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uma bobagem qualquerTRANSCRIPT
PODER JUDICIÁRIO'
APELAÇÃO CÍVEL Nº 273174-89.2007.8.09.0130 (200792731743)
AGRAVO REGIMENTAL
Comarca de Porangatu
Agravante: Joana José da Costa
1º Agravado: Gontijo e Gontijo Filho Ltda e outro(s)
2º Agravado: Venceslau Pinto Cerqueira
3º Agravado: Rui Resende
Relator em substituição: Juiz Sérgio Mendonça de Araújo
RELATÓRIO E VOTO
Cuida-se de agravo interno interposto por Joana José da
Costa, contra a decisão monocrática de fls. 761/768, que negou seguimento
aos embargos declaratórios opostos contra o decisum de fls. 736/750, que
negou seguimento ao recurso apelatório que a agravante interpôs contra a
sentença proferida nos autos da ação de usucapião ajuizada em desfavor de
Gontijo e Gontijo Filho Ltda e Venceslau Pinto Cerqueira, nos termos do
artigo 557, “caput”, do CPC, por estar em confronto com a jurisprudência
dominante desta Corte e de Tribunal Superior.
A agravante, nas razões recursais de fls. 771/777, informa, em
síntese, que “Trajano Machado Gontijo Filho, antigo sócio majoritário
do Hospital São José nos idos tempos do final da década de 80 e
início da década de 90, combinou vender para vários médicos lotes
anexos ao Hospital para que os mesmos construíssem suas clínicas, e,
que os escrituraria a seguir, o que não houve. Como também, quando
da homologação judicial da partilha em face da união estável com a
agravante, transmitiu e imitiu na posse da área usucapienda sem
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benfeitorias descritas na inicial”.
Aduz que “os vários médicos foram imitidos na posse das
respectivas áreas, pelo sócio majoritário do Hospital São José, como
afirma todas as testemunhas e em especial a testemunha Luiz Antônio
de Carvalho. As Clínicas foram efetivamente construídas. Os médicos
Antônio Rodrigues de Macedo, Maria Blandina Santos e Margareth da
Mata, venderam as benfeitorias (clínicas construídas) para a
agravante e ato contínuo transmitiram para a mesma a posse
continuada das respectivas áreas e benfeitorias”.
Assim, alega que “a agravante não ocupa as áreas
usucapiendas por mero consentimento, pois, quem compra e sucede
anteriores posseiros, adquire e passa a usufruir o bem, com ânimo de
dono, principalmente quando ali exerce seu trabalho profissional –
Clínica Psicológica – conforme unanimemente atestaram as
testemunhas”.
Sustenta que “pleiteia o reconhecimento da usucapião em
face de posse sem benfeitorias, transmitida por decisão judicial
(acordo de separação de união estável, devidamente homologado em
juízo – documento juntado nos presentes autos – fls. 11 a 14), e,
também, em face de posse continuada proveniente de aquisição feita a
terceiros, conforme atestaram, unanimemente, as testemunhas ouvidas
em juízo”.
Reitera que a agravante comprou as benfeitorias e áreas de
quem as poderia vender, exercendo a sua posse nos imóveis usucapiendos
com ânimo de dona.
Insiste ainda que “em momento algum as testemunhas fizeram
qualquer referência à mera deliberação do ex-cônjuge da agravante
para que a mesma ocupasse as áreas edificadas, pois, na verdade as
mesmas ditas áreas foram adquiridas pela agravante de terceiros
detentores das respectivas posses e benfeitorias”.
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No mais, argumenta que “a fundamentação da decisão
fustigada transformou-se num argumento vazio, já que não encontra
correspondência na prova, ofendendo diretamente o princípio da
persuação racional das provas, daí a necessidade imperiosa da sua
cassação ou reformulação adequando a fundamentação nas provas dos
autos”.
Ao final, requer a reconsideração do ato agravado ou que seja
o recurso submetido a julgamento para, uma vez conhecido e provido, seja
dado provimento à apelação cível interposta pela agravante, com a reforma
total da sentença recorrida.
Preparo às fls. 778.
É o relatório.
Passo ao VOTO.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do
agravo interno interposto.
Contudo, o descontentamento não prospera.
Insta observar que, dada a sua natureza, o agravo interno deve
encerrar discussão restrita à adequação do posicionamento adotado pelo
julgador aos preceitos do art. 557 do CPC, cabendo à parte agravante
demonstrar, a contento, que a decisão foi proferida em desconformidade com
os precedentes pretorianos.
Nessa senda, adverte Athos Gusmão Carneiro:
“Os argumentos da petição recursal devem impugnar direta e
especificamente os fundamentos da decisão agravada, cabendo inclusive arguir
que o caso concreto não admitiria a decisão singular; não basta à parte,
simplesmente, repetir a fundamentação do recurso 'anterior'.” (in Poderes do
relator e agravo interno: Artigos 557, 544 e 545 do CPC, Revista de Direito
Processual Civil Genesis, vol. 17, julho/setembro 2000, p. 457/475).
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Todavia, no caso em tela, verifico que a recorrente não logrou
êxito em demonstrar a atipicidade da deliberação unipessoal, máxime porque
limitou-se à alegação de teses já afastadas no exame do recurso decidido
singularmente por esta Relatoria, cuja fundamentação guarda perfeita
consonância com a jurisprudência predominante nesta e na Superior Corte,
tendo restando muito bem apreciados os motivos que levaram à negativa de
seguimento ao apelo com a manutenção da sentença recorrida, nada
restando que mereça pronunciamento mais profundo.
Isto porque a mera alegação da agravante de que “comprou”
os imóveis usucapiendos de terceiros, outros médicos, que haviam adquirido
do Sr. Trajano Machado Gontijo Filho, seu ex-companheiro, porém, sem
existir escrituração, e sem qualquer documentação nesse sentido, não é
capaz de comprovar esse fato.
Frise-se, ademais, que essa situação (compra dos imóveis)
sequer chegou a ser mencionada em sua petição inicial (fls. 02/03) , limitando-
se a narrar que na condição de “cessionária” do Sr. Trajano Machado Gontijo
Filho, pleiteava o usucapião dos imóveis ali descritos, além do mais, esse
tema foi superficialmente abordado no recurso apelatório.
Outrossim, a sua condição de companheira do Sr. Trajano
Machado Gontijo Filho, um dos proprietários dos imóveis que lhe foram
cedidos à época, por ato de mera liberalidade e tolerância, está provada de
forma inconteste nos autos, não cabendo usucapião na hipótese em tela, por
expressa determinação legal.
Sendo assim, no pertinente à faculdade do Relator em
reconsiderar ou não o ato processual realizado monocraticamente, hei por
bem em manter inalterado o provimento recorrido, pois, a meu sentir, a
argumentação oferecida não é suficiente a rechaçá-lo, pelo que vale
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transcrever o que lá ficou consignado, no que importa, verbis:
“(...) Como relatado, cuida-se de apelação cível interposta por
Joana José da Costa contra sentença proferida pelo magistrado a quo, que, nos
autos da ação de usucapião promovida por aquela em desfavor de Gontijo e
Gontijo Filho Ltda e Venceslau Pinto Cerqueira, julgou improcedente o pedido
vestibular.
(…)
Com efeito, extrai-se da sentença fustigada que seu prolator
entendeu não ter restado comprovada a posse com ânimo de proprietária da
autora/apelante sobre os imóveis usucapiendos, aduzindo, “em relação à sala
onde estabeleceu a sua clínica, percebe-se que o imóvel foi cedido por seu ex-
companheiro, a título precário, não havendo nos autos prova de que exercia a
posse com animus domini” (fls. 693), e que, “em relação ao imóvel que circunda
a clínica onde a requerente exercia o seu labor como psicóloga, pertencente ao
segundo requerido, não restou demonstrado nos autos que a requerente exercia
os poderes inerentes à propriedade, pois algumas testemunhas foram
contundentes em afirmar que o imóvel em epígrafe pertencia ao Dr. Trajano”.
Assim, o dirigente processual rechaçou a tese da
autora/recorrente alusiva ao animus domini, por se tratar de posse
estabelecida com mera permissão e tolerância dos proprietários.
A posse prolongada da coisa pode conduzir à aquisição da
propriedade, se presentes os requisitos estabelecidos em lei. Concretamente,
denomina-se usucapião o modo de aquisição da propriedade mediante a posse
suficientemente estendida, se atendidas determinadas condições.
Na hipótese dos autos, a apelante objetiva o reconhecimento da
chamada usucapião extraordinária, para a qual se exige a observância dos
seguintes requisitos: posse contínua e incontestada, ânimo de dona e o decurso
de prazo especificado na legislação em vigor.
A respeito da usucapião extraordinária o art. 1.238, do Código
Civil de 2002, prevê o seguinte:
“Art. 1.238. Aquele que, por 15 (quinze) anos, sem
interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-
lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo
requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá
de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-
se-á a 10 (dez) anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel
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a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de
caráter produtivo.”
A exigência de posse mansa e pacífica provém do próprio conceito
de usucapião, entendida como forma de aquisição da propriedade a partir da
posse, qualificada pelo elemento tempo.
Do conjunto probatório dos autos, percebe-se, claramente, óbice
intransponível à expectativa de direito da autora, ora recorrente, qual seja,
a posse mansa, contínua e incontestada pelo período exigido na legislação
civil suso mencionada.
O elemento subjetivo, por sua vez, consubstancia-se no animus
domini que, como a própria denominação está a indicar, corresponde à
exteriorização de atitudes, por parte do possuidor, compatíveis com a postura
de quem se considera proprietário da coisa.
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal assentou substancioso
posicionamento jurisprudencial:
“(...), torna-se indispensável a demonstração da condição
subjetiva para a usucapião, qual seja, a intenção de ter o
possuidor o imóvel como próprio”. (STF, 2ª Turma, Rel. Min.
Carlos Madeira, j. 17.12.1985, RE nº 103132 / CE, D. J. de
07.03.986, p. 2.842.
No caso em testilha, a despeito dos esforços envidados pela
apelante com o escopo de demonstrar o seu direito ao título de domínio dos
imóveis em questão, pelo exame das provas coligidas no caderno processual
durante a instrução do feito originário, não me convenci do sucesso quanto aos
argumentos arrazoados pela recorrente.
Isto porque, conforme se extrai dos autos, a apelante não detinha
a posse de ambos os imóveis com ânimo de dona, já que ela utilizava as
respectivas áreas por mera permissão de seu ex companheiro - Trajano Machado
Gontijo Filho, sócio-proprietário da empresa requerida Gontijo e Gontijo Filho
Ltda, onde se localizam as áreas objeto desse litígio, configurando atos de
permissão e tolerância, o que torna a posse da autora exercida sobre os
imóveis, precária.
Os elementos colhidos a partir de prova oral produzida em juízo
perante a instância singela, revelam a posse precária da autora, in verbis:
“(...) quando voltou a Porangatu, indo trabalhar no Hospital
São José, que era do Dr. Trajano, seno notório na cidade que era
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o proprietário da área, embora o depoente não soubesse em nome de
quem estava registrado (…) que o Hospital São José tinha uma
empresa constituída e quem administrava era o Dr. Antônio Paulo,
filho do Dr. Trajano; que não conhece Venceslau, pois a área
total sempre pertenceu ao Dr. Trajano, segundo sabe o depoente
(…) que a área do terreno que ladeia a clínica é cercada mas o
depoente não tem frequentado o lugar não sabendo a que título a
requerente utiliza a área” (declarações prestadas pela testemunha
Antônio Rodrigues de Macedo – fls. 645).
“(...) que a requerente é companheira de Dr. Trajano há
muitos anos, continuando a posse do mesmo nas áreas de lote que
circundam a clínica, que pertenciam a Venceslau, foram adquiridas
pelo Dr. Freitas que depois alienou para Dr. Trajano, que ficou
dono sozinho” (declarações prestadas pela testemunha Luiz Antônio
de Carvalho – fls. 648/649).
Como se sabe, os atos de mera permissão ou tolerância não induzem
posse - art. 497 do Código Civil de 1916, equivalente ao art. 1.208 do Código
Vigente -, ou seja, aquele que exerce poder sobre a coisa sob a permissão ou a
tolerância do proprietário não tem posse e, portanto, não pode adquirir o bem
pela usucapião, senão vejamos o texto de lei:
“Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou
tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos
violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou
a clandestinidade.”
Sobre o assunto leciona Washington de Barros Monteiro (Curso de
Direito Civil. Direito das Coisas. 37. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, v. 3, p.
37/38):
“Na primeira parte, ocupa-se o legislador da posse precária,
que apenas subsiste em favor do detentor, enquanto convenha ao
proprietário. A tolerância e a permissão deste não induzem posse.
Ele transige com a prática dos atos, reservando-se, todavia, o
direito de revogar a ordem, quando julgue inconveniente. Por sua
vez, a pessoa beneficiada recolhe a vantagem a título precário,
sabendo de antemão que poderá perdê-la a qualquer momento. Por
exemplo, tolero, por gentileza ou amizade, que um vizinho passe
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pelo meu terreno. Tal passagem, embora reiterada, não induz
posse, por se tratar de mero favor, a todo tempo revogável. Se,
apesar de revogada a autorização, persistir o vizinho na
travessia, terá praticado turbação.
O Código alude a permissão e tolerância. Equivalem-se,
porém, esses atos. A única diferença está em que a concessão, na
primeira, é expressa, e na segunda, virtual ou tácita.”
Desta feita, a outra conclusão não se pode chegar senão a de que
a apelante realmente detinha posse precária, por mera tolerância dos
proprietários, em razão de ser companheira do Sr. Trajano, sócio-proprietário
da empresa requerida Gontijo e Gontijo Filho Ltda, um dos proprietários dos
imóveis, os quais, permitiram e cederam verbalmente o seu usufruto à autora
para que esta utilizasse as respectivas salas.
O caso em tela, pelo que se pode auferir dos presentes autos,
mormente da prova oral levada a efeito, dá conta de que a apelante manteve-se
na posse da coisa durante alguns anos, sem exercer o ânimo de dona do imóvel,
já que lá esteve em razão do consentimento dos verdadeiros proprietários que
aquiesceram com a respectiva posse, confiando-lhe os sobreditos imóveis, o que
caracteriza uma verdadeira “posse precária”, haja vista o relacionamento de
confiança evidenciado entre a recorrente e o Sr. Trajano, sócio-proprietário
da empresa requerida Gontijo e Gontijo Filho Ltda, em razão dele ser seu
companheiro.
Como visto, nenhum reparo merece a sentença vergastada, uma vez
que não restaram demonstrados os requisitos legais exigidos para que fosse
evidenciada a usucapião extraordinária, mormente com relação à ausência de
comprovação do animus domini, até porque a posse em destaque restou afetada
por atos de mera tolerância e aquiescência dos proprietários, revelando-se
inapta, pois, a autorizar o provimento do apelo interposto, bem como a
consequente procedência do pedido inicial formulado no juízo a quo.
Outrossim, com precisão e zelo, tratou do tema o douto Procurador
de Justiça, cujo parecer adoto também como minhas razões de decidir, in
verbis:
“(...) É sabido que três requisitos são essenciais a
qualquer modalidade de usucapião, quais sejam, o tempo, a posse
mansa e pacífica e o animus domini. Em relação à usucapião
extraordinária, o art. 1.238 do Código Civil estabelece o
seguinte:
(…)
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Dessa forma, são requisitos para aquisição por meio da
usucapião extraordinária a posse mansa e pacífica do imóvel, o
animus domini e o lapso temporal de quinze anos ininterruptos.
Dispensa-se o justo título e a boa-fé.
Na espécie, a apelante alega que detém a posse de parte de
área urbana encravada em imóvel maior objeto da matrícula nº
6.198, local em que estabeleceu sua clínica há mais de 13 anos. E
também detém a posse, na qualidade de cessionária de Trajano
Machado Gontijo Filho, de parte do lote 4, da quadra 1, do
Loteamento Vila Cerqueira há mais de 30 anos de forma mansa e
pacífica, sem oposição de terceiros, intentando usucapir ambos os
imóveis.
Todavia, não ficou demonstrado nos autos que a apelante
detinha a posse de ambos os imóveis como se dona fosse. No caso
concreto, há indícios de que a apelante utiliza as áreas em razão
de mera deliberação de seu ex-cônjuge, antigo sócio do Hospital
São José, onde se localizam as áreas que se busca usucapir,
configurando atos de mera permissão ou tolerância, o que torna a
posse exercida pela apelante precária.
E atos de mera permissão ou tolerância não têm o poder de
induzir posse, por expressa previsão do art. 1.208 do Código
Civil, verbis:
(…)
Logo, não houve a demonstração do animus domini para a
configuração da usucapião, como muito bem fundamentado pelo
magistrado em sua sentença, conforme trechos a seguir
transcritos:
(...)
Além disso, extrai-se que em 2003 a área do Hospital São
José foi devidamente arrematada em processo judicial que teve
curso na Justiça do Trabalho por Rui Resende. Como pontuado pelo
parquet de 1º grau, 'fundamental destacar que somente quatro anos
depois do imóvel ter sido legalmente arrematado em juízo é que a
promovente buscou a prestação jurisdicional'. Tal fato demonstra
que a apelante não detinha o bem com ânimo de dona, tanto que
sequer foi citada na ação trabalhista.
Portanto, não há nos autos provas de que a apelante tenha a
posse das áreas reclamadas, de forma mansa e pacífica e com
animus domini, requisitos essenciais para se adquirir um terreno
por meio de usucapião.
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(…)
De tudo que se vê, podemos afirmar que a apelante não se
desincumbiu do ônus de provar o que fora alegado. E, nos termos
do art. 333, I, do Código de Processo Civil, compete ao autor o
ônus da prova do seu direito, verbis:
(…)
Portanto, correta a sentença pois proferida em acordo com os
elementos colhidos na instrução processual, não havendo nenhum
reparo a ser feito” (fls. 728/735).
Em caso análogo, decidiu o Superior Tribunal de Justiça no mesmo
sentido, como se vê da decisão ora transcrita:
“DECISÃO
Trata-se de agravo interposto por PACÍFICA DA SILVA
FERNANDES - SUCESSÃO E OUTROS contra decisão que inadmitiu o
recurso especial.
No apelo nobre, fundamentado no artigo 105, inciso III,
alínea "a", da Constituição Federal, a parte recorrente insurge-
se contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do
Rio Grande do Sul, assim ementado:
"AÇÃO DE USUCAPIÃO. INEXISTÊNCIA DE ANIMUS DOMINI. CASO EM
QUE A AUTORA RESIDIU NO IMÓVEL NA CONDIÇÃO DE COMPANHEIRA DAQUELE
QUE ERA O POSSUIDOR, PROSSEGUINDO NA POSSE MAS NA CONDIÇÃO DE
COMODATÁRIA DO IMÓVEL, JÁ QUE O MESMO FOI MERAMENTE EMPRESTADO
PARA SERVIR-LHE COMO MORADIA. APELAÇÃO IMPROVIDA" (e-STJ fl.
606).
(...)
DECIDO.
Ultrapassados os requisitos de admissibilidade do agravo,
passa-se ao exame do recurso especial.
A irresignação não merece prosperar.
(...)
Quanto ao mais (artigos 333, inciso I, do Código de Processo
Civil, 1.238 e 1.240 do Código Civil), o Tribunal de origem, à
luz da prova dos autos, conclui pela não configuração dos
requisitos caracterizados da procedência da ação de usucapião,
conforme se extrai da leitura do voto condutor, merecendo
destaque os seguintes trechos:
'(…)
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Entretanto, quando se verifica o outro requisito essencial
além do lapso temporal, que é o exercício da posse com animus
domini, o que se verifica é que Pacifica residiu no imóvel na
condição de companheira de Olavo Monteiro Berquó. E, na
realidade, o imóvel foi meramente emprestado para servir-lhe como
residência.
Se é verdade que a declaração do imóvel no imposto de renda,
assim como a lavratura de testamento, por si sós, não se mostram
suficientes para desqualificar o exercício da posse, até porque
posse é fato, tais elementos, somados ao restante da prova
coletado, induzem a certeza da ausência de animus domini, senão
vejamos:
A prova testemunhal, nesse sentido, é contundente.
(...)
E, como bem concluiu o Promotor de Justiça que atuou junto à
origem, 'inexistiu posse com ânimo de dono, posto que decorrente
de empréstimo feito pela irmã de Osvaldo (sic) para que ele ali
residisse. E sequer após a morte de Osvaldo (sic) teve a autora
posse qualificada a usucapir, vez que ajuizou a presente
exatamente seis (6) meses após o falecimento de Osvaldo (sic), o
que não lhe autoriza a pretensão deduzida' (fl. 418). De sorte
que sua posse sempre foi na condição de companheira de Olavo, o
qual inicialmente era comodatário e oportunamente ratificada por
força do usufruto. Se o companheiro não detinha posse ad
usucapionem, também a companheira sobrevivente não a detinha.
Ocorre que, segundo dispõe a norma do art. 1.203, do CCB,
'salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo
caráter com que foi adquirida'.
Portanto, o fato de Pafúncia permanecer no imóvel após a
extinção do comodato pelo falecimento de Olavo não caracteriza
posse revestida da qualificação legal, pois 'não induzem posse os
atos de mera permissão ou tolerância', como também estabelece a
regra do art. 1.208 do CCB" (e-STJ fls. 608-609).
Assim como posta a matéria, a verificação da procedência dos
argumentos expendidos no recurso obstado exigiria por parte desta
Corte o reexame de matéria fática, o que é vedado pela Súmula nº
7 deste Tribunal, consoante iterativa jurisprudência desta Corte.
A propósito:
"AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. POSSE. USUCAPIÃO
EXTRAORDINÁRIO. SÚMULA N. 7 DO STJ. 1. O recurso especial não
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comporta o exame de questões que demandem o revolvimento do
contexto fático-probatório dos autos, em razão da incidência da
Súmula n. 7 do STJ. 2. No caso concreto, a questão relativa à
existência da posse mansa e pacífica, demonstrada com base nos
documentos juntados, foi decidida pelo Tribunal local à luz do
contexto fático-probatório dos autos. Assim, concluir de forma
distinta é inviável em sede de recurso especial (Súmula n. 7 do
STJ). 3. Agravo regimental desprovido". (AgRg no REsp 773.961/GO,
Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em
06/03/2012, DJe 12/03/2012 - grifou-se)
"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - DIREITO
CIVIL - USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA - EXISTÊNCIA DE ANIMUS DOMINI,
POSSE MANSA, PACÍFICA, CONTINUADA E INCONTESTADA - RECONHECIMENTO
- IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE PROVAS - INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7
DESTA CORTE - RECURSO IMPROVIDO". (AgRg no AREsp 46.157/RS, Rel.
Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/10/2011,
DJe 09/11/2011 - grifou-se)
Ante o exposto, conheço do agravo para negar seguimento ao
recurso especial.” (STJ, AREsp 179769, Relator Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, Data da Publicação: 22/11/2013)
Na esteira dessas considerações, revela-se oportuno colacionar os
seguintes julgados proferidos no âmbito desta Corte de Justiça:
“I- (...) II- Atos de mera permissão, tolerância ou ocupação
consentida induzem posse precária. Assim, ausente o elemento
subjetivo essencial (animus domini), isto é, o ânimo de ter a
coisa para si, não há posse apta a gerar a usucapião. RECURSO
IMPROVIDO.” (TJGO, 4ª Câmara Cível, in AC nº 382033-
76.2005.8.09.0032, j. de 16/02/2012, Rel. Dr. Roberto Horácio de
Rezende).
“(...) 3. Conforme se infere do art. 1.208 do Código Civil
de 2002, os atos de mera permissão ou tolerância, sem o 'animus
domini', não induzem posse, portanto, não gera o direito a
aquisição da propriedade por meio de usucapião. 3- Inalterado o
decisum fustigado, mantem-se os ônus sucumbenciais, conforme nele
determinado. APELO CONHECIDO, MAS IMPROVIDO.” (TJGO, 4ª Câmara
Cível, in AC nº 190370-72.2003.8.09.0011, j. de 16/06/2011, Rel.
Dr. Delintro Belo de Almeida Filho).
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“II- Atos de mera permissão ou tolerância não geram posse,
segundo o preceito do art. 497 do CC/16 correspondente ao art.
1.208 do CC/02. No caso em tela não restou demonstrada posse, mas
mera autorização verbal de uso a título benevolente, por
tolerância, portanto, sem ensejo de posse. APELAÇÃO CÍVEL
CONHECIDA E IMPROVIDA. ” (TJGO, 1ª Câmara Cível, in AC nº 222051-
16.2009.8.09.0087, j. de 29/03/2011, Rel. Des. Leobinho Valente
Chaves).
“II - Atos de mera permissão, tolerância ou ocupação
consentida induzem posse precária. Assim, ausente o elemento
subjetivo essencial (animus domini), isto é, o ânimo de ter a
coisa para si, não há posse apta a gerar a usucapião. III -
Sentença de procedência do pedido de reintegração de posse
confirmada. APELAÇÃO CONHECIDA E DESPROVIDA. ” (TJGO, 6ª Câmara
Cível, in AC nº 463095-26.2008.8.09.0100, j. de 24/08/2010, Rel.
Des. Fausto Moreira Diniz).
Deveras, restou comprovado às escancaras que a autora/apelante
não detinha a posse dos imóveis com ânimo de dona, mas tão somente a simples
detenção decorrente da tolerância ou permissão dos proprietários, fato
conhecido de toda a vizinhança do local.” (fls. 739/750).
Como se vê, nada há para ensejar a mudança do
convencimento antes esposado, especialmente porque não exteriorizada a
superveniência de fatos novos, nos contornos da ementa a seguir:
“AGRAVO INTERNO. APELAÇÃO CÍVEL. DECISÃO QUE NEGA SEGUIMENTO
A APELO. AUSÊNCIA DE FATOS NOVOS. RATIFICAÇÃO. 1 - Estando a
decisão singular de acordo com a jurisprudência dominante nesta e
nas Cortes superiores, convém ao relator negar seguimento ao
recurso, apoiado no disposto no art. 557, caput, do CPC, dando
efetividade ao princípio da celeridade, contribuindo, assim, com
a diminuição do número de processos a serem julgados pelo
Tribunal. 2- Não apresentados elementos novos que justifiquem a
reconsideração pretendida, o improvimento do agravo regimental é
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medida imperiosa. Agravo Regimental improvido.” (TJGO, 4ª Câm.
Cível, AC nº 154780-5/188 Rel. Des. Carlos Escher, DJ 562 de
22/04/2010).
Ao teor do exposto, nego provimento ao agravo interno em
testilha, mantendo-se, pois, incólume a decisão monocrática impugnada.
É o meu voto.
Goiânia, 30 de abril de 2015.
Juiz Sérgio Mendonça de Araújo
Relator em Substituição
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APELAÇÃO CÍVEL Nº 273174-89.2007.8.09.0130 (200792731743)
AGRAVO REGIMENTAL
Comarca de Porangatu
Agravante: Joana José da Costa
1º Agravado: Gontijo e Gontijo Filho Ltda e outro(s)
2º Agravado: Venceslau Pinto Cerqueira
3º Agravado: Rui Resende
Relator em substituição: Juiz Sérgio Mendonça de Araújo
EMENTA: AGRAVO INTERNO EM APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE
USUCAPIÃO. POSSE AD USUCAPIONEM. ATOS DE MERA
PERMISSÃO OU TOLERÂNCIA. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
SENTENÇA CONFIRMADA. AUSÊNCIA DE FATO NOVO. 1. Os atos
de mera permissão ou tolerância, sem o “animus domini”, não
induzem posse (artigo 1208 do Código Civil), portanto, não
geram o direito à aquisição da propriedade por meio de
usucapião. 2 - Uma vez não comprovada a posse “ad
usucapionem”, torna-se inadmissível o reconhecimento da
prescrição aquisitiva. 3 - Se a parte agravante não demonstra
nenhum fato novo ou argumentação suficiente para acarretar a
modificação da linha de raciocínio adotada na decisão
monocrática, impõe-se o desprovimento do agravo interno,
porquanto interposto a mingua de elemento novo capaz de
desconstituir o decisum que negou seguimento ao apelo
manejado pela agravante. Agravo interno conhecido e
desprovido.
ACÓRDÃO
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VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos de
Agravo Regimental nº 273174-89.2007.8.09.0130 (200792731743) da
Comarca de Porangatu.
ACORDAM os integrantes da Terceira Turma Julgadora da
Quarta Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à
unanimidade de votos, conhecer do agravo regimental e negar-lhe
provimento, nos termos do voto do Relator.
VOTARAM, além do relator, a Desª. Elizabeth Maria da Silva e
o Dr. Sebastião Luiz Fleury, substituindo a Desª. Nelma Branco Ferreira
Perilo.
PRESIDIU a sessão a Desª. Elizabeth Maria da Silva.
PRESENTE a ilustre Procuradora de Justiça, Drª. Nélida Rocha
da Costa Barbosa.
Custas de lei.
Goiânia, 30 de abril de 2015
Juiz Sérgio Mendonça de Araújo
Relator substituto em 2º grau
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