teeb para setor negocios completo

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 d   o  s   e  c  o  s  s  i   s  t  e  m  a  s   e   d   a   b  i   o  d   i   v  e  r  s  i   d   a  d   e    A   e  c  o  n  o  m  i   a    TEEB P ARA O SETOR DE NEGÓCIOS http://www.cni.org.br/portal/data/files/FF8080812 B1399D8012B20CA F9C54EEB/TEEB-para-se tor-negocios-Po rtugues.pdf 

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TEEB PARA O SETOR DE NEGCIOS

as e m ad ia te id is s o ms s v e r on co di ec e io A os b d da e

Fotos: Capa e ttulo, todas as imagens PNUMA/Topham

A ECONOMIA DOS ECOSSISTEMAS E DA BIODIVERSIDADE TEEB PARA O SETOR DE NEGCIOS

as e m ad i a te id m s s o ssi er on co div ec e io A os b d da e

Citao Este relatrio deve ser mencionado conforme abaixo: TEEB A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade. Relatrio para o Setor de Negcios Autoria Este relatrio foi escrito por: Joshua Bishop (International Union for Conservation of Nature), Nicolas Bertrand (United Nations Environment Programme), William Evison (PricewaterhouseCoo-pers), Sean Gilbert (Global Reporting Initiative), Annelisa Grigg (Global Balance), Linda Hwang (Business for Social Responsibility), Mikkel Kallesoe (World Business Council for Sustainable Development), Alexandra Vakrou (European Commission), Cornis van der Lugt (United Nations Environment Programme), Francis Vorhies (Earthmind) Coordenador do TEEB Relatrio para o Setor de Negcios: Joshua Bishop (International Union for Conservation of Nature) Termo de Responsabilidade: As opinies expressas neste artigo so exclusivamente as de seus autores e no devem, em nenhuma circunstncia, ser tomadas como a posio oficial das organizaes participantes. Layout: www.dieaktivisten.de Traduzido e impresso com o apoio da Confederao Nacional da Indstria CNI

TEEB sediado pelo Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente e conta com o apoio da Comisso Europia, do Ministrio Federal do Meio Ambiente da Alemanha e do Departamento para o Meio Ambiente, Alimentao e Assuntos Rurais do Reino Unido; Ministrio para Assuntos Externos da Noruega; Programa Interministerial para a Biodiversidade da Holanda; e a Agncia Internacional de Cooperao para o Desenvolvimento da Sucia.

A ECoNoMIA DoS ECoSSISTEMAS E DA BIoDIVERSIDA D ETEEB PARA o SEToR DE NEGCIoS

Captulo 1 Captulo 2 Captulo 3 Captulo 4 Captulo 5 Captulo 6 Captulo 7

Negcios, biodiversidade e servios ecossistmicos Impactos e relao de dependncia da atividade empresarial com a biodiversidade e os servios ecossistmicos Medida e avaliao dos impactos e da interdependncia da biodiversidade e dos servios ecossistmicos Redimensionando os riscos da perda da biodiversidade e dos ecossistemas para as empresas Como a biodiversidade pode ampliar as oportunidades de negcio Negcios, biodiversidade e desenvolvimento sustentvel Uma receita para biodiversidade e crescimento empresarial

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Captulo 1: Negcios, biodiversidade e servios ecossistmicosCoordenador do TEEB para o setor de negcios: Joshua Bishop (International Union for Conservation of Nature) Editores: Joshua Bishop (IUCN), William Evison (PricewaterhouseCoopers) Autora colaboradora: olivia White (PricewaterhouseCoopers) Agradecimentos: Annika Andersson (Vattenfall), Celine Tilly (Eiffage), Christoph Schrter-Schlaack (UFZ), Daniel Skambracks (KfW Bankengruppe), Deric Quaile (Shell), Dorothea Seebode (Philips), Elaine Dorward-King (Rio Tinto), Gemma Holmes (PricewaterhouseCoopers), Grard Bos (Holcim), Jennifer McLin (IUCN), Juan Gonza- lezValero (Syngenta), Juan Marco Alvarez (IUCN), Jun Hangai (Nippon Keidanren), Kerstin Sobania (TUI), Kii Hiyashi (Nagoya University), Lloyd Timberlake (WBCSD), Margaret Adey (Cambridge U.), Monica Barcellos (UNEP-WCMC), Naoki Adachi (Responsibility), Nina Springer (Exxon/IPIECA), oliver Schelske (SwissRe), olivier Vilaca (WBCSD), Paul Hohnen, Per Sandberg (WBCSD), Polly Courtice (Cambridge U.), Ravi Sharma (CBD Sec.), Roberto Bossi (ENI), Ruth Romer (IPIECA), Ryo Kohsaka (Nagoya City U.), Sachin Kapila (Shell), Sagarika Chatterjee (F&C Investment), Simon Anthony, Toby Croucher (Repsol/IPIECA), Valerie David (Eiffage), Virpi Stucki (IUCN) Iseno de Responsabilidade: As opinies expressas neste relatrio so de responsabilidade exclusiva dos autores e no refletem necessariamente a posio oficial das organizaes envolvidas. A edio final do TEEB para o Setor de Negcios ser publicada pela Earthscan. Informaes adicionais ou comentrios que, na opinio do leitor, devam ser considerados para incluso no relatrio final devem ser enviados por correio eletrnico at 6 de setembro de 2010 para: [email protected] TEEB sediado pelo Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente e conta com o apoio da Comisso Europeia; do Ministrio Federal do Meio Ambiente da Alemanha; do Departamento para o Meio Ambiente, Alimentao e Assuntos Rurais do Reino Unido; do Departamento para o Desenvolvimento internacional do Reino Unido; do Ministrio para Assuntos Externos da Noruega; do Programa Interministerial para a Biodiversidade da Holanda e da Agncia Internacional de Cooperao para o Desenvolvimento da Sucia.

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A ECONOMIA DOS ECOSSISTEMAS E DA BIODIVERSIDADE

Captulo 1Negcios, biodiversidade e servios ecossistmicos

Contedo Mensagens-chave 1.1 Contextodorelatrio 1.2 Abordagem,estruturaecontedo 1.2.1Definies 1.2.2Pressupostos 1.2.3Metodologia 1.2.4Objetivosequestes-chave 1.2.5Pblico 1.3 Biodiversidadeeecossistemasemummundoemevoluo 1.3.1Percepesdelderesempresariaissobrebiodiversidadeeecossistemas 1.3.2Oambientedenegciosemergente:quetendnciassoimportantes? 1.3.3Conexesentreastendnciasesuasrelaescomosnegcioseabiodiversidade 1.3.4Mudanasnasprefernciasdosconsumidores:implicaesparaosnegcioseparaa biodiversidade 1.4 Dasprincipaistendnciasaosvaloresempresariais Referncias Figuras Figura1.1OpiniodosCEOsglobaissobreaameaadaperdadebiodiversidadeparaasempresas Figura1.2OpiniesdosCEOssobreaproteogovernamentaldabiodiversidadeedosecossistemas Figura1.3Relaesentreaperdadabiodiversidadeedosecossistemaseoutrastendnciasimportantes Tabela Tabela1.1Principaistendnciasesuaspotenciaisimplicaesparaabiodiversidadeeparaosnegcios

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Mensagens-chaveO mundo est mudando de modo a afetar o valor da biodiversidade e dos servios ecossistmicos (BSE) para as empresas: o valor da biodiversidade e dos servios ecossistmicos uma funo do crescimento populacional e da urbanizao, bem como do crescimento econmico e do declnio dos ecossistemas, das mudanas nas polticas ambientais e dos avanos nas reas de informao e tecnologia. A perda da biodiversidade e o declnio dos ecossistemas no podem ser considerados de forma isolada de outras tendncias: A perda contnua da biodiversidade e a resultante diminuio dos servios ecossistmicos so agravadas pelo crescimento e evoluo dos mercados, pela explorao de recursos naturais e pelas alteraes climticas, entre outros fatores. Da mesma forma, a perda de BSE contribui para muitas dessas outras tendncias, o que implica a necessidade de uma resposta empresarial integrada. Os riscos e oportunidades associados biodiversidade e aos servios ecossistmicos esto crescendo: Dado o declnio contnuo da BSE e a interao entre a perda de biodiversidade, a diminuio dos servios ecossistmicos e outras tendncias importantes, as empresas podem esperar que tanto os riscos quanto as oportunidades aumentem ao longo do tempo. Haver uma presso crescente sobre os recursos naturais e o acesso mais restrito a eles: A crescente demanda do mercado por recursos naturais combinada com a crescente preocupao da sociedade com a qualidade ambiental apontam para o aumento da concorrncia e para o acesso mais restrito aos recursos naturais terrestres e martimos. Os consumidores cada vez mais levam em conta a biodiversidade e os ecossistemas em suas decises de compra: a compreenso e as expectativas dos consumidores sobre a relao de produtos e empresas com a BSE esto se tornando mais sofisticadas. Empresas que lidam diretamente com o consumidor, particularmente, mas tambm seus fornecedores, talvez tenham de reexaminar o modo como administram a BSE e como suas aes so comunicadas aos clientes. As empresas esto comeando a perceber a ameaa representada pela perda da biodiversidade: 27% dos CEos globais pesquisados pela PwC em 2009 expressaram preocupao com os impactos da perda da biodiversidade sobre as perspectivas de crescimento de seus negcios. Curiosamente, 53% dos CEos na Amrica Latina e 45% na frica manifestaram preocupao com a perda de biodiversidade, em comparao com apenas 11% na Europa Central e oriental.

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1.1

CoNTEXTo Do RELATRIo

Vivemos em um mundo transformado pelos negcios. As empresas prosperam, fornecendo produtos e servios para pessoas em toda parte, e desempenham um papel fundamental no desenvolvimento econmico. Para a natureza, o preo do desenvolvimento e do sucesso dos negcios tem sido muito alto. A maioria dos empresrios tem conhecimento das mudanas climticas e aceita a necessidade de reduzir as emisses de gases de efeito estufa para nveis compatveis com um clima estvel. os empresrios tambm esto se tornando mais conscientes dos riscos da perda da biodiversidade e da necessidade de respeitar os limites ecolgicos em geral (Avaliao Ecossistmica do Milnio, 2005). o valor econmico da natureza est mudando, refletindo mudanas nas preferncias das pessoas, na demografia, nos mercados, na tecnologia e no prprio meio ambiente. As empresas esto respondendo, mas necessrio muito mais esforo para desenvolver e ampliar modelos de negcio competitivos capazes de conservar a biodiversidade e oferecer servios ecossistmicos e ao mesmo tempo atender s necessidades das pessoas por melhores produtos e servios. A perda da biodiversidade e a reduo dos servios ecossistmicos (BSE) esto cada vez mais bem documentadas (ver captulo 2) e cada vez mais reconhecidas como geradoras de riscos para as empresas (Athanas et al., 2006). o risco ao negcio pode estar relacionado com os impactos diretos das operaes de uma empresa sobre a biodiversidade, ou a dependncia de uma empresa quando os servios ecossistmicos servem de insumo para a produo. Em outros casos, os riscos para a empresa associados perda da biodiversidade podem ser indiretos, operando por meio de cadeias de abastecimento ou decises de mercado quanto ao investimento, produo, distribuio e comercializao (ver captulo 3). Empresas de todo o mundo esto encontrando maneiras de identificar, evitar e mitigar seus riscos por causa da perda da BSE, usando um leque de novas ferramentas desenvolvidas por, com e para as empresas (ver captulo 4). Ao mesmo tempo, a biodiversidade e os servios ecossistmicos tambm constituem a base de novas oportunidades de negcio (ver captulo 5). Isso mais evidente no caso de empresas que vendem bens e servios diretamente associados biodiversidade e aos ecossistemas, como o turismo associado ecologia. Mas, como no caso do risco de declnio da BSE, existem ligaes menos diretas entre o comrcio e a conservao, mas que tambm oferecem oportunidades. Como resultado, cada vez mais investidores e empresrios criam fundos e empresas dedicadas ao negcio do desenvolvimento da biodiversidade (Bishop et al., 2008). Ao mesmo tempo, algumas empresas descobrem que a integrao da biodiversidade e dos servios ecossistmicos em seus sistemas de gesto tambm pode ajudar a atingir metas de responsabilidade social mais amplas (ver captulo 6). Este relatrio parte de um estudo sobre A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (The Economics of Ecosystems and Biodiversity - TEEB), lanado pelo Governo da Alemanha e a Comisso Europeia em resposta a uma proposta dos Ministros do Meio Ambiente do G8 e de cinco economias emergentes (Iniciativa de Potsdam de 2007). o TEEB um estudo independente, conduzido pelo Sr. Pavan Sukhdev, organizado pelo Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente, com apoio financeiro da Comisso Europeia e dos governos da Alemanha, Pases Baixos, Noruega, Sucia e Reino Unido, bem como contribuies em espcie de diversas organizaes pblicas e privadas. o objetivo do TEEB avaliar os impactos econmicos da perda da biodiversidade e oferecer respostas concretas para deter o declnio dos ecossistemas1.

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o ponto de partida para essa anlise o fato bem conhecido de que os mercados no garantem a utilizao eficiente de recursos para os quais no h um preo (TEEB Fundaes Ecolgicas e Econmicas, 2010). J que muitos dos benefcios da BSE no se refletem em preos de mercado de bens e servios, muitas vezes devido ausncia ou m aplicao dos direitos de propriedade, esses benefcios tendem a ser negligenciados ou subvalorizados no processo decisrio, tanto no setor pblico quanto no privado. Isso leva a aes que resultam na perda da biodiversidade e dos ecossistemas, que por sua vez pode ter um efeito negativo sobre o bem-estar. Este relatrio analisa o estado da arte na mensurao e gesto de riscos para as empresas em termos de biodiversidade e ecossistemas, na explorao de oportunidades de novos negcios em biodiversidade e na integrao entre negcios, biodiversidade e desenvolvimento sustentvel.

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1.2

ABoRDAGEM, ESTRUTURA E CoNTEDo

Esta seo apresenta uma viso preliminar do restante deste relatrio. Contudo, primeiramente, iremos definir alguns termos-chave, identificar os principais pressupostos, descrever os mtodos utilizados na elaborao deste relatrio e apresentar os principais objetivos e questes que pretende abordar. Tambm iremos identificar o pblico potencial para este relatrio e sugerir onde os diferentes leitores podero encontrar material de interesse. Na seo seguinte, o captulo se volta para a evidncia recente das percepes de empresrios e consumidores sobre a biodiversidade e os ecossistemas, e como isso se relaciona com outras tendncias importantes que afetam os negcios.

1.2.1 DEFINIESAo longo deste relatrio, usamos os termos biodiversidade, ecossistemas e servios ecossistmicos, frequentemente abreviados como BSE. Estes termos so definidos a seguir: Biodiversidade uma abreviao para diversidade biolgica. observamos a Conveno das Naes Unidas sobre Diversidade Biolgica (CBD), que define a biodiversidade como: A variabilidade entre organismos vivos de todas as origens, incluindo, inter alia, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquticos e os complexos ecolgicos dos quais fazem parte, o que inclui a diversidade dentro de espcies, entre espcies e de ecossistemas (Artigo 2). De acordo com a CBD, os ecossistemas so, portanto, um componente da diversidade biolgica. Isso coerente com as definies posteriormente adotadas pela Avaliao Ecossistmica do Milnio (MA, 2005), que identifica um ecossistema como um complexo dinmico de comunidades vegetais, animais e de microrganismos e o ambiente no vivo, interagindo como uma unidade funcional. A principal contribuio da MA a elaborao do conceito de servios ecossistmicos, definidos simplesmente como os benefcios que as pessoas recebem dos ecossistemas (para uma discusso mais aprofundada, vide Captulo 2). Uma caracterstica importante dos servios ecossistmicos que eles so determinados culturalmente e, portanto, so dinmicos. Como observado pelo TEEB, servios ecossistmicos so conceituaes... de coisas teis que os ecossistemas fazem para as pessoas, direta e indiretamente, entendendo-se que as propriedades dos sistemas ecolgicos que as pessoas consideram como teis podem mudar ao longo do tempo, mesmo que o sistema ecolgico em si permanea em um estado relativamente constante (TEEB 2010, captulo 1, p. 12 e 15).

1.2.2 PRESSUPOSTOSPassando das definies para os pressupostos e indo da ecologia para a economia, o presente relatrio adota uma viso explicitamente econmica sobre as relaes entre empresas, biodiversidade, ecossistemas e servios ecossistmicos. Isso implica um enfoque sobre o valor dos recursos naturais para as pessoas, ao invs de algum valor intrnseco que possa ser atribudo aos recursos naturais por direito prprio (ex. um direito de existir). Claro, reconhecemos que muitos dos valores que as pessoas obtm a partir da BSE so intangveis, inclusive valores recreativos, culturais e de existncia, e que esses valores intangveis podem ser significativos. Eles tambm so mensurveis.

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Uma abordagem econmica tambm implica em aceitao de um meio-termo entre os benefcios de BSE e outras coisas que as pessoas valorizam. Embora essa concesso possa ser limitada por causa da falta de substitutos adequados para determinados recursos naturais ou servios ecossistmicos, a verdade que as pessoas pesam os benefcios da conservao da natureza contra outras coisas de valor na vida. Em princpio, se todos os valores para as pessoas estiverem plenamente refletidos nessas concesses, e sujeitos a outro conjunto de premissas econmicas, podemos estar certos de que o uso resultante de recursos ser economicamente eficiente. claro que, na prtica, o ideal econmico, com mercados em concorrncia perfeita, informaes completas e instantneas, sem custos de transao, substituio perfeita, direitos de propriedade plenos etc., nunca atingido. No entanto, argumentamos que uma considerao mais explcita dos custos e benefcios da BSE na tomada de decises econmicas, em geral, leva a resultados melhores, se no ideais. A valorao econmica pode nunca ser perfeitamente precisa, especialmente quando no h valores de mercado em jogo, mas difcil pensar em decises que no sejam melhoradas por informaes sobre valores econmicos, paralelamente a outras consideraes. Alguns outros pressupostos importantes para este relatrio tambm devem ser mencionados: Assumimos o crescimento econmico e a maior integrao das democracias baseadas no mercado em todo o mundo, juntamente com uma maior sensibilizao e preocupao da sociedade com as mudanas no meio ambiente e aumento da capacidade reguladora do governo e restries sobre o uso de recursos naturais. Embora reconheamos a existncia de modelos de organizao econmica que no so baseados no mercado, bem como formas no democrticas de governo, no vemos razo para duvidar da continuao do crescimento da iniciativa privada, dentro de quadros cada vez mais sutis de poltica econmica, supervisionada por governos democrticos e orientada por cidados cada vez mais bem informados. Reconhecemos, tambm, o crescente poder econmico e poltico de vrias economias emergentes (por exemplo, os chamados BRICs) e de empresas sediadas nesses pases. Uma caracterstica notvel das economias e empresas emergentes sua aparente falta de ateno explcita s questes ambientais em geral e BSE especificamente, em comparao com as economias industriais e empresas mais estabelecidas. Embora tenhamos procurado exemplos de pases em desenvolvimento para ilustrar nossos argumentos ao longo deste relatrio, temos de reconhecer que o peso da experincia documentada (ou suposta) se concentra nos pases desenvolvidos. Adotar uma abordagem econmica implica que os incentivos so importantes. Em outras palavras, os direitos de propriedade e os preos influenciam o comportamento humano e o uso dos recursos naturais. A atual incapacidade dos incentivos de mercado e das polticas pblicas na maioria dos pases de refletir o valor integral da biodiversidade e dos servios ecossistmicos uma das principais razes para a contnua perda de biodiversidade e o pouco investimento em capital natural. Do mesmo modo, aes eficazes de conservao da biodiversidade e garantia de servios ecossistmicos muitas vezes exigem a criao ou o reforo dos incentivos econmicos para a conservao e uso sustentvel dos recursos biolgicos. Uma consequncia dessa hiptese que as abordagens meramente filantrpicas conservao da natureza, com base em apelos moral, tica ou valores religiosos, no so suficientes para mobilizar o investimento privado na conservao da biodiversidade em economias de mercado. Embora a filantropia possa fazer uma diferena real e deva ser sempre incentivada, qualquer tentativa de promover investimento privado amplo, sustentado e substancial na conservao da natureza exige argumentos mais convincentes, baseadas na lgica comercial e no valor para os acionistas.

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Mesmo que a filantropia no seja suficiente, os princpios da livre escolha e da ao voluntria devem ser valorizados e so caractersticas essenciais de uma abordagem econmica para a conservao da natureza. Sempre que possvel, deve-se permitir e incentivar as empresas privadas e os consumidores a firmar, voluntariamente, acordos ambientais mutuamente satisfatrios, apoiados por contratos juridicamente vinculantes. Quando tais acordos voluntrios no so eficientes, devido presena de externalidades ou outras distores do mercado, os governos podem, s vezes, ajudar com a criao de um marco de incentivos para que os produtores e os consumidores internalizem os valores ambientais em suas operaes. o que os governos devem evitar, porm, so regras e regulamentos simplistas que ignoram as diferenas reais de custos e preferncias individuais, o apego a tecnologias ou prticas de produo obsoletas, ou o desgaste do potencial construtivo da inovao empresarial. o ltimo ponto refere-se ainda a outro pressuposto fundamental, a saber, o progresso tecnolgico continuado, estimulado em parte pela crescente escassez de recursos naturais e servios ecossistmicos. Dito isso, no acreditamos que a inovao tecnolgica possa compensar totalmente e em todos os casos a perda da biodiversidade e o declnio dos ecossistemas. Isto implica que h situaes em que algum tipo ou grau de dano ambiental pode ser considerado inaceitvel, independentemente dos custos de oportunidade ou da magnitude e qualidade da indenizao oferecida. Em suma, a anlise econmica marginal no se aplica a eventos no marginais. Finalmente, defendemos aqui que a conservao e o comrcio podem, e de fato devem, trabalhar lado a lado, para desacelerar e eventualmente interromper a perda da biodiversidade e o declnio dos ecossistemas. Embora as empresas muitas vezes sejam responsveis por danos ambientais, os esforos para fazer com que os negcios sejam parte da soluo para a perda da biodiversidade provavelmente envolvero mais, e no menos, as empresas na conservao da natureza e na gesto ambiental. Este ltimo ponto, naturalmente, no facilmente comprovado. Espera-se que este relatrio de alguma maneira demonstre, por meio de vrios exemplos prticos e sirva de inspirao, tal como o aumento dos direitos ambientais para as empresas pode ser combinado com o aumento das responsabilidades, de tal forma que o sucesso comercial fique mais alinhado com a conservao da natureza.

1.2.3 METODOLOGIAos pressupostos descritos acima nortearam nossa abordagem para a elaborao de argumentos e evidncias para este relatrio. Em geral, buscamos exemplos que mostram como a integrao de BSE no processo decisrio pode oferecer valor real e concreto para as empresas, bem como resultados ambientais positivos. Sempre que possvel, selecionamos estudos de caso que apresentam dados financeiros e/ou econmicos sobre os valores da BSE. Infelizmente, os registros e relatrios de empresas sobre a BSE so escassos, subjetivos e inconsistentes, o que dificulta a elaborao de um retrato completo da biodiversidade no mundo dos negcios hoje em dia. Contamos muito com os estudos de caso das poucas empresas dispostas e aptas a fornecer informaes sobre suas polticas e aes em relao BSE, alm de algumas poucas avaliaes independentes. Quase por definio, os estudos de caso em destaque aqui no so de empresas tpicas. Portanto, embora nossos resultados sejam preliminares e incompletos, esperamos que este relatrio seja um incentivo para um estudo mais sistemtico e abrangente da percepo, da estratgia e das aes empresariais em relao BSE. Tal pesquisa urgente para identificarmos o meio mais eficiente de estimular o investimento empresarial na conservao da biodiversidade, na restaurao de ecossistemas e no uso sustentvel dos recursos naturais.

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1.2.4 OBJETIVOS E QUESTES-CHAVEDadas as limitaes descritas acima, quais so os objetivos que propusemos alcanar e quais questes buscamos responder? Em termos gerais, este relatrio tem como objetivo apresentar as melhores evidncias disponveis a favor da incorporao de BSE nos negcios, incluindo os riscos e as oportunidades. Para promover essa incorporao e fornecer orientaes prticas aos leitores, o relatrio compila e resume vrios exemplos de como empresas reais utilizam ferramentas, tcnicas e iniciativas especficas para administrar sua relao com a BSE e se preparar para o futuro. Mais especificamente, o relatrio aborda as seguintes questes: De que maneira o contexto dos negcios e da biodiversidade est mudando? Como os lderes empresariais percebem os riscos da perda da biodiversidade? Ser que as novas tecnologias e mercados emergentes, bem como as mudanas nas polticas pblicas e nas preferncias dos consumidores, iro alterar a forma como as empresas valoram os recursos biolgicos? (Ver seo 1.3) o que est acontecendo com a diversidade biolgica, quais so os indutores diretos e subjacentes da mudana ambiental, e como isso afeta os negcios? Quais so os impactos e dependncias de diferentes setores da indstria sobre a biodiversidade e os ecossistemas? Como esses impactos e dependncias criam riscos e oportunidades de negcio? (Captulo 2) Como as empresas podem mensurar e reportar seus impactos e sua dependncia na biodiversidade e nos ecossistemas? onde a BSE se encaixa na governana corporativa e nas informaes gerenciais? Como os sistemas de informao ambiental no nvel local, de produto e de grupo podem ser expandidos para acomodar as informaes de BSE? Qual a experincia das empresas com a elaborao de relatrios sobre BSE e como ela pode ser reforada? (Captulo 3) Quais so os riscos de perda da biodiversidade e dos ecossistemas para as empresas e como eles podem ser mais bem geridos? Quais ferramentas esto disponveis para identificar, avaliar e mitigar riscos de perda de BSE, e qual o valor que oferecem para as empresas? Que outros mtodos e abordagens podem ajudar as empresas a reduzir o risco de perda de BSE? (Captulo 4) Quais so as principais oportunidades de negcio relacionadas biodiversidade e aos ecossistemas e como podem ser mais bem exploradas? Como a BSE pode ser uma proposio de valor para as indstrias existentes? Como as empresas podem aproveitar os mercados emergentes para a biodiversidade e os servios ecossistmicos? Quais as ferramentas e polticas disponveis para apoiar os mercados da biodiversidade e dos servios ecossistmicos? (Captulo 5) Como as empresas podem integrar aes de BSE com os compromissos mais amplos para o desenvolvimento sustentvel? Quais so as desvantagens e as potenciais sinergias entre a BSE, o desenvolvimento scio-econmico e a reduo da pobreza? Quais so as principais barreiras integrao de BSE com a reduo da pobreza, e que papel as empresas podem desempenhar para minimizar as desvantagens e maximizar as sinergias positivas? (Captulo 6) e Quem precisa agir e como, a fim de melhorar as relaes entre os negcios e a biodiversidade? Que orientaes esto disponveis para as empresas sobre a biodiversidade e os ecossistemas? Qual a experincia de aes voluntrias na rea de BSE por parte das empresas e que lies podem ser aprendidas a partir de outras iniciativas de responsabilidade corporativa? Quais so as principais lacunas de informao e outras restries sobre a ao empresarial em favor da BSE? (Captulo 7)

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1.2.5 PBLICOEste relatrio argumenta que a biodiversidade e os ecossistemas so importantes para todas as empresas, em todos os setores e pases. Assim, o pblico alvo para este relatrio inclui empresas de capital aberto e associaes industriais, empresas estatais e servios financeiros, pequenas e mdias empresas, empresas emergentes de economias em desenvolvimento, escolas de administrao e outras que atuam na interface entre as empresas e o meio ambiente. o relatrio considera uma srie de setores da indstria, incluindo a agricultura, alimentos e bebidas, indstrias extrativistas, fabricao, infraestrutura e servios. Embora a anlise pormenorizada de setores individuais esteja fora do escopo deste estudo, avaliaes preliminares dos impactos e dependncias, riscos e oportunidades associadas BSE so apresentadas para uma srie de setores (ver especialmente os Captulos 2 e 5). Alm disso, tentamos incluir em todos os captulos uma seleo de diferentes setores na escolha dos estudos de caso. os leitores interessados em obter uma viso geral da situao e das tendncias na biodiversidade, ecossistemas e servios ecossistmicos, com foco em elos com as empresas, devem examinar o Captulo 2. os responsveis pelos sistemas de informao ambiental das empresas e que buscam a integrao de dados de BSE no planejamento, na contabilidade e na comunicao empresarial vo encontrar uma discusso mais detalhada das tendncias e ferramentas no Captulo 3. Gerentes de projetos e de produtos interessados em identificar e reduzir os riscos de perda da BSE encontraro orientao e exemplos prticos no Captulo 4. Planejadores, investidores e empresrios, bem como reguladores do governo e agentes de desenvolvimento, podem encontrar inspirao no Captulo 5, com seu foco sobre a BSE como base para economia de custos, novos produtos potenciais e a promessa de novos mercados para a biodiversidade e servios ambientais. o Captulo 6 ser de interesse para investigadores e responsveis pela responsabilidade social das empresas em geral, que podem buscar formas de integrar a BSE nos compromissos corporativos com o desenvolvimento sustentvel. Finalmente, o Captulo 7 ser mais relevante para aqueles que buscam uma viso geral e uma avaliao comparativa de iniciativas corporativas de responsabilidade social e ambiental.

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1.3

BIoDIVERSIDADE E ECoSSISTEMAS EM UM MUNDo EM EVoLUo

Este relatrio enfoca as ligaes entre as empresas, a biodiversidade e os servios ecossistmicos. Naturalmente, as empresas so influenciadas por uma srie de fatores sociais e econmicos, muitos dos quais tm tambm implicaes para a biodiversidade e os servios ecossistmicos. Qualquer tentativa de melhorar o relacionamento entre empresas, biodiversidade e ecossistemas deve levar em conta esses fatores mais amplos e as ligaes entre eles. Esta seo examina diversas tendncias importantes que afetam as empresas, com foco nas relaes entre essas tendncias, os riscos de perda da BSE e as oportunidades na BSE. Antes, porm, examinaremos as evidncias do nvel atual de conscincia e as respostas dos lderes empresariais com relao perda de biodiversidade.

1.3.1 PERCEPES DE LDERES EMPRESARIAIS SOBRE BIODIVERSIDADE E ECOSSISTEMASUm levantamento com 1.200 CEos de todo o mundo oferece uma viso da percepo atual do risco de perda da biodiversidade para as empresas (Pricewaterhouse Coopers, 2010). Quando solicitados a classificar seu grau de preocupao com uma srie de ameaas s perspectivas de crescimento da empresa, 27% dos CEos se declararam extremamente ou bastante preocupados com a perda da biodiversidade. Dado o atual contexto econmico, impressionante que a perda de biodiversidade seja uma preocupao para algumas empresas. H algumas variaes regionais interessantes, com 53% dos CEos na Amrica Latina e 45% na frica expressando preocupao de que a perda de biodiversidade afete negativamente as perspectivas de crescimento da empresa, em comparao com apenas 11% na Europa Central e oriental (Figura 1.1).

Figura 1.1 Opinio dos CEOs globais sobre a ameaa da perda de biodiversidade para as empresas Respondentes que estavam extremamente ou bastante preocupados com a perda da biodiversidade como ameaa s perspectivas de crescimento de suas empresas Amrica do Norte Europa Ocidental Pacco Oriental Amrica Latina CEE Oriente Mdio frica 14 18 34 53 11 36 45 0%Q: Qual seu grau de preocupao com as seguintes ameaas potenciais s perspectivas de crescimento de sua empresa? Base: Todos os respondentes (139, 442, 289, 167, 93, 28, 40). Note a pequena base para o oriente MdioFonte: PricewaterhouseCoopers 13 Pesquisa Anual Global de CEOs 2010

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No entanto, no nvel global, a preocupao dos CEos com a perda de biodiversidade no parece ser to grande quanto com relao a outros riscos. Por exemplo, na mesma pesquisa, 65% dos CEos expressaram preocupao com uma recesso global, 60% com o excesso de regulamentao, 54% com os custos de energia, ao passo que 35% revelaram preocupao com as mudanas climticas. A aparente falta de foco sobre a perda de biodiversidade entre lderes empresariais pode, em parte, se dever falta de compreenso sobre as implicaes potenciais para os negcios. Tambm pode refletir o fato de que os efeitos da perda de biodiversidade e do declnio dos servios ecossistmicos no so, na maioria dos casos, eventos pontuais drsticos, mas sim uma tendncia gradual e, portanto, menos visvel para os lderes empresariais. Alm disso, como descrito abaixo, a perda de BSE pode ser encoberta por outras tendncias e riscos mais imediatos e mais visveis para os lderes empresariais. A pesquisa com os CEos constatou mais ceticismo do que otimismo com relao eficcia da ao governamental na proteo da biodiversidade e dos ecossistemas (Figura 1.2). o que est menos claro at que ponto os lderes empresariais gostariam de ver mais ao do governo, incluindo reformas regulatrias, para combater a perda da biodiversidade.

Figura 1.2 Opinies dos CEOs sobre a proteo governamental da biodiversidade e dos ecossistemas O governo protege efetivamente a biodiversidade e os ecossistemas

12

32

23

2

Discorda totalmente

Discorda

Concorda

Concorda totalmente

Nenhum: 29. No sabe: 3

Q: Pensando sobre o papel do governo no pas em que sua empresa opera, at que ponto voc concorda ou discorda das seguintes afirmativas? Base: Todos os respondentes (1.198)Fonte: PricewaterhouseCoopers - 13 Pesquisa Anual Global de CEOs 2010

Uma pesquisa separada e mais focada entre empresas japonesas, realizada no incio de 2010, fornece mais informaes sobre o grau de conscincia das empresas e as aes adotadas com relao biodiversidade em uma grande economia industrializada. Essa pesquisa foi encaminhada a 493 empresas, das quais 147 responderam. A pesquisa foi concebida como um follow-up para a Declarao da Biodiversidade de 2009 por uma importante associao empresarial japonesa, e, portanto, poder-se-ia esperar que revelasse nveis relativamente altos de conscincia (Nippon Keidanren, 2010). Ento, talvez no surpreenda que 50% dos respondentes reportaram que haviam integrado a biodiversidade na poltica ambiental da empresa, com 57% daqueles que no o haviam feito ainda sugerindo que o fariam no futuro.

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Entre o mesmo grupo de empresas japonesas, 15% confirmaram que desenvolveram diretrizes internas sobre a biodiversidade, com outros 42% indicando que as diretrizes estavam sendo desenvolvidas ou planejadas. Essa pesquisa demonstra o impacto que uma iniciativa liderada por empresas, como a Declarao de Biodiversidade da Nippon Keidanren, pode ter sobre a percepo das empresas. Naturalmente, a incluso na poltica da empresa apenas o primeiro passo para uma gesto eficaz da biodiversidade e dos servios ecossistmicos. Como a iniciativa da Nippon Keidanren e de seus membros relativamente recente, ainda no esto disponveis evidncias claras de melhora dos resultados na BSE.

1.3.2 O AMBIENTE DE NEGCIOS EMERGENTE: QUE TENDNCIAS SO IMPORTANTES?Pesquisas com lderes empresariais sugerem uma percepo limitada dos riscos potenciais da perda da biodiversidade, embora algumas empresas em alguns pases estejam mais preocupadas e comearam a dar respostas. Esta seo e as seguintes exploram alguns dos fatores externos e as ligaes entre eles que podem levar a mais conscientizao e aes do setor de negcios com relao biodiversidade e servios ambientais nos prximos anos. Vises de futuro so inevitavelmente incertas. No entanto, vrias organizaes tm desenvolvido projees ou cenrios para uma variedade de temas e perodos de tempo, desde mudanas climticas (Painel Internacional sobre Mudanas Climticas - IPCC), passando por energia (Agncia Internacional de Energia - IEA), demografia (Naes Unidas - oNU), meio ambiente e bem-estar humano (Programa das Naes Unidas para o Meio ambiente - PNUMA), segurana alimentar e hdrica (organizao das Naes Unidas para a Agricultura e a Alimentao FAo), sade dos ecossistemas (Avaliao Ecossistmica do Milnio - MA) e muitas outras questes. Todos esses esforos para explorar o futuro possuem um elemento de verdade. Ao mesmo tempo, a experincia passada sugere que essas previses so quase sempre imprecisas, devido nossa incapacidade de prever mudanas significativas, sejam elas sociais, polticas, tecnolgicas ou ambientais. Tais previses podem ser mais teis como lembretes dos principais riscos e oportunidades que podem afetar os negcios no futuro, para os quais a resposta adequada no um planejamento rgido ou um compromisso irreversvel, mas sim um investimento na resilincia e na adaptabilidade organizacional. Uma das recentes exploraes do futuro mais abrangentes foi um estudo colaborativo liderado pelo Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentvel, sob a bandeira da Viso 2050 (WBCSD, 2010). A Viso 2050 estruturou sua anlise em torno dos fatores-chave ou condies que qualquer plano para um futuro mais sustentvel deve abordar, incluindo: Crescimento populacional e urbanizao Crescimento econmico e declnio dos ecossistemas Poltica e polticas ambientais Informao e tecnologia

Esses fatores esto brevemente examinados abaixo, com foco em sua relevncia para a biodiversidade e para os ecossistemas.

Crescimento da populaoSegundo a oNU, a populao mundial dever crescer dos 6,7 bilhes de hoje para 9,2 bilhes em 2050. 98% desse aumento ocorrer nos pases em desenvolvimento. As populaes dos pases desenvolvidos esto se es-

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tabilizando e envelhecendo, um padro que acabar por se espalhar por todo o mundo (a proporo de pessoas com idade superior a 60 anos tem aumentado progressivamente, passando de 8% em 1950 para 11% em 2007 e espera-se que chegue a 22% em 2050). o crescimento populacional deve levar ao aumento da procura por bens e servios e mais presso sobre os recursos naturais. o impacto do envelhecimento da sociedade sobre a natureza menos claro. No entanto, as mudanas populacionais implicam que as percepes pblicas da natureza e do valor dos ecossistemas podem refletir cada vez mais as tradies e as normas histricas de pases em desenvolvimento, e no dos atuais pases desenvolvidos. No possvel generalizar, mas, provavelmente, refletiro as atitudes sociais e a experincia humana com relao natureza em cada regio.

UrbanizaoA populao urbana mundial dever dobrar at 2050, quando cerca de dois teros da humanidade iro residir em reas urbanas. A urbanizao sugere uma relao mais distante ou indireta entre as pessoas e a natureza, e assim, talvez, maior nfase nos valores de recreao, repouso e existncia dos ecossistemas e das espcies, em comparao com preocupaes mais produtivas ou utilitrias. A urbanizao implica tambm o aumento da concentrao espacial de alguns impactos ambientais (ex. uso residencial e industrial do solo, tratamento de resduos, poluio da gua), bem como a maior possibilidade (e necessidade) de estabelecer pagamentos por servios ambientais e outros mecanismos de transferncia para captar e transmitir a disposio dos moradores urbanos de pagar populao rural remanescente pela gesto dos recursos.

Crescimento econmico e declnio dos ecossistemasos nveis de rendimento mdio e de consumo esto, em geral, aumentando, principalmente nos pases em desenvolvimento. A continuao da dependncia em energia baseada em carbono e a acelerao do uso de recursos naturais vo aumentar a presso sobre os servios ecossistmicos, ameaando a oferta futura de alimentos, gua doce, fibras e peixes. De acordo com as projees da Viso 2050, mais da metade da populao mundial viver sob condies de estresse hdrico severo em 2025, ao passo que uma proporo maior do consumo mundial de gua ser voltada para a irrigao. Somente o atendimento da demanda por alimentos para 9 bilhes de pessoas vai exigir um aumento na produtividade das culturas de, em mdia, 2% ao ano ou mais, acima dos nveis recentes. o WBCSD argumenta que o crescimento econmico deve ser dissociado da destruio dos ecossistemas e do consumo material, e reassociado ao desenvolvimento econmico sustentvel e ao atendimento de necessidades em evoluo (WBCSD, 2010, p. 6). o desafio garantir que tal dissociao no implique apenas o deslocamento de impactos ambientais adversos para locais distantes da produo, mas sim reais melhorias na eficincia energtica e utilizao de materiais. Por exemplo, como atender a demanda crescente por protena animal sem transformar as florestas remanescentes do mundo em pastagens e forragens? Como atender a demanda por mobilidade sem transformar as paisagens em estradas e estacionamentos?

PolticaAs atuais tendncias demogrficas e econmicas sugerem que as economias em desenvolvimento assumiro cada vez mais a linha de frente nos esforos para alcanar um futuro sustentvel. De acordo com o WBCSD, o principal desafio na transio para a sustentabilidade melhorar a qualidade da governana. Conforme descrito na Viso 2050, os sistemas de governana devem respeitar o princpio da subsidiariedade (ou seja, descentralizao e tomada de decises no nvel local mais adequado), mas tambm devem compartilhar soberania sempre que necessrio para enfrentar os desafios internacionais, como comrcio, doenas infecciosas, mudanas climticas, manejo de recursos hdricos, pesca em alto mar e outras questes transfronteirias (WBCSD, 2010, p.6).

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De acordo com o WBCSD, os sistemas de governana futuros tambm precisam melhorar no sentido de orientar os mercados a internalizar as externalidades ambientais, garantir a transparncia e a incluso, criar igualdade de condies e permitir que o setor de negcios desenvolva e implante solues sustentveis. Uma questo pendente se a mudana do poder econmico e poltico para as maiores economias emergentes (isto , os chamados BRICs), que se espera resultar em novas atitudes e abordagens para o manejo ambiental, ajudaro ou atrapalharo os esforos para alcanar acordos internacionais de cooperao para a gesto dos bens pblicos globais.

Valorizar os servios do ecossistemaA reduo dos impactos ambientais da atividade econmica levar a mudanas nos regulamentos, mercados, preferncias dos consumidores, preos dos insumos e medio de ganhos e perdas todos os fatores que afetam o setor de negcios. No futuro mais sustentvel previsto pelo WBCSD, os preos refletem todas as externalidades: custos e benefcios (WBCSD, 2010, p.18). Isso visto como necessrio para garantir que a energia e os recursos sejam utilizados de forma eficiente e que emisses nocivas sejam reduzidas. Por exemplo, a Viso 2050 prope uma reduo de 50% nas emisses de gases de efeito estufa at 2050, em relao aos nveis de 2005 (IEA, ETP 2008, Blue Map Scenario), estimulada em parte por reformas nas polticas pblicas que estabelecem um preo para o carbono (WBCSD, 2010, p.35). Tais abordagens baseadas no mercado so cada vez mais aplicadas a outros servios ecossistmicos (alm da regulao do clima), o que implica que as empresas podem esperar pagar mais no futuro por seu acesso e impactos sobre um amplo leque de recursos naturais. Ao mesmo tempo, a adoo de abordagens baseadas no mercado para o manejo ambiental pode gerar mais oportunidades de negcio, com base na conservao da biodiversidade e na prestao ou restaurao de servios ecossistemas. Estimativas desenvolvidas pela PricewaterhouseCoopers para a Viso 2050, de oportunidades de negcios globais em recursos naturais relacionados sustentabilidade (incluindo energia, florestas, agricultura e alimentos, gua e metais), sugerem um mercado potencial da ordem de US$ 2 a 6 trilhes at 2050 (em preos constantes de 2008), cerca da metade do qual ser constitudo por investimentos adicionais no setor de energia relacionados reduo das emisses de carbono (WBCSD, 2010, p.34). Embora essas estimativas possam ser questionadas, parece provvel que o setor de negcios desempenhar um papel cada vez mais importante no manejo sustentvel dos recursos naturais e do meio ambiente.

Tecnologia e informaoUma das maiores incgnitas nas tentativas de prever o futuro o ritmo e o impacto das mudanas tecnolgicas. Para citar apenas um exemplo, mais de 4 bilhes de aparelhos de telefone celular esto em uso no mundo, trs quartos dos quais no mundo em desenvolvimento. Segundo dados do Banco Mundial, um acrscimo de 10 telefones por 100 pessoas em um tpico pas em desenvolvimento aumenta o crescimento do PIB em quase um ponto percentual, trazendo uma contribuio significativa para o bem-estar humano. Como observado pelo WBCSD, o desafio promover mudanas tecnolgicas que permitam que as culturas mantenham-se diversificadas e heterogneas, ao mesmo tempo melhorando o acesso educao e a conectividade via Internet para garantir que as pessoas sejam mais conscientes das realidades de seu planeta e de todos nele (WBCSD, 2010, p.6). o projeto Viso 2050 prev mudanas no conceito de trabalho, que passar a incluir o meio expediente, horrios flexveis, tele-trabalho, cotrabalho e anos de folga. o aumento do acesso informao dever facilitar o monitoramento e o manejo ambiental. os impactos de outras novas tecnologias sobre a biodiversidade so menos claros.

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1.3.3 CONEXES ENTRE AS TENDNCIAS E SUAS RELAES COM OS NEGCIOS E A BIODIVERSIDADEAs projees resumidas acima delineiam alguns dos muitos fatores que as empresas devem considerar a fim de se prepararem e contriburem para um futuro mais sustentvel. o que menos bvio so as conexes entre essas tendncias e a biodiversidade, e as implicaes dessas conexes para as empresas. Esta seo analisa uma srie de tendncias importantes que afetam as empresas hoje. Alm disso, avalia as relaes delas com a biodiversidade e os servios ecossistmicos, e identifica os riscos, as implicaes e as oportunidades que a BSE oferece para as empresas. Sugerimos que a perda da biodiversidade e o declnio dos ecossistemas esto ligados a diversas tendncias importantes que afetam os negcios, incluindo mudanas sociais, econmicas e ambientais (Figura 1.3). Na maioria dos casos, a causalidade funciona nos dois sentidos: vrios fatores influenciam o ritmo e a escala da perda da biodiversidade; da mesma forma, a perda da biodiversidade e dos ecossistemas contribui para outras tendncias importantes (Avaliao do Milnio, 2005; Frum Econmico Mundial, 2009; PNUMA, 2007). Em suma, a resposta do setor de negcios perda da biodiversidade no pode ser definida de forma isolada da resposta a uma srie de outras tendncias importantes. Por exemplo, a perturbao ou a converso de ecossistemas costeiros particularmente os mangues e as dunas vegetadas geralmente resulta em emisses de gases que contribuem para as mudanas climticas. Essas mudanas tambm podem exacerbar a gravidade dos impactos das mudanas climticas, levando a efeitos como inundaes costeiras (Dahdouh-Guebas et al., 2005). Por outro lado, a elevao do nvel do mar e as tempestades cada vez mais violentas que esto entre os impactos previstos pelas mudanas climticas podem acelerar a perda de alguns ecossistemas costeiros, em particular as zonas entre mars e manguezais (Sharp, 2000). As relaes entre a biodiversidade e outras tendncias so exploradas na Tabela 1.1, que analisa uma seleo das principais tendncias mundiais em termos de como afetam os potenciais riscos e oportunidades associados biodiversidade e aos ecossistemas e as implicaes para o setor de negcios. A tabela apresenta: Uma descrio da tendncia e como ela se relaciona com a biodiversidade e os servios ecossistmicos; Exemplos dos riscos relacionados biodiversidade que a tendncia pode representar para o setor de negcios, juntamente com possveis respostas das empresas (veja tambm o captulo 4); e Exemplos de potenciais oportunidades de negcios relacionados biodiversidade (ver tambm captulo 5).

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Figura 1.3 Relaes entre a perda da biodiversidade e dos ecossistemas e outras tendncias importantesEsg dos otame nto re natucursos rais

s s na na dos udancias res M er ido pref nsum coMu climdan tic as as

da nto de s me ra ida Au bertu oteg co s Pr a re

Perda da biodiversidade e dos ecossistemas

Melho compreria da en cientc so a

Nem todas as tendncias foram includas na Tabela 1.1, e a anlise necessariamente genrica, mas pode oferecer um ponto de partida para uma anlise mais detalhada de acordo com a empresa ou indstria. A lista de tendncias no foi organizada por prioridades, e de fato a relevncia de cada tendncia ir variar dependendo da exposio geogrfica e das atividades da empresa. Mais detalhes so apresentados na seo seguinte sobre as tendncias nas preferncias dos consumidores, apontando o caminho para uma anlise mais aprofundada das relaes entre as principais tendncias globais, a biodiversidade e os negcios. Algumas das tendncias descritas na Tabela 1.1 esto fora da esfera e do escopo tradicionais dos sistemas empresariais de sustentabilidade, ambientais ou de manejo da biodiversidade. No entanto, como a biodiversidade e os ecossistemas esto associados a muitas outras tendncias, no devem ser considerados isoladamente. Sistemas empresariais de gesto de risco podem ajudar a traar conexes e fornecer uma estrutura para analisar e acompanhar tais tendncias, alocar recursos e determinar respostas. Sugerimos que se os riscos associados biodiversidade e aos ecossistemas forem identificados, avaliados e administrados precocemente, podem significar uma vantagem competitiva para as empresas.

gao Propa enas de do

Ins en egu er ra g n tic a a

Maior regulamentao ambiental

o a a gic ov ol In cn te

Fonte: PricewaterhouseCoopers para TEEB

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Tabela 1.1 Principais tendncias e suas potenciais implicaes para a biodiversidade e para os negcios Qual a tendncia? Riscos e implicaes para as empresas relacionados biodiversidade Oportunidades e implicaes para as empresas relacionadas biodiversidade Oportunidade A utilizao eficiente de recursos se tornar mais importante para a competitividade das empresas. As que se adaptarem primeiro podem ganhar vantagem competitiva.

Esgotamento dos recursos naturais Diminuio dos suprimentos de matrias-primas e recursos biolgicos, como gua doce, solos frteis, madeira, peixe, etc. Essa tendncia agravada pela poluio, alteraes climticas (ver abaixo), disseminao de espcies exticas invasoras e nveis crescentes de consumo em muitas economias emergentes. Por exemplo, em 2006, projees indicaram que a pesca comercial mundial entraria em colapso em menos de 50 anos, se fossem mantidas as atuais taxas de pesca (Worm, 2006).

Risco: Crescente escassez de recursos naturais implica reduo ou acesso mais caro. Riscos secundrios relacionados com a diminuio da disponibilidade de recursos naturais (por exemplo, conflitos interestatais, nacionalismo de recursos, terrorismo ou migrao em massa) podem reduzir ainda mais o acesso das empresas. Implicaes: As empresas precisam de ferramentas para monitorar as reservas de recursos naturais dos quais dependem, e levar em conta a potencial escassez de recursos no planejamento de longo prazo. As empresas podem ter de encontrar formas criativas de garantir acesso aos recursos de que necessitam, particularmente terras frteis e bem irrigadas para a agricultura, que levam em considerao as necessidades de outras partes interessadas.

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Qual a tendncia?

Riscos e implicaes para as empresas relacionados biodiversidade

Oportunidades e implicaes para as empresas relacionadas biodiversidade Oportunidades Empresas capazes de gerar o mesmo resultado com menor pegada terrestre/martima superam as concorrentes, nos locais em que as reas Protegidas restringem acesso. Um histrico de boa gesto ambiental e apoio s reas Protegidas pode ser considerado favoravelmente pelos reguladores quando esses analisam as solicitaes de acesso aos recursos encaminhados pelas empresas.

Aumento da cobertura das reas protegidas Nas ltimas trs a cobertura total das reas Protegidas triplicou (PNUMA 2007) e esta expanso deve continuar, especialmente para zonas marinhas e costeiras sub-representadas.

Risco: Continuao da expanso das reas protegidas ir restringir algumas operaes de empresas ou aumentar os custos operacionais para as empresas que dependem de acesso ou converso de terras/reas marinhas. Isso vai influenciar especialmente setores como turismo, agricultura, silvicultura, pesca, navegao e extrativismo. Implicaes: As empresas tero de trabalhar no nvel regional ou local com seus pares, reguladores e oNGs para garantir suas licenas de operao. Isso pode incluir contribuies diretas das empresas para atender os objetivos das reas Protegidas. Algumas empresas podem precisar dedicar mais recursos para seus controles internos de gesto ambiental a fim de garantir e manter sua licena de operao nas reas Protegidas.

Inovao tecnolgica Desenvolvimento contnuo da engenharia do bio-mimetismo, biotecnologia, etc Por exemplo, em 2008, 2 gerao de bio-combustveis (bio-qumicos e termo-qumicos), atingiu a fase de demonstrao, ao passo que a 3 gerao de algas biocombustveis prometem novos aumentos da produtividade (IEA 2008).

Risco: Algumas tecnologias e sistemas de gesto de recursos podem reduzir a diversidade gentica (por exemplo, variedades de culturas hbridas ou monoclonais de alto rendimento) ou prejudicar os ecossistemas de outras maneiras, gerando riscos operacionais e de reputao para o negcio. Implicao: Salvaguardas mais rigorosas para proteger as espcies em extino e os ecossistemas dos riscos decorrentes de uma nova tecnologia podem ser aplicadas, por exemplo, procedimentos ampliados de P&D, maior controle de qualidade, proibio de testes de novos produtos perto de habitats sensveis.

Oportunidades As empresas podem usar educao e comunicao, em colaborao umas com as outras e com oNGs, para dissipar as preocupaes do pblico sobre as novas tecnologias. Potenciais oportunidades comerciais para as empresas que investirem ou desenvolverem novas tecnologias e prticas de produo que sejam amigveis para a biodiversidade e os servios ecossistmicos.

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Qual a tendncia?

Riscos e implicaes para as empresas relacionados biodiversidade

Oportunidades e implicaes para as empresas relacionadas biodiversidade Oportunidades Empresas que usam melhores informaes ecolgicas podem ganhar vantagem por meio da antecipao de aquisies de recursos de alto valor, acordos de servios ecossistmicos e/ou licenas de operao.

Melhoria da compreenso cientfica Uma combinao de pesquisas e melhorias na tecnologia de informao significa que os dados ecolgicos so cada vez mais confiveis, acessveis, e dados espaciais tm resoluo mais alta. Por exemplo, de 2007 a 2009 houve um salto na qualidade e preciso das informaes ecolgicas do Banco de Dados Mundial de reas Protegidas, incluindo a integrao de reas marinhas protegidas, agora disponveis on-line (WDPA, 2009). Inovao tecnolgica Desenvolvimento contnuo da engenharia do biomimetismo, da biotecnologia etc. Por exemplo, em 2008, a segunda gerao de biocombustveis (bioqumicos e termoqumicos), atingiu a fase de demonstrao, ao passo que a terceira gerao de algas biocombustveis promete novos aumentos da produtividade (IEA, 2008).

Risco: Avanos na mensurao do consumo de recursos naturais permitiro maior controle por atores externos sobre o uso e os impactos das empresas na biodiversidade e nos ecossistemas. Implicao: Melhor evidncia de como as empresas dependem da biodiversidade e dos servios ecossistmicos iro priorizar a BSE na agenda das empresas.

Risco: Algumas tecnologias e sistemas de manejo de recursos podem reduzir a diversidade gentica (por exemplo, variedades de culturas hbridas ou monoclonais de alto rendimento) ou prejudicar os ecossistemas de outras maneiras, gerando riscos operacionais e de reputao para a empresa. Implicao: Salvaguardas mais rigorosas podem ser aplicadas para proteger as espcies em extino e os ecossistemas dos riscos decorrentes de uma nova tecnologia, por exemplo, procedimentos ampliados de P&D, maior controle de qualidade, proibio de testes de novos produtos perto de habitats sensveis.

Oportunidades As empresas podem usar educao e comunicao, em colaborao umas com as outras e com oNGs, para dissipar as preocupaes da sociedade quanto a novas tecnologias. Potenciais oportunidades comerciais para as empresas que investirem ou desenvolverem novas tecnologias e prticas de produo que sejam amigveis para a biodiversidade e os servios ecossistmicos.

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Qual a tendncia?

Riscos e implicaes para as empresas relacionados biodiversidade

Oportunidades e implicaes para as empresas relacionadas biodiversidade Oportunidades Algumas empresas vo alm da conformidade e se preparam para mudanas iminentes do marco regulatrio. Empresas podem se beneficiar ajudando a moldar a futura regulamentao e melhorar as relaes entre as partes interessadas. Com os formuladores de polticas passando a contar com mais polticas ambientais baseadas no mercado, como pagamentos por servios ambientais, podem surgir novas oportunidades de receitas para algumas empresas e/ ou a mitigao dos impactos pode se tornar mais flexvel e menos onerosa.

Regulamentao ambiental cada vez mais rigorosa Aumento da velocidade das mudanas, do rigor e da aplicao de polticas pblicas para proteger e garantir que as empresas paguem pelos danos biodiversidade, por exemplo. Diretiva da UE sobre Responsabilidade Ambiental, Diretivas da UE sobre Habitats, Lei da gua Limpa nos EUA, Cdigo Florestal Sustentvel do Mxico (Ecosystem Marketplace, 2010), Lei da Compensao Ambiental do Brasil2. Abordagens voluntrias cada vez mais influenciam as polticas pblicas, por exemplo, compensaes para a biodiversidade, certificao e rotulagem.

Risco: Mudanas imprevistas na regulao e aumento do nus regulatrio sobre as empresas para que reduzam os impactos negativos sobre a biodiversidade, com os governos aplicando o princpio do poluidor pagador mais ampla e rigorosamente. Custos de conformidade e impostos verdes sobre carbono, gua, terra e outros recursos, aumentariam os custos das empresas. Implicaes: As empresas devem se familiarizar com os regimes de poltica ambiental emergentes e garantir que tenham procedimentos adequados para identificar, controlar, monitorar e reportar seu desempenho ambiental. Mais tempo e esforo podem ser necessrios para a expanso das empresas (por exemplo, licenciamento e autorizaes de planejamento, condies de crdito), medida que os impactos sobre a biodiversidade forem submetidos a maior controle.

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Qual a tendncia?

Riscos e implicaes para as empresas relacionados biodiversidade

Oportunidades e implicaes para as empresas relacionadas biodiversidade Oportunidades As empresas podem desenvolver bioculturas ou tecnologias de biocombustvel que no competem com as culturas alimentares pela terra e pela gua. oportunidade de ganhar vantagem competitiva, planejando com antecedncia para garantir as necessidades energticas.

Insegurana energtica A diminuio e crescente inacessibilidade das reservas de combustveis fsseis, junto com riscos polticos relativos ao fornecimento de energia foram os pases e as empresas a reavaliar e diversificar suas fontes de energia.

Risco: Aumento da dependncia em fontes de energia intensiva (bioenergia, energia solar trmica concentrada, energia elica, areias betuminosas etc.) aumenta ainda mais a concorrncia e a presso sobre a base de terra. Empresas de energia cada vez mais buscam ambientes de operao tecnicamente desafiadores (por exemplo, guas profundas e o oceano rtico) para garantir o acesso aos hidrocarbonetos. Implicao: As empresas que operam em reas nas quais a poltica apoia a gerao de energia de uso intensivo de terra tero de planejar aes que garantam o acesso futuro. Por exemplo, o agronegcio na ndia pode ter mais dificuldade em obter terras frteis, devido ao apoio da poltica nacional para o desenvolvimento de biocombustveis (a poltica exige que 20% da demanda de combustvel para motores diesel seja atendida por biocombustveis at 2017, o que pode exigir 14 milhes de hectares de terras (NCAER, 2009).

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Qual a tendncia?

Riscos e implicaes para as empresas relacionados biodiversidade

Oportunidades e implicaes para as empresas relacionadas biodiversidade Oportunidades Propagao de doenas infecciosas (agravada pela m qualidade da gua e ecossistemas degradados) pode levar a aumento dos gastos em sade e pode oferecer mais oportunidades para o setor de sade. As empresas podem desenvolver tratamentos ou tecnologias orientadas para a mitigao e/ ou adaptao das consequncias para a sade por causa do declnio dos ecossistemas.

Propagao de doenas Novos padres de doenas e pandemias como a gripe aviria, a gripe suna e o vrus do Nilo ocidental, agravados pela m qualidade da gua e outras caractersticas de ecossistemas degradados. outras tendncias, como mudanas climticas, urbanizao e globalizao podem acelerar a propagao de doenas.

Risco: A sociedade (e, portanto, as empresas) depende de ecossistemas saudveis, incluindo ar puro e gua limpa para controlar a propagao de doenas. Ecossistemas degradados podem comprometer a sade dos consumidores e dos trabalhadores e afetar as cadeias de valor das empresas. A perda da biodiversidade pode afetar as empresas que buscam explorar as propriedades medicinais e outras propriedades de plantas e animais silvestres (por exemplo, no setor de sade). Implicaes: As empresas podem querer avaliar como suas operaes podem ser afetadas pelo aumento da incidncia de doenas e tomar medidas para reduzir sua propagao entre os empregados. As empresas que dependem de recursos genticos silvestres (por exemplo, setor de biotecnologia e setor farmacutico) devem planejar para um mundo com declnio da biodiversidade e aumento dos custos de matrias-primas.

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Qual a tendncia?

Riscos e implicaes para as empresas relacionados biodiversidade

Oportunidades e implicaes para as empresas relacionadas biodiversidade Oportunidades Desenvolvimento de servios e ferramentas empresariais para avaliar os riscos associados s mudanas climticas (por exemplo, mapeamento de riscos climticos) ou prestao de servios de adaptao climtica (por exemplo, culturas resistentes seca). Vantagem potencial para as empresas que conseguem prever os impactos das mudanas climticas e tornar seus modelos de negcio prova do clima. Participao em mercados emergentes de compensao de carbono (inclusive o REDD+).

Mudanas climticas Fenmenos complexos atribudos emisso de gases de efeito estufa esto mudando o funcionamento dos ecossistemas nos nveis regional e global. Sob vrios cenrios, o IPCC sugere um aumento da temperatura global entre 1 e 6C at o final deste sculo (IEA, 2009). Mesmo com um aumento mdio global da temperatura de apenas 1,5-2,5C, prev-se que 20-30% de todas as espcies ficaro sujeitas a maior risco de extino (IPCC, 2007).

Risco: As mudanas na temperatura, o aumento de eventos climticos extremos, a elevao do nvel do mar, o aumento do estresse hdrico e as secas iro alterar drasticamente a disponibilidade de servios ecossistmicos dos quais todas as empresas dependem. Por exemplo, a perda de ativos tursticos naturais, como recifes de coral, devido a alteraes na temperatura e acidez do mar, ou a reduo da produtividade agrcola devido maior escassez de gua. Implicaes: As empresas podem integrar os impactos das mudanas climticas no planejamento de longo prazo e avaliar se essa tendncia pode prejudicar o acesso aos servios ecossistmicos.

1.3.4 MUDANAS NAS PREFERNCIAS DOS CONSUMIDORES: IMPLICAES PARA OS NEGCIOS E PARA A BIODIVERSIDADEo setor de negcios, a biodiversidade e as relaes entre eles so fortemente influenciados pelas preferncias dos consumidores, que esto em constante evoluo. Um estudo recente com mais de 13 mil pessoas sugere que os consumidores esto mais preocupados com o meio ambiente hoje que h poucos anos: 82% dos consumidores na Amrica Latina estavam mais preocupados, seguidos de 56% na sia, 49% nos EUA e 48% na Europa (TNS, 2008). Alguns exemplos de mudanas nas preferncias dos consumidores incluem uma reduo da demanda por tratamentos da medicina tradicional chinesa, devido aos impactos percebidos sobre espcies ameaadas (por exemplo, tigres, ursos, cavalos-marinhos), ou mudanas na aceitao de roupas confeccionadas com peles na Europa e na Amrica do Norte, com repercusses tanto para a caa de animais silvestres quanto para a criao de animais para a produo de peles. A conscincia da sociedade sobre a biodiversidade tambm est crescendo: uma pesquisa realizada pela IPSoS em 2010 revelou que 60% dos consumidores na Europa e nos Estados Unidos (e 94% no Brasil) ouviram falar da biodiversidade, representando um aumento em relao ao ano anterior (UEBT, 2010). o aumento da conscientiza-

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o pode influenciar o comportamento de compra: 81% dos consumidores entrevistados na pesquisa declararam que deixariam de comprar produtos de empresas que desconsideram prticas ticas de fornecimento. Em outra pesquisa de consumidores, no Reino Unido, realizada em maio de 2010, cerca de metade dos respondentes indicou que estaria disposta a pagar entre 10% e 25% a mais em compras de at GB 100, para compensar os impactos sobre a biodiversidade e os ecossistemas3. A proliferao de produtos ecologicamente certificados outra indicao das mudanas nas preferncias dos consumidores: a pesquisa da IPSoS mencionada acima tambm revelou que 82% dos consumidores tm mais confiana nas empresas que se submetem a uma verificao independente de suas prticas de fornecimento (UEBT, 2010). Muitos sistemas de rotulagem surgiram em resposta s campanhas de oNGs, s preocupaes da sociedade e s mudanas nas preferncias relacionadas perda da biodiversidade, incluindo o Conselho de Manejo Florestal (Forest Stewardship Council FSC), o Conselho de Gerenciamento Marinho (Marine Stewardship Council MSC) e o caf, o cacau e o ch certificados pela Rainforest Alliance, ao passo que o nmero de membros da Aliana Internacional para a Certificao Social e Ambiental (International Social and Environmental Accreditation Alliance) mais que duplicou nos ltimos dois anos (ISEAL, 2010). Alm do aumento do nmero de programas de rotulagem ecolgica, as vendas totais e a fatia de mercado para produtos certificados tambm esto crescendo, embora a partir de uma base pequena. Entre 2005 e 2007, por exemplo, as vendas de produtos certificados pelo FSC quadruplicaram (FSC, 2008), enquanto os gastos com alimentos e bebidas produzidos por meio de prticas ticas em geral mais que triplicaram na ltima dcada, aumentando de GB 1,9 bilhes em 1999 para mais de GB 6 bilhes em 2008 (The Cooperative Bank, 2008). Em outro exemplo, entre abril de 2008 e maro de 2009, o mercado global para produtos marinhos certificados pelo MSC cresceu mais de 50%, atingindo um valor de varejo de US$ 1,5 bilhes (MSC 2009). o comportamento de alguns proprietrios de marcas de FMCG (produtos de alto consumo) sugere que a rotulagem ecolgica est deixando de ser nicho de mercado e est se tornando a regra. Nos ltimos anos, vrios proprietrios de marcas e varejistas acrescentaram atributos ecologicamente corretos s suas marcas principais, muitas vezes por meio de certificao. Exemplos incluem Domtar (papel certificado pelo FSC), Mars (cacau certificado pela Rainforest Alliance), Cadbury (cacau certificado pela Fairtrade), Kraft (caf Kenco certificado pela Rainforest Alliance) e Unilever (ch PG Tips certificado pela Rainforest Alliance). Destaca-se que todas essas marcas oferecem atributos da biodiversidade por meio de esquemas de certificao, mas no exigem que o consumidor pague mais ou se contente com menos qualidade, sabor ou disponibilidade. os varejistas tambm adotam medidas com relao biodiversidade e informam os consumidores de suas aes. No Reino Unido, por exemplo, a cadeia de supermercados Waitrose relaciona sua poltica para o leo de Dend rotulagem para o cliente: A Waitrose j implantou uma poltica tcnica para especificar os nomes dos leos, ao invs de usar o termo leos vegetais combinados. Como resultado, podemos confirmar que o leo de dend utilizado como ingrediente em apenas um pequeno nmero de nossos produtos de marca, que so identificveis para nossos clientes (Waitrose, 2009). A ao do setor de negcios no apenas responder s preferncias dos consumidores, mas em si um importante indutor que influencia e educa os consumidores. os governos podem tambm influenciar as escolhas dos consumidores e o comportamento dos produtores por meio da regulao do mercado e de incentivos, como impostos e subsdios, mas tambm por meio de suas prprias estratgias de compra. Por exemplo, dezesseis Estados-Membros da UE adotaram Planos de Ao Nacionais para Licitaes Pblicas Verdes, que incluem critrios ambientais para a compra de produtos e servios (CE, 2009).

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Com o aumento da demanda dos consumidores por produtos e servios favorveis biodiversidade, as empresas devem tentar assegurar que as implicaes para suas operaes sejam identificadas, avaliadas e administradas. Cada vez mais, as cadeias de fornecimento das empresas de bens de consumo so avaliadas em termos de impactos e gesto da biodiversidade. Por exemplo, o Wal-Mart comeou a classificar seus fornecedores com base em seu desempenho de sustentabilidade, tendo a biodiversidade e o uso dos recursos naturais como fatores importantes no processo. o Wal-Mart pretende criar rtulos ecolgicos para todos seus produtos no prazo de cinco anos. Portanto, a presso sobre os fornecedores para incorporar consideraes de biodiversidade em seus processos internos de gesto tende a aumentar. Particularmente nos negcios que envolvem contato direto com os consumidores, as empresas podem desejar garantir que a biodiversidade esteja plenamente integrada em sistemas de gesto de risco. Isso pode incluir: Garantir que as preocupaes dos consumidores relacionadas biodiversidade estejam includas na lista de riscos corporativos (por exemplo, a empresa conhece bem as atitudes de seus clientes?); Avaliao da importncia do risco (por exemplo, que impacto ter sobre o valor da marca? As mudanas nas preferncias dos clientes relacionadas com a biodiversidade podem influenciar a demanda por produtos-chave? Como isso se relaciona com outros riscos, como mudanas climticas, escassez de gua, ciclos de negcios?); Elaborao de respostas adequadas (por exemplo, modificar os procedimentos internos de contratao ou produo e influenciar os principais atores da cadeia de valor para assegurar que sejam minimizados os impactos biodiversidade, estabelecer processos colaborativos que combinem as experincias de todo o setor para lidar com as questes dos consumidores relacionadas biodiversidade, desenvolver poltica de biodiversidade e estratgia de comunicao especificamente para lidar com as preocupaes dos clientes e educar os consumidores). Para aproveitar os mercados emergentes por bens e servios ambientalmente responsveis, as empresas podem considerar se possuem processos e competncias relevantes. Por exemplo, a adeso a sistemas de ecocertificao exige um conhecimento aprofundado dos impactos de produtos e processos empresariais sobre a biodiversidade, bem como o desenvolvimento da capacidade de apoio ao monitoramento, controles, sistemas de avaliao e comunicao.

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1.4

DAS PRINCIPAIS TENDNCIAS AoS VALoRES EMPRESARIAIS

A seo anterior analisou algumas das principais tendncias que afetam os negcios e mostrou como essas tendncias podem influenciar as respostas das empresas perda da biodiversidade e ao declnio dos ecossistemas. Embora muitas dessas tendncias estejam fora da esfera tradicional do manejo da biodiversidade e dos ecossistemas, defendemos aqui que elas no podem ser consideradas isoladamente. A fim de desenvolver uma resposta eficaz a essas tendncias e suas interaes, as empresas precisam de informaes confiveis para avaliar seus impactos e sua dependncia na biodiversidade e nos ecossistemas. Matrizes de gesto de risco podem proporcionar uma estrutura e um processo para a anlise e o acompanhamento de tais tendncias, a alocao de recursos e a determinao de respostas adequadas. Se os riscos significativos forem identificados, avaliados e administrados rapidamente, podem ser transformados em vantagens competitivas. o prximo captulo do presente relatrio oferece uma viso geral da situao e das tendncias da biodiversidade e dos ecossistemas, dos indutores da perda de biodiversidade, e descreve os valores econmicos em jogo. o impacto e as dependncias de uma gama de setores na BSE tambm so explorados, juntamente com uma viso geral de como podem criar tanto riscos quanto oportunidades para as empresas.

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RefernciasAthanas, A., Bishop, J., Cassara, A., Donaubauer, P., Perceval, C., Rafiq, M., Ranganathan, J., and Risgaard, P. (2006) Ecosystem Challenges and Business Implications. Business and Ecosystems Issue Brief, Earthwatch Institute, World Resources Institute, WBCSD and IUCN (Novembro). Bishop, J., Kapila, S., Hicks, F., Mitchell, P. and Vorhies, F. (2008) Building Biodiversity Business. Shell International Limited and the International Union for Conservation of Nature: London, UK, and Gland, Switzerland. 164 pp. (Maro). Dahdouh-Guebas, F. et al., (2005) How effective were mangroves as a defence against the recent tsunami? Current Biology Vol 15 No 12. URL: http://www.vub.ac.be/APNA/staff/FDG/pub/Dahdouh-Guebasetal_2005b_CurrBiol.pdf (ultimo acesso em 17 de junho de 2010) European Commission (2009), National GPP policies and guidelines. 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Notas de fim1 Mais informaes sobre este e outros relatrios TEEB podem ser encontradas em: www.teebweb.org 2 A Compensao Ambiental descrita no artigo 36 da legislao brasileira (Lei n. 9985/2000) e se destina a compensar os impactos negativos sobre o ambiente natural causados pelo desenvolvimento de projetos, exigindo que os desenvolvedores paguem uma taxa de licenciamento. 3 Pesquisa realizada em nome da PricewaterhouseCoopers pela opinium, em maio de 2010, com 2.000 entrevistados em todo o Reino Unido. os entrevistados responderam a um conjunto de perguntas diretas e de mltipla escolha.

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A ECoNoMIA DoS ECoSSISTEMAS E DA BIoDIVERSIDA D ETEEB PARA o SEToR DE NEGCIoS

Captulo 1 Captulo 2

Negcios, biodiversidade e servios ecossistmicos Impactos e relao de dependncia da atividade empresarial com a biodiversidade e os servios ecossistmicos Medida e avaliao dos impactos e da interdependncia da biodiversidade e dos servios ecossistmicos Redimensionando os riscos da perda da biodiversidade e dos ecossistemas para as empresas Como a biodiversidade pode ampliar as oportunidades de negcio Negcios, biodiversidade e desenvolvimento sustentvel Uma receita para biodiversidade e crescimento empresarial

Captulo 3 Captulo 4 Captulo 5 Captulo 6 Captulo 7

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Captulo 2: Impactos e relao de dependncia da atividade empresarial com a biodiversidade e os servios ecossistmicosCoordenador do TEEB para o setor de negcios: Joshua Bishop (International Union for Conservation of Nature) Editores: Mikkel Kallesoe (WBCSD), Nicolas Bertrand (UNEP) Autores colaboradores: Scott Harrison (BC Hydro), Kathleen Gardiner (Suncor Energy Inc.), Peter Sutherland (GHD), Bambi Semroc (CI), Julie Gorte (Pax World), Eduardo Escobedo (UNCTAD), Mark Trevitt (Trucost plc), Nathalie olsen (IUCN), James Spurgeon (ERM), John Finisdore (WRI), Jeff Peters (Syngenta), Ivo Mulder (UNEP FI), Christoph Schrter-Schlaack (UFZ), Emma Dunkin, Cornelia Iliescu (UNEP) Agradecimentos: Adachi Naoki (Responsibility), Alistair McVittie (SAC), Delia Shannon (Aggregate Industries), Gerard Bos (Holcim), Luke Brander (IVM), Richard Mattison (Trucost plc), Alison Reinert (Syngenta), Donn Waage (NFWF), Gigi Arino (Syngenta), Jeffrey Wielgus (WRI), Jennifer Shaw (Syngenta), JiSu Bang (Syngenta), Juan Valero-Gonzalez (Syngenta), Rufus Isaacs (Michigan State University), Steve Bartell (E2 Consulting) Iseno de Responsabilidade: As opinies expressas neste relatrio so de responsabilidade exclusiva dos autores e no refletem necessariamente a posio oficial das organizaes envolvidas. A edio final do TEEB para o Setor de Negcios ser publicada pela Earthscan. Informaes adicionais ou comentrios que, na opinio do leitor, devam ser considerados para incluso no relatrio final devem ser enviados por correio eletrnico at 6 de setembro de 2010 para: [email protected] TEEB sediado pelo Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente e conta com o apoio da Comisso Europeia; do Ministrio Federal do Meio Ambiente da Alemanha; do Departamento para o Meio Ambiente, Alimentao e Assuntos Rurais do Reino Unido; do Departamento para o Desenvolvimento internacional do Reino Unido; do Ministrio para Assuntos Externos da Noruega; do Programa Interministerial para a Biodiversidade da Holanda e da Agncia Internacional de Cooperao para o Desenvolvimento da Sucia.

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A ECONOMIA DOS ECOSSISTEMAS E DA BIODIVERSIDADE

Captulo 2Impactos e relao de dependncia da atividade empresarial com a biodiversidade e os servios ecossistmicos

Contedo Mensagens-chave 2.1 Introduo 2.2 Biodiversidade, ecossistemas e servios ecossistmicos 2.2.1 o status e as tendncias da biodiversidade, ecossistemas e servios ecossistmicos 2.2.2 Modelando o futuro da biodiversidade e dos servios ecossistmicos 2.2.3 Fatores da perda da biodiversidade e da degradao dos ecossistemas 2.2.4 Implicaes para as empresas 2.2.5 As externalidades e os valores em jogo 2.3 Impactos e relao de dependncia com a biodiversidade e os servios ecossistmicos por setor 2.3.1 Agricultura 2.3.2 Silvicultura 2.3.3 Minerao e extrativismo 2.3.4 Petrleo e gs 2.3.5 Cosmticos e cuidados pessoais 2.3.6 Abastecimento de gua e saneamento 2.3.7 Pesca 2.3.8 Turismo 2.3.9 Transporte 2.3.10 Manufatura 2.3.11 Financeiro 2.4 Riscos e oportunidades para as empresas relacionados biodiversidade e aos ecossistemas 2.4.1 operacional 2.4.2 Regulatrio e legal 2.4.3 Reputao 2.4.4 Mercado e produto 2.4.5 Financiamento 2.5 Concluso Referncias

37 38 39 40 42 44 45 48 51 51 54 55 58 58 58 59 60 60 61 62 63 63 64 64 65 65 66 67

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Quadros Quadro 2.1 operao Polinizadora: investir no capital natural para a agricultura Quadro 2.1 operao Polinizadora: investir no capital natural para a agricultura Quadro 2.2 A produo de algodo e o Mar de Aral Quadro 2.2 A produo de algodo e o Mar de Aral Quadro 2.3 Construo e Desmatamento na China Quadro 2.3 Construo e Desmatamento na China Quadro 2.4 Holcim e o valor da restaurao de reas midas Quadro 2.5 Como as concessionrias de gua dependem dos servios das bacias hidrogrficas Figuras Figura 2.1 o balancete dos recursos ecossistmicos Figura 2.2 Efeitos dos principais fatores da perda da biodiversidade Figura 2.3 Feedback e interao entre os fatores Figura 2.4 Estimativa de impactos ambientais de cinco importantes setores da indstria Figura 2.5 Mapa Ricoh de atividades empresariais e biodiversidade Tabelas Tabela 2.1 Quatro categorias de servios ecossistmicos Tabela 2.2 Relao entre biodiversidade, ecossistema e servios ecossistmicos

52 53 53 54 56 57 57 59

41 43 44 50 61

39 40

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Mensagens-chaveTodas as empresas, independentemente do setor, afetam tanto a biodiversidade quanto os ecossistemas e dependem dos servios ecossistmicos: difcil pensar em alguma atividade econmica que no se beneficie de BSE ou que, de alguma forma, no modifique o ecossistema ao seu redor. Como por exemplo: a indstria de biotecnologia se beneficia do acesso a recursos genticos silvestres, mas tambm pode criar riscos por meio da introduo de organismos geneticamente modificados; o agronegcio e o setor de alimentos dependem dos servios ecossistmicos, como a polinizao, mas tambm, por meio de impactos causados sobre o solo, os recursos hdricos podem reduzir outros servios ecossistmicos; as indstrias florestais da construo e editoras dependem de um fornecimento sustentvel de madeira e fibra de madeira, mas podem alterar a estrutura da floresta em detrimento da vida selvagem e dos valores de recreao; o turismo obtm lucro de servios culturais e de valores estticos das paisagens naturais, mas pode trazer muitos turistas para uma rea em que os bens naturais fiquem prejudicados. O declnio de BSE continua a ocorrer a taxas sem precedentes: A maioria dos indicadores a respeito da situao de BSE mostra declnio, os indicadores de impacto sobre a biodiversidade mostram aumento, apesar de algumas respostas e sucessos localizados, a taxa da perda da biodiversidade e dos ecossistemas no parece estar diminuindo. Isto representa um risco real e tangvel para os negcios e para a sociedade em geral. A BSE gera valor para os negcios e a economia em geral e a perda de BSE impe custos tanto ao setor pblico quanto ao privado. Os fatores principais do declnio de BSE so as alteraes dos habitats, as mudanas climticas, as espcies exticas invasoras, a explorao excessiva e a poluio: As empresas podem ajudar a reduzir estas presses por meio da gesto e diminuio dos impactos sobre a biodiversidade e os servios ecossistmicos. Elas devem revisar sistematicamente as suas operaes em relao BSE e avaliar como fatores diretos e indiretos de mudana nesses servios podem afetar seus negcios. O sistema operacional, a regulamentao, a reputao, o mercado, o produto e os riscos financeiros associados ao declnio da BSE so frequentemente ignorados e subestimados pelas empresas, especialmente quando so indiretos: As empresas precisam examinar a sua hierarquia de valor, a fim de determinar como e onde os impactos na BSE e a sua dependncia podem afetar os negcios. Historicamente, a BSE recebia pouca ateno nas anlises financeiras de desempenho da empresa, mas isto est mudando, em parte como consequncia de uma maior ateno para os riscos das mudanas climticas e as oportunidades de negcios. Existem oportunidades de negcios ainda no exploradas para abordar o declnio de BSE, contribuindo simultaneamente para outros objetivos sociais: Empresas perspicazes podem criar oportunidades desde a ecologizao dos investidores, clientes e preferncias dos consumidores. Entretanto, as empresas que falham em avaliar os impactos e dependncias na biodiversidade e nos servios ecossistmicos podem negligenciar algumas oportunidades rentveis. Os valores de BSE so muitas vezes externos tomada de deciso das empresas: Embora, muitas empresas reconheam a importncia do declnio de BSE e meam os impactos e as dependncias nos ecossistemas, ainda encontram dificuldades para integrar esta informao ao seu ncleo de decises operacional e corporativo.

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2.1

INTRoDUo

A maior parte das empresas tem uma relao de dar e receber com a natureza. Por um lado, podem apresentar impacto direto sobre a biodiversidade e os ecossistemas por meio de suas principais operaes ou ainda impactos indiretos, por intermdio de sua cadeia de produo, ou pelos seus emprstimos e opes de investimento. Por outro lado, muitas empresas dependem da biodiversidade e dos servios prestados pelos ecossistemas como fatores-chave para produtos e processos de produo. difcil pensar em qualquer atividade econmica que no se beneficie dos servios ecossistmicos de alguma forma (WRI et al., 2008). A gua doce, por exemplo, um insumo fundamental para quase todos os processos industriais, desde hortas de alfaces frescas at a minerao em grande escala. As empresas farmacuticas dependem de recursos genticos silvestres para identificao de novos ingre