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PODER JUDICIÁRIO ' APELAÇÃO CÍVEL Nº 273174-89.2007.8.09.0130 (200792731743) AGRAVO REGIMENTAL Comarca de Porangatu Agravante: Joana José da Costa 1º Agravado: Gontijo e Gontijo Filho Ltda e outro(s) 2º Agravado: Venceslau Pinto Cerqueira 3º Agravado: Rui Resende Relator em substituição: Juiz Sérgio Mendonça de Araújo RELATÓRIO E VOTO Cuida-se de agravo interno interposto por Joana José da Costa, contra a decisão monocrática de fls. 761/768, que negou seguimento aos embargos declaratórios opostos contra o decisum de fls. 736/750, que negou seguimento ao recurso apelatório que a agravante interpôs contra a sentença proferida nos autos da ação de usucapião ajuizada em desfavor de Gontijo e Gontijo Filho Ltda e Venceslau Pinto Cerqueira, nos termos do artigo 557, “caput”, do CPC, por estar em confronto com a jurisprudência dominante desta Corte e de Tribunal Superior. A agravante, nas razões recursais de fls. 771/777, informa, em síntese, que “Trajano Machado Gontijo Filho, antigo sócio majoritário do Hospital São José nos idos tempos do final da década de 80 e início da década de 90, combinou vender para vários médicos lotes anexos ao Hospital para que os mesmos construíssem suas clínicas, e, que os escrituraria a seguir, o que não houve. Como também, quando da homologação judicial da partilha em face da união estável com a agravante, transmitiu e imitiu na posse da área usucapienda sem 5/Agint.273174-89.2007rv 1

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PODER JUDICIÁRIO'

APELAÇÃO CÍVEL Nº 273174-89.2007.8.09.0130 (200792731743)

AGRAVO REGIMENTAL

Comarca de Porangatu

Agravante: Joana José da Costa

1º Agravado: Gontijo e Gontijo Filho Ltda e outro(s)

2º Agravado: Venceslau Pinto Cerqueira

3º Agravado: Rui Resende

Relator em substituição: Juiz Sérgio Mendonça de Araújo

RELATÓRIO E VOTO

Cuida-se de agravo interno interposto por Joana José da

Costa, contra a decisão monocrática de fls. 761/768, que negou seguimento

aos embargos declaratórios opostos contra o decisum de fls. 736/750, que

negou seguimento ao recurso apelatório que a agravante interpôs contra a

sentença proferida nos autos da ação de usucapião ajuizada em desfavor de

Gontijo e Gontijo Filho Ltda e Venceslau Pinto Cerqueira, nos termos do

artigo 557, “caput”, do CPC, por estar em confronto com a jurisprudência

dominante desta Corte e de Tribunal Superior.

A agravante, nas razões recursais de fls. 771/777, informa, em

síntese, que “Trajano Machado Gontijo Filho, antigo sócio majoritário

do Hospital São José nos idos tempos do final da década de 80 e

início da década de 90, combinou vender para vários médicos lotes

anexos ao Hospital para que os mesmos construíssem suas clínicas, e,

que os escrituraria a seguir, o que não houve. Como também, quando

da homologação judicial da partilha em face da união estável com a

agravante, transmitiu e imitiu na posse da área usucapienda sem

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benfeitorias descritas na inicial”.

Aduz que “os vários médicos foram imitidos na posse das

respectivas áreas, pelo sócio majoritário do Hospital São José, como

afirma todas as testemunhas e em especial a testemunha Luiz Antônio

de Carvalho. As Clínicas foram efetivamente construídas. Os médicos

Antônio Rodrigues de Macedo, Maria Blandina Santos e Margareth da

Mata, venderam as benfeitorias (clínicas construídas) para a

agravante e ato contínuo transmitiram para a mesma a posse

continuada das respectivas áreas e benfeitorias”.

Assim, alega que “a agravante não ocupa as áreas

usucapiendas por mero consentimento, pois, quem compra e sucede

anteriores posseiros, adquire e passa a usufruir o bem, com ânimo de

dono, principalmente quando ali exerce seu trabalho profissional –

Clínica Psicológica – conforme unanimemente atestaram as

testemunhas”.

Sustenta que “pleiteia o reconhecimento da usucapião em

face de posse sem benfeitorias, transmitida por decisão judicial

(acordo de separação de união estável, devidamente homologado em

juízo – documento juntado nos presentes autos – fls. 11 a 14), e,

também, em face de posse continuada proveniente de aquisição feita a

terceiros, conforme atestaram, unanimemente, as testemunhas ouvidas

em juízo”.

Reitera que a agravante comprou as benfeitorias e áreas de

quem as poderia vender, exercendo a sua posse nos imóveis usucapiendos

com ânimo de dona.

Insiste ainda que “em momento algum as testemunhas fizeram

qualquer referência à mera deliberação do ex-cônjuge da agravante

para que a mesma ocupasse as áreas edificadas, pois, na verdade as

mesmas ditas áreas foram adquiridas pela agravante de terceiros

detentores das respectivas posses e benfeitorias”.

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No mais, argumenta que “a fundamentação da decisão

fustigada transformou-se num argumento vazio, já que não encontra

correspondência na prova, ofendendo diretamente o princípio da

persuação racional das provas, daí a necessidade imperiosa da sua

cassação ou reformulação adequando a fundamentação nas provas dos

autos”.

Ao final, requer a reconsideração do ato agravado ou que seja

o recurso submetido a julgamento para, uma vez conhecido e provido, seja

dado provimento à apelação cível interposta pela agravante, com a reforma

total da sentença recorrida.

Preparo às fls. 778.

É o relatório.

Passo ao VOTO.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do

agravo interno interposto.

Contudo, o descontentamento não prospera.

Insta observar que, dada a sua natureza, o agravo interno deve

encerrar discussão restrita à adequação do posicionamento adotado pelo

julgador aos preceitos do art. 557 do CPC, cabendo à parte agravante

demonstrar, a contento, que a decisão foi proferida em desconformidade com

os precedentes pretorianos.

Nessa senda, adverte Athos Gusmão Carneiro:

“Os argumentos da petição recursal devem impugnar direta e

especificamente os fundamentos da decisão agravada, cabendo inclusive arguir

que o caso concreto não admitiria a decisão singular; não basta à parte,

simplesmente, repetir a fundamentação do recurso 'anterior'.” (in Poderes do

relator e agravo interno: Artigos 557, 544 e 545 do CPC, Revista de Direito

Processual Civil Genesis, vol. 17, julho/setembro 2000, p. 457/475).

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Todavia, no caso em tela, verifico que a recorrente não logrou

êxito em demonstrar a atipicidade da deliberação unipessoal, máxime porque

limitou-se à alegação de teses já afastadas no exame do recurso decidido

singularmente por esta Relatoria, cuja fundamentação guarda perfeita

consonância com a jurisprudência predominante nesta e na Superior Corte,

tendo restando muito bem apreciados os motivos que levaram à negativa de

seguimento ao apelo com a manutenção da sentença recorrida, nada

restando que mereça pronunciamento mais profundo.

Isto porque a mera alegação da agravante de que “comprou”

os imóveis usucapiendos de terceiros, outros médicos, que haviam adquirido

do Sr. Trajano Machado Gontijo Filho, seu ex-companheiro, porém, sem

existir escrituração, e sem qualquer documentação nesse sentido, não é

capaz de comprovar esse fato.

Frise-se, ademais, que essa situação (compra dos imóveis)

sequer chegou a ser mencionada em sua petição inicial (fls. 02/03) , limitando-

se a narrar que na condição de “cessionária” do Sr. Trajano Machado Gontijo

Filho, pleiteava o usucapião dos imóveis ali descritos, além do mais, esse

tema foi superficialmente abordado no recurso apelatório.

Outrossim, a sua condição de companheira do Sr. Trajano

Machado Gontijo Filho, um dos proprietários dos imóveis que lhe foram

cedidos à época, por ato de mera liberalidade e tolerância, está provada de

forma inconteste nos autos, não cabendo usucapião na hipótese em tela, por

expressa determinação legal.

Sendo assim, no pertinente à faculdade do Relator em

reconsiderar ou não o ato processual realizado monocraticamente, hei por

bem em manter inalterado o provimento recorrido, pois, a meu sentir, a

argumentação oferecida não é suficiente a rechaçá-lo, pelo que vale

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transcrever o que lá ficou consignado, no que importa, verbis:

“(...) Como relatado, cuida-se de apelação cível interposta por

Joana José da Costa contra sentença proferida pelo magistrado a quo, que, nos

autos da ação de usucapião promovida por aquela em desfavor de Gontijo e

Gontijo Filho Ltda e Venceslau Pinto Cerqueira, julgou improcedente o pedido

vestibular.

(…)

Com efeito, extrai-se da sentença fustigada que seu prolator

entendeu não ter restado comprovada a posse com ânimo de proprietária da

autora/apelante sobre os imóveis usucapiendos, aduzindo, “em relação à sala

onde estabeleceu a sua clínica, percebe-se que o imóvel foi cedido por seu ex-

companheiro, a título precário, não havendo nos autos prova de que exercia a

posse com animus domini” (fls. 693), e que, “em relação ao imóvel que circunda

a clínica onde a requerente exercia o seu labor como psicóloga, pertencente ao

segundo requerido, não restou demonstrado nos autos que a requerente exercia

os poderes inerentes à propriedade, pois algumas testemunhas foram

contundentes em afirmar que o imóvel em epígrafe pertencia ao Dr. Trajano”.

Assim, o dirigente processual rechaçou a tese da

autora/recorrente alusiva ao animus domini, por se tratar de posse

estabelecida com mera permissão e tolerância dos proprietários.

A posse prolongada da coisa pode conduzir à aquisição da

propriedade, se presentes os requisitos estabelecidos em lei. Concretamente,

denomina-se usucapião o modo de aquisição da propriedade mediante a posse

suficientemente estendida, se atendidas determinadas condições.

Na hipótese dos autos, a apelante objetiva o reconhecimento da

chamada usucapião extraordinária, para a qual se exige a observância dos

seguintes requisitos: posse contínua e incontestada, ânimo de dona e o decurso

de prazo especificado na legislação em vigor.

A respeito da usucapião extraordinária o art. 1.238, do Código

Civil de 2002, prevê o seguinte:

“Art. 1.238. Aquele que, por 15 (quinze) anos, sem

interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-

lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo

requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá

de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.

Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-

se-á a 10 (dez) anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel

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a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de

caráter produtivo.”

A exigência de posse mansa e pacífica provém do próprio conceito

de usucapião, entendida como forma de aquisição da propriedade a partir da

posse, qualificada pelo elemento tempo.

Do conjunto probatório dos autos, percebe-se, claramente, óbice

intransponível à expectativa de direito da autora, ora recorrente, qual seja,

a posse mansa, contínua e incontestada pelo período exigido na legislação

civil suso mencionada.

O elemento subjetivo, por sua vez, consubstancia-se no animus

domini que, como a própria denominação está a indicar, corresponde à

exteriorização de atitudes, por parte do possuidor, compatíveis com a postura

de quem se considera proprietário da coisa.

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal assentou substancioso

posicionamento jurisprudencial:

“(...), torna-se indispensável a demonstração da condição

subjetiva para a usucapião, qual seja, a intenção de ter o

possuidor o imóvel como próprio”. (STF, 2ª Turma, Rel. Min.

Carlos Madeira, j. 17.12.1985, RE nº 103132 / CE, D. J. de

07.03.986, p. 2.842.

No caso em testilha, a despeito dos esforços envidados pela

apelante com o escopo de demonstrar o seu direito ao título de domínio dos

imóveis em questão, pelo exame das provas coligidas no caderno processual

durante a instrução do feito originário, não me convenci do sucesso quanto aos

argumentos arrazoados pela recorrente.

Isto porque, conforme se extrai dos autos, a apelante não detinha

a posse de ambos os imóveis com ânimo de dona, já que ela utilizava as

respectivas áreas por mera permissão de seu ex companheiro - Trajano Machado

Gontijo Filho, sócio-proprietário da empresa requerida Gontijo e Gontijo Filho

Ltda, onde se localizam as áreas objeto desse litígio, configurando atos de

permissão e tolerância, o que torna a posse da autora exercida sobre os

imóveis, precária.

Os elementos colhidos a partir de prova oral produzida em juízo

perante a instância singela, revelam a posse precária da autora, in verbis:

“(...) quando voltou a Porangatu, indo trabalhar no Hospital

São José, que era do Dr. Trajano, seno notório na cidade que era

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o proprietário da área, embora o depoente não soubesse em nome de

quem estava registrado (…) que o Hospital São José tinha uma

empresa constituída e quem administrava era o Dr. Antônio Paulo,

filho do Dr. Trajano; que não conhece Venceslau, pois a área

total sempre pertenceu ao Dr. Trajano, segundo sabe o depoente

(…) que a área do terreno que ladeia a clínica é cercada mas o

depoente não tem frequentado o lugar não sabendo a que título a

requerente utiliza a área” (declarações prestadas pela testemunha

Antônio Rodrigues de Macedo – fls. 645).

“(...) que a requerente é companheira de Dr. Trajano há

muitos anos, continuando a posse do mesmo nas áreas de lote que

circundam a clínica, que pertenciam a Venceslau, foram adquiridas

pelo Dr. Freitas que depois alienou para Dr. Trajano, que ficou

dono sozinho” (declarações prestadas pela testemunha Luiz Antônio

de Carvalho – fls. 648/649).

Como se sabe, os atos de mera permissão ou tolerância não induzem

posse - art. 497 do Código Civil de 1916, equivalente ao art. 1.208 do Código

Vigente -, ou seja, aquele que exerce poder sobre a coisa sob a permissão ou a

tolerância do proprietário não tem posse e, portanto, não pode adquirir o bem

pela usucapião, senão vejamos o texto de lei:

“Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou

tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos

violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou

a clandestinidade.”

Sobre o assunto leciona Washington de Barros Monteiro (Curso de

Direito Civil. Direito das Coisas. 37. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, v. 3, p.

37/38):

“Na primeira parte, ocupa-se o legislador da posse precária,

que apenas subsiste em favor do detentor, enquanto convenha ao

proprietário. A tolerância e a permissão deste não induzem posse.

Ele transige com a prática dos atos, reservando-se, todavia, o

direito de revogar a ordem, quando julgue inconveniente. Por sua

vez, a pessoa beneficiada recolhe a vantagem a título precário,

sabendo de antemão que poderá perdê-la a qualquer momento. Por

exemplo, tolero, por gentileza ou amizade, que um vizinho passe

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pelo meu terreno. Tal passagem, embora reiterada, não induz

posse, por se tratar de mero favor, a todo tempo revogável. Se,

apesar de revogada a autorização, persistir o vizinho na

travessia, terá praticado turbação.

O Código alude a permissão e tolerância. Equivalem-se,

porém, esses atos. A única diferença está em que a concessão, na

primeira, é expressa, e na segunda, virtual ou tácita.”

Desta feita, a outra conclusão não se pode chegar senão a de que

a apelante realmente detinha posse precária, por mera tolerância dos

proprietários, em razão de ser companheira do Sr. Trajano, sócio-proprietário

da empresa requerida Gontijo e Gontijo Filho Ltda, um dos proprietários dos

imóveis, os quais, permitiram e cederam verbalmente o seu usufruto à autora

para que esta utilizasse as respectivas salas.

O caso em tela, pelo que se pode auferir dos presentes autos,

mormente da prova oral levada a efeito, dá conta de que a apelante manteve-se

na posse da coisa durante alguns anos, sem exercer o ânimo de dona do imóvel,

já que lá esteve em razão do consentimento dos verdadeiros proprietários que

aquiesceram com a respectiva posse, confiando-lhe os sobreditos imóveis, o que

caracteriza uma verdadeira “posse precária”, haja vista o relacionamento de

confiança evidenciado entre a recorrente e o Sr. Trajano, sócio-proprietário

da empresa requerida Gontijo e Gontijo Filho Ltda, em razão dele ser seu

companheiro.

Como visto, nenhum reparo merece a sentença vergastada, uma vez

que não restaram demonstrados os requisitos legais exigidos para que fosse

evidenciada a usucapião extraordinária, mormente com relação à ausência de

comprovação do animus domini, até porque a posse em destaque restou afetada

por atos de mera tolerância e aquiescência dos proprietários, revelando-se

inapta, pois, a autorizar o provimento do apelo interposto, bem como a

consequente procedência do pedido inicial formulado no juízo a quo.

Outrossim, com precisão e zelo, tratou do tema o douto Procurador

de Justiça, cujo parecer adoto também como minhas razões de decidir, in

verbis:

“(...) É sabido que três requisitos são essenciais a

qualquer modalidade de usucapião, quais sejam, o tempo, a posse

mansa e pacífica e o animus domini. Em relação à usucapião

extraordinária, o art. 1.238 do Código Civil estabelece o

seguinte:

(…)

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Dessa forma, são requisitos para aquisição por meio da

usucapião extraordinária a posse mansa e pacífica do imóvel, o

animus domini e o lapso temporal de quinze anos ininterruptos.

Dispensa-se o justo título e a boa-fé.

Na espécie, a apelante alega que detém a posse de parte de

área urbana encravada em imóvel maior objeto da matrícula nº

6.198, local em que estabeleceu sua clínica há mais de 13 anos. E

também detém a posse, na qualidade de cessionária de Trajano

Machado Gontijo Filho, de parte do lote 4, da quadra 1, do

Loteamento Vila Cerqueira há mais de 30 anos de forma mansa e

pacífica, sem oposição de terceiros, intentando usucapir ambos os

imóveis.

Todavia, não ficou demonstrado nos autos que a apelante

detinha a posse de ambos os imóveis como se dona fosse. No caso

concreto, há indícios de que a apelante utiliza as áreas em razão

de mera deliberação de seu ex-cônjuge, antigo sócio do Hospital

São José, onde se localizam as áreas que se busca usucapir,

configurando atos de mera permissão ou tolerância, o que torna a

posse exercida pela apelante precária.

E atos de mera permissão ou tolerância não têm o poder de

induzir posse, por expressa previsão do art. 1.208 do Código

Civil, verbis:

(…)

Logo, não houve a demonstração do animus domini para a

configuração da usucapião, como muito bem fundamentado pelo

magistrado em sua sentença, conforme trechos a seguir

transcritos:

(...)

Além disso, extrai-se que em 2003 a área do Hospital São

José foi devidamente arrematada em processo judicial que teve

curso na Justiça do Trabalho por Rui Resende. Como pontuado pelo

parquet de 1º grau, 'fundamental destacar que somente quatro anos

depois do imóvel ter sido legalmente arrematado em juízo é que a

promovente buscou a prestação jurisdicional'. Tal fato demonstra

que a apelante não detinha o bem com ânimo de dona, tanto que

sequer foi citada na ação trabalhista.

Portanto, não há nos autos provas de que a apelante tenha a

posse das áreas reclamadas, de forma mansa e pacífica e com

animus domini, requisitos essenciais para se adquirir um terreno

por meio de usucapião.

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(…)

De tudo que se vê, podemos afirmar que a apelante não se

desincumbiu do ônus de provar o que fora alegado. E, nos termos

do art. 333, I, do Código de Processo Civil, compete ao autor o

ônus da prova do seu direito, verbis:

(…)

Portanto, correta a sentença pois proferida em acordo com os

elementos colhidos na instrução processual, não havendo nenhum

reparo a ser feito” (fls. 728/735).

Em caso análogo, decidiu o Superior Tribunal de Justiça no mesmo

sentido, como se vê da decisão ora transcrita:

“DECISÃO

Trata-se de agravo interposto por PACÍFICA DA SILVA

FERNANDES - SUCESSÃO E OUTROS contra decisão que inadmitiu o

recurso especial.

No apelo nobre, fundamentado no artigo 105, inciso III,

alínea "a", da Constituição Federal, a parte recorrente insurge-

se contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do

Rio Grande do Sul, assim ementado:

"AÇÃO DE USUCAPIÃO. INEXISTÊNCIA DE ANIMUS DOMINI. CASO EM

QUE A AUTORA RESIDIU NO IMÓVEL NA CONDIÇÃO DE COMPANHEIRA DAQUELE

QUE ERA O POSSUIDOR, PROSSEGUINDO NA POSSE MAS NA CONDIÇÃO DE

COMODATÁRIA DO IMÓVEL, JÁ QUE O MESMO FOI MERAMENTE EMPRESTADO

PARA SERVIR-LHE COMO MORADIA. APELAÇÃO IMPROVIDA" (e-STJ fl.

606).

(...)

DECIDO.

Ultrapassados os requisitos de admissibilidade do agravo,

passa-se ao exame do recurso especial.

A irresignação não merece prosperar.

(...)

Quanto ao mais (artigos 333, inciso I, do Código de Processo

Civil, 1.238 e 1.240 do Código Civil), o Tribunal de origem, à

luz da prova dos autos, conclui pela não configuração dos

requisitos caracterizados da procedência da ação de usucapião,

conforme se extrai da leitura do voto condutor, merecendo

destaque os seguintes trechos:

'(…)

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Entretanto, quando se verifica o outro requisito essencial

além do lapso temporal, que é o exercício da posse com animus

domini, o que se verifica é que Pacifica residiu no imóvel na

condição de companheira de Olavo Monteiro Berquó. E, na

realidade, o imóvel foi meramente emprestado para servir-lhe como

residência.

Se é verdade que a declaração do imóvel no imposto de renda,

assim como a lavratura de testamento, por si sós, não se mostram

suficientes para desqualificar o exercício da posse, até porque

posse é fato, tais elementos, somados ao restante da prova

coletado, induzem a certeza da ausência de animus domini, senão

vejamos:

A prova testemunhal, nesse sentido, é contundente.

(...)

E, como bem concluiu o Promotor de Justiça que atuou junto à

origem, 'inexistiu posse com ânimo de dono, posto que decorrente

de empréstimo feito pela irmã de Osvaldo (sic) para que ele ali

residisse. E sequer após a morte de Osvaldo (sic) teve a autora

posse qualificada a usucapir, vez que ajuizou a presente

exatamente seis (6) meses após o falecimento de Osvaldo (sic), o

que não lhe autoriza a pretensão deduzida' (fl. 418). De sorte

que sua posse sempre foi na condição de companheira de Olavo, o

qual inicialmente era comodatário e oportunamente ratificada por

força do usufruto. Se o companheiro não detinha posse ad

usucapionem, também a companheira sobrevivente não a detinha.

Ocorre que, segundo dispõe a norma do art. 1.203, do CCB,

'salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo

caráter com que foi adquirida'.

Portanto, o fato de Pafúncia permanecer no imóvel após a

extinção do comodato pelo falecimento de Olavo não caracteriza

posse revestida da qualificação legal, pois 'não induzem posse os

atos de mera permissão ou tolerância', como também estabelece a

regra do art. 1.208 do CCB" (e-STJ fls. 608-609).

Assim como posta a matéria, a verificação da procedência dos

argumentos expendidos no recurso obstado exigiria por parte desta

Corte o reexame de matéria fática, o que é vedado pela Súmula nº

7 deste Tribunal, consoante iterativa jurisprudência desta Corte.

A propósito:

"AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. POSSE. USUCAPIÃO

EXTRAORDINÁRIO. SÚMULA N. 7 DO STJ. 1. O recurso especial não

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comporta o exame de questões que demandem o revolvimento do

contexto fático-probatório dos autos, em razão da incidência da

Súmula n. 7 do STJ. 2. No caso concreto, a questão relativa à

existência da posse mansa e pacífica, demonstrada com base nos

documentos juntados, foi decidida pelo Tribunal local à luz do

contexto fático-probatório dos autos. Assim, concluir de forma

distinta é inviável em sede de recurso especial (Súmula n. 7 do

STJ). 3. Agravo regimental desprovido". (AgRg no REsp 773.961/GO,

Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em

06/03/2012, DJe 12/03/2012 - grifou-se)

"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - DIREITO

CIVIL - USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA - EXISTÊNCIA DE ANIMUS DOMINI,

POSSE MANSA, PACÍFICA, CONTINUADA E INCONTESTADA - RECONHECIMENTO

- IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE PROVAS - INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7

DESTA CORTE - RECURSO IMPROVIDO". (AgRg no AREsp 46.157/RS, Rel.

Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/10/2011,

DJe 09/11/2011 - grifou-se)

Ante o exposto, conheço do agravo para negar seguimento ao

recurso especial.” (STJ, AREsp 179769, Relator Ministro RICARDO

VILLAS BÔAS CUEVA, Data da Publicação: 22/11/2013)

Na esteira dessas considerações, revela-se oportuno colacionar os

seguintes julgados proferidos no âmbito desta Corte de Justiça:

“I- (...) II- Atos de mera permissão, tolerância ou ocupação

consentida induzem posse precária. Assim, ausente o elemento

subjetivo essencial (animus domini), isto é, o ânimo de ter a

coisa para si, não há posse apta a gerar a usucapião. RECURSO

IMPROVIDO.” (TJGO, 4ª Câmara Cível, in AC nº 382033-

76.2005.8.09.0032, j. de 16/02/2012, Rel. Dr. Roberto Horácio de

Rezende).

“(...) 3. Conforme se infere do art. 1.208 do Código Civil

de 2002, os atos de mera permissão ou tolerância, sem o 'animus

domini', não induzem posse, portanto, não gera o direito a

aquisição da propriedade por meio de usucapião. 3- Inalterado o

decisum fustigado, mantem-se os ônus sucumbenciais, conforme nele

determinado. APELO CONHECIDO, MAS IMPROVIDO.” (TJGO, 4ª Câmara

Cível, in AC nº 190370-72.2003.8.09.0011, j. de 16/06/2011, Rel.

Dr. Delintro Belo de Almeida Filho).

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PODER JUDICIÁRIO'

“II- Atos de mera permissão ou tolerância não geram posse,

segundo o preceito do art. 497 do CC/16 correspondente ao art.

1.208 do CC/02. No caso em tela não restou demonstrada posse, mas

mera autorização verbal de uso a título benevolente, por

tolerância, portanto, sem ensejo de posse. APELAÇÃO CÍVEL

CONHECIDA E IMPROVIDA. ” (TJGO, 1ª Câmara Cível, in AC nº 222051-

16.2009.8.09.0087, j. de 29/03/2011, Rel. Des. Leobinho Valente

Chaves).

“II - Atos de mera permissão, tolerância ou ocupação

consentida induzem posse precária. Assim, ausente o elemento

subjetivo essencial (animus domini), isto é, o ânimo de ter a

coisa para si, não há posse apta a gerar a usucapião. III -

Sentença de procedência do pedido de reintegração de posse

confirmada. APELAÇÃO CONHECIDA E DESPROVIDA. ” (TJGO, 6ª Câmara

Cível, in AC nº 463095-26.2008.8.09.0100, j. de 24/08/2010, Rel.

Des. Fausto Moreira Diniz).

Deveras, restou comprovado às escancaras que a autora/apelante

não detinha a posse dos imóveis com ânimo de dona, mas tão somente a simples

detenção decorrente da tolerância ou permissão dos proprietários, fato

conhecido de toda a vizinhança do local.” (fls. 739/750).

Como se vê, nada há para ensejar a mudança do

convencimento antes esposado, especialmente porque não exteriorizada a

superveniência de fatos novos, nos contornos da ementa a seguir:

“AGRAVO INTERNO. APELAÇÃO CÍVEL. DECISÃO QUE NEGA SEGUIMENTO

A APELO. AUSÊNCIA DE FATOS NOVOS. RATIFICAÇÃO. 1 - Estando a

decisão singular de acordo com a jurisprudência dominante nesta e

nas Cortes superiores, convém ao relator negar seguimento ao

recurso, apoiado no disposto no art. 557, caput, do CPC, dando

efetividade ao princípio da celeridade, contribuindo, assim, com

a diminuição do número de processos a serem julgados pelo

Tribunal. 2- Não apresentados elementos novos que justifiquem a

reconsideração pretendida, o improvimento do agravo regimental é

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PODER JUDICIÁRIO'

medida imperiosa. Agravo Regimental improvido.” (TJGO, 4ª Câm.

Cível, AC nº 154780-5/188 Rel. Des. Carlos Escher, DJ 562 de

22/04/2010).

Ao teor do exposto, nego provimento ao agravo interno em

testilha, mantendo-se, pois, incólume a decisão monocrática impugnada.

É o meu voto.

Goiânia, 30 de abril de 2015.

Juiz Sérgio Mendonça de Araújo

Relator em Substituição

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PODER JUDICIÁRIO'

APELAÇÃO CÍVEL Nº 273174-89.2007.8.09.0130 (200792731743)

AGRAVO REGIMENTAL

Comarca de Porangatu

Agravante: Joana José da Costa

1º Agravado: Gontijo e Gontijo Filho Ltda e outro(s)

2º Agravado: Venceslau Pinto Cerqueira

3º Agravado: Rui Resende

Relator em substituição: Juiz Sérgio Mendonça de Araújo

EMENTA: AGRAVO INTERNO EM APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE

USUCAPIÃO. POSSE AD USUCAPIONEM. ATOS DE MERA

PERMISSÃO OU TOLERÂNCIA. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

SENTENÇA CONFIRMADA. AUSÊNCIA DE FATO NOVO. 1. Os atos

de mera permissão ou tolerância, sem o “animus domini”, não

induzem posse (artigo 1208 do Código Civil), portanto, não

geram o direito à aquisição da propriedade por meio de

usucapião. 2 - Uma vez não comprovada a posse “ad

usucapionem”, torna-se inadmissível o reconhecimento da

prescrição aquisitiva. 3 - Se a parte agravante não demonstra

nenhum fato novo ou argumentação suficiente para acarretar a

modificação da linha de raciocínio adotada na decisão

monocrática, impõe-se o desprovimento do agravo interno,

porquanto interposto a mingua de elemento novo capaz de

desconstituir o decisum que negou seguimento ao apelo

manejado pela agravante. Agravo interno conhecido e

desprovido.

ACÓRDÃO

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PODER JUDICIÁRIO'

VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos de

Agravo Regimental nº 273174-89.2007.8.09.0130 (200792731743) da

Comarca de Porangatu.

ACORDAM os integrantes da Terceira Turma Julgadora da

Quarta Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à

unanimidade de votos, conhecer do agravo regimental e negar-lhe

provimento, nos termos do voto do Relator.

VOTARAM, além do relator, a Desª. Elizabeth Maria da Silva e

o Dr. Sebastião Luiz Fleury, substituindo a Desª. Nelma Branco Ferreira

Perilo.

PRESIDIU a sessão a Desª. Elizabeth Maria da Silva.

PRESENTE a ilustre Procuradora de Justiça, Drª. Nélida Rocha

da Costa Barbosa.

Custas de lei.

Goiânia, 30 de abril de 2015

Juiz Sérgio Mendonça de Araújo

Relator substituto em 2º grau

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