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Universidade Cândido Mendes AVM FACULDADE INTEGRADA Curso de Psicopedagogia Institucional Dificuldades de aprendizagem: o apoio pedagógico como coadjuvante do trabalho do professor regente no processo ensino-aprendizagem Cristiane de Fátima Silva Moura Prof. Orientador Fabiane Muniz Belo Horizonte 2016

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Universidade Cândido Mendes

AVM FACULDADE INTEGRADA

Curso de Psicopedagogia Institucional

Dificuldades de aprendizagem: o apoio pedagógico como coadjuvante do trabalho do professor regente no processo

ensino-aprendizagem

Cristiane de Fátima Silva Moura

Prof. Orientador Fabiane Muniz

Belo Horizonte

2016

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Universidade Cândido Mendes

AVM FACULDADE INTEGRADA

Curso de Psicopedagogia Institucional

Dificuldades de aprendizagem: o apoio pedagógico como coadjuvante do trabalho do professor regente no processo

ensino-aprendizagem.

Cristiane de Fátima Silva Moura

Trabalho a ser apresentado à Universidade Cândido Mendes como requisito para obtenção do título de Pós-Graduado em Psicopedagogia Institucional.

Orientador: Prof. Fabiane Muniz

Belo Horizonte

2016

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pai soberano... A ele toda honra e glória.

Aos meus pais, Roberto Geraldo ( hoje na glória ) e

Maurina Matos pelo incentivo e amor incondicional.

Dudu, meu filho adorado e querido; Roberta, minha

princesa mais que esperada. Por vocês é sempre

minha perseverança nos estudos.

Wemerson, meu amor, obrigado por ser tão Meu.

De um modo geral agradeço a todos pelo apoio

direto e indireto.

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As crianças precisam de pão e de rosas...

...As crianças têm necessidade de pão, do pão do corpo e do espírito, mas necessitam mais das rosas do teu olhar, da tua voz, do teu pensamento e da tua promessa. Precisam sentir que encontram em ti a ressonância; falar a alguém que as escutem; de escrever a alguém que as leia ou as compreenda; de produzir alguma coisa de útil e de belo que é expressão de tudo o que nelas trazem de generoso e de superior.

Com este lema a escola foi criando imagens e se tornando o refugio para aqueles que foram excluindo de outras escolas e se torna o local aonde a vida pode se tornar propicia e respeitada.

(FREINET)

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RESUMO

A relação pedagógica que acontece na escola entre o supervisor

pedagógico, o professor e o aluno é de fundamental importância. O sucesso

dessa relação depende de vários fatores internos e externos, que podem

interferir no processo de ensino aprendizagem. Este estudo se justifica por

buscar compreender estes fatores e tentar, através da pesquisa, buscar

soluções que visam à melhoria da qualidade do ensino. Visa subsidiar ainda o

trabalho do supervisor para dar um melhor suporte ao professor na realização

de seu trabalho. Estudiosos se preocuparam em mais de um século em

mostrar situações extra-sistema nervoso central que interferem na

aprendizagem. No final do século XIX, as autoridades passaram a dar mais

atenção à necessidade que o indivíduo tinha de aprender. Aprender se tornou,

então, uma necessidade e com o tempo foram se modificando as técnicas de

ensino. Com isso fez–se necessário que tanto os especialistas como os

professores renovassem sua formação acadêmica. O supervisor deve analisar

os procedimentos de ensino, verificando, assim, até que ponto as dificuldades

são realmente da criança. Sabe-se que a ineficácia do ensino tem sido grande

e que uma grande parcela de alunos da escola pública tem chegado ao Ensino

Médio com muitas dificuldades. Vários são os fatores que interferem no

processo ensino-aprendizagem; estão relacionados ao professor, à família, à

escola quanto espaço físico e social e principalmente ao aluno que pode ou

não estar diagnosticado com alguma anormalidade. Tais fatores são também

diretamente de responsabilidade de todos envolvidos no contexto. Portanto

juntos deve-se fazer um aprofundamento do laudo da criança e novamente,

“juntos” encontrar a melhor solução que deverá esta embasada em estratégias

que visam adaptar cada indivíduo no processo dentro de suas limitações,

aproveitando sempre o que de melhor cada um tem para oferecer dentro do

processo de aprendizagem.

Palavras-Chave: ensino-aprendizagem; aluno; professor; supervisor; família;

escola; dificuldade de aprendizagem; eficácia; ineficácia; fatores

biopsicossociais; relações intra/interpessoais; docência; discência;

metodologia; redimensionamento da prática; competências e habilidades.

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem como objetivo principal conhecer as teorias que

buscam a melhoria da qualidade do ensino embasado nos estudos de Piaget

(nas fases do desenvolvimento do educando) e em teóricos, tais como

Vygotsky, Emília Ferreiro, entre outros.

Os objetivos específicos desta pesquisa são: conhecer as condições

necessárias para que ocorra a aprendizagem e conhecer os modos como o

grupo de apoio das escolas pode ajudar no sentido de amenizar as dificuldades

dos alunos.

O processo de ensino aprendizagem tem sido estudado por teóricos e

especialistas, sendo visto como problemático e caótico. Tudo isso leva os

profissionais da educação a questionamentos em busca de soluções. O papel

do supervisor pedagógico, neste processo, é de enorme importância. A busca

de conhecimento das técnicas de ensino que possam ser eficazes se torna

necessária. A evasão e a repetência têm sido uma constante, e a dificuldade

em aprender é apontada como causa dessas questões. Por esse motivo, ter

um conhecimento mais aprofundado das dificuldades e distúrbios da

aprendizagem pode ajudar no trabalho do supervisor pedagógico.

O tipo de pesquisa usado neste trabalho foi o método exploratório que,

segundo Tognetti (2006), visa conhecer os fatos e fenômenos relacionados ao

tema escolhido para recuperar as informações disponíveis e descobrir

pesquisadores que já falaram sobre o tema. Essa pesquisa é feita através de

levantamentos bibliográficos em livros, sites, revistas, documentos, etc.,

entrevistas com profissionais da área escolhida e visitas às instituições e

empresas. Aqui foram feitas pesquisas sobre o tema escolhido, em diversos

documentos como livros, revistas e sites. Também foi realizada uma entrevista

com cinco supervisoras das redes municipal e estadual de ensino.

A revista de Psicopedagogia também discute as dificuldades de

aprendizagem e estas poderão contribuir de forma significativa a futuras

conclusões. Após o estudo das diversas teorias, será feita a pesquisa de

campo junto aos supervisores escolares ou coordenação pedagógica. As

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entrevistas visam a uma troca de experiências, com a finalidade de alcançar

resultados positivos nas futuras intervenções nas escolas. Sabe-se que a

motivação do ambiente é um fator de fundamental importância, por isso ele

deve ser estimulador, rico de recursos visuais e auditivos e material concreto

que possibilitem a realização de atividades variadas.

O estudo deve ser voltado para a busca de alternativas que possam

propiciar a criação de ambientes agradáveis para a criança; a aprendizagem,

assim, vai acontecer de forma prazerosa. Três abordagens explicativas do

desenvolvimento da personalidade poderão subsidiar esta pesquisa. São elas

as teorias psicanalíticas, as teorias biológicas e as teorias da aprendizagem

social. A epidemia das dificuldades de aprendizagem projeta-se não somente

nos problemas pedagógicos, como também nos problemas econômicos e

sociais. O êxito escolar se impõe como uma grande exigência dos pais e,

muitas vezes, servem como meio de promoção profissional dos professores.

A sociedade impõe à instituição escolar uma dimensão produtiva

transformando alunos e professores em vítimas do sistema social que segrega.

Ela ainda exige do indivíduo instrução e competência e, assim, a escola surge

como centro de contradições. Os processos pedagógicos passam a ser nada

mais, nada menos, que pressões ideológicas. As aprendizagens escolares

surgem para as crianças como fantasmas repressivos que deságuam numa

multiplicação assustadora dos fracassos escolares. Porém, a escola não pode

fazer milagres. Ela é um reflexo de um sistema social que a limita e condiciona.

A criança será afetada em seu desenvolvimento motor, perceptivo e

cognitivo o que irá refletir na aprendizagem da leitura, da escrita e do cálculo.

Tudo isso, uma consequência das desigualdades biossociais. A visão

patológica dos problemas de aprendizagem aponta um rumo necessário ao

estudo da adaptação e inadaptação escolar. Cabe ao supervisor, portanto, o

papel de buscar, através de estudos aprofundados, as causas dessas

dificuldades. Tudo isso vai exigir disponibilidade, persistência, tempo para

pesquisar, registrar e analisar os dados obtidos.

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METODOLOGIA

Este trabalho foi orientado por informações teóricas por meio de leituras

em publicações científicas que discutem o tema em questão. Os principais

autores e teóricos foram Jean Piaget, Jerome Bruner e Ana Maria Popovic.

No desenvolvimento dessa pesquisa, trabalhou-se com conceitos-chave

que abordam a relação aluno-escola-aprendizagem. Foi feita uma pesquisa

bibliográfica, pois, por meio dela, obtêm-se informações relevantes para

fundamentação teórica que é de grande importância para o pesquisador.

A pesquisa também visou a um levantamento de informações que já

foram discutidas sobre dificuldades de aprendizagem e o apoio pedagógico

como coadjuvante do trabalho do professor regente no processo ensino-

aprendizagem.

Foram também utilizados os seguintes procedimentos metodológicos:

observação sistemática da participante com alunos da educação básica da

Rede Municipal e Estadual e entrevista semiestruturada. O procedimento de

cada coleta de dados de observação sistemático participante foi escolhido

porque o pesquisador tornou-se parte da situação observada, interagindo ao

longo do desenvolvimento do projeto com o grupo que está sendo observado.

Essa é uma técnica que permite o entendimento e aprimoramento das relações

intrapessoais e interpessoais, assim como a erradicação dos pré-conceitos,

observando-se o respeito e a singularidade de cada indivíduo.

Foram também realizadas algumas entrevistas com pedagogos. Elas

foram semi-estruturadas e realizadas com a elaboração de um roteiro,

abrangendo assuntos significativos e fundamentados no levantamento

bibliográfico e na observação sistemática da participante.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................6 CAPÍTULO I ......................................................................................................... O QUE É APRENDIZAGEM..............................................................................10 CAPÍTULO II CONDIÇÕES NECESSÁRIAS PARA QUE A APRENDIZAGEM OCORRA.....16 CAPÍTULO III APRENDIZAGEM ................................................................................................. 3.1 Idade mental e idade cronológica................................................................22 3.2 Estágio do dsenvolvimento segundo Piaget................................................23 3.3 Dificuldades de aprendizagem ....................................................................24 CAPÍTULO IV APOIO PEDAGÓGICO.....................................................................................31 CONCLUSÃO....................................................................................................35 REFERÊNCIAS.................................................................................................37 ANEXOS............................................................................................................41 APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS..............................................................50

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CAPÍTULO I

1.1. Conceito de aprendizagem

Este capítulo apresenta alguns conceitos para o termo ‘aprendizagem’.

Ao longo do tempo, ela se tornou um assunto interessante para a ciência e

passou a ser mais enfatizada e pesquisada no último século e ainda mais

relevante entre as décadas de 1950 e 1970. Tal ênfase desencadeou uma

série de contestações entre teorias, programas e conceitos relacionados a

todas as áreas científicas que procuram “revelar” o enigmático processo do

aprender.

A partir dos conceitos, emergiram perguntas relacionadas às causas, ao

processo e à finalidade do aprender, que se somaram a outras dúvidas de

maior ou igual valor, porém todas elas demonstraram preocupações

relacionadas ao tema.

A aprendizagem é um dos mais importantes processos que envolvem o

comportamento do ser humano, uma vez que tudo o que ele “faz, pensa e

percebe é aprendido. Aprendemos o que comer e beber, como nos abrigar e

vestir, como falar e agir. Aprendemos nossos papeis sociais, nossos

preconceitos, valores e atitudes. Aprendemos a aprender”. (SILVA, 2003).

O ser humano começa a aprender desde o seu nascimento – para

muitos a aprendizagem já começa desde a vida intra-uterina. É através de todo

o processo do aprender que o ser humano se adapta e se integra ao meio

ambiente em que vive e, uma vez que este está sempre em mudança, à

aprendizagem também se renova cotidianamente junto com o mundo exterior.

A aprendizagem para muitos educadores é um processo de mudança de

comportamento, que vem através da experiência vivida pelo ser humano em

vários fatores como neurológicos, emocionais, ambientais e relacionais. Então

se pode dizer que aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais

e o meio ambiente em que o homem vive.

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Para Hamze (2013),

Quando a educação é construída pelo sujeito da aprendizagem, no cenário escolar prevalecem a ressignificação dos sujeitos, novas coreografias, novas formas de comunicação e a construção de novas habilidades, caracterizando competências e atitudes significativas.

Neste novo processo, os papéis dos atores (alunos) e co-autores

(professores) são remodelados pela participação, mediação e interatividade

entre si, em novas formas de orientação, facilitando os caminhos a serem

percorridos. A aprendizagem contempla tempos e espaços novos, promove

diálogos e induz os educando a uma produção própria. O professor é o

mediador das construções de aprendizagem, é o comunicador, o colaborador

porque intervém para provocar mudanças nos alunos.

Atualmente, a aprendizagem é um termo familiar no linguajar cotidiano,

mas foge a uma pronta definição já que existem várias envolvendo diversos

aspectos. A nova ênfase da educação, centrada na aprendizagem, prega que o

professor atua como um co-autor desse processo, onde o conhecimento é

construído e reconstruído continuamente.

Abaixo, encontram-se algumas definições para o termo aprendizagem:

“A aprendizagem é uma modificação na disposição ou na capacidade do

homem, modificação essa que pode ser anulada e que não pode ser

simplesmente atribuída ao processo de crescimento”. (Gagné, 1974 apud

Mayer, Hey David e Gauthier).

“Aprendizagem é a progressiva mudança do comportamento que está

ligada de um lado, a sucessivas apresentações de uma situação e, de outro, a

repetidos esforços do indivíduo para enfrentá-la de maneira eficiente”.

(McConnell apud Piletti, 1991).

E ainda,

Normalmente, consideram-se como aprendidas as mudanças de comportamento relativamente permanentes, que não podem ser atribuídas à maturação, lesões ou alterações fisiológicas do organismo, mas que resultam da experiência. (SAWRE E TELFORD APUD SILVA E GOMES, 2010).

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(...) Pain, S. (1980) e Feuertein, R. (1970) (...), embora utilizem referências diferentes, ambos definem aprendizagem como um processo que inclui a construção do aprendiz e a interação, entendida como a participação de um mediador humano, que se interpõem entre o sujeito e o conhecimento. (RUBINSTEIN).

Aprendizagem é o processo pelo qual um sujeito, em sua interação com o meio, incorpora a informação oferecida por este, segundo suas necessidades e interesses. Elabora esta informação através de sua estrutura psíquica, constituída pelo interjogo do social, da dinâmica do inconsciente e da dinâmica cognitiva, modificando sua conduta para aceitar novas propostas e realizar transformações inéditas no âmbito que o rodeia. (DABAS, 1988 apud RUBINSTEIN, 1999, P. 23).

...uma aprendizagem se realiza quando um indivíduo toma informação em seu meio, em função de um projeto pessoal. Nesta interação entre as informações e o projeto, as primeiras só são desvendadas graças ao segundo e o segundo só se tornou possível graças às primeiras: a aprendizagem, a compreensão verdadeira só ocorre então através dessa interação, não é se não essa interação, ou seja, a criação de sentido. (MEIRIEUU).

Nas citações dos diferentes autores indicadas acima, encontra–se

implícita no termo aprendizagem uma relação bilateral, tanto da pessoa que

ensina como a da que aprende. Desta maneira, pode se definir mais

claramente a ‘aprendizagem’ como um processo evolutivo e constante, que

implica uma sequência de modificações observáveis e reais no comportamento

do indivíduo, de forma integral (físico e biológico), e do meio que o rodeia

(atuante e atuado). Esse processo se traduz pelo aparecimento de formas

realmente novas e compromissadas com o comportamento (POPPOVIC,

1968).

Quando se diz que a aprendizagem é fruto de uma relação bilateral

afirma-se que há dois lados neste processo: alguém que ensina e alguém que

aprende. O primeiro não é necessariamente um professor dentro de uma sala

de aula, mas qualquer indivíduo que servirá de modelo para o outro que vai

aprender. Os papéis são igualmente importantes, uma vez que o educador é o

modelo, aquele que vai servir de modelo para a mudança de comportamento

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de quem está observando tudo, guardando as informações que irão ser

memorizadas e assimiladas.

Das conceituações de aprendizagem apresentadas podem ser retiradas

duas conclusões principais:

1) Aprendizagem é mudança de comportamento: quando

comportamentos já realizados anteriormente são repetidos, não há

aprendizagem, porque ela só acontece na medida em que houver uma

mudança desses comportamentos.

Na escola, o modelo de aprendizagem é a sistemática, uma vez que

ela é programada e formal, onde não se aprende tudo de uma vez, pois não há

um modo padrão de agir. As ações humanas vão acontecendo aos poucos, as

habilidades vão se aperfeiçoando e se ampliando ao longo do tempo. O

estudante vai adquirindo os conteúdos socioculturais ou escolares, ele vai

avançando para um novo estágio de desenvolvimento, além daquele em que

se encontra. É um desafio novo a cada momento, ou seja, ele tem que

aprender e avançar, apropriando-se de algo novo que lhe é proposto a todo o

momento. A criança, ao chegar à escola, já traz consigo uma aprendizagem

construída ao longo de sua história familiar, de onde recebeu todo

conhecimento até aquele momento. Mas muitas outras coisas são aprendidas

em longos anos, como é o caso da escola, onde a aprendizagem evolui de

forma contínua.

Um exemplo da educação sistemática ocorre quando o aluno que não

sabia somar, agora sabe por que aprendeu; a criança que não sabia falar

‘papai’, agora sabe, aprendeu; Marcos não sabia andar de bicicleta, agora

anda, porque aprendeu.

Há muitos outros exemplos da educação sistemática, pois a maior parte

dos procedimentos dos seres humanos é aprendida: andar, falar, gritar, digitar,

pedalar, nadar, calcular, telefonar, sentar, etc.

2) Aprendizagem é mudança de comportamento resultante da

experiência. Quase todos os comportamentos humanos são aprendidos. Mas,

outros resultam da maturação ou do crescimento do próprio organismo humano

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e, portanto, não constituem aprendizagem. São exemplos: a respiração,

digestão, salivação.

O ser humano está continuamente aprendendo novos comportamentos,

ou modificando os velhos comportamentos, por meio das experiências

construídas ao longo da vida, seja por fatores emocionais, neurológicos,

relacionais ou ambientais que resultam da interação entre as estruturas

mentais o meio ambiente em que ele vive. Aprende-se em toda parte - na

escola e fora dela. Cada experiência acrescenta novos saberes ao indivíduo e

é através deles que as mudanças ocorrem. Mesmo que ele tenha aprendido de

forma errada, ele terá a oportunidade de mudar e agir da forma correta,

demonstrando que aprendeu.

A busca constante pela aprendizagem é inerente ao ser humano. Desde

o seu nascimento, ele sente necessidade de demonstrar que é capaz de fazer

algo, ou de aprender, quando não sabe.

Fernández (2001) afirma que todo sujeito tem a sua maneira própria de

aprendizagem e cada um possui os meios próprios de construir o

conhecimento. O processo de aprendizagem se inicia desde o nascimento,

constituindo-se em um molde ou esquema, fruto do inconsciente simbólico.

As mudanças vão acontecendo ao longo da vida humana como

resultado do vínculo com as experiências anteriores. Novos conhecimentos são

adquiridos, e as mudanças são facilmente percebidas, principalmente nas

crianças que tudo observam, explorando um mundo novo, cheio de

curiosidades.

É através dessas observações e experiências que as crianças aprendem

a falar, andar, comer, agradar as pessoas que as cercam.

Aprender é fator essencial à sobrevivência humana e é isto que

diferencia o homem dos animais. Ele é racional, sabe que precisa evoluir ao

longo do tempo para estar pronto a cumprir o que lhe será exigido futuramente.

O homem aprender a lidar com o desconhecido, aprende a superar os conflitos

e os erros, a vencer o inusitado. Tudo isso é parte do cotidiano e tudo isso é

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fundamental para o desenvolvimento e para a interação futura com outras

pessoas.

A criança, em especial, até a fase adulta está em fases de mudanças,

quando ela se apropria de costumes, tradições e valores que lhe são

oferecidos pelos grupos sociais onde vive. Tudo é necessário tanto à sua vida

atual e quanto à vida futura.

Por isso, a aprendizagem adquirida na escola exige condições

favoráveis para que ela se torne sólida e duradoura.

A realização de todo o processo de aprendizagem depende também de,

pelo menos, sete fatores fundamentais para que ela se efetive, seja qual for a

teoria considerada. São eles: saúde mental, motivação, prévio domínio,

maturação, inteligência, concentração ou atenção e memória.

Estes fatores serão o tema do próximo capítulo.

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CAPÍTULO II

2.1. Condições necessárias para que a aprendizagem ocorra A escola é considerada como uma instituição importante para o

desenvolvimento das potencialidades das crianças, no entanto, de forma

significativa, neste espaço, há crianças apresentando problemas no processo

de escolarização. Nos últimos anos, tem se visto que o número de crianças em

fase escolar com dificuldades de aprendizagem tem aumentado cada vez mais,

segundo Siqueira e Giannetti (2011). Na maioria das vezes, o professor na

escola é quem, primeiramente, irá identificar os alunos com problemas na

aprendizagem, com isso, são geralmente os professores que vão realizar os

encaminhamentos a profissionais especializados. Essa prática de encaminhar

crianças que apresentam alguma dificuldade escolar, tem se tornado comum

nas escolas, sendo que as dificuldades normalmente são identificadas na fase

de escolarização, e os alunos são conduzidos para profissionais como

psicólogos, médicos, fonoaudiólogos, os quais farão algumas avaliações

específicas. Este processo diagnóstico que engloba diferentes avaliações deve

ser abrangente, possibilitando a coleta de dados diferenciados e

complementares que se constituam em subsídios para a compreensão do

desempenho do aluno.

Para que os profissionais que atuam na área da Educação tenham

condições de desenvolver um trabalho que venha a romper com a produção do

fracasso escolar, Facci (2009) argumenta que precisam ter a clareza sobre sua

função na escola, levando em conta a sociedade de classes em que todos

estão inseridos, assim como ter fundamentos teóricos consistentes para

compreender ― “[...] a relação ensino-aprendizagem e o trabalho do professor

para o desenvolvimento psicológico dos alunos” (p. 109).

A Aprendizagem Significativa é uma teoria cognitivista e construtivista

sobre o processo de aquisição do conhecimento. É concebida como processo

de compreensão, reflexão e atribuição de significados do sujeito, em interação

com o meio social, ao constituir a cultura e por ela ser constituído. Nesse

sentido opõe-se a concepções inatistas de que se nasce com características

que se mantêm ao longo da vida, ou comportamentais que concebem as ações

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humanas como respostas a estímulos externos. A insatisfação vivida em sua

escolarização emergiu da ausência de condições que contribuíssem para seu

próprio desenvolvimento e aprendizagem e dos demais alunos e propiciasse, a

cada um, compreender e adquirir novos conhecimentos. Sua prática

profissional, na clínica como psiquiatra, e sua atuação, como doutor em

psicologia do desenvolvimento, sensibilizou-o para ouvir o outro em sua

singularidade e individualidade. Essas experiências, pessoal e profissional,

contribuíram para definir as linhas centrais da sua teoria: fazer da escola o local

para uso da capacidade de compreender e atribuir significados; focalizar a

relevância do processo relacional na aquisição de conhecimentos.

Considera-se a aprendizagem como uma mudança permanente de

comportamento, resultado da ação humana como um processo contínuo,

individual, cumulativo e integrativo.

Para Silva (2003),

o aprendizado precisa de estruturas cerebrais íntegras, devidamente maturadas, para que as funções específicas sejam elaboradas de modo adequado e eficiente. A integridade desses componentes cerebrais é fundamental para que o aprendizado se desenvolva; no entanto, somente isso não é suficiente, pois a integração cerebral com várias outras áreas, por meio das redes neurais, tais como a visual, auditiva e motora, é essencial e necessária para que o aprendizado se processe com o sucesso esperado.

O ser humano aprende, porque tem a capacidade de perceber,

conhecer, compreender e reter em sua memória todas as informações

recebidas, o que o faz também capaz de ampliar e enriquecer as experiências

vividas. Todo homem adquire conhecimentos constante e continuamente, mas

cada um se desenvolve dentro do seu ritmo próprio, dentro do seu próprio

plano de ação, construindo sua individualidade.

A autora afirma que no “processo ensino-aprendizagem há alguns

elementos fundamentais” aos quais Bruner (1969) chamou de ‘prontidão para a

aprendizagem’. Para o autor, “é possível ensinar qualquer assunto, de uma

maneira honesta, a qualquer criança em qualquer estágio de desenvolvimento".

Ele observou em suas pesquisas que cada indivíduo assimila a informação em

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tempos e ritmos diferentes, levando-se em conta os potenciais e as

capacidades de cada um. Na infância, principalmente, são observados

diferentes tipos de desenvolvimento, nos diferentes estágios de aprendizagem.

Segundo Poppovic (1968), “a prontidão para alfabetização significa ter

um nível suficiente sob determinados aspectos para iniciar o processo da

função simbólica que a leitura e a sua transposição gráfica que é a escrita”. E

para que isto ocorra. A criança deve ser capaz de compreender o

funcionamento da língua escrita, que tem uma função instrumental e que

funciona como suporte para a sua memória quando ela vai transmitir idéias e

conceitos.

Bruner (1969) defende a tese de que se deve usar a fase

desenvolvimento da criança para ensiná-la e, conseqüentemente, fazê-la

aprender. A criança deve ser induzida a participar ativamente do processo de

aprendizagem, com ações desafiadoras que irão proporcionar não só a

oportunidade de usar os conhecimentos que ela já adquiriu, como também

novos conhecimentos e novas situações. Mas, para assimilar a aprendizagem,

a criança precisa estar devidamente amadurecida dentro dos aspectos

esperados para cada idade.

Abaixo, será considerada cada uma das condições necessárias ao

processo de aprendizagem. São elas:

1) Saúde física mental: para que seja capaz de aprender, a criança deve

apresentar um bom estado físico geral, isto é, deve estar gozando de

boa saúde, com seu sistema nervoso e todos os órgãos dos sentidos

funcionando perfeitamente bem. As perturbações que por ventura

surgirem, tanto na área física como na sensorial, e, principalmente, na

área nervosa são distúrbios que poderão se constituir em problemas de

aprendizagem: febre, dores de cabeça, deficiência de visão, de audição,

disritmias são exemplos desses distúrbios.

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2) Motivação: o fato de querer aprender garante à criança maior sucesso

na aquisição de conhecimentos, habilidades ou técnicas. O interesse é,

portanto, a mola propulsora da aprendizagem. Os motivos que a criança

tem para aprender situam-se nos vários níveis de desenvolvimento

humano: biológicos, psicológicos e sociais. Todo comportamento

humano pode ser visto como a busca do equilíbrio, ou seja, como a

procura do bem–estar pelo indivíduo tanto em relação a si mesmo como

em relação ao meio ambiente em que vive. O equilíbrio traz satisfação; o

desequilíbrio, tensão.

Quando recebe estímulos, a criança pode aprender por diferentes

motivos:

• Para satisfazer à necessidade biológica de exercício físico, com a

finalidade de liberar energia;

• Ao ser estimulado pelos órgãos dos sentidos, como, por exemplo, visão

das cores alegres de um material pedagógico;

• Ao sentir-se motivada para uma atividade mental e quando consegue

resolver um problema ou entender bem uma explicação do professor;

• Para evitar a punição dos pais, caso não apresente boas notas nos

estudos;

• Por sentir necessidade de conquistar um prêmio ou uma boa

classificação na escola que lhe dê status no meio social que frequenta.

O fato de garantir a administração da família ou dos colegas também é

uma boa motivação para aprender.

3) Prévio domínio de certos conhecimentos, habilidades e experiências

anteriores que são chamados de pré-requisitos para a aprendizagem.

Um exemplo de prévio domínio é o currículo oculto que as crianças já

trazem de casa, ou seja, a soma de conhecimentos, experiências,

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noções e habilidades que vivenciaram no lar e que lhes dão grande

vantagem em relação aos outros colegas que ainda não a possuem.

4) Maturação é “o processo de diferenciações estruturais e funcionais do

organismo, levando a padrões específicos de comportamento” (Falcão,

1989, p.46).

A maturação se dá por etapas que se sucedem sempre em uma mesma

sequência, embora em tempos diferentes para cada indivíduo. A

sequência de se sentar, arrastar-se, engatinhar e andar é um exemplo

do processo de maturação biológica.

A maturação e a aprendizagem são processos diferentes, porém,

intimamente ligados, pois é a maturação que cria condições para que as

aprendizagens ocorram. Nelas não há predomínio da hereditariedade ou

do ambiente, pelo contrário, há uma interação perfeita entre ambos.

5) Inteligência: A criança deve ter a capacidade de assimilar e

compreender as informações que recebe; de estabelecer informações

entre várias dessas informações; de criar e inventar coisas novas com

base nas que já conhece; de raciocinar com lógica na resolução de

problemas que lhe são apresentados.

6) Concentração ou atenção: a capacidade de se fixar em um assunto é um

fator intelectual que interfere na aprendizagem. Da maior ou menor

capacidade do indivíduo em concentrar-se no objeto do conhecimento

dependerá sua maior ou menor facilidade para aprender.

7) Memória: A criança aprende por experiências concretas, através de seus

sistemas sensoriais que se comunicam com o centro de aprendizagem

pelos centros nervosos localizados nos hemisférios cerebrais. O que é

aprendido é transmitido a outro centro nervoso - o da memória, onde

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tudo será guardado até que a criança tenha necessidade de utilizá-lo,

buscando os conhecimentos anteriores já memorizados. A memória é

um fator importante no processo de ensino aprendizagem. (DROWET,

1985).

Quem aprende está sujeito a esquecer aquilo que aprendeu. O

esquecimento acontece por vários motivos:

• Pela fragilidade ou deficiência na aprendizagem causada por

estudo insuficiente;

• Pela tentativa de evocação do fato memorizado, através de um

critério diferente àquele utilizado na fixação da aprendizagem. Por

esse motivo, as informações devem ser apresentadas sob formas

diferentes para que o aluno possa armazená-las também sob

diferentes critérios. Isso aumenta a capacidade de a criança

lembrar-se das informações recebidas, quando necessário;

• Pelo desuso das informações;

• Por um componente emocional que também pode prejudicar a

memorização e a concentração. O indivíduo muito ansioso ou

preocupado não consegue fixar sua atenção naquilo que está

sendo ensinado e, consequentemente, não memoriza a

informação e não aprende.

A memória não funciona isoladamente. Ela é um dos fatores da

inteligência e evolui com o desenvolvimento das funções intelectuais.

Do ponto de vista psicológico, a criança deverá estar suficientemente

amadurecida em três aspectos fundamentais: intelectual, afetivo-social e

sensório-psiconeurológico (POPPOVIC 1971; PIAGET, 1975).

“O desenvolvimento é, portanto, um processo contínuo, e a educação, o

meio pelo qual o ser humano pode desenvolver integralmente, a sua

capacidade psicomotora, cognitiva, afetiva e social”. (SILVA, 2003).

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CAPÍTULO III

APRENDIZAGEM

Drowet (1995), em estudos sobre os distúrbios da aprendizagem, diz

que ela ocorre de forma gradual. Ela acredita que se aprende pouco a pouco,

durante toda a vida, sendo que cada indivíduo, com seu ritmo próprio de

aprendizagem e de acordo com a maturação biológica, irá constituir sua

individualidade. De acordo com as diferenças individuais, a aprendizagem pode

ser mais lenta ou mais rápida.

Aprendizagem é, segundo a autora, um processo pessoal, individual,

isto é, tem fundo genético e depende de vários fatores, como: esquemas de

ação inatos do indivíduo; estágio de maturação do seu sistema nervoso; tipo

psicológico constitucional (introvertido ou extrovertido); grau de envolvimento,

esforço ou interesse.

3.1 Idade Mental e Idade Cronológica

As primeiras aprendizagens servem como pré-requisitos para as

aprendizagens subseqüentes. Por isso, Drowet (1995) cita a aprendizagem

como um processo cumulativo, constituindo assim a bagagem cultural do

indivíduo. Esse processo de acumulação não é estático. A cada nova

aprendizagem, o indivíduo reorganiza suas idéias, estabelece relações entre as

aprendizagens anteriores e as novas, fazendo juízo de valor e colocando seus

sentimentos no certo, bom ou mal; trata-se, portanto, de um processo

integrativo, dinâmico. Esses fatores são fundamentais para que a

aprendizagem aconteça independe da teoria de aprendizagem considerada: a

saúde física e mental; a motivação, o prévio domínio, a maturação, a

inteligência, a concentração ou a atenção e a memória. Ao conjunto de todos

esses elementos, Bruner (1969) chamou de prontidão para a aprendizagem.

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Drowet (1995) considera impossível a aprendizagem para criança com

deficiência mental acentuada. Sabe-se que a idade mental de uma criança,

com déficit intelectual, não corresponde à sua idade cronológica, podendo

haver entre ambas uma diferença de dois, três ou mais anos. Assim, uma

criança de sete anos poderá apresentar idade mental de três ou quatro, o que

torna inviável sua aprendizagem escolar, em especial a aprendizagem da

leitura e da escrita. Por esse motivo, não se deve pensar na alfabetização em

termos de idade cronológica, mas sim na idade mental.

3.2 Estágio do desenvolvimento segundo Piaget

Segundo Piaget (1975), a inteligência é um exemplo de comportamento

adaptativo, onde o indivíduo vai se desenvolvendo desde os primeiros anos de

vida, em um processo contínuo. A inteligência é a capacidade que o indivíduo

tem de interagir com o meio ambiente. Ela se desenvolve através de estágios

ou fases que se sucedem sempre em uma mesma ordem, mas, de acordo com

as diferenças individuais, podem acontecer em idades diferentes dependendo

do ritmo de cada um.

As diferenças ocorrem em virtude das diversas potencialidades, herança

genética, motivação, meio-ambiente cultural e social, estimulação e exercitação

das potencialidades de cada criança.

O primeiro estágio, considerado sensório–motor, termina mais ou menos

aos dois anos de idade. A criança ‘conhece’ o mundo através dos órgãos dos

sentidos e dos movimentos ou das ações. Ela puxa, empurra, aperta, manipula,

levando à boca os objetos que ficam ao seu alcance.

O próximo estágio, o pré-operacional concreto, vai dos dois aos sete

anos quando se darão as primeiras experiências escolares. A criança vai

adquirindo um repertório de aquisição cognitiva, tais como: estabelecimento

das relações entre objetos, comparação de semelhanças e diferenças,

classificação de objetos quanto a tamanho, forma, cor, textura e comprimentos;

seriação de tamanhos, etc.

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O terceiro estágio é o das operações concretas. Neste período que vai

dos sete anos aos 11/12 anos, a criança adquire dois princípios fundamentais

para a aprendizagem formal. O principio da invariância, ou seja, a capacidade

de perceber que uma modificação no aspecto ou forma de uma substância não

altera a quantidade de massa, que permanece invariante, isto é, constante.

O outro princípio, o da reversibilidade, dá à criança a noção de que as

sucessivas fases de um acontecimento podem ser reconstituídas no

pensamento, e de que as ações podem ser completadas e depois

desmanchadas e reiniciadas, ou feitas em sentido inverso.

A criança se desenvolve intelectualmente na idade cronológica de seis a

sete anos, fazendo aquisição cognitiva de forma sucessiva, passando pelos

três estágios citados, estando apta a iniciar a aprendizagem formal. Já a

criança com desenvolvimento mental atrasado não conseguirá.

O quarto estágio é o do desenvolvimento, ou seja, o das operações

formais que acontece dos 11aos 12 anos. É a fase do pensamento lógico.

3.3 Dificuldades de aprendizagem

De acordo com Brenelli e Dell’Agli (2010), o leque de definições para

as dificuldades de aprendizagem é extenso, pois variam de acordo com o

referencial teórico de cada autor, ainda mais no nosso país que é

considerado um país em desenvolvimento, porém com fatores desfavoráveis

como problemas de saúde, baixa qualidade da escolaridade dos pais,

péssimas condições de estudos, professores desvalorizados, entre tantos

outros fatores.

Todas as definições existentes estão norteando e sendo

responsáveis pelos encaminhamentos dados para eliminar o problema

desde o diagnóstico até a intervenção feita não só com o aluno, mas

também com a família e a própria escola como um todo. O aluno pode

desenvolver as dificuldades de aprendizagem em mecanismos distintos

como na escrita, leitura, matemática ou outras matérias, estas dificuldades

podem ocorrer em conjunto ou individualmente em níveis diferentes.

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A habilidade para reconhecer palavras é de grande importância nos

primeiros estágios do aprendizado da leitura. Esta habilidade deveria ser o foco

principal da avaliação de dificuldades de leitura iniciais.

As dificuldades de leituras posteriores envolvem problemas de

compreensão mais difíceis de serem avaliados. É importante estabelecer se

estas dificuldades são resultados de problemas na decodificação, ou se

ocorrem apesar da presença de habilidades de decodificação intactas.

Há vários testes especializados de reconhecimento de palavras,

freqüentemente usados para determinar o nível de habilidades para a leitura

que a criança apresenta em relação aos demais. Pede-se neste teste que a

criança leia, em voz alta, listas de palavras com grau de dificuldades e duração

crescentes. Apesar de confirmarem ou não o problema de leitura, esses testes

não identificam as dificuldades de processamento que são a fonte dos

problemas. Isso vai exigir maior investigação.

Essas dificuldades podem ser analisadas em dois níveis: decodificação

e compreensão. As dificuldades refletem a ineficiência dos componentes

cognitivos existentes e envolvidos no processamento do estímulo. A primeira

habilidade a ser adquirida é aprender a fazer a correspondência entre as letras

e seus sons. Isso exige reconhecimento da estrutura sonora individual das

letras e das combinações de letras. Evidências sugerem que as causas mais

comuns das dificuldades de decodificação são problemas na correspondência

entre as letras e seus sons. Esses problemas parecem mais comuns nas

crianças disléxicas. As outras, simplesmente chamadas de leitores fracos.

As dificuldades de compreensão são alguns fatores decorrentes de

habilidades inadequadas de decodificação. Os alunos processam o texto na

forma palavra por palavra e no nível de frases e sentenças. Isto leva a uma

compreensão fraca. As dificuldades de compreensão também ocorrem

independentes das habilidades de decodificação.

Nesse caso, são refletidas as dificuldades do sistema lingüístico, e não

nas dificuldades específicas de leitura. Os programas de intervenção

desenvolvidos para aumentar o reconhecimento fonológico têm alcançado

algum sucesso na melhoria do desempenho das crianças com dificuldades de

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decodificação. Em relação às crianças com dificuldades de compreensão,

obteve-se sucesso no ensino de técnicas de monitoramento mais eficazes.

Nesses casos também é de suma importância a intervenção da família.

Segundo Yaegashi (apud Braga e Miguel, 2009, p.8) “tanto a escola

quanto a família deveriam tentar mudanças que lhes permitissem responder

adequadamente, no sentido de ajudar a criança, evitando maiores dificuldades

e situações de estresses”. Dessa forma, é importante que a família dê a criança

todo o suporte que ela precisar, para superar as dificuldades de aprendizagem.

Por isso a escola tem que orientar a família para que juntos possam promover

o sucesso escolar deste aluno.

Pensando nisto Caetano (2010) ressalta que a escola também tende a

reconhecer a necessidade de aproximação com a família, para que possa

construir uma continuidade entre a educação familiar e a escolar. Não

podemos negar a importância de que a escola e a família devam ter um elo

para dar subsídios a aprendizagem e desenvolvimento da criança em todos os

sentidos.

Quanto à matemática, pode-se dizer que geralmente as crianças têm

uma aptidão natural para os números. Elas aprendem rapidamente a contar e

resolver problemas usando a contagem, entretanto algumas apresentam

dificuldades neste processo. Se esses problemas não forem superados, podem

levar a um círculo vicioso para a aquisição das habilidades aritméticas mais

avançadas que se baseiam na contagem. Essas crianças diferem de seus

colegas que têm as habilidades e que utilizam estratégias numéricas de

maneira eficaz e eficiente. Freqüentemente, elas continuam a usar estratégias

ineficientes e demoradas, enquanto seus colegas já avançaram para outras

mais eficientes. A própria percepção de uma ineficiência pode desmotivar a

criança levando-a à perda de interesse pela matemática.

Na aritmética com mais de um dígito, a área de maior dificuldade é a

aquisição dos procedimentos corretos para empréstimos e para transporte,

especialmente quando o numeral zero está envolvido. Os erros das crianças,

neste caso, não são aleatórios, mas sim resultantes da aplicação de

procedimentos incorretos. A detecção desses procedimentos pode ser difícil,

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mas vários foram os avanços na descrição dos tipos mais comuns de erros,

fornecendo base para investigação de cada caso individualmente.

Os problemas exigem que os enunciados sejam primeiramente

representados de forma adequada para a manipulação matemática, só então o

procedimento matemático deve ser realizado. Os problemas econômicos e

sociais são também causados pelas dificuldades de aprendizagem e não

somente por problemas pedagógicos.

O diploma escolar, resultado do êxito do aluno, passa a ser uma

exigência dos pais por facilitar o sucesso na aquisição de um bom emprego. A

sociedade impõe à instituição escolar uma dimensão produtiva, onde a matéria-

prima é a criança, e o instrumento de produção, o professor. Ambos são

vítimas de um sistema social que exige transformação. O indivíduo mais

instruído recebe o melhor salário. A escola perpassa a ideologia da classe

dominante e os processos pedagógicos nada mais são do que repressão

ideológica.

Reforçando esta idéia Smith e Strick (2001, p. 18), afirmam que os pais

de crianças com dificuldades de aprendizagem realmente precisam aprender

como trabalhar de modo efetivo com os professores e os administradores

escolares para o desenvolvimento de um programa educacional apropriado.

Esta cooperação entre escola e pais deve ocorrer porque os pais podem trazer

muitas questões que podem solucionar ou ao menos auxiliar na compreensão

e intervenção dos problemas enfrentados pela criança na escola. Além disso,

pensando no lado afetivo para a criança é estritamente importante este apoio

da família e da escola. estaríamos sendo simplistas e reducionistas e podemos

afirmar com toda a certeza que as dificuldades de aprendizagem, por si só,

geram vários problemas afetivos, sendo eles desestruturantes para constituição

do sujeito (BRENELLI E DELL’AGLI, 2010, p. 66).

Dell’Agli (2008) ao analisar algumas pesquisas, declara que o ato de

ensinar e aprender está diretamente relacionado com as expressões afetivas e

emotivas que encontramos na relação professor-aluno e nas práticas

pedagógicas, e em conseqüência na transmissão e apropriação do

conhecimento. Sendo assim o professor irá transmitir a seu aluno todas suas

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emoções que podem estar cheias de amor, agressividade, compreensão,

descaso, enfim, emoções que permeiam essa relação que ocorre com a

criança e sua família também, na qual o aluno terá como exemplo o professor e

seus familiares.

As dificuldades de aprendizagem -, segundo Fonseca (2008) a dislexia

(dificuldade de leitura), a disgrafia (formulação de ideias) e as dificuldades do

cálculo e aritmética -, são fundamentalmente sociais, embora se tenha que

diferenciar causas endógenas e exógenas, umas por dificuldade de processar

a informação, outras por problemas de motivação.

A defasagem social, a violência e os traumas provocados pela

sociedade de consumo geram desajustamentos afetivos e privações, que se

refletem na maturação global da criança. A criança que começa a apresentar

problemas escolares é logo, precocemente, segregada, além de ser uma ferida

narcísea. Os pais colocam na escola a solução dos seus problemas,

ambiguidades e aspirações, e os professores fazem da criança um objeto

colonizado, e esta sofre as consequências das inadaptações sociais.

As aprendizagens escolares surgem para a criança como fantasmas

repressivos que vão desaguar em uma multiplicação assustadora de fracassos

escolares. Não se pode esquecer que a aptidão para a leitura, ou para outras

aprendizagens escolares, exige a equação de inúmeros aspectos dos quais se

destacam:

• Aspectos orgânicos: são relacionados à construção biofisiológica do

sujeito que aprende. Alterações nos órgãos sensoriais impedirão ou

dificultarão o acesso aos sinais do conhecimento. A construção das

estruturas cognoscitivas se processa em um ritmo diferente entre os

indivíduos normais e os indivíduos portadores de deficiência sensoriais,

pois existem diferenças nas experiências físicas e sociais vividas.

• Aspectos cognitivos: estariam ligados basicamente ao desenvolvimento

das estruturas cognoscitivas em seus diferentes domínios. Incluem-se

também nessa grande área aspectos ligados a memória, atenção,

antecipação, etc., anteriormente agrupados nos fatores chamados

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intelectuais. Numa visão piagetiana, o desenvolvimento cognitivo é um

processo de construção que se dá na interação entre o organismo e o

meio.

• Aspectos Emocionais: estariam ligados ao desenvolvimento afetivo e

sua relação com a construção do conhecimento e a expressão deste

através da produção escolar. Remete aos aspectos inconscientes

envolvidos no ato de aprender. O não aprender pode, por exemplo,

expressar uma dificuldade na relação da criança com a família. Será o

sintoma de que algo vai mal nessa dinâmica.

• Aspectos sociais: estão ligados às perspectivas da sociedade em que

estão inseridas a família e a escola.

• Aspectos pedagógicos: contribuem muitas vezes para o aparecimento

de uma “formação reativa” aos objetos da aprendizagem escolar. Tal

quadro confunde-se, às vezes, com as dificuldades de aprendizagem

originadas na história pessoal e familiar do aluno.

Nesse conjunto de fatores estão incluídas as questões ligadas à

metodologia do ensino - avaliação, dosagem de informações, estruturação de

turmas, organização geral, etc., - que, influindo na qualidade de ensino,

interfere no processo ensino-aprendizagem, que torna diminuídas as condições

externas de acesso do aluno ao conhecimento via escola.

Uma boa escola deveria ser estimulante para o ato de aprender; por

essa razão, concorda-se que a função básica dos profissionais da área de

educação deveria:

• Melhorar as condições de ensino para o crescimento constante do

processo de ensino-aprendizagem e, assim, prevenir dificuldades na

produção escolar;

• Fornecer meios, dentro da escola, para que o aluno possa superar

dificuldades na busca de conhecimentos anteriores ao seu ingresso na

escola;

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• Atenuar, contribuir para não agravar os problemas de aprendizagem

nascidos ao longo da história pessoal do aluno e de sua família.

Essa função do educador se distingue da função do clínico que terá por

obrigação intervir, buscando remover causas profundas que levaram ao quadro

do não aprender. (WEISS, 2001).

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CAPÍTULO IV

APOIO PEDAGÓGICO

Como garantir a aprendizagem a todos os alunos? Como agir para que

todos sejam promovidos com os quesitos básicos à série/ciclo seguinte?

É preciso reconhecer que alguns alunos podem estar com dificuldades

de aprendizagem, seja por razões patológicas, por falha técnica e/ou por

defasagem de conteúdos. Ter a avaliação como principal mecanismo

identificador das necessidades existentes em cada sala, série, turno e turma do

professor-aluno não é o método mais eficaz. Muito mais importante é a planejar

uma intervenção (ação pedagógica) com a participação de toda a equipe

diretiva da escola.

Não será preciso fazer mágica, basta organizar grupos de apoio

pedagógico que ofereçam a crianças e adolescentes com mais dificuldades o

suporte necessário para que eles avancem conforme o esperado. O segredo é

proporcionar a atenção individualizada em turmas menores.

Muitas redes de ensino disponibilizam professores eventuais para essa

missão, mas alguns cuidados são necessários:

• O papel de cada componente da equipe deverá ser previamente

definido, antes de se iniciar a intervenção pedagógica com o aluno;

• Cabe ao professor regente participar juntamente com a equipe

pedagógica e o professor do grupo de apoio pedagógico e dar a

definição de ações educativas para cada caso;

• O professor regente deverá manter contato freqüente com o professor

do grupo de apoio para acompanhar os avanços do aluno, para que se

desenvolva um trabalho paralelo feito pela professora regente com o

aluno, ou seja, dar continuidade ao trabalho realizado em sala.

É competência do supervisor pedagógico de apoio:

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• Analisar as atividades dos alunos para identificar as principais

dificuldades;

• Planejar com a equipe de apoio e os regentes os encaminhamentos

metodológicos;

• Planejar estratégias de ensino diferentes da usada em sala de aula.

A escola não deve pensar apenas na organização política, mas precisa

também garantir ao aluno e ao professor o tempo (quando?) e o local (onde?)

para o atendimento.

Como a carga horária do aluno tem que ser respeitada, as atividades de

intervenção deverão ser realizadas no contra turno. Por sua importância este

trabalho deve ser bem planejado, com definição clara de funções, tanto para os

professores regentes como para os responsáveis pelos grupos de apoio. Nesse

planejamento não se pode esquecer a inserção da família do aluno, pois sem a

sua conscientização em relação ao trabalho que será desenvolvido, não se terá

êxito na intervenção. Cabe também à família se responsabilizar pela

recuperação do aluno.

Observa-se que o histórico da maioria das crianças é o mesmo: pouco

contato com língua escrita fora da escola e dificuldades para evoluir no

processo de alfabetização. Mesmo diante deste quadro, toda a equipe de

intervenção deverá estar convicta de que todos os alunos poderão confirmar a

hipótese de concretização da escrita alfabética, até o final do ano letivo.

Mas, para que isso ocorra de fato, os professores regentes deverão

fazer diagnósticos individuais apurados através de tabelas para que todos eles

possam acompanhar a evolução dos alunos.

Essa organização bem planejada envolve a escola como um todo,

atribuindo a cada um a sua responsabilidade com o ato de ensinar, pois será

necessário fazer e acompanhar diagnósticos individuais, atividades diversas,

textos produzidos pelos alunos e ainda a avaliação. Assim, ninguém deve se

esquivar por achar que a tarefa de ensinar é do outro. Não é possível conceber

a educação como uma linha de montagem e se eximir dessa responsabilidade.

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Até aqui se buscou apoio ao professor e aluno, supondo-se que suas

dificuldades seriam apenas no âmbito técnico e conteudista.

E o que acontece quando se depara com o aluno portador de alguma

incapacidade intelectual que ocasiona comprometimento de sua

aprendizagem?

Nesse caso, a busca de informações é primordial. É essencial conhecer

suas características, suas possibilidades e limitações, dando à escola e à

família a devida segurança e uma rota que possam seguir juntos. O caminho

deverá ser percorrido passo a passo, e o que no início tinha se prenunciado

como um enorme choque, aos poucos vai mostrando outros entornos.

Uma visão diagnóstica dos problemas esclarece a aprendizagem

humana e os diversos fatores que a conduzem ao fracasso escolar. Para um

diagnóstico claro da criança/adolescente, é necessário avaliar diversos

aspectos: orgânicos, cognitivos, emocionais, sociais e pedagógicos. É preciso

lembrar que as dificuldades de aprendizagem na escola podem ser causadas

por um ou mais desses aspectos, não sendo eles necessariamente

excludentes.

Segundo Weiss (2001), a opinião de que o fracasso escolar seja sempre

decorrente do aluno ou da família, não é verdadeiro. Muitas vezes, a maneira

de a escola ensinar, seu modo de explicar e a sua linguagem podem ser os

verdadeiros responsáveis pelo fracasso do aluno na escola.

O ato de ensinar não é função apenas do professor, mas de todos

aqueles que atuam na escola: professores, orientadores, supervisores e

diretores. Deve ficar claro para cada um que não existe um ato sequer

praticado na escola que seja neutro; cada um destes atos, de alguma maneira,

repercutirá na sala de aula, atingindo o aluno. Ou seja, não há ato inofensivo

quando se trata de crianças na educação familiar ou escolar.

Nada mais necessário do que saber que a atuação na sala de aula pode

levar a uma desastrosa desorganização mental e emocional do aluno. As

relações e a cobrança dos professores muitas vezes são incompatíveis com a

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maneira de ensinar; a linguagem e o modo de explicar a matéria, com

frequência, são os verdadeiros responsáveis pelo fracasso do aluno.

Trabalhando com essa ou qualquer outra diversidade, é preciso ter

curiosidade e interesse em buscar compreender os comportamentos e

estruturas, artifícios para potencializar as características positivas e suprir

carências dos perfis encontrados não em busca de modelo ideal, mas

valorizando cada relação pessoal, respeitando a essência.

Afinal, educar é um ato de amor.

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CONCLUSÃO

Segundo os especialistas, são vários os fatores que interferem na

aprendizagem da leitura e escrita, incluindo tanto o contexto social como outros

fatores ligados à dinâmica da sala de aula.

Esta dinâmica apresenta momentos desvinculados da realidade vivida

pelos alunos fora da escola. Os motivos destes problemas são vários: a dupla

jornada do professor, falta de tempo dos pais e apoio aos filhos nas atividades

escolares.

Há ainda os alunos que possuem algum tipo de anormalidade que,

muitas vezes, não foram diagnosticados por uma junta de especialistas e

exigem do professor um trabalho diferenciado e o conhecimento específico dos

problemas apresentados.

O supervisor sabe que o professor tem consciência das diversas práticas

de linguagem e que deve fazer do espaço da sala de aula um ambiente de

aprendizagem, sendo esse um local de agradável acesso para os alunos, com

diferentes portadores de texto, atividades significativas e diversificadas,

tornando o ambiente alfabetizador.

Ele utiliza os conhecimentos técnicos e didáticos voltados para o

trabalho com o professor. O papel deste profissional passa a ser de

estimulador, oferecendo todos os subsídios necessários para que se possa

desenvolver um bom trabalho.

Após o diagnóstico das dificuldades de aprendizagem, realizado pelo

professor, o especialista escolar convoca a família para uma entrevista e

orienta para que procure um especialista, ou tantos quantos forem necessários,

na tentativa de descobrir a origem dos problemas.

Diante dos resultados obtidos, tanto o professor quanto o supervisor

pedagógico deverão ter em mãos o laudo do aluno. E a partir de um estudo de

caso poderá ser traçada uma intervenção adequada para cada um.

Dentro da perspectiva apresentada neste trabalho, pode-se dizer que os

processos de desenvolvimento e aprendizagem consistem na apropriação de

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objetos, saberes, normas, instrumentos culturais em contexto e atividades

conjuntas socialmente definidas - família/escola e suas diversas configurações.

É preciso traçar estratégias de ação que permitam a criança descobrir-

se como pessoa capaz de se desenvolver e aprender, cada qual no seu tempo

e dentro de suas limitações. O apoio pedagógico assume então um caráter

coadjuvante. Sua função é oferecer meios para que a criança, através de sua

oralidade, escrita e corporeidade, possa expressar-se, aprender, desenvolver e

construir sua identidade.

Quando uma criança brinca, joga, desenha, faz história, ela revela

sentimentos e pensamentos que desconhece, falando em outra linguagem: do

desenho, do brinquedo, do jogo. Alguns estudos sintetizam o binômio

(indissociável) ensino-aprendizagem chamando a atenção da equipe

pedagógica e do professor para o sentido do que suas práticas proporcionam:

• A construção de esquemas de assimilação não presentes e a ampliação

dos já construídos;

• O processo de construção do conhecimento com uma face prazerosa e

motivadora da aprendizagem significativa;

• A construção de um ego crítico e saudável;

• A troca de experiências individuais através de atividades coletivas.

Este estudo evidencia o apoio pedagógico, a prática docente e a

estrutura familiar como uma trindade cuja missão é de proporcionar à criança,

desde sua tenra idade, o desenvolvimento e a aprendizagem. Cabe à escola,

rever sua filosofia, de modo que propicie um ambiente incentivador e mediador

de aprendizagens múltiplas e significativas, sem ferir os princípios éticos,

políticos e estéticos. A educação em sua excelência possui um papel sócio

cultural, inerente, dentro deste processo.

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ANEXO

Durante o período de pesquisa para trabalho foi realizada uma entrevista

com cinco supervisoras das redes de ensino municipal e estadual, cujo tema foi

a aprendizagem.

Ø Número de pessoas entrevistadas: 05.

Ø Segmentos: Rede Estadual e Rede Municipal.

Ø Período: outubro/2014.

Ø Pessoas entrevistadas:

1 - Cássia Elissandra Martins Leite de Assis. Supervisora da Rede Estadual,

oito anos de atuação.

2 - Dalva Silvany de Oliveira. Supervisora da Rede Estadual, seis anos de

atuação.

3 - Elisângela Mara de Paula. Supervisora da Rede Municipal, seis anos de

atuação.

4 - Cláudia Motta Challub. Supervisora da Rede Estadual, seis anos de

atuação.

5 - Kelli Suelli Geraldi da Silva. Supervisora da Rede Estadual e Municipal, sete

anos de atuação.

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Seguem abaixo, as perguntas e respostas dessa pesquisa realizada com

as supervisoras supracitadas:

QUESTÃO 1 - Os sucessos e insucessos na aquisição da leitura e escrita

apresentadas pelas crianças têm uma relação estreita com os jogos de

dominação/poder; participação/exclusão que caracterizam ideologicamente as

práticas de linguagem e, portanto, as relações sociais. Como é possível

mostrar “à criança que é possível que a leitura e escrita façam parte da sua

vida de forma prazerosa”?

RESPOSTAS

Cássia:

É importante primeiramente entender que a aquisição da leitura e escrita só irá

ocorrer com sucesso quando a alfabetização e o letramento estiverem

associados. É possível mostrar à criança que é possível ler e escrever,

alfabetizando-a, lendo histórias e poesias, construindo palavras através do

alfabeto móvel, elaborando cruzadinhas, jogos lúdicos para inseri-la neste

contexto.

Dalva:

É importante mostrar à criança que é possível que a leitura e a escrita façam

parte da sua vida de forma prazerosa quando o professor trabalha a leitura de

forma prazerosa em sala de aula. A criança deve sentir vontade em aprender a

ler e para isso acontecer o professor deve estimular a criança mostrando a

importância da leitura do dia-a-dia, mostrar para a criança que a nossa

sociedade atual exige pessoas que saibam ler e escrever. As pessoas que não

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dominam a leitura e a escrita vivem à margem da sociedade. É papel do

professor mostrar isso para a criança desde cedo.

Elizangela:

A nossa comunicação se dá principalmente através da leitura e escrita. Na

escola, o professor pode usar varias atividades para desenvolver a leitura e a

escrita dos alunos, principalmente explorando os diferentes gêneros textuais

existentes. Assim, os alunos farão uma ligação com a realidade do mundo das

letras que o cercam fora da escola com as atividades de sala de aula que com

certeza terá muito mais sentido. O professor que tem consciência das diversas

práticas de linguagem fará de sua sala de aula um espaço de total

aprendizagem, no que diz respeito à aquisição da leitura e da escrita,

desenvolvendo as habilidades essenciais para uma boa comunicação,

trabalhando de diferentes formas: teatros, debates, produção e leitura de

diferentes gêneros textuais. Quando o aluno vivencia determinada situação ele

se vê num processo de reformulação, aceitação e argumentação que propicia

seu crescimento intelectual e social.

Claudia:

É importante que se leve a criança a bibliotecas, livrarias onde tenha espaço

para leitura podendo mostrar a ela a importância de saber ler e escrever. Pode-

se incentivar a leitura e a escrita através de brincadeiras, músicas, teatros e

danças.

Kelli:

Através de estímulos, incentivos para que ela se sinta segura de sua

capacidade de ler e escrever.

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QUESTÃO 2 - “O normal é, em suma, um valor relativo, mutável, histórico e

socialmente constituído.”

Como você define uma criança com necessidades especiais de uma criança

considerada normal?

Cássia:

A criança com necessidades especiais não é uma criança que não seja

“capacitada” para aprender, porém é uma criança como todas as demais, com

particularidades definidas na sua aprendizagem; é um ser com limitações

orgânicas, mas não pode ser interpretado como incompleta, e a criança

considerada “normal“ é mais independente nas suas funções orgânicas.

Dalva:

Definir uma criança portadora de alguma anormalidade de uma criança

considerada normal não é fácil, já que existem inúmeras síndromes e tipos de

deficiência. Algumas não interferem de forma significativa na aprendizagem,

porém outras comprometem bastante o desenvolvimento da criança. Cabe ao

medico o diagnóstico da anormalidade, e cabe ao professor saber lidar com as

diferenças, já que não existe igualdade em todos os sentidos. E ser normal é

muito relativo, pois depende do ponto de vista de cada um.

Elizangela:

A criança portadora de alguma anormalidade possui um desenvolvimento bem

mais lento e possui um relacionar com outro, porém esses são apenas indícios

de anormalidade que só podem assim ser chamados, se forem confirmados por

um médico especialista.

Claudia:

Infelizmente no mundo atual a criança portadora de alguma anormalidade

ainda sofre muito com preconceito dos colegas, professores, da sociedade e

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até mesmo da família. Acredito que em alguns casos essa criança pode

adquirir mais capacidades do que uma criança considerada normal.

Kelli:

Uma criança portadora de uma anormalidade para mim são aquelas que

possuem algum tipo de variação genética e que em um ambiente generalizado

ela não pode ser atendida adequadamente.

QUESTÂO 3 – Qual é o papel do pedagogo, junto ao educador, diante das

dificuldades de aprendizagem sinalizadas pelas crianças no processo ensino

aprendizagem?

Cássia:

Depois do diagnóstico feito é suma relevância chamar os pais e averiguar se é

algum problema familiar que a criança está vivenciando. Se for, dependendo do

caso, é encaminhado para o NAPI (Setor de Acompanhamento

Psicopedagógico). Descartando-se todas essas possibilidades, o professor irá

elaborar atividades especificas só para essas crianças.

Dalva:

O papel do pedagogo junto ao educador diante das dificuldades de

aprendizagem sinalizadas pelas crianças no processo ensino aprendizagem

deve ser o de orientar ao professor com relação a sua prática educativa. A

forma, ou melhor, maneira de ensinar um pode não funcionar com outro. O

professor deve levar em conta a subjetividade de cada um para fazer um bom

trabalho em sala de aula. É nesse ponto que o pedagogo deve atuar orientando

o professor na melhor maneira de atingir aqueles com dificuldades de

aprendizagem. O desafio deve ser vencido com um trabalho em conjunto;

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ensinar aos que não apresentam dificuldades de aprendizagem é muito fácil, a

grande conquista deve ser ensinar aos que apresentam dificuldades de

aprender.

Elizângela:

Após o diagnóstico inicial do professor de que existem dificuldades de

aprendizagem por um determinado aluno, a família é acionada para uma

entrevista e orientada a procurar um médico. Na sala de aula (quando

possível), as atividades são diferenciadas para esse aluno buscando seu

desenvolvimento e respeitando seus limites. Quando possível, a criação de

projetos específicos é uma boa alternativa para ajudar esses alunos.

Claudia:

O pedagogo deve mostrar com embasamento teórico como se deve trabalhar

com as dificuldades de aprendizagem lembrando-se da realidade de cada

escola e de cada aluno. Pois o meio em que se vive pode influenciar.

Kelli

O pedagogo precisa discutir possibilidades, pontos de vistas com o professor

para tentar caminhos diferentes que possibilitem sucessos ao educando.

QUESTÂO 4 - O processo de exclusão e de discriminação social penetra no

seio da escola a partir da fragmentação e da descaracterização dos saberes e

da ênfase na técnica. Conteúdos e práticas escolares apresentam-se

desarticulados com a vida concreta dos homens e, conseqüentemente, o

ensino sofre um processo de deteriorização, de desumanização. Baseando-se

na sua prática pedagógica, você concorda com a afirmativa acima? Por quê?

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Cássia:

Sim. Porque aquela criança normalmente caracterizada como “aquele não

aprende, não tem mais jeito” é excluído na própria escola. Aí então o professor

também já o deixa de lado e o próprio aluno se sente desvalorizado e sem

motivação para aprender e por isso irá acarretar problemas na sua vida social,

por isso é importante o professor ensinar objetivando também o letramento.

Dalva:

Concordo plenamente com a afirmativa acima, porque acredito que a

sociedade tem mudado em uma velocidade incrível e a maneira como o

professor trabalha em sala de aula continua da mesma forma. Os conteúdos e

as práticas escolares apresentam-se desarticulados com a vida em sociedade.

A criança não consegue entender para que está estudando e quando deverá

usar na sociedade o que foi aprendido na escola. Como 90% das crianças são

de escolas públicas, o processo de exclusão e de descriminação social deverá

ser “quebrado” a partir de significativas mudanças tanto de poder público

através de maior investimento na Educação, como na mudança de mentalidade

dos próprios educadores.

Elisangela:

Em parte, porque nenhum problema pode ser analisado por um único fator e

sim uma série, é todo um contexto social que gera o problema. Na Educação

não é diferente. Realmente a dinâmica de sala de aula ainda está longe do

ideal, porque se apresenta em momentos desarticulados da realidade vivida

pelos alunos fora da escola. E isso se dá por vários motivos: jornada dupla do

professor e falta de formação em serviço, estruturação do tempo escolar e

outros.

Claudia:

Sim. Não foi possível registrar.

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Kelli:

Sim, concordo. Devido “as dificuldades vivenciadas pelo próprio professor”.

Como é possível que ele seja um ser desarticulado para promover a

articulação? Só podemos dar aquilo temos.

QUESTÂO 5 - Como a equipe pedagógica e o professor regente, numa ação

conjunta, podem agir de forma a auxiliar o aluno mediante suas dificuldades de

aprendizagem?

Cássia:

Como já foi dito anteriormente, o primeiro passo é o diagnostico (detectar onde

está a dificuldade para depois traçar o caminho). Depois do diagnóstico

registrado, elaborar atividades lúdicas com significado e com questões

progressivas, começando com atividades menos complexas e, na evolução do

aluno, aumenta-se a complexidade. Se a dificuldade for com relação à

alfabetização é importante o professor avaliar e saber em que nível este aluno

está (silábico, silábico-alfabético,...). Se a escola tiver espaço e pessoas na

própria equipe pedagógica disponível para essa finalidade é importante ter

professor recuperador num determinado período de tempo.

Dalva:

A equipe pedagógica e o professor regente devem trabalhar em conjunto para

auxiliar o aluno mediante suas dificuldades de aprendizagem. É o professor

regente que deve detectar as dificuldades do aluno e percebendo suas

limitações em resolver tais dificuldades deve procurar auxílio na equipe

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pedagógica que deverá trabalhar junto com o regente para alcançar o objetivo

que deve ser o de melhorar a aprendizagem da criança.

Elisangela:

Estudando e discutindo sobre o assunto e organizando projetos que atendam a

especificidade desses alunos.

Claudia:

Tendo reuniões para discutir o assunto, fazendo projetos envolvendo toda a

escola, conversar com os pais e dependendo do caso encaminhar para o

especialista.

Kelli:

Acredito que educação é um processo de muito diálogo e insistência.

Conversar com o aluno e incentivá-lo é um grande passo, mas existem coisas

que mesmo com esforço das partes envolvidas não é suficiente para solucioná-

las. Há problemas que, em minha opinião, precisam ser resolvidos com a ajuda

de outras pessoas e outros profissionais.

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APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A pesquisa realizada com as supervisoras visou identificar o

comprometimento das escolas com os fatores que podem influenciar no

processo ensino-aprendizagem.

Para a primeira pergunta, que procurou conhecer as opiniões sobre a

leitura e a escrita, as respostas tiveram pontos em comuns: todas as

entrevistadas disseram que é fundamental mostrar aos alunos que a aquisição

da leitura e da escrita é de suma importância para as suas vidas. Quem não

sabe ler e escrever vive à margem da sociedade

Os momentos de leitura e escrita devem ser prazerosos e motivadores,

e, por isso, o professor deve lançar mão de atividades que incentivem e

mantenham a atenção das crianças, em todo o tempo. Algumas sugestões

foram dadas pelas entrevistas: cruzadinhas; jogos lúdicos; brincadeiras,

músicas; teatros; danças; exploração de diferentes gêneros de textos.

Os alunos precisam ter a consciência que sabendo ler e escrever

estarão sempre ligados à realidade do mundo.

A segunda pergunta pediu uma definição sobre as crianças com

necessidades especiais, de acordo com a opinião de cada entrevistada.

Algumas disseram que essas crianças são capacitadas para a aprendizagem,

pois essas necessidades são particulares e algumas delas não interferem nas

atividades em sala de aula. Em outras opiniões, as supervisoras afirmaram

que uma criança com necessidades especiais deve ser alfabetizada em

ambiente diferente daquele onde estão as crianças ‘normais’ e, se possível

com uma assistência médica permanente.

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Perguntadas sobre o papel do pedagogo diante das dificuldades que

algum aluno possa apresentar em sala de aula, todas as entrevistadas

responderam que ele deve ser procurado pelo professor assim que este

detectar alguma criança com deficiência na aprendizagem. O pedagogo

assumirá o seu papel dando a orientação necessária e devida para esses

casos. A família deve ser notificada imediatamente. Esses alunos terão

atividades direcionadas às suas carências e deverão ter acompanhamento

constante com projetos específicos para as suas limitações.

A questão quatro quis conhecer a opinião das entrevistadas sobre os

conteúdos e práticas escolares praticados nas escolas atuais, que são

desarticulados da vida real provocam exclusão das escolas e discriminação

social. Todas as respostas dadas foram unânimes. O mundo cresce cada vez

mais aceleradamente, e as escolas não conhecem acompanhar esse processo,

mantendo-se em grande defasagem em relação à realidade. Os professores,

muitas vezes, vivenciam dificuldades às quais não podem responder ou tomar

as atitudes adequadas.

Finalmente, a última questão quis saber como podem a equipe

pedagógica e o professor regente trabalharem juntos para ajudar os alunos

com dificuldades na aprendizagem. As respostas dadas afirmam que assim

que o professor diagnosticar qualquer problema com algum aluno, este deverá

ser encaminhado à equipe pedagógica que oferecerá o suporte necessário

disponível na escola. O trabalho deverá ser feito em conjunto envolvendo

também a família e, se necessário, um especialista e visando a uma possível

solução para o problema.

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