brasileiro, o que se observa que, nas ltimas dcadas, grande parte do fardo representado pelos ajustes econmicos tem recado sobre o mercado de trabalho, penalizando os trabalhadores com quedas de salrio real,

    elevao do desemprego, deteriorao das condies de trabalho e aumento da

    1 DUPAS, Gilberto. Economia global e excluso social: pobreza, emprego, estado e o futuro do capitalismo. 2.

    ed. So Paulo: Paz e Terra, 2.000. p. 9, 19

  • 4

    misria. Alm desses, um outro fato a ser considerado a mudana setorial ocorrida no emprego, provocada pela queda na ocupao industrial e pela necessidade do setor em se tornar mais produtivo. O aumento da produtividade observado nos anos 90, oriundo, principalmente, da automao e reestruturao produtiva, provocou a migrao de empregos. A economia sofreu fortes alteraes: as empresas se transformaram e os empregos migraram, principalmente da rea industrial para a comercial e de servios. Em tempos de globalizao, a forma encontrada para a elevao do produto passa pelo aumento da produtividade, e no mais pela expanso do emprego, como ocorria anteriormente.

    Regra geral, o crescimento econmico de um pas leva a um crescimento dos salrios reais e, com ele, mais bens so colocados disposio da sociedade. Com isso, ocorre uma elevao persistente na renda per capita da populao, perceptvel por

    meio de fatos tais como: diminuio das taxas de natalidade e mortalidade, aumento do sistema escolar e de sade, maior acesso aos meios de transporte, de comunicao e culturais, dentre outros. Presume-se que a principal beneficiria do conjunto de transformaes estruturais provocadas pelo desenvolvimento da economia seja a prpria sociedade. No entanto, segundo Cacciamali2, no Brasil o que se observou foi que o crescimento econmico verificado a partir da dcada de 50: ao contrrio de outros pases, mormente do leste asitico, que tambm cresceram de forma acelerada, a evoluo dos indicadores sociais apresentou resultados pfios. No seu entendimento, a m distribuio de renda no pas tem como ponto de partida nosso passado colonial e escravocrata, onde a posse da terra caracterizou-se pela concentrao na mo de poucos, pela violncia na expropriao das terras ocupadas, e pelas dificuldades enfrentadas pelos novos ocupantes para legalizarem suas

    propriedades. Essa concentrao se manteve ao longo dos sculos, chegando ao final do sculo XX nos mesmos moldes. Durante o perodo em que perdurou a inflao, esta se tornou um instrumento de transferncia de renda a favor das camadas superiores da sociedade. O plano real, implementado a partir de 1994, apesar de

    2CACCIAMALI, Maria Cristina. In: PINHO, Diva Benevides. VASCONCELOS, Marco A. Sandoval de (coord.). Manual de economia. 3. ed. So Paulo: Saraiva, 2.001. p. 437

  • 5

    conseguir estabilizar o sistema de preos nacional e com isso ampliar o poder de compra dos estratos mais baixos da populao, mantm restries de ordem poltica e financeira que limitam a criao de polticas sociais que redistribuam os benefcios do desenvolvimento econmico sociedade como um todo, principalmente nas reas de educao, sade e habitao.

    Conforme observaes da citada Cacciamali3:

    As evidncias empricas sobre o Brasil mostram que o Pas vem ampliando os ndices de desigualdades na distribuio da renda desde os anos 60 e apresenta um dos piores perfis de distribuio de renda do mundo (...). Ademais, indicadores sociais referentes educao, sade e habitao mostram-se inferiores queles de pases com similar, ou at mesmo inferior, nvel de renda per capita. Cada uma das dcadas, desde 1.960, apresenta especificidades que ajudam a compor o quadro do aumento da concentrao em cada um dos perodos.

    Fato que, de acordo com estudos realizados pela Organizao das Naes Unidas

    ONU, publicados na Revista Veja4, o Brasil, considerado a dcima maior economia do mundo, apresenta um ndice de Desenvolvimento Humano IDH, prximo ao da Colmbia e do Suriname, sociedades com caractersticas de extrema pobreza. Esse ndice uma mostra de como vivem as pessoas, e formado por indicadores sociais

    tais como taxa de mortalidade, de analfabetismo para pessoas com idade acima de 15 anos, taxa de expectativa de vida das pessoas que nascem, ou ainda qualidade de saneamento bsico. Apesar de apresentar uma ligeira melhora com relao ao estudo anterior, o pas continua no mesmo patamar, apresentando, quando se analisam regies e cidades de forma isolada, municpios com taxa de desenvolvimento nos moldes africanos, com condies de vida subumanas. So Jos da Tapera, municpio do serto alagoano do Brasil, o vice-campeo mundial quando o assunto a m qualidade de vida, perdendo o primeiro lugar apenas para Serra Leoa, Estado da

    frica Ocidental.

    3

    op. cit. p. 454 4 LORES, Raul Juste. O que falta fazer. Revista Veja. So Paulo: ed. 1709. Abril, 2.001, 18jul.2001. p. 90-92

  • 6

    1.1.1 O papel da contabilidade

    A contabilidade, como veculo de informaes, tem buscado se adaptar aos novos tempos, e atender solicitao, ou diramos imposio, de retratar as relaes existentes entre as empresas e a sociedade, e principalmente de mostrar o retorno que essas empresas esto trazendo em benefcio da melhoria da qualidade de vida da populao.

    Um dos instrumentos encontrados para isso o Balano Social que, num mesmo

    documento, evidencia tanto os aspectos econmicos quanto os aspectos sociais, inovando, com isso, o enfoque usado at ento, onde a preocupao era basicamente com o capital. Para Tinoco5:

    O Balano Social tem por ambio descrever uma certa reali dade econmica e social de uma entidade, atravs do qual suscetvel de avaliao.

    Em decorrncia dele as relaes entre o fator capital e o fator trabalho podem ser melhor regulados e harmonizados, na medida em que as foras sociais avancem e tomem posio, especialmente nos pases de Terceiro Mundo, entre eles o Brasil, onde se observa a ocorrncia de um capitalismo selvagem.

    Nos pases onde o capitalismo est mais desenvolvido vrias empresas j vm consagrando o balano social como instrumento de gesto e de informao. Essas empresas divulgam normalmente informao econmica e social a seus trabalhadores, pois sua estrutura no posta em causa, sendo o lucro aceito como uma vocao normal da empresa, permitindo que a relao entre dirigentes e assalariados torne-se consensual e no conflituosa..

    Entretanto, diferentemente do que sentencia Tinoco, o que se observa que os pases em que o capitalismo est mais desenvolvido a selvageria econmica a mesma, e o

    balano social, quando utilizado, configura-se apenas como um instrumento de informaes de recursos humanos e no de gesto, conforme poder ser observado nos exemplos apresentados no item 2.1.3 O balano social em outros pases do mundo.

    5 TINOCO, Joo Eduardo Prudncio. Balano social Uma abordagem scio-econmica da contabilidade.

    Dissertao de mestrado Faculdade de Economia e Administrao da Universidade de So Paulo. So Paulo: FEA/USP, 1984.p. 45

  • 7

    Dentro do objetivo de analisar a distribuio de renda dentro das empresas, importa apenas a parte desse conjunto de informaes que evidencia o valor adicionado ou agregado, especificamente a Demonstrao do Valor Adicionado, que mede o valor da riqueza gerada pelas empresas e a sua distribuio aos diversos setores, inclusive aos funcionrios. A partir da mensurao da riqueza agregada pelas empresas por meio dessa demonstrao, consegue-se, dentre outros, apurar o percentual de riqueza criado pela empresa em relao s suas vendas, o montante dos recursos gerados que foram repartidos ao governo por meio de impostos e contribuies, alm da participao da empresa e tambm do setor na distribuio da renda no pas.

    No enfoque de distribuio de renda, a referida demonstrao que apresenta a contraprestao do fator de produo trabalho, representado pela remunerao paga aos empregados.

    Um dos mais importantes elementos de distribuio de renda a remunerao do trabalho. Ela engloba toda as despesas efetuadas pelos empregadores em contraprestao ao servio realizado por esse fator de produo empregado em um

    perodo. Compreende pagamentos diretos aos assalariados, encargos sociais a cargo dos empregadores, alm de outras vantagens como comisses, gratificaes, participaes nos lucros, planos de aposentadoria complementar, assistncia mdica, transporte, etc.

    Devido importncia das informaes geradas pela referida demonstrao na busca por uma viso social do que antes era meramente econmico, o questionamento que nortear este trabalho ser:

    Existe relao entre a riqueza gerada pelas empresas, no Brasil, e a distribuio dessa riqueza aos seus funcionrios, tomando-se como parmetro as informaes obtidas na Demonstrao do Valor Adicionado?

  • 8

    1.2 Objetivos do trabalho

    1.2.1 Objetivo Geral

    Considerando as informaes prestadas na Demonstrao do Valor Adicionado, avaliar a relao existente entre a variao da riqueza das empresas analisadas e a variao da remunerao dos empregados, verificando se a variao da riqueza tem efeito na remunerao paga aos funcionrios, influenciando a distribuio de renda.

    1.2.2 Objetivos especficos

    Examinar a Demonstrao Contbil do Valor Adicionado da amostra de empresas selecionadas.

    Medir a participao dos funcionrios na distribuio da riqueza gerada pelas empresas da amostra.

    Analisar a variao existente na gerao de riqueza das diversas empresas constantes da amostra e na distribuio dessa riqueza aos funcionrios.

    Aferir se as empresas geradoras de maior valor adicionado so as que mais distribuem riqueza por meio de remunerao aos seus funcionrios.

    1.3 Hipteses

    Segundo Martins6, Hiptese um enunciado conjetural entre duas ou mais variveis. Trata-se de suposies idealizadas na tentativa de antecipar respostas do problema de pesquisa.

    Neste estudo as principais hipteses que se apresentam para a orientao da pesquisa so:

    6 MARTINS, Gilberto de Andrade. Manual para elaborao de monografias e dissertaes. 2. ed. So Paulo:

    Atlas, 2000. p. 33

  • 9

    H1-) As empresas que geram maior riqueza, tomando como base as informaes constantes na Demonstrao do Valor Adicionado, so as que mais a distribuem aos seus funcionrios.

    H2-) Um incremento provocado na riqueza gerada pelas empresas resulta num aumento na distribuio dessa riqueza aos funcionrios, considerando-se as informaes da Demonstrao do Valor Adicionado.

    1.4 Metodologia da Pesquisa

    Neste trabalho, pelas suas caractersticas, utilizada uma abordagem Emprico-

    Analtica que, segundo Martins7:

    so abordagens que apresentam em comum a utilizao de tcnicas de coleta, tratamento e anlise de dados marcadamente quantitativos. Privilegiam estudos prticos. Suas propostas tm carter tcnico, restaurador e incrementalista. Tm forte preocupao causal entre variveis. A validao da prova cientfica buscada atravs de testes dos instrumentos, graus de significncia e sistematizao das definies operacionais.

    Constitui-se de uma primeira parte onde feita a fundamentao terica e onde a tcnica empregada a pesquisa bibliogrfica. Num segundo momento, so utilizados

    dados secundrios para comprovao ou negao das hipteses. Conforme Ferrari8,

    As fontes secundrias so aquelas contribuies provenientes da documentao j analisada e publicada. So tambm chamadas de documentos de segunda mo. Esses dados secundrios foram levantados por meio do cadastro de empresas

    mantido pela Fundao Instituto de Pesquisas Contbeis, Atuariais e Financeiras FIPECAFI, rgo de apoio institucional ao Departamento de Contabilidade e Aturia da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade de So Paulo FEA/USP, que o banco de dados usado na edio da Melhores e Maiores publicada anualmente pela Revista Exame. Compe-se de 198 empresas, com informaes dos anos de 1996 a 2000.

    7

    op. cit. p. 26 8 FERRARI, Alfonso Trujillo. Metodologia da pesquisa cientfica. So Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1982. p.

    227.

  • 10

    1.5 Estrutura do trabalho

    Este trabalho est estruturado em 6 captulos, alm da introduo, da bibliografia e dos anexos e apndices, em volume prprio, contendo as tabelas e quadros utilizados para as anlises feitas, e os exemplos de balano social de empresas em alguns pases do mundo.

    O Captulo 1 O Problema de pesquisa - procura identificar e caracterizar o problema a ser estudado. Inicia-se com o reconhecimento das dificuldades vividas

    atualmente, relacionadas queda no nvel geral de empregos, e estabelece-se o problema da distribuio de renda como estimulador do trabalho. Traam-se os objetivos do estudo e define-se como propsito, a confirmao ou negao das hipteses propostas e estabelece a metodologia da pesquisa.

    No Captulo 2 Reviso da Bibliografia - so tratados os principais aspectos conceituais e referncias bibliogrficas. Procura-se abordar os itens especficos relacionados ao Balano Social, Valor Adicionado e Renda, com enfoque na

    distribuio de renda e a legislao trabalhista no Brasil.

    O Captulo 3 Aspectos prticos da DVA - apresenta a caracterizao prtica e a metodologia de elaborao dessa demonstrao. Procura-se ressaltar, ainda, o

    tratamento dos elementos que a compem.

    O Captulo 4 Planejamento da Pesquisa e Coleta de Dados - descreve a metodologia e aplicao da pesquisa proposta, a caracterizao da populao e da

    amostra utilizadas e o tratamento a que foram submetidos os dados. So apresentadas informaes sobre a Demonstrao do Valor Adicionado de 198 empresas, nos anos de 1996 a 2000.

    O Captulo 5 Anlise dos Resultados - destinado divulgao e anlise dos resultados da investigao proposta.

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    Por fim, no Captulo 6 Concluses - so apresentadas as dedues e recomendaes prprias a este estudo.

  • 12

    CAPTULO 2 - REVISO DA BIBLIOGRAFIA

    2.1 Balano social

    Segundo Iudcibus9:

    o es tabelecimento dos objetivos da Contabilidade pode ser feito na base de duas abordagens distintas: ou consideramos que o objetivo da contabilidade fornecer aos usurios, independentemente de sua natureza, um conjunto bsico de informaes que, presumivelmente, deveria atender igualmente bem a todos os tipos de usurios, ou a contabilidade deveria ser capaz e responsvel pela apresentao de cadastros de informaes totalmente diferenciados, para cada tipo de usurio.

    Podemos considerar que a segunda abordagem a desejvel, inclusive defendida por Iudcibus, pois um cadastro de informaes para atender s necessidades diversificadas dos diversos tipos de usurios tiraria da contabilidade o gesso representado pelas demonstraes tradicionais. Mas por enquanto podemos contar apenas com a primeira, ou seja, um conjunto bsico de informaes.

    A contabilidade presta a seus principais usurios, a includos scios, acionistas, financiadores em geral, empregados, administradores e governo, informaes econmico-financeiras, por meio das demonstraes tradicionais (como Balano Patrimonial, Demonstrao do Resultado do Exerccio, etc.). O surgimento de movimentos sociais na Frana, Alemanha, Inglaterra, e ainda a aventura norte-americana na guerra do Vietn, na dcada de 60, durante a administrao Nixon, provocaram o repdio da populao e deram incio a um movimento de boicote

    aquisio dos produtos e aes daquelas empresas que se encontravam envolvidas com o conflito armado. A partir da comeou a ser requerida das empresas, uma

    9 IUDCIBUS, Srgio. Teoria da contabilidade. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2000. p. 19

  • 13

    maior responsabilidade social, e a divulgao de informaes scio-econmicas juntamente com seus relatrios contbeis10.

    Essa noo de responsabilidade social surgiu pela primeira vez nos EUA, na dcada de 3011, mas somente na dcada de 60, suas empresas comearam a elaborar um modelo de demonstrao social para a prestao de contas com o pblico, como forma de reagir s presses sofridas da sociedade, na sua exigncia por uma nova postura tica. Ao prestar contas de suas aes, visavam principalmente melhorar sua imagem perante consumidores e acionistas. Essa presso partiu, principalmente, da

    influncia exercida pelas igrejas, fundaes, organizaes caritativas, profissionais formadores de opinio, associaes de ex-combatentes de guerra, dentre outros.

    A partir desse momento, as empresas comearam a perceber que o fato de

    produzirem a preo justo e qualidade adequada no seria mais a nica justificativa de sua existncia perante a opinio pblica. Conforme Dlamo12, elas tem tamb m que provar diante da sociedade que tal produo no se obteve custa da pureza do seu ar, ou da dignidade dos seus habitantes, ou da fertilidade dos seus vales, ou da tranqilidade das suas ruas e praas.

    E, ainda, que as variveis sociais podem e devem fazer parte dos seus critrios de gesto, e a otimizao do seu lucro no pode ser o nico objetivo de suas atividades. Para Guerreiro13, a empresa tem objetivos sociais e econmicos e eles so perfeitamente conciliveis. A empresa desempenharia duas funes integradas: a funo econmica, que busca a maximizao da taxa de retorno dos recursos

    10 DE LUCA, Mrcia Martins Mendes. Demonstrao do valor adicionado: do clculo da riqueza criada pela

    empresa ao valor do PIB. So Paulo: Atlas, 1998. p. 23-24. 11TINOCO, Joo Eduardo Prudncio. Balano social e contabilidade de recursos humanos. In: SEMINRIO BALANO SOCIAL UMA IDIA VIVA (3. GRUPO). 1997, So Paulo. Apostila... So Paulo: JCA treinamentos e FIPECAFI FEA/USP, 1997. p. 5. 12

    DLAMO, Alfonso Silva. O balano social, utopia ou realidade na empresa Latino-Americana. In: GONALVES, Ernesto Lima (org.) Balano social na Amrica Latina.Traduo Maria Aparecida Ataliba de L.Gonalves. Livraria Pioneira Editora. So Paulo: 1980. p. 2 13

    GUERREIRO, Reinaldo. Modelo conceitual de sistema de informao de gesto econmica: uma contribuio a teoria da comunicao da contabilidade. Tese de doutoramento-Faculdade de Economia e Contabilidade da Universidade de So Paulo. So Paulo: FEA/USP, 1989. p. 156

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    financeiros investidos; e a funo social, que busca promover o bem-estar dos grupos sociais que com ela interagem, mediante a distribuio da riqueza por ela gerada.

    preciso reconhecer, entretanto, que o sistema de informaes contbeis disponvel, representado pelas demonstraes tradicionais e voltado essencialmente para o desempenho econmico-financeiro, no possibilita a obteno desses novos dados que interessam a tantos. Ele no mostra nem mensura o impacto do desempenho social da empresa e seu relacionamento com a comunidade onde est inserida, relegando a um plano secundrio alguns usurios que contribuem, direta ou

    indiretamente, para a gerao de riqueza das organizaes. Dentre eles, os empregados e a prpria comunidade, que cede os recursos para as organizaes.

    Para Gonalves14:

    A busca de um elemento bsico na existncia do homem moderno, representado pela qualidade de vida, estimulou em todos os centros acadmicos e empresariais mais evoludos o interesse por instrumentos de aferio do desempenho da empresa nesse campo de atividades. Nasceu a a preocupao com elementos novos na vida da empresa e em seu mbito administrativo traduzidos por denominaes igualmente novas, como Balano social e indicadores sociais.

    Data dessa poca, a dcada de 60, a realizao das primeiras experincias das empresas relacionadas com a elaborao de relatrios que poderiam ser chamados de

    balanos sociais, nos diversos pases do mundo, conforme ser tratado no item 2.1.3 O balano social em outros pases do mundo.

    2.1.1 Aspectos conceituais

    Ao conjunto de informaes que tem como principal objetivo mostrar em que grau se encontra o envolvimento das empresas em relao sociedade e comunidade que a

    14GONALVES, Ernesto Lima. Tentativa de um modelo bsico de balano social. In: GONALVES, Ernesto Lima (org.) Balano social na Amrica Latina.Traduo Maria Aparecida Ataliba de L.Gonalves. Livraria Pioneira Editora. So Paulo: 1980. p. 49

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    acolheram, d-se o nome de balano social. Esse aspecto ressaltado por Ribeiro e Lisboa15:

    O Balano Social um instrumento de informao da empresa para a sociedade, por meio do qual a justificativa para sua existncia deve ser explicitada. Em sntese, esta justificativa deve provar que o seu custo-benefcio positivo, porque agrega valor economia e sociedade, porque respeita os direitos humanos de seus colaboradores e, ainda, porque desenvolve todo o seu processo operacional sem agredir o meio ambiente.

    Segundo o relatrio do presidente do Conselho de Acionistas do Banco de Bilbao, escrito em junho de 1982 e citado por Kroetz16, o Balano Social :

    uma amostra da responsabilidade empresarial e a afirm ao concreta de que esta no se entende como algo absolutamente desligado da dimenso tica. Responsabilidade o nome concreto da liberdade, correspondente quele que sabe que atuou livremente. Mas, a responsabilidade de qualquer empresa tem sempre uma amplitude maior: a sociedade.

    O carter de embate entre capital e trabalho est evidenciado na afirmativa de Freire e Rebouas17: O balano social o conjunto de informaes com base tcnico -contbil, gerencial e econmica, capaz de proporcionar uma viso da relao capital-trabalho no que diz respeito a seus aspectos econmico-sociais.

    O balano social se constitui, portanto, segundo justificativa do Projeto 39/9718, apresentado por Aldaza Sposati, num instrumento pelo qual as empresas

    demonstram atravs de indicadores, o cumprimento de sua funo social. Esses indicadores demonstram tanto a responsabilidade social das organizaes e seus investimentos em seus empregados, quanto na comunidade em que est inserida.

    15 RIBEIRO, Maisa de Souza, LISBOA, Lzaro Plcido. Balano social: instrumento de divulgao da interao

    da empresa com a sociedade. In: Encontro da ANPAD, 23, 1999, Rio de Janeiro. Anais..., 1999. p. 1 16

    KROETZ, Csar Eduardo Stevens. Balano social, teoria e prtica. So Paulo: Atlas 2000. p. 66 17FREIRE, Ftima de Souza, REBOUAS, Tereza Raquel da Silva. Uma descrio sucinta do balano social francs, portugus, belga e brasileiro. In: SILVA, Csar Augusto Tibrcio, FREIRE, Ftima de Souza (organizadores). Balano social: teoria e prtica. So Paulo: Atlas, 2001. p. 104 18

    SO PAULO. Resoluo 05/98 da Cmara Municipal da Cidade de So Paulo. Cria o dia e o selo da Empresa Cidad s empresas que apresentarem qualidade em seu balano social e d outras providncias.

  • 16

    Segundo Souza19, esse instrumento de medio atende a todos. Oferece aos dirigentes os elementos necessrios s tomadas de deciso, quando estas se referem aos programas e responsabilidades sociais desenvolvidos pelas empresas; aos empregados garante a possibilidade de verem suas expectativas chegando aos patres de forma sistematizada e quantificada; aos investidores e fornecedores, leva o conhecimento sobre a maneira pela qual a empresa encara suas responsabilidades em relao ao seu quadro humano; aos consumidores oferece uma idia do clima humano que reina na empresa, aproximando-a do seu mercado consumidor; ao Estado, o balano social pode fornecer subsdios para elaborao de normas legais

    que regulamentem, da maneira mais adequada, a atividade das empresas, visando o bem estar da comunidade.

    Ou ainda, conforme Sucupira20,

    ...fazer e publicar o balano social mudar aquela viso tradicional em que a empresa deveria tratar apenas de produzir e obter lucro, sem se preocupar com a satisfao de sua fora de trabalho e com o ambiente externo, para uma viso moderna em que os objetivos da empresa incorporam sua responsabilidade social.

    Alm de instrumento de medio, o balano social se constitui num importante instrumento de planejamento e marketing, pois divulga a imagem da empresa em questes como, por exemplo, sua atitude tica no campo social. Mas ele no pode se

    resumir a isso, pois, segundo Taylor21,

    O balano social no , nem pode ser, um meio de dar publicidade ao fato de sermos muito bons no aspecto social. um meio para verificar, realmente, como somos, objetiva e desapaixonadamente, por meio de uma avaliao assptica dos resultados que vamos obtendo no campo social.

    19 SOUZA, Herbert de. Empresa pblica e cidad. Folha de So Paulo. So Paulo: 26 mar. 1997. p. 2

    20 SUCUPIRA, Joo A. tica nas empresas e balano social. In: SILVA, Csar Augusto Tibrcio, FREIRE,

    Ftima de Souza (org.). Balano social: teoria e prtica. So Paulo: Atlas, 2001. p. 124 21

    TAYLOR, Robert. Balano social: instrumental de avaliao de desempenho e correo do planejamento social na vida da empresa. In: GONALVES, Ernesto Lima (org.) Balano social na Amrica Latina.Traduo Maria Aparecida Ataliba de L.Gonalves. Livraria Pioneira Editora. So Paulo: 1980. p. 32

  • 17

    O Balano Social possui pelo menos quatro22 vertentes, que so: a de Recursos Humanos, a Ambiental, a das Relaes com a sociedade e a do Valor Adicionado. Conforme Ribeiro e Lisboa23, Estas vertentes podem ser tratadas isoladamente, como tambm em conjunto. Do balano social, podem se obter indicadores tanto de ordem qualitativa quanto quantitativa, seja de carter econmico, como a relao entre salrios pagos ao trabalhador e as receitas brutas e a produtividade social da empresa, seja de carter social, como nvel de absentesmo e evoluo do emprego na empresa.

    Para os objetivos deste estudo, a vertente que interessa a do valor adicionado gerado pela empresa e a sua repartio e relao com um dos seus beneficirios, os empregados. Tinoco24 ressalta a importncia do papel dos empregados na gerao de riquezas, pois so aqueles que aportam seu trabalho s organizaes e que recebem

    salrios como contraprestao, favorecendo indiretamente a sociedade, por meio do sustento das pessoas dependentes da unidade familiar, e ao prprio Estado, que recebe os impostos sobre a renda.

    2.1.2 O primeiro balano social no mundo - o francs

    O balano social da Frana merece destaque, por se tratar do primeiro pas no mundo a torn-lo obrigatrio.

    Sua elaborao obrigatria desde o ano de 1977. A Lei 77.769 de 12 de junho de 1977, promulgada durante o governo de Valry Giscard d`Estaing, instituiu a obrigatoriedade da elaborao e divulgao de um novo conjunto de informaes sociais denominado de bilan social de lentreprise - balano social da empresa - a aquelas organizaes com mais de 750 empregados a partir de 1979, e a partir de 1982 estendeu essa exigncia s que contassem com mais de 300 empregados. At

    22Conforme o prof. Eliseu Martins In: BRAZ, Adriana. A importncia do balano social. Revista Mercado de Capitais. So Paulo: n. 176, 12-13, jan/fev. 1999. p. 12 23

    op. cit. p. 14 24TINOCO, Joo Eduardo Prudncio. Balano social Uma abordagem scio-econmica da contabilidade. op. cit. p. 55

  • 18

    ento, apesar dos empregados serem considerados como usurios das informaes contbeis, uma anlise mais detalhada das Demonstraes Contbeis existentes revelava que, apesar destas contarem com uma quantidade bastante significativa de dados quantitativos e qualitativos, estes serviam principalmente aos acionistas, investidores, credores, clientes e fiscos, no trazendo, entretanto, essas peas, informaes acerca de salrios e outros benefcios.

    Para Tinoco25 A lei francesa possui inegveis mritos. Ela reconhece pela primeira vez de forma institucional a importncia dos trabalhadores no seio da empresa, como usurio da informao contbil.

    Entretanto, conforme pode-se observar no modelo de balano social francs constante do Anexo A deste estudo, ele no contempla outras informaes

    consideradas cruciais como, por exemplo, o valor adicionado bruto gerado pela empresa, concentrando-se nos aspectos de recursos humanos, o que no reduz, de forma alguma, seus mritos.

    Evidencia, principalmente as relaes dos empregados com a empresa. Alm disso, diferentemente do que ocorre com as demonstraes contbeis tradicionais, que so elaboradas por um contador e, em alguns casos, conferidas por um auditor, o balano social francs geralmente feito por um empregado ligado rea de recursos

    humanos; no existindo nenhuma penalidade ou sano aplicvel em decorrncia de irregularidades aps sua preparao, o que segundo Freire e Rebouas26, gera incertezas quanto s suas informaes e diminui sua credibilidade junto comunidade.

    Seu poder apenas informativo, sem carter de cunho decisrio, o que o enfraquece para referenciar negociaes. Entretanto, ele permite analisar a relao existente

    entre capital e trabalho, medindo a evoluo da empresa nas questes relativas ao seu

    papel como clula social.

    25 op. cit. p. 37

    26

    op. cit. p. 70-73

  • 19

    As linhas bsicas de informao do balano social, conforme a lei francesa, so: o emprego, as remuneraes e os encargos acessrios, as condies de higiene e de segurana, as outras condies de trabalho, a formao profissional, as relaes profissionais, e ainda as condies de vida dos empregados e de seus familiares, nas relaes que dependam da empresa. Ele deve, ainda, ser submetido ao comit da empresa, delegados sindicais e ao inspetor do trabalho, aps ser aprovado em reunio de comit, devendo ser afixado em local acessvel a todos os funcionrios da empresa. O balano social do Anexo A, da France Telecom, apresenta as linhas de informao mencionadas, dentro de quatro itens. O primeiro, Empregados

    adaptabilidade e pragmatismo, trata dos empregados efetivos, do desenvolvimento das competncias e da organizao do tempo de trabalho; o segundo Remunerao individualizao e descentralizao, da remunerao individual e coletiva; o terceiro Relaes Sociais dilogo e proximidade, da representao das pessoas e atividades

    sociais; e o quarto Higiene, Segurana e Medicina Preventiva preveno e eficcia, das condies de higiene e segurana, dos acidentes de trabalho e no trajeto residncia-trabalho-residncia, das doenas profissionais e da medicina preventiva.

    2.1.3 O balano social em outros pases do mundo

    Na maioria dos pases do mundo onde se encontra a figura do balano social, sua elaborao e publicao voluntria, mas em alguns outros, a exemplo da Frana,

    ele obrigatrio.

    Conforme Tinoco27, a Holanda foi o primeiro pas do mundo a ter publicados seus social jarverslag relatrios sociais. Seu modelo se utiliza de medidas qualitativas para informar o impacto dos objetivos sociais da empresa, e quantitativas para programas sociais a serem implementados. As informaes sobre trabalho e emprego ocupam posio de destaque, sem desprezarem as consideraes de cunho econmico28.

    27

    op. cit. p. 96 28

    MENDES, Abadia Eleuza, et al. Balano social: exerccio de cidadania. Revista de Contabilidade do CRC-SP . So Paulo:, ano II, n 6, 76-82, nov. 1998. p. 78

  • 20

    Na Alemanha, a identificao do social ecologia e s condies de trabalho faz parte de relatrios sociais. Os principais temas abordados nos relatrios alemes so os custos dos salrios e encargos sociais, as despesas sociais voluntrias, a formao profissional, os esforos de informao interna, o nmero de acidentes, e aes para controle da poluio ambiental29.

    Na Gr-Bretanha, vrias empresas fornecem informaes mais amplas aos seus usurios, dentre eles os empregados, no existindo um balano para acionistas e outro para o pessoal. Esto reunidos, num mesmo documento, indicadores para

    julgamento tanto da situao econmica quanto dos dados sociais30.

    Tambm na Espanha o balano social voluntrio, sendo elaborado pelas empresas que julgam que devem ser transparentes. O Banco de Bilbao foi o pioneiro, publicando-o em 197831.

    No Chile, segundo Gonalves32, a difuso da idia de gesto social e de balano social se iniciou na dcada de 70, a partir da iniciativa de um grupo de empresrios.

    A empresa chilena pioneira na aplicao do balano social foi a Associacin Chilena de Seguridad (ACHS), em 1976. Conforme informaes de Brbara Dlano33, diretora de relaes institucionais da associao, seu balano social j tem 26 anos e feito rigorosamente a cada ano. Sua divulgao pblica feita na assemblia anual

    de scios, mediante o auxlio da Memria Anual o mesmo que relatrio anual (onde publicado junto com o balano financeiro) e chega s 38.000 empresas filiadas (a associao privada, sem fins lucrativos). Tambm divulgado perante as mais altas autoridades governamentais do pas, aos seus 3.700 trabalhadores, s

    cpulas empresariais, s entidades acadmicas e outras no-governamentais, sindicatos e comits paritrios. Sua metodologia baseada no modelo francs, como pode ser observado no Anexo B, mas para sua adaptao legislao, mentalidade

    29 MENDES, Abadia Eluza, et al. op. cit. p. 77

    30 TINOCO, Joo Eduardo Prudncio. op. cit. p. 98

    31 TINOCO, Joo Eduardo Prudncio. op. cit. p. 99

    32 op. cit. p. 55

    33 Informaes fornecidas por meio de entrevista eletrnica, recebida por e-mail em 26/02/02.

  • 21

    e idiossincrasia do Chile, tem-lhe sido feitas algumas alteraes, desde o incio. Os indicadores sociais constantes do balano social da ACHS, so priorizados pelos prprios trabalhadores, de forma voluntria e annima. A cada um deles atribuda uma pontuao que varia de 20 (equivalente satisfao mnima) a 100 (equivalente mxima satisfao). Os resultados so comparados com os do ano anterior, e calculados, ento, o grau de avano ou retrocesso nos ndices dos indicadores sociais. O resultado denominado de supervit ou dficit social, e obtido pela diferena entre os ativos sociais representados pelo crescimento no grau de satisfao dos trabalhadores e os passivos sociais representados pelo decrscimo no grau de

    satisfao. De acordo com a prioridade atribuda aos indicadores sociais pelos trabalhadores, os 4 nveis do balano social da ACHS so, respectivamente: nvel I segurana no emprego, satisfao no trabalho, sistema de remunerao, reconhecimento de mritos, e capacitao e desenvolvimento; nvel II imagem

    institucional, relaes interpessoais, direito a opinio, benefcios de sade, e sistemas de promoes e ascenses; nvel III qualidade da organizao, grau de integrao do pessoal, preveno de acidentes de trabalho, condies fsico-ambientais, e fundos de indenizao; e nvel IV meios de comunicao interna, sistema de avaliao do

    desempenho, prstimos institucionais, e atividades extra trabalho. O resultado medido em unidades padro de satisfao (USS).

    Enquanto nos EUA o enfoque dos social audits relatrios econmico sociais

    o ambiente externo, como a satisfao dos consumidores/clientes, o controle da poluio, o acompanhamento da contribuio da empresa aos programas culturais, transportes coletivos e outros benefcios coletividade, na Sucia a nfase so as informaes aos empregados34. Nos dois pases a demonstrao no obrigatria.

    J na Blgica e em Portugal o balano social obrigatrio, conforme Freire e Rebouas35. Na Blgica ele exigido de todas as empresas. Faz parte das demonstraes anuais e foi institudo em 1996 por meio de um decreto real, tendo,

    34 DE LUCA, Mrcia Martins Mendes. Demonstrao do valor adicionado: do clculo da riqueza criada pela

    empresa ao valor do PIB. So Paulo: Atlas, 1998. p. 25 35

    op. cit. p. 79, 80,95

  • 22

    para o governo, funo decisria no que concerne poltica de emprego. Segundo Gonzalez36, vrias empresas belgas informam que a publicao de balanos sociais tornou-se obrigatria, tambm, por exigncia do mercado, visto que empresas que no o publicam no conseguem atuar vendendo seus produtos/servios, pois a cada dia mais consumidores se recusam a consumir de empresas que no tenham balano social ou que possuam, na sua cadeia produtiva, empresas que no o publicam. Um exemplo do balano social belga se encontra no Anexo C. Esse modelo dividido em 3 partes: a primeira demonstra o estado das pessoas efetivamente empregadas, as com trabalho temporrio e as que se encontram a disposio da empresa dados

    como, mdia de empregados, nmero de horas trabalhadas, gastos com pessoal, e nmero de empregados registrados no departamento pessoal seja os que trabalham em tempo integral ou meio perodo; na segunda parte esto informaes sobre o movimento do pessoal durante o perodo sadas e entradas daqueles que trabalham

    por tempo integral e meio perodo; e na terceira parte consta a demonstrao relativa implementao de medidas que estimulam o emprego relatando o nmero de pessoas empregadas envolvidas com uma ou mais medidas de estmulo ao emprego.

    Finalmente, em Portugal, as empresas que tenham pelo menos cem empregados so obrigadas, desde 1985 pela Lei n. 141, a elaborarem o balano social ao final do exerccio social. Seu principal usurio o Ministrio do Emprego e da Seguridade Social, que envia cpias s associaes, sindicatos dos empregados, e Inspeo

    Geral do Trabalho. As empresas portuguesas devem, ainda, remeter o balano social comisso de trabalhadores e afix-lo nos locais de trabalho37. Conforme modelo de balano social portugus apresentado no Anexo D, pode-se observar que ele composto de cinco captulos, alm de uma pgina inicial com a identificao da

    empresa e informaes sobre o valor adicionado, custos com pessoal, dentre outras. No captulo 1 constam informaes sobre o emprego, como o nmero de pessoas em

    36 GONZALEZ, Roberto Souza. Balano social um disclosure necessrio. In: SEMINRIO MERCADO DE

    CAPITAIS E BALANO SOCIAL. 2001, So Paulo. Apostila... So Paulo: ABAMEC, 2001. p. 8. 37

    FREIRE, Ftima de Souza, REBOUAS, Tereza Raquel da Silva. Uma descrio sucinta do balano social francs, portugus, belga e brasileiro. In: SILVA, Csar Augusto Tibrcio, FREIRE, Ftima de Souza (organizadores). Balano social: teoria e prtica. So Paulo: Atlas, 2001. p. 78-80

  • 23

    servio, de acordo com o tipo de contrato, as ausncias verificadas, a estrutura etria e de habilitao do pessoal, alm do nvel de antigidade, nmero de estrangeiros e deficientes. No captulo 2 so especificados os custos com pessoal, seja com salrio direto ou no. O captulo 3 contm indicadores de higiene e segurana, dentre os quais, especificaes sobre os acidentes de trabalhos, as aes de formao e sensibilizao em matria de segurana, e as atividades da medicina do trabalho. O captulo 4 trata da formao profissional, com o nmero e o valor monetrio das aes praticadas. E, finalmente, o captulo 5, que traz os nmeros da proteo social complementar, como os encargos suportados pela empresa, as prestaes de ao

    social de apoio infncia e aos idosos, alm de outras modalidades de apoio social (sade, habitao, transporte, etc.).

    Nos quatro modelos de balano social pesquisados (francs, belga, chileno e portugus), constatou-se a presena de informaes unicamente relacionadas com a rea de Recursos Humanos, sem englobar as outras trs vertentes j consideradas anteriormente: Valor Adicionado (exceto o modelo portugus, que contm a informao sobre o valor adicionado mas, no sua composio e clculo), Ambiental, e Relaes com a Sociedade.

    Apenas no modelo chileno h a participao direta dos trabalhadores na sua elaborao pois, as informaes so buscadas junto a eles, o que permite seu amplo envolvimento. Entretanto, de uma forma geral, todos apresentam informaes que interessam particularmente classe trabalhadora.

    2.1.4 O balano social no Brasil

    No Brasil, as discusses sobre comportamento tico e responsabilidade social das empresas, tiveram incio na dcada de 60, com a criao da Associao dos Dirigentes Cristos de Empresas ADCE. De acordo com Sucupira38, Um dos

    princpios desta associao baseia-se na aceitao por seus membros de que a

    38

    op. cit. p. 125

  • 24

    empresa, alm de produzir bens e servios, possui a funo social que se realiza em nome de trabalhadores e do bem-estar da comunidade.

    Segundo informao de Flores39, apresentada por Torres, nesta mesma dcada de 60, uma empresa formada por Roberto Campos e outros tcnicos ligados ao antigo Banco Nacional de Desenvolvimento BNDE, de nome Consultec, realizava o balano social para empresas multinacionais e nacionais, como base para avaliao interna e anlise de risco, para implementao e expanso no pas.

    H quem atribua RAIS - Relao Anual de Informaes Sociais, o papel de balano social. Ela foi instituda pelo Decreto-Lei 76.900/1975, na primeira modalidade de relatrio com destaque para aspectos sociais e de recursos humanos, e destinada a suprir as necessidades de controle, estatstica e de informaes das entidades

    governamentais da rea social, alm de atender ao pagamento do abono salarial aos trabalhadores que fazem jus a esse benefcio, institudo pela Lei nmero 7.998/90. A RAIS, foi criada em plena era da ditadura militar, durante o governo Geisel, sendo obrigatria para todas as empresas atuantes no pas a partir de 1977. Comparativamente ao balano social francs, o relatrio brasileiro mais antigo, todavia, contm informaes inferiores a ele, tanto qualitativa quanto quantitativamente, no exerce a funo de balano social, e principalmente no divulgado para a sociedade como ressaltado por Santos, Freire e Malo40:

    Nas ltimas trs dcadas, o Brasil vivenciou o que pode ser considerado conservadorismo poltico e social, combinado com abertura poltica e liberalismo econmico. A obrigatoriedade, instituda atravs de Decreto-Lei, em pleno regime militar, da apresentao pelas empresas sediadas no Brasil da RAIS, foi bastante insipiente, principalmente quando se compara com o modelo francs. De qualquer forma, deve-se salientar que, legalmente, foi uma das principais iniciativas que se tem conhecimento. Tambm deve ser destacado que os indicadores sociais produzidos atravs da utilizao das informaes advindas da RAIS so bastante

    39 FLORES, Jorge O. M. Na periferia da histria. D' arajo, Maria Celina et al. Org..Rio de Janeiro:FGV, 1999.

    p.130-133 In: TORRES, Ciro. Responsabilidade social das empresas (RSE) e balano social no Brasil. In: SILVA, Csar Augusto Tibrcio, FREIRE, Ftima de Souza (organizadores). Balano social: teoria e prtica. So Paulo: Atlas, 2001. p. 16 40

    SANTOS, Ariovaldo dos, FREIRE, Ftima S., MALO, Franois Bernard. O balano social no Brasil: gnese, finalidade e implementao como complemento s demonstraes contbeis. In: Encontro da ANPAD, 23, 1998, Foz do Iguau. Anais..., 1998. p. 6.

  • 25

    limitados, e, pior, no so disponibilizados para os empregados das entidades ou suas associaes de classe. A RAIS passar a ser uma verdadeira fonte de informaes sociais, para os trabalhadores e a sociedade em geral, somente a partir do momento em que for elaborada de forma a permitir que todos possam acess-la.

    Cabe ressaltar que, apesar de h quase trs dcadas as empresas serem obrigadas a divulgar informaes sobre seus funcionrios, por meio da RAIS, estas se destinam ao Ministrio do Trabalho e Emprego, exclusivamente para suprir as necessidades de controle e estatstica das entidades governamentais na rea social, principalmente no

    tocante ao cumprimento da legislao relativa ao Programa de Integrao Social PIS, e Programa de Formao do Patrimnio do Servidor Pblico - PASEP, ao fornecimento de subsdios para controles relativos ao Fundo de Garantia por Tempo de Servio FGTS e Instituto Nacional de Seguridade Social INSS, no sendo

    divulgadas sociedade.

    A RAIS contm informaes dos estabelecimentos ou pessoas que, na condio de empregadores, mantiveram algum assalariado por qualquer perodo de tempo no

    decorrer do ano da declarao, seja por meio de contratos de trabalho regidos pela Consolidao das Leis Trabalhistas (CLT), temporrios ou no, ou por meio do Regime Jurdico nico (RJU), no caso do funcionalismo pblico. O estabelecimento que no manteve empregados ou que permaneceu inativo tambm est obrigado sua entrega. Seu conjunto de informaes abrange, dentre outras: nome do empregado, cdigo de inscrio no Programa de Integrao Social (PIS) ou Programa de Formao do Patrimnio do Servidor Pblico (PASEP), raa, cor, tipos de salrios contratuais, horas de trabalho semanais, pagamento do 13. Salrio, Classificao Brasileira de Ocupao (CBO), tipo de vnculo empregatcio, grau de instruo dos empregados, contrataes e desligamentos, e remuneraes mensais.

    Outro ponto a ser observado que, tanto o balano social francs, quanto a RAIS, se restringem a prestar apenas informaes sobre recursos humanos, ou seja, no h diferenciao quanto a natureza das informaes prestadas.

    O que deve-se reforar que o balano social, por sua vez, tem uma outra caracterstica, a de divulgao voltada para o grande pblico em geral, possuindo,

  • 26

    efetivamente, cunho social. Se a RAIS vier a se tornar de domnio pblico poder passar a contar, tambm, com essa caracterstica. Mas at o momento no existe nenhuma reivindicao nesse sentido, por nenhum setor da sociedade.

    Ressalvada a obrigatoriedade da RAIS, o primeiro relatrio de cunho social de uma empresa brasileira, publicado de forma totalmente voluntria, foi o da Nitrofrtil, em 1984, destaca Torres41. Neste documento, que recebeu o nome de balano social, a estatal localizada na Bahia tentava dar publicidade s aes sociais por ela realizadas, e tambm ao seu processo participativo desenvolvido durante o perodo. Tambm,

    em meados da dcada de 80, foi publicado o relatrio de atividades sociais do sistema Telebrs. J no ano de 1992, o Banco do Estado de So Paulo (Banespa), produziu um relatrio completo, denominado Balano Social do Banespa, que foi publicado no incio de 1993.

    A partir de 1993, empresas de diversos setores passaram a divulgar, de forma mais recorrente, relatrios com um perfil mais social e humano, tornando os balanos sociais uma realidade para um nmero cada vez maior de empresas. Para Torres42:

    Esse foi um importante perodo de consolidao da mudana de mentalidade de parcela expressiva do empresariado nacional, em que a viso de um capitalismo de cunho mais social, que busca maior negociao com amplas parcelas dos trabalhadores, est cada vez mais atenta aos problemas ambientais e sociais; e tem, de maneira crescente, levado em considerao a questo da tica e da responsabilidade social e ambiental na hora de tomar decises.

    Contudo, foi a partir do ano de 1997 que esse debate tomou lugar na mdia e comeou a gerar resultados. Diversas organizaes comearam a trabalhar

    ostensivamente com o tema, realizando seminrios, palestras e cursos sobre tica, responsabilidade social e ambiental, e, principalmente, balano social. O Departamento de Contabilidade e Aturia, da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade de So Paulo, um dos que tm

    estimulado estudos orientados para a rea social, desde os anos 80.

    41

    op. cit. p. 20 42

    op. cit. p. 21

  • 27

    Em 26 de maro de 1997, o jornal Folha de So Paulo publicou um artigo do socilogo Herbert de Souza, o Betinho (1935-1997), intitulado Empresa pblica e cidad, que serviu como um marco, dando origem discusso, no Brasil, sobre a adoo do balano social.

    Motivadas pelos diversos eventos e artigos gerados desde ento, as ento Deputadas Federais Marta Suplicy (PT-SP), Sandra Starling (PT-MG) e Maria Conceio Tavares (PT-RJ), apresentaram Cmara dos Deputados, o Projeto de Lei 3.116/97, datado de 14 de maio de 1997, que criava a obrigatoriedade de sua elaborao e publicao anual, pelas empresas privadas que tivessem cem empregados ou mais no ano anterior sua elaborao e pelas empresas pblicas, sociedades de economia mista, empresas permissionrias e concessionrias de servios pblicos, em todos os nveis da administrao pblica, independentemente do nmero de empregados. Esse

    Projeto de Lei foi arquivado em 01 de fevereiro de 1998.

    No dia 16 de junho de 1997, o Instituto Brasileiro de Anlises Sociais e Econmicas (IBASE), tendo frente a figura carismtica do mesmo Betinho, lanou uma campanha de mobilizao pela divulgao do balano social anual, que contou com o apoio de diversas organizaes, como a Comisso de Valores Mobilirios (CVM), o Jornal Gazeta Mercantil, a Associao Brasileira de Companhias Abertas (ABRASCA), e a Associao Comercial do Rio de Janeiro, dentre outras, e lideranas empresariais.

    De 1997 a 1998, alguns projetos sobre balano social e responsabilidade social e ambiental das empresas foram apresentados em vrios municpios brasileiros: Santo

    Andr (SP), Porto Alegre (RS), Santos (SP), Joo Pessoa (PB), Uberlndia (MG) e So Paulo (SP). Esse ltimo, Projeto 39/97, foi aprovado em 23 de outubro de 1998, criando o Dia e o Selo Empresa Cidad do Municpio de So Paulo. Foi transformado na Resoluo 05/98 e estabeleceu, em nvel municipal, o dia 25 de outubro como o Dia da Empresa Cidad, e tambm a concesso de um

  • 28

    selo/certificado para todas as empresas que apresentarem qualidade no seu balano social anual43.

    No ano de 1999, o deputado Paulo Rocha (PT-BA) apresentou um Projeto de Lei sobre o mesmo tema, o 0032/99, que atualmente se encontra em tramitao na Comisso de Economia, Indstria e Comrcio da Cmara Federal, para apreciao e no aguardo de parecer. Esse Projeto de Lei a reapresentao do Projeto de Lei 3116/97.

    O balano social ainda um instrumento pouco utilizado pelas empresas brasileiras, embora a quantidade de publicaes cresa a cada ano. De acordo com dados do IBASE44, de 1997 para c (2001), o nmero de empresas que publicam o balano social saltou de 10 para 250. Todas o divulgam de forma voluntria. Os motivos so vrios. De acordo com Torres45, pode-se dizer que se trata de uma conjuno de interesse, vontade e necessidade do meio empresarial.

    2.1.5 O modelo do IBASE

    No existe, ainda, consenso quanto forma da apresentao do balano social: se livre ou padronizado, se obrigatrio ou voluntrio, ou sobre quais informaes, especificamente, ele deveria evidenciar. Algumas empresas, que vm apresentando

    seus balanos sociais, o fazem no modelo do IBASE ou similar, com pequenas variaes. Conforme dados coletados junto a esse instituto46, em 1997, ano de lanamento da campanha pela divulgao do balano social pelas empresas, dos 10 balanos sociais apresentados no pas, 4 foram feitos no seu modelo; em 1998, 8 dentre as 36 empresas divulgadoras; em 1999, o nmero saltou para 44 entre as 100,

    43TORRES, Ciro. Responsabilidade social das empresas (RSE) e balano social no Brasil. In: SILVA, Csar Augusto Tibrcio, FREIRE, Ftima de Souza (organizadores). Balano social: teoria e prtica. So Paulo: Atlas, 2001. p. 28-29 44

    MANFREDINI, Camila. Mais empresas publicam o balano social. Gazeta Mercantil. So Paulo: 23 mar. 2001, p. A10 45

    op. cit. p. 22 46

    Informaes fornecidas por Ciro Torres do Instituto Brasileiro de Anlises Sociais e Econmicas IBASE, por meio de entrevista eletrnica disponibilizada por e-mail em 01/02/02.

  • 29

    atingindo 70 empresas com modelo IBASE, das cerca de 250 grandes empresas que publicaram seu balano social no perodo de 2000 at julho de 2001.

    A posio do Prof. Eliseu Martins, externada em 199847, de que as empresas, o mercado e a comunidade devem definir a evoluo e o amadurecimento desta forma de comunicao sem imposies legais e sem engessar este balano com um padro que, no necessariamente, o mais adequado para todas as empresas.

    A adeso espontnea das empresas tambm era defendida por Betinho48, que julgava ser esta a soluo ideal e o argumento mais poderoso a seu favor, apesar de entender que a vantagem da regulamentao seria a legitimidade institucional.

    Posio contrria defendida por Sucupira49:

    ...se a forma de apresentao de informa es for inteiramente livre, como tem sido a prtica, torna-se difcil uma avaliao adequada da funo social da empresa, j que ela tende a informar apenas o que lhe parece conveniente, geralmente, sem dimensionar valores de gastos. Dessa forma, o balano social confunde-se com uma mera pea de marketing.

    Objetivando a facilidade de comparao conseguida com a padronizao, o IBASE, em parceria com tcnicos, pesquisadores e diversos representantes de instituies pblicas e privadas, concebeu e concluiu, no primeiro semestre de 1997, um modelo de balano social que obteve o apoio da CVM. Tal modelo, com as modificaes e adaptaes ocorridas desde ento se encontra na Figura 1. Segundo Torres50,

    Este modelo tem quatro particularidades que valem a pena se r destacadas: a) foi criado com base na iniciativa de uma ONG, que cobra transparncia e

    efetividade nas aes sociais e ambientais das empresas; b) separa as aes e os benefcios obrigatrios, dos realizados de forma voluntria

    pelas empresas; c) basicamente quantitativo; e d) se for corretamente preenchido, pode permitir a comparao entre diferentes

    empresas e uma avaliao de uma mesma corporao, ao longo dos anos.

    47 ELISEU quer balano social sem imposies legais. So Paulo: SIA & CIA, n . 421, p. 3, 09 nov. 1998.

    48 SOUZA, Herbert de. Balano social: voluntrio ou obrigatrio? Folha de So Paulo. So Paulo: 07 abr.1997

    49 op. cit. p. 127

    50

    op. cit. p. 26

  • 30

    Figura 1 Modelo de balano social do IBASE e instrues de preenchimento 1) Base de Clculo 2001 Valor (Mil Reais) 2000 Valor (Mil Reais) Receita Lquida (RL) Resultado Operacional (RO) Folha de Pagamento Bruta (FPB)

    Valor Valor 2) Indicadores Sociais Internos (Mil R$)

    %Sobre FPB

    %Sobre RL (Mil R$)

    %Sobre FPB

    %Sobre RL

    Alimentao Encargos sociais compulsrios Previdncia privada Sade Segurana e medicina no trabalho Educao Cultura Capacitao e desenvolvimento profissional Creches ou auxlio-creche Participao nos lucros ou resultados Outros Total Indicadores Sociais Internos

    Valor Valor 3) Indicadores Sociais Externos (Mil R$)

    %Sobre RO

    %Sobre RL (Mil R$)

    %Sobre RO %Sobre RL

    Educao Cultura Sade e saneamento Habitao Esporte Lazer e diverso Creches Alimentao Outros Total das Contribuies para a Sociedade Tributos (excludos encargos sociais) Total Indicadores Sociais Externos 4) Indicadores Ambientais Relacionados com a operao da empresa Em Programas e/ou projetos externos Total dos Investimentos em Meio Ambiente 5) Indicadores do Corpo Funcional N de empregados ao final do perodo N de admisses durante o perodo N de empregados terceirizados N de empregados acima de 45 anos N de mulheres que trabalham na empresa % de cargos de chefia ocupados por mulheres N de negros que trabalham na empresa % de cargos de chefia ocupados por negros N de empregados portadores de deficincia 6) Informaes Relevantes quanto ao Exerccio da Cidadania Empresarial Relao entre a maior e a menor remunerao na empresa

    Nmero total de acidentes de trabalho Os projetos sociais e ambientais desenvolvidos pela empresa foram definidos:

    ( ) pela direo

    ( ) direo e gerncias

    ( ) todos os empregados

    ( ) pela direo

    ( ) direo e gerncias

    ( ) todos os empregados

    Os padres de segurana e salubridade no ambiente de trabalho foram definidos:

    ( ) pela direo

    ( ) direo e gerncias

    ( ) todos os empregados

    ( ) pela direo

    ( ) direo e gerncias

    ( ) todos os empregados

    A previdncia privada contempla: ( ) direo ( ) direo e gerncias

    ( ) todos os empregados

    ( ) direo ( ) direo e gerncias

    ( ) todos os empregados

    A participao nos lucros ou resultados contempla:

    ( ) direo ( ) direo e gerncias

    ( ) todos os empregados

    ( ) direo ( ) direo e gerncias

    ( ) todos os empregados

    Na seleo dos fornecedores, os mesmos padres ticos e de responsabilidade social e ambiental adotados pela empresa:

    ( ) no so considerados

    ( ) so sugeridos

    ( ) so exigidos

    ( ) no so considerados

    ( ) so sugeridos

    ( ) so exigidos

    Quanto participao dos empregados em programas de trabalho voluntrio, a empresa:

    ( ) no se envolve

    ( ) apia ( ) organiza e incentiva

    ( ) no se envolve

    ( ) apia ( ) organiza e incentiva

    7) Outras Informaes

  • 31

    Instrues para o preenchimento

    Este Balano Social (BS) deve apresentar os projetos e as aes sociais e ambientais efetivamente realizados pela empresa.

    Realizao

    Sugesto: este BS deve ser o resultado de amplo processo participativo que envolva a comunidade interna e externa.

    Publicao Este BS deve ser apresentado como complemento em outros tipos de demonstraes financeiras e socioambientais; publicado isoladamente em jornais e revistas; amplamente divulgado entre funcionrios, clientes, fornecedores e a sociedade. Pode ser acompanhado de outros itens e de informaes qualitativas (textos e fotos) que a empresa julgue necessrios.

    A empresa que realizar e publicar o seu balano social, utilizando este modelo mnimo sugerido pelo Ibase, recebe o direito de utilizar o Selo Balano Social Ibase/Betinho nos seus documentos, relatrios, papelaria, produtos, embalagens, site e etc. Mais informaes: www.balancosocial.org.br

    Selo "Balano Social Ibase/Betinho"

    Restries: o Selo Ibase/Betinho NO ser fornecido s empresas de cigarro/fumo, armas de fogo/munies, bebidas alcolicas ou que estejam comprovadamente envolvidas com explorao de trabalho infantil.

    1) Base de Clculo Itens Includos Receita Lquida Receita bruta excluda dos impostos, contribuies, devolues, abatimentos e

    descontos comerciais Resultado Operacional Lucro ou prejuzo apresentado pela empresa no perodo Folha de Pagamento Bruta Valor total da folha de pagamento

    2) Indicadores Sociais Internos Alimentao Gastos com restaurante, vale-refeio, lanches, cestas bsi