indústria da mineração nº 28

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BNDES é favorável ao uso do direito minerário como garantia real em financiamentos EXPOSIBRAM 2009 e 13º Congresso Brasileiro de Mineração consagram a sustentabilidade e a recuperação dos negócios da mineração 43.000 participantes lotaram os corredores da feira e os auditórios do Congresso. BNDES estima que em 2012 mineração atingirá o mesmo nível de negócios de 2008. IBRAM protesta contra maior taxação do setor mineral perante autoridades federais e estaduais Outubro de 2009 Ano IV - nº 28 Mineração indústria da

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BNDES é favorável ao uso do direito minerário como garantia real em financiamentos

EXPOSIBRAM 2009 e 13º Congresso Brasileiro de Mineração consagram a sustentabilidadee a recuperação dos negócios da mineração43.000 participantes lotaram os corredores da feira e os auditórios do Congresso.

BNDES estima que em 2012 mineração atingirá o mesmo nível de negócios de 2008.

IBRAM protesta contra maior taxação

do setor mineral perante autoridades federais e estaduais

Outubro de 2009Ano IV - nº 28Mineração

i n d ú s t r i a d a

EXPEDIENTE Indústria da Mineração - Informativo do Instituto Brasileiro de Mineração

DIRETORIA EXECUTIVA: Presidente: Paulo Camillo Vargas Penna / Diretor de Assuntos Minerários: Marcelo Ribeiro Tunes / Diretor de Assuntos Ambientais: Rinaldo César MancinCONSELHO DIRETOR: Presidente: José Tadeu de Moraes / Vice-Presidente: Luiz Eulálio Moraes Terra

Produção: Profissionais do Texto – www.ptexto.com.br / Jorn. Resp.: Sérgio Cross (MTB3978)Textos: Carolina Cascão

Sede: SHIS QL 12 Conjunto 0 (zero) Casa 04 – Lago Sul – Brasília/DF – CEP 71630-205Fone: (61) 3364.7272 / Fax: (61) 3364.7200 – E-mail: [email protected] – Portal: www.ibram.org.br

IBRAM Amazônia: Av Gov. José Malcher, 815 s/ 313/14 – Ed. Palladium Center – CEP: 66055-260 – Belém/PAFone: (91) 3230.4066/55 – E-mail: [email protected]

IBRAM - MG: Rua Alagoas, 1270, 10º andar, sala 1001, Ed. São Miguel, Belo Horizonte/MG – CEP 30.130-160 Fone: (31) 3223.6751 – E-mail: [email protected]

Sugestões? Basta enviar um e-mail para [email protected]

EDITORIAL

A EXPOSIBRAM 2009 e o 13º Con-gresso Brasileiro de Mineração consagra-ram a indústria da mineração neste perío-do em que se completou um ano da crise financeira internacional. Em razão de a edição anterior ter acontecido em 2007, em pleno boom do setor, as expectativas iniciais eram que a edição 2009 poderia ser até acanhada, justamente pelos abalos provocados na economia mundial a partir do 2º semestre de 2008. Não foi o que se registrou. Pelo contrário: a EXPOSIBRAM, que não tem a pretensão de ser uma feira para fechamento de negócios imediatos, deixou os expositores satisfeitos com novos contratos milionários firmados ali mesmo, no Expominas, em Belo Horizon-te (MG). Teve até quem se sentisse na edi-ção de 2007, em que todas as máquinas expostas já haviam sido vendidas antes mesmo de começar o evento...

Destaque também para o 13º Con-gresso, que reuniu a nata de especialistas brasileiros e estrangeiros para traçar o panorama da mineração nacional e internacional nas próximas décadas no

cenário pós-crise. Foi uma troca de experi-ências muito rica entre palestrantes e plateia, especialmente na área da sustentabilidade. Um excelente exemplo foi o talk show con-duzido pelo renomado jornalista William Waack com ícones do setor mineral: João Bosco Silva, Diretor-Superintendente da Vo-torantim Energia e Votorantim Metais, Eleazar de Carvalho Filho, Chairman da BHP Billiton Brasil e o experiente Juvenil Félix, Presidente da IMS Engenharia Mineral, que representou as pequenas mineradoras e teve oportunida-de de falar de igual para igual com os repre-sentantes das gigantes da mineração.

O contexto político foi pontuado pelo Presidente do IBRAM, Paulo Camillo Vargas Penna, na abertura de ambos os eventos, em discurso considerado histórico por muitos

– dezenas de participantes solicitaram cópias do discurso logo após sua leitura – , em razão de ter reafirmado o posi-cionamento da indústria da mineração brasileira, absolutamente contrária às no-vas tentativas de elevação dos encargos e da carga tributária do setor.

Em termos de perspectiva, pode-se afirmar que as notícias veiculadas nos estandes da feira e nos auditórios do Congresso de Mineração abrem excelen-tes oportunidades para o setor mineral brasileiro. Somente o BNDES forneceu três importantes boas novas.

O banco projeta que o mundo reto-mará os níveis de consumo de minérios registrados em 2008 em pouco tempo, entre 2011 e 2012. Até lá prevalecerá re-equilíbrio da oferta e da demanda, com flutuação dos preços. O BNDES também pretende financiar R$ 4,4 bilhões em projetos de mineração em 2009, um aumento de 6%.

E por fim, a notícia que os minerado-res mais aguardavam, que o banco apoia uma antiga bandeira do IBRAM: usar o direito minerário como garantia real nos financiamentos – uma medida que, se adotada antes, evitaria que muitas empresas do setor quebrassem antes e durante a crise financeira.

Boas perspectivas

para a mineração

Ministro Edison Lobão inaugura a EXPOSIBRAM 2009

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A 13ª edição do Congresso Brasileiro de Mineração e a EXPOSI-BRAM 2009 superaram as expectativas. Mais de 43 mil participantes consolidaram o sucesso de ambos os eventos, que corria o risco de ser inibido pelos efeitos da crise internacional. O setor foi um dos mais afetados pela crise em todo o planeta, empresas perderam valor, fo-ram incorporadas por outras, projetos foram suspensos, investimentos postergados etc. Mas a mineração brasileira acena com investimentos elevados de US$ 47 bilhões nestes próximos cinco anos – é o setor que anuncia os mais vultosos investimentos no Brasil no período – e promete estimular negócios em várias cadeias produtivas, na indústria, no varejo e nos serviços.

O primeiro destaque da edição 2009 foi justamente a abertura, prestigiada pelo Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, pelo Vice-Governador de Minas Gerais, Antonio Augusto Anastasia, entre tantas autoridades federais, estaduais e municipais brasileiras e estrangeiras, além de representantes do setor produtivo. O fato marcante foi o dis-curso apresentado pela Direção do IBRAM e lido por seu Presidente, cujas mensagens reverberam até hoje a defesa efusiva de mais apoio à indústria da mineração e, no caminho inverso, de negação às tentativas veiculadas pela imprensa de alteração na legislação que rege o setor, bem como de elevação de sua carga tributária.

O talk show conduzido pelo experiente jornalista William Waa-ck também foi um dos pontos altos do primeiro dia. A plateia teve a oportunidade única de ouvir opiniões sobre diversos temas por parte de líderes da mineração mundial, que são João Bosco Silva, Diretor-Superintendente da Votorantim Energia e Votorantim Metais e Eleazar de Carvalho Filho, Chairman da BHP Billiton Brasil, que contaram com a excelente participação do experiente Juvenil Félix, Presidente da IMS Engenharia Mineral, que representou as pequenas mineradoras no debate.

A EXPOSIBRAM 2009 marcou o horizonte positivo para muitos empresários. Milhões de reais em novos negócios, compra de equi-pamentos etc. eram acertados nos estandes todos os dias em meio ao pavilhão lotado. As palestras técnicas e debates de alto nível assegu-raram público concorrido ao 13º Congresso Brasileiro de Mineração. Entre tantas apresentações de qualidade, o IBRAM destaca a de Paulo Sergio Moreira da Fonseca, Chefe do Departamento de Indústria de Base na Área de Insumos Básicos do BNDES – Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social. Ele afirmou que o banco é favorável uso do direito minerário como garantia real em financiamentos – uma bandeira antiga do setor mineral que o IBRAM tem defendido junto às autoridades brasileiras.

Veja nas páginas seguintes a cobertura especial dos eventos que fizeram de Setembro, o Mês da Mineração no Brasil.

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As várias contri-buições da indústria da mineração para o desenvolvimento do País, tanto no passado quanto no presente e no futuro, justificaram a defesa enfática do setor feita pelo Presi-dente do IBRAM, Paulo Camillo Vargas Penna, ao discursar perante a audiência que lotou as dependências do Expo-minas, em Belo Hori-zonte, para a abertura da EXPOSIBRAM 2009 e do 13º Congresso Brasileiro de Minera-

ção. Era o momento de o setor erguer a voz em tom mais grave para chamar as autoridades e a sociedade a refletirem sobre as tentativas de elevação da carga tributária da mineração – jus-tamente em um momento em que a atividade recupera espaço no mercado global –, bem como de alteração das regras legais para esta indústria, sem que a mesma seja, ao menos, ouvida. A seguir, a íntegra do discurso, conside-rado histórico para o setor, que corre o risco de encontrar ainda mais dificuldades para manter seu alto nível de investimentos no País.

Pronunciamento do Diretor-Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM, Paulo Camillo Vargas Penna, na cerimônia de abertura do 13º Congresso Brasileiro de Mineração e EXPOSIBRAM 2009, Belo Horizonte-MG, 21 de setembro de 2009.

I – SAUDAÇÕES DE PRAXE

II – TEXTO

Há mais de duas décadas e meia, a cada dois anos, o Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM organiza e realiza este conclave, ora na sua décima-terceira edição e que, juntamente com a EXPOSIBRAM, conquistaram lugar de destaque nos calendários dos maiores e mais importantes eventos da Indústria da Mineração, tanto no País quanto em âmbito internacional.

Ao longo desse período, o mundo vivenciou grandes mudanças no seu contexto sócio, políti-co e econômico, que reverberaram fortemente

Discurso histórico em prol da mineração abre eventos em Minas Gerais

na produção e no comércio dos bens de base mineral. Talvez o exemplo mais marcante se en-contra no fim da Guerra Fria que, praticamente, extinguiu o conceito de minerais estratégicos e ampliou o de “commodities minerais”, o que, como conseqüência e em escala crescente, au-mentou os investimentos na pesquisa, na lavra e no beneficiamento de minerais, em resposta a uma demanda também crescente.

Neste ano, ainda se vive em todo o globo, após um ciclo de grande prosperidade, um ce-nário recessivo que vem afetando diretamente a Mineração, base que é de vários outros seg-mentos produtivos.

Todavia, nestes dois magnos eventos que hoje são inaugurados, poderá se constatar que mesmo com as profundas modificações na conjuntura mundial, essa Indústria mantém, no Brasil, o papel de importante contribuidor na geração de emprego e renda, no saldo de balança comercial e no desenvolvimento do País. Isto, em que pese a realidade de, em contraste com outros setores produtivos, não ter ela merecido da parte do Governo qualquer das chamadas medidas anti-cíclicas, embora a ele as tenha pleiteado.

Daí merecer destaque o fato de que, apesar da desaceleração – e mesmo, em alguns casos do cancelamento – investimentos em novos empreendimentos ou na ampliação de outros já existentes, conforme recente levantamento do IBRAM, têm previsões que totalizam, no período de 2009 a 2013, no Brasil, o expressivo montante de US$ 47 bilhões.

De outra parte, foi também nestes últimos vinte e cinco anos que, nasceu e com a RIO-92, se consolidou em todo o mundo, o conceito de desenvolvimento sustentável. No Brasil, a Indústria da Mineração não só adotou, mas tem com a sustentabilidade um dos seus maiores compromissos. Que não se limitam só aos as-pectos ambientais, mas, principalmente, e cada vez mais, abrangem aqueles relacionados às responsabilidades sociais decorrentes de suas atividades que, reconhecidas como de utilida-de pública, são sempre exercidas no interesse nacional. Tais responsabilidades e compromis-sos, mais do que obrigações, se constituíram em reais conquistas, das quais a mineração brasileira não deverá abrir mão, mesmo com

as restrições e dificuldades impostas por uma conjuntura desfavorável.

Por isso, é de se assinalar:que para a angustiante questão de empre-• endimentos, em especial os de mineração, em áreas que possam apresentar cavidades naturais subterrâneas (cavernas), chegou-se, recentemente, a uma solução graças a uma plataforma de consenso, construída com argumentação técnica e despida de emo-cionalismo e também à dedicação de profis-sionais, de governo, de setores produtivos e da sociedade civil, que tiveram todos, como norte, atender ao interesse nacional;que, antes disso, igualmente via mobilização • que envolveu a quase totalidade do setor produtivo brasileiro e os entes governamen-tais a este relacionado, obteve-se solução para o balizamento de limites e de valores da compensação ambiental;que desafios presentes, como o do fecha-• mento de mina – um dos principais temas deste Congresso – têm sua superação já equacionada, mormente à medida que se amplia a conscientização de que são questões a serem tratadas e incorporadas desde as fases iniciais dos empreendimentos minerários;que sendo as mudanças climáticas um dos • maiores desafios do nosso tempo, a Mine-ração brasileira está se mobilizando e se preparando para dar sua contribuição aos esforços que o País enceta quanto à sua par-ticipação em uma nova agenda econômica, caracterizada pelo baixo carbono, a qual o Brasil tem, potencialmente, condições de liderar. Também neste Congresso será ele um dos temas principais.

Estes, pois, são alguns dos componentes de maior significação do pano de fundo que emol-durará os vários assuntos a serem abordados nos quatro dias desse grande encontro, cujo tema maior, neste 13ª Edição, é A MINERAÇÃO E O NOVO CENÁRIO SOCIOECONÔMICO.

Mais uma vez o IBRAM busca divulgar para o País e para toda a sua sociedade e com esta, em um processo contínuo de aprimoramento do estado da arte, esclarecer, analisar e estabe-lecer as melhores práticas que, cada vez mais, propiciem a integração das atividades da Mi-

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neração ao cotidiano desta mesma sociedade, detentora de um excepcional patrimônio que são os recursos minerais brasileiros.

Por fim, algumas palavras sobre esse patri-mônio. É também neste mesmo ano de 2009 que se comemora o que pode ser considerado como o maior acontecimento ocorrido ao lon-go da história, já hoje com alguns séculos, da exploração e do aproveitamento dos recursos minerais no Brasil. Trata-se da chamada “sepa-ração da propriedade do solo da do subsolo” instituída, pela Constituição de 1934, com a de-terminação da obrigatoriedade de autorização ou concessão federal, “na forma da lei”, para a exploração e o aproveitamento industrial “das minas e das jazidas minerais”.

Desta forma, criou-se um sistema em que os recursos minerais integram a dominialidade pública, mas são transferidos à dominialidade privada, uma vez legalmente extraídos do solo ou do subsolo.

Vigendo há setenta e cinco anos, este é um modelo de sucesso, pois foi com ele que o Brasil conseguiu conquistar e está mantendo a posição de destaque no “ranking” dos países de grande produção mineral.

Para disciplinar tal transferência de domi-nialidade, regulando os direitos, deveres e com-petências entre os agentes públicos e privados que dele participam, necessário se fez diploma legal específico, o qual, também em 1934, foi promulgado, com a designação de Código de Minas substituído, em 1940, por outro. A este, por sua vez, em 1967, se deu nova redação e se passou a conhecer como Código de Mineração. Com algumas alterações feitas em 1996, sempre seguiu - como o fizeram seus dois antecessores - o modelo já referido que, nunca é demais se repetir, é de sucesso.

Mais recentemente, e utilizando do jargão modernoso “marcos regulatórios”, anuncia-se, no Governo, a todo instante, que modificações serão feitas nesse que é o principal diploma legal do setor mineral no País, com o alegado objetivo de modernizá-lo e com isto, modificar e modernizar o próprio modelo.

À medida que isto vem se dando em um processo que se arrasta há mais de dois anos, onde faltam transparência e participação, decla-rações de representantes do Governo criaram um clima de preocupação e de insegurança na Indústria de Mineração.

Fala-se em “mudanças na outorga de título minerário garantindo melhor acompanhamento, fiscalização e gestão pelo órgão gestor” e, na

esteira disto, insinua-se o fim do direito de prio-ridade, o encurtamento dos prazos da pesquisa mineral e a fixação dos prazos da lavra.

É anunciada a “reorganização institucional”, com a “criação do Conselho Nacional de Política Mineral e de Agência reguladora”, mas nenhuma palavra sobre uma Política Nacional de Recursos Minerais (ou de Mineração). É de se indagar o que irá fazer tal Conselho se não existe “uma política mineral, legitimamente formulada com a participação de todas as partes interessadas e aprovada pelo Congresso Nacional”, antiga rei-vindicação do setor mineral brasileiro que, aqui mesmo, na abertura do 12º Congresso Brasileiro de Mineração, em 2007, o IBRAM teve a opor-tunidade de destacar. E que agora mais uma vez o faz, assinalando que o almejado é uma política de Estado, e não uma de Governo sujeita a flu-tuações, tendências e maior ou menor interesse de uma Administração temporária.

Essas mesmas indagações se aplicam à Agência que se propõe criar, pois agência re-guladora- e basta ver o que acontece com as existentes – regula aquilo estabelecido na sua respectiva política setorial.

Cabe aqui uma observação adicional, tirada dos ensinamentos das Escrituras com as quais comungam os cristãos: não se coloca vinho novo em frascos velhos, pois se corre o risco de se romperem os frascos e se perder o vinho. A mera mudança de nome, de DNPM para Agência, nada resolverá se não se tiver a garantia do seu adequado aparelhamento em recursos huma-nos, financeiros, instalações e equipamentos, eliminando a situação de precariedade que hoje se constata. Além disto, essa criação não pode ser meramente uma ação de marketing.

O que é mais grave, fala-se em “fortalecer a ação do Estado no processo regulatório” com o objetivo de se ter “soberania sobre os recursos minerais”, como se esta já não existisse, sendo, inclusive, garantida, de há muito, pelas Cartas Magnas do Brasil.

Daí, já haver manifestações favoráveis a se proceder, no bojo dessas mudanças, a estati-zação do setor, instituindo-se a MINEROBRÁS que, nem no auge do regime de exceção, há quarenta anos atrás, se conseguiu criar.

A tudo isto se soma, com freqüência cada vez mais intensa, as manifestações e proposições de aumento nos encargos – taxas, compensa-ções, impostos – que pesadamente oneram a Mineração no Brasil. Fala-se em participação es-pecial e em majoração nas alíquotas e mudança na base de cálculo da CFEM, utilizando, como justificativa, de forma emocional e descabida,

comparações com a indústria do petróleo e até mesmo com a pessoa física!

Anuncia-se, mais uma vez, o prossegui-mento no Congresso Nacional, da proposta de Reforma Tributária, cujo texto inclui substanciais aumentos nessa Compensação. No entanto, embora sequiosos de, por essa via, aumentarem seus orçamentos, nenhum dos Estados ou Muni-cípios ousou, até agora, propor nessa Reforma dispositivos que ampliem suas participações no total das arrecadações tributárias, onde a União tem, desde 1988, “a parte do leão”.

Senhoras e Senhores, a Indústria da Mi-neração brasileira é, destaque-se mais uma vez, responsável por contribuições de vulto ao desenvolvimento do País, seja na balança de pagamentos, seja na geração de empregos, seja, ainda, por meio de ações e atividades onde, pio-neiramente, substitui a presença do Estado.

No entanto, apesar de tudo isso, permanece sem merecer por parte dos governos a atenção que merece. Seus pleitos específicos, raramente atendidos, recebem como resposta afirmações de que paga muito pouco seus respectivos impostos, taxas e contribuições e que devem ser aumentados.

Estamos todos de acordo quanto à neces-sidade de aprimoramento na legislação e na estrutura governamental da gestão dos recursos minerais brasileiros. Os diversos segmentos da Indústria da Mineração que aqui se representam concordam, também, que já é mais do que crí-tica a situação de desaparelhamento do DNPM, o que não lhe tem permitido, no que tange à legislação vigente, sua aplicação e fiscalização de forma diligente que, se ocorresse, já seria um grande avanço, acabando, por exemplo, com o chamado “sentar em cima da jazida”.

Mas, com base nos princípios do desenvolvi-mento sustentável, estes mesmos representantes não abrem mão de se ter uma gestão comparti-lhada desses mesmos recursos e não concordam com se ampliar ou se introduzir, via novos ins-trumentos, um sistema de comando e controle, baseado em cânones obsoletos e retrógados.

Em outras palavras, a Mineração brasileira está pronta e unida a se somar no alteamento de uma bandeira que preconize aprimoramento dos instrumentos e componentes do modelo aqui empregado na exploração e no aprovei-tamento dos recursos minerais do País, mas igualmente unida e pronta a repelir qualquer re-forma que fira o princípio constitucional da livre iniciativa e busque inserir o Estado diretamente no exercício desta atividade econômica.

Muito obrigado!

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IBRAM defende criação de Política Nacional de Recursos Minerais

O 13º Congresso Brasileiro de Mineração (CBM) e a Exposição Internacional de Mineração – EXPOSIBRAM 2009 expressaram concretamente que, mesmo com as profundas modificações na conjuntura mundial, a indústria mineral mantém o papel de importante contribuidor na geração de emprego e renda, no saldo de balança comercial e no desenvolvimento do País.

Para manter este desempenho, o IBRAM clama por maior espaço para o setor parti-cipar dos debates nacionais relacionados ao presente e ao futuro da atividade, como é o caso da proposta governamental de criação do Conselho Nacional de Política Mineral e de uma agência reguladora. Em seu discurso na abertura dos eventos, o Presidente do IBRAM, Paulo Camillo Penna, afirmou que é preciso prioritariamente discutir uma Política Nacional de Recursos Minerais (ou de Mine-ração). “É de se indagar o que irá fazer tal Conselho se não existe uma política mineral, legitimamente formulada com a participação de todas as partes interessadas e aprovada pelo Congresso Nacional”.

O Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, também discursou e, sobre a re-formulação do Código de Mineração, ele

reafirmou que o setor vivencia momento de retomada econômica. Lobão acrescentou que o Governo está em processo de finali-zação dos estudos sobre o novo Código de Mineração e frisou que nada será feito sem antes ouvir o setor produtivo.

“Esta discussão será realizada com a presença de todos os setores envolvidos, por meio de audiências públicas, especialmente em Minas Gerais. O novo marco regulatório deverá substituir legalmente um outro já obsoleto, que privilegia aventureiros, em detrimento das empresas. Não queremos acabar com a livre iniciativa”, pontuou o ministro. Apesar disso, o IBRAM sustenta que o atual Código de Mineração, se fosse devidamente aplicado pelas autoridades responsáveis, resolveria essas preocupações expressas pelo ministro.

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“Espero que temas anunciados na abertura como a sustentabilidade na indústria, a reorganização da mineração no Brasil e a discussão das experiências de relacionamento da indústria com a comunidade sejam debatidos com destaque.”

Tito Martins, Diretor-Presidente da Vale Inco

“É preciso estar atento às questões importantes como a legislação do setor, as novas tecnologias e outras inovações, com o objetivo de melhor avaliar o mercado, o ambiente econômico e político da mineração. Neste contexto, o IBRAM tem papel fundamental de representação do setor.”

Miguel Antonio Cedraz Nery, Diretor-Geral do DNPM

“A EXPOSIBRAM e o Congresso Brasileiro de Mineração possuem duas vertentes: a primeira delas é mostrar ao público de Minas Gerais, do Brasil e do mundo a evolução do setor da mineração. A segunda é discutir grandes temas – como a reforma do código de mineração e a legislação de fechamento de minas –, aliando todas as pessoas envolvidas na cadeia da indústria mineral e os órgãos públicos competentes.”

José Carlos Gomes, Diretor do Sistema Norte da Vale

Sustentabilidade em pauta

A preocupação com a sustentabilidade foi apontada como um dos temas fundamentais na pauta de discussão da 13ª edição do CBM. “A mineração brasileira se mobiliza para contribuir com uma nova agenda econômica, caracterizada pelo baixo carbono, a qual o Brasil tem, potencialmente, condições de liderar”, reforçou o Presidente do Ibram. Para o Vice-Governador, Antonio Augusto Anastasia, não há dúvida que no âmbito do setor mineral, os avanços são visíveis na questão da sustentabilidade.

Durante a cerimônia de abertura, foi exibido documentário sobre a Mineração Icomi, no Amapá, uma empresa desbravado-ra da selva amazônica, que há décadas já demonstrava como a indústria da mineração já agia de forma sustentável. Outro ponto emocionante foi a entrega de placas de homenagens aos familiares de personagens importantes da história da mineração nacional: Do-mingos Fleury da Rocha, Noé Chaves e Octávio Ferreira da Silva.

Paulo Camillo e Edison Lobão percorrem a EXPOSIBRAM 2009; o Ministro é recebido pelos dirigentes da Vale, patrocinadora diamante do evento; os senadores

Eliseu Resende e Eduardo Azeredo participaram da cerimônia de abertura.

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“O momento de realização da EXPOSIBRAM 2009 não poderia ser mais oportuno. Passa-do o período de auge da crise, o valor das commodities começa a voltar ao normal e o Brasil se reafirma no cenário mundial como um grande player do setor de mineração”.

Paulo Minsk, Gestor de Projetos de

Mineração da Magnesita

“O evento não poderia acontecer em um momento melhor: o mundo supera a crise econômica mundial. É preciso ter espaços como estes, com debates sérios em que to-das as partes da cadeia de mineração podem ser ouvidas”.

Eleazar de Carvalho Filho, Chairman da BHP Billiton Brasil

“O evento propõe debates relevantes em um momento de grande discussão. É mais que necessário trocar ideias em um momento pós-crise como este”.

João Bosco Silva, Votorantim Metais

“O evento é importante, pois hoje a socie-dade mineira repudia a mineração, um dos alicerces do Estado. Toda a nossa identidade cultural e econômica veio desta atividade, mas nem todos conseguem reconhecer isto. Nos dias de hoje, mineração, metalurgia e energia não são bem vistas pela sociedade, mas são fundamentais para a economia”.

Paulo Sérgio Machado Ribeiro, Subsecretário de Desenvolvimento

Minero-metalúrgico e Política Energética

“O setor é de grande importância para a economia, mas nem sempre é reconhecido pelo governo. Espero que ao final destes eventos as pessoas passem a entender como a mineração é importante para o País. Outro ponto que me atrai nestes eventos é a troca de experiências. O meu Estado, o Pará, tem muito o que aprender com Minas Gerais.”

Deputado Gabriel Guerreiro (PV/PA)

“O mercado precisa de eventos como a EXPOSIBRAM. É importante que o setor mineral ganhe mais destaque e que pro-fissionais e cidadãos participem destes debates. A mineração é um dos vetores da mudança no Brasil”.

Luiz Carlos Borges Góes, Andrade Gutierrez

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Um dia antes das palestras de Gray e Court, o assunto “China” já havia sido debatido em um talk show comandado pelo jornalista William Waack, com João Bosco Silva, Diretor-Superin-tendente da Votorantim Energia e Votorantim Metais, Eleazar de Carvalho Filho, Chairman da BHP Billiton Brasil e o Juvenil Félix, Presidente da IMS Engenharia Mineral, que representou as pequenas empresas do setor.

Eleazar de Carvalho Filho acredita que vai haver uma mudança na geografia mundial. Segundo ele, os Estados Unidos têm uma ca-pacidade grande de recuperação, mas o motor inicial do crescimento neste momento pós-crise será mesmo os países emergentes, especial-mente a China. João Bosco Silva, partilha da opinião, reforçando que o crescimento econô-mico deve ser puxado pelo país asiático.

Para Juvenil Félix, as empresas minerárias agiram bem no momento de crise, mas a reto-mada vai acontecer a médio e longo prazos. “As empresas foram ágeis, se reestruturaram, paralisaram o mínimo necessário, fizeram demissões estratégicas, mantendo o pessoal indispensável para a retomada dos negócios”, disse, destacando que há uma perspectiva positiva para o setor nos próximos anos.

Mineração sustentável

As questões de sustentabilidade e de meio ambiente não são vistas pelo setor mineral como ameaças. Foi o que disseram os três debatedores no talk show “A mineração e o novo cenário socioeconômico”. Para Eleazar de Carvalho, as empresas incorporaram o conceito de susten-tabilidade à sua prática e não existe nenhuma incompatibilidade. Segundo ele, exigências ambientais estão presentes em todos os países minerais, portanto esta questão não influi na competitividade das empresas instaladas no Brasil. “Todo projeto de mineração nasce dentro do conceito de sustentabilidade”, disse.

“Sustentabilidade é parte do nosso negócio”, reforça João Bosco, argumentando que no Brasil as empresas obedecem a rígidas leis ambientais e que a crise econômica internacional não afe-tou os projetos ambientais das empresas. Juvenil Félix acrescenta que as empresas se adaptaram a trabalhar com o conceito de sustentabilidade

Talk show destaca posições de grandes e pequenas mineradoras

e que a atividade melhora as condições socioe-conômicas, preserva o meio ambiente e convive bem com comunidades tradicionais.

Competitividade

A competitividade das empresas brasi-leiras no mercado internacional também foi assunto do talk show. “Os empresários não influenciam o câmbio nem determinam o preço do minério. A única forma de se am-pliar a competitividade é reduzir os custos de produção”, observou Bosco. Segundo Félix, os investimentos em infraestrutura, a amplia-ção do crédito e a redução da carga tributária são fundamentais para o País.

E essa discussão, segundo os empresários, perpassa o papel do governo. Para Félix, “os investimentos em infraestrutura, a ampliação do crédito, a redução da carga tributária e o incentivo aos pequenos produtores são alguns dos pontos fundamentais, ligados à política nacional, para o aumento da competitividade brasileira”. No entanto, quando indagados por Waack sobre a tendência estatizante do governo, os representantes deixaram claro que o papel do estado não deve ir além de oferecer essas condições para fomentar a competitividade e igualar as regras do jogo para todo o mercado.

Com informações da Eco Amazônia

Paulo Camillo, Juvenil Felix, João Bosco, Eleazar de Carvalho e Willam Waack.

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O vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Presidente do Conselho de Infraestrutura da entidade, José de Freitas Mascarenhas, disse em sua palestra no 13º CBM que o investimento brasileiro em infraestrutura precisa mais do que dobrar – hoje é de 2% do Produto Interno Bruto. Mascarenhas informou que o Governo atual, mesmo com o Programa de Aceleração do Crescimento, investe apenas 2% do PIB, enquanto que países em desenvolvimento, como a China, reservam 7%.

O investimento nos transportes (rodovias, portos etc.) é abaixo do necessário e o setor de energia ainda deixa a desejar especial-mente em momentos de crescimento da de-

manda, o que exerce forte pressão adicional sobre as instalações industriais do País. O dirigente participou da sessão de debates “A Infraestrutura no Brasil e a Expansão da Produção dos Bens Minerais”.

Sobre os portos, Mascarenhas disse que o volume de contêineres mais do que dobrou desde 2001 e a situação é crítica a ponto de haver necessidade de investidores privados passarem a participar dos projetos de moder-nização. A expectativa da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) é que a movimentação de contêineres no Brasil vol-te a dobrar até 2013, o que corresponde a um sério risco de nenhum planejamento for elaborado e posto em prática.

Para CNI, infraestrutura é obstáculo para crescimento do Brasil

O vice-presidente da CNI lembrou ainda que as empresas têm poucas alternativas à ma-lha rodoviária em situação precária e clamou por maior atenção do Poder Público com ur-gência, para que o Brasil consiga se estruturar enquanto o mundo todo ainda tenta recuperar o ritmo dos negócios internacionais.

Indústria de Cimento: transporte é o vilão

Dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) revelam que o Brasil trans-porta 95,2% da produção de cimento por rodovias. Enquanto que países desenvolvidos, como os EUA, despacham apenas 20% deste

recurso mineral por estradas. Para o Presidente da entidade, Sérgio Maçães, é necessário mudar tal realidade. Maçães também par-ticipou do debate com Mascare-nhas, da CNI, com o Presidente da CBIC – Câmara Brasileira da Indústria de Construção, Paulo Safady Simão, e com o Diretor Presidente da Embu S.A., Luiz Eulálio de Moraes Terra.

Segundo Maçães, a indústria de cimento é prejudicada pelas más condições das rodovias bra-sileiras – que deveriam receber manutenção constante. “É preciso dar atenção ao setor cimenteiro que vem expandindo de forma considerável ultimamente”, disse. Uma prova disso são as estatísticas que mostram que esta indústria cresceu 10%, em 2007 e 15% no ano passado. Só as vendas acu-muladas do insumo nos últimos 12 meses (agosto/08 a julho/09) atingiram 50,9 milhões de tone-ladas – um incremento de 4,1% sobre o mesmo período anterior (agosto/07 a julho/08). Atualmen-te, 51,9 milhões de toneladas de cimento são produzidas ao ano. An

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Sérgio Maçães, Presidente do SNIC (à esq) durante Painel “A Infraestrutura no Brasil e a Expansão da Produção dos Bens Minerais”

Indústria da Mineração Ano IV - nº 28, outubro de 200910

Brasil precisa mapear mais seu território para melhorar sua

estratégia no mercado internacional de minérios

Até 2030 o mundo poderá vivenciar três cenários: um de aliança verde, em que o “comércio verde” entre países será eviden-ciado, com a crescente preocupação com as mudanças climáticas; outro de crescimento reequilibrado, com a ascensão na economia mundial de países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia; ou um terceiro, em que as nações deverão acirrar a disputa por recursos naturais, como minérios. A con-clusão é de vários workshops onde é debatida a situação socioeconômica mundial, e foi relatada por Jan Klawitter, Chefe da Divisão de Mineração e Metais do Fórum Econômico Mundial (Davos, Suiça), durante palestra no 13º Congresso Brasileiro de Mineração.

“Cabe a cada população avaliar como en-xerga o seu país diante desses três cenários. O Brasil apareceria em qual deles? Ou em uma mistura deles?”, questionou para a numerosa plateia. Ele defendeu que todos os segmentos promovam ampla discussão a respeito, desde as pequenas comunidades até os governos e grandes corporações.

No cenário mais conturbado, Klawitter disse que o surgimento de focos de naciona-lismo exacerbado poderá resultar em focos de conflito, colonialismo e corrupção de forma ascendente, o que ampliará a tensão política mundial. O acesso aos recursos naturais poderá ser facilitado por meio de acordos bi-laterais, que assegurem benefícios econômicos, sociais e ambientais aos países fornecedores de minérios, completou.

Este conjunto de situações futuras apre-sentado por Klawitter dominará os debates no Fórum Econômico Mundial, a ser realizado nos próximos meses, disse. Isso porque já há sinais evidentes que exigem o diálogo internacional. Um exemplo é o fato de países africanos esta-rem restringindo o acesso aos recursos naturais, por meio de renegociação de contratos ou pela mudança de regras de exploração. É fato também que países como Venezuela, Bolívia e Equador seguem rumos semelhantes.

Klawitter disse que o Brasil precisa ficar atento ao “comércio verde”, que provocará profundas mudanças em vários níveis, tais como o consumo de produtos e serviços, os transportes, a energia e até a taxação, já que deverão ser incentivadas atividades não po-luentes. Isso será motivo, também, de tensão política entre os países.

Segundo Paulo Sergio Moreira da Fonseca, Chefe do Departamento de Indústria de Base na Área de Insumos Básicos do banco, o Bra-sil poderá se destacar no “comércio verde”, especialmente na compensação da emissão de gases de efeito estufa.

Da esquerda para direita: Jan Klawitter, Chefe da Divisão de Mineração e Metais do Fórum Econômico Mundial (Davos, Suiça), Paulo Castellari (Diretor do Centro de

Excelência da Anglo Base Metals), Paulo Sergio Moreira da Fonseca (Chefe do Departamento de Indústria de

Base na Área de Insumos Básicos do BNDES).

Conflitos entre países em disputa por minérios é um dos cenários mundiais

traçados pelo Fórum Econômico Mundial

Para Paulo Camillo Penna, Presidente do IBRAM - Instituto Brasileiro de Mineração, o Brasil precisa acelerar e ampliar investimen-tos em pesquisa geológica para conhecer qual é o seu real potencial mineral, assim como já o fizeram seus principais concor-rentes neste setor. “Apenas 30% do terri-tório está mapeado pelo governo federal”, afirmou. “Uma vez que o Brasil conheça melhor seu potencial mineral, informação valiosíssima, é possível traçar estratégias para o País ser inserido adequadamente no cenário socioeconômico”, acrescentou o dirigente do IBRAM.

Além da investigação geológica em maior escala, o IBRAM defende que o Brasil abdique do monopólio – constitucional – que exerce sobre a mineração de minerais nucleares, como o urânio. “O setor privado já deu provas de que tem melhores condições para assumir a mineração desses minérios especiais. En-quanto isso não ocorre, o País se vê tolhido de participar mais ativamente de um atrativo mercado internacional, que é vital para o uso de energia limpa e a consequente redução das emissões de gases que causam o efeito estufa”, diz Camillo Penna.

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Jan Klawitter, Chefe da Divisão de Mineração e Metais do Fórum Econômico Mundial (Davos, Suiça), disse que

o surgimento de focos de nacionalismo exacerbado poderá resultar em focos de conflito

Indústria da Mineração Ano IV - nº 28, outubro de 2009 11

Desenvolvimento sustentável: resultado de parcerias entre mineração e comunidades.

As empresas de mineração brasileiras e as multinacionais que atuam no País têm investido mais em programas de aproximação das comunidades nas regiões explora-das. Apesar do indicativo positivo apresentado no painel Mineração & sociedade: estratégias para o engajamento dos múltiplos atores, no quarto dia de CBM, a consultora Cecília Balby alertou que ainda há um longo caminho a ser percorrido no sentido de estabelecer parcerias entre mineradoras, comunidades e governos locais para o desenvolvi-mento sustentável.

Um levantamento realizado pela consultora junto a 14 empre-sas de mineração mostrou que a maioria delas ainda se preocupa pouco com o legado que podem deixar para as comunidades após o fechamento das minas. “Mas nos últimos 15 anos, já é visível uma maior preocupação com a melhoria das condições para a população e o gerenciamento de impactos e riscos”, disse.

Cecília analisou a literatura sobre iniciativas de relacionamento com a sociedade, desde A Agenda 21, de 1992, até o Comdev (Community Development), fundo do Banco Mundial e o IFC (Corpora-ção Financeira Internacional) para o desen-volvimento das comunidades associadas às atividades de óleo, gás e mineração. “Quanto mais tempo dedicado às questões socioam-bientais, menos problemas para as empresas. Essas iniciativas têm diminuído os riscos para as empresas e aumentado o rigor e qualidade na prestação de contas”, destacou.

Outra conclusão da análise é que a parti-cipação dos governos nessas questões ainda é incipiente. “Existe um caminho positivo para

Indústria de minérios precisa avançar no diálogo

com comunidades

a criação de uma agenda comum, mas as ins-tituições públicas têm papel fundamental na conquista de melhores resultados”, concluiu Cecília. As empresas Anglo American e An-gloGold Ashanti, representadas no painel por Petrônio Hipólito e Paul Hollesen, respecti-vamente, apresentaram casos bem-sucedidos de atuação junto às comunidades.

“No Congo, que vive sérios problemas pós-conflito, estabelecemos um fórum mensal para ouvir a comunidade e saber quais são seus principais problemas e demandas”, afirmou Hollesen. Segundo ele, o fórum tem servido de ferramenta para a AngloGold mapear ações futuras junto à população da região.

Mineração pode ser

aprendida em escolas O livro “Mineração e Geodiversida-

de do Planeta Terra – Mineração nos planos curriculares nacionais do Ensino Fundamental e Médio” proporciona, numa linguagem simples e didática, conhecimentos técnicos sobre o setor. O objetivo da obra do Geólogo, Professor e Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Claudio Scliar, é apro-ximar a comunidade, principalmente professores do Ensino Fundamental e Médio, da mineração.

“A mineração necessita de textos didáticos para leigos. É importante di-vulgar os temas em linguagem simples e direta, pois a maioria das obras está destinada apenas aos especialistas do setor”, explicou Scliar. “Espero que o livro contribua e informe a importância econômica da atividade minerária no presente e no futuro”, completa.

O lançamento da obra – editada pela Signus Editora - aconteceu no estande do IBRAM, no segundo dia da EXPOSIBRAM 2009. Para adquirir, basta acessar o site www.signuseditora.com.br/loja ou ligar para 11 3814 6899.

Claudio Scliar (MME) autografa seu livro, observado pelo Diretor de Assuntos Minerários do IBRAM, Marcelo Tunes

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“Segurança é o nosso primeiro valor”. Foi assim que o Diretor de Saúde e Segurança do Trabalho da AngloGold Ashanti (África do Sul), John McEndoo, definiu os esforços que têm sido empreendidos na área de segurança pela mineradora nos locais onde mantêm opera-ções. O assunto foi o foco do painel “Gestão Estratégica de Segurança e Saúde Ocupacio-nal como Fator de Competitividade”, apre-sentado no terceiro dia do 13º CBM.

Segundo McEndoo, os resultados posi-tivos de projetos de saúde e segurança no setor de mineração estão atrelados a uma mudança de valores e cultura das empresas e das pessoas pertencentes a essas organiza-ções. “Por termos um amplo apoio dos nos-sos funcionários os resultados demonstram bons resultados. No Brasil, por exemplo, temos uma redução de 70% nas taxas de acidente nos últimos cinco anos”, disse.

Com o projeto intitulado “It is Ok”, a An-gloGold Ashanti alavancou o desenvolvimen-to de uma cultura de segurança. A iniciativa tem como objetivo alertar os funcionários

John McEndoo (AngloGold Ashanti): projetos de saúde e segurança no setor de mineração estão atrelados às mudanças de valores e de cultura das empresas e das pessoas.

Segurança e Saúde Ocupacional são diferenciais competitivos para mineradoras

sobre o papel da segurança na organização e evitar que eles trabalhem em ambientes que apresentam riscos para sua saúde.

Apesar dos dados apontarem uma queda no número de acidentes de trabalho, um estudo realizado pela Organização Interna-cional do Trabalho (OIT) em 2006 aponta o Brasil como o 4º país do mundo em número de mortes por acidente de trabalho.

Trabalho preventivo

Para colaborar com a diminuição do número de acidentes de trabalho no setor de mineração, O IBRAM mantêm desde 2007 o programa MinerAÇÃO.O objetivo do projeto é fazer um trabalho preventivo junto às empresas.

A expectativa do Instituto é que o MinerAÇÃO tenha, até o final de 2009, ferramentas suficientes para pleno sucesso na prevenção de ocorrências que podem prejudicar uma das principais atividades econômicas do País.

Capa do folder do Programa MinerAÇÃO, que recebe adesões das mineradoras preocupadas

em melhorar as condições de trabalho

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Indústria da Mineração Ano IV - nº 28, outubro de 2009 13

Os executivos da área de mineração compartilham as mesmas opiniões quando o assunto diz respeito aos principais entraves encontrados na região de Serra Azul (MG). Segundo eles, os altos custos logísticos, a limitação de espaço das propriedades da re-gião e a capacidade energética restrita são as principais dificuldades para os projetos em desenvolvimento no local.

“As propriedades da região dispõem de pouco espaço para novos projetos, o sistema elétrico que fornece energia precisa ser ampliado e as soluções logísticas que existem não estimulam o empreendedor a investir”, afirmou o Diretor Presidente da Arcelor Mittal Serra Azul, José Francisco Martins Viveiros, durante sua apresentação no painel “Serra do Itatiaiuçu – O Futuro do Minério de Ferro no Quadrilátero Ferrífero?”, realizado no segundo dia do 13º CBM.

Para amenizar as limitações encontradas pelas mineradoras na região, a Diretora Técnica da ECM S.A Projetos Industriais, Maria de Lourdes Álvares da Silva, sugere a implantação de projetos mais simples e que estejam ajustados às características específicas da área.

Ampliação da produção

Apesar das dificuldades, a Arcelor Mittal, que opera na região desde julho de 2008, adian-tou que deve aumentar sua capacidade de produção de minério de ferro. A produção, que, atualmente, em torno de 2 milhões de toneladas, deve passar para 3 milhões em 2010.

“Estamos neste momento aumentando a nossa capacidade em 50%. É evidente que queremos expandir, mas precisamos avançar em alguns aspectos para termos condi-ções de ter nosso projeto de expansão apoiado em bases sólidas e realistas”, disse José Francisco Martins Viveiros.

Logística e disponibilidade energética são entraves para

projetos na região de Serra Azul

Inco trabalha com comunidade

aborígine no Canadá

Ao trabalhar em parceria com a comu-nidade aborígine que vive na região de um de seus empreendimentos, na Baía de Voisey, nordeste do Canadá, a mineradora Inco Newfoundland & Labrador Limited (subsidiária da Vale desde 2006) conseguiu resultados superiores aos dos concorrentes na exploração do níquel. O caso foi apresentado pelo Gerente de Operações, Tom Paddon, no painel Mineração em áreas de uso restrito, no segundo dia do 13º CBN.

“Entendemos que o bom relacionamento é uma commodity e que é necessário haver benefícios para todos os envolvidos no pro-jeto”, afirmou Paddon. Segundo ele, um dos maiores objetivos da empresa durante o pla-nejamento da mina foi maximizar o emprego dos aborígines com segurança e eficiência. Hoje, 98% da força de trabalho da mina são das províncias de Newfoundland e Labrador, sendo que 54% destes foram recrutados das etnias Innu e Innuit.

Os bons resultados com a produção anual de 50 mil toneladas de níquel da empresa são atribuídos, em grande parte, ao investimento em educação e treinamento para os aboríge-nes, realizada em parceria com os governos federal e da província. A aceitação social também foi apontada como fator essencial para o desenvolvimento sustentável por outro participante da mesa, Edson Farias Mello, Co-ordenador de Economia Mineral da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia.

Mello destacou que o setor da mineração tem um passivo histórico de não-sustentabili-dade e de causador de impacto visual. “A ação das mineradoras junto aos órgãos ambientais costuma ser defensiva e o ideal é que fosse pró-ativa”, apontou. O coordenador lembrou, ainda, que 73% das mineradoras brasileiras são de pequeno porte. “É preciso pensar em como levar a essas pequenas empresas a mensagem de sustentabilidade”, afirmou.

Da esquerda para direita: José Francisco Martins (Presidente da Arcelor Mittal), Maria de Lourdes Silva (Diretora Técnica da ECM), Oscar José Tessari (Sócio Diretor da GEOST Consultoria), José

Augusto Hilário de Souza (Gerente de Engenharia de Minas da Coffey Mining).

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Fechamento de mina é uma das maiores preocupações do setor mineral, pois se trata de um processo complexo que envolve pa-râmetros econômicos, sociais e ambientais. Na próximas décadas, diversas minas serão fechadas mundo afora e, pen-sando nisso, o Instituto Brasi-leiro de Mineração (IBRAM) e o Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM) traduziram, pela primeira vez, para a Língua Portuguesa o livro “Planejamento para o Fechamento Integrado de Mina: Kit de Ferramentas”.

“O grau de sucesso no fechamento das minas tem o potencial de moldar o di-álogo global sobre os custos e benefícios da mineração, e determinar o seu futuro”, afirmou o Pre-sidente do IBRAM, Paulo Camillo Penna, durante o lançamento do kit, no último dia 23 de setembro, ao final do painel “Susten-tabilidade na Mineração”, realizado durante a programação do 13º Congresso Brasileiro de Mineração, em Belo Horizonte (MG). Além do Presidente do IBRAM, participaram do painel o Presidente do ICMM, Anthony Hodge, o Diretor de Assuntos Institucionais da Alcoa, Nemércio Nogueira, e o Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Roberto Messias Franco. Na ocasião, Camillo Penna entregou, em primeira mão, um exem-plar do livro ao Ministério do Meio Ambiente, por intermédio do presidente do IBAMA.

Sustentabilidade

“Existe uma pré-disposição negativa da sociedade diante da indústria da mineração, apesar de ela estar na base de todas as ou-tras atividades produtivas humanas, dando condições para a sociedade fazer o que ela quer”, comentou Hodge durante o painel. Segundo ele, foi a partir da década de 1980

e 1990 que a mineração se tornou objeto de debate em toda a sociedade civil, por ser uma atividade significativa e, para os que não a compreendem, devastadora.

Nesse contexto, a indústria minerária começou a pensar como integrar a mineração aos recentes conceitos de susten-tabilidade que já se tornavam uma demanda social em todo o mundo. Esse processo deu origem, em 2001, ao ICMM, instituição a qual o IBRAM é filiado. No entanto, hoje, para Hodge, a principal questão que se coloca acerca da sus-tentabilidade na mineração é de que forma é possível fazer uma distribuição justa não apenas dos lucros, mas tam-

bém dos custos e riscos dos empreendimentos. “Esta é a questão que as empresas estão buscan-do solucionar hoje”, observou Hodge.

“Ser sustentável tem custo, exige estra-tégia, é difícil, mas é possível”, destacou o presidente do IBAMA que, durante a sua apresentação, explicou para os presentes o funcionamento da legislação para o licen-ciamento ambiental de empreendimentos minerais. Um exemplo de ações sustentáveis no setor da mineração foi dado pelo Diretor de Assuntos Institucionais da Alcoa, Nemércio Nogueira, durante o evento.

A Alcoa está instalando atualmente uma nova mina de bauxita em Juruti (PA), na beira do Rio Amazonas. “A Alcoa quer transformar esta mina em um modelo mundial, um para-digma de sustentabilidade, para a mineração do século XXI”, afirmou Nogueira. Para isso, a Alcoa está investindo maciçamente na melhoria da qualidade de vida da cidade, que possui um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Pará e possui 15 mil habitantes. Mas ele ressalta: “nós fazemos porque a sociedade exige, e não porque somos bonzinhos”.

Guia para fechamento de minaé lançado durante 13º Congresso

Brasileiro de Mineração

Estatísticas do evento

NÚMEROS GERAISNº de expositores 383Nº de países 27Nº de estandes 432TOTAL DA METRAGEM 14.000

EXPOSITORES POR PAÍSÁfrica do Sul 7Alemanha 37Argentina 1Austrália 24Áustria 1Brasil 216Canadá 29Chile 11China 2Coréia do Sul 2Dinamarca 1Escócia 1Estados Unidos 18Finlândia 3França 4Holanda 1Índia 2Inglaterra 3Itália 7Japão 1Peru 2Portugal 1Reino Unido 1República Tcheca 1Rússia 1Suécia 4Suíça 2TOTAL 383

ACESSO / VISITANTESAbertura - Congressistas, Expositores e Convidados

4.295

22/09/2009 - Congressistas, Expositores e Visitantes

11.384

23/09/2009 - Congressistas, Expositores e Visitantes

13.116

24/09/2009 - Congressistas, Expositores e Visitantes

14.332

TOTAL GERAL 43.127

Indústria da Mineração Ano IV - nº 28, outubro de 2009 15

O Presidente do IBAMA – Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Roberto Messias Fran-co, citou trecho da música “Se todos fossem iguais a você” para elogiar as atitudes susten-táveis de uma mineradora, a Alcoa (www.alcoa.com/brazil): “se todos fossem iguais a você, que maravilha viver”, disse após assistir a palestra de Nemércio Nogueira, Diretor de Assuntos Institucionais da mineradora no penúltimo dia do 13º Congresso Brasileiro de Mineração. Franco representou o Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

A Alcoa é referência mundial em susten-tabilidade e inaugurou recentemente projeto de mineração de bauxita em Juriti, no Oeste

Presidente do IBAMA elogia ações sustentáveis de mineradora

tabilidade)”, disse. Ele enalteceu o trabalho do IBRAM em promover a sustentabilidade entre as mineradoras. Franco disse ainda que eventuais demoras no processo de licencia-mento podem ser atribuídas, em parte, ao fato de novos analistas terem sido recém-contratados por concurso pelo IBAMA. “Leva algum tempo para ganharem mais agilidade”, disse. Segundo ele, ao avaliarem as condições de cada projeto, os técnicos levam em conta se o empreendimento vai trazer, realmente, benefícios à sociedade.

Para o Presidente do ICMM – Conselho In-ternacional de Mineração e Metais, Anthony Hodge, a mineração passou a se importar com ações sustentáveis a partir da década de 70, com a crescente pressão da sociedade e hoje apresenta avanços significativos. O fechamento de mina é um exemplo.

ICMM e IBRAM lançam guia para fechamento de mina

Hodge e Paulo Camillo Penna, Presiden-te do IBRAM, lançaram no Congresso um manual técnico que orienta mineradoras a planejar o fechamento de suas minas. “É um processo que tem que ser planejado logo no início do empreendimento mineral para que não haja traumas quando chega o momento de esgotamento da mina e do consequente encerramento das operações da empresa”, observou Camillo Penna. A íntegra do guia está no site do IBRAM.

Hodge citou o exemplo negativo do fe-chamento da mina Faro, no Canadá, que, por falta de maior planejamento, vai consumir bilhões de dólares de recursos públicos e um passivo ambiental de difícil solução. “Evitar situações assim é o desafio das mineradoras e o manual que lançamos hoje no Brasil será uma importante ferramenta para os empre-sários”, disse Hodge.

do Pará, que pretende ser ícone de mineração sustentável, segundo informou Nogueira.

Nogueira disse que para uma mineradora “é mais caro não ser sustentável. O empreen-dedor tem que investir, além de dinheiro, ati-tude, alma”, do contrário, enfrentará muitos obstáculos ao longo da duração do projeto. “Lidamos com terra, água e gente, portanto, sustentabilidade não é uma alternativa em-presarial, é uma obrigação, uma necessidade para a gestão empresarial”.

Além de elogiar a postura empresarial da Alcoa, Franco, do IBAMA, exibiu slides de áreas recuperadas por empresas de minera-ção, como exemplo de ações sustentáveis. “O setor mineral está mudando (rumo à susten-

Alcoa é referência mundial em sustentabilidade e foi citada como exemplo nessa área por Roberto Messias Franco em sua palestra no 13º Congresso Brasileiro de Mineração

Roberto Messias Franco (Presidente do IBAMA) citou a Alcoa como exemplo de sustentabilidade

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Logo após sua participação nos debates do 13º CBM, Nemér-cio Nogueira da Alcoa do Brasil, confirmou ao jornal DCI que a companhia tem “todo o interesse em participar da construção da Usina de Belo Monte. “Se conseguirmos ter energia a preço competitivo no norte do País, podemos pensar em fazer o bene-ficiamento da bauxita em Juriti e fazer a produção do alumínio no Pará, perto de Belo Monte”, disse.

Com a energia de Belo Monte, Juriti poderá ser uma planta estra-tégica para a Alcoa, por conta de sua localização. A reserva da mina, que foi inaugurada na semana passada, é de cerca de 700 milhões de toneladas métricas de bauxita. “O ideal é botar uma refinaria em cima da mina de bauxita, o que evitaria transportes, e colocar a fábrica de alumínio perto da usina hidroelétrica”, afirmou o diretor. Hoje, a produção abastece a Alumar, em São Luís (MA).

O alto nível de estoque impediu que a melhora observada no setor mineral atingisse o alumínio, avaliou o diretor institucional

da Alcoa do Brasil. “A demanda ainda está fraca. Nos Esta-dos Unidos o mer-cado praticamente sumiu no ano pas-sado”, afirmou.

Ele diz que os mercados que ain-da sustentam a produção é o de autopeças, automotivo e os de produtos químicos. Hoje, a fábrica em Poços de Caldas (MG), a primeira unidade da companhia no Brasil, está com uma de suas linhas paralisadas. A redução atual é de 30%. O preço do alumínio, que estava em US$ 3 mil a tonelada em agosto do ano passado está cotado hoje em US$ 1,8 mil, queda de cerca de 60%. “Nós ainda não sabemos quando essa linha será retomada”, afirmou.

O Presidente do, Anthony Hodge, criticou governantes que, segundo ele, não levam em conta todo o ciclo de duração de um empreendimento minerário para avaliar seu potencial de contribuição à sociedade, como por meio de recolhimento de impostos, entre outras formas. “O rendimento de um projeto apresenta picos de lucratividade e momentos em que não há lucro algum, como na fase final, depois que a mina já se esgotou. Os governantes têm que levar isso em conta e não apenas olhar o pico de lucratividade”, disse. Hodge participou da keynote session “Susten-tabilidade na Mineração”, no 13º CBM.

Hodge não fez referência direta ao Brasil, onde o governo tem anunciado que pretende elevar os encargos e impostos recolhidos pela mineração brasileira, o que encontra forte resistência entre as empresas, que temem en-frentar mais dificuldades de se recuperarem dos fortes impactos da crise internacional. “As mineradoras estão recuperando espaço

Governantes erram ao considerar apenas picos de lucratividade para estabelecer

contribuições das mineradoras, diz especialistagradualmente. A crise provocou estragos sérios no setor. Falar em aumentar carga neste momento é inapropriado. Estamos em contato com as autoridades para sermos ou-vidos a respeito”, disse Paulo Camillo Penna, Presidente do IBRAM, que participou com Hodge do mesmo painel.

Hodge considera que cada vez mais a so-ciedade discute a distribuição dos benefícios da mineração, mas também é preciso debater a distribuição das responsabilidades relacio-nadas a cada projeto. E cabe às mineradoras “demonstrar que praticam o que pregam”, se referindo à sustentabilidade, e exigirem de seus fornecedores e parceiros comerciais o mesmo tipo de comportamento. “Imaginem se uma mineradora que tem como política praticar a sustentabilidade em tudo, por acaso contrata uma empresa terceirizada de terraplanagem que não tem esta mesma pre-ocupação? Pode por a perder todo o esforço empreendido até então”.

Esse comportamento é vital até para atrair investimentos aos projetos. “Os fundos de investimentos, importantes para o financia-mento dos projetos minerais, podem aban-donar os que não refletirem valores sociais e ambientais”, disse Hodge.

Pouco antes de lançar com Paulo Camillo Penna, do IBRAM, um manual técnico que orienta mineradoras a planejar o fechamento de suas minas, Hodge disse que o relaciona-mento entre a mineradora e a comunidade não acaba quando a mina se esgota. “O rela-cionamento tem que ser planejado para durar durante várias gerações. É um desafio sério”. É isso o que faz a mineradora de bauxita, Alcoa, em Juruti, no Oeste Paraense. “Quando daqui a uns 70 anos a mina de Juruti se esgotar, o mu-nicípio já terá desenvolvido outras atividades econômicas, sem que haja dependência em relação ao projeto minerário”, disse Nemércio Nogueira, Diretor de Assuntos Institucionais da Alcoa, que também participou do painel.

ENERGIA É ESTRATÉGICA PARA PROJETO JURUTI

Nemércio Nogueira diz que energia é estratégica para Projeto Juruti, no Pará

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Indústria da Mineração Ano IV - nº 28, outubro de 2009 17

ENTREVISTAANTHONY HODGE – PRESIDENTE DO CONSELHO INTERNACIONAL DE MINERAÇÃO E METAIS - ICMM (INTERNATIONAL COUNCIL ON MINING AND METALS)

“Todas as empresas de mineração estão conscientes sobre a segurança em mina.

Mortes não são aceitáveis”.O Conselho Internacional de Mineração e Metais - ICMM (International Council on Mining and Metals), fundado em 2001, está sediado em Londres, na Inglaterra. Foi criado para apoiar as mineradoras na implantação de práticas comerciais apropriadas, de acordo com a sustentabilidade, a segurança, e os direitos humanos.

Na entrevista a seguir, o Presidente do ICMM, Anthony Hodge, conta sobre algumas realizações da entidade durante o ano de operação e as expectativas para o futuro.

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Indústria da Mineração Ano IV - nº 28, outubro de 200918

Como surgiu o ICMM? Quais foram as principais realizações desse Conselho?

O ICMM foi criado em 2001. Antes dele, exis-tia o Conselho Internacional de Mineração e Meio Ambiente [ICME], criado em 1991, porque a indústria de mineração não tinha voz nas discussões sobre políticas internacio-nais. No final dos anos noventa, houve uma mudança e como resultado disso criou-se o ICMM para substituir o ICME.

Um dos principais resultados é fazer com que a mineração trabalhe em sintonia com a sociedade – o que é raro. É preciso motivar e considerar a indústria de mineração uma par-ceiro, respeitada na sociedade em mudança. E isso é realmente o nosso objetivo.

Existem algumas práticas específicas de tra-balho que temos feito ao longo dos anos. Um exemplo disso é o documento da Or-ganização Mundial de Saúde sobre AIDS, malária e tuberculose. Em algumas regiões, estas doenças representam um problema para os trabalhadores de minas, uma grande conseqüência. Isso comprova que a indústria da mineração se preocupa com o empregado. Os benefícios vão muito além.

Outro trabalho semelhante é o da biodiversi-dade. Reunimos um grupo de empresas que trabalham com o aspecto conservação.

Conte-nos sobre alguns programas de sustentabilidade que o ICMM participou.

O desenvolvimento sustentável surgiu a partir da ascensão dos movimentos ambientalistas na década de oitenta. Isso tem grande rele-vância na Amazônia, e no futuro, podere-mos implementar o mesmo alcançado lá. A mudança climática também é uma questão que estamos abordando. Além da sustenta-bilidade ambiental, há um lado humano no nosso trabalho.

Como tem sido as participações do ICCM com a Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável da ONU?

A ONU tem avaliado a mineração, nes-tes últimos 10 anos. O ICMM participa e oferece ideias. Uma das grandes obras do Conselho foi a criação de um conjunto de ferramentas para as práticas de fechamento

de mina, o Toolkit. Do ponto de vista da comunidade, temos iniciativas em matéria de saúde e segurança. Este fator está ligado ao relatório de desempenho eficaz dos tra-balhadores, do ponto de vista da segurança, dentre outros aspectos.

de que o Brasil evolui de forma significativa nessa área. Empresas como Vale, BHP Billiton e AngloGold Ashanti estão preparadas para divulgar as estatísticas em termos de seguran-ça. Na verdade, os membros do ICMM que operam no Brasil comprometeram-se em divulgar estatísticas positivas de segurança. O nosso relatório completo será concluído dentro de dois anos.

Como reduzir ainda mais o número de acidentes já registrados?

Um bom exemplo é a Newmont Mining, localizada no Peru. Eles têm trabalhado com a comunidade no fechamento de mina. Neste país, a Newmont anunciou publicamente um plano para 30 anos de funcionamento das atividades minerárias.

Cito também a Alcoa - que inaugurou um projeto de bauxita no Norte do Brasil em setembro -, e tem feito um grande trabalho. Eles criaram um modelo no qual existe um grupo de consultoria que reúne a empresa, comunidade e governo.

Como o sr. descreveria a parceria entre o ICMM e do IBRAM?

O IBRAM é membro de nossa organização. Fizemos o trabalho original sobre o encerra-mento de mina também no Brasil. Agora, há edição do Toolkit (guia técnico) publicada em inglês e em português, justamente em razão da parceria com o Instituto.

“A MUDANÇA CLIMÁTICA TAMBÉM É UMA

QUESTÃO QUE ESTAMOS ABORDANDO. ALÉM

DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL, HÁ UM LADO HUMANO NO NOSSO TRABALHO.”

Como a mineração tem progredido no Brasil e América do Sul em termos de segurança nos últimos anos?

Houve muitos avanços na última década, não há dúvida sobre isso. As empresas no Brasil e no mundo perceberam a gravidade de acidentes de trabalho advindos da falta de segurança. Todas as empresas de mine-ração estão conscientes sobre a segurança em mina. Mortes não são aceitáveis. Além disso, a redução do número de acidentes é um incentivo para as empresas, porque quan-do acontecem acidentes, perde-se tempo perdido, e a economia do negócio é severamente afetada.

Fale, por favor, sobre o trabalho do ICMM com as empresas nas questões de segurança.

Há um grande número de empresas que dão exemplo de segurança. A Samarco, que é uma joint venture en-tre a Vale e a BHP Billiton, por exemplo, possui esta-tísticas espetaculares de se-gurança. Tenho a impressão

Indústria da Mineração Ano IV - nº 28, outubro de 2009 19

Discussões sobre o papel do Brasil no cenário de mudança climática indicam que o país tem avançado nas ações para frear o aquecimento global. Segundo Adriano Santiago, que representou o Ministro Luiz Alberto Figueiredo Machado, (Diretor do Departamento de Meio Ambiente e Te-mas Especiais do Ministério de Relações Exteriores), nos últimos cinco anos houve queda substancial de desmatamento no Brasil. “Se considerarmos outros países, o setor industrial brasileiro é exemplo para o mundo na economia de carbono, mas ainda é preciso fazer mais”, afirmou Santiago, no painel Mudanças climáticas e a mineração: tendências e oportunidades, no terceiro dia de CBM.

As mudanças no uso da terra e das flo-restas representam, segundo Santiago, 75% das causas de mudanças climáticas no mun-do. “Na visão do governo brasileiro, seria necessária a criação de grandes programas nacionais para a diminuição de emissões

Indústria brasileira é exemplo para o mundo na economia de carbono

Reserva Natural da Vale, Linhares (ES)

de carbono. Há uma pressão do Brasil e de outros países no cenário internacional para que a redução das emissões de carbono alcance 40% até 2020”, acrescentou.

Dados fornecidos pelo Diretor do Air, Energy and Climate Change, Environmental Resources Management, Braulio Pikman, mostram que as medidas de redução são mesmo urgentes. “As emissões de gases de efeito estufa eram de 7 a 8 bilhões de toneladas na década de 50 e praticamente dobraram até o ano de 2005”, destacou. Pikman lembrou, ainda, que o uso de pro-dutos como o carvão mineral pode levar a emissões muito significativas.

Para Pikman, o debate sobre a necessi-dade de frear a emissão de carbono foi su-perado desde a eleição de Barack Obama, que se comprometeu com a questão assim que assumiu a presidência dos Estados Uni-dos. “As empresas agora passam a trabalhar com consciência dessa realidade, buscando

estratégias de sustentabilidade. É preciso entender que vivemos em um sistema em crise, pois os recursos naturais são finitos e o ciclo de vida dos produtos precisa consi-derar este fato”, disse.

Uma tendência apontada pelo consul-tor são os programas de conscientização direcionados tanto aos setores industriais quanto aos consumidores. “A rede Wall Mart já tem um programa que oferece maior destaque para empresas que com-provadamente emitem menos carbono no desenvolvimento de seus produtos”, exemplificou.

Para colaborar com a mitigação das emissões, as empresas devem, de acordo com Pikman, considerar também a adoção de energia e matéria prima alternativa; mais eficiência nos processos que geram ou consomem energia; a destruição ou recu-peração dos resíduos gerados e a remoção de carbono da atmosfera.

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Uma tendência em aproveitamento de bens naturais vem se consolidando como a nova onda ecológica. A pegada hídrica, como foram batizados os estudos que envolvem a análise da utilização de água em diferentes etapas da cadeia de produção nos mais diversos setores - incluindo as atividades mineradoras -, é um conceito que vem sendo trabalhado de forma inédita no Brasil, mas sua importância tem fi-cado cada vez mais clara em países da Europa e nos Estados Unidos, tanto para empresários quando para consumidores. A relevância do assunto está implicada na necessidade de pre-servação dos recursos hídricos, cuja perspectiva de escassez vem movimentando um grande número de organismos protecionistas.

Nascida na Holanda, o termo pegada hí-drica rapidamente conquistou, naquele país,

a adesão de multinacionais, preocupadas em elevar seus indicadores de eficiência e ofe-recer ao consumir produtos “ecologicamente corretos”. Até agora, a maior parte dos estu-dos está relacionada com a agricultura, prática que demanda grande quantidade de água, mas a mineração, em breve, deve se tornar também um dos focos da análise.

De acordo com a analista de Meio Ambien-te Vanessa Empinotti, conferencista do painel “Gestão de Recursos Hídricos pela Mineração”, a atividade mineradora está localizada no início do processo e, tal qual a agricultura, é uma grande consumidora de água. “O volume hídri-co usado na extração e separação dos minérios, por exemplo, merece um estudo detalhado, que aponte em que medida esse aproveita-mento pode ser otimizado”, explica.

As ideias ainda não estão definitivamente implantadas, mas a analista acredita que, com o avanço dos estudos, as empresas minera-doras sofrerão certa pressão para exercitar práticas de reuso de água ou utilizar o re-curso em menor quantidade, cuidando dos efluentes e privilegiando ações que podem ter impactos na preservação das bacias hidro-gráficas. “Antes falava-se apenas da questão da disponibilidade, agora temos mais um parâmetro para abordar a água como valor. Isto é positivo porque também interfere no desenvolvimento de tecnologias específicas para cada setor e na geração de mercado para novos profissionais, como consultores capacitados para identificar níveis de consu-mo de água”, afirma.

Vanessa também aposta na criação de uma legislação específica para a mineração. “As empresas podem utilizar isso como um diferencial, tanto para os parceiros diretos, que vão adquirir os minérios extraídos, quan-to para os consumidores, mais conscientes de que aquele produto tem um impacto menor na natureza. É uma questão relevante, que pode ser traduzir em futuras barreiras comer-ciais. Quem estiver na frente, ditando novas regras, vai estar na liderança do mercado, pois dará início a uma espécie de reinvenção do produto, mas inserido em uma questão ambiental”, reforça.

A saga da descoberta do Carajás é contada na obra do engenheiro Newton Pereira de Rezende, protagonista de um dos principais momentos da história da mineração no Brasil. Em Carajás – Memória da Descoberta, o leitor poderá se transportar para uma época em que a região amazônica era até então pouco conhecida, quando uma equipe de geólogos identificou uma jazida de minério de ferro.

Segundo o autor, ao contrário do que muitos pensam, a descoberta de Carajás não

‘Carajista’ conta história sobre a descoberta de Carajás em livro

Antes de lançar oficialmente a obra, o autor autografou exemplares na EXPOSIBRAM 2009

se deu por acaso. Foi resultado de planeja-mentos, estudos e pesquisas, empreendidos, desde 1965, por diversas equipes. Newton Pereira foi uma dessas pessoas que mais se envolveu na chegada a Carajás.

No livro, além da descoberta, Newton re-lata uma série considerável de fatos ocorridos ao longo dos estudos de pesquisa da jazida e das negociações para a associação entre a Me-ridional-US Steel (o autor é ex-Vice-Presidente dessa companhia) e, na época, a Companhia

Vale do Rio Doce (atualmente Vale). O leitor poderá também conferir documentos de comprovação e publicações inéditas.

Carajás – Memória da Descoberta ainda será lançado oficialmente, em outubro, no Rio de Janeiro. Por enquanto, o livro pode ser comprado por R$ 50, em Belo Horizonte (MG), por meio do número 31 3221 4495.

Pegada hídrica estimulará empresas mineradoras a repensar o uso de água

Estudos recentemente implantados no Brasil avaliam a aplicação do recurso na mineração e sugerem a adoção de práticas ecologicamente

responsáveis como forma de reinventar a cadeia produtiva

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Newton Pereira de Rezende é um dos carajistas que viu de perto a descoberta da rica região na Amazônia

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Apesar da escassez cada vez maior de terras agricultáveis no mundo, o Brasil tem hoje cerca de 71 milhões de hectares livres para aumentar sua produção agrícola e um potencial crescente no mercado de fertilizantes.

“Nós somos, com certeza, o país que tem a vocação para alimentar o mundo. Porém, precisamos evoluir muito em aspectos sociais e tecnológicos”, afirmou o Diretor de Mineração da Bunge Fertilizan-tes, Vicente Humberto Lôbo Cruz (foto), durante participação no

painel “Ampliação de Mercados para a Mineração Brasilei-ra”, no 13º CBM.

O panorama atu-al da indústria de fertilizantes apon-ta o Brasil como o quarto maior con-

Infraestrutura precária e falta de crédito inibem maior

produção de fertilizantes

Maureen Upton falou sobre investimento em Responsabilidade Social

O Diretor-Executivo da Associação dos Prospectores e Desenvolvedores do Canadá – PDAC (The Prospectors and Developers Association of Canada), Anthony Andrews, apresentou o recém-lançado programa de responsabilidade social e3Plus. A meta é combinar ações humanitárias com as ativi-dades mineradoras.

“Em muitos casos, as questões que estão acima do solo se tornaram mais desafiadoras do que as que estão abaixo do solo, e com estas já estamos acostumados a lidar”, disse.

Andrews lembrou que a indústria de mineração é um setor eticamente expos-to, mas que nos últimos 15 anos teve um avanço significativo na questão da responsa-bilidade social. “As grandes empresas mine-radoras já se adaptaram à sustentabilidade. Mas falta orientação, principalmente às pequenas empresas, que costumam aplicar abordagens caseiras em relação às comu-nidades locais”, afirmou. Andrews foi um

PDAC apresenta Programa de Responsabilidade Social

dos participantes da sessão temática “Novos Conceitos no Planejamento Mineral”.

Uma solução para a lacuna seria, de acor-do com Andrews, uma orientação internacio-nal sobre responsabilidade social, objetivo do e3Plus, que está sendo traduzido para vários idiomas – inclusive o português. O programa está sendo disponibilizado, aos poucos, no site da PDAC: www.pdac.ca.

Setor mineral investe três vezes mais em ações sociais

Apresentado pela empresa de consultoria Resources Initiative, um estudo comparativo entre grupos de mineração e conhecidas empresas de outros segmentos mostrou que o setor mineral investe três vezes mais em CSR (Corporate Social Responsibility) do que indústrias de áreas como alimentação.

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Anthony Andrews (PDAC) disse que as grandes mineradoras já se adaptaram à sustentabilidade

sumidor de fertilizantes do mundo. No entanto, o País representa apenas 2% da produção mundial. Este perfil demonstra que é um grande importador neste mercado. O diretor da Bunge ressaltou que a situação é mais difícil no caso do potássio, em que as importações representaram 92% das necessidades do País no ano passado.

Segundo Vicente, para o Brasil avançar no mercado de fertilizantes são necessárias mudanças como o aumento da disponibilidade de cré-dito para financiar o crescimento da produção agrícola e adequação da infraestrutura de importação e exportação.

“Mesmo com os obstáculos o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de produtos agropecuários do mundo”, disse Vicente Lôbo. Cerca de 40% do aumento ocorrido na produção agrícola no Brasil está relacionado ao uso de fertilizantes.

Expansão na Bunge Fertilizantes

A Bunge Fertilizantes está em processo para aumentar sua capaci-dade de produção no complexo de Araxá (MG). Serão investidos R$ 300 milhões, o que resultará em um aumento para extrair anualmente cerca de 800 mil toneladas de rocha fosfática.

A empresa é a maior do País no setor de fertilizantes e, além dos investimentos em Minas Gerais, tem projetos de expansão em seus complexos nas cidades de Tapira (MG) e Catalão (GO).

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Os bons resultados de países como Peru e Chile na mineração são fatores que fazem da América Latina um exemplo para regiões onde o setor ainda está se desenvolvendo. No painel Direito mineral comparado: experiências de outros países mineradores, no terceiro dia do CBM, foram apresentadas experiências da indústria mineral em Madagascar, Congo e Gua-temala. O Sócio-Gerente da Duncan & Allen Counselours at Law, John P. Williams apontou dificuldades e evoluções dessas nações na im-plantação de legislação para a mineração.

“Madagascar e Congo passaram de sis-temas antigos de solicitação de direito de domínio de mina para sistemas de mapas cadastrais”, exemplificou Williams. Segundo o consultor, Madagascar possuía uma lei muito pouco competitiva e tradição artesanal de exploração, enquanto o Congo e a Guate-mala enfrentavam dificuldades por ter uma estrutura institucional frágil.

Nos últimos anos, Madagascar e Congo superaram o antigo modelo de solicitação

Legislação mineral da América de Latina serve de exemplo para outros países

de direito de domínio e im-plantaram um sistema ba-seado em mapa cadastral, registrando até 10 vezes mais pedidos de lavra. Na Guatemala, foi desenvolvi-da uma sofisticada política mineral que já começou a surtir efeitos positivos para o setor, apesar de ainda não ter sido transformada em lei.

Patricia Kosa Muñoz, representante do núcleo de advocacia peruana Muñiz, Ramirez, Pérez-Taiman & Luna-Victoria Abogados destacou que o Peru tem um cadastro completo que permite loca-lizar as concessões e saber quantas áreas estão disponíveis e quais não podem ser exploradas por estarem em regiões protegidas. “Nossa legislação também obriga a produção nas mi-nas para evitar especuladores que compram minas e não exploram”, disse Patricia.

Em primeiro lugar na exportação de cobre, o Chile também tem o que ensinar na área de legislação. “Entre as medidas de promoção ao setor, temos a dedução de impostos para empresas que investem em infra-estrutura que constituem serviços públicos”, exempli-ficou Rafael Vergara, sócio da Carey y Cia. Ltda. Abogados.

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Carlos Vilhena (da Pinheiro Neto Advogados) foi coordenador do Painel sobre direito mineral comparado

Da esquerda para direita: John P. Williams (Duncan & Allen Counselours at Law); Patrícia Kosa (Pérez-Taiman & Luna-Victoria Abogados); Cristina Campos (Procuradora Jurídica do DNPM); Carlos Vilhena (da Pinheiro Neto Advogados) e Rafael Vergara (Sócio Carey y Cia).

Indústria da Mineração Ano IV - nº 28, outubro de 2009 23

global, que de-verá se expan-dir para outros países. “Hoje existem novas pressões que são exercidas não mais apenas por parte dos gover-nos, mas tam-bém pela pró-pria sociedade. A UE é a favor do livre comér-cio, com regras iguais para todos os jogadores, mas ela quer, acima de tudo, uma economia mais limpa”, observou o Secretário-Geral da EuroMetaux. No entanto, para Canabal, o Reach apresenta um novo desafio para a América Latina, pois se trata de uma “ferramenta reguladora que, em certa medida, restringe o comércio com os países europeus, devido à possível eliminação de certos produtos e aos custos dos testes para a certificação dos produtos”.

A mineração é uma das atividades mais significativas para o comércio exterior nacio-nal. Em 2008, representou quase 10% do total das exportações do Brasil e somou U$ 18,72 bilhões, número 57% superior ao de 2007. Esses e outros dados foram apresentados pelo Coordenador de Logística e Promoção das Exportações da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento (MDIC), José Manoel Cortiñas, no painel “Restrições e entraves para o comércio ex-terior de minerais”. O debate contou ainda com a participação do Secretário-Geral da EuroMetaux, Guy Thiran, do Presidente do Organismo Latinoamericano de Minería (OLAMI), Aurelio Martínez Canabal, e foi coordenado pelo ex-Ministro da Fazenda e do Planejamento, Paulo Roberto Haddad.

“A China já pode ser considerada hoje como o principal mercado para os minérios brasileiros, tendo ultrapassado a demanda dos Estados Unidos em cerca de 4%, no acumulado entre janeiro e julho de 2009”, afirmou Cortiñas. Graças a essa grande potên-

cia mundial, o minério teve o terceiro melhor comportamento na pauta de exportações brasileiras este ano até julho, atrás apenas de produtos alimentícios como a soja e o café.

Reach

Além das discussões sobre as tendências do comércio internacional de minerais no pós crise mundial, o painel também teve abordou o surgimento de novas diretrizes para o comércio com a União Européia (UE), com o Sistema Reach (sigla em inglês para Registration, Evaluation and Authorization of Chemicals), que entrou em vigor em junho de 2007. O Sistema obriga as empresas eu-ropéias importam produtos com substâncias químicas, entre eles os de origem mineral, a avaliar os riscos para a saúde e meio ambiente decorrentes da utilização desses produtos e a tomar as medidas necessárias para a gestão dos riscos existentes.

Para Thiran, o Reach não é uma barreira comercial, mas sim fruto de uma tendência

Da esquerda para direita: Guy Thiran (EuroMetaux), Paulo Haddad (Phorum Consultoria e Pesquisa em Economia Ltda), Aurélio Martínez Canabal (Presidente do Olami), José Manoel Lopes (MDIC).

Exportação do minério brasileiro tem bom desempenho em 2009

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Guy Thiran (Dirigente da Eurometaux)

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Os sinais de recuperação gradual dos negócios da indústria da mineração no Brasil puxam negócios em toda a cadeia produtiva e também entre os fornecedores de máquinas, equipamentos e serviços. A EXPOSIBRAM 2009 foi um ótimo local para acompanhar as novidades do setor e as negociações aconte-cendo em tempo real.

A multinacional Shell, por exemplo, apre-sentou na EXPOSIBRAM 2009 sua solução para problemas de falhas nos rolamentos, peça importante para o funcionamento de motores elétricos, que podem ser resolvidos com lubrificação adequada. A ferramenta Shell Tactic EMV é instalada em pontos críticos do maquinário industrial para proporcionar uma liberação precisa de graxa em intervalos e volume pré-determinados e, assim, garantir uma lubrificação eficiente.

Outra grande companhia fornecedora da mineração, a Tracbel, fez muito sucesso na feira. “O segmento de mineração é de extrema importância para a Tracbel. Para se ter uma ideia, 50% das vendas da empresa no mercado mineiro em 2008 foram voltadas para este setor. O segundo maior mercado é a Região Norte, com 30% das vendas”, destaca Luiz Gustavo Pereira, vice-presidente da Tracbel.

A empresa expôs em seu estande na EXPOSIBRAM a escavadeira EC460B e a retroescavadeira BL70 da Volvo Construc-tion Equipment (VCE) - uma das marcas comercializadas pela empresa voltada à área de mineração. O objetivo da Tracbel é de acompanhar o crescimento deste mercado, incentivada pela linha de crédito lançada em julho pelo governo federal, voltada à aquisi-ção de máquinas e equipamentos novos, e à própria troca de frota das mineradoras e prestadoras de serviços.

“A crise mundial atingiu todos os setores da economia, mas o segmento de mineração já vem dando sinais de recuperação há dois meses. Isso se deve também ao reaquecimen-

to da economia e à retomada das exportações de minérios para a Índia e China, por exem-plo,” explica Pereira.

A agência internacional de notícias Reu-ters constatou a retomada dos negócios na feira. Segundo reportagem da agência, de fornecedores de máquinário, pneus e até de bombas e selos mecânicos, todos dizem que as encomendas estão aumentando. Fabio Bueno, da Diamondfaces, que fabrica selos mecânicos resistentes à pressão e tempera-turas extremas confirmou: “A indústria está novamente produzindo mais, e nós também. Com base nos projetos que nossos clientes estão desenvolvendo, podemos ver que ha-verá forte demanda. Isso vai beneficiar todo mundo no mercado de equipamentos”, disse Bueno à Reuters.

A queda da atividade mineral, devido à crise, trouxe de volta a negociação entre compradores e fornecedores de equipa-mentos em geral para a mineração, apurou a agência. “No ano passado nós discutíamos com nossos clientes principalmente sobre prazos de entrega. Tudo (a capacidade de pro-

Encomendas voltam a crescer no setor de mineração do Brasil

dução) estava inteiramente esgotado”, disse Andreas Horn, diretor-técnico da Allmineral, que produz equipamento para extração de minérios. “Agora voltamos ao ponto em que há mais conversações sobre preço do que sobre prazos de entrega”, disse.

Com a boa perspectiva empresarial, a ex-pectativa é igualmente positiva para a geração de empregos. “Os contratos podem levar um ano e meio para se concretizar”, disse Leo-nardo Andrade, da Somatec, que fornece e instala equipamentos para as minas. Ele disse que a empresa pode em breve aumentar o número de empregados, atualmente de 1.500, já que os negócios estão crescendo.

Além da Somatec, a Kluber Lubrication, supridora de óleo para máquinas e motores, informou à Reuters que não houve queda para a empresa quando a desaceleração econômica atingiu a mineração. “Muitas empresas aproveitaram a desaceleração para ficar em dia com a manutenção da fábrica e do maquinário,” afirmou o supervisor de vendas William Rissato, acrescentando que essa atitude resultou em mais encomendas.

Muitos expositores fecharam negócios na EXPOSIBRAM 2009

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Uma comitiva composta por André Reis, Coordenador do IBRAM Amazônia, Anthony Andrews (PDAC), Jan Klawitter (WEF), Ernesto Ortiz (CODELCO) e Patrícia Baptista (IBRAM Minas Gerais) esteve na Mina de Águas Claras, no município de Nova Lima, na Região Me-tropolitana de Belo Horizonte, em setembro. Os participantes foram recebidos por Júlio Nery, Gerente de Relações Institucionais da Vale, e Marlos Machado, Analista de Comu-nicação da empresa em Belo Horizonte.

O objetivo da visita foi conhecer o projeto que pretende revitalizar a mina de Águas Claras, que foi operada pela Minerações Bra-sileiras Reunidas (MBR) entre os anos de 1973 e 2002. A empresa foi incorporada pela Vale no primeiro semestre de 2007. Atualmente a busca é por co-investidores para a implantação de um centro urbano de uso comercial e resi-dencial na área de 194 hectares da mina.

Para o Coordenador do IBRAM Amazônia, o Projeto Águas Claras trará desenvolvimento para a região. “O encerramento da mina de Águas Claras compreende um conjunto de investimentos que, uma vez viabilizados, proporcionarão a revitalização econômica e ambiental da Região. É uma prova de que com criatividade e empreendedorismo, novas janelas de oportunidade podem emergir do fechamento de minas”.

O projeto prevê a criação de infraes-trutura com comércio, negócios, serviços e residências, com prédios de, no máximo, cinco andares que constituirão condomínios

Da esquerda para a direita, Ernesto Ortiz (CODELCO), Júlio Nery (Vale), Jan Klawitter (WEF), Anthony Andrews

(PDAC), Marlos Machado (Vale), André Reis (IBRAM AMAZÔNIA) e Patrícia Baptista (IBRAM MG)

Comitiva visita Mina de Águas Claras em Minas Gerais

para receberem cerca de mil famílias. Haverá também áreas destinada ao ensino, hotéis, parque de feiras, um shopping a céu aberto, instalações de lazer e um espaço cultural. Em um prazo de vinte anos, estima-se que o pro-jeto deverá abrigar uma população de 20 mil pessoas, entre população fixa e flutuante.

IBRAM divulga EXPOSIBRAM AMAZÔNIA 2010

André Reis e a equi-pe do IBRAM Amazô-nina aproveitaram sua participação na EXPO-SIBRAM 2009 para di-vulgar a EXPOSIBRAM Amazônia 2010, que será realizada em paralelo ao 2º Congresso de Mineração da Amazônia. André Reis acompanhou a ida de delegação do Estado do Amazonas à EXPOSIBRAM em Belo Hori-zonte e relatou que os participantes do Norte do País ficaram impressionados com a gran-diosidade, com a organização e com a qua-lidade dos produtos, serviços apresentados. “Nosso compromisso é reproduzir o sucesso da EXPOSIBRAM na Região Norte”, disse Reis. A EXPOSIBRAM Amazônia acontece em novembro de 2010, em Belém (PA).

Para o Especialista em Direito Mine-rário e Recursos Minerais (EUA), James Otto, um bom potencial geológico não garante, isoladamente, atração de inves-timentos. “Muitos países têm tido dificul-dades para atrair recursos. Estabilidade política, regime fiscal que gere menos ônus e uma boa promoção são fatores primordiais atualmente”, afirma.

Os desafios enfrentados em todo o mundo para ampliar investimentos em mineração foi o tema do painel “Legis-lação e Política Mineral para a Atração de Investimentos”, realizado no primeiro dia do 13º CBM. O tema, debatido pelo Consultor da Anglo American Brasil, Manoel Regis Neto, e pelo Presidente da GEOS Geologia para Mineração, Elmer Prata Salomão, foi mediado pelo Ex-Senador e Ex-Ministro de Minas e Energia, Rodolpho Tourinho.

Política estável e regime fiscal menos oneroso

são atrativos para investimentos

James Otto, Especialista em Direito Minerário e Recursos Minerais (EUA): estabilidade política é essencial

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Os altos investimentos em infraestrutura na China indicam boas perspectivas para o mercado de commodities minerais. A previ-são foi apresentada por Paul Gray, analista do banco Goldman Sachs, na keynote ses-sion Novos Desafios para Mineração, reali-zada em 22 de setembro no 13º Congresso Brasileiro de Mineração.

“A China é exceção no cenário econômi-co e apresenta expectativa de crescimento anual de 8%. Estimamos que o país importe até 90% do minério de ferro do mundo nos próximos anos”, afirmou Gray, destacando que o país deve registrar um crescimento real do PIB em 2010 de 12%. “A dependência do setor em relação à China deve aumentar”, segundo o analista, mas ele alerta que a ca-pacidade de investimentos chinesa é maior do que o consumo e, portanto, o crescimen-to pode não ser sustentável.

Segundo Gray, “o desenvolvimento do interior da China ainda tem um longo ca-minho, várias de décadas de crescimento”. O país importou 444 milhões de toneladas de minério de ferro em 2008, a maior par-te da Austrália, do Brasil e da Índia sendo responsável por cerca de 70% por cento do comércio marítimo de minério de ferro. Ele diz que os chineses vão continuar a buscar uma base fornecedora mais diversificada para ter controle maior sobre os preços.

A China já investe para estimular a produção de minério de ferro em regiões distantes de seus principais fornecedores para alterar o equilíbrio da oferta e deman-

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China deve importar

até 90% do minério nos

próximos anos

da a seu favor e ter mais poder na hora de negociar preços nos contratos anuais de fornecimento. Provavelmente os chineses devem se aventurar em áreas diversas, como África e regiões da Ásia Central.

África é risco para Brasil e Austrália

Também presente, o consultor Hon Richard Court lembrou que a Austrália for-nece hoje 40% do minério importado pela China. Segundo Court, Brasil e Austrália devem ficar atentos em manter seus preços competitivos. “Só assim será possível evitar perda para mercados como a África, que tem atraído crescentes investimentos por parte da China”, alertou. Court alertou que os chineses sentiram o aumento dos preços do minério antes da crise e que os expor-tadores devem ficar atentos em manter os preços competitivos. “Só assim será possível evitar perda para mercados como a África, que tem atraído crescentes investimentos por parte da China”, alertou.

Sergio Barroso, Secretário de Desenvolvi-mento Econômico do Estado de Minas Gerais foi outro participante da keynote session. Além da palestra, o Secretário comentou os planos da mineradora canadense Carpathian Gold Inc, constituída por fundos de inves-tidores estrangeiros com ações na Bolsa de

Toronto, de expandir uma mina de ouro localizada em Riacho dos Machados, no Norte de Minas Gerais, que adquiriu da Vale, e estuda outros ativos minerais no estado. “Esse interesse é uma prova da retomada dos investimentos da mineração no estado”, disse Barroso, em relação aos efeitos da crise financeira mundial que sacrificou o setor.

O Norte de Minas, disse Barroso, tem sido considerado por grandes empresas do setor mineral uma nova fronteira de extração, depois do Quadrilátero Ferrífero, na região Central do estado. A descoberta de uma su-perjazida de minério de ferro estimada em 12 bilhões de toneladas já havia atraído grandes empresas, que se reuniram recentemente no Consórcio Novo Horizonte. As reservas se estendem por 20 municípios da região e só agora começam a ser pesquisadas.

Em declarações à imprensa, a direção da Carpathian Gold informou que pretende produzir 310 quilos de ouro ao ano. O cro-nograma de operações compreende as obras de abertura da extração e a construção de barragens para captação de água. Deverão ser gerados 400 empregos diretos. Os re-cursos minerais lavráveis para obtenção de ouro são estimados em 15 milhões de tone-ladas. Há estudos iniciais indicando outros 4 milhões de toneladas possíveis de serem lavradas em profundidade, com teor de ouro ao redor de 3 gramas por tonelada.

Da esquerda para direita: Hon Richard (Chairman da GRD Minproc), Paulo Bahia (Chairman para América do Sul, GRD Minproc), Sérgio Barroso (Secretário de Desenvolvimento

Econômico do Estado de MG), Paul Gray (Analista da Goldman Sachs).

Indústria da Mineração Ano IV - nº 28, outubro de 2009 27

O BNDES – Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e Social projeta que apenas entre 2011 e 2012 o mundo recu-perará os níveis de consumo de minérios registrados em 2008. Nesse período haverá reequilíbrio da oferta e da demanda, com flutuação dos preços – como as acentuadas quedas no valor do minério de ferro e do frete para países compradores, como a China. Já se nota, inclusive, recuperação dos estoques de algumas commodities minerais, afirmou Paulo Sergio Moreira da Fonseca, Chefe do Departamento de Indústria de Base na Área de Insumos Básicos do banco, durante pales-tra no 13º Congresso Brasileiro de Mineração, que será encerrado hoje às 18h.

O executivo disse também que o BNDES pretende financiar R$ 4,4 bilhões em projetos do setor de mineração em 2009. Isso repre-senta um aumento de 6% no desembolso em relação a 2008 (R$ 2,74 bilhões). “O BNDES é o maior financiador da mineração brasileira”.

Para melhorar as condições de acesso ao crédito para o setor mineral, Paulo Fonseca

Para BNDES demanda mundial por minérios voltará aos níveis do ano passado até 2012

Banco anuncia que é favorável que mineradoras ofereçam o direito minerário como garantia real nos financiamentos e deverá emprestar R$ 4,4 bilhões ao setor em 2009

disse que o BNDES considera “fundamental” que os direitos minerários (concessão do governo federal) sejam utilizados como garantia real nos financiamentos e que possam ser executados pelo credor em caso de necessidade. “Isso dá segurança para o credor e beneficia o setor mineral como um todo”, disse, salientando que medidas adicionais devem ser tomadas para beneficiar integral-mente as pequenas mineradoras.

“A manifestação da posição do BNDES para esta possibilidade de transformar o direito minerário em garantia real, defendida pelo IBRAM há vários anos junto às autoridades, é de extrema impor-tância para a mineração brasileira. Isso in-centivará o empreendedorismo, ampliando o número de novas empresas do setor, que é fator importante para o desenvolvimento nacional”, comemora Paulo Camillo Penna, Presidente do IBRAM - Instituto Brasileiro de Mineração, que estava na plateia durante a

palestra. A indústria da mineração é responsá-vel por US$ 13 bilhões do saldo de US$ 25,3 bilhões da balança comercial brasileira.

IBRAM e BNDES já negociam estratégias para que o setor consiga ampliar seus indi-cadores de competitividade, participação no mercado externo e geração de emprego. O BNDES tem como meta se aproximar mais das entidades setoriais, atestou Paulo Fonseca.

Slide da palestra de Fonseca, do BNDES: Banco é favorável ao uso do direito minerário como garantia real em empréstimos

Paulo Castellari, Diretor do Centro de Excelência da Anglo Base Metals e Paulo Sergio Moreira da Fonseca, do BNDES durante palestra no 13º Congresso

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