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Das Aes na Sociedade Annima
Carlos Filipe de Castro Lemos,discente do 2 ano do curso de Direito da UNESP.
Sumrio: 1. Introduo; 2. Aspectos Gerais da Sociedade Annima; 2.1 Caractersti-cas; 2.1.1. Sociedade empresria; 2.1.2. Sociedade de capitais; 2.1.3. Responsabilidadelimitada; 2.2. Companhias abertas e fechadas; 3. As Aes; 3.1. Conceitos Importantes;3.1.1. Integralizao do Capital e Constituio da Companhia; 3.1.2. Capital Social ePatrimnio; 3.1.3. IPO; 3.2. Conceito e Natureza da Ao; 3.3. Classificao; 3.3.1.Quanto aos Direitos Conferidos; 3.3.1.1. Aes ordinrias; 3.3.1.2. Aes preferenci-
ais; 3.3.1.3. Aes de fruio; 3.3.2. Quanto Forma de Circulao ou Transfernciada Participao; 3.3.2.1. Aes nominativas; 3.3.2.2. Aes endossveis; 3.3.2.3. A-es ao portador; 3.3.2.4. Aes escriturais; 3.3.3. Quanto ao seu Valor; 3.3.3.1. Aescom ou sem valor nominal; 3.3.3.2. Valor Real; 3.3.3.3. Valor Bolsstico; 3.3.3.4. Va-lor Contbil; 3.4. Conversibilidade; 3.5. Certificados; 3.6. Livros Sociais; 3.7. As A-es e os Direitos Reais; 3.7.1. Penhor; 3.7.2. Usufruto; 3.7.3. Fideicomisso; 3.7.4. A-lienao Fiduciria em Garantia; 3.8. Circulao; 3.9. Negociao; 3.9.1. Resgate;3.9.2. Reembolso; 3.9.3. Amortizao; 4. Concluso.
1. Introduo
A cada dia que se passa, o mundo se torna mais globalizado e integrado, e, ao mesmo
momento tempo, mais as pessoas so esquecidas debaixo de pontes. Movimentos inversos,
mas que demonstram como o capital tem importncia no nosso cotidiano, especialmente os
que especulam, e tambm aqueles outros que geram produo e empregos para as mais fami-
geradas pessoas.
No mundo capitalista, o interessante notarmos que as companhias de capitais, nas
quais a figura do scio no vem em primeiro lugar, so as que mais tm destaque, posto queconcentram somas inestimveis de dinheiro para que seja realizado o objetivo da empresa:
gerar lucro. Para tanto, necessrio que os empresrios saibam administrar os recursos que
tm disponveis. Devem tambm saber gerenciar seus negcios para que consigam sobreviver
na selva da concorrncia.
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Sem dvida, esses negociantes avidamente precisam de esclarecimentos jurdicos acer-
ca das aes (as quais representam o capital social de uma empresa). Assim, podero entender
melhor o que se passa no mercado acionrio, bem como avaliar o potencial de crescimento
empresarial, ou ainda analisar o papel de uma multinacional sob o ngulo comercial. Esse ointuito do presente trabalho, analisar as aes em uma sociedade annima e verificar como
elas operam no mundo dos negcios sob um prisma jurdico.
Desse modo, cumpre afirmar que nos valemos de alguns dispositivos legais para dar
fundamento s idias expostas. Quando apenas mencionarmos os artigos, o interlocutor deve
ter em mente a Lei n 6404/76. As demais esto devidamente posicionadas no ordenamento
jurdico. Sendo assim, partiremos de um esboo das sociedades annimas e chegaremos s
negociaes das aes, sempre explicitando muitos conceitos dos quais se faz necessidade ao
longo do corpo do texto.
2. Aspectos Gerais da Sociedade Annima
2.1. Caractersticas
Na finalidade de facilitar o entendimento das aes na sociedade annima, mister se
faz que se estudemos primeiramente, em linhas gerais, a sociedade annima. Por isso, desta-cam-se algumas caractersticas a que lhe so inerentes:
2.1.1. Sociedade empresria: a sociedade annima sempre ser empresria, por fora de lei,
decorrente da combinao do art. 2 da Lei n 6.404/76 e art. 982 do Cdigo Civil de 2002. Os
demais tipos societrios podem ou no ser empresrios. Com relao ao seu objeto, notrio
que deva estar de acordo com os bons costumes, dispositivos da lei e a ordem pblica;
2.1.2. Sociedade de capitais: importante frisar que o principal objetivo da sociedade anni-
ma aglutinar capitais. O capital revestido de uma tal importncia que a figura do scio cai
para segundo plano na atividade negocial deste tipo de empresa, principalmente no que tange
bolsa de valores. Em alguns aspectos, o estatuto pode impor limites transferncia de capitais
desde que no impea a negociao deles (art. 36). Os recursos financeiros podem ser recolhi-
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dos do pblico em geral, mediante a oferta pblica de aes (tanto no mercado balco como na
Bolsa de Valores); e,
2.1.3. Responsabilidade limitada: a responsabilidade do acionista refere-se unicamente aovalor de integralizao de suas aes que subscrever ou adquirir (art. 1). Essa regra demonstra
a segurana do acionista em casos de falncia, bem como a facilidade no investimento e circu-
lao de capitais na forma de aes.
2.2. Companhias abertas e fechadas
As sociedades podem ser de capital aberto ou fechado. Desta forma, cumpre dizer a di-
ferena bsica entre uma e outra. Nesse caso, a primeira, capital aberto, tem como caractersti-
ca a disponibilizao de aes no mercado balco e na bolsa de valores, onde os interessados
podem subscrev-las ou as adquirir. Na bolsa de valores, as aes so oferecidas por meio de
operaes de mercado, enquanto que, no mercado balco, h instituies regularizadas con-
forme o art. 21 da Lei n 6385/76 que fazem o intermdio de compra e venda. J na segunda
forma, capital fechado, de modo diverso, pois contrrias ao procedimento acima descrito, se-
ro de fechadas. No tero, portanto, a disponibilizao de aes no mercado balco, nem na
bolsa de valores.
Vale dizer tambm que o mero registro pode transformar a qualidade da empresa de fe-
chada em aberta, como nos informa a Instruo da Comisso de Valores Mobilirios (CVM)
n 202/93. No entanto, caso no disponha aes no mercado, a CVM poder cassar o registro,
e, logo aps, cancel-lo. Isso altera a sociedade de aberta para fechada.
3. As Aes
3.1. Conceitos Importantes
Para simplificar a leitura do texto, bem como explicitar alguns conceitos acessrios,
preponderante que faamos a anlise de certos conceitos adjetivados importantes. Sem eles, o
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contedo deste trabalho seria amplamente abstrato, o que redundaria em um no esclarecimen-
to do tema proposto. Por isso, segue-se abaixo um rabiscado estudo:
3.1.1. Integralizao do Capital e Constituio da Companhia:
Ao realizar asubscrio em uma empresa, o cedente deve integralizar o valor corres-
pondente ao preo de emisso das aes. Dessa forma, o capital social pode ser avaliado e
dividido em tantas aes quanto forem os associados. O capital deve ser expresso em moeda
nacional e corresponder a bens de qualquer natureza, seja dinheiro, seja bens mveis ou im-
veis. Vale lembrar que a entrada mnima de 10%. Tanto assim que o acionista que quitar
imediatamente o valor da ao, automaticamente j ter efetuado a integralizao necessria.
Caso faa em parcelas, na medida em que os quinhes so pagos, a integralizao se completa.
Depois de cumpridos todos os requisitos dispostos em lei (avaliao de peritos, elabo-
rao do laudo, convocao de assemblia, assinatura da subscrio e aprovao do laudo), a
sociedade formada.
Relevante lembrar ainda que a aquisio de aes tambm se concretiza com a sua in-
tegralizao.
3.1.2. Capital Social e Patrimnio:
Alguns autores costumam classificar o capital social de acordo com sua procedncia.
Outros dizem que a sua funo que o caracteriza. Contudo, sob o prisma jurdico, o capital
social a soma do capital empregado pelos associados na formao da sociedade annima.
Dessa forma, podemos traar as responsabilidades de cada um, porquanto cada qual responde
apenas pelo valor de sua ao, como supracitado em responsabilidade limitada.
Capital social, portanto, somente se confunde com patrimnio no momento inicial da
empresa, quando esta formada. Ascarelli, em sentido oposto, afirma que, mesmo nesse mo-mento, o patrimnio inferior ao capital social, posto que h custos com o registro. Nesse
raciocnio ainda, ilustre autor aponta que em ocasio posterior processa-se o contrrio, uma
vez que o patrimnio cresce com os lucros negociais ultrapassando o valor do capital social.
Sem dvida, podemos ilaar que o capital social um crculo fixo, o qual serve de comparao
entre o capital investido primordialmente e o desenvolvimento da empresa.
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Analisado sob o ngulo interno da empresa, o capital influencia a posio do scio, es-
pecialmente no direito s decises e direito de voto. Externamente, no entanto, uma garantia
aos credores. Finalmente, visto suas peculiaridades, podemos inferir que o capital tem seu va-
lor fundacional, e, ao mesmo tempo, funcional.
3.1.3. IPO
A IPO vem da designao americana Initial Public Offering, na qual a sociedade an-
nima coloca em disposio, pela primeira vez, suas aes em oferta pblica. Para isso, ne-
cessrio que a empresa seja de capital aberto, bem como disponibilizar meios legais para a
proteo dos futuros scios minoritrios.
O IPO de aes pode ser por emisso de novas aes - emisso primria - ou por venda
de aes j existentes - oferta secundria. Em seguida, verificado que a oferta envolve vrias
etapas, como definio do preo de emisso, montante a ser captado, adaptao de estatutos
sociais, contratao de instituio para efetuar a colocao das aes junto no mercado, regis-
tro na CVM e na bolsa de valores, marketing da operao, adoo de uma poltica de disclou-
sure de informaes e adequao aos procedimentos legais.
Certamente um meio de levantar capital para a sociedade de modo extremamente r-
pido. Esse fenmeno ocorre com uma freqncia cclica, a considerar que no ano de 2005
houve um estouro na bolsa americana com 384 lanamentos. Este ano, no entanto, cerca de 24
deles, nos primeiros meses do ano, foram registrados, e, conforme se pode observar, foram
feitas por empresas que j possuem nome. O motivo no era outro seno conseguir o capital
necessrio para os seus enormes investimentos.
3.2. Conceito e Natureza da Ao
Gudesteu Pires conceitua as aes como unidade do capital nas sociedades annimas
e o ttulo representativo dos direitos e obrigaes do scio, o qual recebe pela posse desse ttu-
lo o nome de acionista.
Integralizada a sua parte, no entanto, o acionista se v livre das obrigaes. Passa, pois,
a ter direitos. Assim, a ao representa uma gama bem variada de direitos, que se estende des-
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de valores patrimoniais at administrativos. Tem importncia, sobretudo, na estrutura e orga-
nizao das sociedades annimas. Diversamente das quotas, as aes so emitidas material-
mente, ou seja, existem fisicamente. Sobremaneira, isso favorece a sua circulao, se conside-
rarmos que elas podem ser vendidas ou compradas no mercado balco e nas bolsas de valores.Portanto, a ao funciona como a unidade do capital social. um bem mvel que car-
rega consigo os direitos em sua transferncia. Notavelmente circula autonomamente e o ins-
trumento que legitima o scio. Muitos a consideram apenas como ttulo de crdito; todavia,
no o pode ser, porque este caracterizado pela cartulidade (documento), literalidade (vale
pelo quanto dele consta), e autonomia (constitui direito); enquanto emitidas as aes, por natu-
reza, no precisam ser na forma de crtula, ou possuir literalidade e autonomia. Diz-se isto
porque existem diversos tipos e formas de aes, no sendo possvel estabelecer regra geral
que a todas caracterize. Estudaremos cada qual em seguida.
3.3. Classificao
As aes, como unidade do capital social, poderiam ser iguais. Todavia, isso no acon-
tece, sendo muito comum o contrrio. Elas variam conforme os direitos conferidos, quanto
forma de circulao ou transferncia da participao, ou ainda de acordo com o seu valor. Em
ltima anlise, depender da especificao do Estatuto para que se possa averiguar e, dessa
forma, apurar a espcie de ao, bem como as suas classes (subespcie) e as formas admitidas.
Para demonstrar as diferenas que tangem cada subclassificao das aes, temos ilus-
trativamente que, na companhia aberta, as aes ordinrias formam uma classe nica; enquan-
to, na companhia fechada, podem existir classes variadas. Haja vista as aes preferenciais,
podemos vislumbrar melhor o que vem a ser classes, posto que o pagamento de dividendos
normalmente dividido em prioridades. Assim, as aes Preferenciais A sobrepem-se s Pre-
ferenciais B, que, por sua vez, tm privilgios em relao as Preferenciais C, e assim por dian-te. Essas classes funcionam como ramos que se desprendem do tronco inicial, quais sejam as
espcies.
3.3.1. Quanto aos Direitos Conferidos
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Em relao aos direitos conferidos as aes se dividem em trs espcies: ordinrias,
preferenciais e de fruio.
3.3.1.1. Aes ordinrias:So, por definio, aes normais, as quais atribuem os direitos comuns dos acionistas,
como o de participao na diviso dos dividendos. Nada lhes pode ser retirado ou acrescenta-
do. Conferem, sobretudo, direito ao controle poltico decisrio das sociedades, mediante o
exerccio de voto. Por isso, so aes muito disputadas, posto que carregam junto a si a possi-
bilidade de guiar o destino de gerao de riqueza. A lei brasileira, no que tange a companhia
aberta, prev classe nica para esta espcie de ao; no entanto, ao se tratar da companhia fe-
chada, pode ainda agrupar divises:
1. Possibilidade de transformao em preferenciais;
2. Exigncia de ser brasileiro o acionista; e,
3. Direito de Voto em separado para o preenchimento de determinados cargos nos
rgos administrativos.
3.3.1.2. Aes preferenciais:
Diferentemente das ordinrias, as aes preferenciais so sempre diferenciais, uma vez
que apresentam certas preferncias ou vantagens aos seus portadores. Essas qualidades servem
para compensar o no direito ao voto; ou, se o possuir, o exerccio restringido com vrios
requisitos. Por exemplo, o art. 18 outorga que o Estatuto Social poder dispor a uma das clas-
ses de preferenciais o direito de eleger membros do rgo de administrao.
No art. 17, h trs preferncias e vantagens evidenciadas:
4. Prioridade em receber dividendos;
5. Prioridade no reembolso de capital (com ou sem prmio);
6. O Estatuto pode conferir ambas cumulativamente.Com a Lei n 10.303, o nmero de aes preferenciais no poder ultrapassar 50% das
aes emitidas. Essa alterao suplanta o parmetro anterior, que era de dois teros. Vale res-
saltar que as empresas constitudas antes do vigor desse preceito gozam do privilgio de man-
ter a proporo citada. As de capital fechado que se transformaram em abertas, ou aquelas que
foram constitudas aps a lei, necessariamente devem se enquadrar no novo modelo.
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Probe a lei, que as aes preferenciais deixem de receber bonificaes decorrentes da
capitalizao de reservas ou lucros.
3.3.1.3. Aes de fruio:Estas aes no representam exatamente uma parcela do capital social. So ttulos atri-
budos aos acionistas quando suas aes substituem as aes amortizadas. Aprofundando o
estudo, nos deparamos com caractersticas bastante peculiares, pois podemos dividir a propri-
edade em propriedade a ser atribuda ao proprietrio e a posse e o usufruto a uma outra pessoa.
Portanto, o proprietrio deter a propriedade das aes, enquanto o usufruturio deter o direi-
to ao usufruto das aes; ou seja, usufruir das distribuies dos dividendos e das bonifica-
es. Isso se d em casos sucessrios, nos quais h um timo planejamento familiar. A questo
se torna nebulosa quando inexiste clausula de usufruto, cabendo, nesse caso, que o usufrutu-
rio exera o direito de voto.
3.3.2. Quanto Forma de Circulao ou Transferncia da Participao
Em relao forma de circulao ou transferncia de participao, as aes se dividem
em quatro espcies: aes nominativas, aes endossveis, aes ao portador e aes escritu-
rais.
3.3.2.1. Aes nominativas:
As aes nominativas so registradas no livro de Registro de Aes Nominativas no
nome do titular. Sem esse registro, no h que se falar em propriedade. Desse modo, se houver
vcio contaminante do registro, o ttulo poder ser desconstitudo (art. 31).
Para se provar a qualidade de acionista, ser emitido um certificado. Entretanto, para
que possa exercer os direitos inerentes a um scio, o acionista deve estar primeiramente estarregistrado legalmente no supramencionado livro.
Na finalidade de efetuar a transferncia de ao nominativa, basta que o alienante e o
adquirente assinem um termo, que promove a baixa, por um lado, e o seu lanamento, por ou-
tro. A forma de pagamento ser por cheque em via postal ou atravs de crdito em conta cor-
rente. Importante relevar que as bonificaes sero lanadas diretamente no livro de registros.
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3.3.2.2. Aes endossveis:
As aes endossveis deixaram de existir no direito brasileiro. Antes eram disciplina-
das pelo art. 32 da Lei n 6.404/76, mas esse dispositivo foi revogado pela Lei n 8021/90. Porisso, no sero tratadas nesse trabalho.
3.3.2.3. Aes ao portador:
As aes ao portador tambm deixaram de existir no direito brasileiro. Antes eram dis-
ciplinadas pelo art. 33 da Lei n 6.404/76, mas esse dispositivo tambm foi revogado pela Lei
n 8021/90. Por isso, no sero tratadas nesse trabalho.
3.3.2.4. Aes escriturais:
Primeiramente, devemos lembrar que o silncio da legislao com a ao escritural nos
remete que esta seno uma variante da ao nominal. Desse modo, entendemos que as aes
escriturais so uma espcie das nominativas. Na verdade, so uma forma evoluda, posto que
dispensam a emisso de um certificado. Sua existncia depende exclusivamente da existncia
de uma conta corrente de aes, aberta no nome do titular subscrito nos livros da instituio
administradora. A velocidade dos negcios, bem como a segurana obtida, so muito maiores
com este tipo. O meio de transferncia o mesmo das aes nominativas, atravs de baixas e
lanamentos no registro competente.
3.3.3. Quanto ao seu Valor:
Observados os direitos e a forma de circulao, somente nos resta analisar o valor das
aes. Primeiramente, h o valor de emisso integralizado por quem as subscreve ou as adqui-
re. Em seguida, podemos endossar que tambm existem mais quatro tipos de valores: o nomi-nal, o real, o bolsstico e o contbil.
3.3.3.1. Aes com ou sem valor nominal:
A companhia pode estabelecer um valor nominal s suas aes. Para isso, ele deve di-
vidir o capital social pelo nmero de aes existentes. Desse modo, cada uma dessas partes
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obtidas representar uma parcela do capital social. Segue-se disto que o preo de emisso nun-
ca poder ser inferior ao valor nominal. Se por ventura ocorrer a venda de aes com estas
caractersticas, considerar-se-, pela lei, a nulidade dos atos e a responsabilizao dos infrato-
res, por fraude a credores (art. 177, CP). O contrrio, no entanto, permitido, a considerar umpreo de emisso maior que o nominal. A diferena entre esses dois valores chamada gio e
tem as finalidades de:
I. Absorver prejuzos que ultrapassem os lucros acumulados e as reservas de lucro;
II. Resgatar, reembolsar ou comprar aes;
III. Resgatar partes beneficirias;
IV. Incorporar-se ao capital social;
V. Pagar dividendos s preferenciais, quando esta vantagem for assegurada.
H de se notar tambm que a companhia pode no estabelecer esse valor nominal. O
valor dessas aes equivaleria ao valor patrimonial da empresa, o qual seria dividido pelo n-
mero de aes existentes. Estaria, dessa forma, representado em nmero o valor nominal. Sem
dvida, um tipo de ao aceito pelo direito brasileiro. No entanto, apesar de ser legalmente
reconhecido, no to abraado pelo mercado acionrio tal qual as aes com o valor nomi-
nal.
3.3.3.2. Valor Real:
O valor real das aes aquele oriundo do patrimnio da companhia. Enquanto o valor
nominal corresponde a uma parcela do capital social, o valor real corresponde ao valor patri-
monial integrado na empresa.
3.3.3.3. Valor Bolsstico:
Simplesmente o valor decorrente da ao na Bolsa de Valores. Depende do tipo de
ao, do mercado e de vrios outros fatores inerentes a alienao no mundo acionrio.
3.3.3.4. Valor Contbil:
Tambm conhecido como patrimonial, o valor contbil remete-se apurao contbil.
Verifica-se este com o valor da soma do capital, reservas e lucros no distribudos, dividindo-
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se o resultado pelo nmero de aes. necessrio, sobretudo, tomar cuidado com artimanhas
aritmticas prprias dos contabilistas.
3.4. Conversibilidade
O acionista, bem como a sociedade, podem estar insatisfeitos com classes ou formas de
aes. Sendo assim, podem convert-las para que consigam fazer valer seus interesses. Esta
situao, notavelmente, depende de norma estaturia que a preveja. Sem ela, no h o devido
processo legal, nem as condies, que so necessrias para a iniciativa.
O art. 19 preleciona que o estatuto de companhias com aes preferenciais poder con-
ter as seguintes concesses:
I. de aes de uma classe em aes de outra classe;
II. de aes preferenciais em ordinrias; e,
III. de ordinrias em preferenciais.
O art. 16 prev que uma classe de ordinrias pode ser transmudada em preferenciais.
3.5. Certificados
Os certificados de aes so ttulos emitidos para atestar (aes nominativas) a titulari-
dade acionria. Representam, sobretudo, a propriedade das aes. So documentos cartulares
denotativos dos direitos que desempenham.
Segundo a lei, no art. 24, vrias so as declaraes que devem constar nos certificados,
em especial: denominao da companhia, valor do capital e numero de aes que os compe,
quantidade de aes ordinrias e preferenciais e as respectivas vantagens e restries, numero
de ordem do certificado e das aes, a que correspondem os direitos das partes beneficirias
eventualmente existentes, data da constituio da companhia e dbito do acionista (este lti-
mo, somente se a ao no estiver completamente integralizada).Podem parecer suprfluas, mas o legislador emprestou bastante valor a essas informa-
es. Tanto que os acionistas que verificarem erros ou omisses tero direito a pleitear perdas
e danos no tribunal. No caso das aes escriturais, para as quais no h certificados, notavel-
mente no se exige nenhuma dessas informaes; todavia, o legislador se contenta com o sim-
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ples extrato da conta de depsito, o qual apenas menciona espcie e quantidade de aes e o
nome do agente emissor.
Fenmeno interessante que os certificados podem se desdobrar ou se agrupar de a-
cordo com os interesses do acionista. No primeiro, um certificado de 100 aes pode ser des-membrado em cinco de 20, ou quatro de 25; por outro lado, no segundo, ao invs de se dividir
em tantos certificados quanto for a vontade do acionista, este pode agrup-los, formando um
certificado de 40 com dois que representem 20 aes.
Importante ilustrar que esses fenmenos no se confundem com o desdobramento e a-
grupamento de aes, porquanto o certificado seja meramente a representao da titularidade
destas. Assim, pode-se arrum-los da forma como lhe convier, posto que no alterar a subs-
tncia do capital social, apenas a sua representatividade. Isso nada mais do que um procedi-
mento administrativo.
Outro ponto de relevncia que algumas empresas, para se desvincularem do papel de
escriturao, registro, transferncia e emisso de certificados das aes, contratam instituio
financeira autorizada pelo CVM com o intuito de terceirizar esse servio. Essas empresas re-
cebem o nome de agente emissor.
Pela Lei n 7492, art. 7, configura crime oferecer ou negociar, de qualquer modo, ttu-
los ou valores mobilirios:
1. Falsos ou falsificados;
2. Sem registro prvio de emisso na autoridade competente ou em condies di-
vergentes das constantes do registro ou ainda irregularmente registrados; e,
3. Sem lastro ou garantia prvia da autoridade competente, quando legalmente e-
xigida.
A perda ou extravio de um certificado no acarreta problemas graves, uma vez que
um documento meramente probatrio - sem nenhum valor intrnseco reconhecido. Soluciona-
se o inconveniente com a emisso de uma segunda via.
3.6. Livros Sociais
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No podendo ser diferente, uma vez que regra aos comerciantes em geral, a socieda-
de annima obrigada a possuir livros comerciais e fiscais, em cujo bojo so feitos os lana-
mentos operacionais das empresas.
Entretanto, por ser uma sociedade de grande porte, onde o capital tem mais valia doque a pessoa do scio, h a necessidade de livros especficos. Estes esto enumerados no art.
100, e, na finalidade de facilitar a visualizao de todos, podemos divid-los em duas grandes
categorias: livros de atas e livros de registros.
Os livros de atas so os seguintes:
I. Atas de Assemblias;
II. Presena de Acionista;
III. Atas de Reunio de Conselho de Administrao;
IV. Atas de Reunies da Diretoria; e,
V. Atas e Pareceres do Conselho Fiscal.
Os livros referentes ao registro e aos ttulos transferidos so:
I. Registro de Aes Nominativas;
II. Transferncia de Aes Nominativas;
III. Registro de Partes Beneficirias Nominativas;
IV. Transferncia de Partes Beneficirias Nominativas;
V. Registro de Debntures Nominativas; e,
VI. Transferncia de Debntures Nominativas.
Os livros e atas das sociedades annimas esto sujeitos as mesmas formalidades apli-
cveis aos livros comerciais, impondo que cada um seja legalizado perante a Junta Comercial
competente.
Vale lembrar que a lei tambm regula a exibio dos livros sociais, posto que podem
vir a ser documento em face de ilcitos cometidos. Dessa forma, podero ser periciados por
determinao judicial.
3.7. As Aes e os Direitos Reais
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O direito positivo brasileiro permite ao acionista que ele possa constituir direitos reais
sobre as aes. Temos, a ttulo de exemplo, alguns institutos que suportam essa caracterstica,
a saber: o penhor, o usufruto, o fideicomisso e a alienao fiduciria em garantia.
3.7.1. Penhor:
O penhor um direito real de garantia no qual alguma pessoa dispe da posse de um
determinado bem mvel a favor de uma outra pessoa. Assim, esse devedor garante o pagamen-
to da obrigao principal contrada com o accipiens. No caso das aes, no h necessidade da
tradio para que ocorra penhor. Basta que o credor averbe a garantia pignoratcia no Registro
de Aes Nominativas. Logo, o acionista no perde o direito de voto. Todavia, h de que re-
gistrar que o convencionado entre as partes sobrepes a essas regras.
3.7.2. Usufruto:
O usufruto j foi tratado no tpico de aes de fruio. Portanto, no merece ser repe-
tido novamente.
3.7.3. Fideicomisso:
Esse instituto pertence tanto aos direitos reais quanto ao sucessrio. O testador, ao re-
digir o testamento, impe uma obrigao a outra pessoa, designada fiducirio, de transmitir a
propriedade de herana ou legado em favor de outrem, fideicomissrio, para que este possa
transmitir aos herdeiros legtimos no momento adequado. As aes podem ser objeto desse
tipo de obrigao. Entretanto, deve estar averbada no livro competente.
3.7.4. Alienao Fiduciria em Garantia:
Efetivamente ocorre a transferncia de propriedade da coisa do solvens para o accipi-
ens. Todavia, o carter condicional e resolvel. Apenas devemos nos ater no art. 113, o qualnos leciona que o credor, em favor de quem se transferiu as aes, no poder exercer direito
de voto. O alienante fiducirio poder exercer essa faculdade, mas de acordo com as restries
que acompanham a garantia. , sem dvida, uma forma de prevenir que o alienante sofra pos-
sveis perdas. Vale lembrar que esse procedimento tambm dever estar averbado no livro
competente.
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3.8. Circulao
Em regra, o acionista tem o direito de transferir suas aes a quem quiser, posto que na
sociedade annima h a livre circulao delas. Todavia, deve-se verificar primeiramente o tipode sociedade antes de estabelecer essa regra geral. Dessa forma, agindo com comedimento,
poderemos vislumbrar melhor o que acontece nas companhias abertas e fechadas, e, conse-
qentemente, dizer se a regra absoluta ou no.
No caso das companhias abertas, qualquer disposio que contrarie o preceito acima
mencionado considerada viciada, sendo, portanto, nula. Em contrapartida, nas companhias
fechadas, a lei permite intromisso do estatuto, o qual pode estabelecer limitaes quanto a
circulao das aes. Contudo, nunca poder impedir sua negociao.
Para que o acionista possa alienar suas aes, a priori deve oferec-las aos demais a-
cionistas. Resguarda-se, dessa forma, o direito de preferncia, preo a preo. Caso finde o pra-
zo de preferncia, o interessado poder compr-las do acionista vendedor.
Como as aes apresentam valor unitrio relativamente pequeno, a indivisibilidade no
prejudica sua circulao. Se na companhia aberta o preo de emisso no for integralizado no
mnimo em 30%, a transmisso fica prejudicada. Noutro caso, na companhia fechada, o neg-
cio se concretiza com apenas 10%, que o mnimo exigido na subscrio.
3.9. Negociao
Primeiramente vale dizer que o art. 30 veda o negcio da companhia com suas prprias
aes. No entanto, sabemos que esta regra possui trs excees enumeradas pela prpria lei,
quais sejam: resgate, reembolso e amortizao. Aduze-se ainda que os conceitos destas trs
operaes confundem-se muito na prtica, e, por isso, cabe-nos analisar cada um fazendo as
devidas diferenciaes.
3.9.1. Resgate:
um fenmeno bem interessante, pois a companhia adquire as aes dos acionistas
com o intuito de retir-las por definitivo de circulao. Consequncia disto o capital social
pode sofrer alterao. No entanto, se este permanecer inalterado, jus que se aplique s de-
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mais aes um acrscimo no valor nominal, o qual passa a ter maior que a situao anterior.
Naturalmente, para efetuar o resgate, a empresa deve ter capitais de reserva ou de lucros acu-
mulados.
3.9.2. Reembolso:
utilizado em casos previstos pela lei. A companhia adquire dos acionistas dissidentes
de deliberao assemblear o valor de suas aes.
3.9.3. Amortizao:
verificada a amortizao no momento em que a sociedade entra em liquidao. A
companhia, a fim de restituir determinadas quantias aos seus acionistas, amortiza as aes.
Importantes caractersticas so as de que o capital social no se reduz e as aes so mantidas
na secretaria (posteriormente, elas podem ser renegociadas ou reoferecidas aos scios rema-
nescentes ou a novos acionistas).
4. Concluso
Conforme pde ser visto, e explicitado, a norma jurdica abarca muitas facetas das a-es na sociedade annima. Desse modo, cabe ao interprete vislumbrar os pressupostos para
que enquadre o caso concreto em uma das abstraes supracitadas.
Com relao ao mercado acionrio, tambm podemos verificar que foi cumprido o
proposto, uma vez que analisamos as aes no mercado de acordo com seu valor, circulao e
negociao. Outrossim, classificamos cada espcie e subespcie das aes.
Bibliografia
ANDRADE JR., Atilla de Souza Leo. O Novo Direito Societrio Brasileiro. Livraria e Edito-
ra Braslia Jurdica, Braslia, 1999.
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BORBA, Jos Edwaldo Tavares.Direito Societrio. Renovar, Rio de Janeiro, 2003.
BULGARRELI, Waldirio. Manual das Sociedades Annimas. Editora Atlas, So Paulo, 1998.
MESSINA, Paulo de Lorenzo & FORGIONI, Paula A. Sociedades por Aes - Jurisprudncia
- Casos e comentrios. Revista dos Tribunais, So Paulo, 1999.
NEGRO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. Editora Saraiva, So Paulo,
2003.
Oferta Inicial - IPO Data do acesso: 30/11/2006. Disponvel no endereo eletrnico:
http://www.comoinvestir.com.br/anbid/CalandraRedirect/?temp=5&proj=anbid&pub=T&com
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