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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU” ARTETERAPIA EM EDUCAÇÀO E SAÚDE A ARTETERAPIA NOS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM ALUNA Alyson Rebelo Soares ORIENTADORA Professora Fabiane Rio de Janeiro, julho de 2003. DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU” ARTETERAPIA EM EDUCAÇÀO E SAÚDE

A ARTETERAPIA NOS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM

ALUNA Alyson Rebelo Soares

ORIENTADORA Professora Fabiane

Rio de Janeiro, julho de 2003.

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO-PEDAGÓGICAS

PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ARTETERAPIA EM EDUCAÇÃO E SAÚDE

A ARTETERAPIA NOS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM

Apresentação de monografia ao conjunto

Universitário Cândido Mendes como

condição prévia para conclusão do

Curso de Pós-graduação “Lato Sensu”

em arteterapia em educação e saúde

Por = ALYSON REBELO SOARES.

Rio de Janeiro, julho de 2003.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, à meus

pais, amigos por terem me incentivado

nesta caminhada.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à meus pais, à meus

pacientes, que contribuíram para o meu

aprendizado.

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EPÍGRAFE

“As formas de arte representam formas de consciência

humana. Todo ato de criação é um ato de compreen-

são que redireciona o universo humano”

( Fayga Ostrower )

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RESUMO

Cada vez mais, as crianças estão indo mais cedo para a escola. São poucas que

valorizam o trabalho da arte, como um todo, nos primeiros contatos da criança com a

escola.

Hoje podemos observar que existem grandes números de alunos com dificuldades de

aprendizagem, que não conseguem acompanhar o ritmo escolar que é proporcionado

pelo seu planejamento, ocasionando até o abandono da criança ou adolescentes em

ter o desejo em aprender, já que repetem a mesma série várias vezes ou são

encaminhadas para a próxima série sem ao menos terem alcançado o aprendizado

anterior, até mesmo da alfabetização. Com isto há uma grande procura nos

consultórios terapêuticos, para que possamos “resolver” o problema trazido pela

escola e responsáveis. Sabemos que entre os fatores determinantes destas

dificuldades está o desenvolvimento das áreas básicas do ser humano que são

biológica, social, psicológica, que devem ser estimuladas desde o nascimento,

primeiro pelo contato com os pais, depois com a escola e com seu meio social,

através de atividades que possibilitem a auto-expressão, o próprio toque dos pais,

estímulo das percepções, do contato do olhar, do conversar, da possibilidade do

brincar em seu meio social, trazendo a integridade motora, afetiva, social, intelectual,

pois só conseguimos aprender experimentando os contatos.

A proposta deste trabalho é dar noção da arteterapia ajudando no processo do

desenvolvimento percepto cognitivo motor , emocional e social da criança ou

adolescente.

Com a visão mais aberta das escolas, que estão utilizando-se cada vez mais da arte

como forma de melhorar o entendimento do aprendizado escolar, até porque através

da arte criam-se vínculos maiores entre alunos e educadores. A arteterapia nos

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processos de desenvolvimento destas crianças e adolescentes tem se fortalecido,

sendo melhor valorizado e aumentando a busca desta terapia em consultórios e

escolas, para melhorar o desejo e assimilação das aprendizagens gerais.

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METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho baseia-se na pesquisa bibliográfica e vivências,

atendendo pacientes com dificuldades na aprendizagem em consultórios e na escola,

onde muitas não há uma abertura para as atividades auto-expressivas desde o pré-

escolar.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO 10 CAPÍTULO I 11 FUNDAMENTOS BIOPSICOLÓGICOS DA APRENDIZAGEM 11 CAPÍTULO II 20 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E A APRENDIZAGEM 20 CAPÍTULO III 33 TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM 33 CAPÍTULO IV 42 ARTETERAPIA 42 CONCLUSÃO 52 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 53 ÍNDICE 54 ANEXOS 56 FOLHA DE AVALIAÇÃO 57

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INTRODUÇÃO

É importante que os transtornos da aprendizagem não sejam vistos somente como um

sintoma isolado, mas como um processo de alterações tanto biológicas,

neurofisiológicas, psicológicas e sociais, que interferem na organização interna da

criança ou adolescente em assimilar e desenvolver “normalmente” o aprendizado

escolar. Difícil seria tentarmos desmembrar as respostas comportamentais como uma

reação apenas cognitiva, tal capacidade exige a experiência prévia da percepção de

símbolos, imagens, e esta mobiliza as sensações que são avaliadas pelas emoções,

que fazem com que adaptamos nossas reações perante o mundo em que nos cerca.

A família e a escola têm um papel grande no desenvolvimento destas crianças e

adolescentes. A primeira determina a qualidade do clima emocional, das experiências

dentro do lar, dos estímulos das capacidades e habilidades destas em casa, dando-

lhes mais segurança em conviver em outros ambientes fora do convívio dos pais,

como a escola que pode proporcionar oportunidades para o desenvolvimento

cognitivo, emocional e social.

A arteterapia nos traz uma gama de recursos para podermos atender as necessidades

de elaboração dos conteúdos internos destas crianças e adolescentes, visando sempre

a auto-expressão, mostrando através das atividades desenvolvidas as capacidades e

habilidades que encontravam-se latentes. Dando condições de exteriorizar emoções,

desenvolvendo a auto-estima e auto-valorização, dando-lhe maior segurança perante

a novas situações, estimulando o interesse na aprendizagem escolar, além de

estimular e desenvolver pontos básicos necessários para elaboração do aprendizado

geral.

A proposta desta monografia é mostrar as reações biopsicológicas e neurobiológicas

do ser humano no processo da aprendizagem, sobre o desenvolvimento cognitivo, e

as influências sofridas, os principais transtornos de aprendizagem e sobre a

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arteterapia e seus principais objetivos e recursos utilizados em consultório com a

criança e o adolescente com problema na aprendizagem.

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CAPÍTULO I

FUNDAMENTOS BIOPSICOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO

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FUNDAMENTOS BIOPSICOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO

Desenvolvendo as estruturas

A aquisição de uma função depende do desenvolvimento de estruturas que lhe são

indispensáveis para manutenção das atividades diárias, será citado abaixo o sistema

nervoso central como principal nesta aquisição.

1.1 – Sistema nervoso central O sistema nervoso central é aquele que se localiza dentro do esqueleto axial

(cavidade craniana e canal vertebral); sistema nervoso periférico é aquele que se

localiza fora deste esqueleto. Esta distinção, embora muito esquemática, não é

perfeitamente exata, pois, como é óbvio, os nervos e raízes nervosas, para fazer

conexão com o sistema nervoso central, penetrando no crânio e canal vertebral.

- Neurônio, ou célula nervosa, é unidade funcional básica do sistema nervoso; glia

ou neuroglia são sinônimos para uma classe de células não-neuronais no sistema

nervoso. Além de seu apoio funcional aos neurônios, as células glias podem

exercer um papel direto e muito importante na atividade neural.

- Medula espinhal, situa-se entre o bulbo e o cone medular. Na medula, a

substância cinzenta localiza-se por dentro da branca e apresenta a forma de uma

borboleta, ou de um H.

- Tronco encefálico, interpõe-se entre a medula e o diencéfalo, situando-se ventralmente ao cerebelo. O tronco encefálico se divide em bulbo nele situa-se a pirâmide, feixe composto de fibras nervosas descendentes que ligam as áreas motoras do cérebro aos neurônios motores da medula; ponte é a partte do tronco encefálico interposta entre o bulbo e o mesencéfalo; mesencéfalo encontra-se a locus ceruleus, área de coloração ligeiramente escura, cuja função se relaciona com o mecanismo do sono; sistema reticular ativador é uma rede frouxamente organizada de neurônios que avança até a linha média do tronco cerebral. A estimulação desta área ativa o córtex, até um estado de vigília alerta. Os distúrbios psiquiátricos nos

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quais a motivação e o nível de excitação estão prejudicados, podem envolver patologia nesta região. - Cerebelo, fica situado dorsalmente ao bulbo e a ponte. Relaciona-se com o equilíbrio e a coordenação dos movimentos. Um princípio geral é que, ao contrário do cérebro, o cerebelo influencia os neurônios motores do seu próprio lado. Para isso, tanto suas vias aferentes como eferentes quando são homolaterais, sofrem um duplo cruzamento, ou seja, vão para o lado oposto e voltam para o mesmo lado, enquanto no hemisfério cerebral a sintomatologia é do lado oposto. - Cérebro, é formado pelo diencéfalo e o telencéfalo. É a porção mais desenvolvida e

mais importante do encéfalo, ocupando cerca de 80% da cavidade craniana.

a) Diencéfalo se divide em

- Tálamo = 2 massas volumosas de substância cinzenta. O corpo geniculado

medial faz parte da via auditiva; o lateral da via óptica, e são considerados como

constituindo a divisão do diencéfalo.

- Hipotálamo = área relativamente pequena do diencéfalo, situado abaixo do

tálamo, com importantes funções principalmente com o controle da atividade

visual. As funções do hipotálamo são muito numerosas e importantes, quase

todas elas relacionadas com a homeostase, ou seja, com a manutenção do meio

interno dentro dos limites compatíveis com o funcionamento adequado dos

diversos órgãos controle do sistema nervoso autônomo, regulação da temperatura

corporal, regulação do comportamento emocional, regulação da diurese,

regulação do sistema endócrino e regularização de ritmos cardíacos.

- Subtálamo = é uma área situada na parte posterior do diencéfalo na transição

com o mesencéfalo, limitando-se superiormente com o tálamo, lateralmente com

a cápsula interna e medialmente com o hipotálamo.

b) Telencéfalo Os dois hemisférios cerebrais são incompletamente separados pela fissura

longitudinal do cérebro, cujo assoalho é formado por uma larga faixa de fibras

comissurais, o corpo caloso ( principal meio de união entre os dois hemisférios).

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O hemisfério “dominante”, é aquele organizado para expressar a linguagem. O

hemisfério esquerdo é dominante em 97% da população, incluindo 99% de pessoas

destras e, aproximadamente 60% dos canhotos. Além da habilidade para a

linguagem, o hemisfério esquerdo tem sido descrito como sendo a metade racional

do cérebro, relacionando às habilidades analíticas, sequenciando abstração e lógica.

Pensa-se que o hemisfério direito está envolvido com atividades perceptivas, visual-

espacial, artística, musical e sintética cortical. Está envolvido tanto com a percepção

quanto com a expressão do conteúdo afetivo, incluindo a percepção dos indicadores

sociais.

Com base nos autores Golden e Anderson, as principais funções hemisféricas são

- Hemisfério esquerdo – constitui o controle da conduta verbal, a qual inclui a

capacidade para ler, escrever, falar e entender o material verbal. É o responsável

direto pelas aptidões motoras e sensoriais do lado direito do corpo, assim como a

da coordenação bilateral de ambos os lados do corpo.

- Hemisfério direito – é considerado um hemisfério não verbal ou viso-espacial. É

responsável pela situação do espaço tridimensional e pelo trabalho com as

coordenadas espaciais, assim como o de desenhar. Recorda material visual e

auditivo não verbal. Dirige as atitudes rítmicas relacionadas com a altura do som

e discrimina entre matrizes de cor. É responsável pela execução das funções

automáticas e das atitudes sensoriais e motoras do lado esquerdo do corpo. O

hemisfério direito é, igualmente, o que dirige a orientação tridimensional e a

resolução de problemas onde intervém a idealização espacial. ( LAPIERRE,

1990, p. 8 ).

A lesão da porção posterior do corpo caloso evita que a linguagem escrita, vista pelo

hemisfério direito, chegue aos centros de linguagem do hemisfério esquerdo, o que

resulta em alexia. A lesão da porção anterior do corpo caloso evita que os córtices

motor e sensorial direitos se comuniquem com a área de linguagem e da praxia do

hemisfério esquerdo. Isto resulta em incapacidade para escrever com a mão esquerda,

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na inabilidade para nomear objetos que estão à vista, colocados na mão esquerda,

além de uma apraxia generalizada da mão esquerda.

Entretanto, quando se apresenta uma disfunção ou lesão no hemisfério esquerdo, as

possibilidades de que existe um problema na aprendizagem são muito maiores do

que a lesão localizada no hemisfério direito.

A surperfície do cérebro apresenta depressões denominadas sulcos que ajudam a

demilitar os lobos cerebrais que recebem o nome de acordo com os ossos do crânio

com os quais se relacionam.

Será citado a seguir cada córtex com suas respectivas funções

- Córtex Frontal

Em geral, o córtex frontal está envolvido com o comportamento motor, linguagem

expressiva, habilidade para concentração espacial e pessoal. O córtex pré-frontal

também possui um envolvimento complexo na avaliação da informação sensorial. O

córtex órbito-medial frontal está intimamente relacionado ao sistema límbico. As

lesões desta área do córtex resultam em retrimento, inibição e medo, instabilidade de

humor, explosividade, perda de inibição e ataques ocasionais.

_ Córtex Temporal

As funções primárias do córtex temporal incluem a linguagem, memória e emoção.

Uma vez que as lesões do córtex temporal podem levar a sintomas que se

assemelham àquelas de condições psiquiátricas ( por exemplo, alucinações, delírios,

perturbações no humor ), esta área tem recebido uma atenção particular, na pesquisa

psiquiátrica. As causas mais comuns de lesões do lobo temporal são AVCs, traumas

e tumores. As lesões do lobo temporal dominante provocam euforia, alucinações

auditivas, delírios, distúrbios do pensamento, habilidade diminuida para aprender

materiais novos e pouca compreensão verbal. As lesões do lobo temporal não

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dominantte ocasionam disforia, irritabilidade e déficits cognitivos, incluindo

habilidade visual e musical diminuida.

_ Córtex Parietal Os lóbulos parietais contém os córtices de associação para o imput visual, tátil e

auditivo e, portanto, estão envolvidos no processamento intelectual das informações

sensoriais. O lobo parietal esquerdo tem um papel preferencial no processamento

verbal; o lobo parietal direito tem um papel maior no processamento visual-espacial.

_ Córtex Occipital A total destruição do córtex occipital resulta em cegueira occipital. Uma disfunção

mais sutil, entretanto, pode resultar em disfunções de imagens, pós-imagens

persistentes e perda de percepção de profundidade.

É possível localizar as funções em áreas bastante específica do córtex, esta

localização não significa que uma área específica do córtex seja a única associada

com a função ou que não esteja envolvida em outros processos dentro do córtex

cerebral. A localização das funções dentro do córtex cerebral significa somente que

uma área específica possui um papel particularmente importante naquele processo.

1.2- Bases neurobiológicas da linguagem É a integração funcional dos órgãos receptores e efetores do S.N.C que permite uma

correta condução da linguagem, tanto à modalidade como à escrita da mesma.

a) Recepções da linguagem - Recepção auditiva Segundo Lefévre em seu livro neurologia infantil, a recepção auditiva é uma das

primeiras recepções que temos quando na vida extra-uterina. ( LEFÉVRE, 1990,

p.115)

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Os mecanismos de decodificação da informação auditiva, ainda não é totalmente

conhecido nos diferentes níveis do sistema nervoso central. A sensibilidade

discriminativa para frequência seria, máxima ao nível do corpo geniculado. Por

outro lado, a intensidade do som iria se codificar no sistema nervoso

simultaneamente, pela qualidade de células excitadas e pela frequência de descarga.

_ Recepção visual

A recepção visual de uma determinada região do nosso corpo visual é recebida no

lado oposto da retina, isto é, um estímulo visual que esteja situado no hepicampo

visual direito chega ao lado temporal da retina do lado direito e a área nasal da retina

esquerda.

A qualidade visual será melhor à medida que o estímulo alcançar a fóvea, que é a

região central da retina, rica em um tipo de células receptoras sensíveis às cores e

que assegura a acuidade visual.

A percepção visual de formas, de contornos associada ao sistema que rege a

motilidade ocular, tem uma elevada importância quando desempenha a atividade de

leitura.

b) Controle óculo-motor

No tronco cerebral, o fascículo longitudinal posterior liga o núcleo dos nervos da

motricidade ocular, permitindo, a coordenação entre eles. A conexão desse fascículo

com outros núcleos do tronco cerebral possibilita a coordenação entre os movimentos

oculares, papel este desempenhado pelos III, IV e V pares cranianos; as pálpebras,

pelos VII par cranianos; o sistema bucofarínges, pelo XII par e a cabeça pelos VII e

IX pares cranianos. As múltiplas informações procedentes do sistema vestibular, do

córtex cerebral e das estruturas subcorticais participam no controle motor dos

movimentos oculares, os quais são importantes para o desempenho da escrita.

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c) Expressão oral

Para que haja emissão das palavras, as cordas vocais devem vibrar por uma

disposição dinâmica adequada das diferentes partes integrantes do aparelho

bucofaríngeo, durante o ato expiratório. Estes movimentos são controlados por vários

nervos cranianos.

A ordem motora dirigida ao aparelho fonador organiza-se no córtex cerebral ao nível

da área motora primária.

d) Expressão da escrita

Na zona da área motora primária, situada acima da área do sistema fonador, ocorre a

mensagem neural para os movimentos necessários à escrita.

A compreensão dos fundamentos biopsicológicos da aprendizagem ;e fundamental

para o homem, uma vez que o cérebro lhe proporciona uma capacidade de

aprendizado muito além de que possui outras espécies.

Estabeleceram-se observações únicas de que o funcionamento do hemisfério

esquerdo é preponderante do ponto de vista da linguagem e da capacidade aritmética

em pessoas destras. O hemisfério direito está particularmente especializado na

capacidade musical e discernimento de relações espaciais.

Se a lesão ocorrer nos lobos frontais, temporais ou parte deles poderá, em crianças

pequenas, mostrar mutismo ou agramatismo.

A memória, a percepção e a cognição dependem da evolução do cérebro, esta para

ocorrer igualmente, em todas as suas partes, dependerá dos fatores como estímulos

ambientais, nutricionais, físicos, perceptocognitivos; pois a alteração da evolução

estrutural do cérebro pode repousar algumas deficiências escolares, levando a atraso

ou conflitos na aprendizagem da linguagem ( expressão oral e escrita ).

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Podemos observar no próximo capítulo a importância do sistema nervoso para

aquisição do desenvolvimento cognitivo da aprendizagem, necessitando

primeiramente da percepção, da experimentação motora; pois destas possibilidades

que as estruturas mentais se desenvolvem e o indivíduo é capaz de modificar suas

respostas a cada estímulo recebido ou experiência vivida.

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CAPÍTULO II

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E A APRENDIZAGEM

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DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E A APRENDIZAGEM

Respostas comportamentais

A capacidade de responder com comportamentos objetivos cada vez mais eficiente a

circunstâncias variáveis, mas não especificadas previamente define a adaptação. Tal

capacidade, nos sistemas vivos, exige que a informação que chega seja registrada e

codificada, que seja estabelecida uma memória de experiência. Com cada

experiência bem sucedida de busca do objeto ou desvio de ameaça, o organismo

aprende mediante análise de busca do objeto ou desvio da ameaça, o organismo

aprende mediante análise comparativa da eficiência do comportamento presente com

comportamentos prévios. Eles assim discrimina progressivamente respostas

comportamentais mais habilidosas e econômicas. A memória, a percepção e a

cognição dependem da evolução do cérebro.

A palavra cognição se refere à interpretação de eventos sensoriais, seu registro e

recuperação eficiente da memória, à sua habilidade para manipular esquemas,

imagens, símbolos e conceitos ao pensar, raciocinar e solucionar problemas e à

aquisição de conhecimentos e crenças a respeito do meio ambiente. A atividade

consiste pelo menos dos processos ativos de percepção, memória, produção de

idéias, avaliação e raciocínio.

O ciclo vital representa os estágios através dos quais todos os seres humanos passam,

desde o nascimento até a morte. O pressuposto fundamental de todas as teorias do

ciclo vital é que o desenvolvimento ocorre em estágios sucessivos e claramente

definidos. Esta sequencia é invariável; isto é, ocorre em uma determinada ordem da

vida de cada pessoa, quer ou não todos os estágios sejam completados. Um segundo

pressuposto é o princípio epigenético; que afirma que cada estágio caracteriza-se por

eventos ou crises que devem ser satisfatoriamente resolvidos, para que o

desenvolvimento transcorra sem incidentes.

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De acordo com o modelo epigenético, se a resolução não é conquistada dentro de um

determinado período de vida, todos os estágios subsequentes refletem este fracasso

na forma de desajuste físico, cognitivo, social ou emocional. A criança descobre seu

ego e suas possibilidades, através da própria ação, daquilo que assume pessoalmente,

integra os dados do meio, compreende, aprende e suas estruturas mentais se

desenvolvem.

O processo na estruturação da inteligência, embora não possa ser alcançado através

de um ensino organizado, tem a ver diretamente com a experiência. Se uma criança

não realiza ações com os objetos, se não tem possibilidade de ver, tocar, moveer-se,

provar seu domínio sobre as coisas, vai encontrar sérias dificuldades no processo de

organização de sua inteligência.

A teoria mais , geralmente, aceita a respeito da maneira como se desenvolve a

cognição é a proposta pelo psicólogo suíço Jean Piaget que enfatiza a contribuição da

criança na construção do seu próprio conhecimento, ou seja, da criança como agente

do seu próprio desenvolvimento cognitivo. A fonte do conhecimento da criança está

não só na variedade de situações concretas e sociais que ela tem oportunidade de

vivenciar, mas também na organização lógica que essas interações vão assumir no

seu pensamento.

A criança desde que nasce, é um organismo em constante interação com o mundo

dos objetos físicos e o mundo das relações sociais. Esse organismo está ao mesmo

tempo passando por um processo de maturação biológica.

É a partir dessas interações ( organismo – meio físico e social ) que a criança constrói

formas cada vez mais elaboradas de adaptar sua inteligência à complexidade do

mundo que a rodeia.

“Toda criança em qualquer condição social e cultural passa por quatro estágios

subdivididos em etapas. Que leva a criança dos meros esquemas perceptores –

| conhecimento ( cognição ) figurativo | - à estruturas complexas de raciocínio do tipo

hipotético – dedutivo - | conhecimento ( cognição ) operativo | .”

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- Cognição figurativa – configura o objeto de maneira como ele é percebido pelo

sentido. O conhecimento figurativo só é concebível dentro de um quadro de

cognição operativa ( de nível inferior ).

- Cognição operativa – implica no aspecto ativo da inteligência na medida em que

a cognição significa construir, transformar, incorporar. Só a cognição operativa e

o uso operativo em alto nível de símbolos é que desafiam a expansão intelectual.

Para Jean Piaget as categorias lógicas do conhecimento são construídas

gradativamente na trajetória da maturação biológica da criança ao adulto. Essa

maturação se dá através de um processo constante de assimilação, acomodação,

adaptação e organização.

2.1- As unidades da atividade cognitiva

São as entidades primárias manipuladas pelo pensamento

a) Esquemas e imagens

O esquema é provavelmente a primeira unidade cognitiva da criança pequena. O

esquema é o modo que a mente tem para representar os aspectos mais importantes,

ou atributos críticos, de um evento. O esquema não é nem uma imagem nem uma

cópia fotográfica é, antes, um esboço. Como todos os esboços, preserva a disposição

e as relações entre elementos importantes num dada conjunto.

O esquema deve ser contrastado à imagem, que é uma representação mais

consciente, elaborada e detalhada, criada a partir do esquema. Este é como o

esqueleto básico, a partir do qual a imagem é ativamente construída.

b) Símbolo

Os símbolos diferentemente das imagens ou dos esquemas, são modos arbitrários de

representar eventos concretos, característicos ou qualidades dos objetos e ações.

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O esquema e a imagem preservam as qualidades físicas e as relações pertinentes a

uma experiência perceptual particular; o símbolo, não. Crianças na fixa etária do

jardim de infância possuem normalmente tanto esquema como o símbolo para as

letras do alfabeto, bem como para muitos outros objetos. Os símbolos são parte da

quarta unidade de pensamento, o conceito.

c) Conceito

Um conceito representa ou está no lugar de um conjunto como um de atributos entre

um grupo de esquemas, imagens ou símbolos. A principal diferença entre um

símbolo e um conceito é que o símbolo representa um evento singular, específico ao

lado que o conceito representa alguma coisa comum a vários acontecimentos.

Quando a criança aprende a ler, representa inicialmente as letras como símbolos e só

mais tarde é que adquire os conceitos das letras. Ela primeiro aprende que a letra b é

o nome de um som específico de um desenho linear; posteriormente, aprende que b e

B têm um atributo comum. Então terá aprendido o conceito daquela letra.

Há várias qualidades importantes nos conceitos, além dos significados de seus

atributos ou dimensões. Os conceitos diferem em grau de abstração, de

complexidade, de diferenciação e de centralidade de suas dimensões características.

d) Regras

As regras são essencialmente afirmações a respeito de conceitos e podem ser

classificadas conforme as relação estática entre os conceitos. Uma regra que descreve

uma relação simples ou estática entre conceitos é chamada de regra não –

transformacional.

Regras formais estabelecem uma relação entre dois conceitos que é sempre

verdadeira e especificável. ex “o óleo flutua na água”.

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Regras informais que referem-se a uma relação imperfeita entre duas ou mais

dimenões. Ex. “o bolo é doce”.

OBS . O aparecimento tardio de um nova estágio no desenvolvimento das regras e do

raciocínio pode resultar de relutância da criança em substituir as velhas regras por

novas. Em linguagem Piagetiana, a criança tenta assimilar novas experiências às suas

antigas idéias. Resiste teimosamente ao abandono de suas crenças antigas, se foram

efetivas no passado.

2.2- Atividades cognitivas

A atividade cognitiva pode ser dividida em dois tipos, indireta ou direta.

a) Cognição indireta

Refere-se à associação livres, sonhos, incluindo o fluxo livre do pensamento que

ocorrem continuamente, á medida que a criança vai para cassa ou olha pela janela.

Por ser difícil estudar as associações particularmente indiretas de uma criança ( ou

adulto ), não se sabe muito sobre este tipo de cognição. Se a uma criança se pede que

relate ssuas associações livres ou que as anote, a situaçào é alterada e o pensamento

indireto, de repente, torna-se direto.

b) Cognição direta

Refere-se aos processos cognitivos que ocorrem, uma criança tenta solucionar um

problema que lhe é dado por outras pessoas ou que ela mesma se coloca. A criança

sabe que há solução para o problema e também sabe quando chegou a resposta. O

processo de solução de problemas pode ser considerado como envolvendo

tipicamente a seguinte sequencia = percepção e interpretação, memória, produção de

hipóteses, avaliação, dedução e, quando necessário, relato público. Consideraremos

cada um deles em ordem. Mas é útil ter em mente as mudanças gerais que ocorrem

no período entre os 5 e os 12 anos de idade. A riqueza do estoque infantil de

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unidades cognitivas aumenta a cada ano que passa. A criança torna-se cada vez mais

interessada pelo grau de coincidência entre os seus conceitos e os de outras crianças

e adultos. Sua memória melhora acentuadamente e tem maior habilidade para

lembrar mais informações.

Iniciando por volta dos 4 ou 5 anos de idade, emerge gradualmente um processo

executivo que na maioria das crianças, está firmemente no controle do

funcionamento cognitivo, na época em que a criança está com 10 ou 11 anos de suas

percepções, lembranças e processos de raciocínio, relacionar experiências passadas e

possibilidades futuras ao presente, selecionar as melhores estratégias para solução de

um problema e permitir à criança estar auto-consciente de seu próprio pensamento.

OBS. O objetivo da percepção é entender os acontecimentos do mundo, relacionando

o que se capta sensorialmente a alguma unidade cognitiva.

A criança muito pequena normalmente representa a experiência por esquemas; a

mais velha possivelmente empregará símbolos e conceitos, especialmente palavras.

Algumas mudanças importantes na natureza da percepção acontecem no período que

vai do início da meninice até a adolescência.

As mudanças desenvolvimentacionais, numa grande variedade de tarefas cognitivas,

sugerem que entre os 5 e os 7 anos de idade há um aumento surpreendente na

qualidade do desempenho em problemas que requerem atenção centrada e mantida

constante.

Estas mudanças psicológicas no funcionamento cognitivo estão associadas a

importantes mudanças biológicas no sistema nervoso central, incluindo o

amadurecimento do tecido nervoso e as mudanças nos potenciais elétricos gerados no

cérebro. É possível que uma importante reorganização do sistema nervoso central se

dê entre 5 e os 7 anos.

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A memória se refere à armazenamento de experiências por certo período de tempo

após o seu término. Podemos distinguir três processos de memória; memória

sensorial, memória a curto prazo e memória a longo prazo.

A elaboração de hipóteses é denominada a fase indutiva da solução do problema e se

relaciona à noção de criatividade. A avaliação refere-se ao grau em que a criança

para considerar e avaliar a qualidade de seu pensamento. A fase dedutiva, já dito no

capítulo anterior é a implementação das regras transformacionais.

2.3 – Processos do desenvolvimento cognitivo

São funções invariáveis que se manifesta por toda vida do indivíduo.

a) Assimilação

Integração do que é exterior às estruturas próprias do indivíduo. Contato externo com

o objeto. Ocorre quando o organismo incorpora ou adota estímulos que passam a

fazer de suas características, funcionais e estruturais.

A assimilação manifesta três características

1- Reprodutiva – assimila o objeto à função;

2- Recognitiva – reconhece os objetos;

3- Generalizadora – combina-se com múltiplas acomodações.

b) Acomodação

Transformações das estruturas próprias em função das alterações do meio exterior.

Relação interna com o estímulo, trazido pela assimilação e a estrutura. Realiza-se

quando o estímulo ambientais exigem mudanças estruturais do organismo. Provoca

mudanças nas estruturas. Dá origem a um novo nível de conhecimento.

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Pode ocorrer por =

– Exploração – descobre

– Imitação – imita

- Informação – sugere

-Invenção – constrói ( inteligência criativa ) / nova reorganização dos esquemas.

c) Adaptação

Um estado de equilíbrio de uma organização biológica dentro de seu meio. Em

comportamento, uma equilibração entre acomodação e assimilação.

d) Organização

Todos os fenômenos biológicos, inclusive a inteligência e evolução encontram sua

explicação básica na organização biológica.

2.4 – A natureza do conhecimento

Piaget caracterizou o conhecimento como apresentando três modalidades = o

conhecimento físico, o conhecimento lógico - matemático e o conhecimento social.

a) Conhecimento físico e conhecimento lógico – matemático

O conhecimento físico se caracteriza pelo conhecimento dos objetos em sua

realidade externa; se refere mais especificamente à características dos objetos, ou

seja, cor, peso, forma, textura.

Isso significa que a fonte do conhecimento é principalmente externa ao indivíduo,

encontra-se no próprio objeto. A relação, portanto, não existe no objeto, mas no

pensamento do indivíduo e é exatamente lógico – matemático.

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A principal diferença entre o conhecimento físico e o conhecimento lógico –

matemático é que no primeiro, a fonte está externa ao indivíduo. O conceito de

número é um exemplo de conhecimento puramente lógico – matemático.

b) Conhecimento social

O conhecimento social se refere às normas sociais com as quais a criança tem

contato no seu meio. Ao lado dessas normas sociais, existem também os valores

morais da sociedade. Esses valores, segundo Piaget, não são apenas transmitidos

pelos adultos mas construídos pela própria criança na medida em que esta estabelece

relações entre os valores sociais com que se depara.

2.5 – Influências sobre o desenvolvimento cognitivo

Ambientais e familiares

O período que vai dez aos dezoito meses é muito mais crucial para o

desenvolvimento cognitivo da criança. Os efeitos produzidos pelo lar não são

inteiramente irreversíveis. As crianças ainda poderão colher algum benefício de sua

mudança em seu ambiente, ou poderão ser prejudicadas por ele.

O desenvolvimento intelectual do ser humano resulta, em grande parte, da

estimulação ambiental. O ambiente no qual as crianças vivem pode determinar

grandes diferenças em relação à idade em que passam pelos estágios.

Neste ponto, a teoria de Bruner coincide com a de Piaget, a variedade de estímulos e

mudanças no ambiente é necessária para um desenvolvimento cognitivo adequado.

A criança deve ser exposta, desde cedo, a estímulos variados. Crianças que, por

alguma razão, sofreram privação sensorial, têm seu desenvolvimento cognitivo

prejudicado, possivelmente de modo irreversível.

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O temperamento inato de uma criança pode ter um efeito dramático sobre a maneira

com que seus pais a tratam. Um bebê ativo, que solicita e atende quando solicitado,

geralmente recebe mais estimulação e mais atenção que outro, mais quieto e

complacente.

Cabe aos pais um papel importante no desenvolvimento cognitivo de seus filhos nos

primeiros anos de vida. Eles determinem a qualidade da alimentação, o clima

emocional, os materiais e as experiências dentro do lar. Essas coisas têm efeito

primordial sobre a inteligência das crianças, e sua capacidade de funcionar em outros

ambientes, fora do lar.

Uma boa escola, uma creche ou um lugar que cuide das crianças durante o dia podem

proporcionar excelentes oportunidades para o desenvolvimento social, emocional e

cognitivo.

Esquemas, imagens, símbolos, conceito e regras são as entidades primárias,

manipuladas pelo pensamento. A criança é capaz de compreender somente a

informação que se une com suas próprias unidades cognitivas ou que as supera

ligeiramente. Se uma cena, idéia, equação ou palavra nova não tem qualquer

associação ou relevância para suas unidades cognitivas disponíveis, a criança está

apta a aprender muito pouco com essa nova experiência, porque lhe pretará um

mínimo de atenção.

A atividade cognitiva envolve cinco processos básicos, a percepção e interpretação

da informação, memória, elaboração de hipóteses ou soluções de problemas,

avaliação da precisão e adequação dos produtos cognitivos e dedução. Essas

atividades ou funções mentais envolvem um pequeno conjunto de entidades mentais

hipotéticas que denominamos os esquemas, imagens, símbolos, conceitos e regras.

De certo modo, podem-se considerar estas funções e entidades mentais como

fisiologia e a anatomia do pensamento. Do mesmo modo que no desenvolvimento

fisiológico e anatômico, há mudanças importantes na natureza da interação entre as

funções e as unidades mentais. As maiores alterações envolvem enriquecimento,

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cada vez maior de esquemas, símbolos, conceitos e regras; produzem compreensão

mais eficiente, melhor retenção de informação e elaboração mais adequada de

hipóteses.

Assimilação, acomodação, adaptação, organização são conceitos básicos que

esclarecem na ótica piagetiana, o desenvolvimento progressivo da inteligência e

aprendizagem que ocorre necessariamente através da construção do conhecimento

em decorrência do contato de esquemas hereditários do sujeito com a realidade que o

cerca.

São funções invariantes que se manifesta por toda vida do indivíduo.

Os três tipos de conhecimentos, físico, lógico – matemático e social, vão se

formando gradativamente. Ao nascer, o interesse do bebê é predominantemente

orientado para os aspectos físicos das ações. Na medida em que interação a começar

a dissociar-se parcialmente do aspecto puramente físico do conhecimento

(inteligência prática), para penetrar no mundo das relações, ou seja, o conhecimento

lógico – matemático. Enquanto que o conhecimento físico e o social têm sua fonte

fora do indivíduo; o conhecimento lógico – matemático tem sua fonte no próprio

pensamento do indivíduo. O conhecimento físico e social ficam sempre dependentes

e indissociáveis do quadro lógico - matemático do indivíduo, é a própria referência e

ponte de ligação dos conhecimentos atuais com os conhecimentos anteriores.

No período sensório – motor a criança cria esquemas que estruturam as informações

recebidas pelos sentidos e produz respostas aos estímulos ambientais. Seu

comportamento é adaptativo na medida em que modifica constantemente seus

esquemas racionais; é nisso, também, que ela é inteligente. Os esquemas sensório –

motores são raízes a partir das quais, mais tarde, desenvolver-se-ão os esquemas

conceituais.

Na fase pré – operacional a criança a pensar simbolicamente. Geralmente, entretanto,

este pensamento é egocêntrico, como no período sensório – motor; a criança não

consegue colocar-se na posição de outra, sendo incapaz de sentir empatia. O

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pensamento pré – operacional também é intuitivo e pré – lógico; as crianças, neste

estágio, não entendem as relações de causa – efeito.

O principal evento cognitivo da adolescência é o desenvolvimento da capacidade

para o pensamento lógico abstrato, que Piaget chamou de operações formais.

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CAPÍTULO III

TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM

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TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM

Quando falamos de transtornos da aprendizagem não estamos referindo a um

problema isolado, físico, mental e/ou sensorial. Segundo Morais ( op. Cit., p. 24 ) a

aprendizagem envolve diversas habilidades – como as linguisticas, perceptivas,

motoras, cognitivas – e por esta razão não se pode atribuir a nenhuma delas

isoladamente a responsabilidade pelas desaptações da criança na escola.

O problema de aprendizagem pode ser considerado como um sintoma, onde o não –

aprender não será uma situação permanente, mas está situada num aspecto peculiar

de comportamentos, onde traz como sinal de inteligência, o desejo, o organismo e o

corpo, trazendo alterações na inteligência e no corpo por parte da estrutura dos

símbolos inconscientes.

“A criança, objeto de estudo mais complexo que se conhece, traz para a escola

( jardim de infância, pré – primário, primário ou segundário ) um conjunto de

atitudes e valores sobre o envolvimento; de competências e de pré – requisitos de

aprendizagem, de processamento ( visual, auditivo, tatilquinestésico, etc. ), de

elaboração e comunicação de informação; e de conhecimentos e estratégicas de

aprendizagem, que requerem um diagnóstico psicoeducacional equacionado em áreas

fortes e fracas que possam perspectivar o seu potencial dinâmico, e não estático, de

aprendizagem, pressupondo o seu nível de desenvolvimento potencial ( Vigotscy,

1979; e Feuerstein, 1986, 1987, 1989 )”.

3.1 – Conceito

Vários são os conceitos para o transtorno da aprendizagem. Vale a pena citar a

definição estabelecida em 1981 pelo National Joint Comittee for Learning

Disabilities, nos Estados Unidos da América .

Distúrbio de aprendizagem é o termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo

de alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso de

audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas alterações

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são intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção do sistema

nervoso central. Apesar de um distúrbio de aprendizagem poder ocorrer

concomitantemente com outras condições desfavoráveis ( por exemplo, alteração

sensorial, retardo mental, distúrbio social ou emocional ) ou influências ambientais

( por exemplo, diferenças culturais, fatores psicogênicos ), não é resultado direto

destas condições ou influências.

A frase em destaque significa que a fonte do distúrbio deve ser encontrada

internamente à pessoa, que é afetada; que os distúrbios de aprendizagem são

intrínsecos ao indivíduo.

3.2 – Fatores etiológicos dos transtornos de aprendizagem

Vários são os fatores etiológicos que precisam ser levados em consideração no

diagnóstico de um problema de aprendizagem, será citado abaixo alguns deles =

a) Fatores biológicos

- disfunção cerebral herdada, congênita ou adquirida;

- problemas intra – uterinos ( embriopatias, fetopatias, placentopatias, etc. );

- variações genéticas;

- anoxia ( hipóxia );

- estruturas sócio – política;

- relações interfamiliares;

- expectativas culturais;

- hospitalismo;

- métodos de ensino impróprios e inadequados.

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3.3 – Principais transtornos da aprendizagem

Os principais transtornos da aprendizagem serão citados abaixo

a) Transtornos do desenvolvimento da aritmética

É uma das perturbações das capacidades acadêmicas contidas na categoria de

distúrbios específicos do desenvolvimento do DSM – III – R. conhecido por vários

termos = acalculia, síndrome de Gerstmann, incapacidade aritmética congênita,

discalculia e distúrbio aritmético.

O transtorno do desenvolvimento da aritmética caracteriza-se por baixa capacidade

intelectual que diminui o desempenho do indivíduo nas atividades cotidianas que

exigem habilidades aritméticas. As capacidades que podem estar prejudicadas no

transtorno do desenvolvimento da aritmética são =

Capacidades linguísticas ( tais como entendimento ou denominação de termos

matemáticos, entendimento ou especificação de operações ou conceitos matemáticos,

e tradução de problemas escritos em símbolos matemáticos ), perceptiva ( tais como,

reconhecimento ou leitura de símbolos numéricos ou sinais aritméticos e reunião de

objetos em grupos ), de atenção ( tais como, copiar algarismo corretamente, lembrar

de somar números transportados de uma coluna para outra, e observar sinais

operacionais ), e matemáticas ( tais como, seguir as sequências de passos

matemáticos, contar objetos e aprender as tabuadas de multiplicação ).

A opinião atual sobre a etiologia é multifatorial. Fatores maturativos, cognitivos,

emocionais e sócio – econômicos, respondem em vários graus e combinações pelo

transtorno da aritmética.

Uma teoria propunha um déficit neurológico no hemisfério cerebral direito, nas áreas

do lobo occipital. Essas regiões são responsáveis pelo processamento dos estímulos

visuais – espaciais, que respondem pelas habilidades matemáticas.

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b) Transtorno do desenvolvimento da escrita expressiva

O transtorno do desenvolvimento da escrita expressiva afeta a competência

acadêmica da criança desde cedo na escola primária. Segundo o DSM – III – R, o

transtorno do desenvolvimento da escrita expressiva é uma perturbação das

habilidades acadêmicas ocorrendo primeiro durante a infância, caracterizada por um

desempenho deficiente na escrita e na composição ( grafia de palavras e expressão de

pensamento ).

Uma hipótese etiológica sustenta que o transtorno do desenvolvimento da escrita

expressiva resulta dos efeitos combinados de um ou mais dos distúrbios da

linguagem expressiva, da linguagem receptiva e da leitura, esta sugere a possível

existência de defeitos ou disfunções neurológicas e cognitivas em algum lugar das

áreas centrais de processamento de informações.

Características temperamentais podem desenvolver algum papel no distúrbio,

especialmente características como período curto de atenção e fácil distraibilidade.

c) Transtorno do desenvolvimento da leitura

O transtorno da leitura envolve atraso e prejuízo na competência da leitura

designados por termos variados, como a alexia, dislexia, atraso da leitura,

incapacidade de aprendizagem, incapacidade específica de leitura e cegueira para

palavras. Caracteriza-se por uma acentuada insuficiência no desenvolvimento das

habilidades de reconhecimento das palavras e de compreensão da leitura.

A leitura imperfeita caracteriza-se por omissões, adições e distorções de palavras. As

crianças tem dificuldade de diferenciar os caracteres e os tamanhos das letras

impressas, especialmente as que diferem apenas na orientação espacial e no

cumprimento da linha. A velocidade da leitura é lenta, frequentemente com

compreensão mínima. A maioria das crianças com distúrbios do desenvolvimento da

leitura tem uma capacidade de copiar um texto escrito ou impresso adequada à idade,

mas quase todas elas são más soletradas.

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Os problemas associados incluem dificuldades na linguagem, manifestadas

frequentemente como insuficiência na discriminação de sons e dificuldades na

colocação das palavras na sequência adequada.

d) Transtorno do desenvolvimento da articulação

Caracteriza-se por má articulação frequente e recorrente dos sons, da fala, resultando

em uma fala anormal. Termos que tem sido usada para indicar esta condição são, fala

de bebê, lalação, dislalia, distúrbio funcional da fala, perseveração infantil,

articulação infantil, fala retardada, imprecisão oral, fala indolente, distúrbio

específico do desenvolvimento da fala.

É uma incapacidade consistente de articular corretamente os sons da palavra na idade

adequada do desenvolvimento. O distúrbio manifesta-se por frequentes aticulações

errôneas, substituições ou omissões de sons da fala, dando a impressão de “fala de

bebê”, e não se deve a qualquer anormalidade estrutural anatômica, fisiológica,

auditiva ou neurológica. Apenas um som ou fonema ( a menor idade sonora ) ou

muitos sons da fala podem estar afetados.

Acredita-se que se trate mais de um atraso simples no desenvolvimento ou de um

retardo no amadurecimento dos processos neurológicos subjacentes à fala do que

uma disfunção orgânica.

O aspecto fundamental do transtorno da articulação consiste num defeito da

articulação caracterizado pela incapacidade de usar os sons da fala de certas

consoantes na época adequada, incluindo omissões, substituições e distorções de

fonemas, que são geralmente os fonemas de aprendizado tardio.

e) Transtorno do desenvolvimento da linguagem expressiva

É acentuada insuficiência no desenvolvimento da linguagem expressiva adequada à

idade. O aspecto fundamental da criança com transtorno da linguagem expressiva é

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um uso de uma linguagem verbal ou de sinais marcadamente abaixo do nível

esperado, considerando a capacidade intelectual não verbal da criança.

O distúrbio manifesta-se por volta dos dezoito meses de idade, quando a criança é

incapaz de pronunciar espontaneamente ou mesmo repetir palavras ou sons isolados.

Aponta ou usa gestos para indicar seus desejos. A criança parece querer comunicar-

se, mantém um contato visual, relaciona-se bem com sua mãe e aprecia jogos como

esconde – esconde. A articulação é geralmente imatura.

Por volta dos quatro anos, a maioria das crianças com este transtorno pode falar

frases curtas, mas parecem esquecer as palavras antigas à medida que aprende novas.

O uso de várias estruturas gramaticais é mais lenta que o nível esperado para a idade.

f) Transtorno do desenvolvimento da linguagem receptiva

Crianças com transtorno do desenvolvimento da linguagem receptiva apresentam

capacidade marcadamente retardada ou abaixo do normal para compreender

( decodificar ) a linguagem verbal ou de sinais, embora tenham uma capacidade

intelectual não verbal adequada à idade. Tem dificuldades sensoriais, auditivas ou

são incapazes de processar símbolos visuais, tais como o significado de uma figura.

Existem déficits na integração de símbolos auditivos ou visuais, como reconhecer os

atributos básicos comuns de um caminhão de brinquedo e de um carrinho de

brinquedo; sequer é capaz de apontar para objetos comuns ou de obedecer a

comandos simples. Aquisição da linguagem é muito mais lenta do que nas crianças

normais. Estas crianças também demonstram dificuldades em evocar memórias

auditivas e visuais anteriores e em reconhecer e reproduzir símbolos na sequência

adequada. A maioria das crianças com este distúrbio tem um defeito auditivo parcial

para tons constantes e apresentam uma elevação do limiar de estimulação auditiva,

além de uma incapacidade de localizar as fontes dos sons.

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g) Transtorno da coordenação

A hipótese evolutiva considera o transtorno da coordenação, como resultado do

desenvolvimento retardado das capacidades perceptivo – motoras. Ela sugere que as

crianças afetadas se recuperarão do transtorno da coordenação à medida que

superarem seus atrasos maturativos. A hipótese orgânica, certos danos cerebrais

mínimos predispõem as crianças ao transtorno da coordenação. Tais danos incluem

complicações perinatais, intrauterinas, que podem causar trauma cerebral ou físico ao

feto ou ao neonato.

O transtorno da coordenação, nos seus aspectos clínicos manifestam-se

precocemente, quando a criança começa a ensaiar tarefas que exigem coordenação

motora. As dificuldades na coordenação motora podem variar com a idade e o

estágio de desenvolvimento da criança.

A perturbação pode manifestar-se por atraso nos marcos do desenvolvimento normal,

como por exemplo, virar-se, engatinhar, sentar, levantar, caminhar, abotoar a camisa,

não conseguem segurar objetos sem deixá-los cair facilmente; ou em crianças mais

velhas pode manifestar-se nos jogos de mesa, não conseguem montar quebra-cabeças

ou construção com cubos, e em qualquer tipo de jogo com bola.

h) Transtorno de conduta

É um padrão de conduta repetitivo e persistente no qual são violados os direitos

básicos dos outros quanto as normas ou regras sociais adequadas à maioria. As

crianças afetadas manifestam os comportamentos agressivo físico ou verbal,

geralmente contra adultos e o grupo de pares.

i) Transtorno de hiperatividade por déficit de atenção

É um grupo de sintomas caracterizado por um período curto de atenção resultando

em concentração deficiente, impulsividade e hiperatividade. Outros termos usados

para descrever as crianças afetadas por este transtorno = reação hipercinética,

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síndrome da criança hiperativa, disfunção cerebral mínima, dano cerebral mínimo,

pelo DSM – III – R, distúrbio por déficit de atenção com ou sem hiperatividade.

As características mais frequentes são = Hiperatividade, prejuízo perceptivo motor,

labilidade emocional, déficit geral de coordenação, perturbações na atenção

(incapacidade de terminar coisas ), impulsividade ( falta de organização, agir sem

pensar ), perturbações de memória e pensamento, incapacidades específicas de

aprendizado, perturbações da fala e da audição e sinais neurológicos e

irregularidades eletroencefalográficas equívocas.

Os principais transtornos de aprendizagem ocorrem por várias causas, as principais

são as biológicas que são todos os problemas ocasionados durante a gestação

( doenças, infecções ), durante o parto ( traumatismos, anoxia, etc. ), anemias, má

nutrição, traumatismos e acidentes ( pós-natal ); causas sociais onde se enquadram os

problemas de saneamento básico e higiene, deficiente nutrição, privações lúdicas e

psicomotoras, nível de ansiedade elevado, etc. Os principais transtornos de

aprendizagem englobam os transtornos da linguagem, da fala, da escrita, aritméticas

e capacidade na coordenação motora.

Observa-se que todos os transtornos prejudicarão de alguma forma as tarefas

cotidianas do indivíduo, o trabalho percepto – motor é importantíssimo para

aquisição destas habilidades ( leitura, coordenação, escrita, aritmética, etc.) Uma

anamnese mais detalhada poderá nos mostrar a causa de cada transtorno, e a

orientação aos familiares durante o tratamento é mais um recurso para melhorar a

evolução deste indivíduo, que deve ser visto como um ser global, e que uma quebra

da normalidade de um sistema provocará distúrbios em todos os outros.

As atividades para se alcançar o processo de evolução das crianças com transtorno de

aprendizagem, e maior motivação das mesmas devem seguir as idades cognitivas e

seus limites percepto motores. São utilizados em consultórios, para se alcançar este

objetivo, atividades lúdicas e arteterapia que estimulam as áreas psicomotoras e

expressão das emoções. Como veremos no próximo capítulo sobre a arteterapia.

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CAPÍTULO IV

ARTETERAPIA

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ARTETERAPIA

Desde a aurora da humanidade o homem tem construído sua existência localizando-

se enquanto ser essencialmente social. A arte tem estado presente desde os primeiros

passos dados na construção da cultura, quando o homem começou a cantar,

produzindo sons a partir do próprio corpo ou dos primeiros objetos que funcionaram

como instrumentos musicais, a dançar seus rituais mágicos, e, ainda, quando

começou a deixar suas marcas gráficas nos desenhos e pinturas sobre superfícies

diversas.

A arte tem se apresentado enquanto forma de atividade humana que envolve o uso de

ferramentas, seu domínio técnico e a rede de interações socioculturais onde ocorre

essa produção.

No primórdios da civilização humana, a arte parece ter cumprido a função de

instrumento a serviço do homem e no reconhecimento e dominação da natureza e no

desenvolvimento das relações sociais. Uma ferramenta imprescindível, portanto, ao

coletivo humano em luta pela sobrevivência e instalação de grupo. O homem,

indivíduo, localiza-se através da arte, em relação aos outros homens, indivíduos,

identificando os elos que os ligam desde a essência de sua humanidade.

A arteterapia tem a ver com arte e com psicologia. Mas não é aula de arte, nem

terapia psicológica. A idéia é trazer à consciência conteúdos para serem trabalhados.

Esse trabalho se processa e expressa através da arte. Pode ser em desenho, pintura,

escultura, colagem, dança. Usa - se som também.

Embora a arteterapia tem se desenvolvido na Inglaterra, depois da 2º guerra, a partir

das idéias de Jung, hoje ela se espalhou pelo mundo e usa “pinceladas” de várias

outras teorias como por exemplo alguns “exercícios” da biodança, técnicas de

relaxamento, expansão da consciência, etc.

A arteterapia pode ser aplicada num “atelier terapêutico” = o tratamento é feito em

grupo, onde se trabalha também a questão do relacionamento, ou pode ser individual,

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só com o terapeuta e o paciente. De uma forma ou de outra, é um jeito “soft” de fazer

vir à tona situações inconscientes que precisam ser esclarecidas e redirecionadas para

que a pessoa possa viver melhor.

A arte tem sido excelente instrumental nas terapias sexuais, familiares e nos

problemas de dificuldade na aprendizagem, e de comunicação verbal oral. Na

história da psicologia o uso da expressão das emoções, sentimentos, idéias através do

desenho nas sessões iniciou-se com Jung e este material foi profundamente estudado

também através das técnicas projetivas ( HTP, psicodiagnóstico de Rorschach, teste

da figura humana e tantos outros ). É na ludoterapia e na análise de crianças que a

arte é fundamental uma vez que a verbalização, na criança se estabelece ao redor dos

3 anos de idade apenas.

4.1 – Conceitos de arteterapia

A arteterapia é um modelo de psicoterapia em que são utilizados mediadores de

expressão. Os mediadores permitem a expressão do EU interior de forma não verbal,

o que no processo é facilitador. É uma modalidade de atendimento que tem por

finalidade desenvolver as potencialidades criativas também.

“ Atividade que supõe a criação de sensações ou de estado de espírito de carater

estético carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o

desejo de prolongamento ou renovação.”

( FERREIRA,1994, p.64 )

“A área de terapias expressivas, abrangendo todas as modalidades de uso de recursos

artísticos, expressão plástica, dança, teatro, expressão poética, expressão corporal,

dentro de um processo terapêutico.”

( CARVALHO ET COLABORADORES,

1995, p.25 )

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Segundo o Estatuto Social da Associação Brasileira de Arteterapia, Parágrafo único,

Entende-se por arteterapia, um método de diagnóstico e tratamento, que utiliza a

criação com base na integração de diferentes linguagens tais como . plásticas, sonora,

corporal, dramática, poética, atuando no campo da reabilitação, psicoterapia,

empresa, educação, profilaxia, instituições em geral.

4.2 – Arteterapia nos problemas da aprendizagem

A arteterapia integra áreas multidisciplinares das artes ( desenho, pintura,

modelagem, tapeçaria, dança, teatro, literatura, poesia, construção com sucata, dança

entre outras ) às disciplinas terapêuticas ( psicologia, terapia ocupacional,

psicopedagogia, fonoaudiologia, medicina, etc. ), que estão muitas vezes presentes na

vida da criança ou adolescente com problema escolar.

Objetivos da arteterapia nos problemas de aprendizagem

- Facilitar a expressão de sentimentos difíceis de verbalizar;

- Estimular a imaginação e a criatividade;

- Estimular e desenvolver a auto – estima e a confiança;

- Desenvolver hábitos saudáveis;

- Identificar sentimentos e bloqueios na expressão emocional/ afetiva no

crescimento;

- Abrir canais de comunicação;

- Mobilizar e conduzir ao aprendizado;

- Promover o desenvolvimento das potencialidades individuais;

- Contribuir para o processo de desenvolvimento global;

- Permitir expressão das emoções e sentimentos;

- Permitir a organização das idéias;

- Estruturação do espaço e do tempo;

- Estimular os processos cognitivos;

- Desenvolver e estimular formas de contato consigo e com o outro;

- Aumentar a espontaneidade;

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- Trabalhar frustrações e tolerâncias em grupo;

- Possibilitar exercícios de concentração da atenção;

- Estimular a linguagem interna e o aumento da vocabulário;

- Trabalhar as percepções;

- Desenvolvimento do pensamento e da intencionalidade;

- Trabalhar a coordenação motora;

- Desenvolver e estimular a socialização;

- Estimulação sensorial

4.2.1 - Tipos de objetos com os quais o terapeuta poderá trabalhar

a) Os imateriais

São aqueles internalizados pelo indivíduo e que se confundem e nem deve invocar a

noção de coisas inanimadas, passíveis de ser manipulada, pois são sua história de

vida atual e passada, seus conflitos, desejos, sentimentos.

b) Os concretos

São os objetos plásticos ( coisas manipuláveis ), mensuráveis, que são a medida de

seu uso ( pelo indivíduo ) a representação dos objetos imateriais.

Entende-se, então, o objeto, como a projeção concreta da percepção do indivíduo. O

que ocorre quando o indivíduo realiza alguma atividade auto-expressiva.

4.2.2 - As atividades utilizadas no processo arteterapeutico dos problemas de

aprendizagem

Em arteterapia, os materiais são veículos indispensáveis à expressão de conteúdos

internos que, aparentemente, nos são desconhecidos e difíceis de lidar. Não é

necessário conhecimento artístico prévio, já que manipular materiais também é a

forma de se expressar, assim como a palavra.

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No processo arteterapeutico são utilizados diferentes materiais plásticos, tais como =

lápis ( grafite, colorido, aquarelável e cera ), pastéis ( seco e à óleo ), tintas ( óleo,

acrílica, aquarela, guache, nanquim, cola colorida, pintura a dedo, etc ), papéis

(cartolina, seda, celofane, camurça,etc.), massas ( de modelar, argila, papier-machê,

biscuit, etc.) entre tantos, cabendo ao arteterapeuta ser facilitador, estimulando,

auxiliando e esclarecendo sobre o uso e os recursos destes materiais que deverão ser

oferecidos um de cada vez para que a pessoa ao lidar com os mesmos, o faça da

forma mais prazeirosa possível. Também poderá ser feito uso de recursos de artes

cênicas, através de dramatização, da música, da literatura ( contos de fadas, poesias,

etc. ) e outros.

Os materiais artísticos possuem atributos que, ligados ao potencial criativo de cada

indivíduo em relação a tal material, favorecem ao desenvolvimento do mesmo.

a) Pintura

A forma que a pintura traz está ligada ao movimento enquanto a cor é somente

sensação. A forma apela à abstração, ao reconhecimento do objeto, enquanto a cor

provoca a sensibilidade e a intuição. A forma evoca o gesto, a cor a emoção. Por isto

é importante analisar a forma final nos aspectos do desenho e da utilização das cores.

A pintura com tintas proporciona um excelente material para a manifestação das

emoções. Por possuir característica mais líquida produz certa dificuldade para ser

controlado. Podendo trazer a tona desde a tensão para conduzir o material, como

gratificação na produção e efeitos que as cores proporcionam. O indivíduo fica mais

atento aos movimentos corporais e a sensações impressas no corpo, que enfatiza a

adaptação ao mesmo, quando são abertos suas expressões das emoções nele contidas.

Durante a pintura podemos experimentar nossos afetos e poder conhecê-los melhor,

aumentando o conhecimento de nós mesmos; permitindo a harmonização efetiva,

emocional. A partir da iniciativa do pintar , o sujeito prontifica-se a deparar-se com

conteúdos mais internos e assumí-los.

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• Tinta – líquida – inconsciente, pela sua fluidez é mais fácil para quem não

está “contido” e sente-se mais solto para expandir suas emoções, sem medo

de arriscar e errar. Ela “desestrutura”, pois faz borrões e busca uma

imagem, por isso, ajuda lidar com as coisas que não saem sempre como

planejado, exigindo de nós reparos e transformações.

É claro que devemos levar em conta a experiência de várias técnicas que podemos

utilizar com a pintura, tipos de tintas, com as crianças e adolescentes que apresentam

dificuldade na aprendizagem, respeitando o desejo deles de manuseiar o material,

podendo ser explorado com os instrumentos das mãos ou pincéis, onde nos mostrará

expressões diferentes e ampliar nossos objetivos sensório/motor e psicológico,

manifestando as emoções.

b) Modelagem

Utiliza-se de vários materiais mais sólidos.

São materiais maleáveis, a argila possui mutação na temperatura e flexibilidade, do

que os outros materiais. Porém a modelagem requer a movimentação diretamente do

corpo, pois utilizamos as mãos para realizá-la, a sensação está presente pela

extremidade dos dedos, mudando a tensão muscular, os gestos. Desencadeia mais

rapidamente uma resposta emotiva. Visiabiliza o desenvolvimento da coordenação

motora, a expressão da imaginação, e produz sensações, e o prazer de realizar algo

através do toque e transformá-los em diferentes símbolos. Como o trabalho pode ser

feito e refeito também promove o desenvolvimento da auto confiança a quem a

pratica.

Permite a estimulação tátil, o trabalho muscular, a estruturação postural, assim como

a capacidade de concretizar e de planejar.

• A escultura visa estruturação e constituição, ou seja, refere-se a construção

de algo com valor subjetivo que requer estruturação. Ajuda a lidar com os

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limites do real, do sólido, mas também ajuda a trabalhar a própria

flexibilidade.

• Argila ( estruturação do símbolo, lidando com a flexibilidade ). Também

estrutura, mas com o fato de tirar o que está deitado para colocar de pé,

depara-se com a Sombra.

c) Colagem

Propicia através da utilização de imagens já existentes, em algumas pessoas, a

emergência de imagens fragmentadas.

São várias as propostas com colagem, podendo ser utilizados vários materiais, sendo

graduada suas dificuldades em manuseia-los, podendo utilizar ferramentas como

tesoura ou a própria mão, onde trabalhamos muito com as crianças, pois favorece um

contato mais direto, a sensação do objeto que será transformado é maior, maior

propensão de liberar agressividade, trabalha-se as funções cognitivas, organização,

construção, análise e síntese; a colagem segue todos os momentos do

desenvolvimento cognitivo.

Trazem algo vivido à lembrança, estrutura, ajuda a se organizar interiormente, vendo

a figura e o sentimento que ela traduz.

• O manusear gravuras, muitas vezes, faz com que o sujeito, através de um

material estruturado como as figuras, encontre um pouco de si e, a partir

disso, fale sobre sua história.

d) Desenho

Constitui para a psicologia a referência figurativa enquanto objetivação da imagem

através do gesto.

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O objetivo é fortificar as capacidades simbólicas dos sujeitos; propiciam indicativos

de necessidades adaptativas de afirmação, de tendências firmes e fortes ou tênues, ou

de ausência de marcações de assertividade, favorece os estados de controle motores

( tensões ), favorece a projeção de intensidade e de afirmação de um afeto ( carvão ),

expande e libera afetos e impulsos ( hidrocor ), manifesta impulsos agressivos

exógenos ou autógenos, representativo de defesas pessoais ( lápis de cera ).

• O desenho, por sua vez, trabalha ordenação dos conteúdos e disciplina, na

medida que o desenho requer, uma certa intelectualização e ordenação dos

conteúdos. Tem o papel de desenvolver a esfera cognitiva, além da

capacidade de abstração.

• Os lápis coloridos são preferidos à tintas, quando se está mais “contido”,

pois é mais fácil manter o controle sobre ele, já que não têm a mesma fluidez

dela.

e) Sucata

Apresentados em diversas texturas, tamanhos, formas. Capazes de serem

transformados em novas configurações sem perder aquilo tido como essencial no

momento da criação. Provoca estados de profunda virtualidade e criatividade.

Permitem fortalecimento e a reeducação do pensamento. Favorece o encontro com o

lúdico, com o primário, com o primordial, ajuda a estruturar o interno de maneira

lúdica. O sujeito tem a possibilidade de criar algo que o represente ou que represente

alguma coisa importante sobre sua história através da sua identificação com alguns

destes materiais e posterior construção.

f) Dança/ ou a expressão corporal

A partir do contato com o nosso próprio corpo, linguagem ou expressão, podemos

nos dar conta de nosso próprio ritmo e tempo interno, conhecendo melhor nossa

forma de lidar com o mundo, tirando proveito real de nossas potencialidades,

protegendo-nos e arriscando-nos no tempo certo.

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Na prática da arteterapia as técnicas artísticas serão meios através dos quais se darão

a expressão das idéias, assim, como também das palavras. Permitindo viver o

despertar e o encontro com o potencial criativo, onde o simples ato de criar permitirá

a passagem de uma expressão mais espontânea em um fazer concreto e vivenciado –

Transformador. Deixando que a liberdade interna para criar direcione o “fazer”, o

desenhar, o construir, o pintar e o modelar, expressando o que de mais rico existe em

nós seres humanos, a descoberta de um mundo mágico onde o limite é ultrapassado

pela própria criação, que irá desencadear novas possibilidades criativas em todas as

situações onde haja necessidade de transformação e mudança.

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CONCLUSÃO

A arteterapia, hoje em dia, está também ligada com a pedagogia, tanto como fator

estimulante do desenvolvimento infantil como elemento profilático, evitando e

trazendo a tona algumas dificuldades que possam surgir no decorrer da vida escolar.

Os recursos da arte utilizados dentro da escola aumenta o potencial criativo,

desenvolvendo as habilidades dos alunos em concretizar com os materiais plásticos,

assimilando muito melhor o conteúdo programático apresentado, pois poderão

vivenciá-los.

Com as crianças e adolescentes que apresentam dificuldades no aprendizado, foi

observado a facilidade dos trabalhos arteterapêuticos, sua aceitação é maior por

parte destes, por serem atividades que se apresentam de forma lúdica, permite as suas

expressões de forma mais espontânea, melhorando o vínculo terapêutico e facilitando

a expressão verbal.

Os recursos arteterapêuticos são muitos importantes no meu trabalho, nos

transtornos de aprendizagem, pois além de estimular o emocional, estimula as áreas

sensório – motoras e cognitivas também, que são áreas que as crianças ou

adolescentes apresentam maiores dificuldades.

Como arteterapeutas devemos ter uma convivência íntima com os materiais,

vivenciando as atividades e se questionando quanto as imagens que emergem no

momento, fazendo assim um auto-conhecimento. Melhorando a compreensão do

processo de análise de atividades, já que em cada material podemos desencadear um

tipo de expressão das emoções, sentimentos, melhorando a comunicação do sujeito.

Com esta experiência de vivenciar e analisar-se estaremos trabalhando mais nossa

percepção e sensibilidade para podermos conseguir entender o que o outro poderá

expressar, os conteúdos a serem trabalhados, sempre respeitando a história de vida de

cada criança ou adolescente.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALENCAR, Eunice Soriano de (org.). Novas contribuições da psicologia aos

processos de ensino e aprendizagem. São Paulo . Cortez, 1995.

DA SILVA CUNHA, Nyce Helena. Brinquedo, desafio e descoberta . subsídios

para utilização e confecção de brinquedos. Rio de Janeiro. FAE, 1988 .

DA FONSECA, Vitor. Introdução às dificuldades de aprendizagem. 2º ed. Porto

Alegre. Artes Médicas, 1995.

DELDINE, Roger e Vermeulen, Sonia. O desenvolvimento psicológico da

Criança. Bauru, São Paulo. EDUSC, 1995.

KAPLAN, Harold e Sadock, Benjamim. Compêndio de psiquiatria. 2º ed. Porto

Alegre. Artes Médicas, 1990.

MACHADO, Angelo. Neuroanatomia funcional. 1º ed. Rio de Janeiro. Atheneu,

1981.

OAKLANDER, Violet. Descobrindo crianças. São Paulo. Summus editorial, 1980.

SAIAN, Cláudio. Jung e a educação. Uma análise da relação professor/aluno.

São Paulo. Escrituras Editora, 2000.

URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia. A transformação pessoal pelas

imagens. Rio de Janeiro. Wak Editora, 2003.

PAIN, Sara e Jarrean, Gladys – Teoria e técnica da arte – terapia. Compreensão

do sujeito. Porto Alegre. Artes Médicas, 1996.

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ÍNDICE

Agradecimento 3

Dedicatória 4

Epígrafe 5

Resumo 6

Metodologia 8

Sumário 9

Introdução 10

Capítulo I

Fundamentos Biopsicológicos da Aprendizagem 12

1.1 - Sistema nervoso 13

1.2 – Bases neurobiológicas da linguagem 17

Capítulo II

Desenvolvimento Cognitivo e a Aprendizagem 21

2.1 – As unidades da atividade cognitiva 24

2.2 – Atividades cognitivas 26

2.3 – Processos do desenvolvimento cognitivo 28

2.4 – A natureza do conhecimento 29

2.5 – Influências sobre o desenvolvimento cognitivo 30

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Capítulo III

Transtornos da Aprendizagem 34

3.1 – Conceito 35

3.2 – Fatores etiológicos dos transtornos de aprendizagem 36

3.3 – Principais transtornos da aprendizagem 37

Capítulo IV

Arteterapia 43

4.1 – Conceitos de arteterapia 45

4.2 – A arteterapia nos problemas de aprendizagem 46

4.2.1 – Tipos de objetos com os quais o terapeuta poderá trabalhar 47

4.2.2 – As atividades utilizadas no processo arteterapêutico dos problemas

de aprendizagem 47

Conclusão 53

Bibliografia 54

Índice 55

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ANEXOS

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Título da monografia . A arteterapia nos transtornos de aprendizagem

Data de entrega. ______________________________________________

Avaliado por . ___________________________ Grau ________________.

Rio de Janeiro, 12 de julho de 2003.