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PODER JUDICIÁRIO
Gabinete do Desembargador Orloff Neves Rocha
PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL
AGRAVO REGIMENTAL NA APELAÇÃO CÍVEL Nº 226801-
48.2004.8.09.0051(201494255120)
COMARCA : GOIÂNIA
APELANTES : WAGNER DE SOUZA CARNEIRO E OUTROS
APELADA : DEUZANÉSIA INOCÊNCIA DE GODÓI
RELATOR : Desembargador ORLOFF NEVES ROCHA
RELATÓRIO E VOTO
DEUZANÉSIA INOCÊNCIA DE GODÓI ajuizou Ação de
Usucapião Extraordinária em face de WAGNER DE SOUZA CARNEIRO e
DALVA CHAGAS DA SILVA.
A parte requer a declaração de domínio do imóvel
denominado lote 11, quadra 38, Rua Apuca, Bairro Capuava, Goiânia/GO.
Citados, os requeridos defenderam-se e atravessaram
pedido reconvencional.
Após audiência de instrução e julgamento, repetida a
pedido do MP, com debates orais substituídos por memoriais, o MM. Juiz de
Direito proferiu sentença, para acolher o pedido da parte autora e rejeitar o
pleito reconvencional dos réus.
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Logo após, rejeitou os dois recursos de embargos de
declaração, opostos da sentença.
Irresignados, os requeridos interpõem Apelação cível.
Defendem que a posse da parte autora encontra-se
maculada pelo vício da precariedade, mácula essa que não se dissolve nem
se apaga por mera vontade do possuidor. Houve mera tolerância dos
apelantes para com a permanência da apelada em sua propriedade.
Destacam trechos dos depoimentos das testemunhas,
reproduzidos na audiência de instrução e julgamento, que, segundo eles,
demonstram o equívoco da decisão ao valorar as provas dos autos.
Afirmam que não houve participação do MP em todas as
fases do processo, o que teria gerado nulidade insanável. Aponta vício de
motivação.
Concluem pelo provimento do recurso, a fim de ser
rejeitado o pedido de usucapião.
Contrarrazões nos autos.
A Procuradoria de Justiça manifestou-se pelo provimento
do recurso.
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Através de pronunciamento monocrático, foi dado
provimento ao apelo, reformando a sentença, para julgar improcedente o
pedido principal e inverter os ônus sucumbenciais.
Irresignada, a autora/apelada desafia Agravo regimental.
Para atingir este desiderato, esclarece que a “(...) quem
postula a usucapião extraordinário é a DEZANÉSIA INOCÊNCIA DE GODOI e
não o Sr. Airton que faleceu em 24 de janeiro de 1991. A agravante reside
no imóvel desde a data do falecimento do esposo. Pelos depoimentos, as
testemunhas, fazem referência a todo o momento sobre o falecido, e na
parte que dizem sobre a postulante, os mesmos deixam claros que nunca
ouviu a Dona Deuzanésia falar que morava na casa de favor” (f. 546).
Defende que algumas testemunhas não eram totalmente isentas, não
devendo, pois, ter sido ouvidas. Ao cabo de suas alegações, requer o juízo
de retratação do relator ou seja a sua decisão monocrática submetida ao
colegiado, restabelecendo-se a sentença “a quo”.
RELATADOS. FUNDAMENTO E DECIDO.
Deixo de me retratar, levando ao conhecimento do Órgão
Colegiado o Agravo Regimental que hostiliza decisão monocrática do Relator
que reformou o ato jurisdicional “a quo”.
Os princípios constitucionais que garantem o livre acesso
ao Poder Judiciário, o contraditório e a ampla defesa, não são absolutos e
hão de ser exercidos, pelos jurisdicionados, por meio das normas
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processuais que regem a matéria, não se constituindo negativa de prestação
jurisdicional e cerceamento de defesa a inadmissão de recursos quando não
observados os procedimentos estatuídos nas normas instrumentais (STF,
Segunda Turma, AI-AgR 152.676/PR, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ
03.11.1995, pp. 37.245).
Para reformar a sentença singela, motivou a decisão de
gabinete, ora recorrida:
Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com
súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal
Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar
provimento ao recurso (CPC, art. 557, § 1º-A).
Rejeito de plano todas as preliminares.
O MP atuou no procedimento, sendo saneado o procedimento e
lançado parecer sem que o próprio órgão ministerial suscitasse
o suposto vício, ao cabo do feito.
Foram expostas as razões de fato e de direito que levaram o
julgador a firmar o seu livre convencimento motivado a
despeito das demandas principal e reconvencional.
De acordo com o art. 1.238 do CC/02, aquele que, por quinze
anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um
imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de
título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare
por sentença, a qual servirá de título para o registro no
Cartório de Registro de Imóveis.
O parágrafo único preconiza que o prazo estabelecido no artigo
reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no
imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou
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serviços de caráter produtivo.
Os órgãos do Ministério Público, tanto o de piso quanto o órgão
que atua no Tribunal, foram unânimes ao verificar que a
apelada não tinha posse sobre o imóvel requerido. Lá esteve
morando com seu falecido marido anos a fio, mas por atos de
mera tolerância dos apelantes.
Em verdade, estavam as partes ligadas entre si por um
contrato de comodato, conceituado como empréstimo gratuito
de coisas não fungíveis.
A letra do art. 1.196 do CC/02 considera possuidor todo aquele
que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes à propriedade.
Esclarece de forma inobjetável não induzir posse os atos de
mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua
aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de
cessar a violência ou a clandestinidade (cf. art. 1.208).
Como se vê da cota ministerial do Parquet de piso:
A prova testemunhal foi elucidativa no sentido de demonstrar que a requerente e seu falecido marido permaneceram no imóvel em decorrência da afinidade com o requerido que cedeu o bem para que eles ali residissem.Maria José da Silva: '(…) compromissada, disse que sabe que ela mudou para o Setor Capuava porque o esposo dela era caminhoneiro e o imóvel ficava perto da firma onde ele trabalhava e que foi o dono da firma que os colocou no imóvel' (…)' (fls. 376).Em seguida, o depoimento da testemunha Sebastião Dias dos Santos: '(…) compromissado disse que o Sr. Ayrton falou pra o depoente que o Sr. Wagner emprestou o imóvel para ele morar e para ela (autora) não pagar aluguel. (…)' (fls. 377).A seu turno, a testemunha Maurício Carlos Biancardini: '(…) narrou que a autora e seu marido moravam na casa do Wagner de favor. (…)' (fls. 378).Por sua vez, Enivaldo Moreira: '(…) confirmou que o casal ficou com dó e cedeu a casa para eles morarem sem pagar aluguel, por empréstimo, porque o marido da autora trabalhava para o
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Sr. Wagner. (…)' (fls. 379).Com efeito, não é possível extrair-se dos autos outra conclusão se não a de que o Réu, por vínculo de afinidade com a Autora, sempre permitiu, como ato de solidariedade, antes e depois da morte do marido, que a demandante residisse no local.(…)Na hipótese concreta, evidente a ausência de 'animus domini' para aquisição do domínio por usucapião. A prova dos autos é inconteste quanto a permissão do proprietário à Requerente na ocupação de parte do imóvel, evidenciando o caráter precário da posse. Assim a posse precária e a ausência de 'animus domini' não geram direito a usucapião'.(f. 413-415)A mesma conclusão adotou a Procuradoria de Justiça. Naquilo
que interessa:
'In casu', assiste razão aos apelantes, pois a apelada residia no imóvel em questão mediante atos de mera permissão e tolerância, situação esta que não pode induzir posse, nos termos do artigo 1.208 do Código Civil, e que restou devidamente comprovada nos autos por meio dos depoimentos testemunhais de fls. 376/379 (numeração em duplicidade).A seguir, alguns trechos dos referidos depoimentos:'Depoimento de Sebastião Dias dos Santos (fl. 377): Que conheceu o Sr. Ayrton finando marido da Dona Deuzaneria; Que foi colega de trabalho do Ayrton por dois ou três anos na empresa do Sr. Wagner de 1990 a 1991; (…) Que o imóvel que o Sr. Ayrton falou para o depoente que o Sr. Wagner emprestou o imóvel para ele morar para ela não pagar aluguel; (…) Que já ouviu do Sr. Wagner, quando trabalhou na empresa, que ele tinha emprestado a casa para o Sr. Ayrton para não pagar aluguel. (grifamos)Depoimento de Mauricio Carlos Biancardini (fl. 378): Que conheceu o Sr. Ayrton finando marido da Dona Deuzanesia; Que era colega de pescaria e amigo do Sr. Ayrton durante a vida dele; (…) Que o Ayrton contou para o depoente que a casa que ele morava era do Wagner e que ele morava lá por concessão do Wagner; (…) Que o Ayrton falou para o depoente que morava na casa de favor; (…) Que se lembra que um dos filhos do Sr. Ayrton de nome Nelton disse para o depoente que morava na casa de favor. (grifamos)'Dessa forma, sabendo-se que a apelada exercia posse do imóvel por mera permissão e tolerância dos proprietários, ausente está o requisito da usucapião, qual seja, o ânimo de dono.
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(f. 528-529)Fatal concluir que entre os litigantes houve um contrato de
comodato verbal, que de modo algum se assemelha à posse,
esta vista pelo CC como um dos requisitos à aquisição
originária da propriedade pela usucapião.
A despeito do assunto, a jurisprudência do STJ não oscila:
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO. NÃO COMPROVAÇÃO DOS REQUISITOS LEGAIS. AGRAVO NÃO PROVIDO.1. Para que haja o reconhecimento da usucapião, a parte deve provar o cumprimento dos requisitos legais, dentre eles, que exerce a posse por si mesma, de forma exclusiva e com efetivo animus domini pelo prazo determinado em lei, sem nenhuma oposição dos demais proprietários, circunstâncias inocorrentes no caso.2. Agravo regimental não provido.(AgRg no AREsp 470.275/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 18/11/2014, DJe 21/11/2014)__EMENTA: PROCESSO CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE IMISSÃO NA POSSE - ALEGAÇÃO DE EXISTÊNCIA DECONTRATO DE COMODATO - ANÁLISE DO QUADRO PROBATÓRIO QUANTO À INEXISTÊNCIA DO VÍNCULO JURÍDICO - INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7 - DIVERGÊNCIA NÃODEMONSTRADA. RECURSO IMPROVIDO 1.- A posse oriunda de contrato de comodato impede a caracterização de animus domini, não podendo o período de vigência do contrato ser computado para aferição de usucapião. Não têm os possuidores de má-fé direito à indenização pelas benfeitorias realizadas, salvo as necessárias, que devem ser provadas. Portanto, rever esse conteúdo implica necessariamente revisão de quadro probatório. (...) Agravo Regimental improvido.(AgRg no AREsp 133.028/MS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/04/2012, DJe 08/05/2012)EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL - OFENSA AO ART. 535 DO CPC - INEXISTÊNCIA - REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO - IMPOSSIBILIDADE - SÚMULA 07/STJ.1.- A jurisprudência desta Casa é pacífica ao proclamar que, se os fundamentos adotados bastam para justificar o concluído
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na decisão, o julgador não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos utilizados pela parte.2.- O Tribunal de origem negou a possibilidade de usucapião, porque, analisando a prova dos autos, concluiu que o pai da Recorrente, que lhe transmitiu a posse do imóvel em litígio, nunca teve, de fato, a posse sobre ele, mas mera detenção, tendo em vista a existência de um contrato de comodato firmado com o proprietário. A pretensão recursal, assentada em premissa fática diversa, demanda, para seu exame, o revolvimento do substrato fático-probatório, o que é vedado pela Súmula 07/STJ.3.- Agravo Regimental a que se nega provimento.(AgRg no AREsp 209.245/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/02/2013, DJe 01/03/2013)Igualmente, o TJGO:
DUPLA APELAÇÃO E AGRAVO RETIDO. AÇÃO DE USUCAPIÃO. INDEFERIMENTO DE PROVA PERICIAL. FACULDADE DO MAGISTRADO. REQUISITOS DO USUCAPIÃO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. POSSE PRECÁRIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MANUTENÇÃO. 1. Correto o indeferimento do pleito de produção de prova pericial quando esta mostra-se desnecessária para o deslinde da causa, cabendo ao julgador a referida análise, a teor do que dispõe o artigo 130 do Código de Processo Civil. 2. Os atos de permissão ou de mera tolerância induzem posse precária, cujo vício não se convalesce pelo decurso do tempo, nem pela vontade unilateral do possuidor. Inteligência dos artigos 1203 e 1208 do Código Civil. 3. Não preenchidos os requisitos necessários à concessão do pleito de usucapião, não se desincumbindo os autores de comprovar os fatos constitutivos de seu direito, a improcedência da ação é medida que se impõe. 4. Descabe alteração da verba honorária fixada na forma equitativa prevista no § 4º do artigo 20 do diploma legal. RECURSOS DE APELAÇÃO E AGRAVO RETIDO CONHECIDOS E DESPROVIDOS.(TJGO, APELACAO CIVEL 40701-22.2010.8.09.0100, Rel. DES. JEOVA SARDINHA DE MORAES, 6A CAMARA CIVEL, julgado em 24/02/2015, DJe 1739 de 04/03/2015)EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE REQUISITO PARA AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE. ARTIGO 1.238 DO CÓDIGO CIVIL. AUSÊNCIA DE ANIMUS DOMINI. 1 - A legislação civil estabelece os requisitos necessários para a
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aquisição de propriedade pelo usucapião, quais sejam, lapso temporal, posse mansa e pacífica e animus domini. 2 - A posse decorrente de mera permissão ou tolerância dos proprietários inviabiliza o pleito prescricional aquisitivo, diante da ausência de intenção de possuir o imóvel como seu, nos termos do art. 1.238, do Código Civil. 3 - O apelante não conseguiu comprovar o animus domini e, de consequência, não preencheu os requisitos do artigo 1.238 do Código Civil.(TJGO, APELACAO CIVEL 100019-14.2007.8.09.0011, Rel. DES. GERSON SANTANA CINTRA, 3A CAMARA CIVEL, julgado em 21/10/2014, DJe 1659 de 23/10/2014)
Os testemunhos, colhidos em juízo sem oposição das
partes, porque deixaram de contraditar as testemunhas oportunamente
arroladas (cf. termo da audiência de f. 372), foram analisados como um
todo, sem prejuízo de outros documentos trazidos pelas partes em suas
peças de ação e defesa, os quais levaram à conclusão incensurável de que
as partes, incluindo o falecido marido da agravante, estavam ligados entre si
por um contrato de comodato.
Importa ressaltar, ainda, que não fora um único testigo
que permitiu a conclusão objurgada, mas todo o conjunto probatório,
externada sua valoração quando transcritos os pareceres ministeriais.
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao Agravo.
Goiânia, 28 de abril de 2015.
Desembargador ORLOFF NEVES ROCHA
Relator
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EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA APELAÇÃO
CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO E RECONVENÇÃO.
PEDIDO PRINCIPAL ACOLHIDO E DEMANDA
RECONVECIONAL REJEITADA NA SENTENÇA.
DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR QUE,
PROVENDO O RECURSO APELATÓRIO DOS RÉUS,
REFORMOU A DECISÃO “A QUO” PARA JULGAR
IMPROCEDENTE O PEDIDO PRINCIPAL,
RECONHECENDO NÃO HAVER POSSE DA PARTE
AUTORA SOBRE O BEM RECLAMADO, MAS ATO DE
MERA TOLERÂNCIA DOS PROPRIETÁRIOS. PROVAS
ANALISADAS COMO UM TODO. PRONUNCIAMENTO
“AD QUEM” MANTIDO.
1. A parte autora requereu a declaração de domínio do
imóvel denominado lote 11, quadra 38, Rua Apuca, Bairro
Capuava, Goiânia/GO, reconhecida na sentença e
afastada pela decisão monocrática do relator, esta última
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submetida ao crivo do órgão colegiado.
2. Concluiu a decisão “ad quem”, embasada nas provas
produzidas e também com as cotas ministeriais, que a
autora e seu falecido marido, que residiram no imóvel
reclamado, nunca detiveram a posse, lá permanecendo
por atos de mera tolerância, em virtude de contrato de
comodato verbal firmado com os réus/agravados.
3. Decidiu o STJ que “a posse oriunda de contrato de
comodato impede a caracterização de 'animus domini',
não podendo o período de vigência do contrato ser
computado para aferição de usucapião” (AgRg no AREsp
133.028/MS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 24/04/2012, DJe 08/05/2012). No
mesmo sentido, o TJGO possui jurisprudência pacífica de
que “a posse decorrente de mera permissão ou tolerância
dos proprietários inviabiliza o pleito prescricional
aquisitivo, diante da ausência de intenção de possuir o
imóvel como seu, nos termos do art. 1.238, do Código
Civil” (TJGO, APELACAO CIVEL 100019-
14.2007.8.09.0011, Rel. DES. GERSON SANTANA CINTRA,
3A CAMARA CIVEL, julgado em 21/10/2014, DJe 1659 de
23/10/2014).
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos do
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AGRAVO REGIMENTAL NA APELAÇÃO CÍVEL Nº 226801-
48.2004.8.09.0051(201494255120), da Comarca de Goiânia, em que figura
como apelantes WAGNER DE SOUZA CARNEIRO E OUTROS e como
apelada DEUZANÉSIA INOCÊNCIA DE GODÓI.
Acorda o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, pela
Quarta Turma Julgadora de sua Primeira Câmara Cível, à unanimidade de
votos, em IMPROVER O AGRAVO REGIMENTAL, tudo nos termos do voto
do Relator.
Presidiu a sessão de julgamento, a Excelentíssima
Senhora Desembargadora Maria das Graças Carneiro Requi.
Votaram acompanhando o Relator Desembargador Orloff
Neves Rocha o Desembargador Luiz Eduardo de Sousa, e a Desembargadora
Amélia Martins de Araújo.
Representou a Procuradoria Geral de Justiça, a Dra. Laura
Maria Ferreira Bueno.
Goiânia, 28 de abril de 2015.
Desembargador ORLOFF NEVES ROCHA
Relator
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