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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” ALTERNATIVAS PARA A UTILIZAÇÃO DA ARTETERAPIA COM DEFICIENTES VISUAIS DE BAIXA VISÃO SANDRA REGINA GAMBINI DE SOUZA ORIENTADORA Ma. DINA LÚCIA CHAVES ROCHA Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ALTERNATIVAS PARA A UTILIZAÇÃO DA ARTETERAPIA COM DEFICIENTES VISUAIS DE BAIXA

VISÃO

SANDRA REGINA GAMBINI DE SOUZA

ORIENTADORA

Ma. DINA LÚCIA CHAVES ROCHA

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ALTERNATIVAS PARA A UTILIZAÇÃO DA ARTETERAPIA COM DEFICIENTES VISUAIS DE BAIXA

VISÃO

Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Arteterapia.

Por: SANDRA REGINA GAMBINI DE SOUZA

Rio de Janeiro

2010

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AGRADECIMENTOS

Agradecer sempre, a Deus por tudo que consegui conquistar até aqui. Às pessoas lindas que Ele colocou em meu caminho e que foram determinantes para que eu me mantivesse firme no meu propósito: meu esposo pelo incentivo e em especial a minha irmã pelo total apoio.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a todas as pessoas consideradas “deficientes”, assim como àquelas que encontram um jeito de ajudá-las, dedicando seu tempo e seu amor. Também dedico a minha mãe, Sylvia, em memória.

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RESUMO

Sabendo-se que a Arteterapia é um processo que ajuda a compreensão do

indivíduo ou atua no autoconhecimento e que para isso utiliza-se dos

resultados de desenhos, pinturas esculturas e outras atividades, onde o cliente

comenta seu próprio trabalho, pretende-se demonstrar que o deficiente visual

de baixa visão também pode participar do tratamento com o arteterapeuta,

obtendo bons resultados, com as devidas adaptações dos materiais, tão bem

quanto os sujeitos que enxergam normalmente. Para ficar mais claro esse

trabalho, busca-se conceituar a deficiência visual e falar a respeito de algumas

causas dessas doenças, assim como do que seja arte e arteterapia,

procurando adaptações para os trabalhos com o arteterapeuta.

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METODOLOGIA

A pesquisa se fará mediante análise qualitativa em fontes

secundárias, tais como material bibliográfico disponível nas bibliotecas do meio

acadêmico, revistas, apostilas, sites. O material será lido e analisado no

esforço de concentrar informações que promovam a hipótese norteadora desse

trabalho. Alguns autores pesquisados serão: CASTRO, 1992; COSTA, 2000;

COUTINHO, 2009, URRUTIGARAY, 2008; MOREIRA, 2007; PHILIPPINI,

2009, entre outros.

Como suporte deste trabalho, também fez parte material de orientação

teórico- metodológica, bem como observações de algumas aulas de artes no

Instituto Benjamin Constante, no Rio de Janeiro e na EEEE Anne Sullivan, em

Niterói. Ambas escolas públicas que atendem alunos com baixa visão.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO pág.

CAPÍTULO 1 CEGUEIRA E BAIXA VISÃO OU VISÃO SUBNORMAL. ......................10

CAPÍTULO 2 A ARTE E A ARTETERAPIA. ................................................................16

CAPÍTULO 3

A ARTETERAPIA E OS CLIENTES COM VISÃO SUBNORMAL. ........24

CONCLUSÃO.........................................................................................38

BIBLIOGRAFIA......................................................................................39

WEBGRAFIA..........................................................................................41

ÍNDICE ...................................................................................................42

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INTRODUÇÃO

Esta monografia tem como tema o Deficiente de Baixa Visão e a

Arteterapia. A questão central deste trabalho é saber se é possível a aplicação

da Arteterapia com Deficientes Visuais de Baixa Visão. O tema sugerido é de

fundamental relevância, pois sabe-se que a Arteterapia é um processo que

ajuda no autoconhecimento e para isso dispõe de várias atividades, como o

desenho, a pintura, a colagem, predominando o uso de imagens para que o

autor (criatura) dialogue com elas e assim possa mostrar ou compreender seus

arquétipos (possibilidades que cada um tem de formar suas próprias

características, dependendo para isso de sua criação, do ambiente em que

vive, de sua própria personalidade). Considerando-se esse saber, poderia o

cliente deficiente visual de baixa visão (DVBV) atingir seu bem estar utilizando-

se desse mesmo procedimento, adaptado ou modificado, para que ele chegue

a uma melhor qualidade de vida, ao seu próprio bem estar, mesmo não

podendo visualizar normalmente suas criações (seus trabalhos)? É provável

que o DVBV possa responder ao tratamento se o arteterapeuta lançar mão de

outros artifícios como o teatro, a dramatização, a música, além do desenho, da

pintura e da colagem, com as devidas alterações? É possível que o condutor

das atividades, estando informado a respeito da deficiência do cliente, consiga

bons resultados a partir de adaptações dos materiais?

Esses processos devem contribuir para que o indivíduo sinta-se

integrado ao meio, seguro e adaptado, conforme estabelece a lei de inclusão,

minimizando o preconceito existente, inclusive dentro da família.

São, portanto, objetivos desta monografia integrar o DVBV ao

tratamento arterapêutico lançando mão de materiais diversificados para que ele

possa ver melhor e responder ao tratamento. Reconhecer o DVBV como uma

pessoa integrada e capaz de exercer várias atividades trabalhadas também

com pessoas de visão normal. Adaptar materiais para que possam ser vistos

pelos DVBVs, utilizando-se de alternativas no tratamento do DVBV como

atividades sonoras e de movimento, enumerando algumas atividades que

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possam ser desenvolvidas por eles. Este trabalho, pautado em pesquisa

bibliográfica, tem como referência a pesquisa de autores como: Vanessa

Coutinho, Angela Philippini e Danilo D. Monteiro de Castro e busca concluir que

os DVBVs podem participar de sessões de arteterapia com atividades

diferenciadas e adaptadas para sua realidade com bom aproveitamento.

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CAPÍTULO 1

CEGUEIRA E BAIXA VISÃO OU VISÃO SUBNORMAL

A cegueira e a baixa visão ou visão subnormal são deficiências

visuais que dificultam o ser humano adquirir informações sobre o ambiente

através do sentido que mais favorece os conhecimentos a respeito do mundo

que o cerca.

Segundo Sampaio (2001), os olhos são só parte de toda uma rede

que completam a constituição da imagem visual. É preciso que todo esse

mecanismo esteja em boas condições para que haja uma visão eficiente.

Para se entender melhor essas diferenças será preciso conceituar

cada uma delas.

1.1 O que é Visão Subnormal

Castro (1994, p.01) conceitua Visão Subnormal como dedução na

visão.

Pode ser em conseqüência da diminuição da acuidade visual, e/ou campo visual, e/ou diminuição de sensibilidade de contraste, estando o paciente com a sua melhor correção em ambos os olhos. Utilizando um valor numérico de acuidade visual, podemos dizer que é a condição em que a acuidade é igual ou menor que 20/60 no melhor olho corrigido. Deve-se procurar evitar fixar-se em divisões rígidas, pois a necessidade visual irá depender de indivíduo para indivíduo.

Nem todo deficiente de visão subnormal possui o mesmo

comprometimento. Cada pessoa tem uma necessidade particular e uma forma

própria para melhorar sua percepção visual.

Um outro conceito também se faz necessário para um melhor

entendimento da deficiência.

Para Carvalho (1992), a visão subnormal é uma perda severa que

não responde a nenhum tratamento e pode ser narrada como qualquer

dificuldade visual que traga prejuízo para os indivíduos. Essas pessoas não

são consideradas cegas, porém têm dificuldades para cumprir as tarefas

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diárias como: ler, assistir televisão, cozinhar, andar na rua, viajar, costurar,

pintar, jogar cartas etc. A autora definiu as muitas funções visuais que podem

estar comprometidas nesse indivíduo, como “acuidade visual, campo visual,

adaptação à luz e ao escuro e percepção de cores, dependendo do tipo de

patologia apresentada, isto é, do tipo de estrutura ocular que apresenta lesão.”

(CARVALHO,1992, p.14)

Conforme a causa que acarretou a baixa visão, o indivíduo procede

de maneira diferente nas suas atividades cotidianas.

Acuidade Visual (AV) é o grau de aptidão do olho, para discriminar os detalhes espaciais, ou seja, a capacidade de perceber a forma e o contorno dos objetos. Essa capacidade discriminatória é atributo dos cones (células fotossencíveis da retina), que são responsáveis pela Acuidade Visual, central, que compreende a visão de forma e a visão de cores. (...) Os tipos mais comuns são a redução da visão central, e da visão para leitura. (http://www.vejam.com.br/baixavisao-acuidade-visual/)

Esses indivíduos evitam atividades minuciosas, preferindo

locomover-se em espaços amplos.

A baixa acuidade visual também pode resultar de um decréscimo da visão periférica, da perda da visão das cores, da incapacidade ou perda de aptidão do olho para se ajustar à luz, contraste ou brilho. (op. cit.)

Os indivíduos portadores desse tipo de visão preferem as atividades

individuais como, leitura, quebra-cabeça etc., já que eles têm dificuldade na

percepção do entorno.

1.2 Causas da Visão Subnormal

Existem várias causas para que uma pessoa seja portadora de baixa

visão. Muitos autores abordam esse assunto, mas todos concordam que

existem as causas congênitas e as adquiridas.

CARVALHO (1992, p.14) dividiu essas causas em:

Congênitas: já ocorrem no nascimento. Exemplo: coriorretinite macular por toxoplasmose, catarata congênita, glaucoma congênito, atrofia congênita de Leber etc. e adquiridas: por doenças adquiridas como diabetes, deslocamento de retina,

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glaucoma, catarata, degeneração senil de mácula, traumas oculares.

1.3 Outras Deficiências Visuais

Não é considerado deficiente visual o indivíduo com cegueira ou

baixa visão em um só olho, mas sim, quando algum desses problemas atinge

os dois olhos.

O Instituto Benjamin Constant, no seu site definindo a Cegueira e a

Visão Subnormal, afirma que: “(...) cegueira total ou simplesmente Amaurose,

pressupõe completa perda de visão. A visão é nula, isto é, nem a percepção

luminosa está presente”. (http://www.ibc.gov.br/?itemid=94) É o que

denominam de visão zero.

Já a cegueira parcial consiste, segundo o mesmo site (IBC), em

“indivíduos apenas capazes de contar dedos a curta distância e os que só

percebem vultos.” O site ainda cita aqueles que só têm “percepção”

(identificação de luz e sombra) e “projeção luminosas” (além de perceberem

luz e sombra, também percebem a origem da luz).(op. cit.)

1.4 Recursos Ópticos e não Ópticos para a Visão Subnormal

Com o intuito de melhorar a qualidade de vida do deficiente de baixa

visão buscaram-se, na tecnologia, recursos que possam trazer benefícios, mais

conforto e auto-suficiência, permitindo a esses deficientes uma maior confiança

em si mesmos.

Dentre as inúmeras opções existentes serão destacadas abaixo

aquelas mais utilizadas.

1.4.1 Recursos Ópticos

Segundo o site Lar das Moças Cegas

Recursos ópticos são óculos com lentes especiais, telescópios, lupas manuais, de apoio ou eletrônicas, que possibilitam o aumento das imagens para facilitar sua identificação. (www.lmc.org.br/bv.htm)

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1.4.2 Recursos Não Ópticos

Recursos não ópticos são aqueles que melhoraram o desempenho do paciente portador de Visão Subnormal sem a utilização de lentes, como impressos (livros e revistas) e materiais (caneta, baralho, teclado de computador) ampliados de alto contraste. Iluminação adequada, escrita em Braille, lentes filtrantes, chapéu e viseira também são considerados recursos não ópticos. (www.lmc.org.br/bv.htm.)

1.5 Os Deficientes de Baixa Visão na Sala de Aula

Hoje, com o programa de inclusão nas escolas, é preciso que ela

esteja preparada para trabalhar com diversas deficiências. Em se tratando do

deficiente de baixa visão cabe ao professor observar os que precisam de

auxílio médico. Depois de diagnosticado o problema e observadas suas

individualidade e peculiaridade, torna-se mais fácil para o professor

proporcionar autoconfiança a esse aluno.

Na criança, é mais fácil perceber precocemente a cegueira do que a

baixa visão, que só vai ser detectada mais tarde, na idade escolar.

Os Arquivos Brasileiros de Oftalmologia fez um estudo e, entre

outras informações, esclarece que

Considerando a importância da visão na educação e socialização da criança, as ações de promoção da saúde e de educação em saúde assumem importância decisiva. A prevenção e a detecção precoce de deficiências oculares são os melhores recursos para combate à visão subnormal e devem ser feitas, preferencialmente, na infância. Sendo a escola uma instituição com grande concentração de crianças, cabem aos profissionais da área de saúde escolar as ações de detecção e tratamento de baixa visão. Para atingir o objetivo comum da saúde da criança em idade escolar é necessária a ação integrada lar-escola-comunidade. (http://www.abonet.com.br/abo/662/abo66209.htm)

O trabalho dessas pessoas se fará no sentido da estimulação

dessas crianças para que elas exercitem sua visão e todos os seus sentidos

com atividades sensório-motoras.

Para a Psicóloga e Educadora, Sá (2008)

O trabalho com alunos com baixa visão baseia-se no princípio de estimular a utilização plena do potencial de visão e dos sentidos remanescentes, bem como na superação de dificuldades e conflitos emocionais. Estes alunos devem

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aprender a perceber visualmente as coisas, as pessoas e os estímulos do ambiente. Para isto, os educadores devem despertar o interesse dos alunos e estimular o comportamento exploratório por meio de atividades orientadas e adequadamente organizadas a partir de critérios que contemplem as necessidades individuais e específicas destes alunos. (http://www.bancodeescola.com/alunos-com-baixa-visao.htm)

Para fins educacionais, as pessoas de baixa visão são aquelas que

podem indicar projeção de luz até onde o grau da redução de acuidade visual

não prejudique seu desempenho. (SÁ, 2008)

Algumas recomendações são necessárias para que o aluno

deficiente de baixa visão possa se sentir confortável e desempenhar melhor

suas tarefas, além da utilização dos recursos ópticos e não ópticos que sabe-

se serem indispensáveis.

Para que as atividades se desenrolem produtivamente, a mesma

autora aconselha que o professor observe alguns detalhes.

O aluno deve ficar sentado no centro da sala de aula, a uma distância de aproximadamente um metro do quadro negro; a carteira deve ficar em uma posição que evita a incidência de reflexo de luz no quadro, a claridade diretamente nos olhos do aluno e jogo de sombras sobre o caderno; o uso constante de óculos deve ser incentivado, quando houver prescrição médica; a seleção, a confecção ou adaptação de material devem ser planejadas e elaboradas de acordo com a condição visual do aluno; a necessidade de tempo adicional para a realização das tarefas deve ser observada; o material escrito e as ilustrações visuais devem ser testados com a intenção de assegurar que podem ser percebidos pelo aluno; as posições do aluno e da carteira devem ser modificadas, sempre que necessário, sobretudo no caso de fotofobia; excesso de luz deve ser controlado ou evitado em sala de aula; uso de cortinas ou papel fosco para não refletir a claridade; as tarefas propostas devem ser explicadas verbalmente de modo claro e objetivo. (op. cit.)

É importante ressaltar que todo esse amparo ao deficiente tem um

respaldo legal. O Brasil possui uma vasta legislação sobre a questão dos

portadores de deficiência e é signatário em vários Tratados Internacionais.

A própria Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

estabelece normas gerais sobre o assunto, como por exemplo, em seu artigo

23º II diz que:

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É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios cuidarem da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência. (CRFB, 2008, p.22)

O Brasil também é signatário do acordo de Nova Iorque assinado no

dia 30 de março de 2007 que trata das pessoas portadoras de deficiência. O

Congresso Nacional em observância ao artigo 49 inc I da CRFB/88 ratificou o

acordo por meio do Decreto Legislativo n° 186/2008.

Por sua vez, ainda obedecendo aos ritos constitucionais, o Poder

Executivo, na pessoa do Presidente da República, em observância ao artigo 5º

§ 3º da CRFB/88 promulgou o Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009.

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CAPÍTULO 2

A ARTE E A ARTETERAPIA

2.1 A Arte

Antes de abordar o assunto Arteterapia, não se pode deixar de falar

na Arte em si, da Arte de maneira geral, a que surgiu como todo mundo sabe,

logo assim que os primeiros homens vieram habitar nosso planeta. Ainda nas

cavernas, “o ateliê do homem pré-histórico” (MARTINS,1998, p.34), ele já

expressava seu mundo, pela linguagem da arte, mesmo antes de escrever.

Por meio de símbolos o homem conseguiu interpretar seu mundo e

deixou nas cavernas (arte rupestre), imagens de bisões, mamutes e outros

animais, mostrando, mais do que as representações dos animais selvagens,

sua sensibilidade visual e a capacidade de abstração. Pois, no dizer de

Bachelard “a imaginação não é a faculdade de formar imagens da realidade, é

a faculdade de formar imagens que ultrapassam a realidade.” (BACHELARD,

apud, MARTINS, 1998, p. 34)

Essa realidade é mostrada a partir da linguagem simbólica que tão

bem representava o homem pré-histórico, fazendo uso já da criatividade

inerente ao ser humano. “As obras dos artistas pré-históricos manifestavam a

vocação inventiva do homem e da sua mente criadora para interpretar a

realidade.” (op. cit. p. 36)

O que levava aqueles homens, em várias partes do mundo, a criar

essas obras que perpetuam até hoje? Por certo eles não tinham a pretensão de

fazer arte, mas sem dúvida fizeram.

Proença (1994), responde a essa questão dizendo que aquela arte

era realizada por caçadores. Acreditavam os primitivos que pintando o animal,

teriam poder sobre ele e assim a caçada não seria tão difícil. Quando

mantinham o animal ferido, preso na imagem, ou seja, pintado nas paredes das

cavernas, eles poderiam matá-lo com mais facilidade. É preciso lembrar que as

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armas daquela época eram precárias e o próprio tamanho dos animais

impressionava.

A evolução do homem segue junto com a evolução da arte. O

mundo já não vive sem a música, a poesia, a pintura, o teatro, o cinema e

tantas outras expressões artísticas. “Toda linguagem artística é um modo

singular de o homem refletir-reflexão/reflexo- seu estar no mundo.” (MARTINS,

1998, p.41). O homem ao trabalhar nessa linguagem consegue criar intimidade

entre seu coração e sua mente. Ele cria um diálogo entre as formas de

imaginação e de sentimentos.

A Arte, sendo uma linguagem universal, possibilita a compreensão e

aceitação por quem quiser dispor de sensibilidade e boa vontade. Qualquer

expressão artística tem seu valor e seu significado para uma leitura e uma

resposta da proposta do seu autor. O homem não deixa de criar porque é um

ser criativo por natureza. Isso acontece desde a pré-história, como já foi citado.

“Os desenhos nas paredes das cavernas eram a forma encontrada pelo

homem pré-histórico para se comunicar, se expressar e representar a sua

realidade.” (ROCHA, 2009, p. 24). É grande o mérito desses homens que ao

sentirem necessidades precisaram fazer uso de sua criatividade, buscando do

nada, ou melhor, na natureza, materiais para descobrir e criar armas,

ferramentas, utensílios etc.

Assim como o homem pré-histórico pintava buscando interpretar o

mundo, as crianças de todos os lugares sempre se utilizam do simbólico para

mostrar seus pensamentos e sentimentos. Como diz Martins (1998), as

crianças não produzem signos conscientemente, porém, estando em um

mundo simbólico aprende a usar esses “sinais”, mesmo não tendo noção do

que seja, mas pelo prazer em imitar gestos.

É sabido que todo ser humano inicia seu “desenho” com garatujas e

são elas que vão favorecer, mais tarde, o aprendizado da escrita. “Nem sempre

nos damos conta da variedade de rabiscos traçados pela criança e de como

eles se modificam com o passar do tempo, embora continuem sendo

garatujas.” (op. cit. p. 97)

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A “arte” que a criança faz no papel, no chão, na parede, seja lá onde

for, não tem nenhuma intenção de ser arte e sim de ser uma experimentação.

Seus desenhos só vão começar a ser entendidos pelos outros quando ela tiver

mais idade.

Como expressão individual, a arte não tem que parecer perfeita aos

olhos do observador. Então o que vem a ser Arte afinal? Ela é conceituada por

vários autores. As palavras mudam, mas o sentido é o mesmo. Como diz

Aurélio, no seu dicionário:

Capacidade que tem o homem de por em prática uma idéia, valendo-se da faculdade de dominar a matéria. Atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito, em geral de caráter estético, mas carregados de vivência íntima e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongar ou renovar. (FERREIRA,1975, p.141)

A arte está em cada ser humano, já nasce com ele podendo se

manifestar de várias maneiras, segundo técnicas que o homem pode adquirir,

mas sem nunca deixar de revelar a individualidade de quem a está praticando.

Ela vem evoluindo através dos tempos, assim como o ser humano, porém

sempre trará a assinatura do seu autor.

A arte pode ser um recurso poderoso, capaz de mobilizar a totalidade do ser de uma pessoa, pois envolve os níveis sensório-motor, emocional, cognitivo e intuitivo do funcionamento. Na arte há uma mobilização de energia e emoção que ocorre na ação, onde a consciência se forma no próprio processo desta ação. Quando o nível sensório-motor é ativado ocorrem percepções e transformações. (MOREIRA 2007, p. 32)

Esse “recurso poderoso”, inerente na arte, pode ter sido o embrião

da Arteterapia como um processo de autoconhecimento e possibilidade de

analisar profundamente as produções “artísticas” e a maneira como foram

produzidas.

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2.2 A Arteterapia

Valendo-se da versatilidade que a arte dispõe e de todas as

possibilidades que ela dá ao indivíduo de transformar sua potencialidade

emcriação, é que a Arteterapia pode cumprir sua finalidade de se converter em

um elemento facilitador ao acesso para o universo imaginário e simbólico,

permitindo ao indivíduo seu próprio conhecimento, objetivo primordial da

arteterapia como função terapêutica.

Para se entender melhor como se deu essa união entre Arte e

Terapia torna-se necessário buscar no passado a pessoa responsável, aqui no

país, por esse feito. Conforme Amador (2005) cita, na década de 40, o Brasil

utilizava-se de choque elétrico no tratamento psiquiátrico. Com a vinda da Dra.

Nise Magalhães da Silveira para o Centro Psiquiátrico Pedro II, no Engenho

Novo, essa situação mudou devido a sua rebeldia em não aceitar esse tipo de

tratamento. Ao ser transferida para o setor de Terapêutica Ocupacional, criou um

espaço para que os pacientes internados pudessem se sentir num ambiente

acolhedor, organizando ateliês com várias atividades como: desenho, pintura,

modelagem, escultura, sem que os monitores interferissem em suas criações.

Com isso ela buscava a cura quando favorecia, por meio da expressão criativa,

o caminho de volta à realidade de cada um.

Com o passar do tempo verificou-se que essa nova maneira de

trabalhar a psiquiatria, ou diversos males da mente, era bem estimulante. A

arteterapia se destacou com o trabalho pioneiro de Nise da Silveira, “que sempre

preferiu a utilização do termo Emoção de Lidar (...)” (URRUTIGARAY 2008, p.

23).

A Dra. Nise da Silveira não gostava do termo Arte quando utilizado

para tratamento porque as produções, segundo ela, não deveriam ser vistas

como obras de arte, submetendo-se a padrões estéticos e sim uma possibilidade

de mostrar algo do inconsciente para que pudesse ser compreendido pelo

terapeuta e pelo próprio paciente. Diz ainda Urrutigaray (op. cit.) que a

arteterapia veio para mostrar o valor das habilidades artísticas, para possibilitar a

liberação de imagens internas revelando o “self”, transformando conteúdos

20

internos incompreendidos em algo visível exposto em imagens para que sejam

esclarecidos.

Conforme a mesma autora, a arteterapia leva o sujeito à individuação.

Ele consegue se conhecer melhor ao dialogar com sua própria obra

(criador/criatura). O trabalho com arte conduz a uma situação de facilidade ao

alcance do universo imaginário e simbólico, favorecendo o desenvolvimento de

potencialidades e o autoconhecimento. Ao executar alguma tarefa de arte o

sujeito encontra-se capaz de criar novas expectativas, transformando

pensamentos em ações. Essa pessoa estimula habilidades que vão lhe ajudar

nas questões intelectiva ou cognitiva. Quando o indivíduo cria, seja na pintura,

na escultura, ou mesmo na expressão corporal, ele está colocando algo de si, a

sua maneira de ver o mundo e isso o ajuda a descarregar o que o incomoda,

mesmo que ele ainda não compreenda o que seja. Toda imagem consegue, por

meio de seus símbolos, manifestar a realidade da pessoa de forma a facilitar

para o arteterapeuta, a compreensão maior do seu cliente.

Com a intenção de ratificar o conceito de arteterapia, busca-se em

Olivier (2008, p. 42) a afirmativa que “arteterapia é uma Ciência fundamentada

em Medicina, Artes e Psicologia, requer muito estudo e prática, além de

sensibilidade do Terapeuta.” A arteterapia precisa analisar as obras e todo o

processo até chegar ao produto, sem, contudo observá-lo como forma de arte. O

importante no caso é examinar o processo de criação e não o produto final.

Moreira (2007, p. 32) confirma esse conceito quando declara que

“arte-terapia tem finalidade curativa” porque a imagem é transformada pela

energia psíquica, e por meio de símbolos mostra os arquétipos. Segundo essa

autora o objetivo da arte-terapia não é a aprendizagem das técnicas de arte e

nem a execução das obras, mas sim a criatividade e o autoconhecimento. A arte

é capaz de favorecer mudanças internas e superar problemas porque promove a

compreensão de si mesmo, ela revela o interior do indivíduo, mostra como ele é

e como ele está no mundo. “A arte-terapia é uma modalidade terapêutica que se

utiliza de recursos artísticos e expressivos, com o objetivo de possibilitar ao

indivíduo a materialização de uma imagem interna.” (op. cit.)

21

Essas afirmativas levam a conclusão de que a Arteterapia sem

expressões artísticas não sobreviveria, por isso estão interligadas com o intuito

de, juntas, aprimorar o autoconhecimento humano.

2.3 Diferenças entre a Arte e a Arteterapia

Muitas pessoas fazem confusão a respeito desses conceitos. O que

seria Arte, Arteterapia e ainda Arte-Educação ou Arte como Terapia.

A Arte já foi esclarecida anteriormente, como qualquer obra produzida

pelo homem, por meio de técnicas e habilidades, nascida de uma ideia que já foi

concretizada. Pode-se citar como obra de arte uma pintura, uma escultura, uma

música, uma peça teatral, uma obra literária etc, sempre referindo-se ao produto

final.

Conforme Barbosa (1995), para definir Arte-Educação é preciso

lembrar-se do Brasil de 1870 quando por meio dela, começou-se a preparar

profissionais do desenho para ajudar o país a ganhar concorrência comercial

com a Europa, porque até então só se fazia cópia ou desenho geométrico. O

desenho como “impulso criativo” só surgiu em 1890, com uma lei oficial onde os

psicólogos descobriram a relação que existia entre os processos afetivo e

cognitivo na arte da criança. Mas só na Semana de Arte Moderna de 1922 é que

o Brasil renovou seus métodos de ensino da Arte-Educação. Foi por intermédio

de Anita Malfatti e Mário de Andrade que teve início a “livre expressão” para a

criança.

A idéia da livre- expressão originada no expressionismo, levou à idéia de que Arte na educação tem como finalidade principal permitir que a criança expresse seus sentimentos e à idéia de que a Arte não é ensinada mas expressada. Esses novos conceitos, mais do que aos educadores, entusiasmaram artistas e psicólogos que foram os grandes divulgadores dessas correntes e, talvez por isso, promover experiências terapêuticas passou a ser considerada a maior missão da Arte na Educação. (op. cit. p. 45)

Contradizendo esse conceito de a Arte promover experiências

terapêuticas, Olivier (2008, p. 43) diz que “Arte-Educação é o ensino das

22

técnicas básicas e das produções em se tratando de Artes, sem nenhum

envolvimento com Terapia ou qualquer tratamento terapêutico”.Talvez porque,

naquela época de 1890 ainda não se falava em Arteterapia, é que as pessoas

se entusiasmaram com a descoberta de que poderiam utilizar a arte como um

tratamento, até porque, foi nesse momento, que se deu valor à criatividade na

hora de se expressar nas artes, promovendo assim um desencadeamento de

outras correntes artísticas.

A Arte como Terapia e a Arteterapia confundem-se como processo

terapêutico porque de fato têm conceitos parecidos. “A Arte como Terapia não

se importa com o processo percorrido nas produções do paciente, mas sim

com a própria produção”.(OLIVIER, 2008, pp.40 e 41). O Terapeuta, segundo a

mesma autora, pode organizar reuniões para que se produzam trabalhos de

arte, apenas para amenizar estresse ou depressões leves, ou ainda atender

individualmente, sem que para isso precise fazer qualquer tipo de análise,

bastando que possua alguma noção de arte.

Já a Arteterapia é mais complexa porque necessita de um estudo

maior. Ela é uma ciência nova, mas que vem sendo praticada cada vez mais no

Brasil.

Arteterapia é uma Ciência, fundamentada em Medicina, Artes e Psicologia, requer muito estudo e prática, além de sensibilidade do Terapeuta. Analisa com profundidade as produções e os meios dessas produções dos pacientes, excluindo-se a arte propriamente dita. Analisa o processo de criação e não a criação em si. Em muitos casos, exige a presença de outros profissionais em uma equipe e requer espaço apropriado. (op. cit. p. 42)

Segundo a Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro (AATA,

2003) e de acordo com o texto recentemente atualizado da “American

Association”, Arteterapia ajuda, através do uso de atividades artísticas, as

pessoas com traumas, doenças, dificuldades na vida, a aumentar o

autoconhecimento, favorecendo assim, uma melhor qualidade de vida,

podendo ainda usufruir do prazer de trabalhar com arte. Refere-se também ao

arteterapeuta como o profissional treinado em arte e em terapia, conhecedor do

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desenvolvimento humano, teorias psicológicas, práticas clínicas, tradições

espirituais, multiculturais e artísticas, assim como na crença da possível cura,

através da arte. Podem trabalhar com grupos ou individualmente, em qualquer

espaço que propicie a saúde mental e fazer parte também de equipes afins.

(http://www.aarj.com.br/htm/arteterapia.htm)

Muitos outros autores definiram também a Arteterapia, mas a

essência dos conceitos é sempre a mesma. Todos concordam que a arte é o

combustível para que se realize um trabalho e que o arteterapeuta, junto com

seu cliente, possa analisar e ajudar num processo de melhora ou cura de uma

possível doença psíquica.

24

CAPÍTULO 3

A ARTETERAPIA E OS CLIENTES COM VISÃO SUBNORMAL

3.1 Apresentação do Ateliê

Sabe-se que o ambiente exerce grande influência sobre as pessoas

e quando se trata de um ateliê onde se recebe clientes, esse lugar deve estar

preparado para essa ocasião. O espaço do arteterapeuta, além de

aconchegante, deve também ser confortável e abastecido de todos os

materiais que serão utilizados pelos clientes. “A arteterapia exige um espaço

para a criação, isto é, que haja condições a que as pessoas se instalem,

juntamente com seus materiais plásticos e que o processo se dê de maneira

agradável”. (COUTINHO, 2009, p. 52)

Quando se tratar de um deficiente visual de baixa visão é preciso,

para facilitar o convívio do cliente ali, que esse ateliê seja apresentado de

perto, mostrando-se onde ficam os móveis e tudo mais que fizer parte do local.

E mais ainda, que não seja mudado nada dos lugares, assim o cliente estará

seguro para caminhar em um ambiente que ele já conheça. “É essencial um

local adequado e bem equipado com espaço para ateliê e uma área vaga para

exercícios físicos”. (OLIVIER, 2008, p. 38). No caso do cliente de baixa visão,

além de atividades plásticas ele necessitará de outras atividades como contos,

dramatizações, que lhe proporcionará maior contato sensorial que não seja a

visão.

3.2 O Arteterapeuta

Um bom terapeuta, segundo Coutinho (2009, p. 30) deve ter um

ótimo conhecimento técnico, que se adquire por meio de boas leituras e

participação em cursos. Deve ter acesso a um supervisor, que vai lhe ajudar

25

nas situações mais difíceis, e ainda deve fazer terapia para lidar melhor com as

emoções dos clientes e a sua própria. “Se não temos um espaço terapêutico,

arriscamos nossa própria saúde psíquica e também a daqueles a quem nos

propomos acompanhar o percurso”.

Para uma eficiência maior no trabalho do arteterapeuta é necessário

que, além dos estudos, ele tenha bastante sensibilidade para atender e

entender as necessidades de seu cliente.

Olivier (2008, p. 36) declara que depois de descoberto o distúrbio no

cliente, esse processo de cura ou de controle dos sintomas costuma ser

demorado e exige prática do terapeuta e dedicação do cliente. ”Não basta

entender regras e conceitos, é preciso ter muita sensibilidade e experiência

para reconhecer um rabisco perdido em um desenho”.

Diz ainda a autora que o terapeuta deve ter um estudo

fundamentado em Psicologia, Medicina, Psiquiatria, Neurologia e Artes para

que ele possa entender do “funcionamento cerebral” e saber lidar com a mente

e corpo do paciente.

Não é impossível se utilizar da arteterapia com deficientes visuais,

como o cego e os de baixa visão. Esse trabalho vem sendo feito há muito

tempo.

Kramer atribuía seu conhecimento do desenvolvimento do grafismo infantil e seus métodos de ensino de arte para crianças em grande parte a Victor Lowenfeld, especialmente no que se refere ao trabalho que ele fez com crianças cegas e com deficiências visuais. (KRAMER, apud CIORNAI, 2004, pp. 27e28)

Segundo a mesma autora, Edith Kramer era austríaca e como artista

e arte-educadora publicou dois livros. “Kramer sublinhava a importância da

arteterapia nos processos de organização e maturação psíquica, assim como

nos processos sublimatórios e de fortalecimento do ego”. (op. cit.)

Como se sabe, todas as crianças são iguais no mundo todo, no que

se referem as suas possibilidades de desenvolvimento. Não importa o grau de

deficiência, sempre haverá alternativas para lidar com essas crianças.

26

3.3 Materiais e suas Adaptações

Quando se fala em trabalhar com arteterapia e expressões artísticas,

não se deve deixar de pensar nos materiais que serão utilizados. E pode-se ter

certeza que existem muitos disponíveis no mercado e quase todos eles

poderão servir ao deficiente de baixa visão. Conforme a atividade a ser

trabalhada, o arteterapeuta vai adaptar materiais para que o cliente possa se

sentir à vontade ao desenvolvê-la.

As atividades expressivas visuais são as que dão mais “consistência

ao trabalho” da arteterapia, como explicou Angela Philippini (2009) em uma

entrevista na Clínica POMAR1. Ela ainda fala das outras expressões como a

música, o conto, as encenações, também usadas em atendimentos, mas “O

foco da Arteterapia é preferencialmente nas artes visuais”.

Mesmo os deficientes de baixa visão podem participar de sessões

em arteterapia utilizando-se dos mesmos materiais convencionais, bastando

que o arteterapeuta faça algumas adaptações para que se encaixem melhor a

esses clientes especiais

3.4 Algumas técnicas que podem ser adaptadas para o DVBV 2

Essas adaptações apresentadas abaixo, para os DVBV, foram

adquiridas mediante observações de alunos entre 8 e 15 anos no Instituto

Benjamin Constant e na EEEE3 Anne Sullivan, que atendem a essa clientela.

3.4.1 Colagens

Por ser uma técnica de simples operação, barata e agradável de

fazer, é indicada para se iniciar o processo terapêutico porque também ajuda

as pessoas a vencerem os medos de desenhar e pintar.

1 Proposta de Orientação Multidimensional Arte Realidade. 2 Deficiente Visual de Baixa Visão. 3 Escola Estadual de Educação Especial.

27

Philippini (2009, p. 23) declara que a colagem é recomendada

também por suas múltiplas possibilidades de criar outros significados da

mesma imagem ou de várias figuras poderem se transformar em apenas uma.

Existem ainda outras tantas possibilidades de se trabalhar a

colagem. Diversos são os materiais e formas de se aproveitar esta técnica. A

colagem pode ser entendida como a mais versátil das atividades, porque tanto

se pode colar o bidimensional como é o caso dos papéis, tecidos, fitas, como o

tridimensional, as construções de todos os tipos, o trabalho com sucata, que

também precisa ser colado.

Misturar materiais e colar, em técnica mista: panos e papéis e materiais orgânicos como sementes, flores e folhas secas, papéis e areia em cores naturais ou pigmentadas, combinar papéis com fitas, botões e sianinhas, rendas e galões (passamanarias em geral), macarrão miúdo (habitualmente utilizado para sopas infantis) em formatos diversos, confeitos coloridos, contas e sementes, fios de espessuras e texturas diferentes, desde os barbantes coloridos até linhas de seda para bordar, e mais uma infinidade de possibilidades que dependerá do interesse do arteterapeuta pelo jogo das combinações plásticas em experimentações diversas. (op. cit.)

Para os DVBV é bem interessante o uso de diversas texturas para

facilitar o reconhecimento dos materiais. Recomenda-se que esses objetos,

para colagem, não sejam muito pequenos e que as figuras venham recortadas,

sejam grandes, sem muitos detalhes para que os deficientes possam enxergar

melhor.

A colagem pode ser utilizada como experiência sensorial e também como manifestação emocional. Além de também trabalhar questões relacionadas à esfera intelectual e cognitiva, pois a partir de um tema dirigido ou de livre escolha a pessoa vai procurar nas revistas e demais materiais ideias que possam expressar e comunicar seus sentimentos, emoções e ideias em relação ao tema. Planejamento, direcionamento e atenção estão sendo estimulados pelo indivíduo ao fazer esse trabalho artístico. Além de também estar trabalhando com a expressão e com a comunicação. (MOREIRA, 2007, p. 65)

28

Muitos são os exemplos de atividades feitas com a técnica da

colagem. O trabalho “Montagem com flores” de Christo (2009, p. 78) parece

bem adequado ao DVBV, pois acrescenta o sentido do olfato ao trabalho em si.

Material: Pétalas de flores e folhas naturais; cola; cartolina colorida. Procedimentos: 1) Colar as pétalas e folhas sobre um pedaço de cartolina colorida, a seu gosto, compondo ou não uma mandala. Explorar o contraste da cor da cartolina com as cores dos elementos que comporão a forma; 2) Fazer uma Xerox colorida do trabalho no mesmo dia ou, no máximo, até o dia seguinte à execução do trabalho, uma vez que os elementos naturais irão murchar. (op. cit.)

3.4.2 Construções

Philippini (2009, p. 88) descreve como “objetos terapêuticos” para

construções, as caixas, as maquetes, as sucatas e as instalações. Diz ainda

que “as técnicas de construção em Arteterapia são as mais complexas”. As

caixas, que podem ser construídas ou aproveitadas de embalagens, guardam

dentro delas, coisas que precisam ser escondidas ou protegidas. Podem ser

produzidas em qualquer idade, mas as crianças demonstram maior interesse,

porque sempre têm “pequenos tesouros” para protegerem. As maquetes, que

podem ser trabalhadas com papelão, isopor, madeira, arames e pequenos

objetos, reproduzem cenas em vários tamanhos. A construção com sucata,

envolvendo materiais distintos de várias dimensões e texturas, é bem mais

difícil, pois é preciso manter o equilíbrio da peça usando materiais diversos. E

ainda as instalações, que limita um espaço qualquer utilizando-se de objetos e

materiais distintos.

O arteterapeuta deve ficar atento quanto ao DVBV, pois dependendo

do grau de sua deficiência ele vai precisar de ajuda para se locomover no

espaço a ser construída a instalação.

Um exemplo bem simples para construção é o de Christo (2009, p.

97), pois fica fácil para o DVBV porque ele próprio escolhe suas figuras ou

palavras e é capaz de colar todas em sua caixa.

29

Caixa do eu. Material: Uma caixa não muito pequena, que possa ser aberta e fechada; imagens recortadas de revistas; tesoura; cola. Procedimentos: 1) Deixar que a pessoa escolha as imagens que mais lhe agradem; 2) Colar essas imagens, decorando as várias faces da caixa, internas e externas. A pessoa escolherá livremente a posição em que deseja colocar cada imagem ou grupo de imagens.

3.4.3 Desenho

O desenho é a mais temida de todas as expressões artísticas.

Vários autores concordam com essa ideia, inclusive Christo (op. cit., pp. 41e42)

De todos os preconceitos, o primeiro a ser superado é aquele que nos faz acreditar que desenhar é produzir uma cópia da realidade a nossa volta. Não é isso que buscamos em Arteterapia; é preciso ir mais fundo, deixar que as linhas traçadas tragam à luz sentimentos há muito guardados, mesmo que não se tenha consciência disso. O imprescindível é soltar o traço, simbolizar, ou simplesmente deixar-se levar pelo movimento da linha angulosa ou sinuosa, grossa ou fina, contínua ou interrompida, falando por si só.

Philippini (2009, p. 48) considera que quem escreve também pode

desenhar porque as duas atividades necessitam das mesmas habilidades. “Na

prática, desenhar corresponde apenas a olhar com atenção, guardar a imagem

observada em sua totalidade e detalhes e depois, simplesmente reproduzi-la

com tranqüilidade”.

Para que o indivíduo comece a se acostumar a desenhar, existem

algumas técnicas, que vão ajudá-lo, como treinar fazendo vários tipos de linhas

no papel.

Philippini (op. cit.) coloca alguns exemplos como criar imagens a

partir de linhas, que podem ser sinuosas ou fortes; desenho ouvindo música;

desenho compartilhado com outras pessoas. Essas técnicas vão trazer um

alento ao sujeito quando ele perceber que conseguiu formas que antes achava

impossíveis de serem feitas.

Alguns materiais gráficos vão facilitar o DVBV em seus desenhos,

como os lápis, que deverão ser macios (B) ou médios (HB) e escuros para

maior contraste com o papel. Pode-se também trabalhar com o carvão de

30

desenho, os “pincéis atômicos” ou “pilot”, que têm pontas grossas e assim as

linhas tornam-se mais visíveis.

Dentre as diversas atividades de desenho, o trabalho proposto por

Christo (2009, p. 50), denominado, gravado com agulha, é bem interessante

para o DVBV, porque também usa a textura como forma de gravar as linhas no

papel.

Material: Cartolina branca; aguada de anilina; agulha grossa ou prego ou estilete. Procedimentos: 1) Desenhar na cartolina com o objeto marcante (agulha grossa, prego ou estilete). 2) Depois passar a aguada de anilina por cima.

3.4.4 Pintura

Outra técnica expressiva muito utilizada em ateliê de arteterapia é a

pintura. Pintando se consegue aliviar tensões e os sentimentos fluem.

Dificilmente as pessoas não vão apreciar trabalhar com cores. Elas

proporcionam alegria, beleza e existe uma infinidade de possibilidades de

materiais para serem usados na pintura. Tanto em tintas como em pincéis ou

outra forma de pintar, como por exemplo, com espuma, com os dedos, as

mãos.

Philippini (2009, p. 38) afirma que o fato da pintura escorrer e

manchar contribui para “um dos mais significativos aprendizados a fazer com a

pintura: deixar fluir, deixar sair, escorrer, extravasar, transbordar”.

A pintura permite interagir e experimentar cores, pois cada cor

proporciona grande influência no organismo humano e o uso delas vai fazer

com que as pessoas se vejam em cada pintura realizada, como diz Christo

(2009, p. 17)

A pintura, como técnica utilizada em arteterapia, permite exercitar novas maneiras de olhar a nós mesmos e a tudo o que nos rodeia. Esse exercício é um dos caminhos, e é um dos mais interessantes, para organizar e transformar sentimentos. Olhar o que produzimos livremente sobre o suporte oferecido é, muitas vezes, a possibilidade de olhar para dentro de nós mesmos, para algo que até então estava difuso ou oculto de nossa consciência.

31

Vários são os tipos de tintas usados em um ateliê. Para cada

necessidade, que o arteterapeuta precisa discernir, é utilizado um tipo, desde

as mais aquosas, como a aquarela, até as mais densas, como o guache.

O DVBV prefere as cores mais fortes e contrastantes, devido a

facilidade de enxergar melhor.

Um bom exemplo de atividade com pintura para o DVBV vem de

Christo ( 2009, p. 36)

Material: Cartolina, Pó xadrez e água, Pincéis e cotonetes. Procedimentos: 1)Diluir o pó xadrez na água e pintar com essa mistura. 2) Uma outra alternativa é pintar o papel com a água pura e depois salpicar o pó xadrez, criando efeitos com o cotonete. O controle sobre o resultado final não é total, pois o trabalho vai ser função da relação entre a quantidade de água e a quantidade de pigmentos. Se for usada a alternativa de molhar primeiro o papel e depois colocar o pigmento sobre ele, o fator surpresa se intensificará.

3.4.5 Modelagem

Existem alguns materiais favoráveis para a modelagem, mas é na

argila que se consegue melhores resultados. “O barro é um material vivo,

orgânico, que alimenta a fantasia e incentiva o espírito criador”. (MOREIRA,

2007, p. 62)

A argila consegue alcançar o inconsciente do indivíduo e atua tanto

no físico como na mente da pessoa, que a partir de uma porção de “terra”

consegue concretizar seu pensamento. É relaxante porque tem que amassar,

socar, construir, utilizando músculos e emoções.

O barro sempre foi uma brincadeira de muitas crianças em dias de

chuva ou depois dela. Algumas crianças construíam no barro bonecos, barcos

utensílios, sem nem mesmo saber o bem que essa atividade estava fazendo

para elas.

A pessoa ao trabalhar com o barro tem condições de dominá-lo, libertando assim suas tensões, fadigas e depressões, pois é um material vivo, de ação calmante, disciplinador das ansiedades e condutor do equilíbrio entre a ira e a euforia. O trabalho com o barro ajuda as pessoas a desenvolverem a auto-estima, sendo uma excelente opção de tarefa para

32

crianças inseguras e temerosas, pois é difícil errar na argila. (MOREIRA, 2007, p. 62)

O trabalho com argila para o DVBV é muito proveitoso, porque o

toque dispensa a visão. O movimento com as mãos já traz uma realidade

daquilo que ele está fazendo ao sentir o barro. O DVBV pode desmanchar e

criar, obtendo sensações táteis sem precisar muito da visualização do trabalho.

“Mesmo no território da própria visualidade, o cego pode eventualmente

perceber a beleza. Nesse caso, temos visto que o veículo de apresentação é o

tato”. (OLIVEIRA, 2002, p. 200)

Modelar a argila proporciona a criação de uma forma, de uma

concretização da imagem interna e faz com que o deficiente de baixa visão

sinta-se motivado, menos depressivo. O contato com a argila, que é

terapêutico, traz bem-estar e a confirmação da criatividade, que está presente

em todos.

Apesar de ser a argila o melhor material para modelagem entre os

especialistas, existe também a possibilidade de se modelar com jornal e

plástico como diz Angela Philippini (2009, p.78)

É uma técnica de modelagem bastante simples, em que são utilizados sacos de plástico de tamanhos diversos, cheios de papel amassado (habitualmente jornal ou revistas velhas), cintados com fita adesiva. Esta técnica serve para criar corpos de personagens em escala natural, mas também pode ser utilizada para criar pequenos personagens. É operacionalmente rápida.

3.4.6 Sucata

A sucata merece uma atenção maior pela sua propriedade de

transformação. É o reaproveitamento de algo que iria para o lixo e que se pode

criar, adaptar para uma nova idéia.

Como diz Moreira (2007) “É o caos que se apresenta com a

possibilidade de ser ordenado, reorganizado e a partir daí se construir algo

novo”. Sabe-se que tudo que se trabalha externamente, também está sendo

trabalhado no interior das pessoas. O ser humano tem características positivas

33

e negativas dentro de si, que aparecem no seu modo de agir. Trabalhando com

sucata ele lida melhor com sua parte negativa (o lixo) e assim pode reorganizar

sua sombra, construindo algo novo a partir de sua criatividade.

Para os DVBV ou não, vários são os materiais disponíveis para se

trabalhar com sucata, como por exemplo, as caixas, as garrafas pet, os

descartáveis, os rolos de papelão e muito mais.

Um trabalho bom com sucata é a confecção de mandalas, como

sugere Christo (2009, p. 90)

Material: Um disco de vinil ou um CD velho, ou qualquer suporte duro. Sementes, contas, miçangas, lantejoulas,canutilhos, botões, chapinhas, lacres de latinhas, flores, clipes, pedaços de arame, de canudo, palitos, pedacinhos de espelho, penas, pedrinhas de aquário, papéis recortados bem pequenos, pedacinhos de isopor, serragem de madeira, e qualquer outro tipo de material pequeno disponível. Cola. Pinça (para os elementos muito pequenos). Procedimentos: 1) Preparar a forma da base. No caso de um disco de vinil ou um CD, a forma já está definida. No caso de outros materiais (madeira, isopor, papelão etc), recortar a forma desejada para a base; 2) Passar cola por áreas da base e ir colocando os diversos elementos à vontade. Evitar passar a cola em toda a base porque ela pode secar antes que a pessoa consiga distribuir os elementos sobre ela. 3) Para preencher espaços com elementos muito pequenos, utilize a pinça. (...) A capacidade humana de transformação daquilo que parece sem utilidade ou descartável em algo que revela beleza é espantosa.

Para os DVBV, sabe-se que não se deve usar materiais muito

pequenos, então é só substituir pelos maiores.

3.4.7 Escultura

Embora algumas pessoas digam que escultura e modelagem são a

mesma coisa, existe uma diferença fundamental, além das técnicas utilizadas:

na modelagem se acrescenta e na escultura, se retira. “O ato de retirar

excessos, esculpindo a pedra, traz um alívio de angústias, além de ser um

processo catártico, porque a pessoa está quebrando, batendo com força com o

martelo e instrumentos específicos”. (MOREIRA, 2007, p. 64)

34

Para uma escultura simples que os DVBV podem fazer escolheu-se

o “Círculo Vicioso”, também sugerido por Christo (2009, p. 99)

Material: Papel craft ou pardo; Tesoura; Cola. Procedimentos: 1) Cortar uma tira bem comprida do papel craft de 7 centímetros. 2) Colar as extremidades do papel, cuidando para inverter as faces (por exemplo: a frente de uma ponta com a parte de trás da outra ponta). 3) A partir do meio do papel, colocar a ponta da tesoura e começar a cortar em linha reta, deslocando-se para a direita ou a esquerda quando retornar ao ponto de início.

O DVBV tem condições de recortar com o auxílio da outra mão, que

vai acompanhando o veio que a tesoura faz no papel.

3.4.8 Mosaico

O Mosaico é uma técnica relaxante, organizadora, que pode levar a

pessoa a se distanciar, momentaneamente, de problemas que a aflige.

Como diz Christo (2009, p. 85) “Esta técnica foi inspirada no

mosaico tradicional feito com cacos de cerâmica ou pastilhas vitrificadas ou

pedaços de azulejos quebrados”. No passado essa técnica teve bastante

influência no Oriente Médio e na Europa. Hoje, podem-se utilizar vários

materiais para a colagem com mosaico, como sugere Angela Philippini (2009,

p. 82).

Para trabalhar com esta linguagem, podemos utilizar: fragmentos diversos de azulejos, de embalagens plásticas (xampu, detergente e outras), cacos de vidro, pedaços pequenos de papel, conchas do mar, pedras, espelhos, elementos de bijuteria (contas, miçangas), casca de ovo, pedaços de madeira, casca de árvores, sementes, pedaços pequenos de E.V.A. Para reunir todos estes fragmentos com solidez, é importante uma cola forte como Cascores de rótulo azul. Para se obter um resultado com maior controle operacional, é opcional o uso de torquês e pinça, para pegar os fragmentos miúdos.

Não será o caso dos DVBV, que deverão ser poupados de usarem

materiais muito pequenos, devido a sua dificuldade de ver. Para eles, devem-

se aproveitar os maiores e com mais texturas ou volumes, como os cacos de

azulejos ou vidros coloridos.

35

Uma atividade com mosaico sugerida por Christo (2009, p. 85) seria:

Material: Papel glacê ou cartolina ou Color set cards de cores bem variadas; Tesoura; Cola; Papel 40 Kg. Procedimentos: 1) Recortar os papéis coloridos em quadradinhos do mesmo tamanho ou em formatos aleatórios. 2) Colá-los sobre o papel 40 Kg, deixando uma margem de 1 milímetro em todos os lados de um pedacinho para outro, criando o desenho desejado.

Sabe-se bem que com o DVBV não se pode usar pedaços pequenos

de papel nem deixar o espaço de 1 milímetro, conforme cita a autora, mas é aí

que entra a substituição dos materiais. Em vez de papel, podem-se colocar

outros materiais como já foram citados acima.

3.5 Outros Recursos para Trabalhar com o Cliente de Visão

Subnormal

Apesar do que Philippini declarou sobre as artes visuais serem a

melhor maneira de o sujeito revelar seu inconsciente, existem também outras

atividades que podem ajudar, principalmente para quem tem dificuldade de ver.

A música, o conto, as encenações são alternativas concebidas em ateliês de

arteterapia tanto como as plásticas.

O teatro, a dança, a música, o conto são também formas que o

indivíduo pode se mostrar, expor seu potencial para que seja observado pelo

arteterapeuta. O corpo demonstra muito da subjetividade de uma pessoa.

Mesmo que a arteterapia sugira que o trabalho com o conto venha

acompanhado de uma atividade plástica, pode-se também, começar por uma

história, partir para o teatro, para a interpretação de personagens ou criação de

outros. Inúmeras são as possibilidades que o arteterapeuta dispõe para variar

atividades a partir de um conto.

Permitir que esses conteúdos sejam adequadamente reconhecidos e trabalhados é papel do arteterapeuta, que utiliza as histórias como pontos de partida e fio condutor para o propósito final de seu trabalho, que vem por meio das artes plásticas. As histórias ajudam a desenvolver o potencial criativo

36

do indivíduo e seu intelecto, tornando claras suas emoções, possibilitando-o, assim, a enxergar o que antes lhe era difícil: a solução dos problemas. (MEDEIROS, 2008, pp. 34e35)

Sabe-se que é muito antigo o hábito de se contar histórias. Muitas

civilizações, às vezes em volta de fogueiras, ensinavam às novas gerações a

vida de seus antepassados, no intuito de perpetuar suas histórias por meio de

contos, parábolas ou fábulas. “Para muitos povos, já era uma prática utilizada –

inconscientemente – com a finalidade de “curar” a alma ou introduzir novos

ciclos na vida dos indivíduos”. (op. cit., p. 33)

As propostas de cantar, dançar, movimentar-se sozinho no ateliê

não serão bem recebidas pelo cliente, que não vai querer se expor. Mas em

grupo, todas essas atividades darão um bom resultado. Sempre que possível

será ideal que o arteterapeuta utilize mais de uma área na tentativa de ajudar

seu cliente. (OLIVIER, 2009)

Duas áreas que podem dar certo seriam o conto e o trabalho com

sucata para criar personagens. Fazer fantoches utilizando-se de caixas,

embalagens etc., transforma a sucata em bonecos ou animais que podem

recontar a história ou modificá-la, dependendo da criatividade do cliente.

Outras duas áreas afins são a música e o conto de fadas, como

alega Brasil (2009, p. 54).

Imagens compõem o inconsciente, e este produz o material simbólico. Imagens primordiais ou arquétipos, segundo Jung, manifestam-se de diversas maneiras, sendo os contos de fada uma delas. A experiência humana comum e mais profunda denominada inconsciente coletivo é a matéria-prima dos contos. E esses podem funcionar como aglutinadores de pessoas, pois falam diretamente ao inconsciente. Isso também ocorre com a música – de todas as artes a que mais tem o dom de agregar, juntar, confraternizar pessoas, falando e tocando a alma humana.

Em uma atividade sugerida pela autora citada acima ela usou a

pintura gestual com o balé “A bela adormecida”.

37

A proposta foi utilizar tintas, pincéis, colas coloridas para expressar o

movimento da música com cores, linhas e formas. Houve assim uma relação

entre a música, a plástica e a arteterapia, favorecendo a “expressão de

sentimentos e emoções sugeridos com a escrita sensível da composição

musical, e influenciou a escolha das cores e formas”. (BRASIL, 2009, p. 59)

Essa atividade feita individualmente ou em grupos para o DVBV é

interessante porque a criação plástica é bem livre de contornos, podendo, para

uma melhor liberdade de expressão, ser feita em papéis bem grandes presos

ao chão.

Para iniciar uma sessão de arteterapia é adequado que haja um

relaxamento para que o processo terapêutico se desenvolva bem.

Philippini (2009, p.130) cita algumas formas de se conseguir um bom

relaxamento, sem que para isso tenha que expor o DVBV a grandes

movimentações pelo ambiente.

Creio que a primeira efetiva prescrição é concentrar-se na respiração, que deve ser desafiada a ficar lenta e profunda. Processos de imaginação ativa podem auxiliar esses propósitos. Automassagem também é útil, pequenas bolas de borracha com guizos são muito efetivas para desbloquear tensões, quando passadas por todo o corpo. Experimentações com texturas diversas também podem ser um estímulo interessante e um bom recurso para concentrar-se no universo sensorial e começar a desacelerar.

No trabalho com grupos, fica melhor apresentar atividades de

movimentos tais como a dança, os jogos dramáticos ou até mesmo o teatro.

Porém, também é possível utilizar esses recursos com o cliente

individualmente, para isso o arteterapeuta pode recorrer ao teatro de

marionetes ou de fantoches. Esses bonecos também podem ser

confeccionados no ateliê pelo próprio cliente, sendo parte do processo, que

demorará algumas sessões.

De qualquer modo, tanto o trabalho com atividades plásticas quanto

com a interpretação, os clientes de baixa visão poderão melhorar a sua

38

qualidade de vida, caso sejam bem acolhidos, respeitados e cuidados por um

bom arteterapeuta.

39

CONCLUSÃO

Durante os estudos para a monografia, verificou-se que a arteterapia

surgiu com o intuito de auxiliar os indivíduos na busca do autoconhecimento.

Com o objetivo de fazer com que essas pessoas possam se conhecer melhor o

arteterapeuta utiliza-se da Arte, como a pintura, o desenho e todas as

expressões artísticas, para que as imagens simbólicas surgidas nesses

trabalhos facilitem o cliente, autor da obra, e o arteterapeuta numa

compreensão maior do trauma, fobia ou qualquer mal que esteja afetando o

sujeito.

Deve-se atentar também, para o fato de que nas sessões de

arteterapia é o próprio cliente que fala de sua obra, mantendo um diálogo entre

produto e autor. Seguindo essa linha, como seria cuidar de um deficiente visual

de baixa visão, que não consegue enxergar como os outros clientes? Seria

este prejudicado, não podendo participar de sessões de arteterapia? Foi

pensando nessas pessoas especiais que se buscou pesquisar alternativas. Os

estudos mostraram as várias anomalias que causam a baixa visão e as

características próprias de cada uma. Assim chegou-se a conclusão de que os

DVBV podem, com certeza, se beneficiarem do tratamento arteterapêutico,

utilizando-se de várias modalidades da Arte, devidamente adaptadas para eles.

A sensibilidade, que deve ser uma característica do arteterapeuta, vai ajudá-lo

a procurar materiais que possam facilitar seu cliente ou adaptar outros para

que o DVBV possa aproveitar com êxito as sessões em arteterapia.

40

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ÍNDICE Pág.

AGRADECIMENTOS......................................................................................3 DEDICATÓRIA ..............................................................................................4 RESUMO.........................................................................................................5 METODOLOGIA..............................................................................................6 SUMÁRIO........................................................................................................7 INTRODUÇÃO.................................................................................................8 CAPÍTULO 1 .................................................................................................10 CEGUEIRA E BAIXA VISÃO OU VISÃO SUBNORMAL..............................10 1.1- O Que é Visão Subnormal? ....................................................................10 1.2- Causas da Visão Subnormal...................................................................11 1.3- Outras Deficiências Visuais.....................................................................12 1.4- Recursos Ópticos e Não Ópticos para a Visão Subnormal.....................12 1.4.1- Recursos Ópticos..........................................................................12 1.4.2- Recursos Não Ópticos...................................................................13 1.5- Os Deficientes de Baixa Visão na Sala de Aula......................................13 CAPÍTULO 2 .................................................................................................16 A ARTE E A ARTETERAPIA........................................................................16 2.1- A Arte......................................................................................................16 2.2- A Arteterapia...........................................................................................19 2.3- Diferenças entre Arte e Arteterapia.........................................................21 CAPÍTULO 3..................................................................................................24 A ARTETERAPIA E OS CLIENTES COM VISÃO SUBNORMAL................24 3.1 Apresentação do Atelier...........................................................................24 3.2 O Arteterapeuta........................................................................................24 3.3 Materiais e suas Adaptações...................................................................26 3.4 Algumas Técnicas que podem ser adaptadas para o DVBV...................26

3.4.1 Colagens......................................................................................26 3.4.2 Construções.................................................................................28 3.4.3 Desenho.......................................................................................29 3.4.4 Pintura..........................................................................................30 3.4.5 Modelagem...................................................................................31 3.4.6 Sucata...........................................................................................32 3.4.7 Escultura.......................................................................................33 3.4.8 Mosaico.........................................................................................34

3.5 Outros Recursos para Trabalhar com o Cliente de Baixa Visão..............35 CONCLUSÃO................................................................................................39 BIBLIOGRAFIA.............................................................................................40 WEBGRAFIA.................................................................................................42