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    A Cibernticaveio a realizar nos anos 1950 um grande salto conceitual, passando a dar nfase aos

    processos de informao e organizao. Isso significava dizer, por conseguinte, que o foco estaria

    tambm nas questes de linguagem que permitiriam a comunicao entre diferentes sistemas, pois

    era uma cincia da comunicao e do controle no ser humano e mquinas. Contudo, a definio de

    ciberntica foi se alargando, at se tornar o que atualmente, o estudo dos sistemas ou organismos

    complexos e adaptativos. A idia de programa, modelos, clculos e formulaes matemticas, inte-

    ratividade, dados, variveis, reversibilidade, conectividade, recursividade, mutabilidade, acaso, redes,

    padres emergentes, perspectivas mltiplas, estruturasgenerativas, autoria procedimental, eventos e

    labirintos semnticos passou a fazer parte das propostas artsticas. Apresentaremos quatro trabalhosque utilizam alguns mecanismos introduzidos pela ciberntica e pela noo de sistema na poesia

    digital, e que demonstram a estreita relao entre a potica e os cdigos da lgica computacional.

    Introduo

    Norbert Wiener escreveu um livro em 1948, intitulado Ciberntica,onde conta que derivou este termo da palavra grega kubernetes1, que signifi-ca piloto, e da qual tambm derivada a nossa palavra governador. O autordefine a Ciberntica como a cincia da comunicao e do controle no serhumano e mquinas. Ao se preocupar com os processos de comunicao econtrole, a Ciberntica realiza o seu primeiro grande salto conceitual, quandopassa a dar nfase aos processos de informao e organizao. O que significadizer, por conseguinte, que o foco est tambm em resolver as questes delinguagem capazes de permitir a comunicao entre diferentes sistemas.Contudo, essa definio para ciberntica foi se alargando desde ento, at setornar o que atualmente, o estudo dos sistemas ou organismos, complexose adaptativos2.

    importante tambm lembrar que j contamos com um percursohistrico desse conceito, onde o primeiro perodo da ciberntica (chamadoprimeira ciberntica) ocupava-se dos processos pelos quais os sistemas, emgeral, funcionavam, com o intuito de manter a sua organizao. O sistemaoperava de acordo com um propsito ou meta, cujo alcance era garantido porprocedimentos de regulao e controle. Ou seja, mecanismos que controlavamde alguma forma os distrbios que viessem a atingir e desvirtuar o todo, com o

    objetivo de mant-lo estvel. De fato, partia-se da idia de que um sistemaestvel devia ter algum subsistema controlador que o mantinha dessa forma.

    Silvia Laurentiz UMA APROXIMAO DA CIBERNTICAPELA POESIA DIGITAL

    1. Kubernetes derivao do gregoarcaico que significatimoneiro.Kuberntik apalavra grega para artede pilotar, arte degovernar. No livro deNorbert WienerCiberntica eSociedade, aparece

    ...kubernetes, oupiloto, a mesma palavragrega de que eventual-mente derivamos nossapalavra governador.WIENER, Norbert.(1950). Cibernticae sociedade: o usohumano de sereshumanos. 5 ed. SoPaulo: Cultrix,1978, p. 15.

    2. Cabe tambm men-cionar que o termo

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    estruturas emergentes, redes, adaptao e evoluo, termos decorrentes dosfatores relacionais entre os elementos internos (endgenos) e externos(exgenos) do sistema9.

    A segunda ciberntica , ento, um movimento considerado como aciberntica dos sistemas auto-observantes (tambm chamados de sistemasque observam). A segunda ciberntica foi uma evoluo, relacionada com umaextenso do conceito de circularidade. Todo o observador, ao observar umsistema, distingue-o como tal, constri-o e forma com ele outro sistema do qualparticipa. Liga duas realidades antes separadas, funcionando como se fossemuma s. O sistema garante ainda sua individualidade, pois em si uma unidadeque possui capacidade auto-organizativa. Ao surgir uma perturbao, tem acapacidade de alterar a sua estrutura, mantendo o seu equilbrio. O funciona-mento dos sistemas , portanto, e de certa forma, autnomo. Autonomia aquise refere a um estado de auto-regulao que proporciona ao sistema estabili-dade e equilbrio, de maneira que este, ao reagir s perturbaes externas, sepossa reestruturar e compensar alguns desvios decorrentes. Ainda estamostratando de uma condio determinista e mecnica, no levando em contaprocessos de crescimento, aprendizagem, criatividade e autopoiesis.

    Os bilogos Humberto Maturana e Francisco Varela10 deram impor-tante contribuio para a implementao desse processo. O Modelo

    Autopoitico de Maturana e Varela faz a distino entre sistemas alo eautopoiticos, ampliando a idia da auto-organizao dos sistemas, onde umsistema vivo caracterizado por uma organizao circular, auto-referencial, queliteralmente se autoproduz a si mesma. O termo autopoiesis usado para evi-denciar este tipo de autonomia de um sistema com autocontrole. Quando ocontrole vem de algum outro lugar, de seu exterior, o sistema alopoitico.Entretanto, pleno autocontrole e ao autnoma so conseguidos apenasatravs de outra capacidade: a de auto-referencialidade. Nas palavras de

    Winfried Nth: A auto-referncia uma necessidade biolgica para seres vivosuma vez que o organismo, para sobreviver no seu ambiente, deve ter a capaci-dade de distinguir entre seu prprioselfe o no-selfda Unwelt ambiental11.

    Partindo desse princpio, para cada perturbao do exterior o sistema

    reage reestruturando-se e compensando-se, o que significa que, devido ao seucarter autnomo, sua auto-referencialidade e suas tomadas de deciso (eindependncia), nenhum fator ou observador externo sabe ao certo o queacontecer a seguir.

    Outro nome a ser lembrado neste momento o de Ilya Prigogine12.A teoria da equilibrao dos sistemas termodinmicos, apresentada por ele,refere-se s perturbaes a que um sistema est sujeito. Estas pequenasmudanas permanentes que, ao atingirem determinado estado longe do equi-lbrio, originam um salto qualitativo no sentido de estabelecer uma nova estru-

    tura, ou seja, na passagem de um modo de funcionamento a outro sofrem umatransformao (uma amplificao).

    feedback, o controlecom base no desem-penho efetivo em vez deno desempenhoesperado, conformenota anterior. Ou seja,

    refere-se a qualquerprocesso por meio doqual uma ao controlada peloconhecimento do efeitode suas respostas.Introduz-se aqui a idiade looping, onde umfluxo de informaoretorna sua origem,num processo circularcausal no qual uma

    sada de dados dosistema produz efeitosque retornam suaentrada, possivelmenteenvolvendo outrossistemas em loopingtambm. A chave estem como os efeitos desuas aes (ou sadas deinformao) retornamao sistema (isto , sentrada de informao)

    para influenciar seusestados e aessubseqentes a istodenominamos de reali-mentao ou feedback.Na realimentaonegativa privilegiam-seos processos de correodos desvios dos sistemasobtendo-se umareduo da entropia(ou tendncia desor-

    ganizao do sistema).5. WIENER. Op. cit.,p. 24.6. Heinz Von Foersterdeve ser lembrado nestemomento, poisapresenta, em 1959, nocolquio Os princpiosda auto-organizao,a idia de que no hsistemas auto-organi-zadores isolados de seu

    meio e de que haverianecessidade de um

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    Os fatores de imprevisibilidade, acaso e irreversibilidade so intro-duzidos no processo dessa mudana, uma vez que a nova estrutura no predeterminada e est sujeita s contingncias atuais, sendo impossvelregressar ao estado anterior. Outro conceito importante o de estruturasdissipativas, tambm introduzido por Prigogine para descrever um sistema

    aberto, em estado de quase equilbrio, e a sua capacidade para criar uma novaestrutura auto-organizada, a partir de amplificaes das suas prpriasflutuaes. E, para melhor compreenso desses fenmenos, Prigogineintroduziu a noo de retroao evolutiva, que completa o quadro das reali-mentaes negativa e positiva, procurando explicar os mecanismos demudana descontnua.

    Sendo assim, o funcionamento dos sistemas depois das mudanasatingidas ser no s imprevisvel como tambm irreversvel: nunca sabemospara que tipo de funcionamento evoluir (perdemos a capacidade de previsibili-

    dade) e o sistema nunca volta a um estado de funcionamento anterior,progredindo para estados de funcionamento cada vez mais complexos.Todo este percurso demonstra um pensamento que est infiltrado no

    nosso cotidiano, e basta pensarmos em como movimentamos dinheiro nobanco, acessamos a Internet, dirigimos um carro, ou, mesmo, como mantemosum convvio social, para percebermos estes processos de raciocnio derivadosde controle, manuteno, sistema, iteratividade, banco de dados, variveis,reversibilidade, conectividade, recursividade, mutabilidade, acaso, redes,padres emergentes, perspectivas mltiplas... Apresentaremos a seguir umaapropriao de alguns desses princpios pela arte, mais especificamente, pela

    poesia digital.

    1. O contexto

    A pesquisa sobre 'escrituras digitais' inicia-se com a potica das com-binaes permutacionais e culmina com sistemas dinmicos e complexos,autnomos, multiusurios e interativos, atravs de derivaes da gerao deagentes, filtragem e padres emergentes, e demonstra uma estreita relaoentre a potica (no sentido de 'programa de arte'13) e os algoritmos.

    Tratar de matemtica e lgica computacional em poemas quase queimediatamente nos remete 'Poesia Permutacional' dos anos 1960, de ThoLutz (Alemanha), Jean Baudot (Canad), Nanny Balestrini (Itlia). Alm disso,relembrando as palavras de Arlindo Machado, o sonho de Mallarm14 era darforma a um livro integral, ...ou talvez uma mquina potica, que fizesse pro-liferar poemas inumerveis; ou ainda um gerador de textos, impulsionado porum movimento prprio, no qual palavras e frases pudessem emergir, aglutinar-se, combinar-se em arranjos precisos, para depois desfazer-se, atomizar-se embusca de novas combinaes15.

    J naquele momento, h mais de dez anos, Machado apontava

    inovaes estticas que conduziriam para uma obra potencial, mais do queuma obra aberta ou polissmica, pois agora os ...poemas estariam em estado

    observador que pudesseconstatar se essa auto-organizao realmente

    estava ocorrendo. Asinfluncias do meio e a

    figura do observador

    comeam a participardo sistema. Entretanto,

    para Wiener: uma aocomplexa aquela em

    que os dados introduzi-dos (a que chamamos deentrada) para obter um

    efeito sobre o mundoexterior efeito a quechamamos de sada podem implicar um

    grande nmero de com-

    binaes. Combinaesdos dados introduzidos

    no momento com osregistros obtidos de

    dados anterioresarmazenados, a que

    chamamos memria,e que esto registrados

    na mquina.Idem, p. 23.

    7. Na realimentaopositiva privilegiam-se

    os processos deampliao do desvio,

    incrementando aentropia e amplificando

    o sistema.8. Na verdade, contamos

    aqui com trs teoriasfundadoras: ciberntica

    (primeira ciberntica),teoria da informaoe teoria dos sistemas.

    9. Veja Edmond

    Couchot e seuconceito de Segunda

    Interatividade, que foisugerido por analogia segunda ciberntica,...que coloca em jogo

    comportamentosmaqunicos mais

    complexos e refinados,prximos dos comporta-

    mentos humanos....COUCHOT, Edmond. A

    segunda interatividade.Em direo a novas

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    latente em que, a partir de um reduzido nmero de clulas de base, se poderiarealizar milhares de possibilidades combinatrias16.

    E, embora Mallarm no tivesse condies tcnicas para realizar seusonho naquele momento pois no tinha os meios para realiz-lo , ele acabouesboando um conceito de poema-constelao, atravs de seu trabalho Lancede Dados (1897), que, mesmo que ainda se sustente por um suporte linear ehierarquizante, traz novos parmetros para a ...gramtica, a sintaxe, a dispo-sio grfica, o sentido e a prpria razo de ser do poema17.

    Alm de obra potencial e de poema-constelao, devemos lembrartambm da poesia artificial de Max Bense18, que seria o resultado de umapoesia em que se buscava, com a mediao de processos tecnolgicos, darsoluo estatstica, estrutural ou topolgica a parmetros textuais gerados pelamquina, opondo-se poesia natural, que exprimiria uma experincia global,atravs de vivncia, sentimentos, lembranas, imaginao19. Um dos processos

    bsicos para se gerar um texto artificial dado por uma srie estocstica ouprobabilstica conhecida como cadeia de Markov.

    Tal processo baseia-se na idia de que todo texto construdo operando-se uma seleo

    de sinais (fonemas e letras) numa determinada fonte (alfabeto fontico ou escritural), segundo certas

    regras de combinao previamente dadas pelo estudo estatstico de uma lngua. A abordagem seleti-

    va executa essa operao atravs de etapas ou graus de aproximao. Numa primeira etapa, o texto

    gerado com base na freqncia relativa de cada letra ou fonema naquela lngua, com espaos inter-

    valares arbitrrios, porm cabveis para o idioma dado. O resultado um texto que exprime certas

    propriedades estatsticas da lngua, mas que ainda no apresenta qualquer semelhana percep-

    tvel com o seu repertrio lxico. Num segundo grau de aproximao, condicionamos o aparecimen-to de uma letra ou fonema ocorrncia de determinados outros sinais precedentes ou sucessores, o

    que j elimina boa parte das combinaes inaceitveis (em portugus, por exemplo, jamais teramos

    digramas como pfr, mr, jt etc.). Se, em vez de condicionarmos um sinal ocorrncia de alguns

    outros tomados isoladamente, ns o fizermos levando em considerao grupos de duas letras ou fone-

    mas, as possibilidades de ocorrncias inaceitveis sero drasticamente reduzidas e o texto resultante

    se aproximar bastante da lngua utilizada como modelo. Com grupos de trs letras ou fonemas, j

    se pode simular o idioma com bastante exatido, dada a grande quantidade de palavras que se tornam

    identificveis como portadores de sentido. Prosseguindo o processo, poderamos passar a grupos de

    palavras ou a frases inteiras, de modo a gerar textos aleatrios e experimentais, baseados nas

    possibilidades combinatrias de uma lngua.20

    Processos estocsticos21 so modelos que evoluem no tempo demaneira probabilstica. Uma cadeia de Markov um tipo de processo estocs-tico, que trabalha com estados discretos, ou seja, sobre um conjuntoenumervel ou finito. A probabilidade condicional de qualquer evento futuroocorrer, dados qualquer evento passado e o estado presente, ser independentedo evento passado e dependente somente do estado presente. Em outraspalavras: um processo estocstico dito ser um processo markoviano se o esta-

    do futuro depende apenas do estado presente e no dos estados passados. Essetipo de processo estocstico tambm denominado de memoryless process (processo sem memria), uma vez que o passado esquecido (desprezado)22.

    prticas artsticas.In: DOMINGUES,Diana (Org.).Arte e

    vida no sc XXI. SoPaulo: UNESP, 2003,p. 27-38.

    10. MATURANA,Humberto; VARELA,Francisco.Autopoiesiand cognition therealization of theliving. Boston: D. ReidelPublishing Company,1980.11. NTH, Winfried.Mquinas semiticas.Galxia RevistaTransdisciplinar de

    Comunicao,Semitica, Cultura.So Paulo: EDUC,2001, p. 67.12. PRIGOGINE, Ilya;STENGER, Isabelle.Order out of Chaos.Toronto: Bantam, 1984.13. Toda atividadeartstica necessita deuma potica, implcitaou explcita, que reflete

    e/ou aponta para umideal esttico do artista,de uma poca, de formaexpressa ou no naobra-de-arte. LuigiPareyson [Os Problemasda Esttica. (1984).So Paulo: MartinsFontes, 2001, p. 17.]definiria que a potica um determinado gostoconvertido em programa

    de arte, levandoem conta o carterprogramtico eoperativo da obra.14. Nascido em Parisem 1842, o poetaStphane Mallarm(nome literrio detienne Mallarm),possui o poema e-xperimental Un Coupde Ds (Um Lance de

    Dados), escrito em1897, mas s publicadopostumamente, em

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    Um exemplo bastante comum era o exerccio realizado atravs de umdicionrio memorizado com uma lista suficientemente extensa de palavras deuma lngua, arquivada numa memria de mquina, e onde se aplicava grandeparte dos procedimentos oulipanos23, que podem ser automatizados, cabendoao poeta programar aqueles efeitos que queria obter. O computador capaz de

    varrer em alta velocidade as palavras do dicionrio e selecionar todas aquelasque cumprem determinadas condies previamente colocadas pelo artista.

    Entre os diferentes mtodos adotados dentro dos procedimentosoulipanos encontramos:

    1. palavras de um texto escolhido eram substitudas por suasdefinies de dicionrio; 2. atravs do cruzamento entre provrbios, utilizandoa primeira parte de um e a segunda parte do outro e vice-versa, eles se reelab-orariam, o que poderia ser interessante pois os provrbios podem ser interpre-tados como narrativas em si mesmos; 3. a retirada de uma letra (a letra r por

    exemplo) de um texto; 4. a redundncia potica de alguns textos poderia serreduzida a poucas palavras de sua essncia, enquanto o resto poderia serdescartado; 5. univocalismo, onde apenas uma vogal seria usada no texto; 6.uma ou mais letras seriam excludas de um texto. Um exemplo o romance deGeorges PerecA Void24, onde nenhuma vogal e (aparentemente a letra maisutilizada em uma lngua) aparece (este um exemplo de lipograma); 7. talvez oprocedimento mais conhecido utilizado pelo grupo seja o denominado n + 7.Inventado por Jean Lescure, consistia em substituir cada nome (N) pelo stimonome seguinte sua posio em um dicionrio. Assim, escolhido um texto e um

    dicionrio, identificam-se os nomes no texto e substitui-se cada um pelo stimonome (contando a partir dele) encontrado no dicionrio; etc.25.Tambm merecedor de destaque o trabalho Cent Mille Milliards de

    Pomes de Raymond Queneau (1961). A obra consiste basicamente em dezsonetos de catorze versos alexandrinos, portanto dez sonetos-padro. Os versosso impressos numa cinta de carto e podem ser destacveis por uma das pon-tas, para com eles se construir outros sonetos. Embaralhando os versos detodos os sonetos, o leitor pode compor nada menos que 1014, ou seja100.000.000.000.000 poemas diferentes. Cada linha uma unidade isolada,que pode ser permutada com qualquer outra linha de quaisquer dos 10 sonetos

    e, seja qual for o arranjo, a pea resultante estar sempre gramatical, estilsti-ca e semanticamente realizada. uma espcie de mquina de fabricar versos explica Queneau26. A poesia dela resultante poderia ser chamada de expo-nencial, pois o nmero de poemas de n versos que se pode obter dado pelafuno exponencial de 10n27. Nesse exemplo, a funo da fruio coerente daobra est a cargo do leitor, que compe e l o poema.

    O programa Computerized Haiku, de Margaret Masterman e RobinMcKinnon-Wood, era considerado uma mquina de escrever poemas einclua um frame ' ou modelo ' e uma enciclopdia estruturada'. O modelo

    era a forma fixa do poema. O sistema processava por substituio (mtododiferente das cadeias de Markov ou de gramticas recursivas) e seu mrito eraa tentativa de manter um esquema semntico na forma de um diagrama nos

    1914, entre suasprincipais obras.15. MACHADO,

    Arlindo. Mquinae Imaginrio. So Paulo:

    EDUSP, 1993, p. 165.

    16. Idem, ibidem.17. Idem, p. 166.18. BENSE, Max.

    Pequena Esttica. SoPaulo: Perspectiva,1971, p. 181-197.

    19. MACHADO. Op.cit., p. 171. Apesar

    dessa classificao, Bensereconhece que todapoesia natural est

    carregada de traos arti-

    ficiais, expressos pelapreciso matemtica com

    que elementos comoritmo ou metro so

    manipulados, e quea poesia maquinal

    revela uma faculdadeimaginativa tambm.

    20. Idem, p. 172.21. Trabalhar com esses

    processos inspira muitosdos nossos prprios

    trabalhos. Apenasgostaramos de alertar

    que procuramosimplementar novas

    possibilidades a essesrecursos, e que no

    estaremos repetindo oque fora proposto por

    tais autores, o que paraum leigo pode passar

    despercebido. Taisprocessos so interes-

    santes para descrevero procedimento de um

    sistema operando sobrealgum perodo de tempo,

    mas negligenciamo poder da memria edas aes ali passadas.

    Veja prxima nota.22. Como pudemos

    perceber na introduodos princpios cibernti-

    cos, os mecanismos de

    realimentao do sistema(feedbackpositivo

    e negativo) modificam

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    poemas gerados a partir da colaborao de participantes. Esse trabalhoparticipou de uma importante exposio de arte por computador (muitos areconhecem como a primeira), Cybernetic Serendipity, realizada em Londres,em 1968.

    Ainda, entre os pioneiros, em 1965, Emmet Williams (EUA) usa as

    101 palavras mais utilizadas por Dante na Divina Comdia para criar um poemacomputacional. As sries de diagramas (e intergramas) de Jim Rosenbergtambm devem ser citadas, algumas publicadas pela Eastgate Systems, outrasimpressas ou distribudas via Internet desde 1979.

    No podemos deixar tambm de mencionar o trabalho de ChristianBk, Eunoia (2001), um lipograma univocal, onde cada captulo serestringe a usar apenas uma vogal. Assim temos o captulo A, o captulo E,o captulo I, o captulo O e o captulo U. Nessa obra percebe-se clara-mente a interveno do autor no processo, motivo pelo qual se mantm a suacoerncia semntica.

    E, entre os brasileiros, devemos lembrar de Erthos Albino de Souza esua obra Le Tombeau de Mallarm (1972), que aplicava modelos conceituaismatemticos ou fsicos construo e/ou desconstruo de textos; e WaldemarCordeiro com seu trabalho Beab (1986), programa que gerava palavras aoacaso a partir de um sorteio de conjuntos de letras de vrios comprimentos (i.e.,conjuntos de cinco letras); entre outros28.

    A maior crtica lanada aos textos produzidos pelo computador porprocessos permutacionais, atravs de sries estocstica ou probabilstica,equaes randmicas, fractais ou outro procedimento matemtico, que eles

    no constituem mensagens comunicativas em si, ...no exprimem idias ousentimentos de um sujeito enunciador, nem relatam fatos de uma imaginao.A diferena est na imensa dificuldade de se formalizar e traduzir em lin-guagem de mquina consideraes de ordem semntica29. O que, conseqen-temente, flagra a deficincia de se parametrizar questes semnticas atravs demodelos lgicos.

    Claudia Giannetti aponta tambm o fato de nesses trabalhos ...no selevar em conta os sujeitos que participam no processo de comunicao, nem ocontexto no qual se d, nem seus valores semnticos. Alm disso, a estticainformacional valoriza aquilo que quantificvel, ou seja, restringe-se somente

    a estruturas sintticas, o que resulta na limitao da informao a um nvelsuperficial e restrito. Conforme Giannetti, a tentativa de encontrar umamedida esttica baseada na informao est destinada ao fracasso, uma vezque parte do pressuposto da existncia de um significado imanente na obra-de-arte, isto , independente do observador e do contexto30. Ela ainda maisradical quando conclui que

    ...a idia de um significado em si, unicamente sinttico, contradiz o prprio sentido de

    comunicao, uma vez que a informao isolada (o sinal) no contm nenhum valor cognitivo.

    somente por meio da comunicao, entendida como intercmbio dialgico entre sujeitos ou como

    conexo entre estruturas, que a informao pode chegar a assumir um sentido esttico.31

    esse processo, pois nodesprezam osdados recolhidosanteriormente, o queir modificar bastanteas iniciativas dos

    trabalhos mais recentes.23. OULIPO umgrupo (fundado naFrana em 1960) quese prope a desenvolveruma literatura poten-cial. Entre seus mem-bros esto escritorese matemticos, dosquais destacamos:Raymond Queneau,Franois Le Lionnais,

    Claude Berge, GeorgesPerec, e Italo Calvino.24.A Voidfoi atraduo americana dolipograma LaDisparition, criadoem 1969.25. Veja maisinformaes emhttp://www.oulipo.net/.26. OULIPO. LaLittrature Potentielle.

    Paris: Gallimard,1973, p. 243.27. MACHADO.Op. cit., p. 179.28. Estamos realizandouma vasta pesquisasobre os artistasbrasileiros que atuamnessa rea e estaremosapresentando osresultados em outrapublicao.

    29. MACHADO. Op.cit., p. 172.

    30. GIANNETTI,Cludia. EstticaDigital Sintopia daarte, a cincia e a tec-nologia. BeloHorizonte: EditoraC/Arte, 2006, p. 60.

    31. Idem, ibidem.

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    2. Algumas propostas atendendo s crticas

    O que podemos fazer para contornar esses problemas so algumascondutas no processo criativo, como, por exemplo:

    2.1. Submeter textos naturais ao trabalho estocstico do computa-dor, de ...modo a revelar processos causais no esperados. Assim, significadosprefixados sofrem a ao desreguladora dos mtodos aleatrios e se benefici-am da singular dialtica que pe em jogo o programa, a possibilidade e oacaso, o sentido e a desordem32. Dessa forma, do ponto de vista semntico,a mquina produziria resultados que, embora possam parecer desconcer-tantes, seriam vlidos.

    2.2. Uma outra maneira de escapar ao automatismo da mquina seriapermitir alguma ao criativa expressiva ao autor no interior do procedimentodado. Por exemplo, dois ou mais poemas preexistentes seriam tratados como

    um inventrio de palavras (um banco de dados) e, depois, o poeta faria suasinterseces, destacaria palavras comuns, substituiria elementos por outros, econtinuaria, assim, construindo a partir de critrios pessoais o seu poema...

    2.3. Nesse sentido, tambm podemos trabalhar hoje em dia exploran-do cada vez mais as interfaces e formas de participao e interao doleitor/interator. Concedendo, assim, ao leitor da obra sua fruio/criao; almde propiciar novos desafios e experincias a partir do uso de diferentes disposi-tivos e modos de representao. Lembremos ainda que o desenvolvimento dedispositivos de hardware esoftware atualmente possibilita gerenciar e processar

    informaes complexas. Podemos reconhecer padres (escritos ou falados, porexemplo), re/produzi-los sinteticamente, transmut-los em novos sinais etc.2.4. No apenas devemos aprender clculos matemticos, mas nos

    inspirar nos conceitos lgicos que eles carregam em si. Em outras palavras,interessa menos o que se pode selecionar ou substituir em um banco depalavras, causando todo tipo deperipcia mirabolante (ou a supervalorizao doquantificvel), e mais o efeito que um conceito pode estar causando na lin-guagem. Por exemplo, o que as idias de durao e infinito, imprevisibilidade,aleatoriedade, probabilidade trazem tona, e como passam a mudar nossocomportamento a partir do momento que convivemos com elas na era digital.

    2.5. E, por ltimo, a partir das relaes possveis entre assuntos deoutras reas, podemos obter resultados surpreendentes atravs da maneiracomo iremos absorv-los na imagem e nos processos sgnicos. Por exemplo, aquesto dos sistemas complexos, advinda da fsica, sendo explorada poetica-mente em ambientes interativos, e assim por diante.

    A seguir apresentaremos quatro exemplos de trabalhos que utilizamalguns mecanismos introduzidos pela ciberntica e pela noo de sistema napoesia digital. No se trata de um discurso da tcnica ou de uma visoideolgica sobre a dominao cientfica... Antes disso, ns consideramos

    necessrio procurar desdobramentos estticos da tecnologia, pois acreditamosque o fazer potico perpassa os fatores da linguagem e, portanto, da tcnica.

    32. MACHADO.

    Op. cit., p. 177.

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    Os trabalhos que apresentaremos no representam os domnios totais daciberntica, alguns utilizam apenas poucos de seus recursos. Tampouco pre-tendemos encerrar as questes da poesia digital com estes exemplos.

    3. Percorrendo Escrituras33 atravs de 4 projetos

    3.1. For All Seasons (2004)http://www.hahakid.net/forallseasons/forallseasons.htmlEste um trabalho sobre memria, estaes do ano e uso da lin-

    guagem textual, recuperando resqucios de lembranas que, em decorrnciadeles, gerariam uma nova proposta potica e interativa. Inicialmente,deparamo-nos com uma pgina branca, com um texto em preto, onde sodescritas situaes que remetem a memrias de sua autora. A seguir somostransportados para um outro ambiente, agora tridimensional, onde leis fsicas

    passam a representar as estaes do ano a que se referem as memrias lidas.O leitor pode mover-se e agir sobre os elementos desse ambiente; pode pausara simulao fsica que est acontecendo diante de seus olhos; pode retornar aqualquer outra pgina ou estao do ano. Por exemplo, em outono,podemos parar um vendaval e mover as letras que o compem. Em Vero, asletras e palavras comportam-se como se fossem organismos vivos nadando emguas calmas. O leitor pode, entretanto, movimentar e desorientar esse estado.Mas, depois de alguns segundos, o ambiente recupera seu controle e volta a seestabelecer como um ambiente controlado e ordenado. Cada um dos ambientes

    remete a uma estao do ano, a memrias descritas inicialmente e a uma simu-lao a partir de agentes e comportamentos fsicos. Em Primavera, dentes-de-leo florescem e o toque do leitor faz as sementes se soltarem e danaremna tela do computador, como se fossem pegas pelo vento. E em Invernopodemos ler as seguintes inscries iniciais:

    Ive never been very good at drawing, which means that I can easily remember the few draw-

    ings Ive made where Ive really enjoyed the results. I remember this particular one I made during art

    class in school when I was about 15 years old. The drawing was very simple and couldnt have taken

    me the entire hour to make. It was a brown tree drawn on black paper, the branches covered in white

    show, all in crayon. It wasnt the Mona Lisa, but I really liked it. It captured the feeling of a quiet, darkwinter morning, which was what I was seeing when I looked out the window. Unfortunately I dont have

    the drawing itself anymore, but I do have the memory. And now I have this.

    De repente, as letras do poema transformam-se em flocos de neve, quepousam nos galhos secos de uma rvore marrom, sobre um fundo preto. A auto-ra relata uma experincia adquirida aos 15 anos. Uma sensao que um desen-ho lhe tenha passado sobre o exato sentimento de uma manh escura de inver-no, fria e quieta. O desenho de uma rvore marrom sobre preto com galhoscobertos por neve est aqui representado em movimento, dinmico, atravsde comportamentos simulados e com propriedades interativas. Cada ambientesimula aes de objetos (comportamentos) regidos por leis fsicas. Cada

    33. O projeto

    Percorrendo Escrituras

    vem sendo desenvolvido no

    Departamento de Artes

    Plsticas da ECA-USP.

    Em linhas gerais, pretende

    abordar diferentes

    estruturas da informao

    digital que compartilham

    um mesmo universo e so

    geradoras de uma nova

    condio esttica.

    O objetivo procurar,

    entre as funes algortmi-

    cas e outras propriedades

    especficas do computador,

    quais as suas possibili-

    dades expressivas. Trata-se

    de projeto terico e prti-

    co, interdisciplinar, onde

    a partir do estudo do

    processo evolutivo

    da linguagem de

    programao, da lgica

    e da matemtica so

    realizadas experimentaes

    poticas decorrentes.

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    movimento regido por um algoritmo e por isso adquire a capacidade deretornar ao equilbrio aps uma ao do usurio que o tenha desestabilizado.

    A idia, conforme a autora, Andreas Mller, era usar elementos interativos paraajudar a comunicar melhor aquilo que transcrevia de suas memrias usandoapenas palavras. Os elementos interativos propiciados pela implementao doscomportamentos lanavam novas experincias e desafios aos poemas. Trata-sede um sistema fechado, mas que se torna imprevisvel diante das movimen-taes do usurio/leitor/interator.

    3.2. Exquisite Copse (2005)(http://www.devoid.co.uk/exquisitecopse/)34

    Num jogo surrealista, Exquisite Copse reescreve, visualmente,trabalhos existentes da literatura, em uma floresta de rvores de palavras,baseada em palavras seminais digitadas pelos visitantes. Cada galho, que cresce

    a partir de palavras, segue o texto e o contexto original. As rvores colecionadasformam uma paisagem surrealista e propiciam uma jornada por mirade denarrativas, criadas e influenciadas por ambos: o visitante e o autor procedi-mental da obra.

    O autor remete idia de rvore, mas no apenas aquelas do tipoorgnico, aquelas fora de nossas janelas, mas tambm aquelas em nossasmentes, aquelas que ns costumamos usar para filtrar informaes de nossas

    vidas, no entrelaar de nossos pensamentos. O autor, Neil Jenkins, um artistabritnico, tece esses emaranhados de palavras como se fossem jogos de tro-

    cadilhos. Ele cita um jogo, por exemplo: tome um pedao de papel; desenhe ouescreva nele; dobre de forma que a pessoa prxima a voc no possa ver o quevoc escreveu/desenhou; passe-o para a prxima pessoa de uma rede/fila eassista um poema/imagem evoluir desse processo... Exquisite Copse se inspi-ra nesses envolvimentos, convida visitantes tanto a visualizar rvores que jforam comeadas por visitas anteriores, como a plantar uma nova rvore.

    Os usurios podem controlar o crescimento visual de suas rvores como clique domouse como se, em vez de pay-per-click, fosse um rain-per-clickou water-per-click, (fazendo chover a cada clique domouse). Uma seleo deromances forma o banco de dados em que Exquisite Copse trabalha.

    Existem entre seus textos desde aMetamorfose de Kafka,Moby Dick, Carroll,em Alice no Pas das Maravilhas; at textos de Douglas Adams e SamuelBeckett. Os usurios semeiam essas rvores textuais a partir de suas prpriaspalavras. As palavras dos usurios que forem sendo encontradas nos textosoriginais (seleciona-se um dos textos logo no incio do programa) fazem surgiros galhos de uma nova rvore, e assim sucessivamente. As entradas dosusurios (palavras digitadas) e os cliques locais do mouse orientam ocrescimento dos galhos das rvores. um sistema onde os elementos internosmantm relaes entre si e, ainda, permite a participao de um agente externo.

    O controle para se manter a coerncia e estabilidade do programa est entreas regras que gerenciam toda a evoluo do sistema, embora no estejam

    34. Veja tambm:http://www.soundtoys.net/

    toys/tag-navigator ehttp://www.devoid.co.uk/.

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    explcitas as utilizaes desses recursos visualmente. Ainda que sejam impre-visveis as palavras digitadas pelo usurio/interator e seus locais de clique domouse, o sistema atua sobre um banco de dados fechado e no h forma paraampliao estrutural desse processo.

    3.3. The Jabberwocky Engine (2001)(http://epc.buffalo.edu/authors/hennessey/data/jabber/index.html)O programa The Jabberwocky Engine35 produz palavras aparente-

    mente sem sentido, mas que se parecem com palavras inglesas regulares.Quando uma letra entra em contato com outra letra, ou grupo de letras, umclculo ocorre para determinar se elas estatisticamente se pareceriam com aproximidade lxica da lngua (inglesa, no caso). Surgem ento novos agrupa-mentos de letras que se acumulam para formar palavras que vo resultar em umpoema dinmico, que flutua na tela a partir de cada reavaliao do gerador do

    sistema. H uma analogia entre letras e tomos, palavras e molculas, nessaqumica lingstica realizada pelo programa de Neil Hennessy. Essa aproxi-mao com a qumica tambm est explcita na aparncia grfica da tela: lem-bra-nos frmulas qumicas mais do que poemas... Essa esttica rida e acticanos provoca novas relaes poticas tambm. Alm disso, o programa utiliza ascores azuis para representar palavras que so fragmentos ou palavras inteiras;

    verdes para palavras formadas pela composio de duas azuis; vermelhas pararestos de palavras que explodiro nesse bal lxico. irnico, surpreendentee o programa nos oferece, ainda, a possibilidade de abrir uma janela onde

    teremos uma lista das novas palavras criadas, que vo surgindo pelosprocedimentos interativos36.

    3.4. Community of Words (2005)37

    (www.e-gallery.com.br/cp/)Community of Words um sistema multiusurio que se processa

    atravs de um ambiente onde o participante convidado a escrever linearmenteseu poema, e de um ambiente tridimensional interativo onde o participantepode observar, navegar e transformar este mesmo poema com os demaisparticipantes do sistema, simultaneamente. Um programa registra as entradas

    do usurio num banco de dados, filtra algumas condies preestabelecidas edepois procura por palavras repetidas que lhe garantiro maior fator depermanncia no sistema (adaptabilidade). Em seguida, h uma procura porseqncias de trs e de quatro letras iguais encontradas nas demais palavrasenviadas. Esse processo procura encontrar semelhanas formais entre aspalavras. Estas semelhanas j carregam relaes fonticas pois o som pare-cido , grficas e alguma relao indicial, que em muitos casos so dadas porfamlias de palavras, ou palavras cognatas38. Num segundo momento, passa-sepor um estgio onde cada palavra do sistema se relaciona entre si, ora dis-

    putando um mesmo espao, ora permanecendo prxima de suas correlatas e oradesaparecendo do ambiente. H ainda um fator relacional entre palavras que

    35. Inspirado emJabberwockyde LewisCarroll.

    36. Seria interessantecitar o projetoAndarilho, do grupoSDVILA. J descreve-mos esse trabalho emoutra publicao[LAURENTIZ, Silvia.Processos computa-cionais evolutivos naarte. Revista Ars.ano 1, n. 2. So Paulo,

    Departamento de ArtesPlsticas da ECA-USP,2003, p. 45-55.], ape-nas reforaramos queeste tambm era umprograma que criavanovas palavras a partirda troca entre prefixose sufixos de palavrasoriginais de um bancode dados. A propostaera outra, mas o proces-

    so era alimentado porum algoritmo genticoe a participao dos

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    Referncias bibliogrficas complementares

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    CORDEIRO, Waldemar. Disponvel em: http://www.visgraf.impa.br/Gallery/waldemar/moscati/moscati.htm. Acesso em: nov. de 2006.

    COUCHOT, Edmond. A tecnologia na arte, da fotografia realidadevirtual. Porto Alegre: UFRGS Editora, 2003.

    CRAMER, Florian. WORDS MADE FLESH Code, Culture,Imagination. Media Design Research. Roterd: Piet Zwart Institute/ Institute forPostgraduate Studies and Research Willem de Kooning/ Academy Hogeschool,2005. (Disponvel em: http://www.pzwart.wdka.hro.nl.).

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    ______. Emergence from Chaos to Order. Cambridge, Massachusetts:Perseus Publishing, 1998.

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    LAURENTIZ, Paulo.A Holarquia do Pensamento Artstico. Campinas,SP: Ed. Unicamp, 1991.

    MURRAY, Janet H. Hamlet on the Holodeck. The Future of Narrativein Cyberspace. Cambridge, Massachusetts: MIT Press, 2001.

    PRADO, Gilbertto; LAURENTIZ, Silvia. Uma leitura potica de

    ambientes virtuais multiusurio. Revista Ars. ano 2, n. 3. So Paulo,Departamento de Artes Plsticas da ECA-USP, 2004.STROGATZ, Steven. SYNC The Emerging Science of Spontaneous

    Order. Theia, NY: Hyperion Books, 2003.VENTURELLI, Suzete. Arte: espao_tempo_imagem. 1 ed. Braslia:

    Editora Universidade de Braslia, 2004.WARDRIP-FRUIN, Noah; MONTFORT, Nick. The New Media

    Reader. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 2003.WIENER, Norbert. Cybernetics: or the control and communication in

    the animal and the machine. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1948.WILSON, Stephen. Information Arts. Intersections of Art, Science and

    Technology. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 2002.

    Silvia Laurentiz professora do Departamento de Artes Plsticas da Escola de Comunicaes e Artes daUniversidade de So Paulo.

    interessante eindicamos-no como umbom exemplo de umsistema dinmicoe interativo do uso depalavras de um idioma.

    39. Informaes adi-cionais sobre essesprocessos podem serencontradas no prpriosite: www.e-gallery.com. br/cp/40. Veja Teoria daEmergncia emJOHNSON, Steven.(2001). Emergncia.

    A vida integrada deformigas, crebros,

    cidades e softwares.Rio de Janeiro: JorgeZahar Editor, 2003.