constituição1933

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A Primeira Repblica viria a durar apenas 16 anos, estando as causas da sua queda directamente associadas conjuntura europeia e nacional: a inflao do ps-guerra atingiu em Portugal um ndice elevado; os preos subiram vertiginosamente e os salrios no acompanharam a tendncia anterior, prejudicando o poder de compra do operariado, do funcionalismo pblico e dos militares; o desequilbrio das finanas pblicas tendia a acentuar-se; a degradao das condies de vida agravou as tenses sociais e as greves sucederam-se; despontaram inmeros motins revolucionrios, ataques bombistas e atentados polticos; a instabilidade poltica acentuou-se aps a Guerra. No perodo de 1919 a 1926, os governos sucederam-se a ritmo mais rpido, favorecendo o avano das foras conservadoras e reaccionrias. Todos estes factores desagradavam os grupos sociais. As classes mdias e a alta burguesia receavam a agitao operria e com ela a propagao do iderio da Revoluo Russa. As classes mdias mostravam-se desiludidas com o regime e aspiravam a um governo forte e autoritrio, de modo a garantir a estabilidade social e poltica. O operariado, insatisfeito com as fracas conquistas alcanadas pelos movimentos grevistas, j no reagia em defesa do regime. A falta de apoio Primeira Repblica era evidente. As foras conservadoras e reaccionrias aproveitaram as circunstncias e conspiravam abertamente contra o Regime.

Foi neste contexto que o Golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 foi apoiado por todas as faces polticas, com excepo dos Democrticos. Todos esperavam que o golpe militar abrisse o caminho para a concretizao das suas aspiraes.

O perodo que vai de 1926 a 1933 recebeu o nome de Ditadura Militar. O Parlamento foi dissolvido, as liberdades individuais suspensas e o poder passou a ser assumido directamente pelos militares. No entanto, sobretudo at 1928, continuava a instabilidade poltica e o deficit financeiro vai em aumento permanente.

Em 1928 foi escolhido para Presidente da Repblica o general scar Carmona e, para ministro das Finanas, Antnio de Oliveira Salazar que, em 1932, torna-se Presidente do Conselho de Ministros. Preparou uma nova Constituio que veio a ser aprovada por plebiscito em 1933. Contudo, a razo do plebiscito no foi democrtica mas antes anti-parlamentar. Se a constituio de 1933, formalmente, foi aprovada por plebiscito, materialmente no apresentava uma base democrtica, no s pelo seu contedo, mas tambm pela inexistncia de um debate livre a respeito do seu projecto, pela no interferncia do Parlamento e pela manipulao dos votos.

O perodo da Ditadura Militar terminava, dando lugar ao Estado Novo.

Aparecido em Portugal quando varria a Europa uma onda de reaco contra a democracia liberal e contra o desenvolvimento do movimento operrio, o salazarismo, semelhana de outros regimes que no mesmo sentido proliferaram na poca no continente europeu, implantou no nosso pas um nacionalismo anti-liberal, um autoritarismo antidemocrtico e um corporativismo anti-socialista. A fase do constitucionalismo portugus que decorre entre 1926 e 1974, caracteriza-se pela quase perturbao do Estado Constitucional, representativo e de Direito ou pela pretenso de erguer um constitucionalismo diferente, um Estado Novo.

Uma vez que o constitucionalismo , sobretudo, um fenmeno de Direito pblico, impe-se que o presente trabalho passe a incidir na anlise da organizao poltica do Estado e, com ela, na reflexo sobre a separao dos poderes.

De facto, a Constituio de 1933 compreende duas partes: Garantias Fundamentais e Organizao Poltica do Estado e, em ambas, deixa transparecer as suas contradies. Se certo que na parte inicial existe uma vasta enumerao de direitos, no menos verdade que logo em seguida afirma-se a restrio aos mesmos: Leis especiais regularo o exerccio da liberdade de expresso do pensamento, de ensino, de reunio e de associao, devendo, quanto primeira, impedir preventiva ou repressivamente a perverso da opinio pblica na sua funo de fora social, e salvaguardar a integridade moral dos cidados (art. 20 / 2). Surge aqui o primeiro compromisso da Constituio em anlise: entre liberalismo (concesso de direitos, liberdades e garantias) e autoritarismo (a existncia de leis especiais que imprimem uma sujeio das liberdades).

J quanto separao dos poderes a discusso apresenta-se mais complexa. Efectivamente, importante ser distinguir a prtica poltica do prprio texto constitucional. Se a Constituio reconhece como rgos de soberania (e no j de poder) o Chefe do Estado, a Assembleia Nacional, o Governo e os Tribunais, a realidade fctica apontava para a supremacia do poder executivo.

O CHEFE DO ESTADO (dotado do poder representativo e um dos representantes do poder executivo) surge, na Constituio de 1933, como autoridade mxima do Estado. Segundo o art. 72. o Chefe do Estado o Presidente da Repblica eleito pela Nao por sufrgio directo. A chefia do Estado est assim confiada a um rgo singular. O art. 78. estabelece o princpio da responsabilidade poltica do Chefe do Estado perante a Nao. Dado o princpio de responsabilidade meramente poltica adoptado na Constituio em estudo, o Presidente da Repblica juridicamente irresponsvel pelos factos cometidos no exerccio das suas funes. A responsabilidade criminal decorrente de factos estranhos ao exerccio das suas funes existe, mas s pode ser efectivada depois de findo o mandato.

No que diz respeito s atribuies do Presidente da Repblica, estas podem ser consideradas quanto s relaes internacionais, Assembleia Nacional, legislao, ao Governo e funo judicial.

Segundo o n. 7. do art. 81., compete ao Presidente da Repblica representar a Nao e dirigir a poltica externa do Estado, ajustar convenes internacionais e negociar tratados de paz e aliana, de arbitragem e de comrcio, submetendo-os, por intermdio do Governo, aprovao da Assembleia Nacional: o Chefe do Estado , por isso, o alto representante do Estado nas relaes internacionais e o supremo agente da diplomacia.

Vrias so as atribuies do Chefe do Estado quanto Assembleia Nacional, destacando-se entre outras: o poder de dar a esta, ouvido o Conselho de Estado, poderes constituintes antes da realizao de eleies gerais para nova legislatura (art. 81., n. 4.); convocar extraordinariamente, por urgente necessidade pblica e ouvido o Conselho de Estado, a Assembleia para deliberar sobre assuntos determinados (arts. 81., n. 5. e 84., alnea b); adiar a sesso legislativa: pode o Presidente da Repblica, em qualquer altura da sesso legislativa ordinria, suspender os trabalhos da Assembleia e marcar a sua continuao para a data que for indicada; pode igualmente dissolver a Assembleia Nacional, quando assim o exigirem os interesses superiores da Nao (art. 81., n. 6.).

Quanto legislao, segundo o n. 9. do art. 81., compete ao Presidente da Repblica promulgar e fazer publicar as leis e resolues da Assembleia Nacional, bem como os decretos- -lei e os decretos regulamentares, e assinar todos os decretos individuais, sob pena de inexistncia. Assim, as leis e resolues dimanadas da Assembleia Nacional, os decretos-lei e os decretos regulamentares, bem como os decretos para o Ultramar requerem promulgao, o que confere ao acto autenticidade e executoriedade jurdica.

No que diz respeito relao entre o Chefe do Estado e o Governo, podemos afirmar que se o primeiro recebe a representao da Nao como rgo directo da soberania, o certo que por si s no exerce o poder que da lhe advm: forma um Governo que desempenha as atribuies que lhe so prprias e assume a responsabilidade dos prprios actos da competncia do Chefe do Estado. O Presidente da Repblica pode, em relao ao Governo: nomear e demitir o Presidente do Conselho (art. 81., n. 1.) por livre deciso da sua vontade e sem necessidade de referenda; nomear e exonerar os Ministros e Subsecretrios de Estado sob proposta do Presidente do Conselho; mandar reunir o Conselho de Ministros para colher directamente informaes dos Ministros ou fazer comunicaes colectivas; pode assumir a presidncia das prprias reunies ordinrias do Conselho para ir seguindo a marcha dos negcios pblicos.

Para alm destas atribuies, compete ainda ao Presidente da Repblica (em matria judicial) indultar e comutar penas (art. 81., n. 8.), tendo a possibilidade de atenuar e corrigir as sentenas proferidas em matria criminal pelos tribunais.

Como rgo auxiliar do Presidente da Repblica, a Constituio criou o CONSELHO DE ESTADO: composto por 5 membros natos (os presidentes do Conselho, da Assembleia Nacional, da Cmara Corporativa e do Supremo Tribunal de Justia, e o Procurador Geral da Repblica) e 10 conselheiros vitalcios nomeados pelo Chefe do Estado. sobretudo nos perodos de instabilidade governativa, quando o Chefe do Estado como rgo mais estvel tem de desempenhar papel predominante na manuteno da continuidade poltica e na resoluo das crises, que carece de ser assistido por um Conselho colocado fora e acima dos partidos e dos governos. Cabe ao Conselho de Estado: decidir sobre a idoneidade dos candidatos Presidncia da Repblica; aconselhar o Chefe do Estado quando este exera as suas atribuies relativas Assembleia Nacional; pronunciar-se, sempre que o Presidente da Repblica o convoque para o ouvir, sobre os problemas do governo; reconhecer a impossibilidade fsica permanente do Presidente da Repblica para o exerccio das suas funes; entre outras funes.

A Constituio inclui, tambm, no art. 71. os tribunais entre os rgos de soberania da Nao para, no art. 116., lhes conceder a funo judicial: podemos afirmar que a independncia de que os tribunais dispem e a sua aptido para fazer executar pela coaco os julgamentos que pronunciam que atribui a este rgo o poder judicial. O poder poltico tornar-se-ia ineficaz se tivesse por base unicamente a norma jurdica abstracta. Assim, o tribunal surge como um rgo de soberania, a quem compete a aplicao das normas aos casos concretos, decidindo litgios e conflitos de interesses, contribuindo simultaneamente para a segurana jurdica e certeza na realizao do direito. Resulta da letra constitucional que os tribunais so independentes (o que se traduz no direito de exercer as funes de julgar sem sujeio s ordens de outros juizes ou tribunais ou de quaisquer autoridades, salvo nos casos expressamente consignados na lei) e imparciais (que consiste na indiferena do tribunal relativamente aos interesses em questo).

Tambm no art. 8. (n. 8. a 13.), a Constituio prev certos pressupostos (como o direito de no ser privado da liberdade pessoal nem preso sem culpa formada, ou de no ser sentenciado criminalmente seno em virtude de lei anterior que declare punveis o acto ou omisso) que surgem como garantias do exerccio da funo judicial, destinados a assegurar a realizao da justia pelos tribunais com respeito dos interesses da Sociedade e dos direitos individuais.

Outro rgo de soberania considerado pela Constituio de 1933 a ASSEMBLEIA NACIONAL, composta, segundo o art. 85. de noventa deputados eleitos por sufrgio directo dos cidados eleitores, durando o seu mandato 4 anos.

Em relao s atribuies da Assembleia Nacional, enumeradas no art. 91. da respectiva Constituio, cabe a distino entre as atribuies legislativas e no legislativas. No que respeita s primeiras da competncia deste rgo: fazer leis, interpret-las, suspend-las e revog-las (art. 91., n. 1.); conferir ao Governo autorizaes legislativas (art. 91., n. 13.) para que este legisle sobre matria que pertena s atribuies da Assembleia Nacional; ratificar os decretos-lei expedidos pelo Governo durante o perodo de funcionamento efectivo da Assembleia Nacional (art. 109., n. 3.). Contudo, a Assembleia no s um agente legislativo, mas sobretudo um rgo de fiscalizao poltica e administrativa, apresentando por isso atribuies no legislativas: vigiar pelo cumprimento da Constituio (art. 91., n. 2.). A Assembleia pode transformar-se em rgo constituinte e ento tem idoneidade para fazer leis constitucionais, interpret-las, suspend-las e revog-las. De igual modo, compete Assembleia apreciar a inconstitucionalidade (material ou formal) das leis, sendo o rgo exclusivo que se ocupa da inconstitucionalidade formal de diplomas promulgados pelo Presidente da Repblica; vigiar pelo cumprimento das leis e apreciar os actos do Governo e da Administrao (art. 91., n. 2.); autorizar a cobrana das receitas do Estado e o pagamento das despesas pblicas da gerncia futura, lei esta vulgarmente designada por lei de meios e que condio para o Governo poder desenvolver a actividade prpria da administrao financeira; tomar as contas pblicas por cada ano econmico (art. 91., n. 3.). De facto, no fim de cada gerncia, apura-se qual a cobrana efectiva das receitas e quais as despesas realizadas e assim se elabora a conta geral do Estado do ano transacto, sujeita a apreciao poltica da Assembleia Nacional; autorizar o Governo a realizar emprstimos e outras operaes de crdito; autorizar o Chefe do Estado a fazer a guerra e a paz; admitir ao Chefe do Estado ausentar-se para pas estrangeiro; aprovar para ratificao pelo Chefe do Estado os tratados e as convenes internacionais que este lhe submeter por intermdio do Governo; declarar o estado de stio com suspenso total ou parcial das garantias constitucionais; definir os limites dos territrios da Nao; conceder amnistias; tomar conhecimento das mensagens do Chefe do Estado; deliberar proceder reviso constitucional em cada decnio, ou antecip-la de cinco anos.

Como rgo auxiliar da Assembleia Nacional, a Constituio criou a Cmara Corporativa com competncia para: dar parecer sobre todas as propostas e projectos de lei e sobre todas as convenes e tratados internacionais que forem presentes Assembleia Nacional, antes de comear nesta a discusso (art. 103.); dar parecer sobre projectos de diplomas a publicar pelo Governo ou sobre propostas de lei a apresentar por este Assembleia Nacional, quando consultada pelo Governo (art. 105.); sugerir ao Governo as providncias que julgue convenientes ou necessrias (art. 105. n. 2.). Esta Cmara composta por representantes das autarquias locais e dos interesses sociais, uma vez que s atravs da representao dos elementos estruturais da Nao, em que os indivduos se valorizavam socialmente, podia ser obtida a expresso genuna do interesse geral e a imagem fiel da sociedade poltica.

No entanto, pelo que a seguir direi poder-se- verificar que o rgo com preponderncia na Constituio de 1933 o GOVERNO, representante do poder executivo e composto pelo Presidente do Conselho e pelos Ministros, tendo o primeiro uma posio destacada na Governo, podendo ser ele o verdadeiro detentor do poder. De acordo com o discurso de Antnio de Oliveira Salazar sobre os Princpios fundamentais da Revoluo poltica: No h Estado forte onde o Poder Executivo o no , e o enfraquecimento deste a caracterstica geral dos regimes polticos dominados pelo liberalismo individualista ou socialista, pelo esprito partidrio e pelos excessos e desordens do parlamentarismo.

Efectivamente, a Constituio do Imprio alemo de 1871 e a sua execuo pelo Chanceler Bismarck serviu de base aos autores do projecto constitucional de 1933, instituindo um sistema de Chancelaria em que sob o Primeiro Ministro recai o exerccio das funes governamentais delegadas pelo Chefe do Estado. Ao Presidente do Conselho, nomeado livremente pelo Presidente da Repblica e s perante ele responsvel pela poltica geral do Governo, cabe: propor ao Presidente da Repblica a nomeao e exonerao dos Ministros e Subsecretrios de Estado que ficam perante ele, Presidente do Conselho, politicamente responsveis; coordenar e dirigir a actividade de todos os Ministros; presidir normalmente aos Conselhos de Ministros e a todos os conselhos interministeriais restritos; referendar todos os actos do Presidente da Repblica, sob pena de inexistncia destes; estabelecer as relaes do Governo com a Assembleia Nacional e a Cmara Corporativa; o nico membro do Governo que pode dirigir-se oralmente Assembleia Nacional, para se ocupar de assuntos respeitantes aos altos interesses nacionais; convocar o Conselho de Estado para reconhecer a impossibilidade fsica permanente do Presidente da Repblica. Compete ao Governo fazer decretos-lei e, em caso de urgncia aprovar as convenes e tratados internacionais; elaborar os decretos, regulamentos e instrues para a boa execuo das leis; exercer a iniciativa legislativa, apresentando propostas de lei Assembleia Nacional.

Pelo que at aqui foi exposto, conclumos que a Constituio de 1933 no parlamentar e que, por isso, repele a separao de poderes liberal. Recorde-se mesmo as palavras de Salazar: O princpio salutar da diviso, harmonia e independncia dos poderes est praticamente desvirtuado pelos costumes parlamentares e at por normas insertas nas constituies relativas eleio presidencial e nomeao e demisso dos ministros. Estas normas vm sujeitando, de facto, o Poder Executivo ao Legislativo, exercido por maiorias variveis e ocasionais merc tambm de votaes de centros partidrios estranhos aos Poderes Pblicos. uma necessidade fundamental restituir esse princpio a alguma coisa de real e efectivo, e, bem observados os acontecimentos polticos da Europa nos ltimos anos, pode afirmar-se que, tendo-se tornado inevitveis pelas desordens daquelas engrenagens, tudo a gira volta da preocupao dominante de achar o sistema que d ao Poder Executivo independncia, estabilidade, prestgio e fora ().

Assim, a Constituio de 1933 engendra um sistema de governo traduzido na preponderncia do poder executivo sob o legislativo, e que se compreende: pela alterao que sofre a Assembleia Nacional, que v diminuir o nmero de deputados e o tempo da sesso legislativa; fica susceptvel de dissoluo a todo o tempo pelo Presidente da Repblica, requerendo tal acto apenas a consulta do Conselho de Estado; inexistncia de responsabilidade do Governo perante a Assembleia Nacional; ausncia dos Ministros nas reunies deste rgo; a conservao do Presidente da Repblica e do Governo no Poder no depende de votaes na Assembleia; o rgo em questo v igualmente restringir-se o seu poder legislativo passando a fazer apenas leis de bases. Apesar de existirem leis sobre as quais apenas a Assembleia pode fazer leis (quanto ao territrio nacional, organizao da defesa nacional, criao de bancos e institutos de emisso e organizao dos tribunais, entre outras) excluindo-se assim a faculdade legislativa do Governo por decretos-lei, o certo que sob a Constituio de 1933, a actividade legislativa daquele rgo tornou-se escassa em detrimento deste. O Governo tornou-se um rgo legislativo normal, que elabora decretos-lei em caso de autorizao legislativa e de urgncia e necessidade pblica, e a Assembleia um rgo legislativo excepcional, que conhece a concorrncia do Governo e a existncia do veto presidencial sob os seus diplomas.

No entanto, mesmo no que concerne ao Poder Executivo verificavam-se desigualdades visto que, na prtica, Salazar conseguiu desviar para si alguns dos poderes que a Constituio reservava ao Presidente da Repblica. Na realidade, a exigncia de referenda por parte do Governo para todos os actos do Presidente da Repblica, sob pena de inexistncia, contribuiu para o presidencialismo do primeiro-ministro no sistema poltico portugus de 1933.

Da anlise feita conclumos ento que a Constituio de 1933 instituiu um sistema representativo simples (visto que a existncia de quatro rgos de soberania fica oculta pela concentrao de poderes no Presidente da Repblica) e um sistema de chanceler (uma vez que, por um lado, o Governo que exerce a funo governativa atribuda ao Chefe do Estado e, por outro, os actos do Presidente da Repblica esto sujeitos a referenda do Presidente do Conselho de Ministro).

No mesmo sentido, segundo Carla Vainstein A Constituio de 1933 era apenas nominal, ou seja, o texto no era mais que um nome, uma referncia, que em nada alterava a supremacia do Governo. De acordo com o professor Jorge Miranda, em certa medida a constituio de 1933 poder-se- comparar ao direito romano porque tambm ele no estava em vigor.

A. Oliveira Salazar, Princpios fundamentais da Revoluo poltica (30 de Julho de 1930), in Discursos, vol. I, Coimbra Editora, 1961, pgs. 70 a 84