rush sem limites trecho-0

22

Upload: rosa-silva-moreira

Post on 07-Nov-2015

44 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

t

TRANSCRIPT

  • O Arqueiro

    Geraldo Jordo Pereira (1938-2008) comeou sua carreira aos 17 anos, quando foi trabalhar com seu pai, o clebre editor Jos Olympio, publicando obras marcantes

    como O menino do dedo verde, de Maurice Druon, e Minha vida, de Charles Chaplin.

    Em 1976, fundou a Editora Salamandra com o propsito de formar uma nova gerao de

    leitores e acabou criando um dos catlogos infantis mais premiados do Brasil. Em 1992,

    fugindo de sua linha editorial, lanou Muitas vidas, muitos mestres, de Brian Weiss, livro que deu origem Editora Sextante.

    F de histrias de suspense, Geraldo descobriu O Cdigo Da Vinci antes mesmo de ele ser lanado nos Estados Unidos. A aposta em fico, que no era o foco da Sextante, foi certeira:

    o ttulo se transformou em um dos maiores fenmenos editoriais de todos os tempos.

    Mas no foi s aos livros que se dedicou. Com seu desejo de ajudar o prximo, Geraldo

    desenvolveu diversos projetos sociais que se tornaram sua grande paixo.

    Com a misso de publicar histrias empolgantes, tornar os livros cada vez mais acessveis

    e despertar o amor pela leitura, a Editora Arqueiro uma homenagem a esta figura

    extraordinria, capaz de enxergar mais alm, mirar nas coisas verdadeiramente importantes

    e no perder o idealismo e a esperana diante dos desafios e contratempos da vida.

  • A Natasha Tomic, primeira pessoa a juntar Rush e Paixo primeira vista. Voc me deu cobertura,

    mefezrir,ouviu minhas preocupaes e bebeu mais de umataa de vinho comigo. Voc passou de blogueira

    apoiadoraaamigaverdadeira.

  • 7Prlogo

    D izem que as crianas so os seres de corao mais puro. Que no odeiam de verdade, porque no compreendem o que sentem. Que perdoam e esquecem facilmente.

    Dizem esse monte de bobagens s para poderem colocar a cabea no travesseiro sem culpa. tudo para o bem deles. Essas frases reconfortantes so penduradas nas paredes e provocam sorrisos ao passarem por elas.

    J eu penso diferente. Para mim, as crianas amam como ningum mais. Elas amam com mais intensidade do que qualquer outra pessoa. Isso ver-dade. Eu sei. Porque vivi isso. Aos 10 anos, conheci o dio e tambm o amor. Ambos exaustivos. Ambos capazes de mudar a vida. E ambos com-pletamente ofuscantes.

    Olhando para trs, gostaria que algum estivesse l para ver como minha me plantara a semente do dio dentro de mim. Dentro da minha irm. Se algum tivesse nos salvado das mentiras e da amargura que ela incentivou em ns, talvez as coisas fossem diferentes. Para todos os envolvidos.

    Eu nunca teria agido de forma to tola. No teria sido culpa minha que uma garota tivesse que cuidar sozinha da me doente. No teria sido culpa minha que essa garota tivesse ficado ao lado do tmulo da me acreditando que a ltima pessoa no mundo que a amava estava morta. Eu no teria cul-pa pela destruio de um homem, cuja vida se transformaria numa casca quebrada e vazia.

    Mas ningum me salvou. Ningum nos salvou. Acreditamos nas mentiras; nos agarramos ao nosso dio. E eu acabei

    destruindo a vida de uma garota inocente. Dizem que voc colhe o que planta. Besteira. Porque eu deveria estar

    queimando no inferno pelos meus pecados. No deveria poder acordar todos os dias com essa mulher linda que me ama incondicionalmente. No deveria poder pegar meu filho no colo e desfrutar tanta alegria.

    Mas eu posso.

  • 8Porque, no fim, algum me salvou, ainda que eu no merecesse. Que inferno, era minha irm que deveria ter sido salva, mais do que ningum. Ela no agira levada pelo dio. No manipulara o destino de outra famlia sem se preocupar com as consequncias. Mas a amargura ainda a controla; j eu fui libertado. Por uma garota...

    Mas ela no apenas uma garota. um anjo. Meu anjo. Um anjo lindo, forte, corajoso e leal que entrou na minha vida em uma caminhonete, em-punhando uma arma.

  • 9Captulo 1

    E sta no uma histria de amor comum. Na verdade, to complica-da que nem chega a ser linda. Mas quando voc o filho bastardo do lendrio baterista de uma das bandas de rock mais amadas do mundo, de esperar que seus relacionamentos no sejam perfeitos. Voc at conhe-cido por isso. Acrescente mistura a me egosta, mimada e autocentrada que me criou, e o resultado no nada bom.

    Eu poderia comear esta histria por muitos lugares. No meu quarto, onde eu abraava minha irm, que vivia chorando com as palavras cruis da nossa me. Na porta de casa, de onde ela via as lgrimas lhe escorren-do pelo rosto meu pai me levar para passar o fim de semana, deixando-a sozinha. As duas coisas aconteciam com bastante frequncia e me marca-ram para sempre. Eu detestava ver minha irm chorar. No entanto, tive que aprender a lidar com isso.

    Tnhamos a mesma me, mas nossos pais eram diferentes. O meu era um roqueiro famoso, que me introduzia naquele mundo de sexo, drogas e rock and roll em um fim de semana ou outro e por um ms durante o vero. Ele nunca se esquecia de mim. Nunca inventava desculpas. Estava sempre presente. Por mais imperfeito que fosse, Dean Finlay sempre apa-recia para me buscar. Mesmo quando no estava sbrio.

    J o pai de Nan no se importava com a filha. Ela ficava sozinha quando meu pai me pegava, e, ainda que eu adorasse passar os dias com ele, ficava tris-te ao saber que Nan precisava de mim. Eu que era o pai dela. A nica pessoa em quem confiava para cuidar dela. E isso me fez amadurecer bem rpido.

    Quando pedia ao meu pai que a levasse junto, ele fazia uma expresso triste e balanava a cabea.

    No posso, filho. Bem que eu queria, mas sua me nunca vai permitir. E no dizia mais nada. Eu compreendia que, se minha me no deixava,

    no havia esperana. Ento, Nan ficava sozinha. Queria odiar algum por isso, mas era difcil odiar minha me. Ela era minha me, afinal de contas. E eu era uma criana.

  • 10

    Ento, descobri a quem direcionar o dio e o ressentimento por aquela injustia. Ao homem que nunca ia v-la. Aquele cujo sangue corria pelas veias dela, embora ele no a amasse o suficiente nem para mandar um carto de aniversrio. Ele tinha a prpria famlia agora. Nan fora v-los uma vez.

    Ela havia obrigado mame a lev-la at a casa do pai. Queria conversar, ver o rosto dele. Tinha certeza de que ele a amaria. No fundo, acho que Nan pensava que mame no havia contado a ele a respeito dela. Parecia viver num conto de fadas em que seu pai surgiria para salv-la. Para lhe dar o amor que ela tanto desejava.

    A casa dele era menor do que a nossa. Muito menor. Ficava a sete horas de viagem, numa cidadezinha do interior do Alabama. Para Nan, era per-feita. Mame achou-a pattica. Mas no era a casa que assombrava minha irm. No era a cerquinha branca que ela me descrevera em detalhes. Ou o aro de basquete do lado de fora e as bicicletas apoiadas na porta da garagem.

    Era a garota que abrira a porta. Tinha cabelos compridos, to louros que eram quase brancos. Nan achou que parecia uma princesa. Exceto pelos tnis sujos que estava calando. Minha irm nunca teve um par de tnis. A menina sorrira para ela, e Nan ficara momentaneamente encantada. Ento vira as fotos na parede. Fotos que mostravam a menina junto com outra exatamente igual a ela. E um homem segurando as mos das duas. Ele es-tava sorrindo.

    Era o pai delas. A garota que lhe tinha aberto a porta era uma das filhas que ele amava.

    Era bvio, at mesmo para o olhar juvenil de Nan, que ele estava feliz na-quelas fotos. No sentia falta da filha que deixara para trs. A filha de cuja existncia sua me insistia em dizer que ele sabia.

    E todas aquelas coisas de que nossa me tentara convenc-la ao longo dos anos e que Nan tinha se recusado a acreditar de repente fizeram sen-tido. Ela estava falando a verdade. Seu pai a ignorava porque tinha a vida dele. Uma esposa e aquelas duas filhas lindas e angelicais que se pareciam tanto com eles.

    Aquelas fotos torturaram Nan por anos depois disso. Mais uma vez, sen-ti vontade de odiar minha me por t-la levado at l. Por ter esfregado a verdade na cara dela. Pelo menos Nan era feliz enquanto vivia sua fantasia, mas perdeu a inocncia naquele dia. E o dio que eu sentia pelo pai dela e pela famlia dele comeou a crescer dentro de mim.

  • 11

    Aquelas garotas tiraram da minha irmzinha a vida a que ela tinha di-reito, um pai que pudesse am-la. Elas no o mereciam mais do que Nan. A mulher com quem ele se casara se aproveitava de sua beleza e das filhas para mant-lo afastado de Nan. Eu odiava todas elas.

    Acabei sendo levado pelo dio, mas, na verdade, a histria comea na noite em que Blaire Wynn entrou nervosa na minha casa com aquele mal-dito rostinho de anjo. Meu pior pesadelo...

    Eu dissera a Nan que no queria ningum em casa naquela noite, mas ela convidou as pessoas mesmo assim. Minha irmzinha nunca aceitava no como resposta. Recostado no sof, eu tinha estendido as pernas e bebia uma cerveja. Precisava ficar quieto um pouco para me certificar de que as coisas no sairiam do controle. Os amigos de Nan eram mais novos do que os meus. E s vezes podiam ser muito bagunceiros. Mas eu tentava deixar isso de lado porque a fazia feliz.

    A fuga de nossa me para Paris com o novo marido, o pai ainda ne-gligente de Nan, no contribua para melhorar o humor da minha irm. Aquilo era tudo em que eu podia pensar para alegr-la. Desejei que minha me tirasse os olhos do prprio umbigo pelo menos uma vez na vida.

    Rush, esta a Blaire, acho que talvez seja sua. Encontrei-a l fora com um ar meio perdido. A voz de Grant interrompeu meus pensamentos.

    Olhei para meu irmo postio e ento para a garota parada ao lado dele. J tinha visto aquele rosto antes. Ela estava mais velha, mas a reconheci.

    Merda. Ela era uma delas. No sabia como se chamavam, mas lembrava que

    eram duas. Esta era... Blaire. Olhei para Nan e a vi no muito longe fazendo uma careta. Isso no ia ser nada bom. Grant no tinha percebido quem era aquela garota?

    mesmo? respondi, pensando em como tir-la dali... e rpido. Nan estava prestes a explodir. Examinei a garota que foi uma fonte de

    sofrimento para minha irm durante quase toda a sua vida. Ela era des-lumbrante. Seu rosto em formato de corao adornava grandes olhos azuis cujos clios eram os mais longos que eu j tinha visto. Cachos louros pla-tinados roavam seus seios muito bonitos, que ela exibia em uma regata justa. Caramba. , ela precisava ir embora.

    Ela at que gata, mas muito novinha. No d para dizer que minha.

  • 12

    A garota se encolheu. Se eu no a estivesse observando to atentamente, teria ficado sem reao. Aquele seu olhar perdido no ajudava. Ela havia entrado naquela casa sabendo que no era bem-vinda. Por que parecia to inocente?

    Ah, ela sua, sim. Considerando que o papai dela fugiu para passar as prximas semanas em Paris com a sua mame... eu diria que agora ela sua, sim. Eu bem que ofereceria a ela um quarto na minha casa, se voc preferisse. Quer dizer, se ela prometer deixar a arma na picape. Grant estava achando aquilo divertido. Que escroto. Ele sabia muito bem quem ela era. E adorava o fato de que isso incomodava Nan. Grant era capaz de qualquer coisa para irrit-la.

    Nem por isso ela minha respondi. Ela precisava se mancar e ir embora.

    Grant pigarreou. Est de brincadeira, no est? Tomei um gole de cerveja e ergui os olhos para ele. No estava a fim de

    dramalhes. Aquilo j tinha ido longe demais. At mesmo para Grant. A garota precisava ir embora.

    Blaire parecia querer sair correndo. Aquilo no era o que ela esperava. Teria mesmo pensado que seu velho e querido pai estaria ali? A histria toda parecia conversa fiada. Afinal, ela convivera com o sujeito por catorze anos. Eu o conhecia havia apenas trs e sabia que ele no valia nada.

    Estou com a casa cheia de convidados hoje. E a minha cama j est lotada informei a ela, olhando de novo para meu irmo. Acho que melhor ela procurar um hotel at eu conseguir falar com o papai dela.

    Blaire pegou a mala que Grant estava segurando. Ele tem razo. melhor eu ir embora. Foi uma pssima ideia disse,

    com a voz um pouco trmula. Grant no soltou a mala. Blaire puxou-acom fora. Pude ver seus olhos

    marejados, e fiquei com a conscincia pesada. Deixei passar alguma coisa? Ela achava de verdade que a receberamos de braos abertos?

    Blaire correu para a sada. Vi a alegria de Nan quando a outra passou por ela.

    J vai, to cedo? Nan lhe perguntou. Blaire no respondeu. Voc um cretino insensvel. Sabia disso? Grant rosnou ao meu lado.

  • 13

    Eu no estava a fim de discutir. Nan se aproximou com um sorriso triun-fante. Tinha adorado aquela cena. Compreendi o motivo: Blaire era uma lembrana de tudo o que Nan no tivera quando criana.

    Ela continua exatamente como me lembro: plida e sem graa mur-murou minha irm, afundando ao meu lado no sof.

    Grant bufou. Voc to cega quanto m. Pode odi-la vontade, mas ela de dar

    gua na boca. No comece alertei Grant. Nan podia parecer feliz, mas eu sabia que,

    se ela parasse um pouco para pensar, acabaria desabando. Se voc no for atrs dela, eu vou. E vou levar aquela bunda gostosa

    para casa. Ela no o que vocs esto pensando. Eu conversei com ela. Blaire no sabe de nada. O idiota do pai de vocs duas que pediu que ela viesse para c. Ningum capaz de mentir to bem assim disse Grant olhando com raiva para Nan.

    Papai nunca pediria isso. Ela veio para c porque interesseira. Sen-tiu o cheiro do dinheiro. Viram o que ela estava vestindo? Nan torceu o nariz de nojo.

    Grant deu uma risada. Claro que sim, vi o que ela estava vestindo. Por que acha que eu quero

    tanto lev-la para casa? Ela muito gostosa, Nan. No estou nem a para o que voc diz. A garota inocente, est perdida e tem um corpo sensacional.

    Grant se virou e seguiu na direo da porta. Ele ia atrs dela. Eu no po-dia permitir. Era fcil engan-lo. Concordei que a garota era um presente para os olhos, mas ele estava pensando com o pau.

    Pare. Eu vou atrs dela avisei, me levantando. O qu? questionou Nan, com um tom de voz horrorizado. Grant deu um passo para trs e me deixou passar por ele. No olhei para

    minha irm. Ele estava certo. Eu precisava ver se Blaire estava fingindo ou se fora chamada para vir para minha casa pelo idiota do pai dela. E tambm queria dar uma olhada nela sem plateia.

  • 14

    Captulo 2

    B laire andava na direo de uma picape velha e detonada quando abri a porta de casa e sa. Fiz uma pausa, imaginando se a caminhonete era dela ou se algum a havia levado at ali. Grant no tinha mencionado mais ningum. Estreitei os olhos na escurido para tentar enxergar algum den-tro do veculo, mas no consegui assimilar nada daquela distncia.

    Ela abriu a porta do motorista e fez uma pausa para respirar fundo. Foi quase dramtico, ou pelo menos teria sido se ela soubesse que estava sendo observada. No entanto, pela forma como os ombros dela arquearam antes de entrar na picape, Blaire no fazia ideia.

    Mas, por outro lado, talvez sim. Eu no sabia nada sobre aquela garota. Apenas que o pai dela no passava de um aproveitador. Ele aceitava o afeto ou amor que minha me e Nan lhe davam, mas nunca retribua. O sujeito era frio. Eu via isso nos olhos dele. No se importava nem um pouco com Nan ou com a idiota da minha me. Estava usando as duas.

    A garota era linda. Ningum poderia questionar isso. Mas ela tambm havia sido criada por aquele homem. Podia ser uma grande manipuladora. Usar a beleza para conseguir o que queria, sem se importar com quem po-deria machucar pelo caminho.

    Desci as escadas e andei na direo da picape. Blaire ainda estava sentada l, e eu queria que fosse embora antes que Grant sasse e casse em seu golpe. Acabaria levando-a para casa. E ela o usaria at ficar entediada. Eu no estava protegendo apenas Nan, mas Grant tambm. Ele era um alvo fcil para ela.

    Blaire se virou, e nossos olhares se cruzaram logo antes de ela soltar um grito. Seus olhos vermelhos davam a real impresso de que estava choran-do de verdade. Como no havia ningum ali fora, talvez aquilo no fosse mesmo um golpe.

    Esperei que ela fizesse algo alm de me encarar como se o estranho fosse eu, quando ela que estava na minha propriedade. Como se tivesse lido a minha mente, ela voltou para o volante e girou a chave na ignio.

    Nada.

  • 15

    Comeou a ficar histrica ao tentar fazer a picape pegar, mas, pelo baru-lho, imaginei que no houvesse uma gota de combustvel no tanque. Tal-vez estivesse desesperada. Eu ainda no confiava nela.

    V-la frustrada dando tapas no volante foi uma cena engraada. De que adiantaria aquilo se a idiota havia deixado o tanque vazio?

    Ela finalmente abriu a porta da picape e olhou para mim. Se no era to inocente quanto aparentava, a garota era uma tima atriz.

    Problemas? perguntei. A expresso em seu rosto denunciava que ela no queria me dizer que

    no conseguia ir embora. Lembrei a mim mesmo que ela era filha de Abe Wynn. A que ele havia criado. A que ele preferira, abandonando Nan du-rante todos aqueles anos. Eu no sentiria pena dela.

    Acabou a gasolina disse ela, baixinho. Fala srio. Se a deixasse voltar para casa, eu teria que lidar com Nan. Do

    contrrio, seria Grant quem cuidaria dela. E ento era bem provvel que ela se aproveitasse dele.

    Quantos anos voc tem? perguntei. Eu j deveria saber a resposta, mas, droga, pensei que ela fosse mais velha do que parecia.

    Os olhos arregalados e a expresso assustada faziam com que Blaire pa-recesse mais nova. A forma como ela preenchia a regata e os jeans era o nico sinal de que ela era ao menos maior de idade.

    Dezenove respondeu. Srio? retruquei, sem saber se acreditava nela. Srio. A testa franzida era uma graa. Droga. Eu no queria achar

    que ela era uma graa. Ela significava uma porra de uma complicao da qual eu no precisava.

    Foi mal. que voc parece mais nova disse, abrindo um sorriso ma-licioso. Ento passei meus olhos pelo corpo dela. No queria que ela pen-sasse que eu era algum em quem podia confiar. No era. Nunca seria. Retiro o que eu disse. Seu corpo tem toda a pinta de 19. o seu rosto que parece muito jovem. Voc nunca usa maquiagem?

    Ela no se ofendeu, mas franziu a testa ainda mais. No era o efeito de-sejado.

    A gasolina acabou. Eu tenho 20 dlares na bolsa. Meu pai fugiu e me abandonou depois de me dizer que me ajudaria. Acredite em mim: ele era a LTIMA pessoa para quem eu pediria ajuda. E no, eu no uso maquia-

  • 16

    gem. Tenho problemas mais graves no momento do que ficar bonita. E agora, voc vai chamar a polcia ou um reboque? Se eu puder escolher, prefiro a polcia.

    Blaire tinha mesmo sugerido que eu chamasse a polcia? E era mesmo desprezo pelo querido papai que ouvi na voz dela? Tinha quase a maldita certeza de que sim. Talvez ele no tenha sido o modelo de pai que Nan imaginara ao fazer aquela curta visita quando criana. Parecia que Abe estava na lista negra de Blaire.

    Eu no gosto do seu pai e, pelo tom da sua voz, voc tambm no ponderei, trabalhando com a ideia de que talvez ela fosse outra vtima de Abe Wynn. Ele abandonara Nan e parecia ter abandonado aquela filha ali tambm. Eu estava prestes a fazer algo de que me arrependeria.

    Tem um quarto vazio hoje noite. Vai ficar vazio at a minha me vol-tar. Eu no peo para a empregada dela vir quando ela est viajando. Nas frias dela, Henrietta s vem fazer faxina uma vez por semana. Voc pode ficar no quarto debaixo da escada. pequeno, mas tem cama.

    A descrena e o alvio que atravessaram o rosto dela por pouco fizeram a ideia de enfrentar Nan valer a pena. Embora eu tivesse quase certeza de que as duas tinham sido abandonadas pelo pai, sabia que minha irm jamais aceitaria isso. Ela estava determinada a odiar algum, e Blaire acabaria pa-gando o pato.

    Minha alternativa esta picape. Posso garantir a voc que o que est me oferecendo bem melhor. Obrigada respondeu ela com a voz tensa.

    Porra. Eu ia mesmo deixar essa garota dentro de uma picape? Era perigoso. Cad sua mala? indaguei, querendo acabar logo com aquilo e ir con-

    versar com Nan. Blaire fechou a porta da picape e foi at a traseira pegar a mala. No ha-

    via como aquele corpinho frgil levant-la por cima da carroceria. Estendi o brao por trs dela e peguei a bagagem.

    Ela se virou, e o olhar espantado me fez sorrir. Pisquei para ela. Posso carregar a sua mala. No sou to babaca assim. O-obrigada gaguejou, sem tirar aqueles olhos imensos inocentes de

    cima de mim. Caramba, Blaire tinha clios longos. No costumava ver garotas sem ma-

    quiagem com frequncia. A beleza natural de Blaire era espantosa. Eu pre-cisava me lembrar de que ela representava problemas. Tinha que manter

  • 17

    distncia. Deveria ter deixado que ela pegasse a prpria mala. Se Blaire me achasse um cretino, ficaria longe.

    Ah, que bom que voc a deteve. Eu estava dando cinco minutos antes de sair para me certificar de que no tinha afugentado totalmente a meni-na disse Grant, me tirando do transe a que aquela garota me submetera. Puta que pariu, eu precisava parar com essa merda.

    Ela vai ficar no quarto da Henrietta at eu conseguir falar com o pai dela e dar algum outro jeito respondi, entregando a mala para Grant. Tome, mostre o quarto a ela. Tem gente me esperando.

    No olhei novamente para Blaire. Tambm no fiz contato com Grant. Precisava ficar longe dela. E precisava falar com Nan. Ela no ia ficar feliz, mas de jeito nenhum eu deixaria aquela garota dormir na picape. Ela cha-maria ateno. Era maravilhosa e incapaz de cuidar de si mesma. Droga! Por que eu tive que trazer Abe Wynn para as nossas vidas? Era ele que estava causando toda essa merda.

    Nan estava parada na porta com os braos cruzados sobre o peito, me fi-tando. Eu a queria irritada. Enquanto estivesse brava comigo, no choraria. No conseguia lidar com ela quando chorava. Era sempre eu que tentava consol-la desde que era pequena. Quando Nan chorava, eu imediatamen-te comeava a tentar consertar as coisas.

    Por que ela ainda est aqui? Nan perguntou, olhando por cima do meu ombro antes que eu pudesse fechar a porta e esconder o fato de que Grant estava vindo com Blaire.

    Precisamos conversar. Segurei o brao dela e a puxei para longe da porta, na direo da escada. L em cima. Voc vai ficar gritando, e no quero escndalos disse a ela, certificando-me de usar uma voz sria.

    Minha irm franziu a testa e subiu as escadas pisando duro, como uma menina de 5 anos.

    Eu a segui, esperando que Nan ficasse longe da porta o suficiente antes que ela se abrisse. S consegui respirar fundo quando ela entrou em seu antigo quarto de quando esta era nossa casa de veraneio. Antes de eu ser maior de idade e assumir o que era meu.

    Voc engoliu o papo dela, no foi? Grant convenceu voc! Eu devia ter ido atrs dele. Ele um idiota. Est fazendo isso s para me atingir dispa-rou ela antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

    Ela vai ficar no quarto embaixo da porra da escada. Nem a colocarei

  • 18

    num quarto de hspedes aqui em cima. E s at eu encontrar Abe e des-cobrir o que fazer. A picape no tem gasolina e ela est sem dinheiro para ficar num hotel. Se quer sentir raiva de algum, timo, mas desconte no maldito do seu pai! Eu no pretendia levantar a voz, mas, quanto mais pensava no Abe fugindo para Paris sabendo que a filha estava vindo para c numa picape caindo aos pedaos e sem dinheiro, mais puto eu ficava. Alguma coisa poderia ter acontecido com ela. Ela era to frgil e carente...

    Voc a achou gostosa. Eu vi o jeito que voc olhou para ela. No sou burra. s isso disse Nan, antes de fazer beicinho. A presena dela me magoa, Rush. Voc sabe disso. Ela teve o papai por dezesseis anos. Agora a minha vez!

    Balancei a cabea, sem acreditar. Nan achava que tinha Abe agora? S-rio? Ele estava viajando, aproveitando Paris com o dinheiro da minha me, e minha irm pensava que por isso ela havia vencido?

    Ele no passa de um fracassado, Nan. Blaire teve aquele idiota como pai por dezesseis anos. Isso no significa que ela ganhou alguma coisa. Ele a mandou vir para c prometendo ajud-la. Sabia que era uma garotinha indefesa com grandes olhos tristes da qual qualquer homem pode tirar van-tagem. Segurei a lngua, porque j estava falando demais.

    Nan arregalou os olhos. Puta merda! No v com-la! Entendeu? No tenha nada com ela! Ela

    vai embora assim que voc puder expuls-la. Eu no a quero aqui. Conversar com minha irm era como conversar com uma parede. Ela

    era muito teimosa. Eu no aguentava mais. Nan podia fazer todas as exi-gncias que quisesse, mas a casa era minha. O apartamento dela era meu. Tudo na vida dela era meu. Eu estava no controle. No ela.

    Volte para a sua festa e os seus amigos. Eu vou para a cama. E me deixe lidar com a situao do jeito certo disse, e ento me virei e fui andando em direo porta.

    Mas voc vai com-la, no vai? Nan perguntou atrs de mim. Eu queria que ela parasse de usar aquela palavra para se referir a Blaire,

    porque, puta que pariu, estava me fazendo pensar naqueles cabelos louros clarssimos no meu travesseiro e naqueles grandes olhos me olhando du-rante o orgasmo. No respondi. Eu no ia comer Blaire Wynn. Eu ficaria o mais longe possvel dela. Mas Nan tambm no me daria ordens. Eu fazia as minhas prprias escolhas.

  • 19

    Captulo 3

    A msica estava bombando l embaixo, mas eu sabia que no escu-taria nada do quarto. No estava a fim de toda aquela merda. No estava a fim antes de Blaire Wynn aparecer, e com certeza no estava a fim agora.

    A est voc arrulhou uma mulher, e, quando me virei, uma das ami-gas de Nan vinha na minha direo. A saia era to curta que a bunda quase aparecia. Foi o nico motivo pelo qual prestei ateno nela. Era difcil no notar uma bunda assim. Mas no me lembrava do nome dela.

    Est perdida? perguntei. No gostei de ela ter subido at ali. Tinha imposto a regra de manter a festa longe do meu espao.

    Ela empinou o peito e mordeu o lbio inferior antes de piscar os olhos para mim. Com longos clios postios. Nada parecidos com os de Blaire. Porra. Por que eu estava pensando em Blaire?

    Estou exatamente onde quero estar. Com voc disse ela em um sus-surro rouco, antes de apertar os seios contra o meu peito e descer a mo at o meu pau. J ouvi falar sobre como voc sabe fazer uma mulher se sentir. Como voc faz com que ela d gritos de prazer provocou, me apertando suavemente. Me faa gozar, Rush.

    Segurei uma mecha dos cabelos louros dela. No eram to louros quan-to... no. Caramba, eu estava fazendo aquilo de novo. Comparando tudo com Blaire. Era uma questo que eu precisava controlar... imediatamente.

    Implore. Por favor, Rush ela pediu rapidamente, acordando meu pau desinte-

    ressado. Eu quero que voc me coma, por favor. Ela era boa. Quase parecia uma atriz porn. s sexo, gata. Nada alm disso. E s esta noite avisei. Sempre ga-

    rantia que elas entendessem as regras. No repetiramos aquilo, a menos que ela fosse muito boa.

    Humm, vou lembr-lo de que disse isso falou ela, piscando para mim como se no acreditasse. Ou ela era incrvel na cama ou estava sendo

  • 20

    otimista. Eu raramente voltava para uma segunda rodada. Onde o seu quarto? perguntou, dando um beijo no meu peito.

    No vou levar voc para o meu quarto informei, empurrando-a de costas at ela entrar no quarto de hspedes que eu usava para sexo. Garotas no entravam no meu quarto. Era um lugar s meu, e eu no queria lem-branas de mulheres l em cima.

    Ah, Sr. Impaciente disse ela, rindo, enquanto tirava a saia e lambia os lbios. Sou especialista em boquete.

    Tirei a camisa e me sentei na cama. Prove respondi.

    O cheiro do perfume atingiu o meu nariz, e eu estreitei os olhos contra o sol, amaldioando quem quer que tivesse deixado as malditas cortinas abertas. Rolei na cama, e o corpo nu ao meu lado fez um barulho. Ela havia passado a noite. Merda. Eu detestava aquelas que no iam embora. Eram as grudentas. As que ficavam pensando que era mais do que uma trepada. Achava mesmo que ficar de joelhos e me chupar sem nem ao menos dizer seu nome lhe daria pontos?

    Levantei, encontrei meu jeans e me vesti. A garota bocejou, e eu decidi deixar a camisa l e sair correndo enquanto dava tempo. Ela entenderia a indireta quando no me encontrasse. Abri a porta lentamente, sa para o corredor e fui at a escada. Se eu fosse para o meu quarto, ela iria atrs ba-ter na minha porta. Eu poderia ir at a praia dar uma corrida. Mas, antes, precisava de caf.

    Preparei uma xcara, e segui em direo s portas francesas que davam para a varanda. No instante em que cheguei porta, eu a vi. Os cabelos compridos e sedosos balanavam com a brisa, enquanto ela admirava o mar. Eu adorava aquela vista, me sentia em paz. Imaginei o que ela estava pensando. Achava que Abe no voltaria? Conseguiria dar um jeito de ir embora? Ou era interesseira como o pai?

    Depois de uma noite de sexo com uma amiga sem nome da minha irm, fiquei pensando em como me aproximaria de Blaire. Ela no se atiraria para cima de mim, e com certeza no se ajoelharia para me chupar se eu mandasse. Por que caralho a ideia de inocncia me atraa? Isso era compli-cado. Eu no gostava de nada complicado. Mas no conseguia ignor-la. No nessa manh. Precisava ver o rosto dela de novo e constatar se era

  • 21

    sincero. Estaria chateada por ter tido que dormir embaixo da escada? Mos-traria as garras agora?

    Essa vista nunca fica velha comentei, fazendo-a se virar, boquiaberta. Eu a assustara. Comecei a rir quando seu olhar desceu pelo meu peito

    nu e parou no abdmen. Mas que diabos? Ela estava me conferindo. Talvez no fosse to inocente assim. A ideia me embrulhou o estmago.

    Est gostando da vista? perguntei, disfarando minha decepo. Ela piscou rapidamente, como se despertando de um transe, e desviou

    o olhar para o meu rosto novamente. Detestei a ideia de ela se atirar para cima de mim. No queria que ela fosse como as outras. Por que diabos isso importava, eu no sabia, mas importava.

    No quero interromp-la. Eu tambm estava gostando disse a ela, sem conseguir disfarar o incmodo.

    Tomei um gole de caf. Ela ficou com o rosto vermelho e voltou-se de frente para o mar. Por que o simples fato de que ela havia sido flagrada e ficado envergonhada me deixou to feliz, cacete? Droga. No consegui deixar de rir.

    Ah, voc est a. Senti sua falta na cama quando acordei. Reconheci a voz da noite anterior. Merda. Eu me distrara, e ela havia me encontrado.

    Blaire se virou de novo para olhar para mim, e ento seus olhos se vol-taram para a garota que se esfregava no meu corpo. Isso era timo. Ela precisava ver o babaca que eu podia ser. Era isso que eu queria. Assim ela ficaria longe de mim. Mas o lampejo de interesse nos olhos de Blaire quan-do a garota passou as unhas pelo meu peito me fizeram sentir coisas que eu no queria admitir.

    Est na hora de voc ir embora falei, afastando a mo dela e apon-tando a porta da frente.

    Como ? rebateu a garota, com surpresa na voz, como se eu no ti-vesse avisado na noite anterior que aquilo no aconteceria de novo.

    Voc conseguiu o que queria vindo aqui, gata. Queria que eu te comes-se. Conseguiu. Agora j deu para mim.

    Voc s pode estar de sacanagem! disparou, furiosa. Talvez ela no tivesse acreditado em mim. Azar o dela.Balancei a cabea diante da minha prpria estupidez e tomei mais um

    gole de caf. Um dia, eu aprenderia que fazer sexo casual com essas gru-dentas que passavam a noite era um problema.

  • 22

    No pode fazer isso comigo. Nossa noite foi incrvel. Voc sabe que foi choramingou ela, estendendo a mo para o meu brao, que eu logo afastei. No era mais hora de Implore ao Rush. Tnhamos feito isso na noite anterior. Fora divertido. Ela gozara tantas vezes que perdera a conta. Mas, para mim, tinha sido medocre.

    Eu avisei ontem noite quando voc chegou implorando e tirando a roupa... A nica coisa que iria acontecer seria uma noite de sexo. E s fa-lei, irritado por precisar lembr-la disso.

    No olhei de novo para ela. Fiquei admirando o mar e tomei alguns go-les do caf como se a garota j no estivesse mais ali. Ela saiu pisando duro.

    A expresso horrorizada no rosto de Blaire fez com que eu logo me recu-perasse da interrupo feita pelo meu erro da noite anterior.

    Ento, dormiu bem? perguntei. O quarto era apertado. Alm disso, a escada e o barulho da casa prova-

    velmente perturbaram o sono dela. Era sua chance de reclamar. Mostrar a que veio.

    Voc faz isso sempre? Blaire questionou, com uma expresso irritada no rosto. Que linda... caramba.

    O qu? Perguntar s pessoas se elas dormiram bem? Eu no ia deixar que o rostinho dela me afetasse. Ela iria embora assim que eu conversasse com Abe. Era problema dele, no meu. O fato de que eu gostava de olhar para ela era mais um motivo para que eu a mandasse embora dali.

    Transar com garotas e depois jog-las fora feito lixo? retrucou. Os grandes olhos dela se arregalaram, como se ela tivesse ficado chocada

    com as palavras que saram da prpria boca. Tive vontade de rir. Ela tornava difcil manter o foco. Larguei a xcara e

    deitei na espreguiadeira. A melhor estratgia era fazer Blaire me odiar. Eu estaria fazendo um favor a ns dois.

    E voc, sempre mete o nariz onde no chamada? disparei. Em vez da raiva que eu esperava que flamejasse em seus olhos, vi

    remorso. Srio? Eu estava sendo um babaca. Ela no devia se sentir culpada por ter chamado a minha ateno por causa da merda que eu havia feito.

    No, em geral, no. Desculpe respondeu com um meio sorriso cons-trangido, entrando em casa rapidamente.

    Que porra foi aquela? Ela tinha mesmo acabado de pedir desculpas? De

  • 23

    onde vinha essa garota? Mulheres no costumam agir assim. Ningum en-sinara a ela que no devia baixar a guarda diante de valentes?

    Fiquei de p e me virei para olhar para dentro. Ela estava recolhendo garrafas vazias e lixo espalhado pela casa. Eu detestava baguna, mas tenta-va ignorar quando Nan dava festas.

    No precisa fazer isso. Henrietta vem amanh avisei, detestando v--la limpar tudo.

    Blaire colocou as garrafas no lixo que havia juntado e olhou novamente para mim.

    S pensei que poderia ajudar. Eu ia ligar para o pai dela naquela manh. Precisava tir-la da minha

    casa. At l, garantiria que ela me odiasse. Eu j tenho empregada. No estou procurando outra, se isso que est

    pensando. O tom duro que usei me deu vontade de recuar, mas mantive a expresso entediada no rosto. Eu a havia aperfeioado anos atrs. No podia olhar para Blaire naquele momento.

    No, eu sei. S estava tentando ser prestativa. Voc me deixou dormir na sua casa ontem. Ela falou com a voz suave e suplicante, como se pe-disse que eu acreditasse nela. Merda.

    Precisvamos estabelecer algumas regras antes que eu ferrasse tudo. Sobre isso... a gente precisa conversar. Est bem sussurrou. Caramba, por que ela soava to derrotada? Eu nem havia chutado o ca-

    chorrinho dela. Eu no gosto do seu pai. Ele um aproveitador. Minha me sempre

    arruma homens assim. um talento dela. Mas acho que voc j sabe dis-so sobre ele. Ento estou curioso: por que voc veio pedir a ajuda dele se sabia como ele era?

    Eu precisava que ela me contasse a verdade. Ou flagr-la em uma men-tira. No poderia mant-la aqui por muito mais tempo. As pernas com-pridas dela e os grandes olhos azuis estavam me deixando maluco.

    Minha me acabou de morrer. De cncer. Trs anos de tratamento custam caro. A nica coisa que tnhamos era a casa que a minha av nos deixou. Tive que vender a casa e todo o resto para pagar as contas de hospi-tal da minha me. No vejo o meu pai desde que ele nos abandonou, cinco anos atrs. Mas ele agora o meu nico parente. No tenho mais ningum

  • 24

    a quem pedir ajuda. Preciso de um lugar para ficar at conseguir um em-prego e receber alguns salrios. A vou arrumar a minha prpria casa. Mi-nha inteno nunca foi passar muito tempo aqui. Sabia que o meu pai no iria querer que eu ficasse. Ela fez uma pausa e riu, mas no de verdade. Foi uma risada cheia de dor, o que s me revirou o estmago. Mas jamais imaginei que ele fosse fugir antes de eu chegar.

    Puta que pariu. Eu ia matar Abe Wynn. O desgraado abandonou a filha enquanto ela cuidava da me com cncer? Que tipo de monstro faz esse tipo de merda? Eu no podia expuls-la. Iria, no entanto, transformar a vida de Abe num verdadeiro inferno. O idiota ia pagar por isso.

    Sinto muito pela sua me consegui dizer, apesar do sangue fervendo nas veias. Deve ser duro. Voc disse que ela passou trs anos doente. Desde que voc tinha 16? Ela era uma criana. Ele a abandonara, e ela era apenas uma criana.

    Blaire assentiu com a cabea e ficou me olhando com cautela. Voc est planejando arrumar um emprego e uma casa para morar

    repeti, querendo lembrar a mim mesmo que este era o plano dela. Eu poderia ajud-la por algum tempo at que conseguisse realiz-lo. Algum precisava ajud-la, caramba. Ela estava sozinha, porra. O quarto debaixo da escada seu por um ms. Nesse tempo, voc precisa arrumar um em-prego e juntar dinheiro suficiente para alugar um apartamento. Destin no fica muito longe daqui e o custo de vida l mais acessvel. Se os nossos pais voltarem antes disso, imagino que seu pai poder ajudar voc.

    Blaire soltou um pequeno suspiro, relaxando os ombros. Obrigada. No consegui olhar para ela. Eu tinha vontade de matar Abe com as

    minhas prprias mos. Naquele momento, no tive como priorizar Nan e sua carncia de um pai. O homem que ela queria como pai era um filho da me. Um filho da me que eu ia fazer pagar por toda essa merda.

    Tenho umas coisas para fazer. Boa sorte na caa ao emprego disse, antes de me afastar dela. Precisava fazer uma ligao.

  • INFORMAES SOBRE A ARQUEIRO

    Para saber mais sobre os ttulos e autoresda EDITORA ARQUEIRO,

    visite o site www.editoraarqueiro.com.br e curta as nossas redes sociais.

    Alm de informaes sobre os prximos lanamentos, voc ter acesso a contedos exclusivos e poder participar

    de promoes e sorteios.

    www.editoraarqueiro.com.br

    facebook.com/editora.arqueiro

    twitter.com/editoraarqueiro

    instagram.com/editoraarqueiro

    skoob.com.br/editoraarqueiro

    Se quiser receber informaes por e-mail, basta se cadastrar diretamente no nosso site

    ou enviar uma mensagem para [email protected]

    Editora Arqueiro Rua Funchal, 538 conjuntos 52 e 54 Vila Olmpia

    04551-060 So Paulo SP Tel.: (11) 3868-4492 Fax: (11) 3862-5818

    E-mail: [email protected]