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PAEBESRevista Contextual: fatores associados ao desempenho

Volume IV

Ensinos Fundamental e Mdio

Lngua Portuguesa e Matemtica

Governador do Estado do Esprito SantoJos Renato Casagrande

Vice- Governador do Estado do Esprito SantoGivaldo Vieira da Silva

Secretrio do Estado da EducaoKlinger Marcos Barbosa Alves

Subsecretria de Estado de Planejamento e AvaliaoMrcia Maria de Oliveira Pimentel Lemos

Gerente de Informao e Avaliao EducacionalAline Elisa Cotta D`vila

Subgerncia de Avaliao EducacionalMaria Adelaide Tmara Alves (Subgerente)

Denise Moraes e SilvaGloriete Carnielli

Marilda Surlo GraciottiSilvia Maria Pires de Carvalho Leite

Subgerncia de Estatstica EducacionalDenise Pereira da Silva (Subgerente)

Alisson Rodrigues VitorinoElzimar Sobral ScaramussaJuliana Barbatti Barcellos

Centro de Polticas Pblicas e Avaliao da Educao da Universidade Federal de Juiz de Fora

Coordenao GeralLina Ktia Mesquita Oliveira

Coordenao TcnicaManuel Fernando Palcios da Cunha e Melo

Coordenao de PesquisaTufi Machado Soares

Coordenao de Anlise e Divulgao de ResultadosAnderson Crdova Pena

Coordenao de Instrumentos de AvaliaoVernica Mendes Vieira

Coordenao de Medidas EstatsticasWellington Silva

Coordenao de Produo VisualHamilton Ferreira

Equipe de Medidas EstatsticasAilton Fonseca GalvoClayton ValleLeonardo Azevedo Pampanelli LucasPriscila Gregrio BernardoRoberta de Oliveira Fvero

Equipe de Anlise e Divulgao de ResultadosAlexandre Luiz de Oliveira SerpaAndreza Cristina Moreira da Silva BassoAstrid Sarmento CosacCamila Fonseca de OliveiraCarolina de Lima GouvaCarolina Ferreira RodriguesDaniel Aguiar de Leighton BrookeDaniel Arajo VignoliJoo Paulo Costa VasconcelosJuliana Frizzoni CandianJlio Srgio da Silva Jr.Leonardo Augusto CamposMichelle Sobreiro PiresRodrigo Coutinho CorraRogrio Amorim GomesTatiana Casali RibeiroWagner Silveira Rezende

Equipe de Instrumentos de AvaliaoCristiano Lopes da silvaJanine Reis FerreiraMayra da Silva Moreira

Equipe de Lngua PortuguesaHilda Aparecida Linhares da Silva Micarello (Coord.)Josiane Toledo Ferreira Silva (Coord.)Adriana de Lourdes Ferreira de AndradeAna Letcia Duin TavaresDa Lucia Campos PernambucoEdmon Neto de OliveiraMaika Som MachadoRachel Garcia Finamore

Equipe de MatemticaTatiane Gonalves Moraes (Coord.)Bruno Rinco Dutra PereiraDenise Mansoldo SalazarMaringela de Assumpo de CastroPablo Rafael de Oliveira Carlos

Equipe de EditoraoBruno CarnabaClarissa AguiarEduardo CastroHenrique BedettiMarcela ZaghettoRaul Furiatti MoreiraVincius Peixoto

RevisoLus Antnio Fajardo Pontes

EditoraoLuiza Procpio Sarrapio

SumrioCaro educador 7Introduo 8Seo 1 Avaliao contextual: o que avaliar e por qu? 10

1.1 Os questionrios contextuais 111.2 O que estamos medindo? 12

Seo 2 Os resultados do PAEBES 2010 impacto dos fatores extra e intraescolares 13Fatores associados ao desempenho escolar 142.1 Fatores extraescolares 16

2.1.1 Condio socioeconmica 162.1.2 Raa e sexo 17

2.2 Fatores intraescolares 202.2.1 A organizao e a gesto da escola 202.2.2 A infraestrutura da escola 212.2.3 O clima acadmico 212.2.4 Qualificao e motivao do corpo docente 222.2.5 nfase pedaggica e defasagem idade-srie 22

2.3 O desempenho esperado e o obtido 25Anexo Os resultados de sua escola 27

9PAEBES

Caro educador,

Voc encontra os resultados da Edio do PAEBES 2010 em uma coleo de quatro volumes que apresenta informaes fundamentais para a consolidao de uma escola capaz de fazer a diferena na vida de seus alunos.A Coleo PAEBES 2010

1PAEBES: Revista do Programa de AvaliaoApresenta o PAEBES e o PAEBES ALFA, sua abrangncia, as Matrizes de Referncia, a composio dos testes e sua metodologia de anlise.

2Revista do GestorOferece informaes gerais da participao dos alunos na avaliao e os resultados de proficincia alcanados pelos alunos no mbito do estado, regionais, municpios e escolas.

3Revista do EducadorInforma a proficincia mdia alcanada pela escola, tendo por foco a anlise pedaggica e qualitativa dos resultados dos alunos na rea de conhecimento avaliada. Destaca-se a interpretao da Escala de Proficincia, que apresenta as competncias e habilidades desenvolvidas pelos alunos situados em cada nvel de proficincia e padres de desempenho.

4Revista Contextual: fatores associados ao desempenhoAnalisa os fatores intra e extraescolares que interferem no desempenho dos alunos com base nos dados coletados pelos questionrios aplicados aos prprios alunos, professores e diretores.

O objetivo maior com o trabalho de divulgao e apropriao dos resultados, iniciado com a Coleo PAEBES 2010, possibilitar a discusso dos resultados alcanados, tanto pelos gestores dos sistemas pblicos quanto pelos profissionais das escolas, com a finalidade de contribuir para elaborao de polticas pblicas e de prticas pedaggicas mais eficazes.

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s.

10 Revista Contextual

IntroduoEsta a quarta publicao referente ao Programa de Avaliao da Educao Bsica do Esprito Santo (PAEBES) de 2010, que trata de seus resultados gerais e por escola e, ao mesmo tempo, oferece uma srie de discusses que auxiliaro na interpretao e na compreenso dos dados obtidos a partir das avaliaes.

Como mencionado em volumes anteriores, participaram da edio 2010 do PAEBES alunos da 1 srie/ 1 ano, 2 srie/ 2 ano e 3 ano do Ensino Fundamental da rede estadual, e das redes municipais e escolas particulares que optaram por aderir ao programa; a 4 srie/ 5 ano e 8 srie/ 9 ano do Ensino Fundamental da rede estadual e das escolas particulares que optaram por aderir ao programa; e 1 srie e 3 srie do Ensino Mdio da rede estadual e das escolas particulares que optaram por aderir ao programa. Entretanto, so analisados aqui os resultados da 4 srie/ 5 ano e 8 srie/ 9 ano do Ensino Fundamental e da 1 srie e 3 srie do Ensino Mdio da rede estadual. As escolas particulares participantes, no eram representativas da rede e foram, portanto, excludas dessa anlise.

Neste sentido, esta revista se estrutura em duas sees e um anexo. Na primeira seo, apresentamos a avaliao contextual, informando sobre seu contedo, suas caractersticas, seus objetivos e sua

importncia. Trazemos tambm uma discusso mais precisa sobre a eficcia escolar, seu conceito e suas caractersticas; alm disso, apresentamos os fatores intra e extraescolares que afetam o desempenho dos estudantes, bem como a relao existente entre eles. Na segunda seo, apresentamos os resultados do PAEBES 2010, trazendo a exposio dos dados, assim como sua interpretao, analisando os efeitos de cada fator intra e extraescolar em sua especificidade.

Por fim, no anexo, apresentamos os resultados por escola, discutindo a proficincia mdia de cada instituio escolar, assim como a apresentao dos ndices de cada escola comparados com a mdia do estado.

A anlise aqui realizada levou em considerao cerca de 81.000 alunos e 2.950 professores, distribudos em 420 escolas, por todo o estado. Para fins de anlise, no foram consideradas as escolas com menos de 10 alunos. Esses nmeros no invalidam os totais (de alunos, professores e gestores) divulgados nos boletins anteriores, e sua diferena em relao aos valores apresentados nesses boletins se deve a problemas de cunho logstico e metodolgico, tais como a ausncia de respostas aos questionrios contextuais e a no devoluo, por parte das escolas, dos instrumentos de pesquisa.

11PAEBES

Tabela 1 Abrangncia da Avaliao do PAEBES 2010

Nmero de alunos e escolas Testes Questionrios contextuaisEscolas 420 398Alunos 83.483 81.028

Vale ressaltar, neste ponto, a diferena entre os nmeros dos testes e dos questionrios contextuais respondidos. A diferena de mais de 2.000 respondentes. Ou seja, um nmero significativo de alunos que realizaram os testes no responderam ao questionrio contextual. Como veremos mais frente, os questionrios contextuais colhem informaes importantssimas sobre os fatores que esto associados ao desempenho dos alunos, sejam eles internos ou externos escola. So essas informaes que nos permitem interpretar melhor

os resultados dos testes de proficincia para, a partir disso, compreender melhor o que pode ser feito na tentativa de melhorar o desempenho dos estudantes. Nesse sentido, e diante dos nmeros apresentados pela Tabela 1, exposta acima, relevante que os respondentes dos testes sejam incentivados a responder tambm os questionrios contextuais. Assim, nossas anlises sobre os resultados se tornam mais substanciosas, o que beneficia, por sua vez, a apropriao dos resultados pelas escolas.

12 Revista Contextual

1SeoAvaliao contextual: o que avaliar e por qu?

Voc encontrar: Os questionrios contextuais. O que estamos medindo?

O objetivo : esclarecer ao profissional que receber os resultados a complexidade

dos processos de avaliao, explicando por que importante levar em considerao fatores outros, alm daqueles relacionados ao processo de ensino-aprendizagem em sala de aula, o conceito, as caractersticas e a importncia da eficcia escolar, ou efeito escola, apontando para a superao da falta de expectativa em relao escola, quando diante de indicadores sociais desfavorveis.

Nesta seo

13PAEBES

1.1. Os questionrios contextuais

Os questionrios contextuais objetivam produzir uma compreenso mais ampla do processo educacional. No intuito de investigar a fundo todos os fatores que podem influenciar o desempenho dos alunos, esses questionrios avaliam aspectos mais amplos do desempenho, para alm da mensurao das habilidades cognitivas. Eles buscam compreender de que forma fatores como a condio socioeconmica do aluno, o nvel de escolaridade dos pais, a atuao do professor em sala de aula, o empenho do diretor e uma srie de outras questes afetam o desempenho do aluno, medido pelos testes.

A relao entre os questionrios contextuais e os testes de complementaridade. As informaes obtidas atravs dos testes nos fornecem um panorama do desempenho do aluno que, a partir do acrscimo das informaes obtidas com os questionrios contextuais, nos possibilita uma compreenso mais substancial. Nesse sentido, atravs dos questionrios contextuais, possvel coletar dados que auxiliem os profissionais da educao a selecionar prioridades relativas implementao de aes de interveno escolar.

Os questionrios contextuais, portanto, adquirem importncia na medida em que so instrumentos que fornecem informaes muito valiosas para a interpretao dos dados obtidos atravs dos testes e para o entendimento dos fatores que influenciam o desempenho do aluno e a medida da eficcia da escola. Em sua ausncia, a preciso da anlise sobre estes aspectos, desempenho e eficcia, fica comprometida, pois somente o resultado dos testes, e seu enquadramento em escalas de proficincia, no suficiente para uma compreenso mais ampla do fenmeno escolar.

De maneira geral, os questionrios contextuais envolvem trs grandes atores envolvidos no processo educacional no interior da escola (sem desconsiderar,

entretanto, a existncia de outros): o aluno, o professor e o diretor. Para cada um desses atores sociais, foi desenvolvido um questionrio prprio, que busca identificar as caractersticas econmicas, sociais, culturais e de atuao na vida escolar cotidiana, a fim de se compreender, substancialmente, o perfil de cada um deles. Seguem as principais questes tratadas em cada um dos questionrios:

Questionrio do Aluno: este questionrio busca colher informaes sobre o perfil social e econmico dos estudantes, assim como sobre seus hbitos de estudo e suas atitudes em relao s disciplinas, escola, aos professores e aos diretores. Desse modo, avaliamos, por exemplo, a distoro idade-srie, com que frequncia os professores passam tarefas de casa e com que frequncia os alunos participam de atividades de reforo.

Questionrio do Professor: neste questionrio, so colhidas informaes sobre o perfil social e econmico dos professores, bem como sobre questes referentes sua experincia profissional, prticas e atitudes relacionadas ao ambiente escolar e aos alunos. Para tanto, procuramos averiguar, por exemplo, com que frequncia o professor utiliza recursos pedaggicos, como computador, internet, livros e revistas, em seu cotidiano escolar.

Questionrio do Diretor: atravs deste questionrio, buscamos obter informaes sobre o perfil social e econmico do diretor, sua experincia profissional, prticas e atitudes relacionadas ao ambiente escolar, comunidade e aos alunos. Para tanto, procuramos averiguar, por exemplo, se o diretor se candidataria novamente ao cargo que ocupa; alm disso, obter tambm informaes que tm a escola como unidade de anlise, como o fato da escola contar ou no com parceiros externos, como ONGs, empresas, associaes, etc.

14 Revista Contextual

1.2. O que estamos medindo?

O que buscamos analisar com a conjugao entre os resultados obtidos pelos alunos nos testes e as informaes colhidas a partir dos questionrios contextuais a eficcia escolar, ou o efeito escola. Mas, o que isso, afinal?

Um dos possveis e dos mais empregados sentidos de eficcia escolar corresponde ao impacto que a escola, pelas suas prprias caractersticas, exerce sobre o desempenho de seus alunos. Dessa forma, a eficcia escolar relaciona-se capacidade que a escola tem de contrabalanar os efeitos negativos das caractersticas que o aluno possui, antes mesmo de entrar na escola, por meio de aes que envolvem uma srie de elementos, tanto administrativos quanto pedaggicos. Em outras palavras, a eficcia escolar fruto da reduo dos impactos negativos, para o desempenho escolar, dos fatores extraescolares (portanto, no controlados pelas instituies escolares), a partir da incidncia dos efeitos positivos gerados por fatores intraescolares (esses ao alcance da interveno da escola).

Ao mensurar a influncia que a escola tem sobre o desempenho dos estudantes, os ndices de eficcia escolar nos ajudam a rechaar uma interpretao derrotista da realidade escolar, qual seja, a de que estudantes oriundos de classes sociais menos favorecidas tm um destino social traado de antemo pela sua origem, fazendo com que a escola possa fazer muito pouco no que tange s possibilidades escolares e profissionais de seus discentes.

preciso ressaltar que os fatores extra e intraescolares no tm, em absoluto, efeitos positivos ou negativos sobre o desempenho. Isso quer dizer que tais fatores,

dependendo de uma srie de circunstncias, podem ter efeito no sentido de aumentar ou diminuir o desempenho, ou seja, os fatores extraescolares nem sempre exercem um efeito negativo sobre o desempenho, assim como no sempre que os fatores intraescolares exercem um efeito positivo. nesse ponto que o entendimento da eficcia escolar se torna to importante. Quando o efeito positivo dos fatores intraescolares supera o efeito negativo exercido pelos fatores extraescolares, estamos diante de um quadro de eficcia escolar.

Quais so, ento, os fatores intraescolares associados eficcia escolar? Podemos destacar cinco grandes categorias de fatores que esto associadas eficcia escolar: a organizao e a gesto da escola, a infraestrutura, o clima acadmico no interior da escola, a formao e a motivao do corpo docente, e o enfoque pedaggico adotado pela escola.

Embora a mensurao da eficcia escolar seja um procedimento tcnico-cientfico que exija um elevado nvel de elaborao conceitual e metodolgica, as complexidades a isso inerentes no podem obstaculizar sua pesquisa, seu estudo e seu entendimento. A eficcia escolar merece uma compreenso substantiva, pois refora a ideia de que a escola pode fazer a diferena na trajetria de seus alunos, escapando a um trgico determinismo social.

A seguir, trataremos de cada um dos dois tipos de fatores aqui tematizados (intra e extraescolares), apresentando e analisando os resultados da avaliao para cada um deles. Comecemos pelos resultados relacionados aos fatores extraescolares.

15PAEBES

2SeoOs resultados do PAEBES 2010 Impacto dos fatores extra e intraescolares

Voc encontrar: Fatores associados ao desempenho escolar. Fatores extraescolares. Fatores intraescolares. O desempenho esperado e o obtido.

O objetivo : que os profissionais tenham em mos os resultados do PAEBES 2010,

acompanhados da explicao quanto a estes resultados. Assim, tais resultados podem sair da mera descrio para servirem de orientao para a efetivao de prticas pedaggicas e administrativas que possam aumentar a eficcia escolar.

Nesta seo

16 Revista Contextual

Fatores associados ao desempenho escolar

Como dissemos, existe uma srie de fatores e situaes que causam impacto no aprendizado do aluno. Muitos desses fatores no podem ser medidos diretamente e, para capt-los, procuramos, atravs de alguns indicadores, criar medidas que possam express-los. Aqui faremos uma apresentao conceitual e metodolgica dos fatores que so importantes para a compreenso do desempenho escolar dos alunos, atravs de uma descrio simples de como os ndices que expressam alguns desses fatores foram construdos a partir das informaes disponveis.

Alm disso, apresentaremos os resultados das duas metodologias que usamos para compreender a relao entre os fatores intra e extraescolares e o desempenho dos alunos da rede estadual do Esprito Santo, metodologias essas comuns na anlise desse tipo de dados (sobre alunos alocados em escolas): a estimao de um modelo multinvel, que permite

considerar adequadamente a influncia de diversos fatores sobre o desempenho, respeitando os nveis a que eles pertencem (por exemplo, a atuao do diretor uma caracterstica da escola como um todo, que afeta o desempenho do aluno, mas no uma caracterstica do aluno e, portanto, deve estar no nvel da escola, permitindo verificar seu efeito na proficincia da escola); e uma comparao entre valores esperados e observados para as escolas consideradas na anlise. Utilizamos as informaes fornecidas pelos alunos, professores e diretores das escolas.

Os resultados do primeiro tipo de anlise esto apresentados ao fim da descrio de cada fator considerado. Ao final desta seo descrevemos uma anlise comparativa entre os valores esperados e observados para as escolas da rede estadual do Esprito Santo.

Quadro 1 Alguns fatores contextuais e desempenho em Lngua Portuguesa1

Lngua PortuguesaEnsino Fundamental Ensino Mdio

4 srie/5 ano 8 srie/9 ano 1 srie 3 srie

Intercepto1 192,62 234,14 244,14 261,87

Nv

el d

o al

uno

Nvel socioeconmico

Sexo (referncia: feminino)

Raa/cor (referncia: no branco)

Defasagem

ndice de dedicao do professor opinio do aluno

ndice de disciplina opinio do aluno * *

Nv

el d

a es

cola

Nvel socioeconmico (mdia da escola)

ndice de atuao do diretor opinio do professor * *

ndice de problemas com o corpo docente *

Formao do diretor * *

1 Intercepto o valor mdio esperado para a proficincia quando todas as variveis envolvidas no modelo estimado forem zero. Como no existem valores reais iguais a zero para a maior parte das variveis utilizadas nos modelos apresentados nos quadros 1 e 2, os valores do intercepto no tm interpretao substantiva, apenas estatstica.

17PAEBES

Quadro 2 Alguns fatores contextuais e desempenho em Matemtica

Matemtica

Ensino Fundamental Ensino Mdio

4 srie/5 ano 8 srie/9 ano 1 srie 3 srie

Intercepto 210,20 257,35 264,62 282,94

Nv

el d

o al

uno

Nvel socioeconmico Sexo (referncia: feminino) Raa/cor (referncia: no branco) Defasagem ndice de dedicao do professor opinio do aluno ndice de disciplina opinio do aluno

Nv

el d

a es

cola

Nvel socioeconmico (mdia da escola) ndice de atuao do diretor opinio do professor * *

ndice de problemas com o corpo docente * Formao do diretor * *

Com os quadros 1 e 2, pretendemos apresentar quais fatores impactam no desempenho dos alunos em Lngua Portuguesa e Matemtica e qual o tipo de impacto exercido, se positivo ou negativo. Alm das disciplinas, os quadros trazem referncias a cada uma das sries avaliadas. Para facilitar a compreenso sobre o impacto exercido, utilizamos setas e asteriscos. As setas em azul indicam que o fator em questo impacta positivamente no desempenho avaliado. Ao contrrio, as setas em vermelho impactam negativamente. Os asteriscos, por sua vez, indicam que o fator em questo no afetou significativamente o desempenho, seja positiva ou negativamente, de modo que no se usam setas nesse caso.

Para a construo dos quadros, optamos por no apresentar os valores especficos do impacto de cada um dos fatores levados em considerao. Essa deciso foi tomada em funo de dois aspectos principais. O primeiro deles diz respeito ao modelo utilizado para a realizao das anlises estatsticas. Se outro modelo, que no aquele do qual nos valemos, fosse utilizado para gerar os resultados, pequenas variaes poderiam ocorrer entre os valores. Alm disso, acreditamos que a indicao do efeito gerado pelo fator sobre o desempenho, se positivo ou negativo, atinge os objetivos que pretendemos com a construo desta tabela, ou seja, que ela seja um instrumento didtico capaz de apresentar quais fatores impactam sobre o desempenho, e quais o fazem positiva ou negativamente.

18 Revista Contextual

2.1. Fatores extraescolares

Quais so, ento, os principais fatores externos instituio escolar, mas que influenciam os alunos em seu desempenho? Aqui trataremos de trs fatores extraescolares em especfico, no por serem os nicos, e sim pelo grande impacto que exercem sobre o desempenho dos alunos: a condio socioeconmica das famlias, a raa e o sexo dos alunos.

2.1.1. Condio socioeconmica

A condio socioeconmica composta por uma srie de elementos que influenciam na vida social e escolar do aluno. Ela indicada atravs do ndice socioeconmico (ISE), que construdo a partir da escolaridade dos pais dos estudantes e da posse de bens materiais especficos. O ISE fornece informaes fundamentais para a compreenso do desempenho do aluno e tambm da escola (vale notar que o ndice socioeconmico foi calculado no nvel dos alunos e seus efeitos investigados no nvel do aluno e da escola).

A escolaridade dos pais um fator muito influente na medida do desempenho, relacionando-se com as atitudes por eles tomadas e influenciando o desenvolvimento de comportamentos e atitudes dos filhos. A escolaridade dos pais se vincula ao consumo cultural que os filhos podem desenvolver, ao hbito de leitura, disciplina e ao comportamento dentro e fora de sala de aula, ao contato recente com tecnologias e recursos educacionais diferenciados, entre outros fatores. Alm disso, tal escolaridade vincula-se tambm ao comportamento dos pais diante da escolaridade dos filhos, como a exigncia de dedicao e o comprometimento com a escola, o incentivo leitura, o acompanhamento dos deveres de casa, a auxlio com as dvidas que os estudantes possam ter com as lies, entre outros elementos. Assim, em teoria, o aumento da escolaridade dos pais tende a se refletir na melhoria do desempenho de seus filhos.

Outro elemento componente do ISE a posse de determinados bens materiais. Esses so tratados como indicativos de situaes e condies sociais especficas que, por sua vez, tm impacto no desempenho dos estudantes. A posse de bens, como aparelhos de televiso, geladeira, automvel e a presena, em casa, de banheiro, indicativo de acesso

a uma forma mnina de saneamento, so elementos que podem se associar e, de modo geral, se associam, ao desempenho dos alunos. A presena desses bens, como se pode imaginar, no interfere diretamente no desempenho do aluno em sala de aula, ou seja, o fato do aluno ter geladeira em casa no significa que ele, por conta disso, ter um desempenho melhor em matemtica, por exemplo, ou que aprenda melhor do que aqueles que no tm. No entanto, a presena desses fatores indicativa da condio social e econmica do aluno e de sua famlia. Alm disso, essa condio social, indicada pela posse de tais bens, cria uma srie de situaes, como a estabilidade familiar, o desenvolvimento de um ambiente em casa que favorea a aprendizagem, a dedicao de tempo para estudo e para lazer, alm de outros elementos que estaro,sim, relacionados ao desempenho do aluno.

Para a interpretao dos resultados relativos ao ndice socioeconmico nos dados do PAEBES 2010, foi construda uma escala, cujos valores variam de 1 a 10, sendo que a mdia foi 5,7. Observamos que o impacto que a condio socioeconmica pode ter sobre o desempenho mdio das escolas varia de acordo com a etapa de escolaridade e com a disciplina avaliada. Sendo assim, no que tange Lngua Portuguesa, o aluno que, hipoteticamente, ocupa a posio mxima da escala, representada pelo valor 10, teria at 35 pontos a mais na escala de proficincia, para as sries avaliadas do Ensino Fundamental, e at 30 pontos a mais, para as sries do Ensino Mdio avaliadas. Em relao Matemtica, nas sries do Ensino Fundamental aqui consideradas, esse valor pode chegar a 52 pontos a mais na escala de proficincia, ao passo que, nas sries do Ensino Mdio, o valor pode atingir at 24 pontos a mais.

19PAEBES

O ndice socioeconmico, como uma medida indicadora das condies de origem familiar dos alunos, , portanto, uma varivel fora do controle da escola, que possui uma associao com o desempenho. Por sua vez, isso significa que alunos em piores condies sociais e econmicas tm um desempenho esperado menor que os alunos em melhores condies. O mesmo se aplica ao ndice socioeconmico mdio da escola: as escolas que

concentram alunos em melhores condies sociais tendem a ter maiores desempenhos mdios do que aquelas onde se concentram alunos em piores condies. Em geral, a escola no escolhe a origem social de seu pblico, por isso fundamental que a escola se preocupe em mobilizar sua capacidade de fazer com que essas condies no sejam prejudiciais aos alunos.

2.1.2. Raa e sexo

A tabela a seguir revela que a maioria (63,6%) dos alunos respondentes se declarou pardo ou negro (no branco), ao passo que os demais 30,0% se declararam brancos.

Grfico 1 Distribuio dos estudantes por raa

30,0%

48,6%

15,0%

4,2% 2,2%

Raa ou cor

Branco

Pardo

Negro

Amarelo

Indgena

Vale notar que, embora o grfico 1 traga informaes sobre diversas classificaes de raa ou cor da pele, em nossa anlise, utilizamos to-somente uma distino entre brancos e no brancos. Apesar dessa distino no estar expressamente representada pelo grfico, sua leitura pode ser inferida a partir dele. A razo de ser do estabelecimento dessa distino entre brancos e no-brancos leva em considerao sua relevncia sociolgica. Do ponto de vista sociolgico, as diferenas entre brancos e no brancos (incluindo aqui pardos e negros) so mais acentuadas do que as distines entre, por exemplo, ndios e brancos. Isso no significa tambm que no existam distines entre pardos e

negros. Elas existem, de fato, mas so menores do que as distines que existem entre os brancos e esses dois grupos tomados em conjunto. Segundo vasta e consagrada teoria sociolgica, o fosso social entre brancos e no-brancos maior do que qualquer outra distino de cunho racial. A presente avaliao comprova essa concepo terica, o que justifica nosso posicionamento em desenvolver a anlise baseada na referida distino.

O grfico, a seguir, que informa sobre a distribuio por sexo dos estudantes envolvidos com o PAEBES 2010, mostra que a maioria deles formada por integrantes do sexo feminino (53,9%).

20 Revista Contextual

Grfico 2 Distribuio dos estudantes por sexo PAEBES 2010

46,1%

53,9%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Masculino Feminino

A mesma distribuio ocorre quando consideramos cada etapa avaliada, exceto para a 4 srie/5 ano, onde a maioria dos alunos considerados do sexo masculino.

Grfico 3 Distribuio dos estudantes por sexo em cada etapa avaliada PAEBES 2010

51,1%47,1% 46,9%

41,8%48,9%

52,9% 53,1%58,2%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

4 srie/5 ano EF 8 srie/9 ano EF 1 srie EM 3 srie EM

Masculino Feminino

21PAEBES

As anlises que realizamos detectaram associaes significativas entre o desempenho escolar e estas variveis: a raa (neste caso, autodeclarada) e o sexo do aluno. Nesse caso especfico, constatou-se que os alunos que se declaram no brancos tm, em mdia, um desempenho menor do que os alunos que se declaram brancos, ainda que se controle a anlise pelas demais variveis de interesse, como o ISE e o sexo. De maneira anloga, o sexo apresenta tambm uma associao significativa com o desempenho do aluno, que varia de acordo com a disciplina considerada. Sendo assim, h diferena de desempenho entre integrantes do sexo feminino e do masculino em Lngua Portuguesa e em Matemtica. Em Lngua Portuguesa, o desempenho mdio obtido pelas alunas significativamente mais alto do que o obtido pelos alunos. Quanto ao desempenho experimentado pelos estudantes nos testes de Matemtica, o que se observa um fenmeno contrrio ao observado em Lngua Portuguesa. Nessa disciplina, o desempenho

mdio apresentado pelas alunas significativamente mais baixo do que aquele apresentado pelos alunos.

muito importante ressaltar, quando se trata de avaliar os impactos que fatores como raa e sexo exercem sobre o desempenho escolar, que, na verdade, esta anlise precisa ser vista em termos de associao, e no necessariamente de causalidade. Por exemplo, um aluno no tem o desempenho maior por ser branco, em virtude desse fato ser tomado em si. A questo gira em torno dos efeitos sociolgicos que a raa, historicamente, exerce sobre uma ampla gama de outros aspectos sociais, como o desempenho, a insero no mercado de trabalho e as relaes sociais de maneira geral. O mesmo pode ser aplicado ao sexo. As mulheres no tm menor capacidade de compreenso das habilidades exigidas pela Matemtica do que os homens, s pelo fato de serem mulheres. A explicao para essa diferena, mais uma vez, est em outros fatores sociolgicos, que no o sexo em si.

22 Revista Contextual

2.2. Fatores intraescolares

Quais os fatores possibilitam avaliar uma escala como eficaz? Em outras palavras, em que a escola deve se concentrar a fim de produzir efeitos que sejam capazes de fazer frente s influncias oriundas da situao socioeconmica dos alunos? Considerando a eficcia escolar, trataremos, aqui, cinco grandes conjuntos de fatores intraescolares, mencionados anteriormente.

2.2.1. A organizao e a gesto da escola

Dos diretores envolvidos com o PAEBES 2010, 83,9% dos entrevistados possuem nvel superior de escolaridade na rea de Educao (Pedagogia, Licenciatura ou Normal Superior), ao passo que os outros 16,1% declararam possuir outro tipo de formao, seja superior ou no.

Em mdia, a formao superior do gestor impacta positiva e significativamente no desempenho mdio da escola, variando de acordo com a srie e com a disciplina. Quanto Lngua Portuguesa, o efeito positivo percebido na 8 srie/9 ano do Ensino Fundamental e na 1 srie do Ensino Mdio. J no que diz respeito Matemtica, o efeito percebido nas duas sries do Ensino Mdio avaliadas.

A organizao e a gesto da escola exercem uma influncia considervel no poder da escola de afetar o desempenho de seus estudantes. A dedicao que os profissionais da escola tm no efetivo cumprimento de suas funes um fator preponderante para o bom desempenho educacional. Nessa categoria de fatores, importante destacar o papel do diretor. A eficcia escolar se vincula ao comportamento do diretor no exerccio de sua funo. Um diretor reconhecido como lder, por parte dos professores que compem o quadro docente da escola, assim como pelos funcionrios da escola, exerce uma influncia positiva e mais acentuada no desempenho de seus estudantes.

Da mesma maneira, quanto ao tipo de liderana administrativa exercida, escolas que apresentam diretores que exercem uma gesto mais democrtica, aberta participao de outros atores envolvidos no processo educacional e escolar, como os prprios

professores e funcionrios, os estudantes e a comunidade em que se insere a escola, so capazes de reduzir o impacto que a condio socioeconmica do estudante exerce sobre o seu desempenho.

No que tange atuao do diretor, o ndice que a mede em diversas reas da vida escolar, na opinio dos professores, rene as seguintes variveis:

O diretor dessa escola: mostra-se comprometido com a melhoria da

escola; estimula o desenvolvimento de atividades

inovadoras; respeita os professores; motiva os professores para o trabalho em sala de

aula; destina mais ateno a questes relacionadas

aprendizagem dos alunos; tem confiana na qualificao dos professores; estabelece altos padres de ensino; motiva os professores a implementarem o que

eles aprenderam em cursos de desenvolvimento profissional; monitora ativamente a qualidade do ensino nesta

escola.

Para cada item do questionrio, as variveis foram categorizadas em: Discordo. Concordo. Concordo totalmente.

Diante disso, quanto maior a concordncia com as afirmaes a respeito da atuao do diretor em determinado aspecto, maior o valor do ndice.

23PAEBES

Entre as variveis consideradas, todas tiveram um impacto muito similar na produo do ndice, mas cabe destacar duas: a concordncia dos professores com a atuao do diretor no estmulo ao desenvolvimento de atividades inovadoras e a motivao dos professores a implementarem o que eles aprenderam em cursos de desenvolvimento profissional. A atuao do diretor na percepo dos professores tem um efeito positivo sobre o desempenho mdio da escola, conforme

mensurado pelo PAEBES 2010, sendo significativo nas sries iniciais de cada segmento avaliado.

Para facilitar a interpretao do ndice de avaliao da atuao do gestor por parte do corpo docente, criou-se, como se disse, uma escala com valores de 1 a 10. Para o PAEBES 2010, a mdia foi de 8,2, ou seja, os professores, em geral, avaliam positivamente a atuao dos gestores no estado.

2.2.2. A infraestrutura da escola

A infraestrutura outro elemento fundamental para que a escola seja eficaz no cumprimento de suas funes. A conservao da estrutura fsica da escola, o saneamento, a limpeza dos espaos escolares, a disponibilidade de equipamentos so fatores importantes para a manuteno de um ambiente escolar propcio aprendizagem, como veremos a seguir. Alm disso, a disponibilidade de equipamentos e servios, como computadores, televisores, aparelhos de DVD, acesso internet, acesso a uma biblioteca, acesso a filmes educativos, acesso a material didtico e escolar, favorece as possibilidades de diversificao

do ensino e contribue para o desenvolvimento de um processo educativo mais completo. A infraestrutura escolar, portanto, tem um efeito positivo sobre o desempenho dos estudantes. Contudo, preciso ressaltar que a mera existncia de uma estrutura predial adequada, assim como a mera disponibilidade de recursos e equipamentos no tm, por si s, nenhum efeito sobre o desempenho estudantil. preciso, pois, que tais recursos sejam, de fato, utilizados para que suas possibilidades sejam efetivadas. Caso contrrio, sero apenas objetos destitudos de qualquer efeito pedaggico.

2.2.3. O clima acadmico

O clima acadmico na escola envolve uma srie de fatores, atitudes, aes e comportamentos, por parte dos professores, gestores e dos prprios estudantes, que esto associados ao desempenho escolar: o comportamento do professor em sala de aula, sua forma de conduzir a aula, de dar espao participao dos alunos, a maneira como exige disciplina, sua presena, a exigncia com os deveres de casa e sua correo em sala de aula.

Nesse sentido, analisamos a percepo sobre a dedicao do professor e o nvel de disciplina exigido por ele, na concepo de seus alunos, e consideramos tambm os problemas com o corpo docente, no nvel da escola. O ndice de problemas com o corpo docente diz respeito ao clima vivido na escola, e as variveis consideradas na sua construo foram:

Neste ano, ocorreu nesta escola: inexistncia de professores para algumas disciplinas

ou sries? frequente falta dos professores? falta de empenho dos professores? alta rotatividade do corpo docente?

As categorias de respostas eram: Ocorreu e foi um problema grave. Ocorreu, mas no foi um problema grave. No ocorreu.

As categorias foram codificadas de forma que, quanto maior o valor do ndice, menor o nvel de problema com o corpo docente. Esse ndice teve uma associao significativamente negativa com o desempenho mdio da escola, ou seja, quanto menos problemas identificados pelo diretor com o corpo docente, maior o desempenho mdio da escola, embora os resultados s tenham se mostrado significativos a partir da 8 srie/9 ano.

24 Revista Contextual

Uma escala com valores de 1 a 10 foi criada para fins interpretativos no que tange ao ndice de percepo de problemas com o corpo docente, por parte dos gestores. A mdia obtida foi de 6,8, o que quer dizer que, de modo geral, para o estado do Esprito Santo, os gestores no enfrentam constantemente problemas que consideram graves em relao ao professorado.

O ndice que mensura como os alunos percebem a disciplina na sala de aula foi composto pela associao entre as seguintes variveis:

Com que frequncia: o(a) seu(sua) professor(a) precisa esperar muito tempo at que os alunos faam silncio? h barulho e desordem na aula? os alunos saem da aula antes do trmino?

As variveis foram categorizadas pela escala: Frequentemente. s vezes. Raramente. Nunca.

A disposio da escala foi orientada de modo que, quanto maior o valor do ndice, maior a percepo

de um clima disciplinado em sala de aula por parte do aluno. Esse ndice tambm um fator intraescolar que exerce um efeito positivo sobre o desempenho: quanto maior a percepo de disciplina, melhor tende a ser, em mdia, o desempenho dos alunos. Nesse caso, a existncia de barulho e desordem na sala de aula que teve um maior peso na composio do ndice.

Os resultados das anlises demonstram que essa varivel mais importante para o desempenho em Matemtica do que em Lngua Portuguesa. O ambiente disciplinado tem um efeito positivo para o desempenho mdio de todas as turmas consideradas em Matemtica, enquanto que, para Lngua Portuguesa, o efeito significativo apenas para a 4 srie/5 ano do Ensino Fundamental e para a 1 srie do Ensino Mdio.

Para fins didticos e interpretativos, a partir do ndice para a percepo da disciplina existente em sala de aula por parte dos alunos, foi elaborada uma escala, com seus valores variando entre 1 e 10. A mdia referente a esse fator, no PAEBES 2010, foi de 4,6, ou seja, de modo geral e com alguma frequncia, os alunos percebem problemas com disciplina em sala de aula.

2.2.4. Qualificao e motivao do corpo docente

Um corpo docente qualificado e motivado tambm exerce influncia sobre o desempenho dos alunos, constituindo-se como um fator a ser considerado para a eficcia escolar. Em teoria, o efeito deste fator significativo quanto eficcia. A qualificao profissional sugere um maior preparo do professor para o exerccio de suas funes.

Vale ressaltar que, para construo desta revista, no inclumos nenhuma anlise acerca da qualificao e motivao do corpo docente por questes de cunho metodolgico, pelo enfoque que foi dado nesta revista e por ausncia de literaturas consolidadas sobre o tema.

2.2.5. nfase pedaggica e defasagem idade-srie

A nfase pedaggica outro fator que exerce influncia sobre a eficcia escolar. O tipo de metodologia utilizada pelo professor, sua abordagem em sala de aula, a forma como encara o estudante, a maneira de conduzir o processo de ensino e aprendizagem, as concepes de ensino que ele sustenta e aplica, entre outros, so fatores que esto vinculados variao

no desempenho dos estudantes. Entretanto, importante enfatizar que, ao se investigar a influncia da nfase pedaggica na eficcia escolar, no se quer julgar como mais ou menos eficiente qualquer concepo pedaggica de ensino e aprendizagem que o professor adote. A escolha de qual concepo aplicar varia de acordo com uma srie de aspectos,

25PAEBES

tais como o perfil dos estudantes reunidos em uma mesma sala de aula, a proposta e os objetivos da escola, bem como as prprias concepes educacionais do professor. Assim, tal escolha pode ser mais ou menos adequada, levando-se em considerao esses dados circunstanciais.

Alm disso, aspectos como a poltica que a escola adota, e tambm o professor, no que tange a seus critrios de reprovao, so fatores que podem influenciar no desempenho dos alunos. Nesse ponto, merece destaque a questo da defasagem idade-srie por parte do aluno. Em tese, quanto mais defasado o aluno se encontra em relao srie que condiz com a sua idade, menor ser o seu desempenho escolar. As anlises dos resultados das escolas que participaram do PAEBES 2010 mostram que os alunos em defasagem (no levamos em considerao qual seria o total do atraso, apenas se ele existia ou no) tm menor desempenho mdio que os alunos que no sofreram

atraso. Isso se deveria no s s reprovaes dentro do sistema escolar, mas tambm entrada tardia na escola. E os efeitos dessa defasagem so to mais negativos quanto mais avanada a srie considerada, chegando a mais de 27 pontos a menos na proficincia em Matemtica na 3 srie do Ensino Mdio.

O grfico a seguir detalha as taxas de defasagem idade-srie de acordo com as sries consideradas: 4 srie/5 ano e 8 srie/9 ano do Ensino Fundamental e 1 srie e 3 srie do Ensino Mdio.

O que se nota, a partir do grfico, que a distribuio dos alunos, quando se considera o atraso, semelhante, apesar da variao da srie. Quanto 4 srie do Ensino Fundamental, 83,1% dos alunos se encontram sem atraso. Esse nmero de 82,9% para a 8 srie do Ensino Fundamental, 80,2% para a 1 srie do Ensino Mdio, e 84,7% para a 3 srie do Ensino Mdio.

Grfico 4 Defasagem idade/srie PAEBES

83,1% 82,9% 80,2%84,7%

16,9% 17,1% 19,8% 15,3%0%

10%20%30%40%50%60%70%80%90%

Atraso 4 srie/5 ano EF

Atraso 8 srie/9 ano EF

Atraso 1 srie EM Atraso 3 srie EM

Sem atraso Em situao de atraso

O ndice do envolvimento do professor nas atividades em sala de aula e no dia a dia escolar, na viso dos alunos, foi criado a partir de suas respostas s seguintes questes: Com que frequncia o(a) professor(a): exige que os alunos estudem e prestem ateno nas aulas? mostra interesse no aprendizado de todos os alunos? est disponvel para esclarecer as dvidas dos outros alunos? d as notas de maneira justa?

26 Revista Contextual

As alternativas de resposta a esses itens compunham uma escala de quatro pontos: Frequentemente. s vezes. Raramente. Nunca.

Quanto maior o valor do ndice, mais os alunos percebem o professor como positivamente envolvido e dedicado boa prtica das atividades escolares.

Esse ndice de dedicao do professor um importante fator intraescolar que tem uma associao positiva com o desempenho: quanto mais o aluno percebe o envolvimento e a preocupao do professor com o seu aprendizado, melhor o desempenho esperado.

Como so muitos os itens considerados na composio do ndice, vale destacar a varivel que mais impacto exerceu sobre o ndice de dedicao do diretor: o quanto o professor se mostra interessado

no aprendizado dos alunos. Quanto mais esses percebem o interesse do professor, maior, em mdia, ser o seu desempenho.

Nas anlises levadas a cabo para esse conjunto de dados, o envolvimento do professor se mostrou uma condio importante para o melhor desempenho dos alunos. Em todas as sries avaliadas e nas duas disciplinas consideradas, quanto mais os alunos percebem o envolvimento do professor, melhor o seu desempenho mdio. Vale observar que isso ainda mais importante nas sries iniciais do percurso escolar.

Para facilitar a interpretao dos dados, esses foram transpostos para uma escala, que varia de 1 a 10, representativa da opinio que os alunos tm sobre a dedicao e o envolvimento do professor. A mdia para o PAEBES 2010 foi de 9,1, o que indica que, em geral, os professores tm sido bem avaliados, no que tange sua dedicao, por parte dos alunos.

27PAEBES

2.3. O desempenho esperado e o obtido

Para avaliar qual a potencialidade da escola no que tange melhoria do desempenho de seus alunos, analisamos a diferena entre o desempenho esperado para cada escola, levando em conta algumas de suas caractersticas como seu desempenho em uma avaliao anterior, as condies sociais de seus alunos e suas caractersticas administrativas e pedaggicas e o desempenho observado para a mesma escola, a partir da aplicao do teste.

Para essa avaliao do PAEBES 2010, alm dos dados sobre a proficincia de Lngua Portuguesa e Matemtica, estavam disponveis tambm informaes sobre a condio socioeconmica dos alunos e informaes sobre os fatores intraescolares. De posse dessas informaes, foi possvel elaborar um modelo estatstico capaz de analisar de forma substancial as relaes entre essas caractersticas da escola e seu desempenho mdio. Para essa anlise, no caso de Lngua Portuguesa, foram consideradas as seguintes variveis: a proficincia mdia da escola no PAEBES 2009 e o ndice socioeconmico mdio dos alunos, seu grau de envolvimento e a disciplina em sala de aula no PAEBES 2010. No caso de Matemtica, foram includas as variveis: a proficincia mdia de 2009 e a percepo dos alunos a respeito do envolvimento dos professores e da disciplina exigida por esses no PAEBES 2010.

O objetivo desse estudo em particular foi comparar o desempenho mdio esperado para as escolas levando-se em considerao essas informaes disponveis e sabidamente influentes no desempenho escolar com a proficincia mdia obtida na ltima avaliao. A finalidade desse procedimento era observar se, em geral, as escolas da rede estadual do Esprito Santo encontram-se nos nveis de proficincia esperados ou superiores, dadas as caractersticas de desempenho pregresso e pedaggico-administrativas da escola.

Esta anlise no tem a finalidade de determinar qual o desempenho mdio desejado para cada escola, e sim de considerar um conjunto de caractersticas que permitem estimar, com a devida segurana, qual seria o desempenho mdio dito esperado. O sentido de esperado no o de almejado ou desejado, mas, sim, diz respeito a uma condio de maior probabilidade estatstica de ocorrncia. Alm disso, nunca possvel considerar todas as caractersticas que afetam o desempenho mdio de cada escola e, por isso, no possvel prever, em absoluto, sua proficincia. O modelo estatstico empregado nesta anlise permitiu estimar a proficincia mdia mais provvel para uma escola, considerando-se algumas de suas caractersticas, para compar-la com a proficincia de fato obtida por tal escola no ltimo teste. Por isso, esta anlise no faz referncia ao nvel adequado de proficincia para cada escola.

Para facilitar a interpretao dos resultados, concebemos da seguinte forma as diferenas entre a proficincia mdia esperada e a proficincia mdia observada da escola: suponha que a proficincia mdia de uma determinada escola seja de 180 pontos na escala de Matemtica e que isso corresponda ao 8 nvel de desempenho dessa escala. No entanto, digamos que, dadas as caractersticas dessa escola e o seu desempenho mdio no teste anterior, a proficincia mdia esperada para essa escola era de 160, o que corresponde ao nvel 7. Com isso, conclui-se que essa escola encontra-se um nvel acima do que seria esperado com base em suas caractersticas consideradas na anlise. Da mesma forma, pode ocorrer o fato de alguma escola vir a se situar em um nvel abaixo do esperado. Esta anlise no aponta, portanto, diferenas dentro dos nveis, que tm intervalos de 25 pontos nas escalas de Lngua Portuguesa e Matemtica2.

2

2 Para mais informaes sobre os nveis que compem a escala de Lngua Portuguesa e Matemtica, consultar o Volume III da Coleo PAEBES 2010 em www.caed.ufjf.br.

28 Revista Contextual

Os resultados encontrados na anlise revelam que a grande maioria das escolas, tanto no que tange Lngua Portuguesa, quanto no que tange Matemtica, esto no nvel esperado de desempenho mdio. Para Lngua Portuguesa, 19,7% das escolas para as quais existem as informaes consideradas esto pelo menos um nvel acima do esperado pelas suas caractersticas e desempenho mdio anterior, sendo que a maioria se encontra em, exatamente, um nvel acima (15,7%). No nvel esperado, h 68,4%

das escolas. Aqum do nvel esperado, esto 15,5% dessas escolas, sendo que 14,5% esto em apenas um nvel abaixo.

Para Matemtica, o resultado segue uma distribuio semelhante: 17,3% das escolas consideradas esto a pelo menos um nvel acima do esperado. Desse total, 13,3% ocupam um nvel acima do esperado. No nvel esperado, encontram-se 70,4% das escolas e, nos nveis abaixo do esperado, h 19,4% das escolas.

Grfico 5 Diferenas entre os nveis observados e esperados para as escolas PAEBES 2010

0,0% 1,0%14,5%

68,4%

15,7%

0,2% 0,2%0,2% 0,2%

15,4%

70,4%

13,3%0,2% 0,2%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

-3 -2 -1 0 1 2 3

Lngua Portuguesa Matemtica

importante ressaltar, no que tange a este ponto, que a noo de esperado no est vinculada aos padres estabelecidos pela escala de proficincia do PAEBES 2010. O desempenho esperado para a escola no foi pensado com base nestes padres e os resultados das revistas anteriores, que apresentam a distribuio dos alunos de acordo com esses padres e sua interpretao, devem ser considerados. Alm disso, cumpre reforar que, quando uma escola se encontra dentro do esperado para ela, tendo em

vista suas caractersticas sociais, no quer dizer que ela esteja dentro daquilo que ela deva fazer para que o desempenho de seus alunos seja melhorado. Ao contrrio, quando uma escola se encontra dentro do esperado para ela, significa que ela no est em um quadro de eficcia escolar. quando a escola vai alm do esperado, obtendo um desempenho mdio acima daquele previsto diante de suas condies sociais, que ela se torna eficaz.

29PAEBES

AnexoOs resultados de sua escola

At aqui, discutimos os fatores extraescolares e intraescolares que influenciam o desempenho dos estudantes. Alm disso, fornecemos definies desses fatores e esclarecimentos sobre o que estamos procurando mensurar com o PAEBES 2010. Contudo, por se tratar de uma revista dedicada a cada escola em especfico, necessrio apresentar os resultados de sua escola, no que diz respeito aos fatores anteriormente considerados.

Para realizar essa importante funo, qual seja, a divulgao dos resultados de cada escola,

organizamos o presente anexo, apresentando os resultados para cada fator considerado e sua comparao com a mdia obtida pelo programa PAEBES em todo o estado. Com isso, reforamos, nosso objetivo no o de criar um ranqueamento das escolas envolvidas com o projeto, mas to somente o de tratar os dados de forma comparativa, no intuito de fornecer uma leitura ampla sobre cada escola, de acordo com o desempenho nas disciplinas avaliadas e tambm com suas caractersticas escolares e socioeconmicas.