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SIGMUND FREUD E A TEORIA PSICANALÍTICA Sigmund Freud (1856-1939) foi um médico vienense que se especializou no tratamento de problemas do sistema nervoso e em particular, de desordens neurológicas (caracterizadas pela ansiedade excessiva e, em alguns casos, depressão, fadiga, insônia, paralisia ou outros sintomas relacionados com conflitos ou tensões). A teoria psicanalista é uma denominação genérica para as idéias freudianas a respeito da personalidade, da anormalidade e do tratamento. Tal teoria é apenas uma teoria psicológica, a qual é diferenciada por nunca ter tentado influenciar a psicologia acadêmica. Tinha como objetivo levar ajuda às pessoas em sofrimento. Na época de Freud, os médicos não entendiam os problemas neurológicos, e muito menos sabiam de possíveis maneiras para tratá-los. Tendo logo descoberto que cuidar dos sintomas físicos da pessoa neurótica era inútil, Freud começou a procurar uma teoria psicológica apropriada. Vários de seus colegas estavam praticando a hipnose, de forma que pudessem encorajar seus pacientes a “exteriorizar 1

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Page 1: SIGMUNDFREUDEATEORIAPSICANALÍTICA

SIGMUND FREUD E A TEORIA PSICANALÍTICA

Sigmund Freud (1856-1939) foi um médico vienense que se especializou

no tratamento de problemas do sistema nervoso e em particular, de desordens

neurológicas (caracterizadas pela ansiedade excessiva e, em alguns casos,

depressão, fadiga, insônia, paralisia ou outros sintomas relacionados com

conflitos ou tensões).

A teoria psicanalista é uma denominação genérica para as idéias

freudianas a respeito da personalidade, da anormalidade e do tratamento. Tal

teoria é apenas uma teoria psicológica, a qual é diferenciada por nunca ter

tentado influenciar a psicologia acadêmica. Tinha como objetivo levar ajuda às

pessoas em sofrimento.

Na época de Freud, os médicos não entendiam os problemas

neurológicos, e muito menos sabiam de possíveis maneiras para tratá-los.

Tendo logo descoberto que cuidar dos sintomas físicos da pessoa neurótica

era inútil, Freud começou a procurar uma teoria psicológica apropriada. Vários

de seus colegas estavam praticando a hipnose, de forma que pudessem

encorajar seus pacientes a “exteriorizar pela fala” seus problemas. Na medida

que os pacientes conseguiam discutir e reviver as experiências traumáticas, as

quais pareciam ser associadas aos seus sintomas, conseguiam melhoras

freqüentes. Freud adotou este método durante algum tempo, mas desistiu, por

não encontrar resultados que fossem satisfatórios por inteiro.

Como nem todas as pessoas conseguiam atingir o estado de transe, a

hipnose parecia resultar em curas temporárias, com o aparecimento posterior

de novos sintomas. Afinal, Freud desenvolveu um novo método, a associação

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livre, que serviu a muitos dos mesmos propósitos, embora apresentando

menos problemas. Os pacientes repousavam num divã e eram encorajados a

dizer o que lhes viesse à mente, sendo também convidados a relatar seus

sonhos. Freud analisou todo o material que aparecia, procurando desejos,

temores, conflitos, pensamentos e lembranças que se encontravam alem do

conhecimento consciente do paciente. Segundo Freud:

“Quando me impus à tarefa de trazer à luz o que os seres humanos guardam

dentro de si, não pelo poder compulsivo da hipnose, mas observando o que

eles dizem e mostram, pensei que a tarefa era mais difícil do que realmente é.

Aquele que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir pode convencer-se de que

nenhum mortal pode guardar um segredo. Se seus lábios estão silenciosos, ele

fala com as pontas dos dedos; ele se trai por todos os poros. Assim, a tarefa de

tornar conscientes os mais escondidos recessos da mente é perfeitamente

realizável.”

Em suma, podemos afirmar que Freud tratava de seus pacientes

tentando trazer à consciência tudo aquilo que estava inconsciente.

Usando como fonte milhares de horas de cuidadosa audição e análise

(assim como auto-observação), Freud formulava hipóteses ou intuições a

respeito da personalidade. Procurava testar suas idéias à medida que tratava

as pessoas. Comparando suas hipóteses com observações posteriores Freud

procurava explicar cada fato, não importando quão trivial parecesse. Insistia em

que todos os detalhes se ajustam perfeitamente entre si. Procedendo desta

maneira, formulou teorias abrangentes sobre a personalidade normal e

anormal, teorias essas que continuou a revisar através de toda a sua vida, à

medida que as observações clínicas se confirmavam.

Os seguidores de Freud sustentavam as seguintes teses gerais:

Os psicólogos devem estudar as leis e os determinantes da

personalidade (normal e anormal) e elaborar métodos de tratamento

para as desordens da personalidade.

Os motivos inconscientes, as lembranças, os medos, os conflitos e as

frustrações são aspectos muito importantes da personalidade. Trazer

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esses fenômenos à consciência é uma terapia crucial para as desordens

da personalidade.

A personalidade é formada durante a primeira infância. A exploração das

lembranças dos primeiros cinco anos de vida é essencial ao tratamento.

A forma mais apropriada de estudar a personalidade é dentro do

contexto de um relacionamento íntimo e prolongado entre o paciente e o

terapeuta. Durante o curso dessa associação, os pacientes relatam

pensamentos, sentimentos, lembranças, fantasias e sonhos

(introspecção informal), enquanto o terapeuta analisa e interpreta o

material e observa o comportamento do paciente.

A teoria psicanalítica criou uma revolução na concepção e tratamento dos

problemas emocionais e gerou interesse entre os psicólogos acadêmicos pela

motivação inconsciente, a personalidade, o comportamento anormal e o

desenvolvimento infantil. As idéias psicanalistas encontram-se muito vivas

atualmente, apesar das grandes modificações que enfrentaram.

Assim sendo, segue a teoria da personalidade de Freud, para que se possa

compreender um pouco do interior do ser humano, para que depois se entenda

a sociedade.

A TEORIA DA PERSONALIDADE

Atualmente, a psicanálise está fundamentada em relatos verbais de

idéias, sentimentos e autodescrições feitas pelos pacientes. Freud estabeleceu

um paralelo entre o funcionamento patológico dos processos psíquicos e dos

normais. Ele fazia uma análise cuidadosa do comportamento verbal de

pacientes neuróticos e psicóticos a fim de estabelecer a causa de tais doenças.

Assim sendo, supunha que cada aspecto do funcionamento patológico fosse

um exagero da atividade normal. Dessa forma, a prova que Freud

freqüentemente apresentava para confirmar uma hipótese a respeito de um

componente da personalidade eram os dados obtidos com pacientes

submetidos à psicanálise.

Outra característica da psicanálise como teoria da personalidade é o fato

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de basear-se mais nos pensamentos e sentimentos do que no comportamento.

Freud acreditava – e os psicólogos que sua orientação concordavam – que o

comportamento explicito de uma pessoa só pode ser interpretado corretamente

quando há conhecimento de seus motivos, temores, sentimentos, etc. Ele

considerava o comportamento humano como:

Um resultado de lutas e acordos entre motivos, impulsos e

necessidades;

Ocorrendo em diferentes níveis de organização, de forma que

comportamentos semelhantes podem expressar diferentes forças e a

mesma pode ser representada em diferentes comportamentos;

Ocorrendo em vários níveis de consciência.

AS QUALIDADES DA VIDA PSÍQUICA

Freud opô-se à tendência dominante em sua época de explicar os

fenômenos psíquicos apenas pelos fatos que o indivíduo tem na consciência

em um determinado momento. Ele não via nos processos conscientes a

essência da vida psíquica. Ao contrário, na determinação do psiquismo, os

processos conscientes se somariam aos pré-conscientes e aos inconscientes.

Os processos conscientes são aqueles baseados nas percepções

imediatas do mundo exterior ou nas sensações do mundo interior, aqueles que

estão clara e intensamente definidos em nossa mente. Os processos latentes,

isto é, que podem vir à consciência a qualquer momento, na formas de

recordações ou lembranças, são denominados pré-conscientes. Os processos

e conteúdos psíquicos que não têm acesso fácil à consciência são os

inconscientes.

Os processos inconscientes são alógicos e têm grande fluidez e

plasticidade, de tal forma que coisas que ocorreram em momentos e espaços

diferentes podem estar unidas como elementos de um mesmo conjunto. Tais

processos nunca são observados diretamente, e quando se manifestam à

consciência vêm camuflados com um simbolismo próprio.

Essas três qualidades dos processos psíquicos (consciente, pré-

consciente e inconsciente) são dinâmicas e não descritivas da personalidade,

pois não são absolutas nem permanentes. O conteúdo da consciência em um

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determinado momento pode deixar de sê-lo no momento seguinte. Além disso,

muitas das coisas que pensamos ser verdadeiras em determinado momento se

tornam contraditórias no momento seguinte, pois outros eventos mostraram

que a nossa percepção não era a correta. Na consciência, pois, existem

processos intelectivos que podem persistir, ser substituídos ou extinguir-se.

Os processos pré-conscientes podem irromper na consciência a

qualquer momento e os inconscientes, por sua vez, por mais resistência que

ofereçam, podem ser captados pela consciência por meio de técnicas

especiais.

A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE

Segundo Freud, a personalidade é composta por três sistemas: id, ego e

superego.

O núcleo da personalidade é formado pelo id, que não tem comunicação

direta com o mundo exterior. O id é a fonte de toda energia psíquica da

personalidade. Dentro dele operam duas forças distintas, uma derivada do

instinto de vida e a outra do instinto de destruição. Cada uma dessas classes

de instintos está subordinada a um processo fisiológico especial (criação e

destruição) e ambas se conduzem de forma conservadora, buscando a

reconstituição do equilíbrio perturbado pela gênese da vida. Essa gênese seria

a causa tanto da constituição da vida como da tendência à morte. Por sua vez,

a vida seria um combate e uma transição entre ambas as tendências.

O id opera dentro do princípio do prazer, que se define pelo alívio da

tensão, pela liberação de energia e pela esquiva à dor. O objetivo do id,

portanto, é a satisfação imediata e irrestrita dos instintos. Para realizar isso, ele

dispõe de dois processos: ação reflexa e processo primário.

As ações reflexas são reações inatas que geralmente conduzem a uma

imediata redução da tensão. O organismo humano está equipado com um certo

número de reflexos que estão relacionados com formas relativamente simples

de excitação.

O processo primário envolve uma reação psicológica mais complicada. A

descarga da tensão é feita por meio de uma imagem mental. Um processo

primário, por exemplo, fornece a uma pessoa faminta a imagem do alimento.

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Essa experiência oferece uma forma alucinatória da satisfação do impulso. Tal

alucinação não ocorre automaticamente. Primeiro, a pessoa deve ter

experienciado a satisfação concreta do desejo para depois representar

mentalmente o objeto associado a essa satisfação.

Para Freud, o aparato psíquico de uma pessoa é dominado por um id,

que, por sua vez, é desconhecido e inconsciente, em cuja superfície aparece o

ego.

O ego á a parte modificada do id por influência do mundo exterior. Ele

representa a parte racional da personalidade.

Considerado sob o aspecto dinâmico, o ego é fraco. Todas as suas

energias são emprestadas do id. Sua função psicológica consiste em trazer ao

nível do pré-consciente e do consciente as exigências dinâmicas do id. Por isso

ele é considerado o “executivo” da personalidade. Ele deve considerar quais

aspectos instintivos serão satisfeitos e buscar meios para satisfazê-los, bem

como prever as conseqüências dos atos destinados à satisfação das

necessidades em questão. É preciso considerar, contudo, que, como uma parte

organizada do id, o ego existe para satisfazê-lo, e não para frustrá-lo.

Durante o longo período da infância, no qual o ser humano em

desenvolvimento vive na dependência de seus pais, forma-se no ego uma

instância especial que perpetua essa influência parental. A esse sistema Freud

deu o nome de superego. À medida que se diferencia do ego, o superego se

opõe a esta e passa a constituir a terceira força que o ego tem que levar em

conta. Uma ação do ego será correta, portanto, se satisfizer, ao mesmo, tempo,

às exigências do id, do superego e da realidade.

As relações entre o superego ficam claras, se as compararmos às

relações entre uma criança e seus pais.

O superego é o representante interno dos valores sociais que são

transmitidos inicialmente à criança pelos pais, por meio de um sistema de

recompensas e punições. Posteriormente, o superego incorpora valores que

são transmitidos por substitutos ulteriores dos pais, tais como educadores e

pessoas consideradas modelos sociais.

Embora haja diferenças fundamentais entre o id e o superego, eles têm

uma ciosa em comum: ambos representam a influência do passado – o id, as

influências herdadas, e o superego, as recebidas socialmente. Por outro lado, o

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ego é determinado pelas vivências próprias do indivíduo, pelo atual e acidental.

Em suma, a força do id expressa o verdadeiro propósito vital de um

organismo: satisfazer às suas necessidades inatas. A missão do ego é buscar

formas de satisfação que sejam mais favoráveis e menos perigosas no que se

refere ao mundo exterior. O superego, por sua vez, coloca novas necessidades

ao ego visto que sua função principal é restringir a satisfação das necessidades

inatas.

O superego aplica um rigoroso critério moral ao ego, que está à sua

mercê. O superego é assim, o representante da moralidade que nos faz sentir

culpa cada vez que o ego tenta se libertar de seu domínio, e a auto-satisfação

quando o ego se comporta de acordo com os ideais sociais. O superego é

constituído, pois de dois sistemas: o ego ideal, que representa os valores da

família, dos grupos, da religião, das raças, etc, e a consciência moral, que é a

representação da censura dos agentes sociais controladores.

A DINÂMICA DA PERSONALIDADE

A dinâmica da personalidade trata das maneiras pelas quais a energia

do id é liberada ou bloqueada.

Instintos, segundo Freud, são as forças que atuam nas tensões

provocadas pela necessidade do id.

Os princípios lógicos do pensamento não são válidos para os processos

que se passam no id. No mesmo, não existe nada que seja compatível com a

negação e que seja equivalente à representação do tempo. O id não é

ignorante em relação ao bem e ao mal, como a qualquer moral.

É possível diferenciar um número não determinado de instintos,

entretanto, para Freud há uma derivação em comum desses dois instintos: o

instinto da autoconservação e conservação da espécie (estabelece e conserva

unidades cada vez maiores; tende à união) e o de destruição ou morte (busca a

dissolução das conexões; reduz a substancia viva a um estado inorgânico) são

eles.

Esses dois instintos podem combinar-se ou contrariar-se.

A energia liberada pelo instinto de conservação foi chamada de libido.

O conteúdo do id pode passar pelo ego por dois caminhos diferentes. O

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primeiro é o direto e o segundo é por intermédio do ego ideal. As atividades

psíquicas são resultantes da eleição de um desses caminhos que levam à

libertação ou à coerção dos instintos. A coerção é realizada pelo ego ideal, que

é em parte uma formação relativa contra os instintos do id.

Esses processos de liberação e inibição da energia do id chamam-se

catexe e anticatexe (ou catexe contrária).

O mundo exterior, a energia do id e a do supergo fazem com que o ego

se sinta ameaçado. Assim sendo, surge a ansiedade, que é uma reação

emocional advinda da impotência motora ou psicológica ou de uma situação

que tenha causado trauma.

Há três espécies de ansiedade: a real, a neurótica e o complexo da

culpa.

A ansiedade real ocorre quando o ego se sente impotente frente a um

objeto ou a uma situação do mundo exterior, que pode colocar em risco sua

sobrevivência ou integridade psicológica.

Na ansiedade neurótica, o ego passa por uma experiência dolorosa que

é compatível com um bloqueio total de uma necessidade do id.

O complexo de culpa é a ansiedade produzida pela consciência moral. A

pessoa que tem um supergo muito rígido tende a ter sentimentos de culpa

quando é forçada ou não a fazer algo que seja incompatível com seu código

moral de educação.

A ansiedade é um estado doloroso que o individuo não consegue

controlar por muito tempo. Assim sendo, o ego desenvolve mecanismos de

defesa para que se possa escapar deste estado.

Os mecanismos de defesa mais conhecidos são: a projeção, a

repressão, a formação reativa, o isolamento e a sublimação.

O aspecto essencial do mecanismo de projeção é a atribuição à outra

pessoa de uma característica indesejável ou de um impulso perigoso. Um

exemplo clássico é o da pessoa pudica, a qual pensa que todos os

interessados por sexo são incontroláveis perante esta atividade (a sexualidade

é atribuída à outra pessoa e é seguida de reprovação, acaba tendo acesso à

consciência na forma de um sentimento hostil).

O pensamento, idéias ou desejo que causam ansiedade são colocados

fora da consciência na repressão (as pessoas oferecem formas enérgicas de

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resistência, quando alguém tenta que elas falem sobre o assunto

problemático).

Na formação reativa, o individuo faz o reconhecimento de um impulso

indesejável, mas impede que este seja liberado através da expressão da

energia do impulso oposto ao primeiro. A pessoa que utiliza este tipo de

mecanismo procura não admitir outro sentimento, a não ser aquele que é

manifestado de forma exagerada. É o caso das mães superprotetoras, que não

permitem que sentimentos de hostilidade contra seus filhos venham à

consciência.

Algumas vezes a bondade pode ser uma formação reativa contra a

maldade. Uma pessoa que pratique atos filantrópicos deliberadamente pode

estar tentando impedir que o prazer que sente frente à vulnerabilidade dos

outros se manifeste.

O isolamento é uma outra forma de lidar com a ansiedade. Aqui, o

conteúdo do impulso vem à consciência, mas o sentimento associado a ele é

reprimido. Este mecanismo de defesa pode estar presente nas atitudes de uma

pessoa que faz uma rígida separação entre religião e ciência, por exemplo.

Na sublimação o objeto de gratificação do instinto é substituído por um

cultural. Em uma etapa posterior, o instinto primário é afastado da consciência,

ficando apenas a expressão cultural que o substituiu.

O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE

Na teoria psicanalítica, a personalidade é resultante do desenvolvimento

das estruturas (ego e superego), dos processos de pensamento e da

sexualidade.

O ego, na busca pelo prazer, responde com ansiedade a toda a situação

esperada ou prevista de desprazer. A criança pequena é praticamente

dominada pelo principio do prazer, buscando a satisfação imediata de suas

tensões. Quando esta satisfação cessa, a criança reage emocionalmente,

chorando ou dirigindo sua cólera para o obstáculo que a impede de obter o que

deseja. Às vezes, há o uso de processos primários para diminuir a tensão

(imagens mentais, devaneios, sonhos, etc).

A transformação da relação paternal em supergo se faz por um processo

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de identificação, que vem a ser uma forma de vínculo com outra pessoa; é a

equiparação do ego de uma com o ego da outra. Inicialmente, a criança

começa a se comportar como seus pais por um processo de imitação, depois

acolhe seus valores, fazendo sua incorporação à sua personalidade. A partir do

momento que o controle parental se torne interno é que se pode falar em

superego.

O comportamento de um menino de 3 a 5 anos de idade é marcado pelo

Complexo de Édipo. Esta famosa atribuição de Freud trata da ligação amorosa

da criança com a mãe. Embora essa ligação se modifique e sofra repressão

após os 5 anos de idade, as catexes originárias do complexo permanecem

como uma forca vital da personalidade durante toda a vida. As atitudes para

com as pessoas do sexo oposto, bem como para com as que representam

autoridade são, em grande parte, frutos da forma pela qual a criança resolveu o

complexo de Édipo.

O supergo emerge como um herdeiro do complexo de Édipo. O medo da

castração leva o menino a reprimir o desejo sexual pela mãe, bem como a

hostilidade pelo pai. Este medo não é o único motivo da repressão no

complexo de Édipo, pois o mesmo sentimento ocorre nas mulheres, que, por

sua vez, não teriam medo de castração. Um outro componente importante é o

medo de perder o amor dos pais.

A menina desenvolve inicialmente uma relação de amor e dependência

para com a pessoa que cuida dela, ou seja, a mãe. Essa relação leva-a a

escolher o pai como objeto de seu amor, por ter sido o objeto escolhido por sua

mãe. Quando a menina faz esta escolha, a mãe torna-se sua rival, gerando

grande hostilidade na criança. Essa hostilidade também é superada pela

identificação com a mãe.

O medo da perda do amor não desaparece totalmente com o

desenvolvimento do superego. Alguns adultos que não resolveram

adequadamente a identificação analítica do momento da formação do supergo

se tornam extremamente dependentes dos outros, manifestando uma conduta

infantil.

No adulto, um supergo sadio reflete-se em um conjunto integrado de

valores, na capacidade de aceitar abalos à auto-estima e aceitar limitações

sem recorrer à fantasia.

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Freud acreditava que durante a infância os impulsos originários da libido

se concentram em determinadas regiões do corpo, chamadas de zonas

erógenas.

O desenvolvimento é biologicamente determinado e tem como ponto de

referência as zonas erógenas. Durante os cinco primeiros anos de vida, a

criança passa por três fases de desenvolvimento que Freud denominou pré-

genitais. Ele acreditava que as atividades características de cada fase são de

natureza sexual e exercem uma influência marcante na personalidade do

adulto.

A primeira região que surge como erógena é a boca, a segunda é o ânus

e a terceira, os órgãos genitais. O desenvolvimento emocional da criança

depende das interações sociais, das ansiedades e das gratificações que

ocorrem para as atividades ligadas a essas partes do corpo.

Desde o nascimento, a maioria das atividades da criança está

concentrada na boca, com o objetivo de satisfazer as necessidades de

autoconservação e os impulsos libidinosos.

Para Freud, a sucção do polegar, a tendência da criança colocar tudo na

boca vêm da necessidade que não está ligada somente à autoconservação.

Durante essa fase, com o aparecimento dos dentes, começam a se manifestar

também os impulsos sádicos (ligados ao instinto agressivo), mesmo que sua

expressão não se dê com freqüência.

A agressividade é manifestada com maior extensão durante a segunda

fase, chamada de sádico-anal, já que a satisfação se realiza na agressão e na

função excretora. Freud justifica a inclusão dos impulsos agressivos na libido

argumentando que o sadismo é a fusão dos impulsos libidinosos com os

destrutivos. Essa fusão permanece por toda a vida.

A terceira fase – fase fálica – é a que antecede da forma final da vida

sexual. Desse momento em diante, os sexos se diferenciam. Os meninos

entram na fase edipiana e as meninas sofrem sua primeira desilusão quando

tomam consciência das diferenças existentes entre o homem e a mulher.

O complexo de Édipo termina, no menino, por causa da ansiedade de

castração. Nas meninas, a problemática edipiana não é tão intensa quanto nos

meninos. É por causa disso que as mulheres desenvolvem um superego mais

fraco e menos severo, o que explica o fato delas serem mais bondosas e mais

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compreensíveis de que os homens.

Os componentes de uma fase não são substituídos com o aparecimento

de outra. Eles podem se sobrepor ou ocorrer simultaneamente. Nas duas

primeiras fases, os diferentes componentes instintivos começam a buscar o

prazer independentemente um do outro. Na fase fálica, inicia-se uma

organização que subordina a satisfação dos outros impulsos aos genitais. Essa

organização só se completará na puberdade, ou seja, na quinta fase, a fase

genital, na qual há a conservação de algumas catexes primitivas que se

incorporam à função sexual como atividades preparatórias. Outros impulsos, no

entanto, são excluídos da organização. A energia gerada por esses impulsos

ou é totalmente suprimida por um processo de repressão ou é expressa de

outras maneiras, constituindo-se em características da personalidade, ou ainda

é sublimada com o deslocamento de seus fins.

O processo de organização da vida sexual não se realiza sem

dificuldades. Podem ocorrer inibições no seu desenvolvimento. Quando isso

acontece, encontramos nas fixações da manifestação da libido características

de qualquer uma das três fases iniciais. Nesses casos, os impulsos da libido

tornam-se independentes de seus objetivos sexuais e transforma-se em

perversões.

Freud deu extrema importância às catexes dos cinco primeiros anos de

vida na determinação da personalidade. Segundo ele, a personalidade é

resultante, em grande parte, dos impulsos fixados nesse período. A isso se

acrescentam os impulsos adquiridos por meio da sublimação e os mecanismos

de defesa do ego, destinados a substituir os impulsos libidianos e agressivos

por outros socialmente aceitos.

Entre a terceira e a quinta fases do desenvolvimento, há um período em

que os impulsos sexuais apresentam uma certa calmaria, não ocorrendo

nenhum progresso. Essa fase foi denominada de latência e não mereceu

interesse por parte de Freud. Nesse período há o desenvolvimento dos

processos cognitivos e a maior parte da energia psíquica é gasta no

conhecimento do mundo.

As proposições freudianas exercem profunda influência na maioria dos

estudiosos da personalidade. Alguns deles seguiram a linha psicanalítica,

embora tenham rejeitado alguns conceitos e ampliados outros. Outros teóricos,

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contudo, se dedicaram à comprovação experimental dos conceitos essenciais

da teoria psicanalítica. Depois de algum tempo de pesquisa, alguns rejeitaram

toda a proposta dessa teoria quanto ao desenvolvimento da personalidade.

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O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO

De acordo com o trabalho psicanalítico, pôde-se constatar que todas as

frustrações da vida sexual são equivalentes às que as pessoas neuróticas não

conseguem suportar.

Em seus sintomas, um neurótico inventa tipos de satisfação

substitutivas. As conseqüências disso têm dois lados distintos: podem causar

sofrimento em si próprias (surgindo, portanto, um novo problema) ou podem

acabar por provocar com que a relação deste indivíduo especial com a

sociedade e com o meio- ambiente seja complicada. A civilização, porém, exige

outros sacrifícios, além do da satisfação sexual.

A dificuldade do desenvolvimento cultural surge como uma dificuldade

geral do desenvolvimento, fazendo com que a origem remonte à inércia da

libido, à falta de vocação desta para abandonar uma posição antiga por outra

nova.

O RELACIONAMENTO AMOROSO

Ao fazer uma antítese entre a civilização e a sexualidade, nos baseamos

no sentido da segunda ser originária da idéia de que o amor sexual pode

construir em dois indivíduos um relacionamento, no qual a participação de

outros é vista como supérflua.

Um relacionamento fortificado, em seu apogeu, não requer filhos ou

quaisquer outras circunstâncias; é suficiente para fazer com que os amantes

sejam felizes com o que têm em comum. Há, portanto, uma indicação a Eros,

na qual refere-se à busca do fazer um ser único, uma fusão entre dois seres

humanos, que pode ser realizada através do amor carnal. A partir daí, não há

nenhum interesse em ir além desta etapa.

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A SOCIEDADE

A sociedade tem objetivos que exigem a restrição da vida sexual dos

indivíduos. É utopia pensar em uma sociedade que seja revestida única e

somente de indivíduos satisfeitos em si mesmos, vinculados através de elos de

trabalho e interesse comuns. Assim sendo, a civilização, desmascarada pela

realidade, não se sente contente com as ligações que até agora lhes foram

cedidas; e seu caminho é ainda um mistério, já que não conseguimos entender

o por quê de seu antagonismo à sexualidade.

“AMARÁS TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO”

A exigência acima é cronologicamente mais antiga que o Cristianismo.

Entretanto, não é antiga em excesso, pois ainda é estranha à humanidade.

Este mandamento aparece como uma grande questão. Para o ser humano, e

para as reflexões que são encontradas ao longo do ensaio, há uma dificuldade

muito grande em aceitar amar os outros como a nós mesmos. É como se

nosso self fosse algo tão extremamente importante, que seria quase impossível

considerar sentir o mesmo por outra pessoa. Pela mente, percorrem

indagações que enaltecem o amor de cada individuo pelo objeto da atração,

por pessoas conhecidas e por estranhos totais.

Ao tratar do objeto de atração, Freud afirma que todo o questionamento

feito se dá de forma a considerar nosso amor mais importante e infinitamente

menos pedinte que o do outro, ou seja, se pensamos no nosso amor para com

o outro, não exigimos nada, não queremos nada em troca, mas o outro sempre

tem algum tipo de interesse para conosco, além de sempre fazermos uma

espécie de teste para ver se tratamos de pessoas que sejam dignas de nosso

valioso amor.

Quando existe a possibilidade de amar um conhecido, notei uma espécie

de revolta. O autor coloca em prática as questões de justiça. Como ser dotado

de tamanha solidariedade, a ponto de sofrer com a angústia de uma pessoa

que nem é tão próxima a mim? A partilha de sentimentos parece ser

demasiado complicada neste caso.

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Contudo, a maior dificuldade se apresenta no caso do amor para com

um estranho. Especialmente se o desconhecido não apresentar quaisquer

fatores que o aproximem de nossa realidade. À partir daí, o autor descreve

vários tipos de preocupações e é bastante enfático quando diz que um

estranho pode deliberadamente fazer mal a nós mesmos se sentem que são

menos fracos e poderosos. Acredito nisso como uma tentativa de proteção: ser

o monstro para não ser a vítima. No entanto, encaro esta pressuposição como

uma espécie de mania de perseguição: não são todas as pessoas estranhas

que irão querer fazer mal a nós, e ainda como uma manifestação de

egocentrismo, já que é o mundo que tem sua órbita, e não nós mesmos.

“AMA A TEU PRÓXIMO COMO ELE TE AMA”

Segundo o autor, o mandamento acima parece mais cabível. Porém,

acredito que não podemos penetrar a mente de ninguém e, portanto, nunca

saberemos como e quanto as pessoas nos amam. Além disso, acho que agir

com as pessoas da mesma forma pela qual agem conosco é só uma maneira a

mais de não conseguir plenitude, e sim, de igualar-se às eventuais podridões

que possamos encontrar.

“ESTAMOS SEMPRE QUERENDO AMAR A NÓS MESMOS EM OUTRA

PESSOA”

A primeira vez que ouvi esta frase foi em um filme (“Corações

apaixonados”). Na verdade, foi uma paráfrase. Dizia: “estamos apaixonados

quando conseguimos enxergar a nós mesmos nos olhos do outro”. Em primeira

mão, achei algo muito bonito, mas agora pondero se não seria apenas uma

forma de estarmos nos concentrando cada vez mais dentro de nós mesmos,

em uma atitude egocêntrica.

Freud ainda considera que os homens irão pensar e se comportar

da mesma maneira que o self descrito age. O comportamento do ser humano é

liderado por uma ética, que surgiu face às necessidades políticas e econômicas

de um mundo capitalista em ascensão. Tal ética faz com que haja uma divisão

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entre o bem e o mal. A obediência às elevadas exigências éticas fazem com

que a sociedade seja vítima de prejuízos acarretados por seu próprio incentivo

ao mal.

HOMO HOMINI LUPUS

O fato que as pessoas estão dispostas a repudiar, esquecer e não

discutir é o seguinte: o homem não é um ser naturalmente bom. São, na

verdade, criaturas hostis e, sobretudo agressivas, movidas por um instinto

animal. Assim sendo, o outro é visto como um objeto, seja ele de exploração da

própria agressividade do self, de múltiplas formas de humilhação, e do sexo.

A agressividade cruel, encontrada na psique dos mais diversos serial

killers e estupradores, vem de alguma provocação. Podem ser experiências

marcantemente terríveis ou algum tipo de complexo inexplicado. O importante

é grifar que uma provocação é necessária.

A inclinação para a agressão, detectada em nós mesmos e suposta no

próximo, faz com que todos os nossos relacionamentos sejam sabotados. A

sociedade, portanto, sob ameaça constante de ser desintegrada, já que o

sentimento comum entre os seres humanos não é o bastante para conter as

necessidades da natureza original agressiva.

A conexão entre os tópicos debatidos até agora se dá no momento em

que a sociedade é identificada como culpada pelo emprego dos métodos

destinados a incitar as pessoas à identificação e a relacionamentos amorosos

inibidos em sua finalidade, o que leva à restrição da vida sexual e justifica toda

a razão de enaltecer o mandamento, que tão fortemente vai contra a

agressividade do homem.

A QUESTÃO DA VIOLÊNCIA

A violência deliberada não é defendida, mas há toda uma espécie de

julgamento para quando e como a mesma será utilizada. Entretanto, como é

possível crer que tal julgamento é justo o suficiente. Afinal, quem é mais ou

menos capaz de julgar o próximo?

A sociedade, por sua vez, parece cometer atos dissimulados para com

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os seus. Violenta os seres, dando oportunidades de sonhos, desejos e

esperanças e retirando-os, forçando uma denominada “maturidade”, ou seja,

responsabilidade para com a sociedade, fazendo com que esta continue a

incrementar sua máquina de alienação.

É importante destacar que oposição não é um sinônimo de inimizade. Os

homens inventaram diversas formas de experimentação de oposições que

funcionam, como os jogos em geral. Porém, tudo há de ser regulamentado por

leis.

OS COMUNISTAS

Os comunistas crêem ter encontrado o caminho para nossa liberdade

dos males. Toda a teoria é embasada em uma crítica direta ao capitalismo. Diz-

se que a propriedade privada é uma tentação para humilhar e destratar o

próximo, corrompendo a natureza do homem. Assim sendo, não podemos

acreditar que o homem é agressivo por instinto. Temos que ver o self

primitivamente bom. Pode-se pensar, portanto, que há base cristã nos

preceitos comunistas, ou seja, “amar o próximo como a si mesmo”. A abolição

da propriedade privada traria uma suposta igualdade. Na realidade, o ser

humano nunca vai conseguir ser feliz por completo. Sempre quer mais

(obviamente guiado pelo capitalismo).

É necessário dizer que a agressividade não foi criada pela propriedade privada.

Mesmo que haja privações no campo material, ainda haverá a

prerrogativa das relações sexuais. Se a liberdade da vida sexual existisse, não

teríamos mais famílias, raízes, etc, uma característica indestrutível da natureza

humana seguirá a civilização.

Não é fácil aos homens abandonar sua característica agressiva. Não há

conforto sem ela. Funciona como uma justificativa para a expressão total do

self:

“É sempre possível unir um considerável número de pessoas no amor,

enquanto sobrarem outras pessoas para receberem as manifestações de sua

agressividade. Em outra ocasião, examinei o fenômeno no qual são

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precisamente comunidades com territórios adjacentes, e mutuamente

relacionadas também sob outros aspectos, que se empenhem em rixas

constantes ridicularizando-se umas às outras, como os espanhóis e os

portugueses, por exemplo, os alemães do Norte e os alemães do Sul, os

ingleses e os escoceses”.

A este fenômeno foi dado o nome de “narcisismo de poucas diferenças”,

cuja denominação não ajuda muito em explicá-lo.

O HOMEM CIVILIZADO TROCA A FELICIDADE POR SEGURANÇA

A civilização dificulta a felicidade do homem através de suas imposições.

Sacrifícios são exigidos no panorama da sexualidade e da agressividade do

homem. O homem civilizado troca felicidade por segurança.

A idéia de repressão ao ser humano em prol do funcionamento da

sociedade é estudada por diversos ângulos e, portanto, partilhada por autores

de diferentes linhas de pensamento.

De acordo com Louis Althusser, vivemos sob o domínio de Aparelhos do

Estado, título que compreende o governo, a administração, o exército, a polícia,

os tribunais, as prisões. Conhecidos também como o aparelho repressivo do

Estado, funciona através da violência. Como estamos tratando de Freud e de

sua defesa sobre a repressão sexual ser necessária para o bom andamento do

Estado, podemos encontrar uma satisfatória conexão entre estes dois autores.

O aparelho repressivo do Estado funciona predominantemente através

da repressão, grifa-se inclusive física e em segundo plano através da ideologia.

A Polícia, por exemplo, funciona através de sua própria ideologia, para que

possa garantir sua própria coesão e reprodução, a fim de divulgar seus

“valores”.

Marx, por sua vez, apresenta uma tradição formal que acredita no

Estado como uma máquina de repressão que permite às classes dominantes

assegurar a sua dominação sobre a classe operária, para submete-la ao

processo de extorsão da mais-valia (ou seja, à exploração capitalista). Gramsci

partilha da mesma opinião marxista.

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Freud considera seu ensaio como uma tentativa de exercer um direito

justo, o questionamento sobre o lugar que nos rege. Segue uma citação que

considerei bastante esperançosa e apta à aceitação de alguns fatores que

possam ser realmente inevitáveis:

“Podemos esperar efetuar, gradativamente, em nossa civilização alterações

tais, que satisfaçam melhor nossas necessidades e escapam a nossas críticas.

Mas talvez possamos também nos familiarizar com a idéia de existirem

dificuldades, ligadas à natureza da civilização, que não se submeterão a

qualquer tentativa de reforma. Além e acima das tarefas de restringir os

instintos, para as quais estamos preparados, reivindica nossa atenção o perigo

de um estado de coisas que poderia ser chamado de “pobreza psicológica dos

grupos”.

A “pobreza psicológica dos grupos” é mais ameaçadora onde os

vínculos de uma sociedade são dados pela identificação mútua.

“O presente estado cultural dos Estados Unidos da América nos proporcionaria

uma boa oportunidade para estudar o prejuízo à civilização, que assim é de se

temer. Evitarei, porém, a tentação de ingressar numa crítica da civilização

americana; não desejo dar a impressão de que eu mesmo estou empregando

métodos americanos”.

Assim sendo encerro a discussão com uma possibilidade assustadora,

que parece se concretizar dia após dia, como foi visto na citação acima.

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BIBLIOGRAFIA:

ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado. Graal. 3a. edição.

1976.

DAVIDOFF, L.L. Introdução à Psicologia. São Paulo: Megraw-Hill, 1983.

RAPPAPORT, C et alii. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo:

E.P.U.

Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de

Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. 1969.

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